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DIDÁTICA
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e
pesquisa
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Junqueira&Marin Editores
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DIDÁTICA
TEORIA E PESQUISA
Organizadoras
JUNQUEIRA&MARIN EDITORES
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Produção: JUNQUEIRA&MARIN EDITORES
www.junqueiraemarin.com.br
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Capa/Diagramação/Editoração: ZEROCRIATIVA
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D551
Formato: ebook
Requisitos do sistema:
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8203-105-6 (recurso eletrônico)
12/07/2018 19/07/2018
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Esta edição recebeu apoio da Universidade Estadual do Ceará – UECE.
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Todos os textos estão idênticos aos originais recebidos pela Editora e sob responsabilidade das
Organizadoras e dos Autores.
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Proibida a reprodução total ou parcial desta edição, por qualquer meio ou forma, em língua portuguesa ou
qualquer outro idioma, sem a devida menção acerca desta edição (créditos completos de Autoria, Organização e
Edição), sendo vedados quaisquer usos para fins comerciais.
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• SUMÁRIO •
Apresentação 7
Alda Junqueira Marin & Selma Garrido Pimenta
PARTE UM
PARTE DOIS
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DIDÁTICA
teoria e pesquisa7
espaciais, temporais, sociais. Por sua vez, dialeticamente, o ensino
transforma os sujeitos envolvidos nesse processo. Considerá-
lo como uma prática educacional em situações historicamente
situadas significa investigá-lo nos contextos sociais nos quais se
efetiva – nas aulas e demais situações de ensino das diferentes áreas
do conhecimento, nas escolas de educação básica e superior dos
sistemas de ensino, nas culturas, nas sociedades – estabelecendo-se
os nexos entre tais contextos. Enquanto práxis social viva, o ensino
não é simplesmente orientado pela didática e demais disciplinas que
o estudam, o que lhes daria um caráter meramente prescritivo; mas
ela participa da trama das ações políticas, administrativas, econômicas
e culturais contextualizadas, que incidem na práxis do ensino.
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8 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
se coloca a escola hoje – as condições de pauperização dos docentes;
a falta de um pacto social de valorização da escola, e em especial,
da escola pública – ela ainda tem sido desafiada a encontrar espaços
de significação frente a tantas condições desfavoráveis. Como agir/
pensar didaticamente quando não há condições mínimas para a
organização de um espaço/tempo educacional que valorize o ensinar
e o aprender em todos os níveis da escolarização?
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DIDÁTICA
teoria e pesquisa9
Com base em alguns exemplos de meta-análise de pesquisa, e no
materialismo histórico-dialético, aponta a necessidade de se avançar
em princípios teóricos que possam ser considerados efetivamente
como método para a área de modo a que possa se apresentar como
um todo orgânico tanto na investigação quanto na docência.
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10 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
para provocar as rupturas nos pré-conceitos de que os estudantes são
portadores quando chegam aos cursos de licenciatura.
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DIDÁTICA
11
teoria e pesquisa
de responder às transformações sociais decorrentes da globalização
e às ocorridas na própria universidade. E propõe que um projeto
formativo seja assumido como responsabilidade institucional e não de
cada professor individualmente.
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12 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
DESLOCAMENTOS ENUNCIATIVOS E ELABORAÇÃO
CONCEITUAL DE LICENCIANDOS DURANTE A FORMAÇÃO
INICIAL DE PROFESSORES é a contribuição de Teo Bueno de Abreu
e Débora Galante Pinheiro discutindo os processos de apropriação e
desenvolvimento conceitual de licenciandos de Ciências Biológicas da
UFRJ/campus de Macaé. Os resultados mostram que os processos de
apropriação do conceito de didática são heterogêneos e seguem diferentes
percursos enunciativos; no processo houve um aumento da complexidade
na elaboração dos significados, e forte influência da vivência no
contexto escolar para a formulação dos enunciados dos licenciados.
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DIDÁTICA
13
teoria e pesquisa
a disciplina Didática ora se volta para instrumentalizar os professores,
ora para desenvolvimento de conhecimentos filosófico-pedagógicos.
Apresentam, ainda, como resultados, a constatação de que, apesar
de voltado à formação inicial docente, as disciplinas de Didática e de
Didáticas Específicas nessa licenciatura não estabelecem interrelação
entre prática instrumental e conteúdos das disciplinas teóricas; também
predominam no curso as disciplinas das teorias políticas, sociológicas
e psicológicas, com evidente desequilíbrio na relação teoria e prática.
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14 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
...........................
PARTE
UM
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1. A DIDÁTICA, AS PRÁTICAS DE
ENSINO E ALGUNS PRINCÍPIOS
PARA A PESQUISA E A DOCÊNCIA
INTRODUÇÃO
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DIDÁTICA
17
teoria e pesquisa
social a serem detectadas com perspectiva crítica. Dentre tantas
possibilidades, o que aqui se focaliza é o interesse da Didática e das
Práticas de Ensino tanto nas questões de ensino propriamente dito
quanto naquelas de pesquisas sobre ele buscando estabelecer relações
entre ambas as práticas.
Iniciando as críticas
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18 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
estão presentes as características da atuação da área na direção do
tecnicismo. Sua inserção neste texto deve-se ao fato de que estamos,
hoje, com uma nova geração de professores e pesquisadores que só
ouviram(?) falar desse início, sem saber muito bem do que se trata e
muitos estão incorrendo nos mesmos problemas sem o saber.
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DIDÁTICA
19
teoria e pesquisa
de programas dos cursos de formação de professores. André (1988)
relata os dados da pesquisa realizada no estado do Rio de Janeiro,
resultante do 1º Seminário “A didática em questão”, realizado em
1982, apontando diferenças percentuais nos itens próprios dessa
documentação, quais sejam, conteúdos, objetivos, metodologia,
avaliação e bibliografia. Constata que há “predominância da
dimensão técnica nas bibliografias analisadas” (p. 22), pois, em sua
maioria refletem abordagem comportamental-tecnológica e com
grande dispersão das obras indicadas (p.23). Quanto aos conteúdos e
objetivos também se encontra uma dominância instrumental, muitos
programas sem referência a áreas específicas e desvinculadas de
questões relativas a fins educacionais ou teorias de suporte. Apenas
seis (dos 48) programas analisados por André (1988) apresentaram
conjunto diferenciado de informações, mais voltados à superação
dessa perspectiva instrumental. Nessa minoria há uma preocupação
em tratar de modo diferente as questões da área. Um subgrupo procura
instrumentalizar e ao mesmo tempo contextualizar, sem articulações;
outro explicita maior integração entre essas duas dimensões e apenas
um consegue abandonar a instrumentalização.
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20 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
enquanto pesquisador; ciência e ensino; relação entre objetivos e
ensino entre outros (MARIN, 1982).
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DIDÁTICA
21
teoria e pesquisa
gramática, inglês, matemática, artes industriais, questões gerais sobre
técnica de aconselhamento psicológico. Verifica-se a congruência
das interferências técnicas quando se compara a pesquisa sobre
ensino e seu potencial aproveitamento para formar professores
para as diferentes áreas dos currículos escolares. As características
técnicas podem ser percebidas também nos títulos das pesquisas –
eficiência do BSCS, ensino programado, tele-audiência da TVU,
leitura acelerada, situação dos recursos audiovisuais, experiência de
televisão instrucional – além de vários outros estudos das áreas de
aprendizagem e desenvolvimento psicológico que se dedicaram a
temas com encaminhamentos técnicos similares (GOUVEIA, 1971,
p. 37-39).
Foi contra esse estado de coisas que transcorreram várias ações e toda
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22 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
movimentação de diversos segmentos nas duas décadas passadas, com
características próprias das expectativas políticas, sociais, econômicas
e culturais vividas. A década de 1980 e 1990 caracterizam-se, na área
de Didática e em outras, por novas denúncias sobre essas realidades,
mas, sobretudo, pelos anúncios de proposições resultantes de densas
reflexões sobre escola pública, ensino, professores e sua formação na
tentativa de busca da didática fundamental proposta como agenda
da área, esta uma das metas para um país que buscava se reorganizar
com a perspectiva de profundas alterações1. No entanto, esse é o
período, também, em que se verifica o acirramento dos princípios
neoliberais, das novas necessidades do capitalismo que enfatiza
o ensino básico e técnico para formar um novo trabalhador, outra
escola e outro tipo de professor, nova didática mais operacional
(FREITAS, 1999), características bem diferentes das propostas pelo
movimento de renovação iniciado em 1982.2 Entretanto, depois de 30
anos cabe novo questionamento. E agora, quais são as características?
No próximo item alguns novos dados permitem algumas respostas
para essa compreensão.
1 Trata-se de produção ampla de pesquisadores que não seria possível inventariar neste
espaço sem cometer injustiças por ausência de alguns, mas que podem ser identificados
pelos interessados na busca de bibliografia da área nessas décadas.
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DIDÁTICA
23
teoria e pesquisa
exemplares, que embora já tenhamos citado de modo mais extenso
em outro texto (MARIN, PENNA e RODRIGUES, 2012) valem ser
retomados de modo sintético, aqui, sejam os realizados em locais
mais definidos, sejam no âmbito geral do país.
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24 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
as diferenças entre as pesquisas, permite reflexão comparativa com
as do período inicial. Temos dados divulgados de muitos lugares
específicos e do país de modo mais abrangente. Para além da
abrangência e da divulgação, penso que elas não estão no mesmo
registro, ou seja, há uma distância substantiva nas características
centrais quando são comparados os dados relativos à pesquisa
sobre a Didática como disciplina escolar do início deste texto e o
momento recente a começar pela diminuição e/ou desaparecimento
da própria disciplina em muitas instituições. Verifica-se que os temas
componentes dos conteúdos são diferentes e aponta-se profundidade
insuficiente denotando a perda da identidade temática, ou seja, a
perda do objeto, mas, também a manutenção das condições de baixos
relacionamentos entre teoria e prática, apesar de tantos trabalhos
amplamente divulgados no período. Há que se destacar as condições
de trabalho de muitas instituições brasileiras de ensino superior em
que os professores não têm condições de pesquisa, são responsáveis
por diversificadas disciplinas com carga horária alta, turmas com
muitos alunos, muitas vezes sem formação mais profunda na área
pedagógica, conforme também já verificamos em outras pesquisas
(MARIN e GIOVANNI, 2007, 2008).
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DIDÁTICA
25
teoria e pesquisa
desenvolvimento das atividades. Com isso interditava aprendizagens
das crianças quanto à oralidade e escrita em diversas produções no
interior da sala de aula. No estudo de final de ciclo, Dias (2008) analisa
as ações de professoras em aulas de reforço para crianças que chegaram
à quarta série sem saber ler. Buscou interpretar os dados das atividades
segundo os conceitos de reconhecer e compreender, antes e depois
das aulas de reforço. Tendo acompanhado as ações para obter dados
por diferentes procedimentos, verificou que após um ano de aulas as
crianças continuaram evidenciando dificuldades conseguindo apenas
reproduzir letras e palavras a partir da memorização de letras iniciais
e finais, sem compreensão, mas foram aprovadas para continuar os
estudos.
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26 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
tratava de modo equilibrado todas as turmas, sendo que a 8ªC, neste
caso a turma dos “fracos”, tinha desempenho similar ao das outras,
consideradas médias e fortes.
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
não tem se preocupado com a aprendizagem, pois, embora sejam
coisas distintas, estão interligadas (TORRES,1992), revelam que a
movimentação das duas décadas não cumpriu a contento o desejo de
muitos de alterar o quadro vigente nas esferas aqui abordadas .
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28 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Essa situação permite novo questionamento relativo a questões
epistemológicas – um dos focos de nosso debate na área e desta
mesa em particular – oportunizando a possibilidade de pensarmos
conjuntamente sobre a área como um todo.
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
para pesquisadores quanto para professores e alunos, a disposição
para o estudo e à reflexão, aspectos formativos de base, colaborando
para possibilidades de também evitar a rigidez e proporcionando
a obtenção de crescente consciência sobre as relações concretas de
existência, sobretudo entre ensino e todo o arcabouço das redes
educacionais e da vida social.
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30 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
O terceiro ponto refere-se à relação indissociável entre teoria e
práxis, de certo modo decorrente das considerações anteriores,
pois, segundo Adorno “o problema da práxis está entrelaçado
com o do conhecimento” (1995b, p.204). O autor considera que a
práxis só se impermeabiliza contra o conhecimento e a teoria ao
perder o contato com o objeto pelas condições sociais objetivas
(pensemos, aqui, na atuação dos professores em suas escolas). Trata-
se, então, de pseudo-atividade. “Não há uma senda contínua que
conduza da práxis à teoria” (p. 227), mas “nem a práxis transcorre
independentemente da teoria, nem esta é independente daquela”
(p.227). Após várias análises, o autor aponta que teoria e práxis estão
em relação de polaridade entre si, ou seja, a práxis está contida na
teorização geral sendo, ao mesmo tempo, “a fonte de onde a teoria
extrai suas forças, mas não é recomendada por esta”, pois “nenhuma
teoria crítica pode ser desenvolvida nos aspectos particulares sem
sobre estimar o particular; mas sem o particular ela seria nula” (p.
229).
Para encerrar este terceiro ponto ainda resta uma reflexão a ser feita
ao foco dessa área em que estamos. Há que se retomar o ensino.
Mas, se o ensino é práxis que pode ser estudada por qualquer área
acadêmica, conforme dito anteriormente, resta algo a ponderar.
Assim, ao reafirmar sua inserção no interior da Pedagogia como
ciência da educação, conforme argumenta Pimenta (1997), há algum
tempo tenho defendido que o foco do ensino que nos cabe é o relativo
às respostas ao “como” dessa práxis, articulado às respostas das
demais questões das áreas que compõem a Pedagogia: “o que”, “para
que” e “por que”. Para tanto, há que se recuperar esse objeto de estudo,
mas de forma invertida quando comparada aos modos anteriormente
considerados em que a Didática foi descrita, em que foi, e continua
sendo, a de ser meramente técnica, de ser objeto de aplicação de
conhecimentos gerados em outras áreas.
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DIDÁTICA
31
teoria e pesquisa
Pautando-me em um texto apresentado por Sass (2001) em reunião
anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Educação (ANPED), em que aborda a relação entre a Psicologia
e a educação, o autor retoma Wallon3 para relembrar a “educação
como um campo específico de investigações antes que um campo de
aplicação de teorias, por vezes, elaboradas sob condições artificiais
dos laboratórios”(p. 2). Após várias análises realizadas, Sass traz uma
ponderação que considero totalmente apropriada às questões que
estamos discutindo na Didática. Diz ele:
Nada mais claro para nós do que pensar que nos cabe ter discernimento,
a partir de todos os aspectos apresentados, de que inverter a mão de
direção, na pesquisa e no ensino, significa tomar os reais problemas da
práxis (PIMENTA, 1997), mas especificadamente aqui relacionados
ao “como ensinar” na vida real, indo às áreas acadêmicas, na medida
do necessário, buscar as teorias que necessitarmos para o exercício
dessa reflexão crítica e criativa aqui defendida caminhando na direção
de criarmos as nossas próprias teorias.
