Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARTIGO E DISGRAFIA
REVISÃO
DISLEXIA
E DIS GR
DISGR AFIA:
GRAFIA
DIFICULDADES NA LINGU
DIFICULDADES LINGUAAGEM
Elisabeth Caldeira; Dulce Maria Lázzaris de Oliveira Cumiotto
127
CALDEIRA E ET AL.
128
DISLEXIA E DISGRAFIA
Figura 1 – Hemisférios cerebrais e principais domínios Figura 2 – Modelo funcional de processos cognitivos
envolvidos na linguagem oral e escrita
Fissura de rolando
Hemisfério direito Fissura de Silvio Palavra Escrita
Área
motora
principal SISTEMA DE
ANÁLISE VISUAL
Área
linguagem
expressiva Hemisfério esquerdo
LÉXICO
Área Área de DE INPUT
auditiva recepção VISUAL
principal de linguagem
129
CALDEIRA E ET AL.
a criança ou o adulto terá uma tendência em trocar consciência de sua existência naquelas
sílabas, substituir ou omitir letras ou palavra, posições.
podendo ainda invertê-las ou lê-las de trás para Ex: medo por cedo, tábua por dábua...
frente. • Dislexia de atenção: gera problemas com
Como não é uma doença, ela não tem cura várias letras em uma cadeia ou diversas
e pode ser identificada logo na pré-escola e, palavras na página. Neste caso, as letras
mesmo que esteja submetida a uma instrução podem migrar de uma palavra para outra,
convencional, não possua distúrbios cognitivos formando uma terceira.
nem sensoriais, a criança disléxica falha no Ex: grade alta acaba ficando gralta, mala
momento em que for adquirir a linguagem. muito pesada acaba ficando mala musada ou
A dislexia se apresenta de diferentes formas mato pesada...
de dificuldades e de linguagem, onde são • Leitura letra-por-letra: os leitores iden-
freqüentes os problemas de leitura e de escrita. tificam as letras uma de cada vez antes de
Existe a Dislexia Acústica que se manifesta tentarem dizer a palavra completa. Quanto
na insuficiência para diferenciar os sons, mais longa a palavra, mais tempo levam para
ocorrendo omissões, distorções, transpo- pronunciá-la.
sições ou substituições dos fonemas; Dislexia Ex: soletram s-a-p-a-t-o para dizer sapato.
Visual, manifesta-se na confusão de letras As dislexias adquiridas centrais, de acordo
com semelhança gráfica. Nesses casos os pais com o mesmo autor, apresentam também suas
logo tomam a iniciativa de levar o filho ao subdivisões:
oftalmologista; e Dislexia Motriz, que é • Leitura não semântica: a compreensão das
manifestada no campo visual, provocando palavras escritas é muito baixa. O paciente é
retrocessos e principalmente intervalos mudos capaz de ler em voz alta usando as conexões
ao ler. entre o léxico de input visual e o léxico de
De acordo com observações feitas por produção da fala, sendo considerado um
profissionais da área, Stelling4 destaca que tal processo lexical e não semântico.
situação pode ser também conseqüência da • Dislexia de superfície: na conversão letra-som,
importância dada aos progressos escolares da os pacientes usam a via que conecta o sistema
criança (imaturidade), bem como a intran- de análise visual ao nível de fonema, fazendo-
qüilidade dos pais. os ler mal as palavras irregulares, pronun-
Em se tratando das dislexias adquiridas, ciando-as como se fossem regulares. Neste
passaram a ser estudadas, segundo Ellis3, a partir caso, ele não saberá o significado da palavra
de meados dos anos 70, quando neuropsicólogos que não conseguir pronunciar corretamente.
cognitivos investigaram que partes do processo • Dislexia fonológica: são incapacidades que
normal da leitura foram danificadas ou perdidas, os disléxicos têm em ler palavras não
ocasionando perturbações como: dislexias familiares em voz alta.
adquiridas periféricas (transtornos nos quais o • Dislexia profunda: dificuldade quase que
sistema de análise visual está danificado) e completa para ler não-palavras em voz alta,
dislexias adquiridas centrais (agrupamento de além de apresentar erros semânticos e visuais.
transtornos em que o sistema visual é danificado, Ex: se forem ler simpatia podem acabar lendo
resultando em dificuldades na compreensão e/ sinfonia ou, até mesmo, palavras que não
ou comunicação das palavras escritas). tenham nada a ver com a grafia.
Conforme Ellis 3, as dislexias adquiridas Existem alguns sinais que podem nos auxiliar
periféricas dividem-se em: na caracterização de um aluno disléxico: fraco
• “Dislexia por negligência: afeta a capacidade desenvolvimento de atenção, dificuldade em
de identificar as letras iniciais”, embora haja brincar com outras pessoas, atraso na fala, na
130
DISLEXIA E DISGRAFIA
131
CALDEIRA E ET AL.
Figura 3 – Diagrama funcional da linguagem escrita uma palavra, ou quando ocorrer um lapso
momentâneo, impedindo-o de escrever, mesmo
Do Léxico de Input Visual quando souber a forma exata, há uma interrupção
no funcionamento do modelo ortográfico.
SISTEMA SEMÂNTICO Como foi visto anteriormente, os danos
cerebrais também são causadores dos prejuízos
Do Léxico de
Input Visual referentes à escrita correta das palavras,
ocasionando as disgrafias adquiridas.
LÉXICO DE Ellis3 classificou, adequadamente, a disgrafia
LÉXICO DE
PRODUÇÃO PRODUÇÃO em:
DA FALA DOS GRAFEMAS
• Disgrafia de superfície: dificulta o
reconhecimento e a escrita de palavras já
DO SISTEMA
DE ANÁLISE VISUAL trabalhadas anteriormente.
Ex: são aqueles erros ortográficos vistos com
freqüência.
NÍVEL DO NÍVEL DO • Disgrafia fonológica: permite aos pacientes
FONEMA GRAFEMA
a escrita de palavras familiares, impedindo-
os de escreverem pseudopalavras.
Ex: não apresentam consciência fonológica
Produção datilografia
oral no momento da escrita de palavras pouco
escrita usadas no dia a dia.
Fonte: Ellis 3 • Disgrafia profunda: dificulta aos pacientes
a possibilidade de estarem escrevendo
• Léxico da produção da fala: acesso às palavras abstratas, ditados ou nomes de
pronúncias das palavras. objetos.
• Léxico de Produção dos grafemas: retém a Ex: se for ditada a palavra cadeira, ele acaba
ortografia das palavras familiares. escrevendo mesa, se ditar hora e ele escreve
• Nível do Fonema: armazena, em curto prazo, relógio.
os fonemas, mantendo-os em intervalos entre Baseado em estudos realizados por meio de
o resgate do léxico de produção da fala e a pesquisa bibliográfica, constatou-se que a
articulação. dislexia e a disgrafia são transtornos ou
• Nível do Grafema: armazena, em curto prazo, dificuldades que um indivíduo possui na leitura
a ortografia de uma palavra entre a ou na escrita.
recuperação e a execução, retendo também a De acordo com a linguagem dos médicos, elas
última porção da palavra, enquanto a primeira também são conhecidas como cegueira verbal,
está sendo escrita”. justamente pelo fato de se darem através de um
Faz-se necessário também, analisar estes impedimento cerebral que danifica o sistema
significados através do diagrama funcional da semântico.
linguagem escrita (Figura 3). O fato do nosso educando possuir um destes
Tanto quanto no diagrama da leitura, o distúrbios não deve servir de impedimento para
mesmo se dá para a escrita, ou seja, o que dê continuidade aos seus estudos. Ele pode
reconhecimento das palavras se dá através de apresentar problemas para ler ou escrever, mas
diferentes subsistemas cognitivos independentes pode, porém, ter grandes habilidades em outras
uns dos outros e nomeados como “módulos”. áreas como matemática, música, teatro, desenho,
No caso de existirem erros na escrita pelo fato pintura, enfim, diversos campos do saber,
do escritor desconhecer a ortografia correta de não esquecendo ainda dos computadores e
132
DISLEXIA E DISGRAFIA
da internet como grandes aliados nestes ca- • Desenhos e pinturas livres ou sugestionados.
sos, já que possuem seus próprios corretores
ortográficos. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora pesquisas comprovem que irregu-
ATIVIDADES RELEVANTES laridades no funcionamento cerebral ocasionam
Intencionado em colaborar no tratamento distúrbios como a dislexia e a disgrafia, alerta-
desses distúrbios, Valett 5 propôs algumas se sobre a importância que a escola tem em estar
atividades relevantes a serem realizadas em sala oferecendo esclarecimentos e orientações aos
de aula, tais como: pais destas crianças, para que os mesmo possam
• Imitar ações: sentar, levantar, tocar o nariz, auxiliá-las em suas atividades diárias.
orelhas, boca, bater os pés, bater palmas, etc; Os diversos fatores causadores dos
• Imitar ações e sons: bater palmas e dizer distúrbios lingüísticos mais freqüentes em salas
BANG, tocar tambor e falar BUM; de aula e responsáveis pelas dificuldades no
• Imitar sons: de animais, iniciando por sons processo ensino-aprendizagem precisam ser
simples como os do gato, cachorro, vaca, cabra, acompanhados e corrigidos e, para tanto, algu-
indo gradativamente para sons mais mas atividades foram propostas neste trabalho.
complexos como os do cavalo, leão, tigre, etc; A dislexia e a disgrafia requerem um
• Ditado mudo: apresentar gravuras do dia a atendimento profissional mais adequado, capaz
dia e pedir que a criança escreva as palavras de auxiliar tanto o professor como o aluno, uma
correspondentes às gravuras; vez que a inflexibilidade através de tarefas ou
• Jogos ativos e marchas rítmicas: incluir sons; avaliações e a utilização de materiais e métodos
• Analisar palavras foneticamente: identificar inapropriados, geram as humilhações e o
palavras através de sons vocálicos ou fracasso escolar.
consonantais; De acordo com a nossa realidade como
• Trabalhar com rimas: cantigas infantis, recitar educadores, estamos cientes que muitos destes
rimas e poesias, trava-língua, charadas, etc; profissionais são obrigados a permanecerem
• Histórias em rodízio: o professor inicia uma isolados em sua rotina diária sem que ao menos
história e os demais alunos vão continuando conheçam tal questão, antecipando conse-
um a um; qüentemente seus conceitos em relação a seus
• Envolver os alunos em atividades complexas: alunos, agravando ainda mais o problema.
confecção de murais artísticos, encenação de Sugere-se que, nos cursos de formação
peças teatrais, descrição de envolvimentos em inicial e continuada de professores, aconteçam
situações ou eventos globais; momentos que venham oportunizar aos
• Trabalhar com histórias em quadrinhos: mesmos, conciliando teoria e prática.
através de recortes de revistas ou desenhos Diversificar metodologias e estratégias,
próprios os alunos poderão elaborar histórias intercaladas a um acompanhamento profis-
orais e escritas seqüencialmente; sional especializado, é, sem dúvida, o caminho
• Jogos de quebra-cabeça em seqüência; mais seguro para o sucesso no decorrer da vida
• Copiar e escrever palavras soletradas de escolar de alunos portadores da dislexia e
memória através de palavras cruzadas; disgrafia.
133
CALDEIRA E ET AL.
SUMMARY
Dyslexia and dysgraphia: language difficulties
134