Continuando o nosso curso sobre os sete pecados capitais... Nas quatro
primeiras aulas, nós fizemos uma introdução breve acerca da origem do pecado, também da queda angélica, enquanto tal, posteriormente sobre o pecado original, e depois nós adentramos um pouco no psiquismo, na antropologia, na psique, na alma humana. Entendemos um pouco como funciona esse ser chamado homem, um pouco por fora e um pouco por dentro, para sabermos onde está instalado esse tal de pecado. Falamos também da filáucia, que é um amor desordenado por si próprio, um egoísmo, que é mãe de todos os vícios. Então agora entremos propriamente nos pecados capitais. O primeiro pecado que vamos trabalhar é o pecado da gastrimargia, também conhecido como gula. Como vamos proceder: Sempre teremos uma aula expondo o vício, e na aula seguinte nós teremos a arma espiritual contra este vício, a maneira de combatê-lo e de vencê-lo. Meditemos agora acerca deste pecado chamado gula, ou gastrimargia no grego. Esta palavra grega já dá um sentido, um significado e uma conotação própria: Loucura do ventre, uma desordem. Isso aqui já explica muito o que significa o pecado da gula. Duas coisas precisam ser ditas quando nós começamos a entender um pouco sobre este pecado: Obviamente o pecado da gula está ligado à comida, no relacionamento do homem com o alimento, com a criação, seja ela vegetativa, animal, ou até mesmo, não só no estado sólido, mas também no líquido. Não apenas comida, mas também bebida, vinho, cerveja, provenientes do trigo, das uvas. Obviamente é um relacionamento com a criação. Portanto, nesse sentido, o pecado sempre pressupõe uma idolatria; você retira Deus do centro, ou do posto mais alto – na verdade, essa analogia, dentro duma cosmovisão cristã, e dentro, até mesmo, daquilo que Dante nos ensina na Divina Comédia, dentro da própria astrologia, essa ligação, conexão que há entre o centro e a hierarquia mais alta é próprio daquilo que se remete ao mais importante, ao mais elevado. Então, quando você retira Deus do centro, ou da hierarquia mais alta da sua vida e coloca uma criatura, ou uma criação, no caso, o alimento, nisto consiste a gula. Esta é a raiz do problema, o cerne da questão. Então tenham isso em mente desde já. Esse é o principal ponto: O seu relacionamento com a criação. Vejamos, analisando o problema dum outro ângulo: Comer por si só não é pecado. Primeiro porque você precisa se alimentar para sobreviver. Segundo ponto: Sentir prazer a partir do momento em que você ingere o alimento também não é pecado, porque se fosse, Deus não nos daria papilas gustativas. Então, o prazer está intrinsecamente ligado com o nutrir-se. Você se alimenta para sobreviver, para nutrir o seu corpo com vitaminas, nutrientes, et cetera, para ter força, energia e sobreviver. Porém, o prazer está correlacionado com isso, porque se você não sentisse o prazer, se não houvesse este atrativo a mais, você não se alimentaria. Então é preciso que haja esta recompensa, para que você possa comer. Então, aqui já descartamos qualquer possibilidade, hipótese de dizer que o pecado está no alimento, na criação. Lembremos que o pecado original é uma desordem interna que ocorre em nós mesmos. Portanto, o pecado está em nós e não na criação, no alimento. Deus não fez nada pecaminoso, não fez nada mal, ruim, podre. Então esta desordem interna nossa faz com que a maneira como nós nos relacionamos com o alimento se torne pecaminosa. Estamos falando de moral, que significa ato, atitude, comportamento. Então nosso comportamento, nosso relacionamento com o alimento, isto sim é pecaminoso, ou pode ser. Então, duas coisas iniciais ditas: Primeira, essa desordem interna nossa, esse ato perante o alimento, que é o que torna isso pecaminoso ou não; a gastrimargia é essa loucura do ventre, essa desordem. E, duas coisas a mais: Primeira, o alimento é necessário para o corpo; segundo, sentir prazer no alimento também não é pecado. Então você não precisa tampar o nariz quando for comer para não sentir o gosto (óbvio que existiram alguns santos algumas penitências, colocando cinzas na comida, comendo alimentos que não eram apetecíveis, prazerosos aos seus paladares, mas tudo isso como penitência). Dadas essas circunstâncias, analisemos outros elementos que também são importantes e fundamentais para o entendimento dessa questão. É necessário fazer uma análise da própria pessoa. Então se você for voltar lá para a antropologia, o psiquismo você vai perceber que existe uma carga genética, aquilo que é chamado de hereditariedade. Léopold Szondi diz que a figura de nossos antepassados pesa sobre nós e desejam continuar vivendo através de nossas vidas. É o tal do carma. Então, naturalmente, você encontra a questão da influência do meio, o ambiente, a educação que a pessoa teve, a cultura onde ela está envolvida; tudo isso vai interferir na maneira com que ela age, e como ela atua nesse relacionamento com o alimento. Obviamente existem pessoas que comem mais, outras menos. Certas pessoas precisam se alimentar e nutrir-se porque têm um porte físico mais