Considerações finais
Diante do que ficou ponderado nos itens deste texto, pode-se dizer
que as distâncias entre a pesquisa e a docência detectadas na área
podem ser aparentes, pois, em muitas dessas situações operou-se
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32 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
com o mesmo paradigma. Quero dizer, com isso, que boa parte do
que ocorreu esteve orientado por uma epistemologia pouco crítica e
nada dialética, em que as relações ocorreram de modo reprodutivo
e funcional, sem compreensão ampliada das possibilidades de reais
mediações e reféns das condições objetivas que interditam as relações
entre teoria e práxis, seja na docência, seja na investigação.
REFERÊNCIAS
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
DIAS, E. D. As ações - contribuindo para o sucesso e fracasso - nas aulas de
reforço para alunos da 4ª série que não sabem ler. Dissertação (Mestrado
em Educação: História, Política, Sociedade). Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo, 2008.
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34 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
LARA, P. T. Classificação de alunos no ensino fundamental: a imputação
do fracasso ou sucesso a alunos do ciclo II. Dissertação (Mestrado em
Educação: História, Política, Sociedade). Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. São Paulo, 2008.
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DIDÁTICA
35
teoria e pesquisa
MARIN, A. J. et al. E a escola? Quem fala? O que falam? Como falam? Sobre
o que falam? Analisando a produção do GT Didática de 2000 a 2010. In:
34ª Reunião Anual da ANPED, 2011, (paper)
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36 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
SASS. O. Interrogações da educação sobre a psicologia da educação. In: 24ª
Reunião Anual da ANPED, 2001,http://www.anped.org.br/reuniões/24/
progr24.htm.(paper).
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
2. ANTINOMIAS NA FORMAÇÃO
DE PROFESSORES E A BUSCA
DE INTEGRAÇÃO ENTRE O
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO-
DIDÁTICO E O CONHECIMENTO
DISCIPLINAR
INTRODUÇÃO
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DIDÁTICA
39
teoria e pesquisa
dos processos de aprendizagem e desenvolvimento, das interfaces
com as práticas socioculturais.
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40 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
No entanto, o campo teórico e investigativo da didática há tempos
sofre percalços vindos de várias direções, umas externas outras
externas. Algumas hipóteses explicativas chamam a atenção para
dois pontos. Em primeiro lugar, a existência de um dissenso ou
dispersão entre educadores, legisladores, políticos, técnicos do
MEC e Secretarias de educação, pesquisadores, em relação aos
objetivos e funções da escola pública. Entendendo que se trata
de uma questão real, é certo que esse dissenso se projeta no
planejamento de ações voltadas para a organização do sistema
escolar, nos currículos das escolas e da formação profissional de
professores, na organização e funcionamento das escolas. Em
segundo lugar, ligado ao ponto anterior, o enfraquecimento do
campo disciplinar e investigativo da pedagogia e da didática no
campo mais amplo da educação (LIBÂNEO, 2010, 2011).
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
É sabido que o Banco Mundial é uma instituição econômica
supranacional cujo papel no cenário econômico é atrelar metas
educacionais a metas econômicas visando equilibração da econômica
mundial em função da globalização dos mercados, redução
da ignorância e da pobreza por meio de uma escola voltada ao
atendimento das necessidades “mínimas” de aprendizagem visando
empregabilidade e inserção dos indivíduos mundo da informação e
do consumo. A escola proposta é a que busca atender a necessidades,
ritmos, interesses dos alunos (individualização das aprendizagens),
por meio de “kit” de sobrevivência: conteúdos mínimos numa
escola organizada para o acolhimento social e integração social. Na
verdade, expressando uma orientação aparentemente humanista,
esses documentos definem uma orientação colonialista e pragmática
da educação para os países pobres.
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42 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
conhecimento e na aprendizagem. Trata-se, assim, de um currículo
criado muito mais para resolver problemas sociais ou econômicos
do que para capacitar efetivamente os estudantes pobres para
desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e sua inserção
crítica no mundo do trabalho, da cultura, da política. Missões sociais
da escola acabam se sobrepondo à sua missão pedagógica, na verdade
a forma pela ela pode cumprir sua missão social. Não é nada casual
que essas orientações venham a se refletir no esvaziamento do papel
da pedagogia e da didática na realização da missão primordial da
escola, a educação e o ensino.
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
tradição teórica na produção acadêmica no campo pedagógico e na
formação teórica de pedagogos pode ser explicada, em boa parte, pelo
insucesso das reformas curriculares do curso de pedagogia.
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44 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
e informação, a epistemologia da prática (e da prática de ensinar)
e as metáforas do professor-pesquisador e do professor-reflexivo,
novas formas de organização escolar como os ciclos, pesquisas sobre
o pensamento dos professores com o estudo das representações (p.
17). Pimenta defende como foco teórico da didática o ensino, não a
aprendizagem, mesmo considerando o compromisso com a finalidade
de gerar aprendizagem. A definição de ensino como prática social
complexa traz à tona, também, a relação real mas não mecânica entre
êxito escolar e origem social dos alunos pondo em relevo a relação
dos alunos com o saber (p.30). Está presente, também, nos embates
teóricos da área a questão das didáticas disciplinares e sua relação
com os conteúdos pedagógicos. Em relação às novas temáticas
trazidas pela legislação (por ex., as avaliações externas, a autonomia
da escola), pela sociedade do conhecimento, pelo multiculturalismo
e pelas novas lógicas de organização da escola e do ensino (ciclos,
interdisciplinaridade, etc.), Pimenta aponta a necessidade de estudos
que investiguem a situação do ensino da didática na graduação e pós-
graduação, a busca da identidade epistemológica, a relação teoria-
prática, a interface com outros campos investigativos (currículo,
psicopedagogia, a psicolinguística, etc.) a serviço dos professores e
a didática em meio ao intercruzamento de culturas que perpassam a
escola (p 37-40).
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DIDÁTICA
45
teoria e pesquisa
e conhecimentos considerados universais não são problematizados
(...) as variáveis de caráter social não são articuladas com questões
de etnia, gênero, grupo sociocultural de referência e orientação
sexual”. Propõem, finalmente, que a perspectiva multi/intercultural
constitua o eixo central desse processo tematizando os preconceitos e
discriminações, o caráter monocultural e o etnocentrismo, a igualdade
e a diferença, os processos de construção das nossas identidades
culturais, as experiências de interação sistemática com os “outros”,
processos de “empoderamento” (p. 489).
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46 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
(2010), em Belo Horizonte, levei a discussão sobre as relações entre
a didática e a epistemologia das disciplinas, no entendimento de que
a apropriação de conhecimentos está intimamente ligada à forma de
constituição dos saberes (questão epistemológica) e com a relação do
aluno com o objeto de conhecimento (questão psico-pedagógica).
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
e a formação metodológica dos futuros professores? Tenho a suspeita
de que também neste aspecto nota-se o impacto da sociologização
do pensamento pedagógico. Não quero dizer que a abordagem
sociológica se omite em relação à aprendizagem dos alunos. O que
se omite são os aspectos da aprendizagem referentes aos processos
internos que ocorrem quando alguém aprende, ou seja, à psicologia
da aprendizagem e do desenvolvimento. Uma questão muito distante
do prisma sociológico é entender que a aprendizagem, a par de estar
dependente da organização social e cultural do ambiente, é um
processo de internalização que implica uma atividade psicológica
interna. Este assunto será retomado no terceiro tópico deste texto.
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teoria e pesquisa
processos de investigação da ciência ensinada nas suas relações com
o ensino dessa ciência.
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teoria e pesquisa
pedagogia crítico-social dos conteúdos e pedagogia histórico-crítica
e, hoje, às propostas de educação intercultural ou currículo do
cotidiano. Há muito o que investigar e realizar sobre como práticas
socioculturais podem conectar-se com o ensino dos conteúdos, com
o desenvolvimento das capacidades intelectuais e o desenvolvimento
afetivo e moral dos alunos.
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50 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
práticas referentes aos fundamentos, condições e modos de realização
do ensino e da aprendizagem dos conteúdos, habilidades, valores,
visando o desenvolvimento das capacidades mentais e a formação
da personalidade dos alunos. Extraio desse entendimento uma
definição: a didática tem como especificidade epistemológica o processo
instrucional que orienta e assegura a unidade entre o aprender e o
ensinar na relação com um saber, em situações contextualizadas, nas
quais o aluno é orientado em sua atividade autônoma pelos adultos
ou colegas, para apropriar-se dos produtos da experiência humana na
cultura e na ciência, visando o desenvolvimento humano. Este processo
é designado mediação didática, isto é, mediação das relações do aluno
com os objetos de conhecimento (processo de ensino-aprendizagem),
visando a internalização de conceitos (mediação cognitiva), em
contextos sociais e culturais concretos, em que se articulam o ensino,
a aprendizagem e o desenvolvimento.
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
afetivo e moral dos alunos. Trata-se essencialmente de um processo
de mudança, de reorganização e enriquecimento do próprio
aluno, implicando sua participação ativa e, ao mesmo tempo, a
intencionalidade educativa daquele que ensina. Para Vigotsky, boa
instrução (ensino-aprendizagem) é a que se antecipa e mantém
o foco na próxima etapa do desenvolvimento, ao despertar e
provocar “toda uma série de funções que se encontram em estado
de maturação na zona de desenvolvimento próximo” (VYGOTSKY,
2007, p. 360), guiando o processo de desenvolvimento.
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52 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
de estudo constituem o processo de interiorização, a partir do qual se
reestrutura o próprio modo de pensar dos alunos promovendo, com
isso, seu desenvolvimento mental (Cf. LIBÂNEO, 2011b).
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
a) A questão “campo do didático” se resolve, em primeira instância,
pelo papel do ensino em criar as condições para assegurar a
relação do aluno com um saber (mediação, compartilhamento de
significados), levando a uma mudança qualitativa nas relações com
esse saber (transformação das relações que o aluno mantém com os
saberes), promovendo o desenvolvimento humano.
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54 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
4. Derivações para o campo investigativo e profissional
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compreensão dos processos internos da atividade de aprendizagem,
a didática não dará conta de assegurar a unidade entre o ensino e a
aprendizagem.
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56 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
da didática baseada nos saberes a aprender, como referência para
a formação de conceitos (operações mentais) se opõe a uma forte
tradição escalonovista e de educação popular em nosso país. A escola
baseada nos conteúdos foi estigmatizada por causa de certa visão
da pedagogia tradicional em que os conteúdos são tomados como
estáticos, prontos e acabados. Não é desta noção de conteúdo que
falamos. Os conteúdos são o conjunto de conhecimentos teóricos
de uma disciplina, constituídos social e historicamente, produtos do
desenvolvimento mental humano, considerados importantes para
a formação geral dos alunos. Davídov escreve que “o ensino realiza
seu papel principal no desenvolvimento mental, antes de tudo, por
meio do conteúdo do conhecimento a ser assimilado” uma vez que,
ainda segundo esse autor, os conteúdos são os meios para a formação
dos processos mentais. Por isso dizemos que a didática ocupa-se
dos processos de ensino e aprendizagem referentes ao ensino de
conteúdos específicos, em situações socioculturais concretas, visando
à promoção e ampliação dos processos de pensamento. Conhecimento
aqui deve ser entendido como processo mental do conhecimento.
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teoria e pesquisa
forma: “nenhum conteúdo existe fora do ato que permite pensá-lo,
da mesma forma que nenhuma operação mental pode funcionar
no vazio”. Ou seja, a formação de capacidades mentais supõe os
conteúdos, pois essas capacidades estão já presentes nos processos
investigativos e procedimentos lógicos da ciência ensinada. A noção
de conteúdo, portanto, está associada diretamente à formação de
capacidades mentais, no sentido de que o a mediação didática
do professor consiste em traduzir os conteúdos de aprendizagem
em procedimentos de pensamento. Isto requer competência do
professor em propor tarefas a partir dos conteúdos que coloquem os
alunos em uma situação didática de exercício da atividade mental,
em seqüências de operações mentais em que os alunos operem
mentalmente com os conceitos.
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58 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Na abordagem do duplo movimento, o plano de ensino do
professor deve avançar de características abstratas e leis gerais
de um conteúdo para a realidade concreta, em toda a sua
complexidade. Inversamente, a aprendizagem dos alunos deve
ampliar-se de seu conhecimento pessoal cotidiano para as leis
gerais e conceitos abstratos de um conteúdo (2005, pp. 69-70).
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
muito diferentes quando se analisa a concepção de formação
e organização curricular do curso de pedagogia e dos cursos de
licenciatura. Conforme mencionamos, no curso de pedagogia,
que forma o professor polivalente, a separação conteúdo-forma é
caracterizada pela predominância da forma (do “metodológico”),
com pouca preocupação com o conteúdo que será ensinado às
crianças. Nas licenciaturas, que forma o professor especialista
em um conteúdo, são enfatizados os conteúdos em separado de
sua metodologia de ensino; quando há formação pedagógica, ela
é deslocada para o final do curso de bacharelado, sem nenhuma
relação direta com as disciplinas do bacharelado. Em ambos os
casos, verifica-se a dissociação entre aspectos inseparáveis na
formação de professores, isto é, entre o conhecimento do conteúdo
(conteúdo) e o conhecimento pedagógico do conteúdo (forma)
(LIBÂNEO, 2014).
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60 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
A formação de professores precisa, portanto, buscar uma
unidade do processo formativo a qual implica reconhecer que a
formação inicial e continuada de professores precisa estabelecer
relações teóricas e práticas mais sólidas entre a didática e a
epistemologia das ciências, de modo a romper com a separação
entre conhecimentos disciplinares e conhecimentos pedagógico-
didáticos. Isso poderá ser assegurado se ambos esses percursos
formativos considerarem: a) ênfase no estudo dos conteúdos que
serão ensinados nas escolas da educação básica; b) assegurar no
ensino a relação conteúdo/método; c) assegurar na formação a
integração entre o conhecimento do conteúdo e o conhecimento
pedagógico-didático do conteúdo. ¶
REFERÊNCIAS
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
CANDAU, Vera M. F. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práti-
cas pedagógicas. Currículo sem Fronteiras, v. 11, p. 240-255, 2011.
................................................................................
