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A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR

Allan Duarte

Edição Exclusiva
Copyright © 2019, Allan C. Duarte.

Investindo sem mimimi: Conquiste a sua Independência Financeira


Edição Exclusiva

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vação ou quaisquer outros.

Autor: Allan C. Duarte


Site: www.allanduarte.com
E-mail: allan@allanduarte.com

2 O autor não assume quaisquer responsabilidades por eventuais perdas de bens oriundas do uso
deste material. Toda e qualquer decisão tomada após a leitura deste livro é de única e exclusiva
responsabilidade do leitor.
Sumário

1 A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR................................................................... 7

2 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS............................................................................... 19

HEURÍSTICAS E VIESES COGNITIVOS.................................................................................... 20

Efeito Disponibilidade............................................................................................................ 21

Representatividade................................................................................................................. 22

Ancoragem e Ajuste............................................................................................................... 23

Excesso de Confiança e Ilusão de Controle........................................................................ 24

Excesso de Otimismo, Efeito Manada e Armadilha da Confirmação............................... 24

Aversão ao Risco.................................................................................................................... 26

Incapacidade de Assumir Erros e Sunk Costs...................................................................... 27

Viés de Sobrevivência............................................................................................................ 28 3
SKIN IN THE GAME................................................................................................................... 30

PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA............................................................................................... 31

CONCLUSÃO............................................................................................................................. 33

3 UM POUCO DE HISTÓRIA........................................................................................... 39

A DIETA DOS CISNES NEGROS.............................................................................................. 40

MANIAS, BOLHAS ESPECULATIVAS E EVENTOS EXTREMOS............................................. 45

A Mania das Tulipas.............................................................................................................. 45

As Bolhas das Companhias dos Mares do Sul e do Mississipi.......................................... 48

A Bolha do Bitcoin (?)............................................................................................................ 52

4 MINDSET....................................................................................................................... 59

MINDSET FIXO VS. MINDSET DE CRESCIMENTO................................................................ 59

ATITUDES MENTAIS PARA SE ALCANÇAR A INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA................ 62

COMO DESENVOLVER HÁBITOS NOVOS E MODIFICAR ANTIGOS.............................. 64


5 FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO................................................ 67

COMO DOMINAR O FLUXO DE CAIXA DOMÉSTICO........................................................ 67

Receitas................................................................................................................................... 68

Despesas................................................................................................................................. 70

O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA............................... 72

OS QUESTIONAMENTOS MAIS COMUNS......................................................................... 74

6 ESPECULAR VS. INVESTIR............................................................................................ 87

ESPECULAÇÃO........................................................................................................................... 89

INVESTIMENTO.......................................................................................................................... 93

VALUE INVESTING E ANÁLISE FUNDAMENTALISTA....................................................... 94

7 ALOCAÇÃO DE ATIVOS............................................................................................... 97

TEORIA MODERNA DO PORTFÓLIO E ALOCAÇÃO DE ATIVOS....................................... 98

4 Risco e Retorno....................................................................................................................... 99

Diversificação......................................................................................................................... 102

8 PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS..... 113

ATIVOS FINANCEIROS............................................................................................................. 114

RENDA FIXA................................................................................................................................ 115

Títulos Públicos Federais (Tesouro Direto)............................................................................. 118

Títulos Privados....................................................................................................................... 120

Títulos Privados Garantidos pelo FGC............................................................................ 120

RENDA VARIÁVEL....................................................................................................................... 122

Ações....................................................................................................................................... 122

Exchange Traded Fund (ETF)................................................................................................. 124

ANÁLISE DAS PRINCIPAIS CLASSES DE ATIVOS DISPONÍVEIS NO BRASIL..................... 125

Títulos Pós-Fixados – CDI...................................................................................................... 126

Títulos Prefixados – IRF-M 1+............................................................................................... 128


9 ENFIM, PRÁTICA........................................................................................................... 131

PLANEJAMENTO FINANCEIRO............................................................................................... 131

CALCULADORA DA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA........................................................... 134

MONTANDO A PRÓPRIA CARTEIRA DE INVESTIMENTOS................................................. 138

O Passo-a-Passo para Montar a Sua Carteira de Investimentos....................................... 139

PERFIS DE INVESTIMENTO E EXEMPLOS DE CARTEIRAS..................................................... 140

PERFIL 1: RUBENS – DEVAGAR E SEMPRE (CONSERVADOR)....................................... 141

10 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 145

Bibliografia......................................................................................................................... 149

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A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR
TUDO o que você precisa saber para aposentar por conta própria

D
urante anos, auxiliei amigos e familiares em questões relacionadas a dinheiro, orçamento
doméstico, poupança e investimentos. No entanto, quando me pediam indicações de
cursos e livros sobre o assunto, eu não ficava confortável em recomendar as opções
existentes no mercado. Para mim, os materiais de educação financeira disponíveis no Brasil se
enquadram em duas amplas categorias de extremos: ou são absurdamente técnicos, de linguagem
pouco acessível, cansativos e muito focados em fórmulas e nos aspectos quantitativos das finanças,
ou são simplistas demais, voltados apenas para a autoajuda financeira. As poucas opções de
7
leituras que eu julgava serem interessantes eram totalmente direcionadas para o mercado dos
Estados Unidos – ou seja, ignoravam completamente a realidade brasileira e muitas vezes sequer
possuíam tradução para o português. Enfim, a minha percepção era a de que não havia um
material, ao mesmo tempo, simples e completo, com linguagem acessível e conteúdo prático, que
eu pudesse indicar para que meus amigos e familiares se aperfeiçoassem nesses assuntos.

Com o objetivo de suprir essa lacuna, elaborei este guia. O material teve um feedback tão positivo
de todos que o leram que decidi aprofundar muito mais os assuntos que introduzo aqui no meu
curso “Como Investir: O Curso Definitivo”, no qual trato, além destes, de tópicos mais elaborados
sobre investimentos.

A ideia do guia é conversar com você sobre finanças pessoais, investimentos e mercado financeiro
de forma bem simples, descontraída, direta e transparente. Não vou ficar me aprofundando em
termos complexos, fórmulas matemáticas ou conceitos estatísticos avançados (que são, na maior
parte das vezes, completamente inúteis). Esqueça o academicismo e o “economês” tradicionais.
Pelo contrário, meu intuito é ser claro, pois quero lhe ajudar a construir uma base sólida em
finanças, que será realmente útil para o maior número de pessoas “de verdade” – que recebem
salário, pagam contas, poupam algo todo mês (ou ao menos gostariam de poupar) e investem o
próprio dinheiro – embora não saibam muito bem como fazer tudo isso de um modo eficiente.

Assim, vou falar de uma maneira acessível para pessoas inseridas nos mais diversos contextos
sociais e com as mais diversas formações, seja você ainda um estudante, alguém com ensino médio
incompleto, pós-doutor em direito, mestre em engenharia, bacharel em medicina, educação física,
história ou administração. Ao final da leitura deste guia, você estará apto a compreender tópicos
importantes relacionados ao universo das finanças, gestão de orçamento doméstico e realização
de planejamento financeiro. Com isso, espero que esteja mais bem preparado para obter sucesso
investindo no longo prazo. A minha meta definitiva é que você consiga se tornar financeiramente
independente.

Para mim, ser financeiramente independente significa acumular investimentos que sejam capazes
de render com segurança, em termos reais (ou seja, já repondo as perdas inflacionárias), um

8 montante superior às suas despesas anuais. Alcançar esse objetivo permitirá que você tenha
uma vida mais tranquila, sem a tensão de depender de planos externos de aposentadoria e
com liberdade e tempo para fazer o que você quiser. Sendo financeiramente independente,
não precisará passar o restante da sua vida fazendo o que não gosta. Pelo contrário, poderá
concentrar-se no empreendimento que desejar, mas que, no momento, parece impossível, seja este
uma viagem exótica ou uma mudança profissional.

Que fique claro: a ideia deste livro não é a de que você simplesmente acumule dinheiro pelo
dinheiro, sem quaisquer propósitos, mas que, ao deixar de ser oprimido por questões financeiras,
você passe a desfrutar de uma vida mais confortável e prazerosa e viva momentos mais agradáveis
ao lado de amigos e familiares, sem o gigantesco peso dos seus problemas financeiros nas costas.
Em resumo, quero lhe proporcionar muito mais qualidade de vida.

Para esse sonho ter a chance de se concretizar, você terá de mudar a sua relação com o dinheiro.
Dinheiro é sinônimo de estresse, insegurança e problema para a maioria das pessoas. A minha
missão é que, para você, dinheiro se torne sinônimo de tranquilidade, segurança e solução. Um
A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR

aliado, ao invés de um inimigo. Quero que domine o dinheiro e pare de ser subjugado por ele.
Farei isso ensinando-lhe os aspectos psicológicos e operacionais que precisa desenvolver para
alcançar sua independência financeira. Mas, afinal, quem sou eu?!

Sempre me interessei por investimentos. Lembro-me de estudar economia e, especificamente,


mercado financeiro desde os 12 anos de idade, quando pedi a assinatura de uma revista
especializada na área de presente de aniversário para os meus pais (para ser sincero, tentei essa
assinatura a todo custo antes, mas como meu pai, que não era lá muito mão aberta, se recusava
a me dar, não tive outra alternativa a não ser pedir de aniversário, foi o jeito...). Desde então,
passei a consumir todo conteúdo sobre o assunto em que consegui colocar as minhas mãos. Li
tudo o que pude online, pedi livros de presente de natal (mesma tática infeliz anterior) e comprei
vários outros com o dinheiro que conseguia juntar na época. Eu me recordo de devorar e anotar o
livro “Como fazer uma empresa dar certo em um país incerto”, do Instituto Empreender Endeavor,
que trazia conceitos práticos impagáveis sobre empreendedorismo e gestão orçamentária. Mais
tarde, também me lembro bem de comprar o livro “A bola de neve”, biografia do – então pouco
conhecido nacionalmente, mas agora “pop” – investidor Warren Buffett, ainda em seu pré- 9
lançamento. Engoli suas quase mil páginas em poucos dias. Depois ainda o reli mais duas vezes,
fiz anotações e o resumi completamente. Fiz isso com mais inúmeros livros, sejam eles biográficos
ou técnicos, indo de Benjamin Graham a George Soros, Peter Lynch a Alexander Elder, passando
por Robert Shiller, Daniel Kahneman, Richard Thaler, Nassim Nicholas Taleb, Edward Thorp, Burton
Malkiel, William Bernstein, Richard Ferri e muitos, muitos, muitos outros.

Sou formado em Relações Internacionais, pela Universidade de Brasília (UnB). Durante a


graduação, fiz um intercâmbio de um semestre na Universidade de Estocolmo, na Suécia, onde
“estudei” Política e Economia Internacional (digo “estudei”, entre aspas, porque admito que estava
bem mais interessado em mochilar pela Europa que em ficar na sala de aula). Nessa época,
aprendi algumas valiosas lições sobre recursos escassos, pois tinha que optar entre não viajar,
por falta de grana, ou viajar e conhecer outro país, mas pular uma (ou duas, ou três, ou todas...)
refeição, além de dormir no aeroporto, na ferroviária ou em um quarto de albergue com mais
dezessete pessoas. Em seguida, depois de formado, cursei Economia, também na UnB, iniciei
um MBA em Finanças, no IBMEC, e estudei Medicina na Escola Superior de Ciências da Saúde
(ESCS), do Distrito Federal, mas acabei abandonando esses cursos, por acreditar que poderia
aplicar, por conta própria, meu tempo de modo mais produtivo nos meus investimentos e em prol
de absorção e repasse de conhecimento relevante para pessoas com pouco acesso ao ambiente
e à linguagem acadêmica – algumas das razões que me levaram a escrever este livro.

Sobre a minha experiência profissional, desde cedo, sempre gostei de empreender. Aos seis anos
de idade, comecei a vender livros antigos da minha avó. Montei uma banquinha com caixas
de papelões na frente da loja do meu avô e anunciei os meus produtos. Como o meu “ponto de
venda” ficava em uma rua muito movimentada, rapidamente expandi meu mercado, passando a
ofertar também balas e chicletes. Meu objetivo? Comprar figurinhas para o álbum do Campeonato
Brasileiro. Após acabar com o estoque de livros que minha avó permitiu que eu vendesse, passei
a vender bijuterias na minha escola. Eu fazia pulseiras e colares de miçangas e levava para
vender para os meus colegas. Após os convencer de que deveriam comprar as bijuterias para as
suas mães, precisei contratar uma assistente (a minha mãe). Durante a infância e a adolescência,
10 também estabeleci um monopólio no mercado de figurinhas de Pokémon na escola e vendi diversos
produtos na internet, aproveitando a ascensão do Mercado Livre.

Ainda durante a faculdade, trabalhei na Câmara Americana de Comércio (Amcham) e, logo após
a minha formatura, fui selecionado pelo programa de trainees e talentos da Ambev, onde trabalhei
até resolver largar tudo e estudar para um dos concursos públicos mais difíceis e concorridos do
Brasil, o do Senado Federal. Fui aprovado para os cargos de Analista Legislativo e de Consultor
Legislativo quando tinha vinte e três anos de idade. Aproximadamente na mesma época, também
passei no concurso para Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados, cargo que optei por
não assumir. Desde então, atuei como coach para concursos, fui sócio de uma empresa e uma
startup em áreas distintas e, atualmente, ainda trabalho como Consultor Legislativo do Senado
Federal. Ademais, possuo os certificados de Especialista em Investimentos (CEA), pela Anbima
(Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), e de Agente
Autônomo de Investimentos, pela Ancord (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras
de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias).
A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR

Feitas as apresentações, vamos ao que interessa. Quando passei a ter um salário estável, saí
dos simuladores e passei a atuar diretamente no mercado financeiro, estudei tudo o que você
puder imaginar sobre finanças, investimentos e trading: alocação de ativos e gestão de carteira,
análise fundamentalista, análise técnica, tape reading, ações, opções, contratos futuros, day trade,
swing trade... Enfim, muita, muita coisa... Sinceramente, não faço ideia de quantos livros e artigos
já li, e continuo lendo diariamente, mas garanto que foram muitos. Embora não me lembre de
todos, vou procurar citar os principais sempre que julgar pertinente, de acordo com a temática de
cada tópico, para que o leitor mais curioso possa se aprofundar nos assuntos pelos quais mais se
interessar. Também indicarei alguns links externos, para que a sua experiência de leitura seja mais
prazerosa.

Além do estudo teórico, como já disse, arregacei as mangas e fui para a prática. Já tenho mais
de sete anos de experiência relevante como investidor. Durante esse tempo, tive experiências
importantes no mercado, passei por épocas de crise, por diferentes cenários macroeconômicos e
obtive resultados positivos e negativos substanciais (para você ter ideia, já fui de ganhos de mais
de 300 mil reais em dois meses a perdas de mais de 100 mil em um único dia, o que ocorreu em 11
razão de decisões absolutamente erradas – mas valiosíssimas em termos de aprendizado – que
tomei, como você mesmo perceberá após a leitura dos capítulos seguintes).

Portanto, creio que um grande diferencial deste livro seja que ele foi escrito por alguém que,
definitivamente, sempre sentiu na pele os riscos do mercado, por colocar o próprio dinheiro em
jogo. Acredite, isso é muito diferente de simplesmente fazer análises de cunho exclusivamente
teórico ou que recomendem o que outras pessoas devem fazer. Eu tive, e continuo tendo, como
dito por Nassim Nicholas Taleb, “skin in the game” – não se preocupe, falaremos melhor desse
termo mais à frente. Os meus estudos e as dores provenientes de todo esse contato com o mundo
real me permitiram compreender muito bem tanto os meus erros quanto os meus acertos, bem como
definir a abordagem sobre investimentos que julgo ser a mais eficaz.
A disciplina no campo orçamentário (poupar e investir consistentemente) e a estratégia correta
de investimentos, aliadas a muita dedicação e paciência, permitiram que eu alcançasse o meu
primeiro milhão ainda aos 28 anos de idade (e dobrasse esse valor nos dois anos seguintes),
partindo completamente do zero (na realidade, para ser sincero, partindo do negativo, pois tive
que pegar um empréstimo pessoal para me manter por um tempo depois que larguei meu emprego
na Ambev para estudar para concursos.

Enfim, acredito que, justamente por possuir formações e experiências tão diversas (ter acertado
e errado bastante, bem como analisado a fundo tais situações), conseguirei ser hábil o bastante
para compreender suas reais necessidades e falar a língua de pessoas que atuam em campos tão
variados, fugindo dos tradicionais jargões econômicos e acadêmicos e, principalmente, das dicas
milagrosas de “gurus” oportunistas, que tanto atrapalham a disseminação do conhecimento em
finanças.

Sendo assim, irei direto aos pontos mais importantes e tentarei explicá-los da forma mais sucinta que

12 conseguir, a fim de abordar tudo o que acho necessário e essencial para que você possa cuidar
do seu orçamento e dos seus investimentos de forma adequada, visando a uma aposentadoria
tranquila, sem depender do Estado e sem se preocupar com o boato da semana sobre a reforma
da previdência que está circulando no Whatsapp.

Por falar nisso, encare o fato, uma reforma na previdência não é questão de “se”, mas de “quando”.
O Brasil não tem condições de sustentar um sistema como o atual e, caso não ocorram reformas,
a catástrofe será ainda maior, pois o país simplesmente não terá como pagar os benefícios dos
aposentados, como ocorreu na Grécia. Esse não é um problema exclusivamente nosso (apesar de
ser maior aqui), mas de vários países, inclusive dos mais ricos. A expectativa de vida da população
mundial está cada vez maior e a taxa de natalidade vem caindo sistematicamente. O resultado é
que, segundo dados do Fórum Econômico Mundial, o déficit do sistema previdenciário das maiores
economias do mundo cresce vertiginosamente e, até 2050, deve ser maior que cinco vezes o
tamanho de toda a economia global. Ou seja, é uma bomba relógio prestes a explodir. Portanto,
pare de depender do Estado e assuma a responsabilidade da sua vida financeira.
A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR

Obviamente, como você verá em detalhes, não existe retorno sem risco e nem certezas absolutas
no mercado financeiro. Se você acha que vai ler este livro, colocar mil reais na corretora e ficar rico
amanhã, desculpe-me de coração, queria muito poder te ajudar com isso (e me ajudar também),
mas não vai rolar, pode parar de ler por aqui... Ainda que os “gurus” do mercado que lotam sua
caixa de e-mails digam algo semelhante, vou te contar algo que, no fundo, eu tenho certeza que
você já sabia: eles estão mentindo...

Assim, ainda que este livro possa guiá-lo a uma situação financeira mais saudável no longo prazo,
nunca existirão resultados garantidos e o seu sucesso nesta área, como em tudo na vida, dependerá
muito de dedicação, disciplina e paciência. Sabe quem concorda com isso?! Ninguém menos
que George Soros – conhecido por ser um dos maiores especuladores de todos os tempos, ele
disse que “se você está se divertindo com seus investimentos, então provavelmente está perdendo
dinheiro. Investir da forma adequada é entediante”.

Aliás, na minha opinião, os aspectos emocionais e comportamentais são até mais importantes
que o conhecimento técnico, pois, ainda que você provavelmente não consiga acumular muito
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dinheiro sem o último, certamente vai quebrar sem o primeiro. Por esse motivo, inverti um pouco a
organização tradicional de livros que tratam da gestão de ativos e vou iniciar falando de economia
comportamental, mindset e psicologia. Sem isso, acredite, você nunca – repito, nunca – será bem-
sucedido poupando e investindo.

Portanto, dedicarei o próximo capítulo deste livro aos aspectos comportamentais que influenciam,
muitas vezes sem você sequer perceber, as suas escolhas financeiras. Constantemente, o nosso
cérebro toma decisões instantâneas que, apesar de não notarmos, podem resultar em verdadeiras
catástrofes para o nosso bolso. Para evitar esses prejuízos, é essencial que você tenha consciência
do processo cognitivo utilizado pela sua mente para fazer uma escolha. Assim, poderá se blindar,
tanto quanto possível, de vieses e erros comportamentais que acompanham os seres humanos
desde os tempos das cavernas.
Dando sequência ao estudo das emoções humanas e dos equívocos financeiros proporcionados
por estas, no terceiro capítulo, irei abordar um pouco de história. A ideia é já introduzir o conceito
de risco, que será fundamental para o resto da sua vida. Com tal intuito, acho importante que o
leitor conheça mais sobre eventos extremos e imprevisíveis e sobre algumas das principais bolhas
e manias que assolaram a humanidade. Ao estudar como e porque surtos especulativos ocorrem,
você saberá como se comportar adequadamente em situações semelhantes, que inevitavelmente
voltarão a acontecer.

Quem comprou ações, em 2007, ou bitcoins, em 2017, sabe muito bem da importância desse
capítulo. Como disse Isaac Newton, que perdeu uma fortuna em uma das maiores bolhas que já
existiram, ao comprar ações da Companhia dos Mares do Sul, na Inglaterra, “eu posso calcular
o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas...”. É isso mesmo, caro leitor,
se o Newton, o Newton! – aquele cara do livro de Física, cujas leis de trezentos anos atrás você
precisou do ensino médio inteirinho para decorar, na maior sofrência, para ainda errar tudo no
vestibular ou no Enem –, quebrou tentando investir em ações (na verdade, ele estava especulando,
14 o que é muito diferente de investir, conforme veremos mais à frente), você ainda acha que vai
chegar na frente do seu computador, abrir o home broker, “comprar Petrobrás” e ficar rico do dia
pra noite?! Deixe-me te contar um “segredo”, não vai... Mas, veja o lado bom, isso prova que você
não precisa ser um gênio para se dar bem no mercado financeiro (que alívio, hein?!). Apesar de
o Newtão ter quebrado, inúmeras outras pessoas consideravelmente menos inteligentes se deram
muito bem investindo. Obviamente, você precisará saber o que e como fazer, ter a mentalidade
adequada e o foco no lugar certo.

