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Departamento

de Engenharia Civil

Projecto de uma passagem hidráulica tipo


Box Culvert – Influência do aterro e da
fundação
Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em
Construção Urbana

Autor
Tiago André Lopes Pereira

Orientador
Prof. Doutor Carlos Manuel da Cruz Moreira
Instituto Superior de Engenharia de Coimbra

Coimbra, Setembro, 2011


P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação AGRADECIMENTOS

AGRADECIMENTOS

Com a realização deste trabalho, alcancei um novo patamar de saberes e consegui colocar em
prática alguns dos conhecimentos obtidos até à data ao longo do meu percurso académico,
terminando assim uma primeira etapa dos meus estudos. Este desenvolvimento de pesquisa de
certa forma terá continuidade, e de maneira cada vez mais elaborada e completa, uma vez que
com o avanço das tecnologias são criadas condições para estudar novas técnicas, com o
intuito de melhorar sempre todos os trabalhos realizados. Os objectivos de cada engenheiro
devem passar sempre pelo acompanhamento do avanço tecnológico, evoluindo assim as suas
capacidades e procurando oferecer sempre o melhor dos seus conhecimentos.
Este trabalho somente foi possível realizar devido aos apoios e incentivos de todos aqueles
que identifico como indispensáveis e fulcrais, pelos quais eu demonstro toda a minha
gratidão.
Agradeço ao meu orientador científico Doutor Carlos Moreira, pela disponibilidade que
sempre dispôs para a realização deste trabalho. Transmitiu-me conhecimentos, sabedoria,
referências bibliográficas, tudo o que considero ter sido o mais importante, e que me ajudou a
encontrar o melhor caminho para a realização deste trabalho. Mais uma vez agradeço-lhe a
oportunidade de ter realizado este trabalho de pesquisa.
Também quero agradecer às empresas Betafiel e Farcimar, pelo apoio prestado, em especial
ao Engenheiro Eduardo Teixeira da Farcimar, que proporcionou um conhecimento da
empresa, a forma de fabrico das Box Culverts e diversos materiais pré-fabricados, bem como
se prontificou de imediato a disponibilizar dados e informações sobre BCs, agradeço-lhe a
cordial disponibilidade que dispôs.
Agradeço aos meus amigos que sempre me ajudaram e me acompanharam ao longo destes
cinco anos, em especial ao Tiago, à minha namorada Rita que sempre me incentivou e apoiou,
e aos meus pais que considero serem os mais importantes, e os grandes suportes e
impulsionadores de todo este ciclo de estudos a quem devo todo o meu sucesso ao longo do
curso, para estes um agradecimento especial e particular.

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação RESUMO

RESUMO

Nas estruturas enterradas sob aterros de altura elevada existe grande dificuldade em
quantificar as acções actuantes, uma vez que existem mecanismos de interacção solo/estrutura
que condicionam a redistribuição de pressões sobre a estrutura. Normalmente, em métodos
simplificados de dimensionamento não são contabilizados esses factores, facto que leva a
situações de dimensionamento incorrecto no que toca à quantificação das acções actuantes
sobre a estrutura. Estão neste caso as passagens hidráulicas, vulgarmente conhecidas por Box
Culverts, que serão objecto de análise neste trabalho.
Uma das técnicas utilizadas para contabilizar estes factores é a utilização de modelos
numéricos baseados no método dos elementos finitos, que tenham em conta o comportamento
não linear da estrutura e do solo limítrofe. Na presente dissertação recorre-se ao programa
Phase2 para gerar esses modelos.
Realiza-se no decorrer deste trabalho um estudo base que serve como referência ao estudo
paramétrico que se efectua em seguida, de forma a comparar e avaliar assim a influência da
alteração de alguns parâmetros no problema estudado. Todos os estudos realizados têm em
comum a mesma altura de aterro, ou seja, 10 metros acima da travessa superior da Box
Culvert e as mesmas características mecânicas do betão. Nas análises paramétricas efectuam-
se alterações a nível das caracteristicas do solo envolvente e da geometria da Box Culvert, e
apresenta-se uma solução possível para diminuir as acções actuantes na estrutura. Todos os
estudos são analisados e interpretados tomando como principal referência as respectivas
distribuições de pressões sobre a estrutura. Efectua-se ainda uma comparação entre os estudos
base e paramétricos e as disposições regulamentares propostas pela AASHTO.
Por fim, conclui-se que a utilização de um modelo numérico não linear, nomeadamente o
Phase2, permite entender melhor os mecanismos de interacção solo/estrutura que se
desenvolvem neste tipo de obra, e que a sua utilização constitui uma forma de
dimensionamento mais económica e segura.

PALAVRAS-CHAVE: box culverts, aterros elevados, análise não linear, interacção


solo/estrutura, redistribuição de pressões.

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ABSTRACT

ABSTRACT

In buried structures beneath high embankments there is great difficulty in quantifying the
actuating actions, since there are mechanisms of soil/structure interaction which influence the
redistribution of pressure on the structure. Usually, when simplified methods of design are
used these factors are not taken into account, which leads to situations of incorrect evaluation
of the loading acting on the structure. This is the case of the so called Box Culverts that are
the analysis object of this work.
One of the techniques used to evaluate these factors is the use of numerical models based on
the finite element method, which take into account the nonlinear behaviour of the structure
and the surrounding soil. In this thesis the program Phase2 was used to generate these models.
In this work, a basis study is performed, which will serve as a reference to the parametric
study performed after, in order to compare and evaluate the influence of varying some
parameters in the problem studied. All studies have in common the same height of
embankment, which is 10 meters above the top of the Box Culvert, and the same mechanical
characteristics of concrete. In the parametric analysis changes are carried out in the
surrounding soil characteristics and in the geometry of the Box Culvert, and a possible
solution to reduce the actuating actions in BC is presented. All studies are analyzed and
interpreted taking as main reference the distributions of pressure on the structure. A
comparison between the parametric and the basis studies and the regulations proposed by
AASHTO is also made.
Finally, one concludes that the use of a nonlinear numerical model, in particular Phase2,
allows a better understanding of the mechanisms of soil/structure interaction that develop in
this type of work, and also that its employment is a more economical and safe way of
designing.

KEYWORDS: box culverts, high embankments, nonlinear analysis, soil/structure interaction,


redistribution of pressures.

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE GERAL

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. i
RESUMO..................................................................................................................................iii
ABSTRACT .............................................................................................................................. v
ÍNDICE GERAL ....................................................................................................................vii
ÍNDICE DE FIGURAS ..........................................................................................................xii
ÍNDICE DE QUADROS .....................................................................................................xviii
SÍMBOLOGIA ...................................................................................................................... xix
ABREVIATURAS .................................................................................................................. xx
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
2. CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS ......... 3
2.1. Funcionalidade das Box culverts ..................................................................................... 3
2.2. Classificação das Box culverts ........................................................................................ 4
2.2.1. Box culverts da Farcimar .......................................................................................... 7
2.2.2. Box culverts da Betafiel ............................................................................................ 9
2.3. Processo construtivo de Box culverts pré-fabricadas .................................................... 10
2.4. Comportamento estrutural de Box culverts ................................................................... 14
2.5. Processos de dimensionamento típicos de Box culverts ............................................... 17
3. MODELO DE ELEMENTOS FINITOS.......................................................................... 21
3.1. Introdução ...................................................................................................................... 21
3.1.1. Descrição do programa Phase2 ............................................................................... 21
3.2. Módulos do programa Phase2 ....................................................................................... 24
3.2.1. Model ....................................................................................................................... 24
3.2.1.1. Project Settings.................................................................................................. 24
3.2.1.1.1. General ........................................................................................................ 25
3.2.1.1.2. Stress Analysis ............................................................................................. 26
3.2.1.1.3. Groundwater ............................................................................................... 26
3.2.1.1.4. Strength Reduction ...................................................................................... 27

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3.2.1.1.5. Project Summary ......................................................................................... 27


3.2.1.2. Boundaries ........................................................................................................ 27
3.2.1.3. Mesh Generation ............................................................................................... 28
3.2.1.4. Loading ............................................................................................................. 30
3.2.1.5. Displacements ................................................................................................... 31
3.2.1.6. Material Properties ........................................................................................... 32
3.2.1.7. Support .............................................................................................................. 34
3.2.1.8. Joints ................................................................................................................. 35
3.2.2. Compute .................................................................................................................. 35
3.2.3. Interpret .................................................................................................................. 35
4. CARACTERIZAÇÃO DO MODELO ADOPTADO ..................................................... 37
4.1. Apresentação do modelo ............................................................................................... 37
5. ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT ................. 39
5.1. Introdução ..................................................................................................................... 39
5.2. Estudo 1 (BC1).............................................................................................................. 39
5.2.1. Características da Box Culvert................................................................................ 39
5.2.2. Características do solo ............................................................................................ 40
5.2.3. Características a analisar para o estudo base BC1 .................................................. 40
5.2.3.1. Pressões actuantes ............................................................................................. 40
5.2.3.2. Diagrama de Momentos, Esforço Transverso e Esforço Axial......................... 41
5.2.3.3. Diagramas de Deslocamentos ........................................................................... 41
5.2.3.4. Factores de redistribuição de pressões sobre a BC ........................................... 41
5.2.4. Resultados da análise do estudo da BC1................................................................. 42
5.2.4.1. Travessa superior .............................................................................................. 44
5.2.4.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) .......................................................... 47
5.2.4.3. Montantes .......................................................................................................... 50
5.2.4.4. Evolução dos Momentos e Factores de redistribuição no estudo BC1 ............. 53
5.2.5. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC1 .......................................... 54
5.2.5.1. Travessa Superior da BC .................................................................................. 54

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5.2.5.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) ........................................................... 56


5.2.5.3. Montantes .......................................................................................................... 58
5.2.5.4. Observações ....................................................................................................... 60
6. ANÁLISE PARAMÉTRICA ............................................................................................. 62
6.1. Introdução ...................................................................................................................... 62
6.2. Descrição dos estudos realizados .................................................................................. 62
6.3. Estudo 2 (BC2) .............................................................................................................. 64
6.3.1. Características da instalação .................................................................................... 64
6.3.2. Resultados da análise do estudo da BC2 ................................................................. 64
6.3.2.1. Travessa superior ............................................................................................... 65
6.3.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) ........................................................... 66
6.3.2.3. Montantes .......................................................................................................... 67
6.3.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC2 .......................................... 68
6.4. Estudo 3 (BC3) .............................................................................................................. 68
6.4.1. Características da instalação .................................................................................... 68
6.4.2. Resultados da análise do estudo da BC3 ................................................................. 68
6.4.2.1. Travessa superior ............................................................................................... 69
6.4.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) ........................................................... 71
6.4.2.3. Montantes .......................................................................................................... 73
6.4.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC3 .......................................... 74
6.5. Estudo 4 (BC4) .............................................................................................................. 75
6.5.1. Características da instalação .................................................................................... 75
6.5.2. Resultados da análise do estudo da BC4 ................................................................. 75
6.5.2.1. Travessa superior ............................................................................................... 76
6.5.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) ........................................................... 77
6.5.2.3. Montantes .......................................................................................................... 78
6.5.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC4 .......................................... 79
6.6. Estudo 5 (BC5) .............................................................................................................. 80
6.6.1. Características da instalação .................................................................................... 80

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE GERAL

6.6.2. Resultados da análise do estudo da BC5................................................................. 80


6.6.2.1. Travessa superior .............................................................................................. 81
6.6.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) .......................................................... 82
6.6.2.3. Montantes .......................................................................................................... 83
6.6.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC5 .......................................... 83
6.7. Estudo 6 (BC6).............................................................................................................. 84
6.7.1. Características da instalação ................................................................................... 84
6.7.2. Resultados da análise do estudo da BC6................................................................. 84
6.7.2.1. Travessa superior .............................................................................................. 85
6.7.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) .......................................................... 85
6.7.2.3. Montantes .......................................................................................................... 86
6.7.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC6 .......................................... 86
6.8. Estudo 7 (BC7).............................................................................................................. 87
6.8.1. Características da instalação ................................................................................... 87
6.8.2. Resultados da análise do estudo da BC7................................................................. 88
6.8.2.1. Travessa superior .............................................................................................. 89
6.8.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) .......................................................... 89
6.8.2.3. Montantes .......................................................................................................... 90
6.8.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC7 .......................................... 90
6.8.3.1. Material compressível imediatamente acima da travessa superior da BC ........ 90
6.8.3.2. Material compressível distanciado 1,0 m da travessa superior da BC .............. 91
6.8.3.3. Comparação das duas técnicas realizadas em BC7 ........................................... 91
7. ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO).................................. 92
7.1. Introdução ..................................................................................................................... 92
7.2. Dimensionamento AASHTO ........................................................................................ 93
7.2.1. Modelo base para o estudo AASHTO .................................................................... 93
7.2.2. Estudo AASHTO 1 ................................................................................................. 94
7.2.2.1. Resultados da análise do estudo AASHTO 1 ................................................... 94
7.2.2.1.1. Travessa Superior........................................................................................ 95

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE GERAL

7.2.2.1.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) ..................................................... 95


7.2.2.1.3. Montantes .................................................................................................... 96
7.2.3. Estudo AASHTO 2 .................................................................................................. 96
7.2.3.1. Resultados da análise do estudo AASHTO 2 .................................................... 97
7.2.3.1.1. Travessa Superior ........................................................................................ 97
7.2.3.1.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior) ..................................................... 97
7.2.3.1.3. Montantes .................................................................................................... 98
7.3. Análise comparativa dos estudos AASHTO ................................................................. 98
8. CONCLUSÕES E ORIENTAÇÕES PARA PROGRESSOS FUTUROS .................. 100
8.1. Conclusões ................................................................................................................... 100
8.2. Orientações para progressos futuros ............................................................................ 103
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 105

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE FIGURAS

ÍNDICE DE FIGURAS

2. CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS 3


Figura 2.1. Box Culvert pré-fabricada (Farcimar) 3
Figura 2.2. Principais tipos de instalação em Vala 4
Figura 2.3. Aterro em projecção positiva 5
Figura 2.4. Aterro em projecção negativa 5
Figura 2.5. Material compressível aplicado directamente 6
Figura 2.6. Material compressível distanciado 6
Figura 2.7. Classificação de Box Culverts 7
Figura 2.8. BC tipo monobloco da Farcimar 7
Figura 2.9. BC tipo biarticulada da Farcimar 8
Figura 2.10. Certificado BC da Farcimar 8
Figura 2.11. Pormenores técnicos da BC da Betafiel 10
Figura 2.12. Moldes metálicos 11
Figura 2.13. Processo de carga das BC 12
Figura 2.14. Processo de colocação das BC em vala 12
Figura 2.15. Processo de colocação das BC com recurso a gruas 13
Figura 2.16. Execução de aterros laterais, Pinto (2008) 13
Figura 2.17. Tratamento de juntas com poliuretano 13
Figura 2.18. Processo de redistribuição de cargas nas BC, Sang (2000) 14
Figura 2.19. Transferência de pressões entre um sistema solo/estrutura: a) Efeito de arco
negativo; b) Efeito de arco positivo, Pinto (2008) 15
Figura 2.20. Elementos rígidos nas regiões de diferentes características de
deformabilidade, Sang (2000). 16
Figura 2.21. Processo de redistribuição de cargas em BC com travessas muito flexíveis,
Sang (2000). 17
Figura 2.22. Possíveis roturas na BC sob alturas de aterro elevadas: a) flexão a 1/2 vão da
travessa superior; b) esmagamento do betão na face interior do montante; c) corte na
travessa superior 18

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.23. Processo simplificado que admite a BC sujeita a carregamentos constante e


simétrico 19
Figura 2.24. Processo simplificado que admite a BC sobre apoios elásticos 19
Figura 2.25. Processo simplificado que admite a BC sobre apoios elásticos, e considera
a acção sobre a travessa superior, admitida igual ao peso do bloco de aterro afectado por
um factor k 20
3. MODELO DE ELEMENTOS FINITOS 21
Figura 3.1. Modelo de escavação para mina a céu aberto 21
Figura 3.2. Exemplos de modelos de análise: a) escavação subterrânea em rocha; b)
estabilidade de taludes; c) ensecadeiras; d) muro de gravidade de retenção de terras; e)
estrutura de terra estabilizada mecanicamente 22
Figura 3.3. Interacção entre os módulos do Phase2 24
Figura 3.4. Funcionalidades Phase2 Model 24
Figura 3.5. Secções Project Settings 25
Figura 3.6. Tipo de elementos 28
Figura 3.7. Exemplos do efeito do factor de gradação na malha: a) Gradation factor =
0,1; b) Gradation factor = 0,2; c) Gradation factor = 0,3 29
Figura 3.8. Ícone do coeficiente sísmico (horizontal = 0,2; vertical = -0,1) 30
Figura 3.9. Exemplos de cargas aplicadas no Phase2: a) Carga triangular; b) Carga
uniforme; c) Carga hidrostática; d) Carga pontual 31
Figura 3.10. Exemplos de condições de suporte no Phase2: a) Bolts aplicadas a 15 graus
com a horizontal; b) Liners aplicadas nos limites da escavação de um túnel; 34
4. CARACTERIZAÇÃO DO MODELO ADOPTADO 37
Figura 4.1. Discretização do modelo com elementos isoparamétricos triangulares de três
nós 37
Figura 4.2. Divisão das sucessivas camadas de aterro do modelo 38
5. ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT 39
Figura 5.1. Dimensões BC Estudo 1 (BC1) 39
Figura 5.2. Mapa de tensões verticais, Sigma 1 43
Figura 5.3. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC1 44
Figura 5.4. Esforço axial, Axial Force, sobre a travessa no estudo BC1 44

Tiago André Lopes Pereira xiii


P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 5.5. Esforço transverso, Shear Force, sobre a travessa no estudo BC1 45
Figura 5.6. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC1 45
Figura 5.7. Factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo
BC1 46
Figura 5.8. Deslocamentos absolutos verticais, Absolute Vertical Displacement, sobre a
travessa no estudo BC1 46
Figura 5.9. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC1 47
Figura 5.10. Esforço axial, Axial Force, na base da BC (travessa inferior) no estudo
BC1 47
Figura 5.11. Esforço transverso, Shear Force, sob a base da BC (travessa inferior) no
estudo BC1 48
Figura 5.12. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC1 48
Figura 5.13. Factores de redistribuição das pressões verticais, na base da BC no estudo
BC1 49
Figura 5.14. Deslocamentos absolutos verticais, Absolute Vertical Displacement, sob a
base da BC (travessa inferior) no estudo BC1 49
Figura 5.15. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC1 50
Figura 5.16. Esforço axial, Axial Force, nos montantes da BC no estudo BC1 50
Figura 5.17. Esforço transverso, Shear Force, nos montantes da BC no estudo BC1 51
Figura 5.18. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC1 51
Figura 5.19. Factores de redistribuição das pressões horizontais, nos montantes da BC
no estudo BC1 52
Figura 5.20. Deslocamentos absolutos horizontais, nos montantes da BC no estudo BC1 52
Figura 5.21. Evolução dos momentos máximos na travessa, montantes e base da BC no
estudo BC1 53
Figura 5.22. Evolução dos factores de redistribuição na travessa, montantes e base da
BC no estudo BC1 53
Figura 5.23. Evolução das tensões sobre a travessa superior da BC 54
Figura 5.24. Evolução das tensões sobre a linha 1 e 2 55
Figura 5.25. Migração das tensões verticais provenientes do aterro lateral para a zona da
base da BC (Travessa inferior) junto dos montantes 57

