GEODIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL ESTADO DO RIO GRANDE
GEODIVERSIDADE DO ESTADO
Fax: 21 2542-3647
usuários, o mapa compartimenta o território gaúcho Presidência
em unidades geológico-ambientais, destacando suas Fone: 21 2295-5337 • 61 3322-5838
Fax: 21 2542-3647 • 61 3225-3985
limitações e potencialidades frente à agricultura, obras
Diretoria de Hidrologia e Gestão Territorial
civis, utilização dos recursos hídricos, fontes poluidoras, Fone: 21 2295-8248 • Fax: 21 2295-5804
potencial mineral e geoturístico.
Departamento de Gestão Territorial
Fone: 21 2295-6147 • Fax: 21 2295-8094
Nesse sentido, com foco em fatores estratégicos Diretoria de Relações Institucionais
para a região, são destacadas Áreas de Relevante e Desenvolvimento
Fone: 21 2295-5837 • 61 3223-1166/1059
Interesse Mineral – ARIM, Potenciais Hidrogeológico Fax: 21 2295-5947 • 61 3323-6600
e Geoturístico, Riscos Geológicos aos Futuros Superintendência Regional de Porto Alegre
Empreendimentos, dentre outros temas do meio físico, Rua Banco da Província, 105 – Santa Teresa
Porto Alegre – RS • 90840-030
representando rico acervo de dados e informações Fone: 51 3406-7300 • Fax: 51 3233-7772
atualizadas e constituindo valioso subsídio para a Assessoria de Comunicação
tomada de decisão sobre o uso racional e sustentável Fone: 21 2546-0215 • Fax: 21 2542-3647
Ouvidoria
Fone: 21 2295-4697 • Fax: 21 2295-0495
ouvidoria@cprm.gov.br
Geodiversidade é o estudo do meio físico constituído por ambientes
diversos e rochas variadas que, submetidos a fenômenos naturais Serviço de Atendimento ao Usuário – SEUS
e processos geológicos, dão origem às paisagens, ao relevo, outras Fone: 21 2295-5997 • Fax: 21 2295-5897
seus@cprm.gov.br
rochas e minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos
superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo
como valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, www.cprm.gov.br
2010
o educativo e o turístico, parâmetros necessários à preservação
responsável e ao desenvolvimento sustentável.
2010
2010
GEODIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL
Levantamento da Geodiversidade
CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Ministra-Chefe Dilma Rousseff
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-Presidente
Agamenon Sergio Lucas Dantas
Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial
José Ribeiro Mendes
Diretor de Geologia e Recursos Minerais
Manoel Barretto da Rocha Neto
Diretor de Relações Institucionais e Desenvolvimento
Fernando Pereira de Carvalho
Diretor de Administração e Finanças
Eduardo Santa Helena da Silva
GEODIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL
Levantamento da Geodiversidade
ORGANIZAÇÃO
2010
CRÉDITOS TÉCNICOS
LEVANTAMENTO DA GEODIVERSIDADE
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
CDD 551.098165
APRESENTAÇÃO
Brasil, em estreita sintonia com a Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação
Mineral do Ministério de Minas e Energia (SGM/MME), tem sido a consolidação do
conceito de geodiversidade e, consequentemente, do desenvolvimento de métodos
e tecnologia para geração de um produto de altíssimo valor agregado, que rompe
o estigma de uso exclusivo das informações geológicas por empresas de mineração.
A primeira etapa no caminho dessa consolidação foi a elaboração do Mapa
Geodiversidade do Brasil (escala 1:2.500.000), que sintetiza os grandes geossistemas
formadores do território nacional. Além de oferecer à sociedade uma ferramenta
científica inédita de macroplanejamento do ordenamento territorial, o projeto
subsidiou tanto a formação de uma cultura interna com relação aos levantamentos
da geodiversidade quanto os aperfeiçoamentos metodológicos.
A receptividade ao Mapa Geodiversidade do Brasil, inclusive no exterior,
mostrando o acerto da iniciativa, incentivou-nos a dar prosseguimento à empreitada,
desta feita passando aos mapas de geodiversidade estaduais, considerando que nos
últimos cinco anos o Serviço Geológico atualizou a geologia e gerou sistemas de informações
geográficas de vários estados brasileiros.
É nesse esforço que se insere o LEVANTAMENTO DA GEODIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL aqui apresentado. Trata-se de um produto concebido
para oferecer aos diversos segmentos da sociedade gaúcha uma tradução do conhecimento
geológico-científico estadual, com vistas a sua aplicação ao uso adequado do território.
Destina-se a um público-alvo variado, desde empresas mineradoras tradicionais, passando
pela comunidade acadêmica, gestores públicos da área de ordenamento territorial e gestão
ambiental, organizações não-governamentais até a sociedade civil.
Dotado de uma linguagem de compreensão universal, tendo em vista seu caráter multiuso,
o produto compartimenta o território gaúcho em unidades geológico-ambientais, destacando
suas limitações e potencialidades, considerando-se a constituição litológica da supraestrutura
e da infraestrutura geológica. São abordadas, também: características geotécnicas; coberturas
de solos; migração, acumulação e disponibilidade de recursos hídricos; vulnerabilidades e
capacidades de suporte à implantação de diversas atividades antrópicas dependentes dos
fatores geológicos; disponibilidade de recursos minerais essenciais ao desenvolvimento social
e econômico do estado. Nesse particular, em função de fatores estratégicos, são propostas
Áreas de Relevante Interesse Mineral (ARIMs), constituindo-se em valioso subsídio às tomadas
de decisão conscientes sobre o uso do território.
O Mapa Geodiversidade do Estado do Rio Grande do Sul foi gerado a partir dos SIGs do
Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul (2008) e do Mapa Geodiversidade do Brasil
(2006), escala 1:2.500.000, bem como de informações agregadas obtidas por meio de trabalho
de campo, consulta bibliográfica e dados de instituições públicas e de pesquisa.
As informações técnicas produzidas pelo levantamento da Geodiversidade do Estado
do Rio Grande do Sul – na forma de mapa, SIG e texto explicativo – encontram-se disponíveis
no portal da CPRM/SGB (<http://www.cprm.gov.br>) para pesquisa e download, por meio do
GeoBank, o sistema de bancos de dados geológicos corporativo da Empresa, e em formato
impresso e digital (DVD-ROM), para distribuição ao público em geral.
Com este lançamento, o Serviço Geológico do Brasil dá mais um passo fundamental, no
sentido de firmar os mapas de geodiversidade como produtos obrigatórios de agregação de valor
aos mapas geológicos, na certeza de conferir às informações geológicas uma inusitada dimensão
social, que, em muito, transcende sua reconhecida dimensão econômica. E, como tal,
permite maior inserção dos temas geológicos nas políticas públicas governamentais, a
bem da melhoria da qualidade de vida da população brasileira.
SUMÁRIO
Pedro Augusto dos Santos, Ana CláudiaViero
2. Evolução Geológica: Do PaleoproterozÓico ao Recente.... 15
Wilsom Wildner, Ricardo Cunha Lopes
3. Origem das Paisagens................................................................... 35
Marcelo Eduardo Dantas, Ana Cláudia Viero,
Diogo Rodrigues Andrade da Silva
4. SOLOS................................................................................................ 51
Nestor Kämpf, Edmar V. Streck
5. RECURSOS HIDRICOS SUBTERRÂNEOS............................................... 71
Marcos Alexandre de Freitas
6. POTENCIAL MINERAL PARA NÃO-METÁLICOS NA REGIÃO
METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE.................................................... 87
Diogo Rodrigues Andrade da Silva, Luiz Fernando Pardi Zanini
7. CARVÃO MINERAL........................................................................... 103
José Alcides Fonseca Ferreira, Aramis Gomes, Vitório Orlandi Filho
8. PANORAMA DA PESQUISA E DO Potencial Petrolífero............. 109
Kátia da Silva Duarte, Bernardo Faria de Almeida,
Antenor de Faria Muricy Filho, Cintia Itokazu Coutinho
9. ASPECTOS ECONÔMICO DO SETOR MINERAL.................................. 117
Diogo Rodrigues Andrade da Silva
10. METODOLOGIA, ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA...................................... 127
Maria Angélica Barreto Ramos, Marcelo Eduardo Dantas, Antônio
Theodorovicz, Valter José Marques, Vitório Orlandi Filho, Maria Adelaide
Mansini Maia, Pedro Augusto dos Santos Pfaltzgraff
11. GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES/POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO.................................. 143
Ana Cláudia Viero
aPÊNDICES
SUMÁRIO
Geodiversidade............................................................................................... 11
Aplicações....................................................................................................... 12
Referências...................................................................................................... 13
POTENCIAL PETROLÍFERO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO Sul
11
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO Sul
APLICAÇÕES
Figura 1.3: Morros em terreno de rochas cristalinas, em segundo
plano na imagem (Viamão, RS).
O conhecimento da geodiversidade nos leva a iden-
tificar, de maneira melhor, as aptidões e restrições de uso
O conhecimento da geodiversidade de uma região
do meio físico de uma área, bem como os impactos ad-
implica o conhecimento de suas rochas, portanto, nesse
vindos de seu uso inadequado. Além disso, ampliam-se as
caso específico, a rocha, constituindo-se em um sienogra-
possibilidades de melhor conhecer os recursos minerais,
nito, mostraria aptidões para aproveitamento do material
os riscos geológicos e as paisagens naturais inerentes a
como rocha ornamental, pedra de talhe, brita ou saibro. O
uma determinada região composta por tipos específicos
relevo ondulado e a espessura do solo, variável em função
de rochas, relevo, solos e clima. Dessa forma, obtém-se um
da topografia, seriam outros fatores para auxiliar no de-
diagnóstico do meio físico e de sua capacidade de suporte
senvolvimento dessa atividade. A disponibilidade de água
para subsidiar atividades produtivas sustentáveis.
limitada, resultante das pequenas vazões dos cursos d’água
e das características de aquífero fissural, com au-
sência de fraturas interconectadas, tornaria a área
pouco propícia, ou com restrições, à instalação de
atividades agrícolas ou assentamentos urbanos.
Em outro exemplo, tem-se uma área plana
(planície de inundação de um rio) cujo terreno é
constituído por areias e argilas, com possível pre-
sença de turfas e argilas moles. Nessa situação, os
espessos pacotes de areia viabilizam a explotação
desse material para construção civil; as argilas
moles e turfas, devido a seu comportamento
geotécnico, propiciam a inadequação da área
à ocupação urbana ou industrial; a presença de
solos mais férteis torna a área propícia à agricul-
tura de ciclo curto. Observa-se, entretanto, que
justamente em várzeas e planícies de inundação é
que se instalou a maior parte das cidades no Brasil,
cuja população sofre periodicamente os danos
das cheias dos rios, como é o caso do município
de São Leopoldo no estado do Rio Grande do Sul
Figura 1.2: Principais aplicações da geodiversidade. (Figura 1.4).
Fonte: Silva et al. (2008b, p. 182).
12
POTENCIAL PETROLÍFERO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO Sul
Referências
BRILHA, j.; Pereira D.; Pereira, P. Geodiversidade: valores OWEN, D.; PRICE, W.; REID, C. Gloucestershire
e usos. Braga: Universidade do Minho, 2008. cotswolds: geodiversity audit & local geodiversity action
plan. Gloucester: Gloucestershire Geoconservation Trust,
CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil: Escala 2005.
1:2.500.000. Legenda expandida. Brasília: CPRM, 2006.
68 p. CD-ROM.
SERRANO CAÑADAS, E.; RUIZ FLAÑO, P. Geodiversidad:
GALOPIM DE CARVALHO, A. M. Natureza: biodiversidade concepto, evaluación y aplicación territorial: el caso de
e geodiversidade. [S.l.: s.n.], 2007. Disponível em: <http:// Tiermes-Caracena (Soria). Boletín de la Asociación de
terraquegira.blogspot.com/2007/05/natureza-biodiversida- Geógrafos Españoles, La Rioja, n. 45, p. 79-98, 2007.
de-e.html>. Acesso em: 25 jan. 2010.
SILVA, C. R. da; RAMOS, M. A. B.; PEDREIRA, A. J.; DANTAS,
GRAY, M. Geodiversity: valuying and conserving abiotic M. E. Começo de tudo. In: SILVA, C. R. da (Ed.). Geodiver-
nature. New York: John Wiley & Sons, 2004. 434 p. sidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o
13
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO Sul
presente e prever o futuro. Rio de Janeiro: CPRM, 2008a. XAVIER DA SILVA, J.; CARVALHO FILHO, L. M. Índice de
264 p. il. p. 11-20. geodiversidade da restinga da Marambaia (RJ): um exemplo
do geoprocessamento aplicado à geografia física. Revista
SILVA, C. R. da; MARQUES, V. J.; DANTAS, M. E.; de Geografia, Recife: DCG/UFPE, v. 1, p. 57-64, 2001.
SHINZATO, E. Aplicações múltiplas do conhecimento da
geodiversidade. In: SILVA, C. R. da (Ed.). Geodiversidade
VEIGA, T. A geodiversidade do cerrado. [S.l.: s.n.], 2002.
do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente
e prever o futuro. Rio de Janeiro: CPRM, 2008b. 264 p. il. Disponível em: <http://www.pequi.org.br/
p. 181-202. geologia.html>. Acesso em: 25 jan. 2010.
14
2
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA:
DO PALEOPROTEROZOICO
AO RECENTE
Wilson Wildner (wilson.wildner@cprm.gov.br)1
Ricardo da Cunha Lopes (ricardocl@unisinos.br)1
1
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................ 17
Escudo Sul-Rio-Grandense..................................................................................... 18
Unidades Tectonoestratigráficas Paleoproterozoicas.......................................... 20
Unidades Tectonoestratigráficas Neoproterozoicas............................................ 21
História Evolutiva do Escudo Sul-Rio-Grandense................................................ 23
Bacia do Camaquã................................................................................................ 25
Bacia do Paraná..................................................................................................... 26
Planície Costeira – Bacia de Pelotas....................................................................... 27
Referências............................................................................................................ 30
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
17
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
18
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
Figura 2.3: Estruturação brasiliana do sul do Brasil e Uruguai (Fragoso César, 1991).
cuja contribuição maior ocorreu em dois grandes ciclos constituem o que atualmente é designado como Cráton
orogênicos: Transamazônico (2,26-2,00 Ga) e Brasiliano Rio de La Plata.
(900-535 Ma), cada ciclo envolvendo a geração de novos Em decorrência da distribuição das diferentes asso-
magmas, a remobilização de frações de crosta preexistentes, ciações litológicas ao entorno desse fragmento cratônico
a extração de porções sólidas do manto, a decorrente cons- antigo (Rio de La Plata), pode-se segmentar a evolução geo-
trução de crosta oceânica (planície basáltica e sedimentos tectônica do escudo em associações de rochas internamente
abissais, platôs oceânicos, ilhas oceânicas), a presença de consistentes com cada período evolutivo e suas interações:
microcontinentes e o desenvolvimento de arcos de ilhas - O Paleoproterozoico está registrado no embasamento
vulcânicos nas margens continentais. Essas associações de do Terreno Taquarembó (Complexo Granulítico Santa Maria
rochas colidiram sequencialmente e contribuíram para o Chico) e no Terreno Encruzilhada do Sul (complexos gnáis-
crescimento da porção sul do continente sul-americano. sicos Encantadas, Arroio dos Ratos e Vigia).
O anteparo arqueano, ou a fração mais antiga desse - O Neoproterozoico constitui o Terreno juvenil São
Escudo Sul-Rio-Grandense que serviu como anteparo ao Gabriel, as rochas metavulcânicas de Encruzilhada do Sul e o
desenvolvimento do primeiro ciclo orogênico, está regis- Terreno Pelotas, esses dois últimos relacionados a processos
trado no estado como o Complexo Granulítico Santa Maria de retrabalhamento de crosta antiga (781±5 Ma U-Pb).
Chico, presente no Terreno Taquarembó. Todos os proces- - Essas unidades, ou a totalidade do escudo, fazem par-
sos orogênicos que se seguiram, do Paleoproterozoico ao te do Cinturão Dom Feliciano, iniciado no Paleoproterozoico
Neoproterozoico, tiveram como referencial esse anteparo, e consolidado no final do Neoproterozoico ao Cambriano.
ou continente antigo, cujos fragmentos remanescentes Revisões da evolução geotectônica do estado estão des-
19
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
20
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
21
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
exposto no núcleo de uma antiforme de grande escala (JOST O Batólito Pelotas consiste predominantemente de
e BITENCOURT, 1980). rochas graníticas, com idade entre 650 e 550 Ma. Valo-
Os metassedimentos do Complexo Porongos recobrem res isotópicos de εNd(t) e razões iniciais 87Sr/86Sr indicam
os ortognaisses do Complexo Encantadas e contêm duas contribuição significativa de crosta antiga na estruturação
sequências litológicas: sequência leste, constituída por desse batólito (BABINSKI et al., 1997; FRANTZ e BOTELHO,
xistos pelíticos, grafitosos, quartzitos, lentes de mármore e 2000; PHILIPP e MACHADO, 2005; PHILIPP et al., 2007), cuja
rochas metavulcânicas ácidas; sequência oeste, constituída presença de componentes antigos na litosfera continental
por metapelitos e quartzitos intercalados com rochas tufá- implica ambiente ensiálico para a Orogênese Dom Feliciano,
ceas félsicas (JOST e BITENCOURT, 1980). O limite leste do formadora do batólito (650-590 Ma) (GASTAL et al., 2005;
Terreno Encruzilhada do Sul ocorre ao longo da Zona de PHILIPP e MACHADO, 2005).
Cisalhamento Dorsal de Canguçu (FERNANDES e KOESTER, As rochas graníticas do Batólito Pelotas contêm encla-
1999). Essa zona de cisalhamento transcorrente de grande ves de gnaisses tonalíticos e de rochas metassedimentares
escala tem disposição alongada segundo a direção NE-SW e com idades U-Pb em torno de 781 Ma, correspondentes
movimentação sinistral, colocando em contato os terrenos às frações antigas remanescentes dentro do Complexo
Encruzilhada do Sul a oeste e Pelotas a leste. Essa zona é Pinheiro Machado, o qual representa o embasamento do
importante por ser a estrutura associada à colocação das referido batólito. Essas rochas graníticas, fragmentos de
várias suítes graníticas desse batólito. crosta antiga, e o Complexo Granítico Pinheiro Machado
22
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
foram submetidos a dois eventos de fusão parcial: um transcorrentes, com diferentes intensidades de deformação.
em torno de 780 Ma e outro entre 630-610 Ma (PHILIPP Segundo Fernandes et al. (1993), esses leucogranitos apre-
e MACHADO; SILVA et al., 2005). O primeiro evento de sentam idades diferentes entre si, onde o corpo definido
fusão (em torno de 780 Ma) é cronocorrelato à colocação como Granito Arroio Francisquinho (FERNANDES et al.,
do Complexo Cambaí no Terreno São Gabriel, sugerindo a 1990) é o mais antigo e mais pervasivamente deformado,
ocorrência de um evento colisional iniciado em torno de sendo cortado por apófises de um leucogranito peralumino-
800 Ma, sendo as zonas de cisalhamento de baixo ângulo so grosso, correspondente ao Granito Cordilheira, conforme
associadas à Orogênese São Gabriel, mais a oeste. No en- definido por Picada e Pinto (1966). Ambos os granitoides
tanto, é provável que o embasamento do Batólito Pelotas – Cordilheira e Arroio Francisquinho – são incluídos na Suíte
não estivesse conectado ao Terreno São Gabriel antes de Granítica Cordilheira, de Fragoso César (1991).
700 Ma, o que torna mais provável que o evento de fusão
parcial tenha sido causado pela distensão e desenvolvi- História Evolutiva do
mento da bacia no Terreno Encruzilhada do Sul, em torno Escudo Sul-Rio-Grandense
de 800-750 Ma. Por sua vez, a deposição dos sedimentos
Porongos foi acompanhada por vulcanismo, também com Hartmann et al. (2007a, b, c) geraram a mais completa
a participação de fusão de crosta antiga, de forma que os interpretação de dados geológicos, geofísicos, geoquími-
dois eventos de fusão podem estar relacionados à distensão cos e isotópicos do Rio Grande do Sul, na qual se baseia
e ao afinamento de crosta continental. Em decorrência, os integralmente esta súmula da história evolutiva do Escudo
dois terrenos refletem o mesmo evento de retrabalhamento Sul-Rio-Grandense. No Rio Grande do Sul, dois terrenos
crustal, mas representam diferentes níveis de exposição. tectonoestratigráficos do Ciclo Brasiliano estão expostos
Níveis profundos estão expostos no Batólito Pelotas, ao nos cinturões de xistos situados a leste do Cráton Rio de La
passo que níveis intermediários estão preservados no Terre- Plata: Encruzilhada do Sul, localizado na margem passiva
no Encruzilhada do Sul. Bitencourt e Nardi (2000), Philipp do microcontinente Encantadas, e São Gabriel, constituído
e Machado (2005) e Philipp et al. (2007) sugerem que a por duas associações de arco magmático – um arco intra-
geração do magmatismo do Batólito Pelotas ocorreu em oceânico (arco Passinho) e uma margem continental ativa
ambiente pós-colisional. (arco Vila Nova).
A Zona de Cisalhamento Transcorrente Dorsal de A evolução do Ciclo Brasiliano em termos de tectônica
Canguçu coloca em contato as litologias do Terreno En- de placas iniciou-se no estado com o desenvolvimento do
cruzilhada do Sul e o Batólito Pelotas e tem sido alvo de arco Passinho, intraoceânico, em torno de 880 Ma, em
extensas considerações geológicas, concordando-se com as resposta à subducção de crosta oceânica. A idade precisa
considerações de Fernandes et al. (1993) de que : [...] não da bacia oceânica que se abriu a leste do Cráton Rio de
há nenhum exagero de afirmar-se, [...], que o correto en- La Plata não é conhecida; no entanto, a litosfera oceânica
tendimento da importância do Sistema Dorsal de Canguçu, consumida foi gerada cerca de 100 Ma antes. Isso está de
na estruturação do Cinturão Dom Feliciano, é condição sine acordo com as idades-modelo Sm-Nd das rochas ultramáfi-
qua non para testar a consistência dos modelos tectônicos cas do Complexo Ofiolítico Palma, em torno de 1,2-0,9 Ga
para o escudo. Mesmo assim, têm sido sugeridos distintos (BABINSKI, 1997; SAALMANN et al., 2007). O arco Passinho
processos geotectônicos para a evolução deste “sistema”, foi formado acima de uma zona de subducção para leste e
como o conceito atual sobre a evolução dessa zona de foi acrescionado ao final na margem passiva do Cráton Rio
sutura, denominada Dorsal de Canguçu, que atribui uma de La Plata (Figura 2.7a). Ao mesmo tempo, na margem
importância fundamental a esse segmento, baseando-se do microcontinente Encantadas, houve a formação de uma
tanto nas unidades litológicas que o constituem quanto margem passiva.
em seu papel geotectônico. Entre 850-700 Ma, houve subducção para leste, sob
Essa zona de cisalhamento secciona diagonalmente a a margem continental que consistia no Cráton Rio de La
porção centro-leste do Escudo Sul-Rio-Grandense, esten- Plata e do arco de ilhas Passinho (Figura 2.7b), causando
dendo-se desde a região fronteiriça de Pinheiro Machado, a formação das rochas plutônicas calcialcalinas do Com-
passando pela localidade da Fazenda Cordilheira, até a plexo Cambaí e das rochas de arco vulcânico do Complexo
região das Minas do Leão e Arroio dos Ratos. Palma/Vacacaí. O aporte sedimentar nas bacias associadas
As litologias geradas durante os estágios primordiais a essa margem continental, em ambiente de retroarco
foram as responsáveis pelo desenvolvimento do arcabouço ou antearco, foi derivado, principalmente, do arco juvenil
dessa zona de sutura, estando representadas por extensas neoproterozoico Passinho, anteriormente acrescionado,
faixas de ortognaisses blastomiloníticos, aos quais se asso- e também das rochas do arco magmático, sendo que
ciam filonitos e blastomilonitos que parecem representar somente uma pequena porção do aporte sedimentar foi
as zonas de máxima movimentação dessa zona. proveniente do Cráton Rio de La Plata no antepaís. Isso
Intrudindo essas associações de gnaisses sintan- explica os valores positivos de εNd(t) e as idades-modelo
genciais, ocorrem corpos de leucogranitos a duas micas Sm-Nd baixas (1,1-0,8 Ga) das rochas metassedimentares
(leucogranitos peraluminosos), gerados em regimes sin- e também as assinaturas juvenis do Complexo Cambaí, pois
23
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
não houve contribuição significativa de crosta antiga para O microcontinente Encantadas, embasamento do Terreno
as fusões. A subducção para leste causou empurrões para Encruzilhada do Sul, foi separado da África (Cráton Kalahari)
SE e empilhamento dos metassedimentos, sobrepondo e anexado ao Cráton Rio de La Plata, ou era parte do Crá-
rochas metavulcânicas máficas e ultramáficas em um prisma ton Rio de La Plata e foi segmentado dele pela abertura do
acrescionário (CHEMALE Jr., 2000). oceano (Figura 2.7a).
Na margem do microcontinente Encantadas, houve O uso integrado de diversas ferramentas de medição,
formação de uma margem continental ativa, com o consu- com forte base em geologia de campo, possibilita proce-
mo do oceano Charrua e geração de magmas calcialcalinos, der a uma descrição avançada dos processos responsáveis
com forte contribuição crustal, representados pelas unida- pela evolução geotectônica do Rio Grande do Sul durante
des metavulcânicas do Complexo Metamórfico Porongos o Pré-Cambriano. Enquanto poucos cristais de zircão de-
(Figura 2.7b). Entre 0,70 e 0,68 Ga, ocorreu a colisão do tríticos marcam a atuação de processos arqueanos, um
Cráton Rio de La Plata com o microcontinente Encantadas, extraordinário cinturão de montanhas foi estabelecido no
durante os estágios finais da Orogênese São Gabriel (Figura estado durante o Paleoproterozoico (2,26-2,00 Ga). A calma
2.7c), gerando empurrões para SE, no Cin-
turão São Gabriel, e dobramento isoclinal,
cisalhamento e metamorfismo no Terreno
Encruzilhada do Sul, que estava localizado
na parte inferior da placa. O encurtamento
foi acomodado, em parte, por cisalhamento
lateral. O Granito Santa Zélia, tarditectônico
em relação ao principal período de transcor-
rência, registra, pela primeira vez no Terreno
São Gabriel, a contribuição de crosta con-
tinental antiga, pois tem valores levemente
negativos de εNd(t). Isso pode ser atribuído
à fusão de crosta continental subductada.
O cisalhamento sinistral, ao longo da
Zona de Cisalhamento Dorsal de Canguçu,
e o empilhamento de nappes D3 para NW,
no Terreno Encruzilhada do Sul (Figura
2.7c), tiveram início em torno de 670 Ma
e cessaram em torno de 620 Ma (KOES-
TER et al., 1997). No Terreno Encruzilhada
do Sul, o cisalhamento dúctil sinistral foi
seguido de falhamento direcional sinistral
rúptil, enquanto o cisalhamento direcional
sinistral dúctil e a intrusão de granitos ainda
ocorriam mais a leste, no Batólito Pelotas
(PHILIPP e MACHADO, 2005). As sub-bacias
Camaquã foram formadas como bacias de
pull-apart em ambiente transtensivo.
A transição da tectônica transcorrente
para uma tectônica extensional está regis-
trada no Cinturão Dom Feliciano, posterior
ao período entre 630-617 Ma (FRANTZ e
BOTELHO, 2000). Se o Batólito Pelotas é
considerado um arco magmático, então o
microcontinente Encantadas pode represen-
tar uma microplaca continental prensada
entre o Cráton Rio de La Plata e o Cráton
Kalahari, em resposta ao fechamento dos
oceanos Adamastor e Charrua. Nesse caso,
os granitoides do Complexo Pinheiro Ma-
chado, embasamento do Batólito Pelotas, Figura 2.7: Evolução geotectônica do escudo sul-rio-grandense no
foram formados em decorrência da sub- Neoproterozoico, em cinco etapas, entre 900-540 Ma
ducção do oceano Adamastor (Figura 2.7d). (segundo Hartmann et al., 2007c).
24
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
tectônica que se seguiu a essa primeira cratonização, em e Acampamento Velho, e no Grupo Camaquã, constituído
2,0 Ga, posicionou o estado no interior do supercontinente pelas formações Santa Bárbara e Guaritas.
Colúmbia, com manifestações menores de tectônica intra- A sequência sedimentar da Bacia do Camaquã é
placa, em torno de 1,78 Ga. No Neoproterozoico (900-540 composta predominantemente por siltitos e arenitos, com
Ma), o estado foi novamente cenário de altas montanhas, aumento na abundância de conglomerados e arenitos em
geradas pela acresção e colisão de crosta oceânica, platôs direção ao topo da sequência. Representa uma evolução de
oceânicos, microcontinentes e arcos de ilhas, em um ce- ambientes marinhos rasos para continentais, onde domi-
nário final de colisão de imponentes massas continentais. nam os ambientes fluviolacustres e desérticos. O Vulcanis-
Desse modo, grandes zonas de cisalhamento cortaram o mo Neoproterozoico-Ordoviciano desempenha um papel
estado durante e após a colisão de 600 Ma. A segunda e importante na evolução da bacia, na qual as características
definitiva cratonização da crosta do estado completou-se do magmatismo mostram a evolução de termos toleíticos e
em 540 Ma. A tectônica orogênica deu lugar à tectônica calcialcalinos alto-K para shoshonítico, até alcalino sódico,
intraplaca do supercontinente Gondwana, com geração sendo a contribuição crustal representada por granitoides
da Bacia do Camaquã, o soerguimento da crosta ao longo peraluminosos (SOMMER et al., 2006; WILDNER, 2000)
do arco do Rio Grande e rompimento crustal ao longo de (Figura 2.8).
grandes zonas de falhas. Os terrenos pré-cambrianos do Wildner et al. (2002) organizaram os episódios
Rio Grande do Sul foram rompidos no Mesozoico, quando vulcânicos da Bacia do Camaquã em diferentes ciclos,
a porção leste migrou junto com a placa africana.
BACIA DO CAMAQUÃ
25
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
estabelecidos em ambientes continentais sob condições até a fronteira com o Uruguai, ao sul, entre as cidades de
predominantemente subaéreas. Os ciclos vulcânicos foram Aceguá e Barra do Quaraí. A sucessão sedimentar aflora
individualizados em: (i) vulcanismos Maricá, Hilário e Acam- ao longo da região geomorfológica denominada Depressão
pamento Velho, associados às formações homônimas; (ii) Periférica Gaúcha, caracterizada por relevo aplainado, com
vulcanismo Rodeio Velho, vinculado à Formação Guaritas ondulações suaves e arredondadas. Áreas de exposição
(Figura 2.8). Diferentemente dessas três últimas unidades, menores ocorrem sobre o embasamento cratônico, seja
onde o volume de rochas vulcânicas é expressivo, os regis- na forma de morros-testemunhos, como as situadas entre
tros de vulcanismo na Formação Maricá são questionáveis a cidade de Encruzilhada do Sul e as proximidades do rio
e frequentemente contestados (e.g. LIMA, 2002). Camaquã, ou como preenchimento de paleodepressões,
como as das regiões de Mariana Pimentel e do Capané.
BACIA DO PARANÁ O registro da acumulação sedimentar da Supersequên-
cia Gondwana I no Rio Grande do Sul inicia com as rochas
A Bacia do Paraná, classificada por Fúlfaro et al. (1982) relacionadas aos depósitos do final da glaciação carbonífera,
como intracontinental, cratônica do tipo 2A complexa (cf. representadas na Formação Taciba (Grupo Itararé) por para-
KLEMME, 1980) ou, segundo Pedreira et al. (2003), do tipo conglomerados (diamictitos), arenitos muito finos, siltitos,
Depressão Marginal, passando a Depressão Interior devido argilitos e ritmitos (varvitos) de idade permiana (Asseliano).
à obstrução da margem aberta (cf. KINGSTON et al., 1983), A partir desse momento, a sucessão de camadas registra um
tem aproximadamente 1,7 x 106 km2 e forma alongada episódio de transgressão (Transgressão Marinha Permiana
segundo SW-NE, ocupando parte dos territórios do Brasil de Lavina e Lopes, 1987) representado por arenitos, pelitos,
(1,1 x 106 km2), Argentina (400 x 103 km2), Uruguai e pelitos carbonosos e camadas de carvão de deposição em
Paraguai (100 x 103 km2) (ZALÁN et al., 1990). Ao longo ambiente litorâneo da Formação Rio Bonito, sucedidos por
de seu eixo, atinge um comprimento de 1.900 km, desde a heterolitos e arenitos de deposição em ambiente marinho
cidade de Durazno (Uruguai) até Morrinhos (Mato Grosso), da Formação Palermo, ambos de idade sakmanriana, e
na Região Centro-Oeste do Brasil, e uma largura de 900 km por folhelhos, calcários e folhelhos pirobetuminosos da
entre as cidades brasileiras de Aquidauana (Mato Grosso Formação Irati (Artinskiano), alcançando seu máximo de
do Sul) e Sorocaba (São Paulo). Seu registro sedimentar e inundação ou máxima expansão da bacia representada
vulcânico tem espessura cumulativa de aproximadamente pelos folhelhos, argilitos e siltitos marinhos da Formação
7.500 m, com início da deposição no Ordoviciano e término Serra Alta (Artinskiano-Kunguriano).
no Cretáceo, perfazendo um intervalo de 385 milhões de A fase regressiva que representa o assoreamento da
anos (Figura 2.9). bacia inicia pelos heterolitos cinza-esverdeados e arenitos
Recobre grande parte do embasamento continental finos plataformais da Formação Terezina (Kunguriano), aos
gerado a partir do Paleoproterozoico e conviveu com o quais se sucedem os pelitos e arenitos avermelhados a róse-
desenvolvimento de cinturões colisionais ativos a ela adja- os transicionais da Formação Rio do Rasto, seguidos pelos
centes, ao longo dos quais, durante todo o Fanerozoico, tem depósitos de sistemas deposicionais continentais das forma-
tido lugar uma relação de convergência entre o Gondwana ções Piramboia e Sanga do Cabral, ao final do Permiano e
e a litosfera oceânica do Panthalassa. A geodinâmica dessa início do Triássico. A acumulação da Supersequência Gon-
borda ativa do Gondwana influiu na história evolutiva pale- dwana I foi acompanhada de um progressivo fechamento
ozoico-mesozoica da Bacia do Paraná. A análise integrada da Bacia do Paraná às incursões marinhas provenientes de
da subsidência da bacia, confrontada às grandes orogêneses oeste com a paulatina instalação das condições de bacia
acontecidas na borda continental (MILANI, 1997), revelou intracratônica, culminando por ser aprisionada no árido
clara relação entre ciclos de criação de espaço deposicional interior continental do Gondwana no Mesozoico.
na área intracratônica e os episódios orogênicos. A implan- A Supersequência Gondwana II da Bacia do Paraná, de
tação da Bacia do Paraná ocorreu no Neo-Ordoviciano, na ocorrência restrita às porções gaúcha e uruguaia da bacia,
forma de depressões alongadas na direção NE-SW segundo insere-se no contexto de um evento distensivo generalizado
as zonas de fraqueza do embasamento brasiliano, as quais na porção sul do paleocontinente Gondwana ocorrido no
foram reativadas pela Orogenia Oclóyica na borda oeste início do Triássico. Representa uma sedimentação acumu-
do continente. lada em bacias do tipo gráben, caracterizada pelos arenitos
Com esse enfoque do controle tectônico da sedimenta- fluviais e pelitos lacustres fossilíferos de cores avermelhadas
ção, Milani (1997) organizou os ciclos de preenchimento da da Formação Santa Maria (Ladiniano-Carniano) e pelos
bacia em supersequências, denominadas: Rio Ivaí, Paraná, arenitos róseos a avermelhados fluviais da Formação Catur-
Gondwana I, Gondwana II e Gondwana III. Destas, apenas rita (Carniano-Noriano) e arenitos e pelitos bege a róseos
as três últimas têm registro no Rio Grande do Sul, ocupando fluviodeltaicos e lacustres da Formação Guará (Jurássico
as áreas central e norte do estado, estendendo-se de ma- Inferior a Médio). O conteúdo fossilífero desses estratos,
neira contínua desde as proximidades da Rodovia BR-290, na forma de uma importante associação de vertebrados,
junto à costa atlântica, até a fronteira com a Argentina, a possui grande identidade com a paleofauna presente em
oeste; na porção sul-sudoeste, desde a região de Candiota seções sedimentares da Argentina e África do Sul.
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EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
Figura 2.9: Distribuição da bacia do Paraná no interior do continente sul-americano (modificado de Milani, 1997).
27
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 2.10: Mapa de localização e mapa geológico simplificado da Planície Costeira do Rio Grande do Sul
(modificado de Tomazelli e Villwock, 1996).
depósitos foram retrabalhados em suas porções distais torrenciais provenientes das terras altas do escudo e da Bacia
por, no mínimo, quatro ciclos transgressivo-regressivos, do Paraná, submetidas a um clima semiárido.
correlacionáveis aos quatro últimos eventos glaciais que O primeiro ciclo transgressivo-regressivo de que se tem
caracterizaram o final do Cenozoico. registro retrabalhou a porção distal dos leques deltaicos e
A porção superior do sistema de leques aluviais, aflo- deu origem a um sistema laguna-barreira que ficou bem
rantes na parte interna da Planície Costeira, assenta sobre preservado na parte NW da Planície Costeira. Essa antiga li-
camadas marinhas miocênicas e teve o apogeu de seu de- nha de costa pleistocênica é, provavelmente, correlacionável
senvolvimento durante o evento regressivo que, estima-se, ao estágio isotópico de oxigênio 11, de aproximadamente
estendeu-se do Plioceno ao Pleistoceno Inferior. Naquele 400 ka atrás.
tempo, o panorama era de uma grande planície construída O segundo ciclo foi responsável pelo início da cons-
por leques deltaicos coalescentes, alimentados por fluxos trução da barreira arenosa que isolou as lagoas dos Patos
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EVOLUÇÃO GEOLÓGICA: DO PALEOPROTEROZÓICO AO RECENTE
Figura 2.11: Perfil esquemático transversal aos sistemas deposicionais da Planície Costeira do Rio Grande do Sul,
próximos à latitude de Porto Alegre. Os sistemas laguna-barreira correlacionam-se, tentativamente, aos últimos
principais picos da curva isotópica de oxigênio de Imbrie et al. (1984) (modificado de Tomazelli e Villwock, 2000).
e Mirim, a que Villwock (1984) denominou “Barreira Múl- A barreira que continuou a se desenvolver na fase
tipla Complexa”. O máximo da transgressão esculpiu uma regressiva é a que melhor se preserva na região, mostran-
escarpa erosiva na superfície dos leques aluviais, construiu do depósitos praiais e marinhos rasos, cobertos por um
alguns pontais arenosos, marcando uma segunda linha de manto de areias eólicas. Correlacionável a depósitos muito
costa pleistocênica, provavelmente correlacionável ao está- semelhantes que ocorrem ao longo de quase toda a costa
gio isotópico de oxigênio 9, há aproximadamente 325 ka. brasileira, a idade desse sistema tem sido considerada como
Na margem oceânica, ao sul, uma barreira arenosa isolou de 125 ka, correspondente ao subestágio isotópico de oxi-
a lagoa Mirim e, ao norte, um pontal arenoso recurvado, gênio. A fase regressiva que se seguiu atingiu seu máximo
ancorado na base das encostas do Planalto da Serra Geral, há aproximadamente 17 ka. Uma ampla planície costeira
começou a isolar a área que viria a ser ocupada pela lagoa ocupava o que hoje é a plataforma continental e os sistemas
dos Patos. lagunares Patos e Mirim se comportavam como grandes
O terceiro ciclo adicionou mais um sistema do tipo planícies fluviais, áreas de passagem dos cursos de água
laguna-barreira, fazendo progradar a Barreira Múltipla que, erodindo depósitos antigos, aprofundavam seus vales
Complexa, completando o fechamento da lagoa dos Patos. até chegar à linha de costa, situada a aproximadamente
Pertence a esse evento a depressão lagunar que hoje é dre- 120 m abaixo do atual nível do mar.
nada pelo arroio Chuí e onde foram encontrados muitos A última transgressão pós-glacial, iniciada no final do
exemplares de mamíferos fósseis da megafauna pampeana. Pleistoceno, avançou rapidamente pela planície costeira
No interior dos sistemas lagunares Patos e Mirim, a terceira que ocupava a atual plataforma continental. A transgres-
linha de costa pleistocênica está muito bem preservada sob são atingiu seu máximo há cerca de 5 ka, quando o nível
a forma de uma escarpa, limite interno de um terraço com do mar alcançou, na área de estudo, em torno de 2 a 4 m
altitudes entre 8-15 m de remanescentes de cristas de praia acima do nível atual. Uma falésia, muito bem preservada,
e de pontais arenosos. esculpida nos depósitos das barreiras e dos terraços lagu-
29
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
nares pleistocênicos, é testemunha da posição alcançada BABINSKI, M.; CHEMALE Jr., F.; VAN SCHMUS, W. R.;
por essa linha de costa no máximo transgressivo (VILLWOCK HARTMANN, L. A.; SILVA, L. C. U-Pb and Sm-Nd geo-
e TOMAZELLI, 1998). chronology of the neoproterozoic granitic-gneissic Dom
A desaceleração na taxa de subida do nível do mar e Feliciano belt, Southern Brazil. Journal of South Ameri-
a estabilização temporária no final do evento transgressivo can Earth Sciences, v. 10, n. 3-4, p. 263-274, 1997.
foram responsáveis pela implantação de uma barreira trans-
gressiva que, provavelmente, possuía dimensões reduzidas, BABINSKI, M.; CHEMALE Jr., F.; HARTMANN, L. A.; VAN
tendo em vista o limitado suprimento de areia fornecido SCHMUS, W. R.; SILVA, L. C. Juvenile accretion at 750-
pelos poucos rios que alcançavam a praia. A maior parte 700 Ma in Southern Brazil. Geology, v. 24, n. 5, p. 439-
da carga arenosa transportada pelos principais rios que 442, 1996.
chegavam à Planície Costeira ficava retida nos ambientes
lagunares, reinstalados nos espaços de retrobarreira asso- BASEI, M. A. S. O cinturão Dom Feliciano em Santa
ciados às barreiras pleistocênicas (lagoas dos Patos e Mirim). Catarina. 1985. 186 f. Tese (Doutorado) – Instituto de
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mar que se seguiu ao máximo transgressivo de 5 ka estimu-
laram a formação de uma barreira progradante que teve seu BASEI, M. A. S.; SIGA Jr., O.; MASQUELIN, H.; HARARA,
maior desenvolvimento no interior de suaves reentrâncias O. M.; REIS NETO, J. M.; PRECIOZZI PORTA, F. The Dom
da linha de costa, como os trechos costeiros entre Torres e Feliciano belt and the Rio de la Plata craton: tectonic
Tramandaí, e na reentrância de Rio Grande (DILLENBURG evolution and correlation with similar provinces of
et al., 1998; TOMAZELLI e DILLENBURG, 1998). Southwestern Africa. In: CORDANI, U. G.; MILANI, E.
