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01 02
03 APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO geral 05 CADERNO 1
Apurando o Orçamento Criança –
Como calcular e analisar os gastos públicos em
benefício da criança e do adolescente
71 CADERNO 2
Promovendo o Controle Social do Orçamento Criança
– Iniciativas para aumentar os recursos públicos em
benefício da criança e do adolescente
141 bibliografia
145 anexos
147 Anexo I – Modelo de Solicitação de Informações
Orcamentárias
148 Anexo II – Funções e subfunções de governo
150 Anexo IIi – Leitura do Orçamento
152 Anexo Iv – Glossário
ficha técnica
Concepção e Coordenação Técnica: Alejandra Meraz Velasco
(Fundação Abrinq), José Antônio Moroni, Jussara de Goiás (INESC),
Manuel Rojas Buvinich, Marco Segone (UNICEF)
Redação e consultoria para o Material Pedagógico: Wieland
Silberschneider
Consultoria para a Metodologia de Apuração do Orçamento
Criança: Francisco Sadeck
Colaboração: André Araripe Pacheco de Souza (CCFL),
Jorge Kayano (Pólis),Talita de Araújo Maciel (CEDECA)
Supervisão: Fernanda Favaro e Solange Tassotti
Edição: Alejandra Meraz Velasco e Fernanda Favaro
Revisão: Verba Agência Editorial
Ilustração: Duke
Layout e Diagramação: Link EGF Estúdio Gráfico
Impressão: Margraf
Tiragem: 8.000 exemplares
ISBN: 85-88060-21-3
São Paulo, outubro de 2005
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O Brasil tem um gasto social similar ao dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvi-
mento Econômico - OCDE, correspondendo a quase um quarto do PIB, porém, estes recur-
sos nem sempre alcançam à maioria da população nem aos mais necessitados. Os dados do re-
latório Um Brasil para as Crianças, lançado em 2004 pela Rede de Monitoramento Amiga da
Criança reforçam esta afirmação. De acordo com o estudo, estima-se que até a primeira me-
tade do século XXI sejam gastos apenas 56% do total necessário para alcançar as metas inter-
nacionais na área da infância e da adolescência, assinadas junto às Nações Unidas.
Com a publicação do material de capacitação De Olho no Orçamento Criança – Atuando para priori-
zar a criança e o adolescente no orçamento público, a parceria da Fundação Abrinq, o Institu-
to de Estudos Socioeconômicos (INESC) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-
cef) cumpre um dos seus mais importantes objetivos: oferecer à sociedade civil uma ferramen-
ta para o acompanhamento, a avaliação e a atuação política por um orçamento público que
priorize as crianças e os adolescentes, isto é, por um Orçamento Criança e Adolescente.
No âmbito desta parceria, formalizada em maio de 2003, tendo como referência os esforços iniciados
em 1995 pelas organizações governamentais e não-governamentais que formaram o Pacto pe-
la Infância, foi desenvolvida uma metodologia para o acompanhamento do Orçamento
Criança e Adolescente nas esferas municipal, estadual e federal. O material de capacitação
aqui apresentado detalha esta metodologia, dá elementos para sua análise e propõe estratégias
de mobilização pelo Orçamento Criança e Adolescente.
Ao colocar nas mãos de centenas de organizações e ativistas a possibilidade de alterarem o rumo das
verbas públicas que devem garantir, entre outros, educação, saúde e saneamento para as crian-
ças e adolescentes de suas comunidades, essa publicação busca ajudar a cumprir o que diz o Es-
tatuto da Criança e do Adolescente, em seu quarto artigo: “é dever do Estado, da sociedade e
da família” garantir os direitos de seus pequenos e jovens.
Mais do que isso, procura realizar um sonho ousado: dar à população mecanismos para que ela possa
entender os problemas relacionados ao bem estar de suas crianças e adolescentes, e agir sobre
eles. Isto é, promover sua participação efetiva sobre um bem que é seu. Como sabemos, a po-
pulação cumpre papel fundamental nesta luta.
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Investir em crianças e respeitar seus
direitos formam a base de uma
sociedade justa, uma economia forte e
um mundo sem pobreza.
apur ando
o o r ç a m e n t o C R I A N Ç A e a d o l e s c e n t e
CAPÍTULO 1
11 CONHEÇA O ORÇAMENTO CRIANÇA
12 1.1. Bases do Orçamento Criança e Adolescente
14 1.2. Orçamento Criança e Adolescente
15 1.3. Cálculo do Orçamento Criança e Adolescente
18 1.4. Análise do Orçamento Criança e Adolescente
CAPÍTULO 2
23 Entenda o Orçamento público
24 2.1. Ciclo orçamentário
25 2.2. Plano Plurianual (PPA)
26 2.3. Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
27 2.4. Lei de Orçamento Anual (LOA)
28 2.5. Execução orçamentária
28 2.5.1. Programação e provisionamento
29 2.5.2 Licitação
30 2.5.3 Empenho da despesa
31 2.5.4 Liqüidação da despesa
32 2.5.5 Pagamento
CAPÍTULO 3
33 obtenha OS DADOS PARA O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
34 3.1. Dados necessários
Apurando o OCA
CAPÍTULO 4
43 calcule O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
Fase da Seleção Funcional
44 4.1. Apurando a partir da Seleção Funcional
45 4.2. Correlação das funções e subfunções
CAPÍTULO 5
55 calcule O ORÇAMENTO CRIANÇA – Fase da Seleção Direta
56 5.1. Apurando a partir da Seleção Direta
57 5.2. Buscando a consistência da Fase Funcional
CAPÍTULO 6
59 analise O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
60 6.1.Tipos de avaliação
61 6.2. Avaliação básica
62 6.3 Avaliação situacional
64 6.4 Avaliação temporal
65 6.5. Relatando as conclusões
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para usar
o caderno apurando o orçamento criança e adolescente
As páginas a seguir constituem um caderno para que você e sua comunidade possam
apurar, de forma simplificada e didática, o chamado Orçamento Criança e
Adolescente. O Orçamento Criança e Adolescente, que chamaremos algumas
vezes de OCA, constitui o levantamento do conjunto de ações e despesas do
orçamento público destinado à proteção e desenvolvimento da criança. Este
caderno contém as orientações para a seleção, agrupamento e apuração des-
sas ações e despesas a partir do orçamento de seu município ou de seu Esta-
do, ou ainda da União, de acordo com a Metodologia do Orçamento Crian-
ça e Adolescente (Metodologia do OCA), desenvolvida pela Fundação
Abrinq, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Instituto de
Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Além disso, a Metodologia do OCA foi desenvolvida em sintonia com as diretrizes con-
tidas no documento Um Mundo para as Crianças, aprovado pela Assembléia
Geral da ONU, e com as resoluções do Pacto pela Paz – agenda para o desen-
volvimento de políticas e planos de ação aprovada na IV Conferência Nacio-
nal dos Direitos da Criança e do Adolescente, realizada em 2003. Orienta-se
também pela diretriz do artigo 4º da Convenção dos Direitos das Crianças, que
determina que “os Estados utilizem ao máximo os recursos disponíveis para a
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promoção das medidas administrativas, legislativas e de outra natureza” para
introdução a realização e não-violação dos direitos das crianças e dos adolescentes.
Nessa perspectiva, esta publicação apresenta-se como instrumento de ação para as or-
ganizações que atuam para efetivar os direitos das crianças e dos adolescen-
tes. Nas três esferas de governo, o OCA permite obter informações relevan-
tes sobre o desempenho dos programas e ações governamentais destinados a
reduzir a vulnerabilidade dos direitos das crianças e adolescentes. A Metodo-
logia já foi aplicada para analisar o Plano Presidente Amigo da Criança, apre-
sentado pelo governo federal, em agosto de 2003, durante a V Conferência
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
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Orçamento Criança e Adolescente. No Capítulo 3 "Obtenha os Dados para o
introdução Orçamento Criança e Adolescente" encontram-se as orientações para obter as
bases de dados necessárias à apuração do OCA, assim como para sua interpre-
tação por meio da leitura da classificação funcional-programática do orçamen-
to, cuja função aprofundaremos mais adiante. Os capítulos 4 e 5 "Calcule o
Orçamento Criança e Adolescente – Fase da Seleção Funcional e Direta" tra-
zem os passos para o cálculo propriamente dito por meio da seleção funcional,
modo de operação que se baseia na classificação funcional-programática. No
último capítulo, "Analise o Orçamento Criança e Adolescente", são indica-
dos tipos de análise possíveis do OCA a serem escolhidos pelo interessado,
além de diretrizes para redigir o Relatório do OCA, que conclui o processo.
Ao longo do caderno, há dicas para facilitar o aprendizado (Siga por Aqui), assim como
documentos legais (Consulte a Legislação) mais relevantes a serem consultados.
Há também três níveis de alerta (Tempo Bom, Tempo Nublado e Tempo Ruim)
sobre episódios possíveis na fase de estudo e apuração do OCA.
Para que este caderno seja mais bem aproveitado, sugerimos consultar o Caderno 2
“Promovendo o Controle Social do Orçamento Criança e Adolescente”, em
que são analisadas diversas iniciativas para potencializar o uso das informações
organizadas a partir da apuração do OCA. Acesse também o site www.orcamen-
tocrianca.org.br para se manter atualizado sobre a metodologia e o projeto.
quadro 1
08 09 10
UM MUNDO para as crianÇas
Indicação de formulação relevante dos
documentos “Um Mundo para as Crianças” e
“Convenção dos Direitos das Crianças”.
CONSULTE A LEGISLAÇão
Texto legal importante para sua ação.
legendas
09 10 11
capítulo 1
conheça
o orçamento criança e adolescente
O Orçamento Criança e Adolescente é o resultado da aplicação
de uma metodologia para demonstrar e analisar o gasto público
com crianças e adolescentes. Não é um documento, nem mesmo
um conceito oficial. Sua concepção se orienta pelo princípio
de que uma sociedade justa, uma economia forte e um mundo
sem pobreza só serão possíveis com investimento na criança
e respeito aos seus direitos.
Desde a Cúpula Mundial pela Criança, realizada em 1990, “os dirigentes mundiais assu-
miram um compromisso comum e fizeram um apelo universal e urgente por um
futuro melhor por todas as crianças” (Um Mundo para as Crianças: p. 12). Esse
pacto resultou no estabelecimento de diversas metas para promover a proteção
e o desenvolvimento das crianças. Em 2002, durante sua Sessão Especial pela
Criança, a Assembléia Geral das Nações Unidas retomou a promoção e a pro-
teção dos direitos de todas as crianças, redefinindo objetivos e estratégias, que
culminaram no documento Um Mundo para as Crianças. Um mundo para as
crianças é entendido como aquele em que as crianças podem desfrutar de opor-
tunidades capazes de lhes proporcionar o desenvolvimento de sua capacidade
individual. Essa condição só pode ser alcançada com o apoio à família como
unidade básica de proteção, educação e desenvolvimento da criança. A pobre-
za crônica, por sua vez, é apontada como “o maior obstáculo para satisfazer as
necessidades, a proteção e a promoção dos direitos das crianças” (Um Mundo
para as Crianças: p. 20).
capítulo 1
Nessa perspectiva, “os governos e autoridades locais, mediante, entre outras coisas, o
fortalecimento da colaboração em todos os níveis, podem conseguir que as
crianças sejam o centro dos programas de desenvolvimento” (Um Mundo para as
Crianças: p. 29). Dos parlamentares, espera-se que “promulguem as leis necessá-
rias; facilitem e destinem recursos financeiros necessários para a implementação
de um plano de ação a favor da criança; e acompanhem e controlem sua utiliza-
ção eficaz” (Um Mundo para as Crianças: p. 29).
De fato, o Poder Público, paralela e conjuntamente com a sociedade civil, pode cumprir
importante papel para a proteção e desenvolvimento das crianças e adolescen-
tes. Desde a década de 1930, os Estados Nacionais são chamados a implementar
ações voltadas para o desenvolvimento social, para o qual somente a lógica do
mercado tem sido insuficiente. Ao longo de décadas, sistemas de proteção social
foram constituídos em diversos países, com destaque para sistemas públicos de
previdência social, educação e saúde.
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capítulo 1 O Poder Público implementa tais ações ao edi- ciar a gestão do processo orçamentá-
tar a legislação pertinente, mas, princi- rio, de modo a conseguir o monitora-
palmente, quando realiza gastos para mento das ações para a criança e o
estruturar esses sistemas. Nos estados adolescente e promover a visibilidade
modernos, essas ações devem, obrigato- de sua execução, assim como oferecer
riamente, constar do orçamento públi- subsídios para a formulação de estraté-
co. Por tratar-se de lei que contém a gias de fortalecimento do sistema de
previsão de receitas e por ser o progra- garantia de direitos da criança e do
ma de trabalho do Poder Público para adolescente e para a luta pela imple-
um determinado período, o orçamento mentação de políticas públicas. Em
constitui peça fundamental para viabi- síntese, o projeto se orienta pelas se-
lizar as ações públicas. Compreender guintes diretrizes:
como ele se estrutura e agir para dire-
cioná-lo a favor de objetivos determi- a. Criação de mecanismos que permitam moni-
nados, no caso, políticas em benefício torar o planejamento e a execução orça-
das crianças, passa portanto a ter di- mentária na área da infância e da ado-
mensão estratégica. lescência nos três níveis de governo.
Na perspectiva de monitorar os gastos com po- b. Criação de uma rede de organizações que
líticas públicas direcionadas para monitorem o orçamento público vol-
crianças e adolescentes, foi constituí- tado a crianças e adolescentes em âm-
do no Brasil, em 1995, o Grupo Exe- bito local e trabalhem para que os go-
cutivo do Pacto pela Infância, que vi- vernos priorizem recursos crescentes
Eliminar a sa desenvolver uma metodologia capaz para tanto.
pobreza e de monitorar os gastos do orçamento
reduzir as público direcionados a crianças e ado- c. Disponibilização, para a sociedade, de infor-
lescentes. A primeira proposta meto- mações relativas ao planejamento e à
disparidades: dológica, chamada então de Orçamen- execução dos recursos destinados à in-
objetivo to Criança, foi desenvolvida em parce- fância e à adolescência realizados pela
principal ria pelo Instituto de Pesquisa Econô- União, estados e municípios.
A pobreza crônica mica Aplicada (Ipea) e a Fundação de
continua sendo o maior Assistência ao Estudante (FAE), com d. Priorização das ações voltadas para crianças e
obstáculo para o apoio do Fundo das Nações Unidas adolescentes, pelas organizações públicas.
satisfazer as para a Infância (Unicef). O Orçamen-
necessidades, a to Criança identificava as ações e res- Em sintonia com o acompanhamento do Orça-
proteção e a promoção pectivos recursos orçamentários do go- mento Criança e Adolescente, a Rede de
dos direitos das verno federal destinados a garantir a Monitoramento Amiga da Criança,
crianças. Como sobrevivência, o desenvolvimento e a formada por organizações sociais na-
conseqüência, a integridade de crianças e adolescentes. cionais e organismos internacionais,
eliminação da pobreza Uma revisão da proposta metodológi- formulou indicadores de monitora-
e a redução das ca foi realizada a partir do Projeto De mento das metas do documento Um
disparidades devem Olho no Orçamento Criança (POC), Mundo para as Crianças, como subsí-
estar entre os uma iniciativa da Fundação Abrinq dios para análises quantitativas das
principais objetivos de pelos Direitos da Criança e do Adoles- ações realizadas em benefício das
todas as iniciativas de cente, do Inesc e do Unicef, propi- crianças. A rede, organizada em comi-
desenvolvimento. (...) ciando sua extensão para as esferas es- tês temáticos, pretende acompanhar e
Investir na infância e taduais e municipais. avaliar as ações que o governo federal
realizar os direitos da desenvolverá nos próximos anos para
criança estão entre as O objetivo central da iniciativa do Projeto De cumprir os compromissos firmados pe-
formas mais efetivas de Olho no Orçamento Criança é atuar pa- lo Brasil ao assinar o Um Mundo para
erradicar a pobreza ra que o Poder Público dê prioridade as Crianças, analisando o desempenho
Um Mundo para absoluta à criança e ao adolescente no dos orçamentos e seu impacto real so-
as Crianças orçamento público. Para tanto, o pro- bre as condições de vida das crianças e
jeto propõe ações que buscam influen- dos adolescentes.
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capítulo 1 1.2. ORÇAMENTO CRIANÇA E Nacional dos Direitos da Criança e do
ADOLESCENTE Adolescente (Conanda). A correspon-
dência entre os dois documentos pode
O Orçamento Criança e Adolescente, ou OCA, ser conferida no Quadro 2.
constitui o resultado da aplicação de
uma metodologia de seleção chamada A partir da correspondência, a Metodolgia de-
Metodologia do OCA, que permite finiu três esferas prioritárias de ação:
identificar, com clareza e objetividade, o
montante de recursos destinado à prote- (a) Saúde: ações de promoção de saúde, sanea-
ção e desenvolvimento da criança e do mento e habitação, e combate ao
adolescente. O orçamento público é HIV/AIDS.
uma lei que contém a previsão de recei-
tas e a programação de despesas do go- (b) Educação: ações de promoção da educação,
verno para o período de um ano. Ele é da cultura, lazer e esporte.
estruturado a partir de determinações le-
gais constantes principalmente da (c) Assistência Social e Direitos de Cidadania:
Constituição Federal, Lei nº 4.320/1964 ações de promoção de direitos e prote-
e Lei Complementar nº 101/2000, que ção e assistência social.
levam à classificação e ao registro das
despesas do Poder Público por unidades Com o intuito de melhor definir as ações consi-
administrativas (ministérios, secretarias, deradas essenciais para a criança, as esfe-
departamentos etc.), funções de estado ras prioritárias de ação foram detalhadas
(administração, saúde, educação, assis- em áreas de atuação e subáreas, como
tência social etc.), programas e ações mostra o Quadro 3. Para todas as áreas e
A Metodologia (projetos, atividades e operações espe- subáreas, a Metodologia do OCA apre-
do OCA não diz ciais) e natureza de despesas. Entretan- senta ainda a descrição detalhada dos
se os recursos to, tal classificação de ações e respecti- itens orçamentários que cada uma
são suficientes vas despesas destinam-se para a contabi- abrange, de modo a auxiliar sua identifi-
lidade dos gastos públicos. Ela não mos- cação no orçamento.
TEMPO NUBLADO tra clara e diretamente a destinação dos
A Metodologia do OCA recursos por setores sociais, tampouco A Metodologia considera como integrantes do
constitui um grande favorece a leitura das despesas progra- Orçamento Criança e Adolescente tanto
avanço na análise do madas sob o ponto de vista da imple- ações implementadas para a atenção di-
orçamento público e mentação de políticas públicas, como é reta às crianças e aos adolescentes
das políticas públicas o caso daquelas para a promoção e pro- quanto aquelas que melhoram as condi-
em benefício da teção da criança e do adolescente. ções de vida das famílias. Naturalmen-
criança e do te, ações cujo objetivo central é a crian-
adolescente, pois é A Metodologia do OCA tem como objetivo orga- ça, como as voltadas para a promoção
capaz de demonstrar nizar as informações contidas no orça- da educação e da saúde materno-infan-
de forma objetiva os mento público, de forma a esclarecer o til ou para a proteção contra a violência
recursos destinados em que se destina à promoção e ao desen- sexual, entre outras, ocupam posição de
seu favor. Entretanto, volvimento da criança e do adolescen- destaque, pois, sem elas, torna-se visível
ela ainda não permite te. Para tanto, a Metodologia descreve e imediata a ameaça à vida, à integrida-
avaliar se os recursos ações relevantes a favor da criança a se- de e ao desenvolvimento da criança. No
aplicados são rem identificadas no orçamento para entanto, a proteção e o desenvolvimen-
suficientes ou não, compor o Orçamento Criança e Adoles- to das crianças também estão direta-
embora o Projeto De cente. A definição desse conjunto de mente vinculados a aspectos do desen-
Olho no Orçamento ações foi feita em consonância com as volvimento econômico e social, sem o
Criança e Adolescente esferas prioritárias de ação apresentadas qual não se constrói sua cidadania. Nes-
pretenda atingir esse no documento Um Mundo para as se sentido, o OCA integra dois grupos
ponto. Ela oferece Crianças. Essas esferas se correspondem distintos de ações:
muitos elementos para com os eixos de ação indicados pelo
que a comunidade Pacto pela Paz, documento de estraté- (a) Um grupo que contém ações voltadas di-
avance nesse debate. gias de ação definidas pelo Conselho retamente para a promoção da criança
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capítulo 1 e adolescente, denominado Orçamen- (a) A população de crianças e adolescentes pre-
to Criança e Adolescente Exclusivo sentes no total da população do país, do
(OCA-E). estado ou município, dependendo da es-
fera da governo analisada. Essa propor-
(b) Um grupo integrado por ações dirigidas para ção pode ser obtida por meio dos dados
a promoção e melhoria das condições de do Censo Demográfico ou da Pesquisa Na-
vida das famílias – que acabam também cional por Amostra de Domicílios (PNAD)
por beneficiar o desenvolvimento e a quando da necessidade de dados mais
proteção da criança e do adolescente, atualizados de estados ou União.
chamado de Orçamento Criança e Ado-
lescente Não Exclusivo (OCA-NE). (b) No caso dos gastos em educação, deve ser
usado o número total de matrículas no
A reunião desses dois agrupamentos de ações e nível de ensino analisado, em relação à
despesas compõe propriamente o Orça- competência da esfera de governo, dis-
mento Criança e Adolescente, chamado ponibilizado pelo: Ministério da Educa-
de Orçamento Criança e Adolescente ção (MEC)/ Instituto Nacional de Estu-
Geral (OCA-G), ou seja: dos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep)/ Diretoria de Tratamen-
Orçamento Criança ou Orçamento to e Disseminação de Informações Edu-
Criança Geral = Orçamento Exclusivo cacionais (DTDIE)/ Diretoria de Esta-
+ Orçamento Não Exclusivo tísticas da Educação Básica (DAEB).
Cabe ressaltar que pode haver dotações orça- O cálculo da proporcionalidade é um critério
mentárias pertencentes aos Orçamentos que dá realismo à apuração do Orça-
Exclusivo e Não Exclusivo dentro da mento Criança e Adolescente. Mesmo as-
mesma área ou subárea. Essa observação sim, é importante sempre determinar
é importante, pois, enquanto os valores diretamente a dimensão dos gastos com
apurados do Orçamento Exclusivo de- a criança e o adolescente na Fase de Se-
vem ser considerados na sua integralida- leção Direta (veja explicação na próxima
de, os valores do Orçamento Não Exclu- página). Assim, será possível avaliar
sivo devem ser submetidos ao cálculo da com maior precisão os eventuais acrés-
proporcionalidade. cimos de recursos em benefício da po-
pulação infanto-juvenil.
De acordo com a Metodologia, o valor encontra-
do de despesas do Orçamento Não Exclu-
sivo deve ser calculado considerando-se a 1.3. CÁLCULO DO ORÇAMENTO CRIAN-
quantidade proporcional de crianças e ÇA E ADOLESCENTE
adolescentes beneficiários. Esse cálculo
destina-se a dimensionar aproximada- Conforme será detalhado no Capítulo 3 "Obtenha
mente os benefícios de ações governa- dados para o Orçamento Criança", a Me-
mentais não diretamente voltadas para todologia do OCA prevê que os agentes
crianças e adolescentes, visto que atin- interessados busquem, em seu município
gem uma população maior do que a in- ou estado, o orçamento e os relatórios de
fanto-juvenil. Certamente, para proces- execução orçamentária para extrair deles
sar esse cálculo há diversos indicadores as informações necessárias ao cálculo do
populacionais específicos de crianças Orçamento Criança e Adolescente. Essa ta-
(por exemplo, o número de crianças com refa poderá ser um desafio. A Lei do Or-
deficiência) que devem ser considerados çamento Anual (LOA) é publicada, mas
quando são mais apropriados. Entretanto, o Relatório Resumido de Execução Orça-
na inexistência desses indicadores, a Me- mentária (RREO), que também é publi-
todologia sugere o uso de dois indicadores cado, não oferece as informações neces-
gerais para o cálculo da proporcionalida- sárias para o OCA. Isso significa a neces-
de (a serem aplicados adequadamente sidade de solicitar o relatório adequado à
por área de atuação), conforme se segue: prefeitura ou ao governo do estado ana-
14 15 16
capítulo 1 lisado. Contudo, embora a legislação mum na aplicação da Metodologia, ao
brasileira preveja o princípio da publici- mesmo tempo que se oferece, para aque-
dade das contas públicas, muitas prefei- les que detêm menor domínio da temá-
turas resistem em disponibilizar, o que tica orçamentária, uma orientação sis-
poderá exigir um ação judiciária. temática e didática para a apuração. Em
cada uma das fases, o levantamento das
De posse dos relatórios ou do orçamento, a tare- despesas a favor da criança e do adoles-
fa é identificar e selecionar as ações em cente é realizado das seguintes formas:
benefício da criança e do adolescente.
