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BIOSSEGURANÇA

Prof. Leandro D. Almeida


Engenheiro Químico
Engenheiro de Segurança do Trabalho
Biossegurança
É o conjunto de ações voltadas para prevenir ou minimizar os
riscos para profissionais de saúde que trabalham com materiais
biológicos.
Biossegurança
• Precauções Padrão: visam reduzir os riscos de transmissão de
agentes infecciosos, principalmente veiculados por sangue e fluidos
corpóreos (líquor, líquido pleural, peritoneal, pericárdico, sinovial,
amniótico, secreções e excreções respiratórias, do trato digestivo e
geniturinário) ou presentes em lesões de pele, mucosas, restos de
tecidos ou de órgãos ou do contato por gotículas/aerossóis.
• Uso de Equipamentos de Proteção Individual (E.P.I.): luvas,
máscaras, óculos de proteção, capotes e aventais
• Cuidados com materiais perfuro-cortantes
• Higienização adequada das mãos
Histórico
• 1960/1970 – Desenvolvimento da biossegurança por ação da
indústria
• 1984 – Primeiro caso reportado de profissional da saúde infectado
pelo vírus HIV, por picada de agulha.
• 2005 – Lei 11105/2005: discursa sobre práticas com organismos
geneticamente modificados e questões relativas à pesquisas
científicas com células tronco embrionárias
Epidemiologia
É o estudo quantitativo da distribuição das doenças e seus
fatores condicionantes/determinantes, nas populações humanas.
• Estima-se que a cada ano os profissionais da saúde sofram
aproximadamente 1,5 milhão de lesões por picadas de agulha e
outros ferimentos com objetos perfurocortantes.
• O risco de infecção por HIV pós-exposição ocupacional percutânea
com sangue contaminado é de aproximadamente 0,3% e, na
exposição de mucosa, aproximadamente 0,09%.
• O risco de transmissão da Hepatite B aos profissionais da saúde
não imunizados, após uma exposição ocupacional, é de 6 a 30%.
• O índice de transmissão da Hepatite C é de aproximadamente 1,8 a
10%.
Epidemiologia
• 600.000 a 800.000 acidentes por ano nos EUA
• Metade desses acidentes não são comunicados
• Acidentes comunicados envolvem equipe de enfermagem
• 30 acidentes com agulha para cada 100 leitos por ano
• Agulha é a principal ferramenta causadora de acidentes
percutâneos
Fator Emocional
• O impacto emocional de um acidente com agulha pode ser forte e
duradouro, mesmo quando não há contaminação do profissional da
saúde.
• O desconhecimento da sorologia do paciente-fonte acentua ainda
mais o estresse do profissional acidentado, da sua família e dos
seus colegas de trabalho.
Agentes Biológicos
São microrganismos, geneticamente modificados ou não,
presentes no ambiente de trabalho, causadores de doenças com as
quais pode o trabalhador entrar em contato no exercício de suas
atividades profissionais.

• Vírus • Protozoários
• Bactérias • Culturas de células
• Parasitas • Toxinas
• Fungos • Príons
• Bacilos
Riscos Biológicos
Vias de contaminação e doenças
• Via aérea: tuberculose, varicela,
rubéola, sarampo, influenza, viroses
respiratórias, doença meningocócica
• Exposição ao sangue e fluidos
orgânicos: HIV, hepatites B e C,
raiva, sífilis
• Transmissão fecal-oral: hepatite A,
poliomielite, gastroenterite, cólera
• Contato com o paciente: escabiose,
pediculose, colonização por
stafilococos
Riscos Biológicos
Critérios
• Patogenicidade
• Modo de transmissão
• Estabilidade
• Concentração e volume
• Dose infectante
• Disponibilidade de profilaxia e de tratamento
• Tipo de ensaio
Classificação de Riscos Biológicos
Classe I II III IV

Risco individual Baixo Moderado Elevado Elevado

Risco Baixo Limitado Baixo Elevado


comunitário
Exemplos Bacillus subtilis Schistosoma Mycobacterium Ebola
mansoni tuberculosis

• OBS 1: Existe uma classe de risco especial para os organismos que,


mesmo não sendo patógenos perigosos para o homem, apresentem alto
risco de causar doença animal grave e de disseminação no meio
ambiente, causando danos econômicos altos

• OBS 2: Em relação aos organismos geneticamente modificados (OGMs) o


critério de classificação está baseado no risco presente nas sequências de
DNA/RNA dos organismos doadores e receptores
Problemas Gerais de Segurança
• Formação de aerossóis
• Atividades com grandes volumes e/ou altas concentrações de
microrganismos
• Sobrelotação de pessoal e equipamento
• Infestação de roedores e artrópodes
• Entradas não autorizadas
• Fluxo de trabalho
• Utilização de amostras e reagentes específicos
Níveis de Segurança, Práticas e
Equipamentos
Grupo de Nível de Tipo de laboratório Práticas de laboratório Equipamento de
risco biossegurança proteção
1 NB 1 Ensino básico, Boas Técnicas de Nenhum, mesa/
Básico pesquisa Microbiologia (BTM) bancada de trabalho
2 NB 2 Serviços básicos de BTM e roupas de Bancada de trabalho
Básico saúde; serviços de proteção, sinal de e Cabines de
diagnóstico, pesquisa perigo biológico Segurança Biológicas
(CSB’s) para aerossóis
potenciais
3 NB 3 Serviços especiais de Como nível 2, mais CSB e outros
Confinamento diagnóstico, pesquisa roupa especial, acesso dispositivos primários
controlado, ventilação para todas as
dirigida atividades
4 NB 4 Serviço de Como nível 3, mais CSB classe III ou
Confinamento manipulação de entrada hermética, vestimentas de
máximo agentes patogênicos saída com chuveiro, pressão positiva em
perigosos eliminação especial dos conjunto com CSB
resíduos classe II, autoclave
duas portas (através
da parede), ar filtrado
Nível de Biossegurança 1
Nível de Biossegurança 2
Nível de Biossegurança 3
As medidas de prevenção
• Construir instalações adequadas
• Mantes boas práticas de laboratório (BPL)
• Usar os equipamentos de proteção individual (EPI’s): jalecos luvas,
toucas, óculos, máscaras, protetores, dispositivos para pipetagem,
etc.
• Verificar os equipamentos de proteção coletiva (EPC’s): autoclaves
e fornos, chuveiros e lava-olhos, caixas de descarte, centrífugas,
agitadores e misturadores, etc.
• Providenciar o tratamento adequado dos resíduos
• Apoias as decisões das Comissões Internas de Biossegurança
(CIBIO)
• Procurar auditorias externas
SANGUE E SECREÇÕES: O QUE
FAZER?
PRECAUÇÕES PADRÃO:
1) Utilizar os E.P.I.’s adequados a sua função.
2) Cuidado na manipulação e descarte de materiais
perfurocortantes.
Cuidados com materiais
perfurocortantes
• Não reencapar agulhas
• Não desconectar as agulhas das seringas
• Não quebrar ou entortar as agulhas
• Desprezar perfurocortantes em recipiente adequado
• Não jogar perfurocortantes no lixo comum
• Não deixar agulhas nas camas ou berços dos pacientes
• Não usar agulhas para pregar cartazes nos murais
• Nunca ultrapassar o limite da capacidade do coletor de material
perfuro-cortante
• Utilizar luvas de procedimentos para punção venosa e coleta de
sangue
• Manusear materiais cortantes com cuidado
Tendências
Os acidentes com perfurocortantes podem ser evitados:
• Eliminando uso desnecessário de agulhas;
• Usando dispositivos com sistemas de segurança;
• Promovendo práticas seguras de trabalho;
• Promovendo educação em serviço.
Procedimentos Recomendados em
Caso de Exposição a Material
Biológico
1) CUIDADOS LOCAIS
• Lavagem exaustiva com água e sabão na área exposta
(percutâneo);
• Lavagem exaustiva com água ou soro fisiológico após exposição
em mucosas.
2) MEDIDAS ESPECÍFICAS DE QUIMIOPROFILAXIA - HIV
• Deverá ser iniciada o mais rápido possível entre 1 a 2 horas após o
acidente.
• A duração da quimioprofilaxia é de 4 semanas.
Profilaxia Pós Exposição
Importante:
• Ter um protocolo de atendimento.
• Criar uma rotina de trabalho.
• Treinar pessoas responsáveis para atendimento imediato ao
acidente com material biológico.
• Ter o “Kit AIDS”.
• Colher os exames do paciente e do funcionário.
• Avaliar início de medicação precocemente.
• Fazer a notificaçào do acidente dentro do prazo estipulado
Profilaxia Pós Exposição
Exames a solicitar do paciente Exames a solicitar do paciente
fonte: vítima:

• Teste rápido para o HIV • Anti HIV


• Anti HIV • HBsAg (Hepatite B)
• HBsAg (Hepatite B) • Anti-HBs (anticorpos para
• HBeAg (replicador Hepatite Hepatite B)
B) • Anti HCV (Hepatite C)
• Anti HCV (Hepatite C) • VDRL (Sífilis)
• VDRL (Sífilis)
Profilaxia Pós Exposição
Quando iniciar a terapia?

• O ideal é na primeira ou segunda hora após a exposição.


• Quanto mais precoce, maior é a probabilidade que a profilaxia
seja eficaz.

Nos acidentes graves é melhor começar e posteriormente


reavaliar a manutenção (ou não) das medicações.
Acidentes com secreção orgânica
• Determinar o paciente com o qual o funcionário se acidentou;
• Coletar os exames do paciente e do funcionário;
• Avaliar a necessidade ou não de medicação para HIV;
• Avaliar a necessidade ou não de vacina e imunoglobulina contra
Hepatite B;
• Anexar declaração de testemunhas do acidente;
• Buscar o serviço de Saúde e Segurança do Trabalho
Exposição à Hepatite B
• Esquema vacinal completo (3 doses): nada a fazer.
• Esquema vacinal incompleto e fonte HBsAg negativo: completar.
• Esquema vacinal incompleto, fonte HBsAg + ou desconhecido, e
vítima anti-HBs negativo: fazer imunoglobulina* (ideal nas
primeiras 24 a 48 horas após o acidente).

*Tentar conseguir o status sorológico da fonte com urgência.


Exposição ao HIV
Caso paciente fonte já sabidamente HIV +:
• Avaliar o estágio da infecção (carga viral, CD4, genotipagem ou
suspeita de resistência aos antirretrovirais
• Indicar profilaxia conforme gravidade do acidente.
Caso paciente fonte não for testado para HIV:
• Realizar o teste rápido
Paciente fonte desconhecido:
• Avaliar caso a caso.
Seguimento dos funcionários
expostos a acidentes com material
biológico
• Exposição ao HIV: 6 semanas, 12 semanas e 6 meses.
• Exposição a paciente co-infectado HIV + Hepatite C: fazer follow-
up até 1 ano após.
• Paciente fonte HIV negativo: não é necessário retestar.
• Repetir HIV a qualquer pessoa exposta que apresente clínica
compatível com Síndrome antirretroviral aguda.
• Hepatite B - seguir 1 a 2 meses após a última dose que recebeu a
vacina.
• Hepatite C - dosar anti HVC e transaminases 4-6 meses após.
Lembrando
• 25% dos acidentes são potencialmente preveníveis;
• Muitas pessoas usam remédios sem necessidade;
• A maioria não faz follow-up (acompanhamento).
• A melhor forma de prevenção é evitar o acidente, obedecendo as
normas de biossegurança e estar vacinado contra as doenças a que
se é susceptível.
Referências
• Bell DM. Occupational risk of HIV in Healthcare workers: an overview. AM J Med
1997; (5B): 9-15.
• NIOSH - NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH /CDC -
Alert PreventingNeedlestick Injuries in Health Care Settings - Publication No. 2000 -
108, November 1999.
• Ministério da Saude. Manual de Condutas em Exposição a Material Biológico.
Disponível em <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/04manual_acidentes.pdf> Acesso em
05/03/2018
• Ministério da Saude. Exposição Ocupacional a Material Biológico: Hepatite e
HIV. Disponível em <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_condutas_hepatite_hiv.pdf>
Acesso em 05/03/2018
• BRASIL. NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. Normas
Regulamentadoras (NR) aprovadas pela portaria GM nº 485, de novembro de
2005.

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