62 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
LIBÂNEO, José C. Didática e epistemologia: para além do emba-
te entre a didática e as didáticas específicas. IN: D’ÁVILA, M.
Cristina e VEIGA, Ilma P. (orgs.). Profissão docente: novos sen-
tidos, novas perspectivas. Campinas: Papirus, 2008.
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DIDÁTICA
63
teoria e pesquisa
LIBÂNEO, José C. Escola de tempo integral em questão: lugar de aco-
lhimento social ou de ensino-aprendizagem? In: BARRA, Valde-
niza M. L. (org.). Educação: ensino, espaço e tempo na escola de
tempo integral. Goiânia: Gráfica UFG, 2014.
................................................................................
64 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
VEIGA, Ilma P. A. Um diálogo com as didáticas especiais. In: LON-
GHINI, Marcos Daniel (org.). O uno e o Diverso na Educação.
Uberlândia: EDUFU, 2011.
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DIDÁTICA
65
teoria e pesquisa
3. AS ORIENTAÇÕES EDUCATIVAS
CONTRA-HEGEMÔNICAS EM
FACE DOS QUESTIONAMENTOS
PÓS-MODERNOS. E A DIDÁTICA
COM ISSO?
INTRODUÇÃO
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DIDÁTICA
67
teoria e pesquisa
teses do materialismo histórico-dialético, com implicações
epistemológicas e praxiológicas diretas para o campo da pedagogia e
da didática? Ainda, como questão subordinada, indagamos: Há um
deslocamento epistemológico de uma didática crítica para uma didática
pós-moderna?
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68 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
O aguçamento de minhas inquietações aconteceu em face do
estranhamento de que falar em ciência – conhecimento objetivo,
verdade, razão, totalidade, emancipação, dialética, luta de classes,
utopia, intencionalidade, objetivos, planejamento, princípios
norteadores – parecia ser uma postura pouco acadêmica. Os termos
mais adequados seriam a incerteza; o relativismo; a diversidade;
o hibridismo; a transitoriedade; as diferenças; os grupos; o local;
a subjetividade docente; o multiculturalismo na sala de aula; a
violência; a questão de gênero; a etnia; o professor reflexivo; o estudo
de caso; o improviso; o contrato didático; a pedagogia de projetos;
as competências. Uma lista considerável de termos tomados como
novos e que deveriam substituir aqueles que não mais expressavam
a realidade.
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DIDÁTICA
69
teoria e pesquisa
Esse cenário foi também constatado por Lombardi (1993, p.158) ao
afirmar que “os debates acadêmicos atuais têm caminhado muito na
direção de fazer coro com os pós-modernos, pós-liberais, decretando
a crise do socialismo – e com ela do fim da utopia – e a morte do
marxismo”. Chauí (1993, p.23), por sua vez, entendendo que o pós-
modernismo é a ideologia do neoliberalismo, afirma: “categorias
gerais como universalidade, necessidade, objetividade, finalidade,
contradição, ideologia, verdade são considerados mitos de uma
razão etnocêntrica, repressiva e totalitária”. Se essas categorias estão
sendo negadas e se historicamente constituem teorias que brotaram
na modernidade e que nortearam boa parte das teorias pedagógicas,
cabe-nos indagar sobre as repercussões dessas ideias para o pensar e
o fazer científico da educação.
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70 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
que nos permitisse compreender quais as bases materiais e teóricas que
estavam fertilizando os debates, as ideias e as posições no cenário descrito.
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DIDÁTICA
71
teoria e pesquisa
conexionado ao que compreendemos por orientações educativas
contra-hegemônicas. Em sintonia com Saviani (2008, p. 170),
entendemos que estas são “orientações que não apenas não
conseguiram tornar-se dominantes, mas que buscam intencional e
sistematicamente colocar a educação a serviço das forças que lutam
para transformar a ordem vigente visando a instaurar uma nova forma
de sociedade”. São nessas bases teóricas e políticas que, a nosso modo
de ver, erguem-se as proposições da didática crítica. O segundo trata
da concepção de pós-modernidade presente em nossas reflexões. Em
consonância com Paulo Netto (2010), assumimos o entendimento de
que a pós-modernidade é:
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72 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
marxismo”, do “fim das utopias”. Esse modo de pensar chega na esteira
do avanço da ofensiva neoliberal e da inserção, no meio acadêmico,
do ideário pós-moderno, pela recusa da ideia de objetividade do
conhecimento, da categoria da totalidade, da distinção entre essência
e aparência, enfim, pelo questionamento de categorias e teses centrais
da teoria do ser social de Marx.
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DIDÁTICA
73
teoria e pesquisa
pelo discurso universalista da didática e relativista da teoria crítica
do currículo, em que o conhecimento é focado na experiência
sociocultural dos alunos, ao mesmo tempo em que secundarizam os
conteúdos; 4) entendimento de que se mudanças estão acontecendo
no interior da didática, isso se refere a um movimento histórico, que
tem determinantes históricos, e que um dos determinantes é esse
diálogo, o qual tem menos a ver com uma perspectiva teórica, do que
com o momento histórico, e com a construção da ciência em suas
relações com o contexto social mais amplo.
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74 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
acabam relativizando a proposição mais universalista da pedagogia e
da didática e, simultaneamente, expressando um desprezo para com as
questões dessas áreas. Isso é o que ele tem chamado de sociologização
de pensamento pedagógico.
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DIDÁTICA
75
teoria e pesquisa
A estudiosa aponta a perda da compreensão da relação entre a
ciência e a produção da existência humana presente nessas análises
e que tem levado a posturas equivocadas como, por exemplo,
aquelas que entendem que a escola democrática não serve porque
não conseguiu cumprir com a dimensão da qualidade; também
destaca que, pelo abandono da categoria da contradição, as análises
pós-modernas se aproximam do neoliberalismo e, mesmo não
consentindo, contribuem para o aprofundamento do capital,
portanto, da desigualdade.
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76 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Oliveira se posiciona sobre a questão problematizando o alcance
do materialismo histórico-dialético. Aponta para a necessidade
de estudos mais completos da teoria de Marx, pois esta não é uma
teoria economicista. Afirma que, no âmbito da teoria de Marx ou do
marxismo, as temáticas colocadas em destaque pelo movimento pós-
moderno – como etnia, sexualidade, violência, multiculturalismo e
gênero – não são realmente tratadas por esse referencial.
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
Indicações da análise
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78 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
contemporâneos da didática, em especial, porque essa teoria compreende
que a realidade social, portanto, educativa, está continuamente
colocando novos problemas a serem enfrentados pela prática teórico-
científica dos professores no contexto social de sua contemporaneidade.
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
instrumentos teórico-práticos que tanto nos ajudem na compreensão
e crítica da materialidade social como colaborem com a instituição de
processos políticos e pedagógicos emancipadores. ¶
REFERÊNCIAS
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80 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
4. O PROTAGONISMO DA DIDÁTICA
NOS CURSOS DE LICENCIATURA:
A DIDÁTICA COMO CAMPO
DISCIPLINAR
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DIDÁTICA
81
teoria e pesquisa
disciplinar e área de práticas pedagógicas, juntamente com as Práticas
de Ensino, destacando seu compromisso público e político com resultados
do ensino e da aprendizagem de qualidade nos diferentes níveis e
modalidades, no contexto da definição e das implicações do Plano
Nacional de Educação; e enfatiza que a Didática é área epistemológica,
com estatuto e objeto próprios, que tem por finalidade fundamentar
os processos de ensino e de aprendizagem compreendendo-os como
práxis de inclusão social e de emancipação humana e política. Por
isso, constitui área disciplinar, por excelência, na formação de
professores, com potencial para ressignificar o processo de formação
docente, concebendo-a como área da Pedagogia, que tem o ensino e a
aprendizagem, historicamente situados, como objeto de preocupação.
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82 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
constrói-os em sua subjetividade. Ou, no dizer de Paulo Freire
(2007:1) Não se pode encarar a educação a não ser como um que fazer
humano (...) que ocorre no tempo e no espaço, entre os homens uns com
os outros. Em nossa perspectiva, o sujeito que se pretende é o sujeito
da transformação. E para sê-lo necessita conhecer criticamente as
condições concretas de sua realidade, se apropriar dos instrumentos
que lhe permitam compreender como foram produzidas as situações
de des-humanização presentes na atualidade. E aí a educação praticada
nas sociedades necessita ser analisada em suas manifestações
aparentes e implícitas, para que se explicite a gênese dessa des-
humanização. E como ser superada. A pedagogia é a ciência que tem
esse papel: estudar a práxis educativa com vistas a equipar os sujeitos,
profissionais da educação, dentre os quais o professor, para promover
as condições de uma educação humanizadora. Seu objeto de estudo é
a educação humana nas várias modalidades em que se manifesta na
prática social. Ao se debruçar sobre o fenômeno educativo, busca a
contribuição de outras ciências que têm a educação como um de seus
temas. A pedagogia investiga a natureza do fenômeno educativo, os
conteúdos e os métodos da educação, os procedimentos investigativos.
E articula as contribuições das demais ciências da educação sobre ele.
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DIDÁTICA
83
teoria e pesquisa
O ensino é uma práxis social complexa. Realizado por seres humanos entre
seres humanos, é modificado pela ação e relação dos sujeitos (professores
e alunos) situados em contextos (institucionais, culturais, espaciais,
temporais, sociais), e, ao mesmo tempo em que é modificado nesse
processo relacional contextualizado, modifica os sujeitos nele envolvidos.
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84 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
criticamente na sociedade, com vistas a transformar as condições que
geram a des-humanização. E o faz trazendo as contribuições teóricas
que lhe são próprias para a análise, a compreensão, a interpretação do
ensino situado em contextos, num processo de pesquisa da realidade,
com vistas a apontar possibilidades de superação.
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DIDÁTICA
85
teoria e pesquisa
processos educacionais) e com a precarização e intensificação do
trabalho dos professores, dentre outros. Essa situação caminha
no sentido do esmagamento de possíveis projetos institucionais e
pedagógicos com identidade própria, causando o empobrecimento
das práticas docentes e a deterioração da qualidade da formação
disponibilizada aos alunos, conforme se afirma nos objetivos do
XVI ENDIPE. Segundo Torres (2010:127) o pacote do BM e o modelo
educativo subjacente à chamada “melhoria da qualidade da educação
para os setores sociais mais desfavorecidos” está, em boa medida,
reforçando as condições objetivas e subjetivas que contribuem para
produzir ineficiência, má qualidade e desigualdade no sistema escolar.
Um sistema de ensino que substituiu a aprendizagem na sala de aula
pela avaliação do rendimento escolar em escala. A divulgação dos
dados quantitativos esconde mecanismos internos de exclusão ao
longo do processo de escolarização.
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86 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
E começar levantando questões a partir de seus limites. Esse
procedimento pode configurar o inicio do processo de rupturas das
representações de que os estudantes dos cursos de licenciatura, em
geral, são portadores.
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DIDÁTICA
87
teoria e pesquisa
Os estudantes que por diferentes razões se inserem em cursos
de licenciatura são portadores de inúmeras representações sobre
escolas particulares e públicas, por terem sido alunos durante
pelo menos 15 anos de suas vidas. Também por serem alunos de
cursos de graduação nos quais as preocupações com educação e
ensino estão ausentes. Têm informações difusas (ou não) sobre
a fragilidade do estatuto profissional e social da profissão; sobre
alunos, indisciplina, falta de interesse, desrespeito; fragilidade
dos docentes frente a essas questões; vêem na didática (mas sem
muita convicção) uma `tábua de salvação’, uma disciplina a mais,
uma obrigação burocrática; desconhecem os nexos entre ensino,
escola, trabalho docente e produção existencial e material dos
sujeitos e da sociedade em que vivem; os nexos entre suas áreas de
conhecimento específico e a sociedade, e a formação humana de
si mesmos, e dos demais; o como se relacionam com as disciplinas
escolares, e tantas outras.
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88 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Começar por compreender as relações entre educação, pedagogia
e didática. Suas finalidades, seus campos, suas tensões, os conflitos
ideológicos que as atravessam, as diferentes e, por vezes, opostas
direções de sentido que apontam, no contexto da realidade social,
econômica, política, cultural em que estamos situados. E aí, com o
texto de Paulo Freire (1997) explode uma das primeiras rupturas
que poderíamos denominar de existencial quando os estudantes se
indagam: e eu nisso? (nunca havia pensado...); e a educação que tive?
Isso é possível? A educação verdadeiramente é um ato político! E onde
se estuda essas coisas na universidade? E os docentes dos nossos cursos
(de bacharelado) como se situam nisso? E os nossos conhecimentos
específicos? Como entram? Ou não entram? O principal conceito
aqui ressignificado é o de educação escolar e de suas finalidades, já
sendo confrontadas com suas realidades.
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DIDÁTICA
89
teoria e pesquisa
assumindo ao mesmo tempo um caráter explicativo, compreensivo e
projetivo, sobre a natureza do ensino, seus problemas e suas causas,
suas conseqüências, suas possibilidades e seus limites na construção
do humano.
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90 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
processo, os estudantes vão a escolas, por eles escolhidas, definem, a
priori, os temas que nortearão suas atividades na escola, se agrupam
conforme os temas escolhidos, apresentam os resultados temáticos em
forma de pôster e redigem relatório individual. Essa dinâmica parte
das considerações teóricas que temos sobre o estágio na formação de
professores.
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DIDÁTICA
91
teoria e pesquisa
e os dados novos que a realidade impõe e que são percebidas na
postura investigativa (cf. Pimenta & Lima, 2004; e Lima, 2001)
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92 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Aprendemos na escola que o ver e o escutar de forma crítica e
reflexiva o que estava em nossa volta, propicia um novo olhar. Um
olhar que escuta, ouve e aprende a ver o outro, a realidade, cria e
busca a sintonia do outro, do grupo e das de outras pessoas. (Aluna
do Programa Especial de Formação Pedagógica)
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DIDÁTICA
93
teoria e pesquisa
os estímulos que recebem e como são tratadas pelos pais, pela
escola e pelos professores; a oportunidade de encontrar professores
realizando excelente trabalho na escola pública e o acesso a atividades
nunca vistas no decorrer do curso; perceber que é possível colocar em
prática muitos dos conhecimentos acumulados; vivenciar a partilha
de trabalhos, o espírito de equipe entre os colegas nas atividades de
estágio; a compreensão dos elementos que interferem decisivamente
na condução da sala de aula e na vida dos profissionais do magistério.
Considerações finais
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94 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
e as ressignificações mais expressivas:
REFERÊNCIAS
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DIDÁTICA
95
teoria e pesquisa
CHARLOT, B. Da Relação com o saber. Porto Alegre. ArtMed.
2000.
