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Saúde dos mulheres no Brasil:

subsídiospara as políticas públicas de saúde


Estela Maria Leão
Professora adjuntado Institutode SaúdeColetiva(UFSo);pesquisadora
do MUSA-Programade Estudos emGêneroe Saúde;representante
da comunidade
acadêmicano ConselhoEstadual de DefesadosDireitosaa Mulherda Sahia
Lilian Fátima Barbosa Marinho
Técnicada FundaçãoNacionalde Saúdeepesquisadora do MUSA!ISC!UFSa; integrantedo ComitêMunicipalde MorteMaternade Salvador;representante
da
RedeNacionalFeministade Saúdee DireitosReprodutivos na ComissãoIntersetorialde Saúdeda Mulherdo ConselhoNacionalde Saúde

Introdução Adoecimentoe morte das mulheresno Brasili

O Brasil tem passado por profundas transformações de- O processo de envelhecimento populacional no Brasil, com
mográficas e epidemiológicas nas quais destaca-se o rápido e uma maior sobrevivência feminina, tem ocorrido em todo o país. O
acentuado envelhecimento populacional, resultante da fenômeno de sobremortalidade masculina já havia sido analisado
combinação da queda histórica da mortalidade com uma drástica em estudo anterior 3,onde identificamos seu caráter generalizado
redução da fecundidade 34,11.
Esse envelhecimento tem ocorrido em dez capitais do país e observamos que as diferenças
de forma mais predominante nas mulheres, que alcançaram uma encontradas podiam ser atribuídas, em grande parte, às causas
expectativa de vida ao nascer de 72,6 anos em 2000, quase oito externas e, secundariamente, às doenças cardiovasculares,
anos superior a dos homens 13.14.Analogamente, também têm ambas com maior mortalidade entre os homens.
ocorrido subst~nciais mudanças na situação epidemiológica 8, Ao final da década de 90, comparando-se homens e mulheres
caracterizadas, principalmente, pela diminuição da mortalidade nas diferentes etapas da vida, pode ser constatado que, em
por doenças infecciosas e parasitárias e pelo incremento das termos de mortalidade proporcional, até os 14 anos e após a etapa
doenças crônicas não-transmissíveis -como as cardiovasculares reprodutiva praticamente não existem diferenças entre os sexos.
e as neoplasias malignas que, atualmente, respondem pela Todavia, na faixa de 15 a 49 anos as diferenças são muito
maioria absoluta das mortes de mulheres adultas. acentuadas, graças a ocorrência excepcionalmente mais alta de
Embora os fenômenos apontados tenham caráter óbitos por causas externas entre os homens (Gráfico 1).
generalizado no país, as dimensões continentais do Brasil e seu Relativamente, as mulheres têm maiores proporções de óbitos por
modelo de desenvolvimento econômico, fortemente concentrador doenças do aparelho circulatório e por neoplasias malignas. As
de riquezas e produtor de desigualdades regionais e sociais, complicações da gravidez, parto e puerpério, também chamadas
propiciam, ao mesmo tempo, grande diversidade de padrões e causas maternas, apesar de responderem por apenas 3,5% dos
tendências epidemiológicas cuja análise não é tarefa fácil. Além da óbitos femininos no período reprodutivo representam mortes
complexidade dos fenômenos, dificuldades de acesso a quase completamente evitáveis, caso essas mulheres houvessem
informações confiáveis, oportunas e adequadas limitam o recebido assistência adequada.
monitoramento de tendências e, particularmente, a análise de """..~1'-
determinantes estruturais
Neste artigo, traçamosdos
um problemas de saúde.
panorama geral sobre a situação de I;J
-

saúde das mulheres no Brasil, buscando contribuir para a


identificação de prioridades para as políticas públicas de saúde.
Para cumprir esse propósito, utilizamos dados disponíveis no site
do Datasus e CD-ROM específicos, e o meio eletrônico foi a via
preferencial de obtenção de dados demográficos fornecidos pelo
IBGE.
D.!.P,." .",i.",., Do'"

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~I~ ~
UJI Saúdedasmulheresno Brasil

