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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo: 0046028-23.2014.8.05.0001

Classe : RECURSO INOMINADO

Recorrente(s) : GNC AUTOMOTORES LTDA

Advogado(a) :

Recorrido(s) : JUDITE MARIA DE ARAUJO

Advogado(a) :

Origem : JUIZADO MODELO CÍVEL - FEDERAÇÃO - MATUTINO

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. COMPRA E


VENDA DE VEÍCULO NOVO EM QUE ACERTADA A
ENTREGA DE VEÍCULO USADO COMO PARTE DO
PAGAMENTO. INCUNBÊNCIA DA EMPRESA DEMANDADA
DE PROCEDER À TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE DO
VEÍCULO JUNTO AO DETRAN. ART.123,§ 1º DO CTB.
MULTAS E DÍVIDAS DE IPVA EM NOME DA AUTORA.
DANOS MORAIS CONFIGURADOS. SENTENÇA MANTIDA.
ACÓRDÃO

Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais


Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE Relatora, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ e ISABELA
KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA Presidente, em proferir a seguinte decisão:
CONHEÇO DO RECURSO e NEGO-LHE PROVIMENTO. UNÂMINE. Custas e
honorários advocatícios por parte da recorrente, que fixo em 15% sobre o valor da
condenação.

Salvador, Sala das Sessões, 27 de Agosto de 2015.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

Juíza Relatora
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. : 0046028-23.2014.8.05.0001
Processo

Classe : RECURSO INOMINADO

Recorrente(s) : GNC AUTOMOTORES LTDA

Advogado(a) :

Recorrido(s) : JUDITE MARIA DE ARAUJO

Advogado(a) :

Origem : JUIZADO MODELO


CÍVEL - FEDERAÇÃO -
MATUTINO

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA


SOBRAL LEITE
EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO NOVO EM


QUE ACERTADA A ENTREGA DE VEÍCULO USADO COMO PARTE DO PAGAMENTO.
INCUNBÊNCIA DA EMPRESA DEMANDADA DE PROCEDER À TRANSFERÊNCIA DA
PROPRIEDADE DO VEÍCULO JUNTO AO DETRAN. ART.123,§ 1º DO CTB. MULTAS E
DÍVIDAS DE IPVA EM NOME DA AUTORA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
SENTENÇA MANTIDA.

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso inominado interposto pela parte ré da ação de origem,


GNC AUTMOTOMORES LTDA, pugnando pela reforma da sentença que julgou
parcialmente os peddos contidos na exordial para “ condenar a GNC AUTOMOTORES LTDA. no
pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por danos morais, com juros de mora, na
base de 1% a.m., a partir da citação, e correção monetária, a partir do arbitramento. Sem custas ou
honorários nesta fase. “

Na origem, trata-se de ação indenizatória cumulada com obrigação de fazer, pra que a
acionada proceda à transferência de propriedade de veículo que fora objeto de contrato
entre as partes, na data de 26/04/2006, tendo em vista que a autora entregara o referido
automóvel, CORSA WIND, MODELO 1998, PLACA JNO 6531, como parte do pagamento do
novo automóvel que veio a adquirir junto à acionada, a saber, CORSA HATCH MODELO 2003,
PLACA JPN 3524. Oito anos após o contrato em tela, a autora alega que fora surpreendida com

notificação de autuação de infração emitida pela SMTT – PREFEITURA MUNICIPAL DE ITABERABA-


BA, por exceder a velocidade máxima permitida em 17/04/2014. Ao dirigir-se ao Detran Salvador, a
autora constatou que havia, além da referida multa, debito de IPVA desde o ano de 2007. Diante da
situação, ajuizou a presente demanda.
A pretensão recursal da recorrente cinge-se na inexistência de ato ilícito
praticado pela acionada, alegando que “ à recorrida caberia ter diligenciado uma cópia
autenticada do comprovante de transferência de propriedade ou mesmo utilizado sua via da nota
fiscal do veículo. Com isso e uma simples comunicação unilateral sua ao DETRAN/BA, a recorrida
poderia ter resolvido totalmente a questão, sem participação alguma da recorrente”. Aduz ainda
inexistir dano moral a ser indenizado, bem como pugna pela diminuição do quantum fixado, em
caráter eventual.

Em sede de contrarrazões, pugna a autora recorrida pela manutenção da sentença, e


sustenta o acerto da decisão quanto ao reconhecimento dos danos morais ocorridos no caso.

Vieram os autos conclusos.


Presentes as condições de admissibilidade do recurso, recurso
tempestivo e devidamente preparado, conheço-o, apresentando voto com a
fundamentação aqui expressa, que submeto aos demais membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Sem preliminares a serem examinadas, passo ao exame do mérito.

