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A importância das técnicas ergonômicas no Design de Interiores Dezembro/2017

A importância das técnicas ergonômicas no Design de Interiores


Heloisa Nazario Fogaça de Souza
Design de Interiores: Ambientação e Produção do Espaço
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Brasília, DF, 03 de outubro de 2016

Resumo

Este artigo tem como objetivo realizar uma abordagem em relação aos estudos de ergonomia
e ergodesign com foco em design de interiores. Visa identificar as interferências da
configuração espacial dos ambientes no desenvolvimento de projetos a partir de uma análise
ergonômica. Além de um levantamento teórico dos temas mencionados até então, um dos
principais objetivos é demonstrar de maneira sistêmica a relação da ergonomia e do
ergodesign, com o processo de criação. A intenção é demonstrar sua importância e seu
benefício na elaboração do projeto, como meios facilitadores pela busca de informações
realizadas pelos usuários. Para desenvolvimento deste processo, foi necessário uma pesquisa
a fim de adquirir o conhecimento de metodologias, diretrizes e procedimentos usados, e
assim selecionar, organizar e manipular dados, para que a pesquisa tenha reconhecimento e
a elaboração do projeto seja eficaz. Foram analisados os conceitos dos termos mencionados
acima e foi feito um embasamento teórico no Método de Análise do Ambiente Construído –
MEAC, além de estudadas ferramentas para concepção do projeto final como a Constelação
de Atributos. Nesse artigo serão apresentadas algumas definições pertinentes a esse
segmento. Tais conceituações se fazem necessárias para o entendimento sobre as principais
metodologias que serão aqui descritas. As verificações realizadas sobre esses métodos
servirão para uma modelagem esquemática que contemple como a ergonomia é essencial na
concepção do projeto de Design de Interiores. Dessa maneira, os resultados indicam extrema
importância e relevância do uso apropriado da ergonomia no design.

Palavras-chave: Ergonomia. Design. Ergodesign. Antropometria. Funcionalidade.

1. Introdução
Atualmente, é importante destacar que, no universo dos projetos para espaços com funções
diversificadas existem três profissionais responsáveis pela qualidade do ambiente construído:
o arquiteto, o designer de interiores e o ergonomista. O design está em todo lugar e talvez por
isso seja tão difícil encontrar uma definição específica, está presente numa ampla tipologia de
ambientes, ou seja, em tudo que é construído. A cada dia a adequação dos ambientes vem se
aprimorando, com isso surge a preocupação com a satisfação do usuário, o que é levado em
conta não é só a arquitetura, mas também a ergonomia dos ambientes.
Os Arquitetos exercem papel importante na formação das cidades e espaços construídos com
acessibilidade, beleza, sustentabilidade, economia, segurança e conforto. Devido a sua
formação acadêmica e sua relação com outras profissões, são responsáveis pela produção do
espaço construído. É papel do arquiteto, antes de tudo, ser um agente catalisador na

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol. 01 dezembro/2017
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transformação dos anseios de uma sociedade e um gerador de elementos construídos nos


espaços habitados.
O designer de interiores tem a função de elaborar o espaço coerentemente, seguindo normas
técnicas de ergonomia, acústica, térmico e luminotécnica além de ser um profissional capaz
de captar as reais necessidades dos clientes e concretizá-las através de projetos específicos. É
capaz também da reconstrução do espaço através da releitura do layout, da ampliação ou
redução de espaços, dos efeitos cênicos, das aplicações de tendências e novidades técnicas e
do desenvolvimento de peças exclusivas. Porém, seu trabalho restringe-se a ambientes
internos, pois é o profissional habilitado para atuar em projetos de interiores, de modo a
auxiliar o arquiteto a resolver os espaços da edificação de forma a atender melhor as
necessidades do cliente, para complementar o fechamento da obra.
Já o ergonomista desempenha o papel de melhorar o ambiente do ser humano. Contribui para
o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e
sistemas, de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações de
todas as pessoas. Atualmente, o Ergonomista atua diretamente com o trabalhador, através do
conhecimento das atividades laborais. O especialista poderá desenvolver projetos de
maquinários e fazer adaptações dos postos de trabalho, a fim de implementar soluções e
adaptações ergonômicas, conforme a necessidade apresentada.
A Ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele
existente, às características, habilidades e limitações das pessoas com vista ao seu
desempenho eficiente, confortável e seguro, porém, seus estudos ainda são incipientes e, em
consequência, também sua aplicabilidade nos projetos. Esse quadro pode mudar com a
valorização desse conceito e dos profissionais da área que se preocupam com o bem-estar
físico, emocional e psicológico das pessoas.
Sendo assim, definido o papel de cada profissional, e devido à amplitude do tema Ergonomia,
este artigo abordará a análise de alguns conceitos físicos e ambientais e bem como as
peculiaridades das condições ergonômicas e antropométricas, com o intuito de melhorar o
desempenho e bem-estar das pessoas nos ambientes que ocupam.

