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Muito se tem lido e ouvido sobre o ritmo acelerado das evoluções científicas e
tecnológicas, que faz com que as pessoas se deparem com novos saberes a cada
momento. Sobre esse fato Marques relata que
Esse dinamismo faz com que seja essencial que a maneira de ensinar todo esse
conhecimento possibilite a formação de um aluno capaz de participar ativamente na
sociedade em que vive. A ausência de sentido para o conhecimento ensinado nas
escolas tem se constituído na maior dificuldade para sua aprendizagem.
Diante dessa realidade surge a necessidade de mudanças no processo de
ensino e aprendizagem e, para isso, certamente uma adequada formação inicial e
continuada dos docentes tornam-se essencial. De acordo com Guimarães et al.
Pensar em melhorar a formação dos professores e dos jovens, considerando que uma
leva à outra, implica, em primeiro lugar, conhecer os professores atuais e reconhecê-
los como sujeitos responsáveis por qualquer mudança significativa que possa ocorrer
na educação escolar. Nessa perspectiva, é necessário voltar nossos olhares para o
professor, não enquanto apêndice das reformas educacionais, mas enquanto sujeito
fundamental do processo de mudança (GUIMARÃES et al, p. 304).
Para García Pérez (2000), estudar a prática pedagógica dos docentes conduz a
um melhor entendimento do que eles pensam, possibilita uma análise do seu
desenvolvimento profissional e consequentemente melhorias em sua prática.
De acordo com Porlán e Rivero (1998), os professores são os únicos que podem
fazer evoluir o modelo de ensino dominante, o que justifica a investigação de suas
concepções e seus modelos de ensino.
Esses autores afirmam que ao proporem um modelo didático desejável para o
ensino de ciências não pretendem substituir o conhecimento dos professores, mas sim
melhorar progressivamente as ideias pré-existentes dos docentes, a forma como eles
pensam sobre seu jeito de ensinar (PORLÁN; RIVERO, 1998).
Os autores, a partir de diversos trabalhos de revisão e observação das aulas,
estabeleceram em linhas gerais como os professores descrevem, explicam e intervêm
nos processos de ensino aprendizagem na área de ciências e a partir daí caracterizaram
quatro modelos didáticos e de perfis profissionais: tradicional, tecnológico,
espontaneísta e investigativo. Os modelos baseiam-se em diferentes aspectos do
ensino: objetivos, conteúdos, metodologia e forma de avaliar.
O modelo tradicional se baseia na primazia do saber acadêmico. São também
chamados de formais, transmissivos ou enciclopédicos. Neste modelo, o ensino de
ciências tem como finalidade a transmissão dos valores dominantes da ciência,
considerada como superior, formando alunos que aceitam esses valores de forma
acrítica. A imagem do professor é a de um especialista em conteúdos científicos, que
transmite os mesmos para o aluno, o qual supostamente possui a mente vazia. Essa
transmissão ocorre de forma cumulativa, fragmentada e linear. O professor não se
preocupa em motivar o estudante, não consideram suas ideias prévias, nem suas
experiências de vida. Em relação às atividades didáticas o que se observa é um ensino
com poucos recursos didáticos, baseado em explicações do docente ou no livro texto e
na realização de exercícios de forma mecânica e repetitiva, sempre através de trabalho
individual. As avaliações são terminais e baseadas em provas, nas quais o que se avalia
é a memorização de definições que foram transmitidas, através dos exercícios
abordados em aula. O professor tem papel ativo, enquanto o aluno, passivo, o que nos
dias atuas parece algo inviável.
Como já se sabe, o desenvolvimento da ciência e tecnologia é um fato real e
ocorre rapidamente. No ambiente escolar percebe-se uma busca para atender a esse
desenvolvimento através do modelo tecnológico. Este apresenta um enfoque empirista,
caracterizado pela objetividade e infalibilidade do método científico. A aprendizagem é
concebida como a assimilação de significados acadêmicos pré-estabelecidos. Aos
conteúdos científicos são acrescidos conhecimentos relacionados a problemas
ambientais e sociais. Observa-se uma adaptação dos conteúdos das disciplinas
científicas à escola. Desta forma, a ciência é considerada como referência para o
conhecimento escolar. Em relação à metodologia percebe-se que as atividades são bem
delineadas e periódicas, incluindo atividades práticas e uso de materiais didáticos
atualizados a fim de atingir os objetivos propostos e proporcionar aquisição de
habilidades e destrezas aos alunos. Nestas atividades existe uma grande participação
dos estudantes, embora sempre de forma individual. Essa participação não ocorre no
planejamento das atividades e as ideias prévias dos alunos não são levadas em
consideração. O papel do discente, portanto, é o de executar as atividades
programadas e dirigidas pelo docente, que deve também expor o conteúdo e manter a
ordem. A avaliação tem como finalidade a quantificação da aprendizagem. O que se
avalia é se os conteúdos programados foram cumpridos. Existe uma preocupação com
o produto, mas também com alguns processos, uma vez que a eficiência do ensino é
essencial.
