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CULTURA CONTEMPORÂNEA
REALIZAÇÃO: APOIO:
1
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
Capítulo 8 – O HELENISMO 34
- OS CÍNICOS 35
- OS ESTÓICOS 36
- OS EPICUREUS 37
- O NEOPLATONISMO 38
- A FILOSOFIA EM ROMA 40
Capítulo 9 – A PATRÍSTICA 41
Capítulo 11 – A ESCOLÁSTICA 48
Capítulo 18 – O ILUMINISMO 79
- VOLTAIRE (1694-1778) 83
- MONTESQUIEU (1689-1755) 83
- ROUSSEAU (1712-1778) 83
- OS ENCICLOPEDISTAS 84
- AUFKLÄRUNG 84
BIBLIOGRAFIA 186
“Quem tem o hábito de freqüentar a nossa U.E.C., seja como trabalhador, como
estudante, como paciente em busca de tratamento para males físicos, morais ou espirituais, ou
como simples simpatizante ou interessado da doutrina, foi surpreendido, no início do corrente ano,
com pequenos cartazes convidando para um curso inédito na nossa casa: História da Filosofia
promovida pela Academia Espírita de Estudos Filosóficos, com início previsto para março.
O Espiritismo, como tudo o mais que existe não só no nosso planeta como em todo
o universo, não está isolado no espaço e no tempo, nem é obra do acaso. Tudo se interliga na
senda da evolução.
(*) Texto redigido em 1997 para publicação no informativo A Voz do Alto da União Espírita
Cearense. Atualmente a ACEEF funciona no Grupo Espírita Auxiliadores dos Pobres. Os
direitos autorais desta obra pertencem a ACEEF.
Mas de onde deve partir uma tal História? Como se verá já nas primeiras páginas que
aqui começa, o ponto inicial desse longo percurso será um salto na Grécia Antiga, do difuso mundo
dos mitos para as hipóteses racionais sobre a origem e composição do universo. Iremos conhecer
o conjunto de investigações dos pensadores pré-socráticos que foi uma reação de espanto e
perplexidade diante do grande mistério das origens e finalidades, da mudança e da permanência
dos homens e das coisas. Estudaremos Sócrates a incomodar os atenienses com perguntas sobre
o que é a verdade, o que é o bem. Platão construiu, a seguir, uma doutrina em que se conjugam
a busca da verdade e a organização de uma sociedade perfeita. Aristóteles tentará conciliar a
exigência lógica e metafísica com a instabilidade da realidade empírica. Esse período inaugural
da Filosofia ocidental forneceu a matriz para os debates e investigações dos séculos seguintes.
Na Idade Média o cristianismo triunfante não pôde deixar de levar em conta a forte
presença do helenismo. Santo Agostinho fará um gigantesco esforço para adaptar o pensamento
grego à idéia cristã do destino espiritual do homem. Tomás de Aquino irá empreender uma
poderosa síntese entre a provisória vida terrena, cheia de variações, e o eterno reino dos céus.
Não houve esse pretendido fim, mas os duros embates induziram o pensamento filosófico
a deixar para trás a procura utópica de um saber sistemático e totalizador. Para a frente emerge
o confronto com a evolução do pensamento científico. Junto aos pensadores contemporâneos
somos convidados a acompanhar uma abertura a múltiplas direções – a literatura, as artes, a vida
social e política. Iremos finalmente descobrir que a maior empreitada das realizações humanas se
caracteriza mais pelas interrogações que provocam do que pelas conquistas que proporcionam.
Eu só sei que nada sei, nos sussurra o sábio mais sábio da antiga Grécia, Sócrates.
CAVALO DE TRÓIA
ULISSES E AS SEREIAS
CONCEPÇÃO DO MUNDO
GREGO
PROMETEU ENTREGA O
FOGO DOS DEUSES PARA A
HUMANIDADE
HESÍODO HOMERO
PANDORA
ESCOLA PITAGÓRICA
O QUE É MITOLOGIA
Para a consciência mítica, tudo deve ter tido a sua origem. Se esta origem ficou
encoberta pelas trevas do tempo e do mistério, isto não significa que não possa ser recuperada
pela imaginação. A realidade das coisas está aí a demonstrar a repetição das origens nos ciclos
da vida. A temporalidade dos acontecimentos pouco interessa. Interessa, sim, o fato de que eles
se repetem: e por isso são perenes.
O mito consiste nesta “história perene”: é a história dos acontecimentos que são
eternos porque se repetem. Reconhecendo em cada ato cotidiano uma participação nos grandes
ciclos da vida - que não são mais do a repetição dos ciclos modelo narrados pela mitologia -, o
homem sente-se participar da grande eternidade mítica, e liberta-se de sua transitoriedade.
Através da mitologia - desde as mais primitivas até a mais moderna de suas formas,
disfarçada em ficção científica -, sempre o homem procurou compensar a distância que o separa,
cada vez mais, do universo irracional. Este abismo, o mito busca preenchê-lo, ao misturar todas
as origens. Não apenas do mundo e do homem, mas também dos animais e das plantas: e tudo
o que nasce, vive, é sexuado e organizado, se desfaz e morre - mas volta e continua.
Devido a seu caráter fundamental, o mito conserva até os nossos dias vitalidade e
presença grandiosa: ele trata dos mesmos problemas - existenciais, morais e sociais - que
continuam a afligir a humanidade. Por isto, o homem não deixou de criar novos mitos, muito
embora tenha pisado na Lua.
VERDADE E FANTASIA
Os gregos não foram grandes políticos, nem criaram, militarmente, nenhum império
coeso. Admite-se mesmo que seu espírito crítico deve ter contribuído para sua fragmentação
política em um punhado de pequenos Estados. Mas levou-os, ao mesmo tempo, à contemplação
da vida, do mundo, do homem, para perguntar: qual é a origem dos seres?
A resposta obtida não visava ao Nada, nem a um deus criador, mas a um espaço
aberto, chamado Caos, onde existe matéria informe à espera de ser organizada. Não podiam
chegar ao Nada, porque para os gregos o Nada é impensável. Mesmo sua matemática ignora o
zero. “Do não-existente nada pode nascer e nada pode desaparecer no nada absoluto”, diz
o filósofo Empédocles (495?-435? a.C.). Não chegaram à idéia de um deus criador, pois
perceberam que tudo o que existia, embora se mostrando regido por uma força vital única,
apresentava várias formas, diferentes maneiras de ser, múltiplas funções, graus infinitos. Um deus
criador único, segundo eles, não poderia ter deixado escapar uma variedade tão imensa e até
contraditória de fenômenos, sem perder ele mesmo, deus único, a sua unidade criadora essencial.
O homem também nasceu assim. Por isso, o poeta Píndaro (518-446 a.C.) canta:
“Igual é o gênero dos homens ao dos deuses, pois todos tiramos a vida da mesma mãe;
apenas, uma força completamente diferente distingue os deuses”.
A força que ordenou o Caos deixou nas entranhas da Terra uma multiplicidade de
poderes geradores, que engendraram todas as formas existentes na superfície terrestre: seres
vegetais e animais, trazendo cada qual dentro de si o seu próprio dáimon (força misteriosa). A
vida e suas manifestações são obra de um dáimon, que elas guardam como elemento
responsável, também, por sua maneira de ser.
“Que representa então a Filosofia? - É uma das raras possibilidades de existência criadora. Seu
poder inicial é tornar as coisas mais refletidas, mais profundas”. Martin Heidegger
Que terá levado o homem, a partir de determinado momento de sua história, a fazer
ciência teórica e filosofia? Por que surge no Ocidente, mais precisamente na Grécia do século VI
a.C., uma nova mentalidade, que passa a substituir as antigas construções mitológicas pela
aventura intelectual, expressa através de investigações científicas e especulações filosóficas?
Tudo teve início quando no século XII a.C., se instalou e se desenvolveu na península
grega e ilhas, a civilização micênica ou dos aqueus em estreita ligação com a civilização cretense.
A civilização micênica era composta por famílias principescas e seus monarcas eram
considerados reis divinos, ou seja, uma teocracia. Eles constituíam pequenas comunidades ou
unidades autônomas, protótipos das futuras cidades-Estados da Grécia Clássica. Desde as
origens mantinham comunicação e comércio com outras civilizações através dos mares.
Uma outra idéia também inspira os gregos à não mais recorrerem aos deuses para
explicar o mundo: a sensação de que os deuses abandonaram os homens, que aparece já no final
do século VIII a.C., na obra do poeta Hesíodo. Em Teogonia, Hesíodo descreve a criação do
mundo através de três gerações de deuses: no princípio era o Caos (Céu) e Gaia (terra), depois
a de Cronos (tempo) e finalmente Zeus e Eros (fecundidade) que entre lutas e traições, vence as
demais potências. No desenrolar desta obra e retomados nos episódios de Os Trabalhos e os
Dias, Hesíodo interpolará a figura de Prometeu e Pandora para justificar a condição humana.
Prometeu rouba o fogo de Zeus para dá-lo aos homens e atrai para si e para os mortais a ira do
suserano do Olimpo. Zeus condena Prometeu à tortura de ter o fígado permanentemente devorado
pela águia. Pandora, a outra figura do relato, é incumbida por Zeus a levar em suas mãos uma
jarra que, destampada, deixa escapar e espalhar-se entre os mortais todos os males. Na jarra,
prisioneira, fica apenas a esperança. Aos mortais Zeus reserva não menor castigo: o homem está
abandonado à própria sorte. O trabalho é a única condição de sobrevivência. Se por um lado esta
visão tem um certo tom de pessimismo, por outro Hesíodo sugere a idéia de que agora o homem
está livre dos deuses e pode valer a sua justiça e pensar por sua conta. Esta visão dos deuses
cantada nos versos de Homero e Hesíodo estabelece um novo modo de viver e pensar: a idéia de
fatalidade, o destino implacável que comanda a vida não só do homem, mas também dos próprios
deuses. O que é essa força que está acima dos deuses? Esta pergunta é uma das raízes do
pensamento ocidental.
Apartir do século VI a.C., esse tipo de construção cedeu lugar a uma nova e mais
radical forma de pensamento racional, que não partia da tradição mítica, mas de realidades
apreendidas na experiência humana cotidiana. Uma nova mentalidade, que coordenou
racionalmente os dados da experiência sensível, buscando integrá-los numa visão compreensiva
e globalizadora. Dentro desse espírito surgiram na Jônia, as primeiras concepções científicas e
filosóficas da cultura ocidental, propostas pela escola de Mileto.
IDÉIA CENTRAL
Explicação racional e natural do COSMOS (o Universo).
QUESTÃO PRINCIPAL
Qual o princípio das coisas (PHYSIS = Natureza)?
Qual a gênese, a fonte originária, o processo de surgimento e de desenvolvimento das coisas?
Cosmos, para os gregos, era um todo organizado racionalmente, portanto essa ordem
poderia ser desvendada pela razão. Isto despertava uma imensa curiosidade intelectual naquele
brilhante povo. Contudo, não apenas a Filosofia, mas também a Arte grega, a Política, a vida
enfim, estavam dominadas por esta atitude racional.
A realidade não era o que estava à nossa frente, mas sim, o que a razão iria encontrar
e dizer. Daí a busca das causas e dos princípios. Há uma citação de Eurípedes, repetida por
Virgílio, grande poeta romano, que reflete esta motivação intelectual dos helênicos: “Feliz aquele
que aprendeu a pesquisar as causas”.
ESCOLA JÔNICA
Na Jônia, colônia grega da Ásia, foi onde começou a Filosofia no Ocidente. Deparou-
se logo aos primeiros pensadores gregos da Jônia o seguinte problema: era necessário descobrir
um princípio (gr.: arché ou arqué) de tal maneira que dele se pudessem tirar, como conseqüências
racionais ou lógicas, as explicações para os fenômenos restantes da Natureza.
Este princípio poderia ser, de um ponto de vista lógico ou mental, uma proposição
extremamente geral, a partir da qual fosse possível extrair conclusões válidas. Poderia ser também
no campo físico alguma coisa material que, por força de transformações e mutações, desse origem
a todas as coisas e a todos os acontecimentos. Não deve ter sido fácil aos primeiros filósofos
chegar a esse princípio. Sua descoberta provavelmente exigiu longa meditação. É bom lembrá-lo
para que se possa relevar certa ingenuidade de algumas destas primeiras explicações racionais
ou teorias filosóficas.
Estávamos diante de um modo de pensar abstrato, bem diferente do pensar concreto
do modelo mítico.
De ascendência fenícia, era natural da Jônia, na Ásia Menor, cidade famosa pelo
florescente comércio marítimo, pátria de Anaximandro e Anaxímenes. Famoso como matemático,
alguns historiadores consideram que sua colocação pelos antigos entre os “sete sábios da Grécia”
deveu-se principalmente a sua atuação política: teria tentado unir as cidades-Estados da Ásia
Menor numa confederação, no intuito de fortalecer o mundo helênico diante das ameaças de
invasões de povos orientais.
De suas idéias, no entanto, pouco se conhece; nem há certeza de que tenha escrito
um livro. Também não se conhecem fragmentos seus. Sua doutrina só nos foi transmitida pelos
doxógrafos (escritores da antiguidade que compuseram os textos antigos referentes à doutrina
dos pensadores pré-socráticos).
ESCOLA PITAGÓRICA
Regressou à Grécia onde estudou o Orfismo e daí partiu para a Itália onde se
estabeleceu na cidade de Crotona, fundando uma congregação religiosa, que não possuía
legislação civil nem policiamento de espécie alguma, sendo orientada por uma sensata e luminosa
racionalidade. Teria sido o primeiro a implantar uma cosmocracia.
Pitágoras teria chegado à concepção de que todas as coisas são números através,
inclusive, de uma observação no campo musical: verifica, no monocórdio*, que o som produzido
varia de acordo com a extensão da corda sonora. Ou seja, descobre que há uma dependência do
som em relação à extensão, da música em relação à matemática. O que vale para a música os
pitagóricos vão estender a todas as coisas. O mundo é número - para mostrá-lo, eles reduzem
tudo o que existe a figuras geométricas simples: o ponto (.) é o número um; a linha (-) é o número
dois; a superfície é três; e o volume, quatro. O mundo se traduz nesses quatro primeiros números
inteiros e em seus múltiplos, e, por isso, os pitagóricos consideram a sua soma, o número dez
(tetraktys), vejamos: 1 + 2 + 3 + 4 = 10, como um número sagrado, pelo qual os adeptos juravam
e representavam pela figura do triângulo.
(*) Monocórdio - Instrumento composto de uma caixa de ressonância, sobre a qual se estende
uma corda que se apóia sobre dois cavaletes móveis, e que já era usado no tempo de Pitágoras
(c. 582 - c. 500 a.C.) para o estudo e cálculo das relações entre as vibrações sonoras, e durante
a Idade Média para a afinação das vozes e de outros instrumentos.
A CONGREGAÇÃO PITAGÓRICA
Diz-se que seus integrantes não se conheciam uns aos outros, pois se reuniam
encapuzados. Os discípulos iniciavam o dia com cantos e danças, entregando-se, depois, ao
exercício da meditação e ao estudo, aliando a atividade prática à meditação. Quando o cansaço
mental se fazia presente, nada melhor do que o trato com a terra. A alimentação era frugal e
vegetariana. Devotavam parte da tarde a exercícios ginásticos e, à noitinha, retornavam à dança
e aos cantos. Os discípulos de Pitágoras passavam por diversos estágios de iniciação; a
Preparação, a Purificação, a Perfeição e a Epifania (visão de cima). Os acusmáticos só recebiam
a iniciação moral; os matemáticos recebiam a iniciação completa. Para aqueles Pitágoras era um
DEUS, para esses um Sábio.
NO TERRENO CIENTÍFICO
O pitagorismo centralizou seus esforços na matemática. No campo da "física", isto é, da
interpretação material do mundo, a originalidade da escola consistiu na importância dada às
oposições, em número de dez, cinco das quais de natureza matemática: limitado-ilimitado; par-
ímpar; uno-múltiplo; reto-curvo; quadrado-heteromorfo. Essa visão do mundo, regido por tais
oposições, deu aos pitagóricos uma nova característica filosófica: o pluralismo, contraposto ao
monismo que via os acontecimentos da natureza como manifestações de um único fenômeno, o
movimento.
Para os pitagóricos, o número era o modelo das coisas. Isso levou Aristóteles a dizer mais
tarde que para eles os números eram os elementos constitutivos da matéria. O pitagorismo
desenvolveu também um grande esforço no sentido de relacionar a astronomia com a matemática,
usando para isso a aritmética, a geometria e até a música. No entanto, os pitagóricos não diferiam
profundamente dos outros filósofos gregos, mais preocupados com jogos intelectuais do que com
observações práticas: as teses eram enunciadas com o fim de adaptar a realidade à idéia. Esse
procedimento, levado às suas maiores conseqüências, pode ser observado em Aristóteles, que
governou o pensamento filosófico e científico da humanidade durante mais de mil anos.
O pressuposto filosófico de que os números são o modelo das coisas dominou a escola
pitagórica. Assim, a determinados números, principalmente os dez primeiros, eram atribuídas
virtudes especiais. Isso levou o pitagorismo a concentrar suas atenções nos números inteiros, em
detrimento dos fracionários e irracionais. Estes últimos, cuja descoberta se deve aos próprios
pitagóricos, eram sistematicamente desprezados nos cálculos aritméticos.
ESCOLA ELEÁTICA
Segundo Apolodoro, Xenófanes nasceu em Colofão, na Jônia (na Ásia Menor), onde
se viu forçado a emigrar, quando ainda jovem, levando então vida errante. Passou parte de sua
vida na Sicília (Itália). Foi poeta, sábio e rapsodo, cantando seus poemas através da Grécia. Em
oposição aos filósofos de Mileto, só escreveu em verso. Fundou uma escola em Eléia. Seu
monismo não é rígido, pois nega o “devir”, mas em física admite que a origem do mundo se deve
a uma ou mais substâncias primitivas, talvez a água e a terra. Pode ser considerado o “Teólogo”
da escola, porque foi o primeiro a afirmar a unidade e a imutabilidade de Deus, que ele demonstra
contra o politeísmo que dominava na época. Condenou a Homero e a Hesíodo, porque, com suas
obras, favoreceram a concepção antropomórfica de Deus. Apoiado na visão do universo como
constituído a partir de uma única origem, Xenófanes proclama: “Um deus é o supremo entre os
deuses e os homens; nem em sua forma, nem em seu pensamento é igual aos mortais”.
Começava o combate aos deuses antropomórficos, herdados da tradição homérica.
De fato, se só o “ser é”, deve ser único, pois para existir algo junto ao ser, somente
poderia ser o “não ser” e o “não ser não é”. Deve ser, pois, imóvel, pois o ser que se forma ainda
não é. Deve ser incriado, caso contrário só poderia vir do “não ser”.
(*) Florescimento (florescer) - em grego, acmé: literalmente, ponta; sentido figurado, o ponto mais alto (da
vida), a flor (da idade) - é o período de máxima atividade de um filósofo ou escola; é atingir o auge de
sua produtividade.
(**) Hilozoísmo - representa a idéia de que o universo é dotado de animação, de que a matéria é viva.
Isto, que parece um jogo de palavras, não é senão o fundamento da ontologia que o
próprio Parmênides assim enunciou: “a mesma coisa é pensar e ser”. Isso decorre da observação
de que existem duas ordens antagônicas de conhecimentos: a “sensitiva” que nos leva à ilusão, e
a “racional” que fundada na evidência dialética, nos conduz à verdade. Tais ordens
corresponderiam à verdade lógico-ontológico. Os sentidos percebem o contingente, mutável; a
razão vê na essência de todas as coisas uma realidade única - o “ser”. Assim, o “ser” não podendo
vir do “não ser” - é único, imóvel e incriado.
Tratando essa noção com rigor racional, Parmênides recusa a possibilidade de que os
sentidos pudessem conduzir à verdade e rejeita a multiplicidade e o movimento.
O homem conduzido pela razão é levado à evidência de que o ser tem de ser eterno,
imóvel, imutável e indivisível.
Zenão com suas argúcias dialéticas pode ser considerado precursor dos sofistas.
A novidade trazida por Heráclito - e que lhe permite julgar tão duramente seus
antecessores e contemporâneos - está, na verdade, em considerar aquela unidade como uma
unidade de tensões opostas. Esta teria sido sua grande descoberta: existe uma harmonia oculta
das forças opostas. A Razão (Logos) consistiria precisamente na unidade profunda que as
oposições aparentes ocultam e sugerem: os contrários, em todos os níveis da realidade, seriam
aspectos inerentes a essa unidade. Não se trata, pois, de opor o Um ao Múltiplo, como Xenófanes
e o eleatismo: o Um penetra o Múltiplo e a multiplicidade é apenas uma forma da unidade, ou
melhor, a própria unidade.
Proclama Heráclito: “É sábio escutar não a mim, mas a meu discurso (logos), e
confessar que todas as coisas são Um”.
Na verdade, porém, afirmavam que não havia um só ser, havia, isto sim, muitos e
infinitos seres (visão pluralista), por si imutáveis, mas que, combinando-se entre si de um modo
puramente mecânico, produzem a realidade mutável do Universo, segundo o pensar de Heráclito.
Esses seres minúsculos, que confirmam o conceito eleático do ser, são os átomos.
Daí tais filósofos serem chamados atomistas. Eles abandonaram o conceito hilozoísta
da matéria e buscaram uma “causa eficiente” de todas as coisas.
O eleatismo havia identificado a via da verdade com o uso exclusivo da razão, que,
apresentada como deusa soberana e absoluta no poema de Parmênides, afirmava a unidade do
ser, e, conseqüentemente, negava a legitimidade racional da multiplicidade e do movimento.
Empédocles altera essa concepção de verdade (aletheia). Para ele, não é mais a
revelação de uma verdade absoluta, porém uma verdade proporcional à “medida humana”. Isso
significa que a evidência procurada não é a do intelecto puro: é a exigência de clareza racional,
porém aplicada aos dados fornecidos pelos sentidos.
Em 431 foi acusado de impiedade por negar a divindade do Sol (para ele, uma pedra
incandescente) e da Lua (para ele, era uma terra). Segundo parece, Anaxágoras foi encarcerado,
mas conseguiu fugir, refugiando-se em Lâmpsaco (Jônia), onde fundou outra escola. Gozou de
grande reputação como físico, matemático, astrônomo e meteorologista. Mereceu alta estima dos
lampsacenses, que cunharam moedas com sua efígie e puseram religioso epitáfio em seu túmulo.
Anaxágoras foi o pré-socrático que deu origem a maior número de discussões ou a interpretações
as mais variadas.
Quase nada se sabe sobre a vida de Leucipo: alguns autores chegaram mesmo a pôr
em dúvida sua existência. Todavia, uma tradição que remonta a Aristóteles atribui a esse
contemporâneo de Empédocles, Anaxágoras, dos sofistas e de Sócrates (meados do século V
a.C.) a criação da teoria atomista.
Leucipo nasceu provavelmente em Mileto (segundo outros, em Eléia ou Abdera).
Segundo uns, teve como mestre a Zenão; segundo outros, a Melisso. É freqüentemente associado
a Demócrito. Aristóteles considera Leucipo o criador da teoria dos átomos, depois desenvolvida e
elaborada por Demócrito.
Todo o universo estaria, portanto, constituído por dois princípios: o contínuo incorpóreo
e infinito (o vazio), e o descontínuo corpóreo (os átomos). Rompe-se, desse modo, o monismo
corporalista, que vinha sendo um pressuposto das diversas cosmogonias e cosmologias gregas.
Parece certo que Leucipo e Demócrito admitiam que o movimento primário dos átomos seria em
todas as direções, como o da poeira que se vê flutuar no ar, se uma réstia penetra num ambiente
escuro. E é lógico que assim fosse, já que, dispersos no vazio, os átomos não teriam nenhuma
direção preferencial. A movimentação dos átomos no vazio faria com que os maiores ficassem
mais expostos aos impactos dos demais; além disso, sendo dotados das mais diversas formas,
eles não apenas se chocariam como também poderiam se engatar, produzindo agrupamentos. A
continuação dos impactos poderia então ocasionar o aparecimento, em vários pontos, de vórtices
ou turbilhões, à semelhança de redemoinhos, nos quais os corpos maiores (átomos ou
agrupamentos de átomos) tenderiam para o centro. Seria esse o começo de um universo.
ESCOLA PITAGÓRICA
FILÓSOFO PRINCÍPIO (ARCHÉ) SIGNIFICADO
Pitágoras de Samos Matemática O cosmo está representado nos
(580/78-497/6 A .C.) números, a harmonia universal.
ESCOLA ELEÁTICA
FILÓSOFO PRINCÍPIO (ARCHÉ) SIGNIFICADO
Xenófanes de Colofão O Ser Absoluto A unidade e imutabilidade de Deus.
(570-528 a.C.)
Parmênides de Eléia Ser é O que é, é o que é. E não pode
(530-460 a.C.) deixar de ser.
Zenão de Eléia Aporias (Argumentos Quarenta argumentos para provar a
(504/1-? a.C.) dialéticos) inexistência do movimento.
A FILOSOFIA EM ATENAS
Isto porque Sócrates representa um divisor de águas não apenas do ponto de vista
temporal. Nosso ponto de referência geográfico também se altera agora. É que Sócrates foi o
primeiro filósofo nascido em Atenas e tanto ele quanto seus dois sucessores viveram e atuaram
em Atenas.
OS SOFISTAS
“O homem é a medida de todas as coisas” Protágoras
Por volta de 450 a.C., Atenas transformou-se no centro cultural do mundo grego. A
partir dessa época, a filosofia tomou um novo rumo. Os filósofos naturais eram, sobretudo
pesquisadores naturais. Eles ocupam, portanto, um lugar muito importante na história da ciência.
Depois deles, o centro de interesse em Atenas se deslocou para o homem e para sua posição na
sociedade. Em Atenas desenvolvia-se pouco a pouco uma democracia com assembléias
populares e tribunais. Um pressuposto para a democracia era o fato de que as pessoas recebiam
educação suficiente para poder participar dos processos democráticos. Entre os atenienses era
particularmente importante dominar a arte de bem falar, a retórica.
Não demorou para que um grupo de mestres e filósofos itinerantes, vindos das
colônias gregas, se concentrasse em Atenas. Eles se autodenominavam sofista *, eram na
verdade, professores ambulantes, que comercializavam com o saber, ganhavam a vida em Atenas
ensinando os cidadãos. Homens ávidos de riqueza e de glórias perceberam que o êxito da sofística
se fundamentava no êxito de seus discípulos na vida pública. Não lhes interessa a verdade, mas
o triunfo sobre o adversário. Por isso ensinavam principalmente retórica e sobre tudo a oratória
política. Sacrificavam o verdadeiro interesse da filosofia para fins secundários, mercantilistas e
políticos. Dentre os numerosos sofistas, os mais célebres foram Protágoras e Górgias.
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(*) A palavra “sofista” etimologicamente quer dizer “sábio”. Com o tempo, porém, principalmente
depois das críticas de Platão e Aristóteles, ganhou um sentido pejorativo.
Para os sofistas, ainda que houvesse respostas para muitas questões filosóficas,
ninguém jamais seria capaz de encontrar respostas realmente seguras e definitivas para os
mistérios da natureza e do universo. Este ponto de vista é conhecido na filosofia como ceticismo.
Para Platão, “o sofista era aquele que desviava a dialética (discurso) de seu verdadeiro
fim o “bem” e de seu verdadeiro objeto: a “verdade” para fazer dela um instrumento de poder, de
fortuna e, com freqüência, de engano”. Para Aristóteles, “o sofista era aquele que obtinha lucros
de uma ciência aparente, mas não real”.
Mas ainda que não possamos encontrar uma resposta para todos os mistérios da
natureza sabemos que somos pessoas e que precisamos aprender a conviver umas com as
outras. Os sofistas resolveram, então, dedicar-se à questão do homem e de seu lugar na
sociedade. “O homem é a medida de todas as coisas”, disse o sofista Protágoras (487-420 a.C.).
Com isto ele queria dizer que o certo e o errado, o bem e o mal sempre tinham de ser avaliados
em relação às necessidades do homem.
Via de regra, os sofistas eram homens que tinham feito longas viagens e, por isso
mesmo, tinham conhecido diferentes sistemas de governo. Usos, costumes e leis das cidades-
estados podiam variar enormemente. Sob este pano de fundo, os sofistas iniciaram em Atenas
uma discussão sobre o que seria natural e o que seria criado pela sociedade. Com isto, eles
criaram em Atenas as bases para uma crítica social.
Eles puderam mostrar, por exemplo, que uma expressão como “sentimento natural de
pudor” era algo que não se sustentava. Pois se o pudor e a vergonha fossem uma coisa natural,
então eles tinham de ser características inatas. Ora, para pessoas que já viajaram muito,
concluiriam, que o fato de se ter ou não vergonha, está ligado, sobretudo aos usos e costumes de
uma sociedade, portanto, o sentimento de pudor, é criação da sociedade.
Por este trecho podemos imaginar como foram inflamadas as discussões que os
sofistas incitaram na sociedade de Atenas quando afirmaram que não havia normas absolutas
para o certo e o errado. Ao contrário deles, Sócrates tentou mostrar que algumas normas são
realmente absolutas e de validade universal.
O grande mérito dos sofistas, portanto, foi preparar o terreno para a grande presença
de Sócrates, que veio purificar a atmosfera ateniense de ceticismo. Sem os sofistas não se
compreende Sócrates. A reação dos primeiros preparou a reação do segundo com todas as suas
salutares conseqüências.
Exerceu grande influência sobre a juventude, levando-a aos mais altos ideais. Sua
sabedoria e as atitudes elevadas diante de todos os problemas, incitaram contra ele a inveja e o
ódio de muitos.
Sócrates não nos deixou nada escrito; sua doutrina foi transmitida à posteridade nas
obras de Xenofonte, Platão e Aristóteles.
O ponto central de toda a atuação de Sócrates como filósofo estava no fato de que ele
não queria propriamente ensinar as pessoas. Para tanto, em suas conversas, Sócrates dava a
impressão de ele próprio querer aprender com seu interlocutor. Ao “ensinar”, ele não assumia a
posição de um professor tradicional. Ao contrário, ele dialogava. O método próprio para este
conhecimento é o da introspecção estimulada pelo diálogo. O diálogo, para Sócrates, diferia
essencialmente da discussão. Na discussão sofística havia duas opiniões em litígio; no diálogo
socrático só uma - a do interlocutor ou a mensagem da própria coisa - pois Sócrates “só sabia que
nada sabia” e isto não se pode considerar uma opinião.