Face à deficiência de suprimento de areia fluvial, é J.; THOMAZ FILHO, A.; CAMPOS, D. A. (Eds.). Tectonic
provável que a maior parte das areias responsáveis pela evolution of South America. INTERNATIONAL
progradação da barreira holocênica tenha sido fornecida GEOLOGICAL CONGRESS, 31., 2000, Rio de Janeiro. Rio
pela antepraia inferior e pela plataforma continental inter- de Janeiro: CNPq, 2000. p. 311-334.
na. Esse mecanismo de suprimento que acompanha uma
queda no nível relativo do mar foi anteriormente sugerido BITENCOURT, M. F.; NARDI, L. V. S. Tectonic setting and
por Dominguez et al. (1987) para a gênese de depósitos sources of magmatism related to the Southern Brazilian
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O sistema de leques aluviais, desenvolvido na parte 186-189, 2000.
interna da planície costeira, foi retrabalhado durante o
Quaternário por pelo menos quatro ciclos transgressivo- CHEMALE Jr., F. Evolução geológica do escudo sul-rio-
-regressivos responsáveis pela formação de quatro siste- -grandense. In: HOLZ, M.; DE ROS, L. F. (Ed.). Geologia
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transgressão e foi preservada devido à regressão da linha
de costa forçada pela subsequente queda glacioeustática CHEMALE Jr., F.; HARTMANN, L. A.; SILVA, L. C.
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3
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas (marcelo.dantas@cprm.gov.br)
Ana Cláudia Viero (ana.viero@cprm.gov.br)
Diogo Rodrigues Andrade da Silva (diogo.rodrigues@cprm.gov.br)
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................ 37
Planície Costeira Gaúcha....................................................................................... 39
Planície Costeira Externa................................................................................. 40
Planície Costeira Interna.................................................................................. 41
Depressão Central Gaúcha.................................................................................... 42
Depressão do Rio Jacuí.................................................................................... 42
Depressão do Rio Ibicuí................................................................................... 43
Cuesta de Haedo................................................................................................... 43
Planalto dos Campos Gerais.................................................................................. 44
Escarpa da Serra Geral.......................................................................................... 45
Planalto Dissecado do Rio Uruguai........................................................................ 46
Planalto de Uruguaiana......................................................................................... 47
Planalto Sul-Rio-Grandense................................................................................... 48
Referências............................................................................................................ 49
ORIGEM DAS PAISAGENS
37
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
remoção dos derrames vulcânicos e propiciou a exumação a datações por radiocarbono no município de São Fran-
de parte do embasamento representado pelo Escudo Sul- cisco de Paula, situado nas altas superfícies do Planalto
-Rio-Grandense e, em cotas mais baixas, o afloramento de dos Campos Gerais, demonstram que, durante o final do
rochas sedimentares de idades triássica e permiana da Bacia Pleistoceno, em um paleoclima mais frio e seco, o cenário
do Paraná. Essa vasta depressão periférica representa as paleogeográfico indicava ampla dominância dos campos
porções topograficamente mais rebaixadas do estado e nela limpos temperados. Já no Holoceno Superior, predominou
se instalaram as bacias de drenagem dos rios Jacuí e Ibicuí. um clima mais úmido, o que propiciou a expansão máxima
Por fim, durante o Neógeno e o Quaternário, a evo- das matas de araucárias sobre o planalto. A intervenção
lução da paisagem geomorfológica gaúcha transcorreu humana oriunda do ciclo madeireiro e as condições climá-
com o predomínio dos processos de dissecação no interior ticas atuais, menos úmidas, teriam condicionado a retração
do estado e a preponderância de processos deposicionais da floresta subtropical aos vales dissecados e úmidos dos
com a formação de uma vasta planície costeira no litoral. canais principais em uma situação de refúgio.
No planalto arenítico-basáltico, prevalecem processos de O Planalto Sul-Rio-Grandense, ressaltado por processos
entalhamento fluvial e geração de vales encaixados (Figura de circundesnudação cenozoicos, continua sofrendo os
3.2), em especial, no planalto dissecado do rio Uruguai. processos de dissecação de sua estrutura dômica e erodida
por meio de uma extensa rede de drenagem
de padrão aproximadamente radial, enquanto
a Depressão Central Gaúcha é aprofundada e,
posteriormente, parcialmente entulhada por
espraiadas planícies aluvionares dos rios Jacuí,
Ibicuí e Santa Maria.
As planícies costeiras que ocupam a por-
ção externa das baixadas litorâneas apresentam
uma complexa história geológica marcada
pelos eventos transgressivo-regressivos que
ocorreram durante o Quaternário Superior,
conforme demonstrado por Justus et al.
(1986), com base em evidências morfológicas
e sedimentológicas, e por Martin et al. (1988)
e Tomazelli e Villwock (1996), com base em
evidências sedimentológicas, biológicas e data-
ções por radiocarbono. A gênese dos imensos
corpos lagunares situados na planície costeira
gaúcha (laguna dos Patos e lagoa Mirim) e
de um grande número de lagoas menores no
litoral norte estão associados a essas variações
glacioeustáticas do nível relativo do mar. Foram
Figura 3.2: Vale encaixado do rio das Antas no planalto dos Campos Gerais documentadas por esses autores pelo menos
(imediações do município de Campestre da Serra, RS).
quatro gerações de terraços marinhos, sendo
Nesse contexto, uma das características fisiográficas que as duas primeiras, de idade pleistocênica, apresentam
mais expressivas de todo o Planalto Meridional é o suave apenas esparsos registros na orla continental da laguna dos
e contínuo caimento de sua superfície para oeste, em di- Patos; a terceira geração de terraços, associada ao Pleis-
reção ao interior, originando grandes bacias hidrográficas, toceno Superior (em torno de 120.000 anos A.P.), ocupa
tais como as dos rios Pelotas e Uruguai. Essa vasta rede de áreas expressivas tanto na orla continental da laguna dos
drenagem produziu, portanto, uma significativa incisão da Patos quanto na grande restinga que separa a lagoa do
rede de canais sobre esse planalto elevado, gerando um oceano Atlântico; a quarta geração, mais jovem, apresenta
relevo de altas superfícies planas e vales aprofundados, idade holocênica (em torno de 5.000 anos A.P.) e situa-se
por vezes, desfeito em um relevo de morros. Exceção feita apenas na grande restinga que se estende de Tramandaí
ao Planalto de Uruguaiana, no extremo oeste do estado, à desembocadura da laguna dos Patos, ocupando uma
estando posicionado em cotas mais baixas e mantendo posição próxima à atual linha de costa.
As duas gerações de terraços marinhos mais recentes
extensas superfícies aplainadas, onde os terrenos mais
apresentam retrabalhamento eólico com elaboração de
elevados situam-se na extensa e suave Coxilha de Santana extensos campos de dunas, sendo que essas formações
do Livramento (AB’SABER, 1969b). eólicas têm sua gênese correlata aos períodos glaciais mais
Estudos conduzidos por Behling et al. (2001) e Behling frios e secos com grande aporte de sedimentos arenosos da
(2002), calcados em análises palinológicas e conjugadas plataforma continental emersa. Giannini e Suguio (1994),
38
ORIGEM DAS PAISAGENS
no litoral sul de Santa Catarina, analisaram as dunas que se Grande do Sul, que serviu de base para a elaboração do
assentam sobre os terraços marinhos e identificaram quatro Mapa Geodiversidade do Estado do Rio Grande do Sul. A
gerações distintas, sendo que as mais antigas encontram-se individualização dos diversos compartimentos de relevo
cimentadas e estabilizadas pela vegetação, enquanto as foi obtida com base em análise de imagens SRTM (Shuttle
mais recentes, próximas à linha de costa, são dunas ativas, Radar Topography Mission), com resolução de 90 m e
desvegetadas. imagens GeoCover, onde foram agrupadas as unidades de
A partir de uma breve avaliação sobre a origem e a relevo de acordo com a análise da textura e rugosidade das
evolução das paisagens do estado do Rio Grande do Sul, é imagens. A escala de trabalho adotada foi a de 1:750.000
possível promover uma análise dos compartimentos geo- .
morfológicos existentes. Com base na análise dos produtos PLANÍCIE COSTEIRA GAÚCHA
de sensoriamento remoto disponíveis, perfis de campo e
estudos geomorfológicos regionais anteriores (IBGE, 1995; Toda a área compreendida pela denominada Planície
JUSTUS et al., 1986; ROSS, 1985, 1997), o estado do Rio Costeira Gaúcha (IBGE, 1995) representa um complexo
Grande do Sul foi compartimentado em oito domínios e diversificado conjunto de ambientes deposicionais de
geomorfológicos (Figura 3.3). origens marinha, eólica, lagunar e fluvial e se destaca por
Em adendo, são apresentados os diversos padrões de se constituir em uma das mais amplas zonas costeiras do
relevo do estado do Rio Grande do Sul, em um total de território brasileiro.
19 (Figura 3.4), que estão inseridos nos diversos domínios Esse domínio geomorfológico pode ser subdividido
geomorfológicos retromencionados e que estão represen- em dois segmentos distintos: Planície Costeira Externa e
tados no Mapa de Padrões de Relevo do Estado do Rio Planície Costeira Interna (JUSTUS et al., 1986).
Figura 3.3: Domínios geomorfológicos propostos para o estado do Rio Grande do Sul.
39
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
tivos) (R1f); planícies e terraços marinhos (R1e); planícies e que consiste no mais importante eixo viário de interligação
lagunares (R1d), esses últimos posicionados no entorno ou do estado com o restante do país.
entre lagoas em fase de colmatação, sendo, localmente, Nesse trecho da Planície Costeira Externa estão situa-
denominados banhados. das as cidades de Torres, Xangri-Lá, Cidreira e Tramandaí,
Ocorre franco predomínio de Neossolos Quartzarê- desenvolvidas como estâncias de veraneio e turismo de
nicos e areias inconsolidadas dos terrenos de dunas, com praia. Destaca-se, também, como atividade econômica, a
ocorrência de Gleissolos e Organossolos associados aos rizicultura de várzea, com a conversão de extensas faixas
banhados (JUSTUS et al., 1986). das planícies para o cultivo de arroz.
40
ORIGEM DAS PAISAGENS
A cidade de Torres se notabiliza pelos fascinantes onde se desenvolvem imensas áreas embrejadas, tais como
morros-testemunhos constituídos de basalto, formando, o banhado do Taim (Figura 3.6).
por vezes, falésias abruptas defronte ao oceano (Figura 3.5). Nesse trecho da Planície Costeira Externa estão situ-
adas as cidades de Rio Grande, Santa Vitória
do Palmar e Chuí. A cidade de Rio Grande
comporta um das mais importantes áreas
portuárias do país.
Figura 3.6: Extensa faixa de campo de dunas (a) e planície lagunar com imensa área embrejada (b),
localizados nas proximidades da Estação Ecológica do Taim.
41
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
que emoldura a capital gaúcha e uma sequência de cabos bre as várzeas dos principais rios destaca-se, como atividade
rochosos que orientam a morfologia do lago Guaíba e a econômica, a rizicultura, com a conversão de extensas faixas
porção norte da laguna dos Patos, em uma sucessão de das planícies de inundação para o cultivo de arroz. As áreas
arcos praiais e esporões arenosos. mais bem drenadas foram convertidas em pastagens para
As localidades de Santo Antônio da Patrulha, Glorinha pecuária de corte.
e Gravataí situam-se no sopé da Serra Geral, em ambiente Esse domínio é representado por colinas de baixa am-
deposicional dominado por depósitos de encosta (prefe- plitude topográfica (entre 20 e 50 m) e graus de dissecação
rencialmente, leques aluviais). As localidades de Canoas, diferenciados, podendo desenvolver um relevo de colinas
Cachoeirinha e Esteio, também pertencentes à Região amplas e suaves ou um relevo de colinas baixas, pouco a
Metropolitana de Porto Alegre, ocupam uma posição mais muito dissecadas (R4a1 e R4a2), localmente denominadas
interiorana, associada à planície fluvial ou fluviolagunar do coxilhas (Figura 3.7).
baixo curso do rio Jacuí em sua desembocadura no lago Podemos subdividir esse domínio em duas unidades
Guaíba. principais: Depressão do Rio Jacuí e Depressão do Rio Ibicuí.
No trecho situado entre as cidades de Guaíba (às
margens do lago homônimo) e Pelotas, a Planície Costeira Depressão do Rio Jacuí
Interna está compreendida entre a orla continental da
laguna dos Patos e os primeiros patamares do Planalto Ocupa um amplo setor rebaixado de configuração
Sul-Rio-Grandense. Predominam vastos terraços lagunares, leste-oeste na porção central do território gaúcho, entre as
com ocorrência frequente de rampas coluvionares no sopé cidades de Porto Alegre, Santa Maria e São Gabriel, estando
do planalto e planícies marinhas, junto à laguna dos Patos. ladeada, a norte, pelos relevos abruptos da escarpa da serra
Nesse trecho, estão situadas as cidades de Guaíba, Tapes, Geral e, a sul, pelos patamares setentrionais do Planalto Sul-
Camaquã e Pelotas. -Rio-Grandense (Figura 3.8).
Por fim, no trecho situado entre as cidades de Pelotas É frequente a ocorrência de morros-testemunhos junto
e Jaguarão, compreendido entre a orla continental da ao front da escarpa da Serra Geral, denunciando seu recuo
lagoa Mirim e o Planalto Sul-Rio-Grandense, o cenário erosivo. As litologias predominantes são os arenitos, folhe-
geomorfológico é similar, todavia apresentando áreas mais lhos, siltitos e argilitos das formações Rio Bonito, Palermo,
extensas, recobertas por planícies lagunares, em especial, Irati e Rio do Rasto (de idade permiana) e os arenitos e con-
ao longo do canal de São Gonçalo, que interliga a laguna glomerados das formações Piramboia e Sanga do Cabral (de
dos Patos e a lagoa Mirim, e planícies fluviais de rios que idade triássica) (CPRM, 2006). Esses terrenos estão parcial-
drenam o planalto adjacente, tais como os rios Piratini e mente recobertos pela extensa planície aluvial do rio Jacuí
Arroio Grande. e de seus tributários principais. Essa depressão encontra-se
embutida em cotas que variam entre 10 e 150 m.
DEPRESSÃO CENTRAL GAÚCHA
O Domínio da Depressão
Central Gaúcha (IBGE, 1995)
consiste em vasta depressão
periférica suportada por rochas
da sequência permotriássica da
Bacia do Paraná, apresentando
características de uma depressão
interplanáltica, ladeada, a sul e
a leste, pelo Planalto Sul-Rio-
-Grandense e, a norte e a oeste,
pelos compartimentos planál-
ticos capeados por derrames
vulcânicos da Bacia do Paraná.
Nessas extensas zonas to-
pograficamente rebaixadas fo-
ram instalados os principais sis-
temas de drenagem do estado,
como os rios Jacuí, Ibicuí, Santa
Maria e Negro, apresentando
uma rede de canais de padrão Figura 3.7: Região caracterizada por colinas amplas e suaves, de baixa amplitude de relevo
dendrítico a subdendrítico. So- (domínio da Depressão Central Gaúcha).
42
ORIGEM DAS PAISAGENS
Na Depressão do Rio Jacuí se desenvolve uma expressiva guar no rio Uruguai. Essa depressão encontra-se embutida
área de solos com boa fertilidade natural, com predomínio em cotas que variam entre 100 e 200 m.
de Argissolos Vermelhos e, subordinadamente, Nitossolos Assim como no vale do Jacuí, a Depressão do Rio
(antigos Brunizéns) nos terrenos colinosos; e Planossolos Há- Ibicuí se destaca pela franca ocorrência de solos com boa
plicos Eutróficos e, subordinadamente, Neossolos Flúvicos e fertilidade natural, com predomínio de Argissolos Verme-
Gleissolos Melânicos, nas planícies aluviais (EMBRAPA, 2001). lhos e, subordinadamente, Nitossolos (antigos Brunizéns)
Essa área exibe, portanto, um grande potencial agrí- nos terrenos colinosos; Planossolos Háplicos e Gleissolos
cola e representa um importante eixo viário do estado que Eutróficos e, subordinadamente, Neossolos Flúvicos nas
interliga Uruguaiana a Porto Alegre. planícies aluviais. Na fronteira com o Uruguai, predominam
Na bacia do rio Jacuí estão situadas as cidades de El- Vertissolos e Chernossolos Ebânicos (EMBRAPA, 2001), em
dorado Sul, Pantano Grande, Rio Pardo, Cachoeira do Sul, condição de baixas temperaturas e maior acumulação de
Santa Maria e São Gabriel, dentre outras. matéria orgânica sobre uma área típica da vegetação esté-
pica (Campos Limpos) da Campanha Gaúcha.
Depressão do Rio Ibicuí Na bacia do rio Ibicuí estão situadas as cidades de
Cacequi, Rosário do Sul, Alegrete, Dom Pedrito, Bagé e
Abrange não somente o vale homônimo como tam- Hulha Negra, dentre outras.
bém o vale do rio Santa Maria, seu principal afluente, e os
altos cursos do rio Negro, que drena em direção ao Uruguai, CUESTA DE HAEDO
e Jaguarão, esse último perfazendo a fronteira com o Uru-
guai. Essa unidade configura-se, de forma geral, como um A Cuesta de Haedo consiste em uma frente de cuesta
extenso corredor norte-sul correspondente ao vale do rio sustentada por cornijas de derrames vulcânicos da Formação
Santa Maria, ladeado pelo Planalto Sul-Rio-Grandense e o Serra Geral (basaltos da Fácies Gramado, de idade jurocretá-
front de cuesta da coxilha de Haedo (DANTAS et al., 2008). cica), com o front escarpado voltado para leste, em direção
A associação litológica presente nessa unidade é muito à Depressão do Rio Ibicuí. Essa unidade apresenta direção
similar à encontrada na Depressão do Rio Jacuí, com pre- aproximada norte-sul e adentra pelo território uruguaio.
domínio de colinas baixas recobertas pelas vastas planícies A Cuesta de Haedo representa, portanto, um relevo de
aluviais dos sistemas de drenagem principais. Ressaltam-se transição entre a Depressão do Rio Ibicuí e o Planalto de
os divisores muito baixos entre as bacias dos rios Jacuí e Uruguaiana (Figura 3.9).
Ibicuí, sugerindo que esse último consistia, preteritamente, Nessas vertentes declivosas, afloram os arenitos or-
no alto curso da Bacia do Rio Jacuí e que, posteriormente, toquartzíticos (de idade jurássica) das formações Guará e
inverteu a direção de seu curso para oeste, escavando seu Botucatu (CPRM, 2006), que se caracterizam por um rebordo
vale entalhando os arenitos jurocretácicos das formações escarpado em franco processo de erosão regressiva, fato este
Botucatu e Guará, no Planalto de Uruguaiana, para desa- salientado pelos inúmeros morros-testemunhos posicionados
43
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
44
ORIGEM DAS PAISAGENS
Os padrões de relevo predominantes consistem de an- menos elevadas, destacam-se, de forma intensiva, as ativi-
tigas superfícies de aplainamento, que demarcam o topo do dades agropecuárias em pequenas propriedades.
Planalto dos Campos Gerais. Apresentam topografia plana No Planalto dos Campos Gerais destacam-se as cidades
a levemente ondulada, com desnivelamentos inferiores a 20 de São José dos Ausentes, Cambará do Sul, São Francisco
m e uma densidade de drenagem muito baixa (Figura 3.12). de Paula, Gramado, Canela, Bom Jesus, Vacaria, Caxias do
Sul e Garibaldi, dentre outras.
45
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
dentre outros). Segundos esses autores, os movimentos de Os solos predominantes do Planalto Dissecado do Rio
massa detonados nas altas vertentes da escarpa catalisaram Uruguai são Latossolos Vermelhos Distroférricos, devido ao
grandes torrentes de fluxos detríticos (debris-flows) e corri- elevado intemperismo químico em clima menos frio que o
das de lama (mud-flows) que percorreram os principais eixos do Planalto dos Campos Gerais, sobre terrenos embasados
de drenagem e esparramaram grande massa de sedimentos por rochas básicas, ricas em ferro. Ocorrem também Argis-
nas planícies aluviocoluvionares imediatamente a jusante, solos Vermelhos Distróficos, Latossolos Brunos Distróficos,
acarretando expressivos danos materiais. Esse desastre Latossolos Vermelhos Distróficos, Nitossolos Háplicos Dis-
ilustra os processos de geração dos leques aluviais (R1c) tróficos, assim como manchas de solos de boa fertilidade
observados no sopé da Serra Geral, em especial, no litoral natural, como os Nitossolos Vermelhos Eutróficos e os
norte gaúcho. Portanto, devido a sua inacessibilidade e Chernossolos Argilúvicos (EMBRAPA, 2001). No vale do
elevada fragilidade ambiental, a Escarpa da Serra Geral se rio Uruguai, predominam Cambissolos Háplicos Eutróficos
mantém, em grande parte, florestada e deve ser considerada e, subordinadamente, Nitossolos Vermelhos Eutróficos
uma área de preservação ambiental, evitando-se ocupação e Neossolos Litólicos Eutróficos, devido ao relevo mais
intensiva desses terrenos acidentados. acidentado em ajuste ao nível de base rebaixado da calha
do rio Uruguai. Por fim, nos terrenos íngremes dos vales
PLANALTO DISSECADO DO RIO URUGUAI encaixados, predominam Neossolos Litólicos Eutróficos
e, subordinadamente, Cambissolos Háplicos Eutróficos
O Planalto Dissecado do Rio Uruguai (outrora de- (EMBRAPA, 2001).
nominado Planalto das Missões por Justus et al., 1986) Assim como o Planalto dos Campos Gerais, essa região
corresponde ao trecho mais rebaixado do Planalto das se insere no domínio morfoclimático dos Planaltos Úmidos
Araucárias (IBGE, 1995) no território gaúcho, situado no Subtropicais de Mata de Araucárias e está submetida a
norte-noroeste do Rio Grande do Sul e estendendo-se pelo um regime climático subtropical e úmido, com regime de
estado de Santa Catarina, sendo quase inteiramente cons- precipitações bem distribuídas ao longo do ano, todavia,
tituído por derrames vulcânicos da Formação Serra Geral com invernos menos rigorosos. O relevo de colinas e mor-
(de idade jurocretácica), compostos predominantemente ros ordenados em longas cristas arredondadas confere um
por basaltos e andesitos (fácies Gramado e Paranapanema), caráter dissecado a esse planalto, sendo tal aspecto mais
mas apresentando também ocorrências de riolitos e dacitos nítido à medida que a rede de canais tributária se aproxima
(fácies Caxias e Chapecó). da calha do rio Uruguai. Os desnivelamentos totais nas
Sobre alguns topos elevados do planalto jazem cober- bacias de drenagem variam entre 60 e 150 m, podendo
turas sedimentares de idade terciária da Formação Tupan- atingir até 200 m.
ciretã (arenitos e arenitos conglomeráticos) (CPRM, 2006). O Planalto Dissecado do Rio Uruguai caracteriza-se
Essas coberturas ocorrem de forma fragmentada na região e pela incorporação de vastas áreas para atividades agro-
são modeladas em topos planos ou reafeiçoadas em relevo pecuárias e agroindustriais, com destaque para o cultivo
colinoso (R2b3 e R4a1). Apenas na extremidade ocidental e processamento de culturas como soja, milho e trigo. O
desse planalto, junto às cidades de São Francisco de Assis desenvolvimento da agricultura intensiva de lavouras meca-
e Santiago, afloram os arenitos jurássicos das formações nizadas de soja, a partir da década de 1970 (CASTRO, 1996),
Guará e Botucatu.
O planalto está elevado a cotas que variam
entre 300 e 700 m, sendo dominado por super-
fícies planálticas intensamente entalhadas pela
rede de drenagem tributária do rio Uruguai,
em sua margem esquerda (tais como os rios
Apuaé, Passo Fundo, Erechim, Guarita, Santa
Rosa, Ijuí e Piratinim, dentre os principais),
resultando em um relevo movimentado de
colinas dissecadas e morros (R4b, R4a2 e R2b3)
(Figura 3.13). Todavia, o setor sul do planalto,
drenado para a Depressão Central Gaúcha,
apresenta vales incisos, muito aprofundados,
gerados pelo encaixamento de uma rede de
canais tributária aos rios Jacuí e Ibicuí, que
promove franco entalhamento do planalto
dissecado e recuo erosivo mais pronunciado
da Escarpa da Serra Geral. Tais vales encaixados
(R4f) foram esculpidos pelos rios Pardo, Alto Figura 3.13: Superfície planáltica entalhada pela rede de drenagem do rio
Jacuí, Jacuizinho e Jaguarizinho. Uruguai (divisa do município de Erval Grande (RS) e a localidade de Goio-Em (SC)).
46
ORIGEM DAS PAISAGENS
resultou no surgimento de ravinas e voçorocas nos canais de Nesse planalto, os solos refletem, claramente, um clima
concentração do escoamento superficial em consequência temperado causticado pelo cortante vento minuano durante
da compactação do solo e da redução de sua capacidade o inverno, refletindo mantos de alteração de baixa espessura
de infiltração. Já a introdução do plantio direto a partir (a despeito do atual clima úmido) e grande acúmulo de
da década de 1990 resultou em significativa diminuição matéria orgânica na matriz do solo, como observado nos
de perda de solo e de erosão, em decorrência do relativo Chernossolos e nos solos ebânicos.
decréscimo do escoamento superficial nas encostas e do Nas amplas planícies aluviais dos principais rios e ar-
incremento no fluxo subsuperficial (CASTRO et al., 1999). roios que drenam a região, foi gerada grande variedade de
Expressivas manchas de floresta de araucária des- solos típicos de baixada, tais como: Plintossolos Háplicos
tacam-se, em especial, nos vales encaixados dos canais Distróficos, Chernossolos Ebânicos Órticos, Planossolos
principais da região. O rio Uruguai – o canal coletor prin- Hidromórficos Eutróficos e Gleissolos Háplicos Eutróficos.
cipal – apresenta ainda um grande potencial hidroelétrico Subordinadamente ocorrem também Argissolos Bruno-
em seu vale encaixado, com aproveitamento existente nas -Acinzentados, Vertissolos Ebânicos Órticos e Gleissolos
usinas de Machadinho, Itá e Foz do Chapecó. Melânicos Eutróficos (EMBRAPA, 2001).
Nesse planalto, destacam-se as cidades de Passo Fun- O Planalto de Uruguaiana insere-se no domínio mor-
do, Soledade, Erechim, Carazinho, Palmeira das Missões, foclimático das Coxilhas Úmidas Subtropicais da Campanha
Cruz Alta, Ijuí, Santo Ângelo, Santa Rosa, Júlio de Castilho, Gaúcha (AB’SABER, 1969b) e está submetido a um regime
dentre outras. climático subtropical e úmido, com invernos frios. Esse do-
mínio estende-se, amplamente, pelo noroeste do Uruguai
PLANALTO DE URUGUAIANA e nordeste da Argentina, em uma paisagem regionalmente
denominada Pampas.
O Planalto de Uruguaiana, também denominado O Planalto de Uruguaiana está, portanto, inserido no
Planalto da Campanha Gaúcha pelo IBGE (1995), está situ- contexto dos Pampas da América do Sul e caracteriza-se por
ado no sudoeste do Rio Grande do Sul, sendo totalmente extensos terrenos planos ou modelados em colinas muito
constituído por basaltos e andesitos da Fácies Alegrete da amplas e suaves, conhecidas regionalmente por coxilhas,
Formação Serra Geral (de idade jurocretácica). Nos fundos recobertos por uma vegetação estépica de Campos Limpos.
de vales mais encaixados, afloram basaltos da Fácies Gra- Essas extensas pastagens naturais representam excelentes
mado e arenitos de origem eólica da Formação Botucatu áreas de criação de gado (pecuária de corte) e foram
(CPRM, 2006. Destaca-se um expressivo aluvionamento palco de épicas batalhas entre portugueses e espanhóis
nas calhas dos rios Uruguai, Quaraí, Ibicuí e Butuí, gerando para delimitação das fronteiras meridionais do país e na
amplas planícies de inundação (R1a). própria constituição sociocultural da população gaúcha
Esse planalto está alçado a cotas que variam entre 70 e (Figura 3.14).
300 m, com suave caimento de leste para oeste, em direção Nesse planalto, destacam-se as cidades de Quaraí,
à calha do rio Uruguai. Seus tributários principais entalham Alegrete, São Borja, Itaqui e Uruguaiana.
vales que expõem os arenitos das formações Botucatu e
Guará, onde são registrados sérios problemas
de arenização do solo devido, principalmente,
ao sobrepastoreio (SUERTEGARAY et al., 1999).
Próximo ao reverso da Cuesta de Haedo,
o planalto apresenta um relevo dissecado em
colinas e morros (R4a2 e R4b). Em direção ao rio
Uruguai, esse relevo é substituído por monótonas
superfícies aplainadas, suavemente entalhadas
por uma rede de drenagem de baixa densidade
(R3a2 e R3a1), onde se ressalta a Coxilha de
Santana. O amplo domínio das superfícies aplai-
nadas reflete o baixo grau de dissecação a que
esse baixo planalto foi submetido.
Os solos predominantes do Planalto de
Uruguaiana são Neossolos Litólicos Eutróficos
e, subordinadamente, Chernossolos Ebânicos
Órticos e Vertissolos Ebânicos Órticos. Ocorrem
também manchas de Latossolos Vermelhos
Distróficos, Argissolos Vermelhos Distróficos
Figura 3.14: Relevo plano a colinoso (muito suave), característico do domínio
e Nitossolos Vermelhos Eutróficos (EMBRAPA, Planalto de Uruguaiana; na região, é muito comum o fenômeno de arenização do
2001). solo (Quaraí, RS).
47
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
48
ORIGEM DAS PAISAGENS
ganhando recentemente mais espaço com o objetivo de do Sul). 1996. 179 f.. Tese (Doutorado) – Universidade
suprir a indústria de celulose. Mais restritamente, a região Luis Pasteur, Strasbourg, 1996.
também apresenta áreas de plantação de culturas tempo-
rárias, como soja e trigo. CASTRO, N. M. dos R.; AUZET, A. V.; CHEVALLIER, P.;
Nesse planalto, destacam-se as cidades de Caçapava LEPRUN, J. C. Land use change effects on runoff and
do Sul, Pinheiro Machado, Piratini, Canguçu, Dom Feliciano erosion from plot to catchment scale on the basaltic pla-
e Encruzilhada do Sul, dentre as principais. teau of southern Brazil. Hydrological Processes, v. 13,
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
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EFUSP, 1997. p. 13-65. Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1957. 340 p.
50
4
SOLOS
1
Nestor Kämpf (nestorkampf@gmail.com)
2
Edemar V. Streck (streck@emater.tche.br)
1
Consultor
2
EMATER/RS – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
do Estado do Rio Grande do Sul
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................ 53
Material de origem dos solos................................................................................ 53
Efeitos do material de origem na formação do solo........................................... 54
Classes de solos identificadas no rio grande do sul............................................... 54
Argissolos........................................................................................................... 54
Ocorrência...................................................................................................... 56
Uso agrícola.................................................................................................... 56
Cambissolos....................................................................................................... 56
Ocorrência...................................................................................................... 58
Uso agrícola.................................................................................................... 58
Chernossolos...................................................................................................... 58
Ocorrência...................................................................................................... 58
Uso agrícola.................................................................................................... 60
Gleissolos........................................................................................................... 60
Ocorrência...................................................................................................... 60
Uso agrícola.................................................................................................... 60
Latossolos.......................................................................................................... 60
Ocorrência...................................................................................................... 60
Uso agrícola.................................................................................................... 62
Luvissolos........................................................................................................... 62
Ocorrência...................................................................................................... 62
Uso agrícola.................................................................................................... 62
Neossolos........................................................................................................... 63
Ocorrência...................................................................................................... 64
Uso agrícola.................................................................................................... 65
Nitossolos.......................................................................................................... 65
Ocorrência...................................................................................................... 65
Uso agrícola.................................................................................................... 65
Organossolos..................................................................................................... 65
Ocorrência...................................................................................................... 66
Uso agrícola.................................................................................................... 66
Planossolos........................................................................................................ 67
Ocorrência...................................................................................................... 67
Uso agrícola.................................................................................................... 68
Plintossolos........................................................................................................ 68
Ocorrência...................................................................................................... 68
Uso agrícola.................................................................................................... 69
Vertissolos.......................................................................................................... 69
Ocorrência...................................................................................................... 70
Uso agrícola.................................................................................................... 70
Referências......................................................................................................... 70
SOLOS
53
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Efeitos do Material de Origem na tes paisagens e relevos sob condições climáticas também
Formação do Solo distintas, favoreceu a formação de diversas classes de solos:
na região da Campanha, no oeste do estado, a menor plu-
Genericamente, considera-se que o material de origem viosidade e o relevo local propiciaram uma intemperização
possui três variáveis principais que afetam os solos: o grau mais branda e menor lixiviação, originando Chernossolos e
de consolidação, a granulometria e a composição. Quanto Vertissolos esmectíticos com alta CTC e alto teor de cátions
à influência do grau de consolidação, observa-se que em básicos trocáveis (Ca, Mg, K, Na); já na região do Planalto,
materiais não-consolidados (desde camadas geológicas situada na metade norte do estado, o maior volume de água
não-litificadas até depósitos superficiais aluviais, marinhos excedente (maior pluviosidade) e a drenagem livre favorece-
e lacustres) o desenvolvimento do perfil de solo pode ram taxas de intemperização e lixiviação intensas, originan-
ocorrer sem a necessidade prévia de intemperização da do Latossolos e Nitossolos cauliníticos oxídicos ácidos com
rocha a material fino, ao contrário das rochas consolidadas baixa CTC e baixo teor de cátions básicos trocáveis; por sua
(litificadas), onde a sua intemperização deve preceder à vez, na região das encostas e vales encaixados nas bordas
formação do solo. do Planalto, devido à menor taxa de lixiviação condicionada
A granulometria do material de origem é a principal pelo relevo íngreme (escorrimento > infiltração da água),
determinante da textura (ou granulometria) do solo, que, tem-se Cambissolos, Luvissolos e Chernossolos cauliníticos
por sua vez, afeta propriedades tais como a capacidade de com alta saturação por cátions básicos. Como regra geral,
troca de cátions (CTC), a sorção de íons, o teor de matéria a natureza do material de origem tem um efeito mais
orgânica (MO), a drenagem e a capacidade de retenção significativo em solos “recém-formados”, diminuindo esse
de água no solo. Por exemplo, um material que consiste efeito à medida que os solos evoluem ao longo do tempo,
principalmente de grãos de quartzo com a dimensão da com a progressiva alteração dos minerais e a lixiviação dos
fração areia (2 a 0,05 mm), seja um arenito ou areias elementos mais solúveis.
aluviais ou litorâneas, irá originar um solo arenoso mesmo
sob condições de intemperismo intenso, pois o quartzo é CLASSES DE SOLOS IDENTIFICADAS
um mineral muito resistente. Por outro lado, as rochas íg- NO RIO GRANDE DO SUL
neas extrusivas básicas (por exemplo, basalto), devido aos
baixos teores de quartzo, originarão solos mais argilosos e Neste capítulo são descritas as principais classes de
mais ricos em ferro, manganês e titânio; enquanto, a partir solos identificadas no estado, tendo por base o Levanta-
de rochas ígneas extrusivas ácidas (por exemplo, riolito, mento de Reconhecimento dos Solos do Rio Grande do Sul
dacito), são formados solos argilosos mais quartzosos e (BRASIL, 1973) e o Levantamento Pedológico Exploratório
com menores teores de ferro. Por sua vez, rochas ígneas do Rio Grande do Sul (IBGE, 1986), além de outros publi-
intrusivas ácidas, devido a sua granulometria mais gros- cados ou não.
seira (por exemplo, granito porfirítico), tendem a originar As classes de solos, segundo o Sistema Brasileiro de
solos com proporção significativa das frações areia grossa Classificação de Solos (SiBCS) (EMBRAPA, 2006), são apre-
e cascalho quartzoso. sentadas em sequência alfabética pelo nome das ordens,
A composição da rocha (ou do material de origem), contemplando a descrição de suas características gerais, a
além de influenciar a velocidade de intemperização da classificação até o terceiro nível categórico e as principais
rocha, afeta o suprimento de elementos e a composição regiões de ocorrência e aspectos referentes ao potencial
do solo. Por exemplo, rochas félsicas (ricas em feldspatos de uso dos solos (EMBRAPA, 2006; IBGE, 2007; OLIVEIRA,
e sílica) fornecem baixos teores de Ca, Mg, Fe e Mn, favo- 2008; SANTOS et al., 2005; STRECK et al., 2008).
recendo a formação de caulinita e um resíduo significativo
em quartzo e mica; por outro lado, rochas máficas (ricas Argissolos
em minerais ferromagnesianos e plagioclásios) fornecem
altos teores de cátions básicos e de ferro, favorecendo a São solos com evidente incremento no teor de argila
formação de esmectita em ambientes de lixiviação restrita do horizonte superficial (A+E) ao horizonte B; são ge-
(por exemplo, Vertissolos) ou de caulinita e óxidos de Fe e ralmente profundos a muito profundos, desde bem até
gbsita em condições de intemperismo intenso (por exemplo, imperfeitamente drenados, geralmente de cores averme-
Latossolos). Já em solos derivados de rochas ultrabásicas lhadas ou amareladas; o perfil apresenta uma sequência
(serpentinitos, peridotitos, dunitos), os elevados teores de de horizontes A-Bt-C ou A-E-Bt-C, onde o horizonte Bt é o
Ni, Co, Cu e Mg podem induzir problemas de toxicidade horizonte diagnóstico B textural. Portanto, esses solos têm
às plantas. tipicamente um perfil com gradiente textural (B/A), onde
Além disso, alguma diversidade no efeito dos demais o horizonte Bt é significativamente mais argiloso que os
fatores ambientais pode condicionar a formação de diferen- horizontes A e E, como resultado do processo de lessivagem
tes tipos de solos a partir de materiais geológicos similares. (eluviação-iluviação) das partículas de argila. Os Argissolos
Por exemplo, a grande extensão dos domínios de rochas têm argila de atividade baixa ou alta associada com baixa
efusivas basálticas no Rio Grande do Sul, ocupando diferen- saturação por bases (< 50%) ou caráter alítico (Al extraível
54
SOLOS
≥ 4 cmolc/kg, saturação por Al ≥ 50% e atividade de argila de argila ≥ 20 cmolc/kg de argila) e alumínicos (Al extraível
≥ 20 cmolc/kg de argila). ≥ 4 cmolc/kg, saturação por Al ≥ 50% e atividade de argila
Conforme a cor predominante no horizonte B tex- < 20 cmolc/kg de argila).
tural, são distinguidos em Argissolos Vermelhos (matiz O grau do incremento de argila no horizonte Bt e a
2,5YR ou mais vermelho), Argissolos Amarelos (matiz espessura dos horizontes A+E também são critérios para
7,5YR ou mais amarelo), Argissolos Vermelho-Amarelos, diferenciar os Argissolos: quando o incremento de argila
Argissolos Bruno-Acinzentados (cores bruno-escuro ou dos horizontes A+E ao Bt é muito grande, tem-se perfis de
bruno-avermelhado-escuro no matiz 5YR ou mais amare- solos com uma mudança textural abrupta, o que identifica
lo), Argissolos Acinzentados (cores acinzentadas no matiz os Argissolos abruptos; quando a espessura dos horizontes
7,5YR ou mais amarelo). A+E excede 100 cm, têm-se os Argissolos espessarênicos;
Em função das características químicas, os Argissolos em adição, os perfis abruptos e espessarênicos tendem a
são classificados em distróficos (saturação por bases < mostrar um nítido contraste na coloração dos horizontes:
50%), eutróficos (saturação por bases ≥ 50%), alíticos (Al cores pálidas nos horizontes A+E e cores mais “vivas” (aver-
extraível ≥ 4 cmolc/kg, saturação por Al ≥ 50% e atividade melhadas ou amareladas) no Bt (Figuras 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5).
55
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
56
SOLOS
São solos em processo de transformação expresso material orgânico (MO) no horizonte superficial, identifican-
pelo desenvolvimento de alguma estrutura pedogênica do os mais ricos em MO como Cambissolos Húmicos com
e alteração suficiente para diferenciá-los dos Neossolos, horizonte superficial diagnóstico A húmico. A maioria dos
ou apresentam pedogênese (efeitos de processos de Cambissolos tem teores menores de MO, constituindo os
ferralitização, eluviação ou gleização etc.) insuficiente Cambissolos Háplicos, que apresentam horizonte superficial
para atender aos requisitos de outras classes de solos. diagnóstico A proeminente ou A moderado; também ocor-
Isso torna essa classe de solos muito diversificada em rem Cambissolos Háplicos com horizonte O hístico, que são
suas propriedades, podendo ser originada de diversos intermediários para Organossolos. Os Cambissolos Húmicos
materiais geológicos; muitos Cambissolos ocorrem em são alumínicos (Al trocável ≥ 4 cmolc/kg; saturação por Al
relevo ondulado a fortemente ondulado; os valores de ≥ 50%), portanto, extremamente ácidos. Já os Cambis-
saturação por bases e da atividade da fração argila podem solos Háplicos são, geralmente, distróficos (saturação por
ser baixos a altos. bases < 50%) ou eutróficos (saturação por bases ≥ 50%)
Os Cambissolos são diferenciados pelo acúmulo de (Figuras 4.6 e 4.7).
57
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
58
SOLOS
nas várzeas dos rios Maquiné, Três Forquilhas e Mampituba, nos municípios de Alegrete, Uruguaiana e Barra do Qua-
que drenam a serra do Mar, e ocorrem também esparsos raí. Chernossolos Argilúvicos Órticos, derivados de siltitos,
no centro da região da Depressão Central. Chernossolos ocorrem na porção sudeste da Campanha, nos municípios
Ebânicos Órticos ocorrem na serra do Sudeste, entre Lavras de Bagé, Aceguá e Hulha Negra; enquanto Chernossolos
do Sul e São Sepé; os Chernossolos Ebânicos Carbonáticos, Argilúvicos Carbonáticos são localizados na região Litoral
derivados de basalto e geralmente associados a Neossolos Sul, nas planícies da lagoa Mirim, nos municípios de Santa
Litólicos Eutróficos, ocorrem na porção oeste da Campanha, Vitória do Palmar e Chuí.
