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Sebenta de Saúde
Mental e Psiquiatria
Psicopatologia

Hospital de dia Eduardo Luís Cortesão

Lisboa,
Janeiro de 2019
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ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA

SEBENTA DE PSICOPATOLOGIA PARA


ESTUDANTES

Ana Rita Marmeleiro


André Relvas
Mariana Santos
Miriam Valente

Supervisora Clínica:

Enfermeira Especialista Leonor Ribas

Supervisoras Pedagógicas:

Professora Doutora Ana Melo

Professora Isabel Castanheira das Neves

ANO LETIVO

2018/2019
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Índice

Preâmbulo ......................................................................................................................... 5

I. Fundamentos da Psicopatologia ................................................................................ 7

Definição e Conceitos básicos .......................................................................................... 7

1. Perceção .................................................................................................................... 8

Perturbações da Perceção ............................................................................................. 8

2. Pensamento................................................................................................................ 9

Classificação do Pensamento...................................................................................... 10

Perturbações do Pensamento ...................................................................................... 10

a) Perturbação do Curso........................................................................................... 10

b) Perturbação da Forma ...................................................................................... 10

c) Perturbação do conteúdo ..................................................................................... 12

d) Perturbação do conteúdo .................................................................................. 14

e) Perturbação da Posse: .......................................................................................... 14

3. Insight ...................................................................................................................... 15

4. Juízo Crítico ............................................................................................................ 15

5. Humor e Emoções ................................................................................................... 16

Perturbações do Humor e Emoções ............................................................................ 16

6. Atividade Motora .................................................................................................... 17

Perturbação da Atividade Motora ............................................................................... 18

Anomalias Motoras..................................................................................................... 19

7. Atenção e Concentração .......................................................................................... 21

Perturbação da atenção ............................................................................................... 21

8. Discurso e Linguagem ............................................................................................. 22

Perturbação da aprendizagem ..................................................................................... 22

Perturbação da linguagem .......................................................................................... 22


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9. Orientação ............................................................................................................... 24

10. Consciência.......................................................................................................... 25

11. Memória............................................................................................................... 26

Tipos de memória ....................................................................................................... 26

Perturbação da Memória ............................................................................................. 26

12. Alimentação ......................................................................................................... 28

Conceitos relacionados ............................................................................................... 28

Perturbação da alimentação ........................................................................................ 28

13. Sono ..................................................................................................................... 29

14. Sexualidade .......................................................................................................... 30

Referências Bibliográficas.............................................................................................. 32
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Preâmbulo
A prática da Enfermagem no âmbito da Saúde Mental tem um vasto legado, que
remonta à época de Florence Nightingale, prolongando-se até à atualidade, constituindo-
se, cada vez mais, como uma prática especializada. De acordo com Neeb (2000), os anos
50 foram cruciais para a saúde mental, ficaram marcados pelo desenvolvimento de
terapêutica psicotrópica, possibilitando uma reintegração das pessoas na sociedade e na
sua vida quotidiana. Após o início da desinstitucionalização, seguiram-se anos de
formação e investigação na área da Saúde Mental. Contudo, as dificuldades financeiras
que marcaram os anos 90, alienadas a dificuldades com seguros e organização dos
cuidados de saúde, traduziram-se na diminuição do investimento na saúde mental e
psiquiátrica.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, mais de


um quinto dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica (22,9%). Portugal é o
segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, sendo
apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte (23,1%). Entre as perturbações psiquiátricas,
as perturbações de ansiedade são as que apresentam uma prevalência mais elevada
(16,5%), seguidas pelas perturbações do humor, com uma prevalência de 7,9%. Em
Portugal, as estatísticas demonstram, aparentemente, a tentativa de inverter a postura
negligente para com a Saúde Mental. De acordo com o Relatório do Programa Nacional
para a Saúde Mental, de 2017, o registo de utentes com perturbações mentais nos cuidados
de saúde primários tem vindo a aumentar desde 2011, aproximando-se da meta traçada
para 2020 (aumentar em 25% o registo de pessoas com ansiedade e depressão). O mesmo
relatório, na análise da prevalência tratada a nível hospitalar, revela, para todos os grupos
patológicos, uma ligeira diminuição do número de internamentos. Esta redução pode
dever-se a uma diminuição da acessibilidade aos serviços especializados, não se podendo,
no entanto, excluir as dimensões relacionadas com o trabalho comunitário desenvolvidos
pelos serviços e respetivos profissionais.

De acordo com Peplau (1962), citado por Thownsend (2011), o Enfermeiro de


saúde mental e psiquiátrica, tem maior ênfase no papel de conselheiro. A sua formação
superior permite-lhe ministrar terapia individual, de grupo, ou até mesmo familiar. Para
o autor é essencial que o Enfermeiro detenha conhecimento acerca de técnicas de
aconselhamento. Só assim poderá construir e estabelecer uma relação terapêutica ou de
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ajuda, por via de técnicas interpessoais e fundamentadas pelo conhecimento das teorias
do desenvolvimento da personalidade e do comportamento humano.
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I. Fundamentos da Psicopatologia

Definição e Conceitos básicos


a) Psiquiatria - Ramo da Medicina que estuda e trata doenças e perturbações com
sintomas psíquicos, somáticos, que expressam uma perturbação psíquica
(somatizações, conversões) e/ou Psicosomáticas;
b) Psicopatologia – Estudo sistemático dos estados mentais patológicos, quanto há
manifestação de comportamentos e/ou vivências que podem indicar um estado
mental ou psicológico comprometido. Este conceito responde a 3 pressupostos:
permite a existência de uma linguagem comum entre os psiquiatras e os clínicos
que trabalham em doença mental; possibilita, na relação com o doente, aceder a
experiências previamente inexprimíveis e, por último, ser a base das categorias e
classificações psiquiátricas.
o Psicopatologia Explicativa – Vertente da Psicopatologia em que se
assume explicações de acordo com modelos teóricos (cognitivo,
comportamental, psicodinâmico e/ou existencialista). Exemplo: através
destes, pretende-se explicar a causa de um indivíduo ter uma determinada
personalidade, ou de ter certos comportamentos.
o Psicopatologia Descritiva – Descrição precisa e categorizada das
vivências anormais contadas pelo doente e observadas no seu
comportamento.
c) Perturbações - Quadros clínicos compostos por sintomas e/ou comportamentos
clinicamente reconhecíveis, associados a sofrimento e/ou interferência nas funções
pessoais, sociais ou ocupacionais, mas em que a etiologia é multifatorial, estando
implícita a interação de fatores biológicos, sociais e psicológicos.
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1. Perceção
Conhecimento do mundo, do meio ambiente e do próprio meio somático, a partir
dos dados sensoriais. A perturbação da perceção divide-se em dois grandes grupos, as
distorções sensoriais e as falsas perceções.

Perturbações da Perceção
a) Alucinação - Experiências percetivas sem objeto, que ocorrem na mente do
doente, em qualquer das modalidades sensoriais (visão, audição, olfato, paladar,
tato), na ausência de qualquer estímulo físico externo, podendo ser simples ou
complexas;
• Alucinação Auditivas – Perceção de sons ou vozes, desde um zumbido
indistinto, a conversas suficientemente altas, impedindo a atenção para os
sons reais;
• Alucinação Cenestésicas – Sensações viscerais peculiares e
fisiologicamente pouco prováveis, como a sensação de queimadura do
cérebro;
• Alucinação Cinestésica – Sensação de movimento numa parte do corpo
que não se está a mexer;
• Alucinação Congruente com o Humor - Alucinações que vão de acordo
com um humor deprimido ou maníaco;
• Alucinação de Comando - Falsa perceção em que as pessoas são
obrigadas a lhe obedecer ou que não lhe conseguem resistir, podendo atuar
de acordo com eles, às vezes com consequências negativas;
• Alucinação Depreciativas - Alucinação auditiva, que consiste numa
critica, ameaça ou insulto por parte da voz ou vozes;
• Alucinação Geométrica - Alucinações visuais que envolvem formas
geométricas tais como, por exemplo, túneis, grades e teias de aranha;
• Alucinação Gustativa - Sensação de gosto, paladar geralmente
desagradável, sem um estímulo real. Geralmente associadas a doenças
neurológicas;
• Alucinação Hipnagógica - Alucinações que ocorrem ao adormecer;
• Alucinação Hipnopômpica - Alucinações que ocorrem ao acordar;
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• Alucinação Incongruente com o Humor - Alucinações não associadas a


estímulos externos reais, que não vão de acordo com um humor deprimido
ou maníaco;
• Alucinação Olfativa – Sensação de um odor na ausência de um estímulo
físico;
• Alucinação Somática – Termo que se refere a qualquer uma de entre
variadas experiências físicas, incluindo uma “sensação crescente” que se
inicia no abdómen e que se desloca para o tórax ou para a garganta;
• Alucinação Táctil – Sensação cutânea na ausência de estímulo físico;
• Alucinação Visual – Algo que é visto sem o estímulo físico. Podem ser
simples, como ver cores elementares, padrões ou luzes; ou complexas,
como ver uma pessoa a aproximar-se.

b) Ilusão - É o exagero, distorção ou alteração da interpretação de um estímulo físico


real. Pode ser uma alteração da perceção de um objeto real, som ou outro estímulo
sensorial. As ilusões ocorrem também na ausência de psicopatologia,
especialmente na privação do sono e fadiga;
c) Pseudo-alucinações - alterações da imaginação que, apesar de assumirem
algumas características de imagens percetivas reais, são sempre interiorizadas e
carecem de corporeidade, levando o individuo a manter uma crítica em relação à
existência de um determinado estímulo. Não indicam, necessariamente,
psicopatologia;
d) Desrealização – Sensação de que o mundo exterior se tornou subitamente irreal
ou ganhou qualidades irreais. Dado que o doente em geral mantém o
reconhecimento de que esta sensação não é verdadeira, a desrealização raramente
é delirante;
e) Despersonalização – Sensação de desconhecimento/não reconhecimento de si
próprio, em geral não delirante. Os doentes sentem-se como se estivessem fora do
próprio corpo.

2. Pensamento
Processo em que o indivíduo projeta ideias e as relaciona com conceitos, de tal
forma que constituem um todo, com sentido. Os seres humanos estão continuamente a
pensar e a produzir diferentes e infinitos pensamentos, que ajudam na resolução de
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problemas do quotidiano, pode assemelhar-se ao conceito de reflexão (exemplo: sem o


pensamento seria impossível decidirmos o que é correto ou não.) Pensar é construir
modelos da realidade e simular o seu funcionamento.

Classificação do Pensamento
a) Pensamento Fantasista ou Autista - Forma extrema do Pensamento Imaginativo
em que existe perda do contacto com a realidade e se gera uma lógica que apenas
faz sentido para o próprio.
b) Pensamento Imaginativo - Raciocínio que não tem necessariamente que estar
todo ele baseado na realidade, onde a pessoa cria um mundo, controlando todos
os acontecimentos, não perdendo o contacto com a realidade;
c) Pensamento Racional - Pensamento que segue uma lógica, por exemplo a
resolução de um problema.

Perturbações do Pensamento
Podemos classificá-las quanto ao seu Curso, Forma, Conteúdo e Posse.

a) Perturbação do Curso
• Taquipsiquia - Sucessão rápida de pensamentos;
• Bradipsiquia - Sucessão lenta de pensamentos;
• Bloqueio do Pensamento - Discurso perde-se a meio de uma frase, com a
interrupção brusca do pensamento, com pausa de alguns segundos, após
bloqueio não consegue voltar ao ponto de paragem, nem retomar ao tema.
Pode surgir depois, outro pensamento totalmente novo. O indivíduo não
tem consciência do bloqueio, é como que se os pensamentos
desaparecessem da sua mente;
• Perseveração do Pensamento – Repetição, persistência involuntária e
inapropriada de determinada sequência de pensamentos, ideias, palavras
ou frases. De forma mecanizada. (exemplo: Qual é o nome do 1º Ministro
anterior? José Sócrates; Qual o nome do 1º Ministro Atual? José Sócrates);

b) Perturbação da Forma
Alteração da estrutura ou forma do pensamento por oposição à perturbação do
conteúdo do pensamento.
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• Afrouxamento das Associações - Falha de conexão entre uma sequência


de pensamentos, inexistência de ligação entre os temas;
• Associações por Sonoridade - Palavras ou frases associadas pelo som e
não pelo significado;
• Fuga de ideias - Pensamento muda constantemente de objetivos (muitas
tangenciais consecutivas) havendo frequentemente associações por
consonância. Discurso com ideias encadeadas, relacionadas umas com as
outras, mas não chega à conclusão e finalidade da ideia inicial;
• Neologismo - Uso de vocabulário novo inventado pelo doente, mas que
este não reconhece como se tratando de palavras novas ou sem significado
(exemplo: sou perseguido por fritetos);
• Pensamento Automático - Pensamentos sucessivos que o doente diz não
conseguir controlar;
• Pensamento Circunstancial - Incapacidade de distinguir o essencial do
supérfluo, sendo incluídos inúmeros detalhes inúteis. Divaga muito até
chegar ao objetivo, dá voltas e voltas para chegar à conclusão de um
assunto, mas regressa ao tema original ou atinge uma conclusão final;
• Pensamento Desagregado - Existe uma grande desorganização do
pensamento. Há uma desestruturação gramatical das frases, com erros
sintáticos. O doente vai saltando de temas, sem terem nexo ou estarem
relacionados (afasia de expressão);
• Pensamento Digressivo - O indivíduo muda frequentemente de tema, mas
consegue atingir o objetivo, porque retoma ao tema inicial; fuga de ideias
ligeira e mais coerente. Pode chegar ao objetivo/conclusão com
orientação;
• Pensamento Incoerente - O pensamento perde a coesão por erros
associativos. As frases mantêm a sua estrutura, mas não há uma sequência
lógica;
• Pensamento Inibido - Distingue-se do pensamento lentificado pois é
relatado pelo doente, consistindo em pensamentos que se sucedem de
forma lenta, hesitante, ineficiente, pouco variada e em menor quantidade;
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• Pensamento Lentificado - Sintoma observado e não relatado pelo doente,


em que consiste numa lentificação do discurso às questões que lhe são
colocadas;
• Pensamento Tangencial - Pensamento semelhante ao circunstanciado, o
tema da conversa desvia-se para uma direção diferente, no entanto, é
fluente, com gramática mantida, com conectividade lógica, mas o
conteúdo desvia-se do tema original, para uma ou mais áreas temáticas
diferentes, sem atingir o objetivo inicial;
• Respostas ao Lado - Doente percebe a pergunta, mas responde ao lado
(exemplo: quantas rodas tem um carro? 100);
• Ruminação - Reflexão persistente num tema ou pensamento
desagradável, não é produtiva e não leva a nenhuma conclusão, mas pode
ser consumidora de tempo e tende a ser negativa, desagradável e com
conteúdos frequentemente de temas metafísicos, fisiológicos ou de
autocrítica, permanecendo sempre o mesmo pensamento;
• Salada de Palavras – O discurso consiste numa série de palavras e
neologismos que são reunidos ao acaso, sem qualquer conexão lógica
(exemplo: "Muitas das ações para a frente crescem a vida dupla brinca no
círculo do uniforme").

c) Perturbação do conteúdo
• Ideia Delirante - Ideia idiossincrática, errada, falsa, não sendo
compartilhada por outros e contradita pela realidade social, é vivida com
convicção absoluta e que não cede ao raciocínio ou à argumentação lógica;
• Ideia Prevalente - Encontra-se sempre presente independentemente do
que se esteja a fazer, mas que se consegue afastar com esforço;
• Ideia Sobrevalorizada - Existe uma crença isolada, preocupante e
fortemente implantada, que domina a vida da pessoa e pode afetar as suas
ações, mas que é passível de crítica; acredita com convicção que a vida
roda à volta daquilo. A intensidade da crença não é delirante, mas pode
progredir para. (exemplo: Uma pessoa acha que está a ser envenenada, mas
reconhece que pode estar errada e parece aceitar a indicação de que a
comida não tem nada, no entanto, inspeciona-a bem, antes de comer).
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• Tipos de Delírios:
o Bizarro - Envolve um fenómeno que culturalmente é inaceitável ou
fisicamente impossível;
o Ciúme - Preocupação infundada de que o cônjuge ou amante é infiel,
podem levar a comportamentos violentos baseados no seu delírio;
o Culpa - O doente sente que cometeu um erro irreparável, vergonhoso
e merece todos os castigos, embora para as pessoas saudáveis seja um
erro sem importância de maior;
o Erotomania – O indivíduo crê que é amado por alguém com quem
nunca falou e que é inacessível;
o Grandeza - Convicção delirante de que se possui riqueza, poderes e
qualidades superiores ou destinos especiais. (exemplo "Eu sou Jesus
Cristo");
o Hipocondríaco - Falsas crenças sobre doenças, o doente tem a
convicção errada de sofrer de doença grave apesar da evidência
mostrar o contrário;
o Humor Delirante - Sensação de que algo, ou tudo, mudou,
sentimentos de estranheza, sensação de que algo está para acontecer,
mas sem ser ainda capaz de o definir;
o Místico - Crença de que alguém é favorecido por um ser superior ou
é um instrumento desse ser;
o Negação – Incapacidade ou renitência em aceitar aspetos da sua
realidade apesar do contrário ser evidenciado por outras pessoas.
(exemplo: os cigarros a mim não me fazem mal);
o Niilista – O indivíduo tem uma ideia falsa do seu eu, uma parte do eu,
outras pessoas ou o mundo não existem (exemplos: "O mundo não
existe mais", "Perdi todos os órgãos”);
o Persecutório - Convicção de que se é perseguido, vigiado,
ridicularizado, manipulado, alvo de discriminação ou de conspiração,
por parte de um indivíduo ou grupo de indivíduos (exemplo: acreditar
que uma organização que lhe quer fazer mal);
o Referência. Todos os eventos no ambiente são vivenciados pelo
doente como se referindo a ela própria (exemplo: "Alguém está a
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tentar enviar-me uma mensagem através desta revista, tenho de


decifrar o código para poder receber a mensagem");
▪ As idéias de referência não são tão rígidas quanto os delírios
de referência. Um exemplo de uma ideia de referência seria
pensar irracionalmente que outras pessoas estão falando ou
rindo do indivíduo;
o Ruína - Inclui crenças de que tudo está a chegar ao fim, em relação à
profissão, ao mundo, aos rendimentos, à alimentação, etc.

d) Perturbação do conteúdo
• Fobia - Medo desproporcionado de um objeto ou situação em particular, é
irracional, sendo incapacitante; muitas vezes o indivíduo toma atitudes
ativas, para evitar a situação fóbica;
• Ideação Violenta (Pensa na forma que vai fazer):
o Ideia homicida;
o Ideia Suicida;
• Ideia Obsessiva - Sempre a pensar num assunto, são indesejados
persistentes, intrusivos que se intrometem na consciência apesar dos
esforços para os suprimir, provocando ansiedade pois o utente sente que é
estranho, mas não consegue parar (exemplo: pensa que está a sufocar os
filhos, sabe que é estranho e não o quer fazer);
o Compulsões - São comportamentos repetitivos estereotipados e
aparentemente propositados que a pessoa se sente compelida a fazer,
embora resista reconhecendo que são irracionais;
• Pensamento Perseverante - Grau mais grave do anterior; repete
constantemente o mesmo (Exemplo: ano?2017; mês?2017; Dia?2017)
• Pobreza do Pensamento - Pobre no conteúdo, está muito centrado no
mesmo assunto;

e) Perturbação da Posse:
• Alienação do Pensamento - Ideia de que o pensamento está a ser
controlado:
o Controlo do Pensamento - Há um domínio total do pensamento pelo
exterior, o doente apenas pensa o que os outros permitem;
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o Difusão do Pensamento - Existe a convicção de que os pensamentos


deixaram de ser privados, e são difundidos à medida que são criados;
o Imposição do Pensamento - O doente considera que as suas ideias
são influenciadas pelo exterior;
o Inserção do Pensamento - Convicção de que um pensamento é alheio
e que foi inserido na mente por alguma força exterior;
o Roubo do Pensamento – O doente tem o sentimento de que se
apoderam do pensamento, de que lho roubam.

3. Insight
Capacidade de estar ciente das realidades interna, que diz respeito à mente e
externa, que diz respeito ao ambiente e a outras pessoas, na medida em que estas podem
ser conhecidas. O insight inicia-se através do reconhecimento e compreensão dos
sentimentos, pensamentos e reações do individuo em relação a terceiros. Após esta
autorreflexão o insight requer a comparação com o que o próprio sente ou pensa
relativamente a um assunto ou problema. Este conceito está associado a níveis mais
elevador do desenvolvimento da personalidade e dos mecanismos de defesa.

Num sentido mais prático o insight é a capacidade de reconhecer os sintomas


psiquiátricos e a possível necessidade terapêutica.

4. Juízo Crítico
Processo subjetivo de formação de uma opinião ou conclusão baseada em
informação sobre uma situação, chegando a uma conclusão, que se pondera e
reconhece adequadamente os elementos importantes do tema. Por exemplo, o doente
analisa os benefícios e consequências da adesão terapêutica, conseguindo pesar a
forma como ambos afetam a sua condição de saúde, escolhendo aderir ao regime
terapêutico, cumprindo-o, por reconhecer ser o melhor, para si.

O juízo critico também é afetado pelo insight e pela capacidade de usar o


pensamento abstrato.
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5. Humor e Emoções
a) Humor - Conjunto interno de emoções predominantes numa pessoa num
determinado momento. É uma descrição subjetiva do doente do seu estado
emocional;
• Humor Eutímico – Humor normal que inclui os altos e baixos habituais
da vida, mas sem as grandes e prolongadas variações do humor,
observadas nos estados de humor ansioso, deprimido, irritado ou maníaco.
Os termos mais usados para descrever o estado de humor normal são
normalmente “calmo”, “agradável”, “amigável” e “confortável”;
b) Emoções - Manifestação externa e dinâmica do estado afetivo interno do
indivíduo, e por isso são observáveis em todas as pessoas (manifestações
objetivas e observáveis desse estado interno). Podem ou não coincidir com o
humor relatado pela pessoa:
• Emoção apropriada – Estado normal em que a emoção observável pelo
técnico, corresponde ao contexto do discurso e do pensamento;
c) Afetos - Sentimento subjetivo que acompanha uma ideia, podendo ser positivo
ou negativo;
• Afetividade - É o atributo psíquico que dá valor e representa a realidade.

Perturbações do Humor e Emoções


a) Alexitimia – Incapacidade persistente e consistente de exprimir as suas
emoções, e de descrever verbalmente as alterações o seu estado de
humor/sentimentos;
b) Apatia – Ausência de humor aparente. Falta de interesse e desejo, acompanhado
de diminuição da reação a estímulos internos ou externos;
c) Aplanamento - Ausência total ou parcial de sinais de expressão afetiva;
d) Desadequação - Discordância entre a expressão afetiva e o conteúdo do discurso
ou do pensamento;
e) Embotamento Afetivo - Redução significativa da intensidade da expressão
emocional;
f) Emoção Incongruente– Também designado de inapropriada, quando a
expressão emocional está em desacordo com a resposta esperada para
determinado conteúdo de discussão;
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g) Emoção Não Reativa - Quando o doente não responde a estímulos normalmente


evocativos, (os doentes que não reagem a ações provocativas como sejam as
piadas do examinador);
h) Humor Ansioso - Inclui sentimentos de medo, tensão e apreensão e ocorre
também na ausência de psicopatologia;
i) Humor Depressivo - Estado em que tudo é visto pelo lado negro, marcado pela
perda de força e de energia; associado à depressão;
j) Humor Disfórico – Humor desagradável e negativo que é percecionado como
desconfortável;
k) Humor Eufórico – Humor anormalmente elevado, excessivamente feliz,
acompanhado de discurso rápido, impulsividade, excesso de confiança em si
mesmo e de amor próprio e hiperatividade;
l) Labilidade Afetiva - Variação anormal dos afetos com mudanças repetidas e
abruptas;
m) Reatividade Afetiva – Alteração das emoções em resposta a estímulos externos,
tais como uma provocação pelo examinador;
n) Restrição/Constrição - Ligeira diminuição da amplitude e intensidade da
expressão emocional. Embora estes doentes possam demonstrar expressões
afetivas intensas, não apresentam muitos tipos de emoções;
o) Rigidez Afetiva - Prevalência de uma única expressão de afetividade,
independente da qualidade do estímulo. Redução ou ausência de manifestação
dos sentimentos;
p) Humor…..

6. Atividade Motora
a) Energia Vital - Força interior que orienta a duração, intensidade e duração das
ações e iniciativas psíquicas, que em grande parte independente da vontade;
b) Perturbação Motora - Quando a aquisição e execução de capacidades motoras
se encontram abaixo do esperado. São manifestadas por inépcia, tal como
lentidão e inexatidão no desempenho de capacidades motoras;
c) Vontade - Intenção de realização de uma ação baseada na cognição de uma
motivação:
• Apatia - Ausência de desejos, indiferença afetiva ou não envolvimento;
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• Anedonia - Perda de interesse ou de prazer sobre coisas que anteriormente


eram motivadoras ou agradáveis;
• Anergia - Diminuição da energia.

Perturbação da Atividade Motora


a) Hipoatividade - Atividade motora e mental reduzida visível através da
lentificação do pensamento, discurso e movimentos:
• Abulia - Perda da energia. Pode existir o desejo de fazer algo, mas não
existe energia ou iniciativa para o fazer;
• Acinésia - Ausência de movimentos físicos, imobilidade extrema
• Bradicinésia - Lentificação da atividade motora;
• Coma – Inconsciência profunda que origina uma perda da atividade
voluntária;
• Hipoacinésia - Redução na capacidade de movimentar-se;
• Imobilidade - Supressão de movimentos de uma ou mais articulações. A
imobilidade constante e prolongada, na mesma posição denomina-se
cataplesia, que na fase catatónica da esquizofrenia chama-se flexibilidade
cérea (quando as articulações e as extremidades do doente são flexionadas
ou estendidas com rigidez semelhante à da cera;
• Lentificação Psicomotora - Diminuição dos movimentos corporais
secundariamente a uma determinada disfunção psíquica;
b) Hiperatividade - Padrão persistente de desatenção/impulsividade, que causa
angústia ou incapacidades significativas no funcionamento social ou
ocupacional:
• Acatisia - Inquietude motora manifestada por necessidade de estar em
constante movimento;
• Agitação Psicomotora - Hiperatividade física e mental associada a uma
turbulência interna que geralmente se torna improdutiva;
• Agressividade - É uma tendência em agir ou responder de forma
violenta. Podem manifestar com intensidade variável, desde as expressões
verbais e gestuais à agressão física;
• Inquietação - Agitação ou desassossego provocado por confusões,
dúvidas ou hesitações, com ausência de tranquilidade ou paz.
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Anomalias Motoras
a) Movimento:
• Adiadococinesia – Incapacidade de realizar movimentos rápidos
alternados;
• Estupor – Ausência de atividade psicomotora;
• Fadiga - Enfraquecimento dos recursos físicos ou mentais;
• Fadigabilidade - Tendência para se fatigar facilmente;
• Letargia – Diminuição da atividade mental caracterizada por diminuição
da vigilância;
b) Tremor – Caracteriza-se por movimentos rápidos e alternados dos segmentos
do corpo mesmo quando estes se encontram em repouso ou em atividades
intencionais;
c) Movimentos Coreoatetóides – Movimentos de ondulação ou contorção de
segmentos corporais, que interrompem a situação de forma imprevisível e
inapropriada;
d) Distonias - Perturbação do tónus muscular:
• Catalepsia - Indução passiva de uma postura contra a gravidade;
• Cataplexia - Episódios súbitos de perda de tónus muscular bilateralmente
provocando o seu colapso;
• Imobilidade flácida – Quando se encontram imóveis sem rigidez dos
segmentos corporais;
• Opistótono – Costas rígidas e arqueadas e a cabeça encontra-se lançada
para trás;
e) Movimentos Automáticos /Automatismo - Movimentos involuntários, bruscos
e descoordenados:
• Sincinésias – Formas menores de automatismos;
f) Tiques – Contrações breves, rápidas, repetidas e involuntárias de alguns grupos
musculares. Consegue dominá-los com esforço;
• Estereotipias – Atos motores, repetidos e uniformes, sem uma finalidade
g) Maneirismos – Execução de gestos, movimentos dirigidos ou posturas
adaptativas, de forma reiterada e pouco habitual;
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• Posições estatuárias bizarras – Posição corporal inexpressiva,


totalmente imóvel (tal como numa estátua/petrificação);
h) Compulsões – Execução de um acto contra a própria vontade, com habitual
carácter ritualista de modo a diminuir a ansiedade;
• Impulsão – Actos súbitos, não controláveis;
i) Outras Anomalias
• Ambitendência – Aquando da execução de ações, debate-se com
tendências contraditórias de o executar ou de o suspender, tornando os seus
movimentos hesitantes ou oscilantes;
• Avolição - Incapacidade de início ou persistência em atividades com uma
finalidade;
• Copropraxia – Execução de gestos sexuais ou obscenos;
• Discinesia - Distorção de movimentos voluntários com atividade muscular
voluntária;
• Ecopraxia – Imitação de ações simples/gestos realizados por outras
pessoas;
• Estados Hipercinéticos – Movimentos diversificados, aparentemente sem
objetivo, sem manifestar expressões de afeto;
• Flexibilidade cérea – Fraca tensão muscular, com dificuldade de vencer
resistência. Se os membros permanecerem fixos denomina-se de
catalepsia;
• Manuseamentos – Inquietação motora com manipulação do que estiver
ao seu alcance;
• Mimetismo – Imitação das pessoas que o rodeiam;
• Obstrução – Incapacidade súbita de continuar ou iniciar um movimento
simples que noutras circunstâncias executaria com facilidade;
• Comportamento desinibido – Diminuição do autocontrolo sobre
impulsos culturalmente inaceitáveis;
21

7. Atenção e Concentração1
a) Atenção - Focagem da consciência, ativa ou passiva, numa determinada
experiência. É testada pelo “digit span test” (sequência de números que é
respondida pelo doente), capacidade para centrar a sua consciência em alguma
coisa;
• Atenção Ativa - Depende da vontade do próprio, o indivíduo foca a sua
atenção num acontecimento interno ou externo; exigindo um esforço no
sentido de orientar a sua atividade psíquica para determinada atividade num
dado momento;
• Atenção Passiva - Acontecimento interno ou externo que atrai a atenção do
indivíduo sem nenhum esforço consciente da sua parte. Depende da
tendência natural da atividade psíquica, orientar-se para solicitações
sensoriais e sensitivas, sem que nisso intervenha um propósito consciente.
Este tipo de atenção permite-nos conduzir, estando atento ao ambiente e
estímulos, estando em simultâneo a pensar sobre determinado assunto;
b) Concentração - persistência ou manutenção da atenção (focagem da
consciência), perante determinada experiência. É testada pela contagem de trás
para a frente, por soletrar palavras de trás para a frente e pelas subtrações
seriadas;

Perturbação da atenção
a) Inatenção – Falta de atenção;
b) Estreitamento – Ocorre focalização da atenção num só estímulo, esquecendo os
restantes, o que prejudica a atenção geral do individuo (pode ocorrer nas
Depressões Major ou Perturbações Obsessivo Compulsivo);
c) Distração – consiste num défice de atenção, sendo a forma mais comum de
alteração da atenção, chegando a impedir que exista concentração. Esta situação
pode ocorrer devido:
• Hiperprosexia – Aumento e fixação em estímulos irrelevantes;
• Hipoprosexia – Redução da fixação em determinados estímulos;
• Aprosexia – Ausência de fixação.

1
A atenção e a concentração dependem da preservação consciência, se houver diminuição da vigilidade
vão diminuir as duas; ambas são indispensáveis ao bom funcionamento da memória, pois na sua ausência,
não existe capacidade de fixação.
22

8. Discurso e Linguagem
a) Linguagem – Trata-se do conceito chave da comunicação. Inclui diversas
modalidades comunicacionais, entre as quais, expressões faciais, símbolos,
gestos, sinais, posição corporal, entre outros;
b) Discurso – Constitui-se como uma ação representativa da linguagem de cada
indivíduo, seja através da fala ou da escrita.

Perturbação da aprendizagem
Consiste numa dificuldade persistente em aprender ou utilizar capacidades
académicas, apesar das intervenções direcionadas para solucionar estas dificuldades: na
leitura; em perceber o significado e o sentido do que lê; em soletrar; em escrever; no
domínio do sentido dos números, factos numéricos ou o seu cálculo e com o raciocínio
matemático.

Perturbação da linguagem
Dificuldade persistente no uso de linguagem e na sua aquisição, transversal a
diversas modalidades, devido a défices na sua compreensão ou produção levando a:
vocabulário reduzido, limitada estruturação frásica e discurso deficiente.

As capacidades ficam abaixo das que são esperadas, resultando em dificuldades


na comunicação efetiva, na participação social e no rendimento escolar ou desempenho
ocupacional. Para além disso, esta perturbação não pode estar associada a nenhuma
deficiência sensorial, disfunção motora ou outra condição neurológica.

Para além de o discurso e a linguagem estarem altamente dependentes do


desenvolvimento cerebral, estes também podem sofrer alterações, originadas em
perturbações psiquiátricas.

a) Funções da linguagem e conceitos relacionados


• Fluência – Avalia o discurso espontâneo, referindo-se não só ao seu início
como também o seu fluxo:
o Afasia - Alteração da fala/discurso, devido a lesão orgânica:
▪ Afasia Motora (afasia de Broca) - Quando há compreensão, mas
não tem capacidade de resposta;
23

▪ Afasia Sensorial (afasia de Wernicke) - Quando não há


compreensão devido a uma dificuldade que está presente na receção
e interpretação das informações;
o Coprolalia - Emissão abrupta de palavras obscenas ou insultos étnicos,
raciais ou religiosos (socialmente inaceitáveis);
o Logorreia - Trata-se de um discurso irrefreável tipicamente associado a
estados de Mania ou Esquizofrenia;
o Mutismo - Ausência do discurso de forma consciente, sendo mais comum
na depressão ou esquizofrenia;
• Repetição – Avalia a capacidade verbal de o individuo conseguir repetir ou
não repetir palavras, sons ou frases:
o Ecolalia - Ocorre quando há repetição de certas palavras ou expressões
fora do contexto transmitidas por outras pessoas;
o Estereotipias Verbais - Repetição monótona de palavras ou frases de
forma não adequada, uniformemente e sem finalidade;
o Gaguez - Corresponde a uma alteração do ritmo e da fluidez do discurso.
Repetições frequentes ou prolongamentos dos sons ou sílabas;
o Logocolonia - Repetição da última sílaba da última palavra;
o Palilalia - Apresenta-se quando há repetição de certas palavras,
expressões ou sons, fora do contexto, transmitidas pelo próprio;
o Perseveração - Repetição anormal da mesma resposta a estímulos
diferentes (exemplo: perguntas diferentes);
o Verbigeração - Repetição de palavras que não são percetíveis, podendo
surgir por exemplo na esquizofrenia;
• Compreensão – Avalia a presença ou não de compreensão completa de
palavras e frases:
o Discalculia - Dificuldade no processamento de informação numérica,
factos aritméticos ou cálculos precisos;
• Nomeação – Capacidade que a pessoa tem de nomear objetos ou pessoas:
o Disfasia - Incapacidade de nomear objetos, no entanto mantém a
capacidade de os reconhecer. Recorre então a parafrasia;
o Holofrastia - Uso de uma única palavra para expressar uma combinação
de ideias;
24

o Parafrasia – Quando não há a capacidade de nomear objetos, mas é capaz


de os reconhecer (afasia), inicia a descrição da função do objeto;
• Escrita – Avalia a capacidade de escrita do individuo:
o Disgrafia - dificuldade na escrita;
• Leitura – Avalia a capacidade do individuo de ler em voz alta ou em silêncio:
o Afonia – Perda da voz;
o Alexia – Perda da capacidade de leitura;
o Bradilalia - Lentificação anormal da fala;
o Circunlóquios - Substituir palavras para evitar palavras problemáticas
(exemplo: gaguez, dislexia);
o Dislexia - Problemas no reconhecimento preciso e fluente de palavras,
descodificação e soletração pobre;
• Prosódia - Avalia a musicalidade e a entoação das palavras, assim como a sua
relação com o significado das frases:
o Aculalia - Emissão de discurso sem sentido devido a um prejuízo
acentuado da compreensão;
o Neologismos - Invenção/construção de novas palavras, de difícil
compreensão;
o Salada de Palavras - Mistura incoerente e incompreensível de palavras
ou expressões;
• Qualidade do discurso – Compreende diversas dimensões entre as quais,
altura, entoação, articulação, quantidade, espontaneidade e fonação:
o Disartria - Dificuldade na articulação de palavras;
o Pressão do discurso - Discurso longo, rápido, num tom alto e enfático,
difícil ou impossível de interromper, sem que haja qualquer estimulação
social.

9. Orientação
Capacidade do indivíduo de conhecer corretamente e de se situar adequadamente
no que se refere ao tempo, espaço, circunstância em que se encontra e identidade. Exige
a integração das capacidades de atenção, perceção e memória.
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a) Desorientação Alopsíquica - O doente é incapaz de apreender a situação em


que se encontra, não está ciente. Exemplo: diz que foi ao hospital por outra
razão, mas está orientado no Tempo e Espaço;
b) Desorientação Autopsíquica - O doente desconhece-se, tanto o seu nome
como os seus dados da sua biografia pessoal;
c) Desorientação Espacial - O doente estranho/ignora onde se encontra;
d) Desorientação Temporal - O doente desconhece a hora, o dia, o mês, o ano
e a estação do ano.

10. Consciência
a) Consciência- Estado de conhecimento do eu e do ambiente que o rodeia. Este
conceito abrange dois domínios:
a) Alterações Quantitativas - Intensidade do campo da consciência
(aumento ou diminuição da vigilidade):
• Aumento da Vigilidade (associado à mania, esquizofrenia e/ou
tóxicos), pode verificar-se a seguinte sintomatologia:
- Ansiosamente atentos;
- Não relaxam;
- Olham em volta;
- Assustam-se facilmente.
• Diminuição da Vigilidade - Pode verificar-se os seguintes estados:
- Obnubilação (diminuição ligeira da vigilidade);
- Sonolência (diminuição moderada da vigilidade);
- Estupor (diminuição intensa da vigilidade);
- Coma (diminuição muito intensa da vigilidade, não
despertável e não reativo à dor).

b) Alterações Qualitativas, coerência e extensão do campo da consciência:


• Delirium (estado confusional agudo);
• Dissociação da consciência - Crises dissociativas/pseudocrises;
26

• Estreitamento - Estão absorvidos numa situação e não fazem caso


do resto, estão distraídos;
• Expansão da consciência - Aumento da consciência, doentes mais
cientes do que lhes está a acontecer, ficam mais sensíveis ao que os
rodeia (mania, alucinogénios);
• Turvação – O doente não consegue apreender de forma clara e
correta o que o rodeia, ele pode estar internado e pensar que está em
casa.

11. Memória
Capacidade de fixar e evocar informação, o que nos permite ficar e evocar o que
se vivenciou, e consequentemente reconhecer. Permite-nos ter Identidade Pessoal,
orientarmo-nos no mundo e sociedade, tendo uma vida autónoma.

Tipos de memória

a) Memória Imediata – Memória que dura alguns segundos, esta confunde-se com
a própria atenção e é a capacidade de reter o conteúdo logo após ser percebido, é
o que nos ajuda a conversar com nexo;
b) Memória Recente - Dura minutos a uma hora, é a capacidade de reter a
informação por um curto período;
c) Memória Remota - É a que tem capacidade de armazenar factos ocorridos
durante meses ou até anos, tudo o que seja memórias antigas/passadas, ou seja,
quase tudo o que nos lembramos são memórias remotas. Exemplo: o que que se
jantou ontem, assim como momentos de há 10 anos;

Perturbação da Memória
a) Amnésia - Incapacidade da memorização (construção de uma memória), de
fixação, de armazenamento e/ou da evocação (pessoa memoriza, mas não
consegue invocar/verbalizar exemplo: as “brancas” dos testes, conseguimos
chegar lá com pistas);
• Amnésia Ansiosa - Deve-se à interferência da ansiedade excessiva com a
perceção e a compreensão;
• Amnésia Catatímicas - O indivíduo reprime memórias para tentar evitar o
sentimento desagradável que elas produzem;
27

• Amnésia Histérica ou Dissociativa - Perda completa da memória e da


identidade;
• Amnésia orgânica - Alterações da perceção e da atenção;
• Dismnésia - Distorções da memória sem alterações qualitativas;
b) Hipoamnésia - Diminuição da capacidade de fixar, armazenar e/ou evocar
informações;
c) Amnésia Lacunar - Amnésia que só atinge determinados segmentos da memória,
podendo ser classificada como:
• Anterógrada – Para acontecimentos após o acontecimento, ou seja,
incapacidade em fazer registos permanentes;
• Retrógrada - Para acontecimentos antes do episódio;
d) Hipermenésia - Aumento da capacidade de armazenar e/ou evocar memórias,
recordações constantes de algo que não se quer lembrar, rica em demasiados
pormenores (Exemplo: Traumas);
e) Paramnésia - Alteração a nível da qualidade, o indivíduo distorce e/ou inventa as
memórias:
• Confabulações - O indivíduo preenche com falsas memórias, as suas lacunas
amnésicas (fá-lo involuntariamente);
• Falsas memórias - Informações memorizadas que diferem em algum ponto
da realidade que esteve na sua origem e que foi efetivamente vivida, desde a
distorção da realidade, (exemplo: afirmar que a cor de uma camisola que
comprou era verde, quando na realidade era preta) até à implementação de
uma memória cujo o episódio nunca ocorreu na verdade (exemplo: memória
de um acidente que nunca se sucedeu). Podem decorrer tanto a partir de uma
sugestão externa (memórias implantadas) ou de uma sugestão interna
(memórias espontâneas);
• Falsos Reconhecimentos - Corresponde ao reconhecimento de situações e
pessoas estranhas como sendo familiares ou não reconhecer pessoas e
situações familiares (exemplo: Dizer que a enfermeira é a filha);
• Pseudologia - Indivíduos que criam histórias mirabolantes, fantásticas sobre
si mesmos, acreditando realmente nesses factos fictícios;
• Recordação delirante - Achar que viu alguém, mas não viu.
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12. Alimentação
Nutrição é fundamental para a manutenção da vida. A Alimentação é uma
atividade social, sendo que os fatores comportamentais ou psicológicos a afetam
potencialmente. As perturbações alimentares surgem então quando existe um consumo
excessivo ou o seu oposto. Para além disso, muitas vezes estas pessoas têm uma imagem
corporal distorcida da realidade. Este conceito é subjetivo pois retrata a sua aparência
física com base na sua perceção e na reação das outras pessoas.

Conceitos relacionados
a) Alotriofagia - Consumo de substância que não apresentam nenhum valor
nutricional;
b) Anorexia - Perda prolongada do apetite;
c) Bulimia - Apetite excessivo e insaciável que leva a ingestão de alimentos de
forma descontrolada levando a comportamentos inadequados de modo a
compensar esta ingestão (Exemplo: vómitos auto-induzidos e uso incorreto de
laxantes, diuréticos);
d) Obesidade - Condição física em que o valor de massa corporal é igual ou superior
a 30 (Kg/M^2).

Perturbação da alimentação
a) Anorexia Nervosa - Caracteriza-se por um medo mórbido de obesidade, que
inclui uma grave distorção da sua imagem corporal originando recusa alimentar.
O indivíduo tem a perceção de estar obeso quando na verdade encontra-se abaixo
do peso adequado;
b) Bulimia Nervosa - Conceito definido como um medo aterrorizante de obesidade,
levando a que haja uma distorção da imagem corporal, originando uma
preocupação constante com a comida e consequente recusa alimentar;

Obesidade Morbidade -

Comer durante o sono - distúrbio alimentar aquando do sono em que a pessoa acorda
diversas vezes para comer ou beber de forma excessiva

Emaciado - Estado corporal em que a pessoa se encontra excessivamente magra ou


desgastada fisicamente

Hiperfagia - ingestão de alimentos de forma exacerbada


29

13. Sono
Afeta o funcionamento do corpo diariamente podendo ter repercussões tanto a
nível da Saúde Mental como da Doença Mental.

a) Apneia do Sono - Interrupção da respiração durante o sono:


• Apneia Central do Sono - Interrupção da respiração durante o sono
(aproximadamente 10 segundos) devido a uma rutura de um sinal do SNC;
• Apneia Obstrutiva do Sono - Caracteriza-se por pausas frequentes na
respiração durante o sono, devido ao relaxamento dos músculos da garganta
bloqueando as vias aéreas;
b) Bruxismo - Ranger incontrolável dos dentes durante o sono, associado
maioritariamente a estados de ansiedade ou raiva;
c) Enurese Noturna - Micção involuntária durante o sono em indivíduos que
tenham controlo do esfíncter;
d) Hipersonia - Sonolência excessiva ou procura constante de períodos de sono
durante o dia;
e) Insónia - Dificuldade em manter ou iniciar o sono:
• Insónia ‘Jet Lag’ - Perturbação do ritmo circadiano, levando a alteração
do padrão de sono, devido por exemplo a alterações do fuso horário,
viagens aéreas, trabalhos por turnos;
• Insónia de Ajuste - Dificuldade em iniciar ou manter o sono durante um
período específico (dias ou semanas);
• Insónia Idiopática - Insónia crónica sem que haja conhecimento da sua
causa;
f) Mioclonias do Sono - Espasmos musculares que ocorrem no sono;
g) Narcolepsia - Sonolência diurna excessiva e profunda;
h) Parassonias - Trata-se de comportamentos incontroláveis e indesejáveis, físicos
ou verbais, que ocorrem durante o sono ou transições de sono e vigília:
• Sonambulismo - Consiste na realização de ações complexas (exemplo:
caminhar), enquanto se encontra a dormir;
• Pesadelos - Imagens visuais que ocorrem durante o sono, particularmente
assustadoras;
• Terrores Noturnos - Condição em que a pessoa chora, geme ou grita
porque tem pressentimento de algo negativo ou tem medo;
30

• Catatrenia - Gemidos noturnos;


i) Sono Longo - Vontade diária de dormir 10 a 12 horas a cada noite, levando a
sonolência durante o dia se estas horas não forem satisfeitas.

14. Sexualidade
Necessidade humana básica, que influencia a saúde física e mental. Tal como as
restantes temáticas existem perturbações associadas, sendo que estas estão relacionadas
com a função sexual ou a identidade de género.

a) Parafilias - Comportamentos ou fantasias sexuais repetidos ou preferenciais por


usos de objetos não humanos, que envolvam sofrimento ou humilhações, ou
atividade sexual sem consentimento do outro:
• Exibicionismo - Desejos intensos e recorrentes envolvendo a exposição dos
seus órgãos sexuais a um estranho;
• Fetichismo - Fantasias sexualmente excitantes de pelo menos 6 meses de
duração usando objetos não vivos:
o Fetichismo Transvertido - Fetiche que envolve vestir as roupas do
outro sexo;
• Frotteurismo - Vontade recorrente com pelo menos 6 meses de duração
que envolve tocar ou esfregar-se de forma sexual noutra pessoa sem o seu
consentimento;
• Pedofilia - Comportamentos sexuais recorrentes de pelo menos 6 meses
envolvendo atividades sexuais com crianças;
• Masochismo Sexual - Fantasia sexual com duração de pelo menos 6 meses
de ser humilhado, espancado ou colocado em sofrimento;
• Sadismo Sexual – Atitude sexual com duração de pelo menos 6 meses em
que fica sexualmente excitado humilhando ou causando sofrimento físico
ou psicológico à outra pessoa;
• Voyeurismo - Impulsos sexuais com duração de pelo menos 6 meses, em
que se sente excitado ao observar a outra pessoa nua ou a realizar atos
sexuais sem que a mesma saiba que está a ser observada;
31

Perturbações do Desejo Sexual

Perturbações do Desejo Sexual Hipoativo ausência de desejo de atividade sexual


recorrentemente

Perturbações de Aversão Sexual evitação constante e a todo o custo de contactos de


cariz sexual com o seu parceiro sexual

Perturbações da Excitação Sexual

Perturbações da Excitação Sexual na Mulher incapacidade por parte da mulher de se


manter lubrificada e excitada durante todo o ato sexual

Perturbações Erétil no Homem incapacidade persistente por parte do Homem de manter


uma ereção até ao término do ato sexual

Perturbações do Orgasmo

Perturbações do Orgasmo na Mulher ou Anorgasmia atraso ou ausência recorrente do


orgasmo após uma fase de excitação sexual normal

Perturbações do Orgasmo no Homem ou ejaculação retardada atraso ou ausência


recorrente do orgasmo após uma fase de excitação sexual normal durante a atividade

Ejaculação precoce ejaculação persistente com um mínimo de estimulação sexual

Perturbações de Dor Sexual

Dispareunia dor na região genital recorrente, associada a relações sexuais

Vaginismo contração da vagina no terço externo impedindo a introdução do pénis e


consequentemente a atividade sexual
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Referências Bibliográficas
American Psychiatric Association (2013). DSM-5: Manual de Diagnóstico e Estatística
das Perturbações Mentais. 5ª ed. Lisboa: Climepsi.

DGS. (2017). Relatório do Programa Nacional para a Saúde Mental. Lisboa: DGS.

Neeb, K. (2000). Fundamento de Enfermagem de Saúde Mental. Loures: Lusociência.

Sadock, B.; Sadock, V.; Ruiz, P. (2017). Compêndio de Psiquiatria: ciência do


comportamento e psiquiatria clínica. 11ª ed. Porto Alegre: Artmed

Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental. (s.d.). Perturbação Mental em


Números. Obtido em 27 de janeiro de 2019, de
http://www.sppsm.org/informemente/guia-essencial-para-jornalistas/perturbacao-
mental-em-numeros/

Townsend, M. (2011). Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica. Loures: Lusociência

Trzepacz, P.; Baker, R. (2001). Exame Psiquiatrico do Estado mental. Lisboa; Climepsi

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