Tiago André Lopes Pereira xiv


P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 5.26. Evolução das tensões horizontais com as sucessivas camadas de aterro 58
Figura 5.27. Evolução dos factores de redistribuição nos montantes da BC 59
Figura 5.28. Evolução do esforço axial, Axial Force, com as sucessivas camadas de
aterro 60
Figura 5.29. Configuração da deformada admitida pelo Phase2, (Deformed Boundaries) 61
6. ANÁLISE PARAMÉTRICA 62
Figura 6.1. Características da instalação no estudo 2 (BC2): a) Actuação da sobrecarga
no topo do aterro; b) Tensões mobilizadas na BC devido a sobrecarga no topo do aterro 64
Figura 6.2. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC2 65
Figura 6.3. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC2 65
Figura 6.4. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC2 66
Figura 6.5. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC2 66
Figura 6.6. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC2 67
Figura 6.7. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC2 67
Figura 6.8. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC3 69
Figura 6.9. Esforço axial, Axial Force, sobre a travessa no estudo BC3 69
Figura 6.10. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC3 70
Figura 6.11. Factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo
BC3 70
Figura 6.12. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC3 71
Figura 6.13. Esforço axial, Axial Force, na base da BC (travessa inferior) no estudo
BC3 71
Figura 6.14. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC3 72
Figura 6.15. Factores de redistribuição das pressões verticais, na base da BC no estudo
BC3 72
Figura 6.16. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC3 73
Figura 6.17. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC3 73
Figura 6.18. Factores de redistribuição das pressões horizontais, nos montantes da BC
no estudo BC3 74

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 6.19. Modelação adoptada para o estudo BC4 75


Figura 6.20. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC4 76
Figura 6.21. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC4 76
Figura 6.22. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC4 77
Figura 6.23. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC4 77
Figura 6.24. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC4 78
Figura 6.25. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC4 78
Figura 6.26. Deformada da BC para o Stage 11 do estudo BC4 79
Figura 6.27. Modelo utilizado para o Stage 11 do estudo BC5 80
Figura 6.28. Mapa de tensões verticais e deformada para o Stage 11 do estudo BC5 80
Figura 6.29. Factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo
BC5 81
Figura 6.30. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC5 81
Figura 6.31. Factores de redistribuição das pressões verticais, na base da BC no estudo
BC5 82
Figura 6.32. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC5 82
Figura 6.33. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC5 83
Figura 6.34. Mapa de tensões verticais e deformada para o Stage 11 do estudo BC6 84
Figura 6.35. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC6 85
Figura 6.36. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC6 85
Figura 6.37. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC6 86
Figura 6.38. Mapa de tensões verticais para o Stage 11 do estudo BC7 87
Figura 6.39. Mapa de tensões verticais e respectiva deformada para o Stage 11 do
estudo BC7 considerando: a) Material compressível imediatamente acima da travessa
superior; b) Material compressível distanciado 1,0 m da travessa superior 88
Figura 6.40. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC7 89
Figura 6.41. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC7 89
Figura 6.42. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC7 90

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE FIGURAS

7. ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) 92


Figura 7.1. Modelo utilizado para a modelação dos carregamentos pela AASHTO 93
Figura 7.2. Modelo Phase2 dos carregamentos de AASHTO 1 94
Figura 7.3. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa superior no estudo
AASHTO 1 95
Figura 7.4. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo AASHTO 1 95
Figura 7.5. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo AASHTO 1 96
Figura 7.6. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa superior no estudo
AASHTO 2 97
Figura 7.7. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo AASHTO 2 97
Figura 7.8. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo AASHTO 2 98

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação ÍNDICE DE QUADROS

ÍNDICE DE QUADROS
5. ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT 39
Quadro 5.1. Quadro comparativo das tensões nos pontos 1, 2 e 3 55
Quadro 5.2. Quadro comparativo das tensões verticais na travessa superior e base da BC
(travessa inferior) 57
6. ANÁLISE PARAMÉTRICA 62
Quadro 6.1. Quadro resumo das análises paramétricas realizadas 63
Quadro 6.2. Tensões máximas e momentos máximos actuantes na BC 68
7. ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) 92
Quadro 7.1. Quadro comparativo dos estudos realizados 99

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação SIMBOLOGIA e ABREVIATURAS

SÍMBOLOGIA
h – Altura interior da BC
b – Largura interior da BC
l – Comprimento da BC
sl – Deslocamentos relativos
– Tensão tangencial
∆F – Acréscimo de carga
Fh – Força horizontal
Fv – Força vertical
he – Altura de aterro equivalente
 – Peso volúmico
ha – Altura de aterro
hb – Altura exterior da BC
Io – Impulso em repouso
k – Factor de agravamento das tensões verticais
Fe – Factor de interacção solo/estrutura
p – Tensão média (Mean stress)
q – Tensão de desvio (Deviatoric stress)
σ1 – Maior tensão plana principal (Sigma 1)
σ3 – Menor tensão plana principal (Sigma 3)
σz – Tensão principal fora do plano (Sigma z)
x – deslocamento segundo a direcção horizontal
y – deslocamento segundo a direcção vertical
E – Módulo de deformabilidade
– Coeficiente de poisson
fck – Valor característico da tensão de rotura do betão á compressão aos 28 dias de idade
fctm – Valor médio da tensão de rotura do betão á tracção simples
Ecm – Módulo de deformabilidade do betão

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P.de uma passagem hidráulica tipo BC – I.do aterro e da fundação SIMBOLOGIA e ABREVIATURAS

c– Coeficiente de poisson do betão


Esolo – Módulo de deformabilidade do solo
K0 – Coeficiente de impulso em repouso
Frt – Factor de redistribuição das pressões
H – Altura exterior da BC
B – Largura exterior da BC
et – Espessura da travessa
em – Espessura do montante
We – Carga total aplicada sobre a BC
w – Pressões verticais indicadas pela AASHTO
h – Coeficiente sísmico horizontal
v – Coeficiente sísmico vertical
– Ângulo de dilatância

ABREVIATURAS
BC – Box Culvert
ppBC – Peso próprio da BC
AASHTO – American Association of State Highway and Transportation Officials
BC1 – Estudo base
BC2 – Análise paramétrica: inclusão de sobrecarga
BC3 – Análise paramétrica: diminuição do módulo de deformabilidade do solo
BC4 – Análise paramétrica: fundação rígida
BC5 – Análise paramétrica: aterro lateral e superior mal compactados
BC6 – Análise paramétrica: rotação das espessuras da BC em 90º
BC7 – inclusão de uma zona mais flexível acima da BC
AASHTO 1 – Análise pela norma: aterro lateral compactado
AASHTO 2 – Análise pela norma: aterro lateral não compactado
M. Simplificado – Análise pelo método simplificado de dimensionamento

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INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO
A presente dissertação visa clarificar e compreender a análise de estruturas enterradas, com o
objectivo de proceder a um dimensionamento económico e seguro de um modo mais
eficiente. Estas estruturas são materializadas por quadros de betão armado pré-fabricados,
denominadas Box Culverts (BC), podem ser utilizadas em passagens hidráulicas de estradas,
passagens inferiores, vias-férreas. Por norma, estas estruturas enterradas são analisadas e
dimensionadas com recurso a modelos de cálculo simplificados, e muitas das vezes essa acção
conduz a soluções de subdimensionamento ou sobredimensionamento, portanto inseguras ou
pouco económicas, Sang (2000).
A análise deste tipo de estruturas sob alturas de aterro elevadas é caracterizada por diversas
dificuldades ao longo do seu dimensionamento, aspectos como os mecanismos de interacção
solo/estrutura condicionam a quantificação das acções exercidas sobre a estrutura. Estes
mecanismos são influenciados pela rigidez da estrutura e do solo envolvente, quer do aterro
quer da fundação. Esta rigidez depende não só das suas características físico/mecânicas, mas
também do tipo de compactação utilizada na respectiva instalação ao longo das várias
camadas de aterro executadas. Um dos pormenores que se pode verificar ao longo da
dissertação, é que as tensões mobilizadas no terreno tendem a deslocar-se das zonas menos
rígidas, portanto mais flexíveis, para as zonas mais rígidas, por exemplo do meio vão da
travessa superior da BC, para as zonas junto dos montantes, ou seja, onde os deslocamentos
são menores.
De maneira a considerar na análise todos os elementos que se consideram ser de grande
importância para o comportamento das estruturas enterradas, recorre-se a um modelo de
elementos finitos, este método tem em atenção o comportamento não linear da estrutura e
respectivo solo limítrofe. Na presente dissertação determinam-se os esforços actuantes na
estrutura enterrada e procura-se compreendê-los. São simuladas situações de obra, e
desenvolvem-se algumas técnicas que procuram melhorar a redistribuição das acções
actuantes na estrutura, com vista a encontrar soluções que sejam mais económicas.
A dissertação subdivide-se em oito capítulos, correspondendo o presente ao primeiro capítulo.
No segundo capítulo, apresentam-se as funcionalidades das BCs e classificam-se quanto às
diferentes classes que podem ter, tendo em conta a sua rigidez e o método de instalação, e
indica-se o tipo de classe admitida neste trabalho. São ainda apresentadas as BCs da Farcimar
e Betafiel e o processo construtivo de BCs pré-fabricadas. Também o seu comportamento
estrutural é aqui abordado e apresentam-se alguns processos de cálculo simplificados,
indicando algumas das deformações passíveis de ocorrer. Por último, o capítulo termina com
a apresentação de algumas considerações a ter em conta no dimensionamento através da
norma da American Association of State Highway and Transportation Officials (AASHTO).

Tiago André Lopes Pereira 1


INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1

No terceiro capítulo, numa primeira parte explica-se a importância da utilização de um


modelo numérico baseado em elementos finitos na análise e dimensionamento de BCs, e
também se indica que o programa utilizado é um programa 2D de análise de elementos finitos
elasto-plástico, denominado Phase2. Para terminar descrevem-se as principais funcionalidades
deste programa, tais como as integrantes dos módulos Model, Compute e Interpret.
Apresenta-se então o modelo utilizado no quarto capítulo, no qual se indica o tipo de
discretização utilizada, tipo de malha (Mesh type), factor de gradação (Gradation factor) e
características dos limites exteriores do modelo. No final, refere-se que as características do
solo de aterro e fundação variam em cada caso de estudo específico, e que a altura de aterro
máxima desde a base da BC é 11,5 m, sendo que esta se realiza em nove camadas sucessivas
de aterro.
No quinto capítulo efectua-se o estudo base (BC1). À partida é o que mais se aproxima de
uma situação real e serve como referência para os restantes estudos realizados ao longo da
dissertação. Também se indicam as características geométricas da BC, características do
betão, solo, e respectivo meio de simulação através do Phase2. Apresenta-se ainda as
características analisadas e respectiva interpretação para cada elemento da BC.
No capítulo seis realiza-se uma análise paramétrica, onde se procura simular a variação de
diferentes parâmetros, tendo como apoio e referência comparativa o estudo base BC1.
Efectuaram-se análises paramétricas relativamente à variação das características da
envolvente da BC e também da sua geometria, descritas num quadro resumo apresentado. Por
último, realizam-se as respectivas análises e interpretações dos estudos paramétricos.
No sétimo capítulo efectua-se uma análise pela norma norte americana AASHTO, onde se
indica o modelo base para o estudo, que serve de referência para as duas análises efectuadas
AASHTO 1 e AASHTO 2. Por último, apresenta-se um quadro resumo comparativo de todos
os estudos realizados, incluindo o método simplificado.
No último capítulo, apresentam-se as conclusões para os estudos realizados, e explicam-se as
vantagens de utilização de um programa de análise não linear neste tipo de obras. Para
terminar, indicam-se algumas orientações passíveis de melhor análise no futuro, tais como
interfaces ou análise sísmica, com o objectivo de perceber melhor o comportamento das BCs.

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

2. CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX


CULVERTS
2.1. Funcionalidade das Box culverts
A box culvert pertence ao grupo de estruturas enterradas materializadas por quadros de betão
armado, são usadas na realização de galerias técnicas e de condutas para passagens inferiores
ou hidráulicas, podendo ser pré-fabricadas ou betonadas in-situ, de facto as pré-fabricadas
apresentam mais vantagens, tais como a rapidez de execução e de entrada em serviço, maior
durabilidade, controlo mais rigoroso, bem como uma maior economia de custos, um factor
muito importante, (Figura 2.1).
É na respectiva estrutura viária que a box culvert é mais utilizada, devido a necessidade de
estabelecer uma eficaz drenagem das águas pluviais ao longo dessa estrutura. Neste contexto
a box culvert designada trivialmente por passagem hidráulica, permite um correcto
escoamento dos percursos naturais de água, protegendo assim a estrutura da plataforma das
vias de comunicação. Ao longo da dissertação a box culvert será identificada sucessivamente
pela abreviatura BC.
Neste tipo de projecto em primeiro lugar deve-se ter em conta as condições hidráulicas do
local onde se pretende instalar a BC, uma vez que este aspecto define as condições
geométricas da estrutura, ou seja, determina a altura e abertura da secção das passagens
hidráulicas a implantar. Após definida a secção necessária para garantir as respectivas
condições hidráulicas, nomeadamente o escoamento do caudal solicitante, há que proceder
então ao dimensionamento da estrutura de forma a garantir a sua estabilidade, em função das
solicitações que lhe são impostas, particularmente pelos aterros, e os requisitos locais da sua
fundação.

Figura 2.1. Box Culvert pré-fabricada (Farcimar)

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

2.2. Classificação das Box culverts


As BC classificam-se de acordo com a sua rigidez estrutural, como rígidas ou flexíveis. No
caso das estruturas flexíveis, por apresentarem uma maior deformabilidade, fazem com que
exista transferência de tensões dos aterros laterais para a travessa superior da BC de menor
amplitude, e a redistribuição de tensões da região central da referida travessa para as regiões
da travessa mais próximas dos montantes é de maior amplitude. Nas estruturas rígidas
verifica-se que a transferência de tensões das regiões dos aterros laterais para a travessa
superior da BC é de maior amplitude, e que da zona central da travessa para junto dos
montantes é de pequena amplitude, portanto pouco significativa face às flexíveis. De uma
forma geral, temos maiores tensões junto dos montantes no caso de estruturas flexíveis face às
estruturas mais rígidas.
A instalação da box culvert pode ser denominada como instalação em vala e instalação em
aterro, AASHTO (1996). No caso de instalação em aterro esta pode-se dividir em instalação
em aterro em projecção positiva e em instalação em aterro em projecção negativa, Pinto
(2008).
O método da instalação em vala consiste em introduzir a BC numa vala com dimensões
superiores á da BC a ser colocada, isto para garantir boas condições de trabalho no momento
da colocação da BC. Segundo (Neto e Relvas, 2003), essa abertura pode ser subdividida em
três tipos (Figura 2.2).

Figura 2.2. Principais tipos de instalação em Vala

A instalação em aterro em projecção positiva é definida quando a cota do nível do aterro se


encontra acima da cota do topo da BC, e esta se encontra acima da superfície natural do
terreno (Figura 2.3). Segundo Pinto (2008), as BCs que constituem passagens inferiores de
estradas e vias-férreas são por norma instaladas desta forma.

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No caso de instalação em aterro em projecção negativa, a BC fica instalada numa vala estreita
e pouco profunda, com a cota do seu topo abaixo da superfície natural de terreno, sendo
depois cobertas com o aterro (Figura 2.4). Neste caso se for preenchida a vala entre a BC e o
nível de solo natural com um material muito compressível, as pressões verticais são reduzidas,
tornando-se uma vantagem relativamente à projecção positiva.

Figura 2.3. Aterro em projecção positiva

Figura 2.4. Aterro em projecção negativa

Por último, a instalação em vala também se pode designar por vala induzida ou imperfeita,
este processo ocorre após a instalação em aterro com projecção positiva, ou seja, após essa
etapa, é escavada uma vala da largura da BC e enchida com material bastante compressível,
podendo ser imediatamente acima da BC (Figura 2.5), ou distanciado da BC (Figura 2.6). Esta
camada dada a sua elevada compressibilidade, faz com que exista um desvio das cargas sobre

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

a BC para as laterais, esse facto reduz a resultante das pressões sobre a BC. Normalmente
utiliza-se este processo quando se requerem grandes alturas de aterro, Debs (2003).

Figura 2.5. Material compressível aplicado directamente

Figura 2.6. Material compressível distanciado

Na norma norte-americana AASHTO, são utilizados para distinguir os diferentes efeitos de


interacção solo/estrutura os dois tipos de BC referidos, bem como as diferentes classes de
instalação (Figura 2.7). A normativa também diferencia as BC, tendo em conta parâmetros
como a rigidez do solo de fundação, nível de compactação do aterro lateral à BC,
relativamente ao seu processo de fabrico são classificadas como, in-situ ou pré-fabricadas.

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Figura 2.7. Classificação de Box Culverts

O trabalho desenvolvido na presente dissertação focou-se na análise de passagens hidráulicas


tipo BC pré-fabricadas em betão armado, classificadas como rígidas, respeitando uma
instalação classificada como aterro em projecção positiva. Neste contexto pretende-se
compreender a interacção entre o aterro, a fundação e a estrutura da BC, verificando em que
medida cada um dos parâmetros intervenientes no respectivo dimensionamento estrutural e
geotécnico afectam o seu projecto.

2.2.1. Box culverts da Farcimar


As BC da Farcimar são elementos pré-fabricados em betão armado, podendo estes ser
constituídos por uma única peça monolítica (Figura 2.8), ou por duas peças sobrepostas
formando um quadro biarticulado (Figura 2.9).

Figura 2.8. BC tipo monobloco da Farcimar

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Figura 2.9. BC tipo biarticulada da Farcimar

A Farcimar apresenta uma gama de BC que vai desde a secção 1,00x0,50 m2 até à secção
máxima de 5,00x5,00 m2, variando caso a caso, uma vez que existem normalmente situações
muito específicas e muito variáveis. Todas as BC da Farcimar apresentam um certificado com
as dimensões, tipo de betão, tipo de aço, resistência mecânica, coeficientes de segurança e a
data de fabrico bem como respectivo peso (Figura 2.10).

Figura 2.10. Certificado BC da Farcimar

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No seu processo construtivo é recomendado o uso de uma camada de tout-venant com uma
espessura mínima de 0,20 m, podendo esta espessura ser aumentada atendendo ao solo de
fundação. Esta camada de tout-venant pode ser substituída por uma camada de betão de
limpeza com espessura nunca inferior a 0,10 m. Relativamente ao aterro, este deverá ser feito
de tal forma que o diferencial de alturas entre os dois lados do elemento não seja superior a
0.50 m. Atendendo à função final da estrutura deve-se ter uma especial atenção ao grau de
compactação do solo de aterro, devendo ter-se o cuidado de utilizar meios de compactação
ligeiros, nas imediações dos montantes. Superiormente só poderão ser utilizados meios de
compactação convencionais quando a altura de aterro acima do topo da travessa da BC, for
superior a 0.50 m.
Os elementos constituintes da solução de BC são executados em moldes metálicos, com
vibradores acoplados. O recobrimento das armaduras é garantido pela utilização de
espaçadores plásticos. Os materiais utilizados são o betão C30/37, com um valor de cálculo da
tensão de rotura à compressão de 20,0 MPa, e o aço A500NR SD, com um valor de cálculo da
tensão de cedência do aço das armaduras de 435 MPa.
Relativamente à drenagem, esta deverá ser feita, através da recolha, levada a cabo na base dos
montantes do elemento da BC, por um dreno que recebe e conduz a água até a uma linha de
água ou até ao colector. Este dreno deverá ser coberto por um geotêxtil, para que deste modo
ele funcione como filtro de partículas finas que entupiriam o tubo. Geralmente, é utilizada
esta técnica para alturas de aterro mais baixas, quando se trate de alturas de aterro mais
elevadas apenas se deve aplicar uma tira de tela asfáltica nas juntas verticais e horizontais do
paramento. Esta tira previne a entrada de água proveniente do exterior da galeria, e deve ter
uma largura de 0,30 m.
Os meios a utilizar na compactação deverão ser de dois tipos. Nas proximidades dos
montantes, numa faixa de cerca de 1,00 m de largura deverão ser usados compactadores
ligeiros de pouca potência e só depois é que devem ser utilizados os cilindros normais para
estes trabalhos. Estes cilindros não devem transmitir uma acção dinâmica superior a 10 kN de
força por metro.