Em seu diálogo havia dois momentos: a ironia, que tinha por objeto o exame e a crítica
das opiniões admitidas pelo interlocutor ou discípulo. Assumindo a atitude de quem nada sabe,
Sócrates, através de perguntas, levava o adversário a evidente contradição, constrangindo-o a
humilhante confissão de sua ignorância. Geralmente o interlocutor, tido como autoridade, em
algum ramo de conhecimento ou de atividade, decepciona-o. Esses interlocutores revelam um
conhecimento restrito a suas especializações e embaraçam-se quando levados a opinar sobre
outros assuntos, embora de geral interesse para os homens. Isso parece confirmar a Sócrates o
sentido da superioridade que lhe fora atribuída pelo oráculo: “Homem, conhece-te a ti mesmo”
- inscrição do Templo de Apolo. O reencontro consigo mesmo só pode partir da consciência da
própria ignorância. Mas essa ignorância, que é atributo de Sócrates, não é geralmente assumida
pelas outras pessoas, que se julgam na posse de “verdades”. Torna-se necessário, portanto, levá-
las, de saída, a despojar-se dessas pseudoverdades - única forma de torná-las aptas a
caminharem em direção ao conhecimento de si mesmas. A demolição das falsas idéias que
fundamentam a falsa imagem que as pessoas têm delas próprias é o que pretende a ironia:
momento do diálogo em que Sócrates, reafirmando nada saber, força o interlocutor a expor suas
opiniões, para, com habilidade, emaranhá-lo na teia obscura de suas próprias afirmativas e acabar
reconhecendo a ignorância a respeito do que antes julgava ter certeza. A ironia socrática tem,
assim, a função de propiciar uma catarse: uma purificação da alma por via da expulsão das idéias
turvas, das ilusões e dos equívocos que distanciavam a alma de si mesma.
Orientado por seu “demônio” (daimon), espécie de voz interior que às vezes lhe freava
as iniciativas e impedia-o de dialogar com determinadas pessoas. Sócrates escolhia aqueles com
os quais a conversa poderia assumir caráter de reconstrução, após o exorcismo propiciado pela
ironia. Nessa outra fase do método socrático, o interlocutor - transformado em discípulo - é levado,
progressivamente, pela habilidade das questões propostas, a tentar elaborar ele mesmo suas
próprias idéias. Não mais a repetição automática de fórmulas consagradas ou chavões herdados,
embora ocos de sentido. Agora, de início timidamente, o interlocutor-discípulo é conduzido ao risco
de tentar ser ele mesmo, de ele mesmo conceber idéias. E de ser ele mesmo sua própria alma.
Sócrates foi o criador da ética como doutrina filosófica. O lema “conhece-te a ti mesmo”
traduz sua preocupação filosófica. O núcleo de sua ética está no conceito de virtude, concebida
como um saber necessário à felicidade. Segundo Sócrates, ninguém pratica o mal
conscientemente; o conhecimento do bem nos leva à prática da virtude.
Não podemos saber ao certo se o “Jesus histórico” realmente disse o que Mateus ou
Lucas diz que ele disse. Assim, será para sempre um mistério o que o “Sócrates histórico”
realmente disse. Jesus e Sócrates já eram considerados pessoas enigmáticas no tempo em que
viveram. Nenhum dos dois deixou qualquer registro escrito de suas idéias. Assim, não nos resta
outra saída senão confiar na imagem deles que nos foi legada por seus discípulos. Uma coisa,
porém, é certa: ambos eram mestres da retórica. Além disso, ambos tinham tanta autoconfiança
no que diziam que podiam tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. Para completar, ambos
acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior do que eles mesmos. Eles desafiavam os
que detinham o poder na sociedade, porque criticavam todas as formas de injustiça e de abuso
de poder. No fim, esta forma de agir lhes custou à vida. Também há paralelos entre os processos
de acusação de Jesus e de Sócrates. Ambos podiam ter pedido clemência e, com isto, ter salvo
suas vidas. Ma eles acreditavam estar traindo sua missão se não fossem até as últimas
conseqüências. E o fato de terem enfrentado a morte de cabeça erguida lhes garantiu a fidelidade
das pessoas mesmo depois de sua morte. Ambos tinham uma mensagem a transmitir e que esta
mensagem estava indissoluvelmente associada à sua coragem pessoal.
Sob essa influência, aceitou a opinião de Heráclito sobre o “devir” universal. Tinha vinte
e nove anos quando Sócrates teve de beber o cálice de cicuta. Por quase dez anos havia sido
discípulo de Sócrates e acompanhou de perto o processo movido contra seu mestre. O fato de
Atenas ter condenado à morte seu filho mais nobre não só lhe deixou marcas para toda a vida
como também determinou a direção de toda a sua atividade filosófica.
Com a morte de Sócrates, deixou Atenas e por largo tempo viajou, tendo estado em
Megera, Cirene, Egito, Magna Grécia, onde conheceu a filosofia dos eleáticos e pitagóricos. Uns
trinta anos depois da morte de Sócrates voltou a Atenas e, nos jardins de seu amigo Academus
(legendário herói grego), fundou sua escola de filosofia que por isso passou a ser chamada de
Academia. Na academia de Platão ensinava-se filosofia, matemática e ginástica, embora “ensinar”
talvez não seja a melhor palavra nesse contexto. Isto porque também na academia de Platão o
diálogo vivo era o que mais importava. Assim, não é por acaso que o diálogo foi a forma escolhida
por Platão para registrar por escrito sua filosofia. Para o resto de seus dias, entregou-se ao ensino
da filosofia, tendo entre seus discípulos Aristóteles.
Morreu em 347, durante a guerra que Felipe da Macedônia movia contra os atenienses,
a qual acabaria com a independência política de Atenas.
A FILOSOFIA DE PLATÃO
A filosofia platônica chegou até nossos dias através de sua obra, verdadeiras jóias da
literatura universal. São conhecidos treze cartas e trinta e cinco diálogos, entre eles: Apologia de
Sócrates, A República, Fedro, Banquete, Fédon, O Sofista e o Político.
Em Platão, tudo se unifica mediante sua original “teoria das idéias” e para compreendê-
lo é preciso que saibamos o que é “idéia”. Platão descobriu que as coisas propriamente “não são”.
Ao considerarmos uma folha branca de papel, vemos que a rigor não é branca, ou seja, tem a
tonalidade amarelada ou creme; é quase branca. O mesmo se dá com sua forma retangular; os
lados da folha não são perfeitos, absolutamente retos, logo é quase retangular.
Quando dizemos que a folha é quase branca e quase retangular, fazemos uma
comparação com algo que deve ter brancura absoluta e absoluta retangularidade. Isso nos leva a
pensar que deve então existir algo que é absolutamente branco e absolutamente retangular. E
essa realidade existe, mas não está nas coisas concretas e mutáveis. Essa realidade é
permanente e é o que Platão chama “idéia”.
As idéias, portanto, são “entes metafísicos que encerram o verdadeiro ser das coisas”,
possuem as propriedades essenciais do “ser” e que as coisas mutáveis não possuem; são unas,
imutáveis, eternas e não estão sujeitas, nem ao movimento, nem à corrupção.
Como as idéias não se acham no mundo sensível, elas não podem ser percebidas pelo
homem. Para sua apreensão, apresentou Platão alguns mitos que procuram elucidar o
conhecimento humano. Platão em seus diálogos serviu-se freqüentemente desse recurso, o que
também dá à sua obra valor literário.
Segundo o mito que Sócrates apresentou a Fedro, a alma, em seu estágio originário,
compara-se a um carro puxado por dois cavalos alados, um dócil, que representa a razão e a
inteligência, outro fogoso, que representa as sensações e as paixões. Esse carro, dirigido por um
cocheiro, numa região supraceleste, circula pelo mundo das “idéias”, que são contempladas pela
alma. As dificuldades para guiar os dois cavalos fazem com que eles percam as asas e a alma
caia, encarnado-se num corpo.
O homem encarnado não se lembra das “idéias”, mas vendo as coisas sensíveis, ele se
recorda ou tem reminiscências das “idéias” contempladas, em tempos anteriores, na região
supraceleste. Para Platão, pois, conhecer não é “ver”, mas “recordar”, ter “reminiscências”.
Todavia, como as lembranças são fracas e apagadas, as coisas neste mundo, em que vivemos,
são apenas “sombras das idéias em si”. E isto Platão explicou através de outro mito.
O MITO DA CAVERNA
Na República, livro VII, Platão imagina que alguns homens se encontram, desde
pequenos, numa caverna que tem uma abertura por onde penetra a luz do sol. Esses homens não
se podem mover e estão voltados de costas para a abertura, de modo que só podem ver a parece
do fundo da caverna. Os homens da caverna só vêem e só conhecem essas sombras. Para eles
essas sombras constituem a única realidade.
Se porventura um desses homens pudesse livrar-se e vir para fora, a luz do sol iria
deslumbrá-lo, provocando até dores nos olhos e nada ele veria. Aos poucos, porém, iria
acostumando os olhos e começaria a ver primeiro à noite e as estrelas, depois as imagens das
coisas refletidas na superfície d’água, finalmente veriam o próprio sol. Com esse mito, Platão quis
representar os dois mundos:
2o.) O mundo inteligível, o mundo das idéias propriamente ditas, de uma realidade
verdadeira e que nos leva ao conhecimento intelectual, pela razão ou inteligência (Nous).
A REPÚBLICA DE PLATÃO
(O Estado Utópico ou Ideal)
Segundo ele, o corpo humano consistia em três partes: cabeça, peito e baixo-ventre. A
cada uma dessas partes corresponde determinada característica. A razão pertence à cabeça, a
vontade ao peito e o desejo ou o prazer ao baixo-ventre. Cada uma dessas características possui
também um ideal ou uma virtude. A razão deve aspirar à sabedoria, a vontade deve mostrar
coragem e os desejos devem ser controlados, a fim de que o homem possa exercitar a
temperança. Somente quando as três partes do homem agem como um todo é que temos o
indivíduo harmônico ou íntegro.
A partir disso, Platão imagina um Estado constituído exatamente como o ser humano.
Assim como o corpo possui “cabeça”, “peito” e “baixo-ventre”, também o Estado possui
governantes, sentinelas (ou soldados) e trabalhadores (dentre os quais se incluem, além dos
comerciantes, também os artesãos e os camponeses).
Fica claro aqui que Platão adotou como modelo a ciência médica grega. Do mesmo modo
como um indivíduo saudável e harmônico mostra equilíbrio e moderação, um Estado justo se
caracteriza pelo fato de cada um conhecer o seu lugar no todo.
Assim como toda a filosofia de Platão é marcada pelo racionalismo, também o é sua
filosofia do Estado. Decisivo para a criação de um bom Estado é que ele seja dirigido pela razão.
Do mesmo modo como a cabeça comanda o corpo, os filósofos devem indicar à sociedade o
caminho por onde ela deve ir.
O ideal de Estado de Platão pode nos lembrar o antigo sistema de castas da Índia ou do
Egito Antigo, onde cada um em particular tem sua função especial para o bem do todo. Desde a
época de Platão, e muito antes ainda, o sistema de castas hindu e egípcio adota exatamente essa
divisão em três partes entre a classe dirigente (ou a casta dos sacerdotes), a casta de guerreiros
(ou dos militares) e a casta de Trabalhadores.
Em sua República Ideal, Platão queria abolir a vida familiar e a propriedade privada dos
governantes do Estado e de suas sentinelas. A educação infantil era importante demais para ser
deixada a cargo do indivíduo. Ela deveria ser responsabilidade do Estado (Platão foi o primeiro
filósofo a defender a criação de jardins-de-infância e semi-internato públicos).
Depois de passar por várias e pesadas decepções políticas, Platão escreveu o diálogo
As Leis. Nele, Platão descreve o “Estado legal” como o segundo melhor tipo de Estado e
reintroduz as noções de propriedade privada e laços de família.
Quando ele subiu ao trono, Aristóteles voltou a Atenas. A Academia era regida então por
Xenócrates, seu condiscípulo e, ao invés de juntar-se a ela, Aristóteles preferiu fundar sua própria
escola, o que fez junto ao templo de Apolo Lício, daí o nome que lhe deram mais tarde, “Liceu”.
Costumava dar suas aulas perambulando pelos jardins que rodeavam o edifício, daí também
chamarem sua escola de “Peripatética”. (que significa “os que passeiam”).
Depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., Aristóteles passou a ser hostilizado pela
facção antimacedônica (partido de Demóstenes), que o considerava politicamente suspeito.
Acusado de impiedade deixou Atenas e refugiou-se em Cálcis, na Eubéia. Aí morreu no ano de
322 a.C., com sessenta e dois anos de idade.
ARISTÓTELES X PLATÃO
O biologismo era mais que uma perspectiva da escola aristotélica tornou-se marca central
da própria visão científica e filosófica da Aristóteles, já que seu interesse estava justamente na
natureza viva.
Exagerando um pouco, podemos dizer que Platão estava tão mergulhado nas formas
eternas, no mundo das “idéias”, que quase não registrou as mudanças da natureza. Aristóteles,
ao contrário, interessava-se justamente pelas mudanças, por aquilo que hoje chamamos de
processos naturais.
Exagerando mais ainda, podemos dizer que Platão se apartou do mundo dos sentidos e
que só percebia muito superficialmente tudo aquilo que vemos ao nosso redor. (É que ele queria
escapar da Caverna para espiar o eterno mundo das idéias!). Aristóteles fez exatamente o
contrário: ele saiu ao encontro da natureza e estudou peixes e rãs, anêmonas e papoulas.
Podemos dizer que, enquanto Platão usou sua razão, Aristóteles - ao contrário - usou
seus sentidos. Mas há nítidas diferenças entre eles, até mesmo na forma de escrever. Enquanto
Platão era poeta e criador de mitos, os escritos de Aristóteles são sóbrios e pormenorizados como
os verbetes de uma enciclopédia. Em compensação, muito do que ele escreveu estava baseado
em estudos naturais realizados com extrema diligência.
Registros da Antiguidade dão conta de não menos que cento e setenta títulos assinados
por Aristóteles. Destes, quarenta e sete chegaram até nossos dias. Não se tratava de livros
completos. A maior parte dos escritos de Aristóteles compõe-se de apontamentos feitos para suas
aulas. Também na época de Aristóteles, a filosofia era essencialmente uma atividade oral.
A importância de Aristóteles para a cultura européia está também no fato de ele ter criado
uma linguagem técnica usada ainda hoje pelas mais diversas ciências. Ele foi o grande
sistematizador, o homem que fundou e ordenou as várias ciências.
Assim como os filósofos que antecederam, Platão também queria encontrar algo de
eterno e de imutável em meio a todas as mudanças. Foi assim que ele chegou às idéias perfeitas,
que estão acima do mundo sensorial. Além disso, Platão considerava essas idéias mais reais do
que os próprios fenômenos da natureza. Primeiro vinha a “idéia” cavalo e depois todos os cavalos
do mundo dos sentidos, trotando como sombras projetadas sobre a parede de uma caverna. A
idéia “galinha” vinha, portanto, antes da galinha e do ovo.
Aristóteles achava que Platão tinha virado tudo de cabeça para baixo. Ele concordava
com seu mestre em que o exemplar isolado do cavalo “flui”, passa, e que nenhum cavalo vive para
sempre. Ele também concordava que, em si, a forma do cavalo era eterna e imutável. Mas a “idéia”
cavalo não passava para ele de um conceito criado pelos homens e para os homens, depois de
eles terem visto um certo número de cavalos. A “idéia” ou a “forma” cavalo não existia, portanto,
antes da experiência vivida. Para Aristóteles, a “forma” cavalo consiste nas características do
cavalo, ou seja, naquilo que chamaríamos de espécie.
Vou explicar melhor: Aristóteles entendia por “forma” aquilo que todos os cavalos têm em
comum. E aqui a imagem da fôrma de fazer broas (exemplo para as idéias inatas de Platão para
explicar a origem comum das coisas) perde sua validade, pois as fôrmas de fazer broas existem
independentemente de cada broa em particular. Aristóteles não acreditava que houvesse na
natureza um armário, por assim dizer, com fôrmas desse tipo. Para ele, as “formas” estavam
dentro das próprias coisas; as “formas” das coisas eram suas características próprias.
Devemos atentar bem para o fato de estarmos falando de uma dramática mudança de
pensamento. Para Platão, o grau máximo de realidade está em pensarmos com a razão. Para
Aristóteles, ao contrário, era evidente que o grau máximo de realidade está em percebermos ou
sentirmos com os sentidos. Platão considera tudo o que vemos ao nosso redor na natureza meros
reflexos de algo que existe no mundo das idéias e, por conseguinte, também na alma humana.
Aristóteles achava exatamente o contrário, o que existe na alma humana nada mais é do que
reflexos dos objetos da natureza.
Aristóteles nos chama a atenção para o fato de que não existe nada na consciência que
já não tenha sido experimentado antes pelos sentidos. Platão poderia ter dito que não existe nada
na natureza que não tivesse existido antes no mundo das idéias.
Aristóteles achava que todas as nossas idéias e pensamentos tinham entrado em nossa
consciência através do que víamos e ouvíamos. Mas nós também temos uma razão inata. Temos
uma capacidade inata de ordenar em diferentes grupos e classes todas as nossas impressões
sensoriais. É assim que surgem conceitos como os de “pedra”, “planta”, “animal” e “homem”. É
assim que surgem os conceitos de “cavalo”, “lagosta” e “canarinho”. Nossa razão permanece
totalmente “vazia” enquanto não percebemos nada. Uma pessoa, portanto, não possui “idéias”
inatas.
A LÓGICA
A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA
1o. Adere inteiramente às idéias de Platão. É a fase da juventude, em que redigiu diálogos
de caráter platônico, que fala sobre a imortalidade da alma;
2o. É a fase de transição em que começa a se afastar do pensamento platônico. Suas
obras contêm críticas as idéias de Platão, apresenta provas da existência de Deus, imutável,
eterno e primeiro princípio ordenador.
3o. É a fase definitiva do pensamento aristotélico. É o período do “Liceu”, da redação de
suas obras que chegaram até nós.
Classificação das Ciências - Sua classificação corresponde aos três modos possíveis
da atividade humana (saber, agir e produzir), daí os três grupos de ciências:
2 - Práticas - são as ciências que traçam as regras de nossas ações e nos fazem agir
corretamente:
3 - Poéticas - seu fim é apontar os meios de que devemos nos servir para a produção de
uma obra externa:
a) Poética; b) Retórica; c) Dialética.
“Ética Monástica” - Estabelece que a virtude é um hábito de fazer o bem, dirigido pela
razão, mas adquirido pelo esforço da vontade.
Aristóteles morreu no ano de 322 a.C., e nesse meio tempo, Atenas tinha perdido a sua
posição de hegemonia. Isto estava relacionado, entre outras coisas, com as grandes
transformações políticas que vieram em decorrência das conquistas de Alexandre Magno (356-
323 a.C.)
Alexandre Magno era rei da Macedônia. Aristóteles também era natural da Macedônia e
por algum tempo chegou mesmo a ser professor do jovem Alexandre. Foi Alexandre quem
conseguiu a derradeira e decisiva vitória sobre os persas. E mais ainda, com suas muitas
campanhas bélicas, ele uniu o Egito e todo o Oriente, até a Índia, á civilização grega.
Começou então uma era completamente nova na história da humanidade. Surgiu uma
comunidade internacional, na qual a cultura e a língua gregas desempenhavam papel
preponderante. Este período, que separa o final do século IV a.C., do começo da Idade Média, por
volta de 400 d.C., é freqüentemente chamado de helenismo. Por helenismo entendemos a cultura
predominantemente grega vigente nos três grandes reinos helênicos, a Macedônia, a Síria e o
Egito.
O helenismo foi marcado pelo desaparecimento das fronteiras entre os diferentes países
e culturas. Anteriormente, gregos, romanos, egípcios, babilônios, sírios e persas tinham adorado
seus deuses dentro dos limites de suas próprias religiões. Agora, todas essas diferentes culturas
foram misturadas num caldeirão, por assim dizer, de concepções religiosas, filosóficas e
científicas.
Com o tempo, muitas divindades orientais também passaram a ser adoradas em toda a
região do Mediterrâneo. Surgiram várias religiões novas, que tomavam emprestadas de diferentes
culturas antigas suas concepções religiosas, o que atualmente chamaríamos de sincretismo
religioso.
De modo geral, podemos dizer que a filosofia do helenismo não teve nada de muito
original. Não apareceu outro Sócrates, nem outro Platão, nem outro Aristóteles. Mas os três
grandes filósofos de Atenas se transformaram em fonte de inspiração para diferentes correntes
filosóficas, que continuaram a investigar problemas referentes a ética. A questão era saber em
que consistia a verdadeira felicidade e como ela podia ser alcançada.
OS CÍNICOS
Conta-se que, um dia, Sócrates parou diante de uma tenda do mercado em que estavam
expostas diversas mercadorias. Depois de algum tempo, ele exclamou: “Vejam quantas coisas o
ateniense precisa para viver! “. Naturalmente ele queria dizer com isto que ele próprio não precisa
de nada daquilo. Esta postura de Sócrates foi o ponto de partida para a filosofia cínica, fundada
em Atenas por Antústenes - um discípulo de Sócrates -, por volta de 400 a.C.
Os cínicos diziam que a verdadeira felicidade não depende de fatores externos como o
luxo, o poder político e a boa saúde. Para eles, a verdadeira felicidade consistia em se libertar
dessas coisas casuais e efêmeras. E justamente porque a felicidade não estava nessas coisas ela
podia ser alcançada por todos. E, uma vez alcançada, não podia mais ser perdida.
Os cínicos achavam que as pessoas não precisavam se preocupar com a saúde, nem
mesmo com o sofrimento e com a morte. E elas também não deveriam se atormentar com o
sofrimento dos outros. Hoje em dia, quando empregamos as palavras “cínico” e “cinismo” estamos
nos referindo, na maioria das vezes, a apenas este aspecto: o da impudência, da insensibilidade
ao sentir e ao sofrer do outro, ou quando fingimos sentimentos para com terceiros.
OS ESTÓICOS
Assim como Heráclito, os estóicos diziam que todas as pessoas eram parte de uma
mesma razão universal, ou “logos”. Eles consideravam cada pessoa um mundo uma miniatura,
um “microcosmo”, que era reflexo do “macrocosmo”. Isto levou à idéia de um direito
universalmente válido, o assim chamado direito natural. O direito natural baseia-se na razão
atemporal do homem e do universo e, por isso mesmo, não se modifica no tempo e no espaço.
Nesse sentido, os estóicos colocam-se ao lado de Sócrates contra os sofistas. O direito natural
vale para todas as pessoas, inclusive para os escravos. Para os estóicos, as legislações dos
diferentes Estados não passavam de imitações imperfeitas de um direito cujas bases estavam na
própria natureza. Assim como apagavam a diferença entre o indivíduo e o universo, os estóicos
também negavam a oposição entre “espírito” e “matéria”. Para eles existia apenas uma natureza.
Chamamos tal concepção de monismo (em oposição, por exemplo, ao dualismo, à bipartição da
realidade, de Platão).
Além disso, os estóicos diziam que todos os processos naturais - por exemplo, a
enfermidade e a morte - eram regidos pelas constantes leis da natureza. Por esta razão, o homem
deveria aprender a aceitar o seu destino. Nada acontece por acaso, diziam os estóicos. Tudo
acontece porque tem de acontecer e de nada adianta alguém lamentar a sorte quando o destino
bate à sua porta. Também as coisas felizes da vida devem ser aceitas pelo homem com grande
tranqüilidade. Vemos aqui a proximidade dos estóicos com os cínicos, que viam com total
indiferença todos esses eventos exteriores. Ainda hoje falamos de uma “tranqüilidade estóica”
quando queremos nos referir a uma pessoa que não se deixa inflamar por seus sentimentos.
OS EPICUREUS
Conta-se que os epicureus reuniam-se num jardim. Por esta razão, também eram
chamados de “filósofos do jardim”. Dizem também que sobre o portão de entrada do jardim havia
a seguinte inscrição: “Forasteiro, aqui te sentirás bem. Aqui, o bem supremo é o prazer”.
Epicuro ensinava que o resultado prazeroso de uma ação sempre deve ser ponderado
em relação a seus eventuais efeitos colaterais. (Exemplifiquemos: Se você já comeu demais,
então você entende o que Epicuro quis dizer. Se não, vou lhe propor uma tarefa: pegue todas as
suas economias e gaste cem reais em alimento). O importante nesta tarefa é que você coma todo
o alimento de uma só vez. Mais ou menos meia hora depois de ter comido tudo, você vai entender
o que Epicuro queria dizer quando falava em “efeitos colaterais”.
Epicuro também achava que o resultado prazeroso de curto prazo devia ser ponderado
em relação a um prazer maior, mais duradouro e mais intenso, a ser obtido a longo prazo.
(podemos imaginar, por exemplo, que durante todo um ano você prefira economizar seu salário
para comprar uma televisão nova, ou então para fazer uma viagem de férias do que fumar várias
carteiras de cigarros por dia). Diferentemente dos animais, o homem tem a possibilidade de
planejar a sua vida. Ele possui a capacidade de “calcular o seu prazer”. Um suculento churrasco,
ou fumar cigarros é, sem dúvida, um valor, mas a televisão nova ou a viagem também o são.
Epicuro fazia questão de enfatizar, porém, que “prazer” não significa necessariamente
satisfação dos sentidos (por exemplo, comer um churrasco). A amizade ou a sensação vivenciada
ao se admirar uma obra de arte também podem ser muito prazerosas. Além disso, outros
pressupostos para o prazer da vida são os velhos ideais gregos do autocontrole, da temperança
e da serenidade. Isto porque o desejo precisa ser controlado. Assim, a serenidade também nos
ajuda a suportar a dor.
“Por que ter medo da morte?”, perguntava Epicuro. “Enquanto somos, a morte não existe,
e quando ela passa a existir, nós deixamos de ser”.
O próprio Epicuro resumia sua filosofia libertadora naquilo que ele chamava de quatro
remédios: “Não precisamos temer os deuses. Não precisamos nos preocupar com a morte. É fácil
alcançar o bem. É fácil suportar o que nos amedronta”.
O NEOPLATONISMO
A teoria das idéias de Platão estabelecia uma diferença entre o mundo das idéias e o
mundo dos sentidos. Assim, Platão distinguia claramente entre a alma do homem e o seu corpo.
Deste ponto de vista, o homem era uma criatura dual: para Platão, nosso corpo se constitui de
terra e pó, como tudo o mais do mundo dos sentidos, mas nós também possuímos uma alma
imortal. Muito antes de Platão essa noção já era bastante difundida na Grécia. Além dela, Plotino
conhecia também concepções asiáticas semelhantes.
Plotino via o mundo como algo distendido entre dois pólos. Numa extremidade estava a
luz divina, que ele chamava de o Uno. Às vezes ele também a chamava de Deus. Na outra
extremidade reinavam trevas absolutas, que não eram banhadas pela luz do Uno. Mas Plotino
achava que essas trevas de fato não tinham uma existência concreta. Para ele, elas nada mais
eram do que a ausência de luz. Ou seja, as trevas não são. A única coisa que existe para ele é
Deus, ou o Uno. Mas assim como uma fonte de luz pouco a pouco se perde na escuridão, também
podemos imaginar um lugar aonde os raios divinos não são capazes de chegar.
De acordo com Plotino, portanto, a luz do Uno ilumina a alma, ao passo que a matéria
são as trevas, que não possuem, segundo ele, um tênue reflexo do Uno. Imaginemos uma enorme
fogueira crepitando no meio da noite. Do meio do fogo saltam centelhas em todas as direções.
Num amplo círculo ao redor do fogo a noite é iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda
é possível ver o leve brilho dessa fogueira. À medida que nos afastamos, a fogueira vai se
transformando num minúsculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite. E se nos
afastarmos mais ainda, chegaremos a um ponto em que a luz do fogo não mais consegue nos
alcançar.
Em algum lugar os raios luminosos se perdem na noite e se estiver muito escuro não
vamos enxergar nada. Nesse momento, contornos e sombras deixam de existir. Agora
imaginemos a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é Deus - e as trevas lá
fora são a matéria fria, da qual são feitos homens e animais. Junto a Deus estão as idéias eternas,
que são as formas primordiais de todas as criaturas. Sobretudo a alma humana é uma “centelha
de fogo”. Mas por toda a parte na natureza aparece um pouco desta luz divina. Podemos vê-la em
todos os seres vivos; sim, até mesmo uma rosa ou uma campânula possuem um brilho divino. No
ponto mais distante do Deus vivo estão a terra, a água e as pedras.
Para Plotino, tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino. Podemos ver o brilho
desta alguma coisa num girassol ou numa papoula. Percebemos um pouco mais deste insondável
mistério numa borboleta que pousou num galho, ou num peixinho dourado que nada no aquário.
Mas o ponto mais próximo em que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma. Só
lá é que podemos nos re-unir com o grande mistério da vida. De fato, em alguns raros momentos
podemos sentir que somos, nós mesmos, este mistério divino.
As imagens que Plotino usa lembram a alegoria da caverna de Platão: quanto mais nos
aproximamos da entrada da caverna, mais perto estamos daquilo de onde provém tudo o que
existe. Mas em oposição à nítida divisão da realidade em duas partes estabelecida por Platão, a
doutrina de Plotino nos convida a vivenciar a plenitude. Tudo é um, pois tudo é Deus. Até mesmo
as sombras lá embaixo, na caverna de Platão, têm um tênue reflexo dessa “Unidade”.
Em alguns momentos de sua vida Plotino experimentou a sensação de fundir sua alma
com Deus. Plotino não foi o único a viver tal experiência. Pessoas de todas as culturas, em todos
os tempos têm relatado experiências semelhantes. Uma experiência mística significa sentir-se um
só com Deus ou com a “alma do universo”. Em muitas religiões, diz-se que há um abismo entre
Deus e sua criação. O místico, porém, não conhece este abismo. Os místicos afirmam que o
nosso “eu” em poucos e efêmeros momentos podemos experimentar a sensação de nos
identificarmos com um eu muito maior. Alguns místicos chamam este eu maior de Deus, outros de
“espírito cósmico”, outros de “natureza cósmica”, outros ainda de “universo”. Nessa identificação,
nessa fusão, o místico experimenta a sensação de “perder-se a si mesmo”: ele desaparece - ou
se perde - em Deus, como uma gota d’água “se perde” quando se mistura à água do mar. O místico
cristão Angelus Silesius (1624-1677) disse: “A pequena gota se transforma em mar quando
chega até ele; e assim a alma se transforma em Deus quando é nele acolhida”.
Pessoas de nossa época, que não pertencem à determinada religião, têm relatado
experiências místicas. De repente elas experimentam algo que chamam de “consciência cósmica”
ou “sentimento oceânico”: sentem-se como que arrancadas do tempo e experimentam o mundo
“da perspectiva da eternidade”.
A FILOSOFIA EM ROMA
O Cristianismo, apesar disso, não é uma filosofia, mas uma religião e, como religião,
transformou o pensamento do homem na consideração dos valores metafísicos.
Seu nome é devido à especulação dos Padres da Igreja nos primeiros séculos do
Cristianismo. É a fase que vai desde o I até o VIII século d.C. e pode dividir-se em três períodos:
Dentre eles, por sua obra, são importantes os apóstolos João e Paulo, que embora não
sendo filósofos no sentido rigoroso do termo, podem ser considerados os fundadores da filosofia
cristã.
Desse modo, a obra de Santo Agostinho marca a passagem do mundo antigo para a
Idade Média, prelúdio do mundo moderno. Do V ao VIII d.C., a Patrística entrou em declínio, por
isso, alguns historiadores consideram esse, um período de transição para a “Escolástica”. Dentre
os grandes representantes desta fase, há Boécio, como filósofo precursor da Escolástica.
AS HERESIAS
Não é possível que alguém peque para com outrem, assim como não é possível que um
redima o outro. O homem, único autor de sua queda, é também único autor de sua regeneração.
