1 Introdução
São definidos conceitos e apresentados métodos e procedimentos que visam e possibilitam
a atribuição de valor a terrenos em função da sua capacidade exploratória para construção
ou como meio de produção agrícola.
2 Métodos de Avaliação
Em geral a avaliação de terrenos pode ser realizada a partir de três abordagens distintas.
2.1 Terrenos com capacidade produtiva
A avaliação com base num dado ou determinado rendimento que permite atribuir o valor
que aqui se designa por V.B.R., Valor com Base no Rendimento. Esta abordagem é
aplicável fundamentalmente a terrenos agrícolas. O seu valor corresponde à actualização
das receitas líquidas que resultam da exploração de um dado terreno.
2.2 Terrenos com capacidade construtiva
A avaliação com base nos custos, de produção ou substituição, resultante da abordagem
pelo dito método do custo. Neste caso o valor do terreno corresponde à diferença entre os
proveitos e custos associados a um determinado investimento. Ao valor do investimento,
leia-se, valor baseado no custo, V.B.C., é deduzido o custo do investimento, sem o terreno.
Ao “resíduo” ou valor da diferença corresponde o valor do terreno.
2.3 Terrenos com capacidade construtiva – abordagem comparativa
Como já foi referido no curso, o acto de comparar exige condições que possibilitem essa
comparação, facto esse, que pressupõe variáveis da mesma índole, sendo natural que a
medida do valor seja tanto mais fiável quanto maior for a informação que se disponha de
um mercado suficientemente transparente, e de um volume adequado de transacções que
permitam uma base de referência satisfatória.
Não é contudo o caso dos terrenos, porquanto a sua tipificação explícita é impossível, i.e., a
heterogeneidade das características é de tal modo dispersa que inviabiliza a aplicação do
dito método comparativo.
No caso das edificações, o seu presumível valor de transacção (PVT) pressupõe a afectação
das áreas brutas envolvidas, e os parâmetros unitários que irão reflectir o comportamento
“Este coeficiente surge, por vezes, com definição diferente da habitual, como sendo o quociente
expresso em metros cúbicos por metro quadrado entre o volume total das construções
existentes ou edificáveis num lote ou numa parcela de território e a área desse mesmo
território ou lote”.
As avaliações com base na capacidade construtiva têm, geralmente, por base a parcela de
mais fácil quantificação e com maior peso no valor, o custo de construção. Assim é muitas
vezes encontrada a seguinte expressão:
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T I PVT 1 ( K M ) C c ; (2)
ou simplesmente:
T PVT 1 ( K M ) C ; (4)
Tenha-se em atenção que em muitos casos alguns encargos são fixados em função do
Custo do Investimento e não em função do valor do Investimento. Sendo a Margem a
diferença entre o valor e o custo do investimento a expressão (4) é ajustada em
conformidade.
T PVT 1 ( K (1 M ) M ) C ; (5)
Onde:
C0 – representa um valor reportado à data de avaliação;
C n – representa o valor reportado à data de ocorrência, ou seja ao fim de num dado
período n de tempo;
t a – taxa real de actualização que se pode explicitar:
1 j
ta 1; (7)
1 i
Nesta expressão:
j – taxa nominal de actualização sem incluir o prémio de risco;
i – taxa de inflação.
Considerando, para simplicidade de leitura, a seguinte igualdade ( 1 t a ) e a seguinte
simbologia para os prazos de ocorrência das parcelas que constituem um dado
investimento:
nV – Período de actualização correspondente à realização do valor do investimento
(PVT);
nI – Período de actualização para a realização das obras de infra-estruturas;
nC – Período de actualização do custo da construção;
nK – Período de actualização dos encargos indirectos com a construção;
nM – Período de actualização para a margem do investidor;
Ter-se-á para a mesma formulação das equações (3) e (4) as seguintes expressões:
T PVT nV ( T nk M nM ) C c nC I nI ; (8)
ou simplesmente:
T PVT nV ( T nk M nM ) C nC ; (9)
Repare-se que um terreno, numa dada localidade de elevada densidade, classificado numa
categoria inferior, pode valer mais que um terreno com a mesma capacidade construtiva
numa outra localidade de menor importância, demográfica ou outra, classificado numa
categoria superior.
Por exemplo, o valor de localização de um fogo no centro de uma cidade interior (E)
representará no exemplo do quadro acima 20% do valor do fogo. Considere-se o mesmo
fogo, características físicas e geométricas iguais, na periferia (D) de uma cidade de elevada
densidade, seja T 17% . Neste último, para que o valor do terreno seja 70% mais “caro”
em (D), basta que aqui o mesmo fogo seja o dobro do preço do que em (E), situação que é
verosímil.
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43 Avaliação pelo “cash-flow” – abordagem dinâmica
O estabelecimento de um dado cenário para a realização de um investimento a partir da
capacidade construtiva de uma dada área de terreno permite uma análise mais objectiva que
as anteriores.
De facto, ao ter em conta o valor temporal do dinheiro, a abordagem dinâmica permite
estabelecer critérios para os diversos cenários que se podem desenhar na montagem de um
operação de investimento imobiliário.
Esta questão irá ser tratada em artigo próprio, enquadrando-se nos métodos avançados de
avaliação.
Estes rendimentos podem ser substituídos por rendimentos anuais (A) equivalentes
R t
fazendo simplesmente A e substituindo na expressão (12) o valor do terreno
1 t k 1
é dado por:
R
T ; (16)
1 t k 1
Designação Valor
25 lugares de garagem 7500,0 €/un.
500 m² de área comercial 1000,0 €/m²
Fogos T2 1000,0€/m²
Fogos T3 960, 0€/m²
O investidor admite como mínimo e máximo para a margem do investimento valores entre
10% e 23% sobre o valor do investimento, sendo a margem a diferença entre o valor e o
custo do investimento.
Determine os valores, máximo e mínimo, a atribuir ao terreno.
R1– Abordagem estática.
O valor do terreno deve oscilar entre 133 000€ e 319 000€ aproximadamente.
Actividade Prazo
Custos de construção incluindo a parte das 18 meses
infra-estruturas
Início da comercialização 16 meses após o inicio das obras
Prazo para conclusão das vendas 12 meses após o final das obras
Os valores são considerados a preços constantes, pelo que a taxa na aplicar se deve deduzir
a inflação. Assim considere-se:
t a – taxa real de actualização que se pode adoptar a partir da equação (7):
1 j 1,05
ta 1 1 2,9% ;
1 i 1,02
Aplicando a expressão (10):
T PVT nV T 1 M nk M nM C nC
Onde:
PVT 1.587.500
1,029
18 12 / 2
nV nM 2 anos;
12
18 / 2
nC nk 0,75 anos;
12
Atente-se que estes prazos correspondem a uma duração total do investimento de 30 meses
ou seja 2,5 anos.
Vem para o valor do terreno incluído o projecto e considerando uma margem de 23%:
2
T P 1 587 500 1,029 0,1 1 0,23 1,029
0 , 75
0,23 1,029
2
948 000 1,029 0 , 75
106 911,0 €
Deduzindo o custo do projecto (2% do custo da construção) tem-se:
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T 106 911 0,02 948 000 87 951 €
Se no lugar de uma margem de 23% fosse, para o investimento, considerada uma margem
inferior, por exemplo os referidos 10%, ao custo do terreno corresponderia um valor
superior. Neste caso cifrar-se-ia em 262 658 €.
Admitindo que se pretende determinar qual o prémio de risco acima dos 5% para este
valor do terreno, 262 658 €, obter-se-ia um prémio de 7,2%, situação que se pode
confirmar com a aplicação da expressão (11), onde se obtém uma taxa de actualização igual
1 j r
a t a = 10,0%; ( t a 1 ).
1 i
6.2 Avaliação com base em indicadores
Presume-se os mesmos dados do problema anterior. Discutir o valor do terreno para um
prédio situado na área metropolitana de Lisboa ou em comparação na Região Centro com
os seguintes indicadores médios:
Zona e valores de venda médios T3 T2 Comércios Parqueamento
(€/m²) (€/m²) (€/m²)
Fonte “Primeyield”- Revista Vida Imobiliária Fev. 2006.
T 19 333,33 20,833 402 778 402 800€ resultando num valor unitário médio por ha
dado por:
402 800
v.uni/ha 12 990 €/ha .
31
Exercício
Decida que tipo de exploração optava para um terreno que tem capacidade produtiva para
obter rendimento líquido quinquenal no valor de 13 800,0 € (Caso A), ou, em alternativa
ser transformado para se obter um rendimento anual de 5 000,0 € (Caso B). No entanto, no
primeiro caso, o risco do negócio de exploração é muito reduzido, a taxa de actualização
dos rendimentos praticamente garantidos pode ser tomada igual a 5%. No segundo caso
considera-se que o facto de haver maior risco na exploração B se deve acrescentar um
prémio de 5%.