O modelo espontaneísta é caracterizado por menos rigor no que se refere a
teorias que fundamentem o ensino. Ele é considerado como uma alternativa
espontaneísta ao modelo tradicional. Supõe-se que os alunos possam aprender de
forma espontânea. A finalidade do ensino neste enfoque é tornar o estudante
consciente acerca da realidade que o cerca e que ele entenda que o conhecimento
verdadeiramente importante deve ser expressão de seus interesses e experiências.
Assim sendo, os conteúdos deverão ter como referência esses dois aspectos. As
atividades devem proporcionar ao discente a descoberta de sua realidade. Seu caráter
aberto, pouco programado e flexível deve fazer deste aluno protagonista do processo
de aprendizagem, onde o professor não deve intervir, a não ser que seja necessário. Os
conteúdos são menos importantes que a observação, a busca de informações e o
processo de descoberta. Portanto, os conteúdos procedimentais e atitudinais são
predominantes. Atitudes como a curiosidade, o senso crítico e o trabalho em grupo são
desejadas. A função do docente deve ser mais a de um líder afetivo e social e menos
um transmissor de conteúdos. Em relação aos recursos didáticos, vários deles são
utilizados, mas de forma assistemática. A avaliação tem por finalidade verificar a
dinâmica da aula através da participação dos alunos e de trabalhos por eles
produzidos. Isso pode ocorrer por meio de observações do professor, mas de forma
assistemática.
A partir de uma linha de investigação que busca um modelo didático que
demonstre uma evolução a partir dos outros modelos, surgem propostas que se
baseiam na aprendizagem escolar como investigação. Desta linha é que surge um
modelo didático alternativo, chamado de modelo investigativo na escola.
A finalidade educativa deste modelo investigativo é o aprimoramento do
conhecimento de forma a proporcionar aos alunos uma visão mais crítica e complexa
da realidade, a fim de que possam participar de forma responsável da mesma. Os
conhecimentos disciplinares são importantes, mas os conhecimentos cotidianos e a
problemática ambiental e social também são. A metodologia é baseada em um
processo, não espontâneo, de investigação escolar desenvolvido pelo aluno e auxiliado
pelo professor, de forma a favorecer a construção do conhecimento. As atividades são
de diferentes tipos, tais como, a problematização, conscientização de ideias prévias,
exposição a outras fontes de informação, questionadas, reelaboradas e aplicadas a
outros contextos. Os conhecimentos integrados podem ser trabalhados de forma a
proporcionar a ampliação progressiva dos conhecimentos dos alunos a conhecimentos
mais complexos, sendo essas as metas a serem alcançadas no processo de ensino e
aprendizagem. Dessa forma, não só os interesses dos estudantes são levados em conta,
mas também suas ideias prévias em relação aos conteúdos, promovendo assim a (re)
construção e a complexificação de conhecimentos. A avaliação busca detectar a
evolução dos conhecimentos dos alunos, da atuação do professor e do
desenvolvimento dos projetos de investigação, procurando analisar o processo de
forma sistemática, a fim de possibilitar reformulações na intervenção didática.
Seguindo esta linha investigativa encontram-se diferentes propostas
metodológicas. A proposta do educar pela pesquisa de Galiazzi, Moraes e Ramos
(2003), se constitui em uma metodologia que busca superar a aula caracterizada pela
simples cópia e inserir o uso da pesquisa na prática cotidiana da sala de aula. O que vai
ao encontro dos pressupostos do modelo investigativo, desejável de acordo com Porlán
e Rivero (1998).
Outra proposta é apresentada por Carvalho (2013). Ela explica que é
necessário criar um ambiente investigativo na sala de aula, sendo papel do professor
colaborar com esse processo. Para isso, ela propõe o uso de sequências de ensino
investigativas (SEI), isto é,
Sequências de atividades (aulas) abrangendo um tópico do programa escolar
em que cada uma das atividades é planejada, sob o ponto de vista do material e das
interações didáticas, visando proporcionar aos alunos: condições de trazer seus
conhecimentos prévios para iniciarem os novos, terem ideias próprias e poder discuti-
las com seus colegas e com o professor passando do conhecimento espontâneo ao
científico e tendo condições de entenderem conhecimentos já estruturados por gerações
anteriores. (CARVALHO, 2013, p. 9).