A redenção de Cristo não teve por objetivo cancelar um pecado coletivo e hereditário do gênero
humano. A finalidade da redenção seria apenas a de neutralizar, pelo bom exemplo do segundo
Adão, o mau exemplo do primeiro Adão. Assim como este arrastou o homem para a morte, pela
sua desobediência orgulhosa, assim também Jesus Cristo mostrou, com sua obediência humilde,
o caminho da ascensão espiritual ao Deus que tudo perdoa.Naturalista e racionalizante, mas
sempre profundamente religiosa, a doutrina pelagiana recusa ferozmente toda concepção do
pecado como causa da morte, bem como a de uma fraqueza moral herdada de uma falta primeira.
Concebe dessa forma a redenção, ensinando que o homem pode, em virtude tão-somente de seu
esforço pessoal, atingir a santidade perfeita.
Agostinho iniciou seus estudos na terra natal, mas com dezessete anos enviaram-no para
Cartago, onde completou os estudos superiores. Levado por sua índole impetuosa e pela
corrupção dos costumes, teve uma vida um tanto livre, que seria depois contada em suas
“Confissões”.
Com a leitura do “Hortênsius”, um diálogo escrito de Cícero hoje perdido, era um elogio
da filosofia, que lhe abrira as portas do saber e foi arrastado à filosofia, iniciando assim sua longa
peregrinação intelectual em busca da verdade. Recusava a ler a Bíblia, oferecida insistentemente
pela mãe, pois as escrituras sagradas pareciam-lhe vulgares e indignas de um homem culto.
Professou primeiro o Maniqueísmo, que afirmava a existência de dois princípios absolutos: o bem
e o mal, a luz e as trevas. Logo depois, decepcionado com essa doutrina, por não lhe responder
as indagações intelectuais, referentes aos problemas da existência, viajou para Roma para
lecionar retórica. Conheceu logo depois os discípulos de Plotino (205-270), adeptos do platonismo,
mas na sua versão mística. O neoplatonismo viria a ser a ponte que permitiria a Agostinho dar o
grande passo para auxiliar a fé cristã, defendendo-a com argumentos racionais, estabelecendo a
estrutura da filosofia e teologia cristã.
Estando em Milão no ano de 386, ouviu os sermões de Santo Ambrósio (340?-397), bispo
de Milão, que lhe respondeu a todos os problemas que o inquietavam. Neste mesmo ano, estando
no jardim de sua residência, ouviu uma voz que o penetraria definitivamente na nova fé, era um
canto infantil que repetia diversas vezes: “Tolle, lege, Toma e Lê”, que o levou ao encontro da
palavra de Paulo de Tarso escrita nos manuscritos dos Atos dos Apóstolos (Romanos 13, 13-14),
que assim exortava: “Não caminheis em glutonarias e em embriaguez, não nos prazeres impuros
do leito e em leviandades, não em contendas e emulações, mas revesti-vos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, e não cuideis da carne com demasiados desejos”.
O fim de sua vida chegaria junto com a invasão dos vândalos, que, depois da devastação
da Espanha, penetraram na África e sitiaram Hipona. Pouco depois de a cidade ser incendiada
pelos bárbaros, Agostinho adoeceu. Morreu no dia 23 de agosto de 430. Despedia-se assim da
“cidade dos homens”, que considerava pecaminosa e em trevas, e penetrava na “Cidade de Deus”.
Deixava, no entanto, uma obra de pensamento que reinaria no Ocidente cristão durante
pelo menos sete séculos, até que outras cabeças pensassem a nova fé em termos filosóficos
diferentes.
Nos primeiros séculos da era cristã, a Igreja católica, jovem em termos históricos, procura,
se assim podemos exprimir, a sua identidade filosófica, a ser sobreposta ao ensinamento antes
moral e social dos Evangelhos. É o tempo, também, da propagação algo desordenada da nova fé,
a partir de numerosos focos de irradiação, nem sempre ideologicamente concordante.
Esquematizando e simplificando o quadro, é o tempo, ainda, da valorização das conversões, da
descoberta da nova verdade, depois do da valorização dos mártires, na dura luta inicial pela
sobrevivência e pelo reconhecimento. Em fase de expansão e de consolidação, a Igreja, na sua
ação exterior, prega; e no interior dos seus quadros busca preencher um certo vazio teórico,
filosófico, deixado pelos primeiros apóstolos - cujas preocupações eram mais práticas, mais
diretas e intelectualmente menos sofisticadas - definindo, aprofundando e unificando uma doutrina
universal.
A nova fé era uma religião revelada, e não uma filosofia. Cumpria, pois, criar esse corpo
de doutrina, e o instrumento disponível para tanto - maravilhosamente sofisticado, aliás - era a
tradição filosófica herdada da Grécia dos séculos 5 e 4 antes de Cristo, muito particularmente o
sistema de Platão, cuja natureza se adaptava ao estágio de evolução em que se encontrava o
cristianismo e à concretização dos seus objetivos. Nesse esforço de conciliação das verdades
reveladas com idéias filosóficas, empreendida pelos primeiros pensadores cristãos, Padres da
Igreja, produziu a chamada filosofia Patrística, que não chegou a formular sistemas completos de
filosofia cristã. Os primeiros Padres da Igreja limitaram-se a elaborações parciais de alguns
problemas apologéticos e teológicos. Em outros termos, o que se encontra na Patrística são
escritos de elogio ao cristianismo e tentativas de mostrá-lo como doutrina não-oposta às verdades
racionais do pensamento helênico, tão respeitado pelas autoridades romanas.
FÉ E RAZÃO
A filosofia é, assim, entendida não como disciplina teórica que coloca problemas à
estrutura do universo físico ou à natureza dos deuses, mas como uma indagação sobre a condição
humana à procura da beatitude, ou felicidade. A beatitude, no entanto, não foi encontrada por
Agostinho nos filósofos clássicos que conhecera na juventude, mas nas Sagradas Escrituras,
quando iluminado pelas palavras de Paulo de Tarso. Não foi fruto de procedimento intelectual,
mas ato de intuição e de fé.
Impunha-se, portanto, conciliar as duas ordens de coisas e com isso Agostinho retorna à
questão principal da Patrística, ou seja, ao problema das relações entre a razão e a fé, entre o que
se sabe pela convicção interior e o que se demonstra racionalmente, entre a verdade revelada e
a verdade lógica, entre a religiosidade cristã e a filosofia pagã.
A TEORIA DO CONHECIMENTO
O primeiro problema filosófico, focalizado por Agostinho logo após a conversão, foi o dos
fundamentos do conhecimento, para o qual necessitava urgente de uma resposta racional. Para
os céticos da Nova Academia Platônica, o qual tivera rápido estágio, afirmavam que a fonte de
todo o conhecimento era a percepção sensível, na qual não se poderia encontrar qualquer
fundamento para a certeza, já que os sentidos forneciam dados variáveis e, portanto, imperfeitos.
Agostinho através de engenhosa argumentação reabilitaria os sentidos como fonte de verdade. O
erro - diz ele - provém dos juízos que se fazem sobre as sensações e não delas próprias. A
sensação enquanto tal jamais é falsa. Falso é querer ver nela a expressão de uma verdade externa
ao próprio sujeito. Essa concepção de homem provinha de Platão (428-348 a.C.) e foi conhecida
por Agostinho, através de Plotino. A ideia principal é a da transcendência hierárquica da alma
sobre o corpo. Presente em sua morada terrena, a alma teria funções ativas em relação ao corpo:
atenta a tudo o que se passa ao redor, nada deixa escapar à sua ação. Os órgãos sensoriais
sofreriam as ações dos objetos exteriores, mas com a alma isso não poderia acontecer, pois o
inferior não pode agir sobre o superior. Ela, no entanto, não deixaria passar despercebida as
modificações do corpo e, sem nada sofrer, tiraria de sua própria substância uma imagem
semelhante ao objeto. Entre as sensações, algumas se referem às necessidades e estados do
corpo, outras dizem respeito a coisas exteriores. Agostinho conclui, que existem dois tipos
inteiramente diferentes de conhecimento: o primeiro, limitado aos sentidos e referente aos objetos
exteriores ou suas imagens; o segundo, imutável e eterno, que é o conhecimento verdadeiro
recebido pelo homem pela iluminação divina.
Para explicar como é possível ao homem receber de Deus o conhecimento das verdades
eternas, Agostinho elabora a doutrina da iluminação divina. Trata-se de uma metáfora recebida de
Platão, que na célebre alegoria da caverna mostra ser o conhecimento, em última instância, o
resultado do bem, considerado como um sol que ilumina o mundo inteligível. Não obstante as
evidentes ligações entre os dois pensadores, Agostinho afasta-se, porém, de Platão ao entender
a percepção da alma não como descoberta de uma reminiscência de um conteúdo passado, mas
como irradiação divina no presente.
A alma não passaria por uma existência anterior, na qual contempla as ideias: ao
contrário, existiria uma luz eterna da razão que procede de Deus e atuaria a todo o momento,
possibilitando o conhecimento das verdades eternas. Assim como os objetos exteriores só podem
ser vistos quando iluminados pela luz do Sol, também as verdades da sabedoria precisariam ser
iluminadas pela luz divina para se tornarem inteligíveis. A teoria agostiniana estabelece, assim,
que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um processo de iluminação divina, que
possibilita ao homem contemplar as ideias, arquétipos eternos de toda a realidade.
Agostinho concebe a unidade divina não como vazia e inerte, mas como plena, viva e
guardando dentro de si a multiplicidade. Deus compreende três pessoas iguais e consubstanciais:
Pai, Filho e Espírito Santo. O Pai é a essência divina em sua insondável profundidade; o Filho é o
verbo, a razão ou a verdade, através da qual Deus se manifesta; o Espírito Santo é o amor,
mediante o qual Deus dá nascimento a todos os seres.
A teoria da criação do mundo manifesta claramente a originalidade do pensamento cristão
diante da filosofia helênica. Os gregos sempre conceberam o mundo como eterno e Deus, para
eles, seria o artífice que trabalha um material incriado e é capaz de dar forma ao que sempre
existiu e sempre existirá. Deus criaria apenas a ordem, transformando em cosmo o caos originário.
Muito diferente é a concepção cristã formulada por Agostinho, para quem Deus, por sua própria
essência trina, é criador de todos os seres, a partir de nada além dele e como consequência
apenas de seu amor infinito. Deus Não seria um artista que dá forma a uma certa matéria; seria o
criador de todas as formas e todas as matérias.
Por isso, os quatro primeiros séculos da Idade Média são obscuros e ambíguos e
historiadores há que julgam esse período como a fase de decadência da Patrística, outros
consideram-no, o período de transição da Escolástica.
De qualquer modo este foi um período em que não houve filosofia propriamente dita, mas
houve a preocupação de salvar os restos da cultura que estava sendo arruinada pelas hordas dos
visigodos, suevos, ostrogodos, francos e principalmente pelos vândalos.
O grande trabalho dos intelectuais dos primeiros séculos medievais, portanto, não foi
criador, mas compilador. E este trabalho se deve principalmente aos monges, que recolheram em
seus conventos muitos manuscritos antigos, que encerravam as sabedorias dos séculos
anteriores.
A grande Era Medieval, pois, no que concerne à filosofia, pode ser considerada em quatro
períodos:
1O. PERÍODO - TRANSIÇÃO: Como já vimos, é um período ambíguo que vai desde o fim
da Patrística até o século IX. Apesar de não ter havido filosofia na expressão do termo, este
período se caracteriza pelo recolhimento e compilação da doutrina filosófica anterior.
2o. PERÍODO - FORMAÇÃO: Inicia-se no século IX d.C. e se estende até o século XII,
compreendendo duas correntes filosóficas: a cristã e a dos filósofos orientais, árabes e judeus. É
nesse período que se inicia propriamente a Filosofia Escolástica, pois seu nome provém da
doutrina ensinada nas escolas e estas se difundiram com a renascença carolíngia.
3o. PERÍODO - APOGEU: Corresponde ao século XIII, o século clássico da Idade Média
e um dos mais importantes da história da filosofia. A filosofia escolástica cristã, a filosofia árabe e
a judaica, mais o aristotelismo passaram a ser as grandes fontes da Escolástica no período de
Apogeu. É um período de esplendor em todas as manifestações humanas: na arquitetura, erigem-
se as grandes catedrais góticas.
AS ORDENS MENDICANTES
Após grandes polêmicas com os seculares, conseguem estes padres algumas cátedras
na Universidade de Paris e acabam depois dominando o ambiente universitário.
O ARISTOTELISMO
4o. PERÍODO - DECADÊNCIA: Os séculos XIV e XV, que sucederam ao período clássico
da filosofia medieval, representam a decadência da Escolástica. Muitas são as causas que
contribuíram para essa dissolução: as guerras entre franceses e ingleses, a terrível peste de
meados do século XIV; as dissensões entre os reis e a Igreja, tudo isso perturbou a paz, não
havendo condições sociais favoráveis para os estudos.
Assim, no campo da filosofia o século XIII se nos apresenta como uma época de geniais
sínteses filosóficas, os dois séculos seguintes apresentam a caráter fundamental do criticismo. E
como resultado desse espírito crítico, começou a manifestar-se a separação da filosofia e da
teologia.
Apesar dessa decadência, não se deve crer que a Escolástica terminou no século XIV ou
XV, ela perdura até hoje, como no Brasil, através de neotomistas como Leonel França e Tristão
de Ataíde.
“Tudo está sujeito à lei de causa e efeito. Há, pois, uma série de causas
eficientes, mas deve haver uma primeira causa, porque se não houvesse, não
haveria nenhum efeito. Essa “causa primeira” é Deus.” São Tomás de
Aquino
Nessa mesma cidade, em 1243, apesar da oposição da família ingressou na ordem dos
domicanos. No ano seguinte transferiu-se para Paris, onde foi discípulo de Alberto Magno.
Estudou teologia, recebendo juntamente com São Boaventura o título de Mestre. Durante alguns
anos lecionou em Paris, mas sua fama espalhou-se pela Europa e teve que lecionar em outros
grandes centros de cultura. Passados alguns anos, foi residir em Nápoles. Em 1274, convocado
pelo Papa Gregório X, para assistir ao segundo concílio de Lião, adoeceu em viagem, vindo a
falecer em Fossanova, com 49 anos. Por sua vida espiritual imaculada, e pela profunda bondade,
conferiram-lhe o título de Doutor Angélico ou o Anjo das Escolas.
O TOMISMO
FILOSOFIA E TEOLOGIA
Tomás de Aquino apresentou a solução definitiva do problema das relações entre a razão
e a fé. Trata-se de duas ciências, a filosofia e a teologia; a primeira funda-se no exercício da razão
humana; a segunda na revelação divina. São duas ciências independentes, mas que apresentam
às vezes o objeto material comum; a existência de Deus; a essência da alma, etc. A distinção
entre essas ciências deriva mais do objeto formal, pois a teologia estuda o dogma pelo método de
autoridade ou revelação, ao passo que a filosofia o considera por demonstração científica ou pela
razão.
Teologia e filosofia não se contradizem, ambas procuram a verdade e esta é uma só. A
revelação é critério da verdade. No caso de uma contradição entre a razão e a revelação, o erro
não será nunca da teologia, mas deve ser atribuído à filosofia, pois nossas limitações cognoscitivas
racionais se extraviaram e não conseguiram chegar à verdade.
TEODICÉIA
Segundo Tomás de Aquino, definir Deus como ser perfeito ainda não implica a sua
existência: a definição é uma ideia, e nada assegura que uma ideia possa existir, de fato, na
realidade.
O ponto de partida, então, é o mundo sensível, cuja existência é dada pelos sentidos.
Estes indicam que o mundo é dotado de movimento. Mas, segundo Aristóteles, nada se move por
si. A causa do movimento deve ser causada e, se não se quiser estender a série das causas ao
infinito (o que não explicaria o movimento presente), é preciso admitir uma causa absolutamente
imóvel e primeira: Deus. O mesmo raciocínio vale para a causa em geral: as coisas são ou causa
ou efeito de outras, não sendo possível serem causa e efeito ao mesmo tempo. Deve haver, então,
ou uma sucessão infinita de causas - o que é absurdo -, ou uma causa absolutamente primeira e
não causada. Os dados dos sentidos também mostram que as coisas existem e perecem. Isto
significa que a sua existência não lhes é necessária, essencial, mas apenas uma possibilidade
contingente. Por isso, a existência depende de uma causa, exatamente aquela que tenha a
existência como sua essência, uma existência necessária.
Além disso, o mundo apresenta uma série de seres mais ou menos perfeitos e que são
comparados entre si de maneira relativa. Mas, como saber o que é mais perfeito do que outro, se
não houvesse um padrão a partir do qual se pudesse medir os graus de perfeição? A hierarquia
das coisas relativas depende então de um ser que seja a medida absoluta e eterna da perfeição.
Por fim, essa hierarquia apresenta-se como uma ordem, em que cada ser cumpre sua finalidade:
e os seres vivos reproduzem-se constantemente, e os corpos sempre buscam o seu lugar natural,
mesmo que disso não tenha conhecimento. Se a finalidade de cada ser é assim atingida, mesmo
que inconscientemente, deve haver uma Inteligência, que conheça e organize o mundo de acordo
com a sua finalidade.
Desse modo, a razão, por vários meios, atinge o conhecimento da existência de Deus. A
razão que demonstra e a fé que revela estão, por isso, em acordo, sem que entre elas haja
contradição: ambos são modos diferentes pelos quais se manifesta a mesma e a única Verdade.
Nesta parte de seu sistema, Tomás de Aquino revela seu gênio sintético ao demonstrar
a existência de Deus, de cinco modos, que são as famosas cinco vias, que assim resumimos:
2o. - A da “Concatenação das Causas” - Tudo está sujeito à lei de causa e efeito. Há, pois,
uma série de causas eficientes, mas deve haver uma primeira causa, porque se não houvesse,
não haveria nenhum efeito. Essa “causa primeira” é Deus.
3a. - A da “Contingência” - há entes que podem ser ou não ser; houve um tempo em que
esses entes não foram, e terá havido um tempo em que não havia nada e “nada” não poderia ter
chegado a ser. Portanto, há um ser necessário, eterno, não contingente - é Deus.
4o. - A dos “Graus de Perfeição” - Todas as perfeições admitem graus, que se aproximam
mais ou menos das perfeições absolutas. Deve, pois, haver um ente sumamente perfeito, é o ente
supremo - Deus.
5a. - A da “Ordem Universal” - Todos os entes tendem para uma ordem, não por acaso,
mas por uma inteligência que os dirige; há, pois, um ente inteligente que ordena a natureza e a
impele para o seu fim. Esse ente inteligente é Deus.
Desses conceitos, Tomas de Aquino conclui quanto podemos conhecer sobre a natureza
e os atributos de Deus. Observa, porém, que esse conhecimento é imperfeito; sabemos que “Deus
é”, mas não “o que é”. Apesar disso, podemos compreender que Deus é eterno, infinito, onisciente,
onipotente e em suas relações com o mundo é Criador e Providência.
A ALMA
A doutrina tomista admite que a alma, princípio espiritual, junta-se ao corpo, princípio
material, constituindo um composto substancial. Assim, tem uma alma as plantas, é a “alma
vegetativa”, com as funções de alimentação e reprodução; os animais, é a “alma sensitiva”, com
as funções anteriores, mais a sensação e mobilidade; finalmente o homem com todas as funções
anteriores, mais a racional.
No concernente às propriedades da alma humana, admite o livre arbítrio, que é estudado
sob todos os seus aspectos e todos os problemas dele derivados são resolvidos com firmeza e
profundidade. Tomás de Aquino considera ainda a inteligência como a faculdade mais perfeita de
nossa alma. Com essa doutrina se afasta da tradição escolástica, emanada de S. Agostinho.
MORAL
Com sua ética também harmoniza a doutrina de Aristóteles aos princípios cristãos. Assim,
a ética é o “movimento da criatura racional para Deus”. Esse movimento visa a uma bem-
aventurança, que consiste na contemplação imediata de Deus.
TEORIA DO CONHECIMENTO
O Santo Tomás de Aquino foi o maior gênio da Escolástica. Criou um sistema filosófico
sintético, coerente, fundamentado em Aristóteles, que reformulou todo o pensamento cristão, e
que pode ser considerado precursor de toda a filosofia moderna.
Logo depois da morte de Tomás de Aquino, sua doutrina foi criticada e algumas de suas
preposições foram condenadas oficialmente. Mas o Tomismo ainda hoje, está florescente. A
“Summa Theologica”, obra-prima de Tomás, grande exposição sistemática do seu pensamento e
que constitui o coroamento de toda a Escolástica, deu à teologia uma estrutura sistemática, precisa
e rigorosa. Infelizmente se acha incompleta, pois, a morte o surpreendeu quando redigia ainda a
terceira e última parte da Suma. Foi traduzida para o português em 30 volumes.
Tomás de Aquino foi canonizado em 1323, e até hoje, todos, leigos e religiosos,
reconhecem a genialidade do Doutor Angélico.
Religiosa
Científica Política
HUMANISMO E
Tecnológica RENASCIMENTO Econômica
Cultural Social
Filosófica
A vida cultural foi marcada pelo despertar da literatura clássica e pela manifestação
artística da beleza, da harmonia, e do equilíbrio de linhas das obras de arte dos gregos e romanos.
É adotada e valorizada a língua natal de cada região em detrimento do latim.
O declínio da Igreja Católica que monopolizava a vida cultural e religiosa medieval, deu-
se pela degeneração do alto clero, que vivia num ambiente de luxo divorciados da doutrina original
do Cristo, acrescidos ainda, pela vergonhosa venda de indulgências e de cargos religiosos, o que
provocou o surgimento da Reforma Protestante.
Essa efervescência, nos mais variados campos da atividade humana, deu origem ao
“Humanismo” e a “Renascença”.
HUMANISMO
RENASCIMENTO
O traço mais marcante do Renascimento foi seu profundo racionalismo. Tal perspectiva
somente poderia ter surgido no quadro da sociedade burguesa, cujo objetivo era o domínio mais
completo possível da natureza, numa atitude que seria mais tarde chamada de científica, a fim de
ampliar seus lucros de mercado.
É óbvio, porém, que entre as maravilhas da natureza criada por Deus, o homem é a obra-
prima da criação. Por isso é preciso colocá-lo no centro das preocupações, com suas
necessidades sociais, políticas, religiosas e angústias existenciais. Nasce assim o
antropocentrismo, que nada tem a ver com ateísmo, pois considera o homem a manifestação
mais perfeita da obra de Deus.
Ao lado das influências nas artes e na literatura, renasceu a influência das “Ideias” no
campo filosófico e muitos sistemas da filosofia antiga reapareceram.
Ele queria persuadir seus contemporâneos de que a prática de governar só pode ser
julgada em relação à finalidade buscada por seus praticantes. Esta é na verdade o sentido da
famosa frase, mal compreendida até hoje. “Os fins justificam os meios”. O primeiro princípio do
governo é a consolidação do poder e, por isso, o bom desempenho dos governantes só pode ser
avaliado por sua força política. Maquiavel não diz que os governantes devam ser tirânicos. Ao
contrário, recomenda que devem evitar tudo que os tornassem odiado ou desprezado, e que
mantivessem a disposição de fazer todo o necessário pela “busca da glória civil”. As
recomendações de Maquiavel na verdade, demonstram que seu pensamento é precursor do
liberalismo moderno e que escreve com paixão sobre a constituição e a liberdade.
“Um dia naves celestiais irão viajar adaptadas aos ventos dos céus,
navegando no céu, cheias de exploradores
que não temerão a vastidão do espaço”
Johannes Kepler
Estudiosos dos séculos XVI e XVII, como os astrônomos Galileu e Kepler, não
esperaram que os métodos de suas ciências fossem estabelecidos, para chegar a surpreendentes
descobertas. A prática se antecipou à teoria e a ciência precedeu à própria metodologia científica,
assim, a Ciência Moderna foi inaugurada.
Desse modo podemos dizer que desde Copérnico até Newton elaborou-se a nova física,
que chegou como um admirável corpo de doutrina até os nossos dias, em que sofreu outra radical
transformação às mãos de Einstein, que formulou a sua teoria da relatividade; de Planck,
fundador da mecânica quântica e dos físicos que estabeleceram as bases da mecânica ondulatória
(Heisenberg, Schrödinger, Broglie, Dirac) e a física nuclear (Hahn, Fermi, Oppernheimer).
“Mas o que sou eu, portanto? Uma coisa que pensa. Que é uma coisa que pensa? É uma coisa que
duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que imagina também e que sente”.
DESCARTES: Meditações
A ORIGEM DO CONHECIMENTO
Mas o nosso juízo apresenta um elemento que não está contido na experiência. O nosso
juízo não diz somente que o sol ilumina a pedra e que esta se aquece mas também afirma que
entre estes dois processos existe uma relação íntima, uma relação causal. A experiência revela-
nos que um processo segue o outro. Nós acrescentamos a ideia de que um processo resulta de
outro, é causado por outro. O juízo “o sol aquece a pedra” apresenta deste modo dois elementos,
dos quais um procede da experiência e o outro do pensamento. Agora cabe perguntar: qual destes
dois fatores é decisivo? A consciência cognoscente apoia-se de preferência, ou mesmo
exclusivamente, na experiência ou no pensamento? De qual das duas fontes de conhecimento tira
ela os seus conteúdos? Onde reside a origem do conhecimento? Estas questões têm separado
pensadores na maior parte das vezes na história da filosofia. Quem, por exemplo, veja no
pensamento humano, na razão, a única base do conhecimento, estará convencido da
especificidade e autonomia do pensamento. Inversamente, aquele que fundamenta todo o
conhecimento na experiência, negará a autonomia do pensamento.
O RACIONALISMO
Pelo contrário, sucede uma coisa muito diferente com o juízo “todos os corpos são
pesados”, ou no juízo “a água ferve a 100 graus”. Neste caso só podemos ajuizar que é assim,
mas não que tem de ser assim. É perfeitamente concebível que a água ferva a uma temperatura
inferior ou superior; e também não significa uma contradição interna representar-se um corpo que
não possua peso, pois a nota do peso não está contida no conceito de corpo.
Estes juízos não têm, pois, necessidade lógica. E mesmo assim falta-lhes a rigorosa
validade universal.
Podemos julgar unicamente que a água ferve a 100 graus e que os corpos são pesados,
até onde podemos comprová-lo. Estes juízos só são válidos, pois, dentro de limites determinados.
A razão disto é que, nestes juízos, encontramo-nos limitados à experiência. Isto não acontece nos
juízos primeiramente citados. Formulamos o juízo “todos os corpos são extensos” representando
o conceito de corpo e descobrindo nele a nota de extensão.
Este juízo não se funda, pois, em qualquer experiência, mas sim no pensamento. Daqui
resulta, portanto, que os juízos fundados no pensamento, os juízos que procedem da razão,
possuem necessidade lógica e validade universal; os outros, pelo contrário, não a possuem. Todo
o verdadeiro conhecimento se funda deste modo - assim conclui o racionalismo -, no pensamento.
Este é, por conseguinte, a verdadeira fonte e base do conhecimento humano.
Alcançou muito maior importância na Idade Moderna uma outra forma de racionalismo.
Encontramo-la no fundador da filosofia moderna, Descartes, e no seu continuador Leibniz. É a
teoria das ideias inatas. Segundo ela, são-nos inatos certos números de conceitos, justamente os
mais importantes, os conceitos fundamentais do conhecimento.
O EMPIRISMO
Enquanto que o racionalismo se deixa levar por uma ideia determinada, por uma ideia de
conhecimento, o empirismo parte dos fatos concretos. Para justificar a sua posição, recorre à
evolução do pensamento e do conhecimento humanos. Esta evolução prova, na opinião do
empirismo, a alta importância da experiência na produção do conhecimento. A criança começa
por ter percepções concretas. Com base nessas percepções chega, paulatinamente, a formar
representações gerais e concretas. Estes nascem, por conseguinte, organicamente da
experiência. Não se encontra nada semelhante a esses conceitos que existem completos no
espírito ou se formam com total independência da experiência. A experiência apresenta-se, pois,
como a única fonte do conhecimento.
CONCLUSÃO CRÍTICA
O mérito do racionalismo consiste em ter visto e feito sobressair com energia o significado
do fator racional no conhecimento humano. Mas é exclusivista ao fazer do pensamento a fonte
única ou própria do conhecimento. Este ideal é exclusivista, pois é tirado de uma forma
determinada do conhecimento, do conhecimento matemático. Outra crítica ao racionalismo
consiste em respirar o espírito do dogmatismo (doutrina fixada). Julga poder penetrar na esfera
metafísica pelo caminho do pensamento puramente conceitual. Deriva de princípios formais,
proposições materiais; deduz, de meros conceitos, conhecimentos. (pense-se na intenção de
derivar do conceito de Deus a sua existência; ou de definir, partindo do conceito de substância, a
essência da alma). Justamente este espírito dogmático do racionalismo provocou mais do que
uma vez o seu antípoda, o empirismo.
A DÚVIDA METÓDICA
Essa declaração revela que a dúvida cartesiana era metódica, isto é, uma suposição,
mera ficção, que tinha em mira a busca da verdade, e não uma dúvida verdadeira, universal, que
nos leva ao ceticismo. Para chegar à verdade, porém, era preciso partir de uma evidência
irrefutável, de acordo com as regras do método que Descartes estabeleceu para sua filosofia.
AS REGRAS DO MÉTODO
Descartes, depois de criticar a lógica, a análise dos antigos e a álgebra dos modernos,
pensou que “era preciso buscar qualquer outro método que, compreendendo as vantagens desses
três, fosse isento de seus defeitos”. E assim estabeleceu os quatro famosos princípios cartesianos:
Princípio da Evidência. “O primeiro era não receber nunca coisa alguma como
verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, evitar cuidadosamente a
precipitação e a prevenção e não compreender nada em meus juízos além do que se patenteasse
tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida”.
Princípio da Análise. “O segundo, dividir cada uma das dificuldades que eu houvesse
de examinar em tantas parcelas, quantas pudessem ser e fossem exigidas para resolvê-las
melhor”.
Princípio da Enumeração. “E o último, fazer por toda parte enumerações tão completas
e revisões tão geniais, que eu ficasse certo de nada omitir”.
Descartes não limitava a palavra “pensamento” à ordem intelectual pura, mas com ela
procura manifestar todos os fenômenos subjetivos de que temos consciência, quer se refiram à
inteligência, à vontade ou à sensibilidade. Pela palavra “pensar”, diz ele, “entendo tudo aquilo que
se faz em nós, de tal sorte que o percebemos imediatamente por nós mesmos”.
O PROGRESSO DO INTELECTO
Abrindo o livro seguinte de Espinoza, este explica por que abandonou tudo pela filosofia
e reconhece que só o conhecimento, é poder e liberdade; e a única felicidade permanente é a
busca do conhecimento e a alegria da compreensão, enquanto isso, no entanto, o filósofo deve
continuar sendo um homem e um cidadão. Espinoza expõe uma simples regra de conduta para o
modo de vida durante a busca da verdade, que, ao que sabemos, seguiu meticulosamente:
1. Falar de maneira compreensível ao povo e fazer por ele tudo aquilo que não nos
impeça de atingir os nossos fins(...).
2. Gozar apenas daqueles prazeres que sejam necessários à preservação da saúde.
3. Por fim, procurar apenas dinheiro (...) necessário à manutenção de nossa vida e de
nossa saúde, e agir de acordo com costumes que sejam contrários àquilo que
procuramos.
Nesta obra - que se apresenta no subtítulo como “caminho pelo qual melhor se dirige ao
verdadeiro conhecimento das coisas” - aponta o verdadeiro conhecimento, o conhecimento pela
causa. Espinosa mostra que conhecer pela causa significa descobrir o modo pelo qual algo é
produzido, sendo, portanto, um processo genético.
