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Demonologia
O grande doutor da Igreja, Tomás de Aquino, é conhecido também pela famosa alcunha de
"Doutor Angélico", por empreender, em sua grandeza intelectual, o talvez mais importante estudo
sobre os santos Anjos e a ação demoníaca.
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A propósito dos anjos, é correto dizer que foram criados por Deus, conforme se
vê na profissão de fé do IV Concílio de Latrão, citado pelo Catecismo da Igreja
Católica:
Santo Tomás afirmou que os anjos são espíritos puros, não possuem matéria.
Este entendimento é o mesmo apresentado pelo Catecismo, que assim os define:
"Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de
vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as
criaturas visíveis." (330) Na literatura católica, há quem discorde da proposição
de Santo Tomás e afirme que os anjos possuem uma espécie de "corpo sutil",
como São Boaventura, porém, parece prevalecer a opinião do Aquinate.
Existe uma gradação na criação: os seres puramente materiais dão origem à vida
vegetativa, que dá origem à vida animal, que origina a vida espiritual/racional,
ainda ligada ao corpo e assim por diante. Diante disso, entre o homem e Deus
está a realidade angélica. Os anjos não são puro espírito infinito, como Deus
nem espírito ligado à matéria como o homem. Eles ocupam o espaço entre o
homem e Deus.
Além de ser lógica, a reflexão do Doutor Angélico explica o fato de que os anjos
parecem não estar limitados nem pelo espaço nem pelo tempo. Eles não estão
em um lugar, posto que não possuem corpo. Como explicar, então, quando se
diz que "o Diabo entrou ou saiu de um corpo" ou "os anjos estão aqui"? Ora,
"convém ao anjo estar em um lugar", diz Santo Tomás. Ocorre que esse estar em
um lugar não deve ser entendido como quando se refere a um corpo, pois, nesse
caso, o corpo pode ser dimensionado, o que não se dá com os anjos. Eles
exercem influência sobre o lugar e sobre as pessoas. Deste modo, "é pela
aplicação do poder angélico a um lugar, de certa maneira, que se diz que o anjo
está em um lugar corpóreo"(cf. q. 52, a. 1). Entender esse ponto será deveras
importante quando o estudo for sobre a ação demoníaca propriamente dita.
Os anjos são puro espírito e não possuem o que os homens entendem por afeto,
afetividade. Apesar disso, eles podem amar, pois o amor é um ato de vontade e
requer o que eles possuem: inteligência e vontade.
Para Santo Tomás, Deus criou os anjos, mas estes não O viam. Em certo
momento, Deus revelou-se a eles de modo indireto e lhes deu uma escolha de
amor. Alguns, num ato de amor optaram por escolher a Deus e, assim, foram
admitidos à Sua presença. Desse momento em diante, ao contemplarem a visão
beatífica de Deus, perderam a sua liberdade, foram irrevogavelmente atraídos
para Ele.
Embora não se saiba em que consistiu a prova dos anjos, é certo que alguns
deles não aceitaram e incorreram em desobediência. Como os anjos são seres
incorpóreos não poderiam ter cometido pecados ligados à carne, portanto, dos
pecados conhecidos pelo homem somente a soberba e a inveja podem ter sido a
causa de Satanás e seus demônios terem ido contra Deus.
A soberba, que é o pecado principal, consistiu em querer ser igual a Deus. Ora,
se um anjo é um ser inteligente, intuitivo, como é possível que ele tenha
desejado ser igual a Deus? O Doutor Angélico explica que Satanás não desejou
ser igual a Deus em sua natureza, pois sabia ser impossível. Mas sim, por
semelhança. Isso quer dizer que Satanás preferiu ser Deus a partir de sua própria
natureza, sem contar com o dom sobrenatural da graça. Movido pela soberba,
procurou a autossatisfação, voltando as costas para o Criador.
É claro que Deus poderia ter fechado a porta de acesso ao homem e o motivo
pelo qual não o fez constitui-se um enigma, sobretudo quando se vê na oração
do Pai-Nosso uma alusão clara à tentação, o que se pode significar que Deus
permite ação diabólica, mas que cabe ao homem não sucumbir a ela.
Santo Tomás continua sua reflexão sobre os anjos explicando que o número
daqueles que decaíram foi menor do que daqueles que permaneceram fiéis a
Deus. Existem miríades e mais miríades de anjos bons, portanto, a realidade
angelical é muito maior e triunfante que a diabólica. O livro do Apocalipse diz
que "um terço das estrelas caíram" (cf. Ap 12,4) e disso se pode inferir que um
terço dos anjos foram precipitados.
Da mesma forma que existe uma hierarquia entre os Santos Anjos, existe
também uma ordem de importância entre os demônios. Satanás tem
preponderância sobre os demais anjos decaídos. Ele pode ser chamado por
muitos nomes: Satanás, Diabo, Lúcifer, sempre significando anjo de luz, maior,
mais glorioso que todos os outros. Justamente essa grandiosidade que fomentou
o pecado da soberba. E foi o pecado dele que levou os outros anjos a pecarem
também.
O artigo 3 fala sobre a dor existente nos demônios. Eles sofrem. Mas, como
sofrem se não possuem corpo? "Enquanto paixões, o temor, a alegria, a dor e
atos semelhantes não podem existir nos demônios, pois são próprios do apetite
sensitivo, que é uma faculdade que supõe um órgão corporal." Santo Tomás
continua explicando que:
Sabe-se que os demônios quereriam que muitas coisas que existem não
existissem, e que existissem muitas coisas que não existem, pois, invejosos,
quereriam a condenação dos que foram salvos. Daí se deve dizer que eles
têm dor, até porque é da razão da pena ser contrária à vontade. Ademais, se
os demônios estão privados da felicidade natural que podem desejar, e em
muitos deles, encontra-se inibida sua vontade pecadora.
Algumas ideias são insuportáveis para os demônios, como por exemplo, o nome
da Virgem Santíssima. Eles ficam desnorteados à simples menção dele e, com
isso, sofrem. Este dado é importantíssimo para se entender alguns gestos e
palavras proferidos durante o exorcismo.
Por fim, o artigo 4 que trata do lugar da pena dos demônios. O Doutor Angélico
explica que "por sua natureza, os anjos estão entre Deus e os homens" e que "há
dois lugares para a pena dos demônios: um, por causa da sua culpa, que é o
inferno; outro, por causa de suas ações sobre os homens, e assim lhes é devida a
atmosfera tenebrosa."
Ele instrui que, da mesma forma que existem anjos bons no céu servindo às
almas santas, existem demônios cuja missão é atormentar ainda mais os que
induziram ao mal.
É possível dizer que "o lugar não é de pena para o anjo ou para alma como se os
afetasse modificando-lhes a natureza, mas como se lhes afetasse a vontade,
contristando-a. Tanto o anjo quanto a alma percebem que estão num lugar que
não corresponde à própria vontade."
Existe, portanto, uma área da criação que foi entregue por Deus aos demônios
para que pudessem agir. Trata-se de um mistério da providência divina.
Contudo, Jesus Cristo veio ao mundo justamente para tirar esse domínio dos
demônios e verdadeiramente salvar o homem.
Nota
Errata 1: No vídeo, aos 16:05, Padre Paulo Ricardo cita o nº 995 do Catecismo da Igreja Católica,
porém, o número correto é 395.
Errata 2: Aos 2:42, Padre Paulo Ricardo fala que o estudo sobre os Anjos encontra-se na parte
referente ao reditus, porém, o correto é exitus.
Bibliografia
"Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
Áudio da aula
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