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João de Almeida
João Luiz da Silva Almeida
DO EFEITO VINCULANTE:
SUA LEGITIMAÇÃO E APLICAÇÃO
Produção Editorial
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brasil
Para meus pais:
Ivan Demetri Silva, que desde cedo me ensinou
o valor da retidão e honradez de caráter;
Irani de Albuquerque Silva, que me preparou
para vida, ensinando-me o caminho do amor e dos
sentimentos nobres.
vii
2.1. A vinculação necessária entre o princípio da legalidade e
controle judicial ............................................................................. 58
3. O princípio da legalidade ampliado – seu sentido........................... 60
3.1. O positivismo jurídico de Herbert Hart – o direito como siste-
ma de regras .................................................................................. 61
3.1.1. O direito como um sistema de ordens baseado em
ameaças ............................................................................... 62
3.1.2. O sentido das regras .......................................................... 63
3.1.3. Direito como um sistema de regras primárias e secun-
dárias ................................................................................... 65
3.2. A doutrina pós-positivista de Ronald Dworkin – o “direito co-
mo sistema de regras e princípios” ............................................ 67
3.2.1. Um conceito de direito ....................................................... 69
3.2.2. O princípio da integridade ................................................ 71
3.2.3. A concepção do direito como integridade....................... 74
4. Princípio da legalidade e efeito vinculante ....................................... 78
4.1. Crítica à legitimação do efeito vinculante pelo princípio da
legalidade....................................................................................... 86
4.2. A nova hermenêutica – resposta à crítica.................................. 87
4.2.1. A função normativa da interpretação judicial na nova
hermenêutica ...................................................................... 91
4.2.2. A vinculação das decisões proferidas em sede de inter-
pretação conforme a constituição e de inconstituciona-
lidade parcial sem redução de texto. O reconhecimen-
to e autorização do legislador à função normativa da
interpretação judicial na nova hermenêutica.................. 96
Capítulo 3 – Democracia e Efeito Vinculante ......................................... 103
1. Introdução ............................................................................................. 103
2. Democracia dos Antigos e Democracia dos Modernos ................... 105
3. O que é democracia? ........................................................................... 110
4. Liberdade .............................................................................................. 113
4.1. Dois conceitos de liberdade......................................................... 115
4.1.1. Conceito de liberdade negativa ........................................ 115
4.1.2. Conceito de liberdade positiva ......................................... 117
4.1.3. A liberdade na Democracia ............................................... 118
5. Democracia e efeito vinculante .......................................................... 120
5.1. O princípio majoritário.................................................................. 121
5.2. Democracia e independência judicial......................................... 125
5.2.1. Independência judicial e imparcialidade......................... 126
5.2.2. Liberdade democrática e Efeito vinculante..................... 135
viii
PARTE II – DA APLICAÇÃO DO EFEITO VINCULANTE
ix
3.2. Método abstrato-normativo ......................................................... 213
3.3. Análise dos métodos .................................................................... 215
4. Um caso ilustrativo .............................................................................. 219
5. Conseqüências processuais decorrentes da adoção do efeito vin-
culante ................................................................................................... 222
5.1. Medida cabível da decisão posterior que afronte o preceden-
te vinculante .................................................................................. 222
5.2. Limites objetivos da decisão vinculante .................................... 223
5.2.1. Leis/atos normativos de conteúdo semelhante .............. 227
5.3. A concessão de liminar nos processos de controle concentra-
do de constitucionalidade ............................................................ 230
5.3.1. Efeitos da concessão de liminar nas ações declaratórias
de constitucionalidade....................................................... 230
5.3.2. Efeitos da concessão de liminar nas ações diretas de
inconstitucionalidade ......................................................... 232
5.3.3. Efeitos da concessão de liminar nas ações de argüição
de descumprimento de preceito fundamental ............... 235
5.4. Efeitos da denegação de liminar nas ações de controle con-
centrado da constitucionalidade de lei ...................................... 235
6. Limites subjetivos da decisão proferida no precedente.................. 242
6.1. Vinculação das instâncias inferiores do Poder Judiciário e do
Poder Executivo............................................................................. 242
6.1.1. Legitimidade ativa para propor reclamação visando
garantir a autoridade da decisão da corte superior do-
tada de efeito vinculante ................................................... 244
6.2. Vinculação da própria corte prolatora da sentença .................. 245
6.3. A distinção (distinguish) .............................................................. 247
6.3.1. Limitando a regra com base em inconsistência com
outra regra ........................................................................... 248
6.3.2. Limitando a regra com base em claro e inadvertido erro . 250
6.3.3. Limitando a regra em situações que a corte vinculante
claramente não queria que fossem abrangidas pela re-
gra fixada............................................................................. 251
6.3.4. Ampliando a regra fixada no precedente em razão de
um desenvolvimento posterior do direito ........................ 256
Capítulo 6 – A Mudança na Doutrina Vinculante .................................. 259
1. Introdução ............................................................................................. 259
2. Razões que legitimam a mudança na doutrina vinculante ............. 262
2.1. A completa invalidação da doutrina vinculante (overruling)... 266
2.1.1. Doutrina obsoleta e desfigurada....................................... 267
x
2.1.2. A doutrina é atualmente considerada plena e substan-
cialmente injusta e/ou incorreta ....................................... 272
2.1.3. A doutrina é inexeqüível ................................................... 278
2.2. A invalidação da doutrina com efeitos futuros (prospective
overruling) ...................................................................................... 284
2.3. A técnica de sinalização/aviso (signaling/caveat) .................... 295
2.4. Invalidação parcial da regra (Overriding) .................................. 296
3. Anotações sobre a compatibilidade do overruling e overriding e a
doutrina do efeito vinculante.............................................................. 303
Considerações Finais ................................................................................ 305
Referências Bibliográficas ........................................................................ 311
xi
Apresentação
xiii
A Emenda Constitucional no 3, promulgada em 16 de março de
1993, que, no que diz respeito à ação declaratória de constitucionalida-
de, inspirou-se direta e imediatamente na Emenda Roberto Campos,
consagra que “as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalida-
de de lei ou ato normativo federal, produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e
do Poder Executivo” (art. 102, § 2o).
Mais recentemente, a Lei no 9.868, de 1999, estabeleceu, no art. 28,
parágrafo único, que “a declaração de constitucionalidade ou de incons-
titucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e
declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, tem
eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder
Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal”.
Assim, o legislador assumiu uma nítida posição com o objetivo de
interpretar o efeito vinculante, que, na referida fórmula, passa a abran-
ger não só as decisões proferidas na ação declaratória de constitucio-
nalidade, mas também aquelas adotadas na ação direta de inconstitu-
cionalidade.
Tal constatação parece legitimar a investigação sobre o significa-
do do “efeito vinculante”, inspirado diretamente pela chamada
Bindungswirkung do direito germânico (§ 31, I, da Lei da Corte Consti-
tucional alemã).
A doutrina constitucional alemã há muito vinha desenvolvendo
esforços para ampliar os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada
no âmbito da jurisdição estatal (Staatsgerichtsbarkeit). Importantes
autores sustentaram, sob o império da Constituição de Weimar, que a
força de lei não se limitava à questão julgada, contendo, igualmente,
uma proibição de reiteração (Wiederholungsverbot) e uma imposição
para que normas de teor idêntico, que não foram objeto da decisão judi-
cial, também deixassem de ser aplicadas por força da eficácia geral.
Essa concepção refletia, certamente, a idéia dominante à época de
que a decisão proferida pela Corte teria não as qualidades de lei
(Gesetzeseigenschaften), mas, efetivamente, a força de lei
(Gesetzeskraft). Afirmava-se inclusive que o Tribunal assumia, nesse
caso, as atribuições do Parlamento ou, ainda, que se cuidava de uma
interpretação autêntica, tarefa típica do legislador. Em se tratando de
interpretação autêntica da Constituição, não se cuidaria de simples
legislação ordinária, mas, propriamente, de legislação ou reforma cons-
titucional (Verfassungsgesetzgebung; Verfassungsänderung) ou de
xiv
decisão com hierarquia constitucional (Entscheidung mit
Verfassungsrang).
Embora o conceito de Bindungswirkung (efeito vinculante) corres-
ponda a uma tradição do direito alemão, tendo sido também adotado
por diversas leis de organização de tribunais constitucionais estaduais
aprovadas após a promulgação da Lei Fundamental, não se pode afir-
mar que se trate de um instituto de compreensão unívoca pela doutri-
na. Não são poucas as questões que se suscitam a propósito desse ins-
tituto, seja no que concerne aos seus limites objetivos, seja no que res-
peita aos seus limites subjetivos e temporais.
Entre nós, pretendeu-se, com o efeito vinculante, conferir eficácia
adicional à decisão do Supremo Tribunal Federal, outorgando-lhe am-
plitude transcendente ao caso concreto. Os órgãos estatais abrangidos
pelo efeito vinculante devem observar, pois, não apenas o conteúdo da
parte dispositiva da decisão, mas a norma abstrata que dela se extrai,
isto é, que determinado tipo de situação, conduta ou regulação – e não
apenas aquela objeto do pronunciamento jurisdicional – é constitucio-
nal ou inconstitucional e deve, por isso, ser preservado ou eliminado.
O Supremo Tribunal Federal percebeu que não poderia deixar de
atribuir significado jurídico à declaração de inconstitucionalidade pro-
ferida em sede de controle incidental, ficando o órgão fracionário de
outras Cortes exonerado do dever de submeter a declaração de incons-
titucionalidade ao plenário ou ao órgão especial, na forma do art. 97 da
Constituição. Não há dúvida de que o Tribunal, nessa hipótese, acabou
por reconhecer efeito jurídico transcendente à sua decisão. Embora na
fundamentação desse entendimento fale-se em quebra da presunção
de constitucionalidade, é certo que, em verdade, a orientação do
Supremo acabou por conferir à sua decisão algo assemelhado a um
efeito vinculante, independentemente da intervenção do Senado. Esse
entendimento está hoje consagrado na própria legislação processual
civil (CPC, art. 481, parágrafo único, parte final, na redação da Lei no
9.756, de 17.12.1998).
Como se sabe, a ampliação do sistema concentrado, com a multi-
plicação de decisões dotadas de eficácia geral, acabou por modificar
radicalmente a concepção que dominava entre nós sobre a divisão de
poderes, tornando comum no sistema a decisão com eficácia geral, que
era excepcional sob a Emenda Constitucional de 16/65 e sob a Carta de
1967/69.
No sistema constitucional de 1967/69, a ação direta era apenas
uma idiossincrasia no contexto de um amplo e dominante modelo difu-
xv
so. A adoção da ADI, posteriormente, conferiu perfil diverso ao nosso
sistema de controle de constitucionalidade, que continuou a ser um
modelo misto. A ênfase passou a residir, porém, não mais no modelo
difuso, mas nas ações diretas.
O advento da Lei no 9.882/99 conferiu conformação à ADPF, admi-
tindo a impugnação ou a discussão direta de decisões judiciais das ins-
tâncias ordinárias perante o Supremo Tribunal Federal. Tal como esta-
belecido na referida lei (art. 10, § 3o), a decisão proferida nesse proces-
so há de ser dotada de eficácia erga omnes e de efeito vinculante. Ora,
resta evidente que a ADPF estabeleceu uma ponte entre os dois mode-
los de controle, atribuindo eficácia geral a decisões de perfil incidental.
