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DISLEXIADE

ARTIGO E DISGRAFIA
REVISÃO

DISLEXIA
E DIS GR
DISGR AFIA:
GRAFIA
DIFICULDADES NA LINGU
DIFICULDADES LINGUAAGEM
Elisabeth Caldeira; Dulce Maria Lázzaris de Oliveira Cumiotto

RESUMO – A dislexia e a disgrafia têm preocupado educadores,


fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos, no que se
refere à aquisição da linguagem oral e escrita como habilidades sociais e
culturais vitais. Neste artigo, tratamos das dislexias e das disgrafias em suas
múltiplas diversidades, tais como: de superfície, fonológica ou profunda.
Porém, a dislexia pode apresentar-se de modo periférico: negligência, de
atenção, letra-por-letra e central. No seminário de Desenvolvimento
Neurológico e Aprendizagem, no Programa de Mestrado em Educação na
Universidade do Vale do Itajaí, aprofundou-se este tema no sentido de
colaborar com os programas de formação inicial e continuada de professores.
Propõem-se, ainda, atividades relevantes que, integradas à terapia
multidimensional, contribuem para a minimização destes distúrbios.

UNITERMOS: Dislexia, reabilitação, terapia. Agrafia, reabilitação, terapia.


Desenvolvimento da linguagem. Transtornos de desenvolvimento da
linguagem.

INTRODUÇÃO ficamente, a dislexia e a disgrafia. Presenciamos,


Um seminário sobre Desenvolvimento constantemente, em nossa função de educadores,
Neurológico e Aprendizagem, no Programa de que muitos de nós desconhecem tais diagnósticos,
Mestrado de Educação na Universidade do Vale seus sintomas e suas características, atribuindo
do Itajaí, despertou-nos o interesse em apro- inclusive adjetivos preconceituosos aos alunos
fundar estudos relacionados aos distúrbios adqui- que apresentam dificuldades na aprendizagem
ridos na linguagem oral e escrita, mais especi- devido a tais distúrbios.

Elisabeth Caldeira – Doutora em Educação Correspondência


Desenvolvimento Humano e Educação pela Pontifícia Universidade do Vale do Itajaí
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Docente Rua: Uruguai, 458 – Centro – Itajaí – SC – Brasil
e Pesquisadora do Programa de Mestrado Acadêmico 88302-202 – Fone: (047) 341-7516
em Educação da Universidade do Vale do Itajaí/SC. E-mail: caldeira@univali.br
Dulce Maria Lázzaris de Oliveira Cumiotto
Especialista em Psicopedagogia e Metodologia de
Ensino. Professora da Rede Estadual de Ensino do
Estado de Santa Catarina. Pesquisadora no Programa
de Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade
do Vale do Itajaí/SC.

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A relevância do tema, além de auxiliar na Os distúrbios podem ser congênitos ou


capacitação profissional, vem contribuir para a adquiridos por meio de doenças da infância no
aceitação e inclusão destes educandos, hemisfério direito ou dano cerebral.
oportunizando-lhes um acompanhamento Já que o cérebro poderá estar sujeito a doenças
adequado no decorrer do seu processo educativo, e sendo ele um órgão de extrema importância
evitando a evasão escolar. para o funcionamento de todo o organismo, cabe-
Tendo em vista que o uso da leitura e da escrita nos também conhecer um pouco sobre a forma
são habilidades sociais e culturais vitais em nossos como pode vir a prejudicar a linguagem, seja ela
dias, faz-se necessário que a dislexia e a disgrafia escrita ou falada.
sejam estudadas e que se proponham algumas Diferente das “dislexias desenvolvimentais”,
atividades para o educador realizar no cotidiano ou seja, aquelas “ligadas a uma perturbação
pedagógico com crianças, jovens e adultos. específica do reconhecimento visual das palavras,
isso na ausência de qualquer atraso intelectual
DISLEXIA E DISGRAFIA ADQUIRIDAS da criança, [...] as dislexias adquiridas
Distúrbios na linguagem oral e escrita apresentam origem neuropsicológica”1.
É constatada, mediante estudos, a existência Ainda, segundo Ellis3, uma das doenças
de uma grande preocupação por parte de alguns cerebrais mais comuns é o acidente cerebro-
profissionais, não somente da área da educação, vascular, isto é, a perturbação do suprimento
mas também por fonoaudiólogos, psicólogos, sangüíneo para uma parte do cérebro, que pode
psicopedagogos e neuropsicólogos, quanto às ser causado pelo rompimento de uma artéria ou
causas dos distúrbios diagnosticados durante o veia (hemorragia) ou através do bloqueio da
processo de aquisição da linguagem oral e escrita. circulação por coágulo sangüíneo (isquemia).
Através de intensas pesquisas, verificou-se O lado do cérebro que é responsável,
que tais distúrbios mencionados afetam a basicamente, pelas capacidades de linguagem,
aprendizagem em crianças e adultos ante- incluindo a leitura e a escrita, é a metade
riormente alfabetizados, e que esses problemas esquerda ou hemisfério esquerdo, no indivíduo
dizem respeito à dislexia e disgrafia, tanto destro (Figura 1).
congênitas como adquiridas. Conforme Bonne e Plante2:
Em nossa memória, temos uma parte respon- “O hemisfério direito também desempenha um
sável pela identificação de todas as palavras já papel na comunicação. [...] É comum que as
conhecidas. É o léxico, ou seja, o nosso “dicionário pessoas com danos no hemisfério direito
mental”. Segundo Jamet1, esse processo de apresentem dificuldades de compreender piadas
identificação recebe o nome de acesso ao léxico, e linguagem não-literal. [...] Portanto, ambos
porém, conseqüentemente, quanto mais rara a hemisférios do cérebro contribuem para a
palavra, mais demorada será sua localização no comunicação humana normal.“
léxico, não importando quanto uma pessoa tenha De acordo com estudos feitos até então,
lido, já que sempre aparecerão em seu idioma Stelling4 destaca a “importância de um sistema
palavras com as quais nunca havia se deparado. nervoso central e de um sistema nervoso peri-
Afirmam Bonne e Plante2 que o léxico cresce ao férico intacto, bem como um bom potencial
longo de sua existência. psiconeurológico”, já que certas anormalidades
Segundo Ellis3, existem palavras que são em nível cortical podem produzir perturbações
inventadas e por esse motivo são denominadas na língua, na linguagem (disfasia) e na
pela literatura psicológica de “pseudopalavras” linguagem lida-escrita (dislexia e dificuldades no
ou “não-palavras”, daí o fato da leitura tornar-se esquema corpo-espaço).
problemática para as crianças e adultos com Quanto à escrita, diz o mesmo autor que ela
distúrbios lingüísticos. envolve símbolos, um sistema de códigos e a

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Figura 1 – Hemisférios cerebrais e principais domínios Figura 2 – Modelo funcional de processos cognitivos
envolvidos na linguagem oral e escrita
Fissura de rolando
Hemisfério direito Fissura de Silvio Palavra Escrita
Área
motora
principal SISTEMA DE
ANÁLISE VISUAL
Área
linguagem
expressiva Hemisfério esquerdo
LÉXICO
Área Área de DE INPUT
auditiva recepção VISUAL
principal de linguagem

Fonte: Boone e Plante2 SISTEMA


SEMÂNTICO

utilização de um código visual e se dá, LÉXICO DA


geralmente, no início da leitura, possibilitando PRODUÇÃO
ao leitor com alguma habilidade identificar tanto DA FALA

as representações ortográficas quanto às NÍVEL DO


representações fonológicas. Por outro lado, se FONEMA Fala
houver limitações, estas irão corresponder às
Fonte: Ellis3
dificuldades para a leitura.

Dislexia - um distúrbio na linguagem oral • “Sistema de análise visual: identifica rabiscos


A identificação, compreensão e pronúncia das impressos com diferentes letras do alfabeto e
palavras são permitidas através de alguns a posição de cada letra dentro da palavra.
processos mentais que podem ser explicados em • Léxico de input visual: identifica as cadeias
forma de diagrama, conforme Ellis3, objetivando de letras como palavras familiares.
demonstrar o funcionamento dos modelos de • Sistema semântico: fornece o significado da
reconhecimento das palavras. palavra que está sendo lida.
Tal reconhecimento é produto de uma • Léxico de produção da fala: permite que as
atividade interligada ocorrida dentro de diversos palavras aprendidas sejam produzidas mais
subsistemas cognitivos, que operam em parte, rapidamente, tanto na citação de nomes
independentemente uns dos outros. Sendo esses quanto na leitura em voz alta.
subsistemas cognitivos semi-independentes, • Nível do fonema: armazena os fonemas
podemos identificá-los com o nome de mantendo-os em intervalos entre a produção
“módulos”. da fala e a escrita.”
Uma vez que as operações envolvidas são Convém observar, ainda, de uma forma mais
realizadas por diferentes módulos cognitivos, o clara, o esclarecimento deste modelo funcional
dano ou o desenvolvimento anormal do cérebro através do diagrama apresentado na Figura 2.
pode ocasionar transtornos de leitura. Esse modelo representa os procedimentos
Para um maior entendimento de como funciona lexicais que convertem a palavra impressa em
o reconhecimento das palavras escritas som.
isoladamente, faz-se necessário conceituar alguns A dislexia pode ser observada quando, no
significados, segundo Ellis3, existentes no modelo momento da leitura, existirem dificuldades
funcional de alguns processos cognitivos pertinentes à identificação, à compreensão e à
envolvidos: interpretação dos símbolos gráficos. Neste caso,

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a criança ou o adulto terá uma tendência em trocar consciência de sua existência naquelas
sílabas, substituir ou omitir letras ou palavra, posições.
podendo ainda invertê-las ou lê-las de trás para Ex: medo por cedo, tábua por dábua...
frente. • Dislexia de atenção: gera problemas com
Como não é uma doença, ela não tem cura várias letras em uma cadeia ou diversas
e pode ser identificada logo na pré-escola e, palavras na página. Neste caso, as letras
mesmo que esteja submetida a uma instrução podem migrar de uma palavra para outra,
convencional, não possua distúrbios cognitivos formando uma terceira.
nem sensoriais, a criança disléxica falha no Ex: grade alta acaba ficando gralta, mala
momento em que for adquirir a linguagem. muito pesada acaba ficando mala musada ou
A dislexia se apresenta de diferentes formas mato pesada...
de dificuldades e de linguagem, onde são • Leitura letra-por-letra: os leitores iden-
freqüentes os problemas de leitura e de escrita. tificam as letras uma de cada vez antes de
Existe a Dislexia Acústica que se manifesta tentarem dizer a palavra completa. Quanto
na insuficiência para diferenciar os sons, mais longa a palavra, mais tempo levam para
ocorrendo omissões, distorções, transpo- pronunciá-la.
sições ou substituições dos fonemas; Dislexia Ex: soletram s-a-p-a-t-o para dizer sapato.
Visual, manifesta-se na confusão de letras As dislexias adquiridas centrais, de acordo
com semelhança gráfica. Nesses casos os pais com o mesmo autor, apresentam também suas
logo tomam a iniciativa de levar o filho ao subdivisões:
oftalmologista; e Dislexia Motriz, que é • Leitura não semântica: a compreensão das
manifestada no campo visual, provocando palavras escritas é muito baixa. O paciente é
retrocessos e principalmente intervalos mudos capaz de ler em voz alta usando as conexões
ao ler. entre o léxico de input visual e o léxico de
De acordo com observações feitas por produção da fala, sendo considerado um
profissionais da área, Stelling4 destaca que tal processo lexical e não semântico.
situação pode ser também conseqüência da • Dislexia de superfície: na conversão letra-som,
importância dada aos progressos escolares da os pacientes usam a via que conecta o sistema
criança (imaturidade), bem como a intran- de análise visual ao nível de fonema, fazendo-
qüilidade dos pais. os ler mal as palavras irregulares, pronun-
Em se tratando das dislexias adquiridas, ciando-as como se fossem regulares. Neste
passaram a ser estudadas, segundo Ellis3, a partir caso, ele não saberá o significado da palavra
de meados dos anos 70, quando neuropsicólogos que não conseguir pronunciar corretamente.
cognitivos investigaram que partes do processo • Dislexia fonológica: são incapacidades que
normal da leitura foram danificadas ou perdidas, os disléxicos têm em ler palavras não
ocasionando perturbações como: dislexias familiares em voz alta.
adquiridas periféricas (transtornos nos quais o • Dislexia profunda: dificuldade quase que
sistema de análise visual está danificado) e completa para ler não-palavras em voz alta,
dislexias adquiridas centrais (agrupamento de além de apresentar erros semânticos e visuais.
transtornos em que o sistema visual é danificado, Ex: se forem ler simpatia podem acabar lendo
resultando em dificuldades na compreensão e/ sinfonia ou, até mesmo, palavras que não
ou comunicação das palavras escritas). tenham nada a ver com a grafia.
Conforme Ellis 3, as dislexias adquiridas Existem alguns sinais que podem nos auxiliar
periféricas dividem-se em: na caracterização de um aluno disléxico: fraco
• “Dislexia por negligência: afeta a capacidade desenvolvimento de atenção, dificuldade em
de identificar as letras iniciais”, embora haja brincar com outras pessoas, atraso na fala, na

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escrita e no desenvolvimento visual, falta de Disgrafia - um distúrbio na linguagem escrita


coordenação motora, dificuldade em aprender É visível a grande quantidade de estudos e
rimas, canções, acompanhar histórias, memorizar pesquisas dedicados à leitura, ao mesmo tempo
e desinteresse por livros impressos. em que o processo de escrita vem sendo
Para que haja sucesso na educação de pessoas negligenciado por parte de alguns profissionais
disléxicas, há de se basear numa terapia da educação.
multisensorial combinando sempre a visão, a As pesquisas que têm sido realizadas sobre a
audição e o tato, além de se fazer uso de escrita, focalizam a nossa capacidade de produzir
estratégias práticas tais como: uma cadeia de letras, a qual identificamos pelo
• Relógio digital nome de ortografia.
• Calculadora No momento em que falamos ou escrevemos
• Gravador um texto casual, temos a liberdade de nos
• Confecção do próprio material de alfabe- expressar de maneira diferente daquela utilizada
tização na escrita típica, que por sua vez é mais
• Usar gravuras e fotografias, pois a imagem é complexa, formal e explícita. Quaisquer que sejam
essencial para a sua aprendizagem esses processos utilizamos em ambos uma
• Folhas quadriculadas para a matemática altíssima carga mental para organizarmos nossas
• Máscara para leitura de texto idéias.
• Letras com várias texturas Isso vem comprovar que tanto a fala quanto a
Algumas atitudes éticas elevam a auto-estima escrita utilizam diferentes formas gramaticais,
dos educandos que apresentam dislexia e mas as duas compartilham de processos comuns,
disgrafia: como a construção e o planejamento inicial da
• Evitar menosprezá-los diante dos amigos não frase, destaca Ellis3.
os forçando a ler em voz alta nem dizendo Outro fator que difere a leitura da escrita
seus erros ou suas notas baixas para que todos refere-se à articulação dos fonemas (sons das
escutem. letras) e a produção das letras respectivamente,
• Rever falas e mensagens constantemente. ou seja, quando estamos aprendendo a escrever,
• Ser paciente quando estiverem copiando do o domínio envolvido no idioma escrito é o formal,
quadro ou fazendo alguma avaliação, dando- o que comprova um desconforto no momento de
lhe mais tempo do que aos outros e nos expressarmos através da escrita, promovendo
estimulando-os. com isso os “erros” que, anteriormente à invenção
• Ao ler palavras longas, ensine-os a separá-la da imprensa e do dicionário, eram aceitos
com a ponta do lápis. normalmente, mesmo porque estas escritas
• Usar sempre uma linguagem clara e, em lín- comunicavam o som das palavras sem nenhum
guas estrangeiras, utilizar trabalhos e pes- problema.
quisa, pois eles têm ainda mais dificuldade. Conforme Ellis3, para a escrita também existe
Quanto aos pais, cabe o apoio em pro- um modelo funcional apropriado ao armazena-
curar ajuda profissional de fonoaudió- mento lexical (conjunto das palavras usadas)
logos, psicólogos, neurologistas ou psico- dedicados à ortografia das palavras familiares,
pedagogos. Devem ainda encorajá-los a possuir reconhecido pelo nome de “léxico de produção
outras atividades fora do colégio como a prá- dos grafemas”.
tica de esportes, cursos de música, fotografia, • Léxico de Input Visual: espécie de depósito
desenho, etc. mental contendo as representações das formas
Um alerta aos pais é não permitir que suas escritas de todas as palavras familiares.
dificuldades impliquem em um mal • Sistema Semântico: produz o significado da
comportamento e na falta de limites. palavra que está sendo lida.

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Figura 3 – Diagrama funcional da linguagem escrita uma palavra, ou quando ocorrer um lapso
momentâneo, impedindo-o de escrever, mesmo
Do Léxico de Input Visual quando souber a forma exata, há uma interrupção
no funcionamento do modelo ortográfico.
SISTEMA SEMÂNTICO Como foi visto anteriormente, os danos
cerebrais também são causadores dos prejuízos
Do Léxico de
Input Visual referentes à escrita correta das palavras,
ocasionando as disgrafias adquiridas.
LÉXICO DE Ellis3 classificou, adequadamente, a disgrafia
LÉXICO DE
PRODUÇÃO PRODUÇÃO em:
DA FALA DOS GRAFEMAS
• Disgrafia de superfície: dificulta o
reconhecimento e a escrita de palavras já
DO SISTEMA
DE ANÁLISE VISUAL trabalhadas anteriormente.
Ex: são aqueles erros ortográficos vistos com
freqüência.
NÍVEL DO NÍVEL DO • Disgrafia fonológica: permite aos pacientes
FONEMA GRAFEMA
a escrita de palavras familiares, impedindo-
os de escreverem pseudopalavras.
Ex: não apresentam consciência fonológica
Produção datilografia
oral no momento da escrita de palavras pouco
escrita usadas no dia a dia.
Fonte: Ellis 3 • Disgrafia profunda: dificulta aos pacientes
a possibilidade de estarem escrevendo
• Léxico da produção da fala: acesso às palavras abstratas, ditados ou nomes de
pronúncias das palavras. objetos.
• Léxico de Produção dos grafemas: retém a Ex: se for ditada a palavra cadeira, ele acaba
ortografia das palavras familiares. escrevendo mesa, se ditar hora e ele escreve
• Nível do Fonema: armazena, em curto prazo, relógio.
os fonemas, mantendo-os em intervalos entre Baseado em estudos realizados por meio de
o resgate do léxico de produção da fala e a pesquisa bibliográfica, constatou-se que a
articulação. dislexia e a disgrafia são transtornos ou
• Nível do Grafema: armazena, em curto prazo, dificuldades que um indivíduo possui na leitura
a ortografia de uma palavra entre a ou na escrita.
recuperação e a execução, retendo também a De acordo com a linguagem dos médicos, elas
última porção da palavra, enquanto a primeira também são conhecidas como cegueira verbal,
está sendo escrita”. justamente pelo fato de se darem através de um
Faz-se necessário também, analisar estes impedimento cerebral que danifica o sistema
significados através do diagrama funcional da semântico.
linguagem escrita (Figura 3). O fato do nosso educando possuir um destes
Tanto quanto no diagrama da leitura, o distúrbios não deve servir de impedimento para
mesmo se dá para a escrita, ou seja, o que dê continuidade aos seus estudos. Ele pode
reconhecimento das palavras se dá através de apresentar problemas para ler ou escrever, mas
diferentes subsistemas cognitivos independentes pode, porém, ter grandes habilidades em outras
uns dos outros e nomeados como “módulos”. áreas como matemática, música, teatro, desenho,
No caso de existirem erros na escrita pelo fato pintura, enfim, diversos campos do saber,
do escritor desconhecer a ortografia correta de não esquecendo ainda dos computadores e

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da internet como grandes aliados nestes ca- • Desenhos e pinturas livres ou sugestionados.
sos, já que possuem seus próprios corretores
ortográficos. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora pesquisas comprovem que irregu-
ATIVIDADES RELEVANTES laridades no funcionamento cerebral ocasionam
Intencionado em colaborar no tratamento distúrbios como a dislexia e a disgrafia, alerta-
desses distúrbios, Valett 5 propôs algumas se sobre a importância que a escola tem em estar
atividades relevantes a serem realizadas em sala oferecendo esclarecimentos e orientações aos
de aula, tais como: pais destas crianças, para que os mesmo possam
• Imitar ações: sentar, levantar, tocar o nariz, auxiliá-las em suas atividades diárias.
orelhas, boca, bater os pés, bater palmas, etc; Os diversos fatores causadores dos
• Imitar ações e sons: bater palmas e dizer distúrbios lingüísticos mais freqüentes em salas
BANG, tocar tambor e falar BUM; de aula e responsáveis pelas dificuldades no
• Imitar sons: de animais, iniciando por sons processo ensino-aprendizagem precisam ser
simples como os do gato, cachorro, vaca, cabra, acompanhados e corrigidos e, para tanto, algu-
indo gradativamente para sons mais mas atividades foram propostas neste trabalho.
complexos como os do cavalo, leão, tigre, etc; A dislexia e a disgrafia requerem um
• Ditado mudo: apresentar gravuras do dia a atendimento profissional mais adequado, capaz
dia e pedir que a criança escreva as palavras de auxiliar tanto o professor como o aluno, uma
correspondentes às gravuras; vez que a inflexibilidade através de tarefas ou
• Jogos ativos e marchas rítmicas: incluir sons; avaliações e a utilização de materiais e métodos
• Analisar palavras foneticamente: identificar inapropriados, geram as humilhações e o
palavras através de sons vocálicos ou fracasso escolar.
consonantais; De acordo com a nossa realidade como
• Trabalhar com rimas: cantigas infantis, recitar educadores, estamos cientes que muitos destes
rimas e poesias, trava-língua, charadas, etc; profissionais são obrigados a permanecerem
• Histórias em rodízio: o professor inicia uma isolados em sua rotina diária sem que ao menos
história e os demais alunos vão continuando conheçam tal questão, antecipando conse-
um a um; qüentemente seus conceitos em relação a seus
• Envolver os alunos em atividades complexas: alunos, agravando ainda mais o problema.
confecção de murais artísticos, encenação de Sugere-se que, nos cursos de formação
peças teatrais, descrição de envolvimentos em inicial e continuada de professores, aconteçam
situações ou eventos globais; momentos que venham oportunizar aos
• Trabalhar com histórias em quadrinhos: mesmos, conciliando teoria e prática.
através de recortes de revistas ou desenhos Diversificar metodologias e estratégias,
próprios os alunos poderão elaborar histórias intercaladas a um acompanhamento profis-
orais e escritas seqüencialmente; sional especializado, é, sem dúvida, o caminho
• Jogos de quebra-cabeça em seqüência; mais seguro para o sucesso no decorrer da vida
• Copiar e escrever palavras soletradas de escolar de alunos portadores da dislexia e
memória através de palavras cruzadas; disgrafia.

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SUMMARY
Dyslexia and dysgraphia: language difficulties

The dyslexia and the dysgraphia have been worried educators,


phonologists, psychologists, psychopedagogue and neuropsychologists,
concerning to the acquisition of the oral language and writing as vital, social
and cultural abilities. In this article, we deal with to the dyslexias and the
dysgraphias in their multiple diversities, such as: of surface, phonological or
deep. However, the dyslexia can be presented in peripherical way:
negligence, of attention, letter-for-letter and central. In the seminary of
Neurological Development and Learning, in the Program of Master Degree
in Education in the Universidade do Vale do Itajaí, this subject was
approached to collaborate with the programs of initial and continued formation
of teachers. This article presented important activities integrated to the
multidimensional therapy that help to minimalize these disorders.

KEY WORDS: Dyslexia, rehabilitation, therapy. Agraphia, rehabilitation,


therapy. Language development. Language development disorders.

REFERÊNCIAS análise cognitiva. Porto Alegre: Artes


1. Jamet E. Leitura e aproveitamento escolar. Médicas; 1995.
São Paulo: Loyola; 2000. 4. Stelling S. Dislexia. Rio de Janeiro: Revinter;
2. Boone DR, Plante E. Comunicação humana 1994.
e seus distúrbios. 2 ed. Porto Alegre: Artes 5. Valett RE. Tratamento de distúrbios da
Médicas; 1994. aprendizagem. Manual de Programas
3. Ellis AW. Leitura, escrita e dislexia: uma Psicoeducacionais. São Paulo: EDUSP; 1977.

Trabalho realizado na Universidade do Vale do Itajaí. Artigo recebido: 30/04/2004


Aprovado: 08/06/2004

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