Você está na página 1de 2

6 Campinas, 1º de agosto a 7 de agosto de 2011

Ciência e im
Livros revelam como as invest
obras de Machado de As
PAULO CESA

A
pcncom@

literatura produzida por


Machado de Assis e seus
Machado de Assis

contemporâneos não tinha


apenas como finalidade o
entretenimento. Mesmo
quando buscava diver-
tir, fazia isso de modo a construir críticas
sociais amplas. Particularmente em uma
de suas obras, Papéis avulsos – coletânea
cujos contos foram elaborados a partir dos
principais debates científicos e filosóficos
da segunda metade do século 19 –, houve
esforço no sentido de desmascarar o uso
perverso do discurso produzido pela ciência:
a linguagem científica servia para justificar
medidas políticas arbitrárias adotadas com
propósitos de exclusão social e política, e
invalidar qualquer outra opinião que não
coubesse no padrão de pensamento então
dominante na Corte imperial.
Demonstrar a preocupação do contista
em tornar a sua produção literária um meio
de reflexão sobre algumas das mais inquie-
tantes questões de seu tempo, como o amplo
papel atribuído à ciência, é um dos principais
méritos de pesquisa de mestrado e doutorado
conduzida na Unicamp pela historiadora Da-
niela Magalhães da Silveira, transformada no
livro Fábrica de contos: ciência e literatura
em Machado de Assis (304 páginas, Editora
da Unicamp).
Desenvolvido entre 2005 e 2009, o projeto
inicial de Daniela tinha como proposta buscar
compreender a organização das coletâneas de
contos por Machado de Assis. Boa parte des-
ses textos teve uma primeira versão publicada
em algum jornal ou revista fluminense. Em
seguida, o escritor selecionava alguns deles
e os publicava sob o formato de livro. Talvez Machado de Assis: escritor joga luz sobre as A historiadora Daniela Magalhães da Silveira: “Machado
incongruências do discurso produzido por cientistas da época indicava caminhos de leituras mais adequados”
numa tentativa de oferecer alguma coesão
ou mesmo de apresentar a nova obra para
o seu público, aquelas narrativas apareciam apreciadas por Machado para a publicação Empatia com as leitoras sexo feminino, as mulheres não poderiam dei-
precedidas por uma “Advertência”, revela a de suas histórias”, relata a autora. A imprensa, ressalta a autora, foi o xar com que seus maridos as tratassem como
pesquisadora. Esse é o caso, por exemplo, da Essas revistas contaram com a cola- principal veículo de comunicação utilizado escravas e também precisavam se precaver
coletânea Papéis avulsos, de 1882, em que boração de vários médicos interessados por Machado de Assis. Mesmo depois de no caso de se encontrarem sem qualquer
Machado afirmava que aqueles contos seriam na formação das mães e nos filhos delas, se tornar um escritor reconhecido, ele não amparo, por isso deveriam aperfeiçoar seus
“pessoas de uma só família, que a obrigação considerados o futuro da nação. Machado deixava de publicar suas histórias naqueles conhecimentos. Machado de Assis, por sua
do pai fez sentar à mesma mesa”. de Assis representava mais uma vez nes- jornais e revistas, porque isso representava vez, indicava a instrução como estratégia para
“Tendo isso em mente, a minha intenção ses debates, que, embora aparentemente não só rendimentos financeiros, mas tam- enfrentar a autoridade e repressão masculi-
era a de buscar evidências em torno da pu- pouco acessíveis, usavam de linguagens bém a possibilidade de ser lido por um maior na”, argumenta a historiadora.
blicação inicial dos contos nos periódicos, mais interessantes e pareciam cativar os número de pessoas.
observar as mudanças e ajustes feitos por leitores. Por outro lado, o cronista tendia “Provavelmente a sua ideia era muito Precaução com os maridos
Machado e, em seguida, tentar saber se havia a apimentar mais a conversa, questionando mais a de fazer com que seus leitores e leito- A análise da produção de alguns dos
alguma temática que serviria de junção e jus- algumas contradições encontradas nos es- ras questionassem ou ao menos refletissem mais importantes livros de contos publicados
tificativa para que aquelas histórias tivessem critos de seus próprios colegas de redação. a respeito de questões que, sob a pena de por Machado de Assis permitiu à Daniela
sido recolhidas e ganhado o formato de livro. Imerso então nessas discussões, Ma- outros intelectuais, pareciam irrefutáveis. constatar que, enquanto o literato escrevia
Afinal de contas, isso significava não cair no chado de Assis pode ser compreendido Claro, Machado não controlava a recepção para a imprensa, parecia ter muito pouco
esquecimento e nem serem relegadas a um como escritor que usou sua literatura com o de seus escritos, mas sabia que, quando ou qualquer controle sobre a recepção de
segundo plano”, pondera Daniela, que é for- objetivo de se posicionar diante das “novi- participava de uma revista de moda e lite- seus escritos. Precisava também se adaptar
mada em história pela Universidade Federal dades científicas”, defende Daniela, tanto ratura, poderia fazer com que suas leitoras àquele suporte. Ou seja, quando publicava
de Minas Gerais (UFMG) e atualmente lecio- aquelas divulgadas pela imprensa como as se identificassem com alguma personagem e numa revista como A Estação, dedicada ao
na no Instituto de História da Universidade que chegavam ao conhecimento público questionassem o lugar social atribuído a elas público feminino e às famílias, que continha