Vê-se, assim, que a Constituição de 1988 modificou de forma
ampla o sistema de controle de constitucionalidade, sendo inevitáveis
as reinterpretações ou releituras dos institutos vinculados ao controle
incidental de inconstitucionalidade, especialmente da exigência da
maioria absoluta para a declaração de inconstitucionalidade e da sus-
pensão de execução da lei pelo Senado Federal (art. 52, X, da CF 88).
Como se vê, as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal
em sede de controle incidental acabam por ter eficácia que transcende
o âmbito da decisão, o que indica que a própria Corte vem fazendo uma
releitura do texto constante do art. 52, X, da Constituição de 1988, que,
como já observado, reproduz disposição estabelecida, inicialmente, na
Constituição de 1934 (art. 91, IV) e repetida nos textos de 1946 (art. 64)
e de 1967/69 (art. 42, VIII).
Portanto, é outro o contexto normativo que se coloca para a sus-
pensão da execução pelo Senado Federal no âmbito da Constituição de
1988.
Ao se entender que a eficácia ampliada da decisão está ligada ao
papel especial da jurisdição constitucional e, especialmente, se consi-
derarmos que o texto constitucional de 1988 alterou substancialmente
o papel desta Corte, que passou a ter uma função preeminente na guar-
da da Constituição a partir do controle direto exercido na ADIn, na ADC
e na ADPF, não há como deixar de reconhecer a necessidade de uma
nova compreensão do tema.
De qualquer sorte, a natureza idêntica do controle de constitucio-
nalidade, quanto às suas finalidades e aos procedimentos comuns
dominantes para os modelos difuso e concentrado, não mais parece
legitimar a distinção quanto aos efeitos das decisões proferidas no con-
trole direto e no controle incidental.
xvi
Somente essa nova compreensão parece apta a explicar o fato de
o Tribunal ter passado a reconhecer efeitos gerais à decisão proferida
em sede de controle incidental, independentemente da intervenção do
Senado. O mesmo há de se dizer das várias decisões legislativas que
reconhecem efeito transcendente às decisões do STF, tomadas em sede
de controle difuso.
É possível, sem qualquer exagero, falar-se aqui de uma autêntica
mutação constitucional em razão da completa reformulação do sistema
jurídico e, por conseguinte, da nova compreensão que se conferiu à
regra do art. 52, X, da Constituição de 1988. Valendo-nos dos subsídios
da doutrina constitucional a propósito da mutação constitucional,
poder-se-ia cogitar aqui de uma autêntica reforma da Constituição sem
expressa modificação do texto.
Em verdade, a aplicação que o Supremo Tribunal Federal vem con-
ferindo ao disposto no art. 52, X, CF, indica que o referido instituto
mereceu uma significativa reinterpretação a partir da Constituição de
1988.
Assim, é de se esperar que a adoção da Súmula vinculante venha
a acelerar a necessária revisão da jurisprudência sobre o papel do
Senado Federal em sede de controle incidental de normas, permitindo
que se atribua eficácia geral à declaração de inconstitucionalidade da
lei proferida pelo Supremo Tribunal também no modelo difuso.
Sobre a questão do papel exercido pelo Senado Federal no contro-
le difuso de constitucionalidade, anota Celso Albuquerque:
xvii
trina vinculante, mediante análise de diversos modelos de vinculação
aos precedentes judiciais, terminando, no capítulo terceiro, por abor-
dar, com bastante acerto, a tensão existente entre a necessidade de
estabilidade do sistema jurídico e as demandas de flexibilidade do sig-
nificado dos conteúdos das normas legais, a fim de adaptá-las às dinâ-
micas demandas da justiça social.
O autor contempla, pois, tema da maior importância para o desen-
volvimento e consolidação de nosso sistema constitucional.
Estou certo de que o estudo desenvolvido configura contribuição
significativa para o estudo do controle de constitucionalidade e o apri-
moramento da função jurisdicional em nosso país.
Brasília, maio de 2005.
xviii
Introdução
xix
cará aprofundar a discussão sobre os fundamentos teóricos para uma
correta operacionalização do efeito vinculante.
Na primeira parte foram selecionados três princípios legitimado-
res do instituto do efeito vinculante. O princípio da isonomia, o princí-
pio da legalidade e o princípio democrático. Os dois primeiros porque
são eles que historicamente justificaram a adoção desse efeito no sis-
tema jurídico da common law onde tomou a forma da doutrina do stare
decisis. O último, porque tem sido utilizado pela doutrina nacional, jun-
tamente com os dois primeiros para, paradoxalmente, criticar o institu-
to do efeito vinculante. Com base nesses princípios, pretende-se refu-
tar todas essas críticas e reavivar a idéia original de que eles, longe de
repelir, em verdade legitimam o “efeito vinculante”.
Nesse passo, impende ressaltar que, classicamente, o efeito vin-
culante tem sido considerado a melhor política judicial porque permite
concretizar a regra de justiça consubstanciada no mandamento isonô-
mico de que os iguais devem ser tratados igualmente. Desse princípio
deflui a regra de que litígios judiciais substancialmente semelhantes
devem ser destinatários de decisões judiciais idênticas. Essa regra de
justiça, portanto, exige um coerente tratamento dos casos judiciais. As
decisões judiciais precisam ser justificadas e é essa necessidade de
justificação que impõe uma exigência de coerência com padrões públi-
cos de justiça. Um desses princípios públicos de justiça é, como visto,
o de que casos iguais devem ter tratamento igual. Como a coerência
das decisões judiciais se dá com princípios públicos de justiça, esses
princípios são externos à própria decisão e se aplicam tanto a decisões
concomitantes como a decisões futuras, e essa aplicação a decisões
futuras é que forma a base legitimadora da adoção do efeito vinculan-
te de precedentes judiciais, conferindo uniformidade no tratamento
jurídico dos litígios sociais.
O segundo princípio que legitima a adoção do efeito vinculante é
o princípio da legalidade que encarna o ideal do governo das leis – rule
of law. As vantagens da adoção da rule of law são classicamente refe-
renciadas à previsibilidade do significado das leis e dos resultados de
sua aplicação, com o que se maximiza a liberdade dos cidadãos ao tor-
nar previsíveis as conseqüências legais de suas ações, permitindo-lhes
planejar e estruturar suas vidas em padrões razoáveis de confiabilida-
de. Como consectário, obtém-se um ganho líquido de eficiência na ges-
tão dos conflitos sociais pela natural redução de demandas que aumen-
tariam exponencialmente na ausência de regras claras de conduta.
xx
É o princípio da legalidade que garante consistência da ordem
jurídica e essa consistência deve se traduzir também nas decisões judi-
ciais, pois que o ordenamento jurídico nada mais é do que sua interpre-
tação que, em última instância, é levada a efeito pelo poder judiciário.
O efeito vinculante assegura essa consistência judicial ao tornar obri-
gatório o dever das cortes inferiores obedecerem os precedentes das
cortes superiores. Não é por outra razão que tanto teorias positivistas
quanto pós-positivistas sobre o que é o direito, devidamente tratadas
no capítulo 2 da primeira parte, acolhem em seu seio esse instituto.
A seu turno, o princípio democrático também pode ser considera-
do como legitimador do efeito vinculante. A uma, porque a obrigatorie-
dade de seguir os precedentes da corte superior atua como um auto-
controle da função judicial (self restraint), funcionando como um ante-
paro ao arbítrio judicial que poderia advir do exercício de um poder
absolutamente livre de qualquer obrigação de respeito à coerência e
consistência nas decisões judiciais. A duas, porque o efeito vinculante
reforça o princípio da maioria e capacita o Judiciário a resistir à tenta-
ção de repetidamente “legislar” sobre o mesmo assunto, ainda que
para o caso concreto, interpretando e re-interpretando uma particular
norma legal.
Ao seguir estritamente uma regra de efeito vinculante quanto a
uma dada interpretação conferida pela corte superior, o Judiciário per-
mite aos cidadãos instar a legislatura a corrigir qualquer interpretação
politicamente errônea ou inconveniente porventura levada a efeito
pelas cortes judiciais, reconhecendo no Poder Legislativo o órgão cons-
titucional legitimado, por excelência, a tomar as decisões políticas fun-
damentais concernentes à boa vida dos cidadãos e ao bem comum.
A segunda parte do trabalho lida com a aplicação da doutrina vin-
culante e foi dividida em três capítulos.
O primeiro capítulo analisa as funções que, nos sistemas jurídicos
da common law e civil law, as cortes judiciárias exercem nas moder-
nas sociedades, para concluir que elas não se limitam a resolver litígios
intersubjetivos mas, também e principalmente, exercem uma função
normativa de enriquecimento e desenvolvimento do ordenamento jurí-
dico que se dirige à coletividade como um todo. Essa função normati-
va decorre da valorização do Poder Judiciário e reconhecimento de que
ele é um verdadeiro poder político e permite que as Cortes Superiores
legislem para as Cortes Inferiores via adoção do efeito vinculante.
O segundo capítulo descreve três modelos de vinculação aos pre-
cedentes judiciais e conclui que o mais adequado e que melhor respon-
xxi
de aos anseios da sociedade brasileira é um modelo misto. Um modelo
de vinculação condicional no âmbito dos Tribunais Superiores respon-
sáveis pela elaboração da doutrina vinculante e um normativo de vin-
culação estrita aos precedentes das cortes superiores, no âmbito dos
tribunais inferiores, que admite poucas e raras hipóteses em que as
cortes inferiores podem se afastar do precedente pelo manejo da técni-
ca da distinção. Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento
de discussões sobre tão relevante tema, adotou-se uma abordagem
estruturada na análise crítica de diversas decisões da Suprema Corte,
delas extraindo os fundamentos teóricos para uma adequada aplicação
da doutrina vinculante.
O último capítulo da segunda parte trata da tensão existente entre
as necessidades de estabilidade e previsibilidade do sistema jurídico e
as demandas de flexibilidade do significado dos conteúdos das normas
legais, a fim de adaptá-las às demandas de justiça social que são dinâ-
micas. Nesse capítulo, discorreu-se sobre os princípios institucionais
que devem reger o abandono total ou parcial da doutrina vinculante
anteriormente estabelecida. Também aqui optou-se, na medida do pos-
sível, a extrair tais princípios de uma análise crítica de diversas deci-
sões judiciais, tanto da nossa práxis jurídica, como da experiência alie-
nígena.
Derradeiramente, impende ressaltar que o presente trabalho,
desde sua primeira idealização, não teve jamais a pretensão de exaurir
tão palpitante assunto, mas tão-somente estimular o aprofundamento
de seu debate e propor algumas linhas de orientação nesse propósito.
xxii
PARTE I
DOS PRINCÍPIOS LEGITIMADORES
DO EFEITO VINCULANTE
Capítulo 1
Igualdade e Efeito Vinculante
1. Introdução
1
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2. O conceito de igualdade
2
Do Efeito Vinculante: sua Legitimação e Aplicação
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Essa noção sugere um equilíbrio reflexivo mais amplo que o que co-
loca Rawls explicitamente, já que ele deve dar-se não por dois, mas sim
por três princípios: convicções intuitivas particulares, princípios subs-
tantivos gerais que dêem conta delas e, por último, regras ou aspectos
formais do discurso moral que permitem derivar tais princípios.37
Revisitado, ou melhor, mais aclarado o equilíbrio reflexivo, pode-
mos afirmar que na formulação de uma teoria de justiça, devemos
abandonar nossas intuições que não possam se justificar sob a base de
princípios gerais plausíveis, modificar os princípios que não se ajustem
as nossas intuições mais firmes ou que não derivem de regras formais
do discurso moral e, por último, alterar a reconstrução das regras for-
mais quando elas não permitam derivar princípios plausíveis.
