Você está na página 1de 30

A produção de conhecimento científico é um assunto com o qual todos estão, de

algum modo, familiarizados. Ainda assim, poucos concordariam sobre o que tratar
em uma disciplina de metodologia científica para alunos de Psicologia, ou mesmo
em uma palestra sobre o tema. Iniciamos, portanto, esclarecendo o que será
abordado neste artigo. Basicamente, discutiremos o que é conhecimento, o que é a
Psicologia e o que é produzir conhecimento psicológico de um ponto de vista
analítico-comportamental. Com isso, queremos também deixar claro o que não será
examinado. Não nos ocuparemos de técnicas ou procedimentos de investigação
empregados no cotidiano científico da análise do comportamento. Não porque o
assunto seja irrelevante, mas porque só faz sentido examiná-lo sob o pano de
fundo das questões preliminares que serão privilegiadas nesta exposição.

A elaboração aqui apresentada também não deve ser tomada como o ponto de
vista do conjunto dos analistas do comportamento. Da mesma forma que em outras
“comunidades psicológicas”, há, na análise do comportamento, certa variação (ou
variabilidade) nos modos como seus membros discutem alguns problemas.
Esperamos estar apresentando uma análise consistente com princípios filosóficos e
conceituais da área, mas não necessariamente representativa do que qualquer
analista do comportamento diria sobre o assunto.

Por último, consideramos estar nos dirigindo a leitores predominantemente não


familiarizados com a análise do comportamento; evitaremos, portanto, o uso de
uma linguagem técnica da área. Por outro lado, devemos antecipar que muitas das
idéias apresentadas conflitam com crenças bem difundidas sobre psicólogos
comportamentais e isso se deve a dois fatores que serão focalizados: primeiro, o
fato de que algumas afirmações sobre os “behavioristas” são infundadas, ou seja,
não correspondem realmente ao que propõem autores da área; segundo, não
existe uma psicologia behaviorista, mas várias modalidades de behaviorismo, que
se diferenciam substancialmente do ponto de vista de seus princípios e de seus
programas de pesquisa. Nossas referências serão o behaviorismo radical proposto
originalmente por B. F. Skinner e a produção da comunidade de analistas do
comportamento constituída com o suporte de sua obra.

Escolhemos iniciar com uma parábola, contada pelo sociólogo Norbert Elias, em
uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata
a seguinte parábola das estátuas pensantes:

“À margem de um largo rio, ou talvez na encosta íngreme de uma montanha


elevada, encontra-se uma fileira de estátuas. Elas não conseguem movimentar seus
membros. Mas têm olhos e podem enxergar. Talvez ouvidos, também, capazes de
ouvir. E sabem pensar. São dotadas de “entendimento”. Podemos presumir que não
vejam umas às outras, embora saibam perfeitamente que existem outras. Cada
uma está isolada. Cada estátua em isolamento percebe que há algo acontecendo do
outro lado do rio ou do vale. Cada uma tem idéias do que está acontecendo e
medita sobre até que ponto essas idéias correspondem ao que está sucedendo.
Algumas acham que essas idéias simplesmente espelham as ocorrências do lado
oposto. Outras pensam que uma grande contribuição vem de seu próprio
entendimento. No final, é impossível saber o que está acontecendo por lá. Cada
estátua forma sua própria opinião. Tudo que ela sabe provém de sua própria
experiência. Ela sempre foi tal como é agora. Não se modifica. Enxerga. Observa.
Há algo acontecendo do outro lado. Ela pensa nisso. Mas continua em aberto a
questão de se o que ela pensa corresponde ao que lá está sucedendo. Ela não tem
meios de convencer. É imóvel. E está só. O abismo é profundo demais. O golfo é
intransponível” (pp. 96-97).
A parábola das estátuas pensantes ilustra bem como incidiu na discussão de ordem
epistemológica uma concepção de homem, de acordo com a qual condições
internas ou subjetivas de sujeitos particulares definem e circunscrevem suas
possibilidades de conhecimento da realidade. Nessa visão, o intercâmbio humano
não exerce uma função essencial, o sujeito está fechado em si mesmo; o mundo
social é parte de uma exterioridade, da qual ele se distancia em seu esforço
reflexivo; ainda, o status dos enunciados assim construídos sobre a natureza se
define de acordo com a possibilidade de corresponderem ao que existe
independentemente de sujeitos particulares e de sua interação efetiva com o
mundo. O conceito de “sujeito”, aqui constituído, é um correlato do conceito de
“indivíduo” (elaborado na reflexão sobre as condições de realização do homem na
esfera política, econômica, social e religiosa). Tanto no pensamento filosófico como
em outros domínios, esse homem isolado merecerá extensa investigação de suas
faculdades ou capacidades pessoais, visto serem elas a via para sua realização
plena. Embora essa seja uma problematização típica da Filosofia dos séculos XVII e
XVIII sua atualidade pode ser surpreendente. Há, por exemplo, clara continuidade
entre aquelas noções ou crenças e o que nos fala Sennett (1988) sobre um
narcisismo contemporâneo (como “distúrbio de caráter”), que impossibilita o
indivíduo de atribuir significado ou valor a certas relações com o mundo, para além
do que representam em termos de sensações privadamente experimentadas.

A análise do comportamento se edifica como uma modalidade de discurso


psicológico crítico dessa visão de homem e da correspondente sobrevalorização do
que ocorre privadamente ao indivíduo, não porque ignora a chamada “experiência
subjetiva” ou deixa de reconhecê-la como constitutiva de instâncias do fenômeno
comportamental, mas porque não atribui a esses eventos uma centralidade na
explicação do comportamento humano; diferente disso, busca na relação do
Homem com o mundo uma explicação tanto para sua experiência subjetiva, quanto
para seu comportamento publicamente partilhado.

Com essa primeira incursão no pensamento analítico-comportamental, passamos a


expor como o conhecimento, especialmente o conhecimento científico, é
interpretado em seu âmbito.

Noção de Conhecimento e Critérios de Validação do Saber


Produzido2

As psicologias comportamentais têm relações próximas com o positivismo, como


freqüentemente assinalam seus críticos. É necessário acrescentar, porém, que
essas relações assumem contornos bastante variáveis. Historicamente, diferentes
versões da filosofia positivista foram elaboradas; algumas delas influenciaram
modalidades não coincidentes de behaviorismo.

Na primeira metade do século XX, período em que as abordagens comportamentais


experimentaram grande desenvolvimento e repercussão na Psicologia, a vertente
do positivismo com maior impacto no cenário filosófico era o positivismo lógico, ou
neopositivismo. Os autores neopositivistas (Schlick, Carnap, Neurath, Hahn, Feigl e
outros) se dedicaram a assuntos diversos, construindo uma obra filosófica difusa. O
que os ligava era, principalmente, um interesse em demarcar as fronteiras entre
ciência e metafísica, o que consideravam ser possível a partir de uma análise
lingüística dos enunciados de um e de outro tipo. Em termos bastante gerais, os
positivistas lógicos distinguiam três tipos de asserções: asserções empíricas,
asserções lógico-matemáticas e asserções sem sentido. A ciência deve operar com
enunciados empíricos, deve ater-se à investigação do que está acessível a uma
verificação pública e limitar suas leis à descrição de regularidades assim definidas.
Enunciados com valor de verdade, de acordo com essa leitura, são apenas aqueles
que descrevem estados de coisas empiricamente verificáveis. Essa posição colocará
em dificuldades o projeto de uma ciência dos fatos psicológicos (o que, para a
epistemologia positivista, não constituirá um problema), admitidos como
ocorrências inacessíveis a uma observação pública direta.

O positivismo lógico influenciou certos grupos de behavioristas norte-americanos,


especialmente quando, fugidos da guerra e da perseguição aos judeus, alguns
membros do Círculo de Viena se mudaram para os Estados Unidos e assumiram
funções acadêmicas em universidades norteamericanas. A convivência próxima
entre psicólogos comportamentais e filósofos neopositivistas rendeu frutos muito
evidentes, como um ensaio de Stevens (professor em Harvard, que acolheu, na
época, Herbert Feigl) sobre a ciência e a linguagem científica (cf. Stevens, 1939). A
modalidade de behaviorismo que incorporou preceitos do positivismo lógico na
discussão sobre as feições de um projeto de Psicologia como ciência do
comportamento foi, mais tarde, denominada de “behaviorismo (meramente)
metodológico” (Skinner, 1945). Nas palavras do próprio Stevens (1939), “a
ciência ... é um conjunto de proposições empíricas sobre as quais os membros da
sociedade concordam” (p. 227) e, assim, “somente aquelas proposições baseadas
em operações públicas e replicáveis são admitidas no corpo da ciência. Nem mesmo
a Psicologia sabe alguma coisa sobre a experiência privada, pois uma operação
para penetrar na privacidade é autocontraditória” (pp. 227-228).

No behaviorismo metodológico, o comportamento (entendido apenas como


respostas públicas dos organismos) é o objeto de estudos porque é o que se presta
a uma observação pública direta, atendendo aos critérios de cientificidade
adotados; ele, no entanto, pode ser expressão indireta de fenômenos mais
fundamentais, os fenômenos “subjetivos”, que, por não cumprirem as exigências de
observabilidade, não podem ser assumidos como objeto de estudos. Essa é a
versão empirista de ciência que, sob a influência de preceitos neopositivistas,
promove o distanciamento da Psicologia em relação aos fenômenos considerados
subjetivos, ou privados. Freqüentemente, é a ela que se aplicam as críticas
generalizadas para a Psicologia Comportamental como um todo. A generalização,
no entanto, é incorreta, porque o discurso verificacionista do behaviorismo
metodológico não é aceito pelo conjunto das abordagens behavioristas. No caso
particular do behaviorismo radical, Skinner refutou repetidamente, desde 1945
(Skinner, 1945), as teses verificacionistas dos behavioristas metodológicos. No
lugar da observação pública como critério de verdade, Skinner sugeria uma
referência instrumental, de acordo com o qual “o critério último para a boa
qualidade de um conceito não é se duas pessoas são levadas à concordância, mas
se o cientista que usa o conceito pode operar com sucesso sobre seu material”
(Skinner, 1945, p. 293). Para Skinner, a inacessibilidade de sentimentos e
pensamentos à observação pública direta não os exclui do campo de interesses de
uma ciência do comportamento. Ao abordá-los, a análise do comportamento
apenas refuta a suposição de que são fenômenos “mentais”, preferindo
interpretálos como eventos com dimensões físicas3, ainda que inacessíveis à
observação pública. A abordagem científica daqueles eventos pode lançar mão de
métodos não observacionais; em particular, a interpretação é postulada por Skinner
como método legítimo, desde que orientada pelos conceitos já comprovados como
eficazes na interpretação de fenômenos menos complexos e regulada pela eficácia
em promover uma melhor interação do cientista com aqueles eventos.