Como já foi dito, elas não são imediata- (a) Fase da Seleção Funcional: a partir da clas-
mente identificáveis. No atual marco sificação orçamentária funcional.
normativo orçamentário, o administra-
dor público pode decidir, no âmbito de (b) Fase da Seleção Direta: a partir da seleção
seu município ou estado, qual título dos projetos e atividades orçamentá-
conferir às ações orçamentárias (proje- rios pertinentes ao Orçamento Criança
tos e atividades), o que não permite ofe- e Adolescente.
recer uma orientação padronizada para a
pesquisa e identificação das informações Na Fase da Seleção Funcional, a Metodologia do
pertinentes na peça orçamentária. OCA orienta para a apuração do Orça-
mento Criança e Adolescente a partir da
As prefeituras e governos estaduais podem tam- identificação das funções e subfunções
bém destinar recursos para empreendi- orçamentárias apontadas como corres-
mentos distintos em um mesmo título pondentes às áreas e subáreas identifica-
de ação orçamentária, tornando igual- das pela Metodologia. As funções e sub-
mente difícil a verificação do que deve funções são classificações padronizadas
ser considerado para o OCA. Para não das ações governamentais registradas no
se incorrer em imprecisões dessa nature- orçamento, determinadas pela legislação
za, é preciso analisar cuidadosamente o orçamentária, que caracterizam as gran-
orçamento, atentando, sobretudo, para des frentes de atuação da administração
ações integrantes do Orçamento Criança pública (veja Capítulo 2 "Entenda o Or-
Não Exclusivo. Um exemplo interessan- çamento Público").
te dessa situação refere-se às despesas
com informática para a manutenção ad- Em virtude dessa padronização, a Seleção Fun-
ministrativa de escolas e para a estrutu- cional permite levantar de forma rápida
ração de laboratórios de informática pa- e direta as informações, independente-
ra ensino. Elas podem constar de uma mente de maiores exigências analíticas
mesma ação orçamentária (por exem- quanto à forma por meio da qual as
plo: Manutenção de Atividades Admi- ações que beneficiam a criança encon-
nistrativas), embora tenham relevância tram-se estruturadas no orçamento.
diferente para o cálculo do OCA. Por outro lado, esse levantamento ten-
de a registrar menor grau de precisão.
Para facilitar a identificação e seleção das ações Isso porque, de um lado, a classificação
que deverão compor o Orçamento orçamentária funcional envolve inter-
Criança e Adolescente, a Metodologia pretações de quem a realizou – nem
propõe que o levantamento seja feito sempre consensuais ou mesmo clara-
em duas fases complementares: (a) Se- mente explicitadas e justificadas – e
leção Funcional (veja Capítulo 4 "Cal- enfrenta a generalidade do enquadra-
cule o Orçamento Criança e Adoles- mento das ações governamentais em
cente – Fase da Seleção Funcional") e grandes frentes de atuação, que podem
(b) Seleção Direta (veja Capítulo 5 englobar ações de natureza distinta sob
"Calcule o Orçamento Criança e Ado- uma mesma classificação. Em outras
lescente – Fase da Seleção Direta"). O palavras, nessa fase corre-se o risco de
objetivo é possibilitar que todos os inte- incluir ações e despesas não pertinen-
ressados possam seguir um caminho co- tes, assim como excluir outras perti-
15 16 17
capítulo 1
nentes, devido ao alto grau de agrega- nifica que o analista do OCA busca ve-
ção da classificação funcional. Isso, po- rificar, a partir da titulação dos projetos
rém, não invalida a apuração inicial do e atividades do orçamento e de infor-
Orçamento Criança e Adolescente por mações adicionais obtidas junto a técni-
meio dessa fase. Essa forma de apura- cos do Executivo ou Legislativo, a cor-
ção constitui, sim, um primeiro passo reção e a coerência do levantamento
para superar a falta de clareza e publi- realizado por meio das funções e subfun-
cidade do orçamento público. ções indicadas pela Metodologia.
16 17 18
capítulo 1 mentárias. A Seleção Funcional consti- clusão de todos os gastos envolvidos na
tui uma fase facilitada, mas deve ser implementação das ações selecionadas,
considerada incompleta. Por isso, reco- exceto gastos com pagamento de inati-
menda-se a combinação das Fases Fun- vos (aposentados), pois eles não contri-
cional e Direta, uma vez que tal procedi- buem para a implementação das ações
mento garante, simultaneamente, apu- governamentais em curso. Ela procura
rar conforme as orientações da Metodo- destacar separadamente as despesas com
logia e refinar o levantamento segundo a pesquisas e atividades administrativas.
realidade orçamentária do município ou A Metodologia aponta a necessidade de
estado analisado. análise mais detalhada do que está sen-
do computado nesses casos como despe-
sas com informática, publicidade e en-
1.4. ANÁLISE DO ORÇAMENTO cargos gerais, entre outras.
CRIANÇA E ADOLESCENTE
Assim, para o Orçamento Criança e Adolescente,
A Metodologia oferece orientações para que, após as finalidades de gastos de cada ação no
a apuração do Orçamento Criança, seja orçamento podem ser distintas: desti-
feita sua análise. Os números do orça- nam-se à manutenção de atividades (cus-
mento não dizem tudo. Para transformá- teio) ou à expansão de programas e serviços
los em importante ferramenta de promo- (investimento). Os gastos também po-
ção e defesa das políticas públicas a favor dem estar voltados para a gestão das
da criança e do adolescente, a Metodolo- ações, como manutenção, administração,
gia orienta para que sejam reunidas in- pessoal e controle (despesas-meio), ou
formações complementares sobre a situa- com os programas e serviços propriamen-
ção político-administrativa da esfera pú- te ditos (despesas finalísticas), como o
blica analisada. A Metodologia sugere pagamento de fornecedores de bens e
estudos comparativos preliminares (veja serviços. Embora seja possível diferenciar
Capítulo 6 "Analise o Orçamento essas despesas a partir do orçamento, isso
Criança e Adolescente") que permitam é desnecessário pois a Metodologia con-
correlacionar sistematicamente os nú- sidera que todas são relevantes para via-
meros apurados e, assim, não reduzir a bilizar as ações voltadas à criança.
análise da atuação do Poder Público a fa-
vor da criança e do adolescente à simples As despesas com pessoal são consideradas inte-
avaliação dos gastos públicos. gralmente na apuração do OCA, exce-
Cálculo to o pagamento de inativos (aposenta-
Para tanto, a Metodologia propõe a elaboração dos), que é feita, em alguns municí-
recomendado do Relatório do OCA. O relatório deve pios, diretamente pela prefeitura. A
TEMPO BOM ser preferencialmente redigido com a Metodologia, porém, considera que
O Orçamento Criança e participação da comunidade, com des- tais despesas merecem atenção espe-
Adolescente pode ser taque para lideranças, economistas, as- cial, pois constituem a principal parce-
apurado de forma sistentes sociais, sociólogos etc., co- la de gastos. Analisá-las separadamen-
facilitada e ágil, por meio nhecedores das finanças e políticas pú- te, no entanto, constitui um desafio,
da Seleção Funcional, blicas do município ou estado. Nele pois o levantamento de todas as despe-
que considera a devem constar as avaliações quantitati- sas dessa natureza no orçamento públi-
pesquisa das funções e vas realizadas (básica, situacional e tem- co é muito complexo. Somente as des-
subfunções previstas na poral) e o parecer contendo as devidas pesas de pagamento de servidores pú-
classificação análises qualitativas, claras e contex- blicos (pessoal concursado e ocupantes
orçamentária oficial, tualizadas a partir da realidade políti- de cargos comissionados) encontram-
seguida da Seleção co-administrativa identificada sobre as se visivelmente registradas. Outros
Direta, que verifica, a políticas e gastos públicos com a crian- gastos relativos a pessoal, como empre-
partir da análise direta, a ça e o adolescente. sas de mão-de-obra terceirizadas, são
consistência do classificados no orçamento como pres-
levantamento. Durante a análise, é importante lembrar que a tação de serviços e não como despesas
Metodologia considera pertinente a in- de pessoal, o que dificulta sua identifi-
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capítulo 1 cação. Além disso, muitas transferên- qual se refere, a política salarial vi-
cias de recursos para organizações da gente, o nível de atividade econômica
sociedade civil, sobretudo na área da e de inflação, entre outras questões.
assistência social, destinam-se a finan-
ciar serviços, cujo peso principal é a Vale dizer que as diversas áreas governamentais
contratação de pessoal para atendi- apresentam comportamento diferente
mento. Ainda que a legislação em vi- em relação a despesas com pessoal. As
gor não permita a destinação expressa áreas de saúde, educação e assistência
de recursos para essa finalidade, sabe- social são intensivas na contratação de
mos que esse tipo de contratação é ne- trabalhadores. Apesar disso, a participa-
cessário para complementar o quadro ção relativa desse gasto em relação às
geral de prestadores de serviço. demais despesas de custeio, em cada
uma dessas áreas, apresenta comporta-
Portanto, é preciso bastante conhecimento para mento distinto, devido às peculiaridades
se tirar conclusões sobre o volume de dos serviços. A área da saúde, por exem-
despesas com pessoal. Embora a Lei plo, demanda, de modo geral, mais insu-
Complementar nº 101/2000, determi- mos e gastos com manutenção de equi-
ne limites para esse tipo de gasto, ava- pamentos do que as outras áreas, geran-
liar gerencialmente a adequação dos do uma relação menor entre despesas de
gastos com pessoal requer diversas pessoal e custeio. Nesse caso, procure
análises sobre a legislação do municí- sempre apoio em sua comunidade para
pio ou estado, a natureza da ação à avançar nessas análises.
quadro 2
18 19 20
capítulo 1 quadro 3
10 – Saúde
1.1. Combate à Mortalidade na 301 - Atenção Básica
Infância e Materna 302 - Assistência Hospitalar e Ambulatorial
306 - Alimentação e Nutrição
10 – Saúde
1.2. Promoção da Saúde 301 - Atenção Básica
302 - Assistência Hospitalar e Ambulatorial
306 - Alimentação e Nutrição
10 – Saúde
1.3. Desnutrição 301 - Atenção Básica
303 - Suporte Profilático e Terapêutico
306 - Alimentação e Nutrição
• Abastecimento de Água
Esgotamento Sanitário 17 – Saneamento
1.4. Saneamento • 511 - Saneamento Básico Rural
• Coleta de Lixo
Saneamento 512 - Saneamento Básico Urbano
•
16 – Habitação
1.5. Habitação 481 - Habitação Rural
482 - Habitação Urbana
10 – Saúde
1.7. Combate a Doenças e 302 - Assistência Hospitalar e Ambulatorial
Agravos 303 - Suporte Profilático e Terapêutico
10 – Saúde
1.8. Combate ao HIV/AIDS 304 - Vigilância Sanitária
305 - Vigilância Epidemiológica
10 – Saúde
304 - Vigilância
571 - Desenvolvimento Científico
1.9. Pesquisas 572 - Desenvolvimento Tecnológico e
Engenharia
573 - Difusão do Conhecimento
Científico e Tecnológico
educação
• Creche 12 – Educação
2.1. Educação Infantil • Educação Pré-escolar 365 - Educação Infantil
243 - Assistência à Criança e ao Adolescente
19 20 21
capítulo 1 continuação do quadro 3
educação (cont.)
1. Descrição e numeração de Funções e Subfunções conforme a Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, do MOG – DOU de 15.4.99.
20 21 22
capítulo 1 quadro 4
CÁLCULO Apuração direta a partir da identificação dos AVANÇADA, pois exige domínio, pelo analista,
projetos e atividades voltados para a criança e o da temática orçamentária e da realidade do
DIRETO adolescente. orçamento e políticas públicas do
município/Estado analisado.
Identificação e Seleção de
ações segundo a classificação
funcional-programática
Consistência da seleção de
ações e despesas feitas a partir
Lei do Orçamento
da Seleção Funcional
Publicada
21 22 23
capítulo 2
entENDA
O O R Ç A M E N T O P Ú B L I C O
Para apurar e analisar o Orçamento Criança e Adolescente, é
preciso compreender como se estrutura o orçamento público no
Brasil. Basicamente, ele se organiza em torno de três leis principais
que, por estabelecerem entre si importantes relações, constituem
um ciclo orçamentário: a Lei do Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes
Orçamentárias e a Lei do Orçamento Anual. As informações
necessárias ao cálculo do OCA devem ser extraídas da Lei do
Orçamento Anual e dos relatórios de execução orçamentária, mas as
demais leis podem oferecer informações relevantes para a análise.
23 24 25
capítulo 2 programa da ação governamental para comum preestabelecido pelo gestor pú-
o período de um ano constante da blico, destinado à solução de um pro-
LOA reflita objetivos e prioridades blema ou ao atendimento de determi-
sistemáticos e coerentes. nada necessidade ou demanda da socie-
dade. Trata-se, portanto, de um grau de
Todo esse processo de planejamento, priorização agregação muito geral, que não permite
e detalhamento de ações envolvendo as visualizar claramente as ações do Orça-
três leis constitui o ciclo orçamentário. mento Criança e Adolescente. Apesar
Nele, segundo a Constituição Federal, a disso, dois elementos do PPA, os valo-
LDO deve ser compatível com o PPA e, res totais e as metas físicas, que são
logicamente, como a LDO orienta a es- calculados para cada programa do do-
truturação da LOA, esta também acaba cumento, podem contribuir para a in-
devendo ser compatível com o PPA. Em terpretação do OCA.
alguns municípios, de acordo com a sua
Lei Orgânica, a Constituição do municí- Os valores totais representam uma previsão de
pio, o Plano Plurianual deve ser compa- gastos para o período de quatro anos.
tível também com o Plano Diretor – pla- Uma vez feita a apuração do OCA,
no contendo diretrizes gerais para o de- você pode verificar se a execução
senvolvimento do município. anual do governo para a área da infân-
cia e adolescência está proporcional
ao previsto no PPA. Para isso, basta
2.2. PLANO PLURIANUAL (PPA) dividir o valor do PPA por quatro e
comparar tanto com o previsto na
No ciclo orçamentário, o Plano Plurianual, tam- LOA, quanto com o somatório dos va-
bém chamado de Plano Plurianual de lores realmente executados, conforme
Ação Governamental (PPAG), cons- os relatórios de execução orçamentá-
titui um documento de planejamento ria. Caso verifique valores proporcio-
estratégico por excelência, pois inclui nalmente menores, você pode questio-
diretrizes, objetivos e metas de investi- nar o representante do Poder Executi-
mentos (despesas de capital) e de vo de seu município sobre os motivos,
ações de duração continuada para qua- com vistas a obter argumentos mais
tro anos. Ele é elaborado no início de consistentes para suas conclusões.
Compare a cada nova administração e enviado,
execução do até o final de setembro, à Câmara de Uma outra variável importante para avaliar a ex-
orçamento com Vereadores ou à Assembléia Legislati- tensão da cobertura prevista para o pe-
a previsão do va, no caso dos estados. No entanto, ríodo de quatro anos são as chamadas
Plano Plurianual para uma informação mais precisa, é metas físicas do PPA. As metas físicas
recomendável consultar a data especí- quantificam, por exemplo, o número de
SIGA POR AQUI fica em que esse envio ocorre em seu beneficiários, de equipamentos construí-
Verifique se a soma dos município ou estado. Uma vez imple- dos, de municípios beneficiados, de pro-
valores financeiros mentado, o PPA vale até o final do fissionais capacitados que se pretende al-
executados no primeiro ano do próximo governo. cançar, permitindo assim avaliar a ex-
orçamento em cada ano, Portanto, quando um prefeito ou go- tensão da cobertura para o período. A
ou mesmo a soma das vernador inicia o mandato, está em vi- partir do somatório de metas físicas
metas físicas para um gor o Plano Plurianual aprovado na le- constantes da LOA com a previsão do
determinado programa gislatura anterior e em execução pelo PPA, também é possível fazer a análise
existente no Plano seu antecessor. comparativa da execução anual do go-
Plurianual, está verno para a área da infância. Vale des-
proporcionalmente No Plano Plurianual, o que o governo pretende tacar que nem sempre as metas físicas
adequada com realizar costuma estar descrito no âmbi- expressam adequadamente os objetivos
a previsão de gastos to de programas. Cada programa cons- a serem atingidos pelo programa, o que
para o período de titui uma agregação de ações (projetos pode implicar dificuldades para se che-
quatro anos. e atividades que não aparecem detalha- gar a conclusões consistentes sobre o de-
dos) que concorrem para um objetivo sempenho alcançado pelo Executivo.
24 25 26
capítulo 2
25 26 27
capítulo 2 2.4. LEI DO ORÇAMENTO ANUAL (LOA) Uma vez encaminhada a LOA, o Poder Legislati-
vo deve apreciá-la até o fim do exercício
A Constituição Federal estabelece, nos artigos 165 que antecede sua entrada em vigor. Isto é,
a 169, que é obrigação do Poder Execu- até o final de dezembro cabe aos parla-
tivo elaborar todo ano a Lei Orçamentá- mentares analisar e aprovar o orçamento,
ria Anual (LOA), estabelecendo a pre- pois ele deve entrar em vigor no primeiro
visão de receitas e a programação de des- dia de janeiro do ano seguinte. Os parla-
pesas para o ano seguinte. Ela represen- mentares têm a atribuição de fazer emen-
ta o grande momento de todo o ciclo or- das à proposta do Executivo, indicando
çamentário, pois todo o processo de pla- simultaneamente de onde são retirados
nejamento e priorização de ações deve os recursos e para onde devem ser trans-
ser traduzido nesse instrumento. A LOA feridos. Eles não podem movimentar re-
reúne os projetos e atividades, acompa- cursos destinados a pessoal e encargos,
nhados das respectivas despesas nas serviço da dívida e transferências tribu-
quais incorrerão, que constituem a base tárias constitucionais (art. 166, § 3º, II,
para a pesquisa e apuração do OCA. da Constituição Federal). Por outro lado,
eles podem, por exemplo, aprovar uma
Tal lei deve ser enviada ao Legislativo para apre- emenda que transfere recursos destinados
ciação e aprovação até quatro meses an- à construção de uma praça para a cons-
tes do encerramento do exercício finan- trução de uma escola.
ceiro (art. 35, § 2º, do Ato das Disposi-
ção Constitucionais Transitórias da A LOA é um documento único. Contudo, as do-
Constituição Federal), ou seja, até o dia tações orçamentárias, por determinação
30 de agosto de cada ano, no caso da da Constituição Federal, são identifica-
União, e 30 de setembro, em grande das como integrantes de três tipos de or-
parte dos estados e municípios. Portan- çamentos distintos:
to, é necessário verificar a data precisa
em que isso acontece em seu município (a) Orçamento Fiscal: inclui as despesas desti-
ou estado, assim como ocorre para as nadas à implementação dos serviços pú-
demais leis citadas. Caso o prefeito ou o blicos e à manutenção da burocracia pú-
governador não envie dentro do prazo blica.
legal o projeto da LOA, a Comissão de
Orçamento da Câmara Municipal ou (b) Orçamento de Investimentos das Estatais:
Assembléia Legislativa deve elaborar inclui as despesas com investimentos
uma proposta. Se a proposta enviada (obras e instalações, aquisição de veícu-
pelo Executivo for rejeitada pelos ve- los, material permanente, imóveis e par-
readores, de modo geral, passa a valer ticipações societárias etc.) das empresas
para o exercício seguinte o orçamento estatais em que o Poder Público, direta
do exercício em curso. ou indiretamente, detenha a maioria do
capital social com direito a voto.
26 27 28
capítulo 2
ETAPAS DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
27 28 29
capítulo 2 ação/despesa prevista possa ser adminis- ção orçamentária, ela não poderá ser exe-
trada em parcelas mensais, como a exe- cutada. (veja Capítulo 3 do caderno 2
cução de um contrato de prestação de “Promovendo o Controle Social”).
serviços. Entretanto, há despesas sazo-
nais, que podem exigir a disponibiliza- O processo de liberação da cota, em geral, fica a
ção de grande parcela da dotação. Um cargo da Secretaria de Planejamento,
exemplo disso é o que ocorre com a da Secretaria da Fazenda ou de quem
aquisição de medicamentos ou de outros desempenha papel correlato, que fixa a
produtos na área da saúde, cuja compra cota e faz o provisionamento de crédi-
para estoque é mais racional e econômi- to orçamentário nos projetos e ativida-
ca, embora a distribuição do produto des indicados com seus respectivos ele-
aconteça ao longo de meses. mentos de despesa (pessoal civil, mate-
rial de consumo, outros serviços e en-
De acordo com a Lei nº 4.320/1964, as cotas or- cargos etc.), autorizando então as uni-
çamentárias deveriam ser distribuídas por dades administrativas a realizar despesas
trimestre, sendo que cada unidade orça- no limite dos créditos provisionados.
mentária deve conhecer previamente a Normalmente, isso se processa em um
distribuição prevista das quatro cotas, pa- sistema informatizado, por meio do qual
ra poder programar adequadamente seu são emitidos os documentos necessários
funcionamento. Em razão da incerteza à realização das despesas. No caso da
quanto à disponibilidade financeira (di- União, temos o Sistema Integrado de
nheiro em caixa), o Poder Executivo tem Administração Financeira (Siafi).
tido o costume de liberar cotas bastante
limitadas, com o horizonte máximo de Feito isso, cada unidade pode encaminhar, para
três meses e de forma seletiva, isto é, não os setores competentes, suas solicitações
liberando recursos para todas as dotações de aquisição de materiais de consumo e
orçamentárias existentes. Para o Orça- permanentes, bem como de contratação
mento Criança e Adolescente, essa etapa de serviços de terceiros e de obras, ou se-
constitui um momento fundamental. O ja, nesse momento é que as ações come-
significado disso é que, caso não aconte- çam de fato a ser implementadas.
ça a liberação de uma determinada dota-
2.5.2 LICITAÇÃO
28 29 30
capítulo 2 so dos gastos com pagamento de pessoal de despesa sem prévio empenho”. O em-
ou mesmo do serviço da dívida pública. penho da despesa é o ato administrativo
Há também a previsão de situações de por meio do qual o Poder Público com-
inexigibilidade e de dispensa de licita- promete o crédito orçamentário provi-
ção, respectivamente quando há invia- sionado com a realização da despesa pre-
bilidade de competição ou determina- tendida. Em outras palavras, é a garantia
ção legal para não realizá-la. de que determinado recurso será usado
apenas para determinada ação.
De fato, sem licitação não se pode comprar ou
contratar a maioria das coisas necessá- Isso significa que o montante empenhado dos
rias ao funcionamento do serviço públi- recursos disponíveis não pode mais ser
co. Por outro lado, processos licitatórios utilizado para outra finalidade, impedin-
irregulares resultam em compras ou con- do que sejam realizadas novas despesas
tratações indevidas, com preços e quali- com o mesmo recurso liberado ou que
dade inadequados. Sem dúvida, quais- sejam assumidas despesas maiores do
quer dessas situações são prejudiciais à que o valor previamente autorizado.
consecução de ações previstas no Orça-
mento Criança e Adolescente. Para cada ato de empenho é emitida a nota de
empenho, que indica o nome do credor,
a especificação e o valor da despesa, bem
2.5.3 EMPENHO DA DESPESA como a dedução do valor desta do saldo
da dotação orçamentária própria.
Realizada a licitação, a administração pública es-
tá apta a consumar a despesa. No entan- Para a apuração do Orçamento Criança e Ado-
to, a Lei nº 4.320/1964, em seu artigo lescente, esse é um momento importan-
60, “proíbe expressamente a realização te porque, com o empenho, os recursos
orçamentários previstos em alguma
ação a favor da criança passam a estar
Valor empenhado, liqüidado ou pago? comprometidos com a implementação
da ação. Valores empenhados do orça-
TEMPO NUBLADO os valores de serviços realmente mento significam que já se cumpriu
Quando vamos analisar o já medidos e bens entregues. Caso etapa decisiva para viabilizar a ação,
orçamento público, sempre nos queira realmente saber o que foi embora não representem ainda o iní-
deparamos com a decisão sobre realizado e pago, disponha dos cio da ação prevista. Desse modo, a
qual desses três tipos de valores valores pagos. Os valores pagos só verificação dos valores empenhados
iremos trabalhar. Eles são bem vão se diferenciar em ações do OCA mostra o quanto já
diferentes, pois, como o orçamento significativamente dos valores está comprometido com essa finalida-
é uma autorização e não liquidados se houver inflação alta de, mas não realmente o quanto foi
obrigação de gastos, eles ou se o Poder Público estiver executado. Isso ocorre porque, como o
representam cada uma das fases contratando, comprando e não orçamento público é autorizativo, é
de sua execução. Assim, a questão pagando, ou seja, dando “calote”. possível, até o final do ano, anular ou
é escolher a fase que interessa Na prática, o que foi liqüidado mesmo não ser consumado o paga-
para a sua análise. Se você deseja rapidamente vira pago, mento daquilo que foi empenhado.
analisar o que já foi comprometido dependendo apenas do tempo da
do orçamento, então deve tomar burocracia para a tesouraria fazer É preciso estar atento para interpretar as despe-
os valores empenhados. Significa o pagamento, normalmente via sas empenhadas, visto que despesas re-
que foram comprometidos, mas bancos. De qualquer modo, para ferentes a contratos, por exemplo, po-
não necessariamente serão todos apurar o Orçamento Criança em dem ser empenhadas pelo seu valor glo-
pagos, podendo, inclusive, serem períodos completos de um ano, bal e só serem pagas à medida que forem
anulados até o final do exercício. recomenda-se a adoção de valores executadas e medidas. Por exemplo, um
Se você quer considerar o que já liqüidados que dão uma real contrato de prestação de serviços de lo-
foi realizado, analise os valores noção dos gastos dentro do cação de mão-de-obra pode ter a dura-
liqüidados. Você irá trabalhar com exercício. ção de um ano. Assim, se você estiver
apurando o Orçamento Criança e Adoles-
29 30 31
capítulo 2
30 31 32
capítulo 2 trato e servirá para o cálculo do paga- cisam ser pagos, carregando o risco de
mento a ser efetuado. No caso da com- não pagamento e correspondente gera-
pra de bens, um servidor responsável de- ção de dívida de curto prazo, fato que
ve atestar o seu recebimento e a sua con- tem sido realidade em diversas adminis-
formidade com as especificações da trações públicas.
compra, o que, normalmente, ocorre no
verso ou na frente do documento fiscal.