É essa incorporação da própria posição original pelo equilíbrio refle-
xivo que, segundo Nino, dá sentido ao ajuste que Rawls propõe entre
intuições particulares e princípios gerais, na medida em que esse ajuste
mútuo, tendente a detectar os princípios que de fato sustentamos na
moral positiva, se explica não porque tais princípios são válidos porque
são socialmente aceitos, mas porque esse ajuste é um passo prévio de
outro ajuste, tendente a detectar as regras formais do discurso moral
ordinário, regras essas sim, consideradas relevantes para a justificação
de certos princípios morais, sejam eles aceitos, ou não, socialmente.38
Está, portanto, aberto o caminho para a racionalização, explicita-
ção e justificação de nossos juízos morais. As teorias intuicionistas,
ao partirem da premissa de que as intuições morais se referem a pro-
priedades fixas, objetivas, imutáveis e atemporais, insistem na sua
manutenção, ainda que ande as testilhas com outras convicções que
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5. Igualdade e coerência
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tória política, oferece alguma razão para decidir outros casos de manei-
ra similar no futuro.61
No mesmo diapasão Perelman afirma: “A regra de justiça requer a
aplicação de um tratamento a seres ou a situações que são integrados
numa mesma categoria”. A seguir, conclui: “A regra de justiça fornece-
rá o fundamento que permite passar de casos anteriores a casos futu-
ros, ela é que permitirá apresentar sob a forma de argumentação
quase-lógica o uso do precedente”.62
Assim, o efeito vinculante, ao implicar que as cortes inferiores jul-
guem de conformidade com o que foi decidido pelas cortes superiores,
coarcta a possibilidade de tratamento desigual para situações seme-
lhantes, garantindo uniformidade, regularidade, segurança jurídica,
eficiência e transparência63 nas decisões judiciais e reforçando, diutur-
namente, o princípio da igualdade, direito fundamental da pessoa
humana e condição sine qua non de qualquer teoria pública de justiça.
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decorridos dois anos exigidos para que possa ser atacado por res-
cisória, não pode atuar sobranceiro sobre o princípio da legalida-
de, da impessoalidade, da indisponibilidade da coisa pública e de
igualdade, quando se tem presente relação de direito público.
(...) Venho afirmando em meus escritos e decisões, com a
devida vênia dos que têm entendido diferente, que a função do
direito aplicado pelo Poder Judiciário é, exclusivamente, a de orde-
nar, impondo segurança e confiabilidade nas relações jurídicas,
em face de não lhe ser possível criar comportamentos que fujam
dos limites impostos pela legalidade objetiva e prestigiada pela
constituição.
Não concebo o atuar de qualquer ordenamento jurídico que
não seja na forma de sistema. Se assim não atuar não é ordena-
mento e não expressa função harmonizadora a ele exigida.
Impossível, conseqüentemente, que uma decisão judicial
importe em criar privilégio no âmbito das relações jurídicas, impo-
sitivos tributários, permitindo que uma empresa não pague deter-
minado tributo, mesmo que seja por período certo, enquanto
outras empresas são obrigadas a pagá-lo, apenas, porque, de
modo contrário ao assentado pelo STF, uma decisão se impõe.
O prevalecimento da sentença trânsita em julgado, em tal hi-
pótese, quanto atacada por ação rescisória, seria provocar um des-
respeito à ordem jurídica, cuja estrutura e finalidade estão volta-
das para a promoção da justiça. Esta, por sua vez, só será alcan-
çada se a todos for emprestado o sentimento de igualdade e de
segurança.
No trato de confronto de lei com a Constituição Federal, de
acordo com o nosso sistema imposto pela nossa Carta Magna, só
o STF tem competência absoluta para se pronunciar, declarando,
com força obrigatória, a sua constitucionalidade ou inconstitucio-
nalidade.
A declaração de inconstitucionalidade assumida pelos tribu-
nais de segundo grau não tem a mesma potencialidade de impera-
tividade da oriunda pelo STF pela ausência de efeito definitivo abso-
luto e por aqueles não terem a competência outorgada pela Carta
Magna de serem obrigados a guardarem a Constituição como a pos-
suída pela Colenda Corte (art. 102 CF)”. (grifos acrescidos)
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Capítulo 2
Legalidade e Efeito Vinculante
1. Introdução
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2. O princípio da legalidade
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zamento”, após afiançar que sua edição teve por escopo dirimir forte
divergência então existente no País, averbou:
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Por esse motivo, tornou-se moda dizer que essa aplicação impar-
cial das leis não tem importância, pois oferece pouca proteção contra a
tirania. Deve-se, ao contrário, aplicar-se seletiva e discricionariamente
a lei como forma de superar a injustiça na sua formulação, substituin-
do-se o julgador na função do legislador na promoção da igualdade
substancial. Essa assertiva, entretanto, é uma meia verdade. É certo
que injustiças podem – muitas vezes, de fato o são – ser provocadas
pela adoção pura e simples da igualdade formal. Entretanto, também é
verdade que se não suficiente, a igualdade formal é necessária para a
superação desse estado de coisas. Uma comunidade que adote apenas
o princípio da isonomia formal será muito provavelmente uma comuni-
dade mais injusta que uma outra que adote, em acréscimo, a isonomia
material, porém será menos injusta se comparada com uma terceira
que agregue à injustiça na formulação da lei, aqueloutra referente à
injustiça na sua aplicação.
O que não se pode deixar de ter em mente, é que os direitos decor-
rentes da adoção de um princípio de igualdade material são na verda-
de um produto de uma legislação mais particularizada, “baseada his-
toricamente na ampliação prévia da legislação universalista formal e a
teve como premissa”.85 Em outro dizer: só se pode falar de igualdade
substancial – a igualdade na lei –, se tivermos em mente um passo
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Prosseguindo, acrescenta:
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art. 105, III, a). Como repercussão dessa competência, a previsão da alí-
nea “c” do mesmo artigo autoriza o manejo do recurso especial no caso
de divergência de interpretações entre tribunais diversos. É simples: se
existem duas interpretações sobre o mesmo texto de lei, uma delas o con-
traria ou lhe nega vigência. Cabe, então, ao Superior Tribunal de Justiça
definir qual delas concretiza o texto legal e qual delas o contraria.
Ao fazê-lo, o STJ fixa de modo absoluto o conteúdo normativo do
texto legal. Por essa razão, o STJ não conhece de recurso especial pela
divergência quando a decisão recorrida guarda compatibilidade com a
interpretação firmada no seio do Superior Tribunal de Justiça, porque
em tal hipótese a decisão não contraria nem nega vigência à lei federal.
Embora se entenda e até mesmo se louve esse entendimento juris-
prudencial, o certo é que o texto constitucional, de per si, não autoriza-
ria tal entendimento, pois, no final das contas, a divergência de inter-
pretação persiste. Curial, portanto, a conclusão, que ao interpretar o
artigo 105, III, c, da CF/88 para chegar ao entendimento consolidado no
verbete no 83, houve agregação de sentido por parte do Superior
Tribunal de Justiça.
Em todas essas hipóteses, porém, não se pode afirmar que as cor-
tes judiciais estejam atuando como, nem usurpando as funções do
Poder Legislativo, pois, diversamente do atuar destes, os sentidos
agregados ao texto não têm por fundamento opções políticas ou de
moralidade consideradas mais adequadas, mas princípios jurídicos
compartidos pela coletividade, como, v.g., o princípio da concordância
prática, da razoabilidade e da ponderação de interesses.105
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mais significativa a atuação dos tribunais nos países cujo sistema obe-
dece ao primado da lei.
Na concepção atual do direito já não se trata de limitar o papel do
juiz ao de uma boca pela qual fala a lei ( la bouche de la loi). A lei já não
constitui todo o direito; mas é apenas o principal instrumento que guia
o juiz no cumprimento de sua tarefa na solução dos litígios, não se
podendo mais excluir a jurisprudência como fonte criadora, como hoje
se reconhece quase à unanimidade.
Tendo-se em conta que toda lide envolve necessariamente um
desacordo, uma controvérsia, o papel do juiz é encontrar uma decisão
que esteja conforme ao direito, ou seja, como assevera Perelmam115 “é
necessário que a motivação da decisão demonstre suficientemente que
esta é conforme ao direito em vigor, tal como entendido pelas cortes
superiores”.
A adoção do efeito vinculante, portanto, é a nosso sentir uma con-
seqüência inexorável desse processo de revitalização hermenêutico,
pois permite, no limite do razoável, conciliar a tensão existente entre a
força aglutinadora do respeito à lei promulgada pelo parlamento e a
força desagregadora, embora necessária e até mesmo desejável, de
interpretações cada vez mais elásticas dos textos legais, algumas
inclusive contrárias à literalidade do texto, que poderia desaguar em
situações marcadas pelo subjetivismo, abuso e capricho do decisor. O
efeito vinculante, então, impõe limites necessários ao labor criativo do
juiz, subsumindo-o, naquilo que Perelman denominou de limites auto-
rizados pelo seu sistema de direito.
Para conciliar essa contradição entre o elemento objetivo da inter-
pretação – o texto da lei – e seu elemento subjetivo – a liberdade do
intérprete – que se apresentam como antitéticos em quase negação
mútua, Sálvio de Figueiredo116 realçando o caráter deontológico e nor-
mativo do processo hermenêutico e acolhendo lição de Tércio Sampaio
Ferraz Júnior, conclui:
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Capítulo 3
Democracia e Efeito Vinculante
1. Introdução
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3. O que é democracia?
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4. Liberdade
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seu próprio amo e senhor. Quero que minha vida e minhas decisões
dependam de mim mesmo e não de forças externas de qualquer tipo.
Quero ser instrumento de mim mesmo e não dos atos da vontade de
outros homens. Quero ser sujeito e não objeto, ser movido por razões,
por propósitos conscientes que sejam meus, não por causas que me
afetem, por assim dizer, a partir de fora”.22
O autor que celebrou a liberdade positiva foi Rousseau ao definir a
liberdade civil como o fato de obedecer só a si mesmo, na medida em
que ao agregar sua vontade com as dos demais para a formação da
vontade geral corporificada pela lei, “a obediência a lei que se estatuiu
a si mesmo é liberdade”.23
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corte diz para a legislatura: ‘você (ou seu predecessor) disse X’ nós
quase convidamos a legislatura a responder: ‘nós não dissemos não’.”32
Poder-se-ia argumentar, como se faz na experiência norte-america-
na, que esse argumento não se aplica quando se trata de interpretação
constitucional dada a maior dificuldade de se aprovar uma emenda à
constituição. Essa linha de argumentação é mais prática do que teóri-
ca. Se houver vontade, o congresso, porque detém esse poder, inevita-
velmente corrigirá a interpretação judicial ainda que via emenda cons-
titucional. As exceções das cláusulas pétreas, exatamente por serem
exceções não são fatais para a argumentação. Por outro lado, a realida-
de brasileira – que é o que em última instância importa – demonstra a
relativa facilidade para se emendar a constituição, inclusive, quando o
Legislativo desaprova a interpretação dada pelo Supremo Tribunal Fe-
deral. Um claro exemplo dessa hipótese, pode ser visualizado na recen-
te decisão do STF que, ao interpretar o artigo 29, IV, da Constituição,
reconheceu que referido dispositivo constitucional estabeleceu um cri-
tério de proporcionalidade aritmética para o cálculo do número de
vereadores, não remanescendo aos Municípios autonomia para fixar
esse número discricionariamente.33 Essa interpretação reduziu o nú-
mero de vereadores nos municípios brasileiros. Discordando da inter-
pretação conferida a sua intenção, o Legislativo imediatamente ressus-
citou propostas de emenda à constituição existentes sobre o tema, que
modificam o teor da decisão judicial, imprimindo célere processamen-
to.34
Como se sabe, em uma democracia é o Poder Legislativo o órgão
democraticamente legitimado a tomar as decisões políticas fundamen-
tais no mister de outorgar a boa vida aos cidadãos. O caráter da repre-
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Por tudo isso se pode afirmar que o efeito vinculante não é incom-
patível com a democracia. Bem da verdade, pode-se ir além e afirmar
que o efeito vinculante reforça princípios democráticos. De fato, como
já visto, modernamente o princípio da imparcialidade incorpora uma
vertente positiva que exige do julgador a consideração de todos os ele-
mentos relevantes para a solução do litígio quando de sua decisão.