2.2.2. Box culverts da Betafiel


As BC da Betafiel também são elementos pré-fabricados em betão armado, podendo estes ser
constituídos por uma única peça monolítica, ou por duas peças sobrepostas formando um
quadro biarticulado. Em geral apresentam comprimentos (l) que vão desde 1,25 m, a 2,00 m,
chegando a secções de 3,00x5,00 m2 (Figura 2.11).

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Figura 2.11. Pormenores técnicos da BC da Betafiel

Nas BC monobloco, correntemente usam-se espessuras para o montante de 0,15 m e para a


travessa cerca de 0,20 m. Nos quatro ângulos do quadro constituído por cada peça existem
esquadros normalmente de 0,25x0,20 m, estes contribuem fortemente para a rigidez dos nós,
que por consequência diminuem os esforços de flexão e as respectivas armaduras. A Betafiel
recomenda que ao ser instalado um módulo pré-fabricado, deve-se ter em conta que ele
necessita de condições de apoio iguais às de idêntico módulo que fosse feito in-situ, pois a
tensão que vai criar será idêntica às deste, sob as mesmas cargas. Onde existir água, a
presença dos solos argilosos, ricos em finos, ou doutros com idênticas características, é
desaconselhável. Caso se opte por um enrocamento sobre um leito previamente limpo, aquele
deve ser criteriosamente disposto e compactado, fazendo-se o enchimento dos ocos com
cascalho grosso e posterior regularização por meio de uma brita de diâmetro na ordem dos
15/25 mm, que não possa ser arrastada pelas águas, portanto nada de finos. Uma das técnicas
utilizada é o uso de um massame que aglutine as pedras base e as colmate, de forma a não
haver migração de finos através delas, dando-lhe a espessura suficiente para uma boa
degradação das cargas. A Betafiel também recomenda para posterior montagem da BC o uso
de uma camada (±5cm) de argamassa, que proporcione um apoio completo da peça, evitando
assim riscos de aparecimento de sobre-tensões localizadas (punçoamentos).

2.3. Processo construtivo de Box culverts pré-fabricadas


O processo construtivo de BCs começa em estaleiro, local onde se encontram os moldes
metálicos sob plataformas adequadas, este processo permite a obtenção de superfícies

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bastante lisas, sendo que os moldes (Figura 2.12) devem ser conservados e verificados de
maneira a que se obtenham sempre peças de boa qualidade. Após a introdução das armaduras,
espaçadores e respectivas pegas ou casquilhos nos moldes, procede-se a betonagem
(efectuada na vertical), e respectiva compactação do betão através do processo de vibração
dos moldes. O betão, sem interrupções, é cuidadosamente introduzido nos moldes de forma a
evitar alterações bruscas nas características deste. Inicia-se a vibração obrigando este a
penetrar em todas as esquinas e ocos de forma a evitar vazios e outros defeitos. Aquando o
inicio da vibração o molde já se encontra com parte do betão no seu interior e esta apenas
termina quando os acabamentos da parte superior da peça estiverem concluídos. No mesmo
molde, podem fabricar-se peças com diferentes geometrias ou alturas, de acordo com as
necessidades, bastando para isso fazer pequenos ajustes nos elementos amovíveis (Fundos).
Geralmente os moldes são dotados de vibradores de alta frequência acoplados. A cura do
elemento é feita no interior da nave industrial, no entanto de forma a evitar perdas de
humidade e assegurar uma cura que permita uma certa impermeabilidade (à penetração de
gases ou líquidos) da zona superficial, as peças são usualmente cobertas com um plástico ou
por uma lona. Os materiais normalmente utilizados são o betão da classe C30/37 e o aço
A400NR/A500NR.

Figura 2.12. Moldes metálicos

O armazenamento dos diversos elementos inicia-se passadas aproximadamente 24 horas da


betonagem. Neste processo é utilizada uma ponte rolante e uma barra, que permite através da
ligação dos cabos aos elementos de elevação embebidos nas peças, a movimentação destas, de
forma simples e segura.
Seguidamente, as BC são transportadas para uma zona de espera, onde são verificadas, para
posteriormente serem carregadas para os camiões de transporte que as transportam até à zona

Tiago André Lopes Pereira 11


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de obra (Figura 2.13). Apesar do seu tamanho, este tipo de peças devido à sua geometria, é de
fácil movimentação, quer dentro do armazém, quer no seu transporte como no estaleiro da
obra. No transporte dos elementos pré-fabricados de maiores dimensões, são usados
elementos de apoio e sistemas de amarração que permitem o transporte de um grande número
de peças de forma segura e sem danos para as próprias peças.
Por fim chegam ao local de obra, onde depois vão sendo colocadas numa vala previamente
aberta (Figura 2.14). Deve-se ter em atenção este processo para tentar minimizar os possíveis
danos na BC.
Após a abertura da vala e antes da introdução das BCs, a superfície inferior da vala deve ser
devidamente compactada e nivelada de forma a obter uma boa superfície de assentamento
para a BC, neste processo também se pode utilizar o enrocamento na base, o massame para
aglomerá-lo e a camada de argamassa para garantir um apoio uniforme. O assentamento das
BC é realizado com recurso a meios mecânicos tipo gruas (Figura 2.15). Após isso dá-se a
execução dos aterros lateral e superior (Figura 2.16), sendo que a compactação é efectuada
com recurso a cilindros vibradores, tomando especial cuidado na zona junto dos montantes.

Figura 2.13. Processo de carga das BC

Figura 2.14. Processo de colocação das BC em vala

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

Figura 2.15. Processo de colocação das BC com recurso a gruas

As juntas que se formam ao longo da instalação das BCs são seladas com tela asfáltica ou
com poliuretano, de forma a impedir o seu preenchimento pelo solo envolvente e impedir
infiltrações de água. A tela asfáltica é aplicada por colagem, resultante do aquecimento de um
maçarico, o poliuretano apenas é introduzido na junta até ficar preenchida (Figura 2.17).

Figura 2.16. Execução de aterros laterais, Pinto (2008)

Figura 2.17. Tratamento de juntas com poliuretano

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

2.4. Comportamento estrutural de Box culverts


Neste tipo de estruturas, onde existe uma grande interacção entre o solo e a estrutura, é
realmente importante compreender o seu comportamento a nível estrutural, de forma a
realizar um dimensionamento económico e com segurança.
Após a execução das obras de instalação, verificam-se deslocamentos relativos entre o solo e
a BC, esses deslocamentos são muito difíceis de prever, daí a sua complexidade a nível de
análise e dimensionamento. Também as diferenças de rigidez entre o solo existente e a BC
afectam esse aspecto. Os deslocamentos são resultantes da existência de descontinuidades que
caracterizam a interface solo/betão, e também devido à construção faseada das camadas de
aterro. A sua maior deformabilidade, portanto, o maior deslocamento do solo proveniente dos
aterros em relação à fundação e à BC, origina uma redistribuição de esforços para as regiões
mais rígidas da BC. O comportamento mencionado pode ser considerado de uma forma
simplificada admitindo que o solo de aterro tem na sua constituição três blocos rígidos com
diferentes deslocamentos (Figura 2.18), Sang (2000).
Os deslocamentos (δsl), são descritos como a diferença entre os deslocamentos dos blocos de
aterro laterais e central, estes deslocamentos produzem tensões tangenciais (τ) mais ou menos
na zona dos montantes, criando assim um acréscimo de carga (∆F) sobre a travessa da BC,
que se designa por força redistribuída. Quando se tiverem situações em que o terreno da
fundação é muito rígido, aterros laterais mal compactados, BC mais rígido, ou as primeiras
camadas de aterro sobre a BC mais compactadas, está-se perante uma origem de
redistribuição de forças maior, Sang (2000). O aumento dessa força é de facto muito
prejudicial para a travessa superior.

Figura 2.18. Processo de redistribuição de cargas nas BC, Sang (2000)

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

No início do século XX Anson Marston foi pioneiro no estudo analítico e experimental do


comportamento de estruturas enterradas.
Anson demonstrou através de ensaios que as condições da instalação, conjuntamente com as
alturas de aterro admitidas afectam as cargas sobre a estrutura. Publicando em 1913
juntamente com Anderson “The Theory of Loads on Pipes in Ditches and Tests of Cement and
Clay Drain Tile and Sewer Pipe” e em 1930 “The Theory of External Loads on Closed
Conduits in the Light of the Latest Experiments”, estes trabalhos foram a primeira abordagem
sistemática do estudo da mecânica estrutural de condutas enterradas, e assim foi definida a
teoria de Marston de cargas sobre condutas enterradas.
Esta teoria afirma que as pressões verticais sobre as condutas enterradas quando instaladas em
valas é reduzida. O conceito base desta teoria consistia em admitir que a carga devida ao
bloco de aterro central, ou seja, todo o aterro sobre a travessa, era influenciada pelo chamado
efeito de arco. Este efeito de arco foi classificado por Marston como, positivo ou negativo,
dependendo do movimento relativo do solo junto da estrutura. Segundo Marston os efeitos de
arco negativos agravam a pressão vertical aplicada sobre a estrutura (Figura 2.19a), este
fenómeno é típico nas instalações em aterro, enquanto os efeitos de arco positivos diminuem a
pressão vertical (Figura 2.19b), típico de instalações em vala.

(a) (b)
Figura 2.19. Transferência de pressões entre um sistema solo/estrutura: a) Efeito de arco
negativo; b) Efeito de arco positivo, Pinto (2008)

Quando a conduta é instalada em vala, o material de enchimento é mais compressível do que


o solo base, como era de esperar, naturalmente este material tem a tendência de consolidar e
assentar ao longo do tempo. Este fenómeno aliado a possível deformação da estrutura,

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

provoca um deslocamento do bloco de aterro acima da BC na direcção descendente em


relação ao solo lateral da vala. Tal deslocamento vai gerar tensões tangenciais ascendentes ao
longo das laterais da vala, criando assim o chamado efeito de arco positivo, este suporta
parcialmente o peso do bloco de aterro sobre a BC. Quando a conduta é instalada sob a forma
de aterro, verifica-se um aumento das pressões verticais das terras sobre a estrutura. O
processo de redistribuição de cargas da (Figura 2.18), corresponde ao chamado efeito de arco
negativo.
Spangler foi professor de pesquisa da Lowa State University, e teve um papel muito
importante ao aprofundar a análise de Marston. Os estudos de Spangler mostraram que os
principais factores que influenciam as pressões exercidas sobre a estrutura enterrada são as
condições de instalação. Estas é que ditam a força e a direcção do deslocamento do bloco de
aterro central em relação aos blocos de aterro laterais. Uma vez que estes deslocamentos dão
origem a forças e tensões de corte, então vão afectar directamente a carga resultante sobre a
estrutura, já que podem ser positivos ou negativos, (portanto subtraídos ou somados).
Existem técnicas construtivas que minimizam a redistribuição de forças para a travessa
superior da BC. Uma delas consiste em colocar elementos de elevada rigidez no solo, nas
zonas de diferentes características de deformabilidade. Esta técnica visa diminuir as
diferenças de deslocamentos entre os blocos de aterro lateral e central, e por consequência
minimiza as tensões tangenciais e as forças dos aterros laterais para o bloco de aterro central
(Figura 2.20), Sang (2000).

Figura 2.20. Elementos rígidos nas regiões de diferentes características de deformabilidade,


Sang (2000).

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

O fenómeno descrito permite concluir que a interacção entre os blocos de aterro dá origem,
em algumas situações, a um aumento das tensões normais sobre a travessa superior da BC, de
maior influência nas regiões perto dos montantes, isto para as estruturas muito rígidas.
Segundo Sang, quando temos um caso em que a travessa da BC é muito flexível, podemos
idealizar mais um bloco de aterro acima da travessa na zona central, este bloco causa
diferenças de deslocamentos (δsl1) entre os blocos de aterro laterais (Figura 2.21).

Figura 2.21. Processo de redistribuição de cargas em BC com travessas muito flexíveis, Sang
(2000).

Devido a esses deslocamentos, são mobilizadas tensões tangenciais, que provocam uma
diminuição das pressões na zona central, e por consequência um acréscimo das mesmas nos
blocos de aterro laterais próximo dos montantes. Uma das técnicas referidas por Sang consiste
em colocar um material muito compressível por exemplo (poliestireno, pneus) acima da
travessa superior, este material faz com que o solo tenha maior deformabilidade acima da BC,
e redistribui as pressões para a região dos blocos de aterro laterais, Sang (2000). Ou seja, nas
estruturas de BC com travessas mais flexíveis, verifica-se um alívio das tensões normais na
região central da travessa da BC, e por consequência disso aumentam as tensões nas zonas da
travessa junto dos montantes.

2.5. Processos de dimensionamento típicos de Box culverts


Actualmente o processo de análise e dimensionamento de BCs é correntemente feito com
recurso a modelos e meios numéricos para análise de estruturas. Desses modelos aquele que é
mais eficaz e recomendável é o método de elementos finitos, sendo este o utilizado no
presente estudo. Nas obras de BCs, as acções que merecem destaque são, as cargas externas

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rolantes e as pressões geostáticas impostas pelo aterro. No caso de BCs instaladas com aterros
elevados, situação considerada no presente trabalho, as acções devido às cargas externas
rolantes são desprezadas, uma vez que com o aumento da altura de aterro estas cargas
degradam-se em profundidade. Portanto, nesta situação, apenas se consideram as pressões
geostáticas devido ao aterro. No modelo simplificado de cálculo existe uma maior incerteza
no dimensionamento em relação a quantificação das acções a considerar, uma vez que este
não considera os mecanismos de interacção solo/estrutura, admitindo apenas as pressões
geostáticas. É aqui que o modelo numérico se revela eficaz.
No caso de obras de BCs com aterros reduzidos, já se consideram as acções devidas às cargas
móveis e também devido às pressões geostáticas. Nesta situação não existem tantas incertezas
como no caso de instalações sob alturas de aterro elevadas, sendo que o dimensionamento,
embora seja um método simplificado, se verifique mais seguro em relação à situação de BCs
sob alturas de aterro elevadas.
Nos modelos simplificados por vezes chega-se a situações em que se têm soluções de
sobredimensionamento, não económicas, e noutras situações chega-se a soluções de
subdimensionamento, não seguras. Este último caso leva ao aparecimento de deformações
acima dos limites impostos, tornando as BCs muito vulneráveis no que toca à corrosão das
armaduras, uma vez que estas se encontram num ambiente agressivo.
Algumas das deformações observadas em BCs em caso de alturas de aterro elevadas, estão
presentes na (Figura 2.22), Pinto (2008).

(a) (b) (c)


Figura 2.22. Possíveis roturas na BC sob alturas de aterro elevadas: a) flexão a 1/2 vão da
travessa superior; b) esmagamento do betão na face interior do montante; c) corte na travessa
superior

Numa primeira fase, a BC é analisada considerando um carregamento simétrico e constante.


A sobrecarga, se existir, é transformada em altura de aterro equivalente, he, e os impulsos são
considerados constantes ao longo da altura. Na quantificação das acções da base da BC

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

consideram-se iguais às acções da travessa superior, ou seja despreza-se o peso próprio da


estrutura (Figura 2.23), Sang (2000).

Figura 2.23. Processo simplificado que admite a BC sujeita a carregamentos constante e


simétrico

Numa segunda fase, tentando melhorar a estimativa dos valores dos impulsos sobre os
montantes, e também de aproximar as tensões na base da BC mais próximo da realidade,
admite-se a BC apoiada sobre apoios elásticos. Aqui, os impulsos de terras consideram-se
iguais aos impulsos em repouso (Figura 2.24). Todas as simplificações restantes se mantêm.
Geralmente, efectuava-se com recurso a um programa de cálculo automático de pórticos
planos, Sang (2000).

Figura 2.24. Processo simplificado que admite a BC sobre apoios elásticos

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CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ESTRUTURAL DE BOX CULVERTS CAPÍTULO 2

Numa terceira e última fase, uma vez que se continuava a desprezar a interacção
solo/estrutura, e as diferenças de rigidez entre o solo e estrutura, procurou-se simplificar essas
particularidades, agravando as tensões normais sobre a travessa superior da BC, através da
consideração de um valor mínimo na região central da travessa, e um valor máximo sobre os
montantes (Figura 2.25). Aqui, nesta situação, o peso do bloco de aterro sobre a travessa foi
agravado por um factor k, este factor de agravamento de tensões é determinado por
extrapolação de resultados de estudos realizados em casos de condutas enterradas, e incide
sobre a teoria de Marston, embora essa correlação entre as condutas enterradas e a BC, dadas
as suas diferenças a nível de geometria, comporte erros que não se podem desprezar, Sang
(2000).

Figura 2.25. Processo simplificado que admite a BC sobre apoios elásticos, e considera a
acção sobre a travessa superior, admitida igual ao peso do bloco de aterro afectado por um
factor k

A normativa internacional AASHTO, também recomenda algumas metodologias de


dimensionamento de BC. Essas metodologias recaem na teoria de Marston-Spangler, e
recomendam a multiplicação do diagrama de pressões sobre a travessa superior por um factor
de interacção Fe, que depende das condições de instalação, portanto em vala ou em aterro. Na
AASHTO as pressões sobre a base estão relacionadas com as pressões na travessa superior e o
peso próprio da BC. Mais à frente no capítulo 7 será explicado como se determina esse factor
de modificação das pressões verticais, denominado factor de interacção solo/estrutura, Fe.

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3. MODELO DE ELEMENTOS FINITOS


3.1. Introdução
Na análise e dimensionamento de BCs, como já foi referido, torna-se bastante complexo
quantificar as acções devidas às diferentes camadas de aterro que são aplicadas. Efeitos como
o referido “efeito de arco”, que afecta as acções de transferência de tensões, tornam difícil
avaliar a resultante das pressões de terras sobre a BC. Este efeito é ainda condicionado por
parâmetros como, a rigidez da BC, rigidez do solo, deformabilidade da fundação e aterro e
tipo de instalação da BC. Recorrendo a modelos simplificados, como é de esperar, não se
consegue ser o mais rigoroso possível na análise e posterior dimensionamento da BC. Existem
numerosos factores que não se conseguem quantificar, tais como as interacções entre solo e
estrutura. Como tal, recorre-se a modelos numéricos que quantifiquem esse tipo de acções, e
tornem a análise e dimensionamento mais próximos da situação real. Um dos métodos mais
utilizados na análise de estruturas é, como já se disse, o método dos elementos finitos.
No presente trabalho recorreu-se ao programa de cálculo automático de elementos finitos
Phase2 da Rocscience.

