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JURISPRUDÊNCIA COMENTADA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS. DECRETAÇÃO DE PRISÃO CIVIL DO
AGRAVANTE. DESCABIMENTO. NATUREZA INDENIZATÓRIA E NÃO
ALIMENTAR. DECISÃO REFORMADA.
O presente recurso tem por objetivo a reforma da decisão que, nos autos da ação de
execução de alimentos, decretou a prisão civil do agravante. Para tanto, o recorrente
sustentou a impossibilidade da execução pelo rito previsto no art. 528, do CPC, pois a
verba não possui natureza alimentar, vez que fixada apenas como um “aluguel” ou uma
“ajuda de custo” enquanto as partes não partilham o patrimônio comum do casal.
Com efeito, tais verbas tratam-se de espécie de alimentos compensatórios, que não
comportam o rito de prisão civil, por não terem caráter alimentar, mas natureza
indenizatória. Assim, sua eventual inadimplência não sujeita o devedor à coerção
pessoal, devendo, nestes casos, ser aplicado o rito da constrição patrimonial.
Recurso provido.
(TJRS, AI Nº 70078720984, 8ª CC, Rel. Des. José Antônio Daltoé Cezar, J. em 18.08.18)

COMENTÁRIOS

Rafael Calmon
Mestre em Direito Processual Civil pela UFES
Doutorando em Direito Processual Civil pela UERJ
Juiz de Direito

A Ementa acima transcrita teve por base o seguinte caso: em uma ação de separação,
as partes acordaram que o ex-marido pagaria à ex-esposa a importância equivalente a 70% do
salário mínimo nacional, a título de ajuda de custo pelo uso exclusivo dos bens comuns do
casal, até que sobreviesse a partilha. Mas, como ele acabou se tornando inadimplente, foi
promovido o cumprimento de sentença pelo rito estabelecido no art. 528 do CPC/15, e,
oportunamente, proferida decisão decretando sua prisão civil, contra a qual foi interposto o
Agravo de Instrumento em questão.
Nele, a questão de fundo discutida era o cabimento da prisão civil em hipótese de não
pagamento de quantia devida pelo uso exclusivo de coisa comum, tendo a Eg. Câmara
concluído pela inadequação da medida, ao argumento de que a verba exigida naquela relação
processual não possuía “natureza alimentar, vez que fixada apenas como um ‘aluguel’ ou
uma ‘ajuda de custo’ enquanto as partes não partilham o patrimônio comum do casal”.

Em minha opinião, e obviamente respeitando quem pense de forma diferente, a


decisão merece aplausos, pois, bem se sabe que a prisão civil só pode ser decretada diante do
inadimplemento voluntário e inescusável de “obrigação alimentícia”1 (CR, art. 5º, LXVII),
obrigação esta que não engloba as verbas devidas a título indenizatório, ainda que surgidas em
uma relação jurídica de família e ainda que sejam denominadas de alimentos compensatórios.

Contudo, a questão é bastante controvertida, pois as opiniões se dividem a respeito, ao


menos, de dois pontos que circundam o problema: a) o alcance da expressão “obrigação
alimentícia”, contida no texto constitucional, e; b) a feição predominante dos “alimentos
compensatórios”.

Vejamos mais de perto essa divergência.

Como é de conhecimento geral, os alimentos são classificados pela literatura com base
em uma série de critérios. A metodologia que leva em consideração a sua origem é a única
que interessa a estes comentários, contudo. De acordo com ela, os alimentos poderiam ser
categorizados em voluntários, quando derivados da autonomia privada do pagador,
manifestada em negócios jurídicos como contratos ou legados (CC, art. 1.920);
indenizatórios, quando impostos por normas jurídicas que regulam a responsabilidade civil
pela prática de determinados atos ilícitos, a exemplo do homicídio e de lesões corporais que
incapacitem a vítima ao exercício de seu ofício ou profissão (CC, art. 948 e 950), e; legítimos,
quando possuírem conteúdo estritamente alimentar imposto por normas jurídicas de Direito
das Famílias, como aquela atinente à mútua assistência que permeia as uniões familiares (CC,
art. 1.566, III).