Reiterando, o behaviorismo radical admite o estudo de fenômenos como


sentimentos e pensamentos (abordados com o conceito de “eventos privados”),
admite a interpretação como método para lidar cientificamente com problemas
dessa ordem e adota um critério instrumental de verdade na avaliação de
enunciados científicos sobre quaisquer fenômenos. Trata-se, portanto, de uma
versão de behaviorismo que não coincide com o behaviorismo metodológico e que
não incorpora suas teses positivistas.

As relações do behaviorismo radical com o positivismo têm uma outra origem e um


outro alcance. Basicamente, Skinner adota desde o início de seu programa de
pesquisas (cf. Skinner, 1931/1961) uma noção de causalidade formulada em
termos de relações funcionais entre eventos, o que é um modo de afastar-se de
posturas mecanicistas; associado a isso, interpreta a ciência como voltada para a
descrição e explicação de fenômenos, sendo essas atividades consideradas
coincidentes (embora possivelmente diferenciadas quanto à abrangência - cf. Scoz,
2001), ambas correspondendo à especificação de relações funcionais. Esse modo de
olhar para a ciência e para a causalidade é atribuído por Skinner, em seus primeiros
textos, a Ernst Mach, um positivista que viveu de 1838 a 1916, e cuja obra citada
por Skinner foi publicada ainda no século XIX (Mach, 1883/1949).

Mach foi um positivista fortemente influenciado pelo pensamento darwinista. Ele


interpretava o conhecimento e as atividades dirigidas à sua construção como
regulados por princípios adaptativos. Por razões que se relacionam com a história
de nossa espécie, nossas “representações” do mundo são sempre organizações de
nossa experiência de acordo com nossos interesses ou necessidades práticas e
intelectuais. Mach supõe haver uma continuidade entre o conhecimento “prático”,
“primitivo”, ou “pré-científico” e o conhecimento científico, sendo que o último
incorpora de modo mais efetivo um “princípio de economia”. De acordo com esse
princípio, uma parcela cada vez mais ampla da experiência humana é organizada
de modo cada vez mais simples. Assim, a ciência não provê o acesso a um
conteúdo especial da experiência, mas apenas a organiza de modo mais produtivo.
Observe-se que a análise de Mach implica tanto um reconhecimento da relatividade
de todo enunciado científico, quanto uma naturalização dos fenômenos do
conhecimento, que acaba resultando em uma valorização da observação e da
experimentação como vias privilegiadas.

Como positivista, Mach considerava a ciência uma espécie de “discurso privilegiado”


sobre a realidade. No entanto, ele já se distanciava de uma perspectiva
representacional, na medida em que a correspondência formal com a realidade era
rejeitada; uma lei científica é apenas “a experiência economicamente ordenada de
forma a estar pronta para uso” (Mach, em Lübbe, 1978, p. 94). Como assinalado
por Kolakowski (1972) em uma apresentação da filosofia positivista, Mach “era
profundamente convencido do caráter provisório de todo estágio da ciência e de
todas as asserções científicas” (p.142). Nesse contexto, a “verdade era uma
questão de promoção da adaptação de um indivíduo ou da espécie ao ambiente
circundante” (Smith, 1989, p. 272); uma concepção de verdade muito próxima
daquela que será veiculada no pragmatismo de William James. Assim, o positivismo
de Mach já pertencia a uma tradição crítica de certos ideais positivistas “clássicos”,
como aqueles relacionados a uma noção representacional do conhecimento e a uma
concepção universal de verdade científica.

Embora o positivismo de Ernst Mach tenha influenciado o pensamento de Skinner


no início de sua carreira, não se pode dizer que tenha definido os compromissos de
sua ciência do comportamento. Apesar das referências de Skinner a Mach e a
outros pensadores, não se deve considerar que ele buscava em qualquer filosofia a
sustentação para sua ciência do comportamento. Ao contrário, desde o início,
Skinner pensava que a Filosofia tinha muito a usufruir do que uma ciência
psicológica produzisse sobre o comportamento humano. Com o desenvolvimento de
sua obra, e especialmente com a elaboração de uma interpretação funcional para a
linguagem, inclusive a linguagem científica, a abordagem do problema do
conhecimento vai se sofisticando, sem que novas referências a pensadores
positivistas sejam encontradas; ao contrário, Skinner volta a referir-se ao
positivismo de um modo mais sistemático apenas em 1945, para criticar os
behavioristas metodológicos e sua aceitação de preceitos do positivismo lógico. Em
outras palavras, as relações do behaviorismo skinneriano com a tradição filosófica
positivista são restritas, não são definitivas e não conduzem aos problemas
apontados com respeito ao behaviorismo metodológico. Qualquer tentativa de
caracterizar filosoficamente o behaviorismo radical com base na referência ao
positivismo exigirá que se ignorem aspectos importantes da elaboração skinneriana
e de outros analistas do comportamento; será, de outro modo, uma distorção do
que se encontra na literatura da área. Se for necessário aproximar a análise do
comportamento de um sistema filosófico particular de seu tempo, pode-se dizer
que as noções de conhecimento e de verdade elaboradas por Skinner estão muito
mais próximas do pragmatismo do que de qualquer outro movimento filosófico nos
séculos XIX e XX. Essa relação será ilustrada a seguir.

Conhecer, para Skinner, é comportar-se de modos efetivos com respeito a uma


parcela da realidade, isto é, o conhecimento não é uma posse, mas uma
probabilidade de o indivíduo agir no mundo de modos produtivos (modos de ação
que produzem conseqüências positivas, com ou sem um menor custo de resposta).
Assim, o conceito de conhecimento diz respeito a algo que acontece no plano das
relações com o mundo físico e social, e é função da história dessas relações; não
descreve ocorrências internas e singulares dos indivíduos. O afastamento em
relação às “estátuas pensantes”, como pode ser notado, é evidente.

O conhecimento apresenta-se também sob a forma de enunciados que descrevem


modos eficazes de ação no mundo, como no caso dos ditados populares e das leis
científicas. As últimas descrevem não uma realidade independente dos sujeitos,
mas, ao contrário, o comportamento de sujeitos que agem de modo efetivo no
mundo. Enquanto comportamento, o conhecimento científico é função da história
ambiental dos cientistas, especialmente sua história de interação com contingências
sociais providas pela comunidade de cientistas. Essas contingências tentam limitar
as influências pessoais na atividade científica, mas de modo algum colocam o
comportamento do cientista sob controle estrito da natureza; são elas também que
diferenciam o conhecimento científico dos outros discursos sobre a realidade. Para
Skinner, o cientista, o poeta e o leigo estão em contato com um mesmo mundo (o
único que existe); apenas interagem com ele de modos diferentes, por força de
estarem expostos a contingências diversas (cf. Skinner, 1974).

Se o conhecimento científico é comportamento verbal sob controle de contingências


sociais (as contingências dispostas por uma comunidade de cientistas) e naturais
(aquela parcela da realidade com a qual o cientista interage), então ele não é
“verdadeiro” em nenhum sentido especial. Para Skinner (1974), “uma proposição é
‘verdadeira’ tanto quanto, com sua ajuda, o ouvinte responde de forma efetiva na
situação que ela descreve” (p. 235); portanto, “verdadeiro” é um modo de
descrever crenças que possibilitam lidar de modos efetivos com a realidade, e não
há verdade absoluta.

Uma ciência do comportamento está interessada em leis gerais sobre o


comportamento, no sentido de que ela dispensa especificações topográficas e
fisicalistas em favor de descrições de relações funcionais entre o que um indivíduo
faz e o que acontece no ambiente como conseqüência de sua ação, e está
interessada em enunciados verdadeiros, no sentido de que busca descrições que
capacitem o cientista para lidar de modo eficaz com fenômenos comportamentais.
Qualquer apelo para além disso escapa aos compromissos ou pretensões da análise
do comportamento.
William James se referia à verdade como aquilo em “que seria melhor para nós
acreditar” (James, 1907/1949a, p. 77). Segundo ele, os enunciados verdadeiros
“concordam” com a realidade apenas no sentido de que guiam os indivíduos de
modo eficaz, isto é, “qualquer idéia que nos ajude a lidar, de forma prática ou
intelectual, com a realidade ou seus pertences, que não envolve nosso progresso
em frustrações, que se ajusta, de fato, e adapta nossa vida ao cenário todo da
realidade, concordará suficientemente para atender o requisito. Ela será verdadeira
daquela realidade” (James, 1909/1949b, pp. 304-305).

A proximidade entre as interpretações de Skinner e as teses pragmatistas de


William James tem sido apontada por vários autores (e.g. Day, 1992, Malone Jr.,
1975, Tourinho, 1994, 1996, Zuriff, 1980). Também a interpretação
analíticocomportamental para a linguagem, que enfatiza as funções do
comportamento verbal e reinterpreta as noções de significado e referência
(inclusive no exame da chamada “linguagem das emoções”), tem levado a uma
identificação com o pensamento do “segundo” Wittgenstein (cf. Bloor, 1987,
Costall, 1980, Day, 1969, Waller, 1977). No plano das proposições filosóficas mais
contemporâneas, o behaviorismo radical tem sido interpretado como consistente
com o neopragmatismo de Richard Rorty (cf. Lamal, 1983, 1984, Leigland, 1999).
Parece justificado considerar o pragmatismo de James, o neopragmatismo de Rorty
e a análise wittgensteiniana da linguagem como contrapontos importantes de uma
tradição representacional em Filosofia, aquela mesma contida na parábola das
estátuas pensantes e em filosofias positivistas. Apontar aproximações do
behaviorismo radical a esses autores (ainda que relações nesses domínios possam
ser problematizadas) é um modo de indicar que, em matéria de conhecimento,
ciência e verdade, a análise do comportamento não apenas rejeita o subjetivismo
de certas doutrinas modernas, dirigindo sua atenção para o intercâmbio humano,
como também dispensa o recurso a critérios empiristas na validação de seus
enunciados.

Esclarecida a concepção instrumental e relacional de conhecimento com a qual a


análise do comportamento opera, passamos a examinar como é possível definir o
campo da Psicologia, no interior do qual se busca construir um conhecimento
original e produtivo.