2. Ergonomia no Design de Interiores


A definição mais antiga de ergonomia é a da Ergonomics Society, da Inglaterra: “Ergonomia
é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento, ambiente e,
particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na
solução dos problemas que surgem desse relacionamento” (IIDA, 2005). Mas, segundo
Moraes (2004), os conhecimentos sobre os componentes humanos dos sistemas homens-
máquinas começaram a ser sistematicamente coletados antes do aparecimento oficial da
Ergonomia. Foram os pesquisadores, físicos e fisiologistas, que se interessaram em
compreender o funcionamento do organismo humano, gerando assim as primeiras
informações sistemáticas sobre a máquina humana. O termo ergonomia surgiu nos anos 1800,
mas pode-se definir como precursor, Frederick Winslow Taylor, que no século XIX começou
seus primeiros estudos de como eliminar esforços desnecessários no trabalho.
O pensamento de Taylor visava estabelecer um método para obter maior eficiência a partir da
divisão do tempo e de tarefas seqüenciais em uma linha de produção. Contudo, Denis (2000)
indica que, nesse movimento de racionalização, havia intenção de se melhorar condições de

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trabalho, não para atender aos anseios do operariado, mas para conseguir uma maior
produtividade. Porém, a ergonomia só teve sua importância na época da Segunda Guerra
Mundial, quando o tenente do exército americano Alfonse Chapanis demonstrou que um
piloto de caça poderia errar menos se comandos e postura fossem estudados de forma a se
adaptarem ao homem.
Ao contrário do Taylorismo, que buscava a eficiência e o aumento da produção, na
ergonomia, a eficiência vem como resultado, pois visa em primeiro lugar o bem-estar do
trabalhador e parte do conhecimento do homem para fazer o projeto, ajustando-o às suas
capacidades e limitações. Tendo em vista tais acontecimentos, em 12 de julho de 1949, na
Inglaterra, reuniram-se cientistas e pesquisadores, como o engenheiro Keneth Frank Huwell,
interessados pela primeira vez em discutir e formalizar a existência deste novo ramo de
aplicação interdisciplinar da ciência e, assim, fundou-se a International Ergonomics
Association (IEA) resultando na ergonomia como ciência influenciada pela pressão
ambiental, física e psicológica das mudanças tecnológicas, numa tentativa de corrigir falhas
existentes na interação entre o homem e a máquina. (PEQUINI, 2005)
A IEA define ergonomia, derivada das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras,
normas), como a disciplina científica relacionada à compreensão das interações entre seres
humanos e outros elementos de um sistema. Ela ajuda a harmonizar trabalhos, produtos e
ambientes, a fim de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das
pessoas. O IEA também define o design como sendo a profissão que aplica nos projetos a
teoria, princípios, dados e métodos a fim de aperfeiçoar o bem-estar humano. (DEFINIÇÃO E
DOMÍNIOS DA ERGONOMIA, 2016)
Segundo Iida (2005) no Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) adota a
seguinte definição: “Entende-se por ergonomia o estudo das interações das pessoas com a
tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem
melhorar, de forma integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a
eficácia das atividades humanas.” O autor acrescenta que a ergonomia estuda os diversos
fatores que influenciam no desempenho do sistema produtivo e procura reduzir as suas
consequências nocivas como a fadiga, estresse, erros e acidentes sobre o trabalhador,
proporcionando-lhe segurança, satisfação e saúde.
A ergonomia ainda está em grande crescimento e engloba diversos ramos, com o objetivo
comum que é o conforto de usuários, e pode ser classificada em três categorias distintas:
Física, Cognitiva e Organizacional. A ergonomia física está relacionada com as
características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação
com a atividade física (tópicos relevantes incluem posturas de trabalho, manuseio de
materiais, movimentos repetitivos, layout do local de trabalho, segurança e saúde). A
ergonomia cognitiva refere-se a processos mentais, tais como a percepção, memória,
raciocínio e resposta motora do ser humano (tópicos relevantes incluem carga mental de
trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação humano-computador,
confiabilidade humana e estresse no trabalho). E, por último, a ergonomia organizacional
que se refere principalmente a otimização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo suas
estruturas organizacionais e políticas (tópicos relevantes incluem comunicação, design de
trabalho, trabalho em equipe, design participativo, trabalho cooperativo, novos paradigmas do
trabalho, organizações virtuais e gestão da qualidade). (DEFINIÇÃO E DOMÍNIOS DA
ERGONOMIA, 2016)

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Sendo assim, a ergonomia situa-se como mediadora entre as ciências que estudam os
diversos aspectos do ser humano e as diversas tecnologias projetuais, para as quais fornece
recomendações que viabilizam projetos e ambientes humanos. Moraes (2004) apresenta um
quadro da ergonomia (Figura 1) com suas etapas de intervenção, finalidades e objetivos
gerais.
Figura 1 – Finalidades da Ergonomia

Fonte: Fronteiras da Ergonomia, Ciência e Tecnologia: Projetos Ergonômicos (MORAES, 2004)

Nas palavras de Grandjean (1998) "se uma aplicação dos princípios da Ergonomia ao
processo de Design é implementada, o resultado deve ser um produto atrativo e também
amigável". Máquinas, equipamentos, estações de trabalho e ambientes de trabalho integram a
Ergonomia ao Design e contribuem para a qualidade de vida, bem como, aumentam o bem-
estar e o desempenho dos produtos. (Moraes, 2004) A ênfase da Ergonomia moderna tem sido
investigar o operador e o ambiente como parceiros dentro do sistema de trabalho, ou seja, faz
tal análise para maximizar o conforto, garantir a segurança, minimizar os custos e otimizar
rendimento do trabalho, a fim de aumentar a produtividade.

