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v2 A AGUA E OS RIOS NA CIDADE: ELEMENTOS PARA O PROJETO ECOLOGICO DA PAISAGEM WATER AND RIVERS IN THE CITY: ELEMENTS FOR ECOLOGICAL LANDSCAPE DESIGN BONILHA, Iravna Arquiteto e urbanista graduado e pés-graduado pela FAUUSP (Mestrado). E-mail: irauna@uol.com.br RESUMO Em muitas cidades, a descarga de esgotos em corpos d’dgua e a ocupacéo de margens de rios @ baixadas alagadicas geraram degradacéo ambiental e conflitos de uso, além de obstruirem © acesto ptblico de orlas @ © sou aproveitamerto come eepages livres. Por serem recureos de miltipla ufiidade, e, ao mesmo tempo, elementos dinémicos da paisagem, os rios reservam problemas e potencialidades especficas para a planejamento urbana e o projeta ecalégice da paisagem. Palavras-chave: Paisagismo, ecologia da paisagem, planejamento da paisagem, recursos hidricos, rios urbanos, orlas urbanas. ABSTRACT In many cities, sewage discharge in water bodies and the occupation of riversides and washes caused environmental degradation and use conflicts, besides obstructing public access to watertronts and its use as open spaces. Because rivers are multiple uly resources, and so as dynamical elements of landscape, they provide particular problems and potentialities for urban planning and landscape design. Key worde: Landscape design, landecape ecology, landscape planning, water resources, urban rivers, waterfronts. Introdugao Dentro 02 recursos naturais de uma rogiéo, a agua doce & aquele que apresenta a maior di versidade de usos, servindo ao abastecimento, & navegacéo, é irrigacéo, & geracdo de energia elétrica, & producdo industrial, ao lazer @ aas espartes. A escassez de dgua patdvel no planeta se apresenia como uma das quesiées ambientcis mais graves do mundo contemporéneo. Nas Greas urbanas, 0 crescimento das demandas pelos recursos hidricos, as questées de soude publica e os processos de valorizacéio do solo tén sido os principais fatores histéricos a motivarem @ realizacdo de obras de saneamento, visando ¢ ocupacao de orlas fluviais e lacustres e terrenos alagadicos. Em varias cidades, intervencées incoporaram estas Greas ao espaco urbano, mas provocaram, ao mesmo tempo, profundas alteracées nos regimes hidrolégicos e na qualidade das aguas, ¢ a destruicéo de ecossistemas naturais. Polvicéo, inundacées, conflitos de uso perda de potencialidades ambientais e paisag'sticas séo alguns dos problemas mais comuns relacionados as intervencées em rios urbanos. Em cidades de paises sub-desenvolvidos, favelas as margens de rios e cérregos contaminados criaram situacées de alto risco sanitario. A diversidade de demandas pelos recursos e espacos fluviais em dreas urbonizadas e indus- trializadas implica na necessidade de intervencdes mais profundas e, conseqientemente, em uma maior complexidade de fatores a considerar nas fases de planejamento, projeto e andlise de impactos ambientais. A ecologia da paisagem fornece elementos para uma compreenséo. Poitgem Ambient: ensoioe -n, 22 - So Pavlo-p. 172-179 - 2006 ‘Aaya #08 Rios na Cidade: lemon Por © Pot Ecolgico do Poirogem integrada das alteracées introduzidas pela urbanizacéo nas varidveis hidrolégicas de uma bacia hidrogrética, e para uma avaliagéo das posstveis conseqiéncias ambientais de certas formas de intervencao e/ou ocupagao em nos e ambientes umidos, servindo como instrumento ao design ecoldgico da paisagem urbana. Os rios como corredores ecolégicos 5 rios sdo elementos dinémicos da paisagem, que podem percorrer centenas ou milhares de quilémetros, desde as nascentes até a foz, conectando diferentes terrenos, paisagens e ecossis- temas (Figura 1). (OS DIFERENTES TERRENOS [ATRAVESSADOS POR UM Ri Nas encostas de serras e morros, os afloramentos dos mananciais subterrneos ("nascentes”) climeniam pequenos cursos d’aqua, que assumem a forma de riachos com corredeiras e quedas sucessivas, escavadas na rocha pela égua. Mais adiante, cérregos e ribeirdes cruzam terrenos mais suaves, encaixando-se em vales e estreitas planicies entre colinas. Quando encontram as amplas planicies sedimerrares, as aguas diminuem de velocidade, e os rios passam a desenhar sinuosidades, resultantes dos processos hidromérficos de erosdo e sedimenta- do. Rios que escoam muito lentamente, em planicies com