3.1.1. Descrição do programa Phase2


O phase2 é um programa 2D de análise de elementos finitos elasto-plástico muito poderoso. É
utilizado em escavações subterrâneas ou superficiais, tanto em rocha como em solo. Pode ser
utilizado para uma ampla gama de projectos de engenharia tais como, estabilidade de taludes,
infiltração de águas subterrâneas, análise probabilística, etc.
O Phase2 também pode ser utilizado para modelar a escavação de uma mina a céu aberto. O
modelo pode ser escavado em fases e pode incluir falhas sub-verticais (Figura 3.1).

Figura 3.1. Modelo de escavação para mina a céu aberto

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

Estes modelos multi-fase complexos, podem ser facilmente criados e rapidamente analisados
o mesmo acontecendo para túneis, aterros, estabilidade taludes, ensecadeiras, muros de
gravidade de retenção de terras, estruturas de terras estabilizadas mecanicamente e muito mais
situações (Figura 3.2).

(a) (b)

(c) (d)

(e)
Figura 3.2. Exemplos de modelos de análise: a) escavação subterrânea em rocha; b)
estabilidade de taludes; c) ensecadeiras; d) muro de gravidade de retenção de terras; e)
estrutura de terra estabilizada mecanicamente

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

O programa Phase2 oferece uma ampla gama de opções de modelação de apoio. Elementos
liner (suporte) podem ser aplicados na modelação de betão armado, betão, sistemas de aço,
muros de retenção, multi-camadas de revestimento compostas por geotêxteis e muito mais.
Estes elementos permitem determinar o factor de segurança das modelagens. Uma das
características principais do Phase2 é a análise de elementos finitos da estabilidade de taludes
usando o método de redução da tensão de corte. Esta opção é totalmente automatizada e pode
ser usada com o método de Mohr-Coulomb ou Hoek-Brown, para quaisquer parâmetros de
força. Facilmente se pode importar/exportar entre Slide e Phase2 modelos de inclinação,
permitindo assim uma fácil comparação de equilíbrio limite e os resultados de elementos
finitos. O Slide também da Rocscience é um dos programas mais completos para análise de
estabilidade de taludes disponíveis.
O Phase2 inclui na análise de elementos finitos a percolação em regime permanente, uma vez
que esta se encontra incluída no programa não existe por isso necessidade de recorrer a outros
programas para a analisar. Ele determina a pressão dos poros assim como o fluxo e o
gradiente, com base nas definições introduzidas pelo utilizador relativas às condições de
contorno e condutividade hidráulica do material em causa. O programa inclui
automaticamente os resultados da pressão dos poros na análise de forças.
Podemos dizer de uma forma geral que o Phase2 é um programa de elementos finitos 2D
elasto-plástico, que permite calcular as tensões e deslocamentos em torno de aberturas
subterrâneas e pode ser utilizado tanto em problemas de mineração, como em problemas de
engenharia geotécnica e civil, envolvendo:
 Escavações em rocha ou solo;
 Fases de escavações (até 300 fases possíveis);
 Materiais elásticos ou plásticos;
 Múltiplos materiais;
 Suporte bolt (tipo parafuso);
 Suporte liner (pode ser tipo betão armado, betão, geossintéticos);
 Tipo de campo de forças em que podemos considerar constante ou com acção da
gravidade;
 Análise plana ou axisimétrica;
 Linha piezométrica;
Pode-se dizer que o Phase2 é constituído por três módulos, são eles o Model, o Compute e o
Interpret, que no capítulo 3.2 serão abordados com mais pormenor.

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3.2. Módulos do programa Phase2


3.2.1. Model
Este é o módulo de pré-processamento utilizado para inserir e editar os limites do modelo,
suporte, geração da malha de elementos finitos, forças, propriedades do material, entre outros
pontos, tal como descritos a seguir. De uma forma sucinta o Model (M), Compute (C) e
Interpret (I) interagem entre si (Figura 3.3).

Figura 3.3. Interacção entre os módulos do Phase2

É de referir que depois de definir o modelo para se poder ver os ficheiros de análise do
Interpret, deve-se primeiro realizar o processamento através do Compute, esse processamento
grava o ficheiro num arquivo. Após isso pode-se passar do Interpret para o Model e do Model
para o Interpret sem que seja necessário voltar a correr o Compute. Na constituição do Model
destacam-se essencialmente as funcionalidades ilustradas a seguir (Figura 3.4).

Figura 3.4. Funcionalidades Phase2 Model

3.2.1.1. Project Settings


O comando Project Settings está disponível na barra de ferramentas no menu Analysis. Este
permite ao utilizador configurar a modelação primária e os parâmetros de análise para o
Phase2 Model. As configurações do projecto devem ser escolhidas no inicio da modelação,
uma vez que algumas destas configurações condicionam a operação de diversas opções de

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

modelação. Opções como por exemplo, o número de fases (number of Stages), tipo de análise,
unidades, devem ser definidas antes de se começar a criar o modelo. O comando Project
Settings está organizado segundo as secções ilustradas a seguir, (Figura 3.5).

Figura 3.5. Secções Project Settings

3.2.1.1.1. General
Nesta opção, define-se o número de fases, podendo este ser uma análise de elementos finitos
de uma única fase ou multi-fase, sendo que a multi-fase pode ser seleccionada de duas até
trezentas fases separadas. Também o nome de cada fase pode ser definido pelo utilizador. O
tipo de análise pode ser realizado como Plane Strain, ou Axisymmetric. Em Plane Strain,
estado plano de deformação, o modelo assume que as escavações são de comprimento infinito
na direcção fora do plano, e, portanto a tensão na direcção fora do plano é zero. Em
Axisymmetric, análise axisimétrica, permite-se ao utilizador analisar um modelo em 3D, que é
rotacionalmente simétrico em torno de um eixo, por exemplo, o fim de um túnel circular.
Embora a entrada de dados seja em 2D, os resultados da análise aplicam-se para o problema
3D. A resolução do modelo, ou seja, a opção que determina como o Compute resolve a matriz
que representa o sistema de equações, pode ser realizada por três métodos:
 Gaussian Elimination;
 Conjugate Gradient Iteration;
 Pre-Conditioned Conjugated Gradient Iteration;
O método padrão é a eliminação gaussiana, no entanto para resolver grandes problemas,
poderá ter que se usar uma das outras duas técnicas. Caso todos os materiais sejam elásticos, o
tempo de solução será mais rápido com estas técnicas do gradiente conjugado. Por último,
devem-se escolher as unidades de medição, podendo ser:
 Unidades métricas - MPa, kPa, ton/m2;
 Unidades imperiais – ksf, psf, ton/ft2;
Todos os parâmetros inseridos no programa pelo utilizador devem corresponder ao tipo de
unidades definido.

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3.2.1.1.2. Stress Analysis


As opções disponíveis neste ponto podem ser usadas para personalizar os parâmetros que
controlam os elementos finitos no Phase2 na análise de tensões.
Neste ponto podemos definir o número máximo de iterações permitidas em cada processo de
carga. O valor por defeito é de 500. O valor da tolerância define o ponto no qual a solução de
elementos finitos é considerada ter convergido. A tolerância para a análise de tensão é um
parâmetro adimensional, que representa a energia desequilibrada permitida no sistema. Para
um dado processo de carga, se o desequilíbrio de energia de uma fase inicial (iteração) é
inferior ao valor de tolerância, então a solução é considerada ter convergido, e as iterações
param. Se por outro lado, o valor da tolerância não é alcançado dentro de um número máximo
especificado de iterações, ou seja, o desequilíbrio da energia, continua maior que o valor de
tolerância, então o processo de solução é considerado como não tendo convergido.
A tolerância padrão é 0,001, e o intervalo de valores sugerido é entre 0,01 e 0,001. Valores de
tolerância maiores aceleram o tempo de solução, mas dão origem a soluções menos precisas,
enquanto valores menores dão origem a soluções mais precisas, aumentando também o tempo
de cálculo. Numa análise em que todos os elementos são considerados elásticos, não é
necessário definir este critério uma vez que se obtém uma solução exacta. A tolerância é
usada quanto temos uma análise plástica, ou seja, quando pelo menos um material definido
tiver características de material plástico.
O número de processos de carga utilizados no Compute em cada fase é determinado
automaticamente pelo Phase2 (Number of Load Step = Auto). O utilizador também pode
definir aqui um valor entre 1 a 30 para os processos de carga. Quando este valor é deixado
como Auto, o número de processos de carga em cada fase não é necessariamente igual, ao
contrário de quando se define o número de processos, em que aí se mantêm iguais para todas
as etapas de cálculo. Por norma deve-se deixar Auto, e apenas ser alterado por utilizadores
muito experientes.

3.2.1.1.3. Groundwater
Esta opção permite definir o modo como a pressão da água nos poros é modelada. Se a análise
incluir este aspecto, as seguintes opções ficam disponíveis:
 Piezometric Lines;
 Water Pressure Grid (Carga total, Carga de pressão, Pressão de poros);
A análise de elementos finitos considerando água subterrânea é uma ferramenta muito
poderosa do Phase2, permitindo um programa de análise de infiltração bastante estável no
método dos elementos finitos utilizado. A análise de infiltrações pode ser usada em
simultâneo com a análise de tensões no Phase2, ou em separado de uma forma autónoma.

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3.2.1.1.4. Strength Reduction


Esta opção permite de uma maneira geral, executar uma análise de elementos finitos na
estabilidade de taludes, usando o método da redução da resistência ao corte (Shear Strength
Reduction). Permite assim, determinar um factor de redução da resistência de corte para o
modelo, esse factor é equivalente ao factor de segurança da encosta.

3.2.1.1.5. Project Summary


Aqui poderemos definir o título do projecto, informações de análise, comentários, o autor do
projecto.

3.2.1.2. Boundaries
Depois de definidas as condições de projecto (Project Settings), devem ser criadas as
fronteiras que definem o modelo. Estas fronteiras podem ser importadas de ficheiros com
formato DXF.
Os tipos de limites que se podem utilizar no Phase2 são:
 Escavation;
 External;
 Material;
 Stage;
 Joint;
 Structural Interface;
 Piezometric Line;
No caso de Escavation, este limite representa a fase final, ou a extensão máxima de uma
escavação. Os limites intermediários dentro da escavação devem ser representados por Stage
ou Material. O External define a extensão da malha de elementos finitos, e abrange todas as
outras fronteiras. É necessário definir uma fronteira externa (External) para cada modelo no
Phase2, apenas se pode definir uma.
O Material é usado para definir os limites entre os tipos de materiais diferentes, e o Stage para
definir os limites entre os diferentes faseamentos de escavação. No caso de Joint, este, ao
contrário do Material e do Stage, associa em si propriedades tais como rigidez e resistência. A
Structural Interface representa um elemento de apoio, que tem uma interface deslizante
(conjunta), em ambos os lados do elemento. Por fim, Piezometric Line representa um nível
freático, ou superfície piezométrica.

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3.2.1.3. Mesh Generation


Depois de serem definidos todos os limites, pode-se então gerar a malha de elementos finitos.
O Phase2 incorpora um gerador automático da malha de elementos finitos, que pode ser
baseada em elementos triangulares ou quadrilaterais. Facilmente se obtém uma malha de alta
qualidade, sem que seja exigido grande esforço ao utilizador. Este processo engloba duas
etapas:
 Discretization;
 Meshing;
A Discretization (Discretização) consiste em dividir os segmentos de linha de fronteira em
discretizações que formarão o quadro da malha de elementos finitos. Após este processo, a
malha de elementos finitos pode ser gerada. A malha é baseada na discretização das
fronteiras, e os tipos de malha e elementos podem ser seleccionados na opção Setup Mesh.
Esta opção de configuração da malha inclui:
 Mesh type;
 Element Type;
 Gradation factor;
 Number of Excavation Nodes;
 Advanced Discretization;
No Mesh type, o utilizador pode escolher três tipos de malha diferentes, tais como Graded,
Uniform ou Radial. A malha geralmente utilizada nos modelos é a Graded.
O utilizador pode escolher entre quatro diferentes tipos de elementos finitos na caixa de
configuração da malha, (Figura 3.6).

Figura 3.6. Tipo de elementos

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

Em elementos de 6 nós triangulares, ou elementos de 8 nós quadrilaterais, existem nós


chamados midside, que são os pequenos pontos circulares no ponto médio de cada aresta do
elemento finito. O utilizador deve saber que ao aumentar os elementos que contenham nós
midside, aumentam muito o tamanho das matrizes utilizadas para resolver o problema, e
portanto, aumentam o tempo de solução e mais memória por parte do computador.
O factor de gradação é a relação entre a duração média de discretizações em limites de
escavação para o comprimento de discretizações na fronteira externa, à distância máxima dos
limites de escavação, (Figura 3.7).

(a) (b) (c)


Figura 3.7. Exemplos do efeito do factor de gradação na malha: a) Gradation factor = 0,1; b)
Gradation factor = 0,2; c) Gradation factor = 0,3

O número de nós de escavação determina directamente a discretização dos limites de


escavação. Se mais que um limite for definido esse número é o total de todas as escavações.
O Phase2 subdivide os limites de escavação de tal forma que o número de nós de escavação é
aproximadamente igual ao número de nós de escavação na configuração Mesh. Este
juntamente com o factor de gradação determina a discretização de todas as outras fronteiras
no modelo. Na discretização avançada, permite uma maior flexibilidade ao utilizador em
personalizar a discretização dos limites do modelo. Na maioria dois casos, o procedimento de
discretização regular, especificação do número de nós de escavação, factor de gradação, serão
suficientes para obter uma discretização adequada aos limites do modelo, no entanto o
utilizador tem um controle total da discretização de qualquer parte do modelo, podendo alterá-
la a qualquer altura.

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3.2.1.4. Loading
Esta opção permite definir diferentes tipos de carga num modelo do Phase2, tais como:
 Field Stress;
 Load Split;
 Seismic Load;
 Distribuited Loads;
 Line Loads;
 Springs;
 Liner Moments;
A opção Field Stress é utilizada para definir as condições de forças iniciais no solo, antes da
escavação. Pode ser considerada constante, ou contabilizando a força da gravidade.
A opção de força constante é utilizada para definir o campo de tensões antes da escavação.
Por norma é utilizado para as escavações que são relativamente profundas. Ao contrário, a
opção de força de gravidade, é usada para definir um campo de tensões in-situ, que varia
linearmente com a profundidade. Este geralmente é utilizado para zonas perto da superfície,
ou seja escavações de superfície. Por padrão no Phase2, toda a carga no modelo devido ao
campo de forças é aplicada na primeira etapa do modelo.
O Load Split permite ao utilizador aplicar a carga de forma faseada, à medida que a escavação
progride. O Phase2, também permite utilizar coeficientes sísmicos na análise de elementos
finitos, para simular o efeito do sismo. Estes coeficientes quando não são zero fazem com que
no canto superior direito apareça um ícone que indica que a carga sísmica tem sido aplicada
no modelo, bem como a magnitude e direcção do coeficiente sísmico, (Figura 3.8). Os
coeficientes sísmicos são coeficientes adimensionais que representam a aceleração do sismo
(máximo) como uma fracção da aceleração da gravidade. Os valores típicos estão na faixa de
0,1 a 0,3. Na convenção utilizada, quando se tem um coeficiente positivo horizontal temos
uma força aplicada para a direita, um coeficiente negativo horizontal uma força aplicada para
a esquerda, um coeficiente positivo vertical uma força aplicada para cima, e por último um
coeficiente negativo vertical que representa uma força com sentido descendente. Ao utilizar
esta opção é recomendado ao utilizador realizar múltiplas análises usando diferentes
combinações e direcções para os coeficientes sísmicos, de maneira a avaliar o efeito da força
sísmica na direcção dos resultados da análise.

Figura 3.8. Ícone do coeficiente sísmico (horizontal = 0,2; vertical = -0,1)

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

No Phase2 pode-se aplicar cargas distribuídas nos limites da Escavation, External, Material e
Stage. O programa só permite aplicar estas cargas depois de ser gerada a malha de elementos
finitos. Podemos ter cargas uniformes, triangulares, cargas hidrostáticas e cargas pontuais,
(Figura 3.9).

(a) (b)

(c) (d)
Figura 3.9. Exemplos de cargas aplicadas no Phase2: a) Carga triangular; b) Carga uniforme;
c) Carga hidrostática; d) Carga pontual

As Springs (molas), podem ser adicionadas a qualquer altura, após ser gerada a malha de
elementos finitos, podem ser usadas como forma de simular o efeito de determinadas
estruturas de suporte. Por último, o Liner Moment permite adicionar momentos e as condições
de contorno de rotação para os liners.

3.2.1.5. Displacements
Aqui são classificadas as condições de apoio (restrições nos deslocamentos) para o modelo.
Por exemplo:
 Restrito em XY (Fixo);
 Restrito em X (ou seja, livre apenas na direcção Y);

Tiago André Lopes Pereira 31


MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

 Restrito em Y (ou seja, livre apenas na direcção X);


 Livre (isto é livre nas direcções X e Y);
 Fixo (pode ser aplicado somente um deslocamento);
Geralmente estas condições podem ser utilizadas nas fronteiras externas do modelo (External
Boundary).

3.2.1.6. Material Properties


As propriedades do material no Phase2 correspondem às propriedades físicas e hidráulicas de
rocha ou solo que compõem o modelo. Destacam-se dois comandos base, em primeiro definir
as propriedades do material, e depois atribuir as propriedades para as diversas regiões do
modelo. O utilizador pode definir até 40 propriedades de materiais diferentes. As condições
para definir um material são:
 Name;
 Material Colour;
 Initial Element Loading;
 Unit Weight;
 Elastic Properties;
 Strength Properties;
 Staged Material Properties;
 Datum Dependent Properties;
 Unsaturated Shear Strength;
O Initial Element Loading permite ao utilizador definir se utiliza Field Stress ou Body Force
para o carregamento inicial para um dado tipo de material. Existem aqui quatro opções, o
Field Stress Only (somente o campo de forças), Field Stress e Body Force (campo de forças e
força no corpo), Body Force Only (somente força no corpo), e None (nenhum destes últimos).
A opção Field Stress permite definir por parte do utilizador as condições in-situ das forças
antes da escavação. O Body Force representa o peso próprio dos elementos, e é derivado da
unidade de peso introduzida para o material nas propriedades. Quando se estiver a usar um
campo de forças constante, então o elemento padrão inicial de carga para cada material, deve
ser Field Stress Only. Caso se considere o campo de forças gravítico, então deve ser
considerado, Field Stress e Body Force.
A Unit Weight é a unidade de peso dos materiais (Peso volúmico), só é aplicável quando o
Body Force estiver incluído no carregamento do elemento inicial., ou seja, somente fica
visível quando tivermos o Field Stress e Body Force, ou Body Force Only.