A ÉTICA
LEIBNIZ (1646-1716)
Hoje, dando crédito a grandes matemáticos, dentre eles: Laplace e Biot, podemos afirmar
que Newton o precedeu no idear o cálculo, mas Leibniz se adiantou não só em torná-lo público,
mas também deu-lhe maior perfeição e adaptou-o as aplicações práticas. Em 1700 funda em
Berlim, a Academia de Ciências Prussianas. Empenhou-se ativamente para a unificação das
igrejas cristãs, mas seu plano fracassou. Apesar de sua grande projeção internacional, morreu
obscuramente, quando vivia em solidão e quase esquecido em sua própria pátria.
A METAFÍSICA LEIBNIZIANA
Em Descartes, o ser era res cogitans ou res extensa. A res extensa era representada pelo
mundo, pela natureza, em sua aparente quietude. A idéia de força não ocupava o pensamento de
Descartes; era uma idéia que lhe parecia obscura, confusa, que não se poderia traduzir em
conceitos geométricos. O movimento consistia na mudança de posição de um móvel, em relação
a um ponto de referência. Os dois pontos eram intermutáveis: Tanto valia dizer que A se movia
em relação a B, como este em relação àquele. O que interessava à física era simplesmente a
mudança de posição. Descartes tem a convicção de que a quantidade de movimento permanece
constante (Descartes representava pela fórmula m.v (massa multiplicada pela velocidade). Mas
Leibniz demonstra que a constante é a força viva, e parece-lhe absurda a física estática,
geométrica. Um movimento não é simplesmente uma mudança de posição, tem que ser algo real,
produzido por uma força. Leibniz estabeleceu que a constante universal é 1/2 m.v² (metade da
massa multiplicada pelo quadrado da velocidade).Um objeto ao chocar-se com um outro força-o
a movimentar-se, revelando-se nesse choque uma força que produz o movimento. Este conceito
de força, impetus, conatus, vis, palavras latinas que significam: Choque, ímpeto, força,
respectivamente, é o que há de fundamental na física, e também na metafísica de Leibniz.
A ideia de natureza estática e inerte é substituída pela ideia dinâmica; de uma física da
energia; não geométrica. Não nos esqueçamos que desde a Grécia antiga, a natureza era o
princípio do Movimento.
O CÁLCULO INFINITESIMAL
Logo depois de seus ensaios primeiros para a definição mecânica do conatus (força),
Leibniz entrega-se à busca desses instrumentos matemáticos capazes de definir o infinitamente
pequeno, e assim chega à descoberta do seu cálculo, ao qual deu a forma que ainda hoje tem -
em essência - nas escolas, que é a divisão em cálculo integral e cálculo diferencial: O cálculo
diferencial é o que procura a formula exata do que distingue o ponto da reta do da curva; e o
cálculo integral é a formulação matemática que permite, na definição do ponto, ver já incluída a
direção que vai tomar; se reta, ou curva, ou elipse, ou outra qualquer. Finalmente, Leibniz
consegue estruturar esse novo ramo da matemática, que permite definir um ponto qualquer
determinado, não apenas enquanto cruzamento de duas retas, ou de duas curvas ou como
tangência - como na geometria de Descartes -, mas também, enquanto função de uma, duas ou
três variáveis, que faz com que o resultado matemático da função mostre previamente, isto é, a
priori, o percurso que o ponto vai seguir.
AS MÔNADAS
Com o cálculo infinitesimal, a força viva como definição de matéria, em perfeita união,
Leibniz constrói a sua metafísica, que dá como resultado a sua monadologia ou “Teoria das
Mônadas”. Os princípios do conhecimento formulados por Leibniz levaram-no a uma concepção
do mundo oposta à cartesiana. Enquanto Descartes formula uma concepção geométrica e
mecânica dos corpos, Leibniz constrói uma concepção dinâmica. A partir da noção de matéria
como essencialmente atividade, Leibniz chega à idéia de que o universo é composto por unidades
de força, as mônadas, noção fundamental de sua metafísica. Leibniz chega também à noção de
mônadas mediante a experiência interior que cada indivíduo tem de si mesmo e que o revela como
uma substância ao mesmo tempo una e indivisível.
A TEORIA DO CONHECIMENTO
O problema principal é o da origem das ideias. Leibniz toma posição entre as ideias inatas
de Descartes e o empirismo de Locke. Descartes sustentava que algumas ideias (de Deus,
princípios lógicos, princípios morais etc.) foram impressas em nós por Deus; Locke, ao contrário,
que todas as nossas ideias derivam da experiência externa (sensação) e da interna (reflexão).
Assumindo uma posição crítica com referência às duas teses extremas, Leibniz seleciona e
acomoda o conhecimento em dois grupos assim postos: Verdades de Fato e Verdades de Razão.
As Verdades de Fato são as que se referem a um acontecimento, a um fato. São incertas, por
isso são contingentes. As Verdades de Razão são as que afirmam que algo é de um certo modo,
e não pode ser senão desse modo, são Verdades Universais. As verdades matemáticas, as da
lógica pura, as de causalidade são verdades de razão. As verdades da experiência física, as
verdades históricas são verdades de fato.
“Nada existe na mente a não ser o que existiu primeiro nos sentidos”. John Locke
No século XVIII, a filosofia racionalista passou a ser exposto a uma crítica cada vez, mas
severa e mais profunda. Muitos filósofos passaram a defender, então, a opinião de que nossa
mente é totalmente vazia de conteúdo, enquanto não vivemos uma experiência sensorial. Esta
visão é chamada de empirismo. Os empíricos, ou filósofos da experiência, mais importantes foram
Locke, Berkeley e Hume, todos ingleses.
Mas Locke, ainda que fosse bom cristão, pronto a defender eloquentemente a
“Razoabilidade do Cristianismo”, não podia aceitar essas suposições. Proclamou, tranquilamente,
que todos os nossos conhecimentos vêm da experiência e através de nossos sentidos - que “nada
existe na mente a não ser o que existiu primeiro nos sentidos”. A mente é no nascimento uma folha
limpa, uma tabula rasa (uma lousa vazia), e as experiências sensoriais escrevem nela de mil
maneiras, até que as sensações produzem memória e a memória produz as ideias. Suas ideias
contêm uma severa crítica as ideias inatas de Descartes.
Em 1690, Lohn Locke, publica o seu livro mais importante chamado Um ensaio sobre o
entendimento humano, nele, Locke tenta explicar duas questões. Em primeiro lugar, ele pergunta
de onde os homens tiram os seus pensamentos e as suas noções. Em segundo, pergunta se
podemos confiar no que nossos sentidos nos dizem.
Locke está convencido de que todos os nossos pensamentos e todas as nossas noções
nada mais são do que um reflexo daquilo que um dia já sentimos ou percebemos através de
nossos sentidos. Locke compara a mente com uma sala em que não há um móvel sequer. Mas
então é a vez de os nossos sentidos entrarem em ação: podemos ver o mundo à nossa volta,
sentir o cheiro das coisas, seu gosto, podemos tocá-las e ouvi-las. E ninguém faz isto de forma
mais intensa do que as crianças. Surgem, assim, as ideias sensoriais simples. Só que a mente
não recebe passivamente essas impressões exteriores. Dentro da nossa mente também acontece
alguma coisa. As ideias sensoriais simples são retrabalhadas pela reflexão, pela crença e pela
dúvida. E os resultados disso segundo Locke são as ideias da reflexão. Isto porque a mente, a
consciência, não é um mero receptor passivo.
Podemos ter certeza de que aquilo que vemos e ouvimos, de que sentimos o cheiro e o
gosto, corresponde exatamente ao que sentimos? Esta é a segunda questão que Locke se propõe
a discutir. Primeiro ele explica de onde retiramos nossas ideias e noções. Em seguida ele pergunta
se o mundo é realmente do jeito que nós o percebemos.
Locke estabelece a diferença entre aquilo que chama de qualidade sensoriais “primarias”
e “secundárias”. Por qualidades sensoriais primárias Locke entende a extensão, peso, forma,
movimento e número das coisas. Com relação a essas propriedades, podemos estar certos de
que nossos sentidos reproduzem as verdadeiras propriedades das coisas.
Mas nós também percebemos outras características das coisas. Dizemos que uma coisa
é doce ou azeda, verde ou vermelha, quente ou fria. Locke chama isto de qualidades sensoriais
secundárias.
Tais impressões sensoriais, como as cores, o cheiro, o gosto ou os sons, por exemplo,
não reproduzem as características verdadeiras, presentes na coisa em si. Elas reproduzem
apenas o efeito que essas características exteriores exercem sobre os nossos sentidos. Podemos
estar de acordo sobre as propriedades primárias, como tamanho e peso, por exemplo, pois elas
são inerentes às coisas em si. Mas as propriedades secundárias, como cor e gosto, por exemplo,
podem variar de pessoa para pessoa, dependendo de como são constituídos os órgãos de
sentidos de cada indivíduo.
Locke afirma que, através dos sentidos, não conseguimos senão impressões simples.
Quando como uma maçã, por exemplo, posso “sentir” a maça inteira numa única e simples
sensação. Na verdade, estou recebendo toda uma série de impressões simples: uma coisa verde
ou vermelha, fresca, cheirosa, suculenta e de sabor levemente ácido. Só depois de já ter comido
muitas maças é que posso pensar que estou comendo “uma maça”. Locke diz que, neste
momento, conseguimos formar a noção complexa de uma maçã. Quando éramos pequenos e
comemos maça pela primeira vez, não possuíamos essa noção complexa. Mas víamos uma coisa
verde, sentíamos o gosto de uma coisa fresca, suculenta e também um pouco ácida. Aos poucos
vamos “amarrando” automaticamente muitas impressões sensoriais e formando conceitos como
“maça”, “pêra” e “laranja”.
No campo político, Locke expressou muito cedo pensamentos liberais que só floresceram
em sua plenitude durante o Iluminismo francês do século XVIII. Por exemplo, ele foi o primeiro a
propagar o princípio da divisão dos poderes. Locke chamou a atenção, sobretudo para o fato de
termos de separar o Poder Legislativo do Poder Executivo, se quisermos evitar a tirania. E ele foi
contemporâneo de Luís XIV (Rei da França), que reunia em suas mãos todo o poder e costumava
dizer “O Estado sou eu”. Dizemos que Luís XIV foi um governante “absoluto” e que “seu” Estado
era mais arbitrário do que de direito. Contrariando esta ideia, Locke achava que para se assegurar
um Estado de direito os representantes do povo tinham que promulgar leis que seriam depois
executadas pelo rei e pelo governo.
Mas teu café, a princípio, não é nada a não ser um conjunto de sensações de visão, olfato
e tato, depois, paladar e, em seguida, conforto e calor interno. Da mesma forma, o martelo é um
aglomerado de sensações de cor, tamanho, forma, peso, etc.; sua realidade não está para ti em
sua materialidade, mas sim nas sensações que vêm de teu polegar.
Se não tivesses sentidos, o martelo não existiria para ti; ele poderia martelar teu polegar
incessantemente e, no entanto, não receber de ti a menor atenção. Ele é apenas um amontoado
de sensações ou um amontoado de lembranças; é uma condição da mente. Toda a matéria, ao
que saibamos, é uma condição mental e a única realidade que conhecemos de imediato é a mente.
Isso é tudo sobre o materialismo.
Assim se formou a mentalidade dos “livres pensadores” do século XVIII, que surgiu na
Inglaterra e depois a França, a Alemanha e outros países da Europa. Essa mentalidade passou a
ser chamada “Iluminismo” por seu intento de iluminar, com as luzes da razão, o obscurantismo da
tradição. Cronologicamente costumam limitar o “Século das Luzes” entre a revolução inglesa de
1688 e a revolução francesa de 1789.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Não há talvez movimento mais vasto e complexo que aquele que recebeu o nome de
Iluminismo, assim chamado em antítese ao pretendido obscurantismo da Idade Média:
movimento cultural de propaganda e divulgação, de polêmica e crítica, impregnado de ardor
missionário de renovação. A estrutura política de toda a Europa é abalada; pressupostos
filosóficos e religiosos são destruídos; institutos medievais e ordenamentos eclesiásticos
demolidos. O Iluminismo colocou as bases da cultura e da sociedade contemporânea. O
Iluminismo é ao mesmo tempo, filho da nova ciência experimental - da qual são artífices, para as
doutrinas metodológicas, Galileu, Kepler e Newton - e do racionalismo cartesiano. A sua
concepção é que a ordem do mundo humano e a ordem do mundo natural se correspondem:
obedecem a leis mecânicas e fixas, que a razão tem o dever de descobrir com o fim de dominar o
mecanismo universal para o progresso e para o bem-estar da humanidade.
O rápido difundir-se do Iluminismo não se pode explicar sem levar em conta, por um lado,
a grande influência das ciências naturais, e, por outro, do cepticismo que, desde o fim do século
XVII, colocava em dúvida as verdades religiosas (católicas e protestantes) e morais da época. Os
Livres pensadores não acreditavam mais na verdade absoluta dos dogmas.
Sobre a base desta lei, os Iluministas estão certos em encontrar um princípio universal,
imutável e infalível, capaz de explicar e dominar qualquer forma de atividade humana. Galilei,
Descartes e Newton encontraram o método das ciências matemáticas e físicas. É preciso
encontrar um novo método das ciências econômicas, morais, religiosas etc.
O iluminismo, que é decisivamente pelo progresso e pela civilização, saneador dos males
que afligem a sociedade. O estado natural não é o estado de guerra (“O Homem é o lobo do
homem” - Hobbes), mas a condição de uma humanidade irmanada, reino da igualdade e da justiça
perfeita. O homem não é “caído” pelo pecado, consoante ensina a dogmática católica, mas é
decaído devido às más leis, à superstição religiosa, à astúcia dos frades, à rapacidade dos
príncipes. A sua decadência, portanto, é devida a causas humanas e históricas. O sobrenatural
não existe. A religião e a igreja, mas que serem vias da salvação, eram causa principal da passada
e presente miséria. Negada à Igreja a sua função de guia e salvadora das almas, de depositária
da Verdade que redime, salva e glorifica, conclui que a própria Igreja não tem mais razão de ser:
estorvo do passado, resto de uma superstição desmascarada.
ILUMINISMO NA INGLATERRA
a) Deísmo - O “Deísmo” afirma a existência de Deus como autor da natureza, mas nega
sua interferência posterior sobre o mundo, opondo-se ao “Teísmo”, que afirma a interferência
divina, a conservação e a providência. O homem com a supressão da revelação e da ordem
sobrenatural, devia procurar resolver seus problemas com sua própria razão natural. Os filósofos,
que se chamavam a si próprios “livres pensadores”, fugiam do ateísmo e do teísmo e acreditavam
na existência de uma “religião natural”.
O ILUMINISMO NA FRANÇA
VOLTAIRE (1694-1778)
MONTESQUIEU (1689-1755)
Tanto com suas obras de filosofia social (Considerado precursor das doutrinas
socialistas), como pedagógica, Rousseau revelou uma profunda reação sentimental contra a frieza
racional do Iluminismo e com esse modo de pensar e sentir muito contribuiu para o evanescimento
da filosofia do século XVIII, podendo ser considerado por isso mesmo precursor do Romantismo
e do Idealismo filosófico posterior.
OS ENCICLOPEDISTAS
Diderot foi encarregado da tradução, mas entusiasmado pela ideia, ampliou o projeto e
em vez de cuidar da tradução, organizou a Enciclopédia, exposição de todos os conhecimentos
contemporâneos. Para a parte científica, contou com a colaboração de D’Alembert. Ambos, por
sua vez, convidaram inúmeros outros colaboradores especializados nos diversos campos do
saber, filosofia, teologia, matemática, medicina, política, religião, artes, enfim, na universalidade
dos conhecimentos humanos. Desse modo, em 1751, aparecia o primeiro volume. A obra,
aplaudida pelos filósofos iluministas foi logo, porém criticada pelos jesuítas que descobriram o que
consideraram “as dez proposições heréticas, por isso condenaram o trabalho. Após a publicação
do segundo volume, o Conselho de Estado proibiu a venda e determinou ainda sua apreensão.
Entretanto, o empreendimento continuou, e de 1753 a 57 foram publicados cinco outros volumes.
Apesar da grande polêmica, até 1772 a Enciclopédia foi totalmente publicada abrangendo mais
de trinta volumes. Além de Diderot e D’Alembert, dentre seus principais colaboradores estavam
Voltaire, Rousseau, Montesquie, Condillac e vários outros”.
AUFKLÄRUNG
Na Alemanha, este movimento filosófico não foi tão revolucionário e antieclesiástico como
o francês. O Iluminismo na França havia tomado uma direção contrária à religião, fiel ao seu
princípio de não aceitar nenhuma autoridade que pusesse em risco a soberania da razão. Na
Alemanha, o protestantismo não apresentava a mesma tradição e intolerância que nos países
essencialmente católicos. A Reforma protestante, com Lutero, havia aberto uma brecha para a
liberdade de espírito e desvencilhara os protestantes de abusos e imposições de ordem temporal.
Desse modo, o racionalismo de Leibniz e o empirismo de Locke e Hume informaram a filosofia de
Wolff e Lessing, os dois maiores filósofos do iluminismo alemão ou Aufklärung.
Christian Wolff (1679-1754) - Professor de Halle e autor de obras em alemão, que seriam
adotadas no ensino de Filosofia. Ele também fixa a linguagem filosófica em alemão e propõe uma
classificação dos diversos ramos que compõem a Filosofia. Wolff define a Filosofia como “ciência
de todas as coisas possíveis”, isto é, de tudo o que não for contraditório. Wolff e toda a Aufklärung
que o seguiu aproximam-se mais do racionalismo do século XVII do que do empirismo que animou
as Luzes na França. De fato, para Wolff, o conhecimento empírico, apesar de indispensável, ocupa
um lugar inferior ao conhecimento teórico puro, a verdade dos dados empíricos é apenas provável.
Foi educado segundo a seita religiosa Pietista, muito difundido entre os protestantes da
Alemanha, que como os Metodistas da Inglaterra, fazia questão de um rigor e severidade
absolutos nas práticas e na crença religiosas. Estudou na Universidade local e ali lecionou,
chegando a assumir o cargo de reitor. Lecionou diversas disciplinas: Matemática, Física, Lógica,
Metafísica, Filosofia Moral, Direito Natural, Antropologia, Geografia Física, Teologia Natural e
Pedagogia. Conta-se que foi excelente e sossegado professor, que gostava de discorrer sobre
geografia e etnologia de terras distantes, embora, jamais tenha deixado a cidade natal. Morreu em
1804, aos oitenta anos de idade,
Das obras mais importantes do segundo período, o “crítico”, temos: Crítica da Razão
Pura, de 1781, que seis anos depois seria reeditada com notáveis alterações. Em 1788, apareceu
a Crítica da Razão Prática, em 1790, a Crítica do Juízo e, em 1800, quando Kant já se achava
afastado da cátedra, surgiu a Lógica, que havia sido escrita muitos anos antes. A obra Kantiana
é múltipla e variada e estamos citando apenas os trabalhos fundamentais para uma compreensão
sintética de sua filosofia.
Nunca sistema algum de pensamento dominou tanto uma época, como a filosofia de
Immanuel Kant, dominou o pensamento do século dezenove. Após quase sessenta anos de
meditação quieta e retirada, o misterioso filósofo de Königsberg, despertou o mundo ao publicar
em 1781 sua famosa Crítica da Razão Pura. E daquele ano em diante a “filosofia crítica” tem
dominado o campo especulativo da Europa.
Nietzsche aceita Kant como fato comprovado e segue em frente; Schopenhauer classifica
a Crítica como “o trabalho mais importante da literatura alemã” e considera qualquer homem como
criança até que tenha compreendido Kant.
Portanto tornemo-nos imediatamente Kantistas. Mas isso não pode ser feito de imediato,
pois na filosofia, como na política, a distância mais longa entre dois pontos é uma linha reta. Kant
é o último autor no mundo que devemos ler sobre Kant. Este filósofo assemelha-se e difere de
Jeová: fala através de nuvens, mas sem a iluminação das centelhas dos raios. Despreza exemplos
e as coisas concretas; teriam alongado muito seu livro, explica ele (Assim mesmo abreviado,
contém oitocentas páginas). Sua leitura era destinada apenas a filósofos profissionais e estes não
precisariam de ilustrações.
No entanto quando Kant deu o manuscrito da Crítica ao seu amigo Herz, homem muito
versado em especulação, Herz devolveu-o lido pela metade, dizendo que receava a insanidade
se prosseguisse. Como estudar um filósofo assim? Aproximemo-nos dele indireta e
cautelosamente, começando de distância segura e respeitosa; partindo de vários pontos na
circunferência do assunto e depois sigamos apalpando nosso caminho na direção do centro sutil,
onde a mais difícil de todas as filosofias guarda seu segredo e seu tesouro.
Antes de Kant poderíamos dizer que o caminho para chegar até Kant passou pela fé
religiosa sem razão teorética à razão teorética sem fé religiosa. Do Renascimento ao Iluminismo,
de Francis Bacon, que havia inspirado em toda a Europa (exceto Rousseau) uma fé inabalável no
poder da ciência e da lógica, para solucionar todos os problemas da humanidade, e realçar a
“perfectibilidade infinita” do homem, a Voltaire, que significava a Idade da Razão, fala-se
exclusivamente na sublime confiança no saber e na razão.
David Hume, que teve papel tão importante no ataque do Iluminismo à crença
sobrenatural, disse que quando a razão está contra o homem, ele depressa se voltará contra a
razão. A fé e a esperança religiosas expressas nos milhares de torres que se elevavam do solo
em todas as partes da Europa, tinham raízes profundas demais nas instituições da sociedade e
no coração do homem, para permitirem uma rendição fácil ao veredicto hostil da razão. Era
inevitável que essa fé e essa esperança, assim condenadas, iriam levantar dúvidas quanto à
competência daquele juiz e pediram um reexame tanto da razão quanto da religião.
O que era esse intelecto que se propunha destruir, com um silogismo, as crenças de
milhares de anos e de bilhões de homens? Seria ele infalível? Ou seria um órgão humano como
qualquer outro, com suas funções e poderes rigorosamente delimitados? Era chegada a hora de
investigar e julgar esse juiz. Era chegada a hora para a crítica da razão.
O caminho para um tal exame havia sido preparado pelos trabalhos de Locke, Berkeley
e Hume; e, no entanto, aparentemente, seus resultados eram também hostis à religião. Mas é em
Kant, que a razão, pela primeira vez no pensamento moderno, voltara-se para si mesma, e a
filosofia começara a investigar o instrumento em que por tanto tempo confiara.
Quando Kant começou a ler Émile, foi um acontecimento em sua vida. Encontrar um
outro homem que estava procurando uma saída para fora da escuridão do ateísmo e que,
bravamente, afirmara a prioridade do sentimento sobre a razão teórica, causou-lhe forte
impressão. Finalmente, Kant, encontrara a segunda metade da resposta à irreligião. Agora todos
os zombadores e céticos seriam dispersados. Unir esses fios de argumentação, juntar as ideias
de Berkeley e Hume com os sentimentos de Rousseau, salvar a religião da razão e ao mesmo
tempo salvar a ciência do ceticismo - esta foi à missão de Immanuel Kant.
Crítica é empregada neste caso como análise crítica. Kant não está propriamente
atacando a “razão pura”, exceto no final, para mostrar suas limitações. Pelo contrário, tem
esperança de mostrar suas possibilidades e colocá-la acima do conhecimento impuro, que nos
vem através dos canais deformantes dos sentidos. Pois razão “pura” significa o conhecimento que
não vem através dos sentidos e é independente de toda a experiência sensorial; o conhecimento
que nos pertence pela natureza e estrutura da mente.
Logo de início, Kant lança um desafio a Locke e à Escola Inglesa: o conhecimento não é
todo derivado dos sentidos. Hume achava que havia demonstrado não haver alma e não haver
ciência; que nossas mentes não são senão nossas ideias concatenadas e associadas e que
nossas certezas são apenas probabilidades. Mas, se possuíssemos conhecimento independente
da experiência sensorial, conhecimento cuja verdade é certa para nós, antes mesmo da
experiência - a priori?
Nesse caso a verdade e a ciência absoluta, seriam possíveis, não seriam? Esse,
conforme acredita Kant, é todo o problema da metafísica. Eis o problema da primeira Crítica.
“Minha indagação é o que podemos esperar alcançar com a razão, quando todo o material
e assistência da experiência são excluídos”. A Crítica torna-se uma biologia da origem e evolução
dos conceitos, uma análise da estrutura congênita da mente.
ESTÉTICA TRANSCENDENTAL
O esforço para responder a essa pergunta, para estudar a estrutura ontológica da mente
e as leis inatas do pensamento, é o que Kant chama de “filosofia transcendental”, porque trata-se
de um problema que transcende a experiência sensorial. “Chamo transcendental (...) as formas
de correlacionar nossas experiências em conhecimento”. Há dois graus ou estágios nesse
processo de transformação da matéria-prima da sensação no produto acabado do pensamento.
O primeiro estágio é a coordenação das sensações, aplicando-se a elas as formas de percepção
- espaço e tempo. O segundo estágio é a coordenação das percepções pela aplicação das formas
de concepção - as “categorias” de pensamento. Kant, empregando a palavra estética em seu
sentido original e etimológico de sensação, denomina o estudo do primeiro desses estágios de
“Estética Transcendental”. E empregando a palavra lógica no sentido de ciência das formas do
pensamento, denomina o estudo do segundo estágio de “Lógica Transcendental”.
Essas palavras terríveis irão tomando sentido à medida que avança a argumentação; uma
vez ultrapassada esse obstáculo, o caminho até Kant ficará relativamente claro.
Mas o que se quer dizer exatamente com sensações e percepções? E como age a mente
para transformar as primeiras nas segundas? Uma sensação em si mesma é apenas a consciência
de um estímulo. Temos um gosto na língua, um cheiro nas narinas, um som nos ouvidos, uma
temperatura na pele, um clarão de luz na retina, uma pressão nos dedos; e o começo rude, cru da
experiência. É o que a criança sente nos princípios de sua tateante vida mental; ainda não é o
conhecimento.
Observemos, primeiro, que nem todas as mensagens são acolhidas. Miríades de forças
cercam nosso corpo neste momento; uma tempestade de estímulos martela as extremidades dos
nossos nervos que se estendem para atingirem o mundo exterior. Mas nem todos os chamados
são escolhidos; são selecionadas somente aquelas sensações que podem ser modeladas em
percepções apropriadas à finalidade do momento ou que trazem mensagens imperiosas de perigo
e que são sempre relevantes. O relógio está andando e não se ouve; mas nesse mesmo ruído,
sem aumentar de intensidade, será imediatamente ouvido se o desejarmos. A mãe que dorme
junto ao berço do filho, está surda ao turbilhão da vida; mas se o pequenino se mexe, a mãe logo
desperta de seu sono, tal como um mergulhador que sobe apressadamente à superfície do mar.
Se o objetivo for a soma, o estímulo, as mesmas sensações auditivas, “dois” e “três” produzem a
resposta “seis”. A associação de sensações é determinada pelo objetivo da mente. As sensações
e os pensamentos são como servos, ficam à espera de nosso chamado, elas não vêm, a menos
que necessitemos delas. A mente, pois, é o agente de seleção e direção que as utiliza.
Esse agente de seleção e coordenação, segundo a opinião de Kant, utiliza antes de tudo
dois simples métodos para a classificação do material que lhe é apresentado: o sentido de espaço
e o sentido de tempo. Assim como o general dispõe as mensagens que lhe são trazidas conforme
o lugar de onde vieram e a hora em que foram escritas, assim também a mente distribui suas
sensações no espaço e no tempo, atribui-as a este ou àquele objeto, ao tempo presente ou ao
passado. Espaço e tempo não são coisas percebidas, mas modo de percepção, maneiras de dar
sentido à sensação; espaço e tempo são órgãos de percepção.
Eles são a priori porque toda a experiência ordenada os encerra e os pressupõe. Sem
eles, as sensações nunca poderiam chegar a percepções. Eles são a priori porque é inconcebível
que jamais venhamos a ter alguma experiência futura, em que não estejam envolvidos.
E por serem a priori, suas leis, que são as leis da matemática, são a priori, absolutas e
necessárias, para o todo e sempre. A matemática, ao menos, está a salvo do ceticismo destruidor
de David Hume.
Sim, se se puder demonstrar ser o seu princípio básico a lei de causalidade - uma causa
determinada tem sempre que ser seguida de um efeito determinado - lei esta, tal como o espaço
e o tempo, tão inerente a todos os processos do entendimento, que não se pode conceber
nenhuma experiência futura que a ignore ou dela escape. É a causalidade, também, a priori, um
pré-requisito e condição indispensável a todo o pensamento?
ANALÍTICA TRANSCENDENTAL
E observemos novamente aqui a atividade dessa mente que para Locke e Hume era
apenas “cera passiva” sob os impactos da experiência sensorial. Será concebível que a ordenação
de dedos poderia surgir de modo espontâneo e automático dos próprios dados?
Locke estava errado, quando disse: “Não há nada no intelecto senão o que existiu
primeiro nos sentidos”. Leibniz estava certo, quando acrescentou, “nada, senão o próprio
intelecto”. “Percepções sem concepções”, diz Kant, “são cegas”. Se as percepções se
organizassem automaticamente em pensamento ordenado, se a mente não fosse um esforço
ativo, forjando a ordem no caos, como poderia acontecer que a mesma experiência que mantém
na mediocridade um homem, eleva outro à luz da sabedoria e à lógica da verdade?
O mundo, então, tem ordem, não por si mesmo, mas porque o pensamento que conhece
o mundo, é em si mesmo uma ordenação, o primeiro estágio naquela classificação da experiência,
que no final é a ciência e a filosofia. As leis do pensamento são também as leis das coisas, pois
sabemos das coisas apenas através do pensamento, que tem de obedecer a essas leis, já que
ele e elas são a mesma coisa e a lógica e a metafísica se fundem. Os princípios generalizados da
ciência são necessários porque fundamentalmente eles são leis do pensamento, que estão
implícitas e pressupostas em todas as experiências, passadas, presentes e futuras. A ciência é
absoluta e a verdade é eterna.
DIALÉTICA TRANSCENDENTAL
No entanto, essa certeza, esse absolutismo das mais elevadas generalizações da lógica
e da ciência, é, paradoxalmente, limitado e relativo: Limitados estritamente ao campo da
experiência real e relativo estritamente à nossa modalidade humana de experiência. Isto porque,
se nossa análise foi correta, o mundo como nós o conhecemos é uma construção idealizada na
mente pelas suas formas modeladoras (as categorias de Kant). O objeto, como parece para nós,
é um fenômeno, uma aparência, talvez muito diferente do objeto externo, antes de se colocar ao
alcance de nossos sentidos; o que é o objeto original, nunca poderemos saber. A “coisa-em-si”
pode ser um objeto do pensamento ou uma inferência (um “número”), mas não pode ser atingida,
pois ao ser atingida é transformada pela sua passagem através dos sentidos e do pensamento. A
lua como nós a conhecemos é meramente um feixe de sensações (como entendeu Hume),
unificadas (como Hume não entendeu) pela nossa estrutura mental congênita, através da
elaboração das sensações em percepções e destas em concepções ou ideias. Resultado: a lua é,
para nós, um conceito. Não que Kant jamais tenha posto em dúvida a existência da “matéria” e do
mundo exterior; mas acrescenta que nada sabemos acerca deles, senão que existem.