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96 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
PIMENTA, S. G. A Didática como mediação na construção da
identidade de professores: uma experiência de ensino e pesquisa
na Licenciatura. In: ANDRÉ & OLIVEIRA (Orgs.). Alternativas
no Ensino de Didática. Campinas. Papirus, 1997:37-70.
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DIDÁTICA
97
teoria e pesquisa
5. PERMANÊNCIAS E NOVOS
DESAFIOS DA FORMAÇÃO
INICIAL: CONTRIBUIÇÕES
DA DIDÁTICA E PRÁTICAS DE
ENSINO NA PREPARAÇÃO DE
PROFESSORES
INTRODUÇÃO
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DIDÁTICA
99
teoria e pesquisa
conforme explicitam Marin, Giovanni e Guarnieri (2004) ao
analisarem o distanciamento entre as pesquisas sobre formação e
atuação docente.
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100 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
têm sido alvo de preocupação dos pesquisadores ao analisarem
as relações entre a formação e atuação docente e as reformas
educacionais contemporâneas. As análises evidenciam o quanto é
necessário ampliar as discussões sobre velhas e novas questões que
vêm desafiando os formadores e os profissionais em exercício para
melhorar a qualidade da formação e consequentemente do ensino na
escola básica.
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DIDÁTICA
101
teoria e pesquisa
em relação à prática profissional docente tem acentuado, conforme
os estudos analisados, uma supervalorização da experiência pelos
professores iniciantes ao considerarem, que ela, por si mesma, é
fonte de formação, pois é muito veiculada a idéia de que é por meio
da experiência que se“faz” o professor, ou seja, só se aprende a ser
professor trabalhando. Essa ideia é reforçada no interior dos cursos de
formação quando os estudantes entram em contato com os professores
em exercício e o trabalho de sala de aula no momento do estágio nas
escolas. Ao trabalhar com a disciplina de didática e prática de ensino
no curso de Pedagogia tenho ouvido constantemente dos alunos,
alguns deles são bolsistas do PIBID, queixas relativas às mensagens
negativas que recebem das professoras dos anos iniciais da educação
básica sobre a ineficiência da formação que tiveram, anos atrás,
ressaltando que só com a prática é que aprenderam a dar aula. Além
disso, reforçam que, para ser professor e permanecer na profissão, é
preciso ter dom e amor pelas crianças, pois o salário, as condições que
enfrentam para atuar e o desprestígio que sentem são frustrantes. Tais
mensagens podem desestimular os futuros professores a optarem pela
profissão conduzindo-os a se engajarem em atividades de pesquisas,
sempre mais valorizadas na universidade, ou ainda, para aqueles que
pretendem ser professores alimentar percepções e crenças de que
basta gostar dos alunos, ter paciência, convicção e vocação que já é o
suficiente para ser professor. Os estudantes, de um lado, queixam-se
também das atividades que as professoras responsáveis por recebê-los
nas salas de aula lhes destinam, as quais se limitam a acompanhar
os alunos com mais dificuldades de aprendizagem ou os alunos com
necessidades educacionais especiais, sem orientar o que devem fazer.
As professoras, por outro lado, resistem em aceitar que os estagiários
possam dar aulas para as suas turmas ou que desenvolvam atividades
trazidas por eles a partir do que estão aprendendo no curso e do que
vivenciam durante esse contato com as professoras. Desse modo,
o estágio fica reduzido à observação das aulas e mesmo quando
há possibilidade de regência os estagiários não têm retorno das
professoras, que às vezes se ausentam da sala para dedicar-se a outras
tarefas. Nota-se que a aprendizagem da docência ainda está distante
de ocorrer mesmo nesse momento privilegiado de contato dos alunos
com a escola básica, não só pelos motivos apontados. Há ainda, outra
questão que perpassa essa forma de realização do estágio e, parece
incidir no modo como os professores encaram os estagiários. Percebe-
se, aqui, uma contradição entre o que eles dizem e o que fazem, pois
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102 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
os alunos não são percebidos como futuros professores que precisam
aprender a profissão com quem já atua, e os professores , já vimos,
apregoam isso. Porém, é legítimo aos estudantes da Pedagogia
manifestarem o desejo de aprender como se dá uma aula real, o que é
preciso fazer para planejá-la, qual material utilizar, como conduzir as
atividades com os alunos, saber se o que pensam e buscam executar
está ou não adequado aos alunos. Para os docentes dos anos iniciais
da escola básica a recepção de estagiários implica mais uma tarefa,
embora percebam alguns benefícios ao contarem com a ajuda deles
em sala de aula junto aos alunos. Essa atitude dos professores não
é isolada, os demais profissionais da equipe de gestão reforçam isso,
ainda que conheçam e aceitem a proposta de estágio apresentada à
escola, mas isso não é suficiente para garantir a sua execução, pois
cada vez mais as escolas determinam o que os estagiários podem
e devem fazer em seu interior. Assim sendo, a almejada parceria
entre universidade e escolas ainda não ocorre adequadamente, pois
os professores não são preparados para receber os estudantes, não
se veem como responsáveis também pela formação profissional
de futuros professores. Talvez se esteja exigindo muito deles dadas
às condições em que realizam o seu trabalho e das dificuldades dos
próprios cursos de formação para desenvolver um trabalho que de
fato promova a preparação prática dos estudantes, destacado a seguir.
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DIDÁTICA
103
teoria e pesquisa
outros), mas sem desdobramentos para as práticas educacionais, e de
forma incipiente registram preocupação com o quê e como ensinar.
Sobre os estágios Gatti e Barreto afirmam que as ementas são vagas,
não há projeto ou plano de estágio explícito e há prevalência das
atividades de observação, indicando a fragilidade dos estágios por
não se constituírem em práticas efetivas dos alunos da Pedagogia nas
escolas (p.120). Ressaltam, ainda, que a escola, enquanto instituição
social e de ensino, é quase ausente nas ementas o que conduz a pensar
numa formação mais abstrata e pouco referenciada ao contexto
concreto da futura atuação profissional do professor (p.153). Nota-se,
portanto, a permanência dos problemas apresentados anteriormente
e exemplificados com as manifestações dos estudantes da pedagogia
ao realizarem seus estágios. Em outro texto, Gatti (2000), aponta
também para a desarticulação entre os formadores que trabalham
isoladamente suas disciplinas, sem integração entre as áreas de
conteúdos de natureza básica e os de natureza pedagógica e prática,
acentuando o afastamento das questões do ensino e da formação para
a atuação profissional, que são menosprezadas ou consideradas algo
menor no interior dos cursos, reforçando certa “crença de que quem
sabe, sabe ensinar ou o professor nasce feito”.
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104 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
o que Barreto (2010) assevera em relação à ampliação dos objetivos
da escola atual que sobrecarregam a instituição com demandas que
a escola e os professores não têm condições de cumprir (combate à
violência e às drogas, complementação alimentar, educação sexual,
programas de lazer e cultura,etc.). Ainda que o alunado se beneficie
desses programas, para os professores representa assumir outras
tarefas, que põem em questão sua função no interior da escola.
Há professores que reagem, recusam, resistem às atribuições que
vão além do que fazem e pode levá-los a não se responsabilizarem
pelo fracasso dos alunos, mas sempre terão que lidar com aqueles
considerados difíceis. Nessa direção, a autora ressalta que a tarefa
educativa nos anos iniciais da escolaridade passa a ser, antes de
tudo, socializadora e compete às professoras serem formadoras de
atitudes e valores, evocar amor e afeto, tomados como centrais da
representação da docência, reforçada pela vocação, mas isso não
assegura a aquisição de conhecimentos socialmente valiosos aos
alunos. A pergunta que faz é “que tipo de formação é necessária
para criar condições de educabilidade a contingentes específicos
de alunos?”(BARRETO,2010,p.439). Pode-se acrescentar, ainda,
outra questão , ou seja, o tipo de identidade profissional que está
sendo construída no interior dos cursos de formação quando se
considera, por exemplo, as mensagens que futuros professores trazem
do contato com os docentes da rede pública durante os estágios, as
quais corroboram com as análises de Barreto e de Vezub (2007) ao
acrescentar que, o trabalho realizado pelo professor na escola junto
aos alunos permanece forjado por vínculos doméstico e familiar,
resistindo às lógicas racionais para dotá-lo de maior profissionalismo.
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DIDÁTICA
105
teoria e pesquisa
da qualidade da educação. Para o autor, o cerne das ações e
orientações políticas incide na obtenção de resultados eficazes com a
implementação de sistemas avaliativos que relacionam desempenho
docente e resultados da aprendizagem dos alunos. Para isso, as
políticas educativas focalizadas na globalização da concorrência e na
ética da responsabilização e desempenho investem em programas e
estratégias destinados a qualificar a mão de obra docente. Enquanto
política de Estado, busca alinhar as esferas da formação inicial e do
desenvolvimento profissional visando melhorar a eficácia do ensino
da escola básica (LESSARD, 2006,p.204).
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106 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
formadores nas universidades. Não tem sido fácil verificar no interior
da universidade que tais tecnologias se fazem cada vez mais presentes,
com a adoção de sistemas de avaliação de desempenho dos docentes
que traduzem as diferentes atividades (pesquisa, ensino, extensão
e gestão) em pontos e metas a cumprir. A avaliação é necessária e
desejável, mas não nessa forma que reduz e simplifica todo o trabalho
dos professores, provocando uma sensação de que por mais que se
faça e se alcance a pontuação desejada, ainda sim, não se atingiu o
esperado, não se conseguiu, conforme explicita Ball (2005,p.547),
ao criticar a performatividade nas universidades “...o “máximo
desempenho”, a ser o “melhor”, a alcançar a mais alta classificação do
ensino ou da pesquisa, a obter pontos por reconhecimento ou uma
condição especial.” Ou seja, estamos falando e criticando as ações
políticas que interferem na vida dos professores e estamos sofrendo
os mesmos problemas e nos curvando a eles, principalmente quando
as atividades de docência são as menos referenciadas.
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DIDÁTICA
107
teoria e pesquisa
Para isso, o autor entende que é necessário reconhecer e valorizar o
ensino, enquanto atividade que exige a compreensão de determinado
conhecimento (disciplina) e de sua reelaboração (transformação)
no ato de ensinar e compreensão sobre os alunos e seus processos
de aprendizagem. Como diz Lessard, trata-se de a universidade
tomar uma atitude política, ao propor que a universidade faça uma
crítica profunda e coloque em tensão essa obrigação por resultados,
atentando para a armadilha que traz ao reduzir a aprendizagem ao que
se pode medir; a perícia docente, à sua eficácia e o valor da formação,
ao seu rendimento (LESSARD,2006,p.220).
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108 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
formativas dos futuros docentes, o fato de a disciplina didática
não abranger conteúdos necessários para completar a formação
dos estudantes. Por outro, há que se reafirmar e manter esse
componente curricular por ter “papel fundamental na formação
do educador, com o professor sendo incumbido de contemplar
conteúdos que se referem ao ensino e suas características na escola
contemporânea, porém na relação com os alunos” (MARIN,
PENNA, RODRIGUES, 2012, p.13). Nesse sentido, destacam
a necessidade de se retomar o papel central da Didática em sua
feição nuclear, ou seja, a atividade de ensinar, o trabalho docente,
com seus diferentes elementos, relações e modos de agir e realizar
tal trabalho, mas perspectivados por análises que não acentuem
aspectos considerados tecnicistas dessa atividade, alvo de muitas
críticas na área, o que vai exigir novas formas de abordagem, que
impliquem operar com eles de forma descritiva, analítica e crítica
para promover a formação prática do professor.
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DIDÁTICA
109
teoria e pesquisa
dia a dia da escola. Tais elementos são férteis para discussão quando
não trabalhados isoladamente o que permite aos professores em
formação ter uma visão abrangente e interligada dos componentes
mais técnicos do trabalho de ensinar ao estabelecer relações entre
possibilidades e limites para o desenvolvimento de tais tarefas como,
por exemplo, o que escola oferece aos professores para viabilizar a
realização das aulas, ou ainda, saber dos sucessos e fracassos obtidos
pelos professores ao adotarem determinados procedimentos para
ensinarem os alunos.
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110 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
REFERÊNCIAS
................................................................................
DIDÁTICA
111
teoria e pesquisa
MARIN, A. J. Redimensionamento da Didática a partir da Prática
de Ensino. In: MARIN, A. J. (Org.) Didática e trabalho docente.
Araraquara,SP: J&M, 2005,pp.57-65.
................................................................................
112 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
6. A DIDÁTICA E A DOCÊNCIA EM
CONTEXTO
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DIDÁTICA
113
teoria e pesquisa
Entretanto, a partir desta mesma década, com o refluxo das teorias
críticas em educação no contexto de hegemonia do pensamento
neoliberal, houve uma dispersão nos estudos do campo da
didática, que acabaram sendo subsumidos pela emergente área
de formação de professores.
A docência em contexto
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114 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
uma prática educativa institucional, pois ocorre inserida em uma
instituição social. E como destaca Pérez Gómez
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DIDÁTICA
115
teoria e pesquisa
mediação das determinações legais nas redes municipais é ainda maior,
pois se trata de um entrelaçamento das legislações federais, estaduais
e as emanadas pelos próprios municípios. O contexto institucional é
justamente a dimensão do exercício da docência em que as políticas
públicas impactam mais diretamente, ao serem implementadas
pelos governos municipais, estaduais ou pelo governo federal. É a
dimensão institucional que estabelece para as práticas educativas em
aula as condições materiais para o funcionamento das escolas, desde
as instalações físicas até os materiais didáticos disponíveis: o estado
de conservação das salas de aula e seu mobiliário, as instalações de
laboratórios e de bibliotecas com seus respectivos acervos, ambientes
para as práticas esportivas e artísticas, e assim por diante. A dimensão
institucional estabelece também as condições de trabalho do professor:
o número de aulas que leciona semanalmente, o regime de trabalho
(dedicação exclusiva em uma escola ou em várias escolas), salário
compatível às suas atividades profissionais, o tempo de trabalho
remunerado previsto para atividades fora da sala de aula (para preparo
das aulas e participação em reuniões com o coletivo pedagógico). O
contexto institucional determina também um dado fundamental na
qualificação das aprendizagens discentes: o número de alunos por
sala de aula com que o professor trabalhará em cada ano da educação
básica, que é definido pelas diferentes redes de ensino. O contexto
institucional estabelece também a quantidade e as condições de
trabalho dos profissionais que atuam nas equipes diretivas das escolas:
coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais, diretores,
vice-diretores etc., assim como dos demais profissionais que atuam
nas esferas operacionais e administrativas da escola. Finalmente, é no
âmbito das diferentes redes de ensino que se estabelece como novas
propostas pedagógicas serão implementadas pelo conjunto de suas
escolas: se os profissionais da educação locados nas unidades escolares
participarão do processo de construção destas propostas ou se elas
serão gestadas em gabinetes das diferentes instâncias do sistema de
ensino para serem simplesmente cumpridas pelos profissionais das
escolas. Todos estes diferentes aspectos envolvidos na dimensão
institucional materializam as políticas públicas dos diferentes entes da
federação. Cabe também aqui destacar as interferências que decorrem
do papel desempenhado pelas instituições de classe dos profissionais
de ensino. De acordo com os contextos e momentos históricos
específicos, os sindicatos e as entidades científicas, conseguem
dialogar mais ou menos com os governantes de cada época à frente
................................................................................