Tiago André Lopes Pereira 32


MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

Nas Elastic Properties, podemos ter modelos elásticos tais como, isotropic (isotrópicos),
Transversely Isotropic (transversalmente isotrópicos), Orthotropic (ortotrópicos) e Duncan-
Chang Hyperbolic. O mais correntemente utilizado é o isotrópico, este implica que as
propriedades do material não variem com a direcção. As propriedades elásticas de um
material isotrópico são totalmente definidas por um único valor do módulo de young e um
coeficiente de poisson.
Os Strength Parameters, parâmetros de resistência, permitem definir o critério de rotura para
um material, e escolher se o material é elástico ou plástico. Os critérios de rotura disponíveis
no Phase2 para definir a resistência do maciço rochoso ou do solo são, o critério de Mohr-
Coulomb, Hoek-Brown, Drucker-Prager, Hoek-Brown Generalizado, Cam-Clay e Cam-Clay
modificado.
No caso de Mohr-Coulomb, é necessário definir a coesão, ângulo de atrito e resistência à
tracção, caso o tipo de material seja plástico, também se deve definir a dilatância e valores
residuais de coesão e ângulo de atrito.
No critério de rotura de Hoek-Brown deve-se definir os parâmetros, força de compressão
uniaxial intacta, mb e s. Este é um caso especial do critério de rotura Hoek-Brown
generalizado, em que a constante a=0,5. O critério Hoek-Brown generalizado utiliza os
mesmos factores mas com valores de a diferente de 0,5. O mb é um valor reduzido para a
massa de rocha. Os parâmetros s e a, são constantes que dependem das características do
maciço rochoso. Estes parâmetros são muitas vezes difíceis de determinar através de ensaios
triaxiais ou de corte de maciços rochosos, como tal, por vezes, há algumas práticas para
estimar esses parâmetros.
Os parâmetros em Drucker-Prager são, resistência à tracção, parâmetro q e k. Estes dois
parâmetros são calculados com base no ângulo de atrito e coesão, do critério de rotura de
Mohr-Coulomb.
Na especificação de Cam-Clay e Cam-Clay modificado, são requeridos cinco parâmetros. O
parâmetro , inclinação da compressão normal, o k, inclinação de uma linha de carga e
descarga no espaço, M, inclinação da linha crítica do estado e o N ou , volume especifico.
Este último parâmetro pode ser definido por dois métodos. O N define o volume específico da
linha normal de compressão por unidade de pressão, o  define o volume específico da linha
do estado crítico por unidade de pressão.
A dilatância é a medida que estima o aumento de volume quando ocorre corte de material.
Para um material de Mohr-Coulomb, a dilatância é um ângulo que, por norma, varia entre
zero e o ângulo de atrito. Valores de dilatância muito baixos estão geralmente associados a
rochas moles, ao contrário, valores muito altos associam-se a maciços mais duros.

Tiago André Lopes Pereira 33


MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

Em relação ao Staged Material Properties, este permite utilizar propriedades diferentes para
as diferentes fases, por exemplo num modelo em que exista mais que uma fase pode-se ter
parâmetros diferentes para cada uma. Com isto pode-se simular um aumento ou diminuição
da rigidez do material, um aumento ou diminuição da resistência do material, ao longo das
fases do modelo.
O Datum Dependent Properties possibilita que o utilizador defina propriedades do material
que variam linearmente com a profundidade. Podemos especificar como Datum Dependent, o
módulo de young (somente se o material for do tipo elástico isotrópico), coesão e ângulo de
atrito (se critério de rotura for Mohr-Coulomb e material for plástico). Para terminar, o
Unsaturated Shear Strength, somente disponível quanto temos o método de águas
subterrâneas no modelo, e o critério de rotura considerado for Mohr-Coulomb.

3.2.1.7. Support
O programa Phase2 oferece uma gama de opções extensa no que toca à modelação das
condições de suporte, tanto em aplicações geotécnicas como em mineração. As duas
principais categorias dos tipos de suporte são, as Bolts e os liners (Figura 3.10).

(a) (b)
Figura 3.10. Exemplos de condições de suporte no Phase2: a) Bolts aplicadas a 15 graus com
a horizontal; b) Liners aplicadas nos limites da escavação de um túnel;

Os liners simulam o efeito do betão armado, revestimentos, geogrelhas, geossintéticos e


também podem ser compostas por várias camadas de material. As Bolts simulam o efeito por
exemplo de ancoragens, pregagens, ou estacas de betão. Podem ser aplicadas Bolts de
diferentes características no mesmo paramento. Se o tipo de Liner utilizada for do tipo Beam
(tipo viga), podemos optar pela formulação Timoshenko, que considera os efeitos de
deformação devido ao corte transversal, ou pela clássica Euler-Bernoulli, que não tem em
conta a deformação de corte transversal.

Tiago André Lopes Pereira 34


MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

3.2.1.8. Joints
Os Joints representam uma interface ao longo do qual podem ocorrer movimentos. Ao Joint
devem associar-se propriedades tal como a força e a rigidez. O movimento relativo que se
considera dos dois lados do Joint pode ser elástico ou inelástico (se a resistência ao corte do
Joint for inferior à tensão de corte). As Joints podem representar, descontinuidades estruturais
entre massas rochosas ou solo, interfaces entre o apoio (por exemplo revestimentos,
geossintéticos), ou qualquer outro tipo de interface de deslizamento que pode ocorrer num
projecto geotécnico.

3.2.2. Compute
O mecanismo de análise em elementos finitos do Phase2 pode ser iniciado a partir do
modelador Phase2, seleccionando o botão Compute, no menu ferramentas. Antes de executar
a análise deve-se gravar o ficheiro de dados, para que o programa prossiga. Se for admitido o
uso de águas subterrâneas no modelo, podemos executar o Compute (Groundwater Only), ele
permite fazer a análise de elementos finitos da infiltração de águas subterrâneas, sem
computar a análise de tensões.

3.2.3. Interpret
No Interpret, o utilizador pode visualizar as condições de contorno a partir da análise de
elementos finitos. Por padrão quando um arquivo é aberto, o Sigma 1 é o contorno que será
exibido no modelo. Os seguintes dados básicos estão sempre disponíveis para o contorno após
a análise:
 Principal Stress – Sigma 1, Sigma 3, Sigma Z, Mean stress, Deviatoric stress;
 Displacements – Horizontal, Vertical, Total;
 Strength Factor;
 Strain – Volumetric, Maximum shear;
No principal stress, o Sigma 1 representa os contornos para a maior tensão plana principal, o
Sigma 3 representa os contornos para a menor tensão plana principal, Sigma Z identifica os
contornos da tensão principal fora do plano. A tensão média (Mean stress) é calculada com
base em Sigma 1, Sigma 3 e Sigma Z:

(3.1)

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MODELO DE ELEMENTOS FINITOS CAPÍTULO 3

A tensão de desvio (Deviatoric stress) obtém-se pela seguinte expressão:

√ (3.2)

Onde o parâmetro J é obtido da seguinte forma:

√ (3.3)

Este processo é totalmente automatizado pelo programa Phase2.


Em relação aos Displacements (deslocamentos), é de referir de maior importância que
podemos ter os valores reais (positivos e negativos), ou os valores absolutos (em módulo,
somente positivos). Os deslocamentos totais são calculados pela seguinte expressão:

√ (3.4)

O Strength Factor (factor de resistência) traça os contornos do factor de resistência em torno


da escavação.
Por último, o Strain (extensão), que pode ser visto selecionando Strain Volumetric ou
Maximum Shear Strain.
Aqui podemos tratar os dados da análise de elementos finitos efectuada ao modelo, tais como
adicionar gráficos na opção Show Values (diagramas de esforço axial, esforço transverso e
momentos). Através da opção Query, podemos adicionar valores da tensão, deslocamento, a
elementos do nosso modelo, e a partir daí criar gráficos em função do comprimento desses
elementos.

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CARACTERIZAÇÂO DO MODELO ADOPTADO CAPÍTULO 4

4. CARACTERIZAÇÃO DO MODELO ADOPTADO


4.1. Apresentação do modelo
Como já foi referido o modelo utilizado é um modelo de elementos finitos recorrendo ao
programa Phase2. Este modelo baseia-se na discretização de uma dada região, que
consequentemente determina os deslocamentos nos nós da estrutura, permitindo assim
determinar os valores próximos dos esforços actuantes nessa mesma estrutura. Neste estudo
considera-se uma BC pré-fabricada em betão, e o solo envolvente com determinadas
características diferentes para posterior análise. Na discretização do modelo consideraram-se
elementos isoparamétricos triangulares de três nós (Figura 4.1), e também se admitiu Mesh
type de Graded com Gradation factor de 0,1.

Figura 4.1. Discretização do modelo com elementos isoparamétricos triangulares de três nós

Nos limites exteriores do modelo, admitiu-se para os limites laterais apoios simples,
restringindo apenas os deslocamentos segundo a horizontal, e no limite inferior apoios duplos,
impedindo deslocamento horizontal e vertical. Em relação ao limite superior considera-se
livre.

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CARACTERIZAÇÂO DO MODELO ADOPTADO CAPÍTULO 4

Nos limites da BC, considerou-se Liners de 0,15 m nos montantes, e de 0,20 m na travessa
superior e base da BC com as seguintes características:
 E (MPa) = 31000;
  (coeficiente de poisson) = 0 considera-se o betão traccionado fendilhado;
 Liner type = Formulação Timoshenko;
 Material type = Elastic;
 Unit Weight = 25 kN/m3;

Em relação ao solo de aterro e fundação, as características adoptadas foram diferentes ao


longo de cada estudo efectuado. Em relação à largura da fundação admitiu-se 22 m, e
profundidade de 20 m, este fenómeno garante uma autonomia total por parte das pressões de
terras sobre a BC, aproximando o mais possível o modelo a uma situação real. A altura
máxima de aterro considerada no modelo foi de 11,5 m desde a base da BC até ao topo do
aterro, constituído por sucessivas camadas devidamente faseadas, de modo a simular o
processo construtivo (Figura 4.2).

Figura 4.2. Divisão das sucessivas camadas de aterro do modelo

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5. ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT


5.1. Introdução
O estudo base serve como referência a todos os estudos seguintes, de forma a permitir uma
análise comparativa entre eles, tendo em conta as alterações paramétricas efectuadas ao longo
de cada estudo. Estas alterações vão desde, condições geométricas da BC, solo envolvente,
solo de aterro e alterações das características desse mesmo solo (envolvente e aterro). Na
presente dissertação dividiu-se o trabalho numa primeira análise e numa segunda análise. O
estudo base é referenciado como Estudo 1 ao longo da dissertação, e engloba-se na primeira
análise. A segunda análise diz respeito ao estudo através da AASHTO.

5.2. Estudo 1 (BC1)


5.2.1. Características da Box Culvert
A BC utilizada no estudo base tem as seguintes dimensões expressas e será denominada ao
longo do presente trabalho por BC1 (Figura 5.1).

Figura 5.1. Dimensões BC Estudo 1 (BC1)

Normalmente utilizam-se esquadros nos quatro cantos, onde ocorre a formação das rótulas
plásticas, ou seja, de forma a prevenir as rotações nestas zonas reforça-se a rigidez dos nós
com recurso a esta técnica, também estes esquadros diminuem os esforços de flexão na BC.
Por norma têm dimensões de 0,20x0,20 m, podendo variar conforme as solicitações. Nos
estudos realizados desprezou-se esse efeito, de forma a obter valores mais desfavoráveis para
a análise da BC.

Tiago André Lopes Pereira 39


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

O betão utilizado no presente estudo foi o C25/30, os valores utilizados para definir as suas
características foram retirados do Eurocódigo 2 e são:
 fck= 25 MPa;
 fctm= 2,6 MPa;
 Ecm= 31 GPa;
 c= 0;
 c= 25 kN/m3.
Este ponto foi simulado no modelo através de Liners, com as características definidas em 4.1.

5.2.2. Características do solo


A característica mais importante em relação ao solo é o seu módulo de deformabilidade, este
depende muito do grau de compactação das sucessivas camadas de aterro, uma vez que estas
podem afectar o seu valor.
As características utilizadas na definição do solo são:
 = 30o;
 = 0o;
 c= 10 kPa;
 solo= 0,3;
 solo= 20 kN/m3;
 Esolo= 100 MPa;
 K0= 1-sen = 0,5.
Na representação do modelo, considerou-se o Initial Element Loading de Field Stress e Body
Force, o Elastic Type de Isotropic, Material Type de Elastic e o critério de rotura de Mohr-
Coulomb, considerando a resistência à tracção do solo de valor igual a zero. Admitiu-se o
ângulo de dilatância igual a zero, ou seja, a mobilização das tensões tangenciais no contacto
não implica deslocamentos normais ao mesmo.

5.2.3. Características a analisar para o estudo base BC1


5.2.3.1. Pressões actuantes
Neste ponto, foram analisadas as distribuições de pressões nos limites exteriores da BC,
portanto na travessa, nos montantes e na base da BC. Consideraram-se 57 pontos ao longo da
travessa, montantes e na base, nos quais se retiraram os valores das pressões ao nível dos
elementos finitos do solo.

Tiago André Lopes Pereira 40


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5.2.3.2. Diagrama de Momentos, Esforço Transverso e Esforço Axial


Neste ponto os dados após o Compute, no Interpret, permitem elaborar resultados tais como
os gráficos relativamente aos parâmetros considerados, tanto ao nível da travessa, montantes e
base da BC. Estes resultados permitem assim uma análise a todos os esforços actuantes na
periferia da BC, reconhecendo assim os valores mais desfavoráveis, que certamente se terão
em conta num dimensionamento futuro da BC.

5.2.3.3. Diagramas de Deslocamentos


Os diagramas de deslocamentos são fundamentais para perceber o comportamento da
estrutura à medida que se vão efectuando as sucessivas camadas de aterro, verificando
portanto sob altura de aterro elevada como será o seu comportamento, tendo em conta as
características admitidas, tanto a geometria como os dados técnicos.

5.2.3.4. Factores de redistribuição de pressões sobre a BC


Os diagramas dos factores de redistribuição são importantes na medida em que permitem
efectuar uma comparação das pressões geostáticas com as calculadas através do Phase2, ao
nível da travessa, montantes e na base da BC. Para determinar o valor destes factores na BC
utilizaram-se as seguintes expressões, Pinto (2008).
Factores de redistribuição de pressões na travessa:

(5.1)

No qual actuante representa a tensão normal instalada (vertical),  o peso volúmico do solo de
aterro e h a diferença de cota entre o topo do aterro e a travessa superior da BC.
Factores de redistribuição de pressões nos montantes:

(5.2)

No qual actuante representa a tensão normal instalada (horizontal),  o peso volúmico do solo
de aterro, h a diferença de cota entre o topo do aterro e o ponto do montante em estudo e o K0,
o coeficiente de impulso em repouso.

Tiago André Lopes Pereira 41


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Factores de redistribuição de pressões na base da BC:

(5.3)

No qual actuante representa a tensão normal instalada (vertical),  o peso volúmico do solo de
aterro, h a diferença de cota entre o topo do aterro e a base da BC e ppBC a pressão exercida na
base da BC devido ao seu peso próprio.

5.2.4. Resultados da análise do estudo da BC1


Sendo este o estudo base, optou-se por considerar todas as fases de aterro analisando cada
uma num conjunto final de dados, ou seja, as duas fases de aterro lateral com 0,75 m cada
uma, duas fases de 0,50 m acima da travessa, depois uma fase de 1,0 m, e as restantes quatro
fases de 2,0 m cada uma, perfazendo 11,5 m como ilustrado na (Figura 4.3).
Em seguida são representadas as tensões normais verticais calculadas no Phase2 de forma
esquemática (Figura 5.2). Cada Stage corresponde a uma fase de aterro diferente, começando
no Stage 2, fase em que não existe qualquer tipo de aterro, e terminando no Stage 11, fase em
que existe 11,5 m de aterro desde a base da BC.

(Stage 2) (Stage 3)

(Stage 4) (Stage 5)

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

(Stage 6) (Stage 7)

(Stage 8) (Stage 9)

(Stage 10) (Stage 11)


Figura 5.2. Mapa de tensões verticais, Sigma 1

Em que Stage 2 é, como se disse, a fase sem aterro, Stage 3, a 1ª camada de aterro de 0,75 m,
Stage 4 a 2ª camada de aterro de 0,75 m, Stage 5 a 3ª camada de aterro de 0,50 m, Stage 6 a 4ª
camada de aterro de 0,50 m, Stage 7 a 5ª camada de aterro de 1,00 m, Stage 8, Stage 9, Stage
10 e Stage 11 a 6ª, 7ª, 8ª e 9ª camada de aterro de 2,00 m (Figura 4.3).
No estudo, a convenção utilizada para a análise do montante foi de baixo para cima, e na
travessa e base da BC da esquerda para a direita. Sendo assim o ponto 0, é o ponto na base do
montante, e à esquerda, no caso da travessa e base da BC.

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5.2.4.1. Travessa superior

Figura 5.3. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC1

Figura 5.4. Esforço axial, Axial Force, sobre a travessa no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.5. Esforço transverso, Shear Force, sobre a travessa no estudo BC1

Figura 5.6. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.7. Factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo BC1

Figura 5.8. Deslocamentos absolutos verticais, Absolute Vertical Displacement, sobre a


travessa no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5.2.4.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 5.9. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo BC1

Figura 5.10. Esforço axial, Axial Force, na base da BC (travessa inferior) no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.11. Esforço transverso, Shear Force, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo
BC1

Figura 5.12. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.13. Factores de redistribuição das pressões verticais, na base da BC no estudo BC1

Figura 5.14. Deslocamentos absolutos verticais, Absolute Vertical Displacement, sob a base
da BC (travessa inferior) no estudo BC1

Tiago André Lopes Pereira 49


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5.2.4.3. Montantes

Figura 5.15. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC1

Figura 5.16. Esforço axial, Axial Force, nos montantes da BC no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.17. Esforço transverso, Shear Force, nos montantes da BC no estudo BC1

Figura 5.18. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.19. Factores de redistribuição das pressões horizontais, nos montantes da BC no


estudo BC1

Figura 5.20. Deslocamentos absolutos horizontais, nos montantes da BC no estudo BC1

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ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5.2.4.4. Evolução dos Momentos e Factores de redistribuição no estudo BC1

Figura 5.21. Evolução dos momentos máximos na travessa, montantes e base da BC no estudo
BC1

Figura 5.22. Evolução dos factores de redistribuição na travessa, montantes e base da BC no


estudo BC1

Tiago André Lopes Pereira 53


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

5.2.5. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC1


Neste ponto, procura-se compreender os mecanismos que interagem no comportamento
estrutural da BC, analisando todos os gráficos resultantes do estudo BC1. De uma maneira
geral, o aspecto que se revela de facto mais importante é compreender como se distribuem as
pressões ao longo da BC. E procurar determinar os valores dos momentos e a forma como
evoluem para um correcto dimensionamento futuro da BC.

5.2.5.1. Travessa Superior da BC


Analisando a evolução das tensões verticais na travessa superior da BC presente na Figura
5.3, verifica-se que com o aumento das sucessivas camadas de aterro existe um aumento do
diferencial das tensões a meio vão e junto do montante. Este aspecto prende-se com o facto
das tensões junto dos montantes aumentarem muito com as sucessivas camadas de aterro, este
fenómeno comprova o mecanismo de migração das tensões da zona central de aterro sobre a
travessa para junto dos montantes por efeito de arco negativo. Portanto o aumento muito
grande dessas tensões junto dos montantes, reflecte o aumento do diferencial entre elas e as
tensões de meio vão da travessa superior da BC, devido ao efeito de arco negativo. Na figura
5.23, procura-se exemplificar esse efeito de forma ilustrada.

Figura 5.23. Evolução das tensões sobre a travessa superior da BC

Analisando a figura 5.23 podemos construir um gráfico que elucide melhor a evolução das
tensões ao longo das linhas 1 e 2, (Figura 5.24).

Tiago André Lopes Pereira 54


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Figura 5.24. Evolução das tensões sobre a linha 1 e 2

Verificamos que na zona central do aterro sobre a travessa da BC, existe uma diminuição das
tensões desde o ponto 2 até o ao ponto 3, enquanto na zona junto dos montantes esta aumenta,
face à linha 1 desde o ponto 2 até ao ponto 1. Podemos comparar assim os valores das tensões
obtidas através do modelo com as tensões geostáticas, (Quadro 5.1).