O conhecimento detalhado (ciência) que possuímos diz respeito à sua aparência, a seus
fenômenos, às sensações que deles temos. Idealismo não significa, como julga o homem comum,
que não existe nada além do sujeito que percebe, mas sim que uma boa parte de cada objeto é
criada pelas formas de percepção e compreensão. Conhecemos o objeto tal como é transformado
em ideia; o que ele é antes de ser assim transformado não podemos saber. A ciência é, afinal,
ingênua; ela supõe estar lidando com coisas em si, em sua vigorosamente externa e incorrompida
realidade. A filosofia é um pouco mais sofisticada e compreende que todo o material da ciência
consiste antes em sensações, percepções e concepções do que em coisas.
Ou terá aquela seqüência de causas, que a ciência estuda, um começo, uma Causa
Primeira? Sim, pois uma cadeia interminável é inconcebível; não, pois uma primeira causa não
causada é igualmente inconcebível. Há alguma saída desses becos do pensamento?
Há, diz Kant, se nos lembrarmos de que espaço, tempo e causas são modalidades de
percepção e concepção que têm de entrar em toda a nossa experiência, já que são a trama e a
estrutura da experiência. Esses dilemas surgem do fato de se supor que espaço, tempo e causas
são coisas externas independentes da percepção. Nunca teremos qualquer experiência que não
seja por nós interpretada em termos de espaço, tempo e causa; mas nunca teremos uma filosofia
se esquecermos que esses elementos não são coisas, mas sim modalidades de interpretação e
entendimento.
O mesmo raciocínio se aplica a teologia “racional” que tenta provar pela razão teorética
que a alma é uma substância incorruptível (que não se altera), e que existe um “ser necessário”,
Deus, como a pressuposição de toda a realidade. A dialética transcendental tem de lembrar à
teologia que substância e necessidade são categorias finitas, modalidades de arranjo e
classificação aplicáveis apenas à experiência sensorial. Não podemos aplicar esses conceitos ao
mundo numenal (ou meramente inferido e conjeturado). A religião não pode ser provada pela razão
teorética.
Podemos bem imaginar David Hume, um gaulês ainda mais manhoso do que o próprio
Kant, observando os resultados com um sorriso sardônico. Ali estava um livro tremendo,
oitocentas páginas, repleto quase que além do suportável de uma terminologia pesada, propondo-
se a solucionar todos os problemas da metafísica e concomitantemente a salvar a infabilidade da
ciência e a verdade essencial da religião. O que havia o livro realmente feito?
Se a religião não pode ser baseada na ciência e na teologia, no que então o poderá ser?
Na moral. A base na teologia é insegura demais; é melhor que seja abandonada, até mesma
destruída; a fé tem que ser colocada além do alcance ou domínio da razão. Mas,
consequentemente, a base moral da religião tem de ser absoluta, não pode derivar de experiências
sensoriais passíveis de dúvidas ou inferências precárias; nem corrompida pela mistura com a
razão falível; ela tem que derivar do ser interior pela intuição e percepção diretas.
Temos que encontrar uma ética universal e necessária; princípios de moral a priori tão
absolutos e certos como a matemática. Temos de mostrar que “a razão pura pode ser prática, isto
é, pode determinar por si mesma à vontade, independentemente de todo o elemento empírico”;
que o senso moral é inato e não derivado da experiência. O imperativo moral de que necessitamos,
como base da religião, tem de ser um imperativo absoluto, categórico.
E uma ação é boa não porque tem bons resultados ou porque é sábia, mas porque é feita
em obediência a esse sentido interior de dever, a essa lei moral que não provém de nossa
experiência pessoal, mas rege imperiosamente e a priori todo o nosso comportamento, passado,
presente e futuro. A única coisa absolutamente boa neste mundo é uma vontade boa - à vontade
de seguir a lei moral, indiferentemente aos lucros ou perdas que acarretam. Diria Kant, não te
preocupes com tua felicidade, cumpre teu dever ou em suas próprias palavras “Moralidade não é
propriamente a doutrina de como podemos nos tornar felizes, mas sim de como podemos nos
tornar dignos da felicidade”. Busquemos a felicidade dos outros; mas, para nós, a perfeição - quer
ela nos traga felicidade ou dor. Para conseguir a perfeição em ti mesmo e a felicidade nos outros,
“age de forma a tratar a humanidade, quer na tua pessoa quer na de um outro, como um fim, não
apenas como um meio” - isso também, como sentimos diretamente, é parte do imperativo
categórico. Vivamos em conformidade com um tal princípio e muito em breve criaremos uma
comunidade ideal de seres racionais. É uma ética dura, dizes, essa colocação do dever acima da
beleza, da moralidade acima da felicidade; mas é só assim que podemos cessar de ser animais e
começar a ser deuses.
Reparem, entretanto, que esse absoluto comando do dever prova enfim a liberdade de
nossas vontades. Como poderíamos jamais ter concebido uma tal noção do dever se não nos
sentíssemos livres? Não podemos provar essa liberdade pela razão teorética; provamo-la ao senti-
la diretamente na crise da escolha moral. Sentimos essa liberdade como a própria essência de
nosso ser interior, do “Ego puro”. Sentimos dentro de nós a atividade espontânea de uma mente
modelando as experiências e escolhendo as metas. Sentimos, mas não podemos provar, que
somos livres.
Se não soubéssemos vagamente que, naquela vida posterior e mais longa, o equilíbrio
será restabelecido e que até um copo d’água oferecido generosamente será amplamente
recompensado?
E também, apesar de não poder prová-lo, sentimos que somos imortais. E, finalmente, e
pelo mesmo indício, temos certeza de que existe um Deus. Se o senso do dever implica na crença
em recompensas futuras e a justifica, “o postulado da imortalidade... tem que levar à suposição da
existência de uma causa adequada a esse efeito. Em outras palavras, tem que postular a
existência de Deus”. Isso também não é prova por meio da “razão”. O senso moral tem prioridade
sobre a lógica teorética que foi desenvolvida para lidar com os fenômenos sensoriais. Nossa razão
nos deixa livres de crer que, por trás da coisa-em-si, há um Deus justo; nosso senso moral ordena
que acreditemos nisso. Rousseau tinha razão: acima da lógica da mente está o sentimento do
coração. O coração tem razões, como disse Pascal, que a razão nunca poderá compreender.
O século 19 trouxe mais mudanças a quase todos os aspectos da vida humana do que
os mil anos anteriores. A supremacia da Europa chegara ao ápice e, por volta de 1900, apenas os
cantos mais remotos da Terra permaneciam intocados pela cultura europeia. Confiantes após dois
séculos de grandes realizações, os europeus davam como certa a superioridade de sua cultura.
Essa foi a grande era da expansão imperial. No ano de 1900, o Império Britânico
englobava quase um quarto do mundo. No final do século 19 houve uma espantosa explosão da
atividade imperialista, particularmente na África, onde quase todas as potências europeias
fundaram colônias.
O capitalismo prosperou durante esse período, mas não havendo qualquer regulamento
governamental, condições de trabalho estarrecedoras resultaram na exploração de homens,
mulheres e crianças. A enorme riqueza produzida não era usada para criar melhores condições
sociais. Em vez disso, era investida em novas expansões industriais e em melhorias do transporte
e das comunicações. Cabos submarinos ligavam o mundo, enquanto ferrovias e vapores
transportavam produtos e pessoas de uma forma mais rápida e mais barata do que nunca. Com
isso houve expansão do comércio mundial e dos investimentos em colônias ultramarinas.
Matérias-primas indispensáveis podiam ser importadas sem demora, enquanto bens
manufaturados baratos podiam ser exportados para o mundo inteiro.
A população europeia cresceu de cerca de 190 milhões em 1800 para bem mais de 400
milhões um século depois. Isso se deveu, sobretudo a uma acentuada diminuição do índice da
mortalidade, graças a avanços no controle de doenças e em sua prevenção, em consequência de
maior higiene e melhor fornecimento de água.
Em 1805 foi nomeado professor da Universidade de Iena, cargo que logo abandonou em
consequência da invasão francesa. Transferiu-se para Nuremberg, como diretor do Ginásio
Egidiano. Em 1816 passou a lecionar na Universidade de Heidelberg e dois anos depois achava-
se lecionando na Universidade de Berlim, exatamente na época em que esta cidade começou a
se transformar no centro intelectual da Europa. Em Berlim, Hegel, atingiu o máximo prestígio e
fama, quer por seus cursos, quer por suas obras. Em novembro de 1831, Hegel morreu de cólera.
A esta altura, porém, o “hegelianismo” já tinha muitos adeptos em quase todas as universidades
alemãs.
Obras. Dentre suas principais obras, devem ser citadas: Fenomenologia do Espírito;
Ciência da Lógica; Enciclopédia das Ciências Filosóficas; Filosofia do Direito. Dentre os
cursos publicados por seus discípulos, temos: Filosofia da História Universal; Filosofia da
Religião e História da Filosofia.
Hegel nasceu há pouco mais de 200 anos, mas a influência de suas idéias se faz sentir
até hoje, pois sua filosofia tornou-se seguramente o ponto de partida - por adesão a ela, ou pela
necessidade de negá-la - das correntes mais importantes do pensamento posterior. O Idealismo
Alemão com Hegel atinge seu clímax.
Pelo menos três dos teóricos que abriram novos caminhos para a filosofia contemporânea
tomaram o hegelianismo como referência principal. É o caso de Soren Kierkegaard, considerado
o criador do existencialismo; Karl Marx, o fundador do marxismo; e de Friedrich Nietzsche,
um dos mais contundentes críticos da sociedade estabelecida.
O simples fato de se situar na base dos dois movimentos filosóficos que mais rapidamente
atuaram sobre o comportamento de milhões de pessoas - o existencialismo e o marxismo -
mostra a força do pensamento de Hegel.
Há, entretanto, outra particularidade que marca seu esforço intelectual: Hegel é
seguramente o autor do último sistema completo e acabado que a Filosofia apresentou. Antes
dele, já era comum os filósofos procurarem produzir explicações que abarcassem todos os
aspectos da realidade. Platão e Aristóteles fizeram isso vários séculos atrás. Estes filósofos
dominaram o pensamento ocidental até a morte de Hegel em 1831.
Somente com Hegel, os “dois mundos” passam a ser vistos como uma única realidade,
isto é, como dois momentos de um processo ou realidade única.
Com Hegel, passamos para a Idade Contemporânea. Como Sócrates na Filosofia Grega,
Hegel, dividiu o pensamento filosófico do Ocidente europeu atual em duas partes: antes e depois
dele.
A FILOSOFIA DIALÉTICA
Na filosofia Dialética, contudo, surge uma nova visão do Real, como processo (marcha).
Este processo, segundo Hegel, é um ir e vir, é um tornar-se real (coisa) e mental (racional). O real
(material) e o mental (racional) são momentos de um mesmo processo; em outras palavras, a
única realidade é este Processo e, nele, o Racional torna-se Real.
(*) Heráclito (544-475 a.C.): Filósofo grego, criador da primeira Filosofia Dialética, na Antiguidade.
Hegel (1770-1831): Criou uma Filosofia Dialética extraordinariamente ampla e desenvolvida.
Marx, Karl (1818-1883): Aplicou a Filosofia Dialética de Hegel ao desenvolvimento da História
e da sociedade.
Engels (1820-1895): Filósofo alemão, colaborador de Marx e teórico do materialismo
dialético, assim chamado por se opor ao idealismo dialético de Hegel.
Assim, nossas ideias estão organizadas em dupla, nas nossas mentes: “dia/noite”;
“bom/mau”; “agradável/desagradável” etc.
É curioso notar que, quando se diz a alguém: “você está falando demais”, a pessoa
mentalmente formula seu contrário: “vou ficar absolutamente calado”. Isto, efetivamente, no caso
de aceitar a observação.
Há outro aspecto interessante na relação mente - mundo. As ideias que surgem na mente
criam transformações no meio exterior. O pensamento cria ação que vai modificar o mundo. Com
a modificação deste, novas ideias surgem que vão interferir neste mesmo meio já modificado,
transformando-o num processo em aberto.
Quando se tem, na mente, alguma ideia, mesmo que absurda, esta passa a ser real, nos
seus efeitos. Se alguém acredita na mula-sem-cabeça, no bicho-papão ou no lobisomem, estas
ficções passam a ser reais nos seus efeitos. O portador de tal crença não sai na sexta-feira à noite,
não aceita trabalhar de vigia noturno. São efeitos reais de ideias sem conteúdo objetivo.
Hegel dava muita ênfase a esta relação ideia - mundo, no sentido de que as mudanças
nas ideias provocam mudanças no mundo. Por isto, sua dialética é chamada de idealista.
Para outras correntes filosóficas, conhecidas como realistas, nossas ideias são simples
reflexos da realidade nas nossas mentes e por isso o importante são as condições externas que
vão produzir as ideias.
A VOLTA DA DIALÉTICA
AS LEIS DA DIALÉTICA
Vejamos uma fruta. Olha-se para ela, não se percebe, mas está em estado de
transformação. Dois dias depois, poderá estar madura. Quatro a cinco dias depois poderá estar
apodrecida. Toda esta transformação foi o resultado do seu movimento dialético, isto é, do
processo natural daquele ser que, em determinado momento, começou a existir, cresceu,
amadureceu, apodreceu e cujas sementes, a seguir, poderão germinar e dar origem a muitas
árvores frutíferas. Assim, a fruta apresenta-se como uma transição entre o que foi, seu passado,
e o que será, seu futuro. Poderá ser a transição entre uma árvore e um pomar.
Segunda lei: O encadeamento dos processos. Ação recíproca. A rede que se forma.
A fruta está ligada a uma árvore que, por sua vez, depende do clima e do solo, que, de
sua parte, depende da posição da Terra em relação ao Sol. E este depende de sua posição no
Cosmos. E o Cosmos é uma estrutura infinita.
A fruta se decompondo ajuda a germinar suas sementes. Destas sairão árvores que, por
sua vez, produzirão inúmeras frutas. Como vemos, o processo não é circular, mas em espiral.
Começamos, no nosso exemplo, com uma fruta e terminamos com uma grande colheita, se as
condições forem favoráveis.
Pela primeira lei, vimos que as coisas estão em contínua evolução ou mudança.
Pela segunda lei, sabemos que os vários processos se ligam, entre si, formando uma
rede. Desta maneira, o progresso não é circular e repetitivo e sim, em espiral e ascendente.
Pela terceira lei, vamos ver por que isto acontece. O processo dialético é uma marcha
que leva o ser exatamente para o polo oposto ao que é. Tudo se transforma no seu contrário.
A fruta está, por força do seu movimento dialético ou por seu próprio auto dinamismo, em
movimento na direção contrária ao que é, a saber: a não ser mais fruta. O ser vai até ao fim de
seus limites e, ao ultrapassá-lo, já não é mais o ser. É o seu oposto. A existência de contrários,
dentro de cada ser, garante a evolução e sustenta o processo dialético.
Se só houvesse vida, em seu estado puro, não poderia existir a morte; do mesmo modo,
se a morte fosse “total”, seria impossível sair dela qualquer forma de vida. Assim, a marcha da
vida é para a morte e, por sua vez, um ser morto entra num processo que termina por produzir
novas formas de vida.
Assim, um ser é, ao mesmo tempo, ele próprio e seu contrário. Em outros termos, é
algo que contém seu contrário.
Há dentro de cada ser, forças de direção opostas: umas que lutam por conservá-lo no
estado onde está e outras que o empurram para sair desse estado.
Assim, podemos dizer: há forças que afirmam o ser e forças que o negam. O objeto pode
ser visto como uma síntese da afirmação (tese) e de sua negação (antítese).
Vejamos outro exemplo, simples: um ovo de uma ave, no seu ninho. Afirmamos que
contém, em si, sua negação, que é o novo ser que dele vai nascer. Deste modo, há nele duas
forças: uma que o leva a permanecer ovo e outra que o leva a transformar-se num novo ser vivo.
Os marxistas afirmam que o Estado burguês contém, em si, sua negação, que é o
proletariado.
É claro que nem sempre vamos encontrar estas fases dialéticas em tudo. Alguns
processos são excessivamente longos para mostrar seu movimento dialético. Nem todo
movimento dialético se faz com a clareza do dia que, no intervalo de vinte e quatro horas, conclui
seu processo para recomeçar no dia seguinte.
Realmente, Heráclito tinha razão quando dizia: “coisa alguma fica o que é”; “coisa
alguma permanece como está”.
Por volta de 1845, inicia sua segunda fase da vida intelectual, marcada pela tendência ao
misticismo e, nesse período publica sua segunda obra fundamental: Sistema de Política Positiva
ou Tratado de Sociologia, em quatro volumes, que institui a religião da Humanidade. Separado
de sua esposa, conheceu Clotilde de Vaux, a quem passou a honrar com um culto místico e quase
divino. Com suas aulas sobre o novo sistema fez muitos amigos e conquistou protetores que o
ampararam economicamente até o fim da vida. Com o falecimento de Mme. De Vaux seu culto
cresceu de tal modo que Comte imprimiu ao Positivismo um cunho místico-religioso. Segundo
Comte, Clotilde foi à inspiradora da “religião da humanidade”. Comte faleceu em 1857.
TEORIA DO CONHECIMENTO
Segunda esta lei, ao longo da história, o pensamento humano passou pelos seguintes
estágios:
• ESTADO TEOLÓGICO
• ESTADO METAFÍSICO
• ESTADO POSITIVO
1. ESTADO TEOLÓGICO
2. ESTADO METAFÍSICO
3. ESTADO POSITIVO
O Estado Positivo se inicia com o advento industrial. No Estado Positivo, a forma abstrata
do conhecimento, que se quer absoluto, é substituída pela compreensão das leis e das relações.
Está fase, considerada por Comte como definitiva é caracterizado pela preocupação de o homem
restringir-se aos fatos e de tentar explicá-los através de suas leis. O espírito positivo atém-se à
observação e aos dados da experiência e abstêm-se de procurar as causas últimas e princípios
das coisas. Foge de todo conhecimento absoluto, tudo é relativo; nega, pois, a metafísica. No
Estado Positivo desenvolvem-se as ciências e verifica-se o surto industrial; logra-se a unidade dos
espíritos e estabelece-se a Religião da Humanidade. É o estado definitivo da humanidade e nele
predominam as atividades industriais e econômicas. Predomina o industrial.
É evidente que, para Comte, a passagem do estado teológico para o estado positivo
corresponde a um progresso, que é também uma lei da dinâmica histórica. Como que fica então
o progresso depois que a humanidade atingiu o estágio da idade positiva, uma vez que esta parece
ser a etapa terminal da evolução histórica? Na verdade, não haverá mais progresso no sentido da
lei dos três estados. Mas a ciência e a sociedade ainda são passíveis de evolução, isto é, de
aperfeiçoamento e de aprofundamento daquilo que o terceiro estágio representa.
A HIERARQUIA DO SABER
Para Comte a Filosofia não deve ser uma doutrina no sentido tradicional, isto é, não deve
apresentar um corpo próprio de saber. Deve conter muito mais um sentido e uma orientação e
atuar como coordenadora do sistema geral de conhecimento. Este já se encontra, nas suas
grandes linhas, constituídas, presentes diante de nós como fato inquestionável, positivamente
dado a partir do desenvolvimento real das ciências exatas e naturais. A Filosofia, portanto, não
tem de se ocupar da reinvenção do saber, mas sim de sua classificação e ordenação.
Comte estabelece os seguintes critérios para a classificação das ciências que, segundo
ele, apresenta três excelentes qualidades ou características:
a) Revela a ordem pela qual as ciências foram aparecendo e atingindo o seu estado
positivo;
b) Determina uma hierarquia entre as ciências, segundo a qual elas se sucedem numa
ordem de extensão decrescente e de complexidade crescente;
c) Mostra a dependência entre elas, pois cada uma é necessária às subsequentes.
Tratam das leis que regem os fatos da natureza em todas as suas combinações possíveis.
A este grupo, a classificação apresenta seis ciências fundamentais, agrupadas duas a duas
segundo suas afinidades:
• MATEMÁTICA E ASTRONOMIA
• FÍSICA E QUÍMICA
• BIOLOGIA E SOCIOLOGIA
A SOCIOLOGIA
A sociologia é a mais complexa, a menos geral e a mais nova das ciências. Para Comte,
a sociologia deve investigar os fenômenos sociais descrevendo as condições gerais da existência
social, quer do indivíduo, quer da família, quer da sociedade, o que constitui a sociologia estática
ou estática social. Deve realizar o estudo da harmonia social ou da ordem, pesquisando as leis
universais que regem a evolução e o progresso social, o que é o objeto da sociologia dinâmica ou
dinâmica social, que avalia as condições de mudança estabelecendo as leis do progresso.
Entretanto, mais do que isso, a sociologia tem como objetivo principal valer-se dos resultados
científicos a que chega para prescrever as condições de instauração do espírito positivo na
sociedade. Ela deve reorganizar nessa direção as estruturas sócio-políticas e preparar assim a
reforma moral da sociedade.
A RELIGIÃO DA HUMANIDADE
REPERCUSSÃO DO POSITIVISMO
Em Paris, no ano de 1844, Engels encontra-se com Marx pela primeira vez, iniciando uma
estreita colaboração intelectual e política entre os dois. Juntos escreveram A Sagrada Família
(1845) e a Ideologia Alemã, só publicada postumamente em 1932, em que esboçaram pela
primeira vez a sua concepção de História.
Em 1847, ambos ingressaram na Liga dos Justos (mais tarde, Liga Comunista),
organização sediada na França, mas com ramificações internacionais. Foram então encarregados
de escrever o manifesto da Liga - precisamente o Manifesto do Partido Comunista, publicado no
início de 1848. “Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo”, com estas famosas
frases, Marx e Engels, iniciam o manifesto. Em 1848, Marx é expulso de Bruxelas pelas
autoridades Belgas, e dirige-se a Paris. Em meio à revolução com a queda da monarquia francesa
de Luís Felipe em 1848, Marx e Engels retornam à Alemanha para fundar, em Colônia, a Nova
Gazeta Renana e passam a participar da ala esquerda de grupos democráticos alemães, mas são
expulsos da Alemanha em 1849, e Marx transfere-se para a França, onde é novamente expulso,
estabelecendo-se em Londres, onde Engels chegaria meses depois. Nesta capital da Inglaterra,
Marx passou a frequentar o Museu Britânico, e durante dez anos, realizou estudos e pesquisas
sistemáticos de economia política, culminando em 1866 com o primeiro volume de O Capital cujo
subtítulo é Crítica da Economia Política, obra prima de Marx, período em que passou por graves
privações, só atenuada graças ao auxílio de Engels. “Seguramente”, afirmou, “é a primeira vez
que alguém escreve sobre o dinheiro com tanta falta dele”.
Para Marx, o trabalhador, que se troca por um salário, é por isso uma mercadoria. Mas é
uma mercadoria que produz valor, ou melhor, mais valor do que o necessário para a sobrevivência
do trabalhador. Em outras palavras, há uma diferença entre o valor da força do trabalho, que
corresponde à manutenção do operário, e o valor que este operário produz - e essa diferença é
exatamente a mais-valia, que o capitalista toma para si. Isso significa que a repartição desigual da
riqueza entre trabalhadores e capitalista constitui a própria dinâmica do capitalismo, e não
depende de certos patrões maus e inescrupulosos, como se tentou justificar o “pensamento
burguês”.
Resultado desse processo histórico, o capitalismo e a propriedade privada não são, como
pensam os teóricos burgueses, as únicas formas possíveis de sociedade e de propriedade, mas
apenas o modo atual como eles se apresentam.
No capitalismo o que importa, porém, não é tanto o que homem produz, mas como
produz, pois, isso determina o modo de sua relação com os demais homens, isto é, as relações
de produção. Estas, por sua vez, estão intimamente vinculadas ao grau de desenvolvimento das
forças produtivas - a força de trabalho, a técnica, a divisão do trabalho etc. - de toda uma
sociedade.
Mas, diz Marx, do mesmo modo que o capitalismo emergiu destruindo as relações feudais
de produção, que já não comportavam o desenvolvimento das forças produtivas, as próprias
relações capitalistas de produção também se tornam obstáculos para as forças produtivas que
elas mesmas liberaram. No capitalismo, quanto mais se produz riqueza, apropriada privadamente,
mais se agrava a miséria dos trabalhadores, que não têm como usufruir as mercadorias por eles
produzidas; o resultado disso são as crises, que levam à destruição de produtos. Às falências e
ao desemprego.
ESQUEMA INSTRUMENTAL
PARA ANÁLISE DA SOCIEDADE
TERRAS (2)
MEIOS DE PRODUÇÃO (4)
FORÇAS DE OU CAPITAL (5) FÁBRICAS (3)
MODO DE PRODUÇÃO (6)
PRODUÇÃO (7) TRABALHO (1)
RELAÇÕES DE
PRODUÇÃO (8)
(2) e (3) São os instrumentos pelo qual o homem transforma a natureza para sua
sobrevivência.
(4) São todos os elementos materiais que de qualquer maneira produz alguma riqueza.
Deve-se distingui-lo de “bem de consumo”, que é produzido por um meio de produção para
consumo das pessoas.
(5) Capital vem do latim, de “caput”, que significa cabeça, chefe e fonte. No esquema
acima, capital significa “fonte”, pois as terras e fábricas são a fonte de onde provém toda a riqueza.
(6) Nome para designar capital e trabalho. São os meios de produção, movimentados
pelo trabalho humano, que são os responsáveis pela existência de toda riqueza.
(7) É o nome para designar a maneira pelo qual os homens se organizam para produzir
os bens necessários à sua vida, ou seja, é isto, o que dá a característica fundamental a uma
sociedade, pois determina que relações políticas (forma de organização) e ideológicas podemos
encontrar nela.
(8) Este conceito trata de quem detém os meios de produção numa sociedade. Trata-se,
portanto, das relações de posse (propriedade) e da divisão do trabalho.
OS MODOS DE PRODUÇÃO
NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
AS CONTRADIÇÕES DIALÉTICAS
Origem da desigualdade social e da produção excedente
Além de existir regime de trabalho escravo nos períodos colonial e imperial da História do
Brasil, a sociedade escravista predominou na Antiguidade. No início, as tribos da comunidade
primitiva ambicionavam as melhores terras das tribos vizinhas. Havia guerras e os vencidos eram
mortos. Com o tempo, os vencedores descobriram que era vantagem para eles deixarem vivos os
vencidos, pois assim teriam trabalhadores forçados, os escravos. Estes produziam o necessário
para si e para seus senhores. Portanto, a escravidão só surgiu quando o processo de produção já
tinha condições de gerar o excedente.
Para o senhor, o escravo era uma coisa como outra qualquer: era um objeto que produzia
riquezas. A única obrigação que o senhor tinha para com o escravo era a de alimentá-lo bem para
que ele não perdesse a força física, a sua capacidade de trabalho para produzir riquezas. Assim,
acentuou-se na sociedade a divisão de classes: uma minoria (os senhores) explorava o trabalho
da maioria (os escravos).
Os senhores eram donos da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção
(terras, gado, minas), dos instrumentos de trabalho (ferramentas, enxadas, carroças) e do
produto do trabalho. Para garantir essa exploração sobre os escravos, os senhores
necessitavam de um poder especial capaz de lhes fornecer os meios jurídicos e militares para
assegurar a desigualdade social. Foi então que surgiu o Estado (*). As leis do Estado garantiam
aos senhores o direito de explorar os escravos; o exército defendia o país contra agressões
externas e também defendia os senhores - que controlavam o Estado - contra as revoltas dos
escravos.
(*) Nas comunidades primitivas, onde tudo era de todos, não existia o Estado. Ele só passou a
existir quando alguns homens começaram a dominar os outros. Surgiu para garantir os
interesses dos mais fortes.
AS CONTRADIÇÕES DIALÉTICAS
Neste Modo de Produção não havia avanço da técnica de produção, dos recursos
produtivos, enfim, das forças produtivas. Afinal, onde predomina a escravidão, não avançam as
forças produtivas, como a tecnologia. Para o escravo tanto faz colher, num dia, cem ou quinhentos
pés de café. Como ele não tem salário e nenhuma outra recompensa pelo seu trabalho, falta o
estímulo para aumentar a produção. Assim, a longo prazo, o modo de produção escravista atrasa
o avanço da história humana. Essa foi uma contradição interna que fez ruir o edifício do Modo de
Produção Escravista.
O Modo de Produção Asiático, como todos os modos de produção, não existiu apenas
em um momento da história. Cada modo de produção pode ter existido em épocas e lugares
diferentes. O Modo de Produção Primitivo existiu nos primeiros tempos da humanidade e também
entre os índios, quando eles ainda não tinham encontrado os brancos.
Caso, algum povo estrangeiro vivesse nesta sociedade, eram tratados pelo Estado como
escravos (os hebreus no Egito, por exemplo). Nestas antigas monarquias o Estado era o rei. Seu
poder não era propriamente econômico, embora ele fosse dono de todo o país. Também não era
um poder propriamente político, apesar da identificação entre Estado e rei.
Esse poder vinha do poder Ideológico, ou seja, da ideia plantada na cabeça do povo de
que o monarca era deus, então tudo era dele, a terra e o povo. Era um poder teocrático. Teo quer
dizer deus. Um poder divino. De fato, o monarca era uma pessoa de “carne e osso” como outra
qualquer. Mas ideologicamente ele estava revestido de caráter divino: era um ser sacralizado.
A estrutura social destas sociedades era como uma escada, bem hierarquizada.
Começava, lá embaixo, pelo camponês, que era obrigado a entregar ao Estado o excedente do
que produzia, e pelos escravos, que faziam trabalhos forçados. Esse excedente permitia que um
grupo de homens se dedicasse à defesa sem precisar produzir: constituíam o exército. Outro grupo
cercava o monarca, cuidando de reforçar o caráter religioso da ideologia dominante: eram os
sacerdotes. A religião era fundamental para manter essa estrutura de poder. Quem se atreveria a
conspirar contra o próprio deus-rei?
AS CONTRADIÇÕES DIALÉTICAS
No Modo de Produção Asiático, a contradição interna era o alto custo da manutenção dos
setores improdutivos da sociedade (guerreiros, sacerdotes, funcionários da corte) e da edificação
de obras suntuosas (palácios, templos e túmulos reais). Tudo isso consumia a parcela maior do
excedente produzido pela sociedade inteira.
Este modo de produção começou na Europa no século V depois de Cristo. Durou até os
séculos XV e XVI. Abrangeu, pois, todo o período conhecido como Idade Média.
A Sociedade feudal dividia-se em: senhores feudais (que exploravam o trabalho dos
servos) e servos (que eram explorados pelos senhores feudais). Os servos não eram como os
escravos: eram donos de sua vida e trabalhavam a terra para si. Eram obrigados, porém, a
entregar ao senhor feudal uma parte do que produziam; e durante três dias por semana
trabalhavam de graça as terras do senhor. Cuidavam ainda da conservação de estradas, de pontes
e dos castelos. Em caso de guerra, formavam o exército do feudo e eram chamados de peões
(porque iam a pé).
Os senhores feudais tinham o poder econômico porque eram os donos das terras, ou
porque as tinham arrendado dos condes, que por sua vez as arrendavam dos duques, que as
arrendavam dos reis. Os servos trabalhavam para sustentar toda essa hierarquia da nobreza. Os
senhores feudais detinham também o poder político, porque faziam as leis do feudo e obrigavam
os servos a observá-las.