Prosseguindo, o capítulo quatro irá abordar a mentalidade correta para se lidar com dinheiro.
Sim, existe uma forma de pensar mais propícia para que você alcance o sucesso financeiro.
Infelizmente, é comum que muita gente boa de serviço não prospere simplesmente porque subestima
a importância dos seus pensamentos. Ademais, é absolutamente fundamental a qualquer um que
aspire ser financeiramente independente desenvolver certas características e habilidades. Há
como utilizar estudos científicos a nosso favor, mediante técnicas de visualização e alteração de
hábitos. Ensinarei como você poderá fazer isso.
A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR

Por sua vez, o quinto capítulo terá a missão de desvendar os labirintos das suas finanças
domésticas. Com tal intuito, irei sugerir uma metodologia para que você passe a se organizar e,
preservando sua qualidade de vida no presente, busque alavancar suas receitas, cortar despesas
desnecessárias e, em última instância, economizar consistentemente, mês após mês. Ao final,
também responderei questionamentos cotidianos que todos nós temos: afinal, é melhor comprar
uma casa ou alugar?! Utilizar cartão de crédito ou pagar à vista?! Enfim, o objetivo desse capítulo
será fazer um raio-X completo na sua vida financeira, para que você consiga organizar de vez o
seu orçamento doméstico.

Como existe muita curiosidade – e confusão – sobre o tema, vou dedicar o sexto capítulo todinho
para esclarecer as diferenças entre especulação e investimento. O intuito é que você pare de jogar
dinheiro fora no mercado com especulações infrutíferas achando que está investindo. Para tanto,
precisará conhecer as diferenças de mentalidade entre um especulador e um investidor, bem como
os principais conceitos e técnicas envolvidos nas duas atividades.

Avançando mais, a tarefa do sétimo capítulo será a de oferecer uma visão geral sobre o mundo
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dos investimentos. Assim, iremos falar de teoria moderna do portfólio, estratégia de alocação de
ativos (asset allocation), relação de risco e retorno, como diversificar e equilibrar adequadamente
uma carteira de investimentos e muito mais.

Em seguida, no capítulo oito, esclarecerei tudo sobre os produtos disponíveis para o investidor
comum no Brasil, tanto na renda fixa quanto na variável. Muitos de vocês devem ficar perdidos com
tantas opções, termos e siglas diferentes (LCI, LCA, CDB, CRI, CRA, LC, ETF, BDR, COE, Debênture,
Fundo Multimercado, FII e por aí vai). Por isso, elucidarei as principais dúvidas sobre todas essas
alternativas de investimentos – o que são, quais são os riscos reais envolvidos, como escolher entre
elas, quais impostos existem, quais as pegadinhas que muitas vezes os bancos e as corretoras não
explicam, etc. Para finalizar o assunto, já pensando em te munir de informações suficientes para a
elaboração de um portfólio de investimentos de sucesso, farei investigações de risco, rentabilidade
histórica, correlações, análises e comparações de todos esses ativos.
Já no nono capítulo, irei ensiná-lo a tomar decisões práticas, por conta própria, sobre seu portfólio
de investimentos. Com essa finalidade, falarei sobre como definir seu perfil de risco, entender
seus objetivos e transmiti-los para sua carteira de investimentos, ou seja, explicarei como poderá
fazer seu próprio planejamento financeiro, calcular suas metas de poupança e aposentadoria,
operacionalizar seu portfólio, definir percentuais para classes e subclasses de ativos, etc. Importante
ressaltar que darei especial atenção às peculiaridades dos ativos brasileiros, diferentemente de
todos os livros que conheço, que focam em ativos disponíveis para investidores norte-americanos,
cujo mercado é absurdamente diferente do nosso, o que dificulta bastante para investidores
nacionais que buscam se aperfeiçoar na área.

Quanto ao tema, vale um alerta, o objetivo do livro não é indicar diretamente os produtos nos
quais você deverá colocar seu dinheiro. Isso você mesmo deverá definir, de acordo com o seu
perfil e seus interesses. O meu intuito é ensinar-lhe, de modo claro e abrangente, quais as opções
de investimento que possui e como poderá tomar suas próprias decisões de forma autônoma, a
fim de alcançar a sua tão sonhada independência financeira. Em síntese, o objetivo deste livro é
16 estritamente educacional.

No capítulo final, farei uma conclusão de tudo o que foi visto, destacando os pontos essenciais
cobertos pela obra, dos quais você não poderá se esquecer de jeito nenhum.

Em suma, o objetivo deste livro digital é suprir todas ou, ao menos, a maioria das suas dúvidas
sobre finanças pessoais e investimentos. Para conquistar tamanha façanha, inevitavelmente, terei
que fazer uso de alguns estudos de autores acadêmicos importantes, pois muito da base intelectual
necessária para que você aprenda tudo o que quero lhe ensinar depende da correta interpretação
desses textos. Todavia, a minha linguagem será acessível e a minha abordagem bastante crítica.
Sei que minhas pretensões são altas, mas espero conseguir cumpri-las.

Por tudo isso, este guia será nada convencional, muito diferente do que você esperaria de uma
obra tradicional sobre finanças, iremos tratar do assunto de uma maneira simples, leve e didática,
mas, ao mesmo tempo, completa, precisa e aprofundada. O foco será sempre no seu aprendizado
A HISTÓRIA DESTE EBOOK E DO AUTOR

prático e na sua evolução como gestor do seu dinheiro. Dessa forma, espero que, após devorar
impiedosamente todas as páginas deste guia, você deixe de ser apenas um pequeno gafanhoto
perdido, afoito e ávido por conhecimento e se torne um investidor racional, paciente e capaz de
alcançar a própria independência financeira, mesmo vivendo em um país tão complexo quanto o
nosso. Sem mais mimimi, é hora de começar com conteúdo de verdade.

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2
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS
Como evitar que as suas emoções te impeçam de enriquecer

Q
uando alguém decide escrever um livro é muito difícil definir por onde começar. Um
indivíduo metido a engraçadão pode dizer “ué, comece do começo”, mas é difícil
definir o que é o começo de um tema não linear. Assim, a fim de construir a estrutura
do livro da forma mais didática possível, fui pesquisar no dicionário o significado de “começo” e
este, bem “dicionariamente”, me informou que é o “ato ou efeito de começar” – ok, muito obrigado
dicionário, acho que quem te escreveu foi o engraçadão que eu citei há pouco...
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Portanto, com tal ajuda excepcional, resolvi que o meu começo seria pelo tema que julgo ser
basilar, ou seja, essencial para a melhor compreensão e aplicação de todo o conhecimento que
este livro deseja passar. Para mim, esse tema é o lado psicológico envolvido nas decisões de
poupança e investimento das pessoas.

A verdade, meu pequeno gafanhoto, é que o tal do “serumaninho” (termo cunhado pelo pensador
jamaico-brasileiro Mustafary), como você certamente já deve ter percebido empiricamente, é
um péssimo tomador de decisões, influenciado por inúmeros fatores emocionais, preconceitos,
opiniões alheias e vícios comportamentais. Apesar disso, a teoria econômica clássica adotou
modelos e pressupostos que dependem da racionalidade absoluta do ser humano, sempre capaz
de maximizar suas decisões e decidir pelo melhor resultado possível dentre suas opções. Nem
preciso dizer que tais modelos encontram grandes dificuldades de verificação prática no mundo
real. Por isso, uma vertente da Economia, bastante amparada na Psicologia, ganhou muito espaço.
Entre seus principais expoentes, destacam-se autores como Daniel Kahneman, Richard Thaler e
Robert Shiller, todos vencedores do prêmio Nobel de Economia. Suas pesquisas focaram nos
aspectos comportamentais que tanto influenciam as pessoas – que, definitivamente, não são
plenamente racionais – a tomarem as suas decisões, inclusive financeiras.

Simplificadamente, nossas mentes tendem a utilizar vários atalhos para facilitar nosso processo de
tomada de decisões. No entanto, muitas vezes, tais atalhos geram vieses, julgamentos incompletos
e outras falhas cognitivas, violando totalmente os pressupostos da escolha ótima e sempre racional.
Ao mesmo tempo, nossas emoções e fatores psicológicos diversos – como os “espíritos animais”,
descritos inicialmente por John Maynard Keynes e amplamente estudados por Robert Shiller e
George Akerlof – exercem papel preponderante nas nossas decisões. Esses erros cognitivos e
espíritos animais repercutem, em última instância, na economia como um todo, a qual, de tempos
em tempos, parece ser propensa a dar alguns passeios de montanha-russa, como ficará claro ao
discutirmos a euforia e o pânico presentes em momentos de grande insensatez que já assolaram
a humanidade.

HEURÍSTICAS E VIESES COGNITIVOS


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Se você duvida que nossa mente é falha e movida por diversas emoções ao tomar uma decisão,
provavelmente nunca deixou para estudar em cima da hora para uma prova muito importante,
mesmo sabendo que a matéria era enorme e que, se fosse mal, reprovaria na disciplina; também
nunca quis comprar uma roupa da qual não precisasse simplesmente porque a peça está
bombando nas redes sociais das suas blogueiras prediletas; tampouco dirigiu após ter bebido só
uma cerveja com os amigos; nem decidiu pelo modelo da tv ou do computador novo com base
exclusivamente na opinião de um familiar “entendido” do assunto; muito menos entrou no bolão
da mega-sena da firma por medo de todos ganharem e só você ficar de fora. Enfim, não preciso
continuar argumentando, pois você e eu sabemos que tomamos decisões imperfeitas e irracionais
(no sentido econômico, ou seja, não ótimas para maximização de benefícios a nosso favor) o
tempo todo.

Confiantes na falibilidade dos seres humanos, durante aproximadamente quatorze anos, Daniel
Kahneman e Amos Tversky, pesquisaram os nossos processos de tomada de decisão. Eles
investigaram como a nossa mente funciona, o que a influencia e qual o real papel da racionalidade,
das emoções e dos vieses intuitivos nesses processos. Os pesquisadores chamaram os métodos
simplificados que utilizamos para tomar decisões de heurísticas e descobriram inúmeros vieses
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

– manifestações práticas de tais heurísticas –, que nublam nosso julgamento. Esses insights
revolucionaram a economia tradicional e deram início a um novo campo de estudo – o da
Economia Comportamental. Curiosamente, os precursores dessa área foram dois não-economistas
(tanto Kahneman quanto Tversky são psicólogos).

Vou destacar neste livro as principais heurísticas e vieses psicológicos que, para mim, mais afetam a
tomada de decisões do investidor. O objetivo não é uma lição acadêmica, então não se preocupe
tanto em decorar termos. Busque apenas compreender as armadilhas mentais que você arma para
si mesmo, a fim de evitá-las no futuro. As principais falhas comportamentais às quais você deve
se atentar são: efeito disponibilidade (memória recente), representatividade, ancoragem e ajuste,
excesso de confiança, ilusão de controle, efeito manada, armadilha da confirmação, aversão ao
risco, incapacidade de assumir erros e viés de sobrevivência.

• Efeito Disponibilidade

Kahneman e Tversky descobriram que o ser humano se prende muito à sua memória curta, imediata,
para tomar decisões rápidas, porém imperfeitas. A partir de seus estudos, elaboraram a ideia da
21
heurística da disponibilidade, que afirma que as pessoas tendem a estimar a frequência ou a
probabilidade de ocorrência de um evento simplesmente pela facilidade com que se lembram de
exemplos e situações semelhantes. Pare e pense, alguma vez você achou que as ações da Petrobras
iriam subir simplesmente porque se lembrou que viu no jornal que elas tinham se valorizado no dia
ou na semana anterior?! Ou decidiu comprar um produto específico por lembrar da dica de um
amigo, dada em uma conversa de bar no último final de semana?!

Vou escrever um exemplo que, tenho certeza, fará com que você aprenda essa heurística de vez:
na Copa do Mundo de 2018 eu tenho certeza que você e muitos de seus amigos botaram a maior
fé na Alemanha e, nos seus bolões, apostaram nela como a grande campeã. Isso ocorreu porque
vocês estavam se lembrando, ainda muito vividamente, dos 7 a 1 e da vitória dos germânicos
no torneio anterior. Ou seja, a disponibilidade inflou, na sua concepção, as probabilidades de a
Alemanha vencer novamente. Porém, a campeã de 2014 sequer passou da primeira fase em 2018.
O mesmo ocorreu em três das quatro copas anteriores. Em 2002, a França, campeã da Copa
de 1998, deu adeus à competição ainda na fase de grupos. Em 2010, foi a vez da Itália e, em
2014, a vítima foi a Espanha. Kahneman afirma, e corrobora com exemplos, em seu livro “Rápido
e Devagar”, que – em eventos dependentes de muitos fatores imprevisíveis, como o futebol –,
estatisticamente, existe uma tendência daqueles que performaram excepcionalmente bem em um
ou mais anos, performarem mal nos seguintes, de modo a se manterem aproximadamente na
média. É o que ele chama de tendência a regressão às médias

• Representatividade

Outra heurística similar é a da representatividade, a qual estabelece que realizamos julgamentos


imperfeitos por nos ampararmos demasiadamente em estereótipos. Assim, simplificamos o
pensamento lógico adequado para tomar uma decisão, pois confiamos em dados inexpressivos,
vagos e simplistas, ao mesmo tempo em que ignoramos inúmeros outros fatores relevantes para
realizarmos uma avaliação de probabilidade apurada.

O papel chave exercido pela nossa memória recente e pelos atalhos mentais que pegamos por nos
embasarmos em estereótipos explicam porque, por exemplo, tubarões e aviões são tão temidos.
22 Já ficou morrendo de medo de entrar no mar após ler uma notícia sobre um ataque de tubarões
ou ver o filme clássico do Spielberg? Também já quis cancelar um voo após assistir a um episódio
de “Mayday! Desastres Aéreos”? Se sim, culpa da disponibilidade e da representatividade. Essa
tendência de confiarmos no que está disponível de imediato na nossa memória e em preconceitos
enraizados na nossa mente, bem como de ignorarmos fatos e dados mais completos, explica
inúmeros medos e fobias. Se você der um google, vai perceber que é ínfimo o número de óbitos
anuais causados por tubarões ou por acidentes aéreos. Você deveria estar muitíssimo mais
preocupado com mosquitos e com praticamente quaisquer outros meios de transporte, inclusive
com andar a pé...

Ademais, tais heurísticas explicam porque aproximadamente 80% dos novos aportes em fundos
de investimento vão diretamente para fundos que obtiveram retornos extraordinários no ano
anterior. O problema é que normalmente tais retornos não são consistentes e, pior, em virtude
da tendência a regressão às médias (que também se aplica ao mercado financeiro – você
entenderá o porquê ao longo do livro), é bem comum que os fundos que conquistaram retornos
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

acima da curva nos últimos anos performem abaixo do mercado nos próximos. Como poderemos
analisar com calma no capítulo apropriado, fundos de investimento que batem consistentemente o
mercado são extremamente raros e é impossível adivinhar previamente quais estes serão.

• Ancoragem e Ajuste

A heurística da ancoragem também traz um conceito fundamental para quem deseja investir. É
corriqueiro que as pessoas passem a avaliar se o preço de uma ação (ou qualquer outro ativo)
está alto ou baixo não com base em seus fundamentos ou critérios técnicos, mas apenas pela
comparação entre o preço atual de mercado e aquele pelo qual compraram o ativo. Ou seja, a
pessoa se ancora num preço específico sem fundamento algum e passa a fazer ajustes de alocação
e avaliação de valor com base nisso. É mais ou menos como uma garota que está namorando um
tremendo loser, mas que não percebe isso, pois, ao invés de avaliar as características adequadas
que gostaria em um namorado, apenas compara o sujeito atual com o ex, que, por incrível que
possa parecer, conseguia ser ainda pior...

Quem deseja atuar no mercado financeiro precisa estar plenamente ciente das falhas de raciocínio
23
que todos nós cometemos, a fim de evitar cair nas suas armadilhas. Portanto, fique atento aos
seus padrões de pensamento e lembre-se de que seu cérebro tende a utilizar informações frescas
na memória para tomar decisões, independentemente da qualidade destas. E, cuidado, pois
ele também tem o péssimo hábito de ignorar fatos estatísticos relevantes e de superdimensionar
estereótipos. Por fim, não esqueça que sua mente costuma se prender a um número ou característica
aleatória, que por algum motivo foi relevante para você, e a fazer estimativas e parametrizar
valores a partir daí, sem base em quaisquer fundamentos técnicos ou lógicos.

Conforme explicado, heurísticas são processos simples que são utilizados para encontrarmos
respostas, normalmente imperfeitas, para questionamentos difíceis. A utilização de heurísticas,
como nossa mente faz a todo momento, pode ocasionar inúmeros vieses práticos, ou seja, violações
sistemáticas de pensamentos puramente racionais. A conscientização sobre tais violações é
absolutamente essencial para que você consiga ser bem-sucedido financeiramente no longo
prazo, uma vez que se manifestam constantemente quando tomamos decisões sobre investimentos.
• Excesso de Confiança e Ilusão de Controle

O primeiro viés do qual irei tratar é derivado do principal “espírito animal” analisado: o excesso
de confiança. Quase todos nós achamos que podemos bater o mercado consistentemente
(afinal, se o Warren Buffett consegue, por que EU não consigo?!), o que, obviamente, não ocorre
(discutiremos muito mais sobre isso em capítulo posterior).

O excesso de confiança e a ilusão de controle (crença na própria capacidade de afetar


eventos futuros) fazem o investidor comprar e vender ativos a todo momento, entrando e saindo
de posições, o que é terrível para sua rentabilidade, já que aumenta muito os seus gastos com
impostos e corretagens. O livro “O Investidor Inteligente”, de Benjamin Graham, mostra como a
alta rotatividade em investimentos, geradora de mais custos, pode atrapalhar a sua performance
– ele cita uma pesquisa realizada por professores da Universidade da Califórnia, que comprova
que quanto mais atuante no mercado for o investidor, menor será a sua rentabilidade líquida. De
acordo com o estudo, o investidor pode chegar a perder praticamente metade da rentabilidade

24 da sua carteira apenas com custos.

• Excesso de Otimismo, Efeito Manada e Armadilha da Confirmação

Outro viés, semelhante ao excesso de confiança, é o excesso de otimismo: quando as coisas


começam a dar certo, os seres humanos ficam cheios de si e passam a acreditar que a boa sorte
continuará para sempre. Esse excesso de otimismo – e sua contraparte, o excesso de pessimismo
– servem de munição para o efeito manada, que é um comportamento tipicamente visto no
mercado financeiro, no qual vários indivíduos reagem todos da mesma forma a determinado
evento, sem uma coordenação planejada. Já reparou como todo mundo fica super empolgado e
quer comprar tudo que é tipo de ativo financeiro quando o cenário macroeconômico está positivo
e todo mundo fica desesperado e acha que o mundo vai acabar quando as coisas não estão indo
tão bem assim?!

Pois é, meu pequeno gafanhoto, você precisa prestar muita atenção a esses comportamentos,
pois eles são capazes de promover bolhas financeiras e falências pessoais estrondosas. Funciona
basicamente assim: você vê todo mundo comprando ações e a bolsa só subindo (também serve
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

para bitcoins ou mesmo para tulipas – sim, a florzinha, como veremos adiante). Obviamente,
você não quer ficar de fora. Afinal, você é um PEQUENO GAFANHOTO – não é um trouxa...
Logo começa a comprar ações e, quanto mais a bolsa sobe, mais otimista você fica e mais ações
compra. Nesse momento, aparecem inúmeros analistas “extremamente” capacitados prevendo a
bolsa, que à época estava sendo cotada em cerca de 70 mil pontos, a 200 milhões de pontos
até o fim do ano!!! Você fica ainda mais confiante. Todos falam que “desta vez é diferente” e
que “não há limites ou resistências capazes de parar a ascensão da bolsa”. Você vai e tira todo o
dinheiro que tinha guardado na poupança, quebra o porquinho, pega um empréstimo no banco,
vende os móveis da casa e gasta tudo em ações, pois tem certeza absoluta de que a bolsa só vai
subir. “Oras, não tem como dar errado”.

Nesse momento, entra em cena outro viés comportamental: a armadilha da confirmação.


Durante a fase da euforia, até aparecem alguns indícios bem claros de que há algo errado (afinal,
como é possível, por exemplo, um ativo que não tem ainda nenhum valor intrínseco comprovado,
como uma das inúmeras criptomoedas que ninguém sabe como funciona ou para que serve, subir
mais de 50 vezes de valor em alguns meses?! Ou pessoas que ganham salário mínimo, como 25
ocorreu em 2007 nos Estados Unidos, obterem crédito para comprar vários imóveis cujos valores
elas demorariam centenas de anos para pagar?!), mas seu cérebro de gafanhoto não quer nem
saber, ele simplesmente ignora esses sinais, pois apenas vê o que ele quer ver – e o que ele
quer ver são apenas informações que suportem a sua hipótese inicial (que o mercado continuará
subindo para sempre).

Eis que, do nada, a bolsa começa a cair. “Ué, mas ainda está tão longe dos 200 milhões de
pontos...”. De repente, todos os seus amigos começam a vender suas ações, bitcoins, altcoins etc.
Você vê todos os analistas “super gabaritados” falando que agora a bolsa vai, sem dúvidas, cair
até os 2 mil pontos até o final do ano. “MAS, COMO ASSIM?!!! ELES NÃO TINHAM CERTEZA
ABSOLUTA QUE IRIA SUBIR PARA 200 MILHÕES?! MEU DEUS, TENHO QUE VENDER TUDO
LOGO!!!”. Você se desespera e tenta se desfazer a qualquer preço do que havia comprado, pois
o apocalipse chegou, mas, quando consegue abrir o home broker, descobre que já perdeu 50%
de tudo o que investiu. Em menos de uma semana o mercado devolveu tudo o que levou meses
para construir e continuava caindo...
• Aversão ao Risco

Bateu um desespero?! Pois é, situações parecidas acontecem de tempos em tempos e exigem


sua constante atenção. Agora que você já sabe que deve tomar cuidado com o “oba-oba” que
frequentemente assola o mercado e que não deve ir na onda da manada, vou falar de outro viés
cognitivo muito importante: o da aversão ao risco. Ao mesmo tempo em que é importante não
entrar nas manias do momento, é preciso que o investidor tenha certa tolerância ao risco – que varia
de acordo com o perfil e os objetivos de cada um. Para facilitar o processo de investir e tolerar a
quantidade de risco que julga ser ideal para seus objetivos, você deve possuir uma estratégia clara
de entrada e saída de suas operações. Pela falta de tal estratégia, grande parte dos investidores
realiza ganhos imediatamente, logo vendendo os ativos promissores de suas carteiras, assim que
estes começam a se valorizar. Paralelamente, mantém ações de empresas horríveis enquanto os
preços destas estão derretendo.

