Você está na página 1de 8

CARACTERÍSTICAS DE RESISTÊNCIA E DE DEFORMABILIDADE DE UM

SAPRÓLITO GRANÍTICO DA GUARDA; INFLUÊNCIA DA AMOSTRAGEM

STRENGTH AND DEFORMATION CHARACTERISTICS OF A


SAPROLITIC GRANITE FROM GUARDA; SAMPLING EFFECTS

Rodrigues, Carlos 1; Lemos, Luís 2

RESUMO

Apresentam-se as características químico-petrográficas da evolução do estado de meteorização de um saprólito do


granito da Guarda, (região localizada no NE de Portugal) e respectivas micro-estruturas. Procede-se à classificação dos
solos do maciço através das suas propriedades plásticas e granulométricas. De modo a avaliar as suas propriedades
mecânicas executaram-se um conjunto de ensaios “in situ” (DPSH, SPT, CPTU, SP e CH), que permitiram caracterizar
a evolução das propriedades de resistência e de rigidez ao longo do perfil. Realizaram-se um conjunto de ensaios
triaxiais segundo diversas trajectórias de tensões que permitiram avaliar as características de resistência e de
deformabilidade de dois horizontes de meteorização. Procede-se à comparação das propriedades de deformabilidade
avaliadas por intermédio das metodologias de campo e laboratório e analisa-se o potencial efeito perturbador da
amostragem, comparando os resultados de ensaios triaxiais executados nas mesmas condições sobre provetes sujeitos a
amostragem seguindo a mesma metodologia empregue na colheita das amostras utilizadas na caracterização mecânica
dos solos em consideração (amostradores de tubo aberto) e amostras em bloco.

ABSTRACT

The petrography and chemical characteristics of the weathering evolution are shown for the saprolitic granite from
Guarda (a region located at the NE part of Portugal) and the respective microstructures. The soil mass was classified
using granulometric and plastic properties. The evaluation of the mechanic properties was carried out through field tests
(DPSH, SPT, CPTU, SP, and CH) which enable the characterisation of the properties strength and stiffness through the
entire soil layer with depth. A group of triaxial tests were carried out using several stress paths in order to evaluate the
strength and stiffness for two areas of different weathering. The deformation properties determined using field and
laboratory techniques were compared and the sampling disturbance was evaluated using open tube and block samples,
submitted to triaxial testing.

Palavras-chave: estado de meteorização, características mecânicas, perturbação na amostragem.

(1) Professor Adjunto, DEC - IPG, crod@ipg.pt


(2) Professor Associado, DEC - FCTUC, llemos@dec.uc.pt

INTRODUÇÃO

A rocha mãe do saprólito granítico estudado caracteriza-se por ser um granito do tipo monzonítico, de duas
micas, com largo predomínio da biotite, apresentando textura porfiróide de grão muito grosseiro, com dimensão média
dos cristais da matriz de 7 mm, tendo os fenocristais por vezes orientação preferencial, comprimentos médios de 45
mm, podendo atingir os 70 mm. Como elementos essenciais referem-se, quartzo, oligoclase, microclina, albite, biotite e
moscovite. Os minerais acessórios compreendem apatite, zircão e magnetite, sendo a caulinite, sericite e clorite os
minerais secundários mais abundantes. O local sob investigação situa-se na região montanhosa do maciço da Estrela, na
região nordeste de Portugal, a cotas de aproximadamente 1000 m.

CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE METEORIZAÇÃO DO PERFIL

De modo a caracterizar o estado de meteorização química do perfil foram executadas análises químicas em 7
amostras, colhidas desde a superfície até aos 7 m de profundidade, bem como em amostras de rocha sã. Os resultados
obtidos permitem dizer que a evolução do estado de meteorização do perfil, faz-se sobretudo à custa de perdas de Na2O,
CaO e Al2O3 e ligeiros ganhos de MgO, TiO2, FeO e SiO2. Observou-se ainda a tendência para uma diminuição da
percentagem de Fe2O3 e de Al2O3 em profundidade, e o inverso para o caso do SiO2. Constata-se também que as perdas
ao rubro (PR) diminuem significativamente em profundidade.

Lumb [1], propôs a utilização de um índice petrográfico quantitativo para avaliar o grau de decomposição dos
feldspatos nas rochas alteradas - χd.