As diferentes origens fazem com que cada um desses alimentos apresente, também,
características próprias. Prova disso é que só os alimentos voluntários, ofertados por legado
ou contrato, prescindem de imposição legal para serem fixados, ao passo que, somente os
alimentos indenizatórios podem ser devidos por incapazes, quando as pessoas por eles

1
Súm. Vinculante 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.”
responsáveis não tiverem a obrigação legal de fazê-lo, ou não dispuserem de meios suficientes
(CC, art. 928), e, só os alimentos legítimos são recíprocos entre pais e filhos (CC, art. 1.696).

O mesmo ocorre com as consequências advindas do inadimplemento. Só os


voluntários podem ser revogados por ingratidão do donatário (CC, art. 557, inc. IV), enquanto
somente os indenizatórios podem levar o devedor à constituição de capital para garantir seu
pagamento (CPC, art. 5332), e só os legítimos autorizam a decretação da prisão civil como
forma de compeli-lo a tanto (CPC, art. 528, §3º e 911, par. ún.).

É natural e necessário que seja assim. Afinal, tantas distinções relacionadas à origem e
características não poderiam levar a cenário diverso no que se refere aos efeitos decorrentes
do descumprimento das respectivas obrigações.

No que concerne especificamente à prisão civil, talvez seja possível afirmar que o
entendimento prevalente no Brasil sempre tenha sido no sentido de que somente os
“alimentos legítimos” se encontrariam incluídos na expressão “obrigação alimentícia”, vertida
no texto da Carta de 1988, e, por isso, somente eles atrairiam a aplicação de tal técnica.

Isso justamente por conta da tutela por ela própria conferida à família (arts. 226 e ss.).

Na literatura constitucional, Gilmar Mendes3, por exemplo, relembra que

“por longo tempo, a prisão de caráter civil foi admitida no Brasil, constando sua
previsão em dispositivos do Código Comercial de 1850 (arts. 20, 91, 114 e 284) e do
Código Civil de 1916 (art. 1.287). A Constituição do Império, de 1824, assim como
a Constituição de 1891, nada disseram a respeito da matéria. A proibição
constitucional veio com a Carta de 1934, que, em seu art. 113, n. 30, dispunha que
‘não haverá prisão civil por dívidas, multas ou custas’. A Constituição de 1937 não
tratou do tema, que teve nova disciplina constitucional com a Constituição de 1946,
a qual ressalvou os casos do depositário infiel - como já previa o Código Civil de
1916 (art. 1.287) - e o de inadimplemento da obrigação alimentar (art. 141, §32). O
mesmo tratamento foi dado pela Constituição de 1967 (art. 153, §17) e pela Emenda
Constitucional n. 1 de 1969 (art. 153, §17), que repetiram, com pequenas
modificações, a redação da Carta de 1946: ‘Não haverá prisão civil por dívida, multa
ou custas, salvo o caso do depositário infiel ou do responsável pelo inadimplemento

2
Apesar de ter perdido parte de sua eficácia com a vigência do novo CPC, o texto da Súmula 313 do STJ dispõe
que: “Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória
para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado”.
3
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 601-604. No
mesmo sentido: FACHIN, Rosana Amara. Dever alimentar para um novo direito de família. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005, p. 9.
de obrigação alimentar, na forma da lei’. A Constituição de 1988 repete
praticamente o mesmo texto. A inovação fica por conta da exigência de que o
inadimplemento da obrigação alimentícia seja ‘voluntário e inescusável’, o que
restringe ainda mais o campo de aplicação da prisão civil. Atualmente, a proibição
da prisão civil é um princípio adotado em todos os países cujos sistemas
constitucionais são construídos em torno do valor da dignidade humana, constando
expressamente nos textos constitucionais e em tratados e convenções internacionais
de direitos humanos”.