As doençascardiovasculares ou do aparelhocirculatóriosão, causas antes dos 65 anos é muito alto: comparativamenteaos


sem sombrade dúvida,as principaisresponsáveispelas mortes EUA,no Brasila mortalidadepor infartoagudodo miocárdioentre
de mulheresno Brasile as maisrelevantesdoençascrônicasnão- 35 e 44 anosé cerca de quatro vezessuperior nas mulherese a
transmissíveis.Embora apresentando,nos últimos dez anos, mortalidade por doenças cerebrovascularesna mesma faixa
tendêncialevementedecrescentedo riscode morrer(Gráfico2), etária é seis vezes mais alta 19.Parte do fenômeno tem sido
conservaminalteradasua importânciaem relação aos demais atribuídaà qualidadeda assistência,principalmentenos serviços
grupos de causas, respondendo por quase 1/3 dos óbitos de emergência,o quepoderiaexplicara ocorrênciamaisfreqüente
femininosde todas as idades. Esse grande grupo de causasé da mortalidadeprecoce por essas causas nas regiões menos
composto, basicamente, pelas doenças cerebrovascularese desenvolvidasdo país. Estudos realizadosem Salvador 30, 31,32
pelas doenças isquêmicas do coração, que constituem as revelaram que a incidência e letalidade das doenças
complicações mais freqüentes da hipertensão arterial. cerebrovascularesé maior nas mulheres;e que, embora com
Considerando-sea segundametadeda décadade 90 (Gráfico3), menor incidênciaque os homens,as mulheresacometidaspelo
observa-seque as primeirasacompanhamo discretodeclíniodo infarto agudo do miocárdioapresentammaior letalidade (80,9%
grande grupo de causas e que as segundas, ao contrário, comparativamentea 66,4% nos homens) e são menos
apresentamleveaumentono mesmoperíodo. hospitalizadas(59,4% contra65,4%nos homens),sugerindoque
as mesmas poderiam estar recebendo pior atendimento. É
..possivel supor que isso seja ocasionadopor um viés de gênero,
50 que resultariana "incapacidade"dos médicosem incluir essas
doenças -consideradas "masculinas"-entre os diagnósticos
4fJ diferenciais, anulando possíveis "vantagens" biológicas das
30 mulheres(como,por exemplo,a maior proteçãohormonal),além
20
daquelas decorrentesde um maior cuidado com a sua própria
saúde.
10 Em relação às neoplasiasmalignas,observa-secrescente
o tendência do risco de morrer por essas causas (Gráfico 2),
C;",lalórias R,sp;"lórias CE"'mas .
Noopla.a, Eod~lo", O,"" também acompanhadado aumento de seu peso relativo em
F_SIM-DATASUS/MS relaçãoaos demaisgrupos.As principaislocalizaçõesprimárias,
tanto em relaçãoà mortalidadequanto à incidência,são as de
~ mamae asde colode útero,o que traduznessegrupode causaso
padrão de mosaico epidemiológicocaracterísticoda realidade
50 brasileira. Interessa assinalar que, no Brasil, a tendência
4fJ crescenteda mortalidadepor neoplasiasde mama não tem sido
30
acompanhadado decréscimoda importânciado câncerde colode
útero, que apresentoutaxa de mortalidadeestável nas duas
20 últimas décadas 16-tendência que, em relação ao período
10 1994/99,podeserconstatadano Gráfico3.
Outro conjunto de problemas de saúde a ser analisado
o
C;"walórias NoopO.a,
R,sp;"IÓrias
Eodmeto",
CE.temas O,""
envolvea saúdereprodutivadas mulhereso que vem inte
'
g rando

FooteSIM-DATASUSlMS as agendas oficiais por força das pressões nacionais e


internacionais-especialmentedos movimentosde mulheres.
Estudosde prevalênciada hipertensãoarterialem populações Historicamente,a mortalidadepor complicaçõesda gravidez,
de diversas cidades brasileiras7,22,25,33,23,40,35,47evidenciam partoe puerpériotem apresentadotendênciaao declínio,desdea
coeficientes relativamente altos entre as mulheres e, décadade 40 44,29,36
-mais lentodo que se deveriaesperarquando
comparativamenteaos homens, pequenosou nulosdiferenciais. comparável às taxas correspondentesde outros países da
Também deve ser apontado que, em nossa realidade, a AméricaLatina39ou outrosindicadoresnacionais,taiscomo os de
mortalidadepor doenças cardiovascularestem grande impacto mortalidadeinfantilou de mortalidadepor doençasinfecciosas.A
sobre faixasetáriasaindajovense queo riscode morrerpor essas análise da evolução temporal das taxas obtidas a partir das