Os senhores feudais tinham ainda o poder ideológico, graças à estreita ligação que havia
entre eles e o maior poder político e espiritual da época: a Igreja Católica.
Como os servos tiravam para si e sua família uma parte do que produziam, sentiam-se
estimulados a aumentar a produção. Quase tudo era produzido dentro do próprio feudo: nos
campos, a agricultura e a pecuária forneciam os alimentos; nas oficinas, os artesãos fabricavam
os móveis, as roupas, as carroças, as enxadas, as armas etc. Fora do feudo buscava-se pouca
coisa: sal, ferro, os tecidos mais finos. Não era costume comprar: trocava-se mercadoria por
mercadoria. O valor de uma mercadoria era igual ao tempo socialmente necessário para produzi-
la.
A economia feudal era a economia de subsistência para os servos, que eram obrigados,
para não perder a terra, produzir para o senhor feudal e destinar o dízimo para à Igreja (10% de
sua produção). Para obter certos alimentos, inexistentes no feudo, tais como o sal, o servo se
dirigia aos entroncamentos de estrada onde trocaria suas mercadorias com mercadores viajantes.
Esse lugar era conhecido como mercado ou burgo. Aos poucos, os que aí se instalavam para
administrar as transações comerciais e delas tirar alguma vantagem passaram a ser conhecidos
como burgueses. Com a introdução da moeda, as mercadorias que antes tinham apenas valor de
uso, passaram a ter agora valor de troca. As pessoas começaram a fazer comércio de
mercadorias, não porque necessitavam dos produtos, mas visando o lucro. Data deste período,
os primórdios da Revolução Industrial (que culminaria de modo transformador no século XVIII, na
Inglaterra), quando os artesãos começaram a inventar novos meios de produção como a máquina
de tear. Uma máquina podia fazer, em poucas horas, produtos que artesanalmente não se
fabricavam em uma semana. A produção em série barateava o custo do produto e, portanto, seu
preço no mercado.
Desde que terminou o Modo de Produção Primitivo, todos os homens necessitam, para
sobreviver, estabelecer relações de mercado. Se no início, a grande maioria dos servos, podia
realizar a troca de mercadorias, com a introdução da moeda e o advento da produção em série,
eles foram sendo excluídos naturalmente do mercado. Foram aos poucos, ficando sem terra e
sem produtos competitivos. Agora, para sobreviver, os servos necessitavam vender no mercado
alguma coisa. Nesse dia aconteceu um fato muito importante na história da humanidade: nasceu
a classe operária. Uma classe integrada por homens que alugam sua força de trabalho aos donos
do capital. Nascia assim o Modo de Produção Capitalista.
Como o próprio nome indica, o que manda é o capital, o dinheiro. Ninguém produz
alimentos pensando na fome do povo. Eles são produzidos porque dão lucro, aumentam o capital
de quem investe. E quem investe capital quer investir o menos possível e ganhar o mais possível.
Para economizar e aumentar sua margem de lucros, a empresa procura contratar a mão-de-obra
mais barata possível. Quanto menores os salários dos trabalhadores, maiores os ganhos do
patrão. No capitalismo, o capital fala mais alto do que o trabalho. O trabalho está em função do
aumento de volume do capital.
Na esfera política controlam o Estado, impedindo que ele venha a ser ocupado pelos
trabalhadores; reforçam o poder de seus partidos políticos, para que elejam a maioria dos
deputados, prefeitos, vereadores, senadores, governantes e, sobretudo, o presidente da
República. Ao controlar o Estado, os donos do capital controlam também as forças de defesa dos
interesses do Estado: as Forças Armadas e as polícias estaduais.
Além dessas forças políticas e jurídicas, a pirâmide capitalista conta ainda com uma
esfera muito poderosa: a ideológica. Ela planta na cabeça das pessoas que a desigualdade social
é um fenômeno natural e irreversível. Ela torna o pobre conformado com a sua situação e tira da
consciência do rico qualquer preocupação para com a situação dos pobres. Enfim, a ideologia nos
ensina a pensar de acordo com os interesses dominantes, aceitando a pirâmide assim como ela
é. Para a ideologia dominante, pensar diferente é sinal de subversão.
ETAPAS DO CAPITALISMO
O capitalismo passou por várias etapas em sua história. No início, predominou a chamada
“livre concorrência”, ou seja, um capitalista competia com outro. Aos poucos, com a concentração
de empresas e a introdução de novas tecnologias, surgiu o capitalismo monopolista (monopólio
significa “propriedade de um só”).
DO COLONIALISMO AO IMPERIALISMO
Numa sociedade socialista, não há separação entre donos do capital e donos da força de
trabalho. Não há mais proprietários privados dos meios de produção (indústrias, grandes
extensões de terra, usinas, minas, bancos etc.). Todos os meios de produção são controlados pelo
Estado popular.
Não havendo diferença entre donos de capital e assalariados, não há classes sociais,
embora haja diferenças sociais entre, por exemplo, trabalhadores manuais e trabalhadores
intelectuais.
Quando Charles entrou para o liceu de Shewsbury, o reitor dizia que ele era um jovem
que vivia disperso, não falava coisa com coisa, se gabava sem ter motivo para isto e não fazia
nada de sensato. Para o reitor, “sensato” era ficar decorando vocábulos gregos e latinos. E quando
falava em viver disperso, ele estava pensando, entre outras coisas, no fato de Charles colecionar
besouros de várias espécies.
Durante a época em que cursou teologia, Darwin interessou-se mais por aves e insetos
do que pelas matérias de seu curso. Por esta razão, nunca tirava boas notas em suas provas do
curso de teologia. Paralelamente ao curso de teologia, porém, ele conseguiu certo reconhecimento
como pesquisador natural. Darwin também se interessava por geologia, provavelmente o ramo da
ciência em fase de maior expansão naquela época. Em abril de 1831, depois de ter sido aprovado
no seu exame de teologia, ele viajou pelo Norte do País de Gales a fim de estudar formações
rochosas e pesquisar fósseis. Em agosto do mesmo ano, com apenas vinte e dois anos, recebeu
uma carta que viria a determinar todo o seu futuro. A carta vinha de Hohn Henslow, seu amigo e
professor. Nela, Henslow dizia que lhe haviam pedido para indicar o nome de um pesquisador
natural a um certo capitão Fitzroy, que, a mando do governo, partiria numa expedição com a
incumbência de fazer o mapa cartográfico do extremo sul da América do Sul. Na carta, Henslow
dizia que havia indicado o nome de Darwin, a seu ver a pessoa mais qualificada para tal missão;
dizia, ainda, que não fazia a menor ideia de quanto pagariam para o tal pesquisador, mas que a
viagem duraria dois anos. Darwin ficou muito entusiasmado com a ideia, mas naquela época os
jovens não podiam fazer nada sem o consentimento de seus pais. Darwin pediu a seu pai, que
depois de muito vaivém acabou concordando e ainda teve de pagar a viagem do filho. Quanto ao
salário, soube-se depois que não havia qualquer honorário previsto para o pesquisador.
Suas reflexões sobre a natureza e sobre a história da vida, porém, ele as guardava para
si. Quando voltou para casa, aos vinte e sete anos, já era um pesquisador famoso. E dentro de si
já havia também uma clara noção daquilo que viria a ser a sua teoria da evolução.
Apesar disso, muitos ainda se passaram até que ele publicou sua obra principal, Sobre a Origem
das espécies, em 1859. O livro desencadeou e provocou violenta polêmica. A Igreja protestou
veementemente e a ciência na Inglaterra se dividiu. Na verdade, isto já era de se esperar, pois
Darwin sempre tinha contestado o fato de se atribuir a Deus o ato da criação.
Apesar das precárias condições de saúde, Darwin não descansou com o resultado de
seu primeiro trabalho. Em 1871, Darwin publicou um livro intitulado The descent of man, ou “A
Descendência do Homem”, aplicando as mesmas leis de que fazia uso na origem das espécies.
Nele, Darwin aponta as enormes semelhanças entre os homens e os animais e explica que os
homens e os macacos antropóides haviam tido os mesmos ancestrais. Nesse meio tempo haviam
sido encontrados os primeiros fósseis no rochedo de Gibraltar e alguns anos mais tarde em
Neandertal, na Renânia. Curiosamente, houve bem menos protestos em 1871 do que em 1859,
quando da publicação de Sobre a Origem das Espécies.
Os conceitos que aparecem neste título foram traduzidos de formas diferentes desde a
época de seu lançamento. Uma tradução feita hoje poderia ser a seguinte: “Sobre a origem das
espécies por meio da seleção natural ou A preservação de raças favorecidas na luta pela vida”.
Alguns preferem falar em “sobrevivência” no lugar de “preservação”, outros em “esforço pela
manutenção da vida”, em vez de “luta pela vida”, que teria um “tom bélico”.
Por ser um título muito rico em conteúdo, vamos estudar cada parte separadamente. Em
Origem das espécies, Darwin defendia duas teorias ou teses principais: em primeiro lugar, ele
dizia que todas as espécies de plantas e animais que vivem hoje descendem de formas mais
primitivas, que viveram em tempos passados. Ele pressupõe, portanto, uma evolução biológica.
Em segundo, Darwin explica que esta evolução se deve à “seleção natural”. Sua reflexão sobre a
evolução, em si, não tinha muito em original. Em alguns círculos de estudiosos, a suposição de
uma evolução biológica já era bastante difundida por volta de 1800. O porta-voz desta ideia era o
zoólogo francês Jean de Lamarck. Antes dele, o avô de Darwin, Erasmus Darwin, formulou uma
teoria segundo a qual as plantas e os animais teriam evoluído a partir de poucas espécies
primitivas. Só que nenhum deles tinha conseguido dar uma explicação aceitável para como essa
evolução se processava. Por esta razão, a Igreja não os considerava rivais muito perigosos.
Tanto os membros da Igreja quanto muitos cientistas eram partidários da teoria bíblica
segundo a qual as diferentes espécies de plantas e animais eram imutáveis. Para eles, cada
espécie animal tinha sido criado um dia, separadamente das outras e para todo o sempre, por um
ato de criação especial. Além disso, esta visão cristã estava de acordo com as concepções de
Platão e de Aristóteles.
A teoria das ideias de Platão tinha como ponto de partida a noção de que todas as
espécies animais eram imutáveis, já que cada uma tinha sido criada a partir de um modelo
correspondente a uma ideia ou forma eterna. O fato de as espécies animais serem imutáveis
também é uma pedra fundamental na filosofia de Aristóteles.
Alguns achavam que eram os homens ou outros animais que os havia deixado lá em
cima. Outros diziam que Deus teria criado esses fósseis e restos de animais marinhos apenas
para confundir os incrédulos. A maioria dos geólogos, entretanto, era adepta de uma “teoria das
catástrofes”, segundo a qual a Terra teria sido castigada muitas vezes por inundações, terremotos
e outras catástrofes, capazes de destruir todas as formas de vida. A Bíblia também faz referência
a uma dessas catástrofes: o grande dilúvio que levou Noé a construir sua arca. Depois de cada
cataclismo, pelo menos era o que se dizia, Deus renovava a vida na Terra criando plantas e
animais novos, mais evoluídos. Os fósseis seriam então, “marcas impressas” de todas as formas
anteriores de vida, que haviam sido extintas por essas catástrofes. Dizia-se, por exemplo, que os
fósseis seriam marcas de animais que não haviam encontrado mais lugar na arca de Noé. Mas
quando Darwin zarpou a bordo do Beagle, levou consigo o primeiro volume de Principles of
geology, do geólogo inglês Charles Lyell. Lyell considerava a atual geografia da Terra, com seus
picos elevados e vales profundos, o resultado de uma evolução interminavelmente longa e lenta.
Ele dizia que qualquer alteração (o clima, o vento, o degelo, os terremotos e as elevações do solo),
por menor que fosse, era capaz de causar profundas transformações geográficas, se tais
processos fossem considerados à luz de grandes intervalos de tempo.
Um fator decisivo na teoria de Lyell era a idade da Terra. Em muitos círculos de estudiosos
na época de Darwin era corrente a suposição de que Deus teria criado a Terra havia cerca de seis
mil anos. E as pessoas tinham chegado a este número contando todas as gerações desde Adão
e Eva até o presente. Darwin utilizaria as explicações de Lyell para a questão da evolução. Darwin,
por exemplo, estimou a idade da Terra em trezentos milhões de anos.
Isto porque uma coisa era certa: nem a teoria de Lyell sobre a evolução geológica gradual,
nem a teoria da evolução do próprio Darwin faziam sentido, se não fossem consideradas à luz de
intervalos de tempos extremamente dilatados. Hoje, estima-se a idade da Terra, em torno de dois
bilhões de anos. Até agora nós nos concentramos em um dos argumentos propostos por Darwin
para a evolução biológica: os depósitos estratificados de fósseis em diferentes formações
rochosas.
Outro argumento era a distribuição geográfica das espécies vivas. Nesse sentido, a
viagem de pesquisa de Darwin propiciou-lhe um material novo e extremamente rico.
Ele havia visto com seus próprios olhos que as diferentes espécies de animais de uma
região distinguiam-se uma das outras por detalhes mínimos. Foi nas ilhas Galápagos, a oeste do
Equador, que ele fez algumas observações muito interessantes.
As ilhas Galápagos são um grupo de ilhas vulcânicas bem próximas umas das outras.
Não havia, portanto, grandes diferenças na flora e na fauna. Mas Darwin estava interessado
justamente nas pequenas diferenças.
Em todas as ilhas ele encontrou tartarugas gigantes, mas de ilha para ilha elas eram um
pouco diferentes. Será que Deus realmente tinha criado uma espécie de tartaruga gigante para
cada uma daquelas ilhas?
Mais importante ainda foi o que Darwin observou nos pássaros das ilhas Galápagos. As
espécies de tentilhões variavam de ilha para ilha, o que podia ser observado nas formas dos bicos
desses pássaros. Darwin conseguiu demonstrar que essas diferenças estavam intimamente
relacionadas com o modo como os tentilhões se alimentavam nas diferentes ilhas.
Darwin também observou, que a fauna deste pequeno arquipélago tinha grandes
semelhanças com muitas espécies de animais que ele tinha visto na América do Sul. Será que
Deus realmente tinha criado esses animais para todo o sempre com pequenas diferenças, ou será
que os próprios animais tinham se modificado ao longo do tempo? Cada vez mais Darwin duvidava
de que as espécies eram imutáveis. Só que ainda lhe faltava uma explicação convincente para o
modo como se processava esta evolução, ou esta adaptação ao meio ambiente. O que ele tinha
era um argumento para a suposição de que todos os animais da Terra eram parentes.
A toda hora Darwin pensava na teoria de Liell sobre as minúsculas alterações capazes
de provocar grandes transformações ao longo do tempo. Só que ele não conseguia encontrar uma
explicação que pudesse valer como princípio universal. É claro que ele conheceu a teoria de
Lamarck, segundo a qual as diferentes espécies de animais tinham desenvolvido exatamente
aquilo de que precisavam. As girafas, por exemplo, teriam um pescoço tão cumprido porque, ao
longo das gerações, tiveram que esticá-lo cada vez mais para apanhar as folhas das árvores.
Lamarck acreditava também que as características adquiridas pelo indivíduo por meio de seu
próprio esforço eram herdadas depois por seus descendentes.
Há mais de dez mil anos, os homens vêm criando animais domésticos. Nem sempre as
galinhas botaram cinco ovos por semana, as ovelhas nem sempre tiveram tanta lã e os cavalos
nem sempre foram tão fortes e tão rápidos. Só que os homens fizeram uma seleção artificial. O
mesmo vale para a flora. Por que semear batatas estragadas, se podemos conseguir tanchões
sadios? Ninguém quer se dar ao trabalho de colher espigas sem grãos.
Darwin explica que não há duas vacas, duas espigas, dois cães nem dois tentilhões que
sejam iguais. A natureza apresenta uma vasta gama de variações. Mesmo dentro de uma única
espécie não há dois indivíduos rigorosamente iguais. Em vista disso, Darwin não pôde deixar de
se perguntar se na natureza não haveria um mecanismo correspondente.
Seria possível que também a natureza fizesse uma seleção, neste caso “natural”, dos
indivíduos que pudessem se desenvolver? E ainda: este mecanismo não poderia, ao longo do
tempo, provocar o surgimento de novas espécies de plantas e animais?
Darwin ainda não tinha conseguido entender muito bem como seria tal seleção “natural”.
Mas em 1838, exatamente dois anos depois de ter retornado com o Beagle, caiu-lhe às mãos
casualmente um pequeno livro de Thomas Malthus, especialista em estudos populacionais. O livro
se chamava Ensaio sobre o princípio de população. Malthus buscara inspiração para escrever
este livro no americano Benjamim Franklin, que entre outras coisas inventou também o para-raios.
Franklin chamava a atenção para o fato de que na natureza devia haver fatores de
limitação, pois se assim não fosse uma única espécie de planta ou de animal teria se espalhado
por toda a Terra. E era o simples fato de haver diferentes espécies que as mantinha em equilíbrio.
Malthus desenvolveu esta ideia e a aplicou à situação populacional da Terra. Ele dizia que a
capacidade de procriação do homem é tão grande que o número de nascimentos é sempre muito
superior ao número de crianças que chegam a crescer. E como a produção de alimentos nunca
consegue acompanhar o crescimento populacional, um grande número de pessoas está
condenado a perecer na luta pela sobrevivência. Quem consegue sobreviver, e pode assim
assegurar o sustento de sua família, está entre aqueles que melhor se saíram na luta pela
sobrevivência.
E era exatamente este o mecanismo universal que Darwin vinha procurando. De repente,
ele achou uma explicação para o modo como a evolução se processa. E a responsável por isso
tudo é a seleção natural na luta pela vida: quem melhor se adapta ao meio ambiente sobrevive e
pode garantir a continuidade de sua espécie. Esta era a segunda teoria que ele publicou em seu
livro Sobre a origem das espécies.
Darwin também explicou que a luta pela sobrevivência entre as espécies mais próximas
geralmente é a mais acirrada. É que elas precisam lutar pelo mesmo alimento. E nessa hora são
as pequenas diferenças, ou seja, os pequenos desvios positivos da média, que mais contam.
Quanto mais acirrada a luta pela sobrevivência, mais rápida a evolução de novas espécies. E
nesse contexto sobrevivem apenas os que melhor se adaptarem; todos os outros perecem. Outro
dado importante é a capacidade de escapar das garras de outros animais. Por exemplo, pode ser
muito vantajoso ter uma cor de pele que funciona como camuflagem, pode correr rapidamente,
pressentir a presença de predadores ou, pelo menos, ter um sabor repelente. Um veneno capaz
de matar os predadores também pode ser importante. Não é por acaso que muitos cactos são
venenosos. É que quase nada além dos cactos é capaz de crescer nos desertos. Por esta razão,
estas plantas estão particularmente expostas a predadores vegetarianos.
O que levou Freud a se interessar pelos estudos médicos foi, em grande parte, a
excelente reputação da escola médica vienense caracterizada por sua preferência pela prática e
pela experimentação, e a sua aversão a tudo que se relacionava à teoria e sistema.
Durante seu período acadêmico, desenvolve pesquisas juntamente com alguns de seus
professores. Em março de 1881, recebe o diploma de médico, mas continua trabalhando no
laboratório de Ernest Brücke, professor e especialista na anatomia dos nervos, que o ajudou a
obter o título em neuropatologia.
Em 1885, Brücke, consegue para Freud, uma bolsa de estudos para um estágio em Paris,
juntamente com o célebre Joseph Charcot, diretor do Manicômio de Salpêtrière. Charcot era o
médico que mais entendia das questões da histeria, e utilizava a hipnose como técnica básica
para o tratamento de seus pacientes.
O início da obra freudiana está ligado à descrição clínica do caso de Anna O. que Freud
desenvolvera juntamente com Breuer e que seria publicado sob o título de Estudos Sobre a
Histeria (1895). Nesse livro, afirmam que os sintomas dos enfermos histéricos são resíduos e
símbolos de ocorrências traumáticas, nas quais um processo afetivo qualquer acaba sendo
desviado de sua elaboração consciente normal. A hipnose traria, então, a revivescência desse
fato passado, descarregando-o. A esse processo foi dado o nome de cartase.
Após esse estudo em conjunto, Freud começa cada vez mais a se convencer de que todo
o conteúdo das neuroses possui uma origem sexual, e que a hipnose e o método catártico de
Breuer não apresentavam bons resultados em todos os pacientes. Passa então a utilizar o método
da associação livre e foi aí que, segundo as suas próprias palavras, nasceu a psicanálise.
Esse método consistia em deixar o paciente livre para falar o que lhe viesse à mente, e
as associações das ideias assim expostas deveriam ser interpretadas pelo analista a fim de trazer
à tona o trauma responsável pela origem da perturbação nervosa.
Num estudo publicado alguns anos mais tarde, Três Contribuições para uma Teoria
Sexual, seriam desenvolvidos a tese de que a natureza da neurose era de origem sexual, tratando-
se então de impulsos reprimidos na época da infância do paciente - daí as considerações que faz
sobre o complexo de Édipo e sobre a sexualidade infantil, como determinantes básicas do
comportamento humano.
Durante os anos que precederam A Interpretação dos Sonhos (1900) e que se estendeu
até 1906, época que conheceu Jung, Freud viveu totalmente isolado da comunidade científica. E
foi justamente aí que foram concebidos os princípios básicos da psicanálise: os estudos sobre a
histeria, o recalque, o inconsciente, a estrutura e significação dos sonhos e a sexualidade infantil.
Foi aí que surgiu Jung, um médico suíço, não judeu, e bastante interessado nessa nova ciência.
“Quem conhece vossa ciência, prova o fruto da árvore do paraíso e torna-se vidente”, diria então
a Freud. Jung trouxe contribuições importantes às discussões que se travavam no pequeno círculo
psicanalítico de Viena, de então. Mas as dissensões começaram a surgir, e em 1912 ocorreria a
ruptura definitiva entre ambos. Nessa data, a psicanálise já possuía um número bem maior de
adeptos que se espalhavam por toda a Europa e Estados Unidos.
Apartir dos anos 20, Freud começa a ter reconhecimento mundial. Entretanto, alguns
fatos ocorridos no início da década de 20 vêm alterar profundamente a vida de Freud. Primeiro, a
morte de Sofia, a filha mais querida, e depois a morte do filho de Sofia, que era seu neto predileto.
Em 1923 é constatado um câncer em seu maxilar superior. A partir de então, sua vida será
acompanhada de grandes martírios que sempre foram superados de forma estoica. Durante os
dezesseis anos que ainda viverá, será submetido a 33 operações na boca, o que o levará a perder
todo o maxilar superior, tendo então que usar uma grande prótese para separar a boca do nariz,
o que será motivo de constantes dores e de dificuldade na fala.
Mas a sua produção intelectual permanece bastante intensa. Em 1923, publica O Ego e
o Id, onde apresenta um novo modelo dinâmico da mente, constituído pelo ego, superego e id.
Em 1930 é laureado com o prêmio Goethe.
Já bastante debilitado por sua doença, Freud passará este último ano de sua existência
em Londres, atendendo ainda a alguns pacientes e psicanalisando num inglês da mais absoluta
perfeição.
PSICANÁLISE
O id continua conosco na idade adulta e nos acompanha a vida toda. Só que aos poucos
vamos aprendendo a controlar nossos desejos a fim de nos adaptarmos ao nosso meio. Em outras
palavras, aprendemos a afinar nosso princípio de prazer com o princípio da realidade. Freud diz
que constituímos um ego e que este ego assume esta função reguladora. A partir de certa idade,
embora tenhamos prazer em alguma coisa, não podemos simplesmente sentar e abrir o berreiro
até que nossos desejos ou necessidades sejam satisfeitos.
Mas pode acontecer de nós desejarmos intensamente alguma coisa que nosso meio não
aceita. O que acontece é que muitas vezes reprimimos nossos desejos. Quer dizer, tentamos
colocá-los de lado e esquecê-los.
Mas Freud aponta também uma terceira instância na psique humana: ainda crianças,
somos confrontados com os padrões morais de nossos pais e de nosso meio. Quando fazemos
alguma coisa de errado, nossos pais dizem “não faça isto!” ou então “que vergonha!”. E mesmo
depois de adultos podemos ouvir o eco de tais repreensões e julgamentos morais. As expectativas
de nosso meio no plano da moral parecem ter se alojado dentro de nós e passado a constituir uma
parte de nós mesmos. É isto que Freud chama de superego.
Freud chega a dizer textualmente que o superego se opõe ao ego como uma espécie de
consciência. Na verdade, porém, trata-se do seguinte: o superego nos informa, por assim dizer,
quando nossos desejos são “sujos” ou “impróprios”, e isto vale especialmente para os desejos
eróticos ou sexuais, que surgem bem cedo na infância.
Hoje em dia sabemos e vemos os bebês gostam de brincar com seus órgãos genitais.
Podemos ver isto, por exemplo, quando vamos à praia ou à piscina. Na época de Freud, a criança
de dois ou três anos que fizesse isto na frente dos outros ganhava um belo tapa na mão. Naquela
época, era comum as crianças ouvirem frases tais como: “Que coisa mais feia!” ou “Não faça
isso!”, ou ainda “Deixe as mãos para fora das cobertas!”.
Muitos dos pacientes de Freud viviam este conflito de forma tão intensa que chegaram a
desenvolver o que Freud chamou de neuroses. Uma de suas pacientes, por exemplo, apaixonou-
se por seu cunhado. Quando sua irmã morreu ainda jovem, vítima de uma enfermidade, ela
pensou junto ao leito de morte da irmã: “Agora ele está livre e pode se casar comigo!”. Este
pensamento naturalmente entrou em conflito direto com o seu superego. Era um pensamento tão
hediondo que ela o reprimiu, como Freud diz. Quer dizer, ela o enterrou no inconsciente. Depois,
aquela jovem senhora ficou doente e passou a apresentar sérios sintomas de histeria. E quando
Freud assumiu o tratamento dela, ficou claro que ela tinha se esquecido completamente da cena
junto ao leito de morte de sua irmã e do desejo terrível, egoísta, que sentira vir à tona dentro de
si. Durante o tratamento, a paciente voltou a se lembrar da cena, reviveu aquele momento que era
a causa de sua enfermidade e ficou curada.
Após um longo período de experiência com pacientes, Freud chegou a conclusão de que
a consciência humana era apenas uma pequena parte da psique. A consciência seria mais ou
menos como a ponta de um iceberg que se eleva para além da superfície da água. Sob a
superfície, ou sob o limiar da consciência, está o subconsciente, ou o inconsciente.
Não podemos ter presente em nossa consciência, o tempo todo, todas as experiências
que vivemos. Mas tudo o que pensamos ou vivemos e tudo de que nos lembramos quando pomos
a cabeça para funcionar Freud chama de ‘pré-consciente”. A expressão “inconsciente” significa,
para Freud, tudo o que reprimimos. Quer dizer, tudo de que nós queremos nos esquecer a
qualquer preço porque consideramos desagradável, indecoroso ou repulsivo. Quando temos
desejos e prazeres que para nossa consciência, ou para nosso superego, são insuportáveis, nós
simplesmente os enfiamos no porão do inconsciente e assim nos livramos deles.
Este mecanismo funciona em todas as pessoas sadias. Para algumas pessoas, porém, o
ato de banir tais pensamentos desagradáveis ou proibidos é algo tão estressante que elas ficam
doentes. É que aquilo que foi reprimido desta forma continua tentando emergir para o nível da
consciência, de sorte que cada vez mais energia é despendida para se manter tais impulsos longe
da crítica do consciente.
Em 1909, quando Freud proferiu algumas palestras nos Estados Unidos sobre a
psicanálise, ele ilustrou com um exemplo muito simples o funcionamento desse mecanismo de
repressão.
Ele pediu aos ouvintes que imaginassem que no auditório havia um indivíduo que
perturbava a ordem e desconcentrava o orador rindo às gargalhadas, conversando com seus
vizinhos e arrastando e batendo os pés no chão. Chegaria, então, um momento em que o orador
não poderia continuar a falar. Nesse momento, alguns homens fortes provavelmente se
levantariam e, depois de uma breve discussão, colocariam o elemento perturbador porta afora, no
corredor. O indivíduo seria “reprimido”, portanto, e o orador poderia continuar com sua palestra.
Mas para evitar que o elemento perturbador tentasse forçar sua entrada de novo no auditório, os
mesmos homens que o tinham colocado para fora levariam suas cadeiras até à porta e
funcionariam como uma espécie de resistência para garantir a repressão. Freud concluiu dizendo
que se os ouvintes imaginassem o auditório como o “consciente” e o corredor como o
“inconsciente” teriam uma boa imagem de como funciona o processo de repressão.
Uma coisa é certa: o elemento perturbador vai querer entrar novamente na sala de
conferência. Em todo caso, é isto o que querem nossos pensamentos e impulsos reprimidos.
Vivemos sob a constante pressão de pensamentos reprimidos, que tentam se libertar do
inconsciente. Por isso é que muitas vezes dizemos e fazemos coisas que na verdade “não
tínhamos a intenção de fazer”. Dessa forma, o inconsciente também pode guiar nossos
sentimentos e ações.
Freud descreve vários mecanismos. Um deles é o chamado ato falho, ou seja, algo que
dizemos ou fazemos espontaneamente e que um dia tínhamos reprimido. Ele fala, por exemplo,
de um empregado que foi escolhido para fazer um brinde ao seu chefe, de quem ninguém gostava.
O empregado se levantou, ergueu o copo e disse: “Convido todos a arrotarem em homenagem a
nosso chefe!”. O empregado simplesmente tinha expressado o que realmente achava de seu
chefe. Talvez nunca tivesse ousado dizê-lo abertamente a ele.
Às vezes nós também racionalizamos, quer dizer, tentamos mostrar a nós mesmos, e aos
outros, que temos outros motivos para fazer o que fazemos em certas situações, e não revelamos
os reais motivos que nos levaram a agir de certa maneira, simplesmente porque eles são
constrangedores demais.
Freud dizia que nossa vida cotidiana está repleta de tais ações inconscientes. Muitas
vezes nos esquecemos do nome de certa pessoa, ficamos mexendo numa pontinha de nossa
roupa enquanto estamos falando ou então ficamos mudando de posição objetos aparentemente
sem importância. Ou podemos tropeçar em nossas próprias palavras e acabar trocando letras e
nomes, que á primeira vista podem parecer totalmente inocentes, mas que na verdade não são.
Freud pelo menos não considera essas coisas tão inocentes e causais como podemos achar. Ele
acha que elas poderiam ser encaradas como sintomas. Para ele, esses atos falhos podem nos
revelar segredos os mais íntimos.
Freud chamava este procedimento de técnica da livre associação. Isto significa que ele
deixava o paciente deitado, bem relaxado, falando apenas sobre coisas que lhe viessem à cabeça,
por mais irrelevantes, causais, desagradáveis ou penosas que elas lhe fossem. Para o analista,
as associações do paciente no divã trazem indícios de seus traumas e das resistências que
impedem a conscientização. Pois são exatamente os traumas que ocupam os pacientes o tempo
todo, só que não de forma consciente.