116 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
dos aparelhos estatais dos diferentes entes federativos, de modo a
contribuir na luta pela melhoria das condições do trabalho docente,
assim como nas condições e encaminhamentos pedagógicos em
relação às aprendizagens dos alunos.
................................................................................
DIDÁTICA
117
teoria e pesquisa
escola, enquanto instituição social, além das determinações legais da
rede de ensino à qual esta vinculada (contexto institucional) também
materializa um conjunto de elementos físicos e simbólicos próprios
da sua história, do seu enraizamento na comunidade local. Embora
num primeiro plano as escolas sejam uma reprodução singular de
um conjunto de outras escolas inseridas em um mesmo contexto
institucional, elas interagem de modo diferente com esse contexto.
Escolas de uma mesma rede de ensino desenvolvem atividades
educativas diferentes, mesmo quando administradas por uma mesma
instituição (uma rede de ensino municipal, estadual ou federal).
Assim, o trabalho do professor é desenvolvido fundamentalmente
no contexto da escola em que atua, ainda que seja mediado a todo
o tempo pelo mesmo contexto institucional de várias outras escolas.
O entendimento deste intercruzamento do contexto institucional
com o contexto escolar permite entender o porquê de um professor
trabalhando em diferentes escolas de uma mesma rede de ensino,
portanto com as mesmas condições de trabalho, produzir resultados
diferentes no que se refere às aprendizagens de seus alunos; ou –
ainda mais – permite entender o porquê de escolas tão próximas e
com as mesmas condições materiais de funcionamento apresentarem
resultados educacionais tão diferenciados. Como a escola está
organizada internamente e como se relaciona com a comunidade
à qual está inserida? Quem são seus alunos? Como é a atuação da
equipe diretiva da escola? Quem são seus professores? As respostas
a estes questionamentos explicam, pelo menos em parte, a diferença
entre o trabalho pedagógico de diferentes escolas de uma mesma rede
de ensino.
................................................................................
118 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
ingerências das instâncias administrativas superiores do sistema
escolar. De modo contrário, a escola sem um PPP consolidado torna-
se refém das reformas educativas que desautorizam o protagonismo
de seus profissionais e desconsideram a cultura escolar.
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DIDÁTICA
119
teoria e pesquisa
proposta pedagógica da escola a partir dos elementos constituintes
da sua subjetividade coletiva. Entretanto, se o PPP está consolidado,
ele vai sendo transmitido de geração a geração de educadores, de
modo que a cultura escolar não é alterada substancialmente, pois é
alimentada o tempo todo pelo projeto em curso. Ao contrário, nas
escolas em que não há um efetivo PPP, a cultura escolar expressa
simplesmente o intercruzamento das diferentes culturas que nela
convivem (dos alunos, dos professores, da mídia, da etnociência).
Desse modo, proponho identificar as escolas, que enraizaram em suas
culturas um PPP, como escolas portadoras de uma cultura escolar
pedagógica. Pedagógica como expressão de uma proposta educacional
marcada por princípios éticos e políticos claramente definidos e que
se materializam em suas ações educativas.
................................................................................
120 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
A dimensão (subjetiva) do Professor como Pessoa e como
Profissional
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DIDÁTICA
121
teoria e pesquisa
por mais técnico que se queira, seja esse ofício. Por meio das
ações que realizam em educação, os professores manifestam-se e
transformam o que acontece no mundo (1999, p.31).
................................................................................
122 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
pelas políticas públicas na área de educação que acompanharam esta
sua trajetória. Desde as oportunidades escolares que ele teve, ainda na
condição de estudante da educação básica, até o curso de licenciatura
que frequentou foram demarcadas pelas políticas implementadas
em cada época. Esta demarcação tem continuidade no início do
seu ingresso no magistério e o acompanha ao longo de todo o seu
percurso profissional, interferindo a todo o tempo na constituição
dos seus saberes docentes.
Considerações Finais
................................................................................
DIDÁTICA
123
teoria e pesquisa
REFERÊNCIAS
................................................................................
124 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
7. FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS
E DIDÁTICOS DA PRÁTICA
DOCENTE UNIVERSITÁRIA E O
LÓCUS PRIVILEGIADO PARA O
SEU DESENVOLVIMENTO
INTRODUÇÃO
................................................................................
DIDÁTICA
125
teoria e pesquisa
à pesquisa, exigências que caracterizam o exercício da profissão. É
grande o número de ações realizadas pelas instituições universitárias
com objetivo formativo como cursos, seminários, disciplinas de
pós–graduação lato sensu, palestras, estágios dentre outros tantos,
mas são poucas as vezes em que elas são articuladas na direção de
processos contínuos de formação. Assim, essas iniciativas não se
constituem em regra no preparo dos professores para o exercício
profissional, pois no entendimento majoritariamente vigente o
exercício da docência no ensino superior não requer formação no
campo do ensinar.
................................................................................
126 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
inovações no campo da atuação didática. Como aqui nosso propósito
é discutir princípios orientadores dos processos formativos para o
docente universitário, é importante levarmos em conta o contexto e o
cenário de sua atuação.
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DIDÁTICA
127
teoria e pesquisa
rumos orientadores da produção do conhecimento, o que amplia
a importância da formação dos seus quadros para o exercício das
tarefas da universidade.
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128 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
formulações curriculares (centrados na lógica das necessidades
advindas do mercado), as relações de trabalho (centradas na lógica da
intensificação e do produtivismo), a avaliação do sistema e da produção
do conhecimento (orientadas pela produtividade). Provavelmente
essas tensões se constituem em um dos maiores impasses que assolam
a vida da universidade contemporânea.
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DIDÁTICA
129
teoria e pesquisa
desafios que enfrentam como atores acadêmicos, especialmente
nas salas de aula, e compreender também que esses desafios só
se multiplicarão, uma vez que não há estabilidade em meio à era
global e às ações do estado avaliador, e a instabilidade se acelerará.
O segundo é que os líderes institucionais encontrem formas de
animar os docentes para que continuem enfrentando os desafios,
progridam em meio à turbulência da vida acadêmica e desenvolvam
motivação para seguir adiante. Por último, os líderes institucionais
têm de encontrar maneiras de liderar que não suponham uma
gestão centralizadora nem uma desarticulação característica das
leituras pós-modernas. Barnett nos fala também da necessidade
de se encontrar uma “terceira via” de compromisso participativo,
epistemológico e ontológico, onde diferentes agrupamentos de
intelectuais se esforçariam para se entenderem e trabalharem em
conjunto.
................................................................................
130 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Fundamentos pedagógicos da formação continuada dos
professores universitários
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DIDÁTICA
131
teoria e pesquisa
Para além dessas dificuldades formativas, esse professor enfrenta
o desprestígio das ações relativas à docência em decorrência da
prioridade consagrada às atividades de pesquisa, que se constituíram
na referência praticamente exclusiva de aferição da chamada
produtividade pessoal e institucional, movimento esse de caráter
internacional, objetivado por meio dos rankings que expõem
e qualificam, por meio da quantidade, o trabalho desenvolvido
(GIBBS, 2004). Enfrenta também as dificuldades decorrentes das
transformações sociais que trazem repercussões diretas para a sala
de aula.
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132 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
no estabelecimento dos objetivos sociopolíticos a partir dos quais se
definem as formas organizativas e metodológicas orientadoras das
práticas educativas.
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DIDÁTICA
133
teoria e pesquisa
da formação de pessoas, que também são profissionais. Portanto,
mais do que respostas atomizadas a respeito dos encaminhamentos
demandados pela prática, o que importa numa perspectiva pedagógica
que embase essa ação formadora são as articulações desses elementos
numa direção de sentido, que busque a ampliação e a contextualização
dos conhecimentos, saberes e experiências dos sujeitos envolvidos na
ação de ensinar e aprender – os professores e os alunos.
................................................................................
134 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Nesse sentido, defendemos a realização de ações de formação
continuada ancoradas em redirecionamentos políticos institucionais.
Uma vez que a atuação docente se constitui em fator que incide na
qualidade do ensino ministrado, passar do âmbito das transformações
individuais para o das mudanças institucionais representa
uma alteração de paradigma no desenvolvimento das políticas
universitárias (ALMEIDA, 2012).
Considerações finais
................................................................................
DIDÁTICA
135
teoria e pesquisa
de também propiciar a formação ampla dos sujeitos envolvidos, é o
grande desafio.
REFERÊNCIAS
................................................................................
136 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
BARNETT, R. Los limites de la competencia – el conocimiento, la
educación superior y la sociedad. Barcelona: Ed. Gedisa, 2001.
................................................................................
DIDÁTICA
137
teoria e pesquisa
LIBÂNEO, J. C. Contribuição das ciências da educação no objeto de
estudo da didática. Anais do VII ENDIPE. Goiânia, v. II, 1994, p.
65-78.
................................................................................
138 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
...........................
PARTE
DOIS
...........................
8. DIDÁTICA, PRÁTICAS DE
ENSINO E EDUCAÇÃO BÁSICA
NA FORMAÇÃO INICIAL DE
PROFESSORES: UMA RELAÇÃO
NECESSÁRIA
INTRODUÇÃO
................................................................................
DIDÁTICA
141
teoria e pesquisa
professores dos diferentes níveis de ensino, para fazer frente aos
problemas de sua prática pedagógica, decorrentes da contradição
entre sua formação inicial e a realidade que encontram nas escolas
onde atuam, tomam iniciativas, criam possibilidades de trabalho
denominadas de “didática prática”. Essa “didática prática” captada e
sistematizada teoricamente poderá servir de pistas, de indicação de
novas possibilidades de trabalho para os professores.
................................................................................
142 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Uma teoria é sempre a teoria de uma prática e não de qualquer
realidade material que transcende o processo dessa prática, nem
dessa realidade enquanto não praticada. O homem não reflete
sobre o mundo, mas reflete a sua prática sobre o mundo.
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DIDÁTICA
143
teoria e pesquisa
Nessa perspectiva, o eixo epistemológico orientador do estudo é a
concepção de que a teoria é a expressão de uma determinada prática
e não de qualquer prática. Nesse paradigma, a prática não é dirigida
pela teoria, mas a teoria vai expressar a ação prática dos sujeitos.
São as formas de agir que vão determinar as formas de pensar dos
homens. “A teoria pensa e compreende a prática sobre as coisas, não
a coisa. Daí, a sua única função é indicar caminhos possíveis, nunca
governar a prática” (BRUNO, 1989, p.18). A base do conhecimento
é a ação prática que os homens realizam através de relações sociais,
mediante instituições. Dessa forma, “... o conhecimento é sempre o
conhecimento de uma prática, nunca da realidade natural ou social.”
(SANTOS 1992, p.29). Com esse olhar, procuramos ultrapassar
as reflexões acadêmicas que se materializam em relações sociais
unilaterais, verticalizadas e individualistas; na maioria das vezes
distanciadas dos problemas que a prática pedagógica, desenvolvida
nas escolas, enfrenta.
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144 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Ressalta-se que os estados da arte sobre a pesquisa em formação
de professores realizados por André (1999) e Romanowski (2002),
apontam poucos estudos sobre a formação pedagógica do professor
considerando a proposta do curso em sua totalidade. Observa-se que
a maioria dos estudos refere-se a uma disciplina. Soma-se a isso o que
é recorrente nas pesquisas e estudos da área: a formação pedagógica
do professor é pouco valorizada nos cursos de licenciatura.
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DIDÁTICA
145
teoria e pesquisa
entre os cursos no interior da instituição; afastamento entre as escolas
do ensino básico e a universidade; a desintegração entre as diferentes
áreas de formação, questões recorrentes nas pesquisas examinadas,
ou seja, as inovações realizadas nestes cursos não produzem uma
alteração na reformulação do curso em totalidade, inegavelmente são
inovações importantes, mas parciais.
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146 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
do profissional professor; a busca der articulação entre as disciplinas
direcionadas a cursos de bacharelado e de licenciatura contribuindo
para organicidade da formação do professor; inclusão de disciplinas
de conhecimentos interdisciplinares direcionadas a conhecimentos
complementares à formação docente, tais como estudos sobre
diversidade cultural, ensino para alunos com necessidades especiais,
educação ambiental; inclusão de disciplinas comuns para todos
os cursos de licenciatura, de modo a aproximar os professores dos
cursos; ampliação do número de disciplinas direcionadas para a
prática profissional específica de docência; esforço na definição de
política para a realização do estágio de docência buscando estabelecer
parcerias consolidas com escolas da comunidade.
Por outro lado, esse estudo mostrou também fortes indícios de que
o esforço para estabelecer atividades e disciplinas comuns pode
estar direcionado a possibilidade de manter a oferta dos cursos de
licenciatura devido a pouca procura por estes. A criação de disciplinas
comuns ao bacharelado e licenciaturas, muitas vezes podem estar
ligadas ao melhor aproveitamento dos professores juntando turmas
de um ou mais cursos. Nesse sentido, há indícios de que a modulação
das disciplinas de prática de ensino foi alterada ampliando o número
de alunos por professor.
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DIDÁTICA
147
teoria e pesquisa
(MARTINS, 1989). Isso porque partir da prática, problematiza-la,
analisa-la para propor novas ações passou a ser a orientação para o
ensino, objeto de estudo da Didática.
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148 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
de problematização e análise crítica daquelas práticas. Nessa
dinâmica, a realidade da escola de Educação Básica se constitui
campo de investigação, produção e sistematização de conhecimentos
para a formação inicial de professores.
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DIDÁTICA
149
teoria e pesquisa
Currículo e Estágio Supervisionado, como estar no espaço escolar
desenvolvendo atividades. Não se trata de análise desse espaço.
Considerações Finais
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150 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
interdisciplinaridade quanto na organização do currículo a partir do
campo disciplinar. A relação com a escola de educação básica ainda
fica restrita ao campo das práticas de ensino cuja lógica é de aplicação
das teorias veiculadas nas diferentes disciplinas que compõem o
currículo, especialmente a Didática.
REFERÊNCIAS
................................................................................
DIDÁTICA
151
teoria e pesquisa
BALZAN, N. C.; PAOLI, N. Licenciaturas: o discurso e a realidade.