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PARTE II
DA APLICAÇÃO DO EFEITO
VINCULANTE
Capítulo 4
O Precedente Judicial nos Sistemas
da Common e Civil Law
1. Introdução
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Capítulo 5
Fundamentos Teóricos do Efeito Vinculante
1. Noções conceituais
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1.4. Rationale
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dirigir motocicleta passou a ser uma razão autônoma por ela utilizada
para obter a mesma decisão, razão essa que, como é óbvio, não existia
no caso precedente. Assim, a decisão precedente acrescenta àquele
conjunto inicial de razões mais algumas, como igualdade e segurança
jurídica, que apontam para a exigência de uma decisão similar.
Diante do caso futuro semelhante, a corte vinculada não irá ponde-
rar apenas as mesmas razões morais que foram ponderadas no caso pre-
cedente. Além delas, a corte vinculada deverá acrescentar à ponderação
daqueles aspectos, mais uma razão moral para se dar uma decisão seme-
lhante: a própria decisão precedente. Assim, é possível que, ao exercer
essa ponderação, a corte vinculada embora considere que a decisão pre-
cedente foi incorreta com base naquele conjunto inicial de razões e que,
portanto, não deveria ser repetida, ao decidir o presente caso cujo conjun-
to de razões foi acrescido pelos princípios da isonomia e da segurança
jurídica decorrentes da anterior decisão incorreta, pode entender que o
atual resultado da ponderação favoreça aquele que deveria ter perdido a
causa se a corte vinculada tivesse decidido a causa precedente. Nessa
situação, a corte vinculada estaria obrigada a seguir o precedente mesmo
o considerando incorreto. Entretanto, é possível que, mesmo com a adi-
ção dessas novas razões (igualdade e segurança jurídica), a ponderação
ainda leve a um resultado que penda em favor da parte que perdeu no
caso precedente. Nessa circunstância, a corte vinculada é livre para aban-
donar o precedente e decidir a causa que lhe foi posta para adjudicação
da forma que achar correta. Verifica-se, portanto, que a latitude do poder
discricionário da corte vinculada para seguir ou não o precedente é muito
ampla e, como alertado anteriormente, quanto maior essa latitude, menor
é a força obrigatória do precedente judicial.
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são na base dos fatos materiais e exclusão dos imateriais: Nas palavras
de Goodhart:
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“Se o futuro deve tratar o que nós fazemos agora como presu-
mivelmente vinculante, então nossa decisão atual afetará a deci-
são de outros casos futuros similares. Assim, o atual tribunal deve
também levar em consideração o que seria melhor para alguns
eventos futuros, algo diferente, mas semelhantes, ainda por ocor-
rer. O tribunal deve então decidir com base no que seria melhor
para todos os casos que se encontram dentro de uma apropriada
categoria de assimilação.”76
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4. Um caso ilustrativo
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dade necessita que seu tempo e energia sejam mais dedicados ao com-
bate dos ilícitos penais e civis do que na defesa de inúmeras ações de
indenização, a maioria sem qualquer fundamento. Por outro lado, os jul-
gamentos que os membros do ministério público fazem quando deci-
dem se devem ou não propor uma ação penal ou civil são muito simila-
res aos julgamentos feitos pelos juízes: É essa testemunha digna de
crédito? Ela está dizendo a verdade? Quão forte é seu depoimento?
Existem elementos indiciários suficientes para propor a ação? As res-
postas a essas questões, embora sejam questionáveis, também são
importantes e, provavelmente capazes de gerar uma reação irada de
um acusado que, posteriormente, venha a ser absolvido por um juiz ou
tribunal. Verifica-se, portanto, que as razões que justificam a inclusão
dos magistrados no princípio geral extraído do caso precedente, tam-
bém se aplicam aos membros do ministério público que pertencem a
uma outra classe abrangida pelo princípio fixado no precedente.
Inserindo-se a hipótese que se discute no caso posterior no âmbi-
to normativo da regra fixada no precedente, curial a conclusão de que
o juiz subseqüente está vinculado pelo precedente e, portanto, neces-
sariamente deve decidir no mesmo sentido do caso vinculante e reco-
nhecer a ilegitimidade passiva dos membros do ministério público para
responder pessoalmente demandas civis de indenização por atos ilíci-
tos, pelos quais responde exclusivamente o Estado.
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gidas pelo princípio elaborado. Assim, toda vez que os órgãos subme-
tidos ao precedente da corte vinculante se defrontarem com situações
e/ou hipóteses que, embora não idênticas ao caso precedente, se insi-
ram no âmbito mais geral de aplicação do princípio extraído da decisão
vinculante, devem se abster de praticar a conduta que viola aquela
norma geral vinculante.
No mesmo diapasão, ao analisar o tema, assim se pronunciou
Gilmar Ferreira Mendes:
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Capítulo 6
A Mudança na Doutrina Vinculante
1. Introdução
O direito deve ser estável, porém, não pode ser estático. Por isso,
todo o pensamento sobre o direito tem lutado para reconciliar as ten-
sões decorrentes da necessidade de estabilidade e a necessidade de
mudança.1 Esse dilema sintetiza o problema básico de qualquer siste-
ma legal. Todas as leis oscilam entre as demandas da certeza jurídica,
que exigem firmes e confiáveis guias de conduta fornecidos pela auto-
ridade legal e as demandas de justiça, que exigem que a solução de um
caso individual seja eqüitativa e conforme aos ideais e concepções de
justiça que imperam em uma determinada coletividade. Todo sistema
jurídico que postule legitimidade deve buscar uma solução de compro-
misso entre esses dois fins do direito; deve, portanto, balancear rigidez
com flexibilidade.
Com relação ao instituto do efeito vinculante a situação não é
diversa. As pessoas confiam em decisões judiciais pretéritas no senti-
do de que elas tomam decisões e investem recursos baseados nelas. Os
membros de uma comunidade formalizam contratos com base na
expectativa de que regras legais certas e definidas serão aplicadas a
eles e regularão seus efeitos jurídicos. Se as pessoas são obrigadas a
cumprir as leis sob pena de sanções, inclusive de ordem física, e não
podem se escusar ao seu cumprimento sob alegação de desconheci-
mento da norma, o mínimo que o Estado está obrigado a fazer é torná-
las o mais transparente e cristalinas possíveis. É fácil imaginar o caos
social, como seria injusta uma sociedade e quão difícil nela seria a vida,
se não houvesse um certo nível de certeza e uniformidade relativamen-
te a assuntos da vida cotidiana como esses mencionados. Essa unifor-
midade, coerência e consistência do sistema jurídico se aplica com
igual intensidade nas decisões judiciais.
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ficada que dela possa ser extraída. Nessas circunstâncias nada impede
a sua total revogação, face a sua absoluta inexeqüibilidade.
Por oportuno, impende assinalar que a invalidação só se legitima
em virtude da inexeqüibilidade da aplicação da regra firmada no pre-
cedente e não em razão de uma possível dificuldade. O princípio formu-
lado no precedente pode ser mais ou menos claro, mais ou menos aber-
to, flexível e/ou ambíguo. Quanto mais claro, mais fácil sua aplicação,
quanto mais ambíguo, mais difícil. Não é a dificuldade na aplicação que
implica em abandono do precedente, mas a impossibilidade de uma
regular, coerente e consistente aplicação. Assim, “se as dificuldades na
aplicação da regra forem previsíveis e compreendidas pela corte que
firmou o precedente, essas dificuldades não justificam o abandono do
precedente, porque a corte implicitamente rejeitou qualquer dessas
dificuldades quando prolatou sua primeira decisão”.39
Até o presente momento foram tratadas as hipóteses nas quais à
perda da congruência social e da consistência sistêmica da norma,
acresceu-se a ausência de justificada confiança na regra por parte de
seus destinatários. A conjugação desses fatores, que geralmente ocor-
re na maioria dessas hipóteses analisadas, autoriza o completo aban-
dono da doutrina anteriormente firmada. Em certas circunstâncias,
porém, ainda que a norma perca sua coerência social e/ou sua consis-
tência sistêmica, existe uma justificada confiança por parte de seus
destinatários na imposição, reconhecimento e aplicação dos efeitos
decorrentes do comando normativo. São áreas do agir humano em que
a certeza jurídica é considerada muito importante para o correto plane-
jamento e pleno desenvolvimento da vida das pessoas. Nessas circuns-
tâncias, a invalidação completa e retroativa do precedente pode ser
inadequada. Essas são as hipóteses em que a tensão entre rigidez e fle-
xibilidade se entremostra de forma mais vigorosa. O dilema central é a
escolha que deve ser feita entre privilegiar-se à confiança em detrimen-
to da remoção de uma regra obsoleta ou ultrapassada. Em outro dizer:
se se deve dar mais valor à segurança jurídica ou à correção de uma
injustiça ou um erro.
A solução salomônica encontrada pelas cortes judiciárias não foi
nem perpetuar a obsolescência, o erro ou a injustiça, nem desconside-
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ção a todos os outros eventos que ocorreram antes de sua fixação, pode
conduzir a situações de extrema injustiça, por aberrante exclusão arbi-
trária ao princípio da isonomia. Considere-se, como exemplo, o caso
Molitor v. Kaneland Community Unit District no 302.48
Nesse caso, a corte de Illinois abandonou a doutrina de imunida-
de civil das escolas municipais em uma lide envolvendo uma ação de
indenização proposta por Thomas Molitor, uma criança que, junto com
outros sete colegas, tinha sofrido danos em um acidente envolvendo
um ônibus escolar. A decisão conferiu efeitos futuros à nova regra que
admitia a responsabilidade do poder público, mas determinou que ela
fosse aplicada ao autor da ação. Isso foi duplamente injusto. Primeiro
foi injusto com a escola municipal cuja confiança na antiga regra de
imunidade foi considerada justificada pela corte, a ponto de limitar os
efeitos da invalidação da regra apenas para casos futuros. Foi também
injusto com os outros sete colegas de Thomas Molitor que também
estavam no mesmo ônibus, sofreram os mesmos danos, mas tiveram
negado, pela decisão, direito à reparação. A injustiça se tornou insu-
portável quando, posteriormente, se descobriu que, em face dos eleva-
dos custos do litígio e da existência de uma doutrina vinculante bem
estabelecida indicando um provável resultado desfavorável para o
autor, a ação proposta tinha sido um caso teste para as outras crianças,
três das quais eram parentes de Thomas, e que as demais crianças
tinham contribuído financeiramente para cobrir os custos do processo
de Thomas. A injustiça da decisão anterior foi tão grande, que em deci-
são subseqüente,49 a corte determinou que todas as crianças envolvi-
das no acidente de Thomas Molitor tinham direito à reparação.50
Essa reforma parcial da decisão originária em Molitor amenizou a
injustiça de tratamento arbitrariamente não isonômico, mas não a eli-
minou. Todos os outros membros da coletividade que sofreram danos
por negligência das escolas municipais antes da decisão prolatada em
Molitor continuaram sem direito à indenização e nenhuma circunstân-
cia relevante distinguia esses casos do de Molitor e de seus colegas. A
conduta da corte violou o princípio de justiça de que casos idênticos
devem receber o mesmo tratamento. É certo que eventos ocorridos
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1 Rawls, John. “Uma Teoria da Justiça”. 1a ed., Lisboa: Editorial Presença, 1993, p. 27.