Para Freud, o “caminho real” que leva para o inconsciente passa pelos sonhos. Por esta
razão, uma de suas mais importantes obras é o livro A Interpretação dos Sonhos, publicada em
1900. Nele, Freud mostra que nossos sonhos não são meros acasos. Por meio dos sonhos,
nossos pensamentos inconscientes tentam se comunicar com nosso consciente.
Após longos anos de experiências acumuladas no trabalho com seus pacientes, e
também depois de ter analisado os seus próprios sonhos, Freud afirmou que todos os sonhos são
a realização de desejos. Ele dizia que podemos observar isto claramente nas crianças: elas
sonham com sorvetes e cerejas, por exemplo. Em adultos, porém, acontece com frequência de os
desejos a serem satisfeitos no sonho aparecerem disfarçados. Isto acontece porque mesmo
quando estamos dormindo uma censura severa continua a determinar o que podemos nos permitir
ou não. Quando estamos dormindo, esta censura, ou mecanismo de repressão, é mais fraca do
que quando acordados, mas ainda é forte o bastante para desfigurar no sonho os desejos que não
queremos confessar nem a nós mesmos.
Freud mostra que precisamos distinguir entre o sonho, tal como ele nos vem à lembrança
na manhã seguinte, e o seu verdadeiro significado. As próprias imagens oníricas, quer dizer, o
filme ou o vídeo a que assistimos quando sonhamos, ele as chamou de conteúdo manifesto do
sonho. Mas o sonho também tem um significado mais profundo, que permanece inacessível ao
consciente.
Pessoas com problemas psíquicos precisam analisar junto com um terapeuta, o sonho,
para entender do que ele trata realmente. Mas não é o médico quem interpreta os sonhos. Ele só
pode fazer isto com a ajuda do paciente. O médico entra nessa situação apenas como uma parteira
socrática que ajuda na interpretação.
Datam dessa época suas leituras de Schiller (1759-1805) e Byron (1788-1824); sob essa
influência e a de alguns professores, Nietzsche começou a afastar-se do cristianismo. Excelente
aluno em grego e brilhante em estudos bíblicos, alemão e latim, seus autores favoritos, entre os
clássicos, foram Platão (428-348 a.C.) e Ésquilo (525-456 a.C.). Influenciado por seu professor
predileto, Ritschl desistiu de estudar teologia e passou a residir em Leipzig, dedicando-se à
filologia. Ritschl considerava a filologia não apenas como história das formas literárias, mas como
estudo das instituições e do pensamento. Nietzsche seguiu-lhe as pegadas e realizou
investigações originais sobre Diógenes Laércio (séc. III), Hesíodo (séc. VIII a.C.) e Homero. A
partir desses trabalhos foi nomeado, em 1869, professor de filologia em Basiléia, onde
permaneceu por dez anos. A filosofia somente passou a interessá-lo a partir da leitura de O Mundo
como Vontade e Representação, de Schopenhauer (1788-1860), sendo atraído pelo seu ateísmo.
Em 1867, Nietzche foi chamado para prestar o serviço militar, mas um acidente em
exercício de montaria livrou-o dessa obrigação. Voltou então aos estudos na cidade de Leipzig.
Nessa época teve início sua amizade com Richard Wagner (1813-1883), que tinha quase 55 anos
e vivia com Cosima, filha de Liszt (1811-1886). Nietzsche encantou-se com a música de Wagner
e com seu drama musical, principalmente com Tristão e Isolda. Na universidade, passou a tratar
das relações entre a música e a tragédia grega, esboçando seu livro O Nascimento da Tragédia
no Espírito da Música.
Em 1870, a Alemanha entrou em guerra com a França; nessa ocasião, Nietzsche serviu
o exército como enfermeiro, mas por pouco tempo, pois logo adoeceu. Após seu lento
restabelecimento, Nietzsche voltou a Basiléia a fim de prosseguir seus cursos. Nos anos seguintes
seu estado de saúde piorou, sentindo fortes dores de cabeça, perturbações oculares, dificuldades
na fala. Interrompeu, assim, sua carreira universitária por um ano. Mesmo doente foi até Bayreuth,
para assistir à apresentação de O Anel dos Nibellungos, de Wagner. Mas o “entusiasmo
grosseiro” da multidão e a atitude de Wagner embriagado pelo sucesso o irritaram.
Em 1879, pediu demissão do cargo. Nessa ocasião, iniciou sua grande crítica dos valores.
Nesta fase de sua vida, Nietzsche realiza inúmeras viagens pela Alemanha, Itália e Suíça.
Depois de 1888, Nietzsche passou a escrever cartas estranhas. Um ano mais tarde, em
Turim, enfrentou o auge da crise; escrevia cartas assinando “Dioniso”, ora “o Crucificado” e acabou
sendo internado em Basiléia, onde foi diagnosticada uma “paralisia progressiva”.
Este pensador foi e continua sendo um dos principais críticos da cultura e valores
ocidental. O pensamento de Nietzsche é poético e desordenado, por isso é difícil reduzi-lo à
unidade. Muitos historiadores, porém, costumam distinguir a evolução de sua filosofia em três
períodos:
Para Nietzche, um tipo de filósofo encontra-se entre os pré-socráticos, nos quais existe
unidade entre o pensamento e a vida, esta “estimulando” o pensamento, e o pensamento
“afirmando” a vida. Mas o desenvolvimento posterior da filosofia teria trazido consigo a progressiva
degeneração dessa característica, e, em lugar de uma vida ativa e de um pensamento afirmativo,
a filosofia ter-se-ia proposto como tarefa “julgar a vida”, opondo a ela valores pretensamente
“superiores” como o Divino, o Belo, o Bem. Essa degeneração, afirma Nietzsche, apareceu
claramente com Sócrates, quando se estabeleceu a distinção entre dois mundos, pela oposição
entre essencial e aparente, verdadeiro e falso, inteligível e sensível. Com Sócrates, teria surgido
um tipo de filósofo inaugurando a época da razão e do homem teórico, que se opôs ao sentido
místico de toda a tradição da época da tragédia.
Para Nietzsche, a grande tragédia grega apresenta como característica o saber místico
da unidade e da morte e, nesse sentido, constitui uma “chave” que abre o caminho essencial do
mundo. Mas Sócrates interpretou a arte trágica como algo irracional, algo que apresenta efeitos
sem causas e causas sem efeitos, tudo de maneira tão confusa que deveria ser ignorada. Segundo
Sócrates, a arte da tragédia desvia o homem do caminho da verdade: “uma obra só é bela se
obedecer à razão”, fórmula que, segundo Nietzsche, corresponde ao aforismo “só o homem que
conhece o bem é virtuoso”.
“Este ódio de tudo que é humano”, diz Nietzsche, “de tudo que é ‘animal’ e mais ainda de
tudo que é ‘matéria’, este horror dos sentidos... este temor da felicidade e da beleza; este desejo
de fugir de tudo que é aparência, mudança, dever, morte, esforço, desejo mesmo, tudo isso
significa... vontade de aniquilamento (niilismo), hostilidade à vida, recusa em se admitir as
condições fundamentais da própria vida”.
Em latim, bonus significa também o “guerreiro”, significado este que foi sepultado pelo
cristianismo. Assim como esse, outros significados precisariam ser recuperados; com isso se
poderia constituir uma genealogia da moral que explicaria as etapas das noções de “bem” e de
“mal”.
A etimologia nietzschiana mostra que não existe um “sentido original”, pois as próprias
palavras não passam de interpretações, antes mesmo de serem signos. As palavras, segundo
Nietzche, sempre foram inventadas pelas classes superiores e, assim, não indicam um significado,
mas impõe uma interpretação.
3o. Período: Nietzsche inicia o último e definitivo estágio de seu pensamento, orientado
para o supremo valor da vontade, que se sintetiza na fórmula: “vontade de poder”. É o período,
pois, que abrange suas concepções de transmutação de todos os valores e da moral. Escreveu
então: Assim falou Zaratustra (1883/85); Para Além do bem e do mal (1885/86); Sobre a
Geneologia da Moral (1887); O Crepúsculo dos Ídolos (1888); O Anticristo (1888); e Ecce
Homo (1888).
Comentários: Em 1883, Nietzsche escreveu Assim Falou Zaratustra. Foi sua obra-
prima. Trata-se de um dos grandes livros do século XIX. No entanto, Nietzsche teve grandes
dificuldades para imprimi-lo; a primeira parte ficou atrasada, porque as prensas do editor estavam
ocupadas com uma encomenda de quinhentos hinários, e depois por uma torrente de panfletos
antissemitas, e o editor recusou-se a imprimir a última parte, achava que não valia um tostão
furado; assim o autor teve de pagar a edição do próprio bolso. Foram vendidos quarenta
exemplares do livro; sete foram dados de presente; só uma pessoa agradeceu; ninguém o elogiou.
Nunca houve um homem tão só.
Zaratustra com trinta anos de idade desce de sua montanha, contemplativo, para pregar
às multidões, como o seu protótipo persa, Zoroastro; mas a multidão lhe dá as costas para ver o
trabalho de um homem que andava numa corda. O homem cai, e morre. Zaratustra o põe nos
ombros e o leva embora; “como fizeste do perigo a tua profissão, irei enterrar-te com minhas
próprias mãos”. “Vivei, perigosamente”, prega ele. “Construí-vos vossas cidades ao lado do
Vesúvio. Enviai vossos navios para mares inexplorados. Vivei em estado de guerra”.
Zaratustra se tornou, para Nietzsche, um Evangelho sobre o qual seus livros posteriores
eram meramente comentários.
Morte de Deus - Deus está morto! Para o filósofo não trata de uma blasfêmia, mas de
um fato consumado. Deus vivia na consciência humana, agora o homem repeliu essa existência.
“Vós o haveis matado, vós e eu. Somos seus assassinos”. É Zaratustra que nos diz: “Deus
devia morrer. Se houvera Deus, como suportaria eu o não sê-lo? (...) “Esta vontade me afastou de
Deus e dos deuses, porque, que poderia eu criar se houvera Deus?”. (...) “desde que Deus não
existe, a solidão tornou-se intolerável; é preciso, pois, que o homem superior, ponha as mãos à
obra”.
Fidelidade a terra - Uma vez que Deus está morto, não existe outro mundo, senão o
nosso. A vida terrena é a única realidade. “Eu vos conjuro, meus irmãos, continuai fiéis à Terra e
não acrediteis naqueles que vos falam de esperanças supraterrestres! Envenenadores eles são,
quer saibam, quer não.”
Moral dos Senhores - Da “vontade de poder” decorre a moral dos senhores e a moral
dos escravos. Para Nietzsche: “Os bons são os fortes, os valorosos, os nobres, os criadores, os
senhores. Seus contrários são os débeis, os covardes, os deserdados da vida, os pusilânimes, os
escravos”. A distinção entre ambas as morais conduziu Nietzsche a uma visão da História
dominada pelo mito da “rebelião dos escravos”. O ressentimento dos fracos contra os fortes levou-
os a canonizar pouco a pouco sua própria debilidade, até convertê-la numa série de virtudes
agradáveis a Deus. O sofrimento, a paciência, a humildade, a bondade, a compaixão, etc. Esta
grande subversão de valores realizou-se principalmente no judaísmo e foi consumada pelo
cristianismo. Na verdade, Nietzsche é que é o filósofo da transmutação dos valores.
O eterno retorno - Para concluir, Nietzsche afirma que o mundo passa e voltará a passar
indefinidamente pelas mesmas fases e cada homem voltará a ser o mesmo em novas existências.
Apoiado na crítica nietzschiana aos valores da moral cristã, em sua teoria da vontade de
potência e no seu elogio do super-homem, desenvolveu-se um pensamento nacionalista e racista,
de tal forma que se passou a ver no autor de Assim falou Zaratustra um precursor do nazismo. A
principal responsável por essa deformação foi sua irmã Elisabeth, que, ao assegurar a difusão de
seu pensamento, organizando o Nietzsche-Archiv, em Weimar, tentou colocá-lo a serviço do
nacional-socialismo. Elisabeth, depois do suicídio do marido, que fracassara em um projeto
colonial no Paraguai, reuniu arbitrariamente notas e rascunhos do irmão, fazendo publicar
Vontade de Potência como a última e a mais representativa das obras de Nietzsche, retendo até
1908 Ecce Homo, escrita em 1888. Esta obra constitui uma interpretação, feita por Nietzsche, de
sua própria filosofia, que não se coaduma com o nacionalismo e o racismo germânico. Ambos
foram combatidos pelo filósofo, desde sua participação na guerra franco-prussiana (1870-1871).
Por ocasião desse conflito, Nietzsche alistou-se no exército alemão, mas seu ardor
patriótico logo se dissolveu, pois, para ele, a vitória da Alemanha sobre a França teria como
consequência “um poder altamente perigoso para a cultura”. Nessa época, insistia junto a seus
alunos para que não tomassem o triunfo militar e a expansão de um Estado como indício de
verdadeira grandeza.
Em Para Além de Bem e Mal, Nietzsche revela o desejo de uma Europa unida para
enfrentar o nacionalismo (“essa neurose”) que ameaçava subverter a cultura europeia. Assim
esboçou, Nietzsche a caricatura e seu desprezo pelos alemães: “homens que introduziram no
lugar da cultura a loucura política e nacional... que só sabem obedecer pesadamente, disciplinados
como uma cifra oculta em um número”. E acabou rompendo definitivamente com Wagner, por
causa do nacionalismo e antissemitismo.
Embora o século XIX tenha testemunhado o início das democracias modernas, foi lento
o surgimento de governos democráticos. Até 1900, apenas homens tinham o direito a votar. Pouco
a pouco, no entanto, a campanha em defesa dos direitos da mulher ganhou força. Ao longo dos
50 anos que se seguiram, a maioria dos países democráticos concedeu o voto à mulher e sua
consequente participação na política.
No século XX, a população mundial aumentou para mais de 6 bilhões. Hoje, mais do que
nunca, uma grande parcela dessa população concentra-se em cidades, em áreas de altíssima
densidade. Não surpreende que boa parte da história do século tenha sido a história de grandes
massas populacionais.
Em nenhum outro momento nota-se isso com mais clareza do que no período das duas
guerras mundiais, os conflitos mais devastadores da história da humanidade. Estima-se que cerca
de onze milhões de pessoas morreram na Primeira Guerra. A Segunda, com um impressionante
número de vítimas civis, pode ter causado a morte de mais de quarenta milhões de pessoas. O
lançamento das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, no final
da Segunda Guerra Mundial, criou a possibilidade de guerras ainda mais destrutivas.
O século vinte foi um período de mudanças aceleradas. A tecnologia evoluiu com mais
rapidez, e com um alcance maior do que nos séculos anteriores. Invenções e descobertas do
século XIX, do rádio e o cinema ao automóvel e o telefone, desenvolveram-se de tal modo que
ultrapassaram os mais delirantes sonhos dos pioneiros. E novos avanços, como o transporte
aéreo, a exploração espacial, a televisão e o computador, transformaram o mundo, facilitando
ainda mais a viagem e a comunicação e abrindo novas perspectivas nas áreas da educação e do
entretenimento. O progresso científico foi igualmente rápido. Os astrônomos descobriram que
nossa galáxia, a Via-Láctea, é apenas uma entre cem bilhões de outras que se afastam de si a
velocidades colossais. Cientistas acreditam que essa expansão se deve a uma explosão inicial, o
chamado Big Bang.
O homem acontece na História. É vivido, até certo ponto, pelos valores de cada época.
(*) Tecnologia é o conhecimento científico que passa para a prática ou que se transforma num
instrumento de modificação de algum aspecto da natureza. A Ciência não se confunde com a
tecnologia, mas esta pertence à essência do conhecimento científico.
O homem contemporâneo aprende que seu lugar é esta Terra e que é fundamental
reconciliar-se consigo mesmo e com os outros. Precisa compreender que:
- a vida é uma possibilidade, um sim e um não, isto é, o continuar vivo ou não é uma
alternativa que acontece;
- a vida está abandonada a seu próprio destino, mas, como ser racional, o homem tem
condições de conduzir-se satisfatoriamente;
- não pediu para nascer e tem diante de si a morte;
- é preciso ter fé na vida.
EDMUND HUSSERL
1859 - 1938
O título de sua conferência inaugural em Hale, onde ensinou de 1887 a1901, foi "Sobre
os objetivos e problemas da metafísica". O objeto tradicional da metafísica é o estudo do Ser. O
texto se perdeu, mas é provável que nele Husserl já apresentasse seu método de análise da
consciência como o caminho para uma nova e universal filosofia e uma nova metafísica.
Para ele a base filosófica para a lógica e a matemática precisa começar com uma análise
da experiência que está antes de todo pensamento formal. Isto obrigou-o a um intenso estudo dos
empiristas ingleses John Locke, George Berkeley, David Hume, e John Stuart Mill, e familiarizar-
se com a terminologia da lógica e semântica derivada daquela tradição.
Essa integração de suas ideias com o pensamento empirista levou-o às concepções
apresentadas em sua famosa obra "Investigações lógicas" (1900-01), onde apresentou o método
de análise que chamou "phenomenologico".
Em seu esforço de pesquisa, Husserl chegou a um extremo: anotava todos os
movimentos de seu pensamento. Durante sua vida produziu mais de 40.000 páginas
estenografadas.
Neste sentido ele havia lançado em suas aulas sobre Filosofia Primeira (1923-24) a tese
de que a Fenomenologia, com seu método de redução é o caminho para a absoluta justificação
da vida, ou seja, para a realização da autonomia ética do homem.
Muitos visitantes estrangeiros compareciam aos seus seminários. Por um período Rudolf
Carnap, figura de proa do Círculo de Viena, onde nasceu o Positivismo lógico. Reconhecimento
vindo de fora não faltou. Em 1919 a Universidade de Bonn conferiu-lhe o título de Doutor honoris
causa. Fez palestras na Universidade de Londres (1922), na universidade de Amsterdã e, mais
tarde, em 1930, na Sorbone.
Quando ele aposentou em 1928, Martin Heidegger, que haveria de tornar-se um expoente
do existencialismo e um dos mais importantes filósofos alemães, foi seu sucessor.
Husserl o havia considerado seu herdeiro legítimo. Somente mais tarde viu que a principal
obra de Heidegger, "O ser e o tempo" de 1927, havia dado à Fenomenologia uma reviravolta que
a levaria para um caminho totalmente diferente. Seu desapontamento fez que seu relacionamento
com Heidegger esfriasse depois de 1930.
Com a chegada ao poder de Adolf Hitler em 1933 ele foi excluído da universidade. Porém
recebia a visita de filósofos e intelectuais estrangeiros. Condenado ao silêncio na Alemanha, ele
recebe, na primavera de 1935, um convite para falar para a Sociedade Cultural em Viena, onde
discursou por duas horas e meia sobre "A filosofia na crise da humanidade européia " palestra que
repetiu dois depois.
Enfermo a partir de 1937, disse desejar morrer de um modo digno de um filósofo "Eu vivi
como um filósofo, disse, e eu quero morrer como um filósofo".
FILOSOFIA
O pragmatismo não constitui na verdade um novo sistema filosófico, mas um novo método
que pretende eliminar as discussões intermináveis e estéreis dos filósofos. Os pragmatistas não
indagam se uma teoria é verdadeira em si mesma, mas que frutos poderá produzir para a vida
prática, uma vez aceita como verdadeira ou falsa. Assim, que utilidade terá para a vida humana a
crença numa estrutura monista ou pluralista do Universo; a afirmação ou negação da existência
de Deus, do determinismo, do livre arbítrio? Se as consequências práticas de opiniões opostas
são iguais, ambas terão o mesmo valor e qualquer discussão em torno delas será inútil.
No concernente a Deus, não importa indagar sua existência ou natureza, mas estabelecer
a veracidade útil da doutrina que afirma sua existência para melhorar a vida humana. Verifica-se,
assim, que a religião sendo fonte de paz, alegria e energia moral, e que nem os indivíduos, nem
as sociedades encontraram outra fonte de dedicação e desinteresse que a pudesse substituir;
logo, sendo útil, necessária, insubstituível, é verdadeira.
Por isso afirmou o Pe. França: “como a utilidade pode variar de indivíduo para indivíduo,
de época para época, a noção pragmática da verdade é subjetiva, dinâmica, relativa e imanente”.
WILLIAN JAMES
1842-1910
A teoria das emoções de James tenta explicar o que realmente determina a emoção. Para
explicação do problema existem duas teorias: a psicológica e a fisiológica.
(...) Não há nada de novo absolutamente no método pragmático. Sócrates foi adepto dele.
Aristóteles empregou-o metodicamente. Locke, Berkeley e Hume fizeram contribuições
momentâneas à verdade por seu intermédio. (...) Esses precursores do pragmatismo, porém,
usaram-no de maneira fragmentária: apenas o preludiaram. Não foi senão em nossa época que
se generalizou, tornou-se consciente de uma missão universal, aspirou a um destino conquistador.
Acredito nesse destino, e espero poder terminar transmitindo-lhes toda a minha fé.
(...) A metafísica tem, comumente, seguido uma trilha muito primitiva de interrogatório.
Sabe-se quanto os homens têm suspirado por poderes mágicos ilícitos, e se sabe também a
grande parte que as palavras sempre desempenharam na magia. Se temos o nome ou a fórmula
de encantamento que lhe diz respeito, pode-se controlar o espírito, gênio, entidade ou qualquer
que seja o poder. Salomão sabia os nomes de todos os espíritos, e, tendo os seus nomes,
mantinha-os sujeitos à sua vontade. Assim, o universo tem sempre aparecido ao espírito natural
como uma espécie de enigma, do qual a chave deve ser procurada na configuração de algum
nome ou palavra mágica ou iluminada. Esta palavra designa o princípio do universo, e possuí-la
é, de certo modo, possuir o próprio universo. “Deus”, “Matéria”, “Razão”, “Absoluto”, “Energia”, são
muitos desses nomes encantados. Podemos repousar quando os temos. Chegamos ao fim de
nossa pesquisa metafísica.
Se, porém, seguimos o método pragmático, não podemos limitar a nenhuma dessas
palavras como definitiva. Tem-se de extrair de cada palavra o seu valor de compra prático, pô-lo
a trabalhar dentro da corrente de nossa experiência. Desdobra-se, então menos como uma
solução do que como um programa para mais trabalho, e mais particularmente como uma
indicação dos caminhos pelos quais as realidades existentes podem ser modificadas.
(*) Segunda Conferência de oito conferências, onde Willian James apresenta sua concepção de
pragmatismo. Trechos selecionados de sua obra principal, Pragmatismo (1906/07), Coleção
Os Pensadores.
BERGSON
(1859-1941)
O método bergsoniano tenta levar as pessoas a enxergar, para além das palavras, a
realidade subjacente. A linguagem, sem dúvida, é útil, é indispensável à ação, à
comunicação, mas para a meditação, para a Filosofia, será necessário entrar mais fundo no
real.
Henri Bergson foi um pensador original. No exercício de sua filosofia beneficiou-se das
Ciências modernas, a Biologia, a Física e, sobretudo a Psicologia nascente. Quase toda a obra de
Bergson está ligada ao problema da duração e do movimento.
Um dia, ao terminar uma aula sobre Zenão de Eléia, continuou, em um passeio através
da floresta, a meditar sobre o famoso problema de Aquiles e da tartaruga. Esse paradoxo clássico
é bem conhecido. Se, numa corrida, entre os dois, a tartaruga começar com uma pequena
dianteira, Aquiles nunca a alcançará. Considerando-se que, a cada espaço de tempo, tanto
Aquiles como a tartaruga avança um ponto do espaço total, a cada momento, tanto aquele como
esta avançam um ponto apenas. Assim, não poderão encontrar-se.
Apesar disso, dizia a si mesmo o jovem professor: “eu sei que ele a alcançará. É o meu
bom senso que o afirma. É o que prova a experiência. Mas, qual é a explicação dessa velha
dificuldade? Pela razão, partindo dos postulados estabelecidos, Zenão tinha razão. Mas, pela
intuição, que penetra nas coisas de forma mais autêntica e genuína, vejo que, no mundo real, isto
é puro jogo ge palavras”.
Mas a verdadeira duração é um fluxo contínuo, O nosso tempo interior não é o relógio. O
problema de Zenão é apenas um problema de palavras mal-empregadas. O raciocínio prova que
Aquiles não alcançará jamais a tartaruga. A intuição sabe que lhe bastam alguns passos para
chegar até ela. É a intuição que tem a resposta certa.
Intuição é uma visão direta e imediata de algo, sem recursos intermediários. Uma
intuição pode ser preparada por muito trabalho anterior, mas, no momento em que ocorre, a coisa
é percebida diretamente.
Bérgson não tardou a descobrir que, em outros pontos fundamentais, a intuição levava
vantagem sobre o conhecimento discursivo.
Podemos dividir esta corrente em dois grupos principais: De um lado, temos o Círculo de
Viena, formado por Carnap, Karl Popper e outros pensadores e de outro, podemos mencionar a
Escola de Oxford, agrupada em torno de Bertrand Russell e Wittgenstein, sempre preocupada
com a análise lógica da linguagem e da verdade.
KARL POPPER
1902 – 1995
Karl Popper desenvolveu uma das explicações mais convincentes sobre a ciência. Segundo
ele, a dedução, e não a indução, foi o processo que guiou o curso da ciência desde o
matemático Pitágoras até a atual comunidade científica.
Um dos temas filosóficos mais presentes desde o século XVIII é a tentativa da filosofia
de explicar o êxito da ciência, já que esta ameaça a relevância e o valor daquela. Por que os
acadêmicos vão interessar-se pela filosofia, se a ciência pode fornecer respostas relativas ao
sentido da existência com mais vigor e segurança? Na virada do século XX, mais filósofos
mostravam-se dispostos a admitir a supremacia da ciência em relação a assuntos sobre os quais
antes a filosofia pretendia ter um conhecimento privilegiado.
Foi dentro deste contexto que Karl Popper contribuiu para a filosofia, ao fornecer uma das
explicações mais significativas do progresso científico. Ela baseia-se, sobretudo, em uma teoria
sobre o funcionamento da ciência e sobre como se pode distingui-la de processos não-científicos.
Popper argumentou que a teoria científica será sempre conjetural e provisória. O que a
experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da
falsidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar
a falsidade da teoria em análise. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se provou falsa e
procurar uma outra teoria para explicar o fenômeno em análise.
Este aspecto é fundamental para a definição da ciência. Científico é apenas aquilo que
se sujeita a este confronto com os fatos. Ou seja: só é científica aquela teoria que possa ser
falseável (refutável).
Uma afirmação que não possa ser confrontada com a sua veracidade pelo confronto com
a realidade não é científica. Será talvez uma especulação metafísica. Para Popper a verdade é
inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela por tentativas. O estado atual da ciência é
sempre provisório. Ao encontrarmos uma teoria ainda não refutada pelos fatos e pelas
observações, devemos nos perguntar, será que é mesmo assim? Ou será que posso demonstrar
que ela é falsa? Einstein é o melhor exemplo de um cientista que rompeu com as teorias da física
estabelecidas.
BERTRAND RUSSELL
(1872 - 1970)
Crítico das instituições sociais opressoras milita ativamente em movimentos pela defesa
da liberdade humana. Desde 1896, quando publica Democracia Social Alemã, até 1946, não passa
um ano sem escrever um livro. Publica, entre 1910 e 1913, os Princípios da Matemática, obra
fundamental na área. Entre 1910/13, Caminhos da Liberdade. E Conhecimento Humano entre
1919/1948. Ao longo de sua vida escreveu mais de 40 livros.
Em 1912, quando Wittgenstein chegou a Cambridge, Russel foi seu mestre em filosofia,
chegando a considera-lo brilhante. Entretanto a abordagem destrutiva de Wittgenstein quanto à
validade da filosofia, fez com que o relacionamento dos dois tornasse difícil e tenso.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Russell foi preso por seu pacifismo. Em 1920, visitou
à recém-formada União Soviética, esperando encontrar uma alternativa para o que considerava
um capitalismo destrutivo. Suas expectativas, porém, foram frustradas pelo “horror indescritível”
do regime controlado por Lênin.
Anos mais tarde organizou com Albert Einstein (no início dos 50) o movimento Pugwash
que luta contra a proliferação de armas nucleares. Patrocina, em 1957, a primeira conferência de
Pugwash, contra a corrida armamentista, dando origem à organização que, em 1995, receberia o
Prêmio Nobel da Paz. Em 1962, já com 90 anos, mediou o conflito dos mísseis de Cuba para evitar
que se desencadeasse um ataque militar. Na década de 60 lidera um movimento que contesta a
participação dos EUA na Guerra do Vietnã e institui o Tribunal Bertrand Russell para julgar crimes
de guerra. Morre em 1970, no País de Gales.
WITTGENSTEIN
1889 – 1951
Quando Wittgenstein publicou seu primeiro livro, Tratado Lógico Filosófico (1921), poucos
filósofos mostravam-se dispostos a conceber a ideia do fim da filosofia, mas era isso que
Wittgenstein acreditava ter mostrado.
Nasceu em Viena em uma família abastada, mas sempre recusou o conforto de seu apoio
financeiro. Depois de estudar Aeronáutica na Universidade de Manchester, foi para Cambridge
estudar matemática pura. Em Cambridge teve aulas com Bertrand Russell, que o iniciou também
em filosofia. Ele passou vários anos escrevendo sobre filosofia. Deixou a universidade no começo
da I Guerra Mundial, para se alistar no Exército austríaco. Durante o conflito escreveu Tratado
Lógico Filosófico (publicado em 1921), no qual desenvolve um de seus principais temas: o limite
da linguagem. Aparentando desinteresse pela filosofia, por vários anos trabalha como professor
primário no interior da Áustria. Volta a Cambridge em 1929, apresenta o Tratado como tese de
doutorado e torna-se professor da universidade. Pouco tempo depois, renega muitas das antigas
teorias para escrever sua segunda grande obra, Investigações Filosóficas (1936/49), publicada
postumamente em 1953. Naturalizou-se inglês em 1938. Viveu recluso a partir de 1947, ano em
que deixa a cátedra na universidade. Morreu em Cambridge no ano de 1951.
Um dos principais motivos por trás do programa era a antipatia que os participantes da
Escola de Frankfurt sentiam pelo trabalho da Escola de Viena, cuja filosofia (o positivismo lógico)
considerava os seres humanos como fatos ou objetos. Pois seu comportamento e suas ações
podiam ser calculados cientificamente.
HERBERT MARCUSE
1898 - 1979
Foi um importante filósofo político e sociólogo alemão - naturalizado norte americano e que
fez parte da Escola de Frankfurt. Foi também um dos idealizadores da “nova esquerda” e
um dos principais críticos da sociedade capitalista de consumo, inspirador ideológico do
movimento estudantil de protesto que eclode na França e nos EUA em maio de 1968.
Para ele, o entretenimento das massas ajuda a abafar formas mais racionais de organizar
a sociedade. Devido às atividades inúteis do esporte, as massas refletem menos sobre as
condições políticas e sociais do mundo em que vivem.
Em sua obra Marcuse afirma que o proletariado dos países desenvolvidos é interessado
na conservação do capitalismo porque se beneficia dele. E que, assim, somente as minorias
oprimidas, as camadas marginalizadas representadas pelos povos do Terceiro Mundo, têm
potencial revolucionário para derrubar o capitalismo e construir uma sociedade sem exploração.
Para ele, a repressão sexual e a repressão social são dois lados de uma mesma moeda, ou seja,
estão indissociáveis na cultura capitalista. E a tolerância percebida entre certas sociedades
industriais avançadas não passa de pseudoliberdade, a qual, no fundo, conduz ao conformismo.