2.5.5 PAGAMENTO
Para o OCA, a apuração dos valores liqüidados
constitui uma etapa mais realista da im- O pagamento constitui a etapa final da execução
plementação de ações, pois já se refere a orçamentária. Após a liquidação da des-
despesas que foram realizadas e atesta- pesa, é emitida a nota de pagamento da
das, implicando serviços ou obras efeti- despesa, que autoriza a tesouraria a qui-
vamente implementados. Em virtude tar, via operação bancária, o compro-
disso, em algumas prefeituras e gover- misso efetivado. Para o Orçamento
nos estaduais, a expressão valor liqüida- Criança e Adolescente, a contabilização
do é usada praticamente como sinôni- dos valores liqüidados é a que materiali-
mo de valor pago. Entretanto, vale lem- za a plena consecução das ações progra-
brar que os valores liqüidados ainda pre- madas a favor da criança.
31 32 33
capítulo 3
OBTENHA
os dados PARA O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
Para calcular o Orçamento Criança e Adolescente, você deve obter
os dados junto aos órgãos públicos. O passo seguinte é conseguir
ler corretamente a classificação funcional para, então, selecionar as
ações no orçamento que farão parte do OCA.
O cálculo do Orçamento Criança e Adolecente exige que você tenha acesso a dados sobre
o orçamento de seu município ou estado. Para saber quais informações são neces-
sárias, você precisa ter certeza sobre o que pretende analisar. Para definir o objeti-
vo de sua análise, consulte o Capítulo 6 "Analise o Orçamento Criança e Adoles-
cente", que indica as principais possibilidades analíticas a partir do OCA e os res-
pectivos dados necessários para processá-las.
Estratégias distintas de mobilização são necessárias para obter essas bases de dados. En-
quanto a LOA é publicada e, portanto, relativamente acessível, os relatórios de exe-
cução orçamentária não estão condicionados a formatos predefinidos ou mesmo à
publicação obrigatória, o que torna mais complexa sua obtenção. Nas seções seguin-
tes, apresentamos orientações para se conseguir cada um deles.
33 34 35
capítulo 3 Secretário de Assistência Social ou equi- 3.3. BASE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
valente, ou ainda ao Secretário-executivo
do Fundo dos Direitos da Criança e do As informações relativas à Base Execução Orça-
Adolescente de seu município ou estado. mentária exigem maior persistência, pois
No Anexo I há um modelo de ofício para não há obrigação legal expressa de di-
a requisição de informações. vulgação de relatório periódico de exe-
cução orçamentária por ação (projeto e
atividade). A Constituição Federal, ra-
3.2. BASE ORÇAMENTO ANUAL tificada pela Lei Complementar nº
101/2000, Lei de Responsabilidade Fis-
Para dispor da Base Orçamento Anual, devem- cal, determina a publicação, até 30 dias
se obter os quadros integrantes da Lei de após o encerramento de cada bimestre,
Orçamento Anual (LOA). Por determi- do Relatório Resumido de Execução Orça-
nação legal, a LOA é publicada antes do mentária (RREO). Embora composto
início do exercício, normalmente na últi- por vários demonstrativos referentes à
ma quinzena de dezembro, no Diário Ofi- execução da receita e da despesa, os for-
cial do município ou do estado ou mesmo matos dos demonstrativos integrantes
em um jornal de grande circulação. Con- do RREO não trazem a discriminação
tudo, nem sempre os quadros são publica- das despesas realizadas por ação orça-
dos na íntegra, devido ao grande volume mentária, o que não permite a apuração
que representam. Nesse caso, eles ficam
disponíveis em local público para consul-
ta. Em geral, após a aprovação pelo Leg-
islativo, o Executivo publica, no formato Atuando para obter as
de livro, o texto propriamente dito da lei informações
orçamentária acompanhado do conjunto
de quadros exigidos pela Lei nº TEMPO RUIM
4.320/1964. Essa publicação, que costu- Apesar de tratar-se de um direito constitucional,
CONSULTE ma ser constituída por dois volumes ou o acesso às informações sobre as finanças
A LEGISLAÇÃO mais, normalmente pode ser encontrada públicas, sobretudo aquelas relativas à
São instrumentos da nas Secretarias de Planejamento ou de execução do orçamento, costuma apresentar
transparência da Fazenda ou ainda na Presidência ou dificuldades. É sempre importante oficializar a
gestão fiscal, aos Comissão de Orçamento da Câmara Mu- solicitação, endereçando-a para a autoridade
quais deverá ser dada nicipal ou Assembléia Legislativa, con- pública adequada, preferencialmente ao
ampla divulgação, forme for o caso. Entre esses quadros, va- secretário responsável pela administração
inclusive em meios mos encontrar o que nos permite apurar dessas informações (Secretário da Fazenda ou
eletrônicos de acesso o Orçamento Criança e Adolescente. do Planejamento), com um prazo razoável para
público: os planos, atendimento como, por exemplo, 15 dias. Em
orçamentos e leis de Para a fase do cálculo funcional do OCA, é caso de negativa, deve-se tentar o prefeito ou o
diretrizes necessário que você identifique, dentre governador, ou mesmo o presidente da Câmara
orçamentárias; as os quadros da LOA, o Quadro Demons- Municipal ou Assembléia Legislativa, os quais
prestações de contas trativo de Despesas (veja Quadro 5). O têm poderes para demandar oficialmente as
e o respectivo parecer QDD apresenta a discriminação da des- informações. Na situação limite em que as
prévio; o Relatório pesa por cada órgão da administração, informações não são disponibilizadas,
Resumido da com as respectivas ações (projetos e ati- resta acionar o Ministério Público
Execução vidades) acompanhadas da previsão de em defesa do direito à informação
Orçamentária e o gastos por grupo de despesa. Cada ação pública. Para mais informações,
Relatório de Gestão vem acompanhada de uma codificação veja a seção 1.4. "Como Conseguir
Fiscal; e as versões exigida por lei, que se chama classifica- os Dados para Calcular o Orçamento
simplificadas desses ção funcional-programática. A partir da Criança e Adolescente",
documentos. interpretação dessa codificação, você no Capítulo 1 do caderno
Lei Complementar poderá selecionar as ações e despesas “Promovendo o
101/00, art. 48 que serão parte do OCA. Controle Social”.
34 35 36
capítulo 3 CONSULTE A LEGISLAÇÃO II - Demonstrativos da execução das:
O Poder Executivo publicará, até 30 dias após o a) Receitas, por categoria econômica e fonte,
encerramento de cada bimestre, relatório resumido da especificando a previsão inicial, a previsão atualizada
execução orçamentária. para o exercício, a receita realizada no bimestre, a
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 165, 3º realizada no exercício e a previsão a
realizar.
O relatório resumido da execução orçamentária b) Despesas, por categoria econômica
abrangerá todos os poderes e o Ministério Público, será e grupo de natureza da despesa,
publicado até 30 dias após o encerramento de cada discriminando dotação inicial,
bimestre e composto de: dotação para o exercício,
I - Balanço orçamentário, que especificará por categoria despesas empenhada e
econômica as: liquidada, no bimestre e
a) Receitas por fonte, informando as realizadas e a no exercício.
realizar, bem como a previsão atualizada. c) Despesas, por função e
b) Despesas por grupo de natureza, discriminando a subfunção.
dotação para o exercício, a despesa liquidada e o saldo. Lei Complementar no101/00, art. 52
do OCA. Vale citar que tais formatos de dicando as despesas pagas para que você
demonstrativos são definidos pela Se- tenha em mãos todos os valores da execu-
cretaria do Tesouro Nacional (STN), ção orçamentária, e possa solicitar que
do Ministério da Fazenda. ele seja discriminado para todas as secre-
tarias com suas respectivas ações (proje-
De fato, para apurar a partir da Base Execução tos/atividades). Lembre-se de que as áreas
Orçamentária, necessitamos de um qua- de saúde, educação e assistência social ou
dro com o formato básico do Quadro De- trabalho são as que concentram a maioria
monstrativo de Despesas (QDD), que das despesas a ser apurada (veja a seção
traga a discriminação de projetos/ativida- 2.4 "Atuando Junto ao Poder Executivo",
des com a devida classificação funcional- do Capítulo 2 do Caderno “Promovendo
programática, e com os dados referentes o Controle Social”). Com essas modifica-
às despesas empenhadas, liquidadas e pa- ções, vamos chamá-lo de Relatório de Exe-
gas para o período desejado. Caso isso es- cução Orçamentária por Órgão, Projetos e
teja suficientemente claro para você, vá Atividades (RexO) que, na prática, cons-
em frente! Contudo, caso você queira ter titui-se em um Quadro Demonstrativo de
Defina qual uma justificativa legal para obter um qua- Despesas (QDD), com a discriminação de
análise dro nesse formato, ou mesmo dispor de dotação inicial, despesas empenhadas, li-
pretende uma referência que prove que sua solici- qüidadas e pagas, para um período solici-
realizar tação não é excessiva, solicite seu de- tado (veja Quadro 7).
monstrativo com base nos demonstrati-
SIGA POR AQUI vos previstos no RREO, com as comple-
Para saber qual base mentações necessárias, para atender às 3.4. LEITURA DO ORÇAMENTO
de dados buscar necessidades do Orçamento Criança e
(orçamento anual ou Adolecente, conforme descrito a seguir. Uma vez obtida a base correta de informações,
execução o próximo passo é selecionar as ações
orçamentária), é Entre os demonstrativos previstos no RREO, o governamentais que deverão compor o
preciso que você demonstrativo de despesas por função e sub- Orçamento Criança e Adolescente. No
defina previamente função é o que mais se aproxima das nos- cálculo funcional, tanto para a Base
qual análise pretende sas necessidades (veja Quadro 6). O de- Orçamento Anual quanto para a Base
realizar, conforme as monstrativo traz a discriminação de fun- Execução Orçamentária, é preciso saber
orientações do ção e subfunção e os detalhes das despe- fazer a leitura do orçamento. Isto sig-
Capítulo 6 "Analise o sas (empenhadas e liqüidadas), validando nifica saber ler a dotação orçamentária
Orçamento Criança e a perspectiva de que são informações le- para identificar os projetos e atividades
Adolescente". galmente pertinentes para divulgação. corretos, que representam as ações a
Faltará apenas introduzir uma coluna in- serem incluídas.
35 36 37
capítulo 3 Conforme já foi mencionado, no orçamento as da função Assistência Social, como,
obras e os serviços a serem realizados são por exemplo, a subfunção Assistência
programados na forma de projetos e ativi- à Criança e ao Adolescente.
dades. Projetos e atividades são os títulos
das ações governamentais que cada órgão Além disso, em cada projeto ou atividade, os
está autorizado a implementar, acompa- gastos previstos são classificados confor-
nhados dos respectivos créditos orçamen- me sua categoria econômica, grupo de
tários destinados ao pagamento das despe- despesa e elemento de despesa. Cada
sas de pessoal, compra de bens e contrata- elemento de despesa determina um tipo
ção de obras e serviços durante o período de gasto, estabelecendo se os recursos são
de um ano. Esses projetos e atividades destinados, por exemplo, para gastos com
aparecem de modo claro no Quadro de pessoal, com obrigações patronais, equi-
Detalhamento de Despesas (QDD). pamentos e materiais permanente e assim
por diante. Em cada elemento de despe-
De acordo com a legislação em vigor, cada pro- sa, os créditos orçamentários podem ser
jeto e atividade deve ser classificado se- alocados segundo as fontes de recursos
gundo a sua natureza, tanto para ajudar que os financiam. As modalidades de
na apreciação das ações e despesas pro- aplicação destacam o ente público ou pri-
Confira sempre gramadas, quanto para possibilitar a vado a que se destinam as despesas, o que,
contabilidade nacional, de forma unifi- entretanto, não é obrigatório.
mudanças na
cada, dos gastos governamentais.
classificação Toda essa classificação aparece no orçamento
funcional- Em geral, os projetos e atividades encontram-se como uma codificação dos projetos/ativi-
programática alocados pelo órgão e unidade orçamen- dades, recebendo o nome de classifica-
tária (secretaria, superintendência, fun- ção funcional-programática. Ela se re-
TEMPO NUBLADO do, empresa, fundação, administração veste de grande importância para a pro-
Verifique sempre, junto à regional, autarquia etc.) responsável pe- gramação das ações governamentais,
Secretaria do Tesouro la sua implementação. Em alguns entes pois oferece sinteticamente subsídios pa-
Nacional (STN), Ministério públicos, ela pode receber outro nome, ra analisar de modo qualitativo as finali-
do Planejamento, como unidade de despesa ou unidade de dades das ações e a natureza dos gastos
Orçamento e Gestão (MP) gestão. Ora, quando localizamos um pro- previstos no orçamento. Na realidade, a
ou à Secretaria de jeto ou atividade em uma unidade orça- funcional-programática representa a jun-
Orçamento Federal (SOF), mentária, vemos que ele está ligado a ção de quatro classificações:
a existência de eventuais um outro título mais abrangente de ação
mudanças ou que se chama programa. O programa é (a) Classificação institucional: codificação,
atualizações dos quadros
um conjunto de projetos e atividades cujo padrão é definido por cada ente pú-
de Função, Subfunção e
que contribuem para o alcance de um blico, destinada a identificar órgãos e
Natureza de Despesa.
mesmo objetivo. Trata-se de uma agre- unidades orçamentárias.
Essas três classificações
gação concebida para conferir à defini-
são iguais para as três
esferas de governo. ção das ações caráter mais sistemático de (b) Classificação funcional: codificação obri-
Confirme, ainda, junto aos política pública. gatória e padronizada para estados,
órgãos responsáveis municípios e União, oriunda da Porta-
pelos orçamentos, nos Os projetos e as atividades, por sua vez, en- ria MOG n° 42, de 14 de abril de 1999
municípios, estados e contram-se classificados conforme (vide Anexo II), que discrimina a des-
União sobre possíveis funções e subfunções, que descrevem pesa por funções conforme estabelece
mudanças na grandes áreas de atuação do Poder Pú- o inciso I do § 1º do art. 2º e § 2º do
classificação das fontes blico. As subfunções podem ser com- art. 8º da Lei n.º 4.320/64.
de recursos e das binadas com funções diferentes daque-
modalidades de las a partir das quais se originaram, o (c) Classificação programática: codificação,
aplicação realizadas por que chamamos de subfunção cruzada. cujo padrão é definido por cada ente pú-
essas esferas, pois essas Desse modo, é possível, por exemplo, blico, destinada a identificar os objeti-
são diferentes para cada classificar um projeto ou atividade na vos executivos para os quais as despesas
ente da Federação. função Administração e, ao mesmo estão programadas (programa, projeto,
tempo, em uma subfunção integrante atividade e operação especial).
36 37 38
capítulo 3
O que é a classificação funcional-programática
Codificação válida para municípios, estados e União, integrador entre o PPA e o orçamento. Em termos
do programa de trabalho orçamentário, conforme a de estruturação, o plano termina e o orçamento
classificação e a estrutura correspondente de começa no programa. Cada administração tem a
códigos prevista no Anexo 5 da Lei nº 4.320/64, com liberdade de definir os títulos de seus programas.
alterações realizadas pela Portaria MOG n° 42, de Ex.: 1061 - Brasil Escolarizado.
14 de abril de 1999, que “atualiza a discriminação Atividade: é o instrumento de programação utilizado
da despesa por funções de que tratam o inciso I do para alcançar o objetivo de um programa,
§ 1º do art. 2º e § 2º do art. 8º, ambos da Lei n.º envolvendo um conjunto de operações que se
4.320/64, estabelece os conceitos de função, realizam de modo contínuo e permanente, das quais
subfunção, programa, projeto, atividade, operações resulta um produto ou serviço necessário à
especiais.” manutenção da ação dos governos. Cada
administração tem a liberdade de definir os títulos
Função: maior nível de agregação, que designa as de suas atividades. Ex.: 6351 - Produção e
atribuições permanentes da administração, ou seja, Distribuição de Periódicos para a Educação Infantil.
suas áreas de atuação. É padronizada para Projeto: é o instrumento de programação para
municípios, estados e União. Ex.: 10 - Saúde. alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um
Subfunção: representa uma partição da função, visando conjunto de operações, limitadas no tempo, das
agregar determinado subconjunto de despesas e quais resulta um produto que concorre para a
identificar a natureza básica das ações que se expansão ou aperfeiçoamento da ação dos
distribuem em torno das funções. Podem ser governos. Cada administração tem a liberdade de
combinadas com funções diferentes, sendo definir os títulos de seus projetos. Ex.: 1001 -
chamadas de subfunções cruzadas: a programação Construção,Ampliação e Modernização de Creche.
de um órgão, via de regra, será classificada em uma Operação especial: despesas em relação às quais não
única função, ao passo que a subfunção será se pode associar, no período, a geração de um bem
escolhida de acordo com a especificidade de cada ou serviço, tais como dívidas, ressarcimentos,
ação ou projeto/atividade. É padronizada para transferências, indenizações, financiamentos e
municípios, estados e União. Ex.: 306 - Alimentação e outras afins. Ou seja, são aquelas despesas nas
Nutrição. quais o administrador incorre, mesmo sem combinar
Programa: conjunto de ações que concorrem para fatores de produção para gerar produtos, isto é,
um objetivo comum preestabelecido, mensurado seriam neutras em relação ao ciclo produtivo sob
por indicadores instituídos no Plano Plurianual sua responsabilidade. Ex.: 0047 - Fundo de
(PPA), visando a solução de um problema ou ao Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
atendimento de determinada necessidade ou Fundamental e de Valorização do Magistério
demanda da sociedade. O programa é o nível (Fundef).
37 38 39
capítulo 3 (d) Classificação das despesas: codificação que ficação de algumas das variáveis que a
busca identificar o objeto do gasto pre- compõem. Isso resulta do fato de so-
visto, a qual é obrigatória e padronizada mente os códigos referentes à classifi-
para estados, municípios e União, no ca- cação funcional (função e subfunção)
so de categoria econômica, grupo de e parte dos referentes à classificação
despesa e elemento de despesa, e não das despesas (categoria econômica,
obrigatória e de padrão definido pelo grupo de despesa e elemento de despe-
próprio ente, no caso de modalidade de sa) serem padronizados. Os demais có-
aplicação e fonte de recursos. digos relativos às classificações institu-
cional e programática e à outra parte
A codificação é composta por diversos dígitos da classificação das despesas (modali-
em seqüência. A partir da leitura da dade de aplicação e fonte de recursos),
codificação fornecida pela classifica- são livremente definidos por cada ente
ção funcional-programática, podemos público (município, estado e União).
identificar adequadamente as ações
que compõem o Orçamento Criança e Com o objetivo de simular a estrutura da classi-
Adolescente. Para compreendê-la, é ficação funcional-programática, toma-
preciso entender o que cada dígito sig- mos como referência a codificação prati-
nifica. De fato, embora a ordem do sig- cada pela União, como mostra o Quadro
nificado dos dígitos não mude, o total 8, excluindo as classificações que apenas
de dígitos da classificação funcional- ela processa. Nela, a quantidade de dígi-
programática pode variar para a identi- tos totaliza 22 algarismos, ordenados na
Classificação da despesa determinada pela Portaria Interministerial nº 163, de 4 de maio de 2001, que se destina a identificar o
objeto do gasto previsto, padronizando o registro contábil para municípios, estados e União dos gastos dos entes.
Categoria econômica: classificação da despesa segundo sua finalidade econômica, que se desdobra em duas categorias, com seu
respectivo código:
3 – Despesas Correntes: classificam-se nesta categoria todas as despesas que não contribuem diretamente para a formação ou
aquisição de um bem de capital.
4 – Despesas de Capital: classificam-se nesta categoria aquelas despesas que contribuem, diretamente, para a formação ou
aquisição de um bem de capital.
Grupo de despesa: é a agregação de elementos de despesa que apresentam as mesmas características quanto ao objeto de gasto.
São seis os Grupos de Despesa, conforme se segue, com o seu respectivo código: 1 – Pessoal e Encargos Sociais; 2 – Juros e
Encargos da Dívida; 3 – Outras Despesas Correntes; 4 – Investimentos; 5 – Inversões Financeiras; 6 – Amortização da Dívida.
Fonte de recursos: visa identificar a origem dos recursos (do Tesouro, Operações de Crédito,Transferências Voluntárias, Fundef etc.)
que financiam os elementos de despesa; um elemento de despesa pode dispor de mais de uma fonte distinta para seu
financiamento; cada ente público (município, estado e União) define sua classificação.
Modalidade de aplicação: tem por finalidade indicar se os recursos são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da
mesma esfera de governo ou por outro ente da Federação e suas respectivas entidades, e objetiva eliminar a dupla contagem dos
recursos transferidos ou descentralizados. Elas podem ser dos seguintes tipos: 10 – Transferências Intragovernamentais; 20 –
Transferências à União; 30 – Transferências a estados e ao Distrito Federal; 40 – Transferências a Municípios; 50 – Transferências a
Instituições Privadas sem Fins Lucrativos; 60 – Transferências a Instituições Privadas com Fins Lucrativos: despesas realizadas
mediante transferência de recursos financeiros a entidades com fins lucrativos que não tenham vínculo com a administração pública;
70 – Transferências a Instituições Multigovernamentais; 80 – Transferências ao Exterior; 90 – Aplicações Direta; 99 – A Definir.
Elemento de despesa: tem por finalidade identificar os objetos de gasto, tais como vencimentos e vantagens fixas, juros, diárias,
material de consumo, serviços de terceiros prestados sob qualquer forma, subvenções sociais, obras e instalações, equipamentos e
material permanente, auxílios, amortização e outros de que a administração pública se serve para a consecução de seus fins.
38 39 40
capítulo 3
O que é subfunção cruzada
As funções são classificações das finalidades gerais das Como exemplo, sabemos que é possível ter ações voltadas
ações governamentais. Para cada função, a norma para a informatização tanto no âmbito da saúde, quanto no
estabelece um grupo de subfunções, que servem para da educação. Desse modo, podemos ter a subfunção 126
caracterizar finalidades específicas dessas ações. "Tecnologia da Informação", originalmente vinculada à
Uma subfunção, entretanto, não se presta apenas a função Administração, aparecendo nas seguintes
caracterizar a especificidade de uma ação no âmbito classificações, respectivamente conforme os exemplos:
exclusivo de sua função original. Devido à complexidade da Função 10 – Saúde/ 126 "Tecnologia da Informação" e
ação governamental e, ao mesmo tempo, da necessidade Função 12 – Educação/ 126 "Tecnologia da Informação".
de precisar melhor sua classificação, a legislação permite Essa possibilidade de uso das subfunções se chama
correlacionar as subfunções com qualquer função. subfunção cruzada.
seqüência, de modo que os primeiros dí- De qualquer modo, muita atenção. É possível
gitos indicam o órgão e a unidade orça- que alguns municípios e estados intro-
mentária, seguidos da função e subfun- duzam, em sua classificação funcional-
ção, e os últimos algarismos representam programática, variáveis adicionais. Al-
o elemento de despesa acompanhado do guns entes públicos chegam a desdobrar
código da fonte de recursos. Na última seus projetos/atividades em subproje-
linha do Quadro, observa-se um exem- tos/subatividades, conferindo-lhes nu-
Onde encontrar plo de classificação funcional-programá- meração de identificação que aparece na
tica com a respectiva interpretação dos codificação. Outros introduzem uma
as bases códigos. No Quadro 9, encontra-se uma identificação complementar chamada
de dados breve amostra da diferença de quantida- localizador do gasto, para classificar um
SIGA POR AQUI
de de dígitos na classificação funcional- possível subtítulo do projeto/atividade.
Para conseguir a Base
programática entre o estados de São A própria União apresenta essa última
Orçamento Anual, procure
Paulo e o do Ceará e o município de classificação, assim como o Identificador
o livro publicado da Lei
Fortaleza. Para mais exemplos de inter- de Operações de Crédito. Além disso,
do Orçamento Anual com
pretação da classificação, consulte o muitos fundem as classificações de fonte
seus quadros anexos. Já
Anexo III "Lendo o Orçamento". de recursos com modalidade de aplica-
para conseguir a Base
ção, tornando-as uma codificação única
Execução Orçamentária,
de dois dígitos. Vale lembrar ainda que,
solicite, na Secretaria da
para diferenciar os orçamentos fiscal, de
Fazenda ou de
investimento e da seguridade social, é
Planejamento, a emissão
costume introduzir-se uma letra para
do demonstrativo para o
identificá-los, respectivamente, por “F”,
período determinado que
“I” e “S” ou mesmo outros códigos.
denominamos de
Relatório de Execução
CONSULTE A LEGISLAÇÃO
Orçamentária por Órgão,
A dotação global denominada "Reserva de Contingência",
Projetos e Atividades
permitida para a União no Art. 91 do Decreto-Lei n.º 200, de 25 de
(RexO). Ele é o Relatório
fevereiro de 1967, ou em atos das demais esferas de Governo, a ser
Resumido de Execução
utilizada como fonte de recursos para abertura de créditos adicionais e
Orçamentária publicado
para o atendimento ao disposto no Art. 5º, inciso III, da Lei Complementar
bimestralmente, com
n.º 101/2000, sob coordenação do órgão responsável pela sua
alterações que
destinação, será identificada nos orçamentos de todas as esferas de
discriminam dotação
Governo pelo código "99.999.9999.xxxx.xxxx", no que se refere às
inicial, despesas
classificações por função e subfunção e estrutura programática, onde o
empenhadas, liquidadas e
"x" representa a codificação da ação e o respectivo detalhamento."
pagas para o período
Portaria no 163/2001, art. 8º
solicitado.
39 40 41
capítulo 3 quadro 5
Administração da ação
educacional
Desenvolvimento
profissional e valorização
do educador
Fonte: ( * ) Títulos de projetos/atividades simulados.Variam de município para município. Normalmente, a classificação funcional-programática é apresentada como uma
seqüência de dígitos sem a distinção dos códigos a que se refere. Pode haver alteração na ordem sequencial dos códigos apresentada nessa simulação ou mesmo a
inclusão de outros. – FUN: Código da Função; SUBF: Código da Subfunção ; PRG: Código do Programa; ID: Código Identificador de Projeto ou Atividade; P/A: Número de Ordem
do Projeto ou da Atividade; F: Código da Fonte de Receita; C: Código da Categoria Econômica de Despesa; GD: Código do Grupo de Despesa; M: Código da Modalidade de
Aplicação; ED: Código do Elemento de Despesa; PARCIAL:Valor autorizado para o elemento de despesa;TOTAL:Valor total autorizado para o projeto/atividade
quadro 6
01 – Legislativa
02 – Judiciária
03 - Essencial à Justiça
04 - Administração
05 - Defesa Nacional
06 - Segurança Pública
07 - Relações Exteriores
08 - Assistência Social
09 - Previdência Social
10 – Saúde
11 - Trabalho
12 - Educação
13 – Cultura
14 - Direitos da Cidadania
15 - Urbanismo
16 – Habitação
17 – Saneamento
18 - Gestão Ambiental
19 - Ciência e Tecnologia
20 - Agricultura
21 - Organização Agrária
22 - Indústria
OBS: As subfunções devem ser discriminadas abaixo das respectivas funções.
Fonte: Relatório Resumido da Execução Orçamentária – Secretaria do Tesouro Nacional/STN
(A) Dotação Inicial – Lei após Vetos: montante de recursos orçamentários alocados na LOA publicada, após os vetos do Prefeito ou Governador, conforme o caso;
(B) Créditos Adicionais: montante de recursos agregados ou reduzidos da LOA, em virtude de créditos adicionais suplementares ou especiais, durante o exercício financeiro;
(C) Dotação Autorizada – Lei mais/menos Créditos: consiste na Dotação Inicial acrescida das variações (para maior ou para menor) ocorridas no montante de recursos alocados na LOA a uma determinada
funcional-programática ao longo do exercício em razão de créditos adicionais;
(D) Despesas Empenhadas: Créditos orçamentários para os quais houve emissão de empenho, estando, assim, comprometidos para a cobertura de despesas com aquisição de bens ou serviços prestados;
(E) Despesas Liqüidadas: Créditos orçamentários prontos para pagamento em razão do reconhecimento por parte da Administração Pública de que o bem/serviço foi entregue ou prestado;
(F) Despesas Pagas: Pagamentos realizados em favor do fornecedor/prestador devido a um bem entregue ou serviço prestado;
(G) Valores Pagos sobre Autorizado(%): Percentual de real comprometimento dos créditos orçamentários autorizados em razão de pagamentos por bens e serviços.
40 41 42
quadro 7
Administração da
ação educacional
Desenvolvimento
profissional
e valorização
do educador
* Títulos de projetos/atividades simulados. Variam de município para município porque não são padronizados.
quadro 8
Número ímpar (1 , 3, 5
ou 7) indica projeto e par 1 dígito:
Número De Dígitos
Assistência Assistência Proteção Atividade É a atividade de Recursos do Despesa Outras Transferências Material
Tradução
quadro 9
41 42 43
capítulo 4
CALCULE
O ORÇA MENTO CRIANÇA e adolescente
FASE DA
SELEÇÃO
FUNCIONAL
Com os dados nas mãos e sabendo fazer a leitura correta da
classificação funcional, você pode partir para o cálculo do
Orçamento Criança e Adolescente. Se você pretende seguir a
recomendação da Metodologia do OCA, que sugere a combinação
da Fase da Seleção Funcional, na qual a apuração começa a partir
da seleção de funções e subfunções do orçamento, e prossegue
com a Seleção Direta, siga as orientações abaixo. Caso você opte
pela Fase da Seleção Direta, analisando cada projeto/atividade,
então vá para o Capítulo 5 "Calcule o Orçamento Criança e
Adolescente – Fase da Seleção Direta".
Uma vez de posse da base de dados escolhida (veja Capítulo 3) e sabendo ler a classifica-
ção funcional-programática, chegou a hora de fazer a apuração do Orçamento
Criança e Adolescente. Você pode seguir os passos da Fase da Seleção Direta, indica-
da para quem possui grande domínio da temática orçamentária e da realidade po-
lítico-administrativa analisada. Se for assim, vá direto para o Capítulo 5.
Caso você deseje realizar a apuração começando pela Fase da Seleção Funcional, siga as
orientações a seguir. Basicamente, nesta fase, você identificará e selecionará as
ações segundo funções e subfunções previamente indicadas pela Metodologia do
OCA. Depois, deverá seguir a Fase da Seleção Direta para chegar ao OCA.
capítulo 4
43 44 45
capítulo 4 ção Orçamentária por Órgão, Projetos e cente/Seleção Funcional" para lançar
Atividades (RexO) (Base Execução Or- os valores obtidos a partir do Quadro
çamentária), você deve, então, identifi- 11. Lembre-se de registrar na coluna
car e selecionar os projetos/atividades (B) o tipo do valor apurado (orçado,
classificados nas funcionais-programáti- empenhado, liqüidado ou pago). Na
cas, como mostra a Planilha Modelo pa- coluna (C) "Composição", proceda ao
ra o Cálculo do Orçamento Criança e cálculo percentual de cada parcela em
Adolescente (Quadro 11). relação às Despesas Totais do Orça-
mento Criança e Adolescente, confor-
Para que o seu trabalho seja produtivo, faça me indicado no box “Como Fazer o
uma cópia do Quadro 11, deixando em Cálculo Proporcional do Orçamento
branco a coluna (E) Funcional Progra- Não Exclusivo”.
mática. Nessa parte, você deve regis-
trar os projetos e as atividades selecio-
nados de modo a criar um arquivo pa- 4.2. CORRELAÇÃO DAS FUNÇÕES E
ra posterior conferência e avaliação. SUBFUNÇÕES
Lembre-se de escrever o título das
ações levantadas, pois eles serão im- Para que a correlação sintetizada no Quadro 10
Como fazer portantes para dar consistência. Visite seja mais bem compreendida, mostra-
o cálculo também o site www.orcamentocrian- mos a seguir as principais considerações
proporcional ca.org.br para obter outros subsídios que orientaram a escolha das funções e
do orçamento para seu levantamento. subfunções para representar as áreas e
não exclusivo subáreas destacadas em cada esfera prio-
Uma vez obtidos os valores, basta somá-los pa- ritária de ação.
SIGA POR AQUI ra encontrar o OCA do seu município
Para o cálculo do ou estado. Nesse sentido, utilize o mo- I – SAÚDE: coberta pelas funções orçamentá-
orçamento não delo da Tabela 1 "Modelo para Totali- rias saúde, saneamento e habitação da
exclusivo pelo número zação do Orçamento Criança e Adoles- seguinte forma:
de crianças de seu
município
(proporcionalidade de PASSOS PARA A FASE DA SELEÇÃO FUNCIONAL
crianças), faça o PASSO 1 PASSO 4
seguinte: Escolha com qual base de dados vai trabalhar Calcule as demais funções indicadas
a. Obtenha as (Base Orçamento Anual ou Base Execução (Saneamento, Habitação, Cultura e Desporto e
informações sobre o Orçamentária) para poder selecionar o Lazer), identificando, no demonstrativo para cada
total da população demonstrativo entre aqueles indicados nas órgão pertinente (Secretaria de Obras ou de
(poptotal) e a colunas (C) ou (D) do Quadro 11. Serviços Urbanos ou ainda de Administração,
quantidade de crianças Secretaria de Cultura e Esporte ou equivalente),
(criançatotal) em seu PASSO 2 os projetos/atividades cuja classificação
município/Estado no Escolha com que tipo de valor vai trabalhar: funcional-programática contenha as
IBGE; valor orçado, valor empenhado, valor funções/subfunções indicadas na coluna (E).
b. Realize o cálculo a liquidado ou valor pago e anote na coluna (G)
seguir: valor apurado do Quadro 11. PASSO 5
do OCA x (criançatotal Faça o cálculo da proporcionalidade pelo número
÷ poptotal) PASSO 3 de crianças no município para as funcionais
Lembre-se que se tiver Identifique, em cada órgão indicadas como “NEx“ na coluna (F) "Tipo de
estatísticas mais (Secretarias de Saúde, de Educação, de Ação OCA", por se tratar de orçamento não exclusivo.
apropriadas do que a Social ou equivalentes), os projetos/atividades
razão populacional cuja classificação funcional-programática PASSO 6
para realizar o cálculo contenha as funções/subfunções indicadas na Lance os valores obtidos na Tabela 1 "Modelo
da proporcionalidade, coluna (E) do Quadro 11 para todas áreas e para Totalização do Orçamento Criança
a mais exata deverá subáreas (coluna (A)), agregando-as e Adolescente/Seleção Funcional" para
ser usada. separadamente. consolidar a apuração do OCA.
44 45 46
capítulo 4 FUNÇÃO 10 – Saúde: em virtude de dade pela população de crianças e ado-
não ser possível identificar precisa- lescentes presentes no total da popula-
mente o que se destina à criança e ao ção do município ou estado.
adolescente por via das subfunções e,
portanto, constituírem benefícios in- FUNÇÃO 16 – Habitação: considera-se
diretos para eles, considera-se o valor somente o valor das subfunções próprias
proporcional da função, envolvendo (códigos 481 e 482) mais a subfunção
tanto as subfunções próprias (códigos cruzada Infra-estrutura Urbana (código
301 a 306), quanto as subfunções cru- 451), caso apareça sob essa função; orça-
zadas (isto é, pertencentes a outras mento não exclusivo sujeito à propor-
funções e vinculadas à Saúde), espe- cionalidade pela população de crianças
cialmente as correlacionadas a Pesqui- e adolescentes presentes no total da po-
sas (códigos 571 a 573) e a Atividades pulação do município ou estado.
Administrativas (códigos 121 a 124,
126, 128 e 131) que estiverem sob es- II – EDUCAÇÃO: coberta pelas funções orça-
sa função. mentárias Educação, Cultura e Desporto
e Lazer da seguinte forma:
FUNÇÃO 17 – Saneamento: considera-
se somente o valor das subfunções pró- FUNÇÃO 12 – Educação: em virtude
prias (códigos 511 e 512), havendo a dessas despesas beneficiarem direta-
possibilidade de inclusão da subfunção mente a criança e o adolescente em
cruzada Infra-estrutura Urbana (código suas diversas fases de crescimento, com
451); para as subáreas Abastecimento de exceção das despesas com Ensino Su-
Água e Coleta de Lixo, indica-se a apu- perior, considera-se o valor total da
ração da subfunção cruzada Serviços Ur- função, envolvendo tanto as subfun-
banos (código 452), registrando-se a ções próprias (códigos 361 a 365); mais
possibilidade delas serem classificadas as subfunções cruzadas Formação de Re-
também nos códigos 551 e 512 ou ain- cursos Humanos (código 128), Assistên-
da sob a funções Administração (código cia à Criança e ao Adolescente (código
04), Urbanismo (código 15) ou Gestão 243), Alimentação e Nutrição (código
Ambiental (código 18) nas subfunções 306), Assistência aos Povos Indígenas
mencionadas; trata-se de orçamento (código 423) e Transportes Especiais
não exclusivo sujeito à proporcionali- (código 785); as despesas correlaciona-
das a Pesquisas (códigos 571 a 573) e a
Atividades Administrativas (códigos 121
Como foi definido o que entra como a 124, 126, 128 e 131), caso apareçam
orçamento não exclusivo sob essa função, são consideradas orça-
mento não exclusivo sujeito à propor-
TEMPO NUBLADO Alfabetização de Adultos. Por sua cionalidade pela população de crianças
A seleção de áreas e ações que vez, para a Seleção Funcional, e adolescentes presentes no total da
devem integrar o Orçamento optou-se por considerar as população do município ou estado.
Criança e Adolescente foi feita a subfunções 126 – Tecnologia da
partir dos documentos Um Mundo Informação e 128 – Formação de FUNÇÃO 13 – Cultura: considera-se so-
para as Crianças e Pacto pela Paz. Recursos Humanos como exclusivas mente o valor da subfunção própria Di-
A partir dessa base, foram definidas somente na área 2 – Educação. De fusão Cultural (código 392); orçamento
quais delas devem ser qualquer modo, vale a regra geral: não exclusivo sujeito à proporcionalida-
consideradas não exclusivas, se você tiver informações para de pela população de crianças e adoles-
visando conferir maior realismo à considerar como parte do centes presentes no total da população
apuração. Nessa perspectiva, foram Orçamento Exclusivo ou Não do município ou estado; possibilidade de
identificadas como ações voltadas Exclusivo, independentemente das classificação das subfunções menciona-
para adultos, a serem consideradas orientações básicas da das como subfunções cruzadas sob a fun-
integralmente, apenas o Combate à Metodologia, vá em frente e ção Assistência Social (código 08) ou de
Mortalidade Materna e a classifique corretamente. classificação das ações em subfunções da
Assistência Social na função Desporto e
45 46 47
capítulo 4
Lazer (códigos 243 e 244) – nesses casos, FUNÇÃO 08 – Assistência Social: à ex-
não se trata de orçamento não exclusivo ceção da subfunção 243 – Assistência à
devido à condição de identificação do Criança e ao Adolescente, consideram-se
objetivo da ação. as demais, por constituírem benefícios
indiretos para as crianças e os adolescen-
FUNÇÃO 13 – Desporto e Lazer: consi- tes, pelo valor proporcional ao número
dera-se somente o valor das subfunções de crianças, envolvendo tanto as sub-
próprias Desporto Comunitário (código funções próprias (códigos 242 a 244); as
812) e Lazer (código 813); orçamento subfunções cruzadas Empregabilidade
não exclusivo sujeito à proporcionalida- (código 333), Fomento ao Trabalho (có-
de pela população de crianças e adoles- digo 334), Ensino Profissional (código
centes presentes no total da população 363), Transferências (código 845) e As-
do município ou estado; possibilidade de sistência aos Povos Indígenas (código
classificação das subfunções menciona- 423), quanto àquelas correlacionadas a
das como subfunções cruzadas sob a fun- Pesquisas (códigos 571 a 573) e a Ativi-
ção Assistência Social (código 08) ou de dades Administrativas (códigos 121 a 124,
classificação das ações em subfunções 126, 128 e 131), caso apareçam sob essa
(códigos 243 e 244) da Assistência Social função; há a possibilidade das ações de
na função Desporto e Lazer – nesses ca- qualificação, capacitação e educação
sos, não se trata de orçamento não ex- profissional, assim como as de geração
clusivo devido à condição de identifica- de renda serem classificadas sob a função
ção do objetivo da ação. Trabalho (código 11) com as subfunções
363, 333 e 334. Já as ações de transfe-
III – ASSISTÊNCIA SOCIAL E DIREITOS DE CI- rência de renda às famílias podem apare-
DADANIA: coberta pelas funções orça- cer, sobretudo nos estados, classificadas
mentárias Assistência Social e Direitos da na função Direitos da Cidadania (código
Cidadania da seguinte forma: 14) com a subfunção 845.
46 47 48
capítulo 4 FUNÇÃO 14 – Direitos da Cidadania: à ações de transferência de renda às famí-
exceção da subfunção 243 Assistência à lias, especialmente nos estados, classifi-
Criança e ao Adolescente, consideram-se cadas nessa função na subfunção cruza-
orçamento não exclusivo, sujeito à pro- da Transferências (código 845) ou Ou-
porcionalidade pela população de crian- tros Encargos Especiais (código 846); de-
ças e adolescentes presentes no total da vem ser excetuadas as despesas correla-
população do município ou estado, to- cionadas a Pesquisas (códigos 571 a
das as subfunções próprias (códigos 421 573) e a Atividades Administrativas (có-
a 423) e outras cruzadas que possam digos 121 a 124, 126, 128 e 131), caso
aparecer, sobretudo aquelas referentes a apareçam sob essa função.
quadro 10
47 48 49
capítulo 4 continuação quadro 10
48 49 50
capítulo 4 continuação quadro 10
49 50 51
capítulo 4 quadro 11
ATUAÇÃO
ÁREAS E
ATUAÇÃO
ÁREAS E
TRATIVAS
ADMINIS-
50 51 52
capítulo 4 cont. quadro 11
27 – Desporto e Lazer
• 812 – Desporto Comunitário QDD RExO OOuuu.27.812.PPPP.i.ppp.ftr.XY.ma.ed NEx
• 813 - Lazer QDD RExO OOuuu.27.813.PPPP.i.ppp.ftr.XY.ma.ed NEx
3. assistência social e direitos da cidadania
08 – Assistência Social
• 243 - Assistência à Criança e ao Adolescente QDD RExO OOuuu.08.243.PPPP.i.ppp.ftr.XY.ma.ed Ex
• 244 - Assistência Comunitária QDD RExO OOuuu.08.244.PPPP.i.ppp.ftr.XY.ma.ed NEx
SUBÁREAS DE ATUAÇÃO
PRINCIPAIS ÁREAS E
ABREVIATURAS DO QUADRO 11
• QDD = Quadro Demonstrativo de proporcionalidade do número i = Identificador de projeto, atividade ou
Despesas de crianças operação especial
• RExO = Relatório de Execução • OOuuu.FF.sss.PPPP.i.ppp. ftr.Xy.ma.ed. = ppp = Número do
Orçamentária por Órgão, Projetos e Códigos da funcional-programática projeto/atividade/operação especial
Atividades, discriminando dotação inicial, OO = Órgão ftr = Fonte de Recursos
dotação para o exercício, despesas uuu = Unidade X = Categoria Econômica da Despesa
empenhada, liquidada e paga FF = Função Y = Grupo de Despesa
• Ex = Orçamento Exclusivo Sss = Subfunção ma = Modalidade de Aplicação
• NEx = Orçamento Não Exclusivo sujeito à PPPP = Programa ed = Elemento de Despesa
51 52 53
capítulo 4 tabela 1
Saúde
Despesas Totais com Saúde, Saneamento e Habitação
• Saúde
• Principais áreas e subáreas de atuação B1 C1
• Pesquisas B2 C2
• Atividades administrativas B3 C3
• Saneamento B4 C4
• Habitação B5 C5
Educação
Despesas Totais com Educação, Cultura, Esporte e Lazer
• Educação
• Principais áreas e subáreas de atuação B6 C6
• Pesquisas B7 C7
• Atividades administrativas B8 C8
• Cultura B9 C9
• Desporto e Lazer B10 C10
52 53 54
capítulo 5
CALCULE
O ORÇA MENTO CRIANÇA e adolescente
FASE DA
SELEÇÃO
DIRETA
Uma vez processada a Fase da Seleção Funcional do Orçamento
Criança e Adolescente, você deve prosseguir tornando
consistentes as informações obtidas a partir da análise direta
dos projetos/atividades selecionados. Caso detenha maior
domínio sobre finanças e políticas públicas, você pode apurar o
OCA diretamente a partir da interpretação dos projetos e
atividades dos orçamentos.
Contudo, a idéia geral do Orçamento Criança e Adolescente é muito simples: agregar os gas-
tos públicos em favor da criança e do adolescente. O OCA é a identificação e o
agrupamento de ações e despesas do orçamento público que permitem identificar,
com clareza e objetividade, a quantidade e a qualidade dos recursos destinados à
proteção e ao desenvolvimento da criança. Portanto, a sua apuração pode ser fei-
capítulo 5
Para tanto, é necessário que o analista seja excelente conhecedor da temática orçamen-
tária e da realidade político-administrativa que estiver em análise. Isso porque,
conforme já se abordou anteriormente, o orçamento público é uma lei de caráter
marcadamente técnico-contábil, que não mostra clara e diretamente a destina-
ção dos recursos por setores sociais nem favorece a leitura das despesas programa-
das sob o ponto de vista da implementação de políticas públicas. Desse modo, pa-
ra se extrair as informações necessárias à apuração do Orçamento Criança e Ado-
lescente sem correlacionar com critérios previamente estabelecidos como a indi-
cação de classificações funcionais-programáticas selecionadas (Fase da Seleção
Funcional), é preciso ser capaz de interpretar o título dos projetos e atividades or-
çamentários e conhecer sua finalidade. Isso é possível de ser feito, sobretudo por
aqueles que lidam diretamente com o orçamento público ou políticas de prote-
ção e promoção da criança e do adolescente.
55 56 57
capítulo 5
56 57 58
capítulo 5 você tem a oportunidade de confirmar (c) Despesas com Habitabilidade: para apurar
de modo sistemático as decisões toma- os gastos públicos com as áreas de atua-
das, além de controlar a qualidade do ção 1.4. Saneamento e 1.5. Habitação, a
levantamento. Fase Funcional prevê, entre outras, a se-
leção das subfunções 451 – Infra-estrutu-
Com o resultado da apuração em mãos, sobretu- ra e 452 – Serviços Urbanos. Nelas, po-
do quando o levantamento já compõe dem ser classificadas diversas obras e ser-
um arquivo com a discriminação dos viços urbanos, que devem ser avaliados
projetos/atividades, reveja a titulação das em detalhe para se verificar a possibili-
ações. A partir desse ponto, verifique: dade de serem considerados benefícios
para a criança e o adolescente. Como
(a) A ocorrência de títulos de ações imprecisos despesas promotoras da habitabilidade,
ou genéricos: discuta e busque informa- também devem ser consideradas as que
ções complementares que auxiliem na concorram para a melhoria da acessibili-
solução da dúvida. dade, prevenção e proteção de áreas de
risco de alagamentos e desabamentos,
(b) Compare os títulos selecionados com as além daquelas destinadas à regularização
áreas e subáreas descritas no Quadro 3: fundiária. Em algumas localidades, por
caso avalie que alguma área/subárea de exemplo, há controvérsia quanto à per-
atuação não tenha sido incluída, procu- tinência de inclusão de gastos com pavi-
re verificar onde possivelmente ela po- mentação e recapeamento asfáltico, que
deria ter sido contemplada ou se real- podem ser aí registrados.
mente não integra o orçamento.
(d) Despesas com Publicidade: essas despesas
Busque também a consistência de correlações podem ser classificadas na subfunção
previstas pela própria Metodologia co- 131 – Comunicação Social. Entretanto,
mo sujeitas a imprecisões: nem sempre isso ocorre pois, muitas ve-
zes, não estão imediatamente visíveis no
(a) Despesas com Informática: podem ser orçamento, tampouco discriminadas por
classificadas na subfunção 126 Tecno- órgão ou função (Saúde e Educação, por
logia da Informação ou outras. Verifi- exemplo). É preciso analisar, sobretudo,
que o verdadeiro projeto/atividade em as despesas de comunicação de utilidade
que foram lançadas e confirme se sua pública (campanhas educativas, publi-
finalidade pode ser realmente conside- cações didáticas etc.), para avaliar o
rada como benefício para a criança e o quanto realmente beneficiam a criança
adolescente. e o adolescente. Despesas de comunica-
ção institucionais, de modo geral, são de
(b) Despesas com Pessoal: a Metodologia prevê natureza promocional.
a inclusão de todas essas despesas, como
foi abordado na Seção 1.4, excluindo as É bem possível que, em diversas situações, não
despesas com o pagamento de inativos haja pleno consenso sobre uma determi-
(aposentados). Em alguns orçamentos, nada escolha quanto à inclusão ou exclu-
parte dessa despesa como pagamento de são de uma determinada ação ou sua clas-
vale-transporte, tíquete refeição e reco- sificação como orçamento exclusivo ou
lhimentos previdenciários pode estar re- não exclusivo. O importante é reunir ar-
gistrada em projetos/atividades específi- gumentos para subsidiar a opção. Registre
cos que não foram inicialmente conside- a sua avaliação no campo do Relatório
rados no Quadro 11. Entretanto, eles de- OCA (veja Quadro 14) e mantenha um
vem ser incluídos na apuração. arquivo das informações levantadas.