Federal de Uberlândia (UFU). por meio de conferências populares. Espe- por alguns médicos que tinham suas colunas em suas páginas moldes de vestidos, dicas de
A primeira leitura feita dos contos pu- cialmente porque, pondera a pesquisadora, publicadas ali mesmo”, pondera. “Mesmo modas e tudo aquilo que àquela época parecia
blicados em Papéis avulsos e nas Histórias o andamento daqueles debates poderia em sua maturidade, Machado não deixou pertencer exclusivamente aos interesses das
sem data (1884), no formato original, ou seja, resultar em definições de fundamental de acreditar na capacidade de interpretação mulheres, acabava estabelecendo um diálogo
ainda na imprensa, despertou-a para as ques- importância política para o país. e de transformação que algumas das suas com os outros colaboradores do periódico.
tões relacionadas à ciência. Estas estavam “O que estava em jogo era a questão do leitoras possuíam.” “Além disso, ainda sabia que precisava
presentes em todo o jornal e revista, e não trabalho, com inquietações sobre o destino Especialmente para a composição das abordar determinadas temáticas, tomando
somente nos textos machadianos. a ser dado aos ex-escravos e a inserção Histórias sem data, o folhetinista construiu o devido cuidado para que alguns pais e
“Comecei a perceber, então, como aquela de imigrantes. Da mesma forma, havia personagens femininas ímpares, aponta maridos não se sentissem ameaçados ou
era uma temática que havia rendido muita o problema sobre quais espaços sociais Daniela. ofendidos. Por sua vez, quando recolhia
discussão e parecia ter chamado a atenção conceder às mulheres, o aperfeiçoamento Quando direcionada às mulheres, a algumas histórias para a coletânea, tentava
de Machado, incentivando-o a ingressar no do sistema eleitoral, entre tantas outras ciência produzida no século 19 e divulgada oferecer-lhes outros sentidos e uma justifica-
debate”, acentua. questões. Para resolver tudo isso, o cien- na imprensa tentava definir a maternidade, tiva para que aquelas e não outras tivessem
tificismo aparecia com várias justificativas as condições para a escolha do melhor ca- sido as escolhidas”, pondera a autora. “Nesse
Ciência em profusão e medidas, orientadas pelo evolucionismo samento, como a idade dos nubentes, por segundo momento, Machado parecia ter
Daniela observa que a ciência e suas e pelas noções de diferenças raciais e se- exemplo, e qual o trabalho mais apropria- mais controle sobre o seu ofício, tentando
implicações despertavam o interesse de xuais. Enquanto escrevia os contos dessa do, de acordo com as supostas condições indicar caminhos de leituras mais adequados,
pessoas bastante diferentes. Basta levar coletânea, Machado explorava questões “naturais” femininas. Para debater essas mesmo quando informava que todas as suas
em consideração, ressalta ela, o aumento desse naipe”, enfatiza Daniela. questões, constata ela, Machado de Assis histórias possuíam mais de uma interpretação
Serviço
considerável, em especial nos anos 1870, Em “O alienista”, vários pontos foram deu vida a protagonistas do sexo feminino possível.”
Título: Fábrica de de espaços nos jornais diários dedicados a abertos. Algumas certezas científicas que precisavam driblar a suposta superio- De acordo com Daniela, ler Machado de
contos: ciência e essas questões. O tema fluía com abundân- foram colocadas em xeque, em especial, ridade masculina. Mostrava, desse modo, Assis é sempre um enorme prazer. Primeiro
literatura em Machado
de Assis
cia tanto das colunas, que adotavam uma aquelas propostas por meio do exercício da como a instrução poderia representar uma porque representa ao leitor a possibilidade
Autora: Daniela linguagem mais técnica e enredada, quanto medicina. O espírito crítico, a ironia sagaz importante saída. de se aproximar das discussões possíveis
Magalhães da Silveira dos folhetins, que abusavam do humor e e a profunda reflexão sobre a sociedade “Esta havia sido a solução apresentada apenas no século 19, de saber mais tanto
Edição: 1ª de trocadilhos facilmente compreendidos. brasileira da época – traços indeléveis do também por alguns médicos e também por sobre o próprio escritor, como a respeito de
Páginas: 304
Preço: R$ 29,00 “Aliás, boa parte dos contos trabalha- estilo que consagrou Machado de Assis algumas senhoras que lutavam, também na seus colegas e prováveis leitores e leitoras.
dos por mim apareceu no rodapé da Gazeta como um dos maiores mestres do conto – imprensa, pela emancipação do sexo femi- “Por outro lado, permite constatar a
de Notícias ou numa coluna conhecida à estão presentes, por exemplo, na galeria de nino. A diferença em suas falas refere-se ao atualidade de sua obra, em especial, quando
época como ‘oitava coluna’. Esta abrigava personagens criados para ironizar cientis- fato de que, para os médicos, as mulheres algum cientista do século 21 tenta afirmar
os literatos com suas crônicas e contos. tas e correlatos, sobretudo médicos, como precisavam se instruir para cuidar da edu- o seu conhecimento desconsiderando as
Além disso, ainda existiam aquelas revis- os doutores Simão Bacamarte e Diogo cação dos filhos delas. Para as senhoras condições sociais e necessidades reais da
tas, dedicadas ao público feminino, tão Meirelles. envolvidas em alguns periódicos, como O população atingida”, argumenta.
Campinas, 1º de agosto a 7 de agosto de 2011
7