2 Dworkin, Ronald.“Los Derechos en Sério”. Editora Ariel S.A., 1989, p. 215.
3 Rawls, John. “O Liberalismo Político”, editora Ática, 2000, p. 179.
4 Rawls, John. “Uma Teoria...”, cit., p. 29.
5 Apud Finley, M.I. “O Legado da Grécia – Uma Nova Avaliação”. Editora UNB, 1998, p. 31.
6 Para um breve resumo dos diversos standards defendidos como adequados para fins de
concepção de igualdade assim expõe Norberto Bobbio: “...As perguntas às quais é pre-
ciso oferecer uma resposta exata se não quisermos que a invocação da igualdade seja
um flatus vocis, são as duas seguintes: a) igualdade entre quem? b) igualdade com rela-
ção a que coisas? Uma vez feitas essas duas perguntas, e limitando a especificação... ao
par todo-parte, são possíveis quatro respostas: 1) Igualdade de alguns em alguma coisa
2) Igualdade de alguns em tudo 3) Igualdade de todos em alguma coisa 4) Igualdade de
todos em tudo”(Teoria Geral da Política, Ed. Campus, 2000, p. 298).
7 Cf. Alexy, Robert. “Teoria de Los Derechos Fundamentales”. Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1997, p. 384.
8 Cf. Rawls, John. “Uma Teoria...”, cit. especialmente pp. 77 e 84 e ss.
9 Alexy, Robert. “Teoria de Los Derechos Fundamentales”. Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1997, p. 387.
10 Silva, Celso de Albuquerque. “Interpretação Constitucional Operativa”. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2001, pp. 94-95.
11 Alexy, Robert. “Teoria de Los Derechos....”, cit., p. 391.
12 Silva, Celso de Albuquerque, “Interpretação Constitucional ...”, cit., p. 95.
13 Alexy, Robert. “Teoria de Los Derechos....”, p. 388.
14 Western, Peter. “Speaking of Equality”. New Jersey: Princeton University Press, 1990, p. 181.
15 Vide súmula 339 do STF.
16 Mendes, Gilmar Ferreira. “Jurisdição Constitucional”. Saraiva, 1996, p. 207.
17 Aristóteles. “Ética a Nicômaco”, vol. V, 1131a 10-25, Ed. Martin Claret, 2001.
18 Rawls, John. “Uma teoria da Justiça”, cit., pp. 66 e 191 e ss.
19 Vásquez, Adolfo Sanchez. “Ética”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 20a ed., 2000,
pp. 246-248.
20 Idem, pp. 248 e 253 e ss.
21 Rawls, “Uma teoria da Justiça...”, cit., pp. 52 e ss; Nino, Carlos Santiago. “Ética y De-
rechos Humanos”. Buenos Aires: Editorial Astrea, 1989, pp. 91-128.
22 Rawls, John, “Uma teoria ...”, cit., p. 38.
23 Rawls, John, “Uma teoria ...”, cit., p. 121.
24 Rawls, “Uma teoria ...”, cit., p. 112.
25 Rawls, “Uma teoria ...”, cit., p. 76.
26 Rawls, “Uma teoria ...”, cit., p. 78.
27 Rawls, “Uma teoria ...”, cit., p. 38.
28 A teoria emotivista sustenta que nos juízos morais nada se afirma sobre fatos, qualida-
des ou propriedades objetivas, mas apenas se expressa uma atitude emocional do sujei-
to com relação ao objeto. É, portanto, uma teoria subjetivista. Sobre a teoria emotivista
e seus principais defensores veja-se Adolfo Sanches Vázquez, “Ética”, Civilização Brasi-
leira, 2000, pp. 242-245.
29 Vázquez, Adolfo Sanchez, “Ética”, Civilização Brasileira, 2000, pp. 143-144.
30 Dworkin, Ronald. “Los Derechos ...”, cit., p. 247.
31 Rawls, “Uma teoria...”, pp. 54-55.
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66 Dworkin, “Los Derechos en Sério”, cit., pp. 145 e ss, especialmente p. 278; “O Império do
Direito”, Martins Fontes, São Paulo, 1999, pp. 271 e ss. Contra, Jerzy Wróblewski,
“Constitutución y teoria general de la interpretación jurídica”, Cuadernos Cívitas, 1988,
pp. 81-93.
67 Alexy, Robert, “Teoria da Argumentação ...”, cit., p. 212.
68 Cf. Item 2.6. Vide Alexy, Robert, “Teoria da Argumentação...”, cit., pp. 213 e ss.
69 Alexy, Robert, “Teoria da Argumentação ...”, cit., p. 213.
70 Como observa Alexy, “Um outro aspecto do vínculo inextrincável está na exigência de cor-
reção que também é construtiva da argumentação jurídica. Ao contrário do caso do dis-
curso prático geral, essa exigência não se relaciona com o fato de a afirmação normativa
em questão ser ou não absolutamente racional, mas antes, poder ser racionalmente justi-
ficada no contexto da ordem jurídica em vigor” (in Teoria da Argumentação... , cit., p. 269).
71 Larenz, Karl, “Metodologia...”, cit., p. 273.
72 Art. 93, IX, da Constituição de 1988.
73 Arts. 5o e 37 da Constituição de 1988.
74 RTJ 89/878.
75 RE 89.108, RTJ 101/207.
76 RE (AgR) 328.812-AM, in: Informativo do STF, no 300, 19 de março de 2003.
77 Neste sentido, a título de exemplo, reportamo-nos ao Resp 5.936-PR, 4a T. DJU de 07/10/91.
78 Teixeira, Sálvio de Figueiredo. “A Criação e Realização do Direito na Decisão Judicial”.
Forense, 2003, p. 247.
79 Acórdão publicado no DJU de 20.10.97.
80 Acórdão publicado no DJU de 06/10/97.
81 Alexi, Robert. “Teoria...”, cit., p. 537.
82 Confira-se a esse respeito o artigo 102, caput e inciso I, a, e III, a, b, c, e 105 III, a, b, c,
da Constituição Federal.
83 Smend, Rudolf, “Constitucion y Derecho Constitucional”. Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1985, pp. 70 e ss.
84 Idem, p. 71.
85 Idem, pp. 73-74.
86 Idem, p. 75.
87 Idem, p. 149.
88 Burnet v. Coronado Oil & Gas, 285 US 393, 406 (1932), apud Camp, Bryan T. “Bound by
the BAP: The Stare Decisis Effects of BAP Decisons”, San Diego Law Review, vol. 34: 1643
(1997).
89 Smend, ob. cit., p. 146.
90 Smend, ob. cit., p. 147.
1 Aristóteles. “Ética a Nicômaco, 1129a”, apud Hans Kelsen, “O que é Justiça?”, Martins
Fontes, 2001, p. 124.
2 Kelsen, Hans, “O que é Justiça?”. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 127.
3 Aristóteles. “Ética a Nicômaco, 1132a”, apud Hans Kelsen, “O que é Justiça?”, Martins
Fontes, 2001, p. 127.
4 Com o título “ausência de um judiciário democrático”, João Goulart Quirino fez a seguin-
te observação: “A cidadania aguarda a reforma do Poder Judiciário em curso no
Parlamento – em trâmite no Senado Federal – como uma opção de ouro para sua real
democratização vez que, tanto na anatomia como na fisiologia, a Instituição ainda conti-
nua engessada pela ‘reforma’ concebida e imposta pela Emenda Constitucional no 7/77,
que ficou conhecida como ‘pacote de abril de 77’. A reforma autoritária referida acabou
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teio dos serviços de iluminação pública, como forma de superar a interpretação do STF
que julgou inconstitucional a cobrança de taxas sobre esses serviços.
35 Canotilho, J.J. Gomes e Moreira Vital. “Os Fundamentos da Constituição”, cit., p. 79.
36 Greenwalt, Kent. “Discretion and Judicial Decision: The Elusive Quest for the Fetters that
Bind Judges”, in: Columbia Law Review, 1975, p. 359.
37 Gomes, Luiz Flávio. “Súmulas Vinculantes e Independência Judicial”, RT 739, p. 18.
38 Streck, Lenio Luiz. “Súmulas no Direito Brasileiro. Eficácia, Poder e Função”. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1998, p. 275.
39 Gomes, Luiz Flávio. “Súmulas Vinculantes e Independência Judicial”, RT 739, p. 20.
40 Pelayo, Manoel Garcia. “Derecho Constitucional Comparado”. Madri: Alianza Editorial
S.A., 1993, p. 155.
41 Aristóteles. “Ética a Nicômaco”, cit., 1181a e 1181b. Cf. também a propósito, Norberto
Bobbio, “Teoria Geral da Política”. Rio de Janeiro: Campus, 2000, pp. 201 e ss, especial-
mente, pp. 210-212.
42 Barile, Paolo. “Il dovere di Imparzialitá della Pubblica Amministrazione”, in: Scritti
Giuridici. Memoria di Piero Calamandrei, vol. IV, Padova, 1956, p. 37.
43 Nesse sentido, o princípio da imparcialidade se confunde com o princípio da legalidade
(rule of law) a demandar a regular e imparcial da lei a todos (igualdade perante a lei) que
já foi tratada no Capítulo 2 ao qual remetemos o leitor.
44 Nigro, Mario. “La Funzione d´Organizzazione ed i Principi di Efficienza e d´Imparzialitá”,
in: Studi sulla Funzione Organizzatrice della Pubblica Amministrazione, Milão, 1966, p. 79.
45 STF, Agr. no recurso extraordinário 261.324-0, Rel. Min. Celso de Mello, in Dj de
01/12/2000, p. 85.
46 Habermas, Jürgen. “Direito e Democracia entre faticidade e validade”. Ed. Tempo
Brasileiro, vol. I, Rio de Janeiro, 1997, p. 232.
47 Tzu, Hun. “Equity in Chinese Customary Law”, in: Essays in Jurisprudence in honor of
Roscoe Pound 21, 23 no 4, R. Newman Ed., 1962.
48 Pound, Roscoe. “What of Stare Decisis”, in: Fordham Law Review, vol. X, 1941, p. 1.
49 AI (AgR) no 272.328/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ no 170-E, de 01/09/2000.
50 Agravo Regimental no 158.689-DF, da 6a T. do STJ, relator Min. Vicente Chernichiaro, DJ
de 19/12/97, p. 67.601.
51 Barros, Marco Antonio de. “Anotações sobre o efeito vinculante”, in: RT-735, janeiro de
1997, p. 106.
52 Schauer, Frederick, “Playing by the Rules”, cit., pp. 171-172.
53 RTJ 113/459.
54 Sobre a similitude entre república e democracia, veja-se Robert A. Dahl, “Sobre a
Democracia”, cit., pp. 26-27.