χd = (Nq-Nq0)/(1-Nq0)
Nq - peso de quartzo e feldspato na rocha meteorizada;
Nq0 - - peso de quartzo e feldspato na rocha mãe.

Com base na proposta de Irfan, [2], procedeu-se à avaliação do parâmetro χdmod em amostras colhidas a
diferentes profundidades no perfil, de modo a conhecer a evolução do estado de alteração do mesmo. Para tal utilizou-se
um peneiro com abertura de 450 µm para separar as fracções. Na quantificação da percentagem de feldspatos
inalterados não se procedeu à sua desintegração com os dedos mas sim à lavagem do material no peneiro, sem proceder
no entanto à peneiração. A separação dos grãos retidos no peneiro fez-se através de lupa binocular. A avaliação dos
pesos de quartzo e feldspatos na rocha sã fez-se por análise modal de sete lâminas delgadas procedendo-se à contagem
de um total de 8000 pontos.

1.60 Na Figura 1 encontram-se projectados no ábaco de Collins


[3] os valores obtidos. Esta representação para além de
1.40 permitir inferir o grau de decomposição dos feldspatos,
1m 2m
possibilita ainda a caracterização micro-estrutural do
1.20
3m 4m perfil, relacionando o tipo de fábrica presente no maciço
Índice de vazios (e0)

1.00 5m 6m com o seu grau de decomposição. A análise da figura,


7m permite inferir no perfil a existência de dois tipos distintos
0.80
de micro-estruturas: uma correspondente à zona mais
0.60 superficial (1 – 4 m), que deverá apresentar matriz porosa
cimentada, e outra mais profunda (4 – 7 m) que se
0.40 caracteriza por a existência de uma matriz de natureza
granular fechada.
0.20

0.00
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00
χd

Figura 1 – Caracterização micro-estrutural (Collins, 1985).

CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DO PERFIL DE METEORIZAÇÃO

As características granulométricas e de plasticidade dos solos que compõem o perfil em análise, respeitantes aos
dois horizontes de meteorização, apresentam-se no Quadro 1. Os resultados obtidos indicam que o perfil, até à
profundidade investigada, consta de solos bem graduados exibindo ténue tendência para diminuição da percentagem de
argila e silte em profundidade, sendo no entanto classificados na sua generalidade como areias siltosas (SM). As
características de plasticidade da fracção fina destes solos indicam também a existência de elevada homogeneidade,
pelo que não deverão ser estas as responsáveis por eventuais distinções do comportamento mecânico destes solos.

Quadro 1 – Características granulométricas e da plasticidade do perfil.


Prof. % % % % wL IP
(m) argila silte areia cascalho (%) (%)
2.6 – 9.6 15.8 – 23.3 38.5 – 44.3 26.8 – 39.1 36.2 – 42.0 5.2 – 12.7
0–4
(5.0) (18.6) (41.1) (35.3) (38.7) (8.2)
4.8 – 7.6 16.8 – 20.4 38.8 – 44.5 29.8 – 37.3 37.5 – 42.2
4–9 NP – 9.5
(5.7) (18.5) (41.54) (34.2) (40.1)

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA POR ENSAIOS “IN SITU”

Com vista à caracterização geotécnica do perfil, procedeu-se a uma campanha de investigação que constou da
execução de vários ensaios “in situ”, nomeadamente: 5 ensaios DPSH (44.2 m perfurados), 34 ensaios SPT (4 furos), 6
ensaios CPTU (56.2 m perfurados), 3 ensaios SP (ensaio de carga em placa helicoidal) e 1 ensaio CH (ensaio sísmico
entre furos) entre 2 furos distanciados de 5 m (17 pontos de medição). Na Figura 2a), apresentam-se os resultados de
três ensaios (DPSH, SPT e CPTU) executados em pontos contíguos, numa zona representativa do maciço.
Os resultados obtidos dos ensaios “in situ”, confirmam a existência de dois horizontes distintos, correspondentes
aos dois estados de meteorização, diferenciados na caracterização petrográfica. Por outro lado, os resultados dos ensaios
CPTU projectados na carta de classificação de Robertson [4], localizam-se quase que na totalidade na zona 8,
correspondente a areias a areias argilosas compactas, sendo este sector típico de materiais muito rijos, cimentados ou
envelhecidos, o que é perfeitamente concordante com a situação deste saprólito, (Figura 2b).

