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Revista da Abordagem Gestáltica:

Phenomenological Studies
ISSN: 1809-6867
revista@itgt.com.br
Instituto de Treinamento e Pesquisa em
Gestalt Terapia de Goiânia
Brasil

Martins Costa, Clovis; de Bastos Pereira, Rosane


"Carl Rogers no Brasil", 2012 (Eduardo Bandeira). São Paulo: GRD Edições, 2012
Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, vol. XIX, núm. 1, enero-junio, 2013, pp.
129-130
Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt Terapia de Goiânia
Goiânia, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=357735557013

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“Carl Rogers no Brasil”, 2012 (Eduardo Bandeira)

RESENHA

“Carl Rogers no Brasil”, 2012 (Eduardo Bandeira)

(Eduardo Bandeira)
São Paulo: GRD Edições, 2012
Clovis M artins Costa
Faculdade de Jaguariúna (FAJ) & Associação Paulista da Abordagem Centrada na Pessoa (APACP)
Rosane de Bastos Pereira
Universidade de Campinas – Unicamp

Encontro com Carl Rogers. O título para o livro bem Foi com essas palavras, datilografadas em uma car-
que poderia ser esse, mas o escolhido foi outro, Carl ta em 26 de fevereiro de 1976, que Rogers expressa sua
Rogers no Brasil. De toda forma, as palavras são distin- alegria em visitar o Brasil, em pleno período de Ditadura
tas, mas os sentidos são bastante similares. Os depoimen- Militar (1964-1985). Criador da Terapia Centrada no
tos dos participantes dos Ciclos de Estudos da Pessoa, Cliente, o psicólogo humanista pisaria em terras brasi-
ou workshops, realizados em Recife, São Paulo e Rio de leiras pela primeira vez no ano seguinte.
Janeiro, não deixam dúvidas de que a primeira visita que Rogers deu entrevistas, falou com repórteres e se en-
o psicólogo humanista americano, Carl Ransom Rogers controu com milhares de pessoas. Contudo, antes de vir,
(1902-1987), fez ao Brasil, em 1977, permitiu que se ex- de cruzar o oceano em direção à América Latina, Eduardo
perimentasse mesmo um encontro, no sentido mais ge- Bandeira destaca que Rogers se mostrava preocupado com
nuíno da palavra. sua idade, se resistiria a um voo de tantas horas, mas,
As memórias dessa primeira visita de Rogers a terras enfim, o receio deu lugar à coragem, ao novo, e foi assim
brasileiras foram transformadas em livro, pela primeira que a semente da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP),
vez, pelo psicólogo clínico carioca, Eduardo Bandeira, que já havia sido plantada no Brasil anos antes da visita
e deram origem ao livro Carl Rogers no Brasil, publica- de Rogers, se fortaleceu em solo fértil.
do pela Associação Paulista da Abordagem Centrada na
Pessoa (APACP). Por isso planejei uma escala em Manaus, onde o en-
Rogers nasceu em Oak Park, um bairro localizado contrei; ficamos por cinco dias elaborando o formato
no subúrbio de Chicago (Illinois), e seus estudos sobre o dos ciclos e acertando os detalhes do treinamento
homem o tornaram uma referência mundial no séc.XX. dos facilitadores e do Grande Encontro de Arcozelo.
Humanista e autor da obra Tornar-se pessoa, um de seus li- De Manaus fomos direto para Recife, centro cultural
vros mais conhecidos, Rogers trabalhava na Universidade da região Nordeste, onde organizamos o primeiro
da Califórnia, em San Diego, no La Jolla Program, onde ciclo no ginásio do Esporte Clube de Recife, evento
criou o Centro de Estudos da Pessoa e ministrava um cur- no qual conseguimos uma plateia de mais ou menos
so de formação de facilitadores de grupos de encontro. oitocentas pessoas, num grande grupo muito animado
Em visita a esse ambiente de trabalho rogeriano, para e participativo. De lá descemos para São Paulo, onde
fazer um curso, Eduardo Bandeira viu a possibilidade de promovemos o segundo ciclo no auditório do Centro
convidar Rogers a vir ao Brasil. Foram várias conversas, à de Convenções do Anhembi com uma plateia em tor-
distância, troca de correspondências e alguns titubeios. no de mil pessoas. Depois de dois dias de descanso,
E ele aceitou. voamos para o Rio de Janeiro, para o terceiro ciclo no
auditório do Hotel Nacional, em São Conrado (Ban-
Estarei com 75 anos no ano que vem, e consequen- deira, 2012, p. 67-68).
temente não faço esses projetos com facilidade. A
noção de impactar todo o país me empolga, e me Na Aldeia de Arcozelo, no município de Paty do
parece que seus planos são tais que isso pode muito Alferes, Rio de Janeiro, foi realizado o I Encontro
bem acontecer. Eu gostaria, particularmente, de que Centrado na Pessoa. Foi nesses “Encontros”, ocorridos
Resenha