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dasmulheres
noBrasil ;':::y

estatísticasoficiais,no período 1980/97,confirmaa tendênciaao nestecaso9.


declínio,aindaque seja possívelconstatar, nos últimosdez anos, Outrofenômeno-a violência-tem motivadointenso debate,
um arrefecimentoda queda e estabilizaçãodas taxas,inclusive pelocarátergeneralizadoe epidêmicoem nossasociedadee seu
com aparenteelevaçãoao final do período(Gráfico3). Entretanto, impactosobre a qualidadede vida de homense mulheres. A
a observaçãode sérieshistóricasdeveconsiderara possibilidade análise da mortalidade por causas externas entre mulheres
de mudançasna qualidadedo registroe notificaçãodos óbitos, brasileiraspermiteconstataruma relativaestabilidadedo riscode
especialmentenos últimosanos,onde medidastêm sido tomadas morrerno período 1988/99(Gráfico 2), com discretodeclíniode
no sentidode aumentara visibilidadedo problemano Brasil. seu peso relativoentre os grandesgruposde causasde morte.
Nasúltimasdécadas,umfenômenomarcantea ser destacado Fatotambémobservávelno tocanteà ocorrênciados homicídios,
diz respeitoà drástica reduçãoda taxa de fecundidade-de 6,3 entre 1994/99,emboraas médiasnacionais,por não revelaremas
filhos por mulher,em 1960, para 2,3 filhos em 2000 15-como enormesdiferençasexistentesem distintoscontextosregionais,
resultado tanto do uso generalizadode métodos efetivos de devamser olhadascomcautela.
controleda procriação(a pílula e a esterilizaçãocirúrgicasão os Também é preciso assinalar que a violência que atinge
mais utilizados12)como pelo recurso ao aborto -muitas vezes preferencialmente as mulheres não revela sua face nas
comométodohabitual. estatísticasde mortalidade,porquena maioriadasvezesnão leva
As mudançasno padrão de procriaçãotêm sido objeto de à mortee ocorrecomfreqüênciano âmbitoprivadoe conjugal-até
exaustivas análises demográficasmas têm despertadopouca recentementesendo entendidacomo de interesseexclusivode
atenção quanto aos impactos sobre a saúde das mulheres seus participantes mais diretos. Tem sido comprovada uma
brasileiras.Estudosesparsosconfirmama literaturainternacional associaçãoda violência nas relaçõesde gênero com a maior
quanto aos efeitosda pílula no aumentodo risco para doenças ocorrênciade diversos problemasde saúde física e mental e
cardiovasculares 45,48,42,41
e tambémcomo co-fatoresno processo conseqüentemaiorutilizaçãode serviçosde saúde21.Entretanto,
de desenvolvimentodo câncer de colo de útero 28.Entretanto,a esse tipo de violência,na maioria das vezes, não chega a ser
práticageneralizadade esterilizaçãocirúrgicade mulheresainda sequer investigadopelos profissionaisde saúde e, dessemodo,
muito jovens foi pouco investigadaquanto aos efeitos sobre a acabatendosua magnitudesubestimadanas estatísticasoficiais,
saúde. Resulté!tJos de um único estudo caso-controleno país, Com a aplicaçãode métodosespeciaisde detecçãoda violência
examinandoa associaçãoentrelaqueadurapréviae histerectomia domésticapode-seobter prevalênciaaté sete vezes superior à
por mioma, indicam que podem estar sendo conjugados alcançada pela anamnese e/ou exame clínico das mulheres
mecanismosbiológicose culturaisque propiciamum maior risco atingidas6.A partirde estudosfeitosem outrasrealidades,sabe-se
de retiradacirúrgicado úteroem mulhereslaqueadas5. que as mulheres vítimas de violência estão mais expostas a
Aemergênciada Aidsveio a complexificarmaisainda o quadro complicaçõesreprodutivas,tentativasde suicídio, depressões,
epidemiológiconos anos80. A primeiranotificaçãoda doençaem dores crônicase uso de álcool e drogas24.Todavia,persistem
uma mulher, no Brasil, ocorreu em 1983, ano em que foram desconhecidasas especificidadesnacionais, decorrentes de
registrados31 homensna mesmacondição18.Desde então, a relações tradicionaisde gênero realizadassob condições de
notificação de Aids em mulheresvem aumentandode modo extremamisériae pobrezae de insuficiênciade políticassociais
acelerado,atingindo,em 1998,uma relaçãode 2,1 homenspara de saúdequeasseguremumaassistênciaadequada.
cada mulher.A maioriados casos notificadostem como modode Por último, cabe comentar a histórica "invisibilidade"do
transmissãomais provávelo contato sexual,sendo que para as trabalhofemininonaáreade saúde,de certaformajá superadaem
mulheresa transmissãoheterossexualocorre em mais de 80% outrasáreasdo conhecimento.Surpreendentemente, isso ocorre
doscasos.Sabe-seque parteexpressivadas mulherescom Aids apesar da entrada acelerada e crescente das mulheres no
têm parceiros fixos e, muitas vezes, únicos, os quais seriam mercado do trabalho 36,17,que, necessariamente,não as tem
homens com multiparceria(hetero ou bissexual), usuáriosde desobrigadodas antigasfunçõesde cuidadoda casae dos filhos,
drogase/ou soropositivos27,10,26.
Amaiorvulnerabilidadefemininae o que resultaemsobrecargade tarefascujosefeitossobrea saúde
a conseqüentedesvantagemna adoçãode práticaspreventivas são mal conhecidos.As informaçõesrotineiras,insuficientespara
estariabaseadana assimetriade poder nas relaçõesde gênero -analisar o conjuntode trabalhadores,
sãoespecialmenteprecárias
particularmentenasexperiênciassexuaise afetivas-articuladaàs quando o interesse recai sobre as mulheres. A própria clas-
ineqüidadesde classe social, pois são as mulheresde setores sificação de doenças ocupacionaise relacionadasao trabalho
popularesque se encontramem situaçãode maiordesvantagem baseia-seem critériosque nãocontemplamas especificidadesdo

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! rlTJ Saúde
dasmulheres
noBrasil

trabalhodas mulheres.Estudosesparsostêm buscadoavaliaros quadrode saúde com característicasbastante complexas,onde


efeitosdo trabalhonoturno37,do trabalhoinformal43,do estresse problemasemergentes,como a Aids, a violência e as doenças
ocupacional4e da duplajornada de trabalho1sobre a saúdede cardiovasculares,
vêm se somar aos tradicionais,como o câncer
mulheres.Os resultadosde todosesses estudosepidemiológicos de colo de útero, a mortalidadee a morbidade associada a
apontam para as insuficiênciasdo instrumentalteórico e meto- complicaçõesda gravidez,parto e puerpério.Os problemasde
dológicoque tradicionalmentevinha sendo usado para o estudo saúde articulam-se:como é o caso da violência sexual e a
de populações masculinas. Por outro lado, contribuem para transmissão das DST/AIDS; do uso indiscriminado e sem
elucidar os achadosrelativosà maior prevalênciade problemas assistênciamédicada contracepçãohormonale a ocorrênciade
mentais,sintomasosteomusculares e fadigaem mulheresquando doenças cerebrovasculares;da generalizaçãoprogressiva das
comparadas aos homens, revelando-se como um caminho terapiasde reposiçãohormonale seu potencialaumentode risco
promissornaanálisedasrelaçõesentretrabalhoe saúde. paradoençascrônico-degenerativas.
Igualmente,fica evidenciadaa necessidadede estratégias
Asmulherese a definiçãode prioridadesdesaúde:algunscomentá- intersetoriais,mais facilmente apreendida quando se trata do
riosà guisade conclusão enfrentamentoda violência e da epidemia da Aids. Essas
relevantesquestões de saúde pública repolitizaramo debate
Até o final da décadade 70,quandose pensavaem "saúdeda sobre as necessidadesde saúde,ilustrandoos limitesde ações
mulher" imediatamente associava-se tal expressão aos exclusivamentesetoriais.
problemasde saúde das mulheres grávidas,onde o principal Ainfluênciadas mulheresorganizadasna gestãoe no controle
interesserecaía na proteçãoda saúde do feto. Isso orientavaa social das políticasde saúde tem impressoalgumas marcasna
produçãodo conhecimentoque embasavaas políticasde saúde; definição de prioridadessetoriais. Entretanto,as insuficiências
conseqüentemente, as proposiçõesde organizaçãoda atençãoà das informaçõesemsaúdeno paísaindaconstituemumaquestão
saúde eram marcadaspor esse viés 2.2°. Nos anos 80, uma crucial, dificultando a análise de tendências temporais e
conjugaçãode fatores promove uma inflexão nessa tendência impedíndoa investigaçãode determinantessociaisdos processos
histórica, criando condições para mudançasna definição de saúde-doença-cuidado. A ênfase nas informaçõesde relevância
prioridad~sna atençãoà saúde das mulheres.Do pontode vista clínica em detrimentoda importânciasocial continua excluindo
epidemiológico,coma drásticamudançano padrãoprocriativoe a das estatísticasde saúde dadossobrecor/etniae ocupação,bem
emergência da Aids, conforma-seum quadro de saúde onde como aqueles relativos a fatores de risco para a saúde. A
ganhamrelevânciaos aspectosrelacionadosà sexualidadee aos desagregaçãoespacial tem base administrativa,sem qualquer
efeitos da contracepção,em substituição àqueles relativos à articulaçãocom dados socioeconômicosproduzidospelo IBGE,
concepção,à gravideze ao parto.Nessecenário,começama ficar por exemplo,e emboracontribuapara a gestãode recursosnas
evidentesos efeitos da intensa medicalizaçãodos ciclos vitais várias instâncias tem pouca utilidade para a definição de
femininos, expressosna epidemia de cesárease laqueaduras prioridadesde saúdeque revertamas desigualdadessociais.
tubáriase, maisrecentemente, no incrementodashisterectomias. Especificamentequanto à saúde das mulheres,apesar de
A convergênciadas propostasoriundasdo feminismoe do todos os esforços e de alguns avanços persistem noções
movimento sanitário brasileiro deu origem ao Programa de essencialistasque as circunscrevemà esfera reprodutiva e
AssistênciaIntegralà Saúde da Mulher (PAISM),em 1983,que privada; e aos homens, à esfera produtiva e pública. A
representouum marcona história das políticaspúblicasdirigidas necessidadede superar esses limitesjustifica-se pelo caráter
às mulheresao buscar romper com a tradicional perspectiva estratégicoque as informaçõestêm nos processosde decisão
materno-infantile com noçõesessencialistasde saúde,doençae sobre prioridadesem políticaspúblicas.Além da revisão crítica
reprodução 2. Apesar das dificuldades e impasses de sua dos indicadores atualmente utilizados, o monitoramentoda
implementaçãoe consolidação,o ideário do PAISM continua situação de saúde das mulheresrequer o desenvolvimentode
sendouma referênciaparao movimentode mulheresna luta pela estudos especiaisque possam preencher lacunas relativas a
saúdecomodireitode cidadania. temascomo a saúde mental,a violência doméstica,o estresse
O diagnósticoda situaçãode saúde das mulheresno Brasil, ocupacionale os efeitosdo trabalhosobrea saúde dasmulheres.
apresentado neste artigo, permite concluir pela adequaçãoe Mais ainda,devemser estimuladosestudospara a avaliaçãode
atualidadeda integralidadecomo estratégiade organizaçãoda açõese programasde saúde,com especialênfaseno tocante às
assistênciaà saúde.Chega-seao final da décadade 90 com um tecnologiasreprodutivas.

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Saúde
dosmulheres
noBrasil m

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