N'60 ; q t (MP a ) ; NP 20
1 00 0
0 5 10 15 20 25 30
0
1
2 10 0

(qt-σv0 )/ σ´vo
3
4
5
6 10

7
8
9 1
SPT q t (MP a ) 0.1 1 10
DP S H NF fs / (qt-σv0)

a) b)
Figura 2 – a) Resultados de ensaios DPSH, SPT e CPTU representativos do perfil de meteorização em estudo do granito
da Guarda; b) resultados dos ensaios CPTU projectados na carta de classificação de Robertson [4].

No Quadro 2, apresenta-se em resumo os resultados obtidos dos diferentes ensaios respeitantes aos dois
horizontes de meteorização.

Quadro 2 – Resultados de ensaios “in situ” característicos do perfil de alteração.


N N20 qt (MPa) ft (MPa) VP (m/s) Vs (m/s)
Profundidade
(SPT) (DPSH) (CPTU) (CPTU) (CH) (CH)
0m–4m 17 8 10.9 0.40 743 350
4m–9m 26 25 27.4 0.73 1440 374

No Quadro 3 apresentam-se valores de parâmetros de rigidez avaliados com base nos resultados dos ensaios “in
situ”, nomeadamente ensaio sísmico entre furos (cross-hole – CH) e ensaio de carga em placa helicoidal (screw plate –
SP), tendo para isso sido utilizadas expressões da teoria da elasticidade (para o ensaio CH) e um modelo elasto-plástico
para o caso do ensaio SP (Strout, [5]).

Quadro 3 – Parâmetros de deformabilidade inferidos a partir de ensaios “in situ”.


Horizonte Tipo G E ν
de (MPa) (MPa)
ensaio
(0 – 4 m) SP 28.3
CH 242 653 0.30
(4 – 9 m) SP -
CH 301 878 0.46

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA POR ENSAIOS DE LABORATÓRIO

ENSAIOS TRIAXIAIS

Realizou-se um conjunto de ensaios de compressão triaxial, respeitante a 32 ensaios do tipo CIU, CID e CIp’cte,
em amostras estruturadas, colhidas nos dois horizontes de meteorização, por intermédio de amostradores de tubo aberto
de paredes finas de aço inox com 70 mm de diâmetro, tendo os provetes sido instrumentados internamente com um
sistema do tipo “Hall Effect”. Os ensaios foram realizados promovendo-se a saturação prévia dos provetes e o corte foi
efectuado com deformação controlada às seguintes velocidades: 0.05 mm/min, nos ensaios não drenados, e 0.015
mm/min, nos ensaios drenados (com σ’3 constante e com p’ constante).
Resistência

Na Figura 3 apresentam-se as envolventes de rotura correspondentes aos dois horizontes meteorizados e ao


comportamento intrínseco do solo [6].

12 00

10 00

q (k P a) 8 00

6 00

4 00 Horizo nt e 1
Horizo nt e 2
2 00
Com p . In t ríns.

0
0 10 0 20 0 30 0 4 00 5 00 60 0 70 0 80 0
p' (kP a)

Figura 3 – Envolventes de rotura dos solos estruturados e desestruturados.

No Quadro 4, apresentam-se os parâmetros de resistência ao corte, obtidos através da linearização das


envolventes de rotura para dois níveis de tensão distintos, correspondentes aos dois horizontes de meteorização e ao
comportamento intrínseco dos solos.

Quadro 4 - Parâmetros de resistência ao corte correspondentes aos solos estruturados e desestruturados.