55 Cf. Capítulo 2.
56 Cf. Capítulo 3.
57 Recurso em Mandado de Segurança no 8.793/PB, DJ, de 02/03/1998.
1 Nitidamente assumo, em razão da argumentação que adiante será deduzida, que todos
os defensores do efeito vinculante reconhecem a jurisprudência como fonte formal do
direito. Nesse diapasão, dentre outras, podem se alinhar as opiniões de Miguel Reale,
Carlos Mário da Silva Velloso, Sálvio de Figueiredo Teixeira, José Augusto Delgado,
Walter Nunes da Silva Júnior, Carreira Alvim, Calmon de Passos, Edgard Silveira Bueno
Filho, Diogo de Figueiredo Moreira Neto, Fernando da Costa Tourinho Neto, Ivan Lira de
Carvalho e Saulo Ramos, conforme nos relata Edílson Pereira Nobre Júnior in “O Direito
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Processual Brasileiro e o Efeito vinculante das Decisões dos Tribunais Superiores”, Revista
de Processo, RT, vol. 105, p. 84.
2 Para observações sobre a vinculação no direito Italiano, Português e Espanhol, veja-se,
Nobre Júnior, Edilson Pereira, “O Direito Processual Brasileiro e o Efeito vinculante das
Decisões dos Tribunais Superiores”, in: Revista de Processo, RT, vol. 105, pp. 72-75.
3 Fagundes, M. Seabra. “O Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judiciário”.
Forense, 5a ed., 1979, p. 2.
4 Bastos, Celso Ribeiro. “Curso de Direito Constitucional”. Saraiva, 13a ed., 1990, p. 299.
5 O artigo 989 do CPC autoriza o juiz a abrir de ofício o inventário se nenhum dos legitima-
dos o promover.
6 Art. 2o do código de processo civil: nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão
quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais.
7 Art. 128 do código de processo civil: o juiz decidirá a lide nos limites em que foi propos-
ta, sendo-lhe defeso conhecer de questões não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte.
8 Art. 5o, XXXV, da CF/88: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou
ameaça a direito. Vide também artigo 282, III do código de processo civil.
9 Fagundes, M. Seabra, “ O controle dos atos administrativos...”, cit., pp. 158-161.
10 Nicol. Andrew G.L. “Prospective Overruling: A New Device for English Courts?”, in: The
Modern Law Reviem, vol. 39, Set. 1976, p. 542.
11 BverfGE (34) 269 at 287, apud Carls Mischke, The inseparability of powers: judge-made
law in the German legal system, SA Publiekreg/Public Law, 1992, p. 255.
12 Sobre os limites da criação judicial, remete-se o leitor para o item 4.2 do Capítulo 2 da
parte I.
13 Sobre a função normativa da interpretação judicial, remete-se o leitor para o item 4.2.1
do Capítulo 2 da parte I.
14 Cardozo, Benjamin N. “The Nature of the Judicial Process”. New Haven and London Yale
University Press, 1977, p. 166.
15 Friedmann, Wolfang. “Limits of Judicial Making”, in: The Modern Law Review, vol 29,
1966 pp. 603-604.
16 Eisenberg, Melvin Aron. “The Nature of the Common Law”. Harvard University Press,
Cambridge, Massachusetts London, England, 1991, p. 6.
17 Hardisty, James. “ Reflexions on Stare Decisis” in: Indiana Law Journal, vol. 55, 1979, pp.
42-43
18 Eisenberg, Melvin Aron. “The Nature of the Common Law”. Harvard University Press,
Cambridge, Massachusetts London, England, 1991, pp. 6-7.
19 O autor cita duas decisões em abono de sua tese: a) em Hamberger x Eastman (106 N.H.
107,206 A. 2d 239-1964) a questão era se uma instalação clandestina de um aparelho de
escuta no quarto de um indivíduo constituiria um ato lesivo. A corte se valeu da ocasião
para acolher a ampla regra de que os indivíduos têm direito à privacidade e este é viola-
do por uma intrusão em sua solidão física e mental, pela divulgação pública de fatos par-
ticulares, pela publicidade que os colocasse em uma posição desfavorável e pela apropria-
ção de seu nome ou sua imagem em benefício do réu; b) em Rowland x Christian (69 Cal.
2d 108, 443 P.2d 561, 70 Cal. Rptr 97 – 1968), um convidado alegou que tinha sido prejudi-
cado em virtude da negligência do anfitrião. A corte aproveitou a ocasião para substituir
o anterior e complexo sistema de direito comunitário, que regulava o dever de cuidado do
proprietário, que impunha diferentes deveres quando se tratasse de invasores, inquilinos
e convidados, e substituiu aquele sistema com o padrão geral de razoabilidade.
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20 Eisenberg, Melvin Aron. “The Nature of the Common Law”. Harvard University Press,
Cambridge, Massachusetts London, England, 1991, p. 7. Veja-se, ainda, G. Spann.
“Expository Justice”, in: University of Pennsylvania Law Review, vol. 131, 1983, pp. 585
e ss. Segundo o autor o modelo de resolução de disputa dá ênfase na função de resolver
disputas, enquanto que o modelo de enriquecimento (expository model of adjudication)
dá mais ênfase à função de prover regras. O autor analisa ambos os modelos e argumen-
ta em favor do segundo.
21 Exemplo emblemático dessa afirmação, é o poder discricionário de que se investe a
Suprema Corte Americana para decidir que causas irá julgar e que causas não serão jul-
gadas, sem necessidade de qualquer fundamentação da decisão que inadmite a causa
para julgamento.
22 Benditt, Theodore M. “ The Rule of Precedent”, in: Precedent in Law. Ed. Laurence
Goldstein, Clarendon Press, Oxford, 1987, p. 95.
23 Cf. mais explicitado no Capítulo 6 da parte II.
24 Mendes, Gilmar Ferreira. ”Jurisdição Constitucional”. Saraiva, 1996, p. 129.
25 Clève, Clèmerson Merlin. “A Fiscalização Abstrata de Constitucionalidade no Direito
Brasileiro”. RT, 1995, p. 113.
26 Idem, pp. 188-189.
27 No caso de declaração de inconstitucionalidade com efeito erga omnes é comum na lin-
guagem doutrinária e jurisprudencial se falar em atuação do tribunal como legislador
negativo.
28 O termo é uma abreviação da máxima stare decisis et non quita movere que poderia ser
livremente traduzida assim: mantenha a decisão e não perturbe o que está estabelecido.
29 Cf. Peters, Christopher J. “Foolish Consistency: on Equality, Integrity, and Justice in Stare
Decisis”, in: The Yale Law Journal, vol. 105, 1996, pp. 2040-2041.
30 Apud Goodhart, Arthur L. “Precedent in English and Continental Law”, in: The Law
Quartely Review, no CXCVII, jan. 1934, p. 41.
31 Borchard, Edwin M. “Some Lessons from the Civil Law”, in: University of Pennsylvania
Law Review, vol. 64, 1916, p. 571.
32 Sobre a evolução da doutrina do stare decisis no direito inglês, confira-se Carleton Kemp
Allen, “Law in the Making”, Oxford At The Clarendon Press, 1930, especialmente pp.128-
156; Jim Evans, “Precedent in the Nineteenth Century”, in: Precedent in Law, Clarendon
Press – Oxford, 1987, pp. 35-72; T. Ellis Lewis, “The History of Judicial Precedent”, in: The
Law Quartely Review, vol. 40, abril 1930, pp. 207-224.
33 Eisenberg, Melvin Aron. “The Nature of the Common Law”. Harvard University Press,
Cambridge, Massachusetts London, England, 1991, p. 49.
34 Lobingier, C. Sumner. “Precedent in past and present legal systems”, in: Michigan Law
Review, vol. 44, 1946, p. 955.
35 Se costuma afirmar habitualmente que a regra do caso precedente é unicamente anglo-
saxã, porém existem evidências de seu uso nos tribunais da antiga Roma e no século XIV
nos tribunais europeus antes da revolução francesa. Esta, sem embargo, rejeitou o uso
da jurisprudência como fonte formal do direito, mais como um ato de desconfiança para
com o antigo regime. Cf. Merryman, John H; Clark, David S; e Haley, John O., The Civil
Law Tradition: Europe, Latin America and East Asia. The Michie Company, Virginia,
1994, p. 947.
36 Cf. Capítulo I, item 4.2.1.
37 Jolowicz. “Precedent in Greek and Roman Law”, apud C. Sumner Lobingier, “Precedent
in past and present legal systems”, in: Michigan Law Review, vol. 44, 1946, p. 957.
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Celso de Albuquerque Silva
332
Do Efeito Vinculante: sua Legitimação e Aplicação
56 Salès, Jacques. “Why Judicial Precedent is a Source of Law in France”, in: International
Business Laywer, vol. 25, jan. 1997, p. 35.
57 Hardisty, James. “Reflexions on Stare Decisis”, in: Indiana Law Journal, vol. 55, 1979, p. 56.
58 Baudry-Lancatinerie. “Traite Theor. Prat. Dr. Civ.”, 2a edição, 1902, §§ 233-250, apud
Gordon Ireland, “Precedent’s place in latin law, West Virginia Law Quartely and the Bar,
vol. XL, fev. 1934, p. 121.
59 Exceção feita aos países que adotaram a forma extremada de separação de poderes, dos
quais a França é exemplo exponencial com visto no item anterior.
60 Rodrigues, Leda Boechat. “A Corte Suprema e o Direito Constitucional Americano”. 2a ed.
Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1992, p. 12.
61 Art. 91, IV, atual art. 52, X, da Constituição Federal de 1988.
62 Poletti, Ronaldo. “Controle da Constitucionalidade das leis”. 2a ed. Forense, 1995, p. 62.
63 Sobre essa evolução constitucional no controle de constitucionalidade das leis, v.
Clèmerson Merlin Clève, A fiscalização Abstrata de Constitucionalidade no Direito...cit.
pp. 63-73, Gilmar Ferreira Mendes, “Jurisdição Constitucional... cit. pp. 60-83; e Bianca
Stamato Fernandes, “Ação Direta de Inconstitucionalidade e seu efeito vinculante: Uma
análise dos limites objetivo e subjetivo da vinculação”, in: Temas de Constitucionalismo
e Democracia, Ed. Renovar, 2003, pp. 175-188.
64 Art. 103. Podem propor a ação de inconstitucionalidade: I – o Presidente da República;
II – a Mesa do Senado Federal; III – a Mesa da Câmara dos Deputados; IV – a Mesa de
Assembléia Legislativa, V – o Governador do Estado; VI – o Procurador-Geral da
República; VII – o Conselho Federal da ordem dos Advogados do Brasil; VIII – partido
político com representação no Congresso Nacional; IX – confederação sindical ou entida-
de de classe de âmbito nacional.
65 Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em 01/12/2003, o Ministro do Supremo Tribunal
Federal, Gilmar Mendes, realçou exatamente que, naquele ano, o STF encerraria suas ati-
vidades com um novo perfil, em virtude da tomada de várias decisões “que reforçam o con-
trole concentrado” perante as demais instâncias do judiciário. Segundo o Ministro, isto “ É
uma revolução. O STF não será mais visto apenas como a última instância do Judiciário,
onde todos os processos terminam – o que já lhe garante fundamental importância. Mais
do que isso, passa a exercer poder direito sobre os processos que correm nas instâncias
inferiores”. O ministro se referia as decisões que reconheceram a constitucionalidade da
atribuição, por lei, do efeito vinculante de suas decisões proferidas também em sede de
ação direta de inconstitucionalidade. Ainda segundo o Ministro, esse novo perfil propicia-
rá “maior segurança jurídica”, na medida em que as cortes inferiores estarão vinculadas
pelas decisões do STF proferidas no controle abstrato de constitucionalidade, além de per-
mitir maior celeridade na apreciação e solução das questões, pela possibilidade do mane-
jo da reclamação diretamente ao STF, por qualquer pessoa para reformar posições de cor-
tes inferiores em desconformidade com o entendimento esposado pelo STF.