avantajado, outras não precisam comer tanto. Portanto, dizer que cada indivíduo particularmente deve comer de uma só forma é socialismo. Lembremos: O pecado não está na quantidade, o pecado está no relacionamento com a comida. Portanto, quem deve dizer o quanto você vai comer não é você, é a medicina, a nutrição. Óbvio que nós entendemos que hoje a ciência, principalmente com essa cultura, com essa moda de você ser extremamente saudável, e você não pode comer nada, é essa coisa. Se a gastrimargia é loucura no ventre, você se preocupar demais com a saúde também é doença. Hoje em dia você não pode comer nada, há campanha antitabagista, contra a obesidade, et cetera. Então, você precisa encontrar, até recomendo o Dr. Juliano Pimentel, aluno do prof. Olavo de Carvalho, dicas de nutrição, de alimentação saudável de fato, e não conforme a elite globalista nos impõe. Tudo isto é de suma importância quando estamos falando deste pecado. Até aqui vimos o que não é pecado, desconstruimos toda essa mentalidade que talvez já estivesse embutida em nós do que é a gula. Agora vamos entender o que é pecado. São Gregório Magno diz o seguinte: “Existem cinco formas de pecarmos pela gula”. A primeira é a mais óbvia: Pela quantidade - comer mais do que a sua necessidade. E quem vai saber? A nutrição. Não existe essa coisa matemática, certeira, métrica, que delimita o que você pode comer. São todos esses elementos que precisam ser analisados nessa tensão da carga genética, hereditária, com o meio, com as suas necessidades, aliados a uma nutrição séria dum especialista. Dessa forma, sim, você vai conseguir, depois desse cálculo, ter um resultado aproximado. A segunda forma: Pecar em sabor e qualidade. É você começar a buscar comidas prazerosas pelo prazer - claro, como disse, que as papilas gustativas foram dadas para nós por Deus para sentirmos prazer, e isso não é ruim -, começar a endeusar a comida. A atitude perante a comida é que é pecaminosa, lembrem sempre disto. É uma atitude de adoração perante o prazer, é o prazer pelo prazer. Analisando a nossa sociedade, as pessoas ao nosso redor, vemos pessoas extremamente obesas que têm essa desordem deveras alucinante perante a comida, que de fato têm essa atitude de endeusar o prazer que a comida lhes dá. Então ela se deleita sobre aquilo, de uma certa forma, que aquilo se torna o seu próprio Deus. Terceira: Ostentação, um requinte. Aqui acontece o seguinte: Cria-se toda uma personalidade em volta deste elemento da comida, como requinte, como ostentação, como iguaria, como especiaria, no sentido de que você começa a se comportar como pessoa melhor, vaidosa, porque você começa a frequentar restaurantes, lugares chiques, a comprar um vinho de não sei quantos dólares; então você começa a comprar, a pagar caro em comida, no sentido de ostentar aquilo, de parecer ser uma pessoa melhor e mais elevada na vaidade pura, por frequentar certos lugares, por comer comidas caras e pagar um preço alto por elas. Quarta (acredito que a maioria comete): Não se conter antes da refeição. Vamos imaginar o seguinte: O almoço está para sair, e você vai lá e começa a comer antes da refeição, começa a beliscar, você não aguenta, não se segura, não se contém, você não aguarda o momento correto para a refeição, você precisa comer algo, não consegue se conter. Quinta: A voracidade; comer como um louco, como um bicho. Então, vamos entender agora os filhos da gula. Lembrando que os pecados capitais têm essa característica, eles geram outros pecados. Então nós temos sempre o pecado, em quanto tal, e os filhos dele. Os filhos da gula: A alegria tola; a bufonaria; a impureza; a loquacidade e uma mente entorpecida. Então se você é uma pessoa gulosa, você tem todos esses filhos na sua alma. Na verdade, pôr o pecado da gula está ligado ao corpo, assim como a luxúria, ele vai estar, agir precisamente no seu corpo, e não na sua alma. Vejamos então cada um deles: A alegria tola: Imagine aquela cena de fim de ano, natal, um churrasco, aquela mesa farta, e todos em volta comendo e rindo adoidadamente, sem modéstia, sem pudor, comportando-se de uma maneira exagerada, falando demais, rindo demais, duma maneira que se perde a estribeira, a cabeça. Essa é a alegria tola. É claro que o prazer lhe dá a alegria da comida, mas você passa do ponto. E lembrando que a gula não é apenas na comida, mas também na bebida. A bufonaria: Está ligada a língua; quando você come demais, bebe demais e começa a falar coisas inconvenientes, a fazer gracejos, a contar piadas impuras. O pecado da gula está intrinsecamente ligado a boca, então sua língua começa a proferir coisas impuras, essa é a bufonaria. Loquacidade: Falar demais, não ter papas na língua, tagarelar coisas sem sentido. Embotamento: A pessoa que come demais, tem o seu intelecto obscurecido, perde a sagacidade. Aquela sensação que talvez você já tenha sentido depois de comer demais, uma lerdeza, uma lentidão, parecendo um morto, um zumbi, não consegue entender as coisas direito, e nem fala direito. Então, aqui encerramos acerca da gastrimargia.