Além destas, na literatura encontram-se outras metodologias
problematizadoras ou pautadas em problemas, as quais serão apresentadas e
discutidas posteriormente.
Diante do exposto, percebe-se que o modelo de ensino desejável para
promover a formação de um aluno crítico e que participe de forma ativa da construção
do seu conhecimento requer que o professor adote uma prática diferente da
tradicional.
O papel do professor em um modelo de ensino mais adequado, que forme um
aluno mais crítico e que seja ativo na construção de seu conhecimento nada tem relação
com o docente que detém o saber científico e que transmite esses conhecimentos para
seus discentes. Este professor precisa, como já exposto no modelo investigativo, atuar
como um colaborador do processo de ensino e aprendizagem.
Para tal, seria bom que os professores conhecessem e utilizassem
metodologias de ensino adequadas, pautadas na investigação, visto que este processo
de ensino e aprendizagem nada tem de espontâneo. Nesse modelo de ensino, o aluno
desenvolve atividades investigativas e o docente auxilia nas atividades, de forma a
favorecer a construção do conhecimento. As atividades, para se atingir tal objetivo,
devem ser de diferentes tipos, tais como, a problematização, a conscientização de ideias
prévias, exposição a outras fontes de informação, questionadas, reelaboradas e
aplicadas a outros contextos.
Sequencia passos
Para que as aulas possam ter um caráter menos tradicional sugere-se a adoção
de uma metodologia de ensino que seja pautada em problemas que propicie uma
participação ativa do aluno em sua aprendizagem e para isto propõe-se uma sequência
de atividades destinada ao tratamento destes.
Esta sequência de passos não se constitui em algo rígido, visto que os saberes
dos professores são variados e heterogêneos em diferentes sentidos (TARDIF, 2000), e
estes diferentes saberes são determinantes em sua prática.
A seguir apresenta-se uma proposta de sequência de passos característicos do
processo didático, estas foram adaptadas de Linhares e Reis (2008).
Passo 1: Leitura do estudo de caso e resolução do problema inicial
Realiza-se a leitura do estudo de caso, que pode ser feita pelo professor ou pode
ser sugerido que os alunos se organizem em grupos e realizem a leitura. Em seguida
deve-se elaborar soluções acerca do problema proposto no fim do caso, dessa forma as
ideias inicias dos alunos ficam evidenciadas. O professor pode pedir para que eles
respondam por escrito, ou pode anotar no quadro as respostas dos grupos formados
pelos alunos. Percebe-se, portanto, que o professor tem flexibilidade em suas ações.
Passo 2: Exposição dos conteúdos.
Nesse momento o professor apresenta os conteúdos propostos e necessários
para os alunos responderem à questão ou problema proposto no final do caso. A
exposição é necessária e importante, Pozo e Crespo (2009) recorrem à Ausubel quando
ele explica que para que ocorra a compreensão, a aprendizagem significativa, não é
necessário recorrer às descobertas, mas sim melhorar a eficácia da exposição, agora se
referindo ao ensino tradicional. Quanto às atividades de ensino, seja uma exposição
oral ou escrita, esta deve estabelecer uma ligação entre a informação nova e os
conhecimentos que os alunos já trazem consigo.
Nesse período podem ser realizadas uma ou várias atividades, como por
exemplo: uso de um jogo, de uma simulação computacional, a leitura e discussão de
textos, júri simulado, experimentos históricos, encenação teatral, entre outras
possibilidades. Isso fica a critério do professor que certamente utilizará o que mais lhe
convier.
Passo 3: Retomada do problema inicial.
Neste passo final da aula deve-se encaminhar às soluções finais, ou seja, o
problema proposto no caso deve ser retomado e agora incorporando os conhecimentos
adquiridos ao longo do passo 2 o aluno deve apresentar a sua nova resolução. Espera-
se que os alunos possam responder ao problema de forma condizente com os
conhecimentos científicos.
Ao adotar uma metodologia como esta, usando o método de Estudo de Caso,
o aluno será levado a participar da aula, tomar decisões e resolver problemas, o que
não ocorre em uma aula tradicional.
Considerações
Referencias
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Disponível em: (http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/05/brasil-ocupa-60-
posicao-em-ranking-de-educacao-em-lista-com-76-paises.html. Acesso em: 04 jun 2016.
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http://www.springerlink.com/content/vrv362lwp211x211/fulltext.pdf.