Acompanhando o posicionamento doutrinário, a jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal sempre caminhou no mesmo sentido4, o que levou a Corte, inclusive, a
oportunamente elaborar a Súmula Vinculante n. 25, banindo de vez a possibilidade de ser
decretado o aprisionamento civil do depositário infiel, independentemente da modalidade de
depósito contratada.

No plano infraconstitucional, o mesmo cenário sempre pode ser identificado. A


literatura civilista5 e processualista6 majoritariamente sustentava o descabimento da prisão
civil fora das hipóteses de alimentos legítimos, sendo acompanhada de perto pelo
entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça e de diversos tribunais estaduais 7, com
raras exceções8.

O aresto abaixo transcrito, destacado de uma porção no mesmo sentido, demonstra


com fidelidade a orientação predominante na Corte Superior:

HABEAS CORPUS. ALIMENTOS DEVIDOS EM RAZÃO DE ATO ILÍCITO.


PRISÃO CIVIL. ILEGALIDADE.
1. Segundo a pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é ilegal a
prisão civil decretada por descumprimento de obrigação alimentar em caso de
pensão devida em razão de ato ilícito.
2. Ordem concedida.
(HC 182.228/SP, DJe de 08.03.11)

4
Por exemplo: RE 466.343/SP, J. em 03.12.08.
5
Exemplificativamente: CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 26;
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito de família. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.
485; NEGRÃO, Theotônio [et al]. Código Civil e legislação civil em vigor. 32. ed. atual. e reform. São Paulo :
Saraiva, 2012, p. 1.048.
6
Assim, p. ex.: DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. v. 4. São Paulo:
Malheiros, 2004, p. 601; THEODORO JR., Humberto. Tutela específica das obrigações de fazer e de não fazer.
Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, n. 105, p. 30.
7
TJMG, Habeas Corpus Cível n. 1101536-73.2018.8.13.0000, Rel. Des. Alberto Henrique, DJ de 07.12.18;
TJDFT, AI n. 20110020133942, Des. Rel. Teófilo Caetano, DJe de 21.11.11.
8
TJSP, AI 1174044007, Rel. Des. Mendes Gomes, J. em 09.06.08; AI 2036673-07.2013.8.26.0000, Rel. Des.
Marrey Uint, J. em 13.05.14; TJRJ, AI 0065690-78.2017.8.19.0000, Rel. Des(a). Renata Machado Cotta, J. em
07.02.18.
Exatamente no mesmo sentido: HC 92.100/DF, DJ de 1º.02.08; HC 35.408/SC, DJ de
29.11.04, e, REsp 93.948/SP, DJ de 1º.06.98.

E, convenhamos, nem poderia ser diferente. Por encampar uma técnica processual
extremamente restritiva de direitos, suas hipóteses de cabimento previstas no texto
constitucional merecem ser interpretadas de forma tão restritiva quanto9.

Sempre foi assim e, ao que parece, merece continuar sendo. Afinal, se a interpretação
deve ser adequada à quadra da história em que nos encontramos e às complexidades por ela
trazidas ao seio social, nada mais justo do que se restringir ainda e cada vez mais a
interpretação da expressão “obrigação alimentícia”, pois a liberdade é um valor cada vez mais
prestigiado por aqui.

Conferindo eco a esse posicionamento e destaque aos novos papéis atribuídos à


norma, ao problema e ao intérprete, Luís Roberto Barroso10 chama atenção para aquilo que
considera “a nova interpretação constitucional”, escrevendo que ela