Parâmetros Tipo de Horizonte 1 Horizonte 2
de ensaio Nível de tensão (σ’3)0 Nível de tensão (σ’3)0
Resistência 15 - 150 kPa 15 - 500 kPa 15 - 150 kPa 15 - 500 kPa
c' (kPa) CIU, CID, 5.4 12.7 11.1 18.7
φ' ( º ) CIp’(cte) 41.8 37.3 42.2 39.3
c’ (kPa) CIU , CID Comportamento intrinseco 0
φ' ( º ) 35.4

Da análise do Figura 3 é possível observar a não linearidade das envolventes de rotura correspondentes aos dois
horizontes, em contraste com a obtida para o comportamento intrínseco, verificando-se que só para elevadas tensões é
que a correspondente aos materiais estruturados se aproxima da dos materiais desestruturados. A evolução do estado de
tensão tem por consequência a quebra evolutiva das ligações interparticulares nos materiais estruturados, aproximando-
se o seu comportamento mecânico, quando se atingem elevados níveis de tensão, dos solos no estado desestruturado,
confirmando-se assim comportamentos observados por diversos autores em solos estruturados natural e artificialmente,
[7] e [8]. Observa-se ainda que a envolvente de rotura correspondente ao segundo horizonte localiza-se acima da
correspondente ao primeiro, o que reflecte a existência de uma estruturação mais forte nos materiais mais profundos,
situação perfeitamente concordante com a observada através da execução dos ensaios “in situ”.

Deformabilidade

Nas Figuras 4a) e 4b) apresentam-se os valores dos módulos de secantes, obtidos dos vários ensaios triaxiais
para duas trajectórias de tensões distintas (σ’3 e p’ constantes), correspondentes a diferentes níveis de deformação axial
(0.001%, 0.01%, 0.1% e 1%). Encontram-se ainda projectados os valores do módulo de deformabilidade avaliados da
execução dos ensaios de carga em placa helicoidal (SP), às profundidades de 1 m, 2.5 m e 4.0 m, admitindo que o nível
de deformação envolvido na sua avaliação é da ordem dos 0.1%. Para além destes, encontram-se ainda projectados os
valores do módulo de rigidez dinâmico estimados a partir da execução do ensaio sísmico entre furos (CH), até à
profundidade de 4.5 m (acima do nível freático).

Da análise da Figura 4 é visível o comportamento altamente não linear da rigidez, bem como a influência que o
nível das tensões de confinamento desempenham nos parâmetros de rigidez. Observa-se também que a diferença entre o
valor de E0 referente ao ensaio CH é da ordem das 3 a 5 vezes superior ao valor obtido do ensaio triaxial a níveis de
deformação de 10-3 %. Este facto dever-se-á tanto à influência que o nível de deformação desempenha na rigidez como
à perturbação inerente ao processo de amostragem [9].
C ID - P ro f . 0 .5 - 4 .0 m C Ip 'c t e - P ro f . 0 .5 - 4 .0 m
1000 1000

100 100

10 10 15 25
15 25
50 150
50 150
350 CH 350 500
SP CH SP
1
1
0.00001 0.0001 0.001 0.01 0.1 1
0.00001 0.0001 0.001 0.01 0.1 1
εa (%) εa (%)

a) b)
Figura 4 – Valores dos módulos de deformabilidade em função da deformação axial obtidos de ensaios CH, SP e
triaxiais, segundo duas trajectórias de tensões distintas: a) σ’3 constante; b) p’ constante.

ANÁLISE DO EFEITO PERTURBADOR DA AMOSTRAGEM NO COMPORTAMENTO MECÂNICO

De modo a avaliar o potencial efeito perturbador do método de amostragem utilizado (amostrador de tubo
aberto) nos resultados obtidos, foram colhidas amostras por intermédio de duas metodologias distintas: amostragem
recorrendo a amostradores de tubo aberto de paredes finas e amostragem em bloco. Das amostras colhidas foram
preparados provetes de dimensão de 70 mm de diâmetro e 140 mm de altura, sobre os quais se realizaram ensaios
triaxiais.

Amostragem com amostrador de tubo aberto

Foram colhidas amostras com recurso a dois amostradores de tubo aberto de paredes finas com 70 mm e 100 mm
de diâmetro (A70 e A100), os amostradores em consideração apresentavam características constantes do Quadro 5.