tudo que nós fizermos seja no sentido de fortalecer há mais de 36 anos, que Rogers esteve em contato com a
as raízes dos movimentos em direção à democracia cultura brasileira, em situações de confronto e também
(Bandeira, 2012, p. 40). de interação.

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Clovis M. Costa & Rosane de B. Pereira

Outro aspecto que chamou a atenção foi a mudança fossem máquina, através de esquemas e manuais, mas
da fisionomia das pessoas. Parece que elas estavam deixaríamos de lado o que há de mais precioso no ser
mais bonitas, mais expressivas, mais radiantes. humano (Bandeira, 2012, p. 164).
A impressão era que as pessoas ficavam mais vivas,
tanto para amar como para se colocar com suas ideias, O humanista Carl Rogers, que não só sobreviveu à
dúvidas, sonhos, concordâncias e discordâncias. Era viagem como também se impressionou com o que viu,
impressionante também a alegria que circulava, em- escreveu em seu diário:
bora também tivéssemos conhecimento de profundas
crises de reflexões (Bandeira, 2012, p. 146). O que toda essa viagem significou para mim? Signi-
ficou que um país inteiro (ou como me parece) pode
Findos os ciclos no Brasil, a impressão é a de que estar pronto para ouvir sobre a ACP. É impressionante
os participantes, ou pelo menos a maioria deles, saíram pensar que eles apreciam isso por causa de sua na-
transformados. Impossível, talvez, continuar sendo o que tureza emocional, mas talvez até mais ainda porque
se era antes. Não só pela presença de Rogers, mas pela estão atualmente lutando para manter a democracia
presença de todos, a partir de Rogers. Afinal, se a abor- viva, onde ela está em verdadeiro perigo. Eu reconheço
dagem que ele criou estava centrada na pessoa, a única agora que a mídia estava genuinamente interessada,
maneira de pô-la em prática seria, então, estando em con- e em parte estavam me usando para dizer as coisas
tato com as pessoas e sendo com elas, no processo infi- que não tinham coragem de dizer por eles mesmos.
nito de tornar-se quem se é. De qualquer forma, o tempo estava realmente correto
(Bandeira, 2012, p. 37-38).
[...] a ACP lida com isso, com o que é mais representa-
tivo no ser humano, e lida de uma maneira humana,
e não como muitas terapias que enfatizam a técnica, Referência
esquemas teóricos. A terapia centrada embarca no
fluxo do relacionamento entre duas pessoas: tera- Bandeira, E. (2012). Carl Rogers no Brasil. São Paulo: GRD
peuta e cliente. É através desta vivência do encontro Edições.
que pode haver crescimento. Temos de enfrentar,
vivenciar aquilo que é mais representativo e talvez
mais difícil da pessoa: os meandros da sua emoção. Recebido em 11.04.13
Seria mais fácil lidar com seres humanos como se Aceito em 25.07.13
Resenha

Revista da Abordagem Gestáltica - Phenomenological Studies – XIX(1): 129-130, jan-jul, 2013 130

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