59
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Chernossolos situados em relevo ondulado a forte- Os Latossolos são solos em avançado estágio de in-
mente ondulado, geralmente, ocupam áreas de pequena temperização, bem drenados, normalmente profundos a
extensão intercaladas por solos mais rasos e afloramentos muito profundos, apresentando no perfil uma sequência
de rocha. Nessa situação, oferecem condições para culturas de horizontes A-Bw-C, onde o horizonte Bw é o horizonte
anuais com uso de práticas conservacionistas intensivas, diagnóstico B latossólico. Em alguns casos, podem ser pou-
fruticultura, pastagem e florestamento. Chernossolos ver- co profundos, em associação com inclusões de Neossolos
tissólicos, pela presença de argilas expansivas (esmectitas), Regolíticos e Cambissolos Háplicos. Os Latossolos têm pou-
oferecem restrições a culturas anuais de sequeiro, mas co ou nenhum incremento de argila com a profundidade e
têm aptidão para pastagens e arroz irrigado. Chernossolos apresentam uma transição difusa ou gradual entre os hori-
Háplicos situados nas várzeas de rios têm alto potencial zontes; por isso mostram um perfil muito homogêneo, onde
para culturas anuais, mas apresentam risco de inundação é difícil diferenciar os horizontes. Por serem solos muito
ocasional. intemperizados (processo de ferralitização), têm predomí-
nio de caulinita e óxidos de ferro, o que lhes confere baixa
Gleissolos CTC (atividade da argila < 17 cmolc/kg); em decorrência da
lixiviação intensa a que foram submetidos durante a sua
Os Gleissolos são solos hidromórficos, pouco profun- formação, a maioria dos Latossolos apresenta acentuada
dos, mal a muito maldrenados, de cor acinzentada ou preta, acidez, baixa reserva de nutrientes e toxidez por alumínio
apresentando no perfil uma sequência de horizontes A-Cg para as plantas; entretanto, também ocorrem Latossolos
ou A-Bg-Cg ou H-Cg ou Ag-Cg, onde os horizontes Ag, Bg com alta saturação por bases (eutroférricos), como, por
e Cg são horizontes diagnósticos glei. Esses solos estão per- exemplo, em áreas da região do Alto Uruguai.
manente ou periodicamente saturados por água, gerando Os Latossolos são diferenciados em Latossolos Brunos
um ambiente redutor que favorece o processo de gleização, (matiz 4YR ou mais amarelo) e Latossolos Vermelhos (matiz
com intensa redução e mobilização dos compostos de ferro; 2,5YR ou mais vermelho), conforme a cor predominante no
horizonte B. Os Latossolos Brunos são aluminoférricos (Al ≥
em consequência da translocação e/ou remoção do ferro,
4 cmolc/kg, saturação por Al ≥ 50% e teor de Fe2O3 ≥ 18%)
os Gleissolos apresentam cores acinzentadas, azuladas ou
ou alumínicos (Al ≥ 4 cmolc/kg e saturação por Al ≥ 50%).
esverdeadas.
Os Latossolos Vermelhos com baixa saturação por bases (<
Os Gleissolos com horizonte superficial (A ou H) com
50%) e elevado teor de ferro (≥ 18%) são distroférricos;
maior espessura e maior teor de material orgânico (por
quando têm caráter alumínico (Al ≥ 4 cmolc/kg; saturação
exemplo: horizonte H hístico, A húmico, A chernozêmico ou
por Al ≥ 50%) e elevado teor de ferro (Fe2O3 ≥ 18%) são
A proeminente) são classificados como Gleissolos Melânicos;
aluminoférricos; os que apresentam baixa saturação por
os que não atendem a esses requisitos são os Gleissolos
bases (< 50%) associada a baixo teor de ferro (Fe2O3 <
Háplicos. Os Gleissolos podem ser eutróficos (saturação por
18%) são distróficos; também ocorrem em menor extensão
bases ≥ 50%) ou distróficos (saturação por bases < 50%)
Latossolos Vermelhos eutroférricos (saturação por bases ≥
(Figras 4.10 e 4.11)
50% e teor de ferro ≥ 18%). Os Latossolos com alto teor
de ferro (Fe2O3 ≥ 18%) e mais argilosos são derivados
Ocorrência
de rochas efusivas básicas (basaltos), enquanto aqueles
originados de sedimentos mais arenosos ou sua mistura
Os Gleissolos ocorrem tipicamente em áreas que
com materiais da alteração de basalto apresentam textura
favorecem a estagnação da água, gerando ambientes mal-
média e menores teores de ferro. O material de origem dos
drenados. Em maior extensão, são encontrados em várzeas
latossolos é inferido pela presença de fração magnética
de rios e nas planícies lagunares, geralmente associados aos
(limalha contendo magnetita, ilmenita e maghemita) no
Planossolos, que ocupam cotas mais elevadas. Em menor
solo atraída por ímã, no caso de ser derivado da alteração
extensão, são comuns nas depressões entre coxilhas, onde
de basalto; ou, quando influenciado por sedimentos are-
podem apresentar cobertura superficial com material de
nosos, pelo acúmulo de partículas de areia lavada (grãos
solo erodido de cotas superiores.
de quartzo) nos sulcos de lavouras e nos valos na base de
perfis expostos (Figuras 4.12 e 4.13).
Uso agrícola
Ocorrência
Gleissolos situados em áreas de nascentes e em
pequenas depressões devem ser mantidos como área de As maiores extensões de Latossolos são localizadas na
preservação permanente. Quando situados em áreas mais região do Planalto, estendendo-se desde Vacaria, no leste,
extensas de várzeas e planícies lagunares, são solos aptos a São Luiz Gonzaga, no oeste, e ao Alto Uruguai, no norte,
para cultivo com arroz irrigado e, quando drenados, com portanto, sob vários gradientes climáticos que explicam a
culturas anuais. sua diferenciação nas classes anteriormente citadas.
60
SOLOS
61
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Luvissolos Ocorrência
Os Luvissolos são, geralmente, solos pouco profundos, Luvissolos Crômicos Pálicos originados de basalto
bem a imperfeitamente drenados, apresentando no perfil ocorrem ao oeste, nas regiões da Campanha e das Missões,
uma sequência de horizontes A-Bt-C, onde o horizonte Bt entre os municípios de Uruguaiana e São Borja, geralmente
é o horizonte diagnóstico B textural. Esses solos têm alta associados a Plintossolos Argilúvicos Órticos. Luvissolos
CTC (atividade da argila ≥ 27 cmolc/kg) e alta saturação por Háplicos Órticos, originados de granitos e gnaisses, são
bases (≥ 50%), o que indica baixa lixiviação; portanto, um encontrados ao sul da Encosta do Sudeste e serra do Sudeste
grau de intemperismo intermediário. Essa associação de
alta atividade da argila e alta saturação por bases diferencia Uso agrícola
os Luvissolos dos Argissolos. Contêm minerais primários
intemperizáveis e, na fração argila, têm predomínio de Luvissolos têm alta fertilidade química, mas, por ocor-
argilominerais 2:1 e caulinita. rerem em diversas condições de material de origem, clima
Esses solos são distinguidos em: Luvissolos Crômicos e relevo, o seu uso agrícola deve ser avaliado para o local
Pálicos, que apresentam cores vermelhas ou amarelas no em que estão situados.
62
SOLOS
63
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
64
SOLOS
relevo ondulado a forte ondulado da serra do Sudeste, nóstico B nítico. Esses solos têm certa semelhança com os
ocorrem Neossolos Litólicos Húmicos, Distro-Úmbricos e Latossolos, devido ao pequeno incremento de argila com
Distróficos. Na Encosta Superior do Nordeste, nos relevos a profundidade e a transição difusa ou gradual entre os
mais acentuados, ocorrem Neossolos Litólicos e Regolíticos horizontes. Os Nitossolos são, geralmente, argilosos ou
Distróficos. Neossolos Litólicos e Regolíticos Distro-Úmbricos muito argilosos, ácidos com CTC baixa (argila de atividade
ocorrem na transição do Planalto para a Encosta Inferior baixa) em decorrência do predomínio de caulinita e óxidos
do Nordeste (tendo Soledade e Santiago por centro) e na de ferro em sua constituição. O material de origem desses
Encosta Superior do Nordeste; na região dos Campos de solos compreende rochas efusivas básicas ou ácidas.
Cima da Serra, ocorrem Neossolos Litólicos e Regolíticos Os Nitossolos são distinguidos em: Nitossolos Verme-
Húmicos. lhos, quando apresentam horizonte B nítico com predomí-
Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos são encontra- nio de cor vermelha; Nitossolos Brunos, quando predomina
dos na Planície Costeira, ocupando os feixes de restingas, a coloração amarelada; os demais constituem os Nitossolos
frequentemente com recobrimento por areias eólicas (du- Háplicos. Os Nitossolos Vermelhos distroférricos apresentam
nas); devido ao ambiente maldrenado, esses solos geral- baixa saturação por bases (< 50 %) e altos teores de ferro
mente apresentam horizonte A escurecido pelo acúmulo (Fe2O3 ≥ 15%); os Nitossolos Brunos aluminoférricos têm
de matéria orgânica. Esses Neossolos também ocorrem na alto teor de Al3+ extraível (≥ 4 cmolc/kg) e alto teor de
região do Planalto Médio, entre Cruz Alta e Tupanciretã, óxidos de ferro (≥ 15%), enquanto os distroférricos têm
situados nas depressões entre as coxilhas ocupadas por alto teor de ferro e, em comum com os distróficos, têm
Latossolos Vermelhos Distróficos ou Argissolos Vermelho- baixa saturação por bases (< 50%) (Figuras 4.20 e 4.21).
-Amarelos Distróficos. Neossolos Quartzarênicos Órticos são
típicos de ambientes bem drenados, sendo encontrados na Ocorrência
Planície Costeira, na região da Campanha (municípios de
São Francisco de Assis, Manuel Viana, Alegrete e Quaraí), Os Nitossolos Vermelhos ocorrem em relevo suave
nas áreas em processo de arenização, bem como nas vár- ondulado a ondulado na região do Planalto e das Missões
zeas do rio Ibicuí. Neossolos Flúvicos são encontrados nas até o Alto Uruguai, geralmente associados aos Latossolos,
margens de cursos d’água nas diversas regiões do estado. bem como na transição da Encosta Inferior do Nordeste
para a região da Depressão Central, onde, geralmente,
Uso agrícola estão associados a Chernossolos, Cambissolos e Neossolos
Litólicos ou Regolíticos Eutróficos. Os Nitossolos Brunos são
Neossolos Litólicos, devido a sua pouca profundidade mais frequentes nas áreas de Latossolos Brunos na região
efetiva e ocorrência em relevo forte ondulado e monta- dos Campos de Cima da Serra, bem como na região da
nhoso, apresentam fortes restrições para culturas anuais, Encosta Superior do Nordeste.
devendo ser mantidos sob preservação permanente. Ne-
ossolos Regolíticos, em função de sua maior profundidade Uso agrícola
efetiva, podem ser cultivados mediante práticas intensivas
de conservação do solo em áreas com declividade < 15%. Nitossolos geralmente possuem boa aptidão agrícola
Neossolos Quartzarênicos Órticos constituem ambientes após correção da fertilidade química.
muito frágeis, altamente suscetíveis à erosão hídrica e
eólica; devem ser mantidos sob pastagem sem pastoreio Organossolos
excessivo ou podem ser usados para florestamento. Entre-
tanto, quando expostos pela perda da cobertura vegetal Os Organossolos são solos formados por material
são sujeitos à degradação pelo processo de arenização. orgânico (MO) em grau variável de decomposição, acu-
Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos, devido a sua má mulado em ambientes muito maldrenados (alagadiços),
drenagem, devem ser mantidos com pastagem permanente em processo de paludização. Os Organossolos são identi-
ou florestamento. Neossolos Flúvicos têm uso limitado pelo ficados pela presença de horizontes diagnósticos H hísticos
risco de inundação e devem ser mantidos como área de (espessura ≥ 40 cm e teor de carbono orgânico ≥ 80 g/kg
preservação permanente. ou matéria orgânica ≥ 14%). Quando as espessuras dos
horizontes hísticos são menores, os solos são classificados
Nitossolos como Gleissolos Melânicos ou Neossolos Quartzarênicos
Hidromórficos hísticos.
Os Nitossolos são solos em avançado estágio de Os Organossolos Háplicos são os mais frequentes
intemperização (processo de ferralitização), geralmente no Rio Grande do Sul. Em menor proporção ocorrem os
profundos, apresentando no perfil uma sequência de hori- Organossolos Tiomórficos, que têm horizonte sulfúrico ou
zontes A-B-C, onde o horizonte B tem agregados estruturais presença de materiais sulfídricos dentro de 100 cm a partir
bem desenvolvidos, com cerosidade expressiva e gradiente da superfície do solo. Os Organossolos são diferenciados
textural menor que 1,5, caracterizando um horizonte diag- no terceiro nível, conforme o grau de decomposição do
65
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
material orgânico na maior parte dos horizontes até a Tramandaí, Torres, Pelotas, Rio Grande e Santa Vitória do
profundidade de 100 cm; a estimativa é baseada na quan- Palmar. Extensões menores de Organossolos podem ser
tidade de material retido após espremer-se o solo molhado encontradas em alagadiços nas planícies de inundação de
na mão: são fíbricos (mais de 2/3 da massa espremida per- rios e nas depressões maldrenadas entre coxilhas.
manecem na mão), hêmicos (entre 2/3 e 1/3 permanecem
retidos) ou sápricos (menos de 1/3 permanece retido na Uso agrícola
mão) (Figura 4.22).
Os Organossolos, quando drenados e cultivados, estão
Ocorrência sujeitos a mudanças significativas em suas características.
A mudança é proporcional ao teor de matéria orgânica,
Os Organossolos ocupam áreas permanentemente por isso, não se recomenda o uso agrícola de Organossolos
muito maldrenadas (alagadiços), em depressões e nas Háplicos (com teor de MO > 65% por massa). Com a reti-
proximidades de rios e lagoas. As maiores extensões de rada da água pela drenagem, a massa orgânica se contrai,
Organossolos ocorrem às margens de lagoas na Planície produzindo uma acelerada subsidência (= rebaixamento da
Costeira, principalmente nos municípios de Viamão, Osório, superfície) inicial do solo, que pode alcançar até 50% da
66
SOLOS
profundidade do dreno. A drenagem também incrementa a o Planossolo está seco, o horizonte Bt destaca-se no perfil
atividade biológica na decomposição do material orgânico por sua estrutura prismática, colunar ou em blocos angu-
(1 a 5 cm/ano). Isso significa que um Organossolo drenado lares, contrastando com a estrutura menos desenvolvida
e cultivado tenderá a desaparecer ao longo do tempo. Uma dos horizontes superficiais. O horizonte B plânico pode
comparação entre Organossolos Háplicos Hêmicos ou Hápli- apresentar, ainda, feições de gleização (Btg), ou acumula-
cos Sápricos e Fíbricos mostra que os sápricos, geralmente, ção de sódio (Btn), ou ambos (Btng). Alguns Planossolos
apresentam menor teor de MO (ou maior teor de material apresentam horizontes subsuperficiais cimentados (Btm,
mineral) e, portanto, têm maior densidade (Ds). Assim, nas Cm), caracterizando um duripã.
mesmas condições de manejo, os Organossolos Háplicos A maioria desses solos é classificada como Planossolos
Hêmicos ou Sápricos têm menor taxa de subsidência e Háplicos Eutróficos, por apresentarem alta saturação por
maior capacidade de suportar cargas que os Organossolos bases > 50 %); aqueles com eventual baixa saturação por
Háplicos Fíbricos. bases (< 50%) são distróficos ou alíticos (Al extraível ≥ 4
cmolc/kg de solo, T ≥ 20 cmolc/kg de argila e saturação
Planossolos por Al ≥ 50%).
Os Planossolos são frequentes nas áreas de várzeas dos
Os Planossolos são solos imperfeitamente ou maldre- rios e lagoas. Planossolos Nátricos Órticos (têm saturação
nados, encontrados em áreas de várzea, com relevo plano a com sódio ≥ 15%) são comuns na região da Planície Cos-
suavemente ondulado. Apresentam perfis com sequência de teira, distribuídos entre Planossolos Háplicos, Plintossolos
horizontes A-E-Bt-C, com o horizonte A geralmente de cor e Gleissolos (Figuras 4.23, 4.24 e 4.25).
escura e o horizonte E de cor clara (horizonte diagnóstico
E álbico), ambos de textura mais arenosa, com passagem Ocorrência
abrupta para o horizonte Bt (horizonte diagnóstico B plâ-
nico), bem mais argiloso e adensado, de cor acinzentada Planossolos Háplicos Eutróficos ocorrem principal-
com ou sem mosqueados vermelhos e/ou amarelos. Essa mente na Depressão Central e, em menores proporções, na
mudança súbita de textura dos horizontes mais superficiais Encosta Inferior do Nordeste e em partes da porção oeste
(A+E) para o horizonte Bt define uma mudança textural da Campanha; no Litoral Norte (FEE, 1980), ocorrem os
abrupta, pela qual os Planossolos são distinguidos dos Planossolos Háplicos com horizontes A+E de espessura >
Gleissolos. 100 cm, definidos como espessarênicos. Na Planície Costeira
A textura mais arenosa dos horizontes superficiais dos Interna e Externa, são encontrados os Planossolos Háplicos
Planossolos é atribuída à destruição da argila por atual pro- Eutróficos solódicos, que têm saturação com sódio entre
cesso de ferrólise; ou pode ser herança de um paleoclima 6 e < 15%. Os Planossolos Háplicos Eutróficos vertissóli-
mais seco, onde a alta saturação por sódio vigente no solo cos, que têm características vérticas devido à presença de
favoreceu a dispersão da argila nos horizontes superficiais argilominerais esmectíticos, ocorrem no sul na região da
e a sua transferência para o horizonte B; ou o contraste de Campanha, de Dom Pedrito a Bagé e Aceguá e desde Dom
textura é decorrente da sobreposição de material sedimentar Pedrito a São Gabriel até Pantano Grande, ocupando um
arenoso em solo derivado de sedimento argiloso. Quando relevo suavemente ondulado a ondulado.
67
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
68
SOLOS
69
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
BRASIL. Ministério da Agricultura. Levantamento de STRECK, E. V.; KÄMPF, N.; DALMOLIN, R. S. D.; KLAMT,
reconhecimento dos solos do estado do Rio E.; NASCIMENTO, P. C. do; SCHNEIDER, P.; GIASSON, E.;
Grande do Sul. Recife: MA/DNPEA, 1973. 431 p. (Bole- PINTO, L. F. S. Solos do Rio Grande do Sul. 2. ed. Porto
tim Técnico, 30). Alegre: EMATER/UFRGS, 2008. 222 p.
70
5
RECURSOS HÍDRICOS
SUBTERRÂNEOS
Marcos Alexandre de Freitas (marcos.freitas@cprm.gov.br)
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................ 73
Sistemas Aquíferos do Rio Grande do Sul............................................................. 74
Aquíferos com Alta a Média Possibilidade para Águas Subterrâneas em Rochas e
Sedimentos com Porosidade Intergranular......................................................... 75
Botucatu/Guará 1............................................................................................ 75
Quaternário Costeiro 1.................................................................................... 76
Quaternário Barreira Marinha......................................................................... 76
Sedimentos Deltaicos...................................................................................... 76
Quaternário Indiferenciado............................................................................. 76
Santa Maria........................................................................................................
Aquíferos com Média a Baixa Possibilidade para Águas Subterrâneas em Rochas
Sedimentos com Porosidade Intergranular......................................................... 76
Botucatu/Guará 2............................................................................................ 77
Sanga do Cabral/Piramboia............................................................................. 77
Botucatu /Piramboia....................................................................................... 77
Palermo/Rio Bonito......................................................................................... 77
Quaternário Costeiro 2.................................................................................... 78
Aquíferos com Alta a Média Possibilidade para Águas Subterrâneas em Rochas
com Porosidade por Fraturas............................................................................ 78
Serra Geral 1................................................................................................... 78
Aquíferos com Média a Baixa Possibilidade para Águas Subterrâneas em Rochas
com Porosidade por Fraturas............................................................................. 79
Serra Geral 2................................................................................................... 79
Embasamento Cristalino1............................................................................... 79
Aquíferos Limitados de Baixa Possibilidade para Águas Subterrâneas em Rochas
com Porosidade Intergranular ou por Fraturas................................................... 79
Aquitardos Permianos..................................................................................... 80
Embasamento Cristalino 2.............................................................................. 80
Aquíferos Praticamente Improdutivos em Rochas com Porosidade Intergranular
ou por Fraturas.................................................................................................. 80
Basalto/Botucatu............................................................................................. 80
Botucatu......................................................................................................... 80
Serra Geral 3................................................................................................... 80
Aquicludes Eopaleozoicos............................................................................... 81
Embasamento Cristalino3............................................................................... 81
Aquífero Guarani............................................................................................ 81
Situação Atual da Qualidade das Águas Subterrâneas e os Riscos de Degradação
Decorrentes dos Processos de Ocupação do Território........................................... 81
Perspectivas Futuras.............................................................................................. 84
Referências............................................................................................................ 85
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
Figura 5.1: Distribuição espacial dos poços pertencentes à base SIAGAS no estado do Rio Grande do Sul.
73
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 5.2: Mapa hidrogeológico do estado do Rio Grande do Sul (Machado e Freitas, 2005).
74
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
Botucatu/Guará 1
75
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
76
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
Botucatu /Piramboia
Aflorando em uma faixa contínua de 16.450,0 km2, O Sistema Aquífero Palermo/Rio Bonito ocorre em
desde a fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, até uma área de 5.891,9 km2, circundando a região alta das
a região de Taquari, ocorre o Sistema Aquífero Sanga do rochas do Escudo Sul-Rio-Grandense, desde Candiota até
Cabral/Piramboia. Santo Antônio da Patrulha, passando pelos municípios de
Esse sistema é composto por camadas síltico-arenosas Dom Pedrito, São Gabriel, Minas do Leão e Cachoeirinha.
avermelhadas, com matriz argilosa, e arenitos finos a muito É composto por arenitos finos a médios, cinza a esbran-
finos, vermelhos, com cimento calcífero. quiçados, intercalados com camadas de siltitos argilosos e
Suas capacidades específicas são variáveis entre 0,5 e carbonosos, de cor cinza-escura.
1,5 m3/h/m. Na faixa que abrange Sant’Ana do Livramento, Apresenta capacidades específicas médias inferiores
Rosário do Sul e São Vicente, ele apresenta maior produ- a 0,5 m3/h/m. A salinidade varia muito entre as áreas
77
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
aflorantes – valores de até 400 mg/L de STD – e as áreas aquífero, de modo geral, é composto por rochas basálticas,
confinadas – os valores vão de 800 a 2.000 mg/L. Em amigdaloides e fraturadas, capeadas por espesso solo aver-
grandes profundidades, as águas são salinas e os sólidos melhado (Figura 5.6).
totais dissolvidos podem apresentar valores superiores a Suas capacidades específicas são muito variáveis, pre-
10.000 mg/L. dominando valores entre 1,0 e 4,0 m3/h/m. Por se tratar de
Trabalhos realizados pela CPRM/SGB, em parceria com aquíferos fraturados, muitas vezes ocorrem poços pouco
o INCRA, nos assentamentos da região de Candiota e Hulha produtivos próximos a outros com excelentes vazões.
Negra, demonstraram que o Sistema Aquífero Palermo/Rio A salinidade, em geral, é baixa, com média de 200
Bonito apresenta camadas com carvão e sedimentos que mg/L. Poços que captam águas mais salinas, sódicas e de
podem ocasionar problemas na qualidade físico-química elevado pH (entre 9 e 10), provavelmente correspondem a
das águas. Entretanto, se o projeto construtivo dos poços porções do aquífero influenciadas por águas ascendentes
for baseado em estudos de perfilagem geofísica, é possível
do Sistema Aquífero Guarani.
separar os níveis mais produtores e de melhor qualidade
Esse sistema aquífero é muito utilizado para abas-
de água.
tecimento humano nas sedes municipais, em pequenas
O principal uso desse sistema aquífero é para abaste-
comunidades rurais e em assentamentos do INCRA.
cimento humano em assentamentos do INCRA e pequenas
A CORSAN opera poços nesse aquífero com mais de
comunidades do interior.
50 m3/h de vazão em vários municípios (Selbach, Não-Me-
-Toque, Tapera, Tapejara etc.).
Quaternário Costeiro 2
Serra Geral 1
Aquíferos com Média a Baixa Possibilidade
Esse sistema aquífero ocorre no centro-oeste do para Águas Subterrâneas em Rochas com
Planalto Sul-Rio-Grandense. Ocupa cerca de 27% da área Porosidade por Fraturas
do estado e é delimitado pelos municípios de Soledade,
Tupanciretã, Santo Antônio das Missões, Santa Rosa, Te- Esse grupo é representado pelos sistemas aquíferos
nente Portela, Nonoai, Erechim e Passo Fundo. Esse sistema Serra Geral 2 e Embasamento Cristalino 1 (Figura 5.7).
78
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
Embasamento Cristalino 1
Serra Geral 2
79
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Os Aquitardos Permianos estão localizados em estreita Localiza-se na região da fronteira oeste e na região
faixa de 18.048 km2 na Depressão Periférica, circundando das Missões, entre Santiago, Unistalda e São Borja. Tam-
o Embasamento Cristalino desde Candiota, no sul do esta- bém estão presentes áreas com morros isolados de basalto
do, até Taquara, no leste. Suas litologias são formadas por sobre o Arenito Botucatu, tanto na fronteira oeste quanto
siltitos argilosos, argilitos cinza-escuros, folhelhos pirobe- na porção leste do estado. Essas áreas são desfavoráveis
tuminosos e pequenas camadas de margas e arenitos finos. ao armazenamento de água subterrânea, devido a sua
Normalmente, os poços que captam essas litologias condição topoestrutural. Geralmente, os poços perfurados
apresentam vazões muito baixas ou são secos. As capaci- nessas unidades são secos ou apresentam baixas vazões.
dades específicas são inferiores a 0,1 m3/h/m. Em termos
qualitativos, suas águas podem ser duras (grande quanti- Botucatu
dade de sais de cálcio e de magnésio) ou salobras.
Raros poços produtivos são utilizados para abaste- Esse sistema aquífero localiza-se em cotas topográfi-
cimento doméstico. Sua vulnerabilidade natural é insig- cas altas e com morfologia escarpada, principalmente na
nificante, devido ao alto teor de argilas e siltitos em sua região central do estado, próximo às bordas escarpadas
composição. do planalto basáltico. Compreende arenitos de granulo-
metria média a fina, endurecidos por cimento ferruginoso
Embasamento Cristalino 2 ou silicoso. Devido à sua condição topoestrutural e à forte
cimentação, comportam-se como péssimos armazenadores
O Sistema Aquífero Embasamento Cristalino 2 ocorre de água subterrânea.
em uma área de 64.538 km2 no Embasamento Cristalino,
abrangendo os municípios de Bagé, Caçapava do Sul, En- Serra Geral 3
cruzilhada do Sul e pequena porção de Porto Alegre. Suas
litologias são granitos, gnaisses, andesitos, xistos, filitos e O Sistema Aquífero Serra Geral 3, formado por rio-
calcários metamorfizados, que estão, localmente, afetadas dacitos e basaltos, encontra-se nas porções mais elevadas
por fraturamentos e falhas. dos derrames da unidade hidroestratigráfica Serra Geral,
Geralmente, apresentam capacidades específicas infe- na região nordeste do estado, e em morros isolados de
riores a 0,5 m3/h/m, ocorrendo muito frequen-
temente poços secos. As águas apresentam sa-
linidades inferiores a 300 mg/L. Em áreas onde
há cobertura de sedimentos cenozoicos de
origem marinha, suas águas podem apresentar
altos teores de sais dissolvidos. Comumente,
as águas captadas em poços construídos nas
rochas graníticas podem apresentar enrique-
cimento em flúor.
O principal uso desse sistema aquífero é
o abastecimento de pequenas comunidades
rurais e assentamentos do INCRA. Sua vul-
nerabilidade está relacionada à espessura do
manto de alteração.
Aquíferos Praticamente
Improdutivos em Rochas com
Porosidade Intergranular ou por
Fraturas
80
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
áreas muito dissecadas, no noroeste do estado. Os poços te até a região litorânea do estado. Segundo Machado
possuem vazões específicas muito baixas ou são secos. As (2005), o SAG é compartimentado em quatro grandes
águas, quando presentes, têm baixa salinidade. blocos: Oeste, Leste, Central-Missões e Norte-Alto Uruguai.
A exemplo das áreas aflorantes, é constituído por nove
Aquicludes Eopaleozoicos unidades hidroestratigráficas: Botucatu, Guará, Arenito
Mata, Caturrita, Alemoa, Passo das Tropas 1 e 2, Sanga do
Nas áreas do centro ao leste do Embasamento Crista- Cabral e Piramboia.
lino, mais precisamente entre os municípios de Caçapava A unidade hidroestratigráfica Botucatu é a que apre-
do Sul, Bagé, Lavras do Sul e Vila Nova do Sul, ocorrem os senta maior distribuição na área confinada, sendo também
Aquicludes Eopaleozoicos. São compostos por arenitos finos o principal aquífero captado pelos poços profundos, que
a médios, róseos a avermelhados, com cimentação ferrugi- podem operar com vazões superiores a 500 m3/h.
nosa, calcítica e silicosa. Estes sofreram intensa diagênese Na fronteira oeste do estado, as capacidades específi-
e metamorfismo e, hoje, encontram-se muito endurecidos. cas variam de 5 a 10 m3/h/m, enquanto em outras regiões
Devido a esses fatores, a porosidade é muito baixa, o que as capacidades específicas oscilam entre 0,5 e 2 m3/h/m.
ocasiona péssimas condições de armazenamento de água A qualidade das águas nas porções confinadas é muito
subterrânea. Com isso, os poços tubulares presentes nessa variável e depende do grau de confinamento das unidades
unidade são secos ou têm vazão insignificante. hidroestratigráficas (MACHADO e FREITAS, 2005). As uni-
dades Botucatu e Guará, na fronteira oeste, apresentam
Embasamento Cristalino 3 águas doces, com menos de 400 mg/L de sais.
Na porção norte do planalto meridional, o arenito
O Sistema Aquífero Embasamento Cristalino 3, locali- Botucatu é a principal unidade hidroestratigráfica e apre-
zado nas porções mais elevadas do Embasamento Cristalino, senta valores de salinidade em geral superiores a 800 mg/L.
é composto principalmente por rochas graníticas maciças, O Sistema Aquífero Botucatu/Piramboia, na região
gnaisses, riolitos e andesitos pouco alterados. A ausência leste, contém águas de baixa salinidade, geralmente abaixo
de fraturas interconectadas, pequena espessura do manto de 400 mg/L.
de alteração e a condição topográfica desfavorável inibem A unidade hidroestratigráfica Passo das Tropas 2,
a perfuração de poços tubulares nessa unidade. confinada, apresenta altos valores de salinidade e, local-
mente, teores elevados de flúor, inviabilizando seu uso em
Aquífero Guarani abastecimento público.
No compartimento Norte-Alto Uruguai, o condiciona-
O Sistema Aquífero Guarani (SAG) ocorre no Rio mento estrutural do Sistema Aquífero Guarani e sua ocor-
Grande do Sul sob duas maneiras: aflorante e confinado. rência a grandes profundidades favorecem a ocorrência de
A área aflorante ocorre na Depressão Central do Rio águas termais. Nessa região estão localizadas as principais
Grande do Sul, entre os municípios de Sant’Ana do Livra- estâncias turísticas termais do estado.
mento e Santo Antônio da Patrulha. O SAG é constituído A variabilidade da profundidade, a vazão e o teor de
por nove unidades hidroestratigráficas: Botucatu, Guará, sais dissolvidos nos principais poços que captam o SAG
Arenito Mata, Caturrita, Alemoa, Passo das Tropas 1 e 2, confinado no Rio Grande do Sul, decorrentes da compar-
Sanga do Cabral e Piramboia. Suas litologias são muito va- timentação do aquífero, são apresentados na (Figura 5.10.)
riáveis, sendo localmente arenosas, de granulometria média
a grossa, como nas unidades Botucatu, Guará, Passo das SITUAÇÃO ATUAL DA QUALIDADE DAS
Tropas 1 e 2, ou então muito finas, com siltitos e arenitos ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E OS RISCOS
argilosos, nas unidades Alemoa e Sanga do Cabral. DE DEGRADAÇÃO DECORRENTES DOS
A maior produtividade na área aflorante é a da unida- PROCESSOS DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO
de hidroestratigráfica Guará, com capacidades específicas
médias entre 2 e 4 m3/h/m, e vazões que alcançam mais Nos últimos anos, estudos de geoquímica ambiental
de 100 m3/h. têm dirigido crescente atenção às relações entre a Geologia
Quanto à qualidade das águas, geralmente nas áreas e os estudos epidemiológicos, especialidade que recebe a
aflorantes ocorrem baixos valores de salinidade, entre denominação de Geologia Médica. Segundo Roisenberg
100 e 400 mg/L, à exceção da unidade hidroestratigráfica et al. (2007), muitas doenças endêmicas registradas pelo
Piramboia, em Santa Maria, que apresenta valores de STD sistema de saúde pública têm sua origem no abastecimento
superiores a 3.000 mg/L. A unidade hidroestratigráfica de água subterrânea, que não oferece condições adequadas
Passo das Tropas 2 também possui águas com valores de de potabilidade. Em muitos casos, a degradação da quali-
STD elevados e, localmente, presença de flúor acima dos dade da água decorre de processos naturais, em razão da
limites de potabilidade. interação água-rocha. Por outro lado, o inadequado sane-
O Sistema Aquífero Guarani é confinado pelas rochas amento básico, o vazamento de combustíveis em postos
vulcânicas da Formação Serra Geral desde a fronteira oes- de abastecimento e os efluentes industriais proporcionam
81
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 5.10: Principais poços que captam a porção confinada do sistema aquífero Guarani no
Estado do Rio Grande do Sul.
a degradação das águas subterrâneas em núcleos urbanos. Os casos de águas subterrâneas contaminadas no Rio
Fora dos aglomerados populacionais, a mineração e a agri- Grande do Sul ainda são localizados e possuem relação
cultura extensiva são importantes vetores da contaminação com atividades de agricultura extensiva, de indústria e de
das águas subterrâneas. mineração, além da ausência de saneamento básico nos
De modo geral, as águas subterrâneas são potáveis. grandes aglomerados urbanos.
No entanto, há problemas de altas concentrações naturais O Rio Grande do Sul é um dos estados com maior pro-
de determinados elementos que inviabilizam seu uso para dutividade agrícola no país, tendo participação importante
abastecimento humano e animal. Por exemplo, teores ex- nas safras de soja, arroz, trigo, uva, dentre outras culturas.
cessivos de cloretos presentes em aquíferos relacionados aos A alta produtividade é alcançada com uso extensivo de
depósitos sedimentares da Planície Costeira e em aquíferos fertilizantes minerais, excrementos animais, agrotóxicos e
formados pelas formações Palermo, Irati e Rio Bonito são corretivos de pH, aportando anualmente ao solo milhares de
comuns. Também há casos de altos teores de flúor em águas toneladas de agentes contaminantes que podem alcançar
subterrâneas, principalmente na região da Depressão Perifé- as águas subterrâneas (ROISENBERG et al., 2007).
rica e no Embasamento Cristalino, inclusive em Porto Alegre, Os fertilizantes minerais do tipo NPK são os mais uti-
que podem causar fluorose dentária. Na região de Venâncio lizados na agricultura, constituindo uma fonte de nitrato
Aires e Santa Cruz do Sul, concentrações de até 11 mg/L e fósforo, com elevadas concentrações de flúor. O uso de
de flúor são verificadas em águas subterrâneas do Sistema fertilizantes orgânicos à base de dejetos animais é prática
Aquífero Guarani (MARIMON, 2006). Estudos recentes, comum, particularmente em regiões onde a suinocultura e
utilizando isótopos estáveis, demonstraram que o elevado avicultura estão presentes. O uso desse tipo de fertilizante e
teor de fluoreto dessas águas subterrâneas possui origem o de águas servidas, que contém igualmente grande quan-
geogênica (MARIMON et al., 2007). Teores excessivos de tidade de nitrogênio amoniacal, rapidamente convertido
ferro e manganês, de origem natural, também são comuns em nitrato, pode degradar a qualidade das águas subter-
e causam problemas de natureza organoléptica nas águas. râneas. A contaminação de aquíferos por pesticidas ainda
82
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
83
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
84
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
Figura 5.15: Poços de monitoramento construídos pela CPRM/SGB em áreas de recarga do sistema aquífero
Guarani no estado do Rio Grande do Sul.
REFERÊNCIAS
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
MACHADO, J. L. F.; FREITAS, M. A. de. Projeto mapa ROISENBERG, A.; VIERO, A. P.; FREITAS, M. A.; MACHA-
hidrogeológico do Rio Grande do Sul: relatório DO, J. L. F. Os recursos hídricos subterrâneos do Rio
final. Porto Alegre: CPRM, 2005. CD-ROM e mapa escala Grande do Sul: uma visão sobre a saúde das águas e
1:750.000. implicações na saúde das populações. In: IANNUZZI, R.;
FRANTZ, J. C. (Eds.). 50 anos de geologia: Instituto de
MARIMON, M. P. C. O flúor nas águas subterrâneas Geociências, contribuições. Porto Alegre: Comunicação e
da formação Santa Maria na região de Santa Cruz Identidade, 2007. p. 355-367.
do Sul e Venâncio Aires, RS, Brasil. Porto Alegre.
2006. 230 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
86
6
POTENCIAL MINERAL
PARA NÃO-METÁLICOS DA
REGIÃO METROPOLITANA
DE PORTO ALEGRE
Diogo Rodrigues Andrade da Silva (diogo.rodrigues@cprm.gov.br)1
Luiz Fernando Pardi Zanini (lfpzanini@hotmail.com.br)2
1
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
2
Consultor
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................ 89
Localização e Aspectos Socioeconômicos.............................................................. 89
Explotação e Aproveitamento das Substâncias Não-Metálicas da Região
Metropolitana de Porto Alegre.............................................................................. 89
Substâncias Minerais para a Construção Civil..................................................... 89
Areia para a construção civil........................................................................... 89
Areia de leito de rio..................................................................................... 89
Areia da planície aluvial............................................................................... 90
Argila para cerâmica vermelha........................................................................ 90
Argila da planície aluvial.............................................................................. 90
Argilas de leques aluviais............................................................................. 91
Argilas de solo residual................................................................................ 91
Argilas de rochas sedimentares da bacia do Paraná..................................... 91
Brita................................................................................................................ 93
Granito para brita........................................................................................ 93
Basalto para brita........................................................................................ 94
Material de empréstimo.................................................................................. 95
Pedra de talhe................................................................................................. 96
Arenito (“pedra grés”) para pedra de talhe.................................................. 96
Basalto para pedra de talhe......................................................................... 97
Granito para pedra de talhe......................................................................... 97
Rocha ornamental........................................................................................... 98
Saibro............................................................................................................. 99
Saibro de basalto......................................................................................... 99
Saibro de granito......................................................................................... 99
Substâncias Minerais para a Indústria – Areia Industrial................................... 100
Impacto da Mineração Sobre o Meio Ambiente.................................................. 100
Recuperação Ambiental de Áreas Degradadas Pela Mineração............................ 101
Referências.......................................................................................................... 101
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
89
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
90
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
Figura 6.2: (a) Frente de lavra de argila para cerâmica vermelha na planície aluvial do rio dos Sinos;
(b) cavas alagadas de antigas lavras nas várzeas do rio dos Sinos.
• Argilas de leques aluviais desenvolvem solos originados pela alteração dessas rochas
Os depósitos de argilas de leques aluviais estão direta- que são constituídas, predominantemente, por basaltos.
mente relacionados, texturalmente, ao sistema deposicional As áreas mais importantes, onde ocorrem esses solos,
e à posição espacial em relação às rochas graníticas das situam-se na região de Salto, na encosta da parte norte
áreas-fonte. Desse modo, as áreas com os maiores depó- do município, em alguns morros-testemunhos próximos à
sitos estariam posicionadas nas partes distais dos leques cidade de Parobé e na extremidade sul da região de Salto,
aluviais, em uma morfologia de planícies tercioquaternárias nas localidades de Pinhal e Morro Negro.
com baixas altitudes, onde a deposição pelítica ocorreu em Os depósitos de argilas residuais são constituídos por
grandes bolsões, resultando em argilas mais plásticas e com solos do tipo Argissolos ou Nitossolos, ambos desenvolvidos
pouca contribuição arenosa. sobre o substrato de rocha basáltica ou na interface desta
Nesse contexto, encaixam-se os grandes depósitos de com os arenitos eólicos.
argilas das localidades de Belém Novo e Boa Vista, extremo Predominam na área os Argissolos, que se desenvol-
sul do município de Porto Alegre, enquanto as argilas das vem, principalmente, nas zonas de contato basalto-arenito
na escarpa basáltica e morros-testemunhos.
localidades de Branquinha e Espigão (município de Viamão)
Os Nitossolos ocorrem somente na extremidade norte
estariam espacialmente nas partes médias dos leques, onde
da área, nas porções mais elevadas, de relevo ondulado a
ocorreu sedimentação mista, com deposição em pequenos
fortemente ondulado, com substrato basáltico.
bolsões de argilas de baixa plasticidade e com uma contami- O dimensionamento das reservas, bem como a carac-
nação maior de elementos silicosos. Nessas partes, as feições terização tecnológica das argilas residuais existentes nas
geomorfológicas seriam de colinas-terraços, constituindo diversas áreas identificadas requer estudos de maior detalhe.
zonas de maiores altitudes, que contornam as planícies As argilas residuais do município de Parobé, em prin-
tercioquaternárias que dominam as partes mais baixas. cípio, têm perspectivas para uso na confecção de tijolos,
Devido à grande área de abrangência da unidade normalmente fazendo parte da mistura com outras argilas
Leques Aluviais da extremidade sul da RMPA, torna-se im- de diferentes composições.
praticável estabelecer uma avaliação das reservas das argilas As argilas residuais originadas pelo desenvolvimento
dessa região (ZANINI e PIMENTEL, 1998). de solos da classe Argissolo e, provavelmente, os Nitosso-
A partir das análises tecnológicas realizadas por esses los das áreas de basalto, têm boas chances de participar
autores, conclui-se que as argilas provenientes dos chama- na composição com as argilas da planície aluvial para a
dos Leques Aluviais apresentam maior disponibilidade para fabricação de tijolos.
uso em tijolos maciços.
• Argilas de rochas sedimentares da bacia do Paraná
• Argilas de solo residual As argilas de rochas sedimentares da Bacia do Paraná,
Os levantamentos geológico e pedológico do mu- com potencial para uso em cerâmica vermelha, distribuem-
nicípio de Parobé permitiram a identificação de algumas -se na RMPA – Norte, em áreas de ocorrência das unidades
áreas onde ocorrem argilas residuais para uso em cerâmica com faciologias pelíticas. Essa atividade é desenvolvida,
vermelha (ZANINI e PIMENTEL, 1998). principalmente, nos municípios de Gravataí, Sapucaia do
As argilas residuais têm sua origem relacionada às Sul, Porto Alegre, Alvorada, Novo Hamburgo, Nova Santa
rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, cujo domínio Rita e Triunfo (Figura 6.3).
distribui-se em porções elevadas do relevo de morros Os depósitos de argilas de rochas sedimentares da
(bordas de platô) ou de morros-testemunhos, nos quais se Bacia do Paraná estão diretamente relacionados às áreas de
91
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 6.3: Zonas de ocorrência de rochas sedimentares da bacia do Paraná (exceto formação Botucatu) na RMPA.
Fonte: Wildner et al. (2008).
ocorrência das unidades geológicas dessa bacia, que, devido as de exposição onde são mineradas em lavras de grande
a seus aspectos litofaciológicos derivados de sua ambiência porte (Figura 6.4).
sedimentar e de seus sistemas deposicionais, apresentam Na região de Rincão da Madalena (Gravataí), o apro-
concentrações de depósitos pelíticos com potencialidade veitamento econômico das argilas está ligado às zonas de
econômica para a indústria da cerâmica vermelha. domínio dos pelitos da Formação Estrada Nova, que aflora
Tomando por base as lavras de argila em atividade na sob a forma de “ilhas” dispersas em um contexto de leques
RMPA – Norte, foi possível separar algumas regiões onde aluviais e planícies aluviais atuais.
essa substância mineral é minerada em grande escala, com Da mesma maneira, porém em menor escala, existem
beneficiamento industrial, e outras em que aparecem sob a algumas zonas de ocorrência (“ilhas”) da Formação Paler-
forma de ocorrências e extrações de pequeno porte. mo, caracterizando pequenas áreas dispersas com grande
Nas áreas onde afloram as rochas do Grupo Rosário potencial para mineração.
do Sul, os maiores depósitos de argilas quanto
à extensão, continuidade lateral e espessura
encontram-se nas regiões de Passo Fundo e
Costa do Ipiranga, nos municípios de Sapucaia
do Sul e Gravataí.
O grande morro-colina de configuração
alongada norte-sul, onde se localiza todo o
perímetro urbano da cidade de Nova Santa
Rita, e a região mais a sul até Morretes são
constituídos por rochas pelíticas do Grupo
Rosário do Sul, com grande potencial de argilas
para cerâmica vermelha.
As regiões de Passo do Hilário (Gravataí)
e Morretes (Nova Santa Rita), localizadas em
áreas de predominância da fácies pelítica da
Formação Rio do Rasto, apresentam potencial
mineiro significativo, alicerçado pela espessura
e continuidade lateral das camadas e pelas áre- Figura 6.4: Frente de lavra em atividade de argila para cerâmica vermelha.
92
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
Tomando por base os resultados apresentados por lhas e fraturamentos associados, em zonas que favorecem
Zanini e Pimentel (1998), as argilas de rochas sedimenta- o desmonte da rocha, como também pela proximidade da
res da Bacia do Paraná apresentam grande potencial para maioria das áreas de lavra em relação ao mercado consu-
fabricação de tijolos maciços e furados. Geralmente, essas midor de Porto Alegre.
rochas têm potencialidades para fabricação de pisos de As áreas graníticas com características geologicamente
cerâmica vermelha, principalmente nas temperaturas mais mais favoráveis para extração de brita distribuem-se nas re-
altas de queima. giões sudeste, leste e oeste de Porto Alegre e estão situadas,
As cerâmicas e olarias de alguns municípios da porção respectivamente, nos municípios de Porto Alegre, Viamão
norte da RMPA utilizam essas argilas para confecção de dife- e Eldorado do Sul (Figura 6.5).
rentes produtos usados na construção civil. Nesse contexto, Os maciços graníticos da porção sul da RMPA, portado-
enquadram-se os tijolos furados de reboco (menos nobre) res de características geologicamente favoráveis para produ-
e parede à vista (mais nobre), assim como pisos coloniais ção de brita, fazem parte da Suíte Granítica Dom Feliciano,
de todos os tipos e tamanhos. sendo representados por sienogranitos da Fácies Sienogra-
Grandes cerâmicas de outros municípios, não per- nítica, tipo Morrinhos, bem como por granito-gnaisses do
tencentes à RMPA, utilizam as argilas dos municípios de Complexo Granito-Gnáissico Pinheiro Machado.
Gravataí e Sapucaia do Sul e de Morretes (Nova Santa Rita), Os granitos da Suíte Granítica Dom Feliciano ocorrem
para fabricação de telhas de todos os tipos – comuns e no entorno da região de Porto Alegre e a oeste, no muni-
esmaltadas – e tubos cerâmicos, inclusive para exportação. cípio de Eldorado do Sul. Petrográfica e texturalmente são
homogêneos. Correspondem a sienogranitos granulares
Brita médios a grossos, localmente porfiríticos, com fenocristais
de feldspato potássico, imersos em matriz de granulação
As britas são obtidas a partir da explotação de três média. Sua cor varia de vermelha a rósea.
classes de rocha, que condicionam a produção desse bem Os grandes maciços graníticos dessas duas regiões
mineral nas porções norte e sul da Região Metropolitana apresentam abundantes fraturamentos relacionados à
de Porto Alegre: granitos, basaltos e diabásios. tectônica rúptil, de expressiva influência em algumas áre-
as, como naquelas a sudeste de Porto Alegre e ao sul da
• Granito para brita BR-290, no município de Eldorado do Sul. As falhas e os
As rochas graníticas constituem a principal matéria- fraturamentos apresentam descontinuidades físicas que oti-
-prima para obtenção de brita na porção sul da RMPA. mizam a fragmentação da rocha na britagem. Observam-se,
Sua importância decorre não só do fato de esses granitos também, nessas áreas, fraca alteração intempérica e solos
constituírem grandes maciços rochosos com inúmeras fa- litólicos nas porções superiores dos maciços (Figura 6.6).
Figura 6.5: Zonas de ocorrência de rochas graníticas na RMPA. Fonte: Wildner et al. (2008).
93
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
94
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Nas regiões onde predominam as coberturas tercio- mais arenosa, como também mais dura, possui caracte-
quaternárias, denominadas Depósitos de Leques Aluviais, rísticas adequadas para obtenção desse tipo de material
desenvolvem-se Argissolos em relevo suavemente ondulado (Figura 6.10).
a ondulado. Tais depósitos abrangem extensas áreas, prin- Os arenitos da Formação Botucatu, comumente co-
cipalmente nos municípios de Glorinha, Gravataí, Portão nhecidos como “pedra grés”, constituem a matéria-prima
e Canoas. de aplicação imediata na construção civil explotada com
De modo geral, essas áreas apresentam alta suscetibi- mais frequência na RMPA.
lidade a processos erosivos, sendo necessária a adoção de A maior parte das atividades exploratórias está con-
medidas de contenção nas áreas mineradas. centrada em lavras situadas nos municípios de Gravataí,
Glorinha, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapiranga,
Pedra de talhe Sapucaia do Sul, Parobé e Triunfo. Os distritos municipais
mais importantes em termos de produção são: Morungava
As pedras de talhe são obtidas a partir da explotação de (Gravataí), Maracanã (Glorinha), Morro de Paula (em partes
três classes de rocha de origens distintas, que condicionam dos municípios de Novo Hamburgo e São Leopoldo), Lomba
a produção desse bem mineral nas porções norte e sul da Grande (Novo Hamburgo) e Morro da Pedra, Morro Negro,
Região Metropolitana de Porto Alegre. As rochas explotadas Poço Fundo, Concórdia e Santa Cristina do Pinhal (Parobé).
são arenitos da Formação Botucatu, basaltos da Formação Do ponto de vista geológico, os arenitos do terço
Serra Geral e granitos da Suíte Granítica Dom Feliciano. superior da formação apresentam boas condições para
explotação de pedra de talhe, caracterizando-se por serem
• Arenito (“pedra grés”) para pedra de talhe essencialmente quartzosos, bem litificados e cimentados,
As pedras de talhe obtidas de arenitos da Formação bem como praticamente destituídos de frações argilosas e
Botucatu constituem a grande maioria das lavras existentes demais minerais de fácil decomposição.
na RMPA, superando em número o somatório das extrações As reservas estimadas para as diversas áreas dos are-
de basalto e granito para esse bem mineral. Essa formação nitos da Fácies Eólica são expressivas, em face da grande
apresenta grande extensão territorial e subdivide-se em extensão territorial ocupada por essas rochas na porção
Fácies Eólica e Fácies de Interdunas, aflorantes na porção norte da RMPA. Restrições quanto ao aproveitamento de
norte da área. parte dessas reservas devem ser consideradas, devido à
A produção de pedras de talhe está intimamente incidência, em algumas áreas, de fatores de ordem legal
relacionada à Fácies Eólica, a qual, por ser de composição relacionados à legislação ambiental.
96
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
Os arenitos eólicos da Formação Botucatu são explo- geológicas, elas têm sido utilizadas como pedra de talhe
tados para produção de pedra de talhe como alicerces, somente para produção de blocos irregulares, embora
tijoletas, lajes, lajotas e guias de meio-fio, sendo largamente também possam ser aproveitadas para produção de brita.
empregados em construção de casas, muros e revestimento
de calçadas. A produção destina-se ao setor de construção • Granito para pedra de talhe
civil de diversos municípios do interior do estado e da Região As rochas graníticas que afloram nas regiões a leste e
Metropolitana de Porto Alegre (Figura 6.11). ao sul da cidade de Porto Alegre constituem a matéria-prima
mais importante para produção de pedra de ta-
lhe em suas diversas formas de uso na indústria
da construção civil. Correspondem a granitos
róseos, ou, às vezes, acinzentados, distribuídos
amplamente nessa região e geologicamente
relacionados à Fácies Sienogranítica, tipo
Morrinhos, da Suíte Granítica Dom Feliciano
(Figura 6.5).
Tratando-se de rochas cujos trabalhos de
extração e acabamento geram produtos ma-
nufaturados de formato regular, sua produção
tem sido menor que a dos arenitos e basaltos.
Em contrapartida, sua melhor qualidade e as-
pecto estético permitem agregar maior valor
no comércio de pedras para construção.
Os granitos passíveis de gerar pedra de
talhe regular na RMPA estão distribuídos na
porção sul dessa região, mais especificamen-
Figura 6.11: Pedreira de arenito da fácies eólica da formação Botucatu. te nos municípios de Porto Alegre e Viamão,
tendo em vista que, a oeste, nos municípios
• Basalto para pedra de talhe de Guaíba e Eldorado do Sul, devido às diferentes carac-
As pedras de talhe produzidas a partir do basalto da terísticas geológicas apresentadas por esses granitos, as
Formação Serra Geral (que ocorre na extremidade norte condições para extração são menos favoráveis.
da Região Metropolitana de Porto Alegre) constituem um Verifica-se que a maior parte das lavras de pedra de
produto de acabamento menos aprimorado em relação talhe encontra-se mais concentrada a leste de Porto Ale-
aos outros tipos produzidos no segmento de materiais de gre, em extensa área onde se desenvolve solo Podzólico
construção. Vermelho-Amarelo, com relevo suave ondulado a ondulado
Entretanto, as lavras que se encontram em atividade em substrato granito. Como os granitos dessa região têm
na região mostram volume de produção de pedras de talhe importância para produção de pedra de talhe, seu significa-
superior ao dos granitos. Uma das razões seria a diferença do para o potencial mineral relaciona-se aos diversos corpos
de qualidade do produto final, constituído por pedras de graníticos aflorantes, os quais apresentam potencialidade
talhe de formato irregular no basalto e de formato regu- também para rocha ornamental. Nas áreas situadas ao sul
lar no granito. Os modelos são mais diversificados nesse de Porto Alegre, o granito apresenta potencial também para
último, necessitando de melhor acabamento para uso na brita, em razão da maior frequência de fraturas.
construção civil; em consequência, são oferecidos a preços Os metagranitoides porfiríticos do Complexo Granito-
mais elevados. -Gnáissico Pinheiro Machado, que ocorrem mais ao norte,
As lavras distribuem-se, dominantemente, na extremi- na região de Viamão, apresentam pouco interesse para
dade norte da região, onde ocorrem os primeiros derrames pedra de talhe, devido à natureza do potencial relacionado,
da frente de denudação da encosta basáltica (Figura 6.7). prioritariamente, a saibro, e em razão de tanto os matacões
O relevo é constituído por morros com encostas íngremes reliquiais como os maciços aflorantes exibirem claramente a
e taludes frequentemente abruptos, dominados na porção heterogeneidade da rocha, traduzida nas diferentes dimen-
superior por basalto, preservando aplanamento no topo, e sões dos cristais (fenoblastos de feldspatos), que dificultam a
por arenitos nas zonas mais declivosas das encostas. produção de pedra de talhe no formato regular. Mesmo em
Em termos de reservas, a área de rochas básicas situada se tratando de uma área de grande extensão territorial, as
na porção norte da RMPA tem potencialidade para pedra características da rocha não oferecem potencial econômico
de talhe. No que se refere à potencialidade para brita, o de maior significado.
grau de interesse é semelhante. Nas localidades de Boa Vista e Ponta do Arado (sul-
As rochas da Formação Serra Geral são explotadas para -sudeste de Belém Novo), ocorrem pequenos maciços graní-
uso no calçamento de ruas. Devido a suas características ticos que apresentam alteração intempérica variável, sendo
97
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
potencialmente indicados para saibro, na base, e para pedra predominantemente róseos a avermelhados, homogêneos
de talhe nas partes elevadas. Para esse caso, considerou-se e distribuem-se em grandes maciços. Geologicamente,
o saibro como a substância prioritária e a pedra de talhe relacionam-se à Fácies Sienogranítica, tipo Morrinhos, da
com grau de importância secundária, devido ao frequente Suíte Granítica Dom Feliciano. Esses granitos fazem parte de
processo de alteração registrado. um corpo alongado que se estende desde a localidade de
A disponibilidade de reservas da área dos granitos da Morrinhos, a sudoeste do limite metropolitano, projetando-
porção sul da RMPA é expressiva, considerando-se a ex- -se até as proximidades de Viamão.
tensão das fácies graníticas com características adequadas As áreas da RMPA, identificadas como potencialmente
ao corte nas regiões leste e sul de Porto Alegre. Restrições viáveis para o aproveitamento de granitos ornamentais,
quanto ao aproveitamento de parte dessas grandes reservas coincidem, em parte, com aquelas descritas anteriormente
devem ser consideradas, devido à incidência, em algumas para a extração de pedra de talhe. Afloram ao longo de uma
áreas, de fatores de ordem legal relacionados à legislação faixa central da RMPA que se estende na direção norte-sul
ambiental. com aproximadamente 30 km de comprimento e largura
Os granitos explotados constituem a matéria-prima muito variável, formando grandes maciços segmentados
para produção de pedra de talhe de formato regular, segundo a referida direção.
destinada aos seguintes usos: pedras de alicerce, pedras As rochas graníticas que afloram nas regiões a leste
para calçamento de ruas, meio-fios e moirões de cerca. O e ao sul da cidade de Porto Alegre constituem a matéria-
produto atende, em geral, à demanda da expansão urbana -prima mais importante para produção de rocha ornamental
de Porto Alegre e cidades situadas em seus arredores, prin- dentro dos limites geográficos da RMPA. Correspondem,
cipalmente Alvorada, Cachoeirinha e Viamão. especificamente, aos granitos róseos a avermelhados,
petrograficamente caracterizados como sienogranitos,
Rocha ornamental os quais formam corpos extensos e homogêneos, pouco
fraturados e com ausência de deformações relacionadas a
Na área da porção sul da Região Metropolitana de eventos tectônicos.
Porto Alegre, as rochas graníticas que ocorrem a leste e a Segundo Zanini e Pimentel (1998), a principal área
sudeste de Porto Alegre, além de apresentarem potencia- para mineração de rocha granítica de uso ornamental
lidade para a produção de pedras de talhe, são também dista cerca de 14 km a leste de Porto Alegre, situando-se
adequadas para extração de pedras de uso ornamental ou na região compreendida entre as localidades de Passo da
de revestimento. Alexandrina e Passo do Morrinho (Viamão) (Figura 6.12).
Os granitos constituem, atualmente, a única opção A segunda área onde o granito ocorre, com grande
para o desenvolvimento desse bem mineral na RMPA. São potencial para a atividade mineira, situa-se a cerca de 6 km
Figura 6.12: Vista parcial de área minerada em diversas frentes de lavra para granito ornamental.
98
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
a sudeste da localidade de Vila Itapuã, na porção centro-sul de Salto e Sanga Funda, em alguns morros-testemunhos
da RMPA, também no município de Viamão. nos arredores de Parobé e no corpo básico aflorante na
A parte restante dessa faixa granítica, que se estende região de Pinhal-Morro Negro.
da região de Viamão até próximo à localidade de Vila Itapuã Quanto às reservas, torna-se inviável estabelecer valo-
e que aflora sob a forma de grandes maciços com direção res sem um estudo mais aprofundado. Entretanto, estima-se
norte-sul, é considerada de alto interesse, tanto para pedras que as inúmeras áreas dos basaltos onde ocorrem níveis
de talhe como para rocha ornamental, incluindo, como com textura amigdaloide, situadas na porção norte da
terceira prioridade, brita. RMPA, são detentoras de expressivas reservas geológicas
Quanto à disponibilidade de reservas para viabilizar a para essa substância.
explotação dos granitos ornamentais, tais áreas são mere- A utilização principal do saibro de basalto na constru-
cedoras de estudos que objetivem não só definir reservas ção civil tem sido em trabalhos permanentes das prefeituras,
como também estabelecer as áreas de maior favorabilidade na recomposição de estradas não-pavimentadas, bem como
na região. A estimativa de elevados volumes de rocha ex- em obras de aterro em áreas urbanas.
plotável deve ser considerada em função das extensas áreas
cartografadas no domínio dos granitos que apresentam • Saibro de granito
padrões róseos ou avermelhados. O saibro de granito usado como matéria-prima na
Os granitos explotados na Região Metropolitana de construção civil, em obras de aterro e pavimentação de
Porto Alegre são utilizados pela indústria de construção estradas tem suas ocorrências, principalmente, na porção
civil como rocha ornamental e de revestimento no merca- sul da RMPA.
do nacional. Os materiais são consumidos, sob forma de A atividade mineira na porção sul da RMPA, para extra-
produtos acabados, em projetos desenvolvidos com novas ção e aproveitamento econômico dessa substância mineral,
tendências arquitetônicas para edifícios residenciais, públi- é de pequeno porte. A grande maioria das minas encontra-
cos, comerciais e arte funerária em geral. Em edificações, -se nos morros periféricos da zona urbana de Porto Alegre.
por exemplo, destacam-se como revestimentos internos e As possibilidades de ocorrência dos depósitos de
externos de paredes, pisos, pilares, colunas e soleiras, além saibro de granito estão inter-relacionadas diretamente às
de peças isoladas, como tampos e pés de mesa, balcões características texturais da fácies granítica do substrato que
e lápides. lhe deu origem.
Na parte ocidental da porção sul da RMPA, compreen-
Saibro dendo os municípios de Guaíba e Eldorado do Sul, as áreas
de abrangência dos granitos da fácies sienogranítica produ-
• Saibro de basalto zem saibro de coloração róseo-esbranquiçada, composição
O saibro de basalto é um tipo de produto usado na quartzofeldspática, grosso a muito grosso. Nessas áreas, o
construção civil, geralmente extraído, de maneira aleatória e potencial mineiro para o aproveitamento de saibro é alto.
sem nenhum critério, por saibreiras pertencentes, de modo Na parte oriental, principalmente dentro do município
geral, às prefeituras. de Porto Alegre e em parte no de Viamão, nas áreas de
As possibilidades de ocorrência dos depósitos com domínio dos sienogranitos, desenvolve-se um saibro de
potencialidades para saibro de basalto na porção norte da coloração róseo-amarelada a esbranquiçada, grosso a muito
RMPA estão relacionadas à existência de zonas de alteração grosso, essencialmente quartzofeldspático. As espessuras
de rochas vulcânicas básicas ou intermediárias constituídas, desses depósitos de saibro estão em função da posição
principalmente, por basaltos e, mais raramente, andesitos, espacial em relação à topografia. As maiores espessuras
pertencentes à Formação Serra Geral. encontram-se nas encostas e na base dos morros e se
As condições ideais para formação de depósitos de adelgaçam para o topo (Figura 6.13).
saibro ocorrem nas zonas em que o derrame contém No que se refere às reservas, cabe salientar que apesar
maior abundância de amígdalas ou cavidades. As zonas de não se dispor atualmente de dados para um cálculo
amigdaloides, quando situadas próximas à superfície, são aproximado, a estimativa é de que elas devem ser elevadas,
mais facilmente submetidas ao intemperismo, favorecendo em função de grandes áreas de ocorrência de granitos e
a alteração e produzindo material que pode ser aproveitado granito-gnaisses fortemente intemperizados.
como saibro. Na porção sul da RMPA, a atividade mineira da extração
As principais áreas com potencialidades ocorrem em e aproveitamento econômico do saibro de granito é exercida
morros-testemunhos nas localidades de Catupi (distrito de principalmente pela iniciativa privada.
Coxilha Velha, município de Triunfo), São João do Deserto Esse material é minerado por saibreiras de médio a
(Novo Hamburgo), Arroio da Bica (Nova Hartz) e Jardim grande porte e utilizado por construtoras e prefeituras nas
São Miguel (Dois Irmãos). Segundo Zanini et al. (1994), em obras de aterro e pavimentos e no revestimento de estradas
Parobé, as áreas estão no domínio dos basaltos das regiões não-pavimentadas.
99
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
100
POTENCIAL MINERAL PARA NÃO METÁLICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE
As consequências mais graves das atividades de lavra Segundo o IBAMA (1990), para recuperação de pe-
desses bens minerais ocorrem nas pedreiras abandonadas dreiras, que são as formas mais frequentes de explotação
ou que estão com as atividades paralisadas, ou mesmo em mineral, a primeira medida a ser tomada é implantar uma
muitas que se encontram em atividade, onde o volume de cortina verde, com espécies arbóreas, que podem ser do
desmonte produziu grandes cavas com taludes íngremes tipo exótico por seu rápido crescimento.
e excessivamente elevados. O corte (ou cava) anteriormente minerado poderá
Nessas áreas, os riscos de acidentes são inerentes à ser utilizado para se depositar o estéril e os rejeitos do be-
falta de proteção em torno das escavações. Em muitas pe- neficiamento. Recomenda-se escarificar o fundo do corte
dreiras, abandonadas ou paralisadas, não foram tomadas para aumentar a percolação da água, considerando que
quaisquer medidas para recuperação e preservação do meio os minerais não contêm substâncias tóxicas, como no caso
físico. Da mesma forma, o tráfego gerado pela mineração das pedreiras. Quando possível, depositar uma camada de
para o transporte de minério em áreas de grande atividade argila sobre outros tipos de estéreis mais pobres para a
concorre para o aumento de riscos nas rodovias que trans- revegetação.
põem os núcleos rurais. Nesse processo, denominado preenchimento, deve-
A mineração de argilas da planície aluvial e de argilas -se considerar a cota final de estéril, que deve ser a mais
residuais dos sedimentos da Bacia do Paraná é responsável regular possível em toda a área, para facilitar a recomposi-
por mais de um terço das lavras a céu aberto na Região ção topográfica e a recuperação final. Deve-se identificar,
Metropolitana de Porto Alegre. Constitui uma atividade também, o tipo de estéril ou rejeito para se estimar a co-
dirigida especificamente para a extração de argilas, que são bertura mínima da camada fértil do solo que permita uma
utilizadas como matéria-prima na produção de cerâmica revegetação adequada. Por exemplo, onde existe grande
vermelha em olarias. número de pedreiras de arenito, o solo litólico apresenta,
Reunidas em conjunto, tanto as lavras de argilas das com frequência, textura arenosa a franco-arenosa, além
baixadas das planícies aluviais quanto as de sedimentos de pouco espesso e mal desenvolvido; em consequência,
residuais, como ainda aquelas relacionadas à extração de pouco fértil, sendo necessários cuidados especiais para
material de empréstimo, cuja retirada do produto é idêntica implementar a revegetação.
à da argila, geram impactos ao meio físico na ordem de uma A recomposição da topografia significa o preparo do
devastação ocasionada por desmatamentos e remoção do relevo para receber a vegetação, dando-lhe uma forma es-
solo, além de cavas extensas e abandonadas e alteração e tável e adequada para recuperação e uso do solo. Em linhas
poluição de cursos de água, dentre outros. gerais, visando a atingir alguns objetivos, como: estabilidade
Mesmo considerando que as indicações são de que a do solo e taludes, controle de erosão, aspectos paisagísticos
atividade mineira vem exercendo um significativo impacto e estéticos e alguma similitude com o relevo anterior.
no meio ambiente, a par de sua importância socioeconô- Pode haver casos em que a criação de um lago ou
mica gerando empregos e matérias-primas para a indústria açude faça parte do planejamento da recuperação da pe-
da construção civil, cabe salientar que seus efeitos podem
dreira. Essa medida terá de ser criteriosamente estudada,
ser minimizados por meio de controles e medidas de pla-
necessitando para sua implantação de uma boa remolda-
nejamento para estabelecer menos danos e recuperação
das áreas degradadas. gem da superfície e revegetação, de modo a não oferecer
riscos de acidentes.
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE ÁREAS Em outras situações, é possível recuperar as áreas
DEGRADADAS PELA MINERAÇÃO mineradas com o material das camadas estéreis e com o
capeamento do solo orgânico, que deve ser estocado para
De acordo com o conceito usual (IBAMA, 1990), os posterior utilização no processo de revegetação. Havendo
termos “degradação” e “recuperação” podem ser enten- disponibilidade de material de empréstimo, pode-se pro-
didos da seguinte maneira: a degradação ambiental é
ceder à recuperação da área destinando-a para utilização
considerada como um processo que ocorre quando há
perda das características físicas, químicas e biológicas e de áreas industriais, disposição final de resíduos sólidos ou
é inviabilizado o desenvolvimento socioeconômico; já a outra forma de ocupação do solo.
recuperação significa que a área degradada pode retornar
a uma determinada forma e utilização, de acordo com um REFERÊNCIAS
plano preestabelecido para o uso do solo.
Para o planejamento de trabalhos de prevenção, IBAMA. Manual de recuperação de áreas degradadas
bem como para minimização dos impactos ambientais, pela mineração: técnicas de revegetação. Brasília: IBAMA,
é necessário que se tenha um conhecimento perfeito de 1990. 105 p.
como se processam as operações de lavra, beneficiamento,
estocagem e transporte e quais as formas de poluição e ORLANDI FILHO, V.; GIUGNO, N. B. (Orgs.). Sinopse dos
degradação decorrentes de cada um desses processos, além trabalhos desenvolvidos. Porto Alegre: CPRM/METRO-
de como se apresentará o produto final da lavra. PLAN, 1994. 125 p. il. (Série GATE-PROTEGER 1994).
101
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Programa Técnico para o Gerenciamento da Região Me- ZANINI, L. F. P.; PIMENTEL, G. de B. Potencial mineral
tropolitana de Porto Alegre (PROTEGER). Programa para não-metálicos na região metropolitana de
Informações para Gestão e Administração Territorial (GATE). Porto Alegre. Porto Alegre: CPRM/METROPLAN, 1998.
1 v. il. (Série Cartas Temáticas, v. 25). Programa Técnico
WILDNER, W.; RAMGRAB, G.; LOPES, R. da C.; IGLESIAS, para o Gerenciamento da Região Metropolitana de Porto
C. M. F. Geologia e recursos minerais do estado do Alegre (PROTEGER).
Rio Grande do Sul: escala 1:750.000. Porto Alegre:
CPRM, 2008. DVD-ROM. Programa Geologia do Brasil. ZANINI, L. F. P.; BERTOLO, R. M.; ORLANDI FILHO, V.;
Mapas geológicos estaduais. GIUGNO, N. B.; KREBS, A. S. J. Potencial mineral para
não-metálicos do município de Parobé, RS. Porto
ZANINI, L. F. P. Subsídios para o plano-diretor de Alegre: CPRM/METROPLAN, 1994. 1 v. il. (Série Cartas
mineração da região metropolitana de Porto Alegre. Temáticas, v. 25). Programa Técnico para o Gerenciamento
Porto Alegre: CPRM, 2006. 1 v. da Região Metropolitana de Porto Alegre (PROTEGER).
102
7
carvão mineral
1
José Alcides Fonseca Ferreira (jose.alcides@cprm.gov.br)
Aramis Gomes (aram.pergo@gmail.com)2
Vitório Orlandi Filho (vitorioorlandi@gmail.com)2
1
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
2
Consultor
SUMÁRIO
Introdução.......................................................................................................... 105
Características das Jazidas e Uso do Carvão........................................................ 105
Questão Ambiental ............................................................................................ 107
Referências.......................................................................................................... 108
CARVÃO MINERAL
105
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Candiota 12.278
Charqueadas 2.993
Iruí 1.666
Capané 1.203
Outras 994
A profundidade das camadas varia de nula até cerca de Barro Branco (SC) e a Camada I da Jazida do Leão – teores
1.200 m. Na Jazida de Santa Terezinha, tem-se coberturas mais altos de exinita, especialmente alginita (derivada de
mínimas ao redor de 500 m, indo de valores máximos por algas microscópicas).
volta de 800 m. Os limites de ocorrência significativa de O Brasil produz cerca de 6,0 Mt de carvão energético,
camadas de carvão hoje conhecidos não deverão ser subs- que é empregado principalmente na geração de termoele-
tancialmente alterados por novas pesquisas. Permanecem tricidade. O carvão metalúrgico utilizado nas siderúrgicas é
indefinições ao norte de Charqueadas e Morungava-Chico totalmente importado, principalmente de Estados Unidos,
Lomã, mas principalmente ao sul da Jazida Sul-Catarinense Austrália, África do Sul, Canadá e Polônia.
e leste de Santa Terezinha, onde perfurações off-shore A avaliação geológico-econômica de camadas e jazidas
certamente identificarão camadas de carvão sob lâminas de carvão fóssil é realizada por meio de dois grupos de pa-
d’água do oceano Atlântico. A oeste de Santa Terezinha, râmetros: os geométricos e os de qualidade físico-química.
sob o planalto basáltico, também poderá ocorrer amplia- Na geometria incluem-se espessuras, coberturas, extensão
ção da área da jazida com a execução de novas sondagens em área, encaixantes próximas, padrão estrutural, entre
(GOMES et al., 1998). outros. Na qualidade físico-química tem-se o rank (ou grau
Cerca de 90% dos recursos do carvão mineral situam-se de evolução) e o grade (relação entre matéria orgânica e
no estado do Rio Grande do Sul, carvão que, por suas carac- inorgânica). O grau de evolução, ou classificação pelo rank
terísticas, é hoje utilizado na produção de energia térmica. nas séries naturais de linhitos a antracitos, é estudado por
Dos 32 bilhões de toneladas de carvão mineral, 12 bilhões intermédio de diversas medidas, tais como matéria volátil,
encontram-se na região de Candiota (RS), perfazendo 37% poder calorífico, refletância de vitrinitas. No Brasil, o alto
dos recursos nacionais (Figura 7.1). Essas reservas possuem teor de cinzas (matéria inorgânica) e a composição petro-
uma situação estratégica em relação ao Bloco Mercosul, gráfica (impregnação das vitrinitas por material lipídico)
sendo garantia adicional de energia para a região. introduzem distorções nos resultados e dificuldades com-
Os carvões brasileiros são diferenciados de acordo parativas entre os carvões brasileiros e os de outros países.
com sua história genética, os eventos ocorridos durante a Carvões metalúrgicos se distinguem dos energéticos
acumulação vegetal na turfeira e sua evolução diagenética. por possuírem características, dentre os parâmetros apon-
Assim, cada depósito apresenta determinadas características tados anteriormente, que possibilitam sua utilização como
do carvão que são bem específicas para aquela região. coque para produção de aço nos altos-fornos.
Os carvões das jazidas brasileiras são do tipo húmico, No Brasil, as jazidas de Morungava-Chico Lomã e Santa
isto é, predominam os macerais do grupo da vitrinita. Mas, Terezinha, situadas no leste do Rio Grande do Sul, poderiam
como em outros carvões gonduânicos, ocorrem quantida- fornecer uma fração de carvão coqueificável, mas, apesar
des significativas do grupo da inertinita e – uma particu- de descobertas e estudadas em meados da década de
laridade de algumas de nossas camadas, como a Camada 1970 pela CPRM/SGB, até hoje não estão sendo explotadas,
106
CARVÃO MINERAL
principalmente em função dos grandes investimentos que do meio físico. As áreas mineradas estão sendo recuperadas
projetos com esse objetivo demandariam. logo após a lavra, de maneira a minimizar o impacto da
Além do carvão mineral, o Brasil possui depósitos de atividade sobre o meio ambiente (Figura 7.2).
turfa, que, paulatinamente, estão sendo estudados e apro- Embora a evolução tecnológica tenha permitido que se
veitados como insumos para a agricultura ou na geração explote e consuma o carvão com segurança elevada e com
de energia. baixo impacto no meio ambiente, as questões ambientais
são sempre levantadas quando se propõe aumento do uso
QUESTÃO AMBIENTAL do carvão como fonte de energia, constituindo-se em um
dos principais entraves ao aumento do consumo de carvão
A explotação de carvão mineral no Rio Grande do Sul no Brasil.
e Santa Catarina, nos séculos XIX e XX, deixou
um grande passivo ambiental, principalmente
nas regiões onde a lavra se processou a céu
aberto. Grandes áreas foram ocupadas por
rejeito de carvão, formando uma paisagem lu-
nar, sem nenhum aproveitamento e totalmente
degradada. As águas superficiais e subterrâ-
neas tornaram-se ácidas, devido ao enxofre
contido na pirita, afetando enormemente o
biossistema regional e danificando a flora e a
fauna da região.
Nas últimas décadas, entretanto, projetos
de recuperação ambiental nas áreas degrada-
das a céu aberto, ainda em pleno andamento,
levados a efeito por empresários, sindicatos,
governo e empresas estatais, têm revertido
essa situação, recuperando gradativamente as
áreas degradadas, tanto no Rio Grande do Sul
como em Santa Catarina. As atuais lavras são
Figura 7.2: Área lavrada em processo de recuperação com a recomposição da
conduzidas utilizando-se técnicas adequadas, paisagem (em primeiro plano) e área recuperada com início de desenvolvimento da
que visam à não-poluição e não-degradação cobertura vegetal (em segundo plano) (mina de Butiá Leste).
107
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
108
8
PANORAMA
DA PESQUISA
E DO POTENCIAL
PETROLÍFERO
Kátia da Silva Duarte (ksduarte@anp.gov.br)
Bernardo Faria de Almeida (bfalmeida@anp.gov.br)
Antenor de Faria Muricy Filho (amuricy@anp.gov.br)
Cintia Itokazu Coutinho (ccoutinho@anp.gov.br)
Luciene Pedrosa (lpedrosa@anp.gov.br)
SUMÁRIO
Introdução.......................................................................................................... 111
Bacia do Paraná................................................................................................... 113
Bacia de Pelotas.................................................................................................. 115
Referências.......................................................................................................... 116
PANORAMA DA PESQUISA E DO POTENCIAL PETROLIFERO
Legenda
Estados
Bacias Sedimentares em terra
Estado do Rio Grande do Sul
Blocos Exploratórios
Figura 8.2: Áreas concedidas como blocos e campos na bacia de Pelotas (RS).
111
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Tabela 8.1: Áreas concedidas para a produção e exploração de petróleo no estado do Rio Grande do Sul e área marítima adjacente.
Legenda
Sismica 2D pública processada
Sismica 2D pública
Estados
Bacias Sedimentares em terra
Bacias Sedimentares em mar
Legenda
Poços
Estados
Bacias Sedimentares em terra
Bacias Sedimentares em mar
112
PANORAMA DA PESQUISA E DO POTENCIAL PETROLIFERO
vulcânicas que até então vem camuflando o verdadeiro da Bacia do Paraná iniciou no final do século XIX, quando
potencial petrolífero da bacia. Igualmente, está prevista a foram identificadas ocorrências de arenitos asfálticos no
perfuração de um poço estratigráfico na Bacia do Paraná. Já flanco leste da bacia, motivando trabalhos pioneiros de
na Bacia de Pelotas, procedeu-se a um levantamento piston sondagem. Ainda no final do século XIX, entre 1892 e
core (levantamento geoquímico marítimo) e a estudos de 1897, na localidade de Bofete, no estado de São Paulo, foi
sistemas petrolíferos junto à Universidade Federal do Rio perfurado o primeiro poço para a exploração de petróleo
Grande do Sul (UFRGS) (Figura 8.5). no Brasil. O poço alcançou aproximadamente 500 m de
profundidade e, segundo relatos, teria recuperado dois
BACIA DO PARANÁ barris de petróleo.
No início, as atividades exploratórias na bacia foram
Segundo Milani e Thomaz (2000), a bacia intracra- direcionadas para locações de poços pouco profundos
tônica do Paraná localiza-se na porção centro-leste da (inferiores a 1.000 m) em áreas não cobertas pelos ba-
América do Sul e abrange uma área de 1.700.000 km2, dos saltos e nas proximidades das ocorrências superficiais de
quais aproximadamente 1.050.000 km2 se encontram em óleo (ZALÁN et al., 1990). Entretanto, a partir da década
território brasileiro, porém apenas o extremo sul da bacia de 1950, com a criação da Petrobras, iniciou-se intensa
encontra-se no território do estado do Rio Grande do Sul pesquisa sistemática e organizada da bacia. Durante esse
(Figura 8.1). período, foram realizados levantamentos geofísicos, incluin-
O depocentro da bacia corresponde a um pacote do levantamentos magnéticos, gravimétricos e sísmica 2D
sedimentar-magmático da ordem de 7.500 m de espessura, e 3D. Os levantamentos magnéticos cobrem grande área
incluindo alguns horizontes com características de rochas da bacia e totalizam aproximadamente 470.000 km. Já a
geradoras e outros com atributos de reservatório. O registro malha sísmica disponível é esparsa, perfazendo um total de
tectonoestratigráfico da bacia sugere a interação de fenô- 36.000 km, dos quais cerca de 18.000 km lineares foram
menos orogênicos nas bordas da Placa Sul-Americana, com adquiridos entre 1986 e 2001. A bacia possui ainda 124
eventos epirogênicos marcados por épocas de subsidência, poços exploratórios, sendo que 80 deles foram perfurados
soerguimento e magmatismo no interior da placa (MILANI sem o apoio de dados sísmicos. Os levantamentos gravimé-
e RAMOS, 1998). tricos se estendem desde a parte central até a parte leste/
Conforme o relatório de integração elaborado por nordeste da bacia, enquanto a maior parte de toda a bacia
Sampaio et al. (1998), o interesse pelo potencial petrolífero foi coberta por levantamentos magnetométricos.
Legenda
Capitais
Levantamento Sismico em andamento
Levantamento Geoquímico (Concluído)
Estados
Bacias Sedimentares em terra
Bacias Sedimentares em mar
Estado do Rio Grande do Sul
Woekshop (Concluído)
Estudo de Sistemas Petrolífero (Concluído)
Figura 8.5: Mapa de localização dos projetos do plano plurianual de geologia e geofísica da ANP.
113
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Os poços perfurados apresentam distribuição irregular, A Bacia do Paraná apresenta dois sistemas petrolíferos
concentrando-se principalmente no estado do Paraná. A den- comprovados, cujas evidências são as descobertas de gás
sidade dos furos é muito baixa, com um furo a cada 9.000 que resultaram na Declaração de Comercialidade do Campo
km2. Do total perfurado, 16 poços apresentaram indicação de Barra Bonita. Além disso, existem numerosas exsudações
de gás, cinco de óleo e dois de gás e condensado; 87 poços de hidrocarbonetos na parte leste da bacia e indícios de
são classificados como secos, sem indicação de óleo ou gás. hidrocarbonetos em vários poços perfurados na área, alguns
Os melhores resultados incluem os poços 1-BB-1-PR (Barra com recuperação de óleo e/ou gás.
Bonita) e 1-MR-1-PR (Mato Rico), localizados na porção As acumulações subcomerciais de óleo e gás já encon-
central da bacia, que produziram gás em teste. O poço de tradas, as descobertas de gás nos poços 1-BB-1-PR (Barra
Barra Bonita é classificado como descobridor e os testes de Bonita) e 1-MR-1-PR (Mato Rico) são exemplos situados
avaliação mostraram produtividade superior a 200.000 m3/ na parte central da bacia que atestam a boa perspectiva
dia em cada um dos dois poços perfurados na área (CAMPOS exploratória para a Bacia do Paraná.
et al., 1998). O campo de gás de Barra Bonita entrou em Além dos indícios em poços, a bacia apresenta nu-
produção em 2009. O poço 1-MR-1-PR (Mato Rico), depois merosos indícios de óleo em afloramentos, principalmente
de estimulado, passou de uma vazão de 10.000 m3/dia para na porção leste da bacia, sendo bastante conhecidos os
300.000 m3/dia. arenitos asfálticos nos estados de São Paulo (região de
Na Figura 8.6 é mostrada a localização dos poços da Anhembi) e de Santa Catarina (Barra Nova). Encontra-se em
Bacia do Paraná que apresentaram ocorrências de hidrocar- operação, no Paraná, uma usina industrial que extrai óleo
bonetos, com destaque para os seguintes poços: 1-RCA-1- dos folhelhos betuminosos da Formação Irati (conhecidos
PR, que recuperou gás em teste de formação em arenito da como “Xisto Irati”).
Formação Ponta Grossa, queimando com chama de 1,5 m; Jazidas de coal bed methane podem ocorrer na bacia.
1-BB-1-PR (Barra Bonita); 1-MR-1-PR (Mato Rico). Na Mina de Santa Terezinha (RS), Kalkreuth et al. (2000)
Figura 8.6: Mapa de localização dos poços com ocorrências de hidrocarbonetos na bacia do Paraná.
114
PANORAMA DA PESQUISA E DO POTENCIAL PETROLIFERO
estimam que tenham sido gerados 19 bilhões de metros Grande, em lâmina d’água de 668 m, no ano de 2001. O
cúbicos de metano em camadas de carvão da Formação objetivo principal eram os arenitos miocênicos da Formação
Rio Bonito. Esse processo (coal bed methane) pode ocorrer Imbé, estruturados em ampla feição dômica muito atraente
em situações favoráveis na parte sul da bacia, onde são e bem definida, em realidade, um rollover dos sedimentos
presentes expressivas camadas de carvão. em uma capa de uma falha lístrica. O poço foi abandonado
Existem na Bacia do Paraná duas grandes estruturas devido a dificuldades operacionais associadas às zonas de
consideradas como resultantes de impacto de meteoros alta pressão na profundidade de 2.379 m, em uma sequ-
(domos de Araguainha e Vargeão), que podem ser alvo ência de sedimentos argilosos do Mioceno.
de estudos mais detalhados, visando a prospectos as- Em decorrência da pequena quantidade de dados ob-
sociados. Segundo Donofrio (1998), há nove estruturas tidos com a perfuração de poços, o sistema petrolífero da
de “astroblemas” confirmadas que constituem campos Bacia de Pelotas é inferido, sendo a geração e a migração os
comerciais de óleo e gás em bacias sedimentares na Amé- parâmetros mais críticos. Ainda assim, os trabalhos de Dias
rica do Norte: Ames, Avak, Calvin, Chicxulub, Marquez, et al. (1994) e de Cainelli et al. (1998) permitem esboçar um
Newporte, Red Wing Creek, Sierra Madera e Steen River. sistema inferido. As rochas geradoras da bacia podem estar
Com base no debate desenvolvido durante o relacionadas a sedimentos do rifte, ainda não amostrados, a
workshop sobre a Bacia do Paraná, realizado em abril de folhelhos das formações Atlântida e Imbé do Cenomaniano/
2008 pela ANP, e diante de um quadro com inúmeras Turoniano (amostrados no poço 2-BPS-6) e a folhelhos da
possibilidades exploratórias, o Plano Plurianual de G&G Formação Imbé do Terciário Inferior. Na área do Cone do
da ANP prevê os levantamentos aerogeofísico e sísmico Rio Grande, os principais geradores seriam os folhelhos do
2D regional (ambos em andamento) e a perfuração de Mioceno da Formação Imbé. Os reservatórios principais es-
um poço estratigráfico que tem por objetivo amostrar a tariam relacionados a arenitos turbidíticos da seção Eoceno/
coluna sedimentar no depocentro da bacia. Oligoceno (Formação Imbé), possíveis arenitos do Mioceno
no “Cone” (Formação Imbé) e à possibilidade da ocorrência
BACIA DE PELOTAS de basalto fraturado (Formação Imbituba) e reservatórios
clásticos e carbonáticos (Formação Cassino) na seção rifte. A
A Bacia de Pelotas está localizada no extremo sul do migração na megassequência rifte poderia ocorrer por con-
litoral brasileiro (Figura 8.1) e abrange uma área aproxi- tato direto entre geradores e reservatórios, facilitada pela
mada de 210.000 km2 até a cota batimétrica de 2.000 presença de falhas e basculamento dos blocos. O processo
m e 40.000 km² em terra. A bacia é limitada a sul pela de migração na megassequência pós-rifte, em função da
fronteira com o Uruguai e com a Bacia de Santos. Sua falta de falhamentos expressivos (exceto a área da porção
correspondente na porção africana é a bacia de Walvis- superior do Cone do Rio Grande), estaria condicionado à
-Namibe (offshore da Namíbia). presença de superfícies de discordâncias e falhas de peque-
Segundo o relatório de integração elaborado por no porte, que poderiam atuar como dutos de migração. À
exceção das faixas proximais da bacia, onde a razão arenito/
Sampaio et al. (1998), a história da exploração de petróleo
folhelho pode ser muito alta, não existem problemas quanto
na bacia data da década de 1950, com a perfuração de
a selo, especialmente para os turbiditos do Terciário, por
oito poços estratigráficos terrestres. se encontrarem encaixados em espessas camadas de fo-
Na década de 1970 foram realizados os primeiros lhelhos de água profunda. As armadilhas esperadas para a
levantamentos sísmicos na área, com caráter de reco- megassequência rifte são estruturais, enquanto que para as
nhecimento, e perfurados cinco poços pioneiros entre os demais sequências seriam, em geral, estratigráficas, devido
anos de 1974 e 1985. à ausência de falhamentos importantes. Na área do Cone
Em 1987, foram realizados novos levantamentos sís- do Rio Grande são esperadas armadilhas do tipo misto, em
micos, ainda em escala de reconhecimento, em batimetria função da expressiva tectônica gravitacional.
superior a 200 m, e perfurados mais dois pioneiros nos A Bacia de Pelotas apresenta em sua porção sul uma
“terraços do Rio Grande e de Santa Catarina”. A bacia importante ocorrência de hidratos de gás, alongada na
dispõe, também, de uma malha regional de magneto- direção NE-SW, descrita pela primeira vez por Fontana
metria e gravimetria. e Mussumeci (1994). O mapeamento dessa ocorrência
Os poços perfurados em águas rasas resultaram secos indicou uma área de aproximadamente 45.000 km2, em
e sem indícios de hidrocarbonetos. Após novas aquisi- lâminas d’água que variam entre 500 e 3.500 m, particu-
ções sísmicas, cinco novos poços foram perfurados entre larmente sobre a feição fisiográfica de fundo denominada
1995 e 2001, sendo dois em águas profundas. Apenas Cone do Rio Grande.
background de gás em zona de folhelho foi reportado. Mesmo sem dispor de uma malha sísmica adequada,
Dentre os poços perfurados em águas profundas, o os estudos preliminares indicam para essa ocorrência um
1BPS7BP, na porção norte da bacia em lâmina d’água de volume de 4,77 TCF ou 135 bilhões de metros cúbicos de
1.769 m, atingiu a profundidade final de 6.130 m ainda gás in place, constituindo-se em uma das maiores reservas
em sedimentos argilosos da Formação Imbé. O segundo mundiais desse tipo de acumulação, quando comparada
poço, 1BRSA61RSS, foi perfurado na área do Cone do Rio com as publicadas por Finley e Krason (1989).
115
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Essas estimativas de volume referem-se apenas ao gás FINLEY, P. D.; KRASON, J. Geological evolution and
contido nos hidratos, não tendo sido considerada a quan- analysis of confirmed or suspected gas hydrate
tidade de gás livre que pode estar presente sob a camada localities. GeoExplorers International Inc., 1989. DOE/
impermeável de hidrato. MC/21 181-1950.
No estágio atual, não há ainda tecnologia bem desen-
volvida para viabilizar economicamente a exploração e pro- FONTANA, R. L.; MUSSUMECI, A. Hydrates offshore
dução desse recurso mineral, porém, os estudos avançam Brazil. In: SLOAN, E. D.; HAPPEL, J.; HNATOW, M. A.
na expectativa de que em breve as barreiras tecnológicas (Eds.). INTERNATIONAL CONFERENCE ON NATURAL GAS
sejam superadas, tornando economicamente viável sua HYDRATES. Annals of the New York Academy of
exploração. Sciences, v. 715, p. 106-113, 1994.
116
9
ASPECTOS ECONÔMICOS
DO SETOR MINERAL
Diogo Rodrigues Andrade da Silva Silva (diogo.rodrigues@cprm.gov.br)
SUMÁRIO
Introdução.......................................................................................................... 119
Recurso Mineral.................................................................................................. 119
Evolução dos Eventos Minerais........................................................................ 119
Requerimentos.............................................................................................. 120
Alvarás de pesquisa....................................................................................... 122
Áreas licenciadas........................................................................................... 123
Títulos de lavra.............................................................................................. 123
Reservas Minerais............................................................................................. 123
Investimentos................................................................................................... 124
Mão-de-Obra................................................................................................... 125
Fluxo da Comercialização................................................................................. 125
Referências.......................................................................................................... 126
ASPECTOS ECONÔMICOS DO SETOR MINERAL
Tabela 9.1: Evolução dos requerimentos protocolizados no estado do Rio Grande do Sul no período 2005-2009.
Requerimento
Anos
Registro de extração Pesquisa Licença Lavra Lavra garimpeira
2005 6 39 10 9 3
2006 14 64 10 1 26
2007 17 82 31 1 3
Fonte: DNPM/SIGMINE.
Tabela 9.2: Evolução dos títulos minerários publicados no estado do Rio Grande do Sul no período 2005-2009.
Anos Autorização de pesquisa Conceção de lavra Licenciamento Lavra garimpeira Registro de extração
Fonte: DNPM/SIGMINE.
119
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Requerimentos
Procede-se a uma análise quantitativa de todos os Figura 9.3: Requerimentos de registro de licença e registros de
requerimentos encaminhados ao 1º Distrito do DNPM (Rio licença outorgados no estado do Rio Grande do Sul
Grande do Sul) no período 2005-2009 (Tabela 9.3). Os re- no período 2005-2009.
querimentos enfocados referem-se a lavra, lavra garimpeira,
registro de licença, extração e pesquisa (Figuras 9.6 a 9.10).
Verifica-se, assim, que as substâncias requeridas (ex-
ceto requerimentos de lavra garimpeira) são compostas
por uma gama de materiais, dentre os quais se destacam:
água mineral, saibro, basalto, argila, areia e alguns minérios
(cobre, ouro, zinco). É importante salientar que, com relação
aos requerimentos de lavra garimpeira, os bens minerais
mais representativos são a calcedônia e a ametista. REQUERIMENTO
DE LAVRA
GARIMPEIRA
LAVRA
GARIMPEIRA
REQUERIMENTO
DE PESQUISA
AUTORIZAÇÃO
DE PESQUISA
Figura 9.4: Requerimentos de lavra garimpeira e lavras garimpeiras
outorgadas no estado do Rio Grande do Sul
no período 2005-2009.
REQUERIMENTO
DE REGISTRO
REQUERIMENTO DE EXTRAÇÃO
DE LAVRA REGISTRO DE
CONCESSÃO EXTRAÇÃO
DE LAVRA
120
ASPECTOS ECONÔMICOS DO SETOR MINERAL
Requerimento de lavra
Substância Nº de req. Participação (%)
Água mineral 6 46,16
Basalto 3 23,08
Argila 2 15,38
Sienito 2 15,38
Total 13 100
Requerimento de lavra garimpeira
Substância Nº de req. Participação (%)
Calcedônia 15 42,86
Ametista 14 40,00
Outros 6 17,14
Total 35 100
Requerimento de registro de licença
Substância Nº de req. Participação (%)
Basalto 102 26,84
Areia 99 26,05
Argila 83 21,84
Arenito 54 14,21
Saibro 30 7,90
Outros 12 3,16
Total 380 100
Requerimento de registro de extração
Substância Nº de req. Participação (%)
Saibro 54 99,67
Cascalho 13 16,05
Basalto 12 14,81
Outros 2 2,47
Total 81 100
Requerimento de pesquisa
Substância Nº de req. Participação (&)
Areia 120 15,64
Zinco 107 13,95
Cobre 98 12,78
Rocha Betuminosa 72 9,39
Ouro 70 9,13
Argila 56 7,30
Calcário 50 6,52
Água Mineral 39 5,08
Basalto 39 5,08
Saibro 25 3,26
Carvão 23 3,00
Granito 21 2,74
Outros 47 6,13
Total 767 100
121
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
OUTROS
SIENITO 2%
15%
BASALTO
15%
ARGILA ÁGUA
16% MINERAL
46%
CASCALHO
16%
BASALTO SAIBRO
67%
23%
Figura 9.6: Distribuição dos requerimentos Figura 9.9: Distribuição dos requerimentos de registro
de lavra por substância. de extração por substância.
ROC.
BETUMINOSA
9%
Figura 9.7: Distribuição dos requerimentos Figura 9.10: Distribuição dos requerimentos
de lavra garimpeira por substância. de pesquisa por substância.
Alvarás de pesquisa
OUTROS
3%
Apresenta-se uma análise quantitativa do número de
SAIBRO
8% BASALTO
alvarás de pesquisa em vigor no período 2005-2009, pro-
27% piciando a visualização das substâncias que detêm maior
número de alvarás e, consequentemente, maior procura por
ARENITO bens minerais e a participação de cada um deles no total
14%
ARGILA
(Tabela 9.4; Figura 9.11).
AREIA
22%
26% A área do 1º Distrito do DNPM (Rio Grande do Sul)
possui 1.254 alvarás de pesquisa em vigor – 11 substân-
cias detinham 93,70% do total, enquanto as outras 20
substâncias representavam os 6,30% restantes. Aproxima-
damente 58% dos alvarás foram apropriados por apenas
três substâncias (areia, basalto e água mineral), sendo
Figura 9.8: Distribuição dos requerimentos que a areia correspondia com 455 alvarás de pesquisa ou
de registro de licença por substância. 36,28% do total.
122
ASPECTOS ECONÔMICOS DO SETOR MINERAL
Tabela 9.4: Alvarás de pesquisa por substância. Tabela 9.5: Registros de licença outorgados, por substância,
no estado do Rio Grande do Sul.
Ouro 37 2,95
Outros 79 6,30
Total 1254 100 OUTROS
CASCALHO GRANITO
SAIBRO 3% 0%
2%
8%
ARGILA
OUTROS ARENITO 31%
GRANITO OURO
3% ZINCO 6% 15%
3%
3%
CALCÁRIO
4%
SAIBRO AREIA AREIA
3% 36% 17% BASALTO
24%
CARVÃO
4%
ARGILA
9% ÁGUA BASALTO
COBRE MINERAL 11%
7% 11%
Figura 9.11: Distribuição dos alvarás de pesquisa por substância. São considerados, aqui, títulos de lavra, aqueles que
autorizam a extração de um determinado bem mineral. São
eles: Manifesto de Mina, Decreto de Lavra, Portaria de Lavra,
Registro de Extração, Permissão de Lavra Garimpeira e Guia
Áreas licenciadas de Utilização. Para fins deste trabalho, agrupou-se Mani-
festo de Mina, Decreto de Lavra e Portaria de Lavra sob a
Consideram-se áreas licenciadas os perímetros com denominação Concessão de Lavra (Tabela 9.6; Figura 9.13).
registro de licença outorgados no DNPM (Tabela 9.5; Fi- Apenas quatro substâncias minerais detêm, no período
gura 9.12). 2005-2009, aproximadamente 97% dos títulos minerários
Conforme se observa pelo apresentado na Tabela 9.5 no estado do Rio Grande do Sul, com destaque para o
e na Figura 9.12, sete substâncias (argila, basalto, areia, saibro, com 64,06% do total; oito substâncias restantes
arenito, saibro, cascalho e granito) contribuíram com são responsáveis por 35,94%.
praticamente 100% das áreas licenciadas pelo 1º Distrito
do DNPM. Reservas Minerais
123
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Tabela 9.7: Reservas Minerais, por substância, no estado do Rio Grande do Sul.
Reservas
Classe /Substância Unidade
Medida Indicada Inferida lavrável
Metálicos
Chumbo t 70.035 374.540 222.410 70.035
Cobre t 25.134 21.449 43.215 29.515
Ouro (primério) kg 7.859 1.557 2.518 8.767
Zinco t 63.769 364.496 216.881 63.769
Nâo-Metálicos
Ágatas, Calcedônias etc. t 320 300 .- 320
Areia m 3
n.d. n.d. n.d n.d.
Areia Industrial t 7.864.524 8.315.641 36.928.400 10.197.345
Argilas Comuns t 54.259.176 5.717.073 6.056.109 54.256.354
Argilas Plásticas t 5.882.409 443.253 - 4.816.332
Argilas Refratárias t 469.440 1.400..904 - 469.440
Calcário (rochas) t 277.333.757 162.300.918 119.485.137 279.113.064
Caulim t 22.850.316 17.335.287 8.902.642 21.922.671
Dolomito t 23.002.613 23.917.390 22.100.300 23.002.613
Rochas (britadas) e Cascalhos m3 n.d. n.d. n.d. n.d.
Rochas Ornamentais e Outras m 3
27.206.728 3.247.938 1.280.00 26.816.728
Rochas Ornamentais (granito e afins) m3 107.546.888 50.425.733 40.580.712 73.446.666
Rochas Ornamentais (mármores e afins) m3 3.073.048 2.068.709 2.134.579 3.073.048
Talco t 4.535.459 605.442 - 4.535.459
Energéticos
Carvão Mineral t 5.255.915.580 10.098.475.668 6.317.050.409 5.376.789.122
Turfa t 55.161.000 74.414.000 7.807.000 55.161.000
Xisto e outras Rochas Betuminosas t 232.977.000 343.195.000 160.456.000 232.977.000
t – tonelada; kg – quilograma; m³ – metro cúbico; n.d. – não-definido. Fonte: Brasil (2006).
124
ASPECTOS ECONÔMICOS DO SETOR MINERAL
ram R$21 milhões de reais. No Anuário, foram Tabela 9.8: Investimentos realizados na mineração no estado do Rio Grande do Sul.
previstos investimentos de aproximadamente
R$145 milhões de reais para os três anos Investimento
Classe/ Substância Total (R$)
seguintes (2006 a 2008), o que poderá ser Mina Usina
conferido em suas próximas edições. Não-Metálicos
Areia 2.386.314 - 2.386.314
Mão-de-Obra
Areia Industrial 68.720 120.000 188.720
Um esboço da quantidade de trabalhado- Argilas 1.036.406 98.208 1.134.614
res empregados no setor mineral no estado do Calcário 1.995.644 3.645.460 5.641.104
Rio Grande do Sul é apresentado na (Tabela 9.9). Caulim 61.500 324.000 385.500
O setor de mineração empregou apro- Geodos, Ágata, Calcedônias etc - - -
ximadamente 10 mil funcionários de forma
Rochas (britadas) e Cascalho 2.479.894 2.470.638 4.950.532
direta e indireta. A classe dos minerais não-
-metálicos foi responsável por grande parte Rochas Ornamentais 260.000 - 260.000
dessa demanda, totalizando 71,91% dos em- Rochas Ornamentais e outras 97.500 - 97.500
pregos gerados pelo setor mineiro. Os demais Talco e Outras Cargas Minerais - - -
19,09% foram absorvidos pelas mineradoras de Gemas e Diamantes
minerais energéticos (carvão mineral) e gemas
Gemas 10.000 - 10.000
e diamantes (BRASIL, 2006).
Energéticos
125
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
O produto bruto do caulim tem como seu maior con- tante foi destinado aos estados de Santa Catarina e Paraná
sumidor o estado de Santa Catarina, que consome 78,73% e ao próprio Rio Grande do Sul.
desse bem, sendo o restante consumido pelos estados do
Rio Grande do Sul (12,68%), São Paulo (4,34%) e outros. Já REFERÊNCIAS
o produto beneficiado do caulim é consumido, em menor
escala, por Santa Catarina (18,47%) e, em maiores porções, BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral.
em seu estado de origem (42,94%). Anuário mineral brasileiro: 2006. Brasília: DNPM, 2006.
A produção de carvão mineral no Rio Grande do Sul Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br>. Acesso em:
destinou, em 2006, apenas 1,85% de sua produção ao 20 dez. 2009.
mercado externo, mais precisamente, ao estado de Santa
Catarina. BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral.
Com relação às rochas ornamentais, 47,94% foram Sistema de informações geográficas da mineração
comercializados no exterior, com destaque para Estados (SIGMINE). Disponível em: <http://sigmine.dnpm.gov.
Unidos da América, Itália, China, Japão e Espanha; o res- br/>. Acesso em: 15 dez. 2009.
126
10
METODOLOGIA E
ESTRUTURAÇÃO
DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA
DE INFORMAÇÃO
GEOGRÁFICA
Maria Angélica Barreto Ramos (angelica.barreto@cprm.gov.br)¹
Marcelo Eduardo Dantas (marcelo.dantas@cprm.gov.br)¹
Antônio Theodorovicz (antonio.theodorovicz@cprm.gov.br)¹
Valter José Marques (vj.marques@yahoo.com.br)¹
Vitório Orlandi Filho (vitorioorlandi@gmail.com)²
Maria Adelaide Mansini Maia (adelaide.maia@cprm.gov.br)¹
Pedro Augusto dos Santos Pfaltzgraff (pedro.augusto@cprm.gov.br)¹
1
CPRM - Serviço Geológico do Brasil
2
Consultor
SUMÁRIO
Introdução.......................................................................................................... 129
Procedimentos Metodológicos............................................................................ 129
Definição dos Domínios e Unidades Geológico-Ambientais................................ 129
Atributos da Geologia......................................................................................... 130
Deformação..................................................................................................... 130
Tectônica: dobramentos................................................................................ 130
Tectônica: fraturamento (juntas e falhas)/cisalhamento................................ 130
Estruturas......................................................................................................... 130
Resistência ao Intemperismo Físico.................................................................. 130
Resistência ao Intemperismo Químico.............................................................. 130
Grau de Coerência............................................................................................ 131
Características do Manto de Alteração Potencial (Solo Residual)...................... 131
Porosidade Primária......................................................................................... 132
Característica da Unidade Lito-Hidrogeológica................................................. 133
Atributos do Relevo............................................................................................. 133
Modelo Digital de Terreno – Shutlle Radar Topography Mission (SRTM).............. 133
Mosaico Geocover 2000...................................................................................... 135
Análise da Drenagem.......................................................................................... 135
Kit de Dados Digitais........................................................................................... 135
Trabalhando com o Kit de Dados Digitais......................................................... 135
Estruturação da Base de Dados: Geobank........................................................... 137
Atributos dos Campos do Arquivo das Unidades Geológico-Ambientais: Dicionário
de Dados............................................................................................................. 139
Referências.......................................................................................................... 140
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
129
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
130
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
BASALTOS MACIÇOS
GRANITOS
MIGMATITOS
ARENITO “COZIDO”
DIABÁSIOS
QUARTZITOS
PIROXENITOS
PERFURAÇÃO CALCOSSILICATOS
HEMATITAS
Percussão Percussão
COM TRADO COM LAVAGEM A ROTAÇÃO TINGUAÍTOS
ITABRITOS
DIORITOS
PERFURAÇÃO PEGMATITOS
MARMORES
LÂMINA ESCARIFAÇÃO ESPLOSIVO DOLOMITOS
METASSEDIMENTOS
MILONITOS
CALCÁRIOS METAMÓRFICOS
BASALTOS VESIC-AMIG
SILTITOS
XISTOS
FOLHELHOS
ARGILITOS
CALCÁRIOS SEDIMENTARES
FILITOS
BASALTO LEVE
DESDE 0,5 EVAPORITOS
ARENITOS
DE ALTERAÇÃO
0% REDUÇÃO
CLASSE
SOLO ROCHAS MUITO BRANDAS ROCHAS BRANDAS ROCHAS MÉDIAS ROCHAS DURAS
Figura 10.1: Resistência à compressão uniaxial e classes de alteração para diferentes tipos de rochas.
Fonte: Modificado de Vaz (1996).
131
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
solo, como clima e relevo, o manto de alteração de um ba- cias irregulares de camadas pouco espessas, interdigitadas e
salto será argiloso e, o de um granito, argilo-síltico-arenoso. de composição mineral muito contrastante, a exemplo das
Predominantemente arenoso: substrato rochoso sequências em que se alternam, irregularmente, entre si,
sustentado por espessos e amplos pacotes de rochas pre- camadas de arenitos quartzosos com pelitos, com calcários
dominantemente arenoquartzosas. ou com rochas vulcânicas.
Predominantemente argiloso: predominância de ro- Predominantemente siltoso: siltitos e folhelhos.
chas que se alteram para argilominerais, a exemplo de der- Não se aplica.
rames basálticos, complexos básico-ultrabásico-alcalinos,
terrenos em que predominam rochas calcárias etc. Porosidade Primária
Predominantemente argilossiltoso: siltitos, folhelhos,
filitos e xistos. Relacionada ao volume de vazios em relação ao volume
Predominantemente argilo-síltico-arenoso: rochas total da rocha. O preenchimento deverá seguir os procedi-
granitoides e gnáissico-migmatíticas ortoderivadas. mentos descritos na Tabela 10.1.
Variável de arenoso a argilossiltoso: sequências sedi- Caso seja apenas um tipo de litologia que sustenta
mentares e vulcanossedimentares compostas por alternân- a unidade geológico-ambiental, observar o campo “Des-
Nota: Alguns dados, em especial os referentes à porosidade eficaz (me), devem ser tomados com precauções, segundo
as circunstâncias locais. A = Aumenta m e me por meteorização; B = Aumenta m e me por fenômenos de dissolução;
C = Diminui m e me com o tempo; D = Diminui m e pode aumentar me com o tempo; E = me muito variável segundo
as circunstâncias do tempo; F = Varia segundo o grau de cimentação e solubilidade.
132
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
crição”, da Tabela 10.1. Entretanto, se forem complexos O mapeamento de padrões de relevo é, essencial-
plutônicos de várias litologias, a porosidade é baixa. mente, uma análise morfológica do relevo com base em
- Baixa: 0 a 15% fotointerpretação da textura e rugosidade dos terrenos a
- Moderada: de 15 a 30% partir de diversos sensores remotos.
- Alta: >30% Nesse sentido, é de fundamental importância escla-
Para os casos em que várias litologias sustentam a recer que não se pretendeu produzir um mapa geomor-
unidade geológico-ambiental, observar o campo “Tipo”, fológico, mas um mapeamento dos padrões de relevo em
da Tabela 10.1. consonância com os objetivos e as necessidades de um
- Variável (0 a >30%): a exemplo das unidades em que mapeamento da geodiversidade do território nacional em
o substrato rochoso é formado por um empilhamento irre- escala continental.
gular de camadas horizontalizadas porosas e não-porosas. Com esse enfoque, foram selecionados 28 padrões
de relevo para os terrenos existentes no território brasileiro
Característica da (Tabela 10.2), levando-se, essencialmente, em consideração:
Unidade Lito-Hidrogeológica - Parâmetros morfológicos e morfométricos que pudes-
sem ser avaliados pelo instrumental tecnológico disponível
São utilizadas as seguintes classificações: nos kits digitais (imagens LandSat GeoCover e Modelo
- Granular: dunas, depósitos sedimentares inconsoli- Digital de Terreno e Relevo Sombreado (SRTM); mapa de
dados, planícies aluviais, coberturas sedimentares etc. classes de hipsometria; mapa de classes de declividade).
- Fissural - Reinterpretação das informações existentes nos ma-
- Granular/fissural pas geomorfológicos produzidos por instituições diversas,
- Cárstico em especial os mapas desenvolvidos no âmbito do Projeto
- Não se aplica RadamBrasil, em escala 1:1.000.000.
- Execução de uma série de perfis de campo, com o
objetivo de aferir a classificação executada.
ATRIBUTOS DO RELEVO
Para cada um dos atributos de relevo, com suas res-
pectivas bibliotecas, há uma legenda explicativa (Apêndice
Com o objetivo de conferir uma informação geomor- II – Biblioteca de Relevo do Território Brasileiro) que agrupa
fológica clara e aplicada ao mapeamento da geodiversidade características morfológicas e morfométricas gerais, assim
do território brasileiro e dos estados federativos em escalas como informações muito elementares e generalizadas
de análise muito reduzidas (1:500.000 a 1:1.000.000), quanto à sua gênese e vulnerabilidade frente aos processos
procurou-se identificar os grandes conjuntos morfológi- geomorfológicos (intempéricos, erosivos e deposicionais).
cos passíveis de serem delimitados em tal tipo de escala, Evidentemente, considerando a vastidão e a enor-
sem muitas preocupações quanto à gênese e evolução me geodiversidade do território brasileiro, assim como
morfodinâmica das unidades em análise, assim como aos seu conjunto diversificado de paisagens bioclimáticas e
processos geomorfológicos atuantes. Tais avaliações e condicionantes geológico-geomorfológicas singulares, as
controvérsias, de âmbito exclusivamente geomorfológico, informações de amplitude de relevo e declividade, dentre
seriam de pouca valia para atender aos propósitos deste outras, devem ser reconhecidas como valores-padrão, não
estudo. Portanto, termos como: depressões, cristas, pata- aplicáveis indiscriminadamente a todas as regiões. Não se
mares, platôs, cuestas, hog-backs, pediplanos, peneplanos, descartam sugestões de ajuste e aprimoramento da Tabela
etchplanos, escarpas, serras e maciços, dentre tantos outros, 10.2 e do Apêndice II apresentados nesse modelo, as quais
foram englobados em um reduzido número de conjuntos serão benvindas.
morfológicos.
Portanto, esta proposta difere substancialmente das MODELO DIGITAL DE TERRENO – SHUTLLE
metodologias de mapeamento geomorfológico presen- RADAR TOPOGRAPHY MISSION (SRTM)
tes na literatura, tais como: a análise integrada entre a
compartimentação morfológica dos terrenos, a estrutura A utilização do Modelo Digital de Terreno ou Modelo
subsuperficial dos terrenos e a fisiologia da paisagem, Digital de Elevação ou Modelo Numérico de Terreno, no
proposta por Ab’Saber (1969); as abordagens descritivas contexto do Mapa Geodiversidade do Estado do Rio Grande
em base morfométrica, como as elaboradas por Barbosa do Sul, justifica-se por sua grande utilidade em estudos de
et al. (1977), para o Projeto RadamBrasil, e Ponçano et al. análise ambiental.
(1979) e Ross e Moroz (1996), para o Instituto de Pesquisas Um Modelo Digital de Terreno (MDT) é um modelo
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT); as abordagens contínuo da superfície terrestre, no nível do solo, representa-
sistêmicas, com base na compartimentação topográfica em do por uma malha digital de matriz cartográfica encadeada,
bacias de drenagem (MEIS et al., 1982); ou a reconstituição ou raster, onde cada célula da malha retém um valor de
de superfícies regionais de aplainamento (LATRUBESSE et elevação (altitude) do terreno. Assim, a utilização do MDT
al., 1998). em estudos geoambientais se torna imprescindível, uma
133
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
vez que esse modelo tem a vantagem de fornecer uma Durante a realização dos trabalhos de levantamento
visão tridimensional do terreno e suas inter-relações com as da geodiversidade do território brasileiro, apesar de todos
formas de relevo e da drenagem e seus padrões de forma os pontos positivos apresentados, os dados SRTM, em
direta. Isso permite a determinação do grau de dissecação algumas regiões, acusaram problemas, tais como: valores
do relevo, informando também o grau de declividade e espúrios (positivos e negativos) nas proximidades do mar
altimetria, o que auxilia grandemente na análise ambiental, e áreas onde não são encontrados valores. Tais problemas
como, por exemplo, na determinação de áreas de proteção são descritos em diversos trabalhos do SRTM (BARROS et
permanente, projetos de estradas e barragens, trabalhos de al., 2004), sendo que essas áreas recebem o valor -32768,
mapeamento de vegetação etc. indicando que não há dado disponível.
A escolha do Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) A literatura do tema apresenta diversas possibilidades
[missão espacial liderada pela NASA, realizada durante 11
de correção desses problemas, desde substituição de tais
dias do mês de fevereiro de 2000, visando à geração de um
áreas por dados oriundos de outros produtos – o GTOPO30
modelo digital de elevação quase global] foi devida ao fato
aparece como proposta para substituição em diversos
de os MDTs disponibilizados por esse sensor já se encontra-
textos – ao uso de programas que objetivam diminuir tais
rem disponíveis para toda a América do Sul, com resolução
incorreções por meio de edição de dados (BARROS et al.,
espacial de aproximadamente 90 x 90 m, apresentando alta
acurácia e confiabilidade, além da gratuidade (CCRS, 2004 2004). Neste estudo, foi utilizado o software ENVI 4.1 para
apud BARROS et al., 2004). solucionar o citado problema.
134
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
135
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 10.2: Exemplo de dados do kit digital para o estado do Rio Grande do Sul: unidades geológico-ambientais versus
infraestrutura, recursos minerais e áreas de proteção ambiental.
Figura 10.3: Exemplo de dados do kit digital para o estado do Rio Grande do Sul: unidades geológico-ambientais versus relevo
sombreado (MDT_SRTM).
136
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
Figura 10.4: Exemplo de dados do kit digital para o estado do Rio Grande do Sul: modelo digital de elevação
(SRTM) versus drenagem bifilar.
pondia ao arquivo da geologia onde deveria ser aplicada a ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS:
reclassificação da geodiversidade. GEOBANK
Após a implantação dos domínios e unidades geoló-
gico-ambientais, procedia-se ao preenchimento dos parâ- A implantação dos projetos de levantamento da geodi-
metros da geologia e, posteriormente, ao preenchimento versidade do Brasil teve como objetivo principal oferecer aos
dos campos com os atributos do relevo. diversos segmentos da sociedade brasileira uma tradução
As informações do relevo serviram para melhor carac- do conhecimento geológico-científíco, com vistas a sua
terizar a unidade geológico-ambiental e também para aplicação ao uso adequado para o ordenamento territorial e
subdividi-la. Porém, essa subdivisão, em sua maior parte, planejamento dos setores mineral, transportes, agricultura,
alcançou o nível de polígonos individuais. turismo e meio ambiente, tendo como base as informações
Quando houve necessidade de subdivisão do polígo- geológicas presentes no SIG da Carta Geológica do Brasil
no, ou seja, quando as variações fisiográficas eram muito ao Milionésimo (SCHOBBENHAUS et al., 2004).
contrastantes, evidenciando comportamentos hidrológicos Com essa premissa, a Coordenação de Geoproces-
e erosivos muito distintos, esse procedimento foi realizado. samento da Geodiversidade, após uma série de reuniões
Nessa etapa, considerou-se o relevo como um atributo com as Coordenações Temáticas e com as equipes locais da
para subdividir a unidade, propiciando novas deduções na CPRM/SGB, estabeleceu normas e procedimentos básicos a
análise ambiental. serem utilizados nas diversas atividades dos levantamentos
Assim, a nova unidade geológico-ambiental resultou estaduais, com destaque para:
da interação da unidade geológico-ambiental com o relevo. - Definição dos domínios e unidades geológico-am-
Finalizado o trabalho de implementação dos parâ- bientais com base em parâmetros geológicos de interesse
metros da geologia e do relevo pela equipe responsável, na análise ambiental, em escalas 1:2.500.000, 1:1.000.00
o material foi enviado para a Coordenação de Geoproces- e mapas estaduais.
samento, que procedeu à auditagem do arquivo digital - A partir da escala 1:1.000.000, criação de atributos
da geodiversidade para retirada de polígonos espúrios, geológicos aplicáveis ao planejamento e informações dos
superposição e vazios, gerados durante o processo de edi- compartimentos do relevo.
ção. Paralelamente, iniciou-se a carga dos dados na Base - Acuidade cartográfica compatível com as escalas
Geodiversidade – APLICATIVO GEODIV (VISUAL BASIC) com adotadas.
posterior migração dos dados para o GeoBank. Estruturação de um modelo conceitual de base para
137
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
138
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
139
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 10.9: Módulo Web Map de visualização dos arquivos vetoriais/base de dados (GeoBank).
CO) – Relacionado à rocha ou ao grupo de rochas sãs que e ao banco de dados (é formada pelo campo COD_UNIGEO
compõe a unidade geológico-ambiental. + COD_REL).
GR_COER (GRAU DE COERÊNCIA DA(S) ROCHA(S) OBS (CAMPO DE OBSERVAÇÕES) – Campo-texto
FRESCA(S)) – Relacionado à rocha ou ao grupo de rochas onde são descritas todas as observações consideradas re-
que compõe a unidade geológico-ambiental. levantes na análise da unidade geológico-ambiental.
TEXTURA (TEXTURA DO MANTO DE ALTERAÇÃO)
– Relacionado ao padrão textural de alteração da rocha REFERÊNCIAS
ou ao grupo de rochas que compõe a unidade geológico-
-ambiental.
AB’SABER, A. N. Um conceito de geomorfologia a serviço
PORO_PRI (POROSIDADE PRIMÁRIA) – Relacionado à
das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia, São
porosidade primária da rocha ou do grupo de rochas que
Paulo, n. 18, p. 1-23, 1969.
compõe a unidade geológico-ambiental.
AQUÍFERO (TIPO DE AQUÍFERO) – Relacionado ao tipo
ALBUQUERQUE, P. C. G.; SANTOS, C. C.; MEDEIROS, J. S.
de aquífero que compõe a unidade geológico-ambiental. Avaliação de mosaicos com imagens LandSat TM
COD_REL (CÓDIGO DOS COMPARTIMENTOS DO para utilização em documentos cartográficos em
RELEVO) – Siglas para a divisão dos macrocompartimentos escalas menores que 1/50.000. São José dos Campos:
de relevo. INPE, 2005. Disponível em: <http://mtc-m12.sid.inpe.br/
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GEO_REL (CÓDIGO DA UNIDADE GEOLÓGICO-
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unidade geológico-ambiental, fruto da composição da Mapas geomorfológicos elaborados a partir do sensor
unidade geológica com o relevo. Na escala 1:1.000.000, é o radar. Notícia Geomorfológica, Campinas, v. 17, n. 33,
campo indexador, que liga a tabela aos polígonos do mapa p. 137-152, jun. 1977.
140
METODOLOGIA e ESTRUTURAÇÃO DA BASE DE DADOS
EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
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142
11
GEODIVERSIDADE:
ADEQUABILIDADES/
POTENCIALIDADES E
LIMITAÇÕES FRENTE
AO USO E À OCUPAÇÃO
Ana Claudia Viero (ana.viero@cprm.gov.br)
SUMÁRIO
Introdução.......................................................................................................... 147
Domínio dos Sedimentos Cenozoicos Inconsolidados ou
pouco Consolidados Depositados em meio Aquoso (DC) ................................... 147
Ambiente de Planície Aluvionar Recente (DCa)................................................. 148
Ambiente Lagunar (DCl)................................................................................... 149
Ambiente Paludal (DCp)................................................................................... 149
Ambiente Marinho Costeiro (DCmc)................................................................. 149
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 150
Domínio dos Sedimentos Cenozoicos Inconsolidados do
Tipo Coluvião e Tálus (DCICT).............................................................................. 153
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 154
Domínio dos Sedimentos Indiferenciados Cenozoicos Relacionados a
Retrabalhamento de outras Rochas, Geralmente Associados a Superfícies de
Aplainamento (DCSR).......................................................................................... 155
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 156
Domínio dos Sedimentos Cenozoicos Eólicos (DCE) ........................................... 157
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 159
Domínio das Coberturas Sedimentares e Vulcanossedimentares Mesozoicas e
Paleozoicas, pouco a Moderadamente Consolidadas, Associadas a Grandes e
Profundas Bacias Sedimenares do Tipo Senéclise (DSVMP).................................. 159
Predomínio de Sedimentos Arenosos Malselecionados (DSVMPa).................... 160
Predomínio de Espessos Pacotes de Arenitos de Deposição Eólica (DSVMPae).161
Predomínio de Espessos Pacotes de Arenitos de Deposição Mista – Eólica
e Fluvial (DVSMPaef)........................................................................................ 161
Intercalações de Sed Arenosos, Síltico-Argilosos e Folhelhos (DSVMPasaf)....... 161
Predomínio de Sedimentos Síltico-Argilosos com Intercalações
Arenosas (DSVMPsaa)...................................................................................... 162
Predomínio de Sedimentos Síltico-Argilosos e Arenosos Contendo
Camadas de Carvão (DSVMPsaacv).................................................................. 162
Intercalações de Paraconglomerados (Tilitos) e Folhelhos (DSVMPcgf)............. 162
Predomínio de Sedimentos Síltico-Argilosos Intercalados de Folhelhos
Betuminosos e Calcários (DSVMPsabc)............................................................. 162
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 162
Domínio do Vulcanismo Fissural Mesozoico do Tipo Plateau (DVM)................... 171
Predomínio de Basaltos (DVMb........................................................................ 171
Predomínio de Riolitos e Riodacitos (DVMrrd).................................................. 173
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 173
Domínio dos Complexos Alcalinos Intrusivos e Extrusivos, Diferenciados, do
Terciário, Mesozoico e Proterozóico (DCA).......................................................... 180
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 180
Domínio das Sequências Sedimentares e Vulcanosedimentares do Eopaleozoico
Associadas a rifts, não a pouco Deformadas e Metamorfizadas (DSVE).............. 181
Predomínio de Rochas Sedimentares (DSVEs).................................................. 181
Predomínio de Rochas Vulcânicas (DSVEv)....................................................... 181
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 181
Domínio das Coberturas Sedimentares Proterozoicas, não ou muito pouco
Dobradas e Metamorfizadas (DSP1).................................................................... 183
Predomínio de Sedimentos Arenosos e Conglomeráticos, com Intercalações
Subordinadas de Sedimentos Síltico-Argilosos (DSP1acgsa)............................. 183
Predomínio de Sedimentos Síltico-Argilosos, com Intercalações
Subordinadas de Arenitos e Grauvacas (DSP1saagr)........................................ 184
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 185
Domínio das Sequências Vulcanossedimentares Proterozoicas, não ou pouco
Dobradas e Metamorfizadas (DSVP1).................................................................. 187
Predomínio de Vulcanismo Ácido a Intermediário (DSVP1va)........................... 187
Predomínio de Vulcanismo Básico (DSVP1vb)................................................... 187
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 188
Domínio das Sequências Sedimentares Proterozoicas, Dobradas e
Metamorfizadas de Baixo a Médio Grau (DSP2).................................................. 190
Predomínio de Metassedimentos Síltico-Argilosos, com Intercalações de
Metagrauvacas (DSP2sag)................................................................................ 190
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 190
Domínio das Sequências Vulcanossedimentares Proterozoicas, Dobradas e
Metamorfizadas de Baixo a Alto Grau (DSVP2)................................................... 191
Predomínio de Metassedimentos Síltico-Argilosos,
Representados por Xistos(DSVP2x)................................................................... 192
Metagrauvaca, Metarenito, Tufo e Metavulcânica Básica a Intermediária
(DSVP2gratv).................................................................................................... 192
Predomínio de Rochas Metabásicas e Metaultramáficas (DVSP2bu)................. 192
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 193
Domínio dos Corpos Máfico-Ultramáficos (DCMU)............................................. 195
Série Máfico-Ultramáfica (DCMUmu)............................................................... 195
Série Básico-Ultrabásica (DCMUbu).................................................................. 195
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 196
Domínio dos Complexos Granitoides Não-Deformados (DCGR1)......................... 198
Séries Graníticas Peralcalinas (DCGR1palc)....................................................... 198
Séries Graníticas Alcalinas (DCGR1alc).............................................................. 198
Séries Graníticas Subalcalinas (DCGR1salc)....................................................... 199
Granitoides Peraluminosos (DCGR1pal)............................................................ 199
Série Shoshonítica (DCGR1sho)........................................................................ 199
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 199
Domínio dos Granitoides Deformados (DCGR2).................................................. 203
Séries Graníticas Alcalinas (DCGR2alc).............................................................. 203
Granitoides Peraluminosos (DCGR2pal)............................................................ 203
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 203
Domínio dos Granitoides Intensamente Deformados – Ortognaisses (DCGR3).... 204
Séries Graníticas Subalcalinas (DCGR3salc)....................................................... 205
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 205
Domínio dos Complexos Granito-Gnaisse-Migmatítico e Granulitos (DCGMGL).. 206
Predomínio de Gnaisses Paraderivados (DCGMGLgnp)..................................... 206
Gnaisse-Granulítico Ortoderivado (DCGMGLglo).............................................. 207
Predomínio de Gnaisses Ortoderivados (DCGMGLgno).................................... 207
Características, Adequabilidades e Limitações Frente ao Uso e à Ocupação..... 208
Referências.......................................................................................................... 210
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Figura 11.1 - Área de ocorrência das unidades geológico-ambientais do domínio dos sedimentos cenozoicos
inconsolidados ou pouco consolidados depositados em meio aquoso no estado do Rio Grande do Sul.
147
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
148
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
sedimentos. Os terraços foram gerados em tempos mais O relevo plano em que ocorrem é classificado como
remotos, enquanto as planícies ainda estão em formação. Planícies Fluviomarinhas. É um relevo de agradação que
O relevo do tipo Terraços Lagunares consiste em pale- corresponde a uma zona de acumulação atual. São su-
oplanícies de inundação que se encontram em nível mais perfícies planas, geralmente de interface entre os sistemas
elevado que o das planícies lagunares ou fluviolagunares deposicionais continentais e marinhos, constituídas por
atuais e acima do nível das cheias sazonais. São superfícies depósitos argiloarenosos a argilosos. São terrenos muito
planas a levemente onduladas, com amplitude de relevo de maldrenados, prolongadamente inundáveis, com padrão
2 a 20 m e declividades entre 0 e 3o. Localmente, ressaltam- de canais bastante meandrantes e divagantes, sob influ-
-se rebordos abruptos no contato com a planície lagunar ência de refluxo de marés, ou resultantes da colmatação
(Figura 11.4). de paleolagunas. A amplitude de relevo e a
inclinação das vertentes são nulas.
149
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
sedimentação marinha e/ou eólica. A amplitude de relevo cação de áreas com diferentes riscos de inundação e em
pode ser de até 20 m e a inclinação das vertentes varia critérios de ocupação referentes ao uso e aos aspectos
de 0-5o. construtivos.
Os terrenos das unidades DCp e DCl podem conter
Características, Adequabilidades e argilas moles com baixa capacidade de suporte, sujeitas a
Limitações Frente ao Uso e à Ocupação adensamentos, recalques e rupturas de fundações. A uni-
dade DCa também engloba as planícies de inundação dos
Obras de engenharia rios que não são passíveis de representação na escala deste
trabalho. Nessas áreas, também existe a possibilidade de
Os materiais do domínio DC apresentam baixa re- ocorrência de argilas moles. Esses terrenos, especialmente
sistência ao corte e à penetração. Dependendo do nível da unidade DCp, apresentam solos agressivos devido à pre-
do depósito sedimentar, em especial de cascalhos, essa sença de material orgânico que pode provocar a corrosão
característica pode ser alterada. de tubulações e de estruturas de aço ou concreto e, conse-
Os terrenos da unidade DCa caracterizam-se por um quentemente, vazamentos em dutos, além da deterioração
empilhamento de camadas horizontalizadas de materiais de blocos de ancoragem e estacas.
inconsolidados, com granulometrias bastante distintas, o Os terrenos da unidade geológico-ambiental DCl,
que lhes confere características geomecânicas e hidráulicas que ocorrem em relevo do tipo Terraços Lagunares, estão
muito diferentes (Figura 11.6). A presença de fragmentos de em um nível topograficamente mais elevado que o das
rochas duras e abrasivas dificulta a execução de escavações, planícies lagunares ou fluviolagunares atuais e acima do
perfurações e sondagens, além de acarretar maior desgaste nível das cheias sazonais mais frequentes. Os depósitos
nos equipamentos. são arenosos a argilosos e os solos possuem melhor dre-
Nos terrenos do domínio DC, em geral, as declividades nabilidade. Os cortes realizados nesses materiais possuem
são praticamente nulas e o lençol freático situa-se próximo relativa estabilidade e o risco de alagamentos é menor que
à superfície. Adicionalmente, os solos, frequentemente, nas demais unidades.
apresentam más condições de drenagem. Tais características A unidade DCmc compreende camadas arenosas,
oferecem risco de alagamento e de desestabilização das inconsolidadas, com características geomecânicas e hidráu-
paredes de escavações de obras civis. licas mais homogêneas que nas demais unidades. Podem
Na unidade DCa ocorrem áreas sujeitas a inundações ocorrer depósitos de areia muito friável, sujeitos ao fenôme-
periódicas, as quais devem ser objeto de zoneamento que no da liquefação, do tipo areia movediça. Desestabilizam-se
contemple um conjunto de regras para a sua ocupação, com facilidade em escavações e possuem alta suscetibilidade
visando à minimização futura de perdas materiais e hu- à erosão eólica e costeira, isto é, devido à ação das ondas,
manas resultantes de grandes cheias (TUCCI, 2007). Tal correntes marinhas e marés.
regulamentação deve ser apoiada em mapas com demar-
Agricultura
150
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
151
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Os sedimentos deltaicos do rio Jacuí, agrupados nessa Aspectos ambientais e potencial turístico
unidade geológico-ambiental, são definidos por Machado
e Freitas (2005) como aquíferos com alta a média possi- Como característica comum, os terrenos do domínio
bilidade para águas subterrâneas. Compreendem arenitos DC representam uma transição entre ecossistemas terrestres
médios a grossos, inconsolidados, intercalados com ca- e aquáticos, com importante contribuição da umidade do
madas argilosas, que, na base, podem conter seixos de ar e vegetação típica adaptada às águas e às secas.
basalto. As capacidades específicas são altas, em média A conformação da Planície Costeira do Rio Grande Sul
3 m³/h/m. Apesar de grande disponibilidade quantitativa, é resultante da dinâmica de avanços e recuos do mar que
esse aquífero apresenta problemas quanto à qualidade. vêm ocorrendo há pelo menos 400 mil anos. Os ambientes
As águas têm considerável quantidade de sais dissolvidos gerados a partir dessa dinâmica apresentam grande impor-
e altos teores de ferro, o que inviabiliza sua utilização tância ecológica, razão pela qual se inserem nesse domínio
para muitos fins. várias unidades de conservação. Tais unidades foram cria-
A unidade DCl compreende aquíferos superficiais das com o objetivo básico de preservação ambiental, mas
compostos de sedimentos inconsolidados, com média a também são destinadas à pesquisa científica, à educação
baixa possibilidade para água subterrânea (MACHADO e ambiental e, no caso dos parques estaduais, à recreação e
FREITAS, 2005). ao turismo ecológico.
A unidade DCp, devido à sua constituição essencial- A paisagem na região litorânea é muito diversa e com-
mente argilosa, compreende depósitos pouco permeáveis, posta por praias, matas de restinga, banhados, campos de
sem potencial para explotação de água subterrânea. dunas e grande número de lagoas, muitas interligadas entre
si e algumas com conexão ao mar. Em alguns lugares, como
Recursos minerais no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, esses ambientes são
habitat para muitas espécies animais e vegetais em extinção
Nos terrenos da unidade DCa ocorrem depósitos de e servem de paradouro para aves migratórias.
areia e cascalho com potencial para uso como agregados Nesse contexto se insere a Estação Ecológica do Taim,
para a construção civil, além de argila para cerâmica ver- criada com o objetivo de proteger o banhado de mesmo
melha. Constituem a principal fonte de areia para uso na nome com sua vegetação e fauna típicas, além de dunas
construção civil. e praias litorâneas. O Taim faz parte de um complexo de
A unidade DCl apresenta potencial para ocorrência banhados e lagoas que trocam massas de água entre si
de depósitos de turfa, areia para construção civil, argila e com a lagoa Mirim, que é de fundamental importância
para cerâmica vermelha e depósitos de conchas para uso para o armazenamento de água, controle de grandes
na construção civil, como insumo para agricultura e como inundações, recarga de aquíferos, purificação da água e
suplemento alimentar para reposição de cálcio. estabilidade climática.
Os depósitos de turfas que ocorrem principalmente na O Parque Estadual do Delta do Jacuí abrange terre-
unidade DCp possuem potencial para aproveitamento ener- nos relacionados às unidades DCa, DCl e DCp. Segundo
gético, além de diversos usos na agricultura e na indústria. informações disponíveis no sítio da Secretaria Estadual do
Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul (SEMA-
A turfa energética é utilizada na combustão e queima direta
-RS) (<http://www.sema.rs.gov.br/>), o parque é formado
em grelhas, fornos e caldeiras para geração de calor, vapor
por 30 ilhas e porções continentais com matas, banhados
e eletricidade. Potencialidades mais nobres incluem a sua
e campos inundados. O complexo de ilhas funciona como
utilização como condicionadores de solo, veículo fertilizante filtro e esponja regulando a vazão dos rios em épocas de
e inoculante com utilização da turfa em florestamentos, no cheias, protegendo a população da Grande Porto Alegre.
controle de erosão, na cultura hortícula, em jardinagem e O Parque Estadual do Camaquã está inserido na uni-
floricultura, na cultura de antibióticos para produção de dade geológico-ambiental DCl, que corresponde, na área,
medicamentos e em filtragens industriais (óleos e alimentos) aos sedimentos deltaicos do rio Camaquã. A unidade ainda
e de poluentes (GOMES, 2002). não foi implementada e engloba ambientes de banhados,
Na unidade DCmc existem importantes jazimentos de mata ripária e vegetação de restinga.
ilmenita, rutilo, magnetita e zircão. A unidade também O Parque Estadual de Itapeva está situado sobre terre-
consiste em ambiente geológico favorável à existência nos da unidade DCmc e do Domínio dos Sedimentos Ceno-
de depósitos de conchas calcárias de moluscos para zoicos Eólicos (DCE). Abriga um dos únicos remanescentes
uso na construção civil, como insumo para agricultura de floresta paludosa situado em unidade de conservação
e suplemento alimentar. As areias possuem potencial no estado (SEMA-RS). O parque protege grandes dunas
para explotação como agregado para a construção civil. móveis e dunas fixadas por vegetação de restinga, paisa-
É necessário, no entanto, avaliar se o teor em sais e em gem característica da Planície Costeira, além de campos
carbonato de cálcio restringe o seu uso na fabricação de alagados e secos, turfeiras, matas de restinga, banhados,
argamassas e concreto. arroios e vassourais.
152
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Figura 11.8 - Unidade geológico-ambiental DCICT (rodovia RS-486, entre Tainhas e Terra de Areia).
153
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
baixas encostas de ambientes colinosos ou de morros. A e Luvissolos. São pouco profundos ou profundos e apre-
amplitude de relevo é variável, dependendo da extensão do sentam gradiente textural (STRECK et al., 2008).
depósito na encosta; as declividades das vertentes situam-se A pedregosidade do solo, tanto em superfície quanto
entre 5 e 20o nas rampas de colúvio e entre 20 e 45o nos em subsuperfície, pode ser elevada, limitando a mecani-
cones de tálus. zação agrícola. Nas porções mais distais dos depósitos de
colúvio e de tálus, onde o relevo se torna mais plano e essa
Características, Adequabilidades e característica do solo não é acentuada, não há restrições
Limitações Frente ao Uso e à Ocupação à mecanização.
Os solos podem apresentar gradiente textural abrupto
Obras de engenharia e drenagem imperfeita, devido ao adensamento do hori-
zonte subsuperficial, como ocorre na bacia do rio Gravataí,
A diversidade textural e composicional dos colúvios e em colúvios gerados a partir das rochas sedimentares e
tálus determina a variabilidade dos comportamentos geo- vulcânicas da encosta do planalto. Ali, a existência de
mecânico e hidráulico desses depósitos. Com isso, também escoamento subsuperficial no contato entre o horizonte
é variável a permeabilidade dos solos. Em geral, os colúvios superficial arenoso e o horizonte subsuperficial argiloso
apresentam baixa resistência ao cisalhamento. desencadeia processos erosivos do tipo ravinas e voçorocas,
A presença de fragmentos de rochas duras e abrasivas além de colapsos por erosão subterrânea.
dificulta a execução de escavações, perfurações e sonda-
gens, ocasionando maior desgaste dos equipamentos. Fontes poluidoras
As encostas recobertas por depósitos de colúvio e de
tálus são naturalmente instáveis e sujeitas a movimentos de A variabilidade composicional desses terrenos, em
massa. Como recobrem as porções inferiores das encostas, função da natureza do material que os originou, resulta
esses depósitos, frequentemente, encontram-se saturados, em comportamentos distintos em relação a eventuais po-
o que reduz a estabilidade dos maciços. Os tipos mais luentes. Assim, os terrenos com maior conteúdo de argila
comuns de movimentos de massa são rastejo e escorre- apresentam maior capacidade de reter e fixar poluentes que
gamentos. Em obras viárias, normalmente são necessárias aqueles com textura arenosa.
obras de contenção das encostas para evitar a instabilidade O risco de rompimento de estruturas enterradas des-
dos taludes de corte e naturais (Figura 11.9). tinadas ao armazenamento e à distribuição de substâncias
com potencial poluidor é elevado, devido à instabilidade
Agricultura natural dos terrenos. Um eventual rompimento pode oca-
sionar o vazamento de substâncias poluentes.
Os solos desenvolvidos sobre os depósitos de colúvio A resistência dos solos quanto a impactos resultantes
e de tálus pertencem à classe dos Argissolos, Cambissolos da disposição de resíduos, de acordo com classificação pro-
posta por Kämpf et al. (2008), é considerada
média na maior parte dos solos.
Recursos minerais
154
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Figura 11.10 - Unidade geológico-ambiental DCICT, em forma de relevo do tipo cones de tálus
(rodovia RS-486, entre Tainhas e Terra de Areia).
Feliz). Como fonte de material de empréstimo, os colúvios Os terrenos que ocorrem na metade norte do estado
podem ser utilizados para aterros compactados. correspondem à unidade geológica Formação Tupanciretã,
Há, ainda, potencial para rocha ornamental e pedra de enquanto aqueles registrados na metade sul constituem a
talhe, associado à presença de matacões, principalmente Formação Santa Tecla.
de granitos, em colúvios. A Formação Tupanciretã, conforme descrita original-
mente por Menegoto et al. (1968 apud WILDNER et al.,
Aspectos ambientais e potencial turístico 2008), é composta por um conjunto litológico bastante
heterogêneo, predominando, entretanto, os conglomera-
Compreendem ambientes de transição entre terrenos dos e arenitos que, próximo ao topo, mostram intercalações
mais elevados, escarpados e as planícies. Podem apresentar de delgadas camadas de argila.
vegetação nativa, embora estejam, em sua
maioria, modificados por atividades agropas-
toris. Ocorrem áreas de grande beleza cênica,
em especial nos terrenos com declividades mais
elevadas, nas formas de relevo do tipo cones
de tálus (Figura 11.10).
155
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
156
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Agricultura
157
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 11.13 - Dunas com mobilização eólica provocando o soterramento de vegetação na unidade
geológico-ambiental DCEm (Banhado do Taim).
solos Háplicos Eutróficos e associação destes com Neossolos Nas dunas fixas, apesar de grande parte dos solos pos-
Flúvicos (STRECK et al., 2008). suir horizonte subsuperficial argiloso e, consequentemente,
Os Argissolos espessarênicos com mudança textural maior capacidade relativa de reter e fixar poluentes, a pre-
abrupta possuem alta suscetibilidade à erosão e à degra- sença de lençol freático a baixa profundidade, os problemas
dação, portanto, o uso de culturas anuais exige terraços de drenagem e a textura arenosa em superfície conferem
vegetados e cultivos em faixas com plantio direto, em a esses solos baixa a muito baixa resistência a impactos
declividades de até 10%. ambientais genéricos (STRECK et al., 2008).
No caso dos Plintossolos, a drenagem moderada a
imperfeita representa uma limitação para uma série de Recursos hídricos subterrâneos
plantas anuais ou perenes. São solos ácidos, com baixa
saturação por bases, o que requer a aplicação de corretivos De acordo com Machado e Freitas (2005), os ter-
e adubos. Streck et al. (2008) recomendam que sejam pre- renos ocupados pelas dunas compreendem aquíferos
compostos por sedimentos inconsolidados com alta a
parados com menor intensidade e cultivados com plantas
média possibilidade para água subterrânea, com ca-
recuperadoras de solo.
pacidades específicas em geral altas, ultrapassando 4
Os Planossolos Háplicos são, geralmente, aptos para
m³/h/m, e salinidades inferiores a 400 mg/l. Segundo os
o cultivo de arroz irrigado, porém, com sistemas de irriga-
autores, eventualmente são encontradas águas cloreta-
ção eficientes, também podem ser cultivados com milho, das com maior teor salino e existe o risco de salinização
soja e pastagens. Os Planossolos Háplicos Eutróficos que na eventualidade de utilização da água para irrigação.
ocorrem nessa unidade podem ser solódicos e apresentar Áreas restritas ao sudeste e nordeste da cidade de Pelo-
alguma limitação pelos elevados teores de sódio, devido a tas são caracterizadas por apresentarem média a baixa
sua ascensão capilar, principalmente quando drenados e possibilidade para água subterrânea.
utilizados com culturas de sequeiro. A explotação da água pode ser realizada com baixos
Em terrenos da unidade DCEf, situados na Coxilha custos, por meio de ponteiras e de poços tubulares.
das Lombas, em Viamão, ocorrem Argissolos Vermelhos Os terrenos do domínio DCE são de grande impor-
Distróficos espessarênicos abruptos (STRECK et al., 2008). tância porque constituem área de recarga dos aquíferos
São solos profundos, com gradiente textural abrupto entre subjacentes.
o horizonte superficial arenoso e o subsuperficial argiloso,
bastante suscetíveis à erosão hídrica e com baixa fertilidade Recursos minerais
natural.
Esses terrenos apresentam potencial para ocorrência
Fontes poluidoras de areias industriais de uso especial e de uso na construção
civil. A presença de sais nas areias pode restringir a sua
As dunas móveis são constituídas por areias inconsoli- utilização sem lavagem anterior, motivo pelo qual se faz
dadas, muito permeáveis e possuem muito baixa capacidade necessária a prévia determinação dos teores de sais e de
de reter poluentes. Em consequência, apresentam muito carbonato de cálcio (Figura 11.14).
alta vulnerabilidade à contaminação dos recursos hídricos Também ocorrem importantes depósitos de ilmenita,
superficiais e subterrâneos. São classificados por Kämpf rutilo, magnetita, zircão, bem como de calcário conchífero
et al. (2008) como de muito baixa resistência a impactos para uso como insumo na agricultura, na construção civil
ambientais genéricos, com base em características e pro- e como suplemento alimentar para reposição de cálcio.
priedades dos solos e dos terrenos. São locais inadequados Esses últimos, embora tenham sido gerados em ambiente
para disposição de resíduos de qualquer natureza. de praia, foram recobertos pelas dunas.
158
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Figura 11.14 - Lavra de areia de uso na construção civil com alagamento da cava, devido à pequena profundidade
do nível freático (próximo à cidade de Osório).
Aspectos ambientais e potencial turístico Já para os terrenos que ocorrem na zona definida
como balneários pelo ZEE, as metas estabelecidas são: de-
As dunas móveis são fundamentais para o desenvol- senvolvimento da ocupação urbana adequada às condições
vimento da morfologia costeira e constituem a principal naturais e incentivo às atividades de veranismo, turismo,
defesa da praia durante as ressacas, motivo pelo qual de- lazer e recreação. As diretrizes de uso dos recursos naturais
vem ser preservadas. As dunas costeiras que se encontram são: (i) proteção das dunas, preservando ou recuperando
fixadas pela vegetação podem sofrer remobilização pelos as dunas frontais por meio de planos de manejo; (ii) ma-
ventos, caso seja suprimida a cobertura vegetal, motivo nutenção da biodiversidade, por meio de manutenção da
pelo qual também devem ser preservadas. mata nativa, proibição do tráfego de caminhões e veículos
Os terrenos da unidade DCEm foram classificados pesados na faixa de praia, não-permissão da agropecuária
pelo Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Litoral sobre dunas vegetadas e preservação das dunas interiores
Norte, de acordo com Laydner e Bered (2000), como de importância paisagística; (iii) manutenção da qualidade
zonas de dunas e balneários. Para as dunas que ocorrem e quantidade dos recursos hídricos, sendo necessário ga-
em uma grande área entre Tramandaí e Cidreira e em rantir a infiltração das águas pluviais vinculada aos índices
uma área menor, a sul de Torres, as metas definidas pelo de ocupação do solo urbano e não permitir o lançamento
ZEE são: manutenção das características dos ecossiste- de esgoto na faixa de praia. As restrições de uso definidas
mas, garantindo a preservação dos recursos genéticos para essa zona são: não permitir aterros sanitários e não
e da paisagem típica; incentivo às atividades de lazer, permitir edificações na faixa de 60 m contados da praia
recreação e ecoturismo. Para alcance dessas metas, fo- para o interior, a partir da base da primeira duna frontal
ram definidas diretrizes de uso dos recursos naturais: (i) junto à praia. As potencialidades identificadas para essa
proteção das dunas, preservando aquelas remanescentes zona são: ocupação urbana, lazer, recreação, turismo e
e os corredores de alimentação; (ii) manutenção da qua- veranismo.
lidade e quantidade dos recursos hídricos, garantindo
o padrão de drenagem natural, limitando a extração DOMÍNIO DAS COBERTURAS SEDIMENTARES
de água para irrigação, restringindo o lançamento de E VULCANOSSEDIMENTARES MESOZOICAS E
efluentes no sistema lagunar e na faixa de praia, restrin- PALEOZOICAS, POUCO A MODERADAMENTE
gindo obras que alterem a hidrodinâmica ou o balanço CONSOLIDADAS, ASSOCIADAS A GRANDES
de sedimentos e restringindo alterações que venham a E PROFUNDAS BACIAS SEDIMENTARES DO
provocar a salinização do lençol freático, das lagoas e TIPO SINÉCLISE (DSVMP)
corpos hídricos superficiais; (iii) manutenção da biodi-
versidade. Com relação a usos específicos, as diretrizes Esse domínio compreende as rochas sedimentares
não vão permitir a mineração e a disposição de resíduos depositadas em ambientes glacial, continental, marinho
sólidos, assim como vão restringir a agropecuária, que e desértico, desde o Permiano, cerca de 270 milhões
se deve adequar aos requisitos de conservação e suporte de anos, até o Cretáceo, cerca de 100 milhões de anos,
do ambiente. As potencialidades identificadas para a em uma grande bacia sedimentar denominada Bacia do
zona das dunas são: exploração dos valores paisagísti- Paraná.
cos, conservação natural, lazer, recreação e ecoturismo Em função das características texturais e dos ambientes
e criação de animais nativos. deposicionais das rochas, esse domínio, no estado do Rio
159
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Grande do Sul, foi subdividido em oito unidades geológico- Predomínio de Sedimentos Arenosos
-ambientais: Predomínio de Sedimentos Arenosos Malse- Malselecionados (DSVMPa)
lecionados (DSVMPa); Predomínio de Espessos Pacotes de
Arenitos de Deposição Eólica (DSVMPae); Predomínio de Essa unidade geológico-ambiental corresponde às
Espessos Pacotes de Arenitos de Deposição Mista (Eólica e unidades geológicas Formação Sanga do Cabral e Forma-
Fluvial) (DSVMPaef); Intercalações de Sedimentos Arenosos, ção Caturrita (WILDNER et al., 2008). São arenitos finos,
Sílltico-Argilosos e Folhelhos (DSVMPasaf); Predomínio de conglomerados e arenitos médios a grossos, associados a
Sedimentos Síltico-Argilosos com Intercalações Arenosas canais fluviais, e lutitos vermelhos, laminados, associados a
(DSVMPsaa); Predomínio de Sedimentos Síltico-Argilosos corpos lacustres. A Formação Caturrita apresenta conteúdo
e Arenosos Contendo Camadas de Carvão (DSVMPsaacv); fossilífero constituído por tetrápode, escamas de peixes e
Intercalações de Paraconglomerados (Tilitos) e Folhelhos fragmentos vegetais, dentre os quais troncos silicificados
(DSVMPcgf); Predomínio de Sedimentos Síltico-Argilosos de coníferas (ZERFASS, 2007).
Intercalados de Folhelhos Betuminosos e Calcários (DS- As formas de relevo são resultantes da degradação
VMPsabc). dessas rochas e são definidas como: Tabuleiros, Colinas
Essas unidades ocorrem em uma grande superfície Amplas e Suaves, Colinas Dissecadas e Morros Baixos,
que se prolonga como uma faixa com direção leste-oeste Morros e Serras Baixas.
e que forma um arco em direção a sudoeste, denominada Os Tabuleiros são formas de relevo suavemente disse-
Depressão Periférica (Figura 11.15). cadas, apresentando topo plano e vertentes com inclinação
Figura 11.15 - Área de ocorrência das unidades geológico-ambientais do domínio das coberturas sedimentares e
vulcanossedimentares mesozoicas e paleozóicas, pouco a moderadamente consolidadas, associadas a grandes e profundas bacias
sedimentares do tipo sinéclise no estado do Rio Grande do Sul.
160
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
entre 0 e 3°; localmente, ressaltam-se vertentes acentuadas topos, aguçados ou levemente arredondados, formam
com inclinações entre 10o e 25o. A amplitude de relevo varia cristas alinhadas, enquanto nos Degraus Estruturais e
de 20 a 50 m. Rebordos Erosivos os topos são levemente arredondados.
As Colinas Amplas e Suaves compreendem colinas Nas duas formas de relevo, as vertentes são predomi-
pouco dissecadas, com vertentes convexas e topos amplos, nantemente retilíneas a côncavas, diferenciando-se pelas
de morfologia tabular ou alongada, com formação de ram- declividades – mais baixas nos Degraus Estruturais e
pas de colúvios nas baixas vertentes. A amplitude de relevo Rebordos Erosivos. Em ambos os relevos ocorre sedimen-
varia de 20 a 50 m e a inclinação das vertentes situa-se no tação de colúvios e depósitos de tálus nas porções mais
intervalo entre 3o e 10o. baixas das vertentes. A amplitude de relevo das escarpas
As Colinas Dissecadas possuem vertentes convexo- é superior a 300 m, a inclinação das vertentes varia de
-côncavas e topos arredondados ou aguçados, com geração 25º a 45º e ocorrem paredões rochosos subverticais com
de rampas de colúvios nas baixas vertentes. A amplitude de declividades entre 60º e 90º. Os Degraus Estruturais e
relevo varia de 30 a 80 m e as vertentes possuem inclinação Rebordos Erosivos apresentam desníveis entre 50 a 200
entre 5o e 20o. m e as vertentes possuem declividades entre 10º e 25º,
No relevo em Morros e Serras Baixas, as vertentes são embora possam ocorrer vertentes muito declivosas, com
convexo-côncavas, dissecadas e os topos são arredondados mais de 45º.
ou aguçados. Nas baixas vertentes, ocorre a geração de
colúvios e, subordinadamente, depósitos de tálus. A am- Predomínio de Espessos Pacotes de Arenitos
plitude de relevo varia de 80 a 200 m, podendo apresentar de Deposição Mista – Eólica e Fluvial
desnivelamentos de até 300 m; as vertentes apresentam (DVSMPaef)
inclinação entre 15o e 35o.
A unidade geológico-ambiental corresponde às uni-
Predomínio de Espessos Pacotes de Arenitos dades geológicas Formação Guará e Formação Piramboia
de Deposição Eólica (DSVMPae) (WILDNER et al., 2008).
A Formação Guará compreende, predominantemente,
Essa unidade geológico-ambiental corresponde à uni- arenitos finos a conglomeráticos, com cores esbranquiçadas
dade geológica Formação Botucatu (WILDNER et al., 2008). a avermelhadas, intercalados ocasionalmente com níveis
São arenitos finos a grossos, de coloração avermelhada, com centimétricos de pelitos, contendo pegadas de dinossau-
grãos bem arredondados e alta esfericidade, gerados em ros. São depósitos fluviais, eólicos e lacustres gerados em
ambiente continental desértico; correspondem a depósitos ambiente continental desértico.
de dunas eólicas. A Formação Piramboia compreende arenitos finos a
As formas de relevo nas quais ocorrem os arenitos médios, com geometria lenticular bem desenvolvida, depo-
gerados por deposição eólica são denominadas Superfícies sitados em ambiente continental eólico, com intercalações
Aplainadas Degradadas, Inselbergs e Morros-Testemunhos, fluviais.
Colinas Amplas e Suaves, Colinas Dissecadas e Morros As formas de relevo onde ocorrem os arenitos de
Baixos, Morros e Serras Baixas, Escarpas Serranas, Degraus deposição mista são: Colinas Amplas e Suaves, Colinas
Estruturais e Rebordos Erosivos. Dissecadas e Morros Baixos, Morros e Serras Baixas. Es-
As Superfícies Aplainadas Degradadas, os Inselbergs e ses últimos compreendem relevo de degradação que se
Morros-Testemunhos são feições de relevo de aplainamen- caracteriza pelas formas arredondadas e se diferenciam
to. As Superfícies Aplainadas Degradadas são suavemente pelo crescente grau de dissecação. Em todas essas formas
onduladas, com amplitudes de relevo muito baixas, que de relevo é comum a geração de rampas de colúvios nas
variam de 10 a 30 m, e longas rampas de muito baixa baixas vertentes.
declividade, entre 0º e 5º. Os Inselbergs e Morros-Testemu-
Intercalações de Sedimentos Arenosos,
nhos constituem relevos residuais isolados, destacados na
Sílltico-Argilosos e Folhelhos (DSVMPasaf)
paisagem aplainada, remanescentes do arrasamento geral
dos terrenos. A amplitude de relevo varia de 50 a 500 m Essa unidade geológico-ambiental corresponde à For-
e as vertentes possuem inclinação entre 25º e 45º. Podem mação Rio do Rasto (WILDNER et al., 2008). É constituída
ocorrer paredões rochosos subverticais, onde as declividades por pelitos e arenitos, siltitos verdes ou avermelhados e
variam de 60º a 90º. arenitos finos, arroxeados, róseos a esbranquiçados, gera-
As formas do tipo Colinas Amplas e Suaves, Colinas dos em ambiente transicional deltaico, lacustre, eólico e,
Dissecadas e Morros Baixos e Morros e Serras Baixas já raramente, fluvial. Predominam os sedimentos de textura
foram descritas. fina, principalmente siltitos, seguidos por argilitos sílticos.
As Escarpas Serranas são características de um re- Esses sedimentos ocorrem em formas de relevo defi-
levo montanhoso, muito acidentado, ao passo que os nidas como Tabuleiros, Colinas Amplas e Suaves, Colinas
Degraus Estruturais e Rebordos Erosivos são característi- Dissecadas e Morros Baixos, e Morros e Serras Baixas, já
cos de um relevo acidentado. Nas Escarpas Serranas, os descritas em unidades anteriores.
161
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
162
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
163
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
argilas à maior incidência de problemas de fundações Vermelho-Amarelos Distróficos húmbricos. São profundos,
refletidos em rachadura de paredes. Segundo os autores, com gradiente textural abrupto e lençol freático suspenso,
esses terrenos necessitam de reforços próprios para solos no caso dos primeiros, e com textura arenosa/argilosa, bem
expansivos e comentam que casas com vigas sobre as drenados e com gradiente textural nos demais. Nessas
fundações não apresentam rachaduras. Os terrenos da formas de relevo, as declividades muito baixas facilitam
unidade DSVMPsaa, mesmo em relevo suave em forma de o manejo do solo.
Colinas Amplas e Suaves, apresentam rastejos e pequenos Em relevo de Colinas Dissecadas e Morros Baixos, ocor-
escorregamentos com rupturas circulares nas cabeceiras rem Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos. São solos
dos corpos de água. Também apresentam erosão em argilosos, com pouco gradiente textural, muito profundos e
sulcos e voçorocas. bem drenados, mas com baixa fertilidade natural. Em relevo
Os solos das unidades DSVMPsaacv, DSVMPsaa, DSVM- de Morros e Serras Baixas, ocorrem Argissolos Bruno-Acin-
Pasaf e DSVMPsabc também podem conter argilominerais zentados Alíticos abruptos e Argissolos Vermelho-Amarelos
expansivos, principalmente nos terrenos situados na região Distróficos. De forma geral, os solos desenvolvidos sobre
sudoeste do estado, desde São Gabriel até Dom Pedrito e esses arenitos, especialmente aqueles com gradiente tex-
Bagé. São solos impróprios para aterros e fundações, com tural abrupto, apresentam elevada suscetibilidade à erosão
alta compressibilidade e de fácil escavabilidade (SALOMÃO (STRECK et al., 2008).
e ANTUNES, 1998). São muito suscetíveis à erosão quando Em terrenos ocupados pelos arenitos eólicos da uni-
em taludes de corte, provocando desestabilização. Além dade DSVMPae, os solos possuem baixa fertilidade natural
disso, a exposição em taludes de corte de escavações de e baixa capacidade hídrica. Apresentam, em geral, baixa
materiais de comportamentos geomecânico e hidráulico capacidade de reter e fixar nutrientes e de assimilar matéria
muito contrastantes pode resultar em surgências de água. orgânica. Em relevo muito suave, em forma de Colinas Am-
Os terrenos referentes à unidade DSVMPcgf são consti- plas e Suaves, predominam Argissolos Vermelho-Amarelos
tuídos por um empilhamento de camadas horizontalizadas Distróficos (STRECK et al., 2008).
de conglomerados, arenitos e siltitos com características Já nos relevos praticamente planos das Superfícies
geomecânicas e hidráulicas bastante diferentes. Esses ma- Aplainadas Degradadas, no extremo oeste do estado, onde
teriais apresentam, em geral, boa capacidade de suporte a pluviosidade é mais baixa, ocorrem Neossolos Regolíticos
para obras de pequeno a médio porte, necessitando, porém, Húmicos lépticos ou típicos.
de tratamento para fundações de obras de grande porte. Nos terrenos situados a oeste de Santiago, nessa
Os arenitos e folhelhos são rochas brandas, razoavel- mesma situação geomorfológica, em região de maior
mente duras, fáceis de serem britadas, cujos fragmentos pluviosidade e com maior desnível em relação ao nível de
se separam ao longo de diversas fissuras (REDAELLI e CE- base, relativamente à anterior, desenvolvem-se Nitossolos
RELLO, 1998). Vermelhos Eutroférricos típicos. São solos profundos,
Os taludes de corte estão sujeitos a instabilidades de- argilosos, bem drenados e bem estruturados, com boa
vido à presença de areias friáveis e de siltitos que, quando aptidão agrícola.
alterados, desprendem-se em placas. Nos conglomerados, Em relevo de Degraus Estruturais e Rebordos Erosivos,
a presença de fragmentos de rochas mais duras, como ocorrem solos das classes Argissolos Vermelho-Amarelos
granito, gnaisse e mesmo de quartzo, dificulta a perfuração Distróficos e, nas porções mais declivosas, Neossolos Re-
com sondas rotativas e provoca desgaste das brocas. golíticos Húmicos lépticos ou típicos.
Na unidade geológico-ambiental DSVMPsabc, existe a No oeste do estado, em relevo de Colinas Dissecadas e
possibilidade de dissolução dos níveis carbonáticos, o que Morros Baixos, ocorrem Neossolos Quartzarênicos Órticos
pode resultar em recalques de estruturas. típicos e Latossolos Vermelhos Distróficos. São solos muito
arenosos, com coesão entre partículas fraca ou inexistente e
Agricultura baixa fertilidade natural, o que favorece o desenvolvimento
de uma vegetação de campo rala e esparsa. Esses terrenos
Na unidade DSVMPa, onde predomina o relevo de constituem ambientes muito frágeis, altamente suscetíveis
Colinas Amplas e Suaves, predominam Argissolos Bruno- à erosão hídrica e eólica e a processos de arenização, razão
-Acinzentados Alíticos abruptos, Argissolos Vermelho- pela qual devem ser manejados com cautela.
-Amarelos Distróficos e Argissolos Amarelos Alíticos típicos Na região centro-leste do estado, nessa mesma situa-
(STRECK et al., 2008). ção de relevo, predominam Argissolos Bruno-Acinzentados
Esses solos se caracterizam pela acumulação de Alíticos abruptos. Esses solos também ocorrem no relevo de
argila no horizonte subsuperficial, sendo que, no caso Escarpas Serranas, juntamente com Neossolos Regolíticos
dos primeiros, esse incremento é maior. São solos bem Húmicos lépticos ou típicos e com Luvissolos Crômicos Páli-
desenvolvidos, profundos, com drenagem moderada e cos saprolíticos. Esses últimos são rasos a pouco profundos
suscetibilidade à erosão moderada a alta. Mais localmen- e estão comumente associados a afloramentos de rocha.
te, em relevo de Tabuleiros, desenvolvem-se Argissolos Nos arenitos resultantes de deposição mista da unida-
Vermelho-Amarelos Eutróficos abruptos e Argissolos de DSVMPaef, em relevo de Colinas Amplas e Suaves, pre-
164
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
dominam os Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos. São uma vez que os solos são argilosos, muito profundos e
solos argilosos, profundos, com pouco gradiente textural, bem drenados. Nas formas de relevo mais declivosas, de
bem drenados e com baixa fertilidade natural. Morros e Serras Baixas, ocorrem solos com baixa e média
Em relevo de Colinas Dissecadas e Morros Baixos, resistência a impactos ambientais decorrentes da disposi-
predominam Argissolos Bruno-Acinzentados Alíticos ção de rejeitos.
abruptos, com textura arenosa em superfície e argilosa em Os solos da unidade DSVMPae possuem, em geral,
subsuperfície, de tal forma que se caracteriza gradiente tex- baixa capacidade de reter e fixar poluentes. Segundo me-
tural abrupto. Nos relevos mais acidentados, que ocorrem todologia proposta por Kämpf et al. (2008), apresentam,
associados a essas rochas, em forma de Morros e Serras predominantemente, baixa a média resistência a impactos
Baixas, ocorrem Neossolos Quartzarênicos Órticos típicos ambientais decorrentes da disposição de resíduos.
e Latossolos Vermelhos Distróficos de textura média. São Os solos que ocorrem na unidade DSVMPaef, em relevo
áreas altamente suscetíveis à erosão hídrica e eólica e à de Colinas Amplas e Suaves, apresentam, segundo classi-
processos de arenização. ficação de Kämpf et al. (2008), alta resistência a impactos
Nas unidades geológico-ambientais com grande ambientais decorrentes da disposição de resíduos, pois
quantidade de sedimentos síltico-argilosos (DSVMPasaf, são argilosos, profundos, com pouco gradiente textural e
DSVMPsaa e DSVMPsabc), os solos são bastante argilosos bem drenados. Em relevo de Colinas Dissecadas e Morros
e, portanto, aderentes e escorregadios quando molhados. Baixos, os solos predominantes apresentam baixa resistência
Por esse motivo, o preparo do solo é dificultado nos pe- a impactos, já que são arenosos em superfície, gradiente
ríodos úmidos. Na região leste até a cidade de Cachoeira textural abrupto e lençol freático suspenso. Nos relevos de
do Sul, predominam nesses terrenos Argissolos Vermelho- Morros e Serras Baixas, os solos são mais arenosos, alta-
-Amarelos Distróficos e Argissolos Bruno-Acinzentados mente suscetíveis à erosão hídrica e eólica e a processos
Alíticos abruptos (STRECK et al., 2008). Os primeiros são de arenização. São classificados por Kämpf et al. (2008)
argilosos, muito profundos, bem drenados e com pouco como de muito baixa resistência a impactos resultantes da
gradiente textural. Já os segundos apresentam gradiente disposição de resíduos.
textural abrupto e drenagem moderada a imperfeita, o As unidades geológico-ambientais com grande
que pode ser prejudicial ao desenvolvimento das plantas, quantidade de sedimentos síltico-argilosos (DSVMPasaf,
já que se mantêm saturados com água em determinados DSVMPsaa e DSVMPsabc) compreendem terrenos com
períodos do ano. alta capacidade de reter e fixar poluentes devido à grande
A oeste dessa cidade e a sul do rio Jacuí, já nas bacias quantidade de argilas. Os solos da unidade DSVMPsabc
de contribuição para o rio Uruguai, em terrenos da unidade também apresentam grande conteúdo de carbono, que
DSVMPsaa são encontrados Argissolos Amarelos Alíticos possui elevada capacidade de troca catiônica. No entanto,
típicos. Já em terrenos das unidades DSVMPasaf e DSVMP- podem apresentar argilominerais expansivos, especialmen-
sabc ocorrem Chernossolos Argilúvicos Órticos vertissólicos te na região sudoeste do estado. Por essa razão e devido
e Planossolos Háplicos Eutróficos vertissólicos. Essas duas à existência de lençol freático suspenso e à drenagem
últimas classes de solos contêm argilominerais expansivos. imperfeita, são classificados por Kämpf et al. (2008) como
São solos bastante argilosos, quimicamente mais férteis e de de baixa resistência a impactos ambientais.
mais difícil manejo, pois se tornam aderentes e escorrega- A presença de sulfetos nos sedimentos que compõem
dios quando molhados. Apresentam drenagem imperfeita a unidade DSVMPsaacv pode tornar o ambiente corrosivo
e permeabilidade muito baixa. e danificar tubulações enterradas e provocar o vazamento
Nos terrenos da unidade DSVMPsaacv ocorrem, predo- de eventuais contaminantes.
minantemente, Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos
húmbricos, além de Argissolos Amarelos Alíticos típicos Recursos hídricos subterrâneos
na região centro-leste do estado e Planossolos Háplicos
Eutróficos vertissólicos e Chernossolos Argilúvicos Órticos No domínio DSVMP está inserido o Sistema Aquífero
vertissólicos mais restritamente na região sudoeste do es- Guarani (SAG), um importante reservatório de água subter-
tado (STRECK et al., 2008). rânea que se estende pelos territórios do Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai. Integram esse sistema rochas das uni-
Fontes poluidoras dades DSVMPa, DSVMPae, DSVMPaef e DSVMPsaa. O SAG
é abordado por Machado e Freitas (2005) de duas formas
Os terrenos constituídos por arenitos malselecionados distintas: a que considera a área aflorante e a que trata da
(DSVMPa), em relevo de Tabuleiros e de Colinas Amplas e área confinada.
Suaves, apresentam baixa a média resistência a impactos A área aflorante ocorre na Depressão Central, esten-
ambientais decorrentes da disposição de resíduos, uma dendo-se desde a região central do estado, como uma faixa
vez que os solos apresentam gradiente textural abrupto e com direção leste-oeste, até a região sudoeste. É constituída
lençol freático suspenso (STRECK et al., 2008). Já no relevo por rochas com características granulométricas muito dis-
de Colinas Dissecadas e Morros Baixos, a resistência é alta, tintas que são agrupadas em unidades hidroestratigráficas.
165
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Destas, a mais importante é a Guará, que está inserida na duras, com grande quantidade de sais de cálcio e magnésio
unidade geológico-ambiental DSVMPaef. É onde ocorrem (MACHADO e FREITAS, 2005).
as maiores capacidades específicas e as águas apresentam Os terrenos da unidade DSVMPsaacv configuram
baixos valores de salinidade. aquíferos com média a baixa possibilidade para água subter-
A maior parte da área de ocorrência do SAG no estado rânea (MACHADO e FREITAS, 2005). As capacidades especí-
está confinada pelas rochas vulcânicas da Formação Serra ficas são, em média, inferiores a 0,5 m³/h/m e as salinidades
Geral, agrupadas no domínio DVM. Dentre as unidades variam entre 800 e 1.500 mg/l, podendo alcançar 2.500
hidroestratigráficas, a Botucatu, que corresponde à unidade mg/l. As águas são potáveis e com possibilidades para uso
geológico-ambiental DSVMPae, é aquela que apresenta em irrigação. Quando explotadas de profundidades mais
maior distribuição na área confinada e também constitui elevadas, as águas são salinas e apresentam sólidos totais
o principal aquífero captado pelos poços profundos, onde dissolvidos superiores a 10.000 mg/l.
podem ser obtidas vazões superiores a 500 m³/h. A qualida- A unidade DSVMPcgf apresenta limitado potencial
de de suas águas, no entanto, é variável. Na fronteira oeste para água subterrânea devido à grande heterogeneidade
e na região leste do estado, as águas apresentam menos textural dos pacotes e à cimentação dos níveis mais gros-
de 400 mg/l de sais, enquanto os valores de salinidade são seiros.
em geral superiores aos padrões de potabilidade na porção
norte do planalto meridional. Recursos minerais
A unidade geológico-ambiental DSVMPa corresponde,
predominantemente, a aquíferos com média a baixa pos- As unidades compostas dominantemente por arenitos
sibilidade para água subterrânea (MACHADO e FREITAS, (DSVMPa, DSVMPae e DSVMPaef) apresentam potencial
2005). As capacidades específicas dos poços são muito para aproveitamento da rocha como pedra de revestimen-
variáveis, em geral entre 0,5 a 1,5 m³/h/m. Predominam to, pedra de talhe para alicerces, tijoletas, lajes, lajotas e
águas bicarbonatadas. A salinidade varia de 100 mg/l, nas guias de meio-fio de emprego na construção de moradias,
áreas aflorantes, a mais de 300 mg/l, nas confinadas, em- muros e revestimento de calçadas (Figura 11.18). A rocha
bora possa alcançar valores entre 3.000 e 5.000 na região mais friável e o respectivo manto de alteração também
central do estado, inviabilizando seu uso no abastecimento podem ter emprego na construção civil como areia. O solo
público e na irrigação. residual dessas unidades pode ser utilizado como material
Os arenitos eólicos da unidade DSVMPae, em relevo de empréstimo. Localmente, onde os arenitos eólicos (DS-
de Morros-Testemunhos e nas encostas da escarpa da Serra VMPae) são mais silicificados, podem ser utilizados para
Geral, apresentam situação topoestrutural desfavorável ao produção de brita.
armazenamento de água subterrânea. Os poços nessas Os solos residuais dos arenitos malselecionados da
regiões são em geral secos. unidade DSVMPa e os terrenos das unidades DSVMPasaf e
As unidades DSVMPae e DSVMPaef, na região oeste do DSVMPsaa também apresentam potencial para explotação
estado, configuram aquífero com alta a média possibilidade
para água subterrânea (MACHADO e FREITAS,
2005). As capacidades específicas variam de 1
a 3 m³/h/m, nas áreas aflorantes, e de 4 a 10
m³/h/m nas confinadas. As águas são bicarbo-
natadas e os sólidos dissolvidos totais podem
alcançar 250 mg/l nas áreas aflorantes e até
400 mg/l nas áreas confinadas.
Já nas regiões leste e central do estado,
configuram aquíferos com média a baixa pos-
sibilidade para água subterrânea, cujas capaci-
dades específicas variam de 0,5 a 1,5 m³/h/m.
A salinidade da água pode alcançar 3.000 mg/l
na região central do estado, inviabilizando seu
uso no abastecimento público e na irrigação.
As unidades geológico-ambientais com
grande quantidade de sedimentos síltico-argi-
losos (DSVMPasaf, DSVMPsaa e DSVMPsabc)
compreendem aquíferos com baixa possibilida-
de para água subterrânea. Os poços produzem
vazões muito baixas ou são improdutivos,
resultando em vazões específicas geralmente Figura 11.18 - Lavra de arenito para pedra de talhe para alicerces (unidade
inferiores a 0,1 m³/h/m. As águas podem ser DSVMPae, próximo à rodovia RS 481, Santa Cruz do Sul).
166
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
de argila para cerâmica vermelha e material de empréstimo tam carvão não-coqueificável ou energético. A jazida de
(Figura 11.19). Candiota é a maior do país, com cerca de 40% dos recursos
A unidade DSVMPsaacv hospeda extensos e impor- totais conhecidos. É explorada pela Companhia Riograndense
tantes jazimentos de carvão mineral, que correspondem de Mineração (CRM) e o carvão é utilizado para geração de
à maior parte dos que ocorrem no Brasil. Sete dentre as energia na Usina Termelétrica de Candiota (Figura 11.20).
oito mais importantes jazidas de carvão do país se encon- Entre as camadas de carvão da unidade DSVMPsaacv ocor-
tram no estado: Santa Terezinha, Morungava-Chico Lomã, rem depósitos de argilas com aplicação na indústria cerâmica,
Charqueadas, Leão, Iruí, Capané e Candiota. inclusive como material refratário. Nessa unidade registra-se,
As características físico-químicas dos carvões nessas ainda, ocorrência de depósito de caulim associado à alteração
jazidas, dadas pelo rank ou grau de evolução, variam de das rochas. Além destes, constata-se também potencial para
sudoeste, onde se situa a jazida de Candiota e cujo carvão é ocorrência de depósitos de areia de uso na construção civil.
caracterizado como betuminoso de alto volátil C, para nor- Na unidade DSVMPcgf há potencial mineral para
deste, onde se localiza a jazida Santa Terezinha, com carvão argila de utilização na indústria cerâmica e para usos es-
betuminoso de alto volátil A (RAMGRAB et al., 2000). Essa peciais, como material refratário, e jazimentos de caulim.
última e a jazida Morungava-Chico Lomã se diferenciam por A unidade DSVMPsabc, além dos depósitos de argila
apresentarem carvão metalúrgico, isto é, com propriedades para uso na indústria cerâmica, contém calcários com po-
coqueificantes (GOMES, 2002). As demais jazidas apresen- tencial para utilização como corretivos de solo. O ambiente
geológico no qual se formou essa unidade é
favorável à ocorrência de jazimentos de hidro-
carbonetos.
As unidades geológico-ambientais do
domínio DSVMP apresentam potencial turís-
tico do ponto de vista geológico relacionado,
principalmente, à beleza cênica das paisagens
e ao conteúdo fossilífero das rochas.
Os terrenos da unidade DSVMPae apre-
sentam belas paisagens, formadas por relevos
escarpados e residuais que abrigam, ocasio-
nalmente, cavernas e furnas esculpidas nos
arenitos eólicos (Figura 11.21).
Diversas são as unidades geológico-
Figura 11.19 - Local de retirada de material de empréstimo, em terreno da -ambientais que apresentam potencial turístico
unidade DSVMPsaa (rodovia RS-287, entre Vera Cruz e Santa Cruz do Sul).
associado à existência de sítios paleontológicos:
Unidade DSVMPa: abriga as “florestas pe-
trificadas“ da região central do estado, com as
principais ocorrências nos municípios de Mata
e São Pedro do Sul.
Unidade DSVMPaef: registros de pega-
das de dinossauros (saurópodes, terópodes e
ornitópodes), de fragmentos de ossos de te-
trápodes e de tocas (crotovinas) de mamíferos
em paleodunas.
Unidade DSVMPsaa: fósseis de répteis,
anfíbios, peixes, plantas, insetos, além de
icnofósseis (pegadas de répteis e tubos de
invertebrados).
Unidade DSVMPsabc: sítios com fósseis
de répteis, restos de vegetais, de peixes e de
crustáceos.
Com o objetivo de preservação dos sítios
paleontológicos, vários deles foram cadastra-
Figura 11.20 - Mineração de carvão a céu aberto (mina de Candiota). dos pela Comissão Brasileira de Sítios Geoló-
167
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
gicos e Paleobiológicos (SIGEP), a partir de propostas de Existem, ainda, outros sítios passíveis de serem sub-
geocientistas. Para integrar esse banco de dados, os sítios metidos à SIGEP. É o caso do Passo do São Borja, um aflo-
devem prestar-se ao fomento da pesquisa científica básica e ramento de calcários e folhelhos da unidade DSVMPsabc,
aplicada, à difusão do conhecimento nas áreas das Ciências nas margens e no leito do rio Santa Maria, contendo fósseis
da Terra, ao fortalecimento da consciência conservacionista, do réptil Mesosaurus brasiliensis (Figuras 11.23 e 11.24).
ao estímulo a atividades educacionais, recreativas ou turísti- Na região da Quarta Colônia, o grande número de sítios
cas, sempre em prol da participação e do desenvolvimento paleontológicos, aliado ao interesse de preservação por parte
socioeconômico das comunidades locais. das administrações municipais e instituições de pesquisa, con-
Dentre os sítios cadastrados pelo SIGEP, no contexto
duziu ao processo de proposição de uma área para integrar a
do domínio DSVMP, estão os sítios Morro do Papaléo (em
rede de geoparques da Organização das Nações Unidas para
Mariana Pimentel), Tetrápodes Triássicos do Rio Grande do
Sul (em Mata e São Pedro do Sul) (Figura 11.22) e Passo das a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). A área proposta
Tropas (em Santa Maria). Além destes, outros se encontram para o Geoparque Quarta Colônia compreende os municípios
em análise pelo SIGEP. de Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova
Figura 11.21 - Gruta do Índio (Parque da Gruta, Santa Cruz do Sul). Figura 11.22 - Troncos fósseis que ocorrem na unidade DSVMPa
(Jardim Paleontológico de Mata).
Figura 11.23 - Sítio paleontológico do Passo do São Borja (São Gabriel, RS).
168
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Nota: Os areais identificados nessa figura foram compilados de Suertegaray et al. (2001) e consistidos, com inclusão de novas áreas e exclusão
de outras já recuperadas, a partir de análise de imagens de satélite do Google Earth®, datadas de outubro de 2009. Para realçamento na escala
de apresentação deste trabalho, foram acrescidos 200 m ao redor dos areais.
169
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 11.27 - Areais em terrenos das formações Botucatu e Guará, ao longo da rodovia BR-293
(entre Santana do Livramento e Quaraí).
fixação da cobertura vegetal, devido à intensa mobilização como é o caso do “Muro de Manoel Viana” proposto pelo
dos sedimentos pela ação da água e dos ventos. Logo, autor, provocam uma mudança no nível-base da erosão e
refere-se à degradação do solo em função de abundância a retomada dos fenômenos erosivos e consequente areni-
de água, diferentemente do que acontece em processos zação em terrenos antes estabilizados.
de desertificação em áreas áridas e semiáridas, em que o Os solos nessa região são Neossolos Quartzarênicos
papel das baixas precipitações, aliado à ação do homem, Órticos típicos e Latossolos Vermelhos Distróficos (STRECK
é determinante. et al., 2008). São solos muito arenosos, com coesão entre
De acordo com Suertegaray et al. (2001), o processo de
formação dos areais tem início com a atuação dos processos
de erosão sobre material friável, não-coesivo, em rampas
na base de morros-testemunhos e em relevo na forma de
colinas, resultando em ravinas e voçorocas (Figura 11.26).
O processo tem continuidade por erosão lateral com
o transporte de sedimentos pela água em chuvas torren-
ciais. Com o alargamento das porções distais das ravinas
e voçorocas, ocorre a formação de depósitos arenosos em
forma de leques. Com o tempo, a coalescência de leques
culmina com a formação de um areal. A atuação do vento
sobre essas areias amplia o processo (Figuras 11.27 e 11.28).
A gênese dos intensos fenômenos erosivos associa-
dos às arenizações que ocorrem no sudoeste do estado é
interpretada por Trainini (2005) como um fenômeno na-
tural resultante da neotectônica, por meio de alçamentos
estruturais de blocos que ocorreram desde o Terciário até o Figura 11.28 - Aspecto de areal próximo à estrada entre São
recente, balizados por linhas de fraqueza. Esses alçamentos, Francisco de Assis e Manoel Viana.
170
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
171
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Os terrenos ocupados pelos basaltos e andesitos apre- inclinações das vertentes se situam entre 0 e 5o, formando
sentam grande variedade de formas de relevo resultantes de longas rampas de muito baixa declividade.
sua evolução geomorfológica: Planaltos, Chapadas e Platôs, Os Inselbergs e Morros-Testemunhos são relevos
Superfícies Aplainadas Conservadas, Superfícies Aplainadas residuais isolados, destacados na paisagem aplainada,
Degradadas, Inselbergs e Morros-Testemunhos, Colinas Am- remanescentes do arrasamento geral dos terrenos. A
plas e Suaves, Colinas Dissecadas e Morros Baixos, Morros amplitude de relevo varia de 50 a 500 m e a inclinação
e Serras Baixas, Escarpas Serranas, Degraus Estruturais e das vertentes, de 25 a 45o, com ocorrência de paredões
Rebordos Erosivos e Vales Encaixados. rochosos subverticais.
Os Planaltos constituem um tipo de relevo de degra- As Colinas Amplas e Suaves ocorrem, localmente, na
dação que consiste em superfícies mais elevadas que os região entre Cachoeira do Sul e Butiá; na região sul, próximo
terrenos adjacentes, pouco dissecadas em formas tabulares a Jaguarão. São colinas pouco dissecadas, com vertentes
ou colinas muito amplas. A amplitude de relevo varia de 20 convexas e topos amplos. Nas baixas vertentes, é comum
a 50 m e as vertentes possuem topo plano a suavemente a geração de rampas de colúvios. As colinas – ou coxilhas,
ondulado, com inclinações entre 2o e 5o, excetuando-se os como são regionalmente chamadas – apresentam amplitude
eixos dos vales fluviais (Figura 11.30). de relevo variando de 20 a 50 m e vertentes com inclinação
Os terrenos com relevo do tipo Chapadas e Platôs ocor- entre 3 e 10o.
rem de forma muito restrita na região nordeste do estado, As Colinas Dissecadas e Morros Baixos, nessa unidade,
próximo à cidade de Vacaria. São superfícies tabulares ou ocorrem nas regiões norte-noroeste e oeste do estado.
planas, não ou pouco dissecadas. A amplitude de relevo Representam um estágio mais avançado de degradação e
é menor que nos Planaltos, entre 0 e 20 m. As vertentes apresentam vertentes convexo-côncavas e topos arredon-
possuem inclinação entre 0 e 5°. dados ou aguçados. Também é muito comum a geração de
As Superfícies Aplainadas Conservadas ocorrem, local- rampas de colúvios nas baixas vertentes. Apresentam ampli-
mente, a sudeste da cidade de Uruguaiana. São superfícies tude de relevo entre 30 a 80 m e inclinação das vertentes
planas a levemente onduladas, promovidas pelo arrasa- entre 5 e 20o.
mento geral dos terrenos. A amplitude de relevo é muito Os Morros e Serras Baixas na unidade DVMb ocorrem
baixa, entre 0 e 10 m, e as vertentes possuem inclinação principalmente na região norte do estado, em vales de
entre 0 e 5o. tributários do alto rio Uruguai, e nas regiões central e oeste,
As Superfícies Aplainadas Degradadas ocorrem em em vales de tributários dos rios Ibicuí e Ibirapuitã. Compre-
uma ampla área nas regiões oeste e sudoeste do estado. endem morros convexo-côncavos dissecados e com topos
São superfícies suavemente onduladas, promovidas pelo arredondados ou aguçados. É comum a geração de colú-
arrasamento geral dos terrenos e posterior retomada erosiva vios e, subordinadamente, depósitos de tálus nas baixas
proporcionada pela incisão suave de uma rede de drenagem vertentes. A amplitude de relevo varia de 80 a 200 m, com
incipiente. A amplitude de relevo é um pouco maior que nas desnivelamentos de até 300 m; as vertentes apresentam
Superfícies Aplainadas Conservadas, entre 10 a 30 m. As inclinação entre 15 e 35o.
O relevo em Escarpas Serranas correspon-
de à Escarpa da Serra Geral, também conhecida
como Patamares da Borda Oriental da Bacia
do Rio Paraná (IBGE, 1995). Essas escarpas
bordejam o Planalto das Araucárias na dire-
ção leste-oeste e, no litoral norte, na direção
sudoeste-nordeste. É um relevo montanhoso,
muito acidentado, com vertentes predomi-
nantemente retilíneas a côncavas, escarpadas
e topos de cristas alinhadas, aguçados ou
levemente arredondados, com sedimentação
de colúvios e depósitos de tálus. A amplitude
de relevo é superior a 300 m e a inclinação das
vertentes se situa entre 25 e 45o, com ocorrên-
cia de paredões rochosos subverticais (60-90o).
Os Degraus Estruturais e Rebordos Erosi-
vos também ocorrem na Escarpa da Serra Geral,
localmente, nas cabeceiras do rio Vacacaí Mirim
e nas cabeceiras de tributários do rio Ibicuí.
Compreendem um relevo acidentado, consti-
Figura 11.30 - Unidade DVMb em relevo de planaltos (rodovia BR-285, entre tuído por vertentes predominantemente retilí-
Lagoa Vermelha e Vacaria). neas a côncavas, declivosas e topos levemente
172
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
arredondados, com sedimentação de colúvios e depósitos região de Planalto e a sul de Marcelino Ramos. Compre-
de tálus. A amplitude de relevo varia de 50 a 200 m e a endem morros convexo-côncavos dissecados com topos
inclinação das vertentes, de 10 a 25o, com ocorrência de arredondados ou aguçados e caracterizados pela geração
vertentes muito declivosas, com inclinação superior a 45o. de colúvios e, subordinadamente, depósitos de tálus nas
Os Vales Encaixados entalham o Planalto das Araucá- baixas vertentes. A amplitude de relevo varia de 80 a 200 m,
rias (IBGE, 1995) na metade norte do estado. Apresentam apresentando desnivelamentos de até 300 m; as vertentes
vertentes predominantemente retilíneas a côncavas, fortemen- apresentam inclinação entre 15 e 35o.
te sulcadas, declivosas, com sedimentação de colúvios e de- Os Vales Encaixados em rochas ácidas ocorrem na parte
pósitos de tálus. São feições de relevo fortemente entalhadas mais elevada da bacia do rio das Antas. São vertentes pre-
pela incisão vertical da drenagem, formando vales encaixados dominantemente retilíneas a côncavas, fortemente sulcadas,
e incisos sobre planaltos e chapadas, estes, em geral, pouco declivosas. São comuns depósitos de tálus e de colúvios nas
dissecados. Assim como as Escarpas e os Rebordos Erosivos, baixas vertentes. A amplitude de relevo varia de 100 a 300
os Vales Encaixados apresentam quebras de relevo abruptas m e a inclinação das vertentes, de 10 a 25o, com ocorrência
em contraste com o relevo plano adjacente. São comuns de vertentes muito declivosas (acima de 45o).
depósitos de tálus e de colúvios nas baixas vertentes. A
amplitude de relevo varia de 100 a 300 m e a inclinação das Características, Adequabilidades e
vertentes de 10 a 25o, com ocorrência de vertentes muito Limitações Frente ao Uso e à Ocupação
declivosas (acima de 45o).
Obras de engenharia
Predomínio de Riolitos e Riodacitos
(DVMrrd) As rochas do domínio DVM possuem alto grau de coe-
são e textura fina. Dentre elas, as ácidas da unidade DVMrrd
Essa unidade geológico-ambiental compreende os possuem maior resistência ao intemperismo físico-químico.
riolitos e riodacitos, rochas representantes do magmatis- As rochas desse domínio, quando sãs, comportam-se
mo ácido, que se enquadram nas fácies Caxias, Chapecó e como rochas duras. Apresentam alta resistência ao corte e
Várzea do Cedro (WILDNER et al., 2008). à penetração sendo necessário o uso de explosivos para o
As formas de relevo que ocorrem nesses terrenos são: seu desmonte. Em geral, apresentam boa capacidade de
Planaltos, Chapadas e Platôs, Colinas Dissecadas e Morros suporte para obras de grande porte.
Baixos, Morros e Serras Baixas e Vales Encaixados. Os solos residuais de basaltos, inseridos na unidade
As rochas ácidas em relevo de Planaltos ocorrem em DVMb, apresentam baixa capacidade de carga para subleito
Tupanciretã e Júlio de Castilhos, em uma região alongada de estradas e para aterros e não oferecem problemas com
com direção nordeste, que abrange as cidades de Lagoão, relação a fundações, comportando-se como pré-adensado,
Soledade e Marau; Boqueirão do Leão e Gramado Xavier; conforme descrição de Maciel Filho (1990) na região de
André da Rocha e Antonio Prado; uma grande área que Santa Maria.
abrange São Francisco de Paula e São Marcos, na região Os solos residuais do domínio DVM, quando bem de-
nordeste do estado. São superfícies mais elevadas que os senvolvidos, apresentam boa escavabilidade. Nos relevos
terrenos adjacentes, pouco dissecadas, em formas tabulares mais planos, onde os solos em geral apresentam pelo
menos 1,5 m de espessura, essa característica, aliada
ou colinas muito amplas, onde a amplitude de relevo varia
às baixas declividades, torna essas áreas adequadas à
de 20 a 50 m e as vertentes possuem inclinações entre 2
ocupação. No entanto, não é indicada a utilização de
e 5º. sumidouros nesses terrenos, em função da baixa per-
Os terrenos em forma de Chapadas e Platôs ocorrem meabilidade dos solos e grande quantidade de juntas
restritos ao extremo leste do Planalto dos Campos Gerais, e fraturas nas rochas, por meio das quais pode haver
na região de São José dos Ausentes e Cambará do Sul. São percolação de poluentes.
superfícies tabulares ou planas, não ou pouco dissecados. Entre as rochas desse domínio, podem ocorrer níveis
A amplitude de relevo varia entre 0 e 20 m. As vertentes amigdaloides, brechados, arenitos intertrápicos ou mes-
possuem inclinação entre 0 e 5°. mo sedimentos vulcanogênicos, com comportamentos
As Colinas Dissecadas e Morros Baixos, na unidade hidráulico e geomecânico distintos dos basaltos, andesitos,
DVMrrd, ocorrem, principalmente, na região centro-oeste riolitos e riodacitos. São materiais menos coesivos e mais
do estado, entre Tupanciretã e Unistalda. Tais formas de permeáveis.
relevo apresentam vertentes convexo-côncavas e topos As rochas possuem muitas fendas e fraturas que po-
arredondados ou aguçados, com a deposição de rampas dem comprometer a estabilidade de taludes de corte. No
de colúvios nas baixas vertentes. Apresentam amplitude entanto, na ausência de fraturamentos e em se tratando
de relevo entre 30 a 80 m e inclinação das vertentes entre de rocha coesa, os taludes podem ser estáveis mesmo na
5 e 20o. vertical.
Os Morros e Serras Baixas ocorrem em uma superfície Nos terrenos da unidade DVMb, situados na região
maior entre Nova Prata e Gentil, a oeste de Santiago, na oeste, e em terrenos da unidade DVMrrd, em relevo de
173
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Planaltos, no leste do estado, ocorrem solos com argi- clima temperado (macieiras e pereiras), silvicultura e pas-
lominerais expansivos que provocam seu fendilhamento tagens (STRECK et al., 2008).
e a instabilização de taludes de corte. São solos muito Nos terrenos da unidade DVMb, em relevo de Pla-
plásticos e pegajosos na presença de água e muito duros naltos, situados na região dos Campos de Cima da Serra,
em sua ausência. São sujeitos à compactação e de muito ocorrem Latossolos Vermelhos Distroférricos húmicos com
difícil manejo. inclusões de Nitossolos Brunos e Vermelhos Distroféricos
Nos relevos do tipo Colinas Dissecadas e Morros Bai- (STRECK et al., 2008). São solos profundos, bem drenados,
xos, com encostas declivosas, estão sujeitos à erosão e à porosos e bem estruturados. Uma vez corrigida a fertilidade
ocorrência de movimentos de massa lentos do tipo rastejo. química, possuem boa aptidão agrícola devido a essas ca-
Nos relevos do tipo Inselberg e Morros-Testemunhos, racterísticas físicas e ao relevo em que ocorrem. Próximo a
Morros e Serras Baixas, Escarpas Serranas, Degraus Es- Santa Cruz do Sul, ocorrem Neossolos Regolíticos Eutróficos
truturais e Rebordos Erosivos e Vales Encaixados, podem em associação com Cambissolos Háplicos Eutróficos típicos
ocorrer problemas de escavabilidade, devido à existência de e Luvissolos Háplicos Pálicos típicos. Na região situada entre
depósitos de encosta de composição bastante heterogênea, as bacias dos rios dos Sinos e Gravataí, ocorrem Argissolos
incluindo fragmentos de rocha. Nessas áreas, onde as decli- Vermelho-Amarelos Distróficos.
vidades podem ser muito elevadas, é alta a suscetibilidade à As ocorrências da unidade DVMb, em relevo de Co-
ocorrência de movimentos de massa, como escorregamen- linas Amplas e Suaves, são pouco extensas e se situam na
tos, quedas de blocos e corridas (Figura 11.31). região conhecida como Depressão Periférica. Os solos que
ali ocorrem são Argissolos. São profundos e bem drenados,
Agricultura com textura argilosa e pouco gradiente textural. Possuem
baixa fertilidade natural e acidez elevada.
Os terrenos do domínio DVM, em relevo de Chapadas As formas de relevo que ocorrem em maiores exten-
e Platôs, ocorrem na região dos Campos de Cima da Serra, sões na unidade DVMb são do tipo Colinas Dissecadas e
a mais fria e que apresenta o maior volume de chuva do Morros Baixos. Nessas áreas, ocorrem, predominantemente,
estado. Devido a essas condições climáticas, os solos do- Latossolos Vermelhos Distroférricos, seguidos de Latossolos
minantes são normalmente ácidos (STRECK et al., 2008). Vermelhos Aluminoférricos (STRECK et al., 2008). São solos
Nesses terrenos, predominam Cambissolos Húmicos Alumí- muito profundos, argilosos, sem gradiente textural e bem
nicos, mas também ocorrem Latossolos Brunos Alumínicos drenados. Mais restritamente, podem ser pouco profundos,
férricos com inclusões de Nitossolos Brunos e Cambissolos associados a inclusões de Neossolos Regolíticos. Também,
Háplicos. Os Cambissolos possuem horizonte superficial localmente, ocorrem Nitossolos Vermelhos Distroférricos.
orgânico e elevada saturação por alumínio. São solos pro- Na região sudoeste do estado, entre Quaraí e Santana
fundos, argilosos e apresentam pequeno gradiente textural. do Livramento, ocorrem Neossolos Regolíticos Eutróficos.
Devido às limitações climáticas representadas por geadas São solos jovens, pouco desenvolvidos, rasos e com textura
tardias e baixa insolação, apresentam aptidão restrita para média. Tais solos apresentam certas restrições para culturas
culturas de verão e melhores opções para fruticultura de anuais, mas podem ser cultivados mediante práticas inten-
sivas de conservação, com mínima mobilização
(STRECK et al., 2008).
Os terrenos onde ocorrem Latossolos, situ-
ados na metade norte do estado, encontram-se
muito afetados por processos erosivos, como
resultado do desenvolvimento, a partir da
década de 1970, de agricultura intensiva de
lavouras mecanizadas de soja (CASTRO, 1996).
Os problemas de erosão são decorrentes da
compactação do solo e da redução de sua ca-
pacidade de infiltração e tornam-se evidentes
pelo surgimento de ravinas e voçorocas nos
canais de concentração do escoamento super-
ficial. A partir da década de 1990, a introdução
do plantio direto resultou em relativo decrésci-
mo do escoamento superficial nas encostas e
incremento no fluxo subsuperficial, assim como
significativa diminuição de perda de solo e de
Figura 11.31 - Escorregamento em encosta na cidade de Santa Cruz do Sul erosão (CASTRO et al., 1999).
(fotografia de Melvin Jones, publicada no jornal “A Gazeta do Sul” em Em relevo de Morros e Serras Baixas,
22 nov. 2009). nos terrenos da unidade DVMb, predominam
174
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Neossolos Regolíticos (STRECK et al., 2008). No vale do subterrâneas contra eventuais poluentes. Por outro lado, as
Uruguai, no norte do estado, os Neossolos Regolíticos Eu- rochas apresentam grande quantidade de descontinuidades
tróficos ocorrem em associação com Cambissolos Háplicos através das quais ocorre rápida percolação de poluentes.
Eutróficos típicos e Luvissolos Háplicos Pálicos típicos. Os De acordo com a classificação proposta por Kämpf et al.
Cambissolos são solos em processo de transformação conten- (2005), quanto à resistência dos solos a impactos ambientais
do material ainda pouco intemperizado. São profundos, com decorrentes da aplicação de resíduos, dentre aqueles que
textura média, sem gradiente textural e drenagem moderada. ocorrem no domínio DVM, os Neossolos Regolíticos são clas-
Segundo Streck et al. (2008), possuem melhor fertilidade sificados como de muito baixa resistência e os Cambissolos
química comparativamente àqueles originados das rochas Húmicos Alumínicos e os Argissolos Vermelho-Amarelos
ácidas e apresentam potencial para uso agrícola diversificado, Alumínicos úmbricos são classificados como de baixa resis-
além de fruticultura e silvicultura. tência. Aos Latossolos Brunos Alumínicos férricos, Latossolos
A unidade DVMb, em relevos de Escarpas Serranas, Vermelhos Aluminoférricos e Argissolos Vermelho-Amarelos
Degraus Estruturais e Rebordos Erosivos e Vales Encaixados Distróficos é atribuída alta resistência, enquanto os Latosso-
apresenta, predominantemente, Neossolos Regolíticos los Vermelhos Distroférricos húmicos, Nitossolos Vermelhos
Eutróficos em associação com Cambissolo Háplicos Eutró- Distroférricos e os Cambissolos Háplicos Eutróficos típicos
ficos típicos e Luvissolos Háplicos Pálicos típicos. Streck et são classificados como de média resistência.
al. (2008) recomendam que as áreas com declividade entre
15 e 25o, onde ocorrem Neossolos Regolíticos, sejam utili- Recursos hídricos subterrâneos
zadas para pastagem permanente, enquanto aquelas que
apresentam declividade superior a 45o tenham sua cobertura Os terrenos situados na região centro-norte do estado,
vegetal natural preservada e sejam destinadas à preservação
englobando principalmente a unidade DVMb, apresentam
permanente.
alta a média possibilidade de água subterrânea em fraturas
As rochas ácidas da unidade DVMrrd, em relevo de
(MACHADO e FREITAS, 2005). Apesar de as capacidades
Planaltos, dão origem a solos do tipo Argissolos Vermelho-
específicas serem muito variáveis, predominam valores entre
-Amarelos Alumínicos úmbricos ao norte de Santa Maria.
1 e 4 m³/h/m e, excepcionalmente, superiores a 4 m³/h/m.
Na região de Soldade, observa-se associação destes com
As salinidades são, em geral, baixas, em média 200 mg/l.
Neossolos Regolíticos Distro-Úmbricos. Na região dos Cam-
No restante da área de ocorrência do domínio DVM,
pos de Cima da Serra, ocorrem Latossolos Vermelhos Distro-
relacionada à maior parte das exposições das rochas áci-
férricos húmicos e Cambissolos Húmicos Alumínicos típicos,
das da unidade DVMrrd, os terrenos apresentam média
enquanto que associação desses últimos com Neossolos
a baixa possibilidade para água subterrânea em fraturas
Regolíticos Distróficos e Argissolos Bruno-Acinzentados
(MACHADO e FREITAS, 2005). As capacidades específicas
Alíticos abruptos ocorre na região de Caxias do Sul.
são inferiores a 0,5 m³/h/m. Entretanto, excepcionalmen-
Os terrenos da unidade DVMrrd, em relevo de Colinas
te, em áreas mais fraturadas ou com arenitos na base do
Dissecadas e Morros Baixos, ocorrem na porção sul da região
sistema, podem ser encontrados valores superiores a 2
conhecida como Planalto Médio, entre Santiago e Júlio de
m³/h/m. As salinidades são baixas, geralmente inferiores a
Castilhos. Os solos predominantes são Neossolos Regolíticos
250 mg/l.As rochas vulcânicas em relevo de tipos Inselberg
Distro-Úmbricos, seguidos de associação de Neossolos Rego-
e Morros-Testemunhos ocorrem em condição topoestrutu-
líticos Eutróficos, Cambissolos Háplicos Tb Distróficos típicos
ral desfavorável ao armazenamento de água subterrânea
e Luvissolos Háplicos Pálicos. São pouco desenvolvidos, rasos,
(MACHADO e FREITAS, 2005). Os poços perfurados nessas
com textura média, bem drenados e sem gradiente textural.
situações são secos ou produzem baixas vazões.
Em relevo de Morros e Serras Baixas, os terrenos da
unidade DVMrrd apresentam, predominantemente, asso-
ciação de Neossolos Regolíticos Eutróficos, Cambissolos Recursos minerais
Háplicos Eutróficos e Luvissolos Háplicos Pálicos.
Nos Vales Encaixados, entalhados em rochas ácidas da Os terrenos do domínio DVM apresentam potencia-
unidade DVMrrd, ocorrem Cambissolos Húmicos Alumínicos lidade bastante variada quanto à ocorrência de recursos
típicos; nos patamares superiores dos vales, Neossolos Re- minerais de interesse econômico (Figura 11.32).
golíticos Distro-Úmbricos e associação de Neossolos Regolí- No domínio DVM ocorrem importantes depósitos de
ticos Eutróficos, Cambissolos Háplicos Tb Distróficos típicos ametista e de ágata que conferem ao Rio Grande do Sul
e Luvissolos Háplicos Pálicos nas porções mais inferiores. destaque internacional. O estado é o principal exportador
desses minerais no país e o segundo maior produtor e ex-
Fontes poluidoras portador brasileiro de gemas, atrás apenas de Minas Gerais
(JUCHEM et al., 2007). As mineralizações de ametista e
Os solos que ocorrem no domínio DVM são, em geral, ágata ocorrem na zona vesicular dos derrames vulcânicos,
argilosos, com alta capacidade de retenção e fixação de aparecendo como minerais secundários, preenchendo ca-
poluentes. Representam relativa proteção para as águas vidades irregulares, denominadas geodos (Figura 11.33).
175
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
176
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
adequando-se para a produção de brita, pedra de talhe remoção do solo e modificações do perfil topográfico na
irregular, com emprego especialmente para calçamento preparação da área de embocadura das galerias (ORLANDI
de ruas, meio-fio e fundações, além de placas para uso FILHO e ZANINI, 2006). Os rejeitos, normalmente, são lan-
como rocha ornamental (Figura 11.35). çados na meia-encosta, sobre a vegetação e atingindo os
Na unidade DVMrrd, onde predomina o diaclasamento cursos d’água, que têm seu traçado localmente modificado
horizontal das rochas, é muito grande o potencial para (Figura 11.36). Esses impactos também são observados
produção de lajes para revestimento de pisos, paredes e em muitas pedreiras que produzem materiais de uso na
calçadas, embora também ocorra a exploração de parale- construção civil.
lepípedos para pavimentação e de pedras para alicerce. O O principal atrativo turístico do domínio DVM com-
maior polo produtor desses materiais está situado na região preende as belezas cênicas das formas de relevo esculpidas
de Nova Prata, abrangendo outros 17 municípios. nas rochas, os rios em leitos rochosos com corredeiras e as
O produto de alteração das rochas do domínio DVM cachoeiras. Destaque deve ser dado aos paredões verticali-
pode ser utilizado como saibro. Os solos argilosos apre- zados de rocha com até 900 m de altura, que ocorrem em
sentam potencialidade para uso na indústria de cerâmica uma extensão de quase 250 km, na região dos Aparados da
vermelha e como material de empréstimo. As condições Serra. Essa região, devido a sua importância tanto do ponto
ideais para formação de depósitos de saibro ocorrem nas de vista técnico-científico como turístico, é objeto de um
zonas amigdalóides dos derrames que, quando situadas trabalho executado pela CPRM/SGB intitulado “Excursão Vir-
próximas à superfície, são mais facilmente submetidas tual dos Aparados da Serra – RS/SC” (GIFFONI et al., 2004),
ao intemperismo e, consequentemente, favorecendo a que descreve os locais de interesse turístico e seus aspectos
alteração e produzindo material que pode ser aprovei- geológicos. Na região dos Aparados da Serra, a Escarpa da
tado como saibro (ZANINI e PIMENTEL, 1998). Áreas Serra Geral consiste em imponente relevo de transição entre
com argilas residuais para uso em cerâmica vermelha o Planalto dos Campos Gerais, alçado em cotas entre 900
relacionadas a solos das rochas vulcânicas da For-
mação Serra Geral foram identificadas por Zanini
et al. (1994) no município de Parobé. Segundo os
autores, os depósitos de argila correspondem aos
horizontes subsuperficiais de Argissolos e Nitossolos
que possuem espessura entre 2 e 3 m.
177
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
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GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
nha. A vegetação predominante é de campo, incluindo Os solos são argilosos, bastante aderentes e escorre-
grandes extensões de banhados, vassourais, vegetação de gadios quando molhados. Quando submetidos a cargas
tabuleiros, mata-palustre, mata-galeria e capões de mata elevadas, compactam-se bastante.
arbóreo-arbustiva. Entre as árvores mais frequentes estão: São áreas suscetíveis à erosão, devido às declividades
angico, figueira, salso e jerivá. Um total de 201 espécies de elevadas e à suscetibilidade dos solos à compactação.
aves ocorre na região, com destaque para o veste-amarela,
ameaçado de extinção, a marreca-asa-branca, a guaravaca- Agricultura
-de-crista-branca, o caboclinho-de-barriga-vermelha e o
carretão. A fauna de mamíferos é bem representada com a Os solos residuais são pouco desenvolvidos. Apre-
presença do zurrilho, mão-pelada e de espécies ameaçadas, sentam boa fertilidade natural e boa capacidade de reter
como os gatos-do-mato e a lontra. e fixar nutrientes. O relevo acidentado pode dificultar a
mecanização agrícola.
DOMÍNIO DOS COMPLEXOS ALCALINOS
INTRUSIVOS E EXTRUSIVOS, DIFERENCIADOS, Fontes poluidoras
DO TERCIÁRIO, MESOZOICO E
PROTEROZOICO (DCA) Os solos argilosos possuem capacidade de reter e
fixar eventuais contaminantes, reduzindo o risco de conta-
Esse domínio está representado no estado do Rio minação da água subterrânea. Por outro lado, a presença
Grande do Sul por uma única unidade geológico-am- de fraturas nas rochas facilita a percolação de poluentes.
biental: Série Alcalina Saturada e Alcalina Subsaturada
(DCAalc). Recursos hídricos subterrâneos
A unidade apresenta limitada expressão areal, cor-
respondendo a diversas áreas circulares, onde as maiores A pequena expressão areal dessas rochas, associada
medem cerca de 300 m² de diâmetro, situadas a sudeste a sua natureza cristalina e à ocorrência de fraturas desco-
de Santana da Boa Vista, na região sul do estado (Figura nectadas, confere-lhes muito baixo potencial para aprovei-
11.40). tamento de água subterrânea.
Esses terrenos correspondem à unidade
geológica Suíte Alcalina Passo da Capela,
composta por chaminés alcalinas de pequeno
diâmetro (< 300 m), constituídas de tefrito,
fonólito e fonólito tefrítico, geradas no Cretá-
ceo, entre 65 e 99 milhões de anos (WILDNER
et al., 2008).
As rochas alcalinas ocorrem em uma
área com relevo de Morros e Serras Baixas.
São morros convexo-côncavos dissecados,
com topos arredondados ou aguçados, nos
quais ocorre a geração de colúvios e, subor-
dinadamente, depósitos de tálus nas baixas
vertentes. A amplitude de relevo varia de 80
a 200 m, apresentando desnivelamentos de
até 300 m; a inclinação das vertentes varia
de 15 a 35o.
Características, Adequabilidades
e Limitações Frente ao Uso e à
Ocupação
Série alcalina saturada e alcalina
Obras de engenharia subsaturada
180
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Recursos minerais
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Os solos predominantes nesse domínio são Neossolos De acordo com a metodologia proposta por Kämpf et
Litólicos Distróficos típicos associados a afloramentos de al. (2008), para avaliar a resistência dos solos a impactos
rocha (STRECK et al., 2008). São solos rasos, com textura ambientais decorrentes da disposição de resíduos, a maior
média, bem drenados e sem gradiente textural. Tais solos parte dos terrenos do domínio DSVE apresenta muito baixa
apresentam fortes restrições para culturas anuais, devido resistência. Já aos terrenos situados no norte da unidade
à pouca profundidade efetiva para o desenvolvimento de DVEs, é atribuída muito alta resistência, em função da maior
raízes e armazenamento de água, ao relevo forte ondulado espessura e do conteúdo em argila dos solos.
em que ocorrem e presença de afloramentos de rocha.
Recomenda-se que sejam mantidos sob preservação per- Recursos hídricos subterrâneos
manente.
Os terrenos do domínio DSVE compreendem aquíferos
praticamente improdutivos (MACHADO e FREITAS, 2005).
A predominância nessa unidade de arenitos finos a médios
muito endurecidos por cimento ferruginoso, calcítico e
silicoso resulta em uma porosidade muito baixa. Como
consequência, os poços tubulares são improdutivos ou de
vazão insignificante.
Recursos minerais
Figura 11.42 - Rocha vulcânica da unidade DSVEv, com vesículas Os terrenos sedimentares apresentam rara beleza
preenchidas por minerais secundários. cênica, devido à existência de relevos residuais ruinifor-
182
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
mes, localmente conhecidos como “guaritas”, e rios com DOMÍNIO DAS COBERTURAS SEDIMENTARES
formação de praias com potencial para utilização como PROTEROZOICAS, NÃO OU MUITO POUCO
balneários. As guaritas são resultado da erosão hídrica DOBRADAS E METAMORFIZADAS (DSP1)
atuando nos falhamentos e fraturamentos que afetam as
rochas (Figura 11.44). Esse domínio é caracterizado por um empilhamento
Belas estruturas sedimentares de grande porte, colori- de camadas horizontalizadas e sub-horizontalizadas, de
das em tons róseos e esbranquiçados, devido à atuação de diferentes espessuras de sedimentos siliciclásticos de várias
processos diagenéticos, ornamentam as guaritas. É o caso composições depositados no contexto da Bacia do Cama-
da Pedra Pintada, onde ocorre a seção-tipo que batiza a quã, durante o Neoproterozóico, entre 700 e 540 milhões
unidade geológica (Figura 11.45). de anos atrás.
Nos terrenos vulcânicos da unidade DSVEv, a existên- O domínio DSP1 está representado no estado por duas
cia de um afloramento com notável valor científico, em unidades geológico-ambientais, distribuídas na metade sul
função da existência de importantes feições geológicas do estado: Predomínio de Sedimentos Arenosos e Conglo-
características de ambiente vulcânico subaquoso, motivou meráticos, com Intercalações Subordinadas de Sedimentos
a proposição de sítio geológico à Comissão Brasileira de Síltico-Argilosos (DSP1acgsa) e Predomínio de Sedimentos
Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), recebendo a Síltico-Argilosos, com Intercalações Subordinadas de Are-
denominação Arroio Carajá (Figura 11.46). nitos e Grauvacas (DSP1saagr) (Figura 11.47).
183
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
184
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
O relevo de Colinas Amplas e Suaves ocorre ao A instalação de obras de maior porte requer o trata-
norte da cidade de Dom Pedrito; já Colinas Dissecadas mento de impermeabilização e reforço do maciço.
e Morros Baixos ocorrem ao norte de Lavras do Sul e A presença de seixos e blocos de rochas duras nos
a oeste de Caçapava do Sul; enquanto Morros e Serras conglomerados da unidade DSP1acgsa pode dificultar a
Baixas ocorrem ao sul de Lavras do Sul e ao sul de Vila execução de perfuração com sondas rotativas.
Nova do Sul. Na porção centro-norte da área de ocorrência da
unidade DSP1acgsa e nas porções norte e centro-sul da
Características, Adequabilidades e unidade DSP1saagr, os solos residuais apresentam argi-
Limitações Frente ao Uso e à Ocupação lominerais expansivos. Nessas situações, fendilhamentos
e empastilhamentos dos solos levam à instabilidade de
Obras de engenharia taludes de corte e tornam os terrenos muito suscetíveis
à erosão.
As rochas do domínio DSP1 apresentam permeabilida- As descontinuidades geomecânicas decorrentes da
de baixa e alta resistência à penetração e à desagregação. alternância de rochas, especialmente da unidade DSP1saagr,
Normalmente, é necessário o uso de explosivos para esca- podem resultar em instabilidades de taludes de corte. Os
vação desses materiais. A escavabilidade do solo pode ser relevos mais movimentados, com declividades altas, são
dificultada por sua espessura variável e ocorrência frequente bastante suscetíveis à erosão e a movimentos de massa
de afloramentos rochosos. (Figura 11.49).
As rochas da unidade DSP1acgsa apresentam alta
resistência ao intemperismo físico-químico, devido a forte Agricultura
litificação e cimentação (Figura 11.48).
Nos terrenos da unidade DSP1acgsa,
em relevos mais suaves do tipo Superfícies
Aplainadas Conservadas, ocorrem Argissolos
Vermelhos Eutróficos abruptos (STRECK et al.,
2008). São solos profundos, com gradiente
textural abrupto e acidez elevada.
Neossolos Litólicos Distróficos típicos em
associação a afloramentos de rocha ocorrem
amplamente na unidade DSP1acgsa, desde
relevos mais suaves (Colinas Amplas e Suaves)
a mais ondulados (Colinas Dissecadas e Morros
Baixos), assim como do tipo Morros e Serras
Baixas. Streck et al. (2008) recomendam que
esses solos sejam mantidos sob preservação
permanente.
Em relevo do tipo Morros e Serras Baixas,
Figura 11.48 - Afloramento de rochas da unidade DSP1acgsa no leito e
Argissolos Vermelhos Eutróficos abruptos
nas margens do arroio dos Lanceiros, demonstrando elevada resistência ao intercalam-se aos Neossolos. Em função das
intemperismo (leste de Caçapava do Sul). elevadas declividades em que ocorrem e do
Figura 11.49 - Serra dos Lanceiros ao fundo e Pedra do Segredo em segundo plano: terrenos em relevo dissecado
suscetíveis à erosão e a movimentos de massa.
185
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
gradiente textural abrupto, tais solos apresentam elevada predominância de sedimentos muito endurecidos, devido
suscetibilidade à erosão. à cimentação, resulta em porosidade muito baixa. Em
A noroeste da cidade de Caçapava do Sul, em terrenos consequência, os poços tubulares são improdutivos ou de
das unidades DSP1acgsa e DSP1saagr, com morfologia de vazão insignificante.
Colinas Dissecadas e Morros Baixos, ocorrem Chernossolos
Ebânicos Órticos. São solos com razoáveis teores de material Recursos minerais
orgânico que apresentam horizonte vértico ou características
vérticas, indicativo da presença de argilominerais expansivos. As rochas e solos apresentam potencial para utili-
São pouco profundos, com textura médio-argilosa, gradiente zação como agregados para a construção civil e como
textural e drenagem moderada. Muito suscetíveis à erosão, são material de empréstimo. Mediante avaliação de suas
de difícil preparo. A sua associação com Neossolos Regolíticos características tecnológicas, os arenitos podem ser des-
ou Litólicos e afloramentos de rocha em relevo ondulado a forte tinados à produção de lajes para calçamento e como
ondulado dificultam a mecanização agrícola, exigindo práticas pedra de alicerce.
conservacionistas intensivas, sendo recomendável sua utilização
com culturas anuais, fruticultura, pastagem e reflorestamento Aspectos ambientais e potencial turístico
(STRECK et al., 2008).
Na unidade DSP1saagr, predominam Luvissolos Crô- Os terrenos desse domínio apresentam belas paisa-
micos Pálicos saprolíticos e associações destes com aflora- gens, formadas por relevos residuais resultantes da atuação
mentos de rocha e com Neossolos Regolíticos e Litólicos. da erosão hídrica sobre as rochas, o que possibilitou o en-
São solos com acumulação subsuperficial de argila que talhamento de cavernas e a formação de rios com potencial
apresentam forte fertilidade química natural. São pouco para utilização como balneários (Figuras 11.50 e 11.51).
profundos e até mesmo rasos.
Esses solos apresentam aptidão regular para
culturas anuais, devido às limitações quanto ao ar-
mazenamento de água para as plantas e ao uso de
implementos agrícolas, tornando-se necessária a utili-
zação de práticas conservacionistas intensivas (STRECK
et al., 2008).
Localmente, na porção central da área de ocor-
rência da unidade e em relevo de Colinas Dissecadas
e Morros Baixos, ocorrem Argissolos Vermelhos Eutró-
ficos abruptos associados a afloramentos de rocha.
Fontes poluidoras
186
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
187
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Características, Adequabilidades e
Limitações Frente ao Uso e à Ocupação
Obras de engenharia
188
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
pouco profundos e até mesmo rasos, comumente associa- mineralizações de cobre na região foram identificadas em
dos a afloramentos de rocha. 1865 por mineiros ingleses. Na última fase de explotação
Nos terrenos da unidade DSVP1vb, nas Superfícies das minas, que se encerrou em 1996, além da produção de
Aplainadas Conservadas, predominam Planossolos Háplicos cobre, também eram beneficiados ouro e prata.
Eutróficos arênicos. São solos imperfeitamente a maldre- A Jazida Santa Maria, localizada a 3 km ao sul das
nados, com gradiente textural abrupto. Minas do Camaquã, apresenta jazimentos de chumbo e
Em relevo de Colinas Amplas e Suaves, Colinas zinco com prata e cobre associado.
Dissecadas e Morros Baixos, Morros e Serras Baixas pre- O jazimento do Cerro dos Martins é representado por
dominam Neossolos Litólicos Húmicos fragmentários ou brechas de falhas silicificadas ou não, cimentadas por barita
típicos. São solos rasos, com pouca profundidade efetiva e sulfetos de cobre.
para o desenvolvimento de raízes e armazenamento de A Mina do Seival abrange um conjunto de pequenos
água. Tal fato, associado ao relevo forte ondulado em que depósitos, onde a mineralização de cobre com prata as-
ocorrem, onde pedregosidade e afloramentos de rocha são sociada, controlada por fraturas, brechas e falhas, ocorre
comuns, representa fortes restrições para culturas anuais. como bolsões e, mais raramente, preenchendo fraturas.
Adicionalmente, as declividades mais elevadas prejudicam As rochas do domínio DSVP1 apresentam potencial
a mecanização agrícola. para produção de brita, pedra de calçamento e de alicerce
Nas Colinas Dissecadas e Morros Baixos, a sudeste de (Figura 11.55). Os solos residuais, quando espessos, podem
Lavras do Sul, ocorrem Chernossolos Ebânicos Órticos vertis- ser utilizados como material de empréstimo.
sólicos. São solos com horizonte característico da presença
de argilominerais expansivos. Possuem alta fertili-
dade química e alta capacidade de troca catiônica.
São plásticos e pegajosos quando úmidos e duros
quando secos, dificultando o seu uso e manejo.
Fontes poluidoras
As rochas agrupadas no domínio DSVP1 são classifica- Aspectos ambientais e potencial turístico
das como aquíferos praticamente improdutivos (MACHADO
e FREITAS, 2005). As espessuras reduzidas do manto de A atividade de mineração nas Minas do Camaquã
alteração e a ausência de interconectividade das fraturas ao longo de muitos anos, paralisada na década de 1990
limitam o armazenamento significativo de água. Os poços devido ao esgotamento das reservas, provocou impactos
tubulares são secos ou produzem vazões insignificantes. ao meio ambiente, dos quais o mais importante se reflete,
principalmente, na modificação geomorfológica do terreno,
Recursos minerais visto que grande parte da explotação foi realizada a céu
aberto (ORLANDI FILHO e ZANINI, 2006). Atualmente, na
Nos terrenos da unidade DSVP1vb ocorrem jazimentos área das minas encontram-se grandes depressões topo-
de cobre, chumbo e zinco associados ou não a ouro e prata. gráficas, com paredões abruptos e ausência de cobertura
Os jazimentos de cobre ocorrem em: Minas do Camaquã, vegetal (Figura 11.56).
depósito da Jazida Santa Maria, jazimento do Cerro dos O encerramento das atividades de mineração gerou
Martins e Mina do Seival (RAMGRAB et al., 2002). um enorme passivo social e econômico para a região,
As mineralizações cupríferas nas Minas do Camaquã que pode ser ilustrado pela redução da população da
ocorrem sob a forma filoniana ou disseminada nas rochas vila Minas do Camaquã, de 5.000 para cerca de 500
em dois depósitos principais: minas São Luiz e Uruguai. As moradores. Uma alternativa para o aproveitamento da
189
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Predomínio de Metassedimentos
Síltico-Argilosos, com Intercalações
de Metagrauvacas (DSP2sag)
190
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
corte e à penetração, enquanto os xistos possuem mode- No contexto dessa unidade, insere-se o jazimento de
rada capacidade de carga e resistência ao corte e à pene- calcário de Cerro da Pedreira, situado a cerca de 30 km de
tração. Os quartzitos são bastante abrasivos, provocando Lavras do Sul. Compreende extensa massa de calcário dolo-
maior desgaste de equipamentos de sondagem. mítico, de forma irregular, encaixada em xistos e quartzitos,
As estruturas presentes nas rochas, como acamada- com potencial para uso como insumo para agricultura.
mentos e xistosidades, podem atuar como descontinuidades Os quartzitos que ocorrem nessa unidade apresentam
com baixa resistência nos maciços, assim como provocar potencial para utilização como rocha ornamental.
instabilidades em taludes de corte, devido ao desprendi-
mento de placas.
Aspectos ambientais e potencial turístico
A instalação de obras de grande porte requer trata-
A beleza do relevo característico desses terrenos, assim
mento para impermeabilização e aumento da resistência
como o uso do solo essencialmente rural são indicativos de
do maciço.
potencial para exploração de turismo rural.
Os calcários que ocorrem localmente na unidade
DSPsag podem apresentar dissoluções, devido à percolação
DOMÍNIO DAS SEQUÊNCIAS
das águas meteóricas ácidas, resultando em recalque de
VULCANOSSEDIMENTARES PROTEROZOICAS
estruturas e colapso de terreno.
DOBRADAS E METAMORFIZADAS DE BAIXO
A ALTO GRAU (DSVP2)
Agricultura
Esse domínio compreende sequências de rochas sedi-
Os terrenos da unidade DSP2sag apresentam Neos- mentares e vulcânicas associadas, geradas no Proterozoico,
solos Regolíticos Húmicos lépticos ou típicos associados que foram metamorfizadas e dobradas de baixo a alto grau.
a afloramentos de rocha. São solos rasos, com textura Conforme Wildner et al. (2008), corresponde às rochas da
média em todo o perfil, moderadamente a bem drenados, Sequência Metamórfica Vacacaí, do Complexo Metamórfico
com pequena capacidade de retenção de umidade. Podem Porongos e da Formação Arroio Mudador.
apresentar horizontes adensados e são bastante suscetíveis O domínio DSVP2 está representado no estado do
à erosão. As declividades elevadas prejudicam a mecaniza- Rio Grande do Sul por três unidades geológico-ambientais:
ção agrícola. Predomínio de Metassedimentos Síltico-Argilosos, Repre-
sentados por Xistos (DSVP2x), Metagrauvaca, Metarenito,
Fontes poluidoras Tufo e Metavulcânica Básica a Intermediária (DSVP2gratv)
e Predomínio de Rochas Metabásicas e Metaultramáficas
Os solos rasos e com textura média apresentam re- (DVSP2bu) (Figura 11.58).
duzida capacidade de reter e fixar substâncias
contaminantes. As rochas bastante fraturadas
facilitam a infiltração e a percolação de po-
luentes. Os solos são classificados como de
muito baixa resistência a impactos ambientais
decorrentes da aplicação de resíduos (KÄMPF
et al., 2008).
Recursos minerais
Predomínio de metassedimentos síltico-
argilosos, representados por xistos
As rochas carbonosas que ocorrem no Metagrauvaca, metarenito, tufo e
metavulcânica básica a intermediária
domínio DSP2 possuem teores de carbono da Predomínio de rochas metabásicas e
metaultramáficas
mesma ordem de grandeza que jazimentos
econômicos situados no exterior e no Brasil,
Figura 11.58 - Área de ocorrência das unidades geológico-ambientais do domínio
havendo potencial para explotação de grafita das sequências vulcanossedimentares proterozoicas, dobradas e metamorfizadas
(OLIVEIRA, 2003). de baixo a alto grau no estado do Rio Grande do Sul.
191
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Predomínio de Metassedimentos
Síltico-Argilosos, Representados por
Xistos (DSVP2x)
192
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
formação compreende uma associação vulcânica repre- coerentes. Apresentam moderada a alta resistência e
sentada por metabasaltos e metaespilitos com estruturas maior capacidade de carga que os metapelitos.
ovaladas a arredondadas coalescentes, características de Os quartzitos são rochas bastante abrasivas, que pro-
derrames almofadados gerados por vulcanismo subaquo- vocam maior desgaste em equipamentos de sondagem.
so, com presença subordinada de diques de metadiabásio Os solos residuais de quartzitos são arenosos, apresen-
e de pequenos corpos de metagabros e metaultramafitos tam baixa coesão e instabilidade em taludes de corte. Já
intrusivos na sequência efusiva, além de níveis de chert e cortes em solos residuais de xistos são de fácil execução e
depósitos epiclásticos (WILDNER et al., 2008). a estabilidade pode ser boa, caso os planos de xistosidade
Os terrenos da unidade DVSP2bu ocorrem em relevo sejam de baixo ângulo.
do tipo Morros e Serras Baixas e estão restritos a uma região A instalação de obras de grande porte requer trata-
situada a sul de Caçapava do Sul. mento para impermeabilização e aumento da resistência
do maciço.
Características, Adequabilidades
e Limitações Frente ao Uso e à
Ocupação
Obras de engenharia
Agricultura
193
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Os terrenos que apresentam relevo mais suavizado, veios de quartzo encaixados em metatufos, metamargas,
em Colinas Amplas e Suaves, estão associados às unida- xistos e quartzitos.
des DSVP2x e DSVP2gratv. Nestes, os solos são Argissolos Importantes jazimentos de calcário ocorrem no
Vermelho Amarelos. São profundos, textura arenoargilosa, domínio DSVP2. Na unidade geológico-ambiental DSVP-
bem drenados e com gradiente textural. 2gratv, ocorrem calcários para cimento na região de Passo
Na unidade DSVP2gratv, em relevo de Morros e Serras da Conceição, próximo a Candiota. Na unidade DSVP2x,
Baixas, ocorrem Luvissolos Crômicos Pálicos saprolíticos ocorrem jazimentos de calcário dolomítico, de uso como
associados a afloramentos de rocha. São solos pouco pro- insumo para agricultura. O calcário dolomítico ocorre a
fundos, com acumulação subsuperficial de argila e gradien- sudeste de Caçapava do Sul, onde é explotado em diversas
te textural, o que, associado às declividades acentuadas, minas a céu aberto (Figura 11.62), na região dos arroios
confere-lhes elevada suscetibilidade à erosão. Esses solos Piquiri e Irapuazinho, em Cachoeira do Sul – onde também
apresentam aptidão regular para culturas anuais devido é explotado em duas minas – e em Santana da Boa Vista,
às limitações quanto ao armazenamento de água para as onde não apresenta valor econômico, à exceção da jazida
plantas e ao uso de implementos agrícolas. No entanto, da serra dos Vargas (RAMGRAB et al., 2002).
é necessária a utilização de práticas conservacionistas in- A jazida de calcário dolomítico do arroio Mudador
tensivas, como o terraceamento em desnível e cobertura chegou a ser lavrada, mas a atividade foi paralisada devido
vegetal permanente (STRECK et al., 2008). a problemas de mercado. Na região de Palmas, a sul das
Minas do Camaquã, encontra-se o distrito de Apertados,
Fontes poluidoras que encerra as maiores concentrações de calcário dolo-
mítico do estado. Apesar do grande volume de minério,
As rochas que compõem o domínio DSVP2 são bas- a ausência de estradas próximas e a distância dos centros
tante fraturadas, o que facilita a infiltração e percolação consumidores tornam o seu aproveitamento econômico
de poluentes. inviável (RAMGRAB et al., 2002).
A maior parte dos terrenos desse domínio apresenta Mineralizações de cobre nesses terrenos ocorrem
características que levaram Kämpf et al. (2008) a classificá- desde ocorrências, passando por depósitos, até minas,
-los como de muito baixa resistência a impactos ambientais como a dos Andradas e Primavera, situadas em terrenos
decorrentes da disposição de resíduos. Localmente, nos da unidade DSVP2x. O depósito da Mina Primavera, a
relevos mais suaves, os terrenos são classificados como sudoeste de Caçapava do Sul, consiste em disseminações
de baixa resistência. Os terrenos da unidade DSVP2gratv, de minério de cobre em fraturas e zonas brechadas. Já no
em relevo de Morros e Serras Baixas, apresentam média depósito da Mina dos Andradas, a oeste de Caçapava do
resistência. Sul, a mineralização ocorre disseminada ao longo de uma
falha com direção norte-sul.
Recursos hídricos subterrâneos Na unidade DSVP2gratv ocorrem ainda alguns jazi-
mentos de asbesto e talco.
As rochas que ocorrem na maior parte dos terrenos Os quartzitos e mármores, como os situados a nor-
do domínio DSVP2 apresentam características de aquífe- deste da jazida de calcário do arroio Mudador, apresentam
ros com baixa possibilidade para água subterrânea em potencial para uso como rocha ornamental.
fraturas (MACHADO e FREITAS, 2005). Os
poços apresentam capacidades específicas,
em geral, inferiores a 0,5 m³/h/m. Também
ocorrem poços secos. As salinidades são, em
geral, inferiores a 300 mg/l.
Recursos minerais
194
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Aspectos ambientais e potencial turístico correspondentes são: Gabro Passo da Fabiana, Maciço de
Pedras Pretas, Gabro Santa Catarina, Gabro de Mata Grande
A mineração de calcário, cobre e ouro resultou em e Anortosito Capivarita.
alguns impactos ambientais. Segundo Orlandi Filho e Za- O Gabro Passo da Fabiana ocorre na região sudeste
nini (2006), a explotação de calcário ocorre em pedreiras do Escudo Sul-Rio-Grandense, na região de Pinheiro Ma-
de grande porte que apresentam bancadas definidas por chado. Corresponde a rochas básicas com estruturação
paredões abruptos (Figura 11.63). Após a paralisação das estratiforme, predominando gabros, a que se associam,
atividades de mineração, é comum ocorrer o alagamento subordinadamente, olivina-gabros, anortositos e troctolitos
das cavas. Caso não se promova o cercamento da área e o (WILDNER et al., 2008).
isolamento das bancadas, existe o risco de acidentes para Os corpos plutônicos localizados a sudoeste de São
eventuais transeuntes. Sepé, designados Maciço de Pedras Pretas, Gabro Santa
A paralisação da mineração de ouro, segundo Orlandi Catarina e Gabro de Mata Grande integram o Complexo
Filho e Zanini (2006), também resultou em um passivo am- Estratiforme Básico-Ultrabásico (WILDNER et al., 2008).
biental nos casos em que a mineração ocorreu
em escavações de porte médio, a céu aberto,
ou por meio de atividades de garimpo, em
pequenas escavações.
Série Máfico-Ultramáfica
(DCMUmu)
Essa unidade ocorre na região oeste do Figura 11.63 - Cava de pedreira de calcário desativada (pedreira do arroio
Escudo Sul-Rio-Grandense e corresponde à uni- Mudador, Caçapava do Sul).
dade geológica Complexo Máfico-Ultramáfico
Cerro Mantiqueira.
Essa unidade é composta por rochas
ultramáficas e anfibolíticas associadas e tem
sua principal área de exposição na região do
cerro que a designa, posicionada a sudeste de
Lavras do Sul, onde aflora na forma de uma
faixa alongada segundo direção E-W. Também
são atribuídas a essa unidade rochas ultramá-
ficas intensamente serpentinizadas, expostas
a noroeste de Vila Nova do Sul e na região da
vila da Palma (WILDNER et al., 2008).
Os terrenos onde ocorrem apresentam
relevo classificado como Morros e Serras Baixas.
São formas de morros convexo-côncavos dis-
secados, com topos arredondados, formando
cerros alongados que se destacam na paisa-
gem. (Figura 11.65).
195
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
O Maciço de Pedras Pretas é composto por uma porção presença de blocos e matacões de rocha imersos no solo,
ultramáfica, constituída por rochas de composição duní- na unidade DCMUbu, dificulta a escavabilidade do manto
tica, peridotítica, piroxenítica, gabroica até anortosítica, de alteração.
serpentinizadas em proporções variáveis e por uma porção Os taludes de corte em rocha e nos solos residuais
básica incluindo gabros, leucogabros e anortositos. As ro- apresentam, em geral, boa estabilidade. Eventualmente, na
chas do Complexo Estratiforme Básico-Ultrabásico foram unidade DCMUmu, planos de acamadamento e a xistosida-
submetidas a processos metamórficos que alcançaram a de das rochas, comumente dobradas, podem representar
fácies xisto-verde superior a anfibolito. planos de fraqueza que comprometem a estabilidade dos
O Anortosito Capivarita, situado a sul de Pantano taludes (Figura 11.67).
Grande, compreende o maior corpo dentre todos os que Nos terrenos da unidade DCMUmu, os calcários podem
compõem a unidade DCMUbu, com área de exposição su- sofrer dissolução em subsuperfície, devido à percolação
perior a 180 km2. É uma rocha maciça, localmente bandada, de águas ácidas, resultando em recalque de estruturas e
que se encontra cortada por diques de anfibolito, textura colapsos de terreno. Esses terrenos apresentam elevada
equigranular, de granulação média a grossa, localmente suscetibilidade à erosão e a movimentos de massa, devido
pegmatoide. às características dos solos, que apresentam alta capacidade
Os terrenos constituídos por rochas básicas e ultrabási- de compactação, e do relevo.
cas apresentam formas de relevo do tipo Colinas
Dissecadas e Morros Baixos. Compreendem
colinas dissecadas com vertentes convexo-
-côncavas e topos arredondados ou aguçados,
com geração de rampas de colúvios nas baixas
vertentes. A amplitude de relevo varia de 30 a 80
m e a inclinação das vertentes, entre 5o e 20o.
Características, Adequabilidades
e Limitações Frente ao Uso e à
Ocupação
Obras de engenharia
196
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
197
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
198
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
aguçados, com amplitude de relevo variando de 30 a 80 Essas rochas ocorrem em relevo de Colinas Dissecadas
m e inclinação das vertentes entre 5 e 20o. e Morros Baixos, Morros e Serras Baixas.
Os Morros e Serras Baixas constituem o relevo mais
dissecado esculpido nesses terrenos, onde a amplitude de Série Shoshonítica (DCGR1sho)
relevo varia de 80 a 200 m e a inclinação das vertentes
varia de 15 a 35o. Essa unidade compreende as rochas da série shoshoní-
tica até alcalina potássica saturada em sílica. Ocorre restrita à
Séries Graníticas Subalcalinas (DCGR1salc) região de Lavras do Sul e corresponde às unidades geológicas
Fácies Monzonito, Fácies Monzogranito e Fácies Granodio-
Essa unidade compreende as rochas não-deformadas rito do Complexo Granítico Lavras do Sul e Monzodiorito
classificadas nas séries magmáticas subalcalinas engloban- Arroio do Jaques (WILDNER et al., 2008).
do as calcialcalinas (baixo, médio e alto k) e as toleíticas. Os terrenos da unidade DCGR1sho ocorrem em relevo
Ocorrem principalmente na região leste do Escudo Sul-Rio- de Colinas Dissecadas e Morros Baixos e Morros e Serras
-Grandense. Correspondem às unidades geológicas Fácies Baixas (Figura 11.69).
Cerro Grande da Suíte Granítica Dom Feliciano, Diorito
Capim Branco, Suíte Granítica Caçapava do Sul, Granito Características, Adequabilidades e
Arroio Moinho, Granito Capão do Leão, Granito Chasqueiro, Limitações Frente ao Uso e à Ocupação
Granito Quitéria, Granito Santa Zélia, Granito São Manoel,
Granodiorito Fazenda do Posto, Monzogranito Santa Rita Obras de engenharia
e Monzogranito Santo Antônio (WILDNER et al., 2008).
Os terrenos da unidade DCGR1salc apresentam formas As rochas cristalinas que integram o domínio DCGR1
de relevo definidas como Inselbergs e Morros-Testemunhos, apresentam alto grau de coerência, são homogêneas e com
Colinas Dissecadas e Morros Baixos e Morros e Serras Baixas texturas médias a grosseiras. Possuem alta resistência ao
(descritas anteriormente). intemperismo físico-químico. Apresentam alta capacidade
de suporte e resistência ao corte e à penetração.
Granitóides Peraluminosos (DCGR1pal) As rochas apresentam-se fraturadas nas bordas dos
maciços, facilitando o desprendimento de blocos em ta-
Essa unidade compreende as rochas derivadas de mag- ludes de corte e a infiltração de eventuais contaminantes
mas ricos em alumínio, resultantes de refusão crustal. São (Figura 11.70).
geralmente granitos e granodioritos nos quais muscovita, Para o desmonte de rocha é necessário o uso de
almandina e silimanita são minerais frequentes. Os granitoi- explosivos. A execução de escavações e de perfurações
des peraluminosos ocorrem restritamente a leste de Santana no manto de intemperismo é dificultada pela presença de
da Boa Vista e correspondem à unidade geológica Granito blocos e matacões em meio aos solos e à profundidade
Campinas. Segundo WILDNER et al. (2008), consistem em bastante irregular do substrato rochoso.
granitoides leucocráticos de granulação fina a média, por- Os solos desestabilizam-se com facilidade em taludes
firíticos, apresentando, localmente, disseminações ou agre- de corte. São muito suscetíveis à erosão e, nos relevos
gados irregulares de turmalina e aglomerados de biotita. com vertentes mais íngremes, como dos tipos Inselbergs
Figura 11.69 - Cidade de Lavras do Sul, situada na unidade DCGR1sho, em relevo de morros e serras baixas.
199
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
e Morros e Serras Baixas, estão sujeitos a movimentos de solos pouco evoluídos, rasos, com textura média, modera-
massa e queda de blocos. damente a bem drenados, com elevada suscetibilidade à
erosão, são classificados como de muito baixa resistência.
Agricultura
Recursos hídricos subterrâneos
Nos terrenos do domínio DCGR1, ocorrem Neossolos
Litólicos Distro-Úmbricos fragmentários ou típicos, Ne- A maior parte das rochas do domínio DCGR1 compor-
ossolos Regolíticos Distro-Úmbricos lépticos ou típicos, e ta-se como aquíferos com baixa possibilidade para água
Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos úmbricos (STRECK subterrânea em fraturas (MACHADO e FREITAS, 2005). Os
et al., 2008). poços apresentam capacidades específicas inferiores a 0,5
Os Neossolos são solos pouco evoluídos, rasos, com m³/h/m. Também ocorrem poços secos. As salinidades são,
textura média, moderadamente a bem drenados. Podem em geral, inferiores a 300 mg/l. As águas podem apresentar
apresentar associação com pedregosidade e rochosidade. enriquecimento em flúor.
Possuem elevada suscetibilidade à erosão. O relevo com Nos terrenos do domínio DCGR1, situados mais a
vertentes íngremes dificulta a mecanização agrícola. Já nos leste, as rochas se comportam como aquífero improdutivo,
locais onde o relevo é suave, em Colinas Amplas e Suaves, devido à ausência de fraturas interconectadas e à situação
a mecanização agrícola é facilitada. topográfica desfavorável.
Os Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos úmbri-
co são profundos, com textura arenoargilosa e gradiente Recursos minerais
textural.
Os terrenos da unidade DCGR1sho apresentam Neos- Na unidade DCGR1sho, são conhecidas mineralizações
solos Regolíticos Distro-Úmbricos lépticos ou típicos. São so- de ouro e de ouro e cobre com prata associada. A maior
los pouco evoluídos, rasos, textura média e bem drenados. parte dos jazimentos é representada por filões quartzosos,
Possuem boa fertilidade natural e baixa saturação de bases. mas também ocorrem importantes jazimentos de ouro dis-
seminado em zonas do granito alterado hidrotermalmente
Fontes poluidoras (RAMGRAB et al., 2002). Estes são denominados Bloco do
Butiá, Cerrito e Volta Grande, dos quais o primeiro é o de
Os terrenos onde se desenvolvem os solos mais profun- maior importância tendo sido explotado por muitos anos.
dos e com acumulação de argila no horizonte subsuperficial, O minério de ouro ocorre em veios de quartzo de forma
associados aos relevos tipos Colinas Amplas e Suaves e disseminada nas rochas graníticas em zonas de intensa
Colinas Dissecadas e Morros Baixos, apresentam capacidade alteração hidrotermal.
de reter e fixar poluentes. São classificados como de baixa Segundo Pires et al. (2009), áreas de pesquisa e conces-
resistência a impactos decorrentes da aplicação de resíduos sões de lavra que se encontravam paralisadas estão sendo
(KÄMPF et al., 2008). Já nos relevos mais acidentados, os pesquisadas e reavaliadas desde o ano de 2006. Na região,
o ouro também ocorre em depósitos detríticos
que já foram objeto de explotação no passado.
Importantes jazimentos de estanho ocor-
rem associados às rochas graníticas da unidade
DCGR1pal. Segundo Frantz e Marques (2009),
os depósitos são de alto teor, quando compara-
dos aos associados às rochas da Suíte Intrusiva
Cordilheira, agrupadas na unidade DCGR2pal,
e integram um sistema com características de
granitos estéreis contendo mineralização eco-
nômica lavrada por mais de um século.
A mineralização ocorre na forma de
veios pegmatoides, sendo que a cassiterita
ocorre junto à parede da encaixante em grãos
disseminados (também ocorre disseminada
em veios greisenizados que cortam o granito)
(RAMGRAB et al., 2002). Na unidade também
são registrados depósitos detríticos de cas-
siterita com registro histórico de mineração.
Ocorrências de ouro em sedimentos aluvio-
Figura 11.70 - Rocha fraturada da unidade DCGRR1sho (corte da rodovia RS-357, nares e de feldspato em pegmatitos também
a nordeste de Lavras do Sul). são registradas.
200
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Jazimentos de tungstênio e estanho associado ocorrem Nessa unidade, a maior potencialidade para rocha
a sudoeste de Encruzilhada do Sul, encaixados em rochas ornamental está relacionada a rochas com composição
da unidade DCGR1alc. As mineralizações são formadas monzogranítica e textura porfirítica de cores claras, como
por filões de quartzo com wolframita, calcopirita e pirita cinza, bege, laranja e rosa, que ocorrem nas regiões de
(RAMGRAB et al., 2002). Sertão Santana, Cerro Grande, Canguçu, Pinheiro Machado,
Acessoriamente, ocorrem turmalina, fluorita, berilo e Piratini, Arroio Grande e Pelotas (PHILIP et al., 2007).
topázio. Na unidade também ocorrem depósitos detríticos A exploração dessas rochas é facilitada pelo relevo
de cassiterita, jazimentos pegmatíticos de quartzo e felds- mais destacado em que ocorrem, com a presença frequente
pato e de berilo e columbita, jazimentos de cobre, ouro de campos de matacões e áreas com lajeados. Entre as uni-
filoniano, jazimentos de fluorita na forma disseminada e dades comercializáveis, destacam-se: Fácies Cerro Grande,
em filonetes, além de ocorrências de molibdenita e indícios da Suíte Granítica Dom Feliciano, que recebe as denomina-
de urânio. ções Ouro Granito, Prata Gaúcho, Prata Sertanense e Ouro
Na unidade DCGR1salc, ocorrem depósitos detríticos Sertanense, em Sertão Santana, e é explotada em Pelotas
de cassiterita, ocorrências de feldspato e quartzo em peg- com o nome Orange Kizi; Granito Arroio Moinho, que
matitos, ocorrências de molibdenita e indícios de cobre e recebe a denominação Azul Boreal em Canguçu; Granito
tungstênio. Chasqueiro, que em Arroio Grande recebe o nome Cinza
Os terrenos das unidades DCGR1alc e DCGR1salc apre- Arroio Grande.
sentam importantes depósitos de rocha ornamental. Em As rochas do domínio DCGR1 apresentam potencial
terrenos da unidade DCGR1alc, no município de Cachoeira para produção de brita, pedra de talhe, para uso em
do Sul, é explotado o Sienito Piquiri, que recebe o nome fundações e como agregados para concreto e outras
comercial de Granito Marrom Guaíba e representa a prin- aplicações (Figura 11.71). Os solos residuais podem ser
cipal jazida de rocha ornamental do estado. A explotação utilizados como saibro. Depósitos de argila para cerâmica
é feita no maciço rochoso, que é cortado empregando-se vermelha também podem ocorrer associados à alteração
o processo do jet flame (RAMGRAB et al., 1997). das rochas.
A principal reserva ornamental do estado está relaciona-
da a rochas da Fácies Serra do Erval, da Suíte Granítica Dom Aspectos ambientais e potencial turístico
Feliciano, em função de suas características e, principalmen-
te, do relevo destacado, com presença abundante de lajeados O Parque Estadual de Itapuã está situado a sul de
rochosos (PHILIP et al., 2007). Os granitos possuem texturas Porto Alegre, em terrenos de morros de rochas graníticas,
equigranulares e cores rosadas, avermelhadas, alaranjadas sedimentos lagunares e em terrenos ocupados por dunas
e, eventualmente, castanho-claras. Comercialmente, essas móveis e fixas. A sua área consiste na última amostra dos
rochas recebem as seguintes denominações: Royal Red (na ambientes originais da RMPA, abrigando uma diversidade
região de Pinheiro Machado), Colorado Gaúcho (em Via- de paisagens e ecossistemas compostos por morros, praias,
mão), Vermelho Bordô e Bordô Cristal (em Cristal), Vermelho dunas, lagoas e banhados, com número significativo de
Guaíba e Rosa Guaíba (em Guaíba) e Vermelho Encruzilhada espécies raras e ameaçadas de extinção, além de constituir
(em Encruzilhada do Sul). Nessa região, segundo os autores, abrigo para aves migratórias. Cavernas e abrigos sob rocha,
são muito explorados granitos da fácies porfirítica da Suíte resultantes de desmoronamento de blocos, fazem parte das
Granítica Encruzilhada do Sul, que recebem os nomes co- atrações do parque (Figuras 11.72 e 11.73).
merciais Rosa Encruzilhada, Bege Pérola, Minuano e Coral. O ouro constitui a principal substância mineral re-
Philip et al. (2007) destacam ainda o potencial para ex- presentativa dos metais preciosos no Rio Grande do Sul,
plotação como rocha ornamental dos granitos maciços mais sendo que uma das principais áreas com jazimentos de
jovens e indeformados, em sua ampla maioria, com cores ouro está inserida no contexto da unidade DCGR1sho, em
rosadas e avermelhadas e composição sienogranítica, rela- Lavras do Sul.
cionados à unidade DCGR1alc, dentre os quais: Granito São Uma vez que as atividades mineiras estão paralisadas,
Sepé, conhecido comercialmente como Vermelho São Sepé; registram-se diferentes tipos de passivo ambiental nessas
Granito Jaguari, a noroeste de Lavras do Sul; granitos Ramada antigas frentes de lavra (ORLANDI FILHO e ZANINI, 2006). As
e Cerro da Cria, situados a sudeste de Vila Nova do Sul. características do impacto ambiental causado, em síntese,
Na unidade DCGR1salc, na região de Cerro Grande, a referem-se a escavações de porte médio, a céu aberto, em
forma de afloramento das rochas, em grandes matacões áreas de encostas dos terrenos – no caso das minas – e de
ou constituindo campos de boulders como parte de um pequenas escavações em áreas onde foram desenvolvidas
relevo acidentado e escarpado sem cobertura, é aproveita- atividades de garimpo.
da para o corte de blocos de rocha ornamental (WILDNER Antigas pedreiras para produção de mate-riais de uso
et al., 2008). A rocha, com características texturais muito na construção civil também representam, em muitos casos,
homogêneas, é comercializada sob a denominação Granito importantes passivos, principalmente em função das grandes
Ouro Gaúcho. frentes de lavra desativadas e sem reintegração à paisagem.
201
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Figura 11.71 - Pedreira para produção de agregados para a construção civil (Butiá, RS).
Figura 11.72 - Vista da praia da Pedreira, que conta com infraestrutura de lazer
(Parque Estadual de Itapuã).
202
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
DOMÍNIO DOS GRANITOIDES DEFORMADOS As Colinas Amplas e Suaves são pouco dissecadas,
(DCGR2) com vertentes convexas e topos amplos, onde a amplitude
de relevo varia de 20 a 50 m e as vertentes apresentam
Esse domínio engloba rochas associadas ao Sistema inclinação entre 3o e 10o.
Dorsal de Canguçu. Este, segundo WILDNER et al. (2008), Os Morros e Serras Baixas consistem em morros
compreende uma zona de cisalhamento transcorrente de convexo-côncavos dissecados, com topos arredondados ou
grande escala, com disposição alongada segundo a direção aguçados. Apresentam colúvios e, subordinadamente, de-
NE-SW, desde a região de Minas do Leão, ao norte, até pósitos de tálus nas baixas vertentes. A amplitude de relevo
próximo de Pinheiro Machado, ao sul. varia de 80 a 200 m e a inclinação das vertentes, de 15 a 35o.
O domínio DCGR2, no estado do Rio Grande do Sul,
apresenta-se subdividido em duas unidades geológico-am- Granitoides Peraluminosos (DCGR2pal)
bientais: Séries Graníticas Alcalinas (DCGR2alc) e Granitoides
Peraluminosos (DCGR2pal) (Figura 11.74). Essa unidade compreende as rochas derivadas de
magmas ricos em aluminio, resultantes de refusão crustal.
São geralmente granitos e granodioritos nos
quais muscovita, almandina e silimanita são
minerais muito frequentes. Essas rochas aflo-
ram em uma faixa com direção nordeste que
marca a Dorsal de Canguçu. Estão agrupadas
nas unidades geológicas Granito Chácara São
Jerônimo, Granito Figueiras, Granito Francis-
quinho e Suíte Granítica Cordilheira (WILDNER
et al., 2008).
Os terrenos da unidade DCGR2pal
apresentam relevo de Colinas Dissecadas
e Morros Baixos e Morros e Serras Baixas.
As Colinas Dissecadas e Morros Baixos
apresentam vertentes convexo-côncavas e to-
pos arredondados ou aguçados, com geração
de rampas de colúvios nas baixas vertentes. A
amplitude de relevo varia de 30 a 80 m e a
inclinação das vertentes, de 5 a 20o.
Os Morros e Serras Baixas são resultantes
de uma dissecação ainda maior, onde, além dos
Séries graníticas alcalinas
colúvios, também são gerados, subordinada-
Granitóides peraluminosos
mente, depósitos de tálus nas baixas vertentes.
A amplitude de relevo é maior, variando de 80
Figura 11.74: Área de ocorrência das unidades geológico-ambientais do domínio a 200 m, enquanto a inclinação das vertentes
dos granitoides deformados no estado do Rio Grande do Sul. varia de 15 a 35o.
203
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
ções em taludes de corte, principalmente quando as rochas com textura média, bem drenados, com elevada sus-
se encontram parcialmente alteradas (Figura 11.75). cetibilidade à erosão, são classificados como de muito
baixa resistência.
Recursos minerais
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GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Características, Adequabilidades
e Limitações Frente ao Uso e à
Ocupação
Obras de engenharia
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GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
206
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
207
GEODIVERSIDADE do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
fenocristais, recristalização parcial da mineralogia primária, relevo varia de 80 a 200 m e a inclinação das vertentes,
desenvolvimento de foliação, bem como o aparecimento de 15 a 35o.
de mineralogia secundária. Os ortognaisses granodioríticos
são rochas de coloração cinza com pontuações vermelhas, Características, Adequabilidades e
granulação grossa a fina, textura dominantemente por- Limitações Frente ao Uso e à Ocupação
firoblástica, com marcante bandamento conferido pela
alternância de níveis centimétricos escuros de biotita, Obras de engenharia
regulares e contínuos, com níveis quartzofeldspáticos,
milimétricos, descontínuos, de coloração esbranquiçada. Os terrenos que compõem o domínio DCGMGL se ca-
Os ortognaisses leucograníticos apresentam cor branca a racterizam por complexa associação de rochas com as mais
róseo-clara; são porfiroblásticos, com granulação fina a distintas composições, o que resulta na alternância de níveis
grossa. Localmente, ocorrem associados termos greiseniza- de espessuras variadas que apresentam comportamentos
dos e rochas pegmatoides de cor branca, com pontuações geomecânico e hidráulico distintos (Figura 11.79).
escuras de turmalina, contendo palhetas desenvolvidas de Os gnaisses apresentam camadas que se alternam
muscovita. As rochas encontram-se comumente miloni- com composições mineralógicas muito distintas e que
tizadas e dobradas. possuem diferentes resistências ao intemperismo químico.
Os terrenos da unidade DCGMGLgno apresentam As camadas mais claras são constituídas por quartzo e
formas de relevo definidas como Inselbergs e Morros- feldspatos e são mais resistentes ao intemperismo que as
-Testemunhos, Colinas Amplas e Suaves, Colinas Dissecadas camadas escuras compostas por minerais ferromagnesianos
e Morros Baixos, e Morros e Serras Baixas. (Figura 11.80).
Os Inselbergs e Morros-Testemunhos são relevos As rochas são bastante fraturadas e portadoras de mui-
residuais isolados, destacados do restante da paisagem. tas superfícies planares, como foliações e acamadamentos.
Possuem amplitude de relevo de 50 até 500 m e vertentes Tais estruturas representam descontinuidades que podem
com declividade entre 25o e 45o. provocar o desprendimento de blocos e a desestabilização
As Colinas Amplas e Suaves compreendem as “coxi- em taludes de corte, principalmente quando as rochas se
lhas”. São colinas pouco dissecadas, com vertentes convexas encontram alteradas.
e topos amplos, onde a amplitude de relevo varia de 20 Existe a possibilidade de dissolução dos calcários que
a 50 m e as vertentes possuem inclinação entre 3 e 10o. ocorrem como lentes em todas as unidades do domínio
As Colinas Dissecadas e Morros Baixos apresentam DCGMGL, o que pode resultar em recalque de estruturas e
vertentes convexo-côncavas e topos arredondados ou colapsos de terrenos.
aguçados, com amplitude de relevo variando de 30 a 80 Os terrenos das unidades DCGMGLgnp e DCGMGLgno
m e inclinação das vertentes entre 5 e 20o. são muito suscetíveis à erosão e também a movimentos
Os Morros e Serras Baixas constituem o relevo mais de massa, devido às declividades acentuadas que podem
dissecado esculpido nesses terrenos, onde a amplitude de apresentar. Muito localmente, no sudoeste da unidade
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GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADE POTENCIALIDADES
E LIMITAÇÕES FRENTE AO USO E À OCUPAÇÃO
Recursos minerais