Quadro 5.1. Quadro comparativo das tensões nos pontos 1, 2 e 3

Tensões (kPa) Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3

Programa 329,9 180,4 147,1


Geostáticas 198,9 180,0 200,0
Diferencial 130,9 0,4 -52,9

Verificamos então pelo diferencial que existe um aumento das tensões no ponto 1 de 130,9
kPa e uma diminuição de 52,9 kPa no ponto 3 das tensões do programa face às geostáticas.
Desta forma comprovamos a migração das tensões da zona central para junto dos montantes,
o que traduz um aumento em cerca de 60 % das tensões geostáticas naquela zona. Podemos
relacionar o factor k do método simplificado da Figura 2.25, com este agravamento, e daí se
considerar aquele tipo de carregamento sobre a travessa da BC.

Tiago André Lopes Pereira 55


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Também os factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo BC1,
(Figura 5.7), fortalecem esse aspecto uma vez que a meio vão da travessa da BC as tensões
geostáticas são sempre superiores às do modelo (factor de redistribuição sempre inferior a 1),
e junto dos montantes é ao contrário (factor de redistribuição sempre superior a 1). Este
agravamento das tensões na zona dos montantes não se deve só a migração das tensões da
zona de aterro central sobre a travessa da BC, mas também do bloco de aterro lateral devido
ao acréscimo de carga (∆F), ilustrado na Figura 2.18, tal aspecto baseia-se no facto de os
deslocamentos serem diferentes na zona lateral e central de aterro, isso quer dizer que esses
deslocamentos vão produzir tensões tangenciais () mais ou menos na zona dos montantes e
afectam claramente de maneira desfavorável as tensões junto dos montantes, contribuindo
também para o seu agravamento.
Da análise da Figura 5.21, verifica-se que o momento máximo da travessa superior da BC,
que se localiza na zona do meio vão da travessa, aumenta cerca de 50,68 kN.m, desde o aterro
de 1,5m até aos 11,5m, ou seja em 10 m de camadas de aterro, tomando como valor máximo
52,54 kN.m.
Na análise da Figura 5.5, respeitante ao esforço transverso sobre a travessa, é de referir a sua
forma parabólica, muito diferente da forma linear originada pelas pressões geostáticas. Em
relação aos deslocamentos verticais, apresentados na Figura 5.8, conclui-se que para a
situação exposta e analisada, este toma um valor máximo de cerca de 2,5 cm a meio vão da
travessa superior da BC.
Podemos então concluir através das análises feitas, que as zonas mais críticas na travessa
superior da BC e que requerem maior atenção no seu dimensionamento situam-se junto dos
montantes e a meio vão. Caso seja mal dimensionada, pode levar a situações de possíveis
roturas por flexão a meio vão ou rotura por corte junto dos montantes na travessa superior,
(Figura 2.22).

5.2.5.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)


Avaliando a evolução das tensões verticais na base da BC (travessa inferior), (Figura 5.9),
verificamos uma semelhança em relação à distribuição das tensões na travessa superior, que
incide no facto de a maior concentração de tensões também se encontrar junto dos montantes.
Nesta zona o factor de redistribuição é superior a 1,0 quando colocamos acima da travessa
superior da BC uma altura de aterro com cerca de 4 m (Figura 5.22). Podemos concluir daí
que existe uma maior migração das tensões resultantes das camadas de aterro laterais para a
zona da base da BC junto aos montantes, (Figura 5.25). Em relação à zona a meio vão, existe
uma diferença em relação aos factores de redistribuição das tensões verticais, enquanto na
travessa superior tais valores se mantinham mais ou menos iguais com cerca de 0,74, aqui
esses valores, crescem desde cerca de 0,30 a 0,65, (Figura 5.13). O facto de serem menores é

Tiago André Lopes Pereira 56


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

explicado pela actuação do peso próprio da BC no cálculo das tensões geostáticas, que
diminui a relação entre as tensões do modelo com as tensões geostáticas. Sendo que em
ambas as zonas existe um alívio de pressão a meio vão das travessas.

Figura 5.25. Migração das tensões verticais provenientes do aterro lateral para a zona da base
da BC (Travessa inferior) junto dos montantes

Analisando os valores das tensões verticais no topo do montante e na base do montante,


portanto, na extremidade esquerda da travessa superior e na extremidade esquerda da base da
BC (travessa inferior), ou seja, nos pontos de coordenada X igual a 0,04 m, local onde as
tensões verticais são máximas, obtêm-se os seguintes resultados, (Quadro 5.2).

Quadro 5.2. Quadro comparativo das tensões verticais na travessa superior e base da BC
(travessa inferior)
Altura de aterro (m) 3,5 5,5 7,5 9,5 11,5
Sigma One base (kPa) 105,52 176,18 247,27 318,54 389,92
Sigma One travessa superior (kPa) 64,70 133,92 203,60 273,49 343,48
Diferencial (kPa) 40,81 42,26 43,66 45,06 46,45
3,54%
3,33%
% Diferencial
3,19%
3,09%

Como era de esperar as tensões verticais são maiores na base da BC (travessa inferior), isso
deve-se ao facto de que para além das pressões exercidas sobre a travessa superior, ainda
actue o peso próprio da BC sobre ela.

Tiago André Lopes Pereira 57


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

O valor do momento máximo é de cerca de 56,08 kN.m, e ocorre também a meio vão,
portanto cresce em 6,73 % relativamente à travessa superior, pelo facto de se considerar o
peso próprio da BC na base (travessa inferior).
Relativamente aos deslocamentos, nestas condições, analisando a Figura 5.14, conclui-se que
o seu valor máximo de 2,4 cm ocorre junto dos montantes, e não no meio vão como na
travessa superior. Podemos então concluir através das análises feitas, tal como na travessa
superior, que as zonas mais críticas na base da BC (travessa inferior) e que requerem maior
atenção no seu dimensionamento são junto dos montantes e a meio vão. O diagrama de
esforço transverso presente na Figura 5.11, é em tudo idêntico ao da travessa superior,
portanto novamente forma parabólica, diferente da forma linear caso se considerasse uma
análise de pressões geostáticas.

5.2.5.3. Montantes
Avaliando aqui as tensões horizontais, verifica-se pela Figura 5.15, que estas tomam os seus
valores máximos junto da base e topo do montante, desde essas zonas até meio vão do
montante as tensões horizontais diminuem e tomam o seu valor mínimo. Podemos concluir
daqui, que junto do topo dos montantes existe uma maior pressão exercida pelas terras, já na
zona de meio vão do montante, existe uma diminuição das pressões laterais, (Figura 5.26).

Figura 5.26. Evolução das tensões horizontais com as sucessivas camadas de aterro

Relativamente aos factores de redistribuição, nota-se claramente que nas primeiras camadas
de aterro existe um valor muito alto (acima da unidade), isso deve-se ao facto de nas primeiras

Tiago André Lopes Pereira 58


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

camadas existir uma distribuição das tensões horizontais mais ou menos idêntica, (Figura
5.15). À medida que se aumenta a altura de aterro a discrepância torna-se maior, esse facto faz
com que na zona a 0,75 m da base do montante esse factor diminua, ou seja existe uma
diminuição da redistribuição das tensões nessa zona. Enquanto nas zonas junto das
extremidades dos montantes, tal factor mantém-se sempre acima da unidade, isso explica o
facto de existir uma maior concentração de pressões aí localizadas, o que traduz uma maior
compressão nestas zonas, (Figura 5.27).

Figura 5.27. Evolução dos factores de redistribuição nos montantes da BC

Relativamente aos momentos máximos nos montantes, ao contrário da travessa superior e da


base da BC em que o seu valor máximo se encontrava no meio vão, este concentra-se nas
zonas periféricas, ou seja, nas extremidades (topo e base do montante). O seu valor máximo é
de -39,02 kN.m e localiza-se na base do montante, enquanto no topo do montante ele toma o
valor de -36,035 kN.m, (Figura 5.18). Comparando com os momentos máximo obtidos na
travessa superior e base da BC, este em módulo é cerca de 39,2% mais baixo, o que seria de
esperar uma vez que estas zonas não são tão críticas em termos de pressões, que por sua vez
originam esforços de corte menores, (Figura 5.17). Da análise da Figura 5.17, também se pode
verificar que em termos de configuração do diagrama, este é ligeiramente diferente face ao da
travessa superior e base da BC. Ele aqui é mais próximo da forma linear, o que quer dizer que
está bem mais próximo da análise em termos de pressões geostáticas, usadas no método
simplificado.

Tiago André Lopes Pereira 59


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

Em relação ao esforço axial é de referir uma particularidade, quando se passa de 3,5 m de


aterro para 5,5 m, existe uma variação da sua força máxima, ou seja, até aos 5,5 m o esforço
axial é máximo junto da base do montante, a partir dos 5,5 m de aterro, esse esforço axial
passa a ser maior no meio vão do montante, (Figura 5.28).

Figura 5.28. Evolução do esforço axial, Axial Force, com as sucessivas camadas de aterro

Através da análise da Figura 5.20, verifica-se que o deslocamento máximo nestas condições
ocorre sempre a meio do montante, com um máximo de 0,3 mm. E de notar que em 0,75 m de
aterro o deslocamento a meio do montante é maior do que quando se passa para 1,5 m de
altura de aterro.

5.2.5.4. Observações
Em relação aos deslocamentos, o programa assume a seguinte configuração, (Figura 5.29). É
de notar que os deslocamentos referidos anteriormente dizem obviamente respeito à diferença
de distância da zona de origem (portanto dos Liners), com o Deformed Boundaries. Os
deslocamentos máximos em relação às zonas periféricas da BC serão:

 Travessa superior da BC = 2,5 cm – 2,4 cm = 0,1 cm = 1 mm


Ou seja o deslocamento do meio vão na travessa superior relativamente ao Nó 1 e Nó 2 é de 1
mm.

Tiago André Lopes Pereira 60


ESTUDO BASE PARA ANÁLISE ESTRUTURAL DA BOX CULVERT CAPÍTULO 5

 Base da BC (travessa inferior) = 2,4 cm – 2,3 cm = 0,1 cm = 1 mm


Ou seja o deslocamento do meio vão na base da BC (travessa inferior) relativamente ao Nó 3
e Nó 4 também é de 1 mm.

 Montantes = 0,3 mm
Como foi referido anteriormente, este deslocamento é de 0,3 mm a meio vão do montante em
relação ao Nó 1 e Nó 3, ou Nó 2 e Nó 4, uma vez que existe simetria.

Figura 5.29. Configuração da deformada admitida pelo Phase2, (Deformed Boundaries)

Tiago André Lopes Pereira 61


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6. ANÁLISE PARAMÉTRICA
6.1. Introdução
Neste capítulo procura-se simular a interferência de diferentes parâmetros, tendo como apoio
e referência comparativa o estudo base BC1, avaliando a sua influência para as condições de
aterro consideradas. Este capítulo é importante na medida em que permite determinar quais as
condições mais favoráveis e desfavoráveis, face às alterações paramétricas. Efectuaram-se
análises paramétricas relativamente à variação das características da envolvente da BC e
também da sua geometria. Nestas análises de forma a avaliar da melhor maneira o
comportamento face ao estudo BC1, apenas se altera um parâmetro em relação ao referido
estudo. Em jeito de conclusão poder-se-á comparar cada análise paramétrica com o respectivo
estudo base BC1 de forma simples, avaliando então o seu peso face às condições admitidas.
No estudo base BC1, foram apresentados todos os dados que se consideraram ser os mais
importantes de analisar. Em relação às alterações paramétricas efectuadas nos estudos
seguintes, serão apenas apresentados aqueles que se consideram mais relevantes em termos
comparativos face ao estudo base BC1. Ao contrário do estudo base BC1, em que se
apresentam todas as fases de aterro, portanto do Stage 2 ao Stage 11, nos outros estudos será
apenas apresentada a fase mais crítica, a qual correspondente ao Stage 11, fase de aterro de
11,5 m, à excepção do Estudo BC3, no qual se analisaram os Stages 5, 7, 9 e 11, como se
explica a seguir.

6.2. Descrição dos estudos realizados


De forma a clarificar estes estudos da melhor maneira, apresentam-se no Quadro 6.1 os
diferentes estudos realizados e respectivas alterações paramétricas, bem como a fase de aterro
correspondente. No Quadro 6.1, et e em, representam respectivamente a espessura das
travessas e a espessura dos montantes em metros, Ec o módulo de deformabilidade do betão
expresso em kPa, c a coesão do material expressa em kPa,  o ângulo de atrito em graus,  o
peso volúmico em kN/m3,  representa o coeficiente de poisson e Esolo o módulo de
deformabilidade do solo em kPa. De uma forma resumida, pode-se dizer que no estudo 2
(BC2) é considerada a actuação de uma sobrecarga no topo do aterro, no estudo 3 (BC3)
considera-se uma diminuição do módulo de deformabilidade de 100.000 MPa para 30.000
MPa, no estudo 4 (BC4) admite-se que o solo que está abaixo da BC é do tipo rocha dura, no
estudo 5 (BC5) considerou-se uma redução do módulo de deformabilidade nas zonas laterais e
superior da BC, simulando assim uma má compactação naquelas zonas, no estudo 6 (BC6)
admite-se uma rotação das espessuras da BC em 90º, ficando assim et = 0,15 m e em= 0,20 m
e no estudo 7 (BC7) simulou-se a introdução de uma zona mais flexível (soft zone) acima da
BC, (Quadro 6.1).

Tiago André Lopes Pereira 62


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

Quadro 6.1. Quadro resumo das análises paramétricas realizadas


Características do modelo
Dimensão Fase
Estudo da BC et em Ec c Ф ɣ Esolo Parâmetro estudado de aterro
ν
(Larg. x Alt.) (m) (m) (kPa) (kPa) (º) (kN/m3) (kPa) analisada
(m)

BC1 2,0 x 1,5 0,20 0,15 31.000.000 10 30 20 0,3 100.000 Estudo base Stage 2 a 11

Inclusão
BC2 2,0 x 1,5 0,2 0,15 31.000.000 10 30 20 0,3 100.000 Stage 11
de Sobrecarga

Diminuição Stage 5, 7
BC3 2,0 x 1,5 0,2 0,15 31.000.000 10 30 20 0,3 30.000
de Esolo 9 e 11

Considerou-se todo o solo


envolvente abaixo da BC
BC4 2,0 x 1,5 0,2 0,15 31.000.000 10 30 20 0,3 100.000 Stage 11
numa fundação tipo rocha dura
3
(Esf= 30 Gpa; ɣ= 28 kN/m )
Considerou-se a envolvente da BC
com redução do Es (1,5 m lateral e
BC5 2,0 x 1,5 0,2 0,15 31.000.000 10 30 20 0,3 100.000 Stage 11
1,0 m Superior)
(Eslateral/superior= 25 MPa)

Rotação das espessuras


BC6 2,0 x 1,5 0,15 0,2 31.000.000 10 30 20 0,3 100.000 Stage 11
da BC em 90º

Considerou-se uma zona mais


flexivel imediatamente acima da BC
BC7 2,0 x 1,5 0,2 0,15 31.000.000 10 30 20 0,3 100.000 Stage 11
(Eszona f= 20 MPa; ɣ= 17 kN/m3;
c= 5 kPa; Ф=15º; ν=0,3)

O estudo BC6 diz respeito às alterações na geometria da BC, enquanto os restantes estudos
incidem na envolvente propriamente dita da BC. Neste capítulo, procura-se compreender
assim melhor a influência que cada alteração ao estudo base provoca no comportamento da
BC, simulando as características do terreno de assentamento, BC e condições da instalação.

Tiago André Lopes Pereira 63


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.3. Estudo 2 (BC2)


6.3.1. Características da instalação
Neste estudo simula-se a actuação de uma sobrecarga no topo do aterro, tomando como valor
cerca de 7 kN/m2, (Figura 6.1a). Neste estudo, apenas se estuda a situação da última camada
de aterro, portanto o Stage 11, visto ser esta a mais desfavorável.

(a)

(b)
Figura 6.1. Características da instalação no estudo 2 (BC2): a) Actuação da sobrecarga no
topo do aterro; b) Tensões mobilizadas na BC devido a sobrecarga no topo do aterro

6.3.2. Resultados da análise do estudo da BC2


Com esta análise vamos procurar saber de que maneira influi uma sobrecarga na BC, para os
10 m de aterro acima da travessa superior, ou 11,5 m desde a base da BC. Na Figura 6.1b,
estão representadas as tensões verticais actuantes na BC para o Stage 11. Apenas serão
apresentados os resultados que se consideram ser de maior influência e discrepância em
relação ao estudo base BC1 na BC.

Tiago André Lopes Pereira 64


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.3.2.1. Travessa superior

Figura 6.2. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC2

Figura 6.3. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC2

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ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.3.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 6.4. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo BC2

Figura 6.5. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC2

Tiago André Lopes Pereira 66


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.3.2.3. Montantes

Figura 6.6. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC2

Figura 6.7. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC2

Tiago André Lopes Pereira 67


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.3.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC2


Podemos concluir através da análise efectuada que com a actuação de uma sobrecarga de
valor igual a 7 kN/m2 no topo do aterro, portanto para os 11,5 m do Stage 11, não provoca
grandes alterações tanto ao nível das travessas como dos montantes relativamente ao estudo
base BC1. Analisando o Quadro 6.2, verifica-se que em média cerca de 96,77 % das tensões
resultantes da sobrecarga aplicada no topo do aterro se degradam com a profundidade e
apenas uma pequena percentagem de 3,23 % afecta a BC. Isso resulta também numa pequena
diferença como se pode observar no que diz respeito aos valores dos momentos máximos.

Quadro 6.2. Tensões máximas e momentos máximos actuantes na BC


BC1
Mmax travessa Mmax montante Mmax base Sigma 1 travessa Sigma montante Sigma 1 base
52,541 39,018 56,079 343,476 154,595 389,923
BC2
Mmax travessa Mmax montante Mmax base Sigma 1 travessa Sigma montante Sigma 1 base
54,332 40,271 57,879 355,725 159,482 402,414
Diferença média BC1 para BC2
1,615 9,876
Percentagem média BC1 para BC2
3,18% 3,23%

6.4. Estudo 3 (BC3)


6.4.1. Características da instalação
Neste estudo, procurou-se perceber de que maneira uma diminuição uniforme da rigidez de
todo o material envolvente da BC e respectiva fundação afecta a sua análise estrutural. Para
isso considerou-se uma redução do módulo de deformabilidade de todo o solo envolvente do
modelo de 70 % face ao estudo base BC1, portanto de 100.000 kPa para 30.000 kPa, esta
redução foi meramente intuitiva. Todos os outros parâmetros mantiveram-se exactamente
iguais ao estudo base, (Quadro 6.1). Note-se que nas primeiras camadas de aterro é natural
que o valor do módulo de deformabilidade do solo seja mais baixo, uma vez que ainda não
atingiu o seu estado de compactação maior, isto deve-se ao facto de a altura de aterro ainda
ser relativamente reduzida e não proporcionar um estado de tensão capaz de conferir maior
rigidez a estas camadas. É importante referir que a rigidez do solo na prática se torna um
pouco incerta devido a estes estados de tensão que advêm das sucessivas camadas de aterro.

6.4.2. Resultados da análise do estudo da BC3


Com esta análise como já foi referido, procura-se saber qual a influência de uma redução de
cerca de 70 %, face ao estudo base BC1, respeitante ao módulo de deformabilidade de todo o
solo envolvente do modelo.

