A teoria das gerações foi desenvolvida por Karel VASAK por meio de (i) um
texto publicado em 1977, bem como (ii) por uma palestra proferida em 1979. Tal
palestra fruto de uma Conferência no Instituto Internacional de Direitos Humanos de
Estrasburgo (França) – 1979: "Pelos Direitos Humanos da Terceiração Geração: os
direitos de solidariedade".
Nessa linha, não é descomedido sustentar que seriam - todos esses exemplos da
"quarta geração" - inclusos e provenientes da terceira geração, eis que qualquer
instituto voltado à sociedade deve prestar sua função para com a
solidariedade/fraternidade, numa perspectiva, de certa maneira, de "função social",
estando eles, portanto, inseridos na terceira geração, e não como motivo inusitado/novo
para a criação de uma extraordinária quarta geração.
Porém, esquecem-se que de civil law o Brasil, hoje, pouco tem a oferecer. Não
por outro motivo, fala-se de uma tradição jurídica brazilian law, constatando-se ser
a tradição jurídica brasileira singular e bem peculiar do que as demais pertencentes
a outros países estrangeiros.
Confesso que fiquei intrigado para saber os pormenores desta corrente [1].
Defende ela que (i) a lentidão do Judiciário e (ii) as penas brandas são causas
justificadoras para uma geração de direitos:
Do ponto de vista léxico, impunidade significa aquilo que não foi punido, que
escapou ao castigo.
Nos dias atuais o delinquente tem certeza que em praticando qualquer lesão social
o seu direito a impunidade será assegurado, com todos os recursos a ele inerentes. A
prisão requer tempo para conclusão do processo. O cidadão em conflito com a lei possui
uma indústria de liberdade provisória a seu favor, agora com maior incidência em
função da vigência das chamadas medidas cautelares introduzidas pela Lei 12.403/11,
um modelo previsto no artigo 197 do Código de Portugal, e que alguém pensou um dia
que serviria para o Brasil. E quando aparece alguém para quebrar o sistema ou rede de
impunidade, ele é expurgado a todo custo e assazmente criticado nos corredores da
injustiça.
O mais preocupante é que a corrente da sétima geração, que sustenta esse
posicionamento, e ao que nos parece, posiciona-se contra garantismos penais
e processuais, enfim, se contradiz à própria sistemática da matéria de Direitos Humanos,
a qual não se compatibiliza com um tendencioso direito à impunidade, e sim o
impede (RAMOS, 2014, p. 324 e 327):
O art. 20, § 3º, do Estatuto chega ao ponto de esclarecer que o TPI não julgará de
novo o criminoso, salvo se o processo criminal nacional tiver sido feito para obtenção
da impunidade.
É notável como a seara internacional combate vigorosamente o direito à
impunidade; ao passo que, por sua vez, se defende o direito à verdade, o direito à
justiça das vítimas.
Caso Barrios Altos vs. Peru (sentença de 14-3-2001). Este caso faz referência a um
massacre ocorrido em Lima, inserido nas práticas estatais de extermínio conduzido pelo
Exército peruano de Fujimori. As leis de anistia que impediram a responsabilização
criminal dos indivíduos ligados ao massacre foram consideradas pela CtIDH
incompatíveis com as garantias outorgadas pelos arts. 8º e 25 da CADH. Este caso é
paradigmático por estabelecer a invalidade das leis de anistia de medidas que impliquem
a impunidade de agentes responsáveis por graves violações de Direitos Humanos (ver
também sobre esse tema os comentários aos casos Almonacid – Chile e Gomes Lund-
Brasil).
A oitava geração, como as outras, é nada mais que uma nova espécie (sem um
porquê de existir única e exclusivamente isolada). Longe está, a segurança pública, de
não pertencer à teoria geracional de Karel VASAK, seja na primeira, segunda ou
terceira. Não é incomum. Até mesmo porque, determinado direito, por vezes, pode estar
sujeito a mais de uma categoria jurídica, tudo a depender da finalidade a que se quer dar
aquele direito (objeto da interpretação/categorização).