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Aula 01 – Direito Processual do Trabalho

1. Fontes e autonomia
Processo de conhecimento: 1ª norma CLT e 2ª norma: CPC
Processo de execução: 1ª normas CLT, 2ª norma: Lei 6.830/80 (Lei de execução fiscal), 3ª
norma CPC.
O direito processual do trabalho é um ramo autônomo do direito processual, conforme
posicionamento majoritário, já que possui regras, princípios e normas próprias, diferentes do
direito processual civil, de quem usa subsidiariamente as normas.
Apesar de ser autônomo, podemos dizer que o direito processual do trabalho não é completo,
já que a CLT, em sua versão original, é datada de 1943. Assim, aplica-se subsidiariamente o
CPC ao processo do trabalho, desde que presentes os requisitos do art. 769 da CLT, a saber:
lacuna da legislação trabalhista e ausência de incompatibilidade entre o CPC e a CLT. Note que
esses requisitos são cumulativos.
Além do art. 769 da CLT, temos que analisar o art. 15 do CPC/15, que prevê a aplicação do
NCPC de forma supletiva ao processo do trabalho.
A aplicação supletiva do processo comum ao processo do trabalho é a possibilidade de
aplicação de dispositivos do CPC de forma complementar, ou seja, mesmo que exista normas
na CLT, sendo elas incompletas, deveremos utilizar aquelas dispostas no CPC. Desse modo,
estaríamos aplicando o CPC supletivamente. Já a aplicação subsidiária se daria diante da
inexistência de norma jurídica sobre determinado assunto.
Por fim, acerca das lacunas, vamos classifica-las em:
- Normativa: ausência de dispositivo legal sobre a matéria.
- Ontológica: a norma jurídica existe, mas não espelha mais a realidade, tornou-se obsoleta e
não atinge a sua finalidade.
- Axiológica: a norma existe, mas se for aplicada, acarretará uma solução injusta, pois não
reflete mais o ideal da norma.

2. Métodos extrajudiciais de solução de conflitos


Os métodos de composição (solução) de conflitos podem ser divididos conforme doutrina
majoritária, em autocompositivos e heterocompositivos. Nos primeiros as próprias partes
chegam ao consenso, auxiliados por um terceiro (mediador) ou mesmo sozinhos, abrindo mão
de parte de sua pretensão em prol da solução do litígio.

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No processo do trabalho a conciliação aparece como a forma de conciliação mais eficaz e
presente, havendo inclusive momentos de tentativa obrigatória de acordo, conforme
preconizam os artigos 846 e 850 da CLT, a serem devidamente estudados oportunamente,
quando da análise dos princípios.
Também se destaca a composição firmada através da Comissão de Conciliação Prévia,
prevista nos artigos 625-A a H da CLT, que será estudada em tópico específico. O acordo
firmado na CCP possui eficácia de título executivo extrajudicial, nos termos do art. 625-E da
CLT, pondo fim ao conflito antes instalado entre as partes.
Já os métodos hetercompositivos mais importantes são a arbitragem e a jurisdição, sendo que a
última é objeto principal do nosso estudo, pois é instada a atuar através do exercício do direito
de ação e nela são realizados os atos processuais objeto de estudo no presente.
A arbitragem, prevista primeiramente no Brasil na Lei nº 9.307/96, é de difícil utilização no
processo do trabalho, uma vez que as partes preferem e confiam no Poder Judiciário, em vez de
se socorrerem de árbitros, mesmo que por elas escolhidos.

3. Princípios
a) Dispositivo e Inquisitivo
Dispositivo: art. 2º do CPC/15 – afirma que o juízo é inerte e demanda o direito de ação da
parte para que possa exercer a jurisdição.
Inquisitivo: art. 878, CLT (mudança da reforma trabalhista – lei n.º 13.467/17: jus postulandi
apenas pode iniciar a execução de ofício se a parte não for representada por advogado).

b) Concentração dos atos processuais, art. 849, CLT (audiência una)


1) Pregão: chamamento das partes para que se inicie a audiência.
2) Tentativa obrigatória de acordo: o juiz é obrigado a perguntar se existe acordo.
3) Apresentação da defesa
4) Instrução processual: produção de provas, ouvir as partes, testemunhas, etc.
5) Apresentação das razões ou alegações finais: onde as partes demonstram que os pedidos
devem ser atendidos.
6) Tentativa obrigatória de acordo: tenta-se o acordo novamente.
7) Proferir a sentença oralmente: narrativa da sentença e o serventuário reduz a termo.
8) Intimação da sentença: todos saem intimados da sentença, o que significa dizer que já
inicia o prazo recursal no dia seguinte se for útil.

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c) Oralidade
Totalmente relacionado com a celeridade e com a simplicidade. O ato processual oral é mais
simples que o escrito e, por consequência, é mais célere.
O art. 840 da CLT possibilita a apresentação da petição inicial de forma verbal.
Esse outro princípio se associa ao jus postulandi, se a pessoa não sabe ler nem escrever e não
tem advogado, pode ajuizar sua ação de forma verbal.
Art. 786 da CLT traz a forma que isso pode ser feito: o pedido será distribuído para uma das
varas por meio de sorteio. Depois disso tem 5 dias para comparecer a vara sorteada para narrar
sua história que será reduzida a termo (distribui -> prazo de 5 dias -> comparece).
Art. 847 da CLT diz que a defesa pode ser apresentada oralmente, onde a parte teria até 20
minutos para apresentar sua defesa oral. Com a reforma trabalhista foi acrescentado
explicitamente a possibilidade também de apresentar a defesa de forma escrita.
O momento da defesa vai variar de acordo com o tipo: se a defesa for verbal, ela será feita na
audiência; se a defesa for escrita, ela será apresentada antes da audiência.
Art. 870 da CLT diz que cada parte tem 10 minutos para apresentar suas razões ou alegações
finais.
Protesto em audiência: ato de demonstração do inconformismo com a decisão proferida em
audiência, como, por exemplo, o indeferimento de testemunha. Nesse momento, se você acha
que a testemunha é fundamental, você protesta. Se você não protestar, vai passar a ideia de
concordância.
Quando acontecer esse ato, o advogado pede para que conste na ata os protestos do réu. Isso
serve para provar o inconformismo, que é importante para comprovar que tentou provar os
fatos, mas que não foi possível por causa da decisão do juiz.
O protesto evita a preclusão do direito.

d) Irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, art. 893, §1º da CLT


Como regra geral, não há possibilidade de se recorrer das decisões interlocutórias (proferidas
no curso do processo), tem que aguardar a sentença final. O que difere do processo civil, que
existe a figura do agravo de instrumento.
Isso para que o processo seja mais célere.
Exceções: art. 799, §2º da CLT – reconhecimento da incompetência absoluta da justiça do
trabalho, ou seja, quando o juiz determina que o processo deve ir para outra justiça, como a
comum estadual ou federal. Nesse caso, o artigo entende que essa decisão é terminativa,
portanto passível de recurso (Recurso Ordinário).
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Súmula n.º 214 do TST, alínea a: decisão do TRT que contraria jurisprudência do TST cabe
recurso de imediato (Recurso de Revista).
Alínea b: decisão de tribunal que cabe recurso para o próprio tribunal. Dessa decisão se pode
recorrer porque não abre um segundo grau de jurisdição. Acontece com ações que são
interpostas perante o próprio tribunal e o relator indefere alguma liminar (Agravo Interno ou
Regimental).
Alínea c: julgamento de exceção de incompetência, peça utilizada para discutir o local de
ajuizamento da ação (Fortaleza, São Paulo, etc.). No julgamento dessa peça, quando o juiz vai
determinar o local competente, cabe recurso de imediato, isto por causa da vinculação ao TRT,
saindo de uma região para outra (Recurso Ordinário).
Se manda para uma vara da mesma região, não cabe recurso.
Reforma trabalhista – desconsideração da personalidade jurídica. A reforma aceitou essa
figura do processo civil no processo do trabalho. Se essa desconsideração ocorrer no processo
de conhecimento, não caberá recurso, pois é uma mera decisão interlocutória. Se for no
processo de execução, cabe recurso (Agravo de Petição).