O grande problema não é vender na alta e comprar na baixa. Na verdade, esse é um comportamento

26 contra a tendência que pode ser eficaz em certas estratégias de longo prazo. A complicação
causada pelo viés da aversão ao risco (em conjunto com o da incapacidade em assumir erros,
sobre o qual conversaremos no tópico seguinte) é que as pessoas costumam se desfazer logo
justamente dos ativos saudáveis, que tenderiam a se valorizar ainda muito mais, enquanto seguram
por muito tempo ativos péssimos, que não deveriam sequer possuir na carteira.

Ao mesmo tempo, em razão da manifestação dos outros vieses já discutidos, em momentos de


euforia, os investidores mergulham de cabeça comprando ativos terríveis, que não sabem nem
para que servem. O otimismo exagerado e a ganância desmedida nutrem o sentimento de que tais
ativos irão continuar subindo para sempre, o que, obviamente, nunca acaba bem – normalmente
com o estouro de alguma bolha e o pânico subsequente. Após segurar as ações ruins até estas
perderem boa parte de seu valor, finalmente, os investidores afetados pela aversão ao risco não
aguentam mais, vendem tudo na mínima, perdem grande parte do dinheiro investido e saem
falando que bolsa de valores é “um jogo”, só para ver nos meses seguintes uma recuperação
substancial do mercado... As emoções negativas são 2x mais impactantes que as positivas. Por
isso, sofremos muito mais com uma perda do que nos alegramos com um ganho equivalente. É
óbvio que esse viés psicológico faz com que tomemos decisões horríveis em momentos ruins.
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

• Incapacidade de Assumir Erros e Sunk Costs

A aversão ao risco é um viés que também está relacionado a outro comportamento humano
bastante corriqueiro, mas que nos traz enormes danos: temos extrema dificuldade em reconhecer
erros e aceitar perdas (que diga diferente quem nunca discutiu com a namorada ou com o
namorado, percebeu que estava errado, mas, mesmo assim, preferiu ficar emburrado o resto da
semana ao invés de pedir desculpas logo, reconhecer o erro e resolver o problema).

Apesar de não ser uma atitude natural para a maioria das pessoas, é importante que você se treine
para aceitar erros e perdas. Existem custos que simplesmente não vamos recuperar. Na verdade,
ao recusar-se a acatar o prejuízo, acabamos afundando ainda mais no problema. Os sunk costs
(custos irrecuperáveis) são recursos empregados em algo que simplesmente você não conseguirá
reaver. Assim, é melhor aceitar o erro e absorver os custos provenientes deste que arcar com os
ônus da falha só porque você já se comprometeu com ela.

Permita-me ser mais claro: você, pequeno gafanhoto safadão, compra um ingresso de 200 reais
para um show do Wesley Safadão (ou do Latino, que é igualmente cult). Porém, justamente na
27
hora de sair para o show, começa a cair um temporal absurdo. O trânsito fica caótico, acontecem
inúmeros acidentes, a ventania derruba árvores, até um furacão resolve passar pela cidade e sai
destruindo tudo o que encontra pela frente. Mas não importa, você está comprometido com o
gasto e diz que “se já gastei meus 200 real mermo, num quero nem sabê, vô nu xow de qualquer
jeito!”. Você então sai de casa, bate o carro, chega no show nervosíssimo, a chuva estraga toda
a sua chapinha, suja de lama todo o seu modelito novo, você briga com o namorado ou com a
namorada e, para completar, acaba a luz e o Wesley cancela o show por causa do tempo ruim.
Realmente, valeu a pena tudo isso por causa dos 200 reais que já tinha pago?! O prejuízo não
foi absurdamente maior que se tivesse aceitado a perda e reconhecido que não era mais uma
boa ideia ir ao show, ainda que perdesse o valor do ingresso já comprado?! Espero que sua
resposta tenha sido sim. Caso contrário, seus problemas definitivamente fogem do escopo deste
livro e a minha sugestão é que procure um terapeuta para tratar dessa sua obsessão pelo Wesley
Safadão...
• Viés de Sobrevivência

Aliás, sei que você vai me odiar por isso, mas preciso informar-lhe que talvez, apenas TALVEZ,
o Wesley e muitas outras celebridades não sejam tããão fenomenais assim (exceto o Molejão –
esses caras são talento puro). Pode ser que eles simplesmente tenham, por pura e exclusiva sorte,
sobrevivido ao ultracompetitivo processo de se tornar um artista famoso.

Para que você compreenda melhor essa possibilidade, vamos tratar do viés de sobrevivência,
explicitado por Nassim Nicholas Taleb no livro “Iludido pelo acaso: a influência oculta da sorte
nos mercados e na vida”. Na obra, o autor explica que todos nós tendemos a cometer um erro
lógico básico: concentramo-nos apenas nas pessoas e nas coisas que sobreviveram a determinado
evento e, automaticamente, concluímos que esses sobreviventes são mais hábeis que o restante
dos mortais. Por isso, deduzimos que esses “vencedores” devem ser os nossos exemplos de vida.
Consequentemente, depositamos nossas esperanças neles e passamos a ouvi-los e a copiá-los
como robôs.

28 O problema disso é que a sobrevivência pode ter se dado exclusivamente pelos caprichos do
acaso. Assim, ao focarmos apenas nos supostos vencedores, passamos a seguir os seus conselhos e
deixamos de aprender com os erros daqueles que falharam. Essa atitude distorce nossa capacidade
de estimar probabilidades e a ocorrência de eventos futuros, já que nossa análise fica enviesada
pelas opiniões de pessoas que apenas foram mais sortudas que as demais. Por isso, quanto mais
dependente de fatores aleatórios (sorte) for determinado evento, maior será a probabilidade de
que os sobreviventes em uma ocasião não performem tão bem em momentos posteriores – ou seja,
maior a tendência a regressão às médias, o que explica a predominância desse fenômeno na
avaliação do desempenho histórico de fundos de investimento.

Para Taleb, dois fatores são essenciais para se determinar o grau do viés de sobrevivência: a
aleatoriedade do conteúdo de certa profissão e o número de pessoas que a praticam. Como o
mercado financeiro é altamente randômico (você perceberá isso, cada vez mais, com a leitura
deste livro) e conta com, literalmente, milhões de participantes ativos, o viés de sobrevivência
assume proporções enormes. Afinal, é muito fácil, em um ambiente tão dependente da sorte e no
meio de tanta gente, pelo menos algumas pessoas acertarem algo.
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

Exemplo clássico disso é o dos “gurus financeiros”. A maioria dos “especialistas” erra suas
previsões e é expurgada do mercado. No entanto, alguns poucos acertam um palpite ou outro
“na cagada” e, em virtude da sobrevivência, passam a ser considerados a reencarnação do
Nostradamus, futurologistas brilhantes capazes de prever todos os próximos movimentos do
mercado. Obviamente, os acertos desses supostos profetas não têm persistência. Os mesmos que
acertaram uma crise ontem, erram outras amanhã e depois de amanhã e depois...

Aliás, a “assertividade” do Nostradamus é outra cria da sobrevivência (e de outras heurísticas,


como a da representatividade): devem ter existido uns 10 milhões de videntes ao longo dos
tempos. Desses, apenas um ou outro, Nostradamus incluso, fez algumas previsões que podem
ser consideradas corretas. Além disso, eles devem ter feito quase 400 milhões de profecias para
“acertar” umas 9. Ainda assim, não importa, muita gente escolhe tratar como profeta um cara
cujo “trabalho” somente sobreviveu graças à sorte, focar nas poucas previsões que deram certo
(e, mesmo assim, mediante interpretações bastante questionáveis) e ignorar as muitas outras que
falharam.
29
Igualmente, sinto te decepcionar, meu supersticioso e holístico gafanhoto, mas o seu horóscopo
diário é outro ótimo exemplo de como funciona o viés de sobrevivência, combinado com outros
erros cognitivos, como as heurísticas da disponibilidade e da representatividade: centenas de
“videntes” fazem milhares de previsões genéricas diferentes para cada signo diariamente – dos
milhares de “gurus”, alguns poucos “acertam” em uma quantidade razoável de dias e o restante,
dos 365 dias do ano, fazem previsões adequadas para, no máximo, uns 3. Dois problemas surgem
daí: I – obviamente, você opta por se lembrar apenas dos 3 dias em que o horóscopo “funcionou”
e por ignorar os “apenas” 362 dias de equívocos, chegando à brilhante conclusão de que tal
método é extremamente eficaz para se fazer, de acordo com o dia de nascimento, previsões
padronizadas e assertivas acerca do futuro de cada uma das quase 8 bilhões de pessoas que
existem no planeta; II – da mesma forma, inocentemente, você decide se tornar discípulo de um
desses videntes maravilhosos que conseguiram “adivinhar” como seria o seu dia algumas vezes
durante o ano. Todavia, no ano seguinte, decepciona-se ao perceber que o seu profeta preferido
errou quase todas as suas previsões. Parabéns, você ganhou uma regressão às médias!
SKIN IN THE GAME

Por sinal, Taleb não poderia ser mais enfático na crítica aos “especialistas” de plantão. Esse cara,
sim, está longe de ser hipócrita. Diferentemente da maioria dos “gurus” financeiros, Taleb põe o seu
dinheiro onde está sua boca. Ele enriqueceu colocando em jogo seus próprios recursos, ao invés de
apenas ficar escrevendo artigos teóricos tediosos e vendendo cursos contendo fórmulas mágicas
“para enriquecer os outros”. Por isso, é muito crítico de alguns acadêmicos, que sentam em suas
torres de marfim teorizando conceitos que apenas reforçam os próprios egos, desconsiderando
as aplicações práticas reais. Taleb chama esses sujeitos de IYI League – Intellectual Yet Idiot
(liga dos intelectuais, mas idiotas – um trocadilho com a IVY league, que reúne as oito principais
universidades dos Estados Unidos).

O seu livro mais recente, “Skin in the Game”, defende que um investidor jamais deve confiar em
alguém que não tenha a “pele em jogo”. A obra foi lançada em português sob o título “Arriscando
a própria pele”. Porém, essa tradução não explica bem a expressão na nossa língua natal. Assim,
30 vou recorrer a algumas lições de anatomia para manter a sobriedade característica deste livro e
explicar o termo para vocês sem ter que fazer uso de expressões chulas. O que estaria em jogo
não seria a pele, mas um pequeno orifício, localizado no final do intestino grosso, que é sustentado
pela musculatura do períneo e de dois esfíncteres, um interno, cujos músculos lisos conferem um
caráter involuntário à musculatura, e um externo, composto por uma camada muscular estriada,
que é voluntária e, felizmente, lhe permite controlar a saída dos seus resíduos digestivos. Ainda
não entendeu?! Não vou desenhar porque aí já seria demais, mas o que Taleb realmente quer
dizer é que você jamais deve confiar em alguém que não tenha, em “bom” português, “o cu na
reta”.

O psicólogo Philip Tetlock confirmou as ideias de Taleb no livro “Expert Political Judgement:
How Good is It? How Can We Know?”. Durante duas décadas, Tetlock analisou mais de 82 mil
previsões de especialistas políticos e econômicos. Depois de tudo o que você já leu, creio que o
resultado da análise feita por Tetlock não vá lhe surpreender: os supostos experts não acertaram
mais que os leigos. Na verdade, pelo contrário, pessoas com conhecimento amplo de várias áreas
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

– ou seja, generalistas (chamadas de raposas por Tetlock) – foram mais certeiras que pessoas
com conhecimento intenso em um único objeto de estudos – os ditos especialistas (nomeados de
ouriços pelo autor do livro).

Por isso, Taleb diz para você nunca perguntar a opinião de alguém, mas o que ele tem e não tem
no seu próprio portfólio. Para o autor, apenas é confiável uma pessoa que se expõe tanto aos
benefícios quanto aos riscos de determinada situação. Assim, boa parte dos analistas financeiros e
acadêmicos, que ganham bônus e são louvados quando acertam, mas não perdem nada quando
erram, não são fontes úteis de informação, já que há uma extrema assimetria nos seus processos
de tomada de decisão e na sua relação com o mercado. Afinal, não partilham dos riscos de
estarem errados, pois põem na reta apenas as “coisas” dos outros.

Ter “skin in the game” impede que um motorista louco em uma rodovia de alta velocidade, com
uma simples manobra, provoque várias coalisões e mate um monte de gente – pois, se fizer isso,
irá arriscar também a própria vida. Assim, da próxima vez que um “guru” te sugerir uma operação
“infalível”, pergunte quanto do próprio dinheiro ele está arriscando. Caso contrário, você poderá
31
ser uma das inúmeras vítimas de um motorista insano que não coloca na reta o próprio “forévis” –
neologismo concebido por Mussum, grande filósofo brasileiro.

PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA

Apesar de termos elencado diversos problemas advindos de impulsos emocionais, não pense
que a solução é rebelar-se contra todos os seus instintos naturais para anular o papel das
emoções na sua vida. Isso sequer seria possível. Nosso sistema emocional, ainda que seja falho,
é extremamente importante para o nosso processo cognitivo. Estudos de neurocientistas relatados
no livro “Descartes’ Error”, de Antonio Damasio, comprovaram que pessoas cujo cérebro tenha
sido afetado por um tumor ou uma lesão nas áreas responsáveis pelo processamento das emoções
tornaram-se incapazes de tomar quaisquer decisões – mesmo as mais simples.

Assim, apesar de, muitas vezes, nos induzirem ao erro, as nossas emoções continuam sendo parte
essencial do nosso processo cognitivo. A nossa estrutura cerebral é altamente dependente destas
para fazer julgamentos adequados. Para você ter uma ideia, o nosso sistema límbico sente as
emoções e, só depois, o nosso neocórtex formula explicações racionais para determinado estímulo
– ou seja, todo pensamento racional depende de emoções prévias. Sem elas, simplesmente, não
conseguiríamos pensar – sequer estaríamos aptos a decidir sobre o almoço do dia.

Portanto, o problema não é que utilizamos nossas emoções para tomarmos decisões – na verdade,
nem temos outra alternativa. O grande problema, de acordo com psicólogos evolucionistas, como
Steven Pinker, autor do livro “Como a Mente Funciona”, é que aplicamos nossas emoções totalmente
fora de contexto, já que estas são resquícios de uma época em que o ser humano precisava agir
impulsivamente se não quisesse virar comida de leopardo. Para esses caras, nossa mente, assim
como o nosso corpo, evolui. Porém, isso leva (muito) tempo, razão pela qual utilizamos nossas
emoções da mesma maneira que os nossos ancestrais das cavernas.

Assim, evolutivamente, é como se fôssemos programados para viver em circunstâncias muito mais
primitivas – dependentes de atitudes altamente instintivas. Nesses contextos, reagir rapidamente

32 com base em impulsos emocionais era imperativo para a sobrevivência. Afinal, um homem pré-
histórico mais “erudito”, que tentasse raciocinar qual a melhor atitude ante o ataque de uma
alcateia, muito possivelmente não passaria seus genes adiante...

Ademais, milênios atrás, a vida era muito mais simples e éramos expostos a, infinitamente, menos
informações. O avanço tecnológico na era moderna, a uma velocidade descomunal, não foi
acompanhado de uma evolução correspondente da nossa estrutura genética. Nosso organismo
simplesmente ainda não alcançou a complexidade do mundo em que vivemos. Em virtude desse
descompasso evolutivo, a nossa compreensão inata de probabilidades – essencial para tomada
de decisões eficientes, principalmente no mercado financeiro – é muito limitada. Afinal, as
situações em que empregávamos tais cálculos eram muito mais reduzidas e extremamente menos
sofisticadas que as atuais.
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

Por tudo isso, sofremos das heurísticas, dos vieses e dos demais erros cognitivos que cansamos de
estudar.

Portanto, cientes de nossas limitações biológicas, o que nos resta é conciliar as conclusões da
economia comportamental com as da psicologia evolutiva. Dessa forma, estaremos aptos a, ao
menos, tentar tomar as melhores decisões possíveis. Nesse sentido, em vez de nos rebelarmos contra
as nossas emoções ou, em outro extremo, de as seguirmos impulsivamente como se estivéssemos
nos tempos das cavernas, o que devemos fazer é:

I - aceitar que somos biologicamente propensos a tomar decisões equivocadas, em virtude


da forte influência das nossas emoções (que foram forjadas em um contexto completamente
diferente do que vivemos) no nosso processo cognitivo; e

II - tentar compreender a origem de cada uma dessas emoções e, com isso, utilizá-las a nosso
favor – como fontes de energia e de estímulo para a elaboração de pensamentos racionais
ponderados e complexos, prévios a uma tomada de decisão.
33
CONCLUSÃO

Meu pequeno e temperamental gafanhoto, você percebe como decisões movidas por emoções, de
forma pouco racional, amparadas em informações imprecisas, vieses comportamentais e opiniões
alheias podem tornar seus investimentos um pesadelo?! Obviamente, ao longo do capítulo, fiz
uso de exemplos extremos e esdrúxulos para chocar e ilustrar bem os temas analisados, mas não
pense que situações semelhantes não ocorrem. Para te convencer de vez, vou contar brevemente
uma história real do que aconteceu nos Estados Unidos no fim dos anos 90.

Esta era uma época próspera e “todo mundo” estava ganhando dinheiro no mercado de ações.
Sempre que havia uma retração nos preços, a regra era comprar mais, pois as ações voltavam a
subir logo depois. Todos os investidores estavam assoberbados de otimismo, excesso de confiança,
ilusão de controle e todos os outros vieses cognitivos que você possa imaginar. Não havia quem
não se achasse “o gênio” do mercado financeiro. Os comentaristas de televisão e analistas
técnicos eram unânimes em afirmar que era “um novo paradigma na precificação de ações”.
Em 1999, quando o índice Dow Jones, que é utilizado como uma das principais referências da
performance do mercado norte-americano, estava sendo negociado na casa dos 10 mil pontos,
foram publicados livros prevendo que o índice, em breve, atingiria 36 mil ou até 100 mil pontos!
Porém, o que ocorreu foi que, de 2000 a 2003, o Dow Jones caiu 40% e o índice Nasdak,
que representa as empresas de tecnologia, despencou 80%, contrariando todas as previsões e
provocando perdas absurdas para os “gênios” do mercado.

Algo semelhante aconteceu em 1637, 1720, 1929, 1967, 1987, 2008, 2017... Crises provocadas
por excesso de irracionalidade e desespero ocorreram durante toda a história da humanidade
e continuarão ocorrendo (a não ser que Elon Musk esteja certo e a inteligência artificial acabe
com a raça humana em breve). Tratarei melhor sobre bolhas financeiras no próximo capítulo. O
mais importante agora é que você compreenda que decisões emocionais equivocadas podem
provocar grandes danos ao seu bolso – e perder dinheiro é um luxo a que alguém que deseja
enriquecer definitivamente não pode se dar.

34 Portanto, você precisará ficar sempre atento aos ímpetos da sua mente, que adora fazer
julgamentos impulsivos e simplistas. Assim, você será capaz de monitorar de forma objetiva os seus
processos de tomada de decisão, a fim de minimizar a influência negativa de suas emoções nas
suas finanças e, consequentemente, maximizar os resultados de seus investimentos. Com tal intuito,
jamais se esqueça das seguintes lições (colocarei entre parênteses as heurísticas e os vieses que
pretendemos combater com essas atitudes):

• não confie apenas na sua memória (disponibilidade);

• busque dados relevantes para embasar suas decisões (representatividade);

• não se apegue a preços passados aleatórios (ancoragem e ajuste);

• não pense que você é imbatível e, muito menos, que é capaz de dominar o mercado
(excesso de confiança e ilusão de controle);

• nunca fique excessivamente otimista ou pessimista com algo (excesso de otimismo);

• não seja carregado pela euforia e pelo desespero das massas (efeito manada);
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

• analise objetivamente cada situação (armadilha da confirmação);

• tenha uma estratégia de investimentos previamente definida e não seja impulsivo em suas
decisões financeiras (aversão ao risco);

• reconheça os seus erros (incapacidade de assumir erros); e

• jamais invista apenas com base em rumores ou opiniões alheias, ainda que de supostos
experts sensacionalistas que são meros sobreviventes do momento e não possuem o “forévis”
na reta (viés de sobrevivência).

Para finalizar – a fim de fazer você pensar duas vezes antes de quebrar o porquinho para participar
do próximo ICO da nova criptomoeda da Venezuela ou para encher a carteira com as ações que
vão “bombar” na semana – quero sintetizar tudo o que discutimos sobre o impulso natural do
investidor comum, que é basicamente fazer o oposto do que deve ser feito. Esse impulso prevalece
justamente em virtude da grande influência de emoções empregadas de maneira inadequada nas
nossas decisões financeiras. Nossa tendência é: 35
I - vender ativos saudáveis tão logo proporcionem algum ganho, pois desde criança ouvimos
que “mais vale um pássaro na mão que dois voando” e não conseguimos ter paciência para
esperar a estratégia de longo prazo se concretizar (aversão ao risco); e

II - manter ou comprar ativos horríveis, sempre com o timing desajustado, seja demorando
demais a se desfazer destes (aversão ao risco) – pois não queremos aceitar quaisquer perdas
(incapacidade de assumir erros) –, seja comprando a preços estratosféricos e não vendendo
até o ativo despencar de valor (aversão ao risco) – pois somos influenciados pela modinha
do momento (efeito manada). Em tais circunstâncias, ouvimos passivamente aos “sábios
especialistas” do mercado (viés de sobrevivência), que ganham muito quando acertam,
mas não perdem nada quando erram (falta de “skin in the game” ou de “forévis na reta”), e
passamos a acreditar que os preços irão subir para sempre (excesso de otimismo). Afinal, nós
temos certeza de que somos os “maiorais” (excesso de confiança) e prevemos o futuro melhor
que a mãe Diná e o Walter Mercado juntos (MUITA ilusão de controle). Por isso, pensamos
que podemos ignorar todos os inúmeros fatos antagônicos ao nosso posicionamento que
estão sendo esfregados na nossa cara (armadilha da confirmação).