surge para atender às demandas de uma sociedade que se tornou bem mais complexa
e plural. Ela não derrota a interpretação tradicional, mas vem para atender às
necessidades deficientemente supridas pelas fórmulas clássicas. Tome-se como
exemplo o conceito constitucional de família. Até a Constituição de 1988, havia uma
única forma de se constituir família legítima, que era pelo casamento. A partir da
nova Carta, três modalidades de família são expressamente previstas no texto
constitucional: a família que resulta do casamento, a que advém das uniões estáveis
e as famílias monoparentais. Contudo, por decisão do Supremo Tribunal Federal
passou a existir uma nova espécie de família: a que decorre das uniões
homoafetivas. Veja-se, então, que onde havia unidade passou a existir uma
pluralidade. A nova interpretação incorpora um conjunto de novas categorias,
destinadas a lidar com as situações mais complexas e plurais referidas
anteriormente. [...] Nesse novo ambiente, mudam o papel da norma, dos fatos e do
intérprete. A norma, muitas vezes, traz apenas um início de solução, inscrito em um
conceito indeterminado ou em um princípio. Os fatos, por sua vez, passam a fazer
pane da normatividade, na medida em que só é possível construir a solução
constitucionalmente adequada a partir dos elementos do caso concreto. E o

9
A Introdução do CC/16 possuía dispositivo expresso dispondo que “a lei que abre excepção a regras gerais, ou
restringe direitos, só abrange os casos, que especifica” (art. 6), o qual, apesar de não ter sido repetido pelo
CC/02, introduziu uma verdadeira regra geral de interpretação, que ainda deve ser respeitada.
10
Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 5
ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 347.
intérprete, que se encontra na contingência de construir adequadamente a solução,
torna-se coparticipante do processo de criação do Direito.

Portanto, se a prisão civil era admitida com relativa naturalidade até meados do século
XX, o mesmo não pode ser afirmado atualmente. Tantos textos constitucionais, tratados e
convenções internacionais prestigiando o valor liberdade e normatizando a proibição da prisão
civil, levaram ao entendimento de que a única possibilidade de aprisionamento civil no Brasil
é mesmo aquela decorrente do inadimplemento voluntário e inescusável da obrigação que não
só seja oriunda do Direito das Famílias, mas que possua efetivo conteúdo alimentar, isto é,
que se preste a garantir a subsistência do alimentando11.

Essa conclusão torna possível afirmar inclusive que, mesmo obrigações surgidas no
seio das famílias, em decorrência da aplicação das normas da Ciência do Direito das Famílias,
podem não ostentar o conteúdo alimentar exigido para atrair a incidência da norma a que se
refere o art. 5º, LXVII da Constituição, o que, na prática, impediria completamente a adoção
da técnica da prisão civil como forma legítima de coação para o seu pagamento.

É exatamente isso o que ocorre com os assim chamados “alimentos compensatórios”,


uma vez que, no intuito de reequilibrar o aspecto econômico financeiro do casal que se
encontra em vias de se divorciar e partilhar o patrimônio comum, ostentam feição
predominantemente indenizatória e não alimentar propriamente dita12.

A esse respeito, sequer existe divergência na literatura e na jurisprudência. Rolf


Madaleno, por exemplo, enfatiza que “embora o assunto seja objeto de maior extensão
doutrinária no capítulo dos alimentos, a pensão compensatória não tem, em realidade, um
caráter alimentar, pois seu credor até pode ter emprego ou trabalho e rendimento, posto que
ela justamente se aplica para restabelecer um desequilíbrio produzido como consequência
da dissolução do casamento, com total independência da conduta e responsabilidade do
credor da pensão compensatória, acaso fosse dado pesquisar a causa do divórcio para efeito
de fixação do direito alimentar, mesmo porque, de pensão alimentícia não se trata”13.

Alertando para a confusão que o nome pelo qual o instituto é tratado no Brasil poderia
geral, Paulo Lôbo alerta que “essa denominação e esse enquadramento conceitual (alimentos)
não são apropriados, contudo, porque equívocos. A pretensão compensatória tem finalidades

11
Dentre vários: STJ, RHC 28.853/RS. Rel. Min. Nancy Andrighi. J. em 1º.12.11.
12
Assim: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. 2 ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, p. 90.
13
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, pp. 1054-1055.
distintas da pretensão a alimentos. Por essa razão, o Código Civil francês, com a redação
dada por lei de 2010 ao art. 271, optou pela denominação ‘prestação compensatória’,
enquanto o Código Civil argentino de 2014 (art. 524) utiliza ‘compensação econômica’, que
ganha preferência no direito contemporâneo”14.