66 Costa, Sílvio Nazareno, “Súmula Vinculante e Reforma do Judiciário”, cit., p. 168.
67 Parte da doutrina considera que referido artigo 38 da Lei no 8.038/90, instituiu efeito vin-
culante às súmulas do STJ e STF.Assim Silvio Nazareno Costa ao analisar referido dispo-
sitivo, considera que referido artigo apresenta eficácia e natureza normativas, caracte-
rística que conferiria efeito vinculante às súmulas do STJ e STF (Súmula Vinculante e
Reforma do Judiciário, Ed. Forense, 2002, pp. 116-117). Discordamos desse entendimen-
to. Parece-nos que essa disposição representa uma fase intermédia entre uma absoluta
liberdade do juiz para desconsiderar a força do precedente judicial e uma compulsorie-
dade em segui-lo decorrente do efeito vinculante. Note-se que o dispositivo impõe, é
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Celso de Albuquerque Silva
certo, que o relator não conheça de recurso que se volte contra uma decisão judicial pro-
ferida em respeito à súmula do STJ ou STF, no que confere certa obrigatoriedade de
manutenção da interpretação já cristalizada no seio daqueles tribunais, mas nada impe-
de que conheça, mas negue provimento, a recurso que arroste decisão contrária à súmu-
la dos tribunais superiores. Ora, se o tribunal pode manter uma decisão de primeira ins-
tância que contrariou a súmula, não se pode afirmar que ele está absolutamente vincula-
do pelo enunciado sumular. É como se disse, uma obrigatoriedade parcial. Uma posição
intermédia. Se a decisão recorrida privilegiou a súmula, o tribunal está obrigado a mantê-
la e a se submeter ao enunciado sumular. Caso contrário, por mais paradoxal que possa
parecer, se a decisão recorrida contrariou a súmula, o Tribunal, nos termos da lei, embora
esteja obrigado a conhecer do recurso, não está obrigado a lhe dar provimento. É, portan-
to, livre para se submeter ou não ao enunciado sumular. Na primeira hipótese, conhece do
recurso e lhe dá provimento, adequando a decisão recorrida à súmula contrariada. Na
segunda hipótese, conhece do recurso, mas lhe nega provimento, mantendo a decisão
que contrariou a súmula e, ipso facto, contrariando-a também, pois o acórdão substitui a
sentença. O art. 557 e seu § 1o-A, do Código de Processo Civil, amplia o alcance dos obje-
tivos colimados no artigo 38 da lei no 8.038/90, pois se refere, também, à sumulas do pró-
prio tribunal onde o recurso foi interposto e se refere também à jurisprudência dominan-
te, mesmo que ainda não sumulada. A seu turno, o § 1o-A, faculta ao relator, desde logo
dar provimento a recurso que estiver em confronto com súmula do STJ ou STF. É um avan-
ço em relação ao disposto na Lei no 8.038/90, mas não lhe altera em essência, na medida
em que apenas permite (O relator poderá), seja dado desde logo provimento ao recurso
por decisão singular. Tivesse o legislador utilizado o verbo em sua forma imperativa –
dará – e então estaríamos diante da adoção do instituto da súmula vinculante.
68 Sobre prévias experiências de vinculação a precedentes judiciais, confira-se Sílvio Nazareno
Costa, “Súmula Vinculante e Reforma do Judiciário”, cit. especialmente pp. 105-111.
69 Essas determinações legais estão previstas também na PEC 29/2000, que trata da refor-
ma do Judiciário.
70 Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre a matéria,
aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculan-
te em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1o A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas deter-
minadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses
e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multipli-
cação de processos sobre questão idêntica.
§ 2o Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancela-
mento de súmula, poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3o Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-
a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso.
334
Do Efeito Vinculante: sua Legitimação e Aplicação
Art. 8o. As atuais súmulas do Supremo Tribunal Federal somente produzirão efeito vincu-
lante após sua confirmação por dois terços de seus integrantes e publicação na impren-
sa oficial.
71 Art. 105-A O Superior Tribunal de Justiça poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre a matéria,
aprovar súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em impedimento à inter-
posição de quaisquer recursos contra decisão que a houver aplicado, bem como proce-
der à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1o A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas deter-
minadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses
e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multipli-
cação de processos sobre questão idêntica.
§ 2o Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancela-
mento de súmula poderá ser provocada originariamente perante o Superior Tribunal de
Justiça por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3o São insuscetíveis de recurso e de quaisquer meios de impugnação e incidentes as
decisões judiciais, em qualquer instância, que dêem a tratado ou lei federal a interpreta-
ção determinada pela súmula impeditiva de recurso.
Art. 111-B. O Tribunal Superior do Trabalho poderá, de ofício ou por provocação, median-
te decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre a matéria,
aprovar súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em impedimento à inter-
posição de quaisquer recursos contra decisão que a houver aplicado, bem como proce-
der à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1o A súmula terá por objetivo, a validade, a interpretação e a eficácia de normas deter-
minadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses
e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multipli-
cação de processos sobre questão idêntica.
§ 2o Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancela-
mento de súmula poderá ser provocada originariamente perante o Tribunal Superior do
Trabalho por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3o São insuscetíveis de recurso e de quaisquer meios de impugnação e incidentes as
decisões judiciais, em qualquer instância, que dêem à legislação trabalhista a interpre-
tação determinada pela súmula impeditiva de recurso.
72 Para uma ampla visão comparativa sobre os diversos sistemas jurídicos, veja-se David,
René, “Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo”, Ed. Martins Fontes, 1998.
73 Essa obrigatoriedade não é absoluta. A doutrina prevalente do stare decisis tem flexibi-
lizado essa compulsoriedade quando presentes certas condições. O assunto será trata-
do com mais profundidade nos capítulos seguintes.
74 Lobingier, C. Sumner. “Precedent in Past and Present Legal Systems”, in: Michigam Law
Review, vol. 44, 1946, p. 960.
75 Gray, John Chipman. “Judicial Precedents – A short Study in Comparative
Jurisprudence”, in: Harvard Law Review, vol. IX, abril 25, 1895, p. 40.
76 Costa, Sílvio Nazareno. “Súmula Vinculante e Reforma do Judiciário”. Ed. Forense, 2002,
pp. 9-10.
77 Confira-se a esse respeito, o título 28 do código dos Estados Unidos, que constitui o com-
pêndio legislativo de toda a organização judicial federal nos Estados Unidos, onde se
regula desde o número de juízes da Corte (§ 1o) e seus salários (§ 5o), até a forma em que
devem ser impressos e distribuídos os volumes das decisões dos tribunais.
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Do Efeito Vinculante: sua Legitimação e Aplicação
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ou principio geral (ratio decidendi) que irá governar o caso subseqüente. Ao contrário, ao
decidir, realça o papel que todos os precedentes, todos os argumentos e todos os princí-
pios devem servir ao mister de fazer justiça entre as partes litigantes, e se a justiça não
pode ser alcançada através dos precedentes, os juízes em última instância devem recor-
rer aos princípios da razão, da moralidade e utilidade, aos princípios éticos gerais, com
os quais decisões expressas raramente conflitam. Isso tudo não significa dizer que as
cortes não seguem precedentes, não extraem rationes decidendi de casos e não decidem
casos subseqüentes com base em tais rationes. Elas fazem isso, dizendo que alguns
fatos são materiais ou importantes e outros são imateriais ou desimportantes. Essa dife-
renciação não é lógica, mas ética. Mas, então, a “rule of law” assim definida pelo prece-
dente estará sujeita em sua futura aplicação a uma contínua revisão, não simplesmente
na base de analogias lógicas e diferenças de fatos e conceitos envolvidos no novo caso,
mas em termos da importância e significado que essas analogias e diferenças possuem
com relação ao que é justo para o caso em julgamento (The Province and Function of
Law, Wm.S.Hein & Co., 1946, pp. 189-190). Veja-se também Edward Hirsch Levi, “An In-
troduction to Legal Reasoning”, in: Jurisprudence, Text and Readings on the Philosophy
of Law, West Publishing Co., St. Paul Minn., 1973, pp. 962-967, e Stone, “The Ratio of The
Ratio Decidendi”, in: The Modern Law Review, vol. 22, 1959, pp. 597-620.
25 Veja MacCormick, Neil. “Why Cases Have Rationes and What These Are”, in: Precedent
in Law, Clarendon Press, Oxford, 1987, pp. 158 e 162-165.
26 Veja Postema, Gerald J. “Some Roots of our Notion of Precedent”, in: Precedent in Law,
Clarendon Press – Oxford, 1987, pp. 13-15.
27 Assim, por exemplo, R. Cross, para quem “A ratio decidendi de um caso é qualquer regra
legal expressa ou implicitamente considerada pelo juiz como um passo necessário para
chegar a sua conclusão, levando em consideração a linha de argumentação adotada por
ele”. In: Precedent in English, 3a ed., Oxford, 1977, p. 76.
28 MacCormick Neil, “Why Cases Have Rationes...”, cit., p. 171.
29 Smith, Peter Wesley. “Adjudication, and Status of Stare Decisis”, in: Precedent in Law, pp.
73-74.
30 Veja, Smith, Peter Wesley. “Adjudication, and Status of Stare Decisis”, in: Precedent in
Law, cit., p. 75.
31 Veja Postema, Gerald J. “Some Roots of our Notion of Precedent”, in: Precedent in Law,
pp. 11-12.
32 O item 2 do Capítulo 4 da parte II e item 4.2.1 e ss., do Capítulo 2 da parte I trataram da
questão em termos ideológicos, ou seja, com relação à tensão entre legislação e jurisdi-
ção. Adicionalmente se enfrentará a questão em termos lógica, acerca da possibilidade,
logicamente falando, da universalização de uma regra particular.
33 Lafer, Celso. “A reconstrução dos Direitos Humanos”. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 74.
34 Perelman, Chaïm. “Lógica Jurídica”. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 156.
35 Nesse sentido os capítulos 1 e 2 da parte I.
36 Smith, Peter Wesley. “Adjudication, and Status of Stare Decisis”, in: Precedent in Law,
p. 81.
37 Smith, Peter Wesley. “Adjudication, and Status of Stare Decisis”, in: Precedent in Law,
pp. 81-82.
38 Hart, Herbert L. A. “O Conceito de Direito”. Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, p. 155.
39 Postema, Gerald J. “Some Roots of our Notion of Precedent”, in: Precedent in Law, p. 15.
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40 Moore, Michael S. “Precedent...”, cit., p. 187. Sobre essa capacidade das cortes, veja Neil
MacCormick, “Why Cases have Rationes and What These Are”, in: Precedent in Law,
pp. 162-169.
41 Schauer, Frederick. “Playing by The Rules”, Clarendon Press-Oxford, 2002, p. 185.
42 Goodhart, A. L. “Precedent in English and Continental Law”, in: The Law Quartely
Review, no CXCVII, jan. 1934, p. 59.
43 Cardozo, Benjamim N. “The Nature of the Judicial Process”, New Haven And London Yale
University Press, 1977, p. 166.
44 Benditt, Theodore M. “The Rule of Precedent”, in: Precedent in Law, p. 92.
45 Bobbio, Norberto. “Locke e o Direito Natural”. Brasília: UNB, 2a ed., 1992, p. 58.
46 Larenz, Karl. “Derecho Justo Fundamentos de Etica Juridica”. Editorial Civitas S.A.,
1993, p. 21.
47 Idem, p. 22.
48 Idem, p. 28.
49 Idem, p. 29.
50 Idem, p. 30.
51 Idem, p. 32.
52 Idem, p. 38.
53 Idem, p. 41.
54 Idem, p. 44.
55 Idem, pp. 47-50.
56 Idem, p. 51.
57 Idem, p. 52.
58 Perelman, Chaïm. “Lógica Jurídica”. São Paulo: Martins Fontes, 2000, pp. 142-143.
59 Idem, p. 156.
60 Essa é a hipótese da coisa julgada, ou ainda, de um resultado originariamente injusto se
tornar justo para casos subseqüentes, em função dos valores da segurança jurídica e iso-
nomia, que decorrem da tão só injusta decisão anteriormente prolatada, quando isso é o
moralmente correto a ser feito.
61 Larenz, Karl. “Derecho Justo Fundamentos de Etica Juridica”. Editorial Civitas S.A., 1993,
p. 52.
62 Ferraz Júnior, Tércio Sampaio. “Introdução ao Estudo do Direito”. São Paulo: Atlas, 1994,
p. 50.
63 Smith, Peter Wesley. “Adjudication...”, cit., in: Precedent in Law, pp. 75-76.
64 Idem, p. 83.
65 Cf. Llewellyn, K.N. “The Brumble Bush”, Oceana Publications, Inc., Dobbs Ferry, New
York, 1969, p. 69.
66 Goodhart, Arthur, L. “Determining The Ratio Decidendi of a Case”, in: Jurisprudence by
George C. Christie, West Publishing Co., St. Paul, Minn, 1973, p. 936.
67 Idem, p. 924.
68 Idem, pp. 932-933.
69 Idem, p. 925.
70 Idem, p. 928.
71 Idem, p. 929.
72 Idem, pp. 932-935.
73 Idem, p. 936.
74 Schauer, Frederick. “Precedent”, in: Stanford Law Review, vol. 39, fev. 1987, pp. 573-574.
75 Schauer, Frederick. “Precedent”, in: Stanford Law Review, vol. 39, fev. 1987, pp. 574-575.
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76 Schauer, Frederick. “Precedent”, in: Stanford Law Review, vol. 39, fev. 1987, p. 589.
77 Schauer, Frederick. “Precedent”, in: Stanford Law Review, vol. 39, fev. 1987, p. 577.
78 Schauer, Frederick. “Precedent”, in: Stanford Law Review, vol. 39, fev. 1987, p. 579.
79 Idem p. 581.
80 Veja-se Larenz, Karl. “Metodologia da Ciência do Direito”. Fundação Calouste Gulbekian,
1997, p. 506, para quem a meta da interpretação das resoluções judiciais só pode ser pre-
cisamente averiguar a concepção do tribunal, quer dizer, a opinião jurídica do juiz.
81 Stone, Julius. “The Ratio of The Ratio Decidendi”, in: The Modern Law Review, vol. 22,
nov, 1959, p. 603.
82 Idem, p. 603.
83 O próprio Goodhart reconhece esse defeito de seu modelo, mas entende que essa possi-
bilidade não interfere com a validade de seu modelo, porque, a seu sentir, as cortes ingle-
sas não agem dessa forma. Essa defesa é totalmente inaceitável, mas ainda que fosse
verdadeira para a Inglaterra, com certeza não é válida para a realidade brasileira, que é
a que no fim das contas interessa.
84 Voto condutor do Min. Néri da Silveira, no RE no 228.977-2/SP, DJ de 12/04/2002.
85 Min. Moreira Alves no voto preliminar sobre a constitucionalidade da ação declaratória,
proferido na ação declaratória no 1, in: “Ação Declaratória de Constitucionalidade”,
Coordenação Ives Gandra da Silva Martins e Gilmar Ferreira Mendes, Saraiva, Saraiva,
1994, p. 198.
86 Veja-se Dinamarco, Cândido Rangel: “Somente o preceito concreto contido na parte dis-
positiva das sentenças de mérito fica protegido pela autoridade da coisa julgada mate-
rial, não os fundamentos em que ele se apóia. Essa regra é enunciada por exclusão nos
três incisos do art. 469 do Código de Processo Civil, segundo os quais não fazem coisa
julgada os fundamentos postos na motivação da sentença, nem a verdade dos fatos
tomada como fundamento da decisão, nem a solução dada incidentalmente e eventuais
questões prejudiciais (incs. I-III). Ainda que nada dispusesse a lei de modo explícito, o
confinamento da autoridade da coisa julgada à parte dispositiva da sentença é inerente
à própria natureza do instituto e à sua finalidade de evitar conflitos práticos de julgados,
não meros conflitos teóricos (Liebman)” (Instituições de Direito Processual Civil, vol. III.
2a ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 2002, pp. 312-313) e Pontes de Miranda: “A ver-
dade dos fatos em que se funda a sentença não faz coisa julgada, porque o juiz pode ter
tido como verdadeiro o fato que não era. Disse, com acerto, Celso Neves (Contribuição ao
Estado da Coisa Julgada Civil, 505), a respeito do alcance da coisa julgada, que se “limi-
ta, objetiva e subjetivamente, à relação jurídica deduzida em juízo e o objeto do decisum,
sem cobrir o sistema lógico da sentença, nem à verdade aí atribuída aos fatos” (Co-
mentários ao Código de Processo Civil, tomo V, arts. 444 a 475. 3a ed. rev. e atual.; atuali-
zador: Sérgio Bermudes; Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 137).
87 Mendes, Gilmar Ferreira. “A ação declaratória de Constitucionalidade: a inovação da
Emenda Constitucional no 3, de 1993”, in: Ação Declaratória de Constitucionalidade,
Saraiva, 1994, p. 102.
88 Mendes, Gilmar Ferreira, ob. cit., p. 104.
89 DJ de 19.09.2003, rel. Ministro Maurício Correa.
90 In: Informativo STF no 323, 29/09 a 03/10/2003.
91 DJ, de 23/05/2003.
92 A norma da constituição do Rio Grande do Sul possuía a seguinte dicção: Art. 95. Ao
Tribunal de Justiça além do que lhe for atribuído nesta Constituição e na lei, compete:
XII – processar e julgar: d – a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normati-
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34 Idem, p. 377.
35 Idem, pp. 378-379.
36 Idem, p. 377.
37 Idem, p. 380.
38 Idem, pp. 380-382.
39 Paden, Amy, L. “Overruling Decisions in the Supreme Court: The Role of a Decision’s Vote,
AGE, and Subject Matter in the Aplication of Stare Decisis After Payne v. Tenessee”, in:
The Georgetown Law Journal, vol. 82. 1994, p. 1.695.
40 Newton, William F. “Prospective Overruling – ‘Sunburst’ Theory”, in: Baylor Law Review,
vol. XVIII, p. 608.
41 Apud Newton, William F. “Prospective Overruling – ‘Sunburst’ Theory”, in: Baylor Law
Review, vol. XVIII, p. 610.
42 Chaïm Perelman nos brinda com o seguinte exemplo: O artigo 191 do Código Civil per-
mite ao Ministério Público impugnar todo casamento “que não foi celebrado diante do
oficial público competente”, Casamayor descreve os fatos de modo pitoresco: Por volta
de 1900, na mairie de Montrouge, o oficial de Estado civil que havia, na ausência do
maire, celebrado uma série de casamentos era deveras um adjunto, mas, infelizmente,
não era o adjunto mais próximo na ordem do quadro dos adjuntos presentes. Ora, a lei
municipal de 1884 estabelece que, embora o maire possa delegar expressamente seus
poderes a um adjunto ou a um conselheiro municipal de sua escolha, sem levar em conta
o famoso quadro, na falta de delegação especial, é, ao contrário, a ordem do quadro que
define a competência. Achando-se o maire impedido, é o primeiro adjunto que celebra os
casamentos, achando-se impedido o primeiro adjunto, cabe ao segundo adjunto etc. Os
esposos haviam sido unidos pelo terceiro adjunto, por exemplo, em vez de sê-lo pelo
segundo. Drama! O promotor denunciou a nulidade dos casamentos. O tempo passa, os
esposos se tornam concubinos, os filhos se tornam bastardos, mas, impávido e sereno, o
processo continua a se arrastar até a Corte de Cassação que, acertadamente, declarou a
lide sem interesse, considerou não ser necessária nenhuma providência. Assim, por obra
do Espírito Santo jurídico, os bastardos voltaram a ser legítimos, os cônjuges voltaram a
ser esposos. A realidade prevaleceu sobre a ficção. Se a Corte de Cassação pôde evitar
as conseqüências deploráveis de um erro ridículo, para voltar à “realidade”, foi recorren-
do a uma ficção jurídica, a do “funcionário de fato” (Lógica Jurídica... cit.”, pp. 230-231).
43 Idem, pp. 191-192.
44 Friedmann, Wolfang. “Limits of Judicial Lawmaking and Prospective overruling”, in: The
Modern Law Review, vol. 29, 1966, p. 604.
45 Algumas vezes a restrição temporal dos efeitos da decisão não é feita no próprio caso em
que a regra antiga foi invalidada, mas em um caso posterior. Assim, por exemplo, em
Linkleter v. Walker, (381, US 618 – 1965) a Suprema Corte Americana aplicou apenas pros-
pectivamente novas regras processuais criminais, para evitar uma libertação em massa
de prisioneiros, ao decidir que a regra fixada em Mapp v. Ohio (367 US 643 – 1961) que
estabeleceu a exclusão de evidência colhidas de forma ilegal, não se aplicava a conde-
nações concomitantes, mas apenas aos processos iniciados após a decisão. Essa forma
de restringir os efeitos da nova regra produz efeitos deletérios sobre a confiança das pes-
soas que ficarão em dúvidas a cada decisão invalidatória qual regra se a nova ou a anti-
ga será aplicada aos casos anteriores à decisão. O ideal é que a corte defina os limites
temporais da decisão na própria decisão que criou a nova regra.
46 Eisenberg, Melvin Aron, “The Nature of the Common Law...”, cit., pp-127-129.
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Do Efeito Vinculante: sua Legitimação e Aplicação
47 Nicol, Andrew G. L. “Prospective Overruling: A New Device For English Courts?”, in: The
50 Cf. Nicol, Andrew G. L. “Prospective Overruling: A New Device For English Courts?”, The
Modern Law Review, vol. 39, 1976, p. 547, e Eisenberg, Melvin Aron, “The Nature of the
51 Newton, William F. “Prospective Overruling – ‘Sunburst’ Theory”, in: Baylor Law Review,
52 Idem, p. 611.
54 DJ, de 09/11/2001.
57 Newton, William F. “Prospective Overruling”, in: Baylor Law Review, vol. XVIII, 1966, p. 611.
58 Eisenberg, Melvin Aron, “The Nature of the Common Law...”, cit., p. 122.
59 Eisenberg, Melvin Aron, “The Nature of the Common Law..., cit., p. 135.
60 Min. Sydnei Sanches no Inquérito 687-4, DJ, de 09/11/2001.
61 Min. Carlos Velloso no Inquérito 687-4, DJ, de 09/11/2001.
62 Eisenberg, Melvin Aron, “The Nature of the Common Law...”, cit., p. 135.
63 DJ, de 03/05/2002.
64 DJ, de 01/08/2003.
65 DJ, de 05/09/2003.
68 Heimanson, Rudolf H. “Overruling – An Instrument Of Social Change?”, in: New York Law
69 Eisenberg, Melvin Aron, “The Nature of the Common Law...”, cit., pp. 136-140.
70 Eisenberg, Melvin Aron. “The Nature of the Common Law”, cit., p. 126.
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