Ciência e Cultura. Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, v. 2, n. 40, fev. 88.
................................................................................
152 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
SANTOS, Oder José. Pedagogia dos conflitos sociais. Campinas,SP:
Papirus, 1992.
................................................................................
DIDÁTICA
153
teoria e pesquisa
9. O ENSINO DE DIDÁTICA EM
CURSOS DE LICENCIATURA NA
PERSPECTIVA DO PROFESSOR
FORMADOR
INTRODUÇÃO
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DIDÁTICA
155
teoria e pesquisa
abordagem de Didática que tende a ignorar o ensino de conteúdos
ligados ao foco instrumental e priorizar diversos assuntos que
envolvem a formação docente, sem que, necessariamente, o ensino se
constitua no núcleo central da discussão. A essa percepção tácita se liga
o que revelam estudos recentes sobre formação de professores. Gatti e
Nunes (2009) relatam que a formação docente tem se dado de forma
descontextualizada da escola, sem trabalhar com os licenciandos, o
quê e como ensinar.
Tal situação nos leva a pensar que a proposta de uma Didática que
ajude o professor a entender o processo de ensino para delineá-lo a
partir de um contexto situado não tem sido assumida pelos cursos de
formação inicial, ainda que o caráter prescritivo, próprio da Didática
instrumental pareça superado. Se o prescritivo não prevalece, mas
o fundamental da Didática também não se estabelece, o que conta
como Didática nos cursos de formação de professores?
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156 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
A abordagem metodológica foi a análise de depoimentos colhidos
por meio de entrevistas semiestruturadas conjugadas com grupos
de discussão compostos de, no máximo, dez professores de cada
universidade, além de observações de aulas. A coleta de dados
registra a realização de 40 entrevistas, quatro grupos de discussão e a
observação de 30 aulas, sendo 10 em cada instituição.
Bases teóricas
................................................................................
DIDÁTICA
157
teoria e pesquisa
componentes, seu funcionamento, seus efeitos, enfim, trabalhar
a favor do que chama de repertório de conhecimentos próprios ao
processo de ensinar, descrevendo seis saberes essenciais: saberes
disciplinares; saberes curriculares; saberes das ciências da educação;
saberes da tradição pedagógica; saberes experienciais; saberes da
ação pedagógica. Tardif (2002) e Shulman (2005) também se ocupam
com os saberes e conhecimentos profissionais docentes, oferecendo
importantes contribuições. Todavia, preferimos trabalhar com as
ideias de Gauthier em face da problematização que faz sobre os saberes
pedagógicos. Nosso estudo partiu do pressuposto de que a prática
do formador deve ser parâmetro de constituição da própria prática
profissional do futuro professor. Segundo Gauthier (1998), os saberes
da ação pedagógica são pouco desenvolvidos no reservatório de
saberes do professor. Tendo em vista que esses saberes fundamentam
a sua prática de ensino, é fundamental que eles sejam postos em
evidência por meio da própria atividade dos formadores para que os
futuros professores reconheçam sua pertinência e especificidade.
................................................................................
158 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
A contribuição dessas pesquisadoras vem ao encontro de nosso
interesse pela Didática e o aprendizado da docência. Procuramos
saber o que os formadores pensam e o que realizam em suas aulas de
Didática, espaço de problematização do ensino, o distintivo principal
da função docente (ROLDÃO, 2007), para propiciar o reconhecimento
e a assunção de saberes da ação pedagógica (GAUTHIER, 1998).
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DIDÁTICA
159
teoria e pesquisa
corroborando, assim, com a direção empreendida por André et
al (2010) e considerando um dos tópicos apontados por Zeichner
(2009), carentes de mais investigação, qual seja a necessidade de
estudos que relacionem as características do professor, a formação e o
aprendizado da docência.
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160 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Desta forma, o perfil, apenas esboçado, deixa ver a necessidade
de investigar mais apuradamente as implicações, na formação de
professores, da atuação de formadores que não assumem a Didática
como objeto de suas investigações, que não reúnem experiência como
professores da educação básica e que se encontram no ciclo inicial
de sua carreira acadêmica. Para Zeichner (2009) “é necessário mais
pesquisas que investiguem as consequências de quem está lecionando
um determinado componente do curso (...)” (p. 25). De modo mais
específico, ao focalizar a necessidade de estudos que relacionem as
características do professor, a formação docente, a aprendizagem
docente e a prática dos professores, aponta diretamente para o
aspecto em questão. O autor defende que “precisamos saber como as
características dos professores e os cursos de formação docente e seus
componentes interagem com a aprendizagem docente para mediar
esses efeitos nos alunos” (2009, p. 19).
................................................................................
DIDÁTICA
161
teoria e pesquisa
aluno, na escola, no mundo... A Didática é estar no mundo porque
não é só a escola. Ela não pode só ficar vinculada, presa, atrelada
a um contexto apenas. Ela está ligada a um contexto maior, que
passa por uma visão de mundo. Eu não penso na Didática apenas
como método, ela tem dimensões... Ela é uma disciplina que tem
planos. Então, existe um plano político, um plano filosófico, um
plano sociológico... Então, pra falar a verdade, eu não conseguiria
conceituar a Didática com clareza e dizer que a Didática é
uma disciplina apenas, já que ela envolve muitas relações e
comprometimentos políticos.” (Fonte: Entrevista)
................................................................................
162 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
(2009), como as características dos investigados e a forma como
conceituam e se relacionam com a Didática interferem na formação e
no aprendizado da docência?
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DIDÁTICA
163
teoria e pesquisa
fato é que sob esse nome ou outro nome é muito interessante revisitar
a história e a reflexão sobre os processos de ensino aprendizagem no
Brasil. Alguma confusão na disciplina? Não. Eu sei que isso não
é história da educação, mas quando a gente visita, por exemplo,
eu parto em geral do seminário a Didática em questão. Aquele
momento de ruptura é muito interessante, pra trabalhar com
alunos de licenciatura, mas também os de pedagogia, esse momento
histórico pra entender o que pode ser a Didática dentro das diversas
abordagens.” (Fonte: Entrevista)
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164 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
ensino da Didática de modo a não desconsiderar a própria Didática?
Como defende Roldão (2007), a função de ensinar é socioprática, mas
o saber que requer é teorizador, compósito e interpretativo. A ação
de ensinar é inteligente e fundada em um domínio seguro de saber,
que emerge de vários saberes formais e do saber experiencial. Desta
forma, o professor precisa saber mobilizar todo o tipo de saber que
possui, transformando-o em ato de ensinar enquanto construção de
um processo de aprendizagem de outros e por outros. É um caminho
possível para assegurar a relação forma/conteúdo. No dizer da autora,
“arte e técnica, mas fundada em ciência” (ROLDÃO, 2007, p.101).
“Eu falo nas aulas dessas coisas da escola pública que eu conheço
minimamente e os alunos ficam me olhando... porque eles não
conhecem e eles não tão lá dentro. Eu também não! É difícil ensinar
Didática fora da escola”. (Fonte: Grupo de Discussão)
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DIDÁTICA
165
teoria e pesquisa
turma é, em si mesma, didática. Depreende-se esta posição de uma
parcela pequena dos investigados.
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166 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
pela transmissão, assimilação e reprodução de conhecimentos; ora
tende ao favorecimento da investigação, da elaboração coletiva, da
socialização de saberes e fazeres, mais articulada com a perspectiva
de fazer aprender alguma coisa a alguém.
Desta forma, a análise dos dados nos permite afirmar que ensinar
Didática não tem sido tarefa fácil para os formadores, visto que o
domínio de conhecimento desta disciplina é, em essência, teórico-
prático e a prática, em geral, fica subsumida nas teorizações realizadas,
ainda que estas sejam fundamentais para o aprendizado da docência.
Retomando o que defende Roldão (2007), e já dito anteriormente, a
função de ensinar é socioprática, mas o saber que requer é teorizador,
compósito e interpretativo. A ação de ensinar é inteligente e fundada
em um domínio seguro de saber, que emerge de vários saberes formais
e do saber experiencial.
Conclusão
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DIDÁTICA
167
teoria e pesquisa
proposição acerca do ensino. A Didática se elabora sobre o ensino,
produzindo conhecimento sobre e para ele. Trata-se de favorecer
ao professor em formação e em atuação condições de propor
formas de mediação da prática pedagógica, fundamentadas por
concepções que permitam situar a função social de tais mediações.
Não se trata, pois, de enfatizar o como fazer, porém o como fazer
(mediação) em articulação ao por quê fazer (intencionalidade
pedagógica).
REFERÊNCIAS
................................................................................
168 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
CANDAU, V. M. F. A Didática em questão. Rio de Janeiro: Vozes, 1983.
................................................................................
DIDÁTICA
169
teoria e pesquisa
10. DESLOCAMENTOS
ENUNCIATIVOS E ELABORAÇÃO
CONCEITUAL DE LICENCIANDOS
DURANTE A FORMAÇÃO INICIAL
DE PROFESSORES
INTRODUÇÃO
Quadro Teórico
................................................................................
DIDÁTICA
171
teoria e pesquisa
(CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 2001) e da utilização da
metodologia da Análise do Conteúdo (AC) (BARDIN, 1977).
Entendemos nesse trabalho que esses dois referenciais são
complementares no sentido em que apesar de divergirem em certos
pressupostos relativos à natureza da linguagem, suas metodologias
podem ser combinadas de forma a atuarem sinérgicamente nas
análises dos dados de pesquisa.
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172 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
na organização dos dados de pesquisa e na geração de categorias de
enunciados que por sua vez foram então análisados, no âmbito das
categorias, a partir da perpectiva da ACD, buscando estabelecer e
discutir os intertextos produzidos nessess enuciados.
Desenho da pesquisa
................................................................................
DIDÁTICA
173
teoria e pesquisa
No currículo da licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ/campus
Macaé a disciplina Didática Geral é o primeiro momento em que de
fato os licenciandos tomam contato com discussões sistematizadas
sobre o campo da Didática. A coleta dos registros dos alunos durante
essa disciplina teve o objetivo de amostrar as significações que os
licenciandos tinham inicialmente e como ela se modificou após o
curso de Didática Geral. Nos dois semestres seguintes os alunos
iniciaram o Estágio supervisionado e Prática de Ensino nas unidades
escolares da rede pública e paralelamente a essa atividade, cursaram
as disciplinas Didática Especial para as Ciências Biológicas I e II. As
didáticas especiais oferecem aos licenciandos uma oportunidade de
discutir especificamente as questões relativas ao ensino de Ciências
e Biologia nos níveis fundamentais e médio da educação básica.
Além disso, ao longo da vivência no estágio supervisionado os
licenciandos têm a oportunidade de experimentar na prática
muitas das questões que são discutidas teoricamente nas
didáticas especiais.
................................................................................
174 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Resultados e Discussão
“é a prática de ensino”
“Não sou muito bom em definição, mas didática é o modo com que
os professores lecionam, envolve a parte de preparação da aula, até
a hora de lecionar, a postura do professor em sala de aula, etc..”
................................................................................
DIDÁTICA
175
teoria e pesquisa
“Conjunto de técnicas sobre como fazer algo bem feito de forma
simples e que todos possam entender”
“Não sei”
................................................................................
176 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
A distribuição geral dos conjuntos de enunciados ao longo dos três
momentos registrados é descrito pela tabela 1 (ver anexos):
................................................................................
DIDÁTICA
177
teoria e pesquisa
Esses resultados sinalizaram para o fato de que os processos de
apropriação do conceito de didática são heterogêneos e seguem
diferentes percursos enunciativos. De modo a aprofundar nosso
entendimento sobre essas questões, utilizamos a Análise crítica do
discurso para nos debruçarmos sobre os enunciados elaborados pelos
licenciandos nesses diferentes momentos, buscando compreender as
mudanças e estabilizações que eles produziram em seus discursos. Em
função do espaço não poderemos tratar de todos os resultados, mas
ilustraremos a análise com um exemplo de um padrão encontrado.
................................................................................
178 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
seria “prática de ensino”. Em sua argumentação ele utiliza os adjetivos
constante e boa para atribuir à didática uma finalidade e também uma
postura esperada para aquele que a possui. Chama a atenção a falta
de um sujeito explicito no enunciado, uma vez que não é citado quem
realiza a prática de ensino, mas é construída uma pressuposição de que
quem leciona é o professor. Há também uma distinção construída entre
boa forma e forma correta de lecionar. O licenciando associa a boa forma
de lecionar a uma busca e avaliação constante de melhorias por parte do
professor (sujeito oculto do enunciado) em relação à sua prática de ensino.
................................................................................
DIDÁTICA
179
teoria e pesquisa
em relação aos outros momentos, sinaliza para uma movimento
de apropriação por parte do licenciando do discurso do campo da
didática, de certa forma re-elaborando a sua significação do conceito
de didática.
A análise dos enunciados nos três momentos nos leva a supor que a
vivência da prática de ensino no contexto escolar exerceu uma forte
influência na re-elaboração discursiva do licenciando, fornecendo
novos elementos ao seu discurso sobre o que seria Didática.
................................................................................
180 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Conclusões
................................................................................
DIDÁTICA
181
teoria e pesquisa
As dimensões pedagógicas e interacionais prevaleceram nas
significações elaboradas pelos licenciandos após a vivência da
prática de ensino no Estágio supervisionado. Com isso ressaltamos a
importância da prática na formação dos licenciandos e o quanto ela
é de fato influente na construção e re-estruturação dos conceitos que
são trabalhados na formação inicial de professores.
REFERÊNCIAS
................................................................................
182 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
CHOULIARAKI, L.; FAIRCLOUGH, N. Discourse in the late
modernity. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2
ANEXOS
................................................................................
DIDÁTICA
183
teoria e pesquisa
Tabela 3: Transição dos alunos entre as categorias
................................................................................
184 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
11. A PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA
NAS PROPOSTAS INOVADORAS
DE UNIVERSIDADES
BRASILEIRAS: O CASO DA
UFPR-LITORAL
................................................................................
DIDÁTICA
185
teoria e pesquisa
No que se refere à formação pedagógica do professor, a pedagogia
universitária pode, primeiramente, auxiliá-lo a estabelecer um
vínculo com sua identidade docente. O simples fato de o professor
assumir que, juntamente com sua prática como pesquisador e/ou
extensionista, há também a docência e que, ao mesmo tempo em
que é um profissional de determinada área (arquitetura, economia,
nutrição, turismo, etc.), é essencialmente um docente, já daria
início a um processo de reconhecimento da formação pedagógica
como outra especificidade do seu trabalho no ensino superior.