Percebeu como normalmente fazemos tudo ao contrário?! É triste, pequeno gafanhoto, mas nós
simplesmente não conseguimos pensar racional e friamente nessas situações, especialmente com
dinheiro envolvido. A triste verdade é que todos nós somos biologicamente programados para ser
enganados por nossas emoções e pela aleatoriedade da vida. Não há escapatória – se fizer um
teste do Ratinho, verá que os erros cognitivos que estudamos estão no seu DNA.

Por isso, o que você, um investidor inteligente, deve fazer é, antes de mais nada, aceitar a

36 sua falibilidade. Nenhum ser humano pode escapar dela. Consciente de suas tendências
comportamentais, você pode buscar otimizar as suas decisões financeiras, analisando cada
situação no momento, sem se apegar emocionalmente a dados passados sem relevância. Em vez
de segurar a ação até não aguentar mais, esperando que ela atinja um preço infinito – ou que volte
a patamares anteriores a uma queda, para que você venda “sem prejuízo” –, você deve avaliar
a decisão de comprar, manter ou vender o ativo no momento. Com tal intuito, pergunte-se: os
motivos pelos quais comprei tal ativo permanecem? A empresa emissora continua sendo boa ou
perdeu qualidade? Hoje preferiria comprar outros ativos? Minha carteira está com a diversificação
adequada e estou satisfeito com a minha alocação atual? Minha estratégia de investimentos está
sendo respeitada?

Medite nessas questões e não seja influenciado pelas opiniões oscilantes dos “experts” nem fique
preso emocionalmente a nenhum investimento – sempre faça uma análise pragmática a respeito
FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

da adequação deste em relação à sua carteira e à sua estratégia de investimentos. Se o ativo


analisado estiver de acordo com seus critérios objetivos, compre-o ou mantenha-o. Caso contrário,
se desfaça dele. Não se preocupe, lhe ensinarei, didaticamente, como fazer isso ao longo deste
livro.

37
38
3
UM POUCO DE HISTÓRIA
Breve aula sobre manias, pânicos e risco

C
onforme discutimos no capítulo anterior, os seres humanos intuitivamente são péssimos
tomadores de decisão e isso se aplica na avaliação de risco de suas atitudes. Por
exemplo, quantas vezes você já não deixou para sair de casa em cima da hora para
pegar um voo caríssimo, rumo ao casamento da sua melhor amiga, correndo um risco enorme de
perder o avião caso surgisse qualquer imprevisto pelo caminho, apenas para ficar mais alguns
minutos em casa fazendo absolutamente nada?! Às vezes, nossas decisões simplesmente não
fazem sentido. Ao focarmos em dados absolutos – no caso, o horário do voo e o tempo do trajeto
39
da sua casa até o aeroporto –, ignoramos eventos relativos, as respectivas probabilidades, possíveis
consequências e o impacto que a concretização de um cenário negativo extremo poderia causar.
No exemplo dado, a possibilidade de um acidente, mesmo que não tão comum no horário e na
via que você teria de pegar, lhe acarretaria custos enormes: a perda do voo muito caro e, pior, do
casamento, um evento único de difícil valoração. Assim, você deve sempre comparar os cenários
possíveis e os potenciais resultados positivos e negativos – inclusive os casos extremos –, a fim de
tomar a decisão mais eficiente no caso concreto.

Portanto, é essencial que você domine o conceito de risco, saiba examiná-lo e aplicá-lo, de
acordo com o seu perfil e os seus objetivos específicos. Para isso, tratarei do tema em dois capítulos
distintos. Mais à frente, abordarei a parte prática, ou seja, como calcular e avaliar indicadores de
risco, bem como ponderá-los ante os retornos esperados. Porém, antes, neste capítulo, vou me
aprofundar um pouco mais na psicologia de massa e nas possíveis consequências desastrosas que
podem ocorrer quando os seres humanos misturam emoção com dinheiro. O objetivo é avançar
nos conceitos descritos no capítulo anterior, mediante exemplos de casos reais que ocorreram e
causaram grandes catástrofes financeiras. Desse modo, você poderá se proteger de situações
semelhantes e não se deixará seduzir pelos próximos “investimentos do século”. Além disso, irá
me escutar quando eu disser, nos próximos capítulos, para você elaborar uma estratégia prévia
de investimentos e executá-la criteriosamente, segundo seus critérios de risco e retorno. Caso
não saiba o que o conceito de “estratégia” significa, vale a pena conferir as lições do Capitão
Nascimento sobre o assunto.

A DIETA DOS CISNES NEGROS

Antes de analisarmos casos reais, precisamos compreender o que são, e por que ocorrem, os
momentos de estresse extremo que, vez ou outra, dão as caras na vida e no mercado financeiro.
Esses eventos inimagináveis ou pouquíssimo prováveis são chamados de “Cisnes Negros” – a
materialização da ideia dos riscos não adequadamente capturados por medidas estatísticas
tradicionais, ou seja, pela distribuição normal padrão (curva de sino). São os “riscos de cauda” ou
as “caudas gordas” das probabilidades.
40
É importante que compreendamos bem esse conceito, pois ele pode ocasionar tanto a formação
de bolhas e o início de manias especulativas – por exemplo, um Cisne Negro pode ser uma
invenção tecnológica disruptiva repentina, como a invenção do computador pessoal –, quanto o
estouro inesperado de uma bolha ou um enorme crash no mercado – por exemplo, a falência de
um grande banco, a eclosão de uma guerra ou a ocorrência de um ataque terrorista.

O termo foi popularizado no mercado financeiro por alguém que estudamos bastante no capítulo
anterior: Nassim Nicholas Taleb. No livro “A Lógica do Cisne Negro”, ele conta que, até o fim
do século XVII, os europeus acreditavam que existiam apenas cisnes brancos. Todavia, um belo
dia, um cisne negro foi avistado na Austrália, derrubando a crença. Assim, “Cisnes Negros” são
acontecimentos extremamente improváveis e, portanto, impossíveis de serem previstos. Apenas
para que você compreenda bem o conceito, um bom exemplo de Cisne Negro é quando o
Atlético-MG ou o Botafogo consegue ganhar um título – apesar de ser um evento extremamente
raro, eventualmente acontece.
UM POUCO DE HISTÓRIA

De acordo com Taleb, um Cisne Negro possui três características essenciais: 1 – é imprevisível,
ou seja, não possui nada no passado que indique convicentemente a possibilidade de sua
materialização; 2 – ocasiona impactos extremos; e 3 – após a sua ocorrência, os serumaninhos
inventam explicações para torná-lo menos aleatório (previsibilidade apenas em retrospecto).

Essas características do Cisne Negro fazem com que as coisas que você não sabe sejam muito
mais relevantes que as que você sabe. Afinal, se tiver conhecimento de algo, poderá tomar atitudes
prévias adequadas para se proteger. Portanto, o que você sabe não pode machucá-lo – já o que
você não sabe pode destruí-lo. O problema é que a vida (o que, obviamente, inclui o mercado
financeiro) á altamente aleatória aos olhos humanos. Logo, não sabemos muitíssimas coisas,
especialmente quanto ao futuro. A consequência é o surgimento de Cisnes Negros no que Taleb
chama de “dobra platônica”: o vão entre o que sabemos e o que achamos que sabemos – ou seja,
o intervalo entre o nosso entendimento e a nossa arrogância.

Segundo o supracitado autor, as pessoas simplesmente não aceitam que são incapazes de
prever o curso da história e agem como se pudessem antever o amanhã. Por isso, encontram
41
justificativas ex post para acontecimentos advindos puramente do acaso. Para comprovar seu
ponto, Taleb recorre ao caso da guerra civil em seu país natal, o Líbano: a dinâmica do conflito
fora completamente imprevisível, mas, ainda assim, as pessoas agiam como se compreendessem
o que estava acontecendo. Muito do que aconteceu seria inconcebível olhando-se de trás para
frente. Porém, após a ocorrência dos eventos, tudo parecia “fazer sentido”. Para o autor, essa
plausibilidade retrospectiva distorce a realidade e impede que as pessoas compreendam a
raridade e a imprevisibilidade dos eventos.

No livro já citado, Taleb destaca duas deformações relevantes na natureza humana que são
responsáveis tanto pela plausibilidade retrospectiva quanto pela imprevisibilidade e pelas
consequências extremas resultantes de Cisnes Negros.

A primeira é o problema da indução: essa questão, muito relevante para o método empírico, já
havia sido explorada por diversos filósofos e pensadores, como Pirro, David Hume e Karl Popper.
Segundo esse problema, você é levado a crer, a partir da sua experiência limitada, que o futuro
ocorrerá exatamente de acordo com o passado. Um exemplo disso é o caso que contei no início
deste capítulo. O fato de você ter feito o caminho para o aeroporto dezenas de vezes antes, sem
nunca ter incorrido em um acidente, o faz acreditar que isso jamais ocorrerá. Em virtude desse
viés indutivo, você assume riscos extremamente assimétricos, como sair de casa em cima da hora
do voo, em que a vantagem é praticamente irrelevante (ficar mais alguns minutos em casa à toa),
enquanto o possível prejuízo, embora pouco provável, é absurdamente prejudicial (perder um voo
caríssimo e o casamento da melhor amiga).

Outro exemplo do problema da indução, dado pelo próprio Taleb, é o do peru de natal. O bichinho
é alimentado todo dia, sem ter que fazer o menor esforço. Com o passar do tempo, a repetição do
processo o faz pensar que o seu futuro será igual ao seu passado, ou seja, que continuará a “ficar
de boa” e a comer fartamente. No entanto, em um belo dia, às vésperas do natal, o peru descobre
que as coisas podem não ser exatamente como ele pensava...

Para finalizar o assunto, mais um exemplo. Desta vez, o de uma pessoa, que, em 1907, escreveu
uma carta dizendo que nunca esteve em um acidente relevante, que nunca enfrentou quaisquer
contratempos que ameaçassem terminar em desastre, que apenas viu uma única embarcação em

42 perigo em todos os seus anos no mar, que nunca viu um naufrágio e que jamais naufragou. Quem
assinou essa carta foi E. J. Smith, capitão do Titanic... A experiência passada bem-sucedida no mar
fez Smith pensar que o futuro ocorreria necessariamente da mesma maneira. Todavia, eu, você, o
Jack e a Rose sabemos que ele estava errado...

A segunda deformidade relatada por Taleb em “A Lógica do Cisne Negro” é a falácia narrativa.
No problema anterior (da indução), nós analisamos os riscos de se fazer deduções equivocadas
sobre o não visto, ou seja, o futuro – extrapolando nosso conjunto de informações sobre o
ontem para o amanhã. Diversamente, outro grande problema diz respeito às nossas deduções
acerca de eventos extremos já ocorridos – ou seja, das informações a que já tivemos acesso.
Constantemente, tentamos resumir e simplificar questões complexas, mediante uma narrativa
inventada para acomodar certo pensamento. Nós gostamos de histórias e gostamos de contar
histórias a nós mesmos – e esse hábito explica o que Taleb chama de falácia narrativa, que revela a
nossa predileção por histórias compactas que distorcem a nossa representação mental do mundo.
Nós precisamos que tudo seja explicado. Se não entendemos algo, simplesmente inventamos uma
causa.
UM POUCO DE HISTÓRIA

Um bom exemplo desse problema são os comentaristas de jogos de futebol. Já reparou que, muitas
vezes, após um gol, de repente, esses sábios analistas encontram milhões de explicações super
plausíveis e, aparentemente, óbvias para um acontecimento, que, na verdade, é inexplicável?!
O time fez um gol porque fez um gol – não, necessariamente, porque “a defesa estava jogando
em uma linha 4 centímetros mais ofensiva e os volantes estavam triangulando nas diagonais,
inadequadamente, nos últimos 3 minutos”.

O comportamento desses “profetas do ontem” é tão mais nocivo quanto mais raro e pouco
compreensível for o evento. As narrativas que utilizamos para simplificar o mundo aumentam a
nossa impressão de entendimento e instigam um comportamento de manada e uma cegueira
coletiva, que geram eventos extremos, como bolhas financeiras e Cisnes Negros.

Em suma, mais uma vez, erros cognitivos fazem com que nós tomemos decisões equivocadas nos
mercados. A incompreensão da aleatoriedade dos eventos e das probabilidades das surpresas
– que são muito mais relevantes do que as pessoas (“especialistas” inclusos) pensam – geram
e amplificam os efeitos dos Cisnes Negros. Prova relevante dessa incompreensão é que a maior
43
parte dos economistas utiliza a curva normal (gaussiana) para avaliar eventos financeiros. Todavia,
o mercado não segue uma distribuição simétrica, seus eventos são extremamente assimétricos.
Apesar de a assimetria não importar para muitas disciplinas (por exemplo, na escola, o professor
ignora os extremos quando vai avaliar a média da turma), desvios raros, mas significativos, podem
provocar estragos enormes no mercado financeiro, onde uma única perda pode reverter anos de
ganhos. Igualmente, não importa se, na média, você não se atrasar para os seus voos – se perder
um evento único muito especial, o prejuízo poderá ser irrecuperável.

No livro “Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos”, Taleb detalha mais sobre esses eventos
raros, inclusive sobre como tirar proveito financeiro de alguns deles. Para o autor, para se dar bem
no mercado, você deve ter investimentos dotados de antifragilidade – ou seja, que sejam capazes
de serem resilientes a eventos extremos e, até mesmo, se beneficiar deles. Nesse sentido, Taleb
afirma que bons investimentos devem ser capazes de lucrar em momentos de volatilidade e de
se fortalecer com a passagem do tempo. Assim, em virtude da assimetria do mercado financeiro,
o autor argumenta que a sua estratégia é ser tão hiperconservador e tão hiperagressivo quanto
puder, em vez de ser apenas moderadamente agressivo ou conservador. Por isso, recomenda
que o investidor coloque 85 a 90 por cento do seu patrimônio em instrumentos extremamente
seguros, como títulos do Tesouro, e o restante em apostas muito especulativas e alavancadas.
Dessa maneira, espera lucrar com Cisnes Negros positivos (que beneficiam os seus investimentos
de alguma forma) e não sofrer perdas com Cisnes Negros negativos.

Apesar de concordar com muito da lógica do pensamento de Taleb, discordo de alguns pontos
da supracitada estratégia – especialmente quando aplicada para o investidor comum focado no
longo prazo (que não é um operador financeiro profissional preocupado em entregar resultados
periódicos para os seus clientes).

Para começar, a maior parte dos investidores não tem conhecimento dos grandes riscos envolvidos
em atividades especulativas, mormente as que fazem uso de alavancagem. Por isso, podem
facilmente transformar pequenas perdas em uma dilapidação patrimonial monstruosa – mais

44 sobre isso no capítulo 6.

Ademais, a ausência de Cisnes Negros positivos capazes de oferecer grandes lucros pelas posições
especulativas pode prevalecer por muito tempo, sendo isso, por si só, um Cisne Negro possível de
se materializar e capaz de impedir o seu crescimento patrimonial sustentável.

Ainda, no Brasil, existem muitos ativos que possuem riscos pequenos ou moderados, mas que
oferecem retornos espetaculares, dos quais podemos tirar proveito, desde que tenhamos a
estratégia de investimentos adequada.

Por tudo isso, a meu ver, se bem executada, a estratégia de alocação de ativos proposta por este livro
pode oferecer grande proteção contra eventos extremos improváveis, bem como oportunidades de
lucro em face de Cisnes Negros positivos, explorando adequadamente momentos de volatilidade
e beneficiando-se da passagem do tempo no longo prazo, ou seja, possuindo a antifragilidade
defendida por Taleb, mas de uma forma menos agressiva, mais consistente e mais assimilável pela
maioria das pessoas – discutiremos essa estratégia detalhadamente nos capítulos 7, 8 e 9.

Enfim, o objetivo deste tópico foi fazer você perceber que o mercado está sujeito a eventos extremos
UM POUCO DE HISTÓRIA

e imprevisíveis e que a melhor forma de você se precaver de grandes perdas é adotando um


pensamento nada comoditizado, isto é, sendo original e não se contaminando com a mentalidade
da manada. Veremos, nos tópicos seguintes, quão perigoso isso pode ser.

Ah, e antes que eu me esqueça: o título deste tópico, ao contrário dos Cisnes Negros, não foi
aleatório – sabe qual é um dos alimentos prediletos desses animais, especialmente quando jovens?!
Pequenos gafanhotos! Não poderia existir uma metáfora mais perfeita. Cuide-se!

MANIAS, BOLHAS ESPECULATIVAS E EVENTOS EXTREMOS

Agora que você compreende bem a falibilidade dos nossos processos cognitivos e como eventos
totalmente imprevisíveis podem ocorrer nos mercados – e na vida –, já está apto a analisar as
principais bolhas financeiras da história. Vamos começar pela mania das tulipas, que aconteceu
na Holanda nas primeiras décadas do longínquo século XVII.

• A Mania das Tulipas


45
As manias especulativas normalmente derivam de um excesso de autoconfiança, o qual, por
sua vez, tende a emergir em momentos disruptivos – de grandes novidades tecnológicas ou de
mudança no equilíbrio de poder entre países. No caso da Holanda, foi exatamente isso que
ocorreu no período subsequente ao “milagre econômico” nacional. Nessa época, a Holanda
era um país muito próspero, seu comércio florescia e seus habitantes estavam cada vez mais
confiantes. Os Países Baixos passaram por uma verdadeira revolução tecnológica e financeira e
se estabeleceram como epicentro do comércio mundial.

Em meio ao clima de otimismo, aos poucos, uma mania por tulipas emergiu e paulatinamente
foi crescendo, até o ponto em que a febre tomou conta de toda a nação (já viu o filme “A Bolha
Assassina”, clássico do “Cinema em Casa”? Se não viu, veja, pois é uma bela metáfora do que
acontece na vida real com as bolhas financeiras. Não vou falar mais nada, porque não quero dar
mais spoilers e o nome já sugere muito bem o enredo).
As tulipas são originárias da Turquia, mas foram levadas para os Países Baixos em meados do século
XVI. Inicialmente restritos à nobreza, com o passar do tempo, os bulbos ficaram muito populares e
passaram a embelezar os jardins das cidades locais. Embora já não fossem lá muito baratas, foi a
infecção delas por um vírus, o vírus do mosaico da tulipa, que fez com que a demanda aumentasse
exponencialmente. O vírus contaminava, mas não matava as tulipas. As consequências da infecção
eram flores com pétalas com listras e cores variadas. Quanto mais diferente era uma tulipa, mais
rara e, obviamente, cara ela era.

A empolgação do povo holandês fez os preços dos bulbos começarem a subir sem motivos reais,
a uma velocidade absurda. E onde há irracionalidade, há especulação. Os mercadores tentavam
predizer qual seria a próxima variedade da moda e compravam pilhas de flores, a fim de se
anteciparem a uma futura alta de preços. Como o valor das plantinhas só aumentava, todo mundo
no país começou a vê-las como um “ótimo investimento”. Quando digo todo mundo, é todo mundo
mesmo. No livro “Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds”, o autor, Charles
Mackay, afirma que nobres, plebeus, fazendeiros, mecânicos, agricultores, sapateiros, limpadores
46 de chaminé, enfim, todo mundo, entrou na festa. Aos poucos, toda a indústria da Holanda foi
relegada a segundo plano. Ninguém queria produzir mais nada. Todos queriam investir apenas
em tulipas. Sabiamente, Mackay afirma que as manias especulativas são uma manifestação da
tendência ocasional da sociedade a sucumbir à ilusão e à loucura em massa. Segundo o autor, os
homens pensam e se enlouquecem em rebanho, mas apenas recobram o juízo lentamente, e um
a um.

As pessoas penhoraram suas joias, terras, propriedades e até móveis para comprar mais e mais das
flores. A disseminação de instrumentos derivativos, como opções de compra (veremos esse assunto
em detalhes no nosso curso), permitiu que a alavancagem – que é a utilização de recursos de
terceiros, ou seja, endividamento, para obtenção de retornos maiores que os possíveis a partir
do seu patrimônio individual – atingisse níveis astronômicos. Alguns céticos diziam que os preços
já estavam altos demais e que não havia sentido lógico em continuarem subindo. Porém, no dia
seguinte os preços subiam ainda muito mais, quebrando recorde atrás de recorde. Logo, muitos
daqueles que duvidavam do negócio se renderam à febre e passaram a “investir” em tulipas
também. O que esses céticos falharam em perceber foi que não era a lógica que dominava a
UM POUCO DE HISTÓRIA

mente da população naquele momento. Era a pura, explícita e grotesca loucura das multidões, as
pessoas estavam mais loucas que a Britney Spears careca, assoberbadas por todas as inúmeras
emoções, heurísticas, vieses e comportamentos animalescos que já discutimos.

Edward Chancellor, autor do livro “Salve-se Quem Puder”, afirma que os 2.500 florins (moeda da
Holanda na época) pagos por uma tulipa equivaliam a vinte e sete toneladas de trigo, cinquenta
toneladas de arroz, quatro bois gordos, oito porcos cevados, doze ovelhas gordas, dois barris de
vinho, quatro tonéis de cerveja, duas toneladas de manteiga, três toneladas de queijo, uma cama
com lençóis, um guarda-roupa completo e uma taça de prata. A depender da raridade, um bulbo
da flor podia chegar a custar mais de 6.000 florins! Ou seja, mais do dobro de tudo isso descrito
acima. Pequeno gafanhoto, nem um filhote de Dinossauro com Pokémon vale tanto!