e) Conciliação
A conciliação é tentada em dois momentos, como foi visto no princípio da concentração dos
atos.
Art. 846 e 850 da CLT tratam dos momentos obrigatórios do acordo, que é no início da
audiência e após as razões finais.
A não tentativa de acordo, acarreta nulidade do processo.
Se as partes fizerem o acordo e o juiz homologar, haverá extinção do processo com resolução
de mérito. O juiz é obrigado a homologar o acordo? Súmula 418 do TST, a homologação é
uma faculdade do juiz, ou seja, o juiz pode não homologar se entender, por exemplo, que apenas
uma das partes está abrindo mão de direitos para realizar a conciliação.
Não cabe Mandado de Segurança porque não existe direito líquido e certo de realização de
acordo.
Se o acordo foi homologado, o juiz vai proferir uma sentença extinguindo o processo com
resolução de mérito. De toda sentença, cabe Recurso Ordinário, mas da sentença resultante de
acordo não cabe RO por falta de interesse recursal.
Art. 831 da CLT diz que a União pode interpor RO, pois a União é a credora previdenciária
daquele acordo, então se naquele acordo estiver previsto o pagamento de salário, a União tem

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que receber o INSS, e se a União entender que aquele acordo viola o seu direito de receber o
crédito, ela pode interpor RO.
Se a parte se arrepender, apenas, não pode recorrer, mas se a parte for coagida, terá que ajuizar
uma Ação Rescisória, conforme súmula 259 do TST, para desconstituir a decisão judicial
viciada (art. 966 do CPC).

f) Jus postulandi, art. 791 da CLT e súmula 425 do TST


As partes tem direito de postular em juízo sem advogado. Esse direito é previsto na CLT e foi
recepcionado pela CF, portanto, não viola a Constituição.
O art. 133 da CF fala que o advogado é indispensável, mas o jus postulandi é uma exceção que
ocorre na CLT, no juizado especial, etc.
Em 2011 o TST editou a súmula 425 que restringe o jus postulandi. Essa súmula traz quatro
situações em que o advogado é obrigatório: 1. Ação Rescisória; 2. Ação Cautelar; 3. Mandado
de Segurança; e 4. Recursos para o TST (para o TRT não precisa de advogado).
A reforma trabalhista, no art. 855-B da CLT, também restringiu o jus postulandi ao criar um
procedimento onde o advogado é indispensável, que é o procedimento de homologação de
acordo extrajudicial. O advogado não pode ser o mesmo para as duas partes.

g) Estabilidade da lide ou Inalterabilidade da demanda, art. 329 do NCPC


Trata da possibilidade de aditar a petição inicial, que é modificar a petição, trazer novos
pedidos, etc.
Aqui existe uma adaptação do conteúdo do NPCP para o Processo do Trabalho, pois alguns
pontos são modificados.
Ex.: Reclamante ajuizou uma ação exclusivamente para pedir dano material decorrente de
acidente de trabalho, que seriam os custos do tratamento. Entretanto, o reclamante percebeu
que poderia ter pedido dano moral, por isto o reclamante desejaria modificar a petição inicial.
Para isso acontecer, vai depender do momento em que se encontra o processo. Quais sejam:
1. Até a apresentação da defesa pelo réu, o autor pode realizar o aditamento sem a
concordância do réu. O que vai acontecer é que a audiência será remarcada para que o
réu prepare a sua defesa incluindo o novo pedido.
2. Apresentada a defesa, se o autor quiser aditar a petição é possível, mas o consentimento
do réu é necessário. Se ele não concordar, o novo pedido não é incluído, mas pode ser
ajuizada uma nova ação para novo pedido.

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3. Instrução, iniciada a produção de provas, o autor não pode mais aditar a petição, nem
com consentimento ou autorização do juiz. O que pode ser feito é ajuizar uma nova
ação.

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