Acredito que a função primeira da pedagogia universitária seria
essa, pois sem a identificação com a docência por parte deste
sujeito, é difícil estabelecer um intento formativo para as temáticas
pedagógicas.
................................................................................
186 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Tendo abordado a importância da pedagogia e da didática na
formação do professor universitário, é preciso ressaltar o que entendo
por inovação no ensino superior. Como afirmam Cunha et al (2006, p.
63-64), baseados nos estudos de Sousa Santos (1998, 2000) e Lucarelli
(2000, 2004), o conceito de inovação se relaciona a indicadores que
envolvem sete itens, dos quais destaco quatro:
................................................................................
DIDÁTICA
187
teoria e pesquisa
de determinado professor ou de determinado grupo de professores,
dentro de um contexto que nem sempre se configura como
inovador. Esses professores, nessa situação, são vistos como agentes
transformadores que podem colaborar com a mudança do contexto
em que atuam. No caso desta pesquisa, a lógica é inversa, a inovação
é uma característica institucional, o contexto da própria universidade
exige uma postura inovadora das práticas docentes. É como se
já ficasse pressuposto que se as bases das duas IES investigadas
(UFPR-Litoral e USP Leste) se firmam em PPPs inovadores, então os
professores, por sua vez, desenvolveriam práticas também inovadoras,
isto é, como os projetos das universidades analisadas neste estudo são
concebidos como inovadores, a inovação deveria fazer parte da rotina
do professor dessas instituições.
................................................................................
188 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
No que se refere às condições objetivas e subjetivas, as universidades
aqui tratadas, teoricamente, contribuiriam significativamente
para a concretização da inovação, uma vez que se organizam e
se estruturam a partir de um PPP construído na perspectiva de
um paradigma inovador, ou seja, há um empenho institucional
e, portanto, coletivo em se construir uma nova universidade. No
entanto, entendo que esse esforço por estabelecer concretamente
a inovação dependerá também das estratégias de comunicação
presentes em cada um desses contextos. Se os professores são os
principais responsáveis pela efetivação do projeto inovador, eles
precisam ter acesso, discutir e pensar o PPP e planejar práticas que
possibilitem a realização da proposta.
................................................................................
DIDÁTICA
189
teoria e pesquisa
Metodologia da pesquisa
O caso da UFPR-Litoral
................................................................................
190 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
por objetivo propiciar, por meio da educação universitária, conforme
descrito no PPP (2008, p. 2), a disponibilização dos “produtos da
ciência e do conhecimento especializado para um desenvolvimento
sustentável”, sem deixar de levar em consideração “as realidades
concretas das populações das regiões abarcadas pelo Projeto”. Para dar
conta desses objetivos, a UFPR-Litoral em seu PPP (PARANÁ, 2008,
p. 7-8) se dispõe a lançar uma proposta inovadora e emancipatória,
que se firma em “uma nova forma de concepção de conhecimento, de
homem e de sociedade”, que se pauta em uma leitura crítica realidade,
a qual será compreendida como “ponto de partida e de retorno para a
construção e reconstrução do conhecimento”.
................................................................................
DIDÁTICA
191
teoria e pesquisa
qualitativos para a formação do graduando e para as comunidades
envolvidas. Vale lembrar também que os projetos são desenvolvidos
em três vias: pelos estudantes (projetos de aprendizagem), pelos
professores (projetos de ação docente) e pela instituição (projetos
institucionais).
................................................................................
192 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
instituição não tem efetivado um programa de formação pedagógica
de seus docentes; foi somente em 2011 que se iniciou um curso de
formação para os professores dentro da UFPR-Litoral. No entanto,
a ausência de um programa de formação docente não impediu que a
pedagogia universitária se fizesse presente no espaço institucional e
atuasse fortemente no trabalho dos professores de modo a auxiliar a
implantação dos princípios do PPP.
................................................................................
DIDÁTICA
193
teoria e pesquisa
Com relação aos conselhos, eles são abertos para participação de
professores, técnicos e discentes. De acordo com o diretor da UFPR-
Litoral:
................................................................................
194 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
eles batem com ele na sua cabeça. Então, é bom você saber pra se
defender. Quem vai bater na sua cabeça?
Todo mundo. Como tem reunião coletiva toda semana, o único jeito
de você se armar pra defender suas ideias é com base no nosso Novo
Testamento, que é o projeto político pedagógico. Então, tem que
estar sempre lendo, é cotidiano isso aí.”
................................................................................
DIDÁTICA
195
teoria e pesquisa
secretários de turismo, circular um pouco mais nesses espaços
políticos, circular com as escolas, em trabalhos conjuntos com
as escolas, com as comunidades, com os centros comunitários.
Então, esse olhar, nós professores, não somos preparados pra isso.
Quer dizer, você tem que ter um perfil, se não tiver um perfil, ou
você sofre muito e fica bem frustrado. Então, é importante que a
pessoa tenha esse perfil de querer fazer trabalhos um pouco mais
direcionados para essa parte de extensão. (...) Então, você tem que
estar bem consciente disso, consciente de que é uma caminhada
diferente.”
REFERÊNCIAS
................................................................................
196 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
CUNHA, M. I. et al. As experiências e suas características: a inovação
como possibilidade. In: CUNHA, M. I. Pedagogia universitária:
energias emancipatórias em tempos neoliberais. Araraquara, SP:
Junqueira & Marin, 2006, p. 61- 96.
................................................................................
DIDÁTICA
197
teoria e pesquisa
12. O PROFESSOR DE DIDÁTICA
E SUAS APRENDIZAGENS
DOCENTES: UM ESTUDO
FOCALIZANDO NARRATIVAS
INTRODUÇÃO
................................................................................
DIDÁTICA
199
teoria e pesquisa
fizermos nos nossos programas de formação de professores, na
melhor das hipóteses só poderemos preparar os professores para
começar a ensinar.
................................................................................
200 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
García (2002) acrescenta em seus estudos que a aprendizagem
docente não precisa se limitar às instituições formais e tradicionais
de formação; não se deve aceitar como aprendizagem de valor
somente aquela formal, assimilada nas instituições historicamente
constituídas para a função de formação, mas há que se considerar
também as aprendizagens informais, pois os professores aprendem
sobre a docência de diferentes maneiras. Os professores aprendem a
partir de suas práticas; os professores adquirem novos conhecimentos
e compreensão de seus estudantes, escola, currículo e método
instrucionais por viverem a prática. Isto pode ocorrer na própria
escola, nos programas de graduação ou em projetos específicos de
formação continuada. Aprendem fora da sala de aula ou da escola,
sobre o desenvolvimento de seus papéis intelectuais e morais com seus
familiares, através dos trabalhos desenvolvidos em suas comunidades
e a partir de relatos de experiências de outras pessoas.
................................................................................
DIDÁTICA
201
teoria e pesquisa
valoriza a pessoa do professor, a construção de suas aprendizagens e
os diversos espaços formativos.
Aprendizagem da docência
................................................................................
202 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
conhecimentos. Desse modo, refletir a própria prática constitui-
se, portanto, uma nova perspectiva de formação, que destaca a
importância do estudo do pensamento prático dos professores como
fator que influencia e determina a prática do ensino diferente da
lógica da racionalidade técnica que se opõe ao desenvolvimento de
uma prática reflexiva.
................................................................................
DIDÁTICA
203
teoria e pesquisa
devem ter como referência principal a valorização e reconhecimento
do saber docente produzido no exercício da profissão.
................................................................................
204 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
da prática pedagógica. É importante ressaltar que essa construção de
aprendizagens se constitui numa política de formação que implica,
não só em dominar conhecimentos, saberes e fazeres específicos,
mas também influencia na revitalização de valores e atitudes. Nesse
contexto, é importante que o professor tenha consciência de que é
produtor de diversos conhecimentos, e que o cotidiano da sala de
aula, o contexto escolar em que atua, a relação com seus pares, as
circunstâncias motivadas pela dinâmica das necessidades sociais,
dentre outros aspectos, são potenciais espaços que podem colaborar
com o processo de construção das aprendizagens docentes.
................................................................................
DIDÁTICA
205
teoria e pesquisa
algo também que eu tenho buscado no aprender no dia a dia,
enquanto professor. [...].” (P2)
“[...] Algo que tenho aprendido bastante tem sido o processo reflexivo
da ação docente, e isso faz com que eu perceba que enquanto
professor de didática a postura docente se faz diferente em relação às
outras disciplinas. Apesar de saber que não é uma atitude correta,
as mudanças não ocorrem de imediato, e acabamos procedendo de
modo não característico do que preceitua a Didática. Por exemplo,
por mais que saibamos que no processo avaliativo o qualitativo
supera o quantitativo, estabelecemos na nossa avaliação ações que
correspondem ao contrário [...]”. (P4)
................................................................................
206 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
O professor P2 evidencia em seu relato que diversas aprendizagens
foram construídas em sua prática pedagógica, enquanto professor de
Didática, como por exemplo, refletir e pesquisar a própria prática.
Reconhece, portanto, ter aprendido que a prática pedagógica é
potencializadora de aprendizagens. Aprendeu ainda, que a prática
pedagógica não se restringe, apenas, a ministrar aula e aponta que
aprendeu sobre o sentido mais amplo, que constitui as práticas
pedagógicas.
................................................................................
DIDÁTICA
207
teoria e pesquisa
complexo que se relaciona com diferentes tipos de conhecimentos
e experiências. Pois aprender a ensinar é um processo que vai
se constituindo com o desenvolvimento da prática pedagógica,
conforme tivemos oportunidade de observar nos relatos, observamos
ainda que essas aprendizagens não se limitaram a processos formais,
pois os professores apontaram a construção de suas aprendizagens a
partir seus relacionamentos com os alunos e com o próprio contexto
da sala de aula.
Considerações finais
Destacamos assim, que este estudo nos forneceu uma visão panorâmica
sobre as aprendizagens docentes do professor de didática, deixando
janelas abertas para novas investigações. Desse modo, nesta pesquisa
confirmamos o caráter permanente e as diferentes possibilidades
formativas que contribuem com o processo de construção das
aprendizagens docentes dos professores de Didática do curso de
pedagogia da UESPI.
................................................................................
208 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
medida em que esta, se efetiva a partir da articulação entre a forma
de ensinar e a forma de aprender, permitindo aos participantes do
processo a fazer conexões entre o ensinar e o aprender, tendo o
conhecimento profissional compartilhado e a aprendizagem como
condição para o desenvolvimento e concretização do fazer-se
professor ao longo da trajetória profissional.
................................................................................
DIDÁTICA
209
teoria e pesquisa
do ser humano se constrói no dinamismo decorrente das demandas
evidenciadas nas práticas pedagógicas. A partir dessas colocações,
observamos baseado nos pressupostos qualitativo da pesquisa, que
não é possível traçar uma compreensão generalizada de um aprender
ser professor. Pois a ação de aprender é contextualizada para cada
docente, devendo assim ser considerada suas trajetórias de formação
e suas atividades formativas.
REFERÊNCIAS
................................................................................
210 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
GARCÍA, C. M. A formação de professores: novas perspectivas
baseadas na investigação sobre o pensamento do professor. In:
NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa-
Portugal: Publicações Dom Quixote, 1997.
................................................................................
DIDÁTICA
211
teoria e pesquisa
NÓVOA, A; FINGER, M. O método (auto) biográfico e a formação.
Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988.
................................................................................
212 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
13. FORMAÇÃO DOCENTE: A
DISCIPLINA DIDÁTICA NO
CURSO DE LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA
INTRODUÇÃO
................................................................................
DIDÁTICA
213
teoria e pesquisa
objetivavam conhecer o interior da escola para buscar compreender o
cotidiano e as ações do fazer pedagógico, além da preocupação com
o “como ensinar” de maneira fundamentada com procedimentos
e recursos que visem uma eficiência no desenvolvimento da
aprendizagem (PIMENTA, 2002).
................................................................................
214 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Com a licenciatura em Pedagogia, o recém formado podia atuar
como professor da Escola Normal, campo não exclusivo a pedagogos,
uma vez que de acordo com o Capítulo V, Art. 49 da Lei Orgânica do
Ensino Normal, Decreto-Lei n. 8.530 de 2 de janeiro de 1946, que se
refere aos professores de Ensino Normal, para lecionar nesse nível era
suficiente o diploma de ensino superior. Podiam, também, lecionar
História e Matemática no antigo ginásio.
................................................................................
DIDÁTICA
215
teoria e pesquisa
instituiu a obrigatoriedade da prática de atividades correspondentes
às habilitações sob a forma de estágio supervisionado.
................................................................................
216 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
destinada a preparar o professor de disciplina, apto a lecionar até a
última série do 2º grau.
................................................................................
DIDÁTICA
217
teoria e pesquisa
comprometidas com as problemáticas sociais e na construção de
uma sociedade mais justa e democrática, se voltaram para as fases
iniciais da Educação Básica Nacional (Educação Infantil e Ensino
Fundamental), uma vez que nestas etapas tem início o processo de
escolarização e socialização da criança. A grande preocupação é ainda
com a formação docente, principalmente com a formação para atuar
nas séries iniciais do Ensino Fundamental, e com o distanciamento
entre teoria e prática pedagógica (GATTI, 2010).
................................................................................
218 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
operar entre conhecimento teórico-científico e técnico-prático; como
uma ponte que interliga a prática e a teoria.
................................................................................
DIDÁTICA
219
teoria e pesquisa
XX, guiado pela elite intelectual brasileira com o objetivo de
levar o país à modernidade através da Educação. Sua proposta
pedagógica tinha um caráter humanista com ideias vindas dos
Estados Unidos e Europa, sendo seu principal pensador, John
Dewey, filósofo considerado um dos fundadores do Pragmatismo.
Os escolanovistas difundiam uma concepção liberal de educação e
sociedade, onde o processo educativo era centrado no aluno e seu
objetivo era formar um homem integral levando em consideração
o seu desenvolvimento psicobiológico. O professor era visto como
um organizador das ações em sala de aula em prol do aprendizado
dos alunos. A Didática volta-se para os meios necessários para que
ele alcance esse objetivo.
................................................................................
220 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Para André (2000) é nas últimas décadas do Século XX que surgiu
a proposta da Didática enfatizar questões do dia-a-dia escolar para
que essas fossem analisadas pelos futuros professores nos cursos de
formação, favorecendo a articulação entre teoria e prática. Nesta
mesma direção, Pimenta (2000) defende a construção da teoria
didática por meio da triangulação professor, aluno, conhecimento,
valorizando a construção de saberes e partindo da prática em
consonância aos conhecimentos teóricos. “A didática não se limita ao
fazer, só ação prática, mas também se vincula às demais instâncias e
aspectos da educação formal” (LIBÂNEO, 2002, p.144).
................................................................................