O auge da mania especulativa ocorreu entre o fim de 1636 e início de 1637, quando os preços
chegaram a subir até vinte vezes. Eis que, de repente, de uma hora para outra, como sempre
acontece nessas loucuras especulativas, a farra subitamente cessou. De um dia para o outro, sumiram
os compradores de tulipas. Quando a boataria começou a se espalhar, alguns comerciantes
47
começaram a aceitar preços menores para vender seus bulbos. Imediatamente outros os seguiram.
E assim foi, sucessivamente. A euforia deu lugar ao pânico absoluto e, como uma bola de neve, os
preços rapidamente despencaram. Os negociantes pararam de honrar seus contratos de compra,
os mercadores de tulipas quebraram e muitos daqueles que os financiavam também. Quem havia
hipotecado suas propriedades ou vendido bens para tentar ficar rico rapidamente, perdeu tudo.
O governo tentou intervir e segurar os preços, mas isso só fez com que o desespero aumentasse
e os preços caíssem ainda mais. Da noite para o dia, as pessoas, que tinham vendido todos seus
bens para comprar tulipas, se viram cheias de flores sem nenhum valor. Como praticamente toda a
população do país estava, de algum modo, envolvida com as plantas, o impacto foi devastador.

A mania por tulipas deu lugar à fobia total pelos bulbos, que passaram a valer menos que um
vegetal qualquer. Após exagerarem os preços para cima durante a euforia, a manada, em pânico,
passou a exagerar os preços para baixo. Depois de um tempo, os preços da tulipa voltaram aos
patamares “normais”, de antes da mania, mas a Holanda – que era a nação mais próspera e
avançada da Europa antes do episódio – entrou em uma profunda depressão econômica, da qual
demorou anos para se recuperar.

• As Bolhas das Companhias dos Mares do Sul e do Mississipi

Normalmente, em todas as bolhas, os preços começam a aumentar, a princípio, em um ativo ou


setor específico. Às vezes, esses ativos que despertam a ganância inicial até apresentam bons
fundamentos. Porém, à medida que o frenesi vai aumentando, a qualidade dos ativos que atraem
a especulação vai declinando. Rapidamente, o mercado já está tomado de gente com as carteiras
cheias de títulos ou ações sem nenhum valor real, mas que custam quantias estratosféricas. Muitas
vezes, o que desencadeia o surto altista é uma inovação econômica ou tecnológica. No caso da
bolha dos Mares do Sul não foi diferente.

Assim como ocorreu com a Holanda, às vésperas da mania das tulipas, a Inglaterra teve um longo
período de prosperidade no século XVII. Assim como ocorreu com os holandeses, os ingleses
48 estavam todos otimistas e confiantes, ávidos para jogar todas as suas economias em novos
“investimentos certos”. E, assim como ocorreu com os holandeses, os ingleses quebraram a cara
bonito.

Em 1711, foi fundada a Companhia dos Mares do Sul, que assumiu uma grande dívida do governo
inglês e, em troca, recebeu o monopólio de exploração de todo o comércio com a América do
Sul. Apesar de nenhum dos dirigentes da Companhia ter a menor experiência comercial com
essa região do globo, eles eram hábeis marqueteiros. A empresa alugou uma mansão enorme em
Londres e a equipou com móveis e inúmeros artigos de luxo, para passar uma falsa imagem de
prosperidade para a população.

Aproximadamente na mesma época, em 1716, John Law, um escocês radicado na França, fundou a
Companhia do Mississipi. Law, muito próximo do governo francês, possuía o monopólio comercial
de vários empreendimentos na América do Norte e no Oriente. Ele também era muito bom com
marketing, mas nem tanto em entregar os resultados megalomaníacos prometidos (quaisquer
semelhanças com as “empresas X” – OGX, MMX, LLX, MPX, CCX, OSX, AUX, SIX, REX, IMX, NRX
UM POUCO DE HISTÓRIA

e RJX – de Eike Batista, que viraram febre no Brasil entre 2010 e 2012 e deixaram muita gente a
“ver navios” pouco tempo depois, não é mera coincidência. E, sim, meu pequeno gafanhoto, o
Eike Batista tinha todas essas empresas com três letras e um X no final, muitas delas negociadas em
bolsa. Não é uma zoação minha – nem a rainha dos baixinhos gosta tanto assim da letra “X”...).

John Law também era dono do banco nacional francês, o Banque Royale. A instituição financeira
desenvolveu o uso do papel-moeda na França, em substituição ao ouro, que à época era a principal
forma de moeda. Com o apoio da monarquia francesa, que passou a dar lastro aos papeis emitidos
pelo banco, os empreendimentos de Law deslancharam. O astuto financista utilizava o banco para
emitir quantidades crescentes de papel-moeda, a fim de conceder empréstimos para a compra de
ações de sua própria companhia. À medida que os preços das ações aumentavam, mais cédulas
precisavam ser emitidas, promovendo um ciclo vicioso de aumento de preços generalizado. Em
apenas dois anos, as ações da Companhia do Mississippi aumentaram mais de vinte vezes de
valor, em meio a uma espiral inflacionária sem precedentes. Foi nesse período, repleto de inúmeras
novas fortunas repentinas, que surgiu, pela primeira vez, o termo pelo qual você está doidinho
para se chamar: millionaire. 49
A invejinha de vizinho bateu do outro lado do canal da Mancha e os ingleses buscaram formas
de também capitalizar com o sucesso estrondoso do mercado parisiense. Assim, utilizaram
a Companhia dos Mares do Sul para assumir todas as dívidas da coroa inglesa. Em troca, a
companhia receberia pagamentos de juros do governo. A ideia da empresa era converter os
ativos que detinham os credores das dívidas assumidas em ações da Companhia dos Mares do
Sul. Para não encher sua paciência com detalhes técnicos do funcionamento do esquema, vou
sintetizar: havia um enorme estímulo para que a companhia passasse a emitir cada vez mais ações
a preços cada vez mais inflados. Conscientes do esquema, os especuladores mantinham sempre
em alta a demanda por ações da empresa, cujo preço aumentou mais de dez vezes desde o início
da bolha.

Quando o clima de euforia se instaurou de vez, começaram a surgir os oportunistas profissionais.


Inúmeras empresas com ideias, digamos, inusitadas começaram a buscar financiamento por
emissão de ações. Tinha empresa que se propunha a tornar potável a água marinha, negociar
cabelo humano, produzir uma bomba de ar para o cérebro (what?!), criar hospitais para crianças
bastardas, produzir prata a partir de chumbo, extrair luz do sol de pepinos (sério, quem perdeu
dinheiro com essa aqui, mereceu), produzir uma roda de movimento perpétuo e – rufem os tambores
– uma empresa para “realizar um empreendimento muito vantajoso, mas que ninguém poderia
saber o que é” (seriously... come on... os caras já estavam apelando muito na picaretagem).

Depois da fase habitual de euforia e dos recordes altistas, toda bolha tem seu fim. O estouro,
realmente, parece ser obra de uma agulha, pois ocorre com uma rapidez estrondosa. Em 1720,
na França, os investidores descobriram que o valor emitido em papel-moeda pelo banco de John
Law era alto demais. O governo francês não conseguiria cunhar moeda metálica em volume
suficiente para cobrir o lastro conferido, caso todos desejassem trocar suas notas por metais.
Claro que, quando a notícia se espalhou, foi exatamente isso o que aconteceu. Houve uma
corrida ao banco, que quebrou e levou junto as ações da Companhia do Mississipi. Quase que
simultaneamente, os ingleses começaram a desconfiar que o preço das ações da Companhia dos
Mares do Sul não encontrava quaisquer correspondências reais com as expectativas de lucros
futuros do empreendimento. Quando os próprios diretores e funcionários da empresa começaram
50 a vender suas ações, o pânico tomou conta e o mercado londrino também derreteu. As multidões
se enfureceram, a desconfiança absoluta passou a ser a regra e a prosperidade britânica, até
pouco tempo tão evidente, foi substituída por calamidades, falências e suicídios.

Muitos especuladores da época até sabiam que os preços de praticamente todos ativos negociados
estavam totalmente descolados da realidade e que havia uma bolha em andamento. Todavia, ainda
assim, compraram ações já supervalorizadas para tentar auferir lucro. Eles se baseavam, mesmo
que inconscientemente, no que, posteriormente, John Maynard Keynes, um ávido especulador,
denominaria de “teoria dos castelos no ar”. A essência da ideia consiste em lucrar com a insanidade
da psicologia das massas – já vimos sobre isso ao discutirmos o efeito manada e demais aspectos
comportamentais envolvidos nos investimentos –, que pode causar grandes oscilações no mercado.
Esses movimentos bruscos geram ineficiências e, consequentemente, possibilidades de ganho. O
especulador sabe que não existe valor intrínseco no ativo que está negociando, mas acredita
que seu preço continuará subindo mesmo assim, simplesmente porque haverá outras pessoas com
a intenção de pagar mais por ele, sem nenhum motivo real, apenas a boa e velha euforia de
rebanho. Uma outra nomenclatura – menos lisonjeira, mas mais apropriada – para essa forma
UM POUCO DE HISTÓRIA

de pensar é “teoria do maior idiota”, que atesta que um novo idiota nasce a cada minuto sempre
disposto a pagar mais pelo ativo, sem nenhum motivo real, apenas em razão da inércia promovida
pela psicologia das massas. Sugiro que grave esses conceitos e os aplique quando sentir vontade
de ir na onda das novas modinhas do mercado. Porém, pequeno e especulativo gafanhoto, não
estou recomendando que aplique achando que você será o megaespeculador top das galáxias
que vai enganar todos os trouxas e se dar bem. Pelo contrário, estou dizendo para você se lembrar
disso e ficar longe dessas histerias, pois o maior idiota pode acabar sendo você!

Conforme o spoiler que já havia dado na Introdução deste livro, Issac, o Newton, foi um dos que
achou que poderia lucrar especulando com ações na época. No entanto, também foi um dos que
mais se machucou. Ele perdeu uma enorme fortuna com o estouro da Bolha dos Mares do Sul.
Isaac, não satisfeito em vender suas ações muito cedo – exatamente como o viés da aversão ao
risco indica –, voltou ao mercado e comprou novamente ações justamente quando estavam sendo
negociadas no topo, só para vê-las despencar de valor logo depois – precisamente o que sugere
o excesso de otimismo e o efeito manada. Impressionante como os erros comportamentais nos
investimentos afetam a todos os seres humanos, não importa quão genial a pessoa seja. Dizem 51
que o trauma foi tão grande que, até morrer, Isaac não podia nem ouvir falar em Companhia dos
Mares do Sul sem ter vontade de ir ao banheiro. Eu te conheço, pequeno e malévolo gafanhoto,
sei que você está doido/doida para dar aquele beijinho no ombro e sentir aquela satisfação de
vingancinha no fundo da alma em virtude de o físico ter lhe dado tanta dor de cabeça durante o
ensino médio inteirinho... Aliás, tá aí a quarta lei de Newton para ensinarem na escola: “um corpo
que fica eufórico e exerce força seguindo a manada em surtos especulativos, tende a levar uma
bela força contrária na cara, entrar em pânico e perder todo o seu dinheiro”. Sei que você já se
esqueceu das outras três leis, mas decore, muito bem decorado, essa quarta, pois ela será vital
para o seu sucesso como investidor.

Seria possível, até racional, pensarmos que os britânicos aprenderam a lição após o desastre
especulativo que acabei de narrar. Todavia, racionalidade e mercado financeiro são dois conceitos
que, de tempos em tempos, se desentendem e preferem andar separados. Houve muitas outras
manias, amparadas nos mais diversos ativos, reais ou fictícios.
Em 1821, tomou conta da Bolsa de Valores de Londres uma especulação com títulos de empréstimo
para um país chamado Poyais (neste momento, você, pequeno e inocente gafanhoto, deve estar
tentando puxar do fundo da memória as lições da tia de Geografia sobre Poyais. Infelizmente, tal
qual ocorreu com os especuladores, seu esforço foi em vão. Esse país não existe e nunca existiu).

Pouco tempo depois, em 1822, a nova mania era especular com ações de empresas de mineração
britânicas, que tinham a intenção de explorar os recursos minerais da América do Sul, de modo
muito mais eficiente que os – palavras dos especuladores da época – “ignorantes espanhóis”.

Na década de 1840, a mania eram as ações da grande inovação tecnológica da época, as


companhias ferroviárias de longa distância. A euforia, como sempre, estimulou o surgimento de
inúmeros empreendimentos e direcionou imenso capital para o setor. O resultado você já conhece
bem: em 1850, as ações já haviam perdido 85% do preço em relação ao pico do surto. O
somatório do valor total de todas as ações de ferrovias correspondia a menos da metade do
capital que havia sido investido na construção destas.

52 Enfim, poderia ficar aqui escrevendo sobre a mania especulativa da moda desde gênesis até os
dias de hoje. Porém, este guia ficaria muito extenso. Em um ambiente propício, como no meu curso,
eu aprofundo muito mais no tema e trato, por exemplo, da bolha da internet dos anos 2000 e da
bolha imobiliário de 2008. Agora, vou dar um salto temporal para o século XXI, quando ocorreu
uma das maiores e mais famosas crises especulativas de todos os tempos – ou será que não?!

• A Bolha do Bitcoin (?)

Vamos discorrer um pouco acerca de um assunto que ainda se encontra em aberto, mas que tem
despertado a atenção das massas mundo afora, inclusive no Brasil. Afinal, o bitcoin e as demais
criptomoedas são uma bolha?! Você vai ficar rico ou pobre se investir agora em tais ativos?! Como
funciona esse mercado?! Aliás, exatamente o que é esse bicho, “bitcoin”?!

Você não vai gostar do que vou falar, mas a única resposta cem por cento honesta e adequada
que qualquer pessoa pode lhe dar para muitas dessas perguntas é um eloquente e retumbante
“num sei naum...”.
UM POUCO DE HISTÓRIA

Criptomoedas são ativos digitais, criados para funcionar como um meio de troca, cujas transações
são garantidas por métodos de criptografia, como os da tecnologia blockchain. A grande inovação
das criptomoedas são a sua descentralização. Como não são emitidas por nenhum governo, não
dependem e, portanto, não se submetem às políticas monetárias e às regras que controlam os
sistemas financeiros convencionais. Assim, são vistas como uma alternativa à moeda fiduciária (o
dinheiro convencional com o qual você está acostumado), garantida e controlada pelos bancos
centrais de cada país.

O bitcoin foi a primeira moeda digital a despontar. Foi lançado em 2009, por alguém sob o
pseudônimo de Satoshi Nakamoto. Até hoje ninguém sabe quem é o sujeito. Para a criação de
novos bitcoins, é preciso o trabalho de certos “mineradores”. Estes nada mais são que pessoas
que fazem uso de computadores para decifrar problemas matemáticos, cuja resolução dá origem
a novas moedas. O montante máximo de bitcoins a ser criado já é conhecido, pré-definido
matematicamente pelo tal do Satoshi. Além do bitcoin, existem inúmeras outras moedas digitais,
que utilizam as mais diversas tecnologias e possuem objetivos e métodos de funcionamento
singulares. A essas moedas alternativas dá-se o nome de altcoins. 53
Os defensores dos criptoativos argumentam que a sua descentralização permite que as transações
bancárias ocorram a um custo muito menor e a uma velocidade muito maior – sem barreiras
burocráticas, por não precisarem de intermediários, como ocorre com o sistema bancário
tradicional. Ademais, justamente por não dependerem de nenhum banco central, tais ativos
seriam mais resilientes a eventos financeiros causados por políticas equivocadas de governos e
instituições financeiras convencionais, como acabamos de ver na crise de 2008. Assim, devido às
suas características inatas, as moedas digitais estariam imunes a quaisquer interferências diretas ou
manipulações governamentais. Outro ponto é que tanto a criação quanto o registro das transações
das criptomoedas são controlados por códigos matemáticos, com critérios pré-estabelecidos de
forma transparente. Por isso, os seus entusiastas acreditam que estas são mais seguras como meio
de troca e reserva de valor que as moedas tradicionais, que dependem de um sistema de confiança
entre o cidadão, as entidades monetárias públicas e as instituições financeiras privadas.

Por outro lado, os incrédulos argumentam que os ativos digitais não têm valor intrínseco, justamente
por não serem garantidos por um governo central. Também criticam o fato de a descentralização
característica das moedas digitais facilitar a prática de atividades ilícitas, como fraudes fiscais
e lavagem de dinheiro. Ainda, a pouca aceitação, a complexidade da tecnologia e a extrema
volatilidade seriam empecilhos para a disseminação eficaz dessas moedas como meio de troca
ou reserva de valor.

Como você pôde perceber, existem argumentos fortes nos dois sentidos. A verdade mesmo é
que não tem como ninguém saber se o bitcoin ou qualquer outra criptomoeda vai subir ou cair
de preço daqui para frente. Eu não tenho bola de cristal, nem você e tampouco quaisquer dos
pseudoespecialistas que estão falando muito por aí. Nenhuma verborragia é capaz de esconder
uma das poucas certezas que temos na vida: não há como prever o futuro. Existem vários analistas,
investidores, estrelas de cinema e, se bobear, até ex-BBB “pitacando” sobre o tema. Tem opinião
para tudo que é gosto, com tudo que é fundamento e com todas as “certezas” que você quiser,
basta escolher. Sério, existe um self-service completo de ingredientes – ou melhor, informações –
“a gosto do freguês” sobre criptomoedas. Nem o Fábio Porchat no Spoleto consegue reunir tantos
ingredientes assim. Você pode, até mesmo, decidir previamente se “quer acreditar” que os preços
54 irão subir ou cair e só depois pesquisar sobre o assunto, apenas para encontrar um milhão de
opiniões apoiando a sua “sábia” decisão, no melhor estilo “armadilha da confirmação”.

Porém, apesar de ser impossível definir o futuro das moedas digitais, é inquestionável que, em 2017,
houve um momento de “exuberância irracional”. Nesse ano, as criptomoedas se comportaram
exatamente como prevê o efeito manada e a psicologia das massas. De uma hora para a outra,
o assunto se popularizou absurdamente. O número de brasileiros que “investiam” em bitcoins
rapidamente superou o de cadastros na bolsa de valores e no Tesouro Direto juntos! Conforme
poderia se imaginar, a partir de tudo o que já vimos, a euforia tomou conta. Em apenas um ano, o
preço do bitcoin subiu mais de dez vezes. Moedas menores elevaram-se a múltiplos ainda muito mais
avassaladores. Surgiram inúmeras novas moedas digitais, que ninguém sabia para que serviam,
lançadas a partir de ofertas públicas chamadas ICOs. Até que, de repente, o público cansou,
o entusiasmo exagerado perdeu força e logo cedeu lugar ao pânico. Os preços rapidamente
despencaram para menos de 60% do que estavam alguns meses antes. Menos de um ano após
o pico da moeda, a queda já chegava a 80%, maior que o crash das empresas pontocom, que
estudamos há pouco. Nem o Neymar caiu tanto quanto o bitcoin nesse ano. Consequentemente,
UM POUCO DE HISTÓRIA

a maioria daqueles que investiram em criptomoedas, inclusive no Brasil, durante o período da


euforia, perdeu bastante dinheiro.

Se os preços irão voltar a subir novamente ou se o valor das moedas digitais ainda cairá muito
mais, realmente, eu não sei. O comportamento futuro desses ativos dependerá das respectivas
influências na economia real. Quero dizer, o valor das criptomoedas está no desenvolvimento de
seu mercado, no aumento substancial de seu uso, na adesão a tais moedas como reserva de valor
ou meio de troca e no controle da grande volatilidade que as permeia. Enfim, o valor intrínseco
das criptomoedas depende da consistência do crescimento do uso de tais ativos. Todavia, nunca
é demais salientar, é inegável que houve uma mania clara em torno dos bitcoins em 2017 e que
muita gente saiu machucada financeiramente da experiência.

Para não cair em pegadinhas similares, você precisa desenvolver a sua própria metodologia de
investimentos. A não ser que saiba muito bem o que está fazendo, minha sugestão é que não faça
nada. Uma regra excelente para o mundo dos investimentos é “na dúvida, fique de fora”. Ao
optar por comprar qualquer ativo, principalmente os mais arriscados, é absolutamente essencial
55
que você saiba claramente onde está se metendo, quais os riscos envolvidos e exatamente o
que você está fazendo. Parece óbvio e simples, mas, na verdade, é muito difícil você dominar
todas essas condições. Por isso, pessoalmente, não me sinto à vontade para recomendar ativos
tão arriscados para ninguém. Nem mesmo para aqueles que tenham um perfil mais arrojado para
assunção de riscos. Aliás, a verdade inescapável é que, não importa o seu perfil, você precisa
ter uma estratégia clara para investir e assumir riscos, especialmente os mais significativos. Sua
estratégia deve respeitar seus objetivos e suas características, além de, acima de tudo, preservar
sua sanidade mental dos exageros com os quais o mercado irá tentar lhe afligir. Só assim você
estará apto a proteger o seu patrimônio (e a sua saúde) de perdas maiores que as que você é
capaz de suportar.

E, assim como o seu cunhado durante o almoço de domingo, falando sobre bitcoins, chegamos ao
fim de mais um tópico. Acredito que a grande lição desta parte do livro seja a de que você nunca
deve subestimar as consequências desastrosas que uma especulação malfeita pode acarretar.
Não importa a época, o tal do serumaninho sempre estará pronto para fazer cagada. Embora o
mundo progrida, a natureza humana continua a mesma. “A avareza, ou desejo de ganho, é uma
paixão universal que atua em todas as épocas, em todos os lugares e sobre todas as pessoas”,
escreveu, ainda no século XVIII, David Hume. Apesar de isso ser verdade, convenhamos, muito
inocente o David... Quem nos dera o problema fosse apenas o desejo de ganho – seria ótimo!
As perspectivas pioram muito quanto acrescentamos à formula o medo da perda, a corrupção,
as emoções extremas e a credulidade das massas. São incontáveis as emoções e os desvios de
comportamento que nos afetam quando tomamos decisões de investimento, por isso estou insistindo
tanto nesse tema.

A influência da psicologia das massas no nosso cotidiano não poderia ser mais ressaltada. No
século XVIII, o dramaturgo alemão Friedrich Schiller, que influenciou bastante o brasileiro Gonçalves
Dias (aquele do “minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá...”), afirmou sabiamente que
“qualquer um enquanto indivíduo é toleravelmente sensível e razoável. Porém, como membro de
uma multidão, torna-se de imediato um estúpido”. Segundo Sigmund, o Freud, na mesma obra já
56 citada anteriormente, “Psicologia das Massas e a Análise do Eu”, quando imersas numa multidão,
as pessoas tendem a se comportar como se fossem invencíveis, de modo irresponsável e impetuoso.
Para piorar, Freud afirma que o pensamento de massas ainda influencia negativamente o intelecto
das pessoas, ou seja, as deixa mais burras. É sério, quando fazem parte de uma multidão, os
participantes filtram e manipulam novas informações com o intuito de encaixá-las nas crenças
predominantes do grupo. Existem muitos estudos que comprovam isso. Os psicólogos chamam
esse fenômeno de “dissonância cognitiva”.

O pensamento de rebanho é apenas um dos comportamentos erráticos do mercado que


analisamos. Esses comportamentos assemelham-se muito a de um psicótico maníaco-depressivo:
hora freneticamente otimista, irrealisticamente eufórico e confiante numa alta de preços sem fim;
hora de humor depressivo e pessimista inveterado, certo de que o término do mundo está próximo.

A analogia acima foi feita por Benjamin Graham, autor de “O Investidor Inteligente”, e reiterada
por seu discípulo mais bem-sucedido, Warren Buffett, que afirmou, no relatório anual de 1987
de sua empresa, Berkshire Hathaway, que “o Sr. Mercado às vezes fica eufórico e só consegue
enxergar os fatos favoráveis que afetam os negócios [...] Em outras ocasiões, fica deprimido e não
UM POUCO DE HISTÓRIA

consegue ver nada além de problemas à frente, tanto para os negócios como para o mundo”.
Buffett narra vieses comportamentais que já vimos bem anteriormente, se lembra?! São o efeito
manada, os excessos de otimismo e de confiança e a armadilha da confirmação nas suas mais
puras formas – aplicados não apenas a um indivíduo, mas a um rebanho inteiro.

Para escapar desses erros cognitivos, Graham e Buffett recomendam que ignoremos essas
oscilações loucas e foquemos no real valor dos ativos. Concordo com esse tipo de pensamento,
mas, lhe garanto: isso é muito mais fácil de falar que de fazer. Para conseguir tal feito, você precisa
de uma estratégia de investimentos clara e da estrutura mental correta. É muito difícil se conter
quando parece que todo mundo à sua volta está ficando rico, que tudo está dando certo e apenas
você está “de fora” (mas, acredite, não está todo mundo ficando rico. Olhe em volta, quantas
pessoas que você conhece realmente ficaram ricas do dia para noite, a partir de “investimentos”
espetaculares?!). Por isso, no próximo capítulo, vou tratar de como a sua cabeça deve funcionar
para que consiga alcançar o sucesso nos seus investimentos – e, arrisco dizer sem medo, em todas
as outras áreas da sua vida.
57
58
4
MINDSET
Como pensa quem enriquece

A
pós você ter aprendido que a sua mente não é tão confiável quanto você acreditava e
que seguir a impulsividade da manada pode ser desastroso para o seu bolso, é hora de
discutirmos outro ponto muitíssimo importante para que você consiga investir adequada
e consistentemente: o seu mindset. Mas, afinal, o que exatamente é esse bicho? Mindset, conforme
definição da professora da Universidade de Stanford, Carol Dweck, autora do livro “Mindset: a
nova psicologia do sucesso”, é simplesmente a atitude mental com que encaramos a vida. Para
obter sucesso gerenciando o seu orçamento doméstico e investindo o seu dinheiro, é crucial que
59
você desenvolva e cultive o mindset adequado.

MINDSET FIXO VS. MINDSET DE CRESCIMENTO

O trabalho de Dweck foi amparado em anos de pesquisa e experimentos. De acordo com as suas
conclusões, existem duas formas de se encarar a vida que preponderam na maioria das pessoas.

A primeira seria sob a ótica de um mindset fixo, que acredita que as qualidades e habilidades humanas
são imutáveis. Ou você nasceria com determinado dom para certa atividade ou, já era, nunca seria
realmente bom naquilo. Essa mentalidade é extremamente contraproducente. Aqueles que a possuem
sentem a necessidade constante de provar o seu valor para si e para os outros. Assim, em todas
situações, se veem na obrigação de comprovar sua inteligência ou aptidão. Isso faz com que tenham
horror a erros, pois o menor deles confirmaria a total falta de aptidão para algo.

Por outro lado, existe uma mentalidade que se baseia na crença de que suas qualidades básicas
podem ser cultivadas, desde que você se esforce bastante. Esse é o mindset de crescimento. Quem
consegue pensar dessa forma desenvolve uma verdadeira paixão pelo aprendizado. Desse modo,
busca aprimorar-se cada vez mais em determinada tarefa e se aperfeiçoar em certa qualidade.
Desafios e infortúnios são encarados de forma positiva, pois oferecem uma oportunidade de
aprendizado e de crescimento. Esse mindset permite que seus detentores não desanimem ao
primeiro percalço e prosperem mesmo nos momentos mais desafiadores de suas vidas.

Nem preciso dizer que o mindset de crescimento prevalece na maior parte das pessoas bem-
sucedidas. Apesar das vantagens deste, desde criança somos condicionados a pensar sob a ótica
do mindset oposto, o fixo – como se cada acerto ou fracasso nos definisse para sempre. Uma
simples nota ruim pode servir para rotular a criança de pouco inteligente ou “devagar”. Todavia,
a vida não é tão elementar. É óbvio que existem pessoas com maior facilidade para determinadas
atividades. Porém, de modo algum, isso significa que as demais são incapazes de triunfar caso se
esforcem devidamente.

Infelizmente, quando falamos de finanças, essa preponderância do mindset fixo fica evidente. O
pensamento dominante é o de que se você não nasceu com “as nádegas viradas para a lua”,

60 ou com o “dom” ou o “gene” do enriquecimento, “vai morrer pobre”. Como você já deve ter
percebido, isso definitivamente não é verdade. Todas as habilidades que você precisa para obter
sucesso financeiro podem ser desenvolvidas. Por isso, pretendo ensinar-lhe tanto a estratégia
operacional quanto a cognitiva que você precisa cultivar para enriquecer.

Todavia, essa tarefa não é fácil. Apesar de sua grande relevância, o assunto deste capítulo é
uma parte constantemente tratada com certo desprezo por quem deseja enriquecer. Por um
lado, pessoas com viés mais técnico e pragmático buscam desenvolver apenas suas habilidades
operacionais e esquecem do lado subjetivo envolvido nas finanças pessoais. De outro, pessoas que
têm preguiça de ler textos mais complexos, ignoram assuntos mais científicos e “enchem a cara”
de conteúdos vazios de autoajuda e senso comum, sem muita aplicação prática. No entanto, não
deveria ser assim. Você deve buscar, obviamente, se aprofundar em leituras técnicas. Porém, é
essencial que também esteja disposto a desenvolver os hábitos e atitudes mentais adequadas para
alcançar o sucesso de modo consistente. Por isso, na minha opinião, esse é um dos temas mais
relevantes deste livro. A boa notícia é que é muito fácil compreendê-lo e assimilá-lo. A má é que,
justamente por parecer “simples demais”, a maioria das pessoas não vai colocar o aprendizado
deste capítulo em prática.
MINDSET

Meu pequeno gafanhoto, não seja preconceituoso e não salte as próximas páginas. Quem me
conhece sabe que não sou fã de livros de autoajuda. Conteúdos circulares sobre senso comum
definitivamente não fazem parte das leituras que me atraem. Todavia, apesar de parte deste capítulo
poder ser interpretado como pertencente ao gênero “autoajuda”, eu lhe suplico para ler tudo até
o final. Tudo o que vou escrever aqui é baseado em evidências empíricas e científicas, com imensa
aplicabilidade prática para quem deseja investir. Deixe um pouco de lado a desconfiança e tente
absorver o máximo de informação que puder. Não faça como a maioria – afaste-se da manada.

Muitos investidores apenas se atentam para a importância do mindset adequado após já terem
quebrado a cara e perdido muito dinheiro no mercado. Eles perdem justamente para as pessoas
que têm a atitude mental correta. Não se engane, no mercado não tem mimimi. O mercado é um
jogo de soma zero, simples assim, ou você ganha dinheiro ou você perde. Se tem alguém ganhando
é porque tem alguém perdendo. Claro, você pode até ganhar uma ou outra vez e, inclusive, se
tornar um investidor mediano sem ter dominado a mentalidade correta – porém, definitivamente,
não vai obter sucesso consistente no longo prazo. Grave bem as próximas palavras que você vai
ler, pois eu lhe garanto, na verdade, lhe juro de pés juntos: você apenas vai enriquecer de verdade 61
se dedicar especial atenção ao seu mindset.

Portanto, com o intuito de auxiliá-lo a firmar bases mentais sólidas para lidar com seu dinheiro e
com seus investimentos, vou ensiná-lo a desenvolver as principais características e atitudes práticas
necessárias para que consiga assimilar um mindset de crescimento. Apenas dessa maneira você
passará a gerir adequadamente seu orçamento doméstico e a investir de modo eficiente rumo à
independência financeira. Essas atitudes são disciplina, foco, persistência e paciência.

Aliás, já vá exercitando a última característica que citei. Calma. Eu sei que você já está cansado
de não ter dinheiro sobrando no final (ou mesmo já no início) do mês. Também sei que não
quer mais passar férias na casa da tia nem depender de previdência pública para se aposentar
satisfatoriamente. Sei que você não faz ideia de como usar o cartão de crédito adequadamente,
que está de saco cheio do tal do rotativo e que não aguenta mais entrar no cheque especial.
Também estou plenamente ciente das suas dificuldades em cortar despesas, aumentar receitas,
e, principalmente, em selecionar os investimentos certos para os seus objetivos de vida. Sim, é
essencial dominar todos esses assuntos para você tirar o freio de mão da sua vida financeira
de uma vez por todas e passar a sentir que tem controle sobre o próprio dinheiro (ao invés de o
dinheiro controlar você). Falaremos sobre como efetivar tudo isso nos próximos capítulos, mas,
antes, você precisa aprender direitinho o primeiro passo para aumentar a quantidade de dígitos
na sua conta bancária. E esse passo é mudar a sua mentalidade.

ATITUDES MENTAIS PARA SE ALCANÇAR A


INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

Infelizmente, a vida real não é como “The Sims”, para você digitar “rosebud” ou “klapaucius”
e ficar rico instantaneamente. Para enriquecer, você necessariamente terá de ser paciente e se
esforçar – muito. Tanto nos estudos, lendo atentamente a este livro, anotando e grifando todas
as informações relevantes; quanto na prática, quero dizer, depende de você, e apenas de você,
aplicar todo o conhecimento obtido aqui à sua vida. Afinal, você não espera ler um livro chamado
“Como ser Saudável e Entrar em Forma” e ficar rasgado(a) da noite para o dia, ainda mais se
deixar a dieta e os exercícios a cargo de outra pessoa. Portanto, também não espere ler um livro
62 sobre como conquistar a independência financeira e alcançar isso de uma hora para outra, muito
menos se não se dedicar pessoalmente a essa tarefa. Não vou te enganar. Não será fácil. Será
muito difícil. Mesmo eu tentando lhe passar o máximo de conhecimento que considero necessário
para o seu sucesso, não existe um caminho mágico. Muitos iniciam a jornada para a independência
financeira super empolgados, mas pouquíssimos persistem.

E por que motivo a maioria desiste logo após começar?! Muitas vezes, porque não tem as atitudes
mentais corretas enraizadas em sua vida, como hábitos definitivos. Para ser bem-sucedido na sua
jornada rumo ao enriquecimento, você terá de dar especial atenção às seguintes qualidades:
disciplina, foco, persistência e paciência. Gostaria de detalhar todas essas qualidades, mas isso
vai ter que ficar para o curso, agora vou falar apenas da característica mais importante que você
deve desenvolver: paciência...

• Paciência

Apesar de toda a sua disciplina, foco e perseverança, levará tempo até que você enriqueça.
Nada acontece de uma hora para outra. Mesmo que você se esforce, desenvolva um mindset de
MINDSET

crescimento e trabalhe as atitudes mentais certas, será necessário tempo para que o seu potencial
floresça. Portanto, para conquistar a sua liberdade financeira, terá de poupar, investir e deixar os
juros compostos fazerem sua mágica. E isso demora... É possível que fique ansioso e desanimado
no meio do caminho. Não à toa, a última atitude mental de nossa lista é a paciência, justamente
porque ela permeia e ampara todas as outras. Bill Gates afirmou que “a maioria das pessoas
exagera no que acredita ser capaz de fazer em um ano e subestima o que pode fazer em dez”. O
recado é claro: pare de ter pensamentos imediatistas e foque no longo prazo.

O BFF de Gates, Warren Buffett, passou a mesma mensagem de um modo um pouco mais
sarcástico. Com sua perspicácia metafórica de costume, o investidor disse, na carta anual aos
acionistas da Berkshire Hathaway de 1985, que “não importa o esforço e o talento, algumas
coisas simplesmente levam tempo: você não pode produzir um bebê em um mês engravidando
nove mulheres diferentes”.

De modo similar, mas com um pouquinho mais de sutileza, Liev Tolstói (que você talvez conheça
como Leo ou Leon), um dos grandes autores da literatura mundial, escreveu, em sua obra “Guerra
63
e Paz”, que os mais fortes de todos os guerreiros são estes dois: tempo e paciência. A frase de
Tolstói não poderia ser mais assertiva. Quem aqui já jogou Elifoot98 sabe muito bem que para
jogar nas divisões de cima, primeiro é preciso vencer as de baixo. Para enriquecer é a mesma
coisa. Não existem atalhos (e nem Omatic). Ter paciência é fundamental.

Por isso, durante todo este guia – você já viu e ainda verá muito mais –, eu bato na tecla de que
você não vai ficar rico de uma hora para outra. Sinceramente, não entendo por que a maioria das
pessoas tem esse tipo de pensamento. Estamos dispostos a ficar anos estudando e, em seguida, mais
anos adquirindo experiência para, só depois de muito tempo e esforço, nos tornarmos profissionais
respeitados. Afinal, ninguém espera se tornar um engenheiro ou um médico em uma semana.
Porém, muitos acreditam que irão pedir uma dica para o vizinho (ou para o guru “financeiro” do
momento), ler uma notícia (ou um cursinho sobre análise técnica), comprar meia dúzia de ações
da Ambev (ou de bitcoins) e ficar rico amanhã.
Esqueça isso! Se está decepcionado, sinto muito, mas este não é um livro que vai lhe prometer
riqueza instantânea, deixo isso para os vendedores de cursinhos online sobre “investimento” em
ações e derivativos. Você apenas pode ficar pobre rapidamente. Para ficar rico, terá de fazer isso
aos poucos e é melhor que comece logo.

COMO DESENVOLVER HÁBITOS NOVOS E MODIFICAR


ANTIGOS

Depois do que viu nos últimos tópicos, você já conhece quais são as habilidades mentais que
precisa desenvolver para se afastar da maioria e obter o que apenas a minoria consegue (uma
vida bem-sucedida e independente financeiramente). Agora, terá que transformar tais habilidades
em mais que conceitos abstratos que perambulam pela mente. Deverá tatuá-las no seu cérebro, a
fim de desenvolver novos hábitos indissociáveis da sua personalidade.

Se bem te conheço, pequeno e lamurioso gafanhoto, você já deve estar chorando – “ôôôxe,
64 mudar um hábito antigo é algo tão difícil... É impossíver... Cumé que ô vô fazer isso?! Num tem jeito
naum...”. Tem sim, meu pequeno gafanhoto. De acordo com Charles Duhigg, autor do best-seller
“O Poder do Hábito”, hábitos podem ser mudados, desde que entendamos como estes funcionam.

Portanto, a primeira coisa que precisa é entender o que é um hábito. Duhigg afirma que hábitos
são comportamentos automáticos, que surgem a partir de escolhas que fazemos de forma
raciocinada em algum momento. Porém, aos poucos, absorvemos essas escolhas e passamos a
agir continuamente de acordo com elas, sem mais sequer parar para pensar sobre o assunto.

De acordo com pesquisadores do MIT, hábitos surgem a partir de um loop neurológico – um


comportamento repetitivo autorreforçador. Funciona assim: um gatilho (Duhigg chama de deixa),
que nada mais é que um estímulo, faz o seu cérebro escolher como vai reagir a determinada
situação. Em seguida, você adere a determinada rotina de procedimentos para cumprir o estímulo.
Por fim, a depender da recompensa advinda da concretização da rotina, seu cérebro irá definir
se essa sequência comportamental merece ser memorizada. Se a resposta for sim e se você ansiar
por algo a ponto de repetir esse loop até que ele se torne automático, terá nascido um hábito.
MINDSET

E quando um hábito surge, caro gafanhoto, seja ele bom ou ruim, seu cérebro simplesmente para
de participar totalmente da tomada de decisões sobre o assunto. Quando isso ocorre, não é
apenas um determinado comportamento que muda, os padrões neurais do seu cérebro também
se modificam. Caso você faça uma tomografia antes e depois de alterar seus hábitos verá que
as áreas mais ativas são muito diferentes. É como se os hábitos ficassem codificados nos nossos
cérebros. Por isso, é tão difícil se livrar de hábitos antigos. Não é à toa que você sofre tanto quando
tenta fazer uma dieta, se está acostumado a comer apenas junk food. Da mesma forma, é por
esse motivo que você não consegue segurar o impulso de sair comprando tudo o que vê pela
frente, mesmo sem ter necessidade, e não consegue economizar nada do seu salário. Seus hábitos
equivocados de consumo, poupança e investimento já estão tão enraizados nos confins do seu
cérebro, que você não consegue agir de forma diferente.

Porém, não se desespere, é possível alterar ou substituir um hábito ruim, e eu te ensino bem direitinho
como fazer isso no meu curso. Aliás, lá eu também ensino sobre uma técnica desenvolvida por um
cirurgião da Universidade de Columbia que é muito utilizada por atletas de alta performance
para aumento de desempenho e ganho de consistência, que também poderá ser muito útil na sua 65
jornada como investidor: a psicocibernética e a visualização.
66
5
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO
Onde começa o caminho prático rumo à independência financeira

A
esta altura, você já aprendeu a monitorar seus pensamentos enviesados, já sabe
identificar e se precaver de bolhas e manias e já é capaz, até mesmo, de desenvolver
um mindset propício para planejar e investir bem o seu próprio dinheiro. Ademais, já tem
todo o conhecimento necessário para enfiar de uma vez por todas no seu cérebro os hábitos de
poupar e investir. Todavia, ainda é um pequeno gafanhoto e lhe falta conhecimento prático sobre
como colocar a mão na massa. Com tal objetivo, agora, irei ensinar-lhe a gerenciar seu orçamento
doméstico, ou seja, suas receitas e despesas – já adianto que sugiro que você comece, desde já,
67
a pensar em como obter fluxos alternativos de renda e em gastos desnecessários que possa cortar.
Ao final deste capítulo, responderei dúvidas quase existenciais, de tão comuns que são no nosso
dia-a-dia, como, por exemplo, “será que vale a pena usar cartão de crédito?”, “é melhor comprar
um imóvel ou alugar?”, “é vantajoso ter carro ou andar de Uber?”, “é preferível comprar à vista,
parcelar ou financiar?”.

COMO DOMINAR O FLUXO DE CAIXA DOMÉSTICO

Para conquistar sua independência financeira, além de desenvolver uma mentalidade adequada
(tratamos disso nos capítulos anteriores) e aprender como e onde investir (tema dos próximos
capítulos), você precisa dominar o seu fluxo de caixa doméstico. Mas o que é esse bicho?! É
simplesmente a diferença entre suas receitas e suas despesas em um intervalo de tempo específico
– por exemplo, mensal. E para que dominar isso?! Sei que é óbvio, mas muita gente esquece
que, para ficar rico, você precisa de... dinheiro! Assim, quanto maior a sua renda e quanto menos
gastar, mais conseguirá poupar. Consequentemente, mais fácil será para você enriquecer.
Portanto, devemos atacar duas vertentes orçamentárias: aumentar as receitas e reduzir as despesas.
Após conseguir colocar seu orçamento sob controle, o seu objetivo será pôr todo esse dinheiro
poupado para trabalhar para você, ou seja, investir de forma eficaz. Fazendo isso (poupando e
investindo consistentemente), os juros compostos – ou seja, juros sobre juros rentabilizando ano
após ano – se incumbirão de fazer com que seu capital se multiplique exponencialmente. Juros
compostos são o processo mágico que faz 10 + 10 ser igual a 21 e não a 20. A importância deles
é tamanha que Albert Einstein teria dito que são a maior invenção matemática de todos os tempos.
Já ouviu a expressão “dinheiro atrai dinheiro” ou que “o primeiro milhão é o mais difícil”?! Tudo
verdade. É assim que você vai enriquecer.

• Receitas

Quando falamos de receitas, o primeiro passo é você saber exatamente o quanto ganha. Pode
parecer absurdo, mas muita gente simplesmente não sabe qual a renda da família! Para isso,
anote em uma planilha (que será a base para o acompanhamento do seu orçamento doméstico)

68 exatamente qual é a renda da sua casa, incluindo salários de todos os membros e quaisquer
outras formas de remuneração que possa haver, como, por exemplo, receitas advindas de um
imóvel locado. Caso você e sua esposa tenham contas separadas, o exercício é o mesmo. A única
diferença é que haverá uma planilha individual para cada.

