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O gráfico acima mostra que a nação brasileira, pela primeira vez na história, entre 2011 e
2024, deve ficar, pelo menos, 14 anos com desempenho abaixo do ritmo médio da economia
mundial e muito abaixo da média dos países emergentes. Isto nunca tinha acontecido antes e
pode estar se tornando a nova norma, num processo de estagnação secular e de
envelhecimento precoce da economia nacional.
Considerando alguns períodos mais longos, também com dados do FMI (abril de 2019), nota-se
que o ritmo de crescimento econômico dos países emergentes aumentou de 4,5% ao ano no
período 1980-2010, para 4,7% aa no período mais amplo de 1980-2024 e chegou a 4,9% aa
quando se considera somente os 14 anos entre 2011-24, conforme a tabela abaixo. A média
mundial manteve o ritmo de 3,6% ao ano no três períodos. Já o Brasil apresentou queda
regressiva, pois teve média de crescimento de 2,8% aa entre 1980-2010, de 2,3% aa entre
1980-2024 e somente 1,0% aa nos últimos 14 anos, entre 2011-24.
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Com o baixo crescimento econômico, houve uma quase estagnação da renda dos brasileiros. A
renda per capita da população brasileira era de US$ 11,4 mil em 1980 e caiu para US$ 10,4 mil
em 1992. Houve uma recuperação nos anos seguintes e a renda per capita chegou a US$ 11,7
mil em 2002, pouco acima daquela de 1980. Na primeira década do século XXI a renda per
capita deu o maior salto e foi para US$ 15,1 mil em 2011 e atingiu o pico histórico em 2013,
com US$ 15,6 mil. Mas a renda per capita começou a cair com a recessão de 2014 e atingiu o
nível mais baixo em 2016, com US$ 14,3 mil. Nos anos seguintes a renda teve uma lenta
recuperação, mas só deve atingiu o nível de 2011 em 2022 (com US$ 15,3 mil) e deve atingir o
nível de 2013, se tudo ocorrer bem como nas projeções do FMI, somente em 2024 (com US$
15,8 mil).
Nos 40 anos entre 1940 e 1980 a renda per capita brasileira cresceu mais de 4 vezes, mas nos
44 anos entre 1980 e 2024 deve crescer apenas 1,4 vezes. Ou seja, o Brasil teve uma década
perdida nos anos de 1980 e uma segunda década perdida nos anos 2010. A renda per capita
brasileira está praticamente estagnada. O país está ficando para trás em relação à média
mundial e, principalmente, à média das economia emergentes. E o pior é que as projeções do
FMI para 2019 a 2024 – acima de 2% ao ano – podem não se realizar e o resultado final pode
ser ainda mais desalentador.
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Estes 14 anos (2011-2024) em que o Brasil cresce menos que a média mundial vieram no pior
momento possível pois o país está desperdiçando os últimos momentos da janela de
oportunidade demográfica. A perda desta oportunidade pode representar o fim do sonho da
construção de um país próspero, de renda per capita alta e de alto Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). O drama é que o bônus demográfico só acontece uma vez na história de cada
país e não aproveitá-lo pode significar a condenação à condição de país eternamente
acorrentado ao subdesenvolvimento e à “armadilha da renda média”.
Nas palavras de Delfim: “em 1947, o PIB brasileiro per capita (nossa produtividade) era 18% do
americano; em 1980, 36% (tinha dobrado) e em 2017, regredido para 26%. Em outras palavras:
entre 1947-1980, crescemos 2,2% ao ano acima dos EUA, e entre 1980-2017, decrescemos
0,9% ao ano em relação a eles!”, como mostra o gráfico abaixo.
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Isto quer dizer que a crise fiscal do Estado brasileiro está prejudicando toda a sociedade,
mantendo altas taxas de desemprego e fazendo a renda per capita ficar estagnada ou
decrescente. Os últimos dados do FMI mostram que, no quinquênio 2015-20, a taxa de
poupança da economia brasileira está em torno de 14% do PIB e a taxa de investimento em
torno de 16%. Nesse nível, jamais haverá recuperação e progresso.
O pior é que não se vê uma luz no fim do túnel. O processo de apequenamento e encolhimento
relativo da economia brasileira já tem cerca de quatro décadas. O que difere um governo do
outro é o grau e a rapidez da trajetória submergente. O Brasil saiu de uma trajetória emergente
(entre 1822 e 1980) para uma trajetória submergente (a partir de 1981). A democracia
brasileira está em perigo e a sociedade civil está enfraquecida e bestificada. Só uma tomada de
consciência e uma grande mobilização de baixo para cima pode sacudir a poeira e dar a volta
por cima.
Referências:
ALVES, JED. A trajetória submergente da nação brasileira em 10 figuras, Ecodebate, 07/11/18
https://www.ecodebate.com.br/2018/11/07/a-trajetoria-submergente-da-nacao-brasileira-em-
10-figuras-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Delfim Neto, Estado autofágico. FSP, 20/03/2019
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim/2019/03/estado-autofagico.shtml
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