baixissimas declividades, apresentam cursos “medndricos” (serpenteantes) e “divagantes” (que mudam de curso constantemente), € costumam extravasar seus leitos nas épocas de cheias. inundando as éreas adjacentes. A fox de um rio pode ser um outro rio maior, ou 0 oceano. Estuérios em planicies flovio-marinhos assumem, em geral, a forma de “delta”, pois a grande quantidade de sedimentos transportada pelos rios e pelas marés deposita-se na foz, fazzndo com que a corrente principal se divide em diversos canais, formando ilhas e “gamboas” O regime de um curse d’agua 6 candicionade pelas variagéer do cielo hidralégice (mecanieme de circulagio da égua entre 0 solo ¢ a atmosfera). O ciclo hidrolégico (Figura 2) 6 um sistema: de equilibrio dinamico natural, condicionado por diversas variéveis inter-relacionadas: 1) 08 agentes climéticos (radiacdo solar, ventos, umidade do ar € pluviosidade); 2) a8 formas naturais de armazenagem e circulacdo da agua, na superficie e no subsolo (ocea- nos, aqifferos, rios e lagos); 8) a6 trocas entre os organiemos © © meio [absorgio, ovapotrancpirago © transpiracéic}; © 4) as modificagées ambientais introduzidas pelas atividades humanas, tais como: supresséo da cobertura vegetal; eliminacéo de dreas inundéveis; construgtio de barragens, acudes e canali- 2a¢6es fluviais; impermeabilizacéo do solo: e olteracées micro-climaticas’. Prisagem Ambiente: enscios -. 22 - S30 Poulo-p. 172-179 - 2006 3 a BONA, na A bacia hidrogrética (Figura 3) € considerada a unidade de paisagem mais adequada para © estudo das variaveis hidrologicas e dos processos do meio fisico, assim como para o planeja- mento ecolégico da paisagem. A bacia é um comparfimento de relevo definido pelas linhas de nivel dos divisures de Gyuus, & que funciunu comy Greu de contribuigGe de drenugem de vin dado rio. Cada afluente ou tributério opresenta, por sua vez, sua propria drea de contribuicao, usualmente denominada “microbacia” ou “sub-bacia”. O sentido de qualquer rio, tomado a partir de um ponto qualquer, é expresso pelos termos “montante” e “jusante”, que significam contra e a favor da corrente, respectivamente, Sendo um sistema geomorfolégico aberto, a bacia hidrogréfica recebe dgua e energia por meio dos ‘agentes climéticos, perdendo-as através do defli- vio (escoamento). Este sistema é condicionado, conforme visto, por variéveis interdependentes. Entretanto, estas varidveis oscilam em torno de um padrao, de modo que, mesmo quando nao perturbado por intervencdes antropicas,o sistema encontra-se em equilibrio dinémico. Alteracdes no clima, nos padrées de cobertura e uso do solo e nos regimes dos cursos d’égua geram, natural- mente, mecanismos inerciais compensatérios, que tendem a reestabelecer 0 estado de equilibrioe ‘@ minimizar as akeracoes introduzidas * FSQUEMA DE UMA HACIA HIDROGRAFICA COMA Disko DEO regime hidrolégico de um rio varia no espaco MICROUNCIAS€ A ORDEM DOS CANA DE URENAGEA ‘eno tempo. Em seu percurso da cabeceira para «@ foz, um dado rio tem sua vazéo (Q=m*/s) cumentade, devide ao aporte de agua de seus afluentes ou fributérios, © que implica no aumento da profundidade do seu leito e da largura da cege do canal. Na ocatiée de uma chuva de curta duragéo, © regime de rio recobe uma descarga adicional, que faz com que a vazdo se eleve até um pico, para depois retornar ao sev estado inicial. Durante 0 ano, « vazdo do rio varia, acompanhando as mudancas climé- ficas. Hé climas em que a pluviosidade se distribui de modo mais uniforme ao longo do ano, mas hd outros em que hé uma sazonalidade bem marcada das chuvas, quando se verificam «@s grandes cheias. Nos meses de maior pluviosidade, as vaz6es adicionais ultrapassam a capacidade de escoamento dos “leitos menores” ou “leitos de estiagem” dos ries, ¢ as gues invadem as porgdes mais baixas dos planicies de inundacéo, conhecidas como “eitos maiores sazonais” (Figura 4). Em intervalos de cinco ou dez anos, ocorrem eventos de meior intensidade pluviométrica, que provocam a elevacéo do nivel das Aguas acima das linhas de inundacéo sazonais. Chuvas ainda mais in- tensas, registradas em periodos de recorréncia mais longos (25, 50, | UU anos ou mais), podem Poiagem Ambiente: enssios -n. 22 - Sao Paulo -p. 172-179 - 2006

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