Quadro 5 – Parâmetros característicos dos amostradores de paredes finas A70 e A100


Tipo de amostrador A70 A100
Diâmetro interno 70 mm 100 mm
Diâmetro externo 75.6 mm 105.6 mm
Espessura das paredes 2.8 mm 2.8 mm
Comprimento do corpo do amostrador 302 mm 300 mm
Comprimento do tubo amostrador ligado à boca cortante 328 mm 322 mm
Ângulo do bisel da boca cortante 10º 11º
Índice de área 17.9 % 12.4 %
Índice de folga interna 0 0
Relação comprimento/diâmetro interno 4.7 3.2
Relação diâmetro externo/espessura 27.1 37.9

Amostragem com amostrador A100 – foram obtidas amostras com o amostrador de 100 mm de diâmetro interno,
através de cravação estática, por acção do sistema hidráulico de um equipamento de sondagem, capaz de atingir 200 kN
de carga estática sobre o extremo superior do trem de varas. Refira-se que não se procedeu à ancoragem do
equipamento de modo a não introduzir factores de perturbação adicionais. Após extrusão da amostra que apresentava
100 mm de diâmetro, concebeu-se um provete com 70 mm de diâmetro recorrendo à escovagem cuidadosa da face com
escova de aço;

Amostragem com amostrador A70 – foram obtidas amostras com amostrador de 70 mm de diâmetro interno,
através de cravação estática, tal como no caso anterior, contudo seguiram-se dois procedimentos distintos:
a) A70 - cravou-se directamente o amostrador no solo;
b) A70* - à medida que se procedia a cravação estática do amostrador, o material na vizinhança da boca cortante ia
sendo retirado.

Amostragem em bloco

Procedeu-se à colheita de amostras em bloco, utilizando dois procedimentos distintos:


a) Bloco B1 - um bloco (25×25×25 cm) foi talhado recorrendo a ferramentas comuns, normalmente utilizadas
para a constituição das faces e corte da base do bloco. O provete final foi obtido recorrendo a uma serra e fio metálico
que iam desgastando, por raspagem, as faces de um pré-provete com diâmetro inicial próximo dos 100 mm, que se
colocava sob equipamento tradicional de preparação de provetes triaxiais, até que se atingissem as dimensões
pretendidas (diâmetro de 70 mm, altura 140 mm). Refira-se que este método de preparação ocasionou faces muito
rugosas ao provete.

b) Bloco B2 - um outro bloco foi preparado, recorrendo a uma serra de dentes alongados, utilizada para talhar as
faces do bloco e fio dentado para corte da base, seguindo-se aproximadamente a metodologia apresentada por Cresswell
[10]. O provete foi preparado, numa primeira fase desgastando o bloco através de um disco escova, ligado a um
berbequim que se fazia circular pelo bloco. Quando se atingiu dimensão próxima à do provete utilizou-se uma escova
de aço que ia desgastando a face da amostra de forma cuidadosa (por escovagem), até se atingir a dimensão pretendida
(diâmetro de 70 mm, altura 140 mm).

QUALIDADE DA AMOSTRAGEM

Todos os provetes, obtidos pelos diferentes métodos de amostragem, foram sujeitos a ensaios de compressão
triaxial tendo sido instrumentados por um par de transdutores internos de medição da deformação axial tipo “Hall
Effect”, que apresentam sensibilidade de medição da ordem de ±0.0002% [11]. Após a saturação, procedeu-se à
consolidação isotrópica controlada dos provetes (30 kPa/h) a baixa tensão efectiva (15 kPa), de modo a garantir a
preservação da estrutura contida nos provetes, herdada da rocha mãe. O corte foi drenado mantendo-se σ’3 constante,
tendo sido controlada a deformação axial, que decorreu a uma velocidade constante de 0.05mm/min.

As Figuras 5a) e 5b) apresentam as relações tensão-deformação obtidas dos ensaios triaxiais sob os provetes
provenientes da amostragem com amostrador de tubo aberto e da amostragem em bloco.

AM OST RADORES DE T UBO ABERT O AM OST RAGEM EM BLOCO


16 0
1 60
A 100 14 0 B lo c o B 1
1 40
A 70 12 0 B lo c o B 2
1 20 A 70*
10 0
q (k P a)

1 00
q (k P a)

80 80
60 60
40 40
20 20
0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
ε a (%) ε a (%)

a) b)
Figura 5 – a) Relações q-εa de ensaios triaxiais realizados sob provetes sujeitos a amostragem com tubo aberto; b)
Relações q-εa de ensaios triaxiais realizados sob provetes retirados de amostras em bloco.