Embora a Ergonomia moderna, centrada na pessoa, argumente que, para uma


operação eficiente do sistema, indivíduos e seus sistemas de trabalho devem operar
em harmonia, o pensamento contemporâneo sugere que mesmo esta abordagem
apresenta falhas. [...] Argumentos recentes propõem a tese de que o operador e o
sistema não são parceiros iguais no trabalho. Considerá-los assim, na verdade,
denigre de alguma forma o componente mais importante do sistema – a pessoa – e o
reduz ao nível de um componente inanimado. [...] Desta forma, a moderna visão da
Ergonomia, centrada na pessoa, argumenta que é a pessoa quem controla o sistema,
que o opera, que dirige o seu curso e monitora as suas atividades. Ao fazer isso, é o
operador quem tem metas e desejos e quem pode mudar o sistema através de
habilidades e caprichos. (MORAES e MONT’ALVÃO, 2003)

Outro conceito importante é o Ergodesign, que surgiu há pelo menos duas décadas e nomeia a
união da Ergonomia com o Design. Antigamente, segundo Moraes (2004), existia uma grande
dificuldade de ambos, de entender quais eram os benefícios que uma disciplina poderia trazer
para outra. Do lado do design, muitos viam a ergonomia como um elemento complicador no
desenvolvimento de um projeto, já que exigia estudos e análises mais aprofundadas sobre o
usuário, ou seja, requisitos diversos deveriam ser cumpridos, deixando o projeto mais
demorado, e consequentemente, aumentando seu custo. Já pelo lado da ergonomia, muitos
não conseguiam enxergar a dinâmica do processo de desenvolvimento do projeto, de modo
que não era possível transmitir as suas descobertas aos designers de maneira sintetizada e de
fácil aplicação.

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Como solução, Yap (1997) concluiu que o conceito de Ergodesign poderia acabar com essa
divergência. Ele acreditava que essa nova tecnologia otimizaria a integração das duas
disciplinas no processo criativo ao dizer que “A sinergia e a simbiose dessa união resultarão
numa significante melhoria da tecnologia da interdisciplinaridade para criação de produtos,
equipamentos e ambientes, em sistemas complexos.” Ou seja, ergodesign significa a fusão
dos focos teóricos e práticos das duas disciplinas, e, com isso, observa-se que à medida que os
sistemas se tornam mais complexos, fica cada vez mais difícil estabelecer diferenças entre
estas duas disciplinas.
Assim, a ergonomia vem aos poucos ganhando importância como ferramenta fundamental
para o design de interiores já que pode trabalhar desde a formalização das idéias preliminares
até o produto final. Segundo Wisner (1997), a contribuição ergonômica, conforme a ocasião
em que é realizada, classifica-se em: ergonomia de concepção, de correção e de
conscientização. A ergonomia de concepção ocorre quando a contribuição ergonômica se faz
durante a fase inicial do projeto do produto, da máquina ou do ambiente. Esta é a melhor
situação, pois as alternativas poderão ser amplamente examinadas, mas também se exige
maior conhecimento e experiência, porque as decisões são tomadas em cima de situações
hipotéticas.
A ergonomia de correção é aplicada em situações reais, já existentes, para resolver
problemas que se refletem na segurança, na fadiga excessiva, em doenças do trabalhador ou
na quantidade ou qualidade da produção. Muitas vezes, a solução adotada é completamente
satisfatória, pois exigiria custo muito elevado, por exemplo, a substituição de máquinas
inadequadas. Em alguns casos, as melhorias, como mudanças de posturas, colocação de
dispositivos de segurança e aumento da iluminação podem ser feitas com relativa facilidade,
enquanto em outros casos, como a redução da carga mental ou de ruídos, se tornariam
difíceis.
E, por último, a ergonomia de conscientização, pois muitas vezes, os problemas
ergonômicos não são completamente solucionados, nem na fase de concepção e nem na fase
de correção. Novos problemas poderão surgir, devido ao desgaste natural das máquinas, além
das modificações introduzidas pelos serviços de manutenção, alteração dos produtos e
introdução de novos equipamentos. Pode-se dizer que o sistema e os postos de trabalho
assemelham-se a organismos vivos em constante transformação e adaptação. Desta forma, é
importante conscientizar o operador, por meio de cursos de treinamento e frequentes
retreinamentos, ensinando-lhe a trabalhar de forma segura, reconhecendo os fatores de risco
que podem surgir no ambiente de trabalho.
De acordo com Chimenthi e Flemming (2005), atualmente, esta ciência aplicada vem sendo
considerada uma poderosa ferramenta diferencial tanto na concepção dos produtos, como na
otimização dos ambientes como um todo. A ergonomia se propõe a desenvolver novos
métodos, e uma nova rede de interação com setores de empresas e seus fornecedores. Tudo
isto em prol de sua participação na evolução do trabalho. Ou seja, a ergonomia aos poucos
ganha importância como ferramenta fundamental para o design e pode trabalhar desde a
formalização das ideias preliminares até o produto final.
Segundo FILHO (2004), o uso dos conhecimentos da ergonomia encontra-se hoje no Brasil
mais difundido e com numerosos exemplos nos setores industriais. Sua aplicação propicia
facilidade do trabalho e rendimento do esforço humano. Está ligada à organização do
trabalho, destacando-se em diversos setores dos sistemas de produção, como, por exemplo,