Comungando desse entendimento, Maria Berenice Dias chega a sugerir que, “para
evitar confusões, talvez o melhor fosse falar em verba ressarcitória, prestação compensatória
ou alimentos indenizatórios. Afinal, não têm por finalidade suprir as necessidades de
subsistência do credor, mas corrigir ou atenuar grave desequilíbrio econômico-financeiro ou
abrupta alteração do padrão de vida do cônjuge desprovido de bens e de meação15”.

Logo, qualquer tentativa de utilização do rito previsto para a exigência dos alimentos
legítimos representaria emprego indevido, a ser trancado de imediato por decisão declarando
sua inadequação. Do mesmo modo, eventual ameaça de aprisionamento por seu eventual
inadimplemento representaria coação ilegal, combatível pelos instrumentos previstos em
nosso ordenamento jurídico, como, de resto, sempre foi assegurado pela jurisprudência
predominante16.

Porém, há quem pense diferente. Conferindo interpretação ampla ao enunciado do


dispositivo constitucional supra citado, respeitável parcela da literatura sustenta o cabimento
da prisão civil como medida executiva atípica para a efetivação de qualquer decisão judicial
que reconheça direito não-patrimonial, independentemente de sua natureza alimentar, ao
entendimento de que o poder geral de efetivação, consagrado pelo CPC assim autorizaria17.

Com o advento do novo CPC, essa corrente talvez ganhe força, notadamente em razão
do que enuncia seu art. 139 IV, segundo o qual “o juiz pode determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o

14
LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 442. Em sentido semelhante: SIMÃO,
José Fernando. Alimentos compensatórios: desvio de categoria e um engano perigoso. Disponível em:
http://professorsimao.com.br/artigos_simao_cf0413.html. Acesso em: 30.jan.2019.
15
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4 ed. em e-book baseada na 11 ed. impressa. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 984.
16
TJRS, AI 70060142320, Rel. Alzir Felippe Schmitz, j. em 17.07.14; TJRS, AI 70072837461, Rel. Sandra
Brisolara Medeiros, J. em 26.04.17; Ap. Cìvel 70026541623, Rel. Rui Portanova, J. em 04.06.09; TJSC, HC
2012.064736-2, Rel. Denise Volpato, J. em 25.09.12; TJDFT, HC 20090020130788HBC, Rel. Jair Soares; AI
20150020320719AGI, Rel. Cruz Macedo, DJe de 15.07.16; TJSP, AI 2203681-72.2014.8.26.0000, Rel. Rômolo
Russo, DJe de 04.09.15.
17
DIDIER JR., Fredie [et al]. Curso de Direito Processual Civil. V. 5. 5ed. Execução. Salvador: Juspodivm,
2013, pp. 479-481; ARENHART, Sérgio Cruz. Perfis da tutela inibitória coletiva. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 395.
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária”.

De cunho um pouco mais restrito, mas também com fundamento no Código de


Processo Civil de 2015, pode-se observar o crescimento da opinião que defende a aplicação
da prisão civil como forma de compelir o devedor de alimentos indenizatórios a cumprir com
sua obrigação, em razão do reposicionamento topográfico dado pelo legislador à técnica da
constituição de capital, aplicável para assegurar o pagamento desse tipo de alimentos. Como
ela foi inserida no capítulo destinado à disciplina do cumprimento de sentença que reconheça
a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos (art. 533), não demorou para que surgissem
autorizadas vozes sustentando que não apenas a técnica, mas todo esse rito poderia ser
utilizado pelo credor dos alimentos indenizatórios. É o caso de Farias e Rosenvald, de
Marioni, Mitidiero e Arenhart, de Medina e de Dellore18, entre outros.

De acordo com os primeiros, por exemplo, uma interpretação sistêmica e topológica


do tema tornaria possível visualizar-se “o cabimento do uso da prisão civil como mecanismo
de coerção dos alimentos indenizatórios (prestações periódicas) nos mesmos moldes dos
alimentos familiares. Não se pense, porém, que haveria uma afronta ao Texto Constitucional
(CF, art. 5º, LXVII), uma vez que a Norma Maior não restringe a prisão civil a uma técnica
coercitiva dos alimentos familiares e, ademais, porque a natureza das prestações periódicas é
alimentícia”19.