Tiago André Lopes Pereira 68


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.4.2.1. Travessa superior

Figura 6.8. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC3

Figura 6.9. Esforço axial, Axial Force, sobre a travessa no estudo BC3

Tiago André Lopes Pereira 69


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

Figura 6.10. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC3

Figura 6.11. Factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo BC3

Tiago André Lopes Pereira 70


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.4.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 6.12. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo BC3

Figura 6.13. Esforço axial, Axial Force, na base da BC (travessa inferior) no estudo BC3

Tiago André Lopes Pereira 71


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

Figura 6.14. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC3

Figura 6.15. Factores de redistribuição das pressões verticais, na base da BC no estudo BC3

Tiago André Lopes Pereira 72


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.4.2.3. Montantes

Figura 6.16. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC3

Figura 6.17. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC3

Tiago André Lopes Pereira 73


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

Figura 6.18. Factores de redistribuição das pressões horizontais, nos montantes da BC no


estudo BC3

6.4.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC3


Conclui-se que com a redução de 70 % do módulo de deformabilidade do solo envolvente à
BC, a distribuição das tensões continua a tomar a mesma lógica tanto ao nível da travessa
superior e inferior como nos montantes, portanto nas travessas é maior junto dos montantes, e
nos montantes é maior junto das travessas tal e qual o estudo base BC1. È importante aqui
notar, que agora a meio vão das travessas superior e inferior o valor das tensões verticais é
maior face ao estudo base BC1, ou seja, existe aqui maior redistribuição de tensões para essa
zona do que no estudo base. Podemos então dizer que nesta situação os mecanismos de
transferência das pressões da zona central da travessa superior para junto dos montantes não
são tão elevados, uma vez que a distribuição das tensões tende aqui para uma situação mais
uniforme do que em BC1.
Em relação ao esforço axial, nos montantes não existe grande diferença, apenas valores mais
baixos, mas relativamente às travessas superior e inferior, evidencia-se agora uma clara
diferença menor entre o máximo e o mínimo valor da força axial. No estudo base a diferença
para o Stage 11 entre esses valores referidos é em média cerca de 15 kN, enquanto agora a
diferença é em média cerca de 4,4 kN, o que permite concluir que com a diminuição do
módulo de deformabilidade do solo, existe uma uniformização do esforço axial ao longo das
travessas superior e inferior. Desta análise, conclui-se que a meio vão das travessas também o

Tiago André Lopes Pereira 74


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

esforço axial aumenta e junto das extremidades diminui, face ao estudo base BC1. No
montante verifica-se que as tensões a meio vão aumentam ligeiramente, e diminuem nas
extremidades, isso verifica-se pela análise dos factores de redistribuição da Figura 6.18 em
comparação aos do estudo base BC1 da Figura 5.19.
Dos diagramas dos momentos máximos verifica-se que com a diminuição do módulo de
deformabilidade do solo em 70 %, estes valores máximos aumentam face ao estudo base no
Stage 11, tanto nos montantes como nas travessas superior e inferior, em média cerca de
22,4%. Esses valores máximos aumentam mais à medida que se processam as camadas de
aterro, portanto, do menor aumento para o maior respectivamente, Stage 5, 7, 9 e 11.

6.5. Estudo 4 (BC4)


6.5.1. Características da instalação
Com o intuito de perceber qual seria a reacção da BC ao ser instalada sob uma fundação
totalmente rígida (tipo rocha dura), adoptou-se para a rigidez da fundação um módulo de
deformabilidade de 30.000.000 kPa e um peso volúmico de 28 kN/m3, (Figura 6.19). Uma vez
que à partida a BC estará impedida de sofrer deslocamento vertical no nível descendente
dadas as características admitidas para a fundação, pretende-se concluir aqui quais serão as
vantagens e desvantagens quando temos este tipo de condição em obra. Este estudo foi
somente analisado para o Stage 11, última fase de aterro, visto ser a mais desfavorável.

Figura 6.19. Modelação adoptada para o estudo BC4

6.5.2. Resultados da análise do estudo da BC4


De seguida são apresentados os resultados desta análise considerando a fundação tipo rígida.

Tiago André Lopes Pereira 75


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.5.2.1. Travessa superior

Figura 6.20. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC4

Figura 6.21. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC4

Tiago André Lopes Pereira 76


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.5.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 6.22. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo BC4

Figura 6.23. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC4

Tiago André Lopes Pereira 77


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.5.2.3. Montantes

Figura 6.24. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC4

Figura 6.25. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo BC4

Tiago André Lopes Pereira 78


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.5.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC4


Ao considerar-se a fundação do tipo rígida, como já foi dito em 6.5.1, a BC fica impedida de
deslocamentos verticais descendentes, tal efeito provoca alterações bastante consideráveis ao
nível da resposta estrutural por parte da BC.
Ao nível da travessa superior, não se notam grandes alterações, apenas convém referir o facto
de aumentar o seu valor das tensões junto dos montantes e a meio vão, sendo que junto dos
montantes aumentam em média cerca de 12% e a meio vão sofre um aumento de 8%, este
aumento das tensões é em ambos os casos pouco significativo.
Analisando a travessa inferior verifica-se um grande aumento junto dos montantes ao nível
das tensões, em média aumentou cerca de 80 %, tal aumento que é muito significativo, e
deve-se principalmente ao facto da BC estar impedida de sofrer deslocamento vertical
descendente, dessa maneira as tensões tangenciais geradas junto dos montantes não são
atenuadas por esses deslocamentos. Na travessa inferior não se verifica uma deformada
significativa, o que permite dizer que esta travessa vai funcionar como um elemento rígido,
portanto com capacidade para absorver tensões maiores, (Figura 6.26). Convém também
referir que enquanto junto dos montantes aumenta cerca de 80 %, a meio vão estes valores
decrescem em média 80 %, ficando muito próximos de zero.

Figura 6.26. Deformada da BC para o Stage 11 do estudo BC4

Em relação aos montantes, verifica-se um ligeiro aumento das tensões horizontais do meio
vão do montante até a travessa superior, sendo o seu aumento mais considerável junto da
travessa superior em média cerca de 11 %. Entre a base da BC e o meio vão dos montantes,
verifica-se o contrário, uma diminuição destas tensões horizontais, de maior amplitude junto
da base da BC, cerca de 80 %. Este facto explica-se pela deformada da Figura 6.26, junto da
travessa superior o montante deforma mais, logo vai comprimir mais o solo de aterro lateral
daí o aumento de 11 % das tensões horizontais, junto da base da BC deforma menos, logo
existe menos compressão do solo por parte dos montantes, e consequentemente a diminuição
em cerca de 60 a 80 % das tensões nesta zona.

Tiago André Lopes Pereira 79


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.6. Estudo 5 (BC5)


6.6.1. Características da instalação
Nas obras de instalação de BCs, quando se utilizam os compactadores devem ter especial
atenção às zonas junto da mesma, portanto ao nível lateral e superior, para não induzir
maiores impulsos horizontais e verticais que a possam danificar. Visto isto, achou-se
interessante simular uma redução do módulo de deformabilidade junto dos paramentos
(travessa superior e montantes) da BC, com vista a simular uma má compactação junto dos
mesmos, a cerca de 1,5 m na parte lateral e 1,0 m na parte superior, (Figura 6.27).

Figura 6.27. Modelo utilizado para o Stage 11 do estudo BC5

6.6.2. Resultados da análise do estudo da BC5


Neste estudo considerou-se um módulo de deformabilidade na referida zona de 25.000 kPa,
cerca de ¼ do módulo admitido no estudo base BC1. As tensões verticais geradas no modelo
Phase2, e respectiva deformada estão representados na Figura 6.28.

Figura 6.28. Mapa de tensões verticais e deformada para o Stage 11 do estudo BC5

Tiago André Lopes Pereira 80


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.6.2.1. Travessa superior

Figura 6.29. Factores de redistribuição das pressões verticais, sobre a travessa no estudo BC5

Figura 6.30. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa no estudo BC5

Tiago André Lopes Pereira 81


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.6.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 6.31. Factores de redistribuição das pressões verticais, na base da BC no estudo BC5

Figura 6.32. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo BC5

Tiago André Lopes Pereira 82


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.6.2.3. Montantes

Figura 6.33. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC5

6.6.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC5


Relativamente à travessa superior, embora se verifique que as tensões se concentram mais
junto dos montantes, o factor de redistribuição das tensões é sempre inferior a 1, o que
significa que ao longo da travessa superior as tensões geostáticas são sempre superiores às
tensões calculadas no Phase2. Estas, face ao estudo base, sofrem uma diminuição
maioritariamente junto dos montantes. O momento máximo aumenta cerca de 8% a meio vão
da travessa superior em relação ao estudo base BC1.
Em relação à base da BC, é de notar que o momento máximo não sofre alterações
significativas, aumenta cerca de 2%, já as tensões diminuem junto dos montantes, o que nos
conduz a factores de redistribuição inferiores nessas zonas, mas continuando superiores a 1, o
que significa que as tensões geostáticas são inferiores às do Phase2.
Na zona dos montantes, verifica-se uma situação inversa face ao estudo base BC1, agora as
tensões horizontais são maiores na zona dos montantes junto da travessa superior, no entanto
continua a ter uma distribuição idêntica no que toca às zonas mais solicitadas, sendo elas
junto da travessa superior e inferior, diminuindo também na zona do meio vão do montante.
Estas tensões são inferiores às do estudo base BC1, tal facto justifica-se pela quebra das
tensões verticais na BC. Pode-se então afirmar que a diminuição da rigidez do solo da
envolvente da BC afecta estas tensões, tanto verticais como horizontais, uma vez que estas
zonas exibem maior grau de deformabilidade.

Tiago André Lopes Pereira 83


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.7. Estudo 6 (BC6)


6.7.1. Características da instalação
Neste estudo admitiu-se uma rotação das espessuras da BC em 90º, com vista a verificar o seu
comportamento face ao estudo base BC1, portanto os montantes passaram a ter a espessura de
0,20 m e as travessas 0,15 m. É de notar que ao diminuir a espessura das travessas estas se
tornam mais flexíveis, devido a perda de rigidez, podendo-se tornar assim numa zona mais
crítica, e como é lógico também vão ter menos capacidade de absorver as tensões verticais
oriundas do solo de aterro.

6.7.2. Resultados da análise do estudo da BC6


Neste estudo as tensões actuantes na envolvente da BC estão representadas na Figura 6.34, na
qual se verifica que em relação à deformada da BC estamos perante uma situação idêntica, e
que existe um alívio de tensões maior no meio vão quer das travessas como nos montantes.

Figura 6.34. Mapa de tensões verticais e deformada para o Stage 11 do estudo BC6

As tensões máximas concentram-se mais uma vez nas zonas dos nós da estrutura, portanto no
caso das travessas junto dos montantes e nos montantes junto das travessas, ocorrendo o
máximo na base da BC junto aos montantes.

Tiago André Lopes Pereira 84


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.7.2.1. Travessa superior

Figura 6.35. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC6

6.7.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 6.36. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo BC6

Tiago André Lopes Pereira 85


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.7.2.3. Montantes

Figura 6.37. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC6

6.7.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC6


Analisando os resultados das tensões verticais para a travessa superior presentes na Figura
6.35, verificamos que a meio vão, existe uma diminuição de cerca de 18 %, e junto dos
montantes um aumento de 17 % face ao estudo base. Em relação à diminuição de 18 % a meio
vão, esta deve-se ao facto de existir maior flexibilidade por parte da travessa. Junto dos
montantes temos um aumento de 17 % face ao estudo base BC1, isto deve-se ao facto de a
deformada ser maior, tendo como consequência na zona junto dos montantes a criação de uma
zona de compressão do solo por parte da BC, justificada pela deformada de maior amplitude.
Na base da BC, temos exactamente a mesma situação explicada para a travessa superior.
Relativamente aos montantes, também se verifica um pequeno aumento das tensões
horizontais face ao estudo base BC1, cerca de 3 %, sendo que os máximos se encontram junto
das travessas, enquanto o mínimo se encontra a meio vão, tal e qual o estudo base BC1.
Relativamente aos máximos, junto das travessas superior e inferior, existem aqui valores
muito próximos, enquanto no estudo base eram maiores mais perto da base da BC, mas
continuando a diferença ser mínima, isto também se justifica pelo aumento de rigidez dos
montantes.

Tiago André Lopes Pereira 86


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.8. Estudo 7 (BC7)


6.8.1. Características da instalação
Neste estudo, tal como se disse no capítulo 2.4., procura-se perceber de que maneira a técnica
referida por Sang influencia as tensões actuantes na BC, colocando um material mais
compressível acima da travessa superior da BC com 1,0 m de espessura (metade da largura da
BC) e de largura 2,0 m mais duas vezes a espessura dos montantes (0,15 m), ou seja, cerca de
2,30 m de largura total para esta zona, com esta análise vai-se verificar se realmente as
tensões diminuem face ao estudo base BC1, e concluir se esta seria uma boa solução para o
modelo idealizado.

Figura 6.38. Mapa de tensões verticais para o Stage 11 do estudo BC7

Neste estudo considerámos como base a colocação do material de maior deformabilidade


imediatamente acima da travessa superior da BC, em alternativa também se poderia colocar
esse material distanciado da travessa superior como foi referido no capítulo 2.2. Como tal,
serão apresentados também os resultados dessa análise, mas somente serão tidos em conta na
comparação destas duas técnicas, uma vez que em termos construtivos será de maior
dificuldade a sua realização. Portanto, fora deste capítulo 6.8 todas as comparações que forem
feitas são respeitantes à situação em que o material é colocado imediatamente acima da
travessa superior da BC como mostra a figura 6.38.

Tiago André Lopes Pereira 87


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.8.2. Resultados da análise do estudo da BC7


Na Figura 6.39, podemos observar a distribuição das tensões verticais e a respectiva
deformada para os dois modelos analisados.

(a)

(b)
Figura 6.39. Mapa de tensões verticais e respectiva deformada para o Stage 11 do estudo BC7
considerando: a) Material compressível imediatamente acima da travessa superior; b) Material
compressível distanciado 1,0 m da travessa superior

Tiago André Lopes Pereira 88


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.8.2.1. Travessa superior

Figura 6.40. Tensões verticais, Sigma 1, sobre a travessa no estudo BC7

6.8.2.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 6.41. Tensões verticais, Sigma 1, sob a base da BC (travessa inferior) no estudo BC7

Tiago André Lopes Pereira 89


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

6.8.2.3. Montantes

Figura 6.42. Tensões horizontais, sob os montantes da BC no estudo BC7

6.8.3. Interpretação dos resultados da análise no estudo BC7


6.8.3.1. Material compressível imediatamente acima da travessa superior da BC
Da análise efectuada aos dados resultantes deste modelo, verificamos que na travessa superior
existe uma quebra nos valores das tensões verticais em média cerca de 40 % face ao estudo
base BC1, o que leva a concluir que Sang tem razão ao dizer que as tensões diminuem na
travessa superior com a introdução de um material mais compressível imediatamente acima
da BC.
Relativamente à base da BC, também existe alguma diferença, é de referir uma pequena
diminuição das tensões a meio vão em cerca de 1,8 %, e uma diminuição maior junto dos
montantes em cerca de 13 %.
Nos montantes verificamos que junto da travessa superior existe agora um aumento de mais
ou menos 1,9 %, enquanto junto da base existe uma diminuição média de 1,1 %. Podemos
concluir que a maior parte destas tensões se vão concentrar com esta técnica junto da travessa
superior.
No geral temos uma BC menos solicitada no que diz respeito às tensões verticais e horizontais
face a BC1, visto criarmos uma zona onde existe maior deformabilidade. Verificámos que os

Tiago André Lopes Pereira 90


ANÁLISE PARAMÉTRICA CAPÍTULO 6

momentos máximos são inferiores na travessa superior com o valor de 36,554 kN.m e na
travessa inferior com o valor de 50,192 kN.m, já no montante o momento máximo que ocorre
junto da base da BC é ligeiramente mais alto e de valor igual a 39,786 kN.m.

6.8.3.2. Material compressível distanciado 1,0 m da travessa superior da BC


Através da análise efectuada aos dados resultantes deste modelo, verificamos que na travessa
superior também existe uma quebra nos valores das tensões verticais, mas agora em média é
mais baixo cerca de 35 % face ao estudo base BC1.
Em relação à base da BC, é de referir agora uma pequena diminuição das tensões a meio vão
em cerca de 1,5 %, e uma diminuição maior junto dos montantes em cerca de 14 %.
Nos montantes verificamos agora a maior diferença, junto das travessas superior e inferior
existe uma diminuição de mais ou menos 20 %, enquanto a meio vão também existe
diminuição mas agora de 24 %.
No geral também se tem a BC menos solicitada com esta técnica no que diz respeito às
tensões verticais e horizontais. Aqui os momentos máximos são todos inferiores, tem-se na
travessa superior o momento máximo de 37,438 kN.m, na travessa inferior 52,455 kN.m, e no
montante o momento máximo que ocorre junto da base da BC de valor igual a 38,873 kN.m.

6.8.3.3. Comparação das duas técnicas realizadas em BC7


Comparando as duas técnicas, observamos que com o distanciamento da zona compressível
da travessa superior da BC, obtemos uma concentração maior de tensões junto dos montantes
e menor a meio vão para a travessa superior.
Já na base da BC é ao contrário, obtém-se agora com o distanciamento da zona compressível
da travessa superior da BC tensões mais baixas junto dos montantes e ligeiramente superiores
a meio vão. Estas diferentes são aqui pouco importantes uma vez que são relativamente
pequenas.
Em relação aos montantes, quando se utiliza a técnica de distanciamento da zona
compressível 1,0 m acima da travessa superior da BC, podemos observar que junto da base as
tensões são mais ou menos idênticas, quando se passa para a zona de meio vão e
proximidades da travessa superior as tensões decrescem drasticamente.
É de referir ainda que em relação aos momentos máximos a técnica de distanciar 1,0 m o
material compressível da travessa superior da BC, permite chegar a um momento no montante
ligeiramente mais baixo, mas por sua vez os momentos na travessa superior e inferior são
maiores.

Tiago André Lopes Pereira 91


ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7. ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO)


7.1. Introdução
Neste capítulo procura-se comparar os diversos estudos realizados com o proposto pela
normativa Norte Americana AASHTO para as instalações de BC pré fabricadas em estaleiro.
A AASHTO enuncia as considerações a ter em conta no dimensionamento de BC. No caso, há
uma secção que diz respeito às acções a considerar na envolvente da BC, ou seja as pressões a
utilizar no dimensionamento tendo em conta as características da BC, e uma outra secção em
que se expressam as modificações das cargas de terras para a interacção solo/estrutura.
No que diz respeito às acções a considerar, no caso de BC rígidas de betão armado, a
normativa define quer em vala quer em aterro os seguintes valores para as pressões das terras:
 Pressão vertical das terras (máximo) = 120 pcf (libras por pé cúbico) = 18,8 (kN/m3)
 Pressão lateral das terras (máximo) = 60 pcf (libras por pé cúbico) = 9,4 (kN/m3)
 Pressão vertical das terras (mínimo) = 120 pcf (libras por pé cúbico) = 18,8 (kN/m3)
 Pressão lateral das terras (mínimo) = 30 pcf (libras por pé cúbico) = 4,7 (kN/m3)
Devido aos efeitos de interacção solo/estrutura e tomando em consideração a teoria de
Marston-Spangler, a AASHTO refere que estes efeitos devem ser tomados em atenção, e que
se devem basear no tipo de terras de aterro a utilizar, tipo de compactação e características da
fundação adjacente a BC. Estes parâmetros podem ser determinados por uma análise de
interacção solo/estrutura do sistema. A AASHTO indica um factor de modificação das
pressões verticais dadas, denominado de factor de interacção solo/estrutura, Fe. Só se
considera o Fe referente a condição de instalação em aterro, que é o caso do estudo presente:

No qual H corresponde a altura interior da BC, e Bc a largura da base da BC. Este factor não
pode ser superior a 1,15 no caso de instalações com aterros laterais compactados, e 1,4 no
caso de instalações com aterros laterais não compactados. Portanto segundo a AASHTO a
carga total aplicada sobre a BC é calculada:

Em que w, corresponde às pressões verticais das terras indicadas atrás pela normativa.

