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CABO VERDE
1495-131 Algés
CV.2011.E.003.1
Portugal
O presente documento foi elaborado pela GESTO ENERGIA S.A. (Gesto), empresa do grupo Martifer especialista em
consultoria energética e estudos de avaliação de Potencial de energias renováveis, para a Direcção Geral de Energia de
Cabo Verde.
A publicação, reprodução ou distribuição (total ou parcial) da informação contida neste documento carece de prévia
autorização, por escrito, da Gesto.
O conteúdo publicado neste documento baseia-se na avaliação de um conjunto de informações e dados recolhidos e
analisados até à data. Com a recolha de novos dados, a Gesto reserva-se o direito de ajustar ou alterar a respectiva
análise. Acresce que este documento contém informação recolhida através de diversas fontes, devidamente identificada,
que deverá ser interpretada no contexto das mesmas, não podendo ser imputada qualquer responsabilidade à Gesto pelo
conteúdo dessa informação.
A Gesto não poderá ser responsabilizada pela utilização, por parte da Direcção Geral de Energia de Cabo Verde ou por
terceiros, da informação contida neste documento.
(Miguel Barreto)
LISTA DE ABREVIATURAS
FER – Fontes de Energia Renováveis
Equipa Gesto:
Equipa DGE:
Especial agradecimento ao Eng. J. Arsénio (ELECTRIC) e à Eng.ª Ana Monteiro (Cabeólica), pela colaboração e
disponibilização de elementos relativos aos projectos eólicos em curso.
ÍNDICES
Índice de figuras
Figura 2.1 - Metodologia de desenvolvimento do Atlas Eólico (RISØ) ........................................................................................... 3
Figura 2.2 - Cp Curva de potência da turbina Vestas V52 de 850 kW ............................................................................................ 6
Figura 2.3 - Exemplo de registo de velocidades de vento (Santiago) ............................................................................................. 8
Figura 2.4 - Variação da velocidade do vento em função da altura (exemplo) .............................................................................. 9
Figura 2.5 - Intensidade de turbulência para diferentes velocidades de vento (Exemplo) .......................................................... 10
Figura 2.6 - Intensidade de turbulência para diferentes direcções do vento (Exemplo) ............................................................. 10
Figura 2.7 - Distribuição de Weibull (Estação de Medição da Praia, Ilha do Sal, et RISØ, 2007) .................................................. 11
Figura 2.8 - Caracterização do recurso eólico – (Estação de Medição da Praia, Ilha do Sal, et RISØ, 2007) ................................ 12
Figura 3.1 – Velocidade média do vento (50 m a.g.l) (resultado de simulação, RISØ National Laboratory, et al
2007) ............................................................................................................................................................................................ 13
Figura 3.2 - Orientação predominante escoamento eólico na área interessada pelo arquipélago de Cabo Verde .................... 15
Figura 3.3 - Sazonalidade do escoamento eólico na área interessada pelo arquipélago de Cabo Verde .................................... 16
Figura 3.4 - Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al
2007) ............................................................................................................................................................................................ 17
Figura 3.5 - Velocidade média do vento na ilha e Santiago (resultado de simulação - RISØ National Laboratory,
et al 2007) .................................................................................................................................................................................... 18
Figura 3.6 – Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al
2007) ............................................................................................................................................................................................ 18
Figura 3.7 - Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al
2007) ............................................................................................................................................................................................ 19
Figura 3.8 - Velocidade média do vento na ilha de São Vicente (resultado de simulação - RISØ National
Laboratory, et al 2007) ................................................................................................................................................................. 19
Figura 3.9 - Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al
2007) ............................................................................................................................................................................................ 20
Figura 3.10 - Velocidade média do vento na ilha do Sal (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al
2007) ............................................................................................................................................................................................ 20
Figura 3.11 - Velocidade média do vento na ilha de Santo Antão (resultado de simulação - RISØ National
Laboratory, et al 2007) ................................................................................................................................................................. 21
Figura 3.12 - Velocidade média do vento na ilha do Fogo (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et
al 2007)......................................................................................................................................................................................... 22
Figura 3.13 - Velocidade média do vento na ilha de São Nicolau (resultado de simulação - RISØ National
Laboratory, et al 2007) ................................................................................................................................................................. 23
Figura 3.14 - Velocidade média do vento na ilha da Boavista (resultado de simulação - RISØ National
Laboratory, et al 2007) ................................................................................................................................................................. 24
Figura 3.15 - Velocidade média do vento na ilha do Maio (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et
al 2007)......................................................................................................................................................................................... 25
Figura 3.16 - Velocidade média do vento na ilha do Brava (resultado de simulação - RISØ National Laboratory,
et al 2007) .................................................................................................................................................................................... 26
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 4.1 - Distribuição do número de torres meteorológicas por Ilha .................................................................................... 28
Quadro 4.2 - Tipo de equipamento a instalar em cada torre meteorológica .............................................................................. 29
1 INTRODUÇÃO
O presente documento foi elaborado no âmbito do Plano Energético Renovável de Cabo Verde, desenvolvido pela GESTO
ENERGIA S.A. para a Direcção Geral de Energia de Cabo Verde, entre Janeiro de 2010 e Junho de 2011, dele fazendo parte
integrante.
O conhecimento e avaliação do recurso constituem a base para realização dos estudos de viabilidade económica de qualquer
projecto FER (Fonte de Energia Renováveis), onde se incluem os projectos eólicos. Assim, de forma a proceder a uma
caracterização do potencial eólico de uma determinada área, é necessária a obtenção de uma série temporal de registos de
medições da velocidade do vento, assim como a reunião de um conjunto relevante de informação que, depois de coligida,
tratada e validada, de acordo com normas internacionais e procedimentos/boas práticas amplamente consolidadas no
sector, constituirá o suporte da decisão sobre a viabilidade técnica e financeira de um projecto desta natureza.
O potencial eólico do arquipélago de Cabo Verde foi, recentemente, caracterizado pelo Risø National Laboratory (RISØ),
1
caracterização esta realizada com recurso a uma metodologia KAMM/WASP . Um estudo anterior do recurso eólico em Cabo
Verde, Mortensen et al. (2002), foi também analisado validando os resultados obtidos pela RISØ.
Em síntese, a RISØ realizou medições de recurso em quatro locais, a saber: Selada do Flamengo e Selada de São Pedro, Ilha
de São Vicente; Monte de São Filipe, Ilha de Santiago; Palmeira, Ilha do Sal.
Da análise efectuada, registou-se a existência de um erro médio da simulação da RISØ, na ordem dos -0,01% e, um erro
médio absoluto na ordem dos 5,6%. Apesar de poder considerar-se que esta seria uma validação do modelo da RISØ, esta, no
entanto, aponta, no seu próprio relatório, para a existência de fortes lacunas de informação, considerando que a informação
contida no seu relatório não constituir mais do que uma ferramenta de aproximação para futuros estudos, passíveis de, com
rigor, aferir o real potencial eólico de cada Ilha e/ou site.
De igual modo, o presente relatório apresenta o mesmo enquadramento, ou seja, não tendo sido realizados quaisquer
medições de recurso, as análises que se apresentam foram baseadas no relatório da RISØ, nos trabalhos de campo realizados
e, em regras e procedimentos empíricos.
A RISØ recorreu ao método KAMM/WASP tendo considerado uma área de 400 km x 400 km, cobrindo, aproximadamente, a
o o o o
região 26 W – 22 W, 14 N – 18 N. Do processamento destes dados, resultou a elaboração de mapas de média da velocidade
do vento e densidade de potência a 50 metros, para condições de vento simuladas e, generalizadas.
1
Combinação do modelo numérico de mesoscala Karlsruhe Atmospheric Mesoscale Model (KAMM) e o modelo de microescala WASP. Esta combinação
permite estimar o recurso energético para parques eólicos situados em regiões de topografia complexa. Estudos preliminares deste método apontam
desvios da ordem dos 25% para o fluxo de potência incidente em terreno fortemente complexo.
2 METODOLOGIA
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Os dados utilizados resultam da realização de simulações em mesoescala para as várias classes de vento. Depois de
concluídas as simulações, procedeu-se à compilação e processamento dos resultados. Para cada ponto da grelha do modelo,
calculou-se a média ponderada da velocidade do vento sendo que, a ponderação para cada simulação das classes de vento é
baseada na frequência de ocorrência. Este procedimento (simulado) resulta em mapas de recurso eólico.
Média
Correcções
ponderada
WASP
dos
Recurso aplicadas aos Atlas
resultados do
eólico resultados de eólico
modelo para
cada classe
cada classe
de vento
de vento
Para cada simulação, foram removidos os efeitos da variação da elevação e rugosidade. Posteriormente, calculou-se a média
ponderada do resultado ajustado. Deste processo (generalizado) resulta um atlas eólico para condições de superfícies planas
com uma rugosidade específica.
Os resultados obtidos pela RISØ foram tratados e compilados em ArcGis (SIG), e processados de forma a identificar as zonas
com maior potencial eólico, interpolando as curvas de velocidade média do vento.
Nos pontos seguintes é feita uma pequena súmula teórica dos procedimentos e regras observadas na elaboração deste
relatório, de forma a enquadrar e justificar os resultados que se apresentam.
Na aproximação ao rotor, a velocidade do ar diminui gradualmente, variando a pressão em sentido contrário (p∞ para p+).
Na passagem pelo rotor verifica-se a ocorrência de uma queda brusca da pressão (p+ para p-), de tal forma que, à saída, o
seu valor (p-) é mais baixo que o da pressão do meio circundante (p∞).
A jusante do rotor, a pressão cresce gradualmente até atingir, novamente, o valor da pressão atmosférica, diminuindo a
velocidade segundo um processo de conversão idêntico ao que ocorre a montante da turbina.
O princípio descrito explica a redução de energia cinética sofrida pelo escoamento, nada adiantando, contudo, em relação à
forma como esse diferencial energético é aproveitado pela turbina.
Assim, a conversão em potência útil da energia cinética "transportada" pelo vento pode ser determinada através da Teoria
da Quantidade de Movimento - Disco Actuante
Pressupostos:
pD . - pressão no disco;
VD . - velocidade no disco.
Não são trocados nem calor, nem trabalho, entre a secção de entrada do rotor e a secção do disco.
(1)
(2)
A equação (3) procede à combinação das duas expressões, tendo em conta que pe = ps:
(3)
O trabalho realizado entre a entrada e a saída do rotor será traduzido de acordo com a equação (4):
(4)
A potência será o caudal máximo a multiplicar pelo trabalho, conforme descrito na equação (5):
(5)
(6)
Note-se que Vs é contabilizado positivamente num dos termos e, de forma negativa no outro, daí resultando que, valores
muito baixos ou muito altos desta quantidade conduzam à redução da potência.
Desta forma, existe um valor óptimo para Vs, do qual resulta a potência máxima, que é obtida através da derivação da
equação anterior, em ordem a Vs, para uma dada velocidade de entrada e, igualando a zero a derivada, chegando-se à
equação (7):
(7)
Esta equação, resolvida para um valor positivo de Vs resulta num Vs óptimo, conforme representado pela equação (8):
(8)
(9)
Assim, o rendimento teórico máximo, usualmente denominado coeficiente de potência máximo, Cp, é a razão entre a
potência máxima obtida e a potência total disponível no vento, conforme representado pela equação (10):
A abordagem de Betz constitui uma abordagem muito simplificada que, no entanto, contribui para uma noção da existência
de um limite para a extracção da energia do vento, na ordem dos 59,3% da energia total disponibilizada.
Os rotores actualmente utilizados, para a produção comercial de electricidade, apresentam coeficientes de potência
compreendidos entre 0,35 e 0,4 (rendimentos de 60% a 70%).
No que respeita ao estudo dos projectos de energia eólica no arquipélago de Cabo Verde, foi utilizada, com excepção do
projecto de Praia Branca em São Nicolau, a curva de potência da turbina marca Vestas, modelo V52 de 850 kW de potência
nominal, apresentada na Figura 2.2.
Fonte: www.vestas.com
A selecção da turbina – Vestas V52 – prende-se com o facto dos projectos eólicos em desenvolvimento no Arquipélago
estarem equipados com este modelo, garantindo, assim, que a turbina em causa é viável em termos técnicos e logísticos,
tendo em conta as limitações ao nível de informação que se registam, à data.
Como já referido, na Ilha de São Nicolau, e por uma questão de limitação da rede eléctrica, foram estudados dois cenários de
projectos eólicos, ou seja, um projecto utilizando a turbina V52, e outro projecto, de menores dimensões, equipado com
turbinas Enercon 33 de 330kV – Figura 2.3.
De salientar que as questões logísticas, ligadas à capacidade dos portos e acessibilidades, constituem o principal
constrangimento à instalação de turbinas de maiores dimensões.
350,0
300,0
Power (kw)
250,0
200,0
150,0
100,0
50,0
0,0
1 6 11 16 21 26
Wind Speed (m/s)
Fonte: www.enercon.com
Figura 2.3 - Curva de potência da turbina Enercon 33 de 330 kW
Outro aspecto positivo da selecção da turbina V52 prende-se com a fase de exploração onde a sinergia com parques
existentes permitirá, aos futuros promotores, acesso a condições de operação e manutenção mais favoráveis,
nomeadamente, em termos de tempo de resposta a eventuais avarias. Este é um aspecto importante e que poderá reflectir-
se também em termos contratuais/financeiros, com o aumento da disponibilidade contratual das turbinas por parte do
fabricante.
O aspecto menos positivo destas turbinas prende-se com a “relativa” baixa potência da turbina V52. Actualmente as
máquinas mais utilizadas em projectos eólicos são as de 2 MW, turbinas estas mais eficientes, melhores rendimentos. Isto
significa, que a ocupação do espaço por turbinas de menor rendimento se poderá considerar como um desaproveitamento
de recurso.
VELOCIDADE MÉDIA
A média dos registos de velocidade do vento é calculada com base nos registos realizados durante um período de 10
minutos. Dependendo dos equipamentos, o intervalo entre aquisições de dados é de cerca de 2 a 3 segundos. (Unidade SI:
m/s). Graficamente poderá ter a seguinte representação:
VELOCIDADE MÁXIMA
A velocidade máxima do vento corresponde ao valor máximo registado num período de 10 minutos, correspondendo,
portanto, ao registo mais elevado da velocidade média. (Unidade SI: m/s), vulgarmente designado por “rajada”. Este é um
dado importante para a selecção da classe da turbina a instalar.
VELOCIDADE MÍNIMA
A velocidade mínima do vento constitui o valor mínimo registado num período de 10 min. (Unidade SI: m/s)
(11)
Esta é uma informação importante, uma vez que permite simular a colocação de turbinas com um rotor mais alto e calcular a
mais-valia em termos de rendimento.
2
(dada a inexistência de dados, as intensidades representadas não se referem ao estudo da RISØ nem a medições em Cabo
Verde, sendo a sua apresentação realizada a título de exemplo demonstrativo do fenómeno).
Figura 2.7 - Distribuição de Weibull (Estação de Medição da Praia, Ilha do Sal, et RISØ, 2007)
Estudos estatísticos realizados através de valores de velocidade média horária do vento, permitiram chegar à conclusão de
que a distribuição estatística de Weibull é a que melhor se adequa à distribuição da velocidade do vento. A função densidade
de probabilidade de Weibull tem a expressão traduzida pela função (12):
(12)
Em que representa a frequência de ocorrência de cada velocidade , o representa o factor de forma e é o factor de
escala.
2.7 DIRECÇÃO
A direcção do vento respeita ao registo mais frequente dos valores de direcção registados durante um período de 10
minutos. (Unidade SI: %). Com base nesta informação, é gerada a Rosa-Dos-Ventos, exemplificada na Figura 2.8
Esta é uma informação muito relevante na definição dos layouts dos projectos, de forma a antecipar perdas de produção
devido à presença de obstáculos aos ventos dominantes e minimizar o efeito “esteira”.
2.8 TEMPERATURA
O valor de temperatura registado constitui a média dos registos de temperatura efectuados no período de tempo de 10
minutos. (Unidade SI: ºC). Esta é uma informação importante, uma vez que permite a validação, ou não, de alguns dos dados
a recolhidos, podendo, nomeadamente, indicar as situações de registos anormais devido a fenómenos de congelamento dos
sensores.
Figura 3.1 – Velocidade média do vento (50 m a.g.l) (resultado de simulação, RISØ National Laboratory, et al 2007)
Na ilha de Santiago, que se destaca não só pela sua dimensão mas também por ser aquela que apresenta um maior consumo
energético, regista-se velocidades médias de vento entre os 6 e os 8 m/s, consoante a elevação dos terrenos. Na zona sul da
ilha, nas cotas entre os 500 m e os 900 m de altitude, é possível identificar uma área de planalto bastante ampla, com
facilidade de acessos e velocidades de vento assinaláveis (entre os 7 e os 8 m/s), com capacidade para instalar vários
projectos eólicos de grandes dimensões.
A ilha de São Vicente é a Ilha que apresenta maior potencial eólico em termos de velocidade média do vento, possuindo
várias localizações onde se registam velocidades médias superiores a 8,5 m/s. A sua orografia apresenta uma estrutura de
Na ilha de Santo Antão, apesar da proximidade à ilha de São Vicente, o potencial eólico é significativamente menor, com uma
velocidade média inferior a 5 m/s em quase toda a extensão da ilha, reflexo, porventura, da muito complexa orografia desta
ilha. Também em segundo plano, de acordo com o relatório supra referido, as ilhas do Maio e Boavista também não
apresentam um recurso eólico muito elevado, situando-se no intervalo dos 6 a 6,5 m/s.
Outro dado importante presente no relatório RISØ, onde foram utilizados as séries de dados disponíveis no Climate
Diagnostics Center obtidas via o NCEP/NCAR-reanalysis - http://www.cdc.noaa.gov/cdc/reanalysis/, séries estas com 30 anos
de dados de vento recolhidos a 10 m acima do nível da superfície, consiste na orientação predominante do vento em Cabo
Verde. Segundo este relatório, 90% dos ventos provém do sector NE. Esta foi também uma evidência comprovada através
dos trabalhos de campo realizados, através dos quais se observou uma clara orientação NE da vegetação arbórea e arbustiva,
fortemente deformada pelo constante regime de ventos –
Figura 3.2.
3
Figura 3.2 - Orientação predominante escoamento eólico na área interessada pelo arquipélago de Cabo Verde
3
Fonte: NCEP/NCAR-reanalysis at 10m, 30 years (1976-2005)
4
Figura 3.3 - Sazonalidade do escoamento eólico na área interessada pelo arquipélago de Cabo Verde
A análise do escoamento do recurso em grande escala (mesoescala) permitiu também à RISØ identificar a sazonalidade em
termos do comportamento do escoamento eólico nesta região. Na Figura 3.3 apresenta-se o resultado espacial dessa análise.
Em termos gerais o arquipélago Cabo Verde encontra-se numa grande região onde os ventos de norte-nordeste prevalecem
em todas as estações do ano. Esta direcção de ventos está associada ao anticiclone localizado sobre os Açores, que
condiciona toda esta região.
Assim, estatisticamente, e de acordo com a informação disponível, os ventos a 10 m de altura são mais fortes entre
Dezembro e Fevereiro com uma média sazonal de 7,67 m/s, e os mais fracos entre Junho e Agosto, com média sazonal de
6,00 m / s.
o
A direcção do vento é muito constante, do quadrante Nordeste. O vector médio do recurso tem uma direcção de 53 durante
o período onde também se registam as maiores velocidades médias, sendo que no período compreendido entre Junho e
o
Agosto (com velocidades médias mais reduzidas) o vector de direcção altera-se ligeiramente para os 42,8 .
4
Fonte: NCEP/NCAR-reanalysis at 10m, 30 years (1976-2005)
i) Ilha de Santiago – esta ilha apresenta velocidades médias de recurso eólico que variam entre os 6 m/s e os 8
m/s, consoante a elevação das cotas do terreno, informação esta corroborada pelas medições e simulações
efectuadas pela RISØ no Monte de São Filipe, que se apresentam na Figura 3.4.
Figura 3.4 - Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al 2007)
Estas medições confirmam também a orientação predominante do vento determinada pela mesoescala, ou seja,
uma predominância do quadrante de NE.
É a cerca de 1.200 m de altitude que se registam as velocidade de vento mais elevadas nesta Ilha. No entanto, as
zonas de cumeada onde se registam estas velocidades de vento são escarpadas, sem amplitude para instalação de
aerogeradores e de difícil acesso. Nas cotas mais baixas, entre os 500 m e os 900 m de altitude, registam-se
velocidades de vento assinaláveis (entre os 7 m/s e os 8 m/s), apresentando áreas disponíveis para acolher projectos
eólicos de maior dimensão, como resulta da observação da Figura 3.5
ii) Ilha de São Vicente – A ilha de São Vicente será, porventura, do conjunto de cinco ilhas objecto do presente
estudo, aquela que dispõe do maior potencial eólico, como se pode comprovar das medições realizadas pela
RISØ na Selada de São Pedro e Selada de Flamengo, Figura 3.6 e Figura 3.7.
Figura 3.6 – Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al 2007)
Figura 3.7 - Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al 2007)
Não obstante a sua orografia acidentada, apresenta uma estrutura de cumeadas bem definida, com declives
acentuados, mas não abruptos (escarpados), condições favoráveis a uma aceleração do recurso eólico aumentando,
consequentemente, as velocidades médias nas cotas mais elevadas. A estes dados acrescenta-se uma orientação da
linha de cumeadas predominante a SE, ou seja, perfeita, em função dos ventos dominantes de NE. A Ilha de São
Vicente apresenta vastas áreas com velocidades médias superiores a 8,5 m/s, o que demonstra o elevado potencial
eólico da Ilha, podendo ser considerada a Ilha com melhor recurso eólico do Arquipélago, tal como resulta da
observação da Figura 3.8
Figura 3.8 - Velocidade média do vento na ilha de São Vicente (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
Figura 3.9 - Rosa do Ventos e Histograma de velocidades médias de vento (RISØ National Laboratory, et al 2007)
Figura 3.10 - Velocidade média do vento na ilha do Sal (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
Os restantes locais da ilha apresentarão velocidades médias de cerca de 6,5 m/s, o que significa que se trata de
uma ilha com um bom potencial eólico, como pode observar-se pela Figura 3.10
iv) Ilha de São Antão – em contraposição, e apesar da proximidade com a ilha de São Vicente, a Ilha de Santo Antão
é, das ilhas estudadas pela RISØ, aquela que apresenta teoricamente um menor potencial eólico, com uma
velocidade média inferior a 5 m/s em quase toda a extensão da ilha. De salientar que não existem medições
nesta Ilha que corroborem esta análise. Este menor recurso pôde ser confirmado nas visitas efectuadas a
diversos locais onde, contrariamente ao que sucede nas restantes ilhas, a vegetação não se apresenta
deformada pelo vento.
A razão que poderá apontar-se para este facto, é o da orografia extremamente acidentada e complexa da ilha,
gerando um microclima específico, responsável pela diminuição do potencial eólico. A Figura 3.11 ilustra o
potencial eólico desta ilha.
Figura 3.11 - Velocidade média do vento na ilha de Santo Antão (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
Figura 3.12 - Velocidade média do vento na ilha do Fogo (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
vi) Ilha de São Nicolau – São Nicolau apresenta uma morfologia muito acidentada, determinando também assim
vertentes com melhor exposição ao recurso eólico e consequentemente zonas com maior potencial. Neste
sentido, destacam-se duas áreas com elevado potencial (velocidades médias acima dos 8 m/s), nomeadamente,
a área do parque natural do Monte Gordo e a área adjacente à localidade da Jalunga.
À semelhança da ilha adjacente de São Vicente, São Nicolau poder-se-á considerar como uma das ilha com
maior potencial eólico em todo o arquipélago, apesar de nesta ilha também não haver registos de medições de
recurso, pelo que a informação apresentada na Figura 3.12 resulta somente do modelo de mesoescala
existente.
Figura 3.13 - Velocidade média do vento na ilha de São Nicolau (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
Figura 3.14 - Velocidade média do vento na ilha da Boavista (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
viii) Ilha do Maio – esta ilha apresenta uma morfologia pouco acidentada sendo que a cota mais alta e pontual em
toda a ilha se encontra nos 388m no Monte Penoso. Esta morfologia, e uma vez que a presente análise assenta
sobre um estudo realizado à mesoescala, justifica o mapeamento apresentado - Figura 3.12. - de um recurso
eólico muito homogéneo em toda a ilha, da ordem dos 6,5 m/s.
Uma vez que nesta ilha não existem dados de medição de recurso eólico que corroborem a mesoescala
apresentada, outros indicadores como a perturbação da vegetação e o contraditório com habitantes locais,
confirmam a homogeneidade em termos de vento em todo o território, assim como, a orientação
predominante de NE.
Figura 3.15 - Velocidade média do vento na ilha do Maio (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
Figura 3.16 - Velocidade média do vento na ilha do Brava (resultado de simulação - RISØ National Laboratory, et al 2007)
4 CONCLUSÃO
A mesoescala realizada pelo RISØ, e que se reproduz neste estudo, deve ser entendida apenas como uma ferramenta de
aproximação na definição de zonas com maior probabilidade de apresentar potencial de recurso eólico.
Neste sentido, a fase seguinte de desenvolvimento passará, obrigatoriamente, por minimizar o erro associado à mesoescala e
a incerteza quanto ao real potencial eólico de locais já predefinidos.
Assim, a incerteza na avaliação do potencial eólico é algo que pode ser colmatado, minimizado, mas nunca evitado. Deve,
porém, procurar compreender-se:
as suas origens,
os maiores contributos e,
as soluções para a minimização desta “incerteza global”.
O termo de incerteza global surge em virtude das inúmeras fontes de incerteza que se coligem no desenvolvimento de um
projecto eólico associado a um recurso tão abundante como de difícil previsão.
Modelação numérica do escoamento - como qualquer modelo, este apresenta um erro associado, não só por se
tratar de uma simulação baseada em critérios empíricos, como também pela necessária dependência da qualidade
dos dados carregados no sistema. Quanto melhor a qualidade e representatividade dos dados introduzidos menor o
erro associado – 2% a 8%.
Medições de vento locais - As medições de recurso eólico deverão ser representativas, sendo que, as boas práticas
aconselham um período mínimo de dois anos de medições. No entanto, um ano de medições poderá já corroborar
a aptidão ou não de um local, sendo, todavia, um período de tempo reduzido para a tomada de decisão e execução
de um projecto, apresentando por conseguinte um grau de incerteza e erro ainda relevante.
Considerando um período de dois ou mais anos, o erro diminui, não sendo, contudo, eliminado, pois qualquer medição, em
rigor, é apenas uma amostra temporal e espacial de um local. Num site, dependendo da complexidade do mesmo, torna-se,
por vezes, necessária a colocação de várias torres de medição. Um último passo para minimizar o erro, em termos de
medições e resultados apresentados, passa pelo estabelecimento de correlações dos dados obtidos na campanha de
medição do parque, com séries temporais de registos (com 10, 15, 20 ou mais anos) de forma a perceber se as leituras
obtidas são coerentes com um padrão mais longo de análise – erro associado – 3% a 15%
Modelo do aerogerador e do parque - Relação entre incerteza (erro) em “m/s” e em “GWh” depende, em grande
medida, da turbina e do site em causa. Em termos de velocidade “m/s” um factor importante é a complexidade do
terreno, onde se incluem factores como a orografia, rugosidade e obstáculos, da qual resulta um factor de
incerteza compreendido entre – 2% a 8%
Também o desvio em termos de energia “GWh” depende do modelo de turbina utilizado e, consequentemente, do i) desvio à
disponibilidade esperada e/ou garantida, ii) do desvio da curva de potência esperada ou contratada. Esta incerteza situa-se
entre os 1% e 10%.
As soluções para minimizar esta incerteza e, diminuir o erro associado a esta tipologia de projectos passa,
fundamentalmente, por se garantir que não são omitidos quaisquer passos no desenvolvimento do projecto e que todas as
tarefas desenvolvidas são realizadas de acordo com as melhores práticas disponíveis. De entre essas tarefas, destaca-se a
medição do recurso eólico.
Assim, o passo seguinte, no desenvolvimento do sector eólico de Cabo Verde, deverá passar por uma campanha de medição,
ao nível do Arquipélago, que possa corroborar algumas das análises ora apresentadas.
A realização de uma campanha de medição terá como objectivo a validação/correcção dos mapas de mesoescala existentes
do potencial eólico no arquipélago de Cabo Verde, que constituem o âmbito do presente Estudo, nas zonas previamente
identificadas - “Zonas de Desenvolvimento de Energias Renováveis – ZDER”.
Recomenda-se, assim, a instalação de torres meteorológicas com sensores posicionados a uma altura, tão próxima quanto
possível, do eixo de rotação do aerogerador, com vista à determinação rigorosa do recurso energético do vento. Dadas as
dimensões das turbinas consideradas neste estudo, recomenda-se a instalação de torres meteorológicas com uma altura de
40 m, valor próximo da altura do Hub da turbina Vestas V52 considerada (49 m).
No que diz respeito à localização das torres meteorológicas, sugere-se a distribuição pelas nove ilhas consideradas no estudo,
conforme especificado no Quadro 4.1.
Ilha Nº de torres
Santiago 4
São Vicente 1
Sal 1
Santo Antão 1
Fogo 1
São Nicolau 1
Boavista 1
Maio 1
Brava 1
Total 12
No Quadro 4.2 encontra-se a descrição dos principais equipamentos que deverão constituir cada torre meteorológica.
Com base nos dados recolhidos poder-se-á proceder à caracterização do escoamento atmosférico para os locais em estudo,
inseridos em cada uma das ZDER. Para tal, deverão ser determinados os seguintes parâmetros, para as diversas alturas de
medição:
- distribuição espacial do fluxo de potência, velocidade média e número de horas à potência nominal.
Para a caracterização do perfil vertical de velocidades recomenda-se, uma vez mais, que uma das alturas de medição seja
semelhante à altura do eixo do rotor das turbinas, de forma a evitar a ocorrência de sobre-estimativas do recurso eólico.
Quando tal não for possível, deverá ser feita uma extrapolação dos valores da velocidade registada no anemómetro mais
alto, através da “lei de potências”. O expoente da equação deverá ser determinado, experimentalmente, com base nos dados
colectados a, pelo menos, duas alturas de medição, desde que uma delas corresponda à altura de referência meteorológica,
10 m.
Para uma melhor representatividade da variabilidade espacial do escoamento atmosférico nas imediações dos locais a
propor para a instalação das estações meteorológicas, dever-se-á utilizar um modelo de microescala, por exemplo WASP -
Wind Atlas Analysis and Application Program, modelo amplamente utilizado e reconhecido a nível mundial, com elevada
resolução espacial (ex: 10x10 m) em áreas com dimensão máxima, aproximada, de 10x10 km.
O modelo WASP tem a capacidade de descrever o perfil vertical das velocidades, considerando uma atmosfera em estado
neutro e, em regime de escoamento potencial.
Embora apresente limitações na descrição do escoamento em terreno complexo, o modelo WASP tem a capacidade de
adicionar, aos resultados obtidos, formulações simplificadas dos princípios físicos da camada limite atmosférica.
Para efectuar o mapeamento final do recurso eólico, sugere-se a aplicação de uma metodologia que permita obter a melhor
estimativa da distribuição do recurso eólico na área em estudo, e que consista, em cada ponto, na ponderação das
estimativas em função do inverso da distância dos mapas de recurso obtidos com cada uma das estações anemométricas.
Com recurso a estas ferramentas de modelação, é possível representar a distribuição espacial (sob a forma de cartas de
vento e atlas locais) da velocidade média do vento, da potência incidente e, do número de horas equivalentes à potência
nominal das turbinas (NEPS), tendo em conta o período de monitorização da campanha experimental.
A estimativa da produção energética dos parques eólicos constitui a fase última do processo. A estimativa anual da produção
de energia num determinado local poderá ser efectuada através da integração do produto da distribuição da velocidade do
vento (por intervalos de 1 m/s) pela curva de potência do (s) modelo(s) de aerogerador seleccionados.
A realização destes estudos permitirá estabelecer a localização óptima de cada aerogerador, nas ZDERs, tendo em conta o
recurso energético existente.
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