DIDÁTICA
221
teoria e pesquisa
pelas unidades: Educação, Pedagogia e Didática - elementos para a
compreensão dos conceitos cotidianos do processo didático e os
saberes necessários à formação do educador; O processo de ensino
como objeto de estudo: problemas e perspectivas; O planejamento
do ensino numa perspectiva crítica e a transposição didática; As
relações professor-aluno; e Didática e tecnologias de informação e
comunicação.
Considerações Finais
................................................................................
222 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
ao desenvolvimento do conhecimento filosófico do conhecimento
pedagógico, mas não estabelecem inter-relação entre eles.
REFERÊNCIAS
................................................................................
DIDÁTICA
223
teoria e pesquisa
CANDAU, V. M. F.; KOFF, A. M. N. S Conversas com... Sobre a
didática e a perspectiva multi/intercultural. Educação e Sociedade.
Campinas, v. 27, n. 95, p. 471-493, maio/ago. 2006.
................................................................................
224 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
OLIVEIRA, P. M. S. Formação pedagógico-didática de professores do
curso de pedagogia e desempenho docente. 122p. 2009. Dissertação
(Mestrado em Educação), Universidade Católica de Goiás,
Goiânia 2009.
................................................................................
DIDÁTICA
225
teoria e pesquisa
14. A DIDÁTICA NA DIDÁTICA: UMA
EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES NA UFRRJ
................................................................................
DIDÁTICA
227
teoria e pesquisa
revelar a própria didática, utilizada naquela realidade, no sentido de
reconfigurar os espaços de formação. Por se tratar de uma pesquisa
participante, a equipe foi composta pela professora-pesquisadora e
pela monitora da disciplina Didática, que tinha, dentre outras funções,
as de acompanhamento e de orientação aos alunos matriculados –
essenciais aos processos de análise dos instrumentos.
................................................................................
228 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
preparado para compreender a escola em toda a sua complexidade,
de buscar continuadamente o conhecimento, contextualizá-lo no
nexo da realidade global-local e preparado para propor novas
soluções para os problemas de ensino-aprendizagem, observando
as especificidades da área do saber e que desenvolva uma atitude
colaborativa e solidária (UFRRJ, 2008, p. 2).
................................................................................
DIDÁTICA
229
teoria e pesquisa
Outros grupos de trabalho foram sendo aperfeiçoados para atender a
essa demanda do Programa de expansão/reestruturação universitária
do governo federal – REUNI (Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007),
especialmente no que dizia respeito às licenciaturas. Dentre eles, um de
grande destaque e importância é o Fórum de Licenciaturas, de caráter
permanente, cuja articulação institucional ocorreu, sobre a formação
para a educação básica, de forma integrada à Comissão Coordenadora
de Elaboração e Reestruturação dos Cursos de Graduação da UFRRJ.
O Fórum procurou considerar os grandes desafios sociais e humanos
que se colocam para as universidades públicas brasileiras, bem como
a própria construção da identidade docente, trazendo à tona as
discussões necessárias à formação específica de cada curso, além de
concepções e práticas educativas e o compromisso social dos futuros
professores.
................................................................................
230 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
para que se consiga atingir, com efeito, todos os novos cursos que
foram criados em pouco tempo. Procurar articular, então, interesse,
dinâmica, responsabilidade e conceitos eram um grande desafio
posto, a partir daquele momento, para os professores das disciplinas
de Fundamentos da Educação – Filosofia da Educação, Sociologia da
Educação, Política e Organização do Ensino e Didática Geral.
................................................................................
DIDÁTICA
231
teoria e pesquisa
Partindo, pois, da premissa de formação articulada e do princípio de
respeito à matriz elaborada pela deliberação, a ementa da Didática fora
composta trazendo os seguintes pontos distribuídos em uma carga de 60
horas: fundamentos didáticos e sua aplicação à realidade da Educação
Básica; elementos da ação pedagógica; planejamento, elaboração
e avaliação do processo de ensino-aprendizagem; relacionamento
professor-aluno; posicionamento crítico e contextualizado da
prática educativa e do papel do educador na sociedade brasileira.
................................................................................
232 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
fundamentos da Didática Geral, uma vez que constituem parte das
ferramentas da profissão do educador.
................................................................................
DIDÁTICA
233
teoria e pesquisa
A verificação do rendimento escolar constitui etapa obrigatória
do sistema didático, devendo, por isso mesmo, guardar íntima
relação entre o planejamento e a execução do ensino. Somente
através da sistematização será possível avaliar o desenvolvimento
do aluno em suas atividades curriculares. Essa verificação
periódica e sistemática, além de contribuir decisivamente para o
aperfeiçoamento do ensino, implica, ainda, outras vantagens de
ordem administrativa pelo disciplinamento de normas sobre a
avaliação do rendimento escolar (UFRRJ, 1982, p. 7).
................................................................................
234 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Com essa proposta, procuramos alcançar o objetivo de, para
além de vivenciar a realidade das escolas brasileiras, também o de
“caracterizar as fases do planejamento de ensino analisando os
elementos componentes de cada fase e reconhecendo sua importância
no processo de ensino-aprendizagem”. Esse estreitamento com
a educação básica – tão caro à formação docente – está previsto
também na deliberação 138 por meio de projetos institucionais, o que
nos demonstra a necessidade de articulação também nas disciplinas
teórico-práticas como a didática:
................................................................................
DIDÁTICA
235
teoria e pesquisa
para a formação docente deles. Trata-se, pois, de uma análise
longitudinal, cujos dados foram coletados de dois questionários e/
ou diários interativos, porque documentos de registro, intitulados
também como “processo inicial de construção da relação professor/
aluno” (diário 1) e “processo continuado de construção da relação
professor/aluno” (diário 2), preenchidos no primeiro e no último dia
de aula, respectivamente.
................................................................................
236 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
O universo que constitui a amostra contou com uma turma que
começou pequena e que se manteve, sem grandes evasões, até o
final do período, que é também nosso recorte temporal – segundo
semestre de 2011 – praticamente com a mesma quantidade de
alunos. Optamos, assim, por esse grupo, por conseguirmos
contemplar nosso estudo com toda a realidade ali presente, em
função do tamanho. As análises, portanto, estão representas,
respectivamente, por onze (11) “diários 1” e por oito (08) “diários
2”. Para a leitura dos dados, a análise do discurso foi escolhida
justamente por considerar que o outro desempenha um papel
fundamental na elaboração do significado. De acordo com
Brandão:
................................................................................
DIDÁTICA
237
teoria e pesquisa
Partindo desse pressuposto de verificação analítica, consideramos
duas das quatro perguntas que compunham o diário 1: O que você
espera da disciplina de didática? e Quais os seus conhecimentos
prévios sobre esta disciplina? A primeira idéia que se destaca
é a de que a didática seria uma disciplina que ensina como se
comportar em sala de aula; como ajudar a falar em público
e como lidar com os alunos; também tem expectativas no que
diz respeito à organização e ao preparo das aulas. Quatro dos
onze questionários analisados possuem essa expectativa em suas
respostas:
................................................................................
238 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Já as respostas dos alunos a respeito de seus conhecimentos
prévios podem ser divididas em novos dois grupos. Dos onze
alunos, apenas três disseram não possuir nenhum, ou muito
pouco e confuso conhecimento sobre a disciplina de didática.
Todos os demais disseram possuir algum conhecimento da
disciplina ou do que seria didática, e também disseram ter tido
contato com a disciplina em outro contexto – através de amigos
ou cursos anteriores, como é possível verificar abaixo:
................................................................................
DIDÁTICA
239
teoria e pesquisa
“A realização da disciplina acrescentou muito na forma de
compreensão do papel real do professor.” A. (4º período)
................................................................................
240 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
a didática na atualidade exige de nós, professores e pesquisadores na
área, constante revisão de sua própria prática, especialmente quanto
à diversidade e à contextualização do ensino também na educação
superior.
REFERÊNCIAS
................................................................................
DIDÁTICA
241
teoria e pesquisa
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral. 7ª ed. São
Paulo: Ática, 2003.
................................................................................
242 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
15. PROJETO POLÍTICO-
PEDAGÓGICO: UMA
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
1. INTRODUÇÃO
................................................................................
DIDÁTICA
243
teoria e pesquisa
detrimento aos processos políticos e pedagógicos com fins a formação
consciente e crítica do sujeito. Mediante suas ideias e práticas
dissimuladas por uma suposta imagem de instituição igualitária e
neutra, a escola ainda passa a se reduzir à função de inculcação da
ideologia dominante de exclusão e desigualdade.
................................................................................
244 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
2. Projeto Político-Pedagógico: evidenciando significações
................................................................................
DIDÁTICA
245
teoria e pesquisa
A participação coletiva é uma das condições para a viabilização desse
mecanismo, por conseguinte, para a construção da identidade e
autonomia escolar, uma vez que “participação é interagir, é mover-se
de forma construtiva e entrar em conflito algumas vezes, é deixar-se
envolver, é sentir e ser ‘ator’, é tomar decisões e assumir decisões, é
ser individual e coletivo ao mesmo tempo, é negociar com o grupo”
(LACERDA, 2004, p.50). Assim, uma possibilidade de reconhecer,
refletir e promover transformações estruturais, administrativas,
políticas e pedagógicas na escola a partir da ação conjunta entre os
sujeitos atuantes nesse espaço.
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246 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e
as do sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e
executar sua proposta pedagógica [...]; VII – informar os pais e
responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem
como sobre a execução de sua proposta pedagógica. (BRASIL,
1996).
3. Resultados
“Eu tenho 320 horas, 200 horas no estado e 120 na prefeitura. Aonde
é que eu vou ter tempo pra me preparar. Onde eu vou ter tempo de
passar um trabalho de pesquisa. Vai levar pra casa, vai trabalhar
no sábado e no domingo. Eu tenho essa carga horária, o que posso
fazer. Poderia reduzir a minha carga horária, ai reduziria o meu
salário e eu preciso dele. Quando há necessidade a gente reformula
a Proposta Pedagógica. Pra sentar mesmo e discutir, no meu caso, a
gente não tem tempo pra isso”.
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DIDÁTICA
247
teoria e pesquisa
Constata-se o descompasso entre o que se diz e o que se faz,
entre a teoria que norteia o processo de elaboração do PPP e a
prática concreta que o valida como ação comprometida com a
formação consciente e crítica do cidadão. O desafio do projeto
institucional não se encerra na sua existência, mas se prolonga no
seu desenvolvimento e avaliação, dando início novamente ao seu
movimento de ação-reflexão-ação com a reconstrução do projeto.
Este deve ser compreendido como processo sempre em construção,
renovando-se constantemente com o envolvimento de todos, de
forma criativa, democrática, responsável, avaliativa e aperfeiçoável.
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248 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
se desse modo, a fatores sociais, políticos, econômicos e pedagógicos
da educação como um todo. Este fato é vislumbrado no depoimento
abaixo:
“No meu curso de licenciatura eu levei quatro anos, fui ver didática
no final,numa cadeira de didática, de estrutura, uma de prática de
ensino que não me ensinou nada. O que eu aprendi foi em sala de
aula. O ensino de história me ajuda a atuar. No caso da minha
formação não conheço nenhum amigo que tenha aprendido isso na
universidade. Eu sou totalmente tímido. Entrei na sala e congelei,
por que não tinha vivência nenhuma, não tinha prática.”
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DIDÁTICA
249
teoria e pesquisa
envolvem a escola como um todo, portanto de um projeto maior,
como se percebe no discurso:
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250 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
“O resultado da escola em nível de estado, Ceará, Brasil, é válido.
Se você olhar os resultados a escola está na ponta. As pessoas que
estão aqui são da SEDUC, é estadual, trabalham na rede estadual.
Então, porque dá certo aqui e não dá nas outras? Porque aqui tem
um resultado bom e as outras não têm?”
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DIDÁTICA
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teoria e pesquisa
a partir de seus resultados servir para definir e implementar políticas
de correção das ineficiências do sistema.
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teoria e pesquisa
A escola deve promover e preparar cultural e politicamente os
alunos para que eles possam compreender e melhor se posicionar
criticamente diante da sociedade em que vivem, reconhecendo e
praticando seus direitos e deveres. Além disso, a instituição deve
possibilitar a necessária formação profissional ao educando para
sua inserção no mundo do trabalho, bem como uma formação
humanística para seu desenvolvimento integral. Tais finalidades
educacionais devem estar expressas no projeto institucional,
como se pode perceber no trecho do Projeto Político-Pedagógico
(2007, p.01-02) do CMCB Rachel de Queiroz, lócus da pesquisa
em questão:
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DIDÁTICA
253
teoria e pesquisa
Reflexões finais
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254 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
educativas e que, fomentado em pressupostos filosóficos, consiste
em concepções sobre a sociedade, o homem, a educação, dentre
outros elementos e relações. Além disso, requer-se a escolha de
bases metodológicas para a viabilização prática das concepções
aderidas, isto é, necessita-se de situações e meios para se efetivar
o fazer pedagógico de forma coerente com a realidade da escola e,
desse modo, com as concepções assumidas por ela. A escolha por
um ou por outro pressuposto teórico e metodológico na tentativa
de superar a escola que se tem (o real) e construir a escola que se
quer (o ideal), representa o modo de pensar, agir e sentir de uma
comunidade escolar, a sua cultura e identidade.
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DIDÁTICA
255
teoria e pesquisa
REFERÊNCIAS
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teoria e pesquisa
SOBRE OS AUTORES
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teoria e pesquisa
Daniele Cariolano da Silva
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258 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), membro do corpo docente do Programa de
Pós-Graduação em Educação (PPGE) e coordenadora do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática e Formação de
Professores (GEPED).
Helenice Maia
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teoria e pesquisa
Joana Paulin Romanowski
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teoria e pesquisa
Lenilda Rêgo Albuquerque de Faria
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261
teoria e pesquisa
UERJ). Atualmente é professor no primeiro segmento do Ensino
Fundamental no Colégio AIACOM/ RJ.
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262 DIDÁTICA
teoria e pesquisa
nas questões voltadas para a prática pedagógica e aprendizagem
da docência. Tem várias publicações em periódicos, e capítulos
de livros, organizadora da coletânea Aprendendo a ensinar: o
caminho nada suave da docência; co-autora do livro Pesquisa com
professores no início da escolarização ( com Marin e Giovanni).
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DIDÁTICA
263
teoria e pesquisa
Junqueira
&Marin
Editores
PUBLICAÇÕES
PARA OS QUE
PENSAM E
FAZEM
EDUCAÇÃO
www.junqueiraemarin.com.br
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Junqueira
&Marin
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PUBLICAÇÕES PARA OS QUE PENSAM E FAZEM EDUCAÇÃO
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ISBN 978-85-8203-092-9