Tiago André Lopes Pereira 92


ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7.2. Dimensionamento AASHTO


7.2.1. Modelo base para o estudo AASHTO
Para efectuar a análise pela normativa, criou-se um modelo base de carregamentos, esse
modelo servirá para as duas situações de estudo, AASHTO 1 e AASHTO 2, correspondentes
respectivamente a pressões máximas (aterro lateral compactado) e pressões mínimas (aterro
lateral não compactado), Figura 7.1.

Figura 7.1. Modelo utilizado para a modelação dos carregamentos pela AASHTO

Tendo em conta o que foi dito em 7.1, há necessidade de calcular o factor de modificação das
pressões verticais proposto pela AASHTO.

 ( )

 ( )





 ( ) ( )

O factor de modificação Fe a utilizar para corrigir os valores das pressões verticais será neste
caso de 1,11.

Tiago André Lopes Pereira 93


ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7.2.2. Estudo AASHTO 1


Neste estudo consideraram-se as pressões máximas propostas pela normativa, admitindo
portanto o aterro lateral compactado, e calcularam-se os valores de p0, p1, p2 e p3, para
introduzir no modelo do Phase2, Figura 7.2.

 ( ) ( )

 ( ) ( )

 ( ) ( )

 ( ) ( )

Figura 7.2. Modelo Phase2 dos carregamentos de AASHTO 1

7.2.2.1. Resultados da análise do estudo AASHTO 1


Com esta análise vamos verificar os diagramas de esforços mais importantes actuantes na BC,
e perceber de que maneira se pode comparar em relação aos restantes estudos realizados na
presente dissertação. Os carregamentos simulados estão representados na Figura 7.2.

Tiago André Lopes Pereira 94


ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7.2.2.1.1. Travessa Superior

Figura 7.3. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa superior no estudo AASHTO 1

7.2.2.1.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 7.4. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo AASHTO 1

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ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7.2.2.1.3. Montantes

Figura 7.5. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo AASHTO 1

7.2.3. Estudo AASHTO 2


Neste estudo consideraram-se as pressões mínimas propostas pela normativa, portanto
admitindo o aterro lateral não compactado, e calcularam-se os valores de p0, p1, p2 e p3, para
introduzir no modelo do Phase2, Figura 7.1.

 ( ) ( )

 ( ) ( )

 ( ) ( )

 ( ) ( )

A configuração dos carregamentos é exactamente igual à do estudo AASHTO 1, mudando


apenas os valores das pressões nos montantes p1 e p2, uma vez que a norma considera igual o
valor da pressão vertical mínima e máxima de 18,8 kN/m3. Esta diminuição que a normativa
considera para as pressões laterais actuantes na BC procura simular o efeito de uma eventual
não compactação lateral, ou então má compactação lateral que possa ocorrer durante a obra.

Tiago André Lopes Pereira 96


ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7.2.3.1. Resultados da análise do estudo AASHTO 2


7.2.3.1.1. Travessa Superior

Figura 7.6. Momentos, Bending Moment, sobre a travessa superior no estudo AASHTO 2

7.2.3.1.2. Base da Box Culvert (Travessa inferior)

Figura 7.7. Momentos, Bending Moment, sob a base da BC no estudo AASHTO 2

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ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

7.2.3.1.3. Montantes

Figura 7.8. Momentos, Bending Moment, nos montantes da BC no estudo AASHTO 2

7.3. Análise comparativa dos estudos AASHTO


Neste capítulo, procura-se comparar os estudos AASHTO 1 e AASHTO 2 com os estudos
realizados anteriormente, portanto desde o BC1 (estudo base), até ao BC7. Com estas
comparações pretende-se avaliar de que forma a análise pela norma norte americana será ou
não mais conservativa do que um dos modelos Phase2 ou mesmo um método simplificado de
análise, Quadro 7.1. Convém referir que no método simplificado de análise, se consideraram
para as pressões os seguintes valores:

 ( ) ( )

 ( ) ( )

 ( ) ( )

 ( ) ( )

Este método não foi individualmente discriminado, serão apenas apresentados os valores que
se consideram ser mais importantes para posterior comparação, tendo sido utilizado o mesmo
modelo que na análise da AASHTO da Figura 7.1 para obtenção desses valores.

Tiago André Lopes Pereira 98


ANÁLISE PELA NORMA NORTE AMERICANA (AASHTO) CAPÍTULO 7

Para melhor perceber as relações entre os vários estudos achou-se conveniente a realização de
um quadro síntese com os parâmetros mais importantes para posterior comparação. É de notar
que estas comparações foram feitas para a situação mais desfavorável, portanto o Stage 11, ou
seja, para 10 m de aterro acima da travessa superior. Esses parâmetros são a carga total
aplicada, esforço axial máximo, esforço transverso máximo e momentos máximos, quer na
travessa, como no montante e base da BC. Os valores do esforço axial, esforço transverso e
momentos retiraram-se directamente do modelo Phase2, enquanto a carga total aplicada foi
determinada com base no valor das pressões e no comprimento do elemento, neste caso
travessa, montante ou base, Quadro 7.1.

Quadro 7.1. Quadro comparativo dos estudos realizados

BC1 BC2 BC3 BC4 BC5 BC6 BC7 AASHTO 1 AASHTO 2 M.Simplificado
Esforço Carga total

Travessa 437,09 451,27 463,47 480,29 362,39 417,18 266,67 417,36 417,36 400,00
axial máx. aplicada
(kN/m)

Montante 118,73 123,79 104,91 104,55 62,07 116,89 131,83 151,58 75,79 161,25
Base 490,00 504,20 517,65 584,23 446,59 476,85 450,32 536,46 536,46 516,50
Travessa 76,60 79,30 72,12 86,61 33,96 75,46 61,68 71,56 34,61 76,32
(kN)

Montante 301,77 311,96 312,75 384,57 301,70 299,59 251,14 219,24 219,23 210,56
Base 91,38 94,12 88,45 62,25 69,58 91,19 103,23 69,52 30,70 74,74
máx. (kN)
transverso

Travessa 206,30 213,40 225,90 228,45 181,36 201,33 135,04 209,95 209,94 201,43
Esforço

Montante 102,14 105,39 93,46 106,70 57,06 101,82 108,68 78,10 40,22 82,89
Base 223,16 230,34 245,64 125,10 202,16 219,32 209,76 223,19 223,19 214,44
máx. (kNm)
Momento

Travessa 52,54 54,33 67,03 53,53 57,84 -46,02 36,55 69,90 75,92 65,82
Montante -39,02 -40,27 -42,22 -43,49 -30,39 -52,09 -39,79 -39,23 -33,79 -38,83
Base 56,08 57,88 72,27 -4,14 56,53 -49,98 50,19 74,87 80,89 70,68

Tiago André Lopes Pereira 99


CONCLUSÕES E ORIENTAÇÕES PARA PROGRESSOS FUTUROS CAPÍTULO 8

8. CONCLUSÕES E ORIENTAÇÕES PARA PROGRESSOS FUTUROS


8.1. Conclusões
Neste trabalho, apresentaram-se vários estudos na tentativa de perceber melhor o
comportamento das BCs. As obras de BCs devem ser criteriosamente estudadas e analisadas
ao pormenor para cada situação específica, uma vez que variam muito de caso para caso.
Portanto, os estudos realizados e as conclusões obtidas servem como informação e guia para
desenvolvimentos futuros.
O estudo base BC1, o qual se considera ser mais próximo de uma situação real, serviu como
ponto base de comparação para com as restantes análises. Neste estudo, no caso da travessa
superior, verificou-se que existe um aumento das tensões do programa face as geostáticas
junto dos montantes e uma diminuição na zona a meio vão da travessa. Pode-se dizer que
existe migração das tensões da zona central e lateral do aterro para junto dos montantes,
aumentos que chegaram a atingir neste caso cerca de 60 % face aos valores das tensões
geostáticas. Em relação à base da BC, verifica-se o mesmo cenário, mas, agora os blocos de
aterro laterais são os principais responsáveis pelo aumento das tensões verticais junto da base
dos montantes. Isso comprova-se pelo facto do diferencial do valor máximo das tensões
verticais na travessa superior e na base da BC (expresso no Quadro 5.2), ter em conta que na
base entra o peso próprio e portanto a diferença dá as tensões que provêm da zona do bloco de
aterro lateral, cerca de 39,2 % do valor máximo das tensões verticais aplicado na base da BC.
Nos montantes, verificou-se que as tensões horizontais tomam os seus valores máximos junto
da base e topo do montante, já na zona do meio vão do montante as tensões horizontais
diminuem e tomam o seu valor mínimo. Tendo em conta o Quadro 7.1, verificou-se que, em
relação aos estudos AASHTO, o estudo BC1 no que toca à carga total aplicada sobre a
travessa, é superior em cerca de 4,51 %, e face ao método simplificado superior em 8,5 %. No
montante considerando o aterro lateral compactado (AASHTO 1), verificou-se um valor
superior para a carga total aplicada na BC1 em cerca de 27,7 %, e considerando o aterro
lateral não compactado (AASHTO 2), uma diminuição de 36,2 % face a BC1. Para o método
simplificado obteve-se um aumento da carga total aplicada no montante da BC face a BC1 de
35,8 %. Por último, a AASHTO considera um valor da carga total aplicada na base da BC
superior em cerca de 9,5 % face à carga total aplicada na base da BC para o estudo BC1, no
método simplificado esse efeito traduz-se num aumento de 5,4 %. Estes valores resultam em
momentos mais elevados na AASHTO para a travessa e base. Em relação aos montantes, caso
se considere na norma o aterro lateral não compactado, portanto AASHTO 2, resulta num
valor de momento mais baixo em relação a BC1, e caso se considere AASHTO 1, resulta num
valor de momento máximo ligeiramente mais alto, daqui pôde-se concluir que no geral, a
norma é bastante mais conservadora face a BC1 e também ao método simplificado.

Tiago André Lopes Pereira 100


CONCLUSÕES E ORIENTAÇÕES PARA PROGRESSOS FUTUROS CAPÍTULO 8

O estudo BC2, no qual se considera a actuação de uma sobrecarga aplicada no topo do aterro
de valor igual a 7 kN/m2, portanto 10,0 m acima da travessa superior, não induz um aumento
significativo face ao estudo base BC1. Verificou-se que, em média cerca de 96,77 % das
tensões resultantes da sobrecarga aplicada no topo do aterro se degradam com a profundidade,
e apenas uma pequena percentagem de 3,23 % afecta a BC, isso traduz também, um aumento
em cerca de 3,18 % nos valores resultantes dos momentos máximos.
No estudo BC3 admitiu-se um aterro mais deformável, portanto uma redução de 70 % do
valor do módulo de deformabilidade face ao estudo BC1. Essa alteração conduz a um
aumento da carga total aplicada sobre a travessa superior e base da BC em cerca de 6 %, e a
uma diminuição de 11 % na região dos montantes. Esse facto conduz a momentos mais
elevados comparativamente a BC1, em cerca de 27 % na travessa e base, e 8 % nos
montantes. Comparativamente com as análises AASHTO, temos agora valores mais próximos
dos máximos propostos para a travessa e base. Relativamente aos montantes estes agora são
superiores cerca de 8 % face à normativa.
Se a instalação da BC, for realizada numa zona em que existe uma fundação rígida, como a
simulada em BC4, gera-se um aumento muito grande da carga total aplicada sobre a base da
BC, cerca de 20 % face ao estudo base BC1. Esse aumento é muito significativo e deve-se
principalmente ao facto da BC estar impedida de sofrer deslocamento vertical descendente, e
como consequência as tensões tangenciais geradas junto dos montantes não são atenuadas por
esses deslocamentos. Em contrapartida, uma vez que na base não se observa uma deformada
significativa, conduz à ideia de que ela vai funcionar como um elemento rígido, logo propícia
a absorver mais tensões, conduzindo a um momento máximo na base cerca de 92 % mais
baixo face a BC1.
No estudo BC5 considerou-se uma redução do módulo de deformabilidade na zona lateral e
superior, cerca de ¼ do módulo admitido no estudo base BC1. Esse efeito simula uma má
compactação do aterro junto da estrutura da BC. Caso se dimensionasse para os valores de
BC1, e em obra existisse uma má compactação que levasse a valores próximos do módulo de
deformabilidade admitido para as zonas junto da estrutura, isso implicaria dizer que, em
relação ao momento máximo nos montantes se estava por cima cerca de 28 %, na travessa
superior e base da BC se estava por baixo cerca de 9 % e 1 %, respectivamente.
Comparativamente com AASHTO 2, no qual se considera o aterro lateral não compactado,
verificou-se que este anda muito por cima dos valores obtidos para os momentos máximos na
travessa e base da BC face a BC5, em média 37 %, já nos montantes verificou-se que o
momento máximo é superior apenas em cerca de 11,2 %
Relativamente à alteração da geometria da BC no estudo BC6, concluiu-se que montantes
mais fortes e travessas mais esbeltas dão origem a um decréscimo da carga total aplicada
sobre elas. Tal fenómeno origina uma uniformização dos momentos máximos aplicados,

Tiago André Lopes Pereira 101


CONCLUSÕES E ORIENTAÇÕES PARA PROGRESSOS FUTUROS CAPÍTULO 8

sendo eles agora mais próximos uns dos outros face a BC1, na travessa superior e base é
inferior cerca de 12,5 %. Já nos montantes a situação é inversa, traduz agora um aumento de
33,5 % face a BC1. Pode-se concluir que as travessas mais flexíveis originam momentos
máximos inferiores e que os montantes mais robustos geram momentos máximos superiores.
Por último, com o estudo BC7, procurou-se ir ao encontro da viabilidade da técnica proposta
por Sang, que consiste em introduzir uma zona de maior deformabilidade acima da travessa
superior, com o objectivo de diminuir o valor das tensões verticais sobre a travessa superior.
De facto esse efeito verifica-se, a carga total na travessa superior reduz-se face a BC1 cerca de
40 %. Também na base se revela uma diminuição de 8 %, e nos montantes um pequeno
aumento de 11 %. Esses efeitos, face a BC1, geram na travessa superior um momento
máximo 30 % mais baixo, na base 11 % mais baixo, e no montante um agravamento em cerca
de 1,9 %. Pode-se concluir que, embora com um pequeno agravamento no montante, pouco
significativo, a técnica proposta por Sang é válida e vantajosa, uma vez que na travessa
superior se reduziram imenso as solicitações, quase para metade, com a introdução do
material mais compressível imediatamente acima da travessa. É de referir que caso se admita
a alternativa, portanto deixando o material mais compressível distanciado da BC, consegue-se
obter um momento máximo mais baixo para a zona dos montantes cerca de 2,4 %, face a
BC1, na travessa e base continuam a ser inferiores como na primeira alternativa. Concluiu-se
que com a segunda alternativa se passa a ter momentos máximos inferiores na travessa,
montantes e base da BC face a BC1.
De uma forma geral, pode-se concluir que o grau de deformabilidade do solo periférico à BC
constitui o parâmetro mais influente dos mecanismos de interacção solo/estrutura, uma vez
que afecta a rigidez solo/estrutura, e a sua alteração gera uma distribuição de pressões sobre a
BC bastante diferente. Tendo em conta os resultados dos modelos obtidos, no geral verifica-se
que a resultante das pressões actuantes sobre a travessa superior é maior que o peso de solo de
aterro central sobre a travessa. Quando não se considera o efeito da interacção solo/estrutura,
portanto admitindo o método simplificado de cálculo, verifica-se que o esforço axial máximo
e esforço transverso máximo para a travessa, montantes e base são subavaliados, enquanto os
momentos máximos são sobreavaliados para a travessa e base da BC. Através de um modelo
de análise não linear usado para o cálculo de uma BC, verifica-se que se pode ter vantagens a
nível da economia de recursos utilizados e durabilidade, mantendo os aspectos de segurança,
factores que se revelam muito importantes para a competitividade das empresas. Através
destes modelos as empresas têm melhor percepção relativamente aos mecanismos de
transferência de pressões, interacção solo/estrutura, e daí tornar-se de tal forma importante a
sua utilização.

Tiago André Lopes Pereira 102


CONCLUSÕES E ORIENTAÇÕES PARA PROGRESSOS FUTUROS CAPÍTULO 8

8.2. Orientações para progressos futuros


Podendo ter dois tipos de materiais de aterro diferentes, e na tentativa de perceber como
funcionam as interfaces friccionais entre o solo e o betão, revela-se importante estudar melhor
este aspecto na medida em que se tente perceber o seu contributo neste tipo de obra. As
interfaces são muito importantes e por isso passíveis de melhor avaliação. Elas devem ser
consideradas e caracterizadas, uma vez que afectam directamente os mecanismos de
interacção solo/solo, solo/estrutura.
Também a acção sísmica, deve ser passível de um estudo, com vista a perceber de que
maneira a ocorrência de um sismo afecta uma estrutura deste género. O Eurocódigo 8, na
parte 4, respeitante ao dimensionamento sísmico para condutas enterradas, refere que se
aplicam os mesmos requisitos do que para as condutas superficiais. No entanto, para além do
movimento do solo, o Eurocódigo 8 menciona mais dois casos a serem considerados no
projecto de dimensionamento sísmico de condutas enterradas, são eles o atravessamento de
falhas e a liquefacção. Refere algumas soluções para isso, tais como, para a liquefacção
aumentar a profundidade da conduta, e em relação ao atravessamento de falhas, deve-se
garantir que a conduta fique a menos comprimida possível. No modelo base BC1 apresentado,
considerando zona sísmica A, e tipo de terreno II, portanto αh=0,20 e αv=1/3.αh, obtinha-se
para a carga total sobre a travessa superior e base um aumento de cerca de 8%, e para os
montantes um aumento de 6%. Em relação aos momentos máximos no geral ter-se-ia um
aumento em média de 7 % face a BC1. Portanto, é importante quantificar, clarificar, e
procurar soluções para a actuação da acção sísmica em condutas enterradas deste tipo.

Tiago André Lopes Pereira 103


P. de uma passagem hidráulica tipo BC – I. do aterro e da fundação

Tiago André Lopes Pereira 104


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPÍTULO 9

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AASHTO, (1996). Standard Specifications for Highway Bridges 16th, Edition. American
Association of State Highway and Transportation Officials, Washington D.C.
AASHTO, (2002). Standard Specifications for Highway Bridges 17th, Edition. American
Association of State Highway and Transportation Officials, Washington D.C.
American Concrete Pipe Association. Concrete Pipe & Box Culvert Installation.
http://www.concrete-pipe.org/ysk_pdfs/installation_guide.pdf. Irving, Texas 2007.
Barros, R. e Pereira, Miguel. (2004). Análise e Dimensionamento Sísmico de “Pipelines”
Metálicos Superficiais e Enterrados. Sísmica 2004 - 6º Congresso Nacional de Sismologia
e Engenharia Sísmica.
BargerAndSons. Precast Concrete Box Culvert. http://www.bargerandsons.com/precast/box-
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