Na jurisprudência, já se mostra possível encontrar alguns acórdãos nesse sentido no


TJRS20 e no TJRJ21, por exemplo.

Apesar de esses posicionamentos serem absolutamente respeitáveis, talvez o ideal seja


continuar admitindo-se a prisão civil no Brasil em caráter excepcional e, exclusivamente, com
o fim de se coibir o devedor de alimentos legítimos em sentido estrito a arcar com sua
obrigação, pois normas de direito infraconstitucional jamais teriam força suficiente para

18
MARINONI, Luiz Guilherme [et al]. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016; MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015. p. 834. DELLORE, Luiz. Cabe prisão do devedor de alimentos por ato ilícito?. Disponível
em: https://www.jota.info/?pagename=paywall&redirect_to=//www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/novo-
cpc/novo-cpc-22062015. Acesso em: 30.jan.19.
19
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias. V. 6. 9 ed. Salvador:
Juspodivm, 2017, p. 769.
20
TJRS, HC 70074884990, J. em 02.05.18; HC 70075539338, Rel. Des. Antônio Maria Rodrigues de Freitas
Iserhard, J. em 28.03.18; AI 70071134027, Rel. Des. Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, J. em 26.04.17.
21
TJRJ, AI 0036707-35.2018.8.19.0000, Rel. Des(a). WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS, J. em
19/09/18.
reverter todo o sistema amparado em um regime constitucional que prevê a liberdade como
regra.

Conclusão

Alimentos indenizatórios não são alimentos propriamente ditos. Embora arbitrados em


uma relação de família, representam, na verdade, uma verba de caráter predominantemente
indenizatório que, por isso, não autorizam o emprego do rito do cumprimento/execução de
alimentos para sua cobrança, tampouco o uso da técnica da prisão civil, que deve ser
resguardada ao procedimento destinado à exigência das verbas de conteúdo estritamente
alimentar.

Mas, não se pode negar que o novo CPC incentivou os defensores da corrente contrária
a permanecerem sustentando o aprisionamento do devedor de alimentos indenizatórios.
Agora, saber se os alimentos compensatórios seguirão o mesmo rumo, é questão que só o
tempo responderá.

REFERÊNCIAS

ARENHART, Sérgio Cruz. Perfis da tutela inibitória coletiva. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos


fundamentais e a construção do novo modelo. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2015

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006

DELLORE, Luiz. Cabe prisão do devedor de alimentos por ato ilícito?. Disponível em:
https://www.jota.info/?pagename=paywall&redirect_to=//www.jota.info/opiniao-e-
analise/colunas/novo-cpc/novo-cpc-22062015. Acesso em: 30.jan.19.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4 ed. em e-book baseada na 11 ed.
impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016

DIDIER JR., Fredie [et al]. Curso de Direito Processual Civil. V. 5. 5ed. Execução. Salvador:
Juspodivm, 2013

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. v. 4. São Paulo:


Malheiros, 2004

FACHIN, Rosana Amara. Dever alimentar para um novo direito de família. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias. V.
6. 9 ed. Salvador: Juspodivm, 2017

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito de família. 7 ed. São Paulo:
Saraiva, 2010

LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2017

MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018

MARINONI, Luiz Guilherme [et al]. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016

MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2015

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010

NEGRÃO, Theotônio [et al]. Código Civil e legislação civil em vigor. 32. ed. atual. e reform.
São Paulo: Saraiva, 2012

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. 2 ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018

SIMÃO, José Fernando. Alimentos compensatórios: desvio de categoria e um engano


perigoso. Disponível em: http://professorsimao.com.br/artigos_simao_cf0413.html. Acesso
em: 30.jan.2019

THEODORO JR., Humberto. Tutela específica das obrigações de fazer e de não fazer. Revista
de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002

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