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nos objetivos de racionalização do trabalho para aumento de produtividade; na segurança,


visando à prevenção de acidentes de trabalho; na organização de linhas de produção,
ambientes e postos de trabalho, correção de equipamentos de uso individual e geral, entre
outros. Hoje em dia, acredita-se que esse novo conceito já vem sendo aplicado porque com o
avanço das tecnologias muitas empresas tiveram a necessidade de buscar informações sobre o
usuário de seus produtos e, nesse momento, suas equipes de projeto tiveram que agregar um
ergonomista ao grupo. Cada vez mais, busca-se atender as necessidades do usuário, e, as
empresas que não atendem essas necessidades, certamente deixarão de existir, pois, a
competição está cresendo e o usuário ficando mais exigente.
É importante avaliar a relação do usuário com o ambiente em questão, levando-se em conta a
razão, a emoção e a bagagem cognitiva do indivíduo. Assim, as normas regulamentadoras
devem ser usadas apenas como apoio, não sendo norteadoras para a ergonomia, que tem como
preocupação o conforto, sem deixar de lado o uso de ferramentas de percepção ambiental e
psicologia do ambiente. Desta forma, o design de interiores com a sua metodologia, realiza o
levantamento de dados (normas, levantamento físico, estudo de funções e áreas necessárias)
para o desenvolvimento do projeto simultaneamente ao estudo de ergonomia. (FULGÊNCIO
e OLIVEIRA,2016)
Segundo Wisner (1997), a concepção de projetos é estudada à partir da metodologia
ergonômica (estudo da situação existente) e das atividades do trabalho a ser projetado. É
detalhado todo o processo de tratamento das informações, assim como avaliadas as interações
entre os vários profissionais e o nível de cooperação necessário dentro do processo de
trabalho. Estes dados são o ponto central do estudo ergonômico e servem de base para o
desenvolvimento de todos os projetos que se seguiram à este.
Diversos autores incluem em suas recomendações para projeto, a preocupação com o usuário
como requisito inicial para o desenvolvimento. Por exemplo, incluem recomendações para
que se projete de forma a permitir ao usuário assumir o controle e ser um iniciador das ações,
ao invés de simplesmente responder aos estímulos da máquina. A partir desse pensamento
defende-se que qualquer coisa deve ser projetada a partir do ponto de vista do operador.
Deve-se ter em mente, ainda, que esse operador humano possui uma série de atributos, como
fraquezas, qualidades, experiências, expectativas e motivações. O ser humano precisa ser
visto como elemento fundamental para o projeto, visto que o real conhecimento das
características humanas dará ao projetista informação sobre como conduzir as soluções ao
encontro dos requisitos e das necessidades do usuário. Deve-se ter sempre em mente o fato de
que será sempre utilizado por pessoas. (ERGONOMIA E USABILIDADE, 2002)
O teórico de design Klaus Krippendorff (2000) destaca que “os artefatos não existem fora do
envolvimento humano. Eles são construídos, compreendidos e reconhecidos quando usados
pelas pessoas, que têm objetivos próprios”. A tecnologia deve servir para atender as
necessidades e características humanas, ao se adotar o enfoque centrado no usuário, segundo
o qual se considera o ser humano como elemento fundamental.
Considerando as propostas de Bürdek (2006), o design tem um papel importante nesse elo
design-ergonomista, pois ele deve atender a problemas específicos como visualizar progressos
tecnológicos, priorizar a utilização e o fácil manejo de problemas, tornar transparente o
contexto da produção, do consumo e da reutilização do produto. A ergonomia deve fazer parte
do currículo de formação de um designer, pois está ligada a qualquer projeto, já que o design

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tem como princípio projetar objetos ou sistemas de forma que sirvam ao ser humano com
conforto e intuitividade.
Entende-se que olhar um projeto com olhos de ergonomista é juntar condicionantes físicos,
cognitivos, antropométricos, psicosociais e culturais, e é isso que desenvolve um olhar crítico
e caracteriza-se um projeto ergonômico. (VILLAROUCO, 2004) Para caracterização desse
projeto Villarouco criou um Método de Análise do Ambiente Construído – MEAC. Tal
método é compreendido em quatro etapas analíticas e duas conclusivas, sendo elas: a Análise
Global do Ambiente; a Identificação da Configuração Ambiental; a Avaliação do Ambiente
em Uso, Percepção Ambiental do Usuário, Diagnóstico Ergonômico do Ambiente e
Proposições Ergonômicas para o Ambiente. Para uma maior compreensão da metodologia
utilizada em toda a pesquisa, a seguir são caracterizadas cada uma de suas etapas:
Análise Global do Ambiente, consiste na fase inicial da pesquisa, onde se tem o primeiro
contato com o ambiente estudado, o que possibilita ter ideia da configuração espacial do
ambiente e se analisa as atividades desenvolvidas. A partir disso, se percebe os principais
problemas e demandas que indicam a necessidade da intervenção, de modo a possibilitar uma
visão sistêmica do ambiente a partir do conhecimento dos materiais, do pessoal que usa o
ambiente, do desperdício de tempo e equipamentos utilizados, dos fluxos, dos processos e
produtos principais, para assim, entender o que e como é feito o ambiente (Villarouco, 2009).
Identificação da Configuração Ambiental, é a etapa que identificam-se os condicionantes
físico-ambientais e atribui-se o levantamento de dados do ambiente, tais como
dimensionamento, iluminação, ventilação, ruído, temperatura, fluxos, layout, deslocamentos,
materiais de revestimento e condições de acessibilidade, levantando-se as primeiras hipóteses
sobre as influências do espaço na execução das atividades do trabalho. Nesta fase coleta-se
também as plantas diversas de toda área de avaliação.
Avaliação do Ambiente em Uso, Villarouco (2009) recomenda que seja feita uma Avaliação
do Ambiente em Uso no desenvolvimento das atividades, para saber o quanto facilitador e
dificultador se torna o ambiente no momento da realização das tarefas. Nessa fase, analisa-se
o desenvolvimento das atividades com foco no espaço construído, com o objetivo de verificar
a interferência positiva ou negativa do espaço no desempenho das atividades.
Análise da Percepção do Usuário: Na quarta e última fase, a autora diz ser necessário fazer
um estudo da percepção que os usuários têm do ambiente que utilizam. Para se entender
melhor a percepção do usuário, é essencial realizar uma pesquisa por meio de um diagnóstico
ergonômico do ambiente. “O diagnóstico deve conter todas as informações necessárias ao
entendimento geral da situação, apontar todas as falhas e problemas, bem como os pontos
fortes e vantagens encontradas, de modo a permitir sugestões de melhorias e soluções de
questões que representem gargalos no desempenho na fase propositiva”. (Mont’Alvão e
Villarouco, 2011).
Por fim, a MEAC é concluída com mais duas etapas: Diagnóstico Ergonômico do Ambiente e
Proposições Ergonômicas para o Ambiente, as quais irão apresentar os resultados das
avaliações e expor recomendações de alteração direcionadas ao ambiente.
Sugere-se que as recomendações ergonômicas para o ambiente sejam relacionadas a
cada um dos problemas apontados, primeiro separadamente, depois agrupados e
relacionados entre si. Não se entende como completo, um trabalho de ergonomia do
ambiente construído que se limite apenas a apontar falhas e proposições isoladas.
Destaca-se aqui mais uma vez, que este trabalho da ergonomia exige a visão global,