maginação
tigações cientí�icas permearam
ssis e de Jorge Luis Borges
AR NASCIMENTO

E
@bol.com.br
Foto:Jorge Araújo/Folhapress Fotos: Divulgação/Reprodução
m O jardim dos caminhos
que se bifurcam, escrito em
Jorge Luis Borges

1941, o escritor e ensaísta


argentino Jorge Luis Borges
apresenta aos leitores o enre-
do de um conto policial em
que aborda a possibilidade da existência
de múltiplos tempos, oriundos das diversas
opções com as quais nos defrontamos ao
tomar uma decisão. Os inúmeros futuros
resultantes de cada alternativa constituiriam
assim trajetórias paralelas de tempo, que se
proliferam e se bifurcam em infinitas pos-
sibilidades. O conceito de multiplicidade
temporal da obra fictícia borgeana teria
antecipado em alguns anos a interpretação
dos muitos mundos da física quântica
(cujas leis descrevem o comportamento
do universo microscópico) proposta pelos
físicos Hugh Everett III e Bryce DeWitt a
partir do final da década de 1950. Segun-
do a teoria por eles formulada, em cada
decisão o mundo se ramifica, e em cada
ramo existimos com uma história pessoal
diferente, o que justificaria a existência de
universos paralelos coincidentes ao nosso
– uma ideia que fascina e desperta cada vez
mais o interesse da ciência. A abordagem
dessa conjetura pelo célebre escritor e pe-
los respeitados pesquisadores poderia ser
considerada apenas coincidência?
Para um cientista e fã de literatura em
especial, trata-se de mais um típico caso
de uma surpreendente intersecção entre
literatura e ciência: obras literárias – e não
se trata de ficção científica – anteciparam
ou inspiraram de algum modo soluções
para problemas abordados posteriormente
em investigações científicas. Exemplos Jorge Luis Borges: conceito de multiplicidade temporal teria O físico Alberto Rojo, autor de Borges e a mecânica
antecipado a interpretação de mundos da física quântica quântica: “A ciência e a ficção costumam se sobrepor”
instigantes dessa relação aparentemente
antagônica recheiam Borges e a mecâ-
nica quântica (Editora da Unicamp, 144 um território comum: a ciência é também chefe da corte dos Médici, publicou os re- diário argentino. A experiência de escrever
páginas), coletânea de artigos em que criação e a arte é também descoberta”, sultados de investigações com substâncias para um público leigo tornou-se um exercí-
o físico Alberto Rojo expõe de maneira constata Rojo. orgânicas que realizou inspirado em Ilíada cio inusitado de orientação de sua prosa em
cativante o resultado de seus achados no O autor confidencia: Borges foi o escri- e que se caracterizaram como um desco- direção a uma linguagem mais acessível e a
mínimo curiosos nesse território que ele tor que mais o tocou em sua vida. Por isso, brimento científico inspirado em uma obra temas de interesse cotidiano. Expôs ainda
considera comum entre a arte e a ciência. mas também por ser, segundo ele, o poeta literária. No épico de Homero, Thetis, mãe seus pontos de vista simples a respeito de
Entre os muitos exemplos com que procura mais citado pelos cientistas, ocupa o centro de Aquiles, cobre o cadáver de Patroclo, problemas complexos da ciência no livro
corroborar seu ponto de vista, há desde da obra. Além da concepção dos universos amigo de seu filho, a fim de protegê-lo dos Física na vida cotidiana. Para ele, todo
menções de Borges em textos científicos paralelos que se multiplicam em O jardim... vermes e das moscas que “corrompem os cientista deveria tentar, pelo menos uma
a experimentos laboratoriais inspirados e da possibilidade da viagem no tempo corpos dos homens mortos em batalha”. Ao vez, escrever para o público em geral.
em um clássico grego ou ainda citações abordada no conto O outro, Rojo relacio- conduzir experimentos similares, o médico Rojo avalia que, para muitos cientistas,
capazes de revelar fundamentos científicos na outras citações de Borges em textos de concluiu que, de fato, larvas não nasciam a ciência é mais um trabalho que propria-
em relatos bíblicos. física, matemática e química: menções ao em carne que ficasse inacessível às moscas, mente uma real vocação, e o exagero com
A loteria na Babilônia, no qual o contista protegida por tela, de forma a impedir que que muitos defendem a importância do que
Divindades contrárias reflete sobre o acaso e o determinismo; elas pusessem lá seus ovos, conseguindo fazem tem levado a algumas distorções,
Rojo considera parcial e grosseira a referências ao A biblioteca de Babel, para refutar de maneira científica a hipótese da em sua opinião.
visão segundo a qual literatura e ciência ilustrar os paradoxos dos conjuntos infini- abiogênese, ou geração espontânea, segun- “Eu acho que a ciência tem sido vítima
servem a duas divindades contrárias: as tos e a geometria fractal; alusões a Funes, do a qual os organismos vivos poderiam de certas técnicas de marketing, como re-
emoções e a inteligência. Embora reco- o memorioso, para apresentar sistemas de originar-se seguida e espontaneamente de nomear áreas de pesquisa para que pareçam
nheça nessa percepção algum fundamento numeração; e mesmo a citação de O livro matéria inanimada, defendida na antigui- mais atraentes ou ‘vender’ ideias para atrair
pelo fato de o escritor se ocupar de comover de areia num artigo sobre a segregação de dade por Aristóteles. mais financiamento. Mas é preciso ter em
seus leitores com mundos imaginados e o mistura granulares. Também existe ciência na Bíblia, prega mente que as teorias não são produtos, que
cientista, de decifrar o mundo real, ele pon- “A estrutura de ficção argumentativa Rojo, um agnóstico que interpreta determi- há um valor inquestionável para a ciência,
dera que, num sentido oposto, as grandes dos contos de Borges que às vezes parecem nadas metáforas bíblicas como manifesta- e que as ideias fundamentais são belas,
obras literárias analisam profundamente a teoremas com hipóteses fantásticas, é capaz ções do conhecimento científico ou como úteis e acessíveis”, comenta. “É por isso
realidade e os grandes avanços científicos de destilar ideias em processo de gestação alusões de algum modo à física. Exemplo que eu questiono o uso do jargão e valo-
redefinem os limites da imaginação. que, antes de se converterem em teorias, seria o seguinte trecho em Eclesiastes 1:7: rizo a honestidade intelectual de grandes
“Assim, é concebível que as duas dis- passam primeiro pela literatura”, argumenta “Todos os rios vão ao mar, mas o mar não divulgadores da ciência, como Richard
ciplinas, num sentido amplo, sofram uma Rojo. “Em todos esses casos, trata-se de transborda. Os rios voltam ao lugar de Feynman, Martin Gardner, David Mermin
intersecção. A ciência e a ficção costumam exemplos metafóricos que dão brilho à onde vieram para correr de novo”. Para e Alan Lightman, que envidaram esforços
se sobrepor, a ponto de apresentarem certas prosa opaca das explicações técnicas. No Rojo, um mar que não se enche ante o fluxo para poder destilar a essência de alguns
antecipações literárias como profecias cien- entanto, uma notável exceção constitui O constante dos rios sugere uma compreensão fenômenos e transmiti-la ao público.”