Após fazer o levantamento das suas receitas, comece a pensar em maneiras de ampliá-las. Para a
maioria das famílias, a principal fonte de renda é o salário, de um ou mais membros. A maior parte
dos indivíduos aufere receitas mensais como autônomo ou mediante um emprego fixo na iniciativa
privada ou no setor público. Se esse é o seu caso, não se conforme com seu holerite padrão,
procure maneiras de aumentar sua remuneração mensal. Dedique-se. Você pode se esforçar mais
para conseguir uma promoção ou passar em um concurso para um cargo que pague mais. Caso
seja um empresário, também pode (e deve) buscar formas de ampliar a sua renda mensal. Procure
captar mais clientes e desenvolver melhores produtos.

Para quaisquer casos, seja você um assalariado ou um empresário, vale a pena buscar fontes
alternativas de receita. Ou seja, desenvolva atividades que lhe proporcionem fluxos de renda
mensais, diversificados e constantes. Você pode abrir um novo negócio, vender algum
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

produto pela internet, montar uma franquia, criar conteúdo sistemático sobre algo que faz bem
e se tornar referência na área. Enfim, existem inúmeros caminhos para se seguir. Pare de perder
tempo procurando memes no Instagram e vá pensar em formas de ganhar dinheiro! Pessoas bem-
sucedidas fazem isso o tempo todo. Você acha que o Luciano Huck ganha dinheiro apenas como
apresentador de televisão?! Nada disso, ele é sócio de inúmeros negócios, como, por exemplo, a
grife de roupas “Reserva”, o humorístico “Porta dos Fundos”, academias de ginástica, empresas
de logística e até mesmo de software. E o inigualável, magnânimo, fenomenal Senor Abravanel?!
Ficou confuso? Não fique, esse é o nome do Silvio Santos. O cara possui, além do SBT, uma
empresa de capitalização (“É tele é tele é tele senaaaa!”), uma de cosméticos (quem nunca levou
um susto com a súbita aparição de uma propaganda da “Jequiti” do nada?!), um hotel, uma
corretora de seguros e várias outras.

Não é a intenção deste livro ensinar-lhe estratégias de negócios, apenas incentivá-lo a pensar
em formas de aumentar a sua renda. De qualquer maneira, vou lhe dar uma dica simples, mas
muito valiosa: não importa o que vai fazer, apenas faça algo. A inércia não é apenas uma lei
fundamental da física, mas também da psicologia. Seres humanos que estão parados na zona de 69
conforto tendem a continuar assim para sempre. O vencedor da renomada medalha Benjamin
Franklin de 2018, Adrian Bejan, autor do livro “The Physics of Life: The Evolution of Everything”,
argumenta, por meio de sua “Lei Constructal”, que tudo na vida exige movimento, fluxo, para
evoluir. Portanto, faça um esforço para sair do sofá e colocar alguma ideia em prática, que tudo
vai começar a se desenrolar naturalmente. Não fique preso em pensamentos infindáveis que te
aprisionam e impedem de agir. É impossível você saber o que vai acontecer se não tentar. Escolha
algo e mergulhe de cabeça.

Independentemente do que fizer, uma boa ideia é criar canais alternativos de vendas recorrentes
e escaláveis. Por exemplo, se for dono de um hortifrúti, ofereça opções de planos de assinatura
mensal para seus consumidores. Comprometa-se a entregar verduras e legumes frescos diariamente
para o cliente e garanta as vendas antecipadamente de forma automática, repetitiva e escalável.

O bilionário empreendedor brasileiro Flávio Augusto da Silva, fundador da escola de idiomas Wise
Up e dono do clube de futebol Orlando City, concorda comigo. Em um artigo intitulado “Dica aos
jovens: sejam ambiciosos e parem de perder tempo com o sistema educacional convencional”, ele
fala sobre a sua estratégia para criar negócios de sucesso. Flávio Augusto afirma que escolheria
o produto com o qual mais se identifica, estudaria tudo sobre ele e começaria a vendê-lo. Poderia
ser qualquer um: picolé, bala, bombom, relógio, pão – não importa. Em seguida, após conquistar
um pouquinho de capital, diz que criaria modelos recorrentes de venda do produto escolhido.
Por exemplo, se fosse um padeiro, desenvolveria um serviço de entrega de pães todas as manhãs
para os consumidores associados e se dedicaria a vender esse plano. Tudo isso poderia ser feito
sem muito capital, mas permitiria a ele começar pequeno e sonhar grande e com escala. Para
alavancar o negócio, Flávio diz que viveria com, no máximo, 50% das suas receitas. O intuito seria
ampliar o capital de giro, para, após muito estudo, começar a fabricar o produto e investir numa
marca própria. Depois, o bilionário ampliaria seu mix de produtos e criaria canais de distribuição
alternativos, como franquias, online, venda direta, B2B etc. Por fim, quando a empresa estivesse
grande, a venderia e investiria 95% do que conseguisse arrecadar em ativos conservadores. Com
os 5% restantes, adivinha?!, começaria tudo de novo para ampliar mais ainda suas fontes de
renda.

70 • Despesas

Apesar de levar tempo para você conseguir aumentar suas receitas mensais, é bastante fácil diminuir
seus gastos. Isso deve ser feito de imediato. Nem comece com o seu típico chororô, pequeno
gafanhoto, “ãinnn, ganho poku d+, num dá nem p cumê um expetinho com um dolly no fim de
semana direito... tô todo laixcado...”. Mentira. Eu te desafio a colocar no papel cada despesa
que você faz no mês, inclusive no cartão de crédito. Duvido que consiga. Cartão de crédito, ao
contrário do que muitos pensam, não é um superpoder que permite que você adquira as coisas
sem pagar por elas. A conta sempre chega quando a fatura fecha e, se você não pagar de cara,
ferrou de vez, vai entrar no rotativo, ser consumido por juros astronômicos e dívidas intermináveis
até perder totalmente o controle da sua vida financeira. Voltaremos a esse tema logo mais, mas,
ainda sobre suas despesas, a verdade é que praticamente ninguém controla de perto o que gasta.
No entanto, é fundamental, para sobrar dinheiro no fim do mês para você investir e enriquecer,
que você controle as suas despesas. Ficar rico todo mundo quer, não pense que é exclusividade
sua. Agora, fazer os sacrifícios que são requeridos para se enriquecer quase ninguém consegue.
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

Para você se diferenciar dessa vasta maioria de losers financeiros, sugiro fortemente que utilize a
sua planilha orçamentária (que você acabou de criar para colocar suas receitas, está lembrado,
né?!) para anotar também os seus gastos. Essa planilha pode ser bem simples, não precisa ser
nada sofisticado. Basta escrever, abaixo das suas receitas, quanto gasta com cada categoria de
consumo. Por exemplo, o valor do seu aluguel, financiamento de carro, energia elétrica, celular,
internet, supermercado, gasolina, manicure, clube (que você nunca vai), academia (que você vai
menos ainda), boteco (que você vai todo dia) e por aí vai. Coloque absolutamente tudo no papel
– ou, melhor ainda, no Excel. Analise com carinho quais são os seus maiores gastos e em quanto
é possível reduzi-los. Em seguida, passe para os gastos menores. Seja criterioso, realmente pense
se precisa gastar tanto assim com roupas todo mês, com um plano de celular tão caro, com uma
academia que você nunca vai, etc. Após uma análise criteriosa e sincera, que deve ser feita
juntamente de todos os membros da família, veja o que pode cortar. Sempre dá para cortar algo
(não aguento mais você choramingando). Depois de estabelecer quais gastos permanecerão,
defina metas mensais de valores. Por exemplo, prontifique-se a gastar, no máximo, 150 reais por
mês com as contas de todos os celulares da casa.
71
Aliás, defina metas para tudo que for fazer: ampliação de receitas, corte de gastos, poupança, etc.
Esse hábito irá auxiliá-lo a focar em seus objetivos, bem como a controlar o seu orçamento e a sua
evolução patrimonial. Sonhar alcançar a independência financeira é louvável. Porém, de nada
adiantam seus sonhos se você não os quantificar em metas. Estas permitem que seus objetivos
deixem de habitar exclusivamente no mundo das ideias e se tornem palpáveis e alcançáveis. As
metas devem ser desafiadoras, mas realizáveis. Não serve para nada você colocar uma “meta”
muito confortável, como, por exemplo, reduzir em apenas alguns centavos seus gastos com energia
elétrica. Ao mesmo tempo, você deve definir valores que conseguirá realizar – não adianta você
colocar como meta um sonho impossível, como reduzir em 90% a conta de luz, se é pai ou mãe de
uma penca de adolescentes que tomam banho quente de três horas de duração, secam o cabelo
e fazem chapinha todo santo dia.

Se você está gostando da ideia de ter controle das suas finanças domésticas, mas não consegue pensar
por onde começar – pois a sua situação já está para lá de bagunçada –, uma ideia é utilizar princípios
do “Orçamento Base Zero” (OBZ) para ajudar na elaboração do seu orçamento doméstico.
O OBZ é uma técnica de gestão americana que é amplamente utilizada pela Ambev (essa empresa
você vai reconhecer bem, seu gafanhoto cervejeiro. É a dona da – respire fundo – Skol, Brahma,
Antarctica, Original, Bohemia, Serra Malte, Polar, Caracu, Corona, Stella Artois, Budweiser,
Hoegaarden, Franziskaner, Leffe, Quilmes, Patagonia, Norteña, Wäls ...). A metodologia foi
responsável por propiciar ganhos operacionais incríveis a inúmeras empresas mundiais. Até hoje,
a Ambev é reconhecida globalmente por sua rigidez com despesas e alto controle sobre os gastos.
A lógica do OBZ é bastante simples e eu a detalho bastante no meu curso.

Por ser um tema bastante polêmico, que envolve pontos de vista e necessidades diversas, é
importante que toda a família esteja envolvida na elaboração e no acompanhamento do orçamento
doméstico. Caso contrário, é provável que a implementação efetiva deste fracasse. Apenas com a
compreensão do problema e a colaboração de todos os familiares, os resultados virão. Explique
claramente por que estão fazendo esse planejamento financeiro e tente unir todos os membros em
torno de um objetivo comum de enriquecimento familiar. A transparência é fundamental para o
processo.
72
O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA INDEPENDÊNCIA
FINANCEIRA

Independência financeira significa ter controle sobre o próprio dinheiro e, principalmente, sobre o
próprio tempo. Significa liberdade de escolha. Saber como, quando e onde gastar. Definir suas
prioridades e ter tempo livre para fazer o que ama, seja mudar de ramo profissional, viajar ou passar
mais tempo com a família. Se você atingir tal independência, poderá gastar com tranquilidade,
pois saberá o que se enquadra no seu orçamento. Estará apto a decidir quando e onde passar
férias, pois não será pego de surpresa com a conta do cartão de crédito no fim do mês. Também
não ficará desesperado, se preocupando com o que a “rádio peão” está anunciando sobre a
“iminente onda de demissões da firma” ou com a “impossibilidade de se aposentar”, devido à
“demoníaca” reforma da previdência. Principalmente, terá a oportunidade de chegar ao final da
vida sem ficar choramingando que deveria ter “seguido os seus sonhos”, “conhecido o mundo”,
“passado mais tempo com a família” ou “acompanhado os filhos crescer”.
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

Mas o que é que eu faço com essa tal liberdade – ou melhor, como é que eu alcanço essa tão
sonhada liberdade, que vem junto da autonomia financeira?! Primeiramente, você deverá delimitar
os valores que significam, na sua concepção, “ser independente”. Estes variam de acordo com os
objetivos de cada um. Vai depender muito das suas necessidades e do estilo de vida que deseja
ter no futuro. Os mais frugais podem decidir que, para alcançar sua liberdade financeira, precisam
de apenas quinhentos mil reais em aplicações financeiras. Por sua vez, os amantes de uma vida
mais luxuosa podem estabelecer que, para eles, independência financeira é ter dez milhões de
reais investidos. Esses valores são muito subjetivos. Você terá uma noção melhor depois que fizer
seu orçamento doméstico e tomar conhecimento do seu verdadeiro custo de vida. Muita gente
acredita que vive com três mil reais mensais, quando, na verdade, são sete. Por outro lado, tem
os que acham que precisam de trinta mil reais por mês para viver bem, sendo que, na realidade,
bastariam dez.

Após ter definido o quanto necessita para se considerar financeiramente liberto, você deverá fazer
a engenharia reversa para descobrir quanto precisa poupar por mês e por quanto tempo, bem
como onde investir, para que alcance a sua independência financeira. Ensinarei como fazer todas 73
essas avaliações quantitativamente de forma detalhada no capítulo 9, quando trataremos da
operacionalização do seu planejamento financeiro. De antemão, já adianto que é evidente que,
quanto mais você conseguir poupar – desde que não prejudique o que considera essencial para
sua boa qualidade de vida –, melhor. Pessoalmente, eu consigo economizar algo próximo de 50%
da minha renda mensal. Alguns podem achar esse valor muito alto ou muito baixo. Porém, não
existe um número mágico. Vai depender dos seus objetivos e hábitos de vida. O importante mesmo
é você definir uma meta e se manter atento ao cumprimento desta. A independência financeira é
uma decisão pessoal.

Creio que tenha entendido bem a importância de desenvolver uma mentalidade poupadora.
Mesmo assim, apenas para garantir que você não vai estragar tudo, vou recapitular brevemente o
que abordamos neste capítulo. Espero que, com isso, você nunca mais perca o controle das suas
finanças.

Primeiro passo: elabore um orçamento doméstico. Faça uma planilha no Excel ou em papel
mesmo, como se sentir mais confortável. Anote todas as suas receitas e todos os seus gastos, bem
discriminados. Calcule exatamente quanto está sobrando (ou faltando) ao fim de cada mês. Faça
isso com a participação de toda a família e, juntos, definam quais gastos serão reduzidos ou
cortados. É muito importante o comprometimento de todos.

Segundo passo: estabeleça objetivos para aumentar suas receitas e, principalmente, valores
máximos para suas despesas, discriminadas por categorias.

Terceiro passo: defina uma meta de poupança e não gaste esse dinheiro – trate-o como se fosse
um valor deduzido do seu salário na fonte.

Quarto passo: invista o que economizar. Esse dinheiro será responsável por alimentar o crescimento
do seu patrimônio e da bola de neve de capital que proporcionará seu enriquecimento no longo
prazo.

Quinto e último passo: após a elaboração do orçamento inicial, monitore-o constantemente. Alguns
aplicativos podem ajudá-lo a acompanhar as suas finanças. Independentemente da maneira que

74 fizer, mensalmente, atualize seu orçamento doméstico. Fique atento aos gastos com cartão de
crédito e seja paciente.

Por fim, antes de finalizar mais um capítulo, irei responder algumas dúvidas sobre finanças pessoais
extremamente comuns. Vale a pena você ler todos os tópicos com atenção, pois provavelmente irá
tirar lições e dicas práticas valiosas para o seu dia-a-dia.

OS QUESTIONAMENTOS MAIS COMUNS

• Ah, não estou gostando muito dessa ideia de economizar. Eu gosto


mesmo é de gastar! Eu não ligo para livros, filmes, viagens, meu
maior lazer é ir ao Shopping e sair com um monte de sacolas! Será
que tem como eu conciliar esse meu prazer com a obtenção da minha
independência financeira?

Não serei demagogo, pequeno e perdulário gafanhoto. Certamente, será muito mais difícil e lento
para você alcançar a independência financeira em comparação a uma pessoa que não tem essa
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

avidez por consumir. Na minha opinião, seria interessante você repensar os seus hábitos.

Sugiro que adote uma postura minimalista. Compre roupas, por exemplo, apenas quando
realmente precisar. Defina quantas peças de vestuário necessita e se atenha a isso. Na minha
casa, eu e minha esposa optamos por obrigatoriamente doar, no mínimo, uma peça de roupa para
cada novo item comprado. Assim, nos obrigamos a avaliar com cuidado se realmente estamos
precisando ou querendo a nova roupa, pois sabemos que teremos de abrir mão de alguma outra.

Algo simples, mas que funciona muito bem para evitar o consumismo, é adotar o seguinte mantra:
“Na dúvida, não compre!”. Se você está pensando se compra ou não, se está se questionando
se realmente “amou” aquele produto, muito provavelmente é porque não está precisando dele.
Assim, não fique se imiscuindo em dúvidas existenciais profundas a cada vez que for comprar
algo. Se você titubeou na hora de fechar a compra, simplesmente vá embora da loja e não olhe
mais para trás.

Todavia, se você está se lixando para minimalismo ou para a minha opinião sobre hábitos de
consumo, se tem consciência de que gosta mesmo é de comprar e não quer mudar isso, recomendo
75
que, ao menos, adote uma abordagem que satisfaça aos seus desejos sem impedir que continue
poupando e investindo consistentemente.

Para isso, defina um limite de gastos supérfluos por mês que não impedirá que você bata sua meta
de poupança (mas não vale distorcer o combinado e passar a considerar essenciais despesas com
roupas, sapatos, bolsas, relógios, joias, bijuterias, hoverboards, bonequinhos do Star Wars, kits de
maquiagem da Kylie Jenner e sei lá mais com o que você gosta de gastar). Dessa forma, você irá
aumentar o tempo necessário para enriquecer e terá menos capital acumulado no futuro. Porém,
se gastar sem necessidade vai melhorar substancialmente sua qualidade de vida e felicidade no
presente, essa pode ser uma abordagem válida para você (embora não para mim, que fique bem
claro).

Satisfação pessoal é algo extremamente relativo. O importante é que você se conheça e saiba
que sempre deverá abrir mão de uma coisa para obter outra. Toda opção tem suas próprias
consequências. Eu e minha esposa, por exemplo, gostamos muito de viajar. Porém, não sentimos
necessidade de gastar com itens supérfluos, como os que citei anteriormente. Também abrimos
mão de ter uma empregada doméstica, possuímos apenas um carro e comemos pouco fora de
casa. Isso não nos torna melhores ou piores que ninguém. São escolhas. Você é livre para fazer
as suas.

• Oh, Állan, quando falou sobre despesas, você disse que devemos
ter cuidado ao usar o cartão de crédito... Não entendi muito bem...
Devo cortá-lo de vez ou existe uma maneira correta de utilizá-lo?

Muitos planejadores financeiros recomendam a todos os seus clientes simplesmente cancelar os


seus cartões de crédito. Normalmente, eu não concordo com essa abordagem. Para mim, o uso
adequado do cartão de crédito pode ser vantajoso e explicarei por quê.

De fato, cartões de crédito podem ser um dos principais gargalos para o seu dinheiro. Principalmente
se você for uma pessoa impulsiva, que gasta no susto e não resiste às tentações de uma loja em
promoção. Caso tenha sentido que descrevi o seu horóscopo, de cara, já pode cancelar o cartão
76 de crédito, sim – ao menos até modificar essa sua personalidade.

Além disso, se tem um milhão de cartões, não sabe direito qual usar e se embanana todo para
organizar e pagar as inúmeras faturas, cancele tudo até se reorganizar. Quando voltar a usar
cartões, faça isso de forma equilibrada e fique com apenas uma ou duas bandeiras.

Ainda, se você é do tipo que sai comprando tudo parcelado e não tem a menor ideia do valor
das faturas deste e dos próximos meses, também terá de mudar seus hábitos. Ou você começa a
se organizar, incluindo todas as despesas do seu cartão de crédito no seu orçamento, ou é melhor
cancelar e quebrar em mil pedaços o pedaço de plástico.

Ah! Jamais concorde em pagar anuidades. Se não conseguir isenção do banco, melhor não ter.
Não vou nem falar de pagamento mínimo e uso de rotativo. Se você faz isso, esquece, cartão de
crédito não é para você. Os juros são monumentais e destroem as suas finanças.

Todavia, se você é um cidadão equilibrado e que não começa a sentir um comichão na alma toda
vez que vê as palavras “Black Friday”, “desconto” ou “liquidação”, é possível, sim, fazer uso do
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

cartão de crédito. O mercado de cartões de crédito no Brasil é bastante peculiar. Esses meios de
pagamento, ao contrário do que ocorre em outros países, permitem que você adie suas despesas
sem pagar juros diretos por isso (você paga juros indiretos embutidos na transação, mas dos quais
não tem como escapar de qualquer forma enquanto a regulação do mercado não for modificada
ou os vendedores começarem a conceder descontos para pagamentos no débito ou dinheiro,
prática ainda não tão comum).

Assim, quando paga no cartão de crédito, você consegue adiar até o próximo mês (ou meses, se
for parcelado) a despesa e, consequentemente, rentabilizar no mercado financeiro o dinheiro que
usaria para fazer o pagamento à vista, investindo da maneira que irei lhe ensinar. No entanto,
como veremos no próximo tópico, isso apenas vale a pena se você não conseguir descontos para
pagar no dinheiro ou no débito. Outra vantagem do cartão de crédito é que você recebe pontos e
milhas, que podem ser úteis para reduzir despesas com passagens aéreas e outros gastos básicos.

Obviamente, nenhuma dessas vantagens importa se você for desorganizado ou um consumidor


compulsivo. Para ter direito a fazer uso do cartão de crédito, deve primeiro garantir que não se
77
enquadra no padrão “amante de Black Friday” que já descrevi. Ainda, deve conseguir mensalmente
conferir os gastos feitos no cartão e ter a disciplina de lançá-los na sua planilha orçamentária.
Aliás, não basta você controlar a fatura do mês, deve estar a par de todos os vencimentos futuros.
Caso contrário, pode perder o controle e comprometer todo o seu orçamento “em dez vezes com
muitos juros”.

• Então desembucha logo o que interessa, Allan. Nunca sei se devo


comprar à vista ou parcelar no cartão de crédito... O que devo fazer?

Calma, feroz e insensível gafanhoto. Conforme expliquei, existe uma maneira adequada de utilizar
o cartão de crédito. Esta envolve equilíbrio psicológico e disciplina organizacional. “Beleza, mas
quando devo optar por comprar no cartão????!”