O exame dos autos evidencia que o ilustre a quo examinou com acuidade a
demanda posta à sua apreciação, sendo que o decisum não merece reforma, tendo o
quantum arbitrado a título de danos morais atendido aos parâmetros de proporcionalidade
e razoabilidade .
Com efeito, restou incontroverso nos autos que a autora entregou à concessionária um
veículo usado como parte de pagamento do veículo novo e que este carro fora negociado
sem que houvesse a transferência da titularidade perante o órgão competente de trânsito.
A autoral ogrou êxito em comprovar a existência de débitos de multa e IPVA, conforme
documentos em audiência, evento n 28 do Projudi, o que não fora impugnado pela
empresa demandada.

Doutro giro, a obrigação de proceder à transferência da propriedade do veículo incumbe


ao comprador, que deverá realizar o devido procedimento junto ao DETRAN para
perfectibilizar o ato. Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. TRANSFERÊNCIA DE


VEÍCULO. ADQUIRENTE. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. MULTA DIÁRIA POR
DESCUMPRIMENTO. QUANTIA SUFICIENTE. PRELIMINAR REJEITADA E RECURSO
NÃO PROVIDO. - Incumbe ao adquirente de veículo tomar as providências necessárias
para a transferência do veículo para seu nome junto ao DETRAN e demais órgãos
responsáveis.... (TJMG - Apelação Cível nº 1.0433.11.013913-9/001 - Relator:
Desembargador José Flávio de Almeida - Julgado em: 06/03/2013 )

O fato de a autora não ter comunicado a transação efetuada junto ao DETRAN, não
constituiu-se em óbice para a transferência da propriedade do veículo, cuja obrigação
legal incumpe precipuamente ao adquirente do veículo, nos termos do art.123, parágrafo
1o do CTB, in verbis:

art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Certificado de


Registro de Veículo quando:

I - for transferida a propriedade;

§ 1º No caso de transferência de propriedade, o prazo para o


proprietário adotar as providências necessárias à efetivação da
expedição do novo Certificado de Registro de Veículo é de trinta dias,
sendo que nos demais casos as providências deverão ser imediatas.
Ademais, patente que no caso concreto a autora padeceu danos morais, haja vista a
indevida inscrição de dívida e multas em seu nome, o que de per si enseja ofensa a honra
passível de reparação. Nesse sentido:

UIZADO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA.


CONCESSIONÁRIA REVENDEDORA DE VEÍCULOS. RECEBIMENTO DE VEÍCULO
USADO COMO PARTE DO PAGAMENTO NA COMPRA DE OUTRO NOVO.
OBRIGAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA. DÉBITOS E MULTAS EM NOME DO CLIENTE.
DANO MORAL CONFIGURADO.
1. A concessionária revendedora de veículos que negocia carros usados é parte legítima para
responder pelos danos decorrentes da omissão em transferir os automóveis negociados aos novos
proprietários ou até para o próprio nome, após recebê-los como parte de pagamento do preço dos
automóveis vendidos aos consumidores (par. único do art. 7º, § 1º do art. 25, CDC, e art. 123, CTB).
2. Restou incontroverso que o autor entregou à concessionária um veículo usado como parte de
pagamento por um novo e que este carro foi negociado sem que houvesse a transferência de
titularidade perante o órgão de trânsito.
3. O autor comprovou a existência de débitos de IPVA e multas, inclusive sujeitas a pontuação,
lançados em seu nome após a negociação. Houve, inclusive inscrição na dívida ativa (fl. 19).
4. Constitui ofensa à honra, passível de reparação de danos morais, indevida inscrição em dívida
ativa e lançamento de multas em nome da parte, decorrente de negligência da concessionária ao
revender veículos usados sem transferir a titularidade perante os órgãos de trânsito. (TJ-DF ,
Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 21/10/2014, 1ª Turma Recursal
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF).

Diante do reconhecimento de tal falha deflui-se ser o caso em análise


hipótese de aplicação do quanto disposto no art. 14 do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

No pertinente a fixação dos danos morais entendo que o quantum dfixado


atendeu ao grau de ofensa do dano perpetrado, e aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, máxime se considerarmos o extenso período ( 8 anos) que teve a empresa
demandada para proceder à transferência da propriedade do veículo e não o fez. A
redução se mostra incabível, não havendo nos autos elementos que indiquem uma
diminuição da gravidade da conduta da recorrente.

Ante o relatado, CONHEÇO DO RECURSO e NEGO-LHE PROVIMENTO,


mantendo a sentença pelos seus próprios fundamentos. Custas e honorários
advocatícios por parte da recorrente, que fixo em 15% sobre o valor da condenação.

Salvador, 27 de Agosto de 2015.

Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

JUÍZA DE DIREITO – Relatora

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