As Figuras 6a) e 6b) apresentam as relações de rigidez-deformação correspondentes à projecção do módulo de


deformabilidade secante “versus” deformação axial obtidas dos ensaios triaxiais sob os provetes provenientes da
amostragem com amostrador de tubo aberto e da amostragem em bloco.

Dos resultados obtidos verifica-se que a diminuição dos cuidados na amostragem provoca de um modo geral
uma modificação da relação tensão-deformação, observando-se um comportamento frágil, com pico bem definido, nos
provetes amostrados com amostrador de maior diâmetro e atenuação significativa deste comportamento no caso em que
se utilizou um amostrador de diâmetro igual ao do provete. Para além disso, observa-se uma diminuição da magnitude
da resistência de pico que é acompanhada por um aumento do nível de deformação e diminuição do comportamento
dilatante. Resultados semelhantes são obtidos quando se procede à análise da variação da rigidez função dos vários
métodos de amostragem, observando-se valores iniciais de rigidez superiores no provete colhido com o amostrador de
maior diâmetro, embora mesmo neste caso não seja perceptível a definição da primeira cedência, facto que se deverá ao
elevado nível distorcional a que foi sujeita a amostra durante a amostragem.
AM OST RADORES DE T UBO ABERT O AM OST RAGEM EM BLOCO
10 0 100
A100 B lo c o B 1

A70 B lo c o B 2

A70*
10 10

1 1
0.0 01 0.01 0.1 1 10 0 .0 0 1 0 .0 1 0 .1 1 10

ε a (% ) ε a (% )

a) b)
Figura 6 – a) Relações Esec-εa de ensaios triaxiais realizados sob provetes sujeitos a amostragem com tubo aberto; b)
Relações Esec-εa de ensaios triaxiais realizados sob provetes retirados de amostras em bloco.

Relativamente aos resultados obtidos da execução de ensaios triaxiais em provetes provenientes de amostras em
bloco, observa-se uma diferença muito significativa entre os valores registados de resistência de pico, utilizando os dois
métodos de preparação dos provetes provenientes dos blocos, bem como valores muito mais elevados de rigidez, no
provete obtido de um bloco cuidadosamente talhado e minuciosamente preparado (B2). Este facto aparentemente traduz
o efeito altamente perturbador que a metodologia utilizada tanto no corte dos blocos como na preparação dos provetes
pode conter.

Comparativamente aos resultados obtidos dos provetes sujeitos a amostragem e dos blocos, pode observar-se que
se obtêm resultados, tanto de resistência como de rigidez, bastante melhores no bloco talhado com técnicas mais
cuidadas e em que o provete é obtido com retirada de material das faces até à dimensão pretendida de modo suave
(escovagem). Quando o bloco é talhado de modo menos cuidado os valores obtidos tornam-se da mesma ordem de
grandeza do obtido por amostrador com diâmetro igual ao do provete a ensaiar cravado directamente no maciço. De
qualquer dos modos, observa-se que os resultados obtidos dos ensaios sob provetes colhidos pelo amostrador de maior
diâmetro aproximam-se de forma notória dos atingidos pelo provete proveniente do bloco B2.

CONCLUSÕES

- os solos analisados do saprólito granítico da Guarda correspondem fundamentalmente a areias siltosas e


caracterizam-se por apresentar razoável homogeneidade em termos das suas características granulométricas e de
plasticidade ao longo do perfil de meteorização. As suas propriedades físicas nomeadamente o peso volúmico e a
densidade das partículas sólidas evoluem de forma crescente em profundidade, sendo acompanhados por uma
diminuição do índice de vazios;

- as análises químicas demonstram que a evolução da meteorização química se faz à custa de perdas de Na2O,
CaO e ligeiros ganhos de MgO, TiO2, FeO e SiO2, observando-se ainda a tendência para uma diminuição da
percentagem de Fe2O3 e de Al2O3 em profundidade;

- os valores do índice petrográfico χdmod, permitem inferir a existência de dois horizontes no perfil, em estados de
meteorização distintos a que correspondem também micro-estruturas diferentes; esta hipótese foi confirmada pela
execução de ensaios “in situ”, nomeadamente SPT, DPSH, CPTU e CH;

- os resultados dos ensaios “in situ” revelam que as características de resistência e de rigidez evoluem de forma
crescente em profundidade;

- os ensaios triaxiais permitiram evidenciar a não linearidade das envolventes de rotura, e só para elevadas
tensões de confinamento as envolventes estruturadas e de comportamento intrínseco tendem a coincidir;

- no que respeita à rigidez, os valores obtidos com base em ensaios CH, apresentam-se bastante mais elevados
que os obtidos dos ensaios triaxiais, para reduzidos níveis de deformação, em consequência do efeito que a amostragem
produz na estrutura de cimentação deste tipo de solos e também por os níveis de deformação envolvidos nos dois
ensaios serem bastante diferentes;
- os módulos de rigidez obtidos dos ensaios SP, embora se reconheça a escassez de informação, parecem
equivaler-se aos avaliados através dos ensaios triaxiais para níveis de deformação elevados (0,1 e 1%) sugerindo que a
instalação “in situ” do equipamento perturba a estrutura de cimentação;

- a utilização de amostradores de tubo aberto de paredes finas na colheita de amostras de saprólitos graníticos, é
uma técnica de amostragem com efeitos perturbadores importantes, no entanto, podem melhorar-se substancialmente os
resultados obtidos caso se utilizem amostradores de diâmetro superior ao dos provetes a ensaiar, retirando-se
cuidadosamente o material existente entre a face da amostra até ao diâmetro pretendido para o provete.

- a amostragem em bloco é normalmente aceite como a técnica menos perturbadora, no entanto, esta pode
revelar-se como sendo mais penalizante do que a própria amostragem com amostrador de tubo aberto, caso a técnica de
corte das faces do bloco e base não sejam adequadas e se para além disso, os procedimentos utilizados no talhamento do
provete não sejam ligeiros e suaves.

- a comparação dos resultados obtidos dos parâmetros de rigidez , por técnicas “in situ” (Cross-hole) e de
laboratório (triaxiais com instrumentação interna), apesar de solicitarem os materiais a níveis distintos de deformação,
revelam que estes materiais apresentam uma estrutura frágil, susceptível de importantes perturbações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Lumb, P.(1962). “The properties of decomposed granite”. Géotechnique, nº 12. pp 226-243.

[2] Irfan, T.Y. (1988). “Fabric variability and index testing of a granitic saprolite”. Proc. Sec. Inter. Conf. on
Geomechanics in Tropical Soils, Singapore, Vol. 1. pp 25-35.

[3] Collins, K. (1985). “Towards characterization of tropical soil microstructure”. Proc. First Int. Conf. on
Geomechanics in Tropical Lateritic and Saprolitic Soils, Brazilia, Vol. 3, pp 207-209.

[4] Robertson, P.K. (1990). “Soil classification using the cone penetration test”. Canad. Geot. J. Nº 27, pp. 151 – 158.

[5] Strout, J.M. (1998). “ Evaluation of the Field Compressometer Test in Sand”. Tese de Doutoramento. NTNU.
Trondheim.

[6] Lemos, L.J.L e Rodrigues, C.M.G. (2000). “Comportamento intrínseco de um solo residual granítico”. Proc. 7º Cong.
Nacional de Geotecnia. FEUP Porto, Vol. 1, pp. 229-240.

[7] Leroueil, S.; Vaughan, P. (1990). “The general and congruent effects of structure in natural soils and weak
rocks”.Geotéchnique, London, Vol. 40, nº 3, pp. 467–488.

[8] Viana da Fonseca, A. (1996). “Geomecânica dos Solos Residuais do Granito do Porto. Critérios para
Dimensionamento de Fundações Directas”. Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto para obtenção do grau de Doutor em Engenharia, Porto.

[9] Rodrigues, C.M.G. e Lemos, L.J.L (2001). “Experiência na amostragem de saprólitos graníticos da Guarda com
amostradores de tubo aberto”. Workshop – Técnicas de Amostragem em Solos e Rochas Brandas e Controlo de
Qualidade. FEUP Porto, Junho 2001.

[10] Cresswell, A. (2001). “Block sampling and test sample preparation of locked sands”. Technical Note -
Géotechnique 51, Nº. 6, 567 – 570.

[11] Clayton, C.R.I. e Khatrush, S.A. (1986). “A new device for measuring local axial strains on triaxial specimens”.
Géotechnique 36, Nº. 4, 593 – 597.

Você também pode gostar