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completa e sistêmica, sendo assim desde a primeira fase até a última, momento onde
são colocadas as propostas de melhoria para a situação avaliada. (MONT’ALVÃO E
VILLAROUCO, 2011)

Para concluir o Diagnóstico Ergonômico de um ambiente deve-se fazer uma Avaliação da


percepção do Usuário, utilizando a ferramenta de psicologia ambiental denominada
Constelação de Atributos, concebida por Moles (1968). Tal ferramenta permite compreender
a consciência psicológica do usuário em relação ao espaço que ocupa, trabalhando com uma
análise das associações espontâneas de ideias, a partir de imagens utilizadas pelo homem para
determinar o ambiente em que vivem. A Constelação de Atributos analisa o ambiente
construído a partir de duas dimensões: a conceituação do espaço ideal (ideias associadas a
características espontâneas) e do espaço real (associação de ideias a partir de características
induzidas).
Os dados são organizados e classificados permitindo a avaliação do comportamento dos
atributos em relação ao ambiente pesquisado, determinando a distância psicológica de cada
atributo. Assim, o grau de aproximação ou de afastamento das variáveis (Figura 2) é função
da proximidade do núcleo investigado, que esclarece a capacidade de perceber e adaptar o
espaço em que se vive, onde as verbalizações mais afastadas expressam o fenômeno de menor
atração. (SOBRAL, PAIVA, PORTO e VILLAROUCO, 2015)

Figura 2 – Modelo de representação das constelações de atributos

Fonte: La percepcióndel hábitat (EKAMBI-SCHMIDT, 1974)

A construção da constelação de atributos inicia-se com a aplicação de um questionário com


uma pergunta, de acordo com as características atribuídas ao ambiente pesquisado. Para a
Constelação de atributos imaginária é feita a pergunta: “Quando você pensa em determinado
ambiente (exemplo: uma casa), de uma maneira geral, que ideias ou imagens lhe vêm à
mente?” Já para a Constelação de Atributos real, é feita a seguinte pergunta: “Quando você
pensa nesse determinado ambiente (exemplo: sua casa), que ideias ou imagens lhe vêm à
mente?”. (FULGÊNCIO e OLIVEIRA,2016)
Essa ferramenta traz a opinião dos usuários do ambiente, de maneira despretensiosa, sem uma
visão profissional e aprofundada, mas com a de um simples frequentador do local. Busca-se o
entendimento de como as pessoas compreendiam o espaço em análise. Com esse método é