tíficas. O certo é que a mesma imaginação jardim dos caminhos que se bifurcam, onde do ciclo da água; a chuva era obviamente A propósito dos que se escondem atrás
que cria a arte, a literatura e as religiões cria Borges propôs sem sabê-lo uma solução conhecida e a evaporação era algo segura- de complexidades desnecessárias (“como
a ciência”, defende Rojo, cuja formação, para um problema da física quântica ainda mente observado em vasilhas de água, de a turvar as águas para que pareçam mais
digamos, singular, nas duas áreas ajuda a não resolvido. E assim como as ideias de modo que a citação insinuaria que a água profundas”), Rojo recorda-se do quão sur-
compreender o seu apaixonado interesse Everett e DeWitt podem ser lidas como evaporada voltaria em forma de chuva. E preso ficou com a simplicidade de Borges
pelo tema. Ele é professor da Oakland ficção científica, em O Jardim... a ficção há, é claro, o Gênesis. De acordo com os ao se encontrar com o notável escritor
University, em Michigan, autor de obras pode ser lida como ciência.” modelos aceitos hoje, o universo teve um pela primeira vez, em um restaurante, em
relacionadas a temas de física quântica do começo, o assim chamado “Big Bang”. O 1985. Mais desconcertante ainda foi ouvir
Serviço Aristóteles refutado fato de que houve um começo – de que o do poeta a humilde confissão de sua igno-
estado sólido, e, como músico, é autor de
Título: Borges e a peça sinfônica, tem três discos gravados Para além do universo borgeano, o mundo não existiu sempre – é compatível rância em matéria de física, ao indagá-lo
mecânica quântica como solista e participou como violonista e físico e músico brinda o leitor com outros com a Bíblia, afirma o professor. a respeito das várias citações científicas a
Autor: Alberto Rojo
compositor em discos da cantora Mercedes interessantes exemplos do que classifica obras de sua autoria. Jamais esquecida, a
Edição: 1ª
de intersecção entre ciência e literatura, Alfinetadas no jargão resposta é hoje interpretada por Rojo como
Páginas: 144 Sosa, sua conterrânea.
Preço: R$ 30,00 “A arte, por meio da música, e a ci- pinçados ora de um poema de Edgar Allan No capítulo “A verdade é simples”, uma metáfora reveladora do que se pode
ência coexistem em minha vida desde a Poe, ora de um romance de Carl Sagan, Rojo aproveita para alfinetar colegas aca- saber sem saber que se sabe:
adolescência. Portanto, do ponto de vista ora do clássico O mensageiro sideral, livro dêmicos que, na comunicação científica, “Veja só!”, disse-lhe Borges. “Que
filosófico (não é uma coincidência que meu de 1610 em que Galileu desfez o mito da veneram a complexidade e defendem curioso, pois a única coisa que sei de físi-
pai fosse um filósofo da ciência!) eu sempre Lua como esfera perfeita ao reproduzir em que o profundo só pode ser expresso em ca aprendi com meu pai, que me ensinou
fui muito curioso a respeito da diferença aquarelas imagens do corpo celeste com linguagem acessível a poucos. Rojo fala como funcionava o barômetro.” E moven-
fundamental entre arte e ciência. Após montanhas e crateras que conseguiu obser- com conhecimento de causa: a maioria dos do as mãos como se desenhasse o aparelho
refletir e pesquisar sobre o assunto, eu me var ao telescópio. Seguem duas amostras. artigos de Borges e a mecânica quântica foi no ar emendou: “Como são criativos os
convenci de que ambas realmente partilham Em 1668, Francesco Redi, médico- publicada em uma coluna periódica de um físicos!”.

Você também pode gostar