Inexplicavelmente, é um procedimento comum em muitas lojas cobrar o mesmo preço para vendas
no dinheiro, no cartão de débito, no crédito em uma vez ou mesmo no crédito parcelado em um
milhão de vezes sem juros. Digo inexplicavelmente porque a legislação atual permite que o lojista
diferencie preços de acordo com a forma de pagamento escolhida pelo consumidor. Todavia,
poucos fazem isso, ainda que tenham custos consideravelmente superiores para vendas efetuadas
no cartão de crédito, especialmente no parcelado sem juros.

Portanto, a primeira coisa que você deve sempre fazer ao comprar algo é chorar um desconto
para pagar no dinheiro ou no débito, pois isso é vantajoso tanto para você (que pagará menos)
quanto para o lojista (que terá custos menores). Tecnicamente – diriam os economistas mais
meticulosos –, você deveria comparar a taxa com a qual conseguiria rentabilizar o seu dinheiro
no mercado, de acordo com o número de parcelas, com o desconto para se pagar à vista. Porém,
sejamos práticos. Você não vai andar com uma calculadora financeira para fazer contas cada vez
que for comprar algo. Até porque, especialmente com a taxa Selic em patamares baixos, a não
ser que você seja um gênio da especulação financeira, inevitavelmente será vantajoso o desconto
ofertado pelo lojista, não importa o percentual.

Sendo assim, grave isso: você sempre preferirá pagar à vista caso obtenha algum desconto. Por
outro lado, se o lojista insistir em cobrar o mesmo valor por um produto à vista ou em trinta vezes

78 sem juros, parcele. Financeiramente, será vantajoso você parcelar no maior número de vezes
possível. Todavia, novamente vou insistir no mesmo ponto, apenas faça isso se tiver total controle
sobre os seus gastos no cartão de crédito! Isso significa disciplina para resistir a gastos impulsivos
e para sempre incluir no orçamento doméstico as despesas presentes e futuras feitas com o cartão.
Jamais fique no escuro, sem saber qual é o valor que já está comprometido nas faturas futuras em
virtude de parcelamentos anteriores.

• Eu tenho um dinheirinho guardado. Estava pensando em comprar


uma carroça, para abandonar o busão, e uma casinha, para ter o meu
cantinho... Você acha interessante eu comprar tudo à vista, financiar
ou mesmo não comprar nada – viver de aluguel e andar de Uber?

Se ser bem-sucedido profissionalmente e consumir à vontade é o “american dream”, certamente


comprar o carro e, principalmente, a casa própria é o “brazilian dream”. Desde sempre, está
empedernido na mentalidade dos “Charlinhos” brasileiros que eles têm que ter um carro por
membro da família e comprar a casa própria a qualquer custo. O resultado é que, por aqui, a
pessoa mal começa a trabalhar e já sai financiando um automóvel e, logo depois, um imóvel.
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

Eu não concordo com esse tipo de atitude. Porém, é preciso frisar que ambas as decisões são muito
pessoais, pois envolvem questões subjetivas. Vou começar falando do carro, pois é um pouco mais
simples. Em seguida, esclareço a minha visão quanto à compra de um imóvel.

Para decidir se vale ou não a pena ter um carro, você deve avaliar e pesar os seguintes aspectos:
custos, rotina e comodidade. Comprar um automóvel implica uma série de despesas que irão além
do carro em si. Você terá obrigatoriamente custos com depreciação (certamente você já percebeu
como seu carro cai de valor a cada ano a um ritmo alucinante), gasolina, estacionamentos, mecânico
(troca de óleo, de peças antigas, pneus gastos, etc), IPVA, DPVAT e Taxa de Licenciamento. Muito
provavelmente, se for como grande parte da população, também irá querer contratar um seguro
contra roubos e acidentes. Além disso, eventualmente terá de arcar com multas, batidas, pneus
furados e por aí vai. Caso tenha concluído, após fazer todas as contas, que esses gastos cabem no
bolso, ainda assim, recomendo que avalie qual a sua rotina. Se ela for simples e você conseguir
se virar bem com caronas, metrô e Uber, financeiramente, será muito mais vantajoso investir todo
esse dinheiro do que gastá-lo comprando e mantendo um carro próprio.
79
Todavia, como já afirmei, todas decisões são relativas. Depende muito das características e dos
valores de cada um. Se sua rotina familiar é complexa demais para ficar sem um automóvel ou
se você é daquelas pessoas que amam comodidade, que se sentem muito mais felizes, plenas
e realizadas tendo o carro próprio e fazendo os seus horários sem depender de absolutamente
ninguém, tudo certo. Compre o carro. Apenas esteja ciente de que estará abrindo mão de um
patrimônio futuro consideravelmente superior. Um meio termo, para famílias que têm mais de um
carro, pode ser optar por ficar com apenas um e abrir mão dos demais. Eu mesmo fiz isso.

Quanto aos imóveis, a situação é um pouco mais delicada. Muito em virtude da hiperinflação e
do histórico de constante alta de preços no mercado imobiliário, os imóveis são vistos como os
melhores investimentos possíveis no Brasil, juntamente da poupança (outra furada, como veremos
adiante). Embora realmente tenham se valorizado bastante, se partirmos de uma análise de
décadas atrás, a realidade agora é outra. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), publicados no estudo “Mudança Demográfica no Brasil no Início do Século
XXI: Subsídios para as projeções da população”, o Brasil passa por uma transição demográfica
substancial. O crescimento da população praticamente estagnou e, a partir de 2045, entrará em
declínio. A migração interna para os grandes centros, onde os preços são maiores, também vem
se tornando menos intensa e já não é mais tão relevante quanto antes. Tudo isso reduz a demanda
por imóveis e, consequentemente, a tendência de alta de preços.

Além do mais, a inflação – embora ainda deva ser motivo de atenção –, após o Plano Real,
encontra-se relativamente estabilizada. Bem longe dos patamares absurdos que alcançava
algumas décadas atrás. Sem falar que, como mostrarei nos capítulos seguintes, existem formas
muito melhores de se proteger da depreciação da moeda e ainda auferir ganhos reais, mediante
a compra de títulos indexados ao IPCA. Por tudo isso, e por terem atingido um valor já bastante
elevado para seus fundamentos, como investimentos em si, imóveis, na minha opinião, não são
ativos com boas perspectivas de crescimento.

Voltaremos a avaliar o mercado imobiliário, como alternativa de investimento, no capítulo 8,


quando formos falar de fundos de investimento imobiliário. Todavia, não percamos o foco. Nosso
objetivo agora é analisar se é interessante comprar imóveis não para investir, mas para morar, ao

80 invés de pagar aluguel.

Novamente, a primeira coisa a se fazer é colocar no papel todos os gastos que a compra de
um imóvel gera. Além do valor principal, de cara, já terá que pagar taxa de registro, escritura
e imposto de transferência. Ao contrário do que muitos pensam, esses gastos extra não são
nada baixos. Variam, em média, de 5% a 8% do preço do imóvel! Também não se esqueça
das despesas subsequentes com IPTU, reformas e manutenção da casa ou do apartamento,
que não são triviais. Em virtude de todos esses custos, imóveis, assim como os automóveis, são
considerados um patrimônio oneroso. Afinal, geram gastos constantes, apresentam um grande
custo de oportunidade (o dinheiro destinado a esses bens poderia estar sendo rentabilizado a juros
compostos se investidos em outros ativos) e, consequentemente, limitam muito o seu enriquecimento.

Apesar de todas essas despesas, muitos argumentam que, ainda assim, valeria a pena comprar o
imóvel, tendo em vista que a alternativa seria pagar aluguel... Será?!

Primeiramente, vamos imaginar que você não tem dinheiro para pagar o imóvel à vista. Logo, teria
de obter um financiamento. Muita gente diz que prefere financiar ao invés de alugar, pois aluguel
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

“é dinheiro jogado fora”. Ora, sob tal ótica, ir ao médico ou contratar um jardineiro também seria
dinheiro “jogado fora”. Aluguel é o pagamento pelo direito de morar em determinado local. Ou
seja, é o preço de um serviço, como outro qualquer. Você pode até pensar “mas se eu pagar o
aluguel a casa nunca vai ser minha. No caso de ser financiado, pelo menos o imóvel é meu!”.
Ledo engano... O imóvel, até a sua total quitação, é do banco. Você vai ser uma espécie de
inquilino que paga juros ao invés de aluguel. Tanto é que, se não conseguir pagar as prestações,
o banco vai tomar o imóvel de você. A esta altura, você deve estar questionando, “mas ao final
das prestações, a casa será minha...”. Nisso você tem razão, astuto e caseiro gafanhoto. Todavia,
quando você opta pelo financiamento, gasta um valor mensal apenas com juros, sem contar a
amortização, muito superior ao aluguel de um imóvel semelhante. Se você poupasse o dinheiro
extra gasto com os juros do financiamento e o investisse, certamente conseguiria comprar a casa
à vista muito antes do término das prestações.

Eu poderia lhe provar tudo o que disse matematicamente, mas essa não é a abordagem deste
livro. Eu te conheço, sei que não está a fim de passar o olho por um monte de cálculos, ainda
que simples, apenas para concluir que pagar juros é uma furada enorme. Se ainda assim não 81
estiver convencido, basta pesquisar no google, existem vários sites e blogs com esses cálculos. De
qualquer forma, vai por mim, pode confiar, pagar juros para banco não é vantajoso para o seu
enriquecimento. Já percebeu que de própria essa casa financiada não tem nada, não é?! Melhor
ficar no aluguel...

Agora vamos supor que você juntou uma grana e que teria condições de comprar o imóvel à
vista. Mesmo assim, financeiramente, é muito provável que seja melhor você viver de aluguel. Isso
porque, como disse anteriormente, as perspectivas de valorização dos preços dos imóveis não
são muito promissoras. Assim, é mais interessante investir o dinheiro que gastaria com a casa e
utilizar os rendimentos para pagar o aluguel de um imóvel semelhante. Muito provavelmente, com
a rentabilidade do montante investido, mesmo em ativos mais seguros, como os de renda fixa, você
conseguirá pagar o aluguel e ainda sobrará uma quantia a ser reinvestida. Portanto, manter o seu
dinheiro investido, ao invés de imobilizado, é a melhor opção e é o que permitirá que sua bola de
neve patrimonial continue a crescer.
Aliás, outra desvantagem de imóveis é a baixa liquidez. Quando você compra uma casa,
deixa imobilizada uma grande quantia. Esse dinheiro poderia ser utilizado para se aproveitar
oportunidades de investimentos em outros ativos ou mesmo em um momento de emergência.
Talvez você já tenha passado por situação semelhante – teve a necessidade, por algum motivo,
de vender um imóvel rapidamente, mas simplesmente não encontrou compradores interessados ou
recebeu apenas ofertas muito abaixo do que gostaria. Estudaremos melhor esse risco nos capítulos
seguintes, não fique ansioso.

A análise que fizemos até agora foi sob uma ótica financeira. Porém, na minha opinião, nem
sempre maximizar o lucro monetário é a melhor decisão. Depende muito dos seus planos de vida.
Para muitas pessoas, ter o conforto e tranquilidade de uma casa própria, como diz a Mastercard,
não tem preço. Tem gente que simplesmente não está nem aí para ficar rico o quanto antes. Prefere
não ter que ficar pagando aluguel todo mês, não precisar lidar com um locador mala e nem correr
o risco de eventualmente ser forçado a se mudar, na hipótese de o dono do imóvel pedi-lo de
volta. Enfim, você terá de pesar o que é mais importante para você e para a sua família. Eu e minha
82 esposa optamos por viver de aluguel por enquanto, mas nada impede que algum dia compremos
nossa casa própria.

Caso você se enquadre nesse perfil e continue sendo um fervoroso adepto do “brazilian dream”,
minha recomendação é que, se conseguir esperar, não gaste rios de dinheiro comprando um
carro ou um imóvel de alto valor logo no início de sua vida financeira. Utilize esse capital para
alavancar o seu enriquecimento e poderá comprar essas coisas e muito mais no futuro. O ideal
é que o dinheiro alocado no seu patrimônio oneroso (automóveis e imóveis) não supere 15% do
seu patrimônio líquido total (todos os seus ativos menos quaisquer dívidas que, porventura, tenha).

Se depois de tudo que expliquei, você ainda duvidar de mim, tudo bem, mas confie no bom
velhinho (não é o Papai Noel, é o Warren Buffett). No início dos anos 1950, comprar a casa
própria era o maior sonho de qualquer jovem americano. Buffett, porém, certamente não seguia
a manada. Ele já era casado e tinha um filho, mas optou por alugar uma casa mesmo já tendo
dinheiro de sobra para comprá-la. Buffett fez isso para não imobilizar um capital que poderia
ser muito melhor empregado investindo em outros ativos. Quando já estava cansado de morar
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

de aluguel, em 1958, comprou sua casa definitiva – definitiva mesmo, ele mora nela até hoje,
sessenta anos e muitos bilhões de dólares depois.

• Sei não... Esse papo de ficar rico só juntando dinheiro está me


parecendo “golpe”... Maior viagem... É verdade mesmo que dá para
viver de renda?

É óbvio que é possível, meu afoito pequeno gafanhoto. Muitas pessoas fazem isso. Claro que não
é nada fácil. Você terá de ser disciplinado e paciente, pois o caminho para a riqueza geralmente
não é imediato.

Digo “geralmente”, pois existem várias formas de alguém ficar rico. Algumas mais rápidas, por
exemplo, sendo filho do Sílvio Santos; se tornando um jogador de futebol especializado em postar
diferentes penteados e cortes de cabelo no Instagram; fazendo sucesso no YouTube; ganhando
sozinho na Mega da Virada; ou criando o Whatsapp e vendendo para o Facebook por cinquenta
bilhões de reais. Outras, mais lentas, como se tornando um renomado neurocirurgião ou um
advogado de políticos investigados pela lava-jato. O que todas essas maneiras têm em comum é
83
que dependem de um grande influxo de receitas (além de muita sorte e/ou talento).

Mas, calma! Para a nossa alegria, existe uma outra maneira muito menos complexa, que está ao
alcance de todos, pois não necessita de ganhos tão exorbitantes. Ela vem sendo utilizada desde
os primórdios da humanidade por pessoas disciplinadas e perseverantes. Tal forma é simplesmente
poupar muito dinheiro e investir consistentemente.

Caso você consiga poupar bastante e investir adequadamente, preferencialmente começando


ainda jovem, os juros compostos trabalharão sua mágica e é provável que se aposente com
bastante dinheiro guardado. Quer ver só?! Se você, partindo do zero, economizar mil reais por
mês durante vinte anos, rentabilizados a uma taxa de juros real (ou seja, já descontando a corrosão
do valor do dinheiro pela inflação) de 6% ao ano, que é bem plausível para a realidade brasileira
(ou seja, assumindo poucos riscos), você terá mais de 450 mil reais guardados ao final. Caso
aumente o prazo para 25 anos, terá quase 700 mil. Se conseguir poupar os mesmos mil reais por
30 anos, que é o tempo de contribuição exigido atualmente para uma mulher se aposentar pelo
INSS, terá quase um milhão de reais. Já poupar pelo tempo de contribuição exigido pelo INSS
para um homem se aposentar, 35 anos, originará um patrimônio de quase 1 milhão e 400 mil
reais, o que corresponde – mesmo sem consumir nada do montante principal e, ainda, repondo
as perdas inflacionárias – a uma renda anual de, aproximadamente, 80 mil reais (cerca de 7 mil
reais mensais).

E quanto mais você puder poupar, melhor. Digamos que você consiga economizar um valor
mais substancial por mês: 5 mil reais. Considerando a mesma taxa de juros reais anterior (6% ao
ano), ao final de vinte anos você teria mais de 2 milhões de reais na conta. Os juros compostos
definitivamente são nossos aliados. Seriam quase 5 milhões após trinta anos, e, depois de trinta
e cinco, quase 7 milhões de reais. Isso significa uma renda anual de, aproximadamente, 400 mil
reais (mais de 30 mil por mês). Lembrando que os dados são em termos reais, ou seja, livres de
quaisquer perdas inflacionárias – e, ainda, sem consumir nada do bolo acumulado, apenas parte
da renda. Por isso, independentemente do quanto você ganha, coloque como seu objetivo de
vida sempre poupar e investir. Quanto mais você conseguir poupar, mais rapidamente você irá
84 enriquecer. E por quanto mais tempo continuar poupando, exponencialmente maior será o seu
patrimônio. Essa é a mágica dos juros compostos.

Se já não é um gafanhoto tão jovem assim, a ponto de poder se dar ao luxo de passar décadas
poupando, não fique desanimado. Viver de renda também pode ser para você. Caso ainda não
tenha nada acumulado, já passou da hora de começar. Precisará passar a economizar o máximo
possível o quanto antes. No entanto, se já tiver algum valor na poupança ou imobilizado em
imóveis, basta resgatá-los e investi-los adequadamente.

Vou citar um caso que aconteceu na minha própria família que irá ilustrar bem a situação. Meus avós
tinham alguns imóveis, porém uma renda baixa de aposentadoria. Assim, dependiam dos alugueis
para arcar com as despesas da casa. Frequentemente tinham problemas com inadimplência de
inquilinos e ficavam com um ou outro imóvel vago, ou seja, sem gerar renda.

Após eu conversar com eles e explicar com muita calma os benefícios de investimentos financeiros
(no caso dos meus avós, não depender da boa vontade dos inquilinos para pagar o aluguel,
não se preocupar com a depreciação dos bens, proteção garantida contra inflação, ter a renda
depositada periodicamente na conta corrente, multiplicação patrimonial em virtude dos juros
FINANÇAS PESSOAIS E ORÇAMENTO DOMÉSTICO

compostos e por aí vai), acabaram optando por vender tudo e investir no mercado financeiro.
Inicialmente, a minha avó foi quem comprou a ideia e confiou na minha sugestão. O meu avô
aceitou meio a contragosto (na verdade, acho que foi coagido pela minha avó). Ele chegou a dizer
(ou melhor, a resmungar) “depois de velho, de ter trabalhado a vida inteira, vou ficar sem nada”,
pois iria vender os seus imóveis. Esse pensamento reflete muito bem a crença equivocada de muitos
brasileiros, que imaginam que apenas bem palpáveis são ativos patrimoniais. Atualmente, já anos
depois dessa mudança radical na forma de obtenção de renda, eles estão mais que satisfeitos com
a nova situação. Meu avô definitivamente não acha que “ficou sem nada”. Pelo contrário, os dois
estão muito mais tranquilos, vivendo da renda dos seus investimentos, sem nenhuma dor de cabeça
com imobiliária, inquilino ou aluguel.

Eu respondo a muitos outros questionamentos no curso, como, por exemplo, como se comportar
em caso de já possuir dívidas; como lidar com gastos extraordinários, sejam eles previsíveis (IPVA,
Seguro etc) ou imprevisíveis (acidentes, problemas de saúde etc); e, até mesmo, como fazer para
planejar uma viagem para o Suriname (ou qualquer outro lugar menos exótico). De qualquer
maneira, esse último tópico serviu como um bom indicativo e também para eu lhe dar um gostinho 85
do que vem pela frente. Nos capítulos seguintes, veremos exatamente como verificar quanto cada
um precisa poupar por mês para alcançar a independência financeira. Você perceberá que,
além do montante mensal economizado e do tempo, o seu apetite a risco e as suas escolhas de
ativos terão um papel enorme na rentabilização do seu patrimônio e, consequentemente, no seu
enriquecimento.
86
6
ESPECULAR VS. INVESTIR
Para você nunca mais fazer cagada no mercado achando que está investindo

P
ronto, você já sabe como poupar. No entanto, deve estar se perguntando o que fazer com
esse dinheiro extra todo fim de mês. Antes de lhe explicar como poderá investir seu amado
dinheirinho e de você sair colocando grana de verdade em jogo, quero esclarecer alguns
conceitos importantes que normalmente seduzem os principiantes. Já adianto que, por mim, você
apenas investiria e nunca especularia. Porém, sei que é um gafanhoto rebelde, razão pela qual irei
lhe suplicar que, caso algum dia invente de especular, aja de forma consciente, ponderando todos
os riscos envolvidos, que são muitos.
87

Nem tudo o que você vê nos sites “especializados” é verdade. Você já deve estar bastante esperto
depois de tudo o que vimos sobre bolhas, manias e crashs, mas realmente espero que desenvolva
um espírito ainda mais crítico após ler as próximas páginas. Não quero que caia em mais ciladas,
achando que irá encontrar a fórmula mágica para a riqueza instantânea. Quero que deixe de ser
um gafanhoto altamente influenciável que sai repassando um monte de fake news pelo Whatsapp,
sem sequer checar antes, e passe a ser um gafanhoto questionador, que sempre analisa e se
pergunta o porquê das coisas, à lá Zequinha do Castelo Rá-Tim-Bum.

A primeira coisa que você precisa ter clara na sua mente, antes de sair comprando cursinhos na
internet para dar a grande tacada da sua vida e ficar rico rapidamente, é que especular é muito
diferente de investir. A especulação é inerentemente ativa, enquanto o investimento, na maior parte
do tempo, é passivo. Investimento visa à preservação e ao crescimento sustentável do capital,
mediante ganhos reais e consistentes no longo prazo; enquanto especulação, quase sempre em
vão, tem o intuito de aumentar rapidamente, via alavancagem, o patrimônio do especulador. É
óbvio que a especulação atrai muito mais gente. Afinal, quem não quer ficar rico rapidamente?!
Também é óbvio que é muito mais fácil você perder dinheiro especulando que investindo. Caso
contrário, todos simplesmente especulariam, enriqueceriam da noite para o dia e “seus problemas
acabaram” – no melhor estilo “Seu Creysson”.

A proposta deste livro definitivamente não é focar na especulação, mas sim em torná-lo um
investidor melhor. Sou adepto da sobriedade e da racionalidade ao se montar uma carteira de
ativos. No entanto, sei o quão difícil é simplesmente ignorar as dezenas de propagandas sobre
“técnicas” para se enriquecer da noite para o dia especulando que ficam pulando na tela do seu
computador a todo momento. Por isso, não basta eu lhe falar