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possível observar que gerar recomendações de melhorias optando apenas pela opinião de um
profissional pode não corresponder as reais necessidades dos usuários, em comparação com o
parecer REAL. Bem como também podem não atender aos desejos dos usuários, se
comparado o parecer IDEAL. (SOBRAL, PAIVA, PORTO e VILLAROUCO, 2015)
Entende-se que os processos metodológicos são fundamentais para o desenvolvimento de
projetos. Os métodos, técnicas e instrumentos acompanharam e foram responsáveis por esse
processo evolutivo. O uso desses métodos existentes na ergonomia do ambiente construído,
dentro do projeto de design de interiores, contribuí para soluções mais eficazes. Porém, além
da metodologia, é necessária a aplicação prática dessa metodologia para realização de
análises, essenciais para comprovar a eficácia dessas proposições. (OLIVEIRA e
MONT’ALVÃO, 2015) Deve-se compilar os dados coletados e após avaliação desenvolver o
Diagnóstico Ergonômico que considerará os aspectos relacionados às questões físicas,
estéticas, organizacionais, cognitivas, de conforto ambiental, de mobiliário, de segurança e de
acessibilidade. E assim, fazer as Recomendações Ergonômicas no intuito de contribuir para a
melhoria do ambiente. (FULGÊNCIO e OLIVEIRA,2016)
O objetivo principal é a busca do conforto e do fácil deslocamento dos espaços, onde a
ergonomia entra com sua grande importância. Então, para que isso seja alcançado o ambiente
a ser projetado deve ser analisado em alguns aspectos: A Análise Global do ambiente que
compreende reunir maior número de dados gerais, como, por exemplo, se o ambiente é
residencial, comercial, coorporativo; quantas pessoas habitam ou atuam nesse local; qual o
uso; o público ou atividades exercidas no local e faixa etária dos usuários.
Na Configuração ambiental se analisa o dimensionamento, mobiliário, circulação e
orientação solar em relação ao projeto. A funcionalidade do layout está ligada à organização
dos componentes no interior do espaço, de forma a gerar uma melhor praticidade funcional,
melhor fluxo e circulação. Isto se dá basicamente através da mais lógica organização do
espaço. Um espaço mal projetado pode prejudicar o cotidiano dos usuários na medida que
dificulta passagens, atrasa tarefas, ocupa mais espaço ou faz com que esse pareça menor.
(CHIMENTHI e FLEMMING, 2005)
O Conforto ambiental que estuda os parâmetros lumínicos, acústicos e térmicos, e os três
são referenciados pelas normas da ABNT. A iluminação adequada no ambiente é
fundamental, Iida (2005) afirma que é importante o uso da iluminação adequada para realizar
tarefas, pois se sabe que a iluminância em excesso ou escassez facilita o aparecimento da
fadiga visual. Outro problema que pode ocorrer é o ofuscamento, que acontece com o excesso
de luz, janelas ou locais com muito brilho, o que causa uma redução de eficiência visual.
O aspecto da iluminação é bem destacado na Norma Regulamentadora NR-17: A iluminação
geral deve ser uniformemente distribuída e difusa, deve ser projetada e instalada de forma a
evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. Essas medidas que
a norma traz em relação à iluminação são muito importantes devido ao fato de a má
iluminação causar a fadiga na vista e prejudicar o sistema nervoso. Já a quantidade de
luminárias para atingir o nível de iluminação necessário, deve ser determinada através de um
projeto que considere a acuidade visual de acordo com as seguintes variáveis: faixa etária,
tarefas desenvolvidas, dimensões do objeto a ser visualizado, tempo de exposição do objeto
ao olho, pé direito do ambiente, reflexão do entorno, contraste, layout do ambiente, tipo de
lâmpadas etc. (BERNARDO, NASCIMENTO, SILVEIRA e SOARES, 2012)

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O conforto acústico de ruídos internos, muitas vezes, não é claramente percebido, pois,
aparelhos tecnológicos, sanitários e exaustores podem produzir sons indesejados, geralmente
devido à má localização destes, podendo acarretar em problemas como stress por causa da
elevada taxa de reverberação do som. Há soluções variadas que, isoladas ou adotadas em
conjunto, podem amenizar o alto índice de barulho externo, como portas de madeira maciça e
paredes de tijolos revestidas de ambos os lados. (FULGÊNCIO e OLIVEIRA,2016)
Segundo a NR17 o nível de ruído indicado em norma não se refere ao nível máximo
suportado pelo ouvido humano, mas sim, a um nível suficiente para não desviar ou atrapalhar
a atenção/concentração, eles devem estar de acordo com a NBR-10152 (Norma Brasileira
Regulamentadora), registrada no INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia Normalização
e Qualidade Industrial). O ruído caracteriza-se como um som desagradável mensurado em
decibel (dB), sendo seu limite analisado em conjunto com o tempo de exposição do usuário.
Por exemplo, a Ergonomia busca limites inferiores a 80 dB (decibel), a 90 dB o trabalhador
pode ser exposto a apenas 4 horas de trabalho ou exposição, a 95 dB a apenas 2 horas de
trabalho ou exposição e a 100 dB a apenas 1 hora de trabalho. (BERNARDO,
NASCIMENTO, SILVEIRA e SOARES, 2012)
Esses limites devem ser obedecidos, pois os efeitos do ruído sobre as pessoas acarreta efeitos
audiológicos, como perda auditiva temporária ou permanente, e efeitos fisiológicos, como
alterações de temperatura, de batimentos cardíacos, de atenção e concentração (FRIED,
2002).
As questões térmicas, por sua vez, representam aspectos importantes. Nesse sentido, fatores
como temperatura, velocidade do ar e umidade afetam o conforto. É um estado mental que
reflete a satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa. Se o balanço de todas as
trocas de calor, a que está submetido o corpo, for nulo, e, a temperatura da pele e suor
estiverem dentro de certos limites, pode-se dizer que o homem sente o conforto térmico
(LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA, 1997).
De acordo com a NR-17, o índice de temperatura efetiva deve ser entre 20°C (vinte graus
centígrados) e 23° C, a velocidade do ar não superior a 0,75m/s, a umidade relativa do ar não
inferior a 40%. A questão térmica é um fator que varia de pessoa para pessoa, devido a
variáveis como idade, sexo, metabolismo e peso, que devem ser levados em consideração.
O conforto térmico também pode ser o dificultador da realização de atividades, pois, além de
causar desconfortos, existe uma perda de energia maior que em um ambiente em condições
térmicas confortáveis. Dessa forma, seria interessante manter o ambiente dentro dos níveis
estabelecidos pela norma, o que pode ser regulado pelo próprio usuário, para proporcionar
maior conforto.
Os Materiais de revestimento, num projeto de arquitetura de interiores, têm duas principais
importâncias: caráter funcional e caráter estético. É preciso que os materiais tenham
durabilidade, resistência, fácil manutenção, sejam antiderrapantes e contribuam para o
conforto térmico e acústico. Também é necessário que passem a mensagem desejada, pois, as
cores, texturas, padrões e acabamentos possuem simbolismos que geram interpretações e
estímulos. (GURGEL, 2014). No que diz respeito às sensações cromáticas, a cor no ambiente
pode agir como estímulo, podendo influenciar o humor, a satisfação e a motivação do
indivíduo.
As cores têm a função de ordenação, orientação e alerta. Possuem uma simbologia muito rica.
Por exemplo, o vermelho significa perigo e proibição. O amarelo com o preto significa perigo