Suas principais obras são: Razão e Revolução (1941), Eros e Civilização (1955), O
Homem Unidimensional (1964), O Fim da Utopia (1967) e Contrarrevolução e Revolta (1972), além
da coletânea de artigos Cultura e Sociedade (1965).
ERICH FROMM
1900 - 1980
FILOSOFIA E PSICANÁLISE
Erich Fromm é muito conhecido como psicólogo do que como filósofo. No entanto, há
todo uma linha de pensamento filosófico em seus escritos, sem falar de seus livros estritamente
filosóficos, como Ética e Psicanálise.
Como crítico da cultura e da sociedade atuais, Fromm lembra que o homem se tornou um
escravo, embora se julgue um senhor. Para ele, nossa civilização esmaga e corrompe os mais
nobres anseios e poderes do homem, desviando-o de sua verdadeira meta, que é a liberdade e o
amor.
Erich Fromm poderia ser chamado de o filósofo da Ética. Para ele há dois tipos de
sistemas ético ou moral: a Ética autoritária e a Ética humanista.
Pode-se distinguir a Ética autoritária da humanista por dois critérios: um formal e outro
material. “Formalmente, a Ética autoritária nega a capacidade do Homem para saber o que é bom
ou mau. Quem enuncia as normas é sempre uma autoridade que transcende ao indivíduo. Um
sistema assim não se baseia na razão e no conhecimento, mas no temor à autoridade e na
sensação de fraqueza e dependência por parte dos que lhe estão sujeitos.” Materialmente, “ou de
acordo com o conteúdo, a Ética autoritária responde à pergunta do que é bom ou mau,
principalmente em função dos interesses da autoridade e não dos interesses dos subordinados”.
Pode-se diferenciar a Ética humanista da autoridade tanto por um critério formal como
material. “Formalmente, ela se baseia no princípio de que só o próprio homem pode determinar o
critério do que é virtude ou pecado, e não uma autoridade a ele transcende”. Materialmente,
“baseia-se no princípio de que bom é aquilo que é bom para o homem e mau o que é nocivo para
ele”. É o bem-estar do homem social, dentro da sociedade, o único critério do valor ético.
Há muitos aspectos da linguagem que interessam tanto aos lingüistas quanto aos
filósofos, particularmente (embora não exclusivamente) no domínio da semântica o estudo do
significado. Os filósofos da linguagem interessam-se freqüentemente e entre outros, por estes
problemas: como a linguagem que relaciona com o mundo, como determinar as condições de
verdade de uma proposição, como o significado de um enunciado depende do uso, e em que
consiste a relação entre a linguagem e a mente.
Os filósofos dessa linha procuram investigar o papel das palavras na vida dos falantes
comuns, com a finalidade de escapar assim das confusões filosóficas que duraram tanto tempo.
Essas confusões foram criadas pelo que eles acreditam ser uma tendência natural da investigação
filosófica, a saber, a de ser enganado pela forma gramatical das sentenças nas quais as questões
filosóficas foram colocadas. Um exemplo é a ideia do filósofo Martin Heidegger de que a palavra
“nada” deve designar algo, mesmo tratando-se de “algo” muito peculiar. A filosofia analítica
aproxima-se muito dos padrões científicos, em especial quanto à forma pela qual os resultados
dessa filosofia são divulgados, a saber, muito mais voltados para a própria comunidade de
pensadores do que para o mundo leigo.
JÜRGEN HABERMAS
1929
Seus estudos voltam-se para o conhecimento e a ética. Sua tese para explicar a produção
de saber humano recorre ao evolucionismo de Charles Darwin. Segundo Habermas, a fabilidade
possibilita desenvolver capacidades mais complexas de conhecer a realidade. Evolui-se assim
através dos erros. Habermas defende também uma ética deontológica (de procedimentos). Para
ele, as normas sociais não devem ter conteúdo, mas meios para possibilitar a participação nas
decisões públicas através de discussões.
Sobre sua teoria discursiva, atinente à filosofia jurídica, que pode ser considerada em prol
da integração social e, como conseqüência, da democracia e da cidadania. Teoria que
possibilitaria a resolução dos conflitos vigentes na sociedade e, não com uma simples solução,
mas a melhor solução, aquela que é resultado do consentimento de todos os interessados. Sua
maior relevância está, indubitavelmente, em pretender o fim da arbitrariedade e da coerção nas
questões que circundam toda a comunidade, propondo uma maneira de haver uma participação
mais ativa e igualitária de todos os cidadão nos litígios que os envolvem e, concomitantemente,
obter a tão almejada justiça. Essa forma defendida por Habermas é o agir comunicativo que se
ramifica na ação comunicativa e no discurso, que será explanado no transcorrer deste trabalho.
NOAM CHOMSKY
1928
Autor da ideia de que os princípios básicos da linguagem não são ensinados, mas
dependem de qualidades inatas da mente humana. Desde seu primeiro livro, Estruturas Sintáticas
(1957), apresenta propostas revolucionárias sobre a lógica gramatical. Propõe três modelos de
descrição da linguagem: o da gramática generativa, o da gramática sintagmática e o da
transformacional. Vale-se de aplicações lógicas da matemática para transformar o estudo da
gramática em um sistema de regras e consegue estruturar de forma científica a teoria sintática. O
método facilita o conhecimento dos processos linguísticos, mas oferece grande dificuldade de
aplicação a línguas que não o inglês.
Contribuição a Lingüística
Em 1955 Chomsky apresentou sua idéia da gramática gerativa. Ele apresentou sua teoria
de que os "enunciados" ou "frases" das línguas naturais devem ser interpretados em dois tipos de
representações distintas: as "estruturas superficiais" correspondendo à estrutura patente das
frases, e as "estruturas profundas", uma representação abstrata das relações lógico-semânticas
das mesmas. Esta distinção conserva-se hoje, na diferenciação ente Forma Lógica e Forma
fonética, embora o processo de derivação transformacional com regras específicas tenha sido
substituído pela operação de princípios gerais. Na versão de 1957/65 da teoria de Chomsky, as
regras transformacionais governam ao mesmo tempo a criação e a interpretação das frases. Com
um limitado conjunto de regras gramaticais e um conjunto finito de palavras, o ser humano é capaz
de gerar um número infinito de frases bem formadas, incluindo frases novas.
Chomsky sugere que a capacidade para produzir e estruturar frases é inata ao ser
humano (isto é, é parte do patrimônio genético dos seres humanos) gramática universal. Não
temos consciência desses princípios estruturais assim como somos não temos consciência da
maioria das nossas outras propriedades biológicas e cognitivas.
Chomsky diz que os princípios gramaticais subjacentes às linguagens são
completamente fixos e inatos e que as diferenças entre as várias línguas usadas pelos seres
humanos através do mundo podem ser caracterizadas em termos da variação de conjuntos de
parâmetros. Esses parâmetros são freqüentemente comparados a interruptores (como os que
acendem e apagam uma lâmpada). Esta abordagem baseia-se na rapidez espantosa com a qual
as crianças aprendem línguas, pelos passos semelhantes dados por todas as crianças quando
estão a aprender línguas e pelo fato que as crianças realizarem certos erros característicos quando
aprendem sua língua-mãe, enquanto que outros tipos de erros aparentemente lógicos nunca
ocorrem. Isto sucede precisamente, segundo Chomsky, porque as crianças estão a empregar um
mecanismo puramente geral (isto é, baseado em sua mente) e não específico (isto é, não baseado
na língua que está sendo aprendida). As idéias de Chomsky continuam a influenciar
significativamente a pesquisa que investigavam a aquisição de linguagem pelas crianças.
INTRODUÇÃO AO EXISTENCIALISMO
MARTIN HEIDEGGER
1889 - 1976
“Após a última batida, o silêncio ainda mais se aprofunda. Estende–se até aqueles que foram
sacrificados em duas guerras mundiais. O Simples torna–se ainda simples. O que é sempre o
Mesmo desenraiza e liberta. O apelo do caminho do campo é agora bem claro. É a alma que
fala? Fala o mundo? Ou fala Deus?
Tudo fala da renúncia que conduz ao Mesmo. A renúncia não tira. A renúncia dá. Dá a força
inesgotável do Simples. O apelo faz–nos de novo habitar uma distante Origem, onde a terra
natal nos é devolvida.” (HEIDEGGER, M. O Caminho do Campo).
Filósofo alemão foi um dos teóricos mais importantes do existencialismo do século XX.
Nasce em Messkirch, sudoeste da Alemanha, filho de um sacristão. Revela vocação religiosa
muito jovem e começa o noviciado jesuítico após terminar o curso secundário, mas não conclui a
formação religiosa. Prefere estudar teologia e filosofia na Universidade de Freiburg, onde é
influenciado particularmente por Husserl. Em 1915 torna-se colega de Husserl na universidade,
mas não segue o pensamento do mestre. Define seu próprio caminho no livro O Ser e o Tempo,
de 1927, no qual pergunta: "O que é ser, como é ser, o que significa perguntar qual o significado
de ser?" Nesta obra Heidegger tenta dissolver a ideia, dominante no Ocidente desde Platão, de
que os seres humanos possuem uma essência. Heidegger acreditava que quando nascemos
somos jogados em um mundo que possui normas e padrões preestabelecidos, entre os quais
estão os meios que utilizamos para descrever nós mesmos e nossas relações com o mundo. Os
instrumentos de racionalidade não são inatos. O que Heidegger tenta nos dizer, é que o homem
é sua formação e não sua natureza. A linguagem, a cultura, incluindo-se os valores, atitudes e
sentimentos cotidianos constroem a existência humana, isto é, nossas disposições e ansiedades.
Heidegger é o filósofo mais enigmático do século XX. Sua filosofia é famosa pela
complexidade. Entre seus principais trabalhos estão ainda Kant e o Problema da Metafísica
(1928), Sobre a Essência da Verdade (1930), Introdução à Metafísica (1935), Carta sobre o
Humanismo (1946) e Caminhos Que Não Levam a Lugar Nenhum (1950).
SARTRE
1905 - 1980
Seja como for, talvez a ausência da figura paterna em sua vida possa explicar por que
Sartre se tornou um homem radicalmente livre, tomada à expressão no sentido que ele lhe dará
posteriormente: não existe uma natureza humana, é o próprio homem, numa escolha livre, porém
“situada”, quem determina sua própria existência.
Outro traço marcante na formação de Sartre foi a imaginação criativa, alimentada pela
leitura precoce e intensiva. Como consequência, aos dez anos de idade quis tornar-se escritor e
ganhou uma máquina de escrever. Seria seu instrumento de trabalho por toda a vida.
Em 1924, aos dezenove anos de idade, Sartre ingressou no curso de filosofia da Escola
Normal Superior, onde não foi aluno brilhante, mas muito interessado, especialmente pelas aulas
de Alain (1868-1951), que dedicava atenção particular à discussão do problema da liberdade. Na
Escola Normal, Sartre conheceu Simone de Beauvoir (1908-1986), “uma moça bem comportada”
que lhe afirmou: “A partir de agora, eu tomo conta de você”. Desde então, nunca mais se
separaram.
Terminado o curso de filosofia, em 1928, Sartre teve de prestar o serviço militar. Depois
disso obteve uma cadeira de filosofia numa escola secundária. Em 1933, passou um ano em
Berlim, onde estudou as teorias existencialistas de Heidegger e Karl Jaspers. A partir desses
autores, Sartre foi levada a obra de Kierkegaard. Apoiado nessas referências principais, Sartre
elaborou sua própria versão da filosofia existencialista.
Ao estourar a Segunda Guerra Mundial, Sartre foi convocado para servir como
meteorologista na Lorena. Em junho de 1940, caiu prisioneiro e foi encerrado no campo de
concentração de Trier, Alemanha. Cerca de um ano mais tarde, conseguiu escapar e, na primavera
de 1941, encontrou-se, em Paris, com Simone de Beauvoir.
Em 1946, diante das críticas à sua filosofia existencialista, exposta em O ser e o Nada,
Sartre publica O Existencialismo é um Humanismo, onde mostra o significado ético do
existencialismo.
Nos anos seguintes, Sartre continuaria sendo, ao mesmo tempo, um homem de ação e
de pensamento. Em 1960, estreia a peça Sequestrados de Altona, cujo tema é o problema do
colonialismo francês na Argélia. O interesse pelo problema argelino liga-se, em Sartre, aos
problemas mais gerais do Terceiro Mundo.
Viaja para Cuba e para o Brasil (1961) e vê no conflito vietnamita um alargamento “do
campo do possível” por parte dos revolucionários vietcongues.
Em 1964, é-lhe atribuído o Prêmio Nobel de Literatura, mas ele o recusa. Receber a
honraria significaria reconhecer a autoridade dos juízes, o que considera inadmissível concessão.
Em 1965, recusou um convite para visitar os Estados Unidos por causa dos bombardeios
ao Vietnã do Norte. Em 1966, uniu-se a Bertrand Russell (1872-1970), filósofo ganhador do
Prêmio Nobel de Literatura em 1950, em Estocolmo, para julgar os crimes cometidos contra o
Vietnã do Norte. Ficou ao lado dos estudantes na rebelião estudantil francesa de maio de 1968.
Em 1971, quando parecia a muitos que a carreira literária de Sartre estaria encerrada,
surpreende seu público com um extenso estudo sobre Flaubert. Sartre faleceu em 1980.
“A existência precede a essência”, ele dizia. Entendemos por “essência” aquilo que uma
coisa realmente é, a “natureza” dessa coisa. Para Sartre, porém, o homem não possui tal natureza.
O homem precisa primeiro criar-se a si mesmo. Ele precisa criar sua própria natureza, sua própria
essência, já que ela não lhe é dada de antemão. Por toda a história da filosofia, os filósofos
tentaram responder à pergunta sobre o que o homem é, ou o que é a natureza humana.
Sartre, ao contrário, acha que o homem não possui esta “natureza” eterna a que se
apegar. Por isso é que, para Sartre, não faz sentido perguntar pelo sentido da vida em geral. Em
outras palavras, estamos condenados à improvisação. Somos como atores que são colocados
num palco sem termos decorados uns papéis, sem um roteiro definido e sem um “ponto” para nos
sussurrar ao ouvido o que devemos dizer ou fazer. Nós mesmos temos de decidir como queremos
viver. Sartre diz que quando o homem percebe que existe e que um dia terá de morrer, e,
sobretudo quando não vê qualquer sentido nisto tudo, ele passa a experimentar o medo. Sartre
também diz que o homem se sente alienado num mundo sem sentido. Quando descreve a
“alienação” do homem. O sentimento do homem de ser um estranho no mundo, diz Sartre, leva a
uma sensação de desespero, tédio, náusea e absurdidade.
Em Sartre, somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões
durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos nos
guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas. Sartre chama a atenção
precisamente para o fato de o homem nunca poder negar sua responsabilidade pelo que faz. Por
esta razão, não podemos simplesmente colocar de lado nossa responsabilidade e dizer que
“temos” de ir trabalhar, ou então que “temos” de nos pautar por certas expectativas burguesas
quanto ao modo como devemos viver.
Aquele que assim procede mescla-se a uma massa anônima e se transforma em parte
impessoal dela. Ele foge de si mesmo e se refugia na mentira. De outra parte, a liberdade do
homem no obriga a fazer de nós alguma coisa, a ter uma existência “autêntica” ou verdadeira. O
mesmo vale para as nossas decisões éticas. Nunca podemos responsabilizar a natureza e a
fraqueza humanas, ou qualquer outra coisa, pelas decisões que tomamos. Muitas vezes acontece
de homens já bem crescidinhos se comportarem como “porcos” e colocarem a culpa no “velho
Adão” que pretensamente trazem dentro de si. Mas este “velho Adão” não existe. Ele não passa
de uma figura de que nos valemos para fugir à responsabilidade por nossos próprios atos.
Embora Sartre afirme que a vida não possui um sentido inato, isto não significa que para
ele nada importa. Sartre não é um niilista, ou seja, alguém que acha que nada tem um sentido e
que tudo é permitido. Sartre diz que a vida deve ter um sentido. Isto é um imperativo. Só que nós
mesmos é que temos de criar a sua própria vida. Sartre tentou mostrar que a consciência não é
nada até que perceba alguma coisa. Pois a consciência é sempre consciência de alguma coisa. E
depende de nós, e também de nosso meio, o que seja este “alguma coisa”. Nós mesmos
contribuímos para o que sentimos e percebemos, pois somos nós que escolhemos aquilo que nos
é importante. Exemplificando, diríamos que, duas pessoas podem estar presentes num mesmo
recinto e percebê-lo de maneira totalmente diversa. Isto porque deixamos nossa opinião ou nossos
interesses agirem quando estamos percebendo o mundo à nossa volta. Uma mulher grávida, por
exemplo, pode ter a sensação de ver mulheres grávidas por toda a parte. Isto não significa que
antes não havia mulheres, mas a gravidez tem agora um novo sentido para ela. Pessoas doentes
veem hospitais e ambulâncias por toda à parte. Talvez a nossa própria vida influencie o modo
como percebemos as coisas num recinto. Se uma coisa não me é importante, é provável que eu
nem a perceba.
MARSHALL MCLUHAN
1911 – 1980
(Marshall Mcluhan)
McLuhan introduz as frases "o impacto sensorial", "o meio é a mensagem" e "aldeia
global" como metáforas para a sociedade contemporânea, a ponto de se tornarem parte da nossa
linguagem do dia a dia. Adquiriu proeminência internacional com ideias que têm estimulado
milhares de artistas, intelectuais e jornalistas, em todo o mundo, a ponto da revista Fortune o
nomear como "uma das principais influências intelectuais do nosso tempo".
McLuhan tem uma famosa frase que descreve a TV: Visão, Som e Fúria.
Em Setembro de 1979, McLuhan sofreu uma trombose que o deixou incapaz de falar, ler
ou escrever. Depois de uma vida agitada, dedicada quase totalmente aos estudos, sua morte foi
tranquila. Morreu dormindo, em Toronto, no dia 31 de dezembro, último do ano de 1980, aos 69
anos de idade.
Provavelmente você nunca deve ter ouvido falar neste canadense que revolucionou o
estudo das comunicações. Herbert Marshall Mcluhan teve muita popularidade na década de 60,
foi capa de várias revistas, participou de talk-shows na TV, foi entrevistado pela Playboy e chegou
até a aparecer em um filme de Woody Allen. Seus estudos sobre os meios de comunicação eram
no mínimo intrigantes pois ele não se preocupava com o conteúdo das mensagens. Para Mcluhan,
o meio, ou veículo, que transmite a mensagem é mais importante que o conteúdo. “O meio é a
mensagem”, dizia.
Contratado pela Ford para fazer pesquisas sobre as tendências do automóvel no futuro,
Mcluhan chegou à conclusão de que ele será substituído por uma nova tecnologia de caráter anti-
gravitacional; ele também acreditava que o processo da fala será suprimido na aldeia global, o
que não é tão assustador assim, à medida que utilizamos cada vez mais o e-mail, programas de
mensagens em tempo real e salas de bate-papo, ao invés de pegar o telefone e ligar para um
amigo.
É claro que as ideias de Mcluhan não foram bem recebidas por todos. Muitos
consideravam-no um louco ou charlatão. Suas ideias podem ser controversas, mas com a
popularização dos computadores pessoais e da internet, e a força crescente da televisão, fica
muito difícil não sentir-se afetado quando temos diante dos nossos olhos um texto de Mcluhan.
- "A galáxia de Gutenberg", 1962, na qual apresenta o conceito de aldeia global para
definir a sociedade eletrônica emergente de seu tempo.
- "Os meios de comunicação como extensões do homem", 1964
- "O meio é a massagem", 1967
- "Guerra e paz na aldeia global", 1967
GEORG LUKÁCS
1885 – 1971
Lukács, filósofo e crítico Húngaro de origem judaica nasceu em Budapeste onde começou
os estudos complementados em Berlim e Heidelberg na Alemanha. Sua primeira obra de
repercussão na Europa é a coletânea de ensaios A Alma e as Formas, de 1911. Ingressou no
Partido Comunista Húngaro em 1918. Foi Comissário do Povo Para a educação durante o efêmero
governo de Bela Kun. Vive exilado em Viena entre 1919 e 1929, quando publica História e
Consciência de Classe (1923), obra fundamental do marxismo heterodoxo. Entre 1930 e 1933 dá
aulas no Instituto Marx-Engels, em Moscou. De volta à terra natal, leciona estética e filosofia da
cultura na Universidade de Budapeste. Conhecido por ter elaborado uma teoria marxista da arte,
é chamado de o Marx da estética. Os críticos de esquerda reprovam seu apreço por escritores "da
burguesia", como Goethe, Shakespeare e Balzac. Embora defenda uma estética com base no
marxismo, opõe-se ao controle político dos artistas. No pós 2ª guerra tornar-se uma espécie de
porta voz do Marxismo intelectual, sobretudo após a discussão pública que o opôs a K. Jaspers e
outros filósofos ocidentais nos Encontros Internacionais de Genebra, de 1946. Nos anos 50 torna-
se Ministro da Educação do Governo de Imre Nagy na Hungria. Durante a intervenção soviética
na Hungria, em 1957, Lukács é preso e deportado para a Romênia onde permanece cinco meses.
Morre em Budapeste no ano de 1971.
LOUIS ALTHUSSER
(1918 - 1990)
“Acreditamos portanto ter boas razões para afirmar que, por trás dos jogos de seu Aparelho
Ideológico de Estado político, que ocupava o primeiro plano do palco, a burguesia estabeleceu
como seu aparelho de Estado n° 1, e portanto dominante, o aparelho escolar, que, na realidade,
substitui o antigo aparelho ideológico de Estado dominante, a Igreja, em suas funções. Podemos
acrescentar: o par Escola–Família substitui o par Igreja–Família.” (ALTHUSSER, L. Aparelhos
Ideológicos de Estado, p. 78).
A ideologia não significa mais o que por sua etimologia deveria significar, isto é, estudo
das idéias. Passou atualmente a significar coisas negativa e pejorativa. Entretanto, “ideologia”
significa o conjunto de idéias, valores e maneira de pensar de pessoas e grupos. Althusser
denuncia em sua obra que as classes dominantes alienam a sociedade, quando manipulam a
ideologia para a defesa de seus interesses.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS
1908
Filósofo e antropólogo francês, considerado um dos grandes intelectuais do século XX. é
considerado o fundador da Estruturalismo em meados da década de 1950. Sua visita ao
Brasil, especialmente aos estados do Mato Grosso e Rondônia, na década de 40, foi
fundamental para consolidação de seu pensamento antropológico.
Autor de Tristes Trópicos (1955), O Pensamento Selvagem (1962) e Olhar, Ouvir, Ler (1993).
Levi-Strauss lecionou no Brasil de 1934 até 1938. Nesse período, o então jovem professor
convidado realizou a primeira de suas poucas visitas acampo, pois a abordagem estruturalista que
proporia alguns anos depois, justificaria esse distanciamento do objeto pelo Antropólogo.
Durante este período ele conduziu seu primeiro trabalho etnográfico de campo, realizando
pesquisas no Mato Grosso do Sul e na Floresta Amazônica. Esta experiência que cimentou a
identidade profissional de Lévi-Strauss como antropólogo. Sobre a forma como se decidiu pela
vinda no Brasil, contou que estava em seu apartamento em Paris, tendo terminado o mestrado,
quando um amigo o contatou e disse da possibilidade de ir para São Paulo, onde estava sendo
formada a Universidade de São Paulo. Os arredores estão cheios de índios, e você vai poder
continuar suas pesquisas, disse o amigo.
Retornou para a França em 1939 para tomar parte no esforço de guerra; após a
capitulação francesa perante a Alemanha, Lévi-Strauss, judeu, viajou para Nova Iorque. Como
muitos outros intelectuais emigrados, ele lecionou na New School for Social Research. Fundou,
ao lado de Jacques Maritain, Henri Focillon e Roman Jakobson, a École Libre des Hautes Études,
uma espécie de universidade-no-exílio de acadêmicos franceses.
Apesar de bem conhecido em círculos acadêmicos, foi em 1955 que Lévi-Strauss tornou-
se um dos intelectuais franceses mais conhecidos ao publicar Tristes Trópicos, livro auto-
biográfico e basicamente acerca de seu exílio na década de 1930.
Em 1962 Lévi-Strauss publicou aquele que para muitas pessoas é seu trabalho mais
importante, O pensamento selvagem. Na primeira parte do livro ele descreve sua teoria da cultura
e do pensamento, enquanto que na segunda parte expande suas considerações numa teoria da
história e da mudança social. Esta parte do livro rendeu a Levi-Strauss um acalorado debate com
Jean-Paul Sartre acerca da natureza da liberdade humana. O confronto entre as visões
existencialista e estruturalista iria eventualmente inspirar jovens autores como Pierre Bourdieu.
O último volume de Mythologiques foi completado em 1971. Dois anos depois Lévi-
Strauss foi eleito membro da Academia Francesa, a maior honra para um intelectual na França.
Ele também é integrante de várias academias notáveis em todo mundo. Recebeu o Prêmio
Erasmus em 1973; em 2003 recebeu o Prêmio Meister-Eckhart de filosofia. É doutor honoris causa
de diversas universidades pelo mundo. Apesar de aposentado, Lévi-Strauss continua a publicar
ocasionalmente volumes de meditações sobre artes, música e poesia, bem como reminiscências
de seu passado.
TEILHARD DE CHARDIN
1881 – 1955
Suas pesquisas nesses variados campos da fé, das ciências e do pensamento o levaram
a elaborar uma teoria em que ciência e fé são unidas em uma interpretação evolucionista do
homem e do universo, sob a ótica do cristianismo. Convenhamos, ele estava à frente do seu tempo
e isso sempre provoca grandes controvérsias. No seu caso, o sacerdote se aproximou dos
pensadores do “processualismo”, que faziam uso de categorias tais como criatividade, liberdade,
inovação, emergência e crescimento e que tinham uma visão especulativa do mundo e da
realidade. No contexto histórico, tudo isso ia de encontro com o conservadorismo reinante na
igreja, no início do século passado. As pesquisas de Teilhard de Chardin o conduziram ao estudo
sobre os problemas da origem e da evolução do universo e do homem, resultando em uma teoria
segundo a qual as transformações nada mais são que uma passagem do nível material ao plano
espiritual, tendo o homem como centro e razão desse movimento, pelo qual a alma conecta o
humano ao divino.
Ele propõe que o universo, à medida que evoluiu de uma composição extremamente
simples para uma outra extremamente complexa, retirou a importância dos elementos orgânicos,
materiais, e concedeu maior crédito aos elementos motores da mente, da psique. Essa evolução
do individuo se reflete no comportamento da sociedade. Em outras palavras, quanto mais
complexo é o organismo tanto mais elevado é o desenvolvimento da mente. As modificações
contínuas da matéria e da energia do universo assumiram uma maior complexidade com a
chegada do homem, momento em que o desenvolvimento evolutivo entrou numa nova dimensão
em direção de Deus, já que não é um desenvolvimento espontâneo mas deliberado pelo Criador.
Assim, o fenômeno da origem animal do homem e de sua evolução se manifestaria como um
fenômeno cristão, pois termina por convergir em Deus. Entendendo-se essa ordem matricial, a
ciência e a religião não se contradizem, se completam no aprimoramento intelectual.
Estas idéias, Teilhard escreveu um livro de destaque, "O Fenômeno Humano," publicado
depois de sua morte em que valoriza o fenômeno de complexificação cerebral do phylum humano,
que levou ao aparecimento da consciência de si mesmo ("passo" da reflexão), depois a uma rede
mundial de comunicação dos pensamentos humanos, a noosfera, no coração da qual age o "Cristo
Evolutor" e é quem conduz a Humanidade, de maneira imanente e transcendente, ao mesmo
tempo, para o "ponto Omega" (Reino de Deus). Em outras palavras, na teoria teilhardiana, o
homem é o eixo de toda a construção cósmica. A crise a que hoje assistimos não é mais do que
a quebra dos últimos elos com a Idade Neolítica. Terminará muito cedo e, no futuro, o homem
estará dominando todos os conhecimentos.
PIAGET
1896 -1980
Muda-se para Zurique em 1918, onde passou alguns meses estudando psicologia nos
laboratórios de G.F. Lipps e estagiar na clínica psiquiátrica de Eugene Bleuler. Esses estudos
firmaram-lhe a convicção de que a psicologia experimental poderia ser útil bastante para sua
vocação de epistemólogo.
Estuda com Carl Gustav Jung no mesmo ano. Em 1919 entra na Sorbonne, em Paris,
para estudar psicopatologia e onde estudou filosofia. Nessa época, Piaget convenceu-se de que
o caminho para conciliar a filosofia e a psicologia deveria ser buscado na experimentação.
Em 1925, Piaget foi nomeado titular de Filosofia em Neuchâtel, onde lecionou até 1929,
dando também aulas de psicologia e sociologia, sem deixar a investigação experimental sobre
lógica e ontologia infantis, no laboratório de Genebra. Além disso, continuou seus trabalhos no
campo da biologia, publicando importantes artigos sobre o assunto.
Seu propósito de elaborar uma epistemologia baseada nas ciências positivas concretizou-
se em 1955 quando foi inaugurado o Centro Internacional de Epistemologia Genética, sob os
auspícios da Fundação Rockefeller. Este Centro de altos estudos foi fundado em Genebra. Nele,
reúnem-se pesquisadores de todo o mundo que tratam dos mais diversos assuntos, desde fatos
aparentemente simples, como as primeiras palavras pronunciadas pelos bebês, até os
complicados problemas teóricos de cibernética. Trata-se de uma instituição dedicada a assuntos
interdisciplinares. Entretanto tão ampla variedade de assuntos, não dá como resultado uma
simples somatória de investigações, pelo contrário existe um denominador comum que unifica
todas as contribuições em torno de uma disciplina só: a Epistemologia Genética, criada por Jean
Piaget.
O NASCIMENTO DA INTELIGÊNCIA
Quando o pensamento infantil torna-se reversível, por volta dos 7 ou 8 anos, inicia-se o
sub-estágio das operações lógico-concretas. Segue-se a ele, a partir dos onze ou doze anos, o
estágio das operações lógico-formais. A operatividade marca a possibilidade da criança agir,
consistente e logicamente, em função das implicações de suas ideias.
PRINCIPAIS OBRAS:
Sócrates
459-399 AC
Diógenes, o
Aristipo
Cínico
435-356 AC
412-323 AC Platão
487-347 AC
Zenão, o
Estoico
336-264 Aristóteles
384-322 AC
Marco
Epicuro
Aurélio
342-270 AC
121-180
Plotino
205-270
Santo
Agostinho
354-430
Tomás de
Aquino
1226-1274
Giordano
Francis
Bruno
Bacon
1549-1600
1561-1626
Descartes
1596-1650
Tomás de
Aquino
1226-1274
Francis Companhia
Bacon de Jesus
Bruno 1561-1626 Século XVI
1549-1600
Descartes
1596-1650 Hobbes
1588-1697
Locke
Espinosa 1632-1704
1632-1677
Leibniz
1646-1716 Voltaire
1694-1788
Hume
1711-1776
Berkeley
1685-1753 Saint
Simon
1760-1825
Kant
1724-1804
Comte
1798-1857
Hegel Leão XIII
1770-1831 Encíclica
Spencer
1820-1903 de 1879
BIBLIOGRAFIA
REALIZAÇÃO:
APOIO: