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Escrito numa prosa ágil, decidida e eficiente, mas nem por isso menos lírica, o primeiro
romance do Marcelo dá desdobramentos em ficção para algumas características cruciais da
sua produção recente em poesia: temos, em "Paraízo-Paraguay", a poética enciclopédica e a
contundência estilística do "Enclave"; o fundo nostálgico assombroso de "Trapaça"; e a
marginalidade social e regional reinvidicada pelo recentíssimo "Poeta Periférico", um poema-
manifesto que, pela edição caseira, inaugura também a vontade recente do autor de ter a
própria editora - o que será concretizado com a publicação deste primeiro romance.
Com técnica literária atualizadíssima, misturando influências que vão do estilo documental-
televisivo à intercalação mais ou menos organizada de fragmentos espaço-temporais
heterogêneos - em vinhetas de vozes anônimas que são como intervalos férteis e dinâmicos no
corpo da trama central - que, por sua vez, é trabalhada com linearidade clássica -, "Paraízo-
Paraguay" é capaz de proporcionar boa fruição estética, potencializada pelo evidente caráter
combativo de pensar a história da própria cidade e da própria ascendência no contrapelo da
rígida narrativa oficial. "Paraízo-Paraguay", assim, acerta duas vezes: por contar, e muito bem,
uma ótima história; e por apresentar um trabalho desfolclorizante de fôlego, sempre seguindo
a linha da desconcertante aliança entre agudeza e leveza que já está virando marca registrada
de seu escritor.
Recomendadíssimo.