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de colisão; o verde, ajuda ou fuga; e o azul pode ser utilizado como cor de ordenação e
organização para orientar avisos e direções. Nesse sentido, seria interessante manter em
botões importantes, alavancas e comandos cores atrativas; em ambientes que exigem
concentração utilizar cores tranquilizantes com tons claros de azul, verde ou creme.
(BERNARDO, NASCIMENTO, SILVEIRA e SOARES, 2012)
A Acessibilidade deve ser analisada e fundamentada na NBR 9050 da ABNT e nos princípios
do desenho universal - a concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender
simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais,
de forma confortável, constituem-se em elementos ou soluções que compõem a
acessibilidade. Basicamente, devem ser constatados pontos que impedem ou não o direito de
ir e vir dos usuários, eles devem ter a possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, por pessoa portadora de qualquer necessidade especial.
Com toda essa análise do ambiente, é importante destacar que o dimensionamento adequado
inicia-se pela aplicação das medidas corporais ao projeto de habitação. Sobre esses aspectos
Neuffert (1974) salienta que “todos os que pretendem dominar a construção devem adquirir a
noção de escala e proporções do que tenham que projetar: móveis, salas, edifícios e etc.” Ele
enfatiza ainda que todos que projetam devem conhecer a razão por que se adotam certas
medidas que parecem ser escolhidas ao acaso. A antropometria é definidade pela relação das
dimensões físicas de um homem com sua habilidade e desempenho ao ocupar um espaço em
que realiza várias atividades.
O estudo etimológico da palavra Antropometria vem do grego, em que anthropos significa
homem e metron, medida. Dessa forma, pode-se dizer que a Antropometria é o estudo que
avalia e mensura as medidas físicas do corpo humano como um todo ou de suas partes como,
por exemplo, altura, peso, medida de mãos e seus dedos, braços, pernas, coxas, quadril,
ombros etc. (IIDA, 2005). É uma maneira de determinar objetivamente os aspectos referentes
ao desenvolvimento do corpo humano, assim como para determinar as relações existentes
entre físico e desempenho. (PETROSKI, 1999)
Esse método de medição sistematizada vem sendo empregado para a obtenção de dados
quanto à forma, tamanho, proporção e composição corporal, representando uma vasta fonte de
informações a respeito do ser humano (COSTA, 1999). As áreas de aplicação das medidas
obtidas através dos métodos antropométricos são muito vastas, pois vão, desde o
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento do homem até a construção de
mobiliário, roupas, maquinário, ambientes e transportes. (ROEBUCK, 1975).
Mas, de acordo Iida (2005), os modelos físicos básicos são importantes para não comprometer
a saúde ocupacional dos funcionários, por exemplo: a altura lombar deve estar de acordo com
o encosto da cadeira; a altura do cotovelo deve estar de acordo com a altura da mesa; é
preciso que haja espaço entre assento e mesa em relação à altura das coxas; o posicionamento
do monitor precisa estar na altura dos olhos e do ângulo de visão, o alcance das pernas e
braços devem ser confortáveis.
Diante disso, conforme Iida (2005), é possível visualizar na Figura 3 as alturas e medidas
mais adequadas para o conforto da pessoa, quando estiver sentado, em pé e até mesmo
medidas de algumas partes específicas do corpo humano. De acordo com o autor, na posição
em pé, é preciso que a pessoa mantenha uma postura ereta para não forçar sua coluna
vertebral, bem como mantenha os pés juntos e os braços alinhados ao corpo.

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Já na posição sentada, a pessoa deve apoiar a coluna vertebral no encosto da cadeira e manter
os pés juntos no chão. Em relação às partes do corpo como cabeça, exige-se que a mesma
esteja alinhada na
altura da visão dos
olhos. Os dedos devem
estar alinhados e a
mão

completamente erguida. Caso esteja segurando algo, a pessoa deve friccionar todos os dedos
para pegar o objeto. E por último, quando a questão for os pés, a pessoa deve pisar
firmemente no chão, com os pés alinhados sempre para frente.

Figura 3 – Medidas Antropométricas

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Fonte: Ergonomia: projeto e produção (IIDA, 2005)

Sendo assim, as avaliações antropométricas em harmonia são muito importantes para o


conforto, bem-estar, aumento de produtividade e, consequentemente, menores índices
principalmente de doenças causadas por movimentos repetitivos. (IIDA, 2005) Ainda
conforme Iida (2005) existem três tipos básicos de estrutura física:
Ectomorfo: tipo físico de formas alongadas, tem corpo e membros longos e finos, com um
mínimo de gorduras e músculos. Os ombros são mais largos e mais caídos, o pescoço é fino e
comprido, o rosto é magro, queixo recuado, testa lata e abdômen estreito e fino.
Endomorfo: tipo físico de formas arredondadas e macias, com grandes depósitos de gordura.
Em sua forma extrema, tem características de uma pera (estreita em cima e larga em baixo). O
abdômen é grande e cheio e o tórax parece ser relativamente pequeno, braços e pernas são
curtos e flácidos, já os ombros e a cabeça são arredondados. Os ossos são pequenos e o corpo
tem baixa densidade, podendo flutuar na água.
Mesomorfo: tipo físico musculoso, de formas angulosas, apresenta cabeça cúbica, maciça,
ombros e peitos largos e abdômen pequeno. Os membros são musculosos e fortes, possui
pouca gordura subcutânea.

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É claro que nem todas as pessoas vão enquadrar-se nesses três modelos físicos básicos. O
importante é que os postos de trabalho estejam de acordo com cada biótipo. Assim, é
desejável que sejam reguláveis a fim de estar confortável para todos os tipos físicos distintos e
obedecer a padrões importantes. (IIDA, 2005).
Na arquitetura e na ergonomia a antropometria é utilizada para adequar dimensões e
movimentos do corpo humano que são os determinantes da forma e tamanho dos
equipamentos, mobiliários e espaço. A relação existente entre a ergonomia e a antropometria
é muito estreita, pois é através das medidas antropométricas que se torna possível a adequação
de materiais e ambientes aos seus usuários, considerando o bem-estar e o conforto destes e,
conseqüentemente, leva à otimização das funções por estes executadas. (ROEBUCK, 1975).
Para se adequar aos padrões, Neuffert (1974) escreveu um livro, “um manual de construção”,
que reune de forma sistemática os fundamentos, normas e prescrições sobre edifícios
(residências, hospitais, universidades, bibliotecas, aeroportos, restaurantes...), exigências de
programa e relações espaciais, instalações e utensílios, aquecimento e ventilação, iluminação
natural e artificial, ordenação de medidas e proporções, tomando o ser humano como medida
e objetivo. Este livro possibilita na elaboração do projeto o acesso a medidas-padrão, que se
ajustem a maior parte da população, como por exemplo: altura de bancada de banheiro, altura
de bancada de trabalho, tamanho de janelas e portas, inclinação e tamanho de degraus em
escadas, dimensões de todos os ambientes da casa, orientação solar de cada cômodo, ligação
do ambiente com o restante do edifício e etc.

Para pequenos almoços deve-se escolher uma zona situada a crescente, a sala de
jantar deve-se orientar a poente. Não é necessário acesso direto ao corredor, mas sim
da cozinha ou da copa. [...] Espaços de prolongamento da sala de jantar (varandas,
terraços) localizam-se do lado soalheiro, protegidas do vento e ligados diretamente à
sala de jantar ou de estar (sendo o vento dominante SO, orienta-se o terraço de E a
SE). Como o sol nascente incide com pequena inclinação, pode-se proteger o terraço
com grandes palas sem risco de prejudicar gravemente a insolação da sala. Largura
mínima da varanda é de 3 metros. (NEUFFERT,1974)

Portanto, ambos conceitos, Ergonomia e Antropometria, devem estar presentes no processo


projetual, e quanto mais os projetos forem pensados para atender conjuntamente as
necessidades funcionais do maior número possível de pessoas mais será praticado o design
inclusivo, que pode ser definido como o desenvolvimento de produtos e de ambientes, que
permitam a utilização por pessoas de todas as capacidades. (SIMÕES e BISPO, 2006)
E por último, sabe-se da importância do caráter participativo dos usuários na elaboração
desses projetos. Existem três aspectos a serem analisados: o caráter sistêmico (pensar em
todos elementos envolvidos no processo), o caráter participativo (dar voz ao usuário,
principalmente nas fases iniciais e não apenas na validação do projeto) e, por fim, a
necessidade explícita do projeto de design, no sentido de “desenvolvedor de solução” frente
às várias questões levantadas durante a ação ergonômica. (OLIVEIRA e MONT’ALVÃO,
2015)

3. Conclusão
Conclui-se portante, que a ergonomia vem aos poucos ganhando importância como
ferramenta fundamental para o design de interiores e pode trabalhar desde a formalização das

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idéias preliminares até o produto final. A parceria ergonomia-designer de interiores colabora


para a conceituação do trabalho, para o conforto ambiental e funcionalidade do layout. É
necessário pensar em absolutamente tudo, para que a demanda do corpo de cada cliente seja
respeitada e que ele aproveite do conforto, da praticidade, da usabilidade, da funcionalidade e
da estética do ambiente. Em um espaço é preciso tirar proveito dos seus pontos fortes e tentar
anular ou amenizar os pontos fracos. O mercado atual necessita dessas adequações e
utilização de padrões para garantir a segurança dos seus usuários.
Nesses termos, o conhecimento dos conceitos e padrões básicos da Ergonomia e da
Antropometria tornam-se muito importantes na elaboração do projeto. Um projeto bem
desenvolvido tira vantagens das capacidades humanas, considera as limitações e amplifica os
resultados. Portanto, as práticas e conhecimentos ergonômicos possibilitam que o trabalho
seja bem dimensionado, otimizando sua eficácia ao mesmo tempo em que permite que as
pessoas desenvolvam suas atividades em condições mais favoráveis à sua saúde e à
prevenção. A linha de raciocínio que deve manter-se bem clara em relação aos processos
ergonômicos é de que não é o ser humano que deve adaptar-se ao ambiente construído, mas o
ambiente que precisa adaptar-se às condições de cada ser humano.

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