57 58 59
capítulo 6
ANALISE
O ORÇA MENTO CRIANÇA e adolescente
Uma vez calculado o Orçamento Criança e Adolescente, você
deve extrair as conclusões mais completas possíveis sobre as
informações que organizou, com o objetivo de utilizá-las a
favor da promoção e proteção da criança e do adolescente em
seu município ou estado.
6.1.TIPOS DE AVALIAÇÃO
Nos capítulos anteriores, você aprendeu a obter a base de dados necessária à apuração do
OCA e a fazer a leitura da classificação funcional-programática, que permite sele-
cionar as ações que devem integrá-lo. Para saber na prática qual a base de dados
necessária, porém, você precisa definir que tipo de avaliação pretende realizar.
De forma geral, entendemos que você e sua comunidade devem refletir sobre a possibi-
lidade de abordar a questão do destino de recursos públicos em atenção à criança
sob três perspectivas gerais, distintas e complementares entre si. Sua comunidade
pode estar interessada somente em:
(a) Levantar o OCA de seu município ou estado. Veja, então, no que chamamos de ava-
liação básica, os principais estudos que podem ser realizados. Feito esse levanta-
mento, você pode pretender:
(b) Comparar o OCA apurado com algum indicador de eficiência, o que chamamos de
avaliação situacional. Ou, ainda:
Antes de realizar qualquer uma dessas formas de avaliação, entretanto, é necessário ve-
rificar se o objetivo pretendido é avaliar o desempenho do orçamento previsto (ba-
se orçamento anual) ou do orçamento realizado (base execução orçamentária). Is-
so é imprescindível para determinar que base de dados precisará ser obtida, con-
forme as orientações do Capítulo 3 "Obtenha a Base de Dados do Orçamento
Criança e Adolescente".
Para sua melhor orientação, apresentamos a seguir os tipos de avaliação (veja Quadro
12), detalhando o objetivo de cada estudo sugerido, assim como a base de dados
necessária, os procedimentos principais para seu encaminhamento e as conclusões
possíveis que cada um deles proporciona.
59 60 61
capítulo 6 6.2. AVALIAÇÃO BÁSICA b. Verificação da participação relativa do
OCA previsto no orçamento total
A avaliação básica considera as informações
apuradas no próprio OCA para proceder OBJETIVO: verificar a proporção de
a comparações. Para avançar nas demais recursos previstos em atenção à criança
análises, é necessário, primeiramente, e ao adolescente em relação ao total de
proceder aos estudos indicados aqui. despesas programadas.
Eles vão oferecer as informações para BASE DE DADOS: QDD
realizar os outros tipos de análises. PROCEDIMENTOS:
a. Pegue o valor total do orçamento.
b. Calcule o OCA a partir do orça-
BASES DE DADOS mento previsto.
• QDD = Quadro Demonstrativo de Despesas c. Divida o resultado do item b pelo
• RExO = Relatório de Execução Orçamentária por do item a e multiplique por cem para
Órgãos, Projetos e Atividades, discriminando dotação encontrar o percentual de participa-
inicial, despesas empenhada, liquidada e paga ção do OCA no orçamento total.
CONCLUSÃO POSSÍVEL: o com-
prometimento das despesas totais públi-
a. Comparação do OCA executado com o cas com as ações em favor da criança.
OCA previsto no ano
c. Verificação da participação relativa do
OBJETIVO: verificar proporção exe- OCA no Orçamento de Seguridade So-
cutada do OCA previsto cial da Lei do Orçamento Anual
BASE DE DADOS: QDD, RExO
PROCEDIMENTOS: OBJETIVO: verificar a proporção de
a. Calcule o OCA a partir do orça- recursos destinados para a atenção à
mento previsto. criança e ao adolescente na parcela do
b. Calcule também o OCA a partir da orçamento destinado especificamente à
execução orçamentária, utilizando seguridade social (assistência social,
dados cumulativos referentes a tri- educação, saúde e previdência social).
mestres (1º trimestre; até 2º trimes- BASE DE DADOS: QDD
tre; até 3º trimestre, até 4º trimestre). PROCEDIMENTOS:
c. Divida o resultado do item b pelo a. Pegue o valor total do orçamento
do item a e multiplique por cem para da seguridade social, identificando
encontrar o percentual executado. este montante no corpo da lei ou no
CONCLUSÃO POSSÍVEL: o per- quadro orçamentário próprio.
centual do OCA executado no período. b. Calcule o OCA a partir do orça-
mento previsto.
c. Divida o resultado do item b pelo
do item a e multiplique por cem para
Avaliando a análise ou analisando a avaliação? encontrar o percentual de participa-
TEMPO BOM comparativos do OCA indicados ção do OCA no orçamento da segu-
As informações da apuração do são avaliações que integram o ridade social.
Orçamento Criança e Adolescente processo de análise da ação CONCLUSÃO POSSÍVEL: o com-
são muito importantes para a governamental a favor da criança prometimento das despesas públicas de
compreensão da situação das e do adolescente. Portanto, no proteção social com ações a favor da
ações governamentais a favor da lugar de reduzir a análise da criança, considerando que nem todo o
criança. Para extrair delas o atuação do Poder Público em OCA poderá ter sido classificado como
melhor, é preciso sempre reunir benefício da criança à avaliação seguridade social.
informações complementares dos gastos públicos com a
sobre a situação político- criança, trabalhe também para d. Verificação da participação relativa das des-
administrativa do ente público. analisar a sua avaliação e extrair pesas com Atividades Administrativas
Lembre-se de que os estudos dela o melhor resultado. e Pesquisas do OCA
60 61 62
capítulo 6 OBJETIVO: verificar a proporção (IPTU), em municípios, ou com o Im-
prevista ou executada de despesas com posto sobre a Circulação de Mercadorias
atividades Administrativas e Pesquisas em e Serviços (ICMS), nos estados ou, ain-
relação ao OCA total, previsto ou exe- da, com o Produto Interno Bruto (PIB),
cutado. entre outras variáveis. Em todos esses es-
BASE DE DADOS: QDD tudos, é preciso considerar as particulari-
PROCEDIMENTOS: dades dos indicadores e as implicações de
a. Calcule o OCA a partir do orça- utilizá-los como meios de comparação, a
mento previsto. fim de chegar a conclusões adequadas a
b. Pegue, na Tabela 1 do OCA apura- partir das informações obtidas.
do, as linhas contendo os valores rela-
tivos a Atividades Administrativas e Neste manual, foram escolhidos dois estudos
Pesquisas e calcule o somatório desse que avaliam a eficiência fiscal das despe-
montante. sas com a atenção à criança e ao adoles-
c. Divida o resultado do item b pelo do cente. O primeiro aborda a relação entre
item a e multiplique por cem para en- o OCA e a receita própria ou recursos
contrar o percentual de participação próprios do município ou estado analisa-
do somatório de Atividades Administra- do. O segundo calcula o gasto público
tivas e Pesquisas no total do OCA. apurado no OCA por criança no municí-
CONCLUSÃO POSSÍVEL: a parti- pio ou estado.
cipação das atividades meio no total do
Orçamento Criança e Adolescente. A receita própria constitui uma classificação ge-
rencial que agrega somente os recursos
6.3. AVALIAÇÃO SITUACIONAL tributários próprios; as taxas; as receitas
de serviços, patrimoniais, agropecuária e
A avaliação situacional compara o valor apura- industrial; e as transferências constitucio-
do do Orçamento Criança e Adolescente nais de que o ente público dispõe. Ela
com variáveis econômico-fiscais. Essa mostra os recursos diretos de que o muni-
comparação permite estabelecer indica- cípio ou o estado dispõe, sem considerar
dores de eficiência das despesas com a operações de crédito e transferências vo-
atenção à criança. Em princípio, há vá- luntárias de outras esferas públicas (veja
rias possibilidades analíticas. Os gastos Quadro 13). Já os recursos próprios refe-
públicos com crianças podem ser compa- rem-se às disponibilidades da receita pró-
rados com outros tipos de gastos públicos pria menos as transferências constitucio-
(por exemplo: gastos administrativos ou nais. Na maioria dos municípios, os re-
serviço da dívida), com o número de fa- cursos próprios são pequenos, e eles de-
mílias pobres existentes, com a receita de pendem, portanto, de transferências. So-
Imposto Predial e Territorial Urbano bra apenas a parcela sobre a qual o ente
possui governabilidade direta de gestão.
Desse modo, comparando o OCA com a
receita própria ou com os recursos pró-
Explore e debata o OCA apurado prios, pode-se avaliar a relação entre o es-
TEMPO BOM das informações obtidas. De posse forço arrecadador e as despesas relativas à
O Orçamento Criança e Adolescente da apuração do OCA, reúna a atenção à criança e ao adolescente. É
que você apurou é o retrato de um comunidade, convide lideranças, possível considerar as diversas fontes em
determinado momento, seja do economistas, assistentes sociais e que a receita é classificada como base de
orçamento, seja da execução sociólogos, e discuta dados para estudo semelhante.
orçamentária de seu município ou sistematicamente para chegar a
estado. Para transformá-lo em uma conclusões mais consistentes. Não Já o cálculo per capita do OCA oferece a opor-
importante ferramenta de promoção esqueça de registrar tais conclusões tunidade de se comparar a evolução da
e defesa das políticas públicas no Relatório do OCA (veja Capítulo 5 renda pública agregada para a melhoria
voltadas à criança, é preciso que do Caderno “Promovendo o Controle das condições de vida das crianças por
você explore o potencial analítico Social”). unidade de público-alvo. As compara-
ções entre Orçamentos Criança e Adoles-
61 62 63
capítulo 6 cente per capita de municípios e estados CONCLUSÃO POSSÍVEL: qual o
distintos devem ser analisadas cuidado- comprometimento da receita própria ou
samente, pois há diferenças político-ad- dos recursos próprios, ou seja, das dispo-
ministrativas sensíveis, para além da rea- nibilidades imediatas com o Orçamento
lidade imediata dos indicadores obtidos. Criança e Adolescente.
a. Comparação do OCA com a receita própria b. OCA per capita no município ou estado
ou recursos próprios analisado
OBJETIVO: verificar a destinação
OBJETIVO: verificar a proporção de média de recursos públicos por criança
recursos destinados ao OCA em relação no município ou Estado.
à capacidade de arrecadação direta do BASE DE DADOS: QDD (base or-
município ou estado. çamento anual) ou RExO (base execu-
BASE DE DADOS: QDD ção orçamentária) e número de crianças
PROCEDIMENTOS: no município ou estado a partir de in-
a. Calcule a receita própria ou os re- formações do Censo do IBGE ou da
cursos próprios previstos, fazendo o Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
somatório das rubricas de receitas in- micílios (PNAD).
dicadas no Quadro 13, a partir de in- PROCEDIMENTOS:
formações obtidas no quadro de recei- a. Levante o número de crianças no
tas do orçamento. município ou estado.
b. Calcule o OCA a partir do orça- b. Calcule o OCA a partir do orça-
mento previsto. mento previsto ou da execução or-
c. Divida o resultado do item b pelo çamentária.
do item a e multiplique por cem para c. Divida o resultado do item b pelo
encontrar o percentual de participa- do item a para encontrar o valor per
ção do OCA no somatório da receita capita do OCA por ano, caso a base
própria ou dos recursos próprios. analisada seja anual.
quadro 12 quadro 13
Alienação de Bens
Adolescente apurados em períodos diferentes.
Amortização de Empréstimos
• Comparação anual dos OCA previstos nas respectivas LOAs.
Transferências de Capital
• Comparação trimestral do OCA nos últimos 12 meses.
Outras Receitas de Capital
( 1 ) No caso de estados, considerar o Fundo de Participação do Estados-FPE.
62 63 64
capítulo 6 CONCLUSÃO POSSÍVEL: o mon- Para promover a atualização, é necessário dispor
tante de recursos públicos empregado de uma tabela com os índices anuais de
para a promoção e a proteção da criança preços, como a Tabela 2 “Planilha com
no período analisado. Índices de Atualização para Preços de
2005”, que traz uma série anual do IPCA.
6.4. AVALIAÇÃO TEMPORAL Os índices devem estar organizados de
forma decrescente, de modo que o ano
A avaliação temporal permite a comparação de para o qual se quer atualizar tenha índice
Orçamentos Criança e Adolescente igual a 1 (um).
apurados em períodos diferentes. Para
processá-la, é preciso colocar todos os Uma vez disponibilizada a tabela, a operação
valores apurados em uma mesma base de atualização é simples. Como mostra a
de preços, ou seja, considerar todos os Tabela 2, basta multiplicar o índice de
valores como realizados em um mesmo atualização para o ano pretendido, na
ano. Esse procedimento é chamado de coluna (B), pelo valor a corrigir, na colu-
deflação ou atualização de preços. Com na (C), e lançar na coluna (D) o valor
isso, a variação de preços (inflação) de- corrigido obtido. Esses valores estarão a
saparecerá, permitindo uma compara- preços constantes ou reais do ano defi-
ção mais realista. nido, no caso, 2005.
63 64 65
capítulo 6 um exercício completo em relação a ou- sobre as informações alcançadas certa-
tros exercícios anteriores da execução de mente representa a etapa mais relevan-
despesas com a criança e o adolescente. te. Para conferir valor ao levantamen-
BASE DE DADOS: RExO para o to feito, capaz de influenciar a formu-
ano em curso e anos anteriores, confor- lação e a implementação de políticas
me o interesse, ou para períodos trimes- públicas voltadas à criança e ao adoles-
trais completos cumulativos (1º trimes- cente, é preciso produzir o Relatório
tre; até 2º trimestre; até 3º trimestre; do OCA, contendo reflexões sustenta-
até 4º trimestre). das, claras e contextualizadas a partir
PROCEDIMENTOS: das informações apuradas.
a. Calcule o OCA executado no ano
em curso e nos anos anteriores, ou O relatório deve ser sintético, apresentando so-
nos períodos trimestrais selecionados, mente as informações relevantes, con-
lembrando que, por exemplo, o 1º forme o modelo sugerido no Quadro 14.
trimestre de um ano deve ser compa- Deve identificar a organização respon-
rado com o 1º trimestre do ano ante- sável por sua elaboração e ser assinado,
rior e, assim, sucessivamente. a fim de lhe conferir caráter oficial. É
b. Use a tabela com o índice de atua- recomendável anexar a Tabela 1, que
lização para o ano em que deseja atua- mostra a totalização do Orçamento
lizar os preços, transformando os pre- Criança e Adolescente apurado.
ços apurados do OCA dos anos ante-
riores, conforme a Tabela 2. Certamente, a parte principal do Relatório do
c. Divida o resultado do valor do ano OCA é a seção parecer. Nesta, você de-
ou período em curso pelo valor do ve ser capaz de registrar as conclusões
ano ou período anterior atualizado; que mostrem os pontos principais obser-
diminua 1 (um) do resultado e multi- vados pela análise, de forma clara e sus-
plique por cem para encontrar o per- tentada, considerando as especificidades
centual de variação do OCA no pe- político-administrativas do município
ríodo analisado. ou estado analisado.
CONCLUSÃO POSSÍVEL: o cresci-
mento real das despesas a favor das Partindo dos valores apurados, algumas indaga-
crianças e dos adolescentes. ções básicas podem ajudar você a estru-
turar sua análise. De modo geral, pode-
6.5. RELATANDO AS CONCLUSÕES mos identificar seis questões fundamen-
tais, que podem ser debatidas junto ao
Levantar os dados e fazer o cálculo do Orça- grupo interessado, para gerar reflexões
mento Criança e Adolescente consti- sobre as avaliações obtidas do Orçamen-
tuem duas etapas desafiadoras. Entre- to Criança e Adolescente:
tanto, a consolidação das conclusões
1. Que dificuldades foram identificadas duran-
TABELA 2
te o levantamento do OCA que podem
PLANILHA COM ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO PARA ter afetado a apuração?
2. Houve ou não crescimento das despesas a fa-
PREÇOS DE 2005 ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO vor da criança? Por quê? Há explicações
CONSUMIDOR AMPLO - IPCA oficiais sobre o crescimento ou decrésci-
mo do OCA?
ANO ÍNDICE DE VALOR A VALOR
(A) ATUALIZAÇÃO CORRIGIR (C) CORRIGIDO 3. O OCA previsto originalmente está sendo
PARA 2003* (B) (D = B x C) executado no ritmo e volume adequa-
2000 1,51012 dos?
2001 1,42499 4. A proporção do OCA em relação ao orça-
2002 1,32344 mento total é adequada? Cresceu ou di-
2003 1,17607 minuiu no período? Por quê?
2004 1,07600 5. O OCA previsto é suficiente para atingir as
2005 1,00000 metas nacionais e internacionais?
64 65 66
capítulo 6
65 66 67
capítulo 6 Muita coisa para ser analisada com atenção
TEMPO NUBLADO Adolescente, do Fundo Nacional,
A apuração do Orçamento Criança e Municipal ou Estadual de Assistência
Adolescente é o primeiro passo para Social, ou mesmo a avaliação da
você compreender melhor como são qualidade das despesas que foram
gastos os recursos com as crianças e consideradas para comprovar as
os adolescentes em seu município ou exigências constitucionais com
estado. Mas há questões importantes gastos com educação e saúde.
a serem consideradas em cada área, Discuta na sua comunidade. Consulte
que vão além do cálculo imediato. pessoas que podem aprofundar a
Como, por exemplo, o análise do orçamento. E não deixe de
desempenho de indicadores buscar, no Caderno “Promovendo o
sociais perante os gastos Controle Social do Orçamento
realizados, o comportamento Criança e Adolescente”, mais
da execução do Fundo subsídios para a ir a fundo na defesa
Nacional, Municipal ou Estadual dos diretos da criança e do
dos Direitos da Criança e do adolescente.
quadro 14
Município/Estado:
Base de Dados Utilizada:
Entidade Responsável:
Valor total
(SOMATÓRIO DE TODAS AS FUNÇÕES/SUBFUNÇÕES LEVANTADAS)
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL:
66 67 68
capítulo 6 quadro 15
67 68 69
de olho no orçamento criança
Iniciativa
Parceria
Apoio
68 69 70
A humanização da informação para
sua utilização na tomada de decisões,
nos processos de aprendizagem
e no empoderamento da população
e da criança é, talvez, um dos
maiores desafios que enfrentam os
países latino-americanos.
UNICEF, 2003
caderno 2
PROMOVEND O
O CON T RO L E S O C I A L D O O R Ç A M E N TO C R I A N Ç A e a d o l e s c e n t e
CAPÍTULO 1
77 POR QUE CALCULAR O ORÇAMENTO CRIANÇA e
adolescente
promovendo o controle social do oca
CAPÍTULO 2
83 POR QUE FAZER CONTROLE SOCIAL DO ORÇAMENTO
CRIANÇA e adolescente
84 2.1. Razões para lutar por um Brasil pelas Crianças
86 2.2. A importância do controle social do Orçamento Criança e
Adolescente
89 2.3. Fortalecendo a rede de controle social do Orçamento Criança e
Adolescente
91 2.4. Atuando junto ao Poder Executivo
95 2.5. Priorizando a defesa do Orçamento Criança com o Poder
Legislativo
CAPÍTULO 3
99 GARANTINDO O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
NO CICLO ORÇAMENTÁRIO
100 3.1 A importância do ciclo orçamentário para o Orçamento Criança
e Adolescente
101 3.2. Como implementar ações a favor da criança e do adolescente
no Plano Plurianual
103 3.3. O que pode ser feito na Lei de Diretrizes Orçamentárias a favor do
Orçamento Criança e Adolescente
106 3.4. Como incluir ações e aumentar despesas a favor do Orçamento
Criança e Adolescente na Lei do Orçamento Anual
109 3.5. Garantindo a execução do Orçamento Criança e Adolescente
CAPÍTULO 4
115 COMO AUMENTAR OS RECURSOS PÚBLICOS para o
orçamento criança e adolescente
116 4.1. Aumentando os recursos para o Orçamento Criança e
Adolescente
118 4.2. Atuando sobre as receitas próprias do município
120 4.3. Atuando sobre as transferências voluntárias
123 4.4. Atuando sobre os recursos federais da educação
126 4.5. Atuando sobre os recursos federais da saúde
128 4.6. Atuando sobre os recursos federais da proteção social
CAPÍTULO 5
133 MONITORANDO E AVALIANDO INFORMAÇÕES do oca
134 5.1. Por que e como monitorar e avaliar
134 5.2. A importância das metas e indicadores
136 5.3. Utilizando os meios de comunicação
71 72 73
para usar
o caderno promovendo o controle social do OCA
7 2 7 3 74
introdução mento das ações governamentais volta-
das à criança e ao adolescente, melho-
pítulo 4 “Como aumentar os recursos
públicos para o Orçamento Criança e
rando a qualidade da alocação dos recur- Adolescente”, mostra quais fontes de
sos no OCA, colocando, assim, as crian- recursos financiam o Orçamento Crian-
ças em primeiro lugar. ça e Adolescente e o que é possível fazer
para incrementá-las. Finalmente, no
Capítulo 5 “Monitorando e avaliando
USANDO ESSE CADERNO informações do Orçamento Criança e
Adolescente”, você tem orientações so-
Esse caderno foi estruturado para apoiar a
bre a importância e as estratégias prin-
ação de controle social de sua comuni-
cipais de uso das informações geradas
dade. No Capítulo 1 “Por que calcular
pelo levantamento do OCA.
o Orçamento Criança e Adolescente”,
você relembra o que é OCA e os ele- Em cada capítulo, você encontrará referências
mentos necessários para calculá-lo. No aos principais atores envolvidos com a te-
Capítulo 2 “Por que fazer controle so- mática apresentada e à legislação básica
cial do Orçamento Criança e Adoles- pertinente (Consulte a Legislação), para
cente”, é apresentada a avaliação sobre ajudá-lo a compreender melhor o tema
a importância do acompanhamento e abordado. Você também irá identificar
monitoramento das ações e despesas sugestões de ações de vigilância social e mo-
públicas destinadas à criança e ao ado- bilização social para diversos aspectos re-
lescente, destacando a relevância do levantes de controle social do OCA. Ao
Poder Legislativo e da articulação da longo do caderno há dicas para facilitar o
rede de organizações que atuam nesse aprendizado (Siga por Aqui), assim como
campo para o alcance dos objetivos. No três níveis de alerta (Tempo Bom, Tempo
Capítulo 3 “Garantindo o Orçamento Nublado e Tempo Ruim) no processo de
Criança e Adolescente no ciclo orça- controle social. Em algumas situações se-
mentário”, você toma conhecimento rá indicada a consulta ao Caderno 1
das ações de controle social que podem “Apurando o Orçamento Criança” e ao
ser empreendidas durante o ciclo orça- site <www.orcamentocrianca.org.br>,
mentário para garantir o OCA. O Ca- que integram o projeto.
7 3 74 7 5
UM MUNDO para as crianÇas
Formulação relevante do documento
“Um Mundo para as Crianças” ou “Convenção
dos Direitos das Crianças”.
CONSULTE A LEGISLAÇão
Texto legal importante para sua ação.
Agentes principais
Agentes sociais relevantes na
implementação de ações em uma
determinada arena de negociação.
vigilância social e
mobilização sociaL
legendas
74 7 5 7 6
capítulo 1
POR QUE
CALCULAR O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
O Orçamento Criança e Adolescente pode tornar-se um importante
instrumento para o avanço da luta de sua comunidade na
promoção dos direitos da criança e do adolescente. Saiba por que
e como calculá-lo.
O Orçamento Criança e Adolescente contém o que você precisa saber sobre o que foi gas-
to ou está previsto para ser gasto com a criança e o adolescente. Ele constitui o re-
sultado da aplicação da Metodologia do Orçamento Criança (Metodologia do
OCA) para seleção, agrupamento e apuração de ações e despesas do orçamento
público e da execução orçamentária, que permite identificar, com clareza e obje-
tividade, o volume de recursos destinados à proteção e ao desenvolvimento da
criança e do adolescente. O orçamento público é uma lei que contém a previsão
de receitas e a programação de despesas do governo para o período de um ano. En-
tretanto, a classificação de ações e suas respectivas despesas apresentam caráter
voltado, sobretudo, para a contabilidade dos gastos públicos. Ela não mostra clara
e diretamente a destinação dos recursos por setores sociais. Com o OCA, conse-
guimos extrair essas informações e, assim, compreendemos melhor como as polí-
ticas públicas para a promoção e proteção da criança e do adolescente estão estru-
turadas e em qual estágio de implementação se encontram.
77 78 79
capítulo 1
mo, por exemplo, promoção da educação você saberá qual é o real esforço do Po-
e da saúde materno-infantil) quanto der Público para beneficiar a causa da
aquelas voltadas para a promoção e me- criança. E, desse modo, você e sua co-
lhoria das condições de vida das famílias. munidade terão argumentos mais con-
O primeiro grupo de ações é chamado de sistentes e ancorados na verdadeira
Orçamento Criança Exclusivo (OCA- atuação das autoridades públicas para
E) e o segundo de Orçamento Criança reivindicar e tratar, junto a elas, a solu-
Não Exclusivo (OCA-NE). Para o cál- ção dos problemas sociais identificados.
culo efetivo desse último, a Metodologia
determina que os valores apurados sejam Assim, o Orçamento Criança e Adolescente:
calculados sobre a parcela de crianças e
adolescentes beneficiários, para se alcan- 1 – Proporciona acesso a informação clara e ob-
çar o benefício aproximado dessas ações. jetiva sobre a situação da criança e do
adolescente; algo fundamental na orga-
nização de sua ações. A apuração do
1.2. POR QUE CALCULAR O OCA oferece dados sobre o que e quan-
ORÇAMENTO CRIANÇA E ADOLESCENTE to é destinado para a área da infância.
Por meio de sua análise, é possível de-
A apuração do Orçamento Criança e Adolescente fender mais e melhor a alocação de re-
é uma poderosa ferramenta para a pro- cursos para o desenvolvimento de crian-
mover e defender os direitos da criança ças e adolescentes.
e do adolescente. Ela consegue pene-
trar na escuridão do orçamento público 2 – Oferece elementos para exigir que as auto-
e trazer à luz a realidade das ações go- ridades do governo respondam publica-
vernamentais em benefício da criança e mente, de forma periódica e transparen-
do adolescente. Com o seu resultado, te, por suas ações, pelas políticas imple-
você e sua comunidade terão à disposi- mentadas e pelo uso dos recursos. Com
ção informações importantes para orga- o resultado do OCA é possível acompa-
nizar ações e avançar em sua luta. Os nhar e avaliar o desempenho dos gover-
gastos públicos são importantes indica- nos em benefício das crianças, exigin-
dores da qualidade da ação governa- do-lhes efetividade em suas ações e
mental. Afinal, a qualidade de vida e cumprimento dos quesitos legais aos
da assistência à criança, assim como a quais estão submetidos. A comunidade
possibilidade de mudança das políticas pode, assim, ir além da simples reivindi-
públicas, passam pela avaliação da dis- cação, exigindo a implementação de
ponibilidade de recursos públicos para políticas sistemáticas e consistentes pa-
as despesas necessárias. Com o OCA, ra a criança e o adolescente.
78 79 80
capítulo 1 3 – Contribui para uma melhor construção da Na etapa de obtenção de dados, você deve de-
inclusão social da população infanto-ju- cidir se deseja apurar o OCA direta-
venil. A partir da análise do OCA, sur- mente da Lei do Orçamento Anual
gem elementos para diagnosticar quem e (LOA) e/ou do relatório da execução
quantas crianças e adolescentes têm sido orçamentária. A apuração a partir da
beneficiadas pelos gastos públicos e de- LOA (Base Orçamento Anual) vai lhe
fender a priorização dos recursos para sua propiciar uma avaliação do que está
proteção e promoção social. A amplia- previsto para a criança e o adolescente.
ção das despesas voltadas para a proteção É possível, por exemplo, comparar o
e promoção da criança, com a respectiva que foi programado em benefício da
ampliação de cobertura/oferta de servi- criança e do adolescente durante os úl-
ços e qualidade da assistência, é priorida- timos anos. Para tanto, é necessário
de do Orçamento Criança e Adolescente. dispor de uma cópia da LOA, especial-
mente do “Quadro de Detalhamento
de Despesas” (QDD) para os anos a se-
1.3. COMO CALCULAR O ORÇAMENTO rem analisados.
CRIANÇA E ADOLESCENTE
A apuração a partir do que foi executado no or-
Para calcular o Orçamento Criança, foi elabora- çamento lhe possibilita conhecer o que
do o Caderno 1 “Apurando o Orçamen- está, de fato, sendo realizado do Orça-
to Criança” com orientações detalhadas mento Criança e Adolescente. Na verda-
para que você e sua comunidade apli- de, o orçamento é apenas uma previsão,
quem a Metodologia do OCA. A apura- uma autorização para realização de gas-
ção exige que você se capacite no tema tos. Assim, muita coisa pode constar de-
orçamento público para identificar e sele- le e não ser executada ou mesmo ser
cionar as ações e despesas que compõem executada parcialmente. É possível, por
o OCA. O auxílio para o levantamento exemplo, apurar o que foi realmente gas-
dessas informações está disponível no si- to com a proteção e promoção da crian-
te <www.orcamentocrianca.org.br>. ça e do adolescente nos últimos seis me-
ses. Nesse caso, você deve obter o rela-
Basicamente, você deverá seguir quatro etapas tório de execução orçamentária (Base
para apurar o OCA: a) obtenção de da- Execução Orçamentária) junto à prefei-
dos; b) seleção funcional de ações e des- tura ou Câmara Municipal, ao governo
pesas; c) seleção direta de ações e despe- do estado ou à Assembléia Legislativa,
sas e d) análise do OCA apurado. referente ao período. O modelo do rela-
tório necessário para essa apuração en-
contra-se no Caderno 1 “Apurando o
Orçamento Criança” e também no site
Qual a base dados para calcular o Orçamento <www.orcamentocrianca.org.br>.
Criança e Adolescente
De posse dos dados que obteve, você deverá
SIGA POR AQUI realmente gasto em um prosseguir na etapa seleção funcional e
A apuração do Orçamento Criança e determinado período (três meses, direta de ações e despesas. Nesta fase, vo-
Adolescente pode ser feita a partir um semestre, um ano etc.). cê identificará as ações e despesas do
dos dados da Lei do Orçamento Para a apuração pela Base OCA e as agregará de acordo com as três
Anual (Base Orçamento Anual) ou a Execução Orçamentária, você pode áreas de ação prioritária (Saúde, Educa-
partir de relatórios de execução utilizar relatórios com valores ção e Assistência Social). O Caderno 1
orçamentária (Base Execução empenhados, valores liquidados ou “Apurando o Orçamento Criança” mos-
Orçamentária). A primeira fornece valores pagos. A Metodologia do tra como você deve proceder para fazer
informações sobre a previsão anual OCA recomenda considerar os esse levantamento a partir da classifica-
de gastos com a criança e o valores liqüidados, pois representam ção funcional-programática do orçamen-
adolescente. A segunda fornece aquilo que já foi realizado, ainda to (cálculo funcional) e, na seqüência,
informações sobre o que foi que não pago. como dar consistência a esse estudo por
meio do chamado cálculo direto.
79 80 81
capítulo 1 Obtendo os dados para o Orçamento Criança e Adolescente
AGENTES PRINCIPAIS
SECRETÁRIO MUNICIPAL DA FAZENDA • É o responsável legal pela emissão dos relatórios contábeis sobre a
movimentação orçamentária e financeira da prefeitura.
• Tem a obrigação legal de responder às solicitações de informações.
PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL • É o dirigente principal do Poder Legislativo, que, além de apreciar e aprovar as
leis orçamentárias, tem o dever constitucional de fiscalizar o Poder Executivo e
zelar para que os cidadãos tenham acesso às informações do Poder Público.
MINISTÉRIO PÚBLICO • Tem competência para exigir judicialmente a disponibilização dos dados, em
caso de recusa de disponibilização pelas autoridades do Poder Executivo.
80 81 82
capítulo 1 Obtendo os dados para o Orçamento Criança e Adolescente
AÇÕES IMPORTANTES DE:
1. Calcular o Orçamento Criança e Adolescente a fim de dispor de informações
VIGILÂNCIA estruturadas para promoção da inclusão social de crianças, adolescentes e suas
SOCIAL famílias, bem como para acompanhamento e avaliação das políticas implementadas a
favor dessas pessoas.
81 82 83
capítulo 2
A luta por um futuro melhor para as crianças e os adolescentes no Brasil não começou
agora. Remonta a décadas de mobilização da sociedade civil brasileira. Muitas
causas sociais foram conquistadas e muitas vêm sendo defendidas e viabilizadas.
Outras tantas precisam, ainda, ganhar corações e mentes para tornarem-se reali-
dade na nossa agenda pública. De qualquer forma, hoje a luta pelo desenvolvi-
mento da criança e do adolescente e pela garantia de seus direitos é realidade
consciente em nosso país, marcada por conquistas relevantes na última década e
sintonizada com compromissos internacionais.
Nessa luta, a sociedade brasileira, por meio de organizações sociais, tem sido a grande
protagonista. Situadas em bairros, localizadas nas cidades, mirando no horizonte
dos desafios do estado e do país, organizações das mais diversas naturezas vêm
atuando em defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, buscando obter in-
formações para suas ações e sobre a situação da criança, lutando para sensibilizar
autoridades, tentando compreender a lógica de funcionamento da administração
pública e do uso dos recursos públicos. Essas organizações lutam para promover o
capítulo 2
controle social das ações públicas capazes de garantir um futuro melhor para todas
as crianças brasileiras.
A luta pela promoção e proteção da criança e do adolescente é a luta pelo verdadeiro fu-
turo do Brasil. Crianças e adolescentes que crescem pobres, tornam-se vulnerá-
veis, com chances mínimas de desfrutarem uma vida saudável e oportunidades
dignas de trabalho e renda na idade adulta. Conforme destaca o documento Um
Mundo para as Crianças, da ONU, ao conferirmos “alta prioridade aos direitos das
crianças, sua sobrevivência, proteção e desenvolvimento, cuidamos dos melhores
interesses de toda a humanidade e asseguramos o bem-estar de todas as crianças
em todas as sociedades”. A implementação de ações prioritárias em benefício da
criança e do adolescente, por sua vez, se desdobra em diversos eixos de ação e es-
tratégias, como assinala o documento Pacto pela Paz.
83 84 85
capítulo 2
84 85 86
capítulo 2 primento dos Objetivos do Milênio até 2.2. A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE
2010, período da primeira avaliação ge- SOCIAL DO ORÇAMENTO CRIANÇA
ral. A tendência histórica indica que, E ADOLESCENTE
até lá, serão despendidos apenas 56%
dos recursos necessários para alcançar as Criar um Brasil para as crianças, baseado no de-
metas, sendo que, no quadriênio 2004/ senvolvimento sustentável e em princí-
2007, o governo federal investirá ape- pios democráticos de igualdade, não-dis-
nas entre 16% e 20% dos recursos ne- criminação, justiça social e universalida-
cessários para alcançar essas metas no de, é uma tarefa complexa e desafiadora.
período. A priorização das políticas vol- Ela exige a atuação intensa e organizada
tadas às crianças e aos adolescentes de- da comunidade, mas, principalmente, de
penderá, então, da articulação e do estí- toda a sociedade, para produzir as mu-
mulo a iniciativas de estados, municí- danças que queremos no âmbito da pró-
pios, sociedade civil e comunidade in- pria sociedade e do governo. Ela exige
ternacional. Além disso, a tendência que consigamos promover o controle so-
histórica dos indicadores mostra que o cial das ações em benefício da criança e
Brasil provavelmente alcançará apenas do adolescente, como forma de consoli-
três das oito metas de Um Mundo para darmos a proteção de direitos e a promo-
as Crianças passíveis de mensuração. ção de políticas públicas que precisamos.
Também continuam a faltar informa-
ções para o monitoramento das metas e Em princípio, a família, como unidade básica da
sobre a destinação de recursos para a sociedade, tem a responsabilidade de
criança e o adolescente. proteger e promover a educação e o de-
senvolvimento das crianças e dos ado-
Portanto, são muitas as razões para lutar por um lescentes. Porém, na vida em sociedade,
Brasil para as crianças. Defender o aces- a família tem direito a receber proteção
so à educação de qualidade para todos, e apoio completos para levar adiante es-
incrementar os recursos públicos para sa tarefa. Esse apoio e proteção devem
ações em benefício da população infan-
to-juvenil, assim como lutar pela efetivi-
dade, publicidade e clareza das políticas
e recursos públicos empregados são algu-
POPULAÇÃO RESIDENTE POR
mas delas. É preciso que nós, organiza-
ções de defesa dos diretos e assistência às GRUPOS DE IDADE – 2005
crianças, conselhos e lideranças, seja-
mos capazes de promover o controle so- FAIXAS NÚMERO DE PESSOAS (%)
cial dessas ações para que consigamos Menos de 1 ano 3.666.884 1,99
construir um outro país para nossas
1 a 4 anos 14.303.865 7,77
crianças, nossos adolescentes e jovens.
5 a 9 anos 16.992.071 9,23
10 a 14 anos 16.463.415 8,94
15 a 17 anos 10.315.317 5,60
SUBTOTAL 61.741.552 33,52
“Os problemas críticos continuam: catastrófica. (...) A infância de 18 a 19 anos 7.041.885 3,82
a cada ano morrem mais de 10 milhões de seres humanos 20 a 24 anos 17.782.204 9,65
milhões de crianças, embora a continua sendo destruída pela SUBTOTAL 24.824.089 13,48
maioria dessas mortes pudesse ser necessidade de trabalhar em 25 a 29 anos 15.735.323 8,54
evitada; 100 milhões de crianças condições de perigo e exploração, 30 a 39 anos 27.623.855 15,00
ainda estão fora da escola, 60 % pela venda e o tráfico de crianças e 40 a 49 anos 23.112.620 12,55
das quais são meninas; 150 adolescentes e por outras formas 50 a 59 anos 14.860.109 8,07
milhões de crianças sofrem de de maus-tratos, descuido,
60 a 69 anos 9.181.801 4,99
desnutrição; e o HIV/AIDS exploração e violência.”
70 anos ou mais 7.104.915 3,86
propaga-se a uma velocidade Um Mundo para as Crianças, p. 18
TOTAL 184.184.264 100,00
Fonte: IBGE Diretoria de Pesquisas. Projeção da População do Brasil.
Revisão de 2004
85 86 87
capítulo 2 DEZ RAZÕES PARA LUTAR POR UM MUNDO PARA AS CRIANÇAS
1. A defesa de uma educação de qualidade é renda familiar per capita é menor que meio
o principal desafio para o desenvolvimento das salário mínimo.
crianças.
O Brasil quase alcançou a universalização da 6. É preciso combater a impunidade da
matrícula no ensino infantil, porém, os exploração sexual comercial infanto- juvenil.
resultados das provas de aproveitamento O enfrentamento da exploração sexual
mostram que quase 20% das crianças chegam comercial infanto-juvenil depende da superação
à 4ª série do Ensino Fundamental sem saber ler da fragmentação de ações e programas, de
e escrever. maneira a permitir o fortalecimento do sistema
de garantia de direitos e, fundamentalmente, o
2. A redução da mortalidade infantil ainda é fim da impunidade dos exploradores.
um grande desafio para alguns grupos da
população brasileira. 7. Os recursos públicos destinados à atenção
Apesar da mortalidade infantil ter caído mais de à criança são insuficientes.
40% entre 1990 e 2002, essa melhoria não foi Para alcançar as metas mensuráveis do Um
a mesma para todas as crianças. Hoje, uma Mundo para as Crianças, ao longo do período de
criança pobre tem o dobro de probabilidade de 2000-2010, a tendência histórica aponta gastos
uma criança rica de morrer antes de completar equivalentes a apenas 56% dos recursos
1 ano. Da mesma forma, uma criança que mora necessários.
no estado de Alagoas tem uma probabilidade
quatro vezes maior de morrer do que uma 8. É preciso incrementar a ação dos conselhos
criança que vive no Rio Grande do Sul. constituídos para defesa dos direitos das
crianças e dos adolescentes.
3. Cada vez mais, as crianças e os adolescentes Os Conselhos de Defesa dos Direitos das
brasileiros são vítimas da violência. Crianças e dos Adolescentes e seus respectivos
Entre 1990 e 2002, a taxa de mortalidade por Fundos são fruto de determinação legal e devem
homicídio de crianças e adolescentes entre 0 e ser criados para permitir a formulação
17 anos de idade quase dobrou. consistente de ações e a destinação inequívoca
de recursos a favor das crianças.
4. É preciso erradicar o trabalho infantil.
Apesar do percentual de crianças trabalhadoras 9. Os preceitos do Estatuto da Criança e do
entre 10 e 15 anos de idade ter caído mais de Adolescente precisam tornar-se um verdadeiro
40% entre 1992 e 2002, ainda existem 13,5% Sistema de Garantia de Direitos.
de crianças nessa faixa etária trabalhando. A violação dos direitos das crianças e dos
A probabilidade de uma criança pobre ser adolescentes ainda é uma constante na forma
explorada no trabalho infantil é quatro vezes de maus-tratos, abandono e tráfico, exigindo
maior do que a de uma criança rica. ações concretas para a instituição de políticas
estáveis e abrangentes de proteção.
5. A superação da desigualdade e da pobreza
constitui condição básica para consolidação de 10. É preciso que a sociedade saiba quais
um futuro para as crianças. são os recursos e as ações a favor da criança e
A manutenção de um padrão de como eles estão sendo conduzidos.
desenvolvimento econômico que exclui os Existe uma grande precariedade na atuação do
benefícios sociais básicos compromete as ações poder público no que se refere à clareza e à
de proteção de direitos das crianças e de suas publicidade de informações que permitam o
famílias. No Brasil, quase 50% das crianças e acompanhamento das políticas públicas e do
dos adolescentes vivem em famílias pobres cuja orçamento a favor da criança.
86 87 88
capítulo 2 vir do Estado constituído, que tem o térios que a orientou e dos resultados
dever de satisfazer as necessidades e que pretendeu atingir.
promover e proteger os direitos dos ci-
dadãos. Para tanto, o Estado, organiza- Nessa perspectiva, é preciso que a sociedade
do em instituições e dirigido por gover- atue decididamente defendendo, deba-
nantes eleitos democraticamente, des- tendo, propondo, questionando e bus-
fruta de competências legais para pro- cando o devido compromisso das auto-
por e aplicar leis, conceber e imple- ridades e a eficácia de suas ações, para
mentar políticas públicas, assim como que as soluções concretas para o desen-
para obter e destinar os recursos neces- volvimento da criança e do adolescente
sários à promoção do desenvolvimento e para a defesa de seus direitos sejam
econômico e social das famílias, de suas produzidas. É essa ação de controle so-
crianças e adolescentes. cial que levará, de fato, à edição de leis
e à implementação de políticas públicas
Durante o último século, o padrão de desen- realmente orientadas democraticamen-
volvimento econômico e social que vi- te por critérios de eficácia e eficiência,
gorou no país não priorizou o desenvol- com o devido envolvimento dos inte-
vimento humano e o Estado constituí- ressados. Na verdade, as comunidades já
do não conseguiu proteger a maioria realizam ações dessa natureza junto às
das famílias brasileiras da exclusão so- autoridades públicas e mesmo à socieda-
cial de suas conquistas básicas. Hoje de para que suas causas sociais se tor-
prevalece um cenário de não universa- nem objetos de leis e políticas públicas,
lização de direitos sociais, que resulta e levem à efetiva superação das carên-
em um quadro de disparidades sociais e cias que as geraram. Promover o contro-
pobreza, materializado, principalmen- le social, especialmente da elaboração e
te, na fragilização do direito e do aces- gestão do OCA, é uma ação estratégica
so aos benefícios das políticas públicas nesse contexto.
de saúde, educação, assistência social,
segurança, meio ambiente, entre ou- O controle social dos recursos públicos
“Comprometemo-nos a tras, e, conseqüentemente, comprome- destinados à criança e ao adolescente
não poupar esforços na tedor do desenvolvimento da criança e constitui um momento especial, pois é
continuação da criação do adolescente. no orçamento público que as prioridades
de um mundo para as de ação e o Poder Público passam a des-
crianças, construído a Alguns governantes têm se mostrado empe- frutar de plena legalidade para sua im-
partir das conquistas da nhados na superação dessa dívida so- plementação. O Poder Público processa
década passada e cial, mas enfrentam problemas políti- uma série de decisões para definir o for-
guiado pelo princípio cos e administrativos para implemen- mato e conteúdo da ação governamen-
das crianças em tar soluções. Têm dificuldades para tal, envolvendo diversos agentes políti-
primeiro lugar. (...) Ao administrar os diversos interesses so- cos e administrativos, mas as políticas
outorgar alta prioridade ciais e colocar como prioridade a pro- públicas e leis se efetivam mesmo com a
aos direitos das teção e a promoção do desenvolvi- disponibilização e gasto de recursos. Por
crianças, sua mento da criança e do adolescente, em isso, consideramos que o controle social
sobrevivência, proteção um cenário onde a questão social ain- do OCA permite a você e sua comuni-
e desenvolvimento, da não ocupa claramente o primeiro dade disporem de mais elementos para:
cuidamos dos melhores lugar da agenda política e administra-
interesses de toda a tiva dos governos. A efetividade de a. Avaliar concretamente o desempe-
humanidade e suas ações, por sua vez, vê-se freqüen- nho das ações a favor da criança e do
asseguramos o temente comprometida por entraves adolescente.
bem-estar de todas as burocráticos e processos decisórios
crianças em todas as pouco sujeitos à transparência e ava- b. Decidir com maior clareza quais as
sociedades.” liação. A alocação de recursos públi- políticas públicas que devem ser priori-
Um Mundo para as cos quase sempre está submetida a pro- zadas a cada período.
Crianças, p. 70 cedimentos e condutas que, em geral,
não permitem a compreensão dos cri- c. Estabelecer uma política de ação es-
87 88 89
capítulo 2 tratégica a favor da criança e do adoles- social buscarão criar oportunidades para
cente, ao invés de apresentar apenas rei- a defesa de direitos das crianças e dos
vindicações pontuais. adolescentes. Na prática, essas iniciati-
vas não estarão separadas, mas sim juntas
d. Exigir eficiência e eficácia do Poder como, por exemplo, quando acontecer
Público na alocação dos recursos públi- uma audiência pública em que o levanta-
cos para o combate à pobreza e a promo- mento e a divulgação de informações ne-
ção do desenvolvimento econômico e cessárias à sua organização será, certa-
social das famílias beneficiárias. mente, uma ação de vigilância e a con-
vocação da comunidade à participação,
O controle social refere-se ao direito de atuação ou seja, mobilização social.
da sua comunidade e de toda a sociedade
civil em um Estado democrático, por
meio da vigilância social e da mobiliza- 2.3. FORTALECENDO A REDE DE
ção social, em defesa e promoção de sua CONTROLE SOCIAL DO ORÇAMENTO
cidadania. Por meio da mobilização so- CRIANÇA E ADOLESCENTE
cial, os indivíduos podem promover
ações para articulação e organização de A eficácia do controle social do OCA depende
pessoas e apoios destinados à otimização da capacidade de articulação das organi-
dos recursos em benefício da criança e do zações que atuam em defesa da criança e
adolescente. Pela vigilância social, é pos- do adolescente na sua região, assim co-
sível desenvolver ações para o levanta- mo do acompanhamento de todos os as-
mento e a difusão de informações neces- pectos que afetam a qualidade de vida e
sárias ao alcance de seus objetivos. No os direitos desta população. A luta por
Orçamento Criança e Adolescente, o con- um Brasil para as crianças terá sucesso se
trole social que você e sua comunidade conseguirmos ir além do enfrentamento
desenvolverão se dirigirá para ações de isolado dos problemas que atingem a in-
vigilância social destinadas ao diagnósti- fância, a adolescência e a juventude,
co e à divulgação dos valores e critérios construindo uma política que otimize a
utilizados para a alocação de recursos pú- utilização dos recursos públicos em seu
blicos, enquanto as ações de mobilização benefício. Temos pela frente um proble-
ma social que só será superado com a
ação integral e articulada dos envolvidos
nesse campo, uma capacidade de ação
Compromissos do Pacto pela Paz que configure um verdadeiro Sistema de
• Garantir a erradicação da cultura, esporte e lazer, de caráter Garantia de Direitos.
violência sexual infanto-juvenil, universal, para crianças e
viabilizando a implantação e adolescentes, que contemple a No Brasil, em sintonia com a Convenção Inter-
implementação do Plano Nacional integração regional e a valorização nacional dos Direitos da Criança, o con-
de Enfrentamento à Violência, da cultura local, garantindo recursos trole social das ações públicas para a in-
Exploração e Abuso Sexual nos financeiros nos orçamentos públicos fância e adolescência está alicerçado no
estados e respectivos municípios. das três esferas de governo. princípio de proteção integral. Desde a
• Garantir a prevenção e erradicação • Reunir forças na universalização década de 1990, com a promulgação do
de qualquer forma de trabalho do atendimento à educação Estatuto da Criança e do Adolescente
infantil, e a proteção do trabalhador infantil baseado nos princípios (ECA) (Lei nº 8.069, de 13 de julho de
adolescente conforme a Lei. de democratização do acesso, 1990), a criança e o adolescente passa-
• Garantir a cidadania das famílias permanência e gestão e ram a ser reconhecidos como indivíduos
por meio de uma política nacional de qualidade social. sujeitos de direitos e em condição pecu-
assistência social, que tenha como • Garantir políticas de saúde pública liar de desenvolvimento que, do ponto
foco o enfrentamento da pobreza, de acesso universal e equânime nos de vista social, merecem o acompanha-
garantindo a proteção integral das aspectos da promoção, prevenção, mento e a proteção durante seu cresci-
famílias, crianças e adolescentes. proteção e recuperação da saúde de mento e formação. Com o ECA, esse
• Assegurar uma política nacional de crianças e adolescentes. papel passa a ser conferido a toda a so-
ciedade e ao Estado constituído, que
88 89 90
capítulo 2 tem o dever de criar e manter políticas Segundo dados do Sistema de Informa-
públicas específicas e básicas para a ga- ções para a Infância e Adolescência (Si-
rantia dos direitos fundamentais da pia) de 2005, existem no país 4.561 Con-
criança e do adolescente. selhos Municipais de Direitos e 4.260
Conselhos Tutelares, para um universo
Como conseqüência dessa doutrina de proteção total de 5.562 municípios. A legislação
integral e especial à criança e ao adoles- exige no mínimo um Conselho Tutelar
cente, foi criado por força de lei um Sis- por município, mas os municípios maio-
tema de Garantia de Direitos, visando à res podem ter mais. O Município de São
proteção propriamente dita, à responsa- Paulo, por exemplo, tem 35 CTs, cada
bilização por ação ou omissão de viola- um responsável por uma região da cidade.
ção dos direitos, à aplicação dos instru- Além disso, constatou-se que, de um mo-
mentos postulados pelo sistema e à inte- do geral, o funcionamento e a estrutura
ração entre os atores do sistema. O siste- desses conselhos e fundos são deficitários.
ma, por sua vez, prevê a atuação articu-
lada de sociedade civil e Poder Público Apesar de estarem no centro do Sistema de
(art. 8º do ECA) para implementação Garantia de Direitos da criança e do
das políticas necessárias, balizadas pelo adolescente, os Conselhos de Direito e
funcionamento dos Conselhos dos Di- os Conselhos Tutelares estão inseridos
reitos da Criança e do Adolescente e em um cenário onde atuam outros con-
Conselhos Tutelares. selhos setoriais, instituições do setor pú-
blico, e organizações não-governamen-
Os Conselhos de Direitos são formados por tais que prestam atendimento ou agem
membros do Poder Público e da socieda- em defesa da infância e adolescência.
de civil. Funcionam nos âmbitos federal, Dentre os conselhos setoriais, destacam-
estadual e municipal e são responsáveis se os Conselhos de Assistência Social,
pela formulação e pelo controle das polí- nas esferas federal, estadual e municipal
ticas de atendimento às crianças e aos pois, atualmente, cumprem papel funda-
adolescentes, bem como pela gestão dos mental na implementação de políticas
Fundos de Direitos das Crianças e dos básicas e especiais. Aos Conselhos de
Adolescentes. Já os Conselhos Tutelares Saúde e ao Fundo de Manutenção do
(CTs), organizados por município, são Ensino Fundamental (Fundef) cabe
responsáveis pelo acolhimento e encami- também função central, uma vez que
nhamento de crianças e adolescentes que acompanham a gestão da principal par-
têm seus direitos ameaçados ou violados. cela dos recursos do OCA.
89 90 91
capítulo 2
90 91 92
capítulo 2 ce seu poder por meio de indivíduos in- maior porte, tendem a ter suas funções
dicados para ocupar posições relevantes desempenhadas pela Secretaria de
no comando e na administração do ór- Obras e pela Secretaria de Administra-
gão (cargos comissionados), com desta- ção nas menores.
que para os que são indicados para diri-
gir os órgãos da municipalidade (secre- A concepção e a execução do Orçamento Crian-
tários, presidentes de empresas, funda- ça e Adolescente envolve praticamente
ções e autarquias). todas essas secretarias. A correlação das
esferas prioritárias de ação do OCA se
Desse modo, o funcionamento da prefeitura se estabelece de forma quase que direta
deve à ação da chamada administração, com a nomenclatura das secretarias. As-
integrada pelo pessoal de carreira e ter- sim, a Secretaria de Saúde responde pe-
ceirizados, e também à ação do governo, lo eixo saúde, a de Educação por educa-
composto pelos indicados pelo prefeito ção e a de Assistência Social e Trabalho
para comporem sua equipe. O desafio de pelo eixo assistência social e direitos de
um bom governo e de uma boa adminis- cidadania. Entretanto, as eventuais
tração reside, então, na qualidade da ar- obras das três esferas encontram-se, em
ticulação entre esses atores. geral, sob a responsabilidade executiva
da Secretaria de Obras, assim como as
De fato, a atuação da administração e do gover- ações de saneamento (água, esgoto, lim-
no se desdobra em diversos órgãos. A peza urbana e habitação) incluídas pela
eficiência da prefeitura vai depender Metodologia do OCA na esfera saúde.
dessa estrutura e de como os órgãos rela- Isso pode significar que as decisões de di-
cionam-se entre si. Em princípio, não é mensionamento e execução de obras em
possível definir um modelo. Cada prefei- diferentes áreas sejam de responsabilida-
tura pode ter a estrutura de órgãos que de da Secretaria de Obras.
desejar, definida em lei aprovada pela
Câmara Municipal. Tradicionalmente, Para o OCA, a Secretaria de Administração e a
as prefeituras estão organizadas em torno Procuradoria desfrutam de importância
de secretarias, mas, em alguns municí- diferente dos demais órgãos. Em vez de
pios de menor porte, o nível mais impor- responderem diretamente pela execu-
tante pode ser o departamento. Além do ção de alguma ação do OCA, elas são
gabinete do prefeito, de modo geral, te- responsáveis pela criação de importan-
mos as Secretarias de Fazenda, Adminis- tes condições para sua implementação,
tração, Obras, Educação (costuma en- sobretudo pela viabilização do processo
Política de globar esporte, turismo e lazer), Saúde, de licitação, que possibilita a escolha do
Assistência Social e Trabalho, e a Pro- fornecedor do bem, serviço em geral ou
atendimento curadoria, que responde pela gestão jurí- do serviço de obra. Compete à Procura-
CONSULTE A dica da prefeitura. Em alguns municí- doria responder pela legalidade das lici-
LEGISLAÇÃO pios, é possível não haver a Secretaria tações e contratações. Se ela não estiver
“A política de de Assistência Social e Trabalho, embo- adequadamente capacitada e devida-
atendimento dos ra as suas funções certamente sejam de- mente sintonizada com as prioridades
direitos da criança e sempenhadas por algum órgão hierar- da prefeitura, é bem possível que ocor-
do adolescente far-se-á quicamente inferior dentro do gabinete ram dificuldades para a operação, em
através de um do prefeito ou das Secretarias de Educa- tempo hábil, dos empreendimentos do
conjunto articulado de ção e Saúde. Além disso, muitos muni- Orçamento Criança e Adolescente sujei-
ações governamentais cípios possuem Secretaria de Planeja- tos a licitação.
e não-governamentais, mento e Secretaria de Governo, o que
da União, dos estados, tende a ser uma vantagem, pois valoriza Já a Secretaria de Administração pode even-
do Distrito Federal e a dimensão do planejamento e da coor- tualmente ser responsável pela gestão dos
dos municípios.” denação para o funcionamento da pre- serviços ambientais e de limpeza urbana
Estatuto da Criança e feitura. Outras secretarias como as de que compõem as ações do OCA. Entre-
do Adolescente, art. 86 Meio Ambiente e Serviços Urbanos, tanto, na maioria das prefeituras, cabe a
que costumam existir em cidades de ela a operacionalização do processo lici-
91 92 93
capítulo 2 Rede de entidades de garantia dos direitos da criança
e do adolescente
AGENTES PRINCIPAIS
CONSELHOS NACIONAL, ESTADUAIS Órgão de gestão dos Fundos Nacional, Estaduais e
E MUNICIPAIS DOS DIREITOS DA CRIANÇA Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e
E DO ADOLESCENTE deliberação da política de atuação em benefício da criança e do
adolescente no âmbito de sua esfera governamental. Definem o Plano de
Aplicação de recursos do fundo e sua prestação de contas.
CONSELHOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Atualmente, são os órgãos responsáveis pela gestão das transferências da
União em benefício da criança e do adolescente, tanto na esfera estadual
quanto municipal. Definem o Plano de Aplicação de recursos do Fundo de
Assistência Social e sua prestação de contas.
MINISTÉRIO PÚBLICO Instituição jurisdicional do Estado, à qual cabe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos direitos/interesses sociais e individuais
indisponíveis por incapacidade ou impossibilidade. Zela pelo fiel
cumprimento das leis. Em relação à criança e ao adolescente, o promotor
público é a autoridade competente para defender e zelar pelos interesses
dessa população, nos termos dos artigos 200 a 205 do ECA.
DEFENSORIA PÚBLICA Instituição para prestação de assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos, e de defesa, em todos os graus, na
forma do art. 5o, LXXIV, da Constituição Federal. De acordo com o art. 4o, da
Lei 80/94, que trata da organização da Defensoria Pública da União, do
Distrito Federal e dos estados, o defensor público tem a função institucional
de exercer a defesa dos interesses e direitos da criança e dos seus
familiares.
FORMADORES DE OPINIÃO PÚBLICA Personalidades da comunidade que podem utilizar sua visibilidade pública
(COMUNICADORES, ARTISTAS, IGREJAS, para atuar em defesa da promoção e proteção da infância e adolescência.
LIDERANÇAS)
92 93 94
capítulo 2
AÇÕES DE CONTROLE SOCIAL DO ORÇAMENTO CRIANÇA E ADOLESCENTE
I. Garantir recursos orçamentários e financeiros nas três verba, para não prejudicar as ações e a continuidade
esferas governamentais, com vistas a fortalecer os dos projetos e programas.
sistemas de saúde, educação e segurança social, para
ampliar o acesso, aos serviços, de crianças e VI. Garantir a urgente necessidade de capacitação da
adolescentes em situação de vulnerabilidade social. sociedade civil em relação ao orçamento público
(federal, estadual e municipal), com vistas a permitir o
II. Estimular a mobilização social e efetivar a controle social e estabelecer mecanismos de
participação dos Conselhos de Educação na monitoramento da utilização dos recursos públicos.
elaboração, aprovação e execução da Lei Orçamentária
do Município, assegurando-se os recursos específicos VII. Propor legislação que destine, para o Fundo
para a educação infantil. Criança, os valores de multas aplicadas a pessoas e
empresas que exploram mão-de-obra infantil.
III. Propor a aprovação de Lei Federal que garanta o
percentual de 5% da Seguridade Social no orçamento VIII. Incluir, obrigatoriamente,nos orçamentos
da União e 5% do orçamento geral dos estados e municipais e distrital, previsão de recursos para
municípios para a política de Assistência Social, manutenção dos conselhos de direitos e tutelares.
garantindo que o repasse de recursos se operacionalize
de fundo a fundo, respeitando a autonomia do município IX.Promover a alteração da legislação vigente sobre o
na definição de políticas e aplicação de recursos. Imposto de Renda, de forma a possibilitar as doações
até o momento das declarações, assim como as
IV. Realizar diagnósticos das demandas sociais para doações de pessoas físicas e jurídicas em qualquer
orientar a formulação e a alocação de recursos para os modelo e em qualquer modalidade.
programas sociais, em conformidade com a realidade e
a especificidade dos municípios e regiões, X. Editar Resolução do Conanda que estabeleça o
instrumentalizando conselhos e gestores para repasse de recursos, fundo a fundo, para Conselhos de
aprovação dos programas da assistência social. Direitos que, comprovadamente, estejam em efetivo
funcionamento.
V. Garantir recursos financeiros para a divulgação e
realização de atividades que venham a erradicar o XI. Envolver os conselheiros de direitos e tutelares,
trabalho infantil e a proteger o adolescente promotores públicos e a sociedade na elaboração e no
trabalhador, ampliando o orçamento de todas as acompanhamento da execução orçamentária de
políticas sociais básicas, nas três esferas de governo, recursos destinados às ações de atendimento dos
com a garantia de que não haja atraso no repasse da direitos da criança e do adolescente.
FONTE: Estratégias e Ações da V Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Brasília, 2003. CONANDA
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capítulo 2 importantíssimas e pode ser tratado co- cretarias de Fazenda, assim como a da
mo patrocinador principal dos interesses Secretaria de Obras. As de Saúde e Edu-
da criança e do adolescente, mas na hie- cação mostram-se sempre detentoras de
rarquia das prefeituras raramente conse- força própria, prontas para liderar o de-
gue ocupar papel relevante. senvolvimento social do município. A
de Assistência, por sua vez, ocupa posi-
Sem dúvida, em toda prefeitura, o gabinete do ção secundária no contexto de prioriza-
prefeito constitui o centro polarizador ção de ações. Caberá a você extrair des-
dos demais órgãos. Porém, os órgãos mu- sa realidade as melhores oportunidades
nicipais detêm poder distinto no anda- para alcançar sua causa social.
mento do fluxo decisório. Normalmente,
a Secretaria da Fazenda aparece como
elemento estruturante desse processo, 2.5. PRIORIZANDO A DEFESA DO
visto que a lógica da disponibilidade de ORÇAMENTO CRIANÇA E
recursos e da capacidade de pagamento ADOLESCENTE COM O PODER
da prefeitura apresenta-se como condição LEGISLATIVO
primeira para qualquer decisão sobre em-
preendimentos. Pela primazia na forma- O sucesso do controle social do OCA em sua
ção de opinião dentro da prefeitura, no comunidade passa pela participação ati-
entanto, concorrem com esta Secretaria, va da Câmara Municipal de sua cidade
a Procuradoria e a Secretaria de Obras. A e, certamente, da Assembléia Legislati-
primeira detém o juízo das condições de va de seu estado e da Câmara dos Depu-
legalidade do que se pretende realizar, tados de modo geral, na rede de agentes
que também desponta como condição para garantia dos direitos da criança e do
fundamental devido às conseqüências adolescente. O Poder Legislativo ocupa
que possíveis irregularidades podem acar- papel central no Estado democrático,
retar para o governo e para a administra- pois a garantia da legitimidade do exer-
ção. Já a segunda ocupa posição relevan- cício do governo está condicionada à
te porque, no Brasil, prevalece a cultura atuação do governante eleito segundo
de que somente obras são realizações go- leis produzidas pelos representantes do
vernamentais válidas, deixando-se em se- povo, reunidos no Parlamento. Ao Le-
gundo plano outras ações promovidas por gislativo cabe aprovar as leis que deve-
outros órgãos finalísticos. Assim, o Secre- rão orientar a atuação do Poder Executi-
tário de Obras tende a deter um poder de vo e, ao mesmo tempo, acompanhar e
influência superior aos demais. Contudo, fiscalizar a ação desses governantes à luz
dependendo das correlações políticas, a do marco legal que ele próprio produziu.
posição do órgão de obras pode, certa- No exercício dessas competências, des-
mente, ser ocupado pelo implementador taca-se seu papel em relação ao orça-
de uma das duas políticas sociais conside- mento público que, sob a democracia,
radas prioritárias hoje no nosso país, em apresenta-se como o programa de traba-
virtude da sua importância político-so- lho do Poder Executivo para o período
cial: a Secretaria de Saúde ou Educação. de um ano. São os parlamentares que
definem as regras para a elaboração des-
Diante desse cenário, você e sua comunidade se programa e, na seqüência, o apreciam
devem procurar o melhor caminho para e o aprovam para execução, assim como
potencializar o OCA em seu município. analisam a prestação de contas das reali-
Como vimos, as prefeituras funcionam zações nele previstas.
de modo complexo. De um lado, admi-
nistração e governo procuram se articu- A atuação do Legislativo na edição de leis, espe-
lar para levar adiante seus objetivos. Do cialmente, das leis orçamentárias – Plano
outro, os diversos órgãos participam do Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orça-
processo decisório em busca igualmente mentárias (LDO), e Lei do Orçamento
da consecução de seus objetivos. Nessa Anual (LOA) – e o exercício do seu po-
perspectiva, é forte a influência das Se- der de fiscalização são bastante comple-
94 95 96
capítulo 2
Atuando junto ao legislativo
AGENTES PRINCIPAIS
PRESIDENTE DA CÂMARA Dirige os trabalhos da Câmara, tendo competência para colocar em
MUNICIPAL apreciação projetos de lei e conduzir negociações para escolha de
presidentes e relatores de comissões, entre outras questões.
PRESIDENTE DA COMISSÃO DE Dirige os trabalhos de apreciação de todas leis orçamentárias e tributárias (PPA, LDO
ORÇAMENTO e LOA), assim como de outros projetos de lei que envolvam despesas.
Comanda o processo de recebimento e validação de emendas ao projeto de lei do
orçamento.
LÍDER DOS PARTIDOS OU BLOCOS Representa os interesses dos partidos na Câmara e responde pelas negociações que
PARTIDÁRIOS antecedem a apreciação das matérias em plenário.
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capítulo 2
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capítulo 2 Fazendo controle social do Orçamento Criança
AÇÕES IMPORTANTES DE:
1. Mapeamento de organizações e lideranças que atuam em defesa da criança e do
VIGILÂNCIA adolescente no município.
SOCIAL 2. Levantamento dos principais indicadores relativos à qualidade de vida e promoção
dos direitos da criança e do adolescente no muncípio.
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capítulo 3
GARANTINDO
O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente NO CICLO ORÇAMENTÁRIO
O principal momento para o controle social do Orçamento
Criança e Adolescente acontece durante o ciclo
orçamentário. Você será informado do que pode ser feito
para garantir recursos e ações a favor da criança e do
adolescente no PPA, na LDO e na Lei do Orçamento.
O ciclo orçamentário constitui o principal espaço político para você e sua comunidade
promoverem o controle social do OCA. O ciclo orçamentário é o conjunto das
três leis orçamentárias previstas na Constituição Federal Brasileira – Lei Anual do
Orçamento (LOA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei do Plano Plu-
rianual (PPA) – que se inter-relacionam ao longo do tempo (daí o nome ciclo),
possibilitando ao Poder Público implementar suas ações. Fazer controle social do
OCA nesse âmbito significa incluir, nas leis orçamentárias, as ações em benefício
da criança e do adolescente e atuar para que elas sejam realmente executadas. Sig-
nifica também obter informações sobre o andamento dessas ações, assunto que
discutiremos com mais detalhes no capítulo 6.
capítulo 3
9 9 100 101
capítulo 3
3.2. COMO IMPLEMENTAR AÇÕES como lei. Uma vez aprovado, é válido até
A FAVOR DA CRIANÇA o final do primeiro ano do governo poste-
E DO ADOLESCENTE NO PLANO rior. Portanto, quando um prefeito inicia
PLURIANUAL o mandato, vigora o PPA aprovado na le-
gislatura anterior e executado em maior
O Plano Plurianual deve compreender as diretri- parte pelo gestor público antecessor.
zes, os objetivos e as metas de investi-
mentos (despesas de capital) e de ações De acordo com a Constituição Federal, o Plano
de duração continuada para quatro anos. Plurianual é o plano de ação do gover-
Ele é elaborado no início de cada nova no. Contudo, até hoje nenhuma lei
administração e enviado à Câmara de complementar estabeleceu como ele de-
Vereadores (ou para a Assembléia Legis- ve ser estruturado nem o que deve con-
lativa, no caso dos estados, ou para a Câ- ter, como deve ser sua relação com a
mara dos Deputados, se for União) até o LDO e a LOA ou de que maneira deve
final de setembro para a sua aprovação ser feita a sua atualização ao longo do
governo. Isso diminui sua força legal, le-
vando muitas prefeituras a elaborar o seu
Documentos que dão diretrizes PPA apenas para cumprir a determina-
ção constitucional. Por isso, em grande
ao Plano Plurianual medida, a atuação da comunidade pelo
CONSULTE A LEGISLAÇÃO para regiões da cidade com Orçamento Criança e Adolescente no PPA
Programa eleitoral de maiores problemas. significa agir para garantir a essa lei o
governo Constituição Estadual papel de ordenar e comprometer efeti-
Base para a definição das diretrizes Pode apresentar diretrizes vamente as ações da prefeitura, pelo me-
gerais do PPA. Deve ser bem complementares para a elaboração nos no âmbito das ações em benefício da
conhecido, para que se possa do PPA. criança e do adolescente.
cobrar coerência com os Lei Orgânica do Município
compromissos de campanha. Pode apresentar diretrizes Nessa perspectiva, você deve estar atento a
Constituição Federal complementares para a elaboração três importantes ações de vigilância so-
Determina que o PPA destaque os do PPA, como obedecer a diretrizes cial: (a) garantir, no PPA, a inclusão de
investimentos e os programas do Plano Diretor, que diz respeito uma grade programas e ações claras e vi-
sociais de ação continuada. ao desenvolvimento urbano e síveis para a criança e o adolescente; (b)
Exige que haja tratamento especial econômico da cidade. garantir a elaboração de um diagnóstico
consistente sobre a situação da criança e
(a) Dispor sobre diretrizes, objetivos e metas para Exigência de definição clara e objetiva de condições que
despesas de capital e outras delas decorrentes e orientam as ações do Orçamento Criança que integrarão
ações de duração continuada (Constituição Federal, o PPA.
Art. 165, § 1º).
(b) Compatibilidade com a Lei do Orçamento Anual Exigência de coerência entre as do Orçamento Criança
(LOA) e Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) prevista no PPA, enquanto plano estratégico, e os outros
(Constituição Federal, Art. 166, §§ 3º, I e 4º). instrumentos legais, que dispõe sobre ações no curto prazo.
(c) Redução das desigualdades regionais. Exigência de tratamento preferencial às áreas e aos
(Constituição Federal, Art. 165, § 7º). segmentos mais desprotegidos envolvidos no OCA.
(d) Dispor sobre todos investimentos com duração Critérios para monitoramento e avaliação de investimentos
superior a um ano (Constituição Federal, Art. 167, § 1º). estruturantes do OCA.
compõe um quadro com os títulos das dos problemas em questão e das possibi-
ações e seus valores correspondentes, lidades de solução, chegando, primeiro, à
chamado de “Quadro de Detalhamento delimitação objetiva do empreendimen-
de Despesa” (QDD). to a ser viabilizado e, em seguida, à esti-
mativa de custos. Para que essa ação pos-
Diante disso, a ação de vigilância de sua comu- sa ser realizada pela prefeitura, ela preci-
nidade no âmbito da Lei do Orçamento sa ser enquadrada em algum projeto/ati-
pode ter dois objetivos: (a) incluir ações vidade do orçamento e dispor, na nature-
de interesse da comunidade; ou (b) au- za de gasto adequada, da dotação de re-
mentar recursos para determinada ação cursos suficientes para sua execução. Ca-
em benefício da criança e do adolescen- be, então, em primeiro lugar, verificar no
te. Para viabilizá-las, você deverá organi- QDD os projetos e atividades existentes,
zar ações de mobilização social. para depois avaliar a existência de algum
que seja compatível.
Certamente, para chegar à necessidade de inclu-
são de uma ação concreta em benefício Preste atenção, porque os orçamentos costu-
das crianças e adolescentes no orçamen- mam dispor tanto de ações com títulos
to (ação de vigilância social 1, você e sua amplos (ex.: “Construção de Escolas”)
comunidade terão passado por um inten- como de ações com títulos mais preci-
so processo de reflexão sobre a natureza sos (ex.: “Construção da Escola da Vila
1. Audiência com o Secretário de Assistência Social para discutir diretrizes para o OCA a serem
incluídas na LDO.
MOBILIZAÇÃO 2. Audiência pública na Câmara Muncipal para discussão do projeto de lei (previsto na Lei
SOCIAL Complementar 101/00, art. 48º, Parágrafo Único).
3. Audiência pública bimestral na Câmara Municipal para avaliação do cumprimento das metas
orçamentárias (previsto na Lei Complementar 101/00, art. 9º, § 4º).
(b) Critérios para contingenciamento financeiro e Caso a receita realizada seja menor do que a prevista,
de dotações, quando a evolução da receita estabelecer proteção absoluta aos programas e às ações
comprometer os resultados orçamentários destinados à criança e ao adolescente, que não sofrerão
pretendidos ou não confirmar sua previsão (art. 4º, I, descontinuidade, continuando a receber os recursos
b e art. 9º, § 2º) necessários.
(c) Regras para avaliar a eficiência das ações Critérios para monitoramento e avaliação do custo-benefício de
desenvolvidas (art. 4º, I, e) programas e ações do Orçamento Criança.
(d) Condições para transferência de recursos a Critérios para o convênio de instituições privadas que recebem
entidades públicas e privadas (art. 4º, I, f, art. 26 e recursos públicos para realizar ações de proteção e promoção
art. 62, I) da criança e do adolescente.
(e) Condições complementares para transferências Critérios a ser incluídos na LDO, seja da União ou do estado,
voluntárias entre União e demais entes (art. 25, § 1º) para transferências de recursos para ações específicas nos
municípios.
com o recebimento dos bens ou a medi- Naturalmente, ao longo do ano é possível rever
ção dos serviços (liqüidação) e, final- prioridades ou tomar decisões comple-
mente, os pagamentos correspondentes mentares para se proceder à liberação de
(pagamento). Para mais detalhes, con- determinadas dotações. Contudo, mui-
sulte o Capítulo 2 do Caderno “Apuran- tas vezes o agente responsável pelo pro-
do o Orçamento Criança” cesso orçamentário alega dificuldades
técnicas ou legais como um estratagema
Como as etapas são seqüenciais, as ações de para adiar ações que foram incluídas no
controle social devem se concentrar ini- orçamento com o intuito de administrar
cialmente no provisionamento de recur- tensões políticas.
sos. Se não houver liberação dos recur-
sos pelo agente público responsável pelo Após o provisionamento, temos a necessidade
orçamento da prefeitura (normalmente, do controle social da licitação. O pro-
o Secretário da Fazenda), a ação obvia- cesso de licitação visa propiciar a esco-
SECRETÁRIO DA FAZENDA • É responsável pela definição das receitas que constarão do orçamento.
• Define o quanto deverá ser pago de dívida.
• Em algumas prefeituras, é ele quem elabora o orçamento, desempenhando o papel do Secretário de
Planejamento em municípios de menor porte.
SECRETÁRIO DE OBRAS • Em geral, é o responsável pela elaboração do Plano de Obras, que deverá constar do orçamento.
• Dependendo da prefeitura, pode deter nessa questão maiores poderes do que o Secretário de Planejamento.
RELATOR DA COMISSÃO DE • Desempenha papel fundamental, pois dá parecer a todas as emendas feitas na LOA.
ORÇAMENTO DA CÂMARA MUNICIPAL
GRUPOS DE INTERESSE • Atuam diretamente nesse momento, buscando incluir suas demandas no orçamento por meio de emendas.
PROCURADOR JURÍDICO • Formula os pareceres jurídicos necessários ao andamento dos processos licitatórios
• Defende a prefeitura quando há ações judiciais contra processos licitatórios.
SECRETÁRIO DE OBRAS • Tem a responsabilidade legal para realizar a medição de obras em execução para fins
de pagamento.
• É responsável pelo encaminhamento da elaboração de projetos necessários à
contratação das obras.
GRUPOS DE INTERESSE • Atuam diretamente nesse momento, buscando garantir a execução das ações que lhes
interessam do orçamento.
lha da proposta mais vantajosa e propor- Um fator que pode afetar sensivelmente a execu-
cionar a competitividade e transparên- ção orçamentária é a possibilidade do uso
cia na referida escolha. Ela se reveste de indiscriminado do mecanismo de suple-
importância central na execução orça- mentação do orçamento. A suplementa-
mentária, pois, após a homologação e ção refere-se ao pedido de créditos adi-
adjudicação do vencedor, acontece o cionais para cobrir despesas não compu-
empenho dos créditos orçamentários. O tadas (créditos especiais) ou insuficiente-
ato do empenho implica em estabelecer mente dotadas (créditos suplementares)
nominalmente a pessoa física ou jurídica na lei do orçamento ou ainda em caso da
que fornecerá o bem ou prestará o servi- necessidade de realização de despesas
ço demandado pela administração pú- emergenciais (créditos extraordinários).
blica, detalhando-se quantitativamente O pedido de créditos adicionais suple-
o volume e o valor. Nessa perspectiva, é mentares, que é o mais comum, pode ser
fundamental que esse processo seja feito e concedido no próprio projeto de
orientado por princípios de economici- lei orçamentária, quando este for apre-
dade, efetividade e legalidade, para que sentado para a apreciação do Legislativo,
o seu resultado signifique, de fato, o me- ou pode ser encaminhado ao longo do
lhor uso dos recursos públicos. ano, à medida que for necessário.
Em prefeituras de pequeno porte, há uma prá- quatro meses do ano, o que modifica o
tica perversa de se incluir margens de sentido original do orçamento.
suplementação muito altas na Lei do
Orçamento. Essas margens chegam a Desse modo, você e sua comunidade devem
ultrapassar o percentual de 30%. Isso considerar as seguintes ações de vigilân-
cria a possibilidade de alterar os com- cia social: (1) acompanhamento da exe-
promissos pactuados no orçamento cução das ações prioritárias desde o pro-
nessa proporção durante a sua execu- visionamento orçamentário, passando
ção, o que acaba por resultar na desfi- pela realização da licitação e emissão das
guração da proposta originalmente ordens de serviço para implementação
aprovada. Ora, se considerarmos o pe- da ação monitorada, quando for o caso;
so relativo individual de cada mês, ca- (2) acompanhamento da suplementação
so fôssemos executar o orçamento dis- orçamentária; e (3) levantamento do
tribuído igualmente em 12 cotas, ve- OCA no período para apuração do que
ríamos que cada mês do ano correspon- já foi executado.
de a 8,7% de todo o orçamento previs-
to. Sendo assim, uma margem de suple- Para a primeira ação, acompanhamento da
mentação, por exemplo de 30%, refe- execução das ações prioritárias (ação de
re-se a mudar a programação de quase vigilância social 1), é necessário, inicial-
mente, que você tome conhecimento,
junto à secretaria executora da prefeitu-
Documentos que dão diretrizes ra, de como será viabilizada a ação mo-
à execução orçamentária nitorada. Tanto para a viabilização de
serviços quanto de obras, é possível que
CONSULTE A LEGISLAÇÃO tramitação de emendas. a prefeitura execute diretamente, adqui-
Lei 4.320/64 Constituição Federal rindo bens ou contratando serviços ape-
Define toda a estrutura da lei Define princípios gerais que devem nas parcialmente, ou, então, que ela de-
orçamentária, assim como as orientar a estruturação da lei cida terceirizar todos os serviços neces-
classificações de receita e orçamentária. sários. Dispondo dessa informação e sa-
despesa. Lei de Diretrizes Orçamentárias bendo em qual projeto/atividade orça-
Regimento Interno da Câmara Define critérios para elaboração mentária serão executados os gastos pro-
Municipal da LOA , diretrizes e metas gramados, deve ser solicitado a essa mes-
Estabelece os critérios para definição de seu programa ma secretaria o comprovante do provi-
e prazos para apreciação e de trabalho. sionamento dos créditos orçamentários,
que em algumas prefeituras é conhecido
COMO AUMENTAR
OS RECURSOS PÚBLICOS PAR A O ORÇAMENTO CRIANÇA e adolescente
Os recursos para o Orçamento Criança e Adolescente são
originários principalmente de tributos arrecadados pelos municípios
e de transferências do Governo Federal.Conheça essas fontes de
recursos e veja como é possível incrementá-los.
Entre os recursos totais de que a prefeitura dispõe, que chamamos de receita própria, há
a parcela composta pelos tributos que ela cobra diretamente e outra proveniente
de transferências constitucionais da União e do estado. Os recursos da prefeitura
obtidos pela venda de bens que ela possui (carros, máquinas e equipamentos, ter-
renos, edifícios, ações etc.) também compõem a receita própria, mas não são re-
ceitas permanentes devido à sua própria natureza e só podem ser destinadas à rea-
capítulo 4
ser consideradas receita própria do mu- cípio ou entre estado e município. Não
nicípio, pois são repassadas permanen- devem ser consideradas como receita
te e automaticamente. Nesse caso, en- própria, porque seu repasse é descontí-
quadram-se os recursos que chegam aos nuo e sujeito a demandas específicas.
municípios por meio do Fundo de Par- Elas podem ser destinadas à promoção
ticipação dos Municípios (FPM), repas- de ações em qualquer área social ou eco-
se de parcela de diversos impostos co- nômica (desenvolvimento econômico,
brados pela União ou pelos estados, co- educação, turismo, assistência social
mo o Imposto Territorial Rural (ITR) e etc.). Para serem autorizadas, estão su-
o Imposto sobre Circulação de Merca- jeitas à formulação de um projeto básico
dorias e Serviços (ICMS) (veja quadro e a diversas exigências legais de presta-
seguir) e transferências para promoção ção de contas, as quais ocorrem antes,
da educação (Fundo de Desenvolvi- durante e depois do recebimento dos re-
mento da Educação e Valorização do cursos. O não enquadramento em tais
Magistério – Fundef), saúde (Sistema exigências pode implicar na interrupção
Único de Saúde – SUS) e assistência da transferência.
social (Fundo Nacional de Assistência
Social – FNAS). Como dissemos, parte dos recursos da prefei-
tura integra um caixa único e outra
Entre as transferências constitucionais, desta- constitui recurso vinculado. A destina-
ca-se o repasse pelo estado de 25% do ção dos recursos do caixa único se defi-
ICMS para os municípios. De acordo ne pela disputa política que se estabe-
com a Constituição Federal, 75% desse lece internamente na administração
recurso deve ser distribuído consideran- municipal, principalmente durante o
do a movimentação comercial (valor processo de elaboração do orçamento.
agregado fiscal) medida todos os anos Já os recursos vinculados têm sua desti-
em cada município. Os 25% restantes nação legalmente predefinida seja por
devem seguir critérios estabelecidos em força de lei ou convênio e não estão
lei estadual, envolvendo o cumprimento sujeitos à disputa alocativa. Muitas ve-
de quesitos nas diversas áreas sociais – zes, envolvem a existência de contra-
que podem ser metas de escolaridade, partida por parte da prefeitura, que po-
proteção ambiental, participação da re- de levá-los a sofrer alguma influência
ceita própria do município em relação a daquela disputa, uma vez que tais re-
sua receita total etc. cursos devem vir das disponibilidades
do caixa único. Na verdade, há pelo
As transferências voluntárias que chegam aos menos quatro tipos de recursos vincu-
municípios são fruto de convênios, ter- lados, classificados a partir da sua base
mos de cooperação entre União e muni- legal ou da sua finalidade:
• O restante dos recursos (correspondente a 40% do •PRESTAÇÃO DE CONTAS: Obrigação do Poder Executivo
FUNDEF) deverá ser utilizado na cobertura das demais estadual ou municipal de disponibilizar ao Conselho
despesas previstas no art. 70 da Lei nº 9.394/96, Lei do FUNDEF todos os dados e informações sobre os
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), recursos recebidos e sua utilização, mensalmente.
que permite: O Banco do Brasil fornece extrato bancário da conta
do FUNDEF aos membros do Conselho, deputados,
•(a) “remuneração e aperfeiçoamento de demais vereadores, Ministério Público e Tribunais de Contas
profissionais da Educação”, (b) “aquisição, (LIC nº 3.14.7.1.3), diretamente com o gerente da
manutenção, construção e conservação de instalações agência do Banco do Brasil onde é mantida a conta,
e equipamentos necessários ao ensino”, (c) “uso e com documento de identificação que comprove
manutenção de bens vinculados ao ensino”, (d) a condição de representante com acesso à conta.
“levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas Na internet, também estão disponíveis os dados
visando o aprimoramento da qualidade e a expansão sobre os valores repassados, nos links localizados
do ensino”, (e) “realização de atividades-meio no item Recursos.
• Nos âmbitos municipal e estadual, cada Fundo deve • CONTROLE SOCIAL: Anualmente, os gastos previstos
ser criado, através de projeto de lei de iniciativa do do Fundo devem constar do orçamento, de acordo
Poder Executivo, e será gerenciado, nos termos da com Plano de Aplicação aprovado pelo Conselho.
lei, pelo Conselho dos Direitos da Criança e do • PRESTAÇÃO DE CONTAS: Sujeito à prestação de
Adolescente, também a ser criado por lei. contas nos termos da legislação.
DEPUTADOS FEDERAIS • Desempenham papel fundamental, pois eles são os elos com as Comissões
Temáticas do Congresso e os responsáveis pela apresentação de emendas no
orçamento da União a favor do OCA no município.
CONSELHOS MUNICIPAIS DE • Desempenham papel estratégico por meio da aprovação dos planos municipais da
SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL área e dos relatórios de gestão
GRUPOS DE INTERESSE • Atuam pela viabilização de projetos junto a ministérios ou pela inclusão de
emendas no Orçamento Geral da União (OGU).
MONITORANDO
E AVA L I A N D O INFORMAÇÕES do oca
Monitorar, avaliar e divulgar são ações de controle social
imprescindíveis à promoção do Orçamento Criança e
Adolescente. Aqui você verá como potencializar as informações
apuradas com o OCA.
Monitorar e avaliar são etapas de vigilância social que caminham de mãos dadas. O
monitoramento refere-se ao acompanhamento de todo o processo de execução
das ações governamentais, no qual a comunidade busca informações para a
identificação e a correção de problemas, buscando atuar junto ao Poder Públi-
co para promover decisões. Já a avaliação diz respeito ao processo de levanta-
mento e análise sistemática de informações sobre características, processos e
impactos das soluções implementadas pelo Poder Público, levando em conta
critérios de eficiência, eficácia e efetividade.
Quando a comunidade avalia, ela busca colher subsídios para negociar com as autorida-
des públicas as mudanças necessárias ao aperfeiçoamento da gestão de recursos hu-
manos, financeiros e materiais e da qualidade do gasto público na execução das
capítulo 5
das ações implementadas, ou seja, a sua Além disso, a avaliação de resultados demanda
capacidade de alterar a realidade. a construção de um sistema de valores
baseado em opiniões, registros, dados ob-
A conceituação de metas exige a precisa delimi- jetivos, critérios de comparação qualita-
tação da ação pretendida por parte do tivos e quantitativos etc., sustentado por
Poder Público. No processo de constru- um sistema de informações eficaz nos re-
ção da iniciativa, é necessário estabele- gistros e eficiente na possibilidade de
cer uma etapa de reflexão sistemática so- cruzamentos. De fato, a avaliação consti-
bre a disponibilidade de recursos e as tui um processo gerencial, mas também
possibilidades de alcance de objetivos. político-institucional, orientado para a
Portanto, a conceituação não prospera determinação do grau de alcance quanti-
sem o enfrentamento de culturas geren- tativo e qualitativo das metas. Exige, as-
ciais caracterizadas pelo improviso e pe- sim, a maturação do entendimento em
la falta de programação. Nessas condi- torno dos princípios que a estrutura e da
ções, a inexistência de planejamento forma como se organiza e se desenvolve,
prévio acaba por redundar na falta de di- sob pena de não ser validada pelos em-
mensionamento antecipado de objeti- preendedores e, conseqüentemente, não
vos e na confusão entre os objetivos- cumprir sua finalidade de servir à reo-
meio, que viabilizam a consecução do rientação de futuras ações.
resultado final, e do objetivo-fim.
SAIBA O QUE É
Efetividade é a medida do grau de cumprimento
dos objetivos que orientaram a
“Acompanharemos regularmente no levar a disparidades e apoiar
implementação de uma ação, promovendo
nível nacional e, quando uma ampla gama de pesquisa
alterações nos indicadores de resultados.
apropriado, no nível regional e centradas nas crianças.
avaliaremos os objetivos e metas Fortaleceremos a cooperação Eficácia refere-se ao grau de alcance das metas
constantes do Plano de Ação nos internacional para apoiar os fixadas para um determinado projeto, atividade
níveis nacional, regional e global. esforços de formação de uma ou programa em relação àquilo que foi
Dessa forma fortaleceremos nossa capacidade estatística e formar previsto.
capacidade estatística para coletar, uma capacidade comunitária para Eficiência é a análise do uso dos recursos na
analisar e desagregar dados, por acompanhamento, avaliação e realização da meta para um projeto, uma
exemplo, por sexo, idade e outros planejamento.” atividade ou um programa segundo padrões
fatores pertinentes que possam Um Mundo para as Crianças, p. 68 estabelecidos.
MEIOS DE COMUNICAÇÃO • Precisam ser sensibilizados para divulgar os resultados do Orçamento Criança e
Adolescente.
• Interessam-se somente por assuntos atuais e que tenham repercussão.
CARTAS AO JORNAL
Em geral, cartas são respostas dirigidas à
direção de um jornal referentes a editoriais
negativos ou reportagens inadequadas. Para
que a carta seja publicada, é preciso que ela
atenda aos padrões de tamanho de texto
estipulados pelo jornal. O principal, porém, é
que ela seja suficientemente informativa e
concisa, e que dirija-se ao seu público-alvo,
ESFERAS
PRIORITÁRIAS METAS
DE AÇÃO
1. PROMOVENDO META A: reduzir em, no mínimo, um terço a taxa de mortalidade infantil de crianças menores de 5 anos, como
VIDAS SAUDÁVEIS primeiro passo até atingir dois terços em 2015.
META A para a iniqüidade: reduzir em, no mínimo, um terço a taxa de mortalidade infantil e de crianças menores
de 5 anos entre os grupos extremos de situação do domicílio, de renda, raça/cor e anos de estudo da mãe.
META B: reduzir em, no mínimo, um terço a taxa de mortalidade materna como primeiro passo até reduzir em
três quartos em 2015.
META B para a iniqüidade: reduzir em, no mínimo, um terço a iniqüidade no percentual de nascidos vivos de
mães com menos de sete consultas do pré-natal entre grupos extremos de situação do domicílio, de renda,
raça/cor e anos de estudo da mãe.
META C: reduzir em, no mínimo, um terço a desnutrição de crianças menores de 5 anos, com especial atenção
às crianças menores de 2 anos; e reduzir em, no mínimo, um terço a taxa atual de baixo peso ao nascer.
META C para a iniqüidade: reduzir em, no mínimo, um terço a iniqüidade no percentual de crianças com
baixo peso ao nascer entre os grupos extremos de situação do domicílio, de renda, raça/cor e anos de es-
tudo da mãe.
META D: reduzir em, no mínimo, um terço o número de lares que não possuem acesso a saneamento e água
potável a preços acessíveis.
META D para a iniqüidade: reduzir em, no mínimo, um terço a iniqüidade no percentual da população sem aces-
so à esgoto sanitário adequado entre os grupos extremos de situação do domicílio, de renda, raça/cor e anos
de estudo da mãe.
META F: elaborar e implementar políticas e programas nacionais de saúde para adolescentes, incluindo metas
e indicadores para promover a saúde física e mental.
META G: dar acesso o quanto antes, e não posterior a 2015, a serviços de saúde reprodutiva a todas as pessoas
em idade apropriada, por meio dos sistemas de atenção primária à saúde.
E COMBATENDO O META A: até 2003, estabelecer metas nacionais com um calendário preciso para alcançar o objetivo mundial
HIV/AIDS de reduzir a prevalência do HIV entre homens e mulheres jovens com idade entre 15 e 24 anos em 25% até
2005, nos países mais afetados, e em 25% até 2010, em todo o mundo.
2. ACESSO À META A: ampliar e melhorar o cuidado e a educação integral na primeira infância, para meninos e meninas, es-
EDUCAÇÃO DE pecialmente para os mais vulneráveis e desfavorecidos.
QUALIDADE META B: reduzir em 50% o número de crianças em idade escolar que não estão matriculadas e aumentar, pe-
lo menos 90%, a taxa líquida da matrícula no Ensino Fundamental ou da participação em programas não
tradicionais de educação primária de boa qualidade até 2010.
META B para a iniqüidade: reduzir em 50% a iniqüidade no percentual de crianças de 7 a 14 anos que estão
fora da escola entre grupos extremos de situação do domicílio, de renda, raça/cor e anos de estudo da mãe.
META C: eliminar as disparidades entre os sexos no Ensino Fundamental e no Ensino Médio até 2005 e alcançar
a igualdade entre os gêneros na educação até 2015, dando atenção especial para que as meninas, em igual-
dade de condições, tenham pleno acesso a uma educação básica de boa qualidade e possam aproveitá-la
plenamente.
META D: melhorar todos os aspectos da qualidade da educação para que as crianças e os adolescentes
adquiram conhecimentos mensuráveis e comprováveis, especialmente no aprendizado da matemática, da
leitura e da escrita, e adquiram conhecimentos que os preparem para vida.
META F: atingir até 2015, no mais tardar, um aumento de 50% nos índices de alfabetização de adultos, espe-
cialmente no que diz respeito às mulheres.
3. PROTEÇÃO META A: proteger as crianças de todas as formas de maus-tratos, abandono, exploração e violência e melhorar
CONTRA OS MAUS o cuidado e a educação integral na primeira infância.
TRATOS, A META C: proteger as crianças de todas as formas de exploração sexual, inclusive da pedofilia; do tráfico e do
EXPLORAÇÃO E A seqüestro.
VIOLÊNCIA
META D: tomar medidas imediatas e efetivas para eliminar as piores formas de trabalho infantil, como definido
na Convenção nº 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e desenvolver e implementar estraté-
gias para eliminar o trabalho infantil que seja contrário às normas internacionais aceitáveis.
META E: melhorar a situação de milhões de crianças que vivem em condições especialmente difíceis.
OLIVEIRA, J. C.; TACCA, L.; SILVA, P. F. UNICEF. Orçamento público: decifrando a lin-
Aspectos relevantes do orçamento da guagem. Brasília: Fundação João Pinhei-
União. In: Transformação produtiva ro; UNICEF, 1998. (Coleção Orçamen-
com eqüidade: o debate no Brasil; con- to Público: Construindo a cidadania).
dicionantes macroeconômicos. Brasília:
IPEA/CEPAL, 1995. UNICEF. Orçamento público: entendendo tu-
do. Brasília: Fundação João Pinheiro;
PIOLA, S.; PEREIRA, R. Gasto social federal e UNICEF, 1998. (Coleção Orçamento
gasto com jovens de 15 a 24 anos. In: Público: Construindo a cidadania).
Comissão Nacional de População e De-
senvolvimento. Jovens acontecendo na UNICEF. Orçamento público: viabilizando uma
trilha das políticas públicas. Brasília: proposta. Brasília: Fundação João Pinhei-
CNPD, 1998. v. 2. ro; UNICEF, 1998.( Coleção Orçamento
Público: Construindo a cidadania).
PIOLA, S.; et al. Gasto social federal e in-
vestimento na infância. Brasília: UNICEF. Um mundo para as crianças: relatório
UNICEF, 1995. da sessão especial da Assembléia Geral
das Nações Unidas sobre a criança. As
PIOLA, S.; et al. Orçamento da criança: meto- metas das Nações Unidas para o milênio.
dologia, situação atual e perspectivas pa- Nova Iorque: Nações Unidas, 2002.
ra 1996. Brasília: UNICEF, 1996.
UNICEF; CEPAL; SECIB. Bases para poner en
REDE DE MONITORAMENTO AMIGA ejecución la agenda de metas del plan de
DA CRIANÇA. Um Brasil para as acción Iberoamericano: las necesidades
crianças: a sociedade brasileira e os ob- de la inversión en la infancia para alcan-
jetivos do milênio para a infância e a zar las metas de la agenda del plan de ac-
adolescência. São Paulo: [s.n.], 2004. ción Iberoamericano. Bolívia: [s.n.], 2003.
Disponível em <http://www.fundabrinq.
org.br/index.php?pg=biblioteca> Acesso
em: 25 ago. 2005.
Exmo. Sr.
Senhor Secretário,
1. A Constituição Federal, em seu artigo 227 e parágrafos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 4°,
parágrafo único, “d”), determinam que as crianças e adolescentes devem ser priorizados na destinação
de recursos públicos.
2. Além disso, dispõe o art. 67, III, da Lei Complementar n° 101/2000, que “O acompanhamento e a avali-
ação, de forma permanente, da política e da operacionalidade da gestão fiscal serão realizados por con-
selho de gestão fiscal, constituído por representantes de todos os Poderes e esferas de Governo, do Min-
istério Público e de entidades técnicas representativas da sociedade, visando a (...) III - adoção de nor-
mas de consolidação das contas públicas, padronização das prestações de contas e dos relatórios e
demonstrativos de gestão fiscal de que trata esta Lei Complementar, normas e padrões mais simples para
os pequenos Municípios, bem como outros, necessários ao controle social”.
3. Ocorre que o caráter apenas autorizativo da lei orçamentária no Brasil e a possibilidade de remanejamento
de recursos através de decretos dificulta que a sociedade possa acompanhar os gastos efetivados com a
criança ao longo do ano.
4. Os relatórios de execução apresentados ao Legislativo oferecem somente informações no nível dos progra-
mas e não das ações detalhadas, como faz a lei orçamentária. Assim, por exemplo, podemos saber a ca-
da bimestre quanto foi gasto no ensino fundamental, mas não podemos saber quanto se destinou efeti-
vamente a despesas com a construção de escolas, com o pagamento de pessoal ou com a alimentação es-
colar. Enfim, não nos é possível conhecer o que, de fato, vem sendo priorizado pela administração mu-
nicipal.
5. Diante do exposto e, com base na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Com-
plementar n° 101/2000 e Lei Orgânica do (Estado / Município), reivindicamos aqui o acesso de toda
a população às informações detalhadas constantes do Relatório de Execução Orçamentária por
Órgão, Projetos e Atividades conforme o Quadro de Detalhamento de Despesas, disponibilizando-o
mensalmente ao Poder Legislativo Municipal e mediante publicação no Diário Oficial da cidade de
.
Em nome da prioridade absoluta que a lei reserva à criança e ao adolescente, aguardamos o atendimento
do pedido.
Atenciosamente,
(nome)
(cargo)