1
Biólogo. Aluno da Pós-Graduação em Vigilância Sanitária pela Universidade Católica de Goiás/IFAR.
2
Biomédica. Doutora em Patologia Molecular pela Universidade de Brasília (UnB). E-mail:
belbiomedica@uol.com.br
Resumo
O chumbo (Pb) é um metal tóxico que pode provocar sérios danos à saúde. Seus compostos atualmente têm um
largo uso industrial como em baterias, munições, tintas, equipamentos médicos, ligas metálicas e cerâmicas. O
conhecimento sobre as fontes de contaminação pelo chumbo pode fornecer aos órgãos de controle e fiscalização
subsídios no momento da investigação sobre a contaminação. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma
revisão atualizada sobre as fontes de contaminação por chumbo, visando fornecer informações para fortalecer a
fiscalização da qualidade pelos órgãos de fiscalização e controle.
A contaminação por metais vem crescendo nos últimos anos criando problemas a
saúde humana e conseqüências econômicas (SMITH; VAN RAVENSWAAY; THOMPSON,
1998). A concentração de chumbo (Pb) em diferentes tipos de alimentos, como leite e arroz,
tem sido relatada em vários países (CAGGIANO ET AL., 2005).
Lansdown e Yule (1986) mencionam alguns usos do chumbo como cosmético, tais
como o pó de Galena (sulfeto de chumbo, de cor acinzentada) utilizado como pintura para os
olhos no antigo Egito, e também a Cerusa (pigmento branco de carbonato de chumbo),
utilizada como uma espécie de maquiagem para clarear a face, na Grécia e na China. O uso de
compostos inorgânicos de chumbo como pigmentos de tintas para diversos usos e superfícies
era, inclusive, muito comum.
Além disto, a morte por envenenamento por chumbo não era fato aleatório entre
pintores. Francisco de Goya (séc. XVIII), Mariano Fortuny e Vincent Van Gogh (XIX), além
do brasileiro Cândido Portinari (XX), que tinha o hábito de limpar os pincéis com a boca, são
exemplos de pintores famosos cuja causa da morte suspeita-se fortemente estar relacionada ao
envenenamento por chumbo (FITCH, 2004; MONTES SANTIAGO, 2006). Na verdade, até o
advento da química orgânica utilizando compostos de origem petrolífera, na década de 1850,
praticamente não havia substitutos satisfatórios para esses pigmentos a base de chumbo
(FITCH, 2004).
O chumbo metálico foi muito utilizado na Roma antiga na forma de encanamentos
devido à sua durabilidade, maleabilidade e resistência à oxidação. Ainda hoje é possível
encontrar nas ruínas da cidade de Pompéia exemplares bem conservados desses
encanamentos, que chegavam a formar extensas redes de distribuição de água. No Império
Romano o chumbo também era utilizado na confecção de outros objetos, como as fichas
usadas como passe de entrada para o Coliseu, além de molduras para espelhos, esculturas e
utensílios de cozinha, como as panelas que eram utilizadas para ferver vinho e torná-lo mais
doce. Muito provavelmente, a substância formada nesse processo de fervura é o acetato de
chumbo, Pb(CH3CO2)2, que possui um sabor adocicado (FITCH, 2004). Muitos dos usos do
chumbo da antiguidade perduraram por séculos, até aos tempos modernos. Um exemplo disso
é que em todo o mundo é documentada a presença de encanamentos de chumbo ou mesmo o
uso de soldas e peças a base desse metal nas redes de abastecimento público e em residências,
especialmente as construídas até a década de 70 (WHO, 2008).
As concentrações de chumbo atmosférico aumentaram exponencialmente a partir de
1923, ano em que passou-se a usar o chumbo tetraetila como agente antidetonante na gasolina
para melhora de desempenho do motor, passando a ser um problema de saúde pública em
muitas cidades cosmopolitas de países desenvolvidos, especialmente para pessoas que
residiam próximas a estradas e rodovias. Com a retirada de chumbo da gasolina, a
contaminação atmosférica por chumbo no Canadá passou de 0,74 μg/m3 em 1973 para menos
de 0,10 μg/m3 em 1991 (ENVIRONMENT CANADA, 1991).
No Brasil, com o início do programa PróÁlcool (anos 70) houve uma gradativa
substituição do chumbo tetraetila por etanol anidro, minimizando, portanto, os problemas de
saúde decorrentes. Para se ter uma idéia do impacto positivo na qualidade da atmosfera do
país, a região metropolitana de São Paulo passou de uma concentração máxima de chumbo de
1,6 μg/m3 em 1978 para 0,4 μg/m3 em 1983. Em 2003, os máximos não ultrapassaram 0,3
μg/m3, e a média do mesmo ano foi de 0,08 μg/m3 (CETESB, 2009). Entretanto, como a
atmosfera é um compartimento muito dinâmico do sistema Terra, o chumbo atmosférico
proveniente da queima da gasolina tetraetilada espalhou-se rapidamente por todo o planeta,
depositando-se sobre solos, oceanos e rios, promovendo uma contaminação global.
Alimentos podem conter pequenas, porém significantes, quantidades de chumbo, o que
dependerá da água usada no cozimento ou dos utensílios utilizados para cozinhar, ou ainda de
onde foi armazenado o alimento, especialmente se a comida tiver propriedades ácidas (WHO,
2008). Muitas espécies de vegetais para consumo humano ou animal que crescem sobre solos
poluídos com metais como o chumbo não são capazes de evitar a absorção dos mesmos.
Assim, animais que se alimentam de pastagens de solos contaminados ou bebem água
contaminada com chumbo, tornar-se-ão também potenciais fontes de exposição humana ao
chumbo via alimentar. Seus compostos atualmente têm um largo uso industrial como em
baterias, munições, tintas, equipamentos médicos, ligas metálicas e cerâmicas (NRIAGU
1983). Os primeiros casos de contaminação pelo Pb foram observados em 1920 na Austrália e
EUA, causado pela ingestão de tintas contendo Pb por crianças. (HEATH ET AL, 2003). A
contaminação pelo Pb é resultante direta da atividade humana diária e da confluência de
diversos fatores (PAOLIELLO ET AL, 2005). A exposição ao Pb representa um exemplo de
injustiça ambiental que afeta a saúde humana, mas particularmente os grupos mais
vulneráveis, que pode influenciar na aparição de patologias (ROJAS, et al 2003).
As principais vias de exposição são a oral, inalatória e cutânea. Os adultos são
expostos principalmente ocupacionalmente por inalação e crianças são expostas
principalmente pela ingestão e absorvido pelo trato intestinal. (ALVES E TERRA, 1983).
Uma vez absorvido, o chumbo pode ser armazenado no tecido mineralizado (ossos e dentes)
por longos períodos. Quando há necessidades de cálcio esse chumbo pode ser novamente
libertado na corrente sanguínea; isto acontece sobretudo na gravidez, lactação e osteoporose e
é especialmente perigoso para o feto em desenvolvimento.
A sua toxicidade, no entanto, dependerá do modo de entrada e da sua forma química e
física, o que determinará também o modo de transferência entre as fases aquosa, orgânica
(membrana celular) e sólida (ossos) do corpo. Outros fatores determinantes na toxicidade do
chumbo ao indivíduo são a idade, sexo e condição nutricional (FITCH, 2004).
Nos adultos os sintomas não são específicos (fatiga, depressão, distúrbios do sono, dor
abdominal, náuseas). Segundo alguns pesquisadores podem ser observados efeitos da
contaminação pelo Pb com concentrações de 30 µg/dL PbB (Chumbo no sangue). Níveis
entre 30-50 µg/dL de PbB podem provocar problemas relacionados com a coordenação
motora. Porém, recentes evidencias tem mostrado que níveis abaixo de 10 µg/dL no sangue,
está associado com problemas renais (CDC, 2003).
Alimentos podem conter pequenas, porém significantes, quantidades de chumbo, o
que dependerá da água usada no cozimento ou dos utensílios utilizados para cozinhar, ou
ainda de onde foi armazenado o alimento, especialmente se a comida tiver propriedades
ácidas (WHO, 2008). Muitas espécies de vegetais para consumo humano ou animal que
crescem sobre solos poluídos com metais como o chumbo não são capazes de evitar a
absorção dos mesmos. Assim, animais que se alimentam de pastagens de solos contaminados
ou bebem água contaminada com chumbo, tornar-se-ão também potenciais fontes de
exposição humana ao chumbo via alimentar.
Com isto, este trabalho tem por objetivo apresentar uma revisão atualizada sobre as
fontes de contaminação por chumbo, suas conseqüências para a saúde pública brasileira e a
legislação sobre o tema, visando fornecer informações para fortalecer a fiscalização da
qualidade pelos órgãos de fiscalização e controle.
2 METODOLOGIA
Para a elaboração deste trabalho de revisão, foram utilizados artigos publicados entre
2000 e 2011. Foram selecionadas legislações, teses e publicações relacionadas à
―contaminação pelo chumbo‖.
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram: Scielo Brasil, Periódicos Capes, Visa
Legis (disponível no portal da ANVISA) e o Google Scholar (Google Acadêmico).
3 DISCUSSÃO
O chumbo é um dos metais tóxicos conhecidos pelo homem com o qual ele mais tem
contato no dia-a-dia. As fontes antrópicas são a maior contribuição na entrada de chumbo no
meio ambiente que as fontes naturais. É amplamente encontrado no ambiente inerte ou em
sistemas biológicos, sendo absorvido por plantas e animais. A exposição humana ao chumbo
e, conseqüentemente, seus efeitos sobre a saúde, podem ser de forma mais ou menos intensa,
dependendo das circunstâncias de trabalho, moradia e consumo do indivíduo (DE
CAPITANI, 2009).
Embora alguns processos naturais, como emissões vulcânicas e intemperismo
químico, liberem chumbo no ambiente, a ação antropogênica é a maior responsável pela sua
liberação, sendo as mais comuns, as atividades de mineração, indústrias metalúrgicas, adubos
na agricultura e queima de combustíveis fósseis (DE CAPITANI, 2009). Até a década de 70,
a maior parte do chumbo emitido para a atmosfera provinha da combustão de gasolina com
chumbo, contudo seu uso foi proibido em muitos países, tornando as atividades industriais as
maiores responsáveis pela sua emissão.
Na atmosfera, o chumbo é encontrado sob a forma de particulado podendo ser
transferido para a superfície através da deposição seca ou úmida (precipitação úmida) e pode
ser transportado a longas distâncias. O chumbo ao ser depositado na água, sofre influência do
pH, sais dissolvidos e agentes complexantes orgânicos, que definem sua permanência na fase
aquosa ou como precipitado. A presença de Pb 2+ em águas também é limitada pela presença
de sulfatos e carbonatos, uma vez que formam compostos poucos solúveis.
Em águas superficiais, o chumbo pode ser encontrado complexado com compostos
orgânicos naturais (ácido húmicos) ou antropogênicos. A presença desses agentes na água
pode aumentar em até 60 vezes os níveis de compostos de chumbo em solução (PAOLIELLO,
2001). A presença de chumbo no solo varia de acordo com a fonte de emissão, por exemplo,
atividades metalúrgicas que o liberam de minérios (PbS, PbO, PbSO4 e PbO, PbSO4); já a
queima de combustíveis o emitem nas formas PbBr, PbBrCl, Pb(OH)Br e (PbO)2PbBr2
(KABATA-PENDIAS, 2001). Vários fatores como pH, composição mineralógica, matéria
orgânica, substâncias coloidais, oxi-hidróxidos e concentração do elemento influenciam seu
transporte e disponibilidade (PAOLIELLO, 2001). Por ser fortemente adsorvido à matéria
orgânica, o chumbo é encontrado nas partes mais superficiais do solo, por ser convertido em
sulfato, forma mais insolúvel quando comparada ao carbonato ou fosfato (KABATA-
PENDIAS, 2001).
O metal pode ser imobilizado pela complexação com ácidos húmicos ou fúlvicos dos
solos ou pela troca iônica com óxidos hidratados ou argila e podem apresentar maior
afinidade para sorver Pb que outros argilo-minerais, O Pb é altamente dependente do tipo de
ligante envolvido na formação de hidróxido de chumbo.
A liberação do chumbo de complexos orgânicos para formas solúveis está
intimamente relacionada com o pH. Solos com pH 5 e pelo menos 5% de matéria orgânica
retêm o chumbo atmosférico na camada superior (entre 2 e 5 cm); em solos com pH entre 6 e
8 e alto teor de matéria orgânica, o chumbo pode formar compostos insolúveis, no entanto,
para os mesmo valores de pH, mas menor teor de matéria orgânica pode haver formação de
óxidos - hidróxidos de chumbo hidratados e precipitação na forma de carbonatos ou fosfatos;
nos solos com pH entre 4 e 6 os complexos orgânicos do chumbo tornam-se solúveis e sofrem
lixiviação ou são absorvidos pelas plantas (KABATA-PENDIAS, 2001).
Como exemplo, os valores de intervenção para solos no estado de São Paulo foram
definidos em 200 mg/kg solos em áreas agrícolas e de máxima proteção, 350 mg/kg solo em
áreas residenciais e 1200 mg/kg de solo em áreas industriais (CETESB 2001).
Na atualidade, dentre os usos e fontes industriais de exposição ao chumbo mais
comuns, discutidos por De Capitani e colaboradores (2009), estão a produção de ligas
(bronze, latão); fabricação e recuperação de baterias; esmaltação de cerâmicas; fabricação de
pigmentos, PVC e outros plásticos, borrachas, vidros, cabos elétricos, soldas de peças e de
chapas metálicas. As fontes não industriais de exposição ao chumbo, as quais são
denominadas de não-ocupacionais, têm contribuído de maneira significativa na contaminação
de um grande número de pessoas.
No Brasil, dentre as principais fontes, temos: a poeira contaminada nas áreas das
comunidades que vivem próximas a fábricas ou ao redor de minerações; o material
particulado trazido para o interior da casa por aqueles que trabalham em indústrias que
manipulam chumbo; o uso de porcelana esmaltada e utensílios de PVC; a fabricação caseira
de ―chumbadas‖ de pesca e cartuchos; tinturas de cabelo; tintas de brinquedos; projéteis de
arma de fogo alojados em articulações ou canal medular; e até mesmo alimentos,
industrializados ou frescos, dependendo se a água utilizada na irrigação ou o solo onde foram
plantados estão ou não com níveis de chumbo elevados.
As maiores concentrações de chumbo nos solos ocorrem da superfície a profundidades
de até 5 cm, dependendo das características do solo, como acidez e concentração de matéria
orgânica (WHO, 2008). O órgão de ambiental americano, EPA, preconiza o valor máximo de
chumbo em solos de 400 μg g-1. Solos com elevadas concentrações de chumbo e a poeira que
é depositada em objetos constituem uma importante fonte de exposição, especialmente por
crianças menores de seis anos, devido ao hábito de levar objetos e mãos à boca com muita
freqüência.
De Capitani e colaboradores (2009) mencionam um estudo do próprio grupo de
pesquisa, em que foram detectadas concentrações de chumbo de 702 a 4.597 μg g-1 até quase
1 km de distância de uma fundição secundária (fábrica de baterias Ajax) de chumbo na cidade
de Bauru – SP. Também relataram que próxima a uma fundição primária (refinaria de metal
Plumbum) em Adrianópolis – PR, a concentração de chumbo na poeira até 1 km de distância
foi de 299 a 3.268 μg g-1, valendo ressaltar que, na época da amostragem, as fábricas não
estavam em atividade.
3.3.1 Solo
Diversas regiões do mundo, entre elas EUA, Reino Unido e Austrália tem conduzido
estudos de abrangência nacional para avaliar a concentração de chumbo no solo e determinar
potenciais riscos de exposição humana a este metal (MARKUS E MCBRATNEY, 2007).
Em áreas urbanas residenciais dos EUA, foram encontradas concentrações medias de
chumbo no solo de 115 mg/kg, enquanto que em áreas de alto risco para este tipo de
contaminação, como nas proximidades de rodovias e áreas industriais, esse valor chegou a
1275 mg/kg.
No Reino Unido, nos solos residenciais de Londres, a concentração media de chumbo
encontrada foi de 656 mg/kg. Em diversas cidades australianas, as concentrações de chumbo
permaneceram inferiores a 100 mg/kg (MARKUS E MCBRATNEY, 2007).
Podem influenciar na diferença entre os resultados encontrados na concentração de
chumbo a composição mineral de cada tipo de solo, alem do fato de os estudos utilizarem
diferentes técnicas de coleta e analise laboratorial (MARKUS E MCBRATNEY, 2007).
Para analisar a qualidade dos solos, devem ser utilizados valores orientadores,
derivados de dados locais, levando em consideração os fins para os quais este solo será
utilizado, geralmente dividido em solos para agricultura, residenciais e industriais (CARLON
E D’ALESSANDRO, 2007).
No Brasil, o Estado de São Paulo, por intermédio de sua agencia ambiental, a
Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB),
baseado em levantamentos realizados em diversas regiões do Estado, estabeleceu em 2001 os
―Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo‖. Tais
valores foram atualizados em 2005 (CETESB, 2005).
De acordo com a orientação da CETESB, a referencia de qualidade (VRQ), ou seja,
solo considerado limpo e de 17 mg Pb/Kg. O valor de prevenção (VP), ou seja, a
concentração de determinada substancia, acima da qual podem ocorrer alterações prejudiciais
a qualidade do solo para chumbo e de 72mg/Kg. Já o valor de intervenção (VI), a
concentração acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, a saúde humana e
de 300mg Pb/Kg, para áreas residenciais. Para a determinação dos valores de referencia de
São Paulo foi utilizada a metodologia analítica 3050 e 3051b, padronizada pela United States
Environmental Agency (US-EPA), na determinação de substancias inorgânicas por técnicas
espectrométricas.(CETESB, 2005).
De acordo com a Resolução 420, de 2009, do CONAMA, os órgãos ambientais
competentes dos Estados e Distrito Federal, deverão estabelecer valores de referencia de
qualidade para substancias químicas em solos, até o ano de 2013 (BRASIL, 2009)
3.3.2 Ar
Os parâmetros de qualidade do ar foram definidos no Brasil pela Resolução
CONAMA nº 3, de 28 de junho de 1990. A concentração de sete poluentes pode ser utilizada
para esta avaliação, sendo eles: Partículas Totais em Suspensão (PTS), de composição
variada, incluindo metais pesados; Fumaça; Material Particulado ou Partículas Inaláveis
(PI10), compostos de material solido ou liquido suspenso no ar com dimensões inferiores a 10
micrometros; Dióxido de Enxofre (SO2); Dióxido de Nitrogênio (NO2); Monóxido de
Carbono (CO) e Ozônio (O3) (BRASIL, 1990).
É necessário ressaltar que o monitoramento atmosférico convencional não mede
diretamente a concentração de metais. Por essa razão, podem ser utilizadas técnicas auxiliares
para este tipo especifico de avaliação (CARNEIRO, 2004). O biomonitoramento e uma
técnica experimental que permite avaliar a resposta de organismos vivos frente a diversos
elementos poluentes, entre eles o chumbo. Tal técnica possui vantagens como custos
reduzidos, eficiência para o monitoramento de áreas amplas e por longos períodos de tempo,
alem permitir a avaliação de elementos químicos em baixas concentrações atmosféricas
(CARNEIRO, 2004).
As informações podem ser deduzidas ou pelas mudanças que ocorrem nos organismos
estudados ou pela concentração de poluentes específicos nos tecidos monitorados
(SZCZEPANIA E BIZIUK, 2003).
Técnicas de biomonitoramento com liquens, musgos, cascas e folhas de arvores tem
sido utilizadas desde 1970 em diversas regiões do mundo. Tal procedimento pode ser
desenvolvido de duas maneiras: biomonitoramento passivo, quando os espécimes analisados
estão presentes no campo, e o biomonitaramento ativo, quando se coloca espécimes vegetais
na área a ser estudada e então se verificam alterações morfológicas e concentração de
poluentes (SZCZEPANIA E BIZIUK, 2003).
3.3..3 Água
A regulamentação nacional vigente em relação aos padrões de qualidade da água foi
estabelecida pelo CONAMA, em 2005. A qualidade dos recursos hídricos e analisada a partir
de diversas variáveis, entre elas as características físicas da composição química e a
concentração de micro-organismos (BRASIL, 2005).
O CONAMA classifica as águas superficiais de acordo com sua utilização e tipo de
tratamento necessário para o consumo humano. Dessa maneira, as águas são divididas em
classe I e II, águas destinadas ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção ou
tratamento simplificado; classe III, águas que podem ser destinadas ao abastecimento para
consumo humano, após tratamento convencional; classe IV: águas que podem ser destinadas
ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado e classe
V, águas que podem ser destinadas apenas a navegação e a harmonia paisagística. Os limites
de concentração de poluentes permitidos variam de acordo com estas categorias.
Segundo o CONAMA, o limite máximo permitido de chumbo nas reservas de água
destinadas ao abastecimento, desde que recebam tratamento convencional (III), e de 0,
033ml/L. A concentração final de chumbo na água utilizada para consumo sem tratamento (I e
II) e de 0,01ml/L (BRASIL, 2005).
Os principais fatores de risco associados à intoxicação por chumbo são o baixo nível
socioeconômico, a moradia em áreas urbanas, a proximidade a vias de trafego intenso, a
moradia em casas antigas cuja pintura contenha chumbo, a exposição ao lixo industrial e
domestico e o contato com água contaminada. Alem disso, praticas tradicionais como o uso
de alguns medicamentos e cosméticos, estão associadas com maior risco para de
contaminação por chumbo (UNEP, 2008).
Apesar de terem sido atualmente adotadas medidas restritivas em relação ao uso de
chumbo para a fabricação de tintas, a residência em moradias antigas, em mal estado de
conservação, ainda pode ser considerada como fator de risco para contaminação por chumbo.
Nos EUA, estima-se que 4,1 milhões de residências possuam pintura com pigmento de
chumbo (CDC, 2007).
No Brasil a normatização em relação à concentração de chumbo permitida na
fabricação de tintas imobiliárias, de uso infantil e escolar, vernizes e materiais similares foram
estabelecidos através da Lei 11762, de 2008 (BRASIL, 2008).
O baixo nível socioeconômico da população pode ser considerado fator de risco para
exposição ambiental ao chumbo, uma vez que áreas mais empobrecidas podem conter um
maior numero de moradias antigas e exposição ao lixo. E fato, também, que existe uma
relação entre maior absorção de chumbo e algumas carências nutricionais, como no caso de
deficiências de cálcio, ferro, zinco e proteína (FREITAS, 2005).
Existem indícios de que o baixo nível socioeconômico apresenta relação com o
aumento da vulnerabilidade das crianças aos efeitos neurotóxicos da intoxicação por chumbo.
Estes indícios foram observados tanto em estudos com animais, como em estudos com
populações humanas (LIDSKY E SCHNEIDER, 2003)
Além do nível socioeconômico, outro aspecto que influencia a vulnerabilidade das
crianças a intoxicação por chumbo parece ser genético. Pelo menos três genes já identificados
podem estar relacionados com este mecanismo (LIDSKY E SCHNEIDER, 2003).
3.5 Legislação
4 CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou uma revisão atualizada sobre as fontes de contaminação por
chumbo, suas consequências para a saúde pública brasileira e a legislação sobre o tema,
visando fornecer informações para fortalecer a fiscalização da qualidade pelos órgãos de
fiscalização e controle.
Conhecer o que é o chumbo, qual o processo de sua contaminação no organismo,
implicações para a saúde e, principalmente, como adotar medidas preventivas e/ou
minimizadoras, é condição fundamental para a melhoria da qualidade de vida de uma parcela
da população.
Espera-se que os resultados desse estudo ofereçam subsídios para a melhoria da
qualidade do atendimento de populações expostas e possivelmente expostas, e da proposição
de políticas de saúde pública ou melhorias que promovam a qualidade de vida das pessoas e o
meio ambiente.
REFERÊNCIAS
Al-Saleh, I., & Shinwari, N. (2001). Report on the levels of cadmium, lead, and mercury in
imported rice grain samples. Biological Trace Element Research, 83(1), 91– 96.
Atkins, P.; Jones, L. (2006), Princípios de Química: Questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 3. Ed. Porto Alegre: Bookman.
Brasil. Leis etc.11.762, de 1o de Agosto de 2008. Dispoe sobre o Limite Maximo de Chumbo
Permitido Na Fabricacao de Tintas Imobiliarias e de Uso Infantil e Escolar, Vernizes e
Materiais Similares e da Outras Providencias. Diario Oficial da Uniao, Brasilia (DF). 2008 04
de ago.; Secao 1:1.
Bellinger D.C. (2004). What is an adverse effect? A possible resolution of clinical and
epidemiological perspectives on neurobehavioral toxicity. Environmental Research, 95, 394-
405.
Carvalho FM, Aguiar AS, Vieira LA, Goncalves HR, Costa ACA, Tavares TM. Anemia,
deficiencia de ferro e intoxicacao pelo chumbo em criancas de uma creche de Salvador,
Bahia. Revista Baiana Saude Publica. 2000; 24,1: 32–
41.
Caggiano, R., Sabia, S., D’Emilio, M., Macchiato, M., Anastasio, A., Ragosta, M., et al.
(2005). Metal levels in fodder, milk, dairy products, and tissues sampled in ovine farms of
Southern Italy. Environmental Research, 99, 48–57.
Centers for Disease Control and Prevention – United States. Interpreting and Managing Blood
Lead Levels <10 μg/dL in Children and Reducing Childhood Exposures to Lead. MMWR
Morb Mortal Wkly Rep.2007:56,8:1-20.
Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Childhood lead poisoning from
commercially manufactured French ceramic dinnerware—New York City, 2003. MMWR
Morb Mortal Wkly Rep 2004a;53:584–6.
CORDEIRO, R.; LIMA FILHO, E.C. A inadequação dos valores limites de tolerância
biológica para a prevenção da intoxicação profissional pelo chumbo no Brasil. Cadernos de
Saúde Pública. v.11, p.177-186, 1995
Environment Canada. National Air Pollution Surveillance Monthly Summary. Report No.
EPS7/AP/3-91: Conservation and Protection, 1991.
Environmental Protection Agency. (2009). Lead Awareness Program, protect your child from
lead poisoning.
Fitch, A. Sublime Lead: The biography of a 5000 year toxic love affair. Loyola University
Chicago, 2004
Kabata-Pendias, A.; Pendias, H. (2001) Trace elements in soil and plants, Boca Raton. CRC
Press, 315p.
Kuno Rubia. Valores de referência para chumbo, cádmio e mercúrio em população adulta da
Região Metropolitana de São Paulo [tese]. Sao Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade
de Sao Paulo; 2009.
Heath LM, Soole KL, McLaughlin ML, McEwan GT, Edwards JW. Toxicity of
environmental lead and the influence of intestinal absorption in children. Rev Environ Health
2003;18:231–50.
Lansdown, R.; Yule, W. Lead Toxicity, History and Environmental Impact, The Johns
Hopkins University Press, Baltimore, 1986
Lanphear BP, Hornung R, Khoury J, Yolton K, Baghurst P, Bellinger DC, et al.. Low-Level
Environmental Lead Exposure and Children’s Intellectual Function: An International Pooled
Analysis. Environ Health Perspect. 2005;113,7:894-9.
Markus J, McBratney AB. A review of the contamination of soil with lead II. Spatial
distribution and risk assessment of soil lead. Environ Int. 2001;27:399– 411
Mattos RC, Carvalho MA, Mainenti HR, Junior EC, Sarcinelli PN, Carvalho LB, et al.
Avaliacao dos fatores de risco relacionados a exposicao ao chumbo em criancas e
adolescentes do Rio de Janeiro. Cienc Saude Coletiva. 2009;14,6:2039-48.
Abreu, M. H.; Pereira, M. L. S.; Marasco, A. M.; Contaminação por Chumbo em Bauru:
vigilância sanitária e ações ambientais no período de 2002 a 2007 Saúde e Sociedade, v.18,
supl.1, 2009
Montes Santiago, J. Goya, Fortuny, Van Gogh, Portinari: lead poisoning in painters across
three centuries. Revista Clinica Española, v. 206 (1), p. 30-32,
2006.
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Atenção à saúde dos trabalhadores
espostos ao chumbo metálico. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Editora MS. Brasília,
2006.
Moreira, F.R. & Moreira, J. C. (2004). Os efeitos do chumbo sobre o organismo humano e
seu significado para a saúde. Revista Panam SaludPublica. 15(2):119-129.
Needleman, H. L.; Gatsonis, C. A. (1990). Low-level lead exposure and the IQ of children: A
metaanalysis of modern studies. JAMA, 263(5), 673-678.
Nriagu JO. 1983. Lead and lead poisoning in antiquity. New York:Wiley.
Oliveira, R. S.; Gomes, E. S.; Afonso, J. C. (2010), O Lixo Eletrônico: Uma Abordagem para
o Ensino Fundamental e Médio. Química Nova na Escola, 32, 240-248.
Paoliello MM, De Capitani EM. Occupational and environmental human lead exposure in
Brazil. Environ Res. 2007;103(2):288-97.
Rojas, M., C. Espinosa et D. Seijas. 2003. Association between blood lead and
sociodemographic parameters among children. Rev Saude Publica. vol. 37, no 4, p. 503-509.
Rocha, A. J. D. (1973), Perfil Analítico do Chumbo, Ministerio de Minas e Energia, Boletim
Nº 8.
Smith, M. E., van Ravenswaay, E. O., & Thompson, R. S. (1998). Sales loss determination in
food contamination incidents: An application to milk bans in Hawaii. American Journal of
Agricultural Economics, 70(3), 513–520.
Silvany-Neto AM, Carvalho FM, Tavares TM, Guimaraes GC, Amorim CJB, Peres MFT, et
al. Evolucao da intoxicacao por chumbo em criancas de Santo Amaro, Bahia- 1980,1985 e
1992.Boletim Oficial Panamericano.1996;120,1:11-22.
Stokes L, Letz R, Gerr F, Kolczak M, McNeill FE, Chettle DR, et al. Neurotoxicity in young
adults 20 years after childhood exposure to lead: the Bunker Hill experience. Occup Environ
Med. 1998;55:507-16
Szczepania K, Biziuk M. Aspects of the biomonitoring studies using mosses and lichens as
indicators of metal pollution. Environ Res.2003;93:221–30.
Tong S, von Schirnding YE, Prapamontol T.Environmental lead exposure: a public health
problem of global dimensions. Bull World Health Organ.2000;78,9:1068-77.
Thacker, S. B.; Hoffman, D. A.; Smith, J.; Steinberg, K.; Zack, M. (1992). Reply: effect of
low-level body burdens of lead on the mental development of children. Arch Environ Health,
49, (1), 204-205.
United Nations Enviroment Programme. Interim review of scientific information on lead [on
line].Geneva: UNEP 2008 [citado em 15 de outubro de 2009]. Disponivel em:
http://www.chem.unep.ch/Pb_and_CD/SR/Files/2008/UNEP-Lead-review-Interim-
APPENDIX-mar102008.pdf
Vega, J. et al. (2005). Niveles intelectuales y ansiedad en niños con intoxicación plúmbica
crónica: Colegio "María Reiche" Anales de La Facultad de Medicina, Callao-Perú, 66,
(2),142-147.