A Psicologia como Área de Conhecimento e a Análise do


Comportamento como Sistema Psicológico

Há diversos modos de definir ou caracterizar a Psicologia, especialmente quando


isso é feito por psicólogos, com base em seus sistemas teóricos específicos.
Tentaremos falar da Psicologia de um modo que pensamos não estar comprometido
com um referencial teórico particular. A Psicologia pode ser interpretada como um
campo de saber, um modo particular de os indivíduos (na cultura ocidental
moderna) abordarem certos conjuntos de problemas historicamente constituídos.
Tem sido apontado (e.g. Figueiredo, 1991) que esses problemas dizem respeito,
em geral, a sentimentos, pensamentos, emoções etc., experimentados
predominantemente nas relações do indivíduo consigo mesmo, isto é, de modo
privatizado. A emergência dessa ordem de problemas produz demandas de vários
tipos na cultura. De um lado, é necessário tornar inteligível uma experiência que é
nova e que se articula de modos complexos com uma visão de homem também
original e sedutora, porém ilusória - a concepção do homem autônomo. Além disso,
espera-se da Psicologia que lide com produtos dessas mudanças, dificuldades novas
experimentadas pelos indivíduos em suas relações cotidianas com o mundo - e
freqüentemente atribuídas ao que se passa dentro de cada um. Assim, o campo de
saber da Psicologia já nasce multifacetado, não simplesmente porque é habitado
por discursos conflitantes, mas no sentido de que seus conteúdos têm uma
conformação variada, respondendo a demandas sociais em várias direções. A
Psicologia se edifica como um campo de saber que envolve, simultaneamente: a)
um esforço reflexivo sobre a natureza humana, seus problemas e suas
possibilidades de realização em diferentes domínios da vida (social, material,
intelectual, religioso etc.); b) uma investigação cientificamente orientada para a
descoberta de regularidades dos fenômenos psicológicos (um modo de tentar
apreender as novas experiências sob a forma de enunciados que incorporam os
requisitos empírico-racionais da emergente ciência); c) uma profissão de ajuda,
voltada para a solução de problemas humanos. Ou seja, o campo psicológico se
constitui historicamente como Filosofia, como ciência e como profissão. Pensar a
Psicologia desse modo ajuda na tarefa de compreender seus desenvolvimentos em
muitas direções e o conflito entre discursos que são concorrentes, mas nem sempre
comparáveis.

Tendo como referência essa leitura, o campo psicológico pode ser representado
como um triângulo, cujos vértices correspondem àquelas três áreas (cf. Tourinho,
1999). A figura sugere de imediato a ligação ou vínculo do que pertence a uma
área com o que pertence às demais. É possível, porém, ir mais longe e dizer que os
fazeres da Psicologia estão localizados não exatamente em um daqueles vértices,
mas em posições intermediárias entre eles, isto é, em algum ponto da área interna
do triângulo. Produções consistentes em Psicologia localizam-se em pontos variados
da área interna da figura, guardam relações variadas com preocupações/interesses
filosóficos, científicos e aplicados, aproximam-se mais de uma do que de outra área
(o que sempre possibilitará restrições de alguma ordem). Quanto mais próximo de
um vértice e mais distante dos demais, maior a caracterização de um discurso
como eficiente em uma direção, mas insuficiente enquanto representante da
Psicologia como um todo. Por exemplo, técnicas de ajuda sem vínculos com uma
produção científica e com uma reflexão filosófica consistente com nossos sistemas
amplos de interpretação da realidade provavelmente terão algum sucesso na
cultura, mas não serão reconhecidas como suficientes enquanto sistemas
psicológicos. Terão algum sucesso porque estarão se voltando para uma
necessidade real da cultura, mas não alcançarão o status de Psicologia porque
suprem apenas parcialmente as demandas dirigidas à disciplina. Do mesmo modo,
produções científicas que não se articulam com elaborações filosóficas consistentes,
ou que não se mostram capazes de instrumentalizar para a intervenção frente a
problemas humanos complexos, poderão até obter reconhecimento científico, mas
não ocuparão facilmente o lugar reservado na cultura para os saberes psicológicos.
Por último, interpretações psicológicas mais aproximadas de discursos filosóficos
que conflitem com a lógica empírico-racional da cultura científica e/ou demonstram
vínculos restritos com modelos eficazes de intervenção enfrentarão dificuldade
semelhante. Se essa interpretação estiver correta, são bem sucedidas na cultura
aquelas versões de Psicologia que conjugam: a) um esforço filosófico sintonizado
com as produções reflexivas contemporâneas; b) um compromisso com a
incorporação de exigências empírico-racionais em seus enunciados e/ou com a
interlocução com produções na área científica; c) uma busca sistemática de
alternativas para a solução de problemas humanos. Como a academia é, por
excelência, um espaço para o debate e validação de nossos sistemas elaborados de
crenças, as psicologias bem sucedidas tornam-se psicologias academicamente
validadas, em contraste com outras práticas ou explicações “psi” (como as
chamadas “psicologias alternativas”), que eventualmente penetram na cultura por
força de fatores diversos, mas não alcançam um reconhecimento social duradouro.
Falar em psicologias academicamente validadas parece mais eficiente do que falar
em psicologias científicas, considerando o que foi afirmado sobre a conformação do
campo da Psicologia.
Na medida em que a análise do comportamento é considerada um sistema
psicológico, sugere-se que ela é mais do que a ciência experimental referida nos
manuais de Psicologia. Como sistema psicológico, a análise do comportamento é
um campo de saber, no interior do qual se articulam conteúdos filosóficos,
empíricos e aplicados. Na análise do comportamento, o behaviorismo radical ocupa
o lugar das produções filosóficas, reflexivas ou conceituais. Isso leva Skinner
(1969) a referir-se ao behaviorismo radical como “uma filosofia da ciência que se
ocupa do objeto de estudos e dos métodos da Psicologia” (p. 221, itálico
acrescentado). O vértice da produção científica é representado pela pesquisa
empírica, freqüentemente referida como análise experimental do comportamento,
mas que, em muitas circunstâncias, é apenas descritiva, não envolvendo a
manipulação de variáveis típicas da aplicação do método experimental. No vértice
das produções aplicadas, encontra-se a análise aplicada do comportamento. O
desenvolvimento de tecnologias de caráter analítico-comportamental para a solução
de problemas conta com razoável reconhecimento, especialmente nas áreas de
educação regular e especial, às quais os analistas do comportamento se dedicaram
mais sistematicamente. Outras áreas também já experimentaram o avanço da
análise aplicada do comportamento, como a Psicologia Institucional, a Psicologia do
Esporte etc. Mais recentemente, também vem-se desenvolvendo de modo especial
a terapia analítico-comportamental, voltada para a intervenção verbal face a face e
distanciada do modelo de modificação do comportamento (que se mostrou eficaz na
intervenção em contextos institucionais). Em algumas áreas, a aceitação de
programas de intervenção analíticocomportamentais tem excepcional resultado,
contrastando com a menor aceitação que a análise do comportamento tem
experimentado em alguns ambientes acadêmicos, em alguma medida resultante de
sua dificuldade em dialogar com outras áreas e com outras vertentes da Psicologia.

A denominação de “behaviorismo radical” para o conteúdo filosófico do sistema


cultural analíticocomportamental é, por vezes, considerada inadequada, seja
porque o termo “radical” se encontra associado a concepções negativas em nossa
sociedade (Drash, 1988), seja porque as proposições skinnerianas precisariam ser
revisadas com vistas à eliminação de inconsistências (Hayes & Hayes, 1992).
Alternativamente, tem sido proposta a adoção de expressões como “behaviorismo
científico” (Drash, 1988), ou “behaviorismo contextualista” (Hayes & Hayes, 1992).
Nesse último caso, haveria um esforço para eliminar do sistema
filosófico/conceitual da análise do comportamento qualquer resquício de
pensamento mecanicista em favor de uma visão inteiramente consistente com uma
filosofia contextualista (cf. Cavalcante, 1999).

A investigação empírica ocupa, na análise do comportamento, um lugar


privilegiado; reúne os esforços de uma boa parcela de analistas do comportamento,
e seus produtos representam a maior parte da literatura analíticocomportamental.
Desse ponto de vista, pode-se mesmo falar de um desequilíbrio na distribuição da
produção da análise do comportamento com respeito às três áreas citadas. Isso
também explica a identificação da área com a pesquisa empírica (experimental) e a
suposição, equivocada, de que analistas do comportamento se dedicam apenas
precariamente a incursões filosóficas e à solução dos problemas humanos “mais
profundos” ou “complexos”. A suposição de confinamento da análise do
comportamento ao vértice dos estudos empíricos também responde, em larga
medida, pela recusa em reconhecer na disciplina as condições para pleitear a
condição de “sistema psicológico”. Por outro lado, tem sido apontado (Tourinho,
1999) um interesse crescente por estudos conceituais na análise do
comportamento, possivelmente como decorrência, entre outros, do fato de que
trabalhos desse tipo criam ou fomentam áreas de interlocução com outras teorias
ou disciplinas, o que seria relevante para a sobrevivência da análise do
comportamento como sistema cultural.
Como na ciência em geral e na Psicologia em particular, na análise do
comportamento o trabalho conceitual é requisito para a instauração de programas
de pesquisa. Esse fato é reconhecido por Skinner (cf. Tourinho, 1999) desde o
início de seu trabalho, ainda que não se possa dizer que seja sempre valorizado por
seus seguidores. De todo modo, pode-se ir adiante afirmando que o trabalho
conceitual é não apenas condição para a instauração de programas de pesquisa,
mas também para o desenvolvimento da investigação empírica. Na verdade, uma
vez constituído um sistema explicativo psicológico, as diferentes áreas parecem ir
permanentemente se influenciando umas às outras; a produção em um domínio vai
sendo permanentemente regulada pela produção nos demais. Desse modo, as três
áreas são não apenas complementares, mas, também, interdependentes. Nem
sempre isso é claramente percebido:

“Do ponto de vista da percepção imediata de um pesquisador, sua investigação é


tipicamente conceitual, ou empírico-experimental, ou aplicada. No entanto, essa
vem a ser uma visão restrita dos processos em curso quando uma comunidade
promove e valida estudos em qualquer área particular, pelos motivos de
interdependência e complementaridade assinalados acima” (Tourinho, 1999, pp. 7-
8).

Considerando que a análise do comportamento reivindica o status de saber


psicológico e busca qualificar-se para tal com uma produção nas três áreas que
definem o campo da disciplina, passaremos a apresentar alguns aspectos
envolvidos no modo analítico-comportamental de interpretar e conhecer os
fenômenos psicológicos.

O Campo de Saber Analítico-Comportamental

Há diversos modos de abordar as formas pelas quais a análise do comportamento


se volta para a produção de conhecimento. As considerações a seguir constituem
apenas uma amostra do que pode ser discutido a esse respeito, vale dizer, uma
amostra com o viés de quem se dedica principalmente ao trabalho conceitual e
aplicado.

A análise do comportamento pretende ocupar o lugar da Psicologia porque entende


que fenômenos psicológicos são fenômenos comportamentais. O conceito de
comportamento, porém, é empregado por analistas do comportamento para
abordar relações. Ele não designa o que um organismo faz, mas uma relação entre
um organismo e o mundo à sua volta. Por essa razão, às vezes prefere-se falar de
relações comportamentais. Assim, a proposta é a de interpretar os fenômenos
psicológicos como fenômenos relacionais, em outras palavras, fenômenos que
dizem respeito às relações dos organismos com o seu ambiente físico e social
(especialmente o ambiente social, no caso do comportamento humano).

Quando Watson inaugurou a Psicologia Behaviorista, as relações comportamentais


estudadas eram as do tipo respondente ou reflexo. A investigação de processos
comportamentais envolvidos em relações reflexas teve importância central para o
desenvolvimento da Psicologia como ciência do comportamento, mas rapidamente
mostrou-se insuficiente para dar conta da complexidade do fenômeno
comportamental. Atualmente, na análise do comportamento, o paradigma operante
orienta predominantemente a interpretação e investigação de relações
comportamentais, mostrando-se produtivo. Relações operantes são relações do
organismo com o ambiente nas quais as conseqüências das ações exercem um
papel seletivo, fortalecendo ou enfraquecendo padrões de resposta. Nas relações
operantes, condições antecedentes não eliciam respostas (como no reflexo);
basicamente adquirem funções discriminativas ou estabelecedoras, isto é, tornam-
se contextos para as relações respostasconseqüências. Comportamentos humanos
complexos são interpretados como relações operantes, relações do indivíduo com o
ambiente físico e social nas quais as conseqüências desempenham um papel
seletivo. Como decorrência, tanto a investigação quanto as práticas profissionais de
analistas do comportamento diante de problemas “comportamentais” (ou
“psicológicos”) estarão voltadas para a identificação de regularidades nas relações
entre o que um indivíduo faz e aspectos antecedentes e conseqüentes às suas
ações, ou seja, estarão voltadas para a identificação de relações funcionais.

A adoção de uma visão selecionista de causalidade foi inaugurada com o advento


do conceito de operante (em 1937) e já significou um afastamento em relação ao
modelo de causalidade mecanicista presente no conceito de reflexo. O selecionismo
skinneriano sofisticou-se, em seguida, com a elaboração de um modelo que agrega
uma preocupação com a multideterminação do comportamento em diferentes
níveis. Para Skinner, o comportamento humano é o produto simultâneo de três
níveis de determinação: a filogênese (que seleciona certas características anátomo-
fisiológicas, certas respostas - reflexos incondicionados - a sensibilidade às
conseqüências da ação e a sensibilidade diferenciada a certos eventos ambientais);
a ontogênese (na qual a imitação, modelação e modelagem produzem repertórios
novos e adaptativos ao ambiente atual do indivíduo) e a cultura (que possibilita,
por meio da linguagem, a aquisição de comportamentos novos sem necessidade de
exposição às contingências que originalmente produziram aquele comportamento).
Os programas de pesquisa em análise do comportamento ocupam-se, basicamente,
das relações ao nível da ontogênese, especialmente o condicionamento operante.
Nesses programas que não são ignorados os determinantes filogenéticos (portanto,
não são “ambientalistas extremos” como alguns etólogos sugerem - cf. Carvalho
Neto & Tourinho, 1999), tampouco é desconhecida a importância das práticas
culturais para a sobrevivência da cultura como um todo (os determinantes culturais
são abordados apenas do ponto de vista de seu efeito sobre o comportamento de
indivíduos particulares); simplesmente é definido um recorte de análise limitado ao
plano ontogenético, tentando examinar em que medida ou de que modos operações
nesse nível podem afetar o comportamento individual (em outras palavras, como
solucionar problemas humanos alterando o ambiente contemporâneo dos
indivíduos).

O reconhecimento da multideterminação do comportamento (mesmo quando se


permanece apenas no nível ontogenético) levará o analista do comportamento a
trabalhar com um determinismo probabilístico. Isso significa que é impossível lidar
com todas as variáveis, das quais um comportamento é função; quando se lida com
algumas daquelas variáveis pode-se apenas aumentar ou reduzir a probabilidade de
um comportamento, mas não determiná-lo de modo absoluto. Para um analista do
comportamento, todo comportamento humano é, em alguma medida, imprevisível,
dado que o indivíduo possui uma história ambiental única e é sensível a muitas
variáveis de seu ambiente físico e social. Isso é diferente, porém, de considerar
impossível promover certas formas de comportamento alterando aspectos do
ambiente do indivíduo, especialmente quando é possível identificar variáveis que
têm relevância especial na instalação e/ou manutenção de um padrão
comportamental (por exemplo, quando a coerção no ambiente escolar é crucial
para a produção de respostas agressivas).

Na medida em que interpreta os fenômenos psicológicos como fenômenos


relacionais, a produção de conhecimento na análise do comportamento estará
voltada para a investigação de aspectos dessas relações. Como assinalado acima,
descrições fisicalistas do que os organismos fazem não têm relevância especial
aqui. Aspectos formais/topográficos de uma resposta precisam ser especificados
apenas até onde auxiliam a identificar uma relação do organismo com seu
ambiente4 .

Dado o interesse em identificar regularidades nas relações organismo-ambiente, o


método experimental é o recurso privilegiado para a investigação analítico-
comportamental; é por meio do seu uso que a quase totalidade da pesquisa sobre
processos comportamentais básicos se desenvolve. O emprego extensivo do
método possivelmente motiva muitas das críticas dirigidas à área. Há dois fatos,
porém, a observar. Primeiro, o método experimental não é o único utilizado por
analistas do comportamento. Muitos problemas têm um grau de complexidade que
os torna inacessíveis à investigação experimental. Além disso, há circunstâncias nas
quais aspectos éticos impossibilitam o seu uso. Nesses contextos, os analistas do
comportamento freqüentemente se limitam à observação e descrição do
comportamento ou à interpretação para lidar com fenômenos comportamentais. O
segundo fato a observar é que não apenas a análise do comportamento, mas
inúmeras outras abordagens psicológicas (como certas versões de cognitivismo)
fazem uso do método experimental, o que também não as torna propostas
restritivas de investigação. Assim, as críticas dirigidas à pesquisa experimental em
análise do comportamento parecem motivadas mais propriamente por outros
fatores, como a pesquisa com organismos não humanos. Como apontado por Luna
(2001), “a defesa do uso de organismos inferiores na pesquisa nunca foi aceita pela
comunidade de psicólogos não-analistas do comportamento e ajudou a
fundamentar a rejeição” (p.146).

O que sintetiza os modos como a análise do comportamento se volta para a


investigação do fenômeno comportamental, seja na pesquisa básica, seja em
situações aplicadas, é a análise funcional (cf. Cavalcante, 1999; Micheletto, 1997).
Concluiremos esta parte, portanto, com um resumo do que orienta a análise
funcional, não na investigação controlada de laboratório, mas na prática de
intervenção do analista do comportamento. Será usada como referência a
sistematização apresentada por Cavalcante (1999) em uma discussão sobre a
terapia analíticocomportamental. Segundo Cavalcante, a análise funcional envolve:
“a) selecionismo como modelo causal e funcionalismo como princípio de análise” (p.
40): esse princípio corresponde ao reconhecimento da “complexidade dos
processos de determinação dos comportamentos humanos” (p. 40) e ao interesse
pelas “funções do comportamento na produção de conseqüências ambientais” (p.
40); “b) externalismo como recorte de análise” (p. 40): aqui, a ênfase é na
abordagem do fenômeno comportamental como relação do indivíduo como um todo
com o ambiente, o que não exclui considerações sobre “eventos privados”, mas
impõe sua interpretação no contexto daquelas relações; “c) complexidade,
variabilidade e caráter idiossincrático das relações comportamentais” (p. 41): nesse
caso, trata-se do reconhecimento de que os produtos da história ambiental são
variáveis e idiossincráticos, tornando necessárias análises idiográficas; “d) critério
pragmático na definição do nível de intervenção” (p. 41): na intervenção “a análise
funcional desenvolve-se dentro de limites que atendem ao interesse pela solução
de problemas comportamentais concretos” (p. 41); por último, “e) distinção entre
alcance da avaliação e alcance da intervenção” (p. 42): se a avaliação se volta para
a complexidade de eventos pertinentes às relações comportamentais de interesse,
considerando, inclusive, eventos remotos e/ou inobserváveis, a intervenção lida
basicamente com variáveis presentes, visando à solução de problemas.

Considerações Finais
Gostaríamos de finalizar com algumas observações sobre as posições da análise do
comportamento discutidas neste trabalho. Em um artigo no qual discute as
“alternativas” metodológicas disponíveis (ou não), como, por exemplo, na pesquisa
psicológica, Luna (1988) chama a atenção para o que denomina de “falso conflito”
entre elas. Segundo esse autor, as alternativas metodológicas podem não
constituir, propriamente, “opções” diante das quais o pesquisador (nesse caso, o
pesquisador psicólogo) delibera ou “escolhe”. O argumento de Luna é o de que o
sistema teórico no interior do qual formulamos um problema de pesquisa orienta a
decisão acerca do que são os modos apropriados, ou pertinentes, de investigação.
Assim, a metodologia não tem status próprio, precisando ser definida em um
contexto teórico-metodológico qualquer. Em outras palavras, abandonou-se (ou
vem se abandonando) a idéia de que faça qualquer sentido discutir a metodologia
fora de um quadro de referência teórico que, por sua vez, é condicionado por
pressupostos epistemológicos (Luna, 1988, p. 71).

A “decisão metodológica”, se é que há uma decisão metodológica, se dá


antecipadamente, desde o momento em que o problema é formulado no contexto
de um modelo particular de interpretação do fenômeno de interesse. Nosso sistema
teórico e os supostos epistemológicos envolvidos comportam talvez “técnicas” ou
“procedimentos” diferenciados, mas não recortes conflitantes dos fenômenos que
se pretende estudar. Nas palavras de Luna (1988):

“O referencial teórico de um pesquisador é um filtro pelo qual ele enxerga a


realidade, sugerindo perguntas e indicando possibilidades. É tão improvável que um
psicanalista cogite dos efeitos da estrutura cognitiva de uma criança sobre seu
desempenho, quanto um piagetiano procure levantar informações sobre a resolução
do complexo de Édipo das crianças que estude” (p. 74).

Os princípios comportamentais discutidos ao longo desta apresentação constituem


o “filtro” de que a análise do comportamento se serve ao olhar para os fenômenos
psicológicos; eles circunscrevem as “alternativas metodológicas”. Como resultado, o
que a análise do comportamento tem a oferecer para a cultura é uma interpretação
do comportamento humano que conflita com crenças e práticas cotidianas, mas que
se pretende efetiva na solução dos problemas para os quais é dirigida. O que se
pode indagar é se tem sido produtivo para a cultura promover essa disciplina. A
resposta nos parece ser afirmativa.

O sujeito epistemológico retratado nas estátuas pensantes de Elias (1994) não


sobrevive nos sistemas contemporâneos de crenças; ele sofreu críticas arrasadoras
nos últimos séculos. O mesmo, porém, não ocorreu com a cultura internalista a ele
associada. Continuamos a interpretar o que nos ocorre privadamente (ou
subjetivamente) como essencial para a definição de nossas realizações.
Aprendemos a falar da importância das nossas relações com o mundo para a
construção dessa realidade mais essencial, porém nem sempre vemos essas
relações como algo que merece um lugar central nas teorias ou nas intervenções
psicológicas. A análise do comportamento oferece uma leitura diferente, que
confere centralidade àquelas relações. Como esperamos ter ilustrado, trata-se de
uma leitura refinada e produtiva.

A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais dos


indivíduos (psiquismo), cabe agora definir tais termos[3]:
 Dizer que a psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas leis
do método científico as quais regem as outras ciências: ela busca um
conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos. Pelo seu objeto de estudo a
psicologia desempenha o papel de elo entre as ciências sociais, como a
sociologia e a antropologia, as ciências naturais, como a biologia, e áreas
científicas mais recentes como as ciências cognitivas e as ciências da saúde.
 Comportamento é a atividade observável (de forma interna ou externa) dos
organismos na sua busca de adaptação ao meio em que vivem.
 Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da psicologia significa dizer
que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece o centro de atenção - ao
contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um
conjunto.
 Os processos mentais são a maneira como a mente humana funciona - pensar,
planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não
pode ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já
que eles são a sua base.

Como toda a ciência, o fim da psicologia é a descrição, a explicação, a previsão e o


controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo. Como os processos mentais não
podem ser observados mas apenas inferidos, torna-se o comportamento o alvo principal
dessa descrição, explicação e previsão (mesmo as novas técnicas visuais da
neurociência que permitem visualizar o funcionamento do cérebro não permitem a
visualização dos processos mentais, mas somente de seus correlatos fisiológicos, ou
seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam).
Descrever o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o
desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam o mais possível
objetivos e em seguida a utilização desses métodos para o levantamento de dados
confiáveis. A observação e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes
níveis - desde complexos padrões de comportamento, como a personalidade, até a
simples reação de uma pessoa a um sinal sonoro ou visual. A introspecção é uma forma
especial de observação (ver mais abaixo o estruturalismo). A partir daquilo que foi
observado o psicólogo procura explicar, esclarecer o comportamento. A psicologia parte
do princípio de que o comportamento se origina de uma série de fatores distintos:
variáveis orgânicas (disposição genética, metabolismo, etc.), disposicionais
(temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais (influências do meios
ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte, etc.). As previsões em
psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis, a probabilidade
com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com base na
capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro se determina a
também a sua validade. Controlar o comportamento significa aqui a capacidade de
influenciá-lo, com base no conhecimento adquirido. Essa é parte mais prática da
psicologia, que se expressa, entre outras áreas, na psicoterapia[3].

Para o psicólogo soviético A. R. Luria, um dos fundadores da neuropsicologia a


psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação
da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo
cérebro humano, incluindo as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-
las pelos estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se a sua
descrição exterior. Segundo esse autor, além de estabelecer as leis da sensação e
percepção humana, regulação dos processos de atenção, memorização (tarefa iniciada
por Wundt), na análise do pensamento lógico, formação das necessidades complexas e
da personalidade, considera esses fenômenos como produto da história social
(compartilhando, de certo modo com a proposição da Völkerpsychologie de Wundt (ver
mais abaixo "História da Psicologia") e com as proposições de estudo simultâneo dos
processos neurofisiológicos e das determinações histórico-culturais, realizadas de modo
independente por seu contemporâneo Vigotsky).[4]

Perspectivas históricas

"A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta".[5] Com essa frase
descreveu Herrmann Ebbinghaus, um dos primeiros psicólogos experimentais, a
situação da psicologia - tanto em 1908, quando ele a escreveu, como hoje: desde a
Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a
questões relativas à natureza humana - a percepção, a consciência, a loucura. Apesar de
teorias "psicológicas" fazerem parte de muitas tradições orientais, a psicologia enquanto
ciência tem suas primeiras raízes nos filósofos gregos, mas só se separou da filosofia no
final do século XIX.

O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt
em 1879 em Leipzig, na Alemanha. Seu interesse se havia transferido do funcionamento
do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos
processos mentais mais simples. O seu laboratório formou a primeira geração de
psicólogos. Alunos de Wundt propagaram a nova ciência e fundaram vários laboratórios
similares pela Europa e os Estados Unidos. Edward Titchener foi um importante
divulgador do trabalho de Wundt nos Estados Unidos. Mas uma outra perspectiva se
delineava: o médico e filósofo americano William James propôs em seu livro The
Principles of Psychology (1890) - para muitos a obra mais significativa da literatura
psicológica - uma nova abordagem mais centrada na função da mente humana do que na
sua estrutura. Nessa época era a psicologia já uma ciência estabelecida e até 1900 já
contava com mais de 40 laboratórios na América do Norte[3]

[editar] O estruturalismo

Em seu laboratório Wundt dedicou-se a criar uma base verdadeiramente científica para
a nova ciência. Assim realizava experimentos para levantar dados sistemáticos e
objetivos que poderiam ser replicados por outros pesquisadores. Para poder permanecer
fiel a seu ideal científico, Wundt se dedicou principalmente ao estudo de reações
simples a estímulos realizados sob condições controladas. Seu método de trabalho seria
chamado de estruturalismo por Edward Titchener, que o divulgou nos Estados Unidos.
Seu objeto de estudo era a estrutura consciente da mente e do comportamento,
sobretudo as sensações. Um dos métodos usados por Titchener era a introspecção: nela
o indivíduo explora sistematicamente seus próprios pensamentos e sensações a fim de
ganhar informações sobre determinadas experiências sensoriais. A tônica do trabalho
era assim antes compreender o que é a mente, do os como e porquês de seu
funcionamento. As principais críticas levantadas contra o Estruturalismo foram:

 O ser ele reducionista, ou seja, querer reduzir a complexidade da experiência


humana a simples sensações;
 O ser ele elementarista, ou seja, dedicar-se ao estudo de partes ou elementos ao
invés de estudar estruturas mais complexas, como as que são típicas para o
comportamento humano e
 O ser ele mentalista, ou seja, basear-se somente em relatórios verbais,
excluindo indivíduos incapazes de introspecção, como crianças e animais, do seu
estudo. Além disso a introspecção foi alvo de muitos ataques por não ser um
verdadeiro método científico objetivo[3].

[editar] Funcionalismo

Ver artigo principal: Funcionalismo

William James concordava com Titchener quanto ao objeto da psicologia - os processos


conscientes. Para ele, no entanto, o estudo desses processos não se limitava a uma
descrição de elementos, conteúdos e estruturas. A mente consciente é, para ele, um
constante fluxo, uma característica da mente em constante interação com o meio
ambiente. Por isso sua atenção estava mais voltada para a função dos processos mentais
conscientes. Na psicologia, a seu entender, deveria haver espaço para as emoções, a
vontade, os valores, as experiências religiosas e místicas - enfim, tudo o que faz cada ser
humano ser único. As idéias de James foram desenvolvidas por John Dewey, que
dedicou-se sobretudo ao trabalho prático na educação[3].

[editar] Gestalt, a psicologia da forma

Ver artigo principal: Gestalt

Uma importante reação ao funcionalismo e ao comportamentismo nascente (ver abaixo)


foi a psicologia da gestalt ou da forma, representada por Max Wertheimer, Kurt Koffka
e Wolfgang Köhler. Principalmente dedicada ao estudo dos processos de percepção,
essa corrente da psicologia defende que os fenômenos psíquicos só podem ser
compreendidos, se forem vistos como um todo e não através da divisão em simples
elementos perceptuais. A palavra gestalt significa "forma", "formato", "configuração"
ou ainda "todo", "cerne". O gestaltismo assume assim o lema: "O todo é mais que a
soma das suas partes"[3].

Distinta da psicologia da gestalt, escola de pesquisa de significado basicamente


histórico fora da psicologia da percepção, é a gestalt-terapia, fundada por Frederic S.
Perls (Fritz Perls).

[editar] O legado dos primórdios

Apesar de serem perspectivas já ultrapassadas, tanto o estruturalismo como o


funcionalismo e a gestalt ajudaram a determinar o rumo que a psicologia posterior viria
a tomar. Hoje em dia os psicólogos procuram compreender tanto as estruturas como a
função do comportamento e dos processos mentais.

[editar] Perspectivas atuais


Segue uma descrição sucinta das principais correntes de pensamento que influenciam a
moderna psicologia. Para maiores informações ver os artigos principais indicados e
ainda psicoterapia.

[editar] A perspectiva biológica

A base do pensamento da perspectiva biológica é a busca das causas do comportamento


no funcionamento dos genes, do cérebro e dos sistemas nervoso e endócrino. O
comportamento e os processos mentais são assim compreendidos com base nas
estruturas corporais e nos processos bioquímicos no corpo humano, de forma que esta
corrente de pensamento se encontra muito próxima das áreas da genética, da
neurociência e da neurologia e por isso está intimamente ligada ao importante debate
sobre o papel da predisposição genética e do meio ambiente na formação da pessoa.
Essa perspectiva dirige a atenção do pesquisador à base corporal de todo processo
psíquico e contribui com conhecimento básico a respeito do funcionamento das funções
psíquicas como pensamento, memória e percepção[3].

[editar] A perspectiva psicodinâmica

Ver artigo principal: Teoria psicanalítica

Segundo a perspectiva psicodinâmica o comportamento é movido e motivado por uma


série de forças internas, que buscam dissolver a tensão existente entre os instintos, as
pulsões e as necessidades internas de um lado e as exigências sociais de outro. O
objetivo do comportamento é assim a diminuição dessa tensão interna.

A perspectiva psicodinâmica teve sua origem nos trabalhos do médico vienense


Sigmund Freud (1856-1939) com pacientes psiquiátricos, mas ele acreditava serem
esses princípios válidos também para o comportamento normal. O modelo freudiano foi
o primeiro a afirmar que a natureza humana não é sempre racional e que as ações podem
ser motivadas por fatores não acessíveis à consciência. Além disso Freud dava muita
importância à infância, como uma fase importantíssima na formação da personalidade.
A teoria original de Freud, que foi posteriormente ampliada por vários autores mais
recentes e influenciou fortemente muitas áreas da psicologia, tem sua origem não em
experimentos científicos, mas na capacidade de observação de um homem criativo,
inflamado pela idéia de descobrir os mistérios mais profundos do ser humano.[3].

[editar] A perspectiva comportamentista

Ver artigo principal: Behaviorismo

A perspectiva comportamentista (ou comportamentalista) procura explicar o


comportamento em relação aos estímulos do meio ambiente que o influenciam. A
atenção do pesquisador é assim dirigida para as condições ambientais em que
determinado indivíduo se encontra, para a reação desse indivíduo a essas condições
(comportamento) e para as consequências que essa reação traz para ele (ver também
condicionamento). O comportamentismo baseia-se sobretudo em experimentos feitos
com animais, mas levou ao descobrimento de muitos princípios válidos para o ser
humano e foi uma das mais fortes influências tanto para a pesquisa como para a prática
psicológica posterior[3].
[editar] A perspectiva humanista

Ver artigo principal: Psicologia humanista

Em reação às limitações das correntes comportamentista e psicodinâmica surgiu nos


anos 50 do século XX a perspectiva humanista, que vê o homem não como um ser
controlado tanto por pulsões interiores quanto pelo ambiente, mas ainda assim como um
ser ativo, que busca seu próprio crescimento e desenvolvimento. A principal fonte de
conhecimento do humanismo psicológico é o estudo biográfico, com o fim de descobrir
como essa pessoa vivencia sua existência, ao contrário do comportamentismo, que dava
mais valor à observação externa. A perspectiva humanista procura assim um acesso
holístico para o ser humano, está intimamente relacionada à fenomenologia e exerceu
grande influência sobre a psicoterapia[3].

[editar] A perspectiva cognitiva

Ver artigo principal: Psicologia Cognitiva

A "virada cognitiva" foi uma reação às limitações do comportamentismo, que afirmava


ser impossível estudar os processos mentais e se concentrava somente no
comportamento. O foco central desta perspectiva é o pensar humano e todos os
processos baseados no conhecimento - atenção, memória, compreensão, recordação,
tomada de decisão, linguagem etc. A perspectiva cognitiva se dedica assim à
compreensão dos processos cognitivos que influenciam o comportamento - a capacidade
do indivíduo de imaginar alternativas antes de se tomar uma decisão, de descobrir novos
caminhos a partir de experiências passadas, de criar imagens mentais do mundo que o
cerca - e à influência do comportamento sobre os processos cognitivos - como o modo
de pensar se modifica de acordo com o comportamento e suas consequências. Típico
desta perspectiva é o uso sistemático de experimentos científicos e sua proximidade
com as ciências da informação e da computação[3].

[editar] A perspectiva evolucionista

A perspectiva evolucionista procura, inspirada pela teoria da evolução, explicar o


desenvolvimento do comportamento e das capacidades mentais como parte da
adaptação humana ao meio ambiente. Por recorrer a acontecimentos ocorridos há
milhões de anos, os psicólogos evolucionistas não podem realizar experimentos para
comprovar suas teorias, mas contam somente com sua capacidade de observação e com
o conhecimento adquirido por outras disciplinas como a antropologia e a arqueologia[3].

[editar] A perspectiva sociocultural

Já em 1927 o antropólogo Bronislaw Malinowski criticava a psicologia - na época a


psicanálise de Freud - por ser centrada na cultura ocidental. Essa preocupação de
expandir sua compreensão do homem além dos horizontes de uma determinada cultura é
o cerne da perspectiva sociocultural. A pergunta central aqui é: em que se assemelham
pessoas de diferentes culturas quanto ao comportamento e aos processos mentais, em
que se diferenciam? São válidos os conhecimentos psicológicos em outras culturas?
Essa perspectiva também leva a psicologia a observar diferenças entre subculturas de
uma mesma área cultural e sublinha a importância da cultura na formação da
personalidade[3].

[editar] A perspectiva biopsicossocial e a


multidisciplinaridade
A enorme quantidade de perspectivas e de campos de pesquisa psicológicos
corresponde à enorme complexidade do ser humano. O fato de diferentes escolas
coexistirem e se completarem mutuamente demonstra que o homem pode e deve ser
estudado, observado, compreendido sob diferentes aspectos. Essa realidade toma forma
no modelo biopsicossocial, que serve de base para todo o trabalho psicológico, desde a
pesquisa mais básica até a prática psicoterapêutica. Esse modelo afirma que o
comportamento e os processos mentais humanos são gerados e influenciados por três
grupos de fatores:

 Fatores biológicos - como a predisposição genética e os processos de mutação


que determinam o desenvolvimento corporal em geral e do sistema nervoso em
particular, etc.;
 Fatores psicológicos - como preferências, expectativas e medos, reações
emocionais, processos cognitivos e interpretação das percepções, etc.;
 Fatores socioculturais - como a presença de outras pessoas, expectativas da
sociedade e do meio cultural, influência do círculo familiar, de amigos, etc.,
modelos de papéis sociais, etc.[6]

Para ser capaz de ver o homem sob tantos e tão distintos aspectos a psicologia se vê na
necessidade de complementar seu conhecimento com o saber de outras ciências e áreas
do conhecimento. Assim, na parte da pesquisa teórica, a psicologia se encontra (ou
deveria se encontrar) em constante contato com a fisiologia, a biologia, a etologia, a
neurologia e às neurociências (ligadas aos fatores biológicos) e à antropologia, à
sociologia, à etnologia, à história, à arqueologia, à filosofia, à metafísica, à linguística à
informática, à teologia e muitas outras ligadas aos fatores socioculturais.

No trabalho prático a necessidade de interdisciplinaridade não é menor. O psicólogo, de


acordo com a área de trabalho, trabalha sempre em equipes com os mais diferentes
grupos profissionais: assistentes sociais e terapeutas ocupacionais; funcionários do
sistema jurídico; médicos, enfermeiros e outros agentes de saúde; pedagogos;
fisioterapeutas, fonoaudiólogos e muitos outros - e muitas vezes as diferentes áreas
trazem à tona novos aspectos a serem considerados. Um importante exemplo desse
trabalho interdisciplinar são os comitês de Bioética, formados por diferentes
profissionais - psicólogos, médicos, enfermeiros, advogados, fisioterapeutas, físicos,
teólogos, pedagogos, farmacêuticos, engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da
comunidade onde o comitê está inserido, e que têm por função decidir aspectos
importantes sobre pesquisa e tratamento médico, psicológico, entre outros.

[editar] Crítica
[editar] O status científico
A psicologia é frequentemente criticada pelo seu caráter "confuso" ou "impalpável". O
filósofo Thomas Kuhn afirmou em 1962 que a psicologia em geral estava em um
estágio "pré-paradigmático" por lhe faltar uma teoria de base unanimemente aceita,
como é o caso em outras ciências mais maduras como a física e a química.

Por grande parte da pesquisa psicológica ser baseada em entrevistas e questionários e


seus resultados terem assim um caráter correlativo que não permite explicações causais,
alguns críticos a acusam de não ser científica. Além disso muitos dos fenômenos
estudados pela psicologia, como personalidade, pensamento e emoção, não podem ser
medidos diretamente e devem ser estudados com o auxílio de relatórios subjetivos, o
que pode ser problemático de um ponto de vista metodológico.

Erros e abusos de testes estatísticos foram sobretudo apontados em trabalhos de


psicólogos sem um conhecimento aprofundado em psicologia experimental e em
estatística. Muitos psicólogos confundem significância estatística (ou seja, uma
probabilidade maior do que 95% de o resultado obtido não ser fruto do acaso, mas
corresponder à realidade empírica) com importância prática. No entanto a obtenção de
significados estatisticamente significante mas na prática irrelevantes é um fenômeno
comum em estudos envolvendo um grande número de pessoas.[7] Em resposta muitos
pesquisadores começaram a fazer uso do "tamanho do efeito" estatístico (effect size)
como massa de medida da relevância prática.

Muitas vezes os debates críticos ocorrem dentro da própria psicologia, por exemplo
entre os psicólogos experimentais e os psicoterapeutas. Desde há alguns anos tem
aumentado a discussão a respeito do funcionamento de determinadas técnicas
psicoterapêuticas e da importância de tais técnicas serem avaliadas com métodos
objetivos.[8] Algumas técnicas psicoterapêuticas são acusadas de se basearem em teorias
sem fundamento empírico. Por outro lado muito tem sido investido nos últimos anos na
avaliação das técnicas psicoterapêuticas e muitas pesquisas, apesar de também elas
terem alguns problemas metodológicos, mostram que as psicoterapias das escolas
psicológicas tradicionais (mainstream), isto é, das escolas mencionadas mais acima
neste artigo, são efetivas no tratamento dos transtornos psíquicos.

[editar] Terapias "alternativas" não psicológicas

Um dos maiores problemas relacionados à distância que separa a teoria científica da


psicologia e sua prática terapêutica é a multiplicação indiscriminada do números de
"terapias alternativas" que se vê atualmente, muitas das quais baseadas em princípios de
origem duvidosa e não pesquisados. Muitos autores[9] já haviam apontado o grande
crescimento no número de tratamentos e terapias realizados sem treinamento adequado
e sem uma avaliação científica séria. Lilienfeld (2002) constata com preocupação que
"uma grande variedade de métodos psicoterapêuticos de funcionamento duvidoso e por
vezes mesmo danosos - incluindo "comunicação facilitada" para o autismo infantil,
técnicas sugestivas para recuperação da memória, (ex. regressão etária hipnótica,
trabalhos com a imaginação), terapias energéticas e terapias new-age de todos os tipos
possíveis (ex. rebirthing, reparenting, regressão de vidas passadas, terapia do grito
original, programação neurolinguística, terapia por abdução alienígena) surgiram ou
mantiveram sua popularidade nas últimas décadas."[10] Allen Neuringer (1984) fez
críticas semelhantes partindo da análise experimental do comportamento.[11]
Neurociência
 

A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no


sistema nervoso humano animal e humano. O estudo da neurociência engloba três
áreas principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e neuropsicologia.

A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza


eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de área maiores
do cérebro. Ocasionalmente, separaram as conexões nervosas para avaliar os
resultados.

A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível


microscópico e macroscópico. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna
vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura.

A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e


psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área específica do
cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal método de estudo
usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas
que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Estudos experimentais
com indivíduos normais também são comuns.

Estrutura e funcionamento do sistema nervoso

Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que eles têm partes


situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuídas por todo
corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e
as últimas de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central que
está a grande maioria das células nervosas, seus prolongamentos e os contatos que
fazem entre si. No sistema nervoso periférico estão relativamente poucas células,
mas um grande número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados
em filetes alongados chamados nervos.

Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que levam


informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os primeiros são
chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As fibras aferentes
enviam sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial nos
olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para o SNC. As fibras eferentes
enviam sinais do SNC para os músculos e as glândulas.

Os neurônios são formados por três partes: a soma, os axônios e os


dendritos. A parte central, corpo celular ou soma, contém o núcleo celular. Pode-se
observar que a soma possui grande número de prolongamentos, ramificando-se
múltiplas vezes como pequenos arbustos, são os dendritos. É através dos dendritos
que cada neurônio recebe as informações provenientes dos demais neurônios a que
se associa. O grande número de neurônios é útil a célula nervosa, pois permite
multiplicar a área disponível para receber as informações aferentes. Saindo da
soma também, existe um filamento mais longo e fino, ramificando-se pouco no
trajeto e muito na sua porção terminal, é o axônio. Cada neurônio tem um único
axônio, e é por ele que saem as informações eferentes dirigidas às outras células
de um circuito neural.
A região de contato entre um terminal de fibra nervosa e um dendrito ou o
corpo (mais raramente um outro axônio) de uma segunda célula, chama-se
sinapse, e constitui uma região especializada fundamental para o processamento da
informação pelo sistema nervoso. Na sinapse, nem sempre, os sinais elétricos
passam sem alteração, podem ser bloqueados parcial ou completamente, ou então
multiplicados. Logo, não ocorre apenas uma transmissão da informação, mas uma
transformação durante a passagem.

A transmissão sináptica pode ser química ou elétrica. Na sinapse elétrica, as


correntes iônicas passam diretamente pelas junções comunicantes (região de
aproximação entre duas células) para as outras células. A transmissão é ultra-
rápida, já que o sinal passa praticamente inalterado de uma célula para outra. Na
sinapse química, a transmissão do sinal através da fenda sináptica (região de
aproximação entre duas células, bem maior que as junções comunicantes) é feita
através de neurotransmissores. A sinapse química pode ser exitatória, quando
ocorre um aumento no estímulo recebido pelo neurônio pós-sináptico, ou inibitória,
quando ocorre uma diminuição do estímulo no neurônio pós-sináptico. São essas
transformações ocorridas durante a sinapse que garantem ao sistema nervoso a
sua enorme diversidade e capacidade de processamento de informação

Uma das melhores maneiras de perceber a influência dos neurotransmissores


na cognição é observando a quantidade de drogas cujo efeito provêm da
modificação da atividade dos neurotransmissores, como a nicotina.

Plasticidade

Plasticidade é a capacidade do sistema nervoso alterar o funcionamento do


sistema motor e perceptivo baseado em mudanças no ambiente.

Estudos comprovam a hipótese sobre o desenvolvimento neural e a


aprendizagem na qual funções particulares de processamento de informação são
controladas por grupos especiais de neurônios, mas quando uma dessas funções
fica inutilizada, os neurônios associados a ela passam a controlar outra função. Por
exemplo, se os neurônios que normalmente recebiam estímulos do olho esquerdo
pararem de receber esse estímulo, eles se tornariam responsáveis pelos estímulos
do olho direito. O inverso também é verdadeiro, quando as funções neurais são
limitadas, os neurônios podem passar a controlar novas funções.

No entanto, nem sempre esse processo ocorre. A plasticidade é mais comum


em crianças.

Memória de curto e longo prazo

Um dos conceitos mais importantes dessa área é a distinção entre memória


de curto e longo prazo. Uma razão para acreditar nessa distinção é que, algumas
vezes depois de um severo golpe na cabeça, uma pessoa pode ser incapaz de
lembrar eventos que aconteceram antes do golpe (amnésia retrógrada), mas
continuaria lembrando dos eventos que ocorreram bem antes. A fragilidade das
memórias recentes sugeri que elas estavam num estado fisiológico diferente das
memórias mais antigas. Uma outra razão para essa distinção é que nós somos
capazes de lembrar um pequeno número de itens que nós acabamos de guardar na
memória, mas podemos lembrar uma grande quantidade de informação de um
passado distante. Esses fatos sugerem que a memória de curto prazo e a memória
de longo prazo podem ter propriedades físicas distintas.
Memória de Curto Prazo (MCP): Capaz de armazenar informações por
períodos de tempo um pouco mais longos, mas também de capacidade
relativamente limitada.

Memória de Longo Prazo (MLP): Capaz de estocar informações durante


períodos de tempo muito longos, talvez até indefinidamente.

Linguagem e outras funções de alto nível

A área de Broca e área de Wernicke

Em 1861,o neurologista francês Paul Broca identificou um paciente que era


quase totalmente incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o que gerou
questionamentos sobre a existência de um centro da linguagem no cérebro. Mais
tarde, descobriu casos nos quais a linguagem havia se comprometido devido a
lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo. A recorrência dos casos levou Broca
a propor, em 1864, que a expressão da linguagem é controlada por apenas um
hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esta visão confere com resultados do
procedimento de Wada, no qual um hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria
dos casos, a anestesia do hemisfério esquerdo, mas não a do direito, bloqueia a
fala. A área do lobo frontal esquerdo dominante que Broca identificou como sendo
crítico para a articulação da fala veio a ser conhecida como área de Broca.(BEAR,
2002)

Em 1874, o neurologista Karl Wernicke identificou que lesões na superfície


superior do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular, também
interrompiam a fala normal. Essa região é atualmente denominada área de
Wernicke. Tendo estabelecido que há duas áreas de linguagem no hemisfério
esquerdo, Wernicke e outros começaram a mapear as áreas de processamento da
linguagem no cérebro e levantaram hipóteses acerca de interconexões entre córtex
auditivo, a área de Wernicke, a área de Broca e os músculos requeridos para a fala.

"O modelo neurolingüístico de Wernicke considerava que a área de Broca


conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias do movimentos
necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases.
A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem
as palavras, possibilitando a compreensão." (LENT, 2002, p. 637) Assim, se essas
duas áreas fossem conectadas, o indivíduo poderia associar a compreensão das
palavras ouvidas com a sua própria fala.

Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser corrigido quando se observou


que pacientes com lesões bem restritas à porção posterior do giro temporal
superior (a área de Wernicke) apresentavam na verdade uma surdez lingüística e
não uma verdadeira afasia de compreensão. A área de Wernicke seria, então,
responsável pela identificação das palavras e não da compreensão do seu
significado.

Distúrbios da fala e da compreensão

Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios da linguagem falada


causados por acidentes vasculares cerebrais na sua fase aguda. Entretanto, nem
todos os distúrbios da linguagem podem ser chamados de afasia. São chamados de
afasia apenas aqueles que atingem regiões realmente responsáveis pelo
processamento da linguagem e não distúrbios do sistema motor, do sistema
atencional, e outros que seriam apenas coadjuvantes do processo. Ao contrário de
um doente que não consegue falar devido a paralisia de um nervo facial, os
portadores de afasia podem apresentar problemas de linguagem sem ter qualquer
problema no funcionamento muscular facial.

Segundo Lent (2002), as afasias são classificadas em afasia de expressão, de


compreensão e de condução, de acordo com os sintomas do paciente e com a
região cerebral atingida.

A afasia de Broca é também chamada de afasia motora ou não-fluente, já que


as pessoas têm dificuldade em falar mesmo que possam entender a linguagem
ouvida ou lida. Pessoas com esse tipo de afasia têm dificuldade em dizer qualquer
coisa, fazendo pausas para procurar a palavra certa (anomia). A marca típica da
afasia de Broca é um estilo telegráfico de fala, no qual se empregam,
principalmente, palavras de conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos), além da
incapacidade de construir frases gramaticalmente corretas (agramatismo). É
provocada por lesões sobre a região lateral inferior do lobo frontal esquerdo.

A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke atinge uma região cortical


posterior em torno da ponta do sulco lateral de Sylvius do lado esquerdo. Os
pacientes não conseguem compreender o que lhes é dito. Emitem respostas verbais
sem sentidos e também não conseguem demonstrar compreensão através de
gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela também não tem sentido pois não
compreendem o que eles mesmos dizem. Enquanto na afasia de Broca, a fala é
perturbada, mas a compreensão está intacta, na afasia de Wernicke, a fala é
fluente, mas a compreensão é pobre.

A afasia de condução é provocada por lesão do feixe arqueado, feixes que


conectam a área de Broca com a área de Wernicke. Os pacientes seriam capazes de
falar espontaneamente, embora cometessem erros de repetição e de resposta a
comandos verbais.

Outros distúrbios

Afasia é apenas uma das desordens que resulta de lesões do cérebro.


Neurologistas catalogaram um grande número de desordens. Abaixo temos uma
pequena lista de algumas delas:

 Alexia: inabilidade adquirida de compreender a linguagem escrita.


 Agrafia: inabilidade adquirida de produzir linguagem escrita apesar da
presença da linguagem oral, da leitura e de controle de movimentos normal
 Apraxia: inabilidade de ter movimentos propositais apesar da compreensão
normal das instruções, da força, do reflexo e da coordenação normais.
 Agnosia visual: perda da habilidade de reconhecer ou identificar a presença
de objetos, apesar nas funções visuais estarem intactas. Uma forma
específica da agnosia visual foi registrada como propagnosia, inabilidade de
reconhecer faces.
 Síndrome da negligência: a tendência a ignorar coisas numa região
particular do espaço ignorando o módulo sensorial responsável pelos
estímulos provenientes daquela região. Pacientes com uma forma dessa
síndrome chamada síndrome da negligência unilateral ignoram as
informações provenientes do lado esquerdo ou direito do corpo e podem até
esquecer de barbear essa parte do rosto ou de vestir esse lado do corpo.

A especialização dos hemisférios


Apesar do nosso cérebro ser divido em dois hemisférios não existe relação de
dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando-se
dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se
encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização
hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas
em apenas um dos lados, outras no dois) e de assimetria (um hemisfério não é
igual ao outro).

Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95%


dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao
contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas
essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também
responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da
escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor
na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente
quando se trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo participa também do
reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente quem é
o dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz
de identificar categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que
detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de
relações espaciais, particularmente as relações métricas, quantificáveis, aquelas
que são úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não
deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações
espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz
movimentos mais precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é
capaz de fazer com a mão e a perna esquerda (na maioria das pessoas). Veja a
Figura 2.2:

Figura 2.2: Especialização dos hemisférios. (LENT, 2002)


Implicações nas Ciências Cognitivas

Existem redundâncias consideráveis no sistema nervoso. A existência de


processamento paralelo é amplamente aceita na neurociência e acredita-se que ele
seja necessário devido a rapidez e complexidade do processamento da informação
no cérebro das criaturas vivas. O poder da computação paralela pode ser observado
nos modernos computadores seriais que demoram muito mais que o cérebro
humano para processar informações visuais. Nos últimos anos, reconheceu-se que
computadores com processamento paralelo são necessários para acelerar o
processamento de imagens, aproximando-o da velocidade do cérebro humano.

Esse é um dos caminhos pelo qual a neurociência pode ajudar as ciências


cognitivas. A psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as atividades
intelectuais com elementos que interajam numa maneira neurologicamente
plausível. Esses modelos estão ajudando a mostrar como a cognição pode ser
estruturada através dos princípios básicos de operação da mente.

Neurociência
 

A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no


sistema nervoso humano animal e humano. O estudo da neurociência engloba três
áreas principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e neuropsicologia.

A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza


eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de área maiores
do cérebro. Ocasionalmente, separaram as conexões nervosas para avaliar os
resultados.

A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível


microscópico e macroscópico. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna
vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura.

A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e


psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área específica do
cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal método de estudo
usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas
que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Estudos experimentais
com indivíduos normais também são comuns.

Estrutura e funcionamento do sistema nervoso

Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que eles têm partes


situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuídas por todo
corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e
as últimas de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central que
está a grande maioria das células nervosas, seus prolongamentos e os contatos que
fazem entre si. No sistema nervoso periférico estão relativamente poucas células,
mas um grande número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados
em filetes alongados chamados nervos.

Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que levam


informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os primeiros são
chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As fibras aferentes
enviam sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial nos
olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para o SNC. As fibras eferentes
enviam sinais do SNC para os músculos e as glândulas.

Os neurônios são formados por três partes: a soma, os axônios e os


dendritos. A parte central, corpo celular ou soma, contém o núcleo celular. Pode-se
observar que a soma possui grande número de prolongamentos, ramificando-se
múltiplas vezes como pequenos arbustos, são os dendritos. É através dos dendritos
que cada neurônio recebe as informações provenientes dos demais neurônios a que
se associa. O grande número de neurônios é útil a célula nervosa, pois permite
multiplicar a área disponível para receber as informações aferentes. Saindo da
soma também, existe um filamento mais longo e fino, ramificando-se pouco no
trajeto e muito na sua porção terminal, é o axônio. Cada neurônio tem um único
axônio, e é por ele que saem as informações eferentes dirigidas às outras células
de um circuito neural.

A região de contato entre um terminal de fibra nervosa e um dendrito ou o


corpo (mais raramente um outro axônio) de uma segunda célula, chama-se
sinapse, e constitui uma região especializada fundamental para o processamento da
informação pelo sistema nervoso. Na sinapse, nem sempre, os sinais elétricos
passam sem alteração, podem ser bloqueados parcial ou completamente, ou então
multiplicados. Logo, não ocorre apenas uma transmissão da informação, mas uma
transformação durante a passagem.

A transmissão sináptica pode ser química ou elétrica. Na sinapse elétrica, as


correntes iônicas passam diretamente pelas junções comunicantes (região de
aproximação entre duas células) para as outras células. A transmissão é ultra-
rápida, já que o sinal passa praticamente inalterado de uma célula para outra. Na
sinapse química, a transmissão do sinal através da fenda sináptica (região de
aproximação entre duas células, bem maior que as junções comunicantes) é feita
através de neurotransmissores. A sinapse química pode ser exitatória, quando
ocorre um aumento no estímulo recebido pelo neurônio pós-sináptico, ou inibitória,
quando ocorre uma diminuição do estímulo no neurônio pós-sináptico. São essas
transformações ocorridas durante a sinapse que garantem ao sistema nervoso a
sua enorme diversidade e capacidade de processamento de informação

Uma das melhores maneiras de perceber a influência dos neurotransmissores


na cognição é observando a quantidade de drogas cujo efeito provêm da
modificação da atividade dos neurotransmissores, como a nicotina.

Plasticidade

Plasticidade é a capacidade do sistema nervoso alterar o funcionamento do


sistema motor e perceptivo baseado em mudanças no ambiente.

Estudos comprovam a hipótese sobre o desenvolvimento neural e a


aprendizagem na qual funções particulares de processamento de informação são
controladas por grupos especiais de neurônios, mas quando uma dessas funções
fica inutilizada, os neurônios associados a ela passam a controlar outra função. Por
exemplo, se os neurônios que normalmente recebiam estímulos do olho esquerdo
pararem de receber esse estímulo, eles se tornariam responsáveis pelos estímulos
do olho direito. O inverso também é verdadeiro, quando as funções neurais são
limitadas, os neurônios podem passar a controlar novas funções.

No entanto, nem sempre esse processo ocorre. A plasticidade é mais comum


em crianças.

Memória de curto e longo prazo

Um dos conceitos mais importantes dessa área é a distinção entre memória


de curto e longo prazo. Uma razão para acreditar nessa distinção é que, algumas
vezes depois de um severo golpe na cabeça, uma pessoa pode ser incapaz de
lembrar eventos que aconteceram antes do golpe (amnésia retrógrada), mas
continuaria lembrando dos eventos que ocorreram bem antes. A fragilidade das
memórias recentes sugeri que elas estavam num estado fisiológico diferente das
memórias mais antigas. Uma outra razão para essa distinção é que nós somos
capazes de lembrar um pequeno número de itens que nós acabamos de guardar na
memória, mas podemos lembrar uma grande quantidade de informação de um
passado distante. Esses fatos sugerem que a memória de curto prazo e a memória
de longo prazo podem ter propriedades físicas distintas.

Memória de Curto Prazo (MCP): Capaz de armazenar informações por


períodos de tempo um pouco mais longos, mas também de capacidade
relativamente limitada.

Memória de Longo Prazo (MLP): Capaz de estocar informações durante


períodos de tempo muito longos, talvez até indefinidamente.

Linguagem e outras funções de alto nível

A área de Broca e área de Wernicke

Em 1861,o neurologista francês Paul Broca identificou um paciente que era


quase totalmente incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o que gerou
questionamentos sobre a existência de um centro da linguagem no cérebro. Mais
tarde, descobriu casos nos quais a linguagem havia se comprometido devido a
lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo. A recorrência dos casos levou Broca
a propor, em 1864, que a expressão da linguagem é controlada por apenas um
hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esta visão confere com resultados do
procedimento de Wada, no qual um hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria
dos casos, a anestesia do hemisfério esquerdo, mas não a do direito, bloqueia a
fala. A área do lobo frontal esquerdo dominante que Broca identificou como sendo
crítico para a articulação da fala veio a ser conhecida como área de Broca.(BEAR,
2002)

Em 1874, o neurologista Karl Wernicke identificou que lesões na superfície


superior do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular, também
interrompiam a fala normal. Essa região é atualmente denominada área de
Wernicke. Tendo estabelecido que há duas áreas de linguagem no hemisfério
esquerdo, Wernicke e outros começaram a mapear as áreas de processamento da
linguagem no cérebro e levantaram hipóteses acerca de interconexões entre córtex
auditivo, a área de Wernicke, a área de Broca e os músculos requeridos para a fala.

"O modelo neurolingüístico de Wernicke considerava que a área de Broca


conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias do movimentos
necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases.
A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem
as palavras, possibilitando a compreensão." (LENT, 2002, p. 637) Assim, se essas
duas áreas fossem conectadas, o indivíduo poderia associar a compreensão das
palavras ouvidas com a sua própria fala.

Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser corrigido quando se observou


que pacientes com lesões bem restritas à porção posterior do giro temporal
superior (a área de Wernicke) apresentavam na verdade uma surdez lingüística e
não uma verdadeira afasia de compreensão. A área de Wernicke seria, então,
responsável pela identificação das palavras e não da compreensão do seu
significado.

Distúrbios da fala e da compreensão

Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios da linguagem falada


causados por acidentes vasculares cerebrais na sua fase aguda. Entretanto, nem
todos os distúrbios da linguagem podem ser chamados de afasia. São chamados de
afasia apenas aqueles que atingem regiões realmente responsáveis pelo
processamento da linguagem e não distúrbios do sistema motor, do sistema
atencional, e outros que seriam apenas coadjuvantes do processo. Ao contrário de
um doente que não consegue falar devido a paralisia de um nervo facial, os
portadores de afasia podem apresentar problemas de linguagem sem ter qualquer
problema no funcionamento muscular facial.

Segundo Lent (2002), as afasias são classificadas em afasia de expressão, de


compreensão e de condução, de acordo com os sintomas do paciente e com a
região cerebral atingida.

A afasia de Broca é também chamada de afasia motora ou não-fluente, já que


as pessoas têm dificuldade em falar mesmo que possam entender a linguagem
ouvida ou lida. Pessoas com esse tipo de afasia têm dificuldade em dizer qualquer
coisa, fazendo pausas para procurar a palavra certa (anomia). A marca típica da
afasia de Broca é um estilo telegráfico de fala, no qual se empregam,
principalmente, palavras de conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos), além da
incapacidade de construir frases gramaticalmente corretas (agramatismo). É
provocada por lesões sobre a região lateral inferior do lobo frontal esquerdo.

A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke atinge uma região cortical


posterior em torno da ponta do sulco lateral de Sylvius do lado esquerdo. Os
pacientes não conseguem compreender o que lhes é dito. Emitem respostas verbais
sem sentidos e também não conseguem demonstrar compreensão através de
gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela também não tem sentido pois não
compreendem o que eles mesmos dizem. Enquanto na afasia de Broca, a fala é
perturbada, mas a compreensão está intacta, na afasia de Wernicke, a fala é
fluente, mas a compreensão é pobre.

A afasia de condução é provocada por lesão do feixe arqueado, feixes que


conectam a área de Broca com a área de Wernicke. Os pacientes seriam capazes de
falar espontaneamente, embora cometessem erros de repetição e de resposta a
comandos verbais.

Outros distúrbios
Afasia é apenas uma das desordens que resulta de lesões do cérebro.
Neurologistas catalogaram um grande número de desordens. Abaixo temos uma
pequena lista de algumas delas:

 Alexia: inabilidade adquirida de compreender a linguagem escrita.


 Agrafia: inabilidade adquirida de produzir linguagem escrita apesar da
presença da linguagem oral, da leitura e de controle de movimentos normal
 Apraxia: inabilidade de ter movimentos propositais apesar da compreensão
normal das instruções, da força, do reflexo e da coordenação normais.
 Agnosia visual: perda da habilidade de reconhecer ou identificar a presença
de objetos, apesar nas funções visuais estarem intactas. Uma forma
específica da agnosia visual foi registrada como propagnosia, inabilidade de
reconhecer faces.
 Síndrome da negligência: a tendência a ignorar coisas numa região
particular do espaço ignorando o módulo sensorial responsável pelos
estímulos provenientes daquela região. Pacientes com uma forma dessa
síndrome chamada síndrome da negligência unilateral ignoram as
informações provenientes do lado esquerdo ou direito do corpo e podem até
esquecer de barbear essa parte do rosto ou de vestir esse lado do corpo.

A especialização dos hemisférios

Apesar do nosso cérebro ser divido em dois hemisférios não existe relação de
dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando-se
dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se
encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização
hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas
em apenas um dos lados, outras no dois) e de assimetria (um hemisfério não é
igual ao outro).

Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95%


dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao
contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas
essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também
responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da
escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor
na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente
quando se trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo participa também do
reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente quem é
o dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz
de identificar categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que
detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de
relações espaciais, particularmente as relações métricas, quantificáveis, aquelas
que são úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não
deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações
espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz
movimentos mais precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é
capaz de fazer com a mão e a perna esquerda (na maioria das pessoas). Veja a
Figura 2.2:
Figura 2.2: Especialização dos hemisférios. (LENT, 2002)

Implicações nas Ciências Cognitivas

Existem redundâncias consideráveis no sistema nervoso. A existência de


processamento paralelo é amplamente aceita na neurociência e acredita-se que ele
seja necessário devido a rapidez e complexidade do processamento da informação
no cérebro das criaturas vivas. O poder da computação paralela pode ser observado
nos modernos computadores seriais que demoram muito mais que o cérebro
humano para processar informações visuais. Nos últimos anos, reconheceu-se que
computadores com processamento paralelo são necessários para acelerar o
processamento de imagens, aproximando-o da velocidade do cérebro humano.

Esse é um dos caminhos pelo qual a neurociência pode ajudar as ciências


cognitivas. A psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as atividades
intelectuais com elementos que interajam numa maneira neurologicamente
plausível. Esses modelos estão ajudando a mostrar como a cognição pode ser
estruturada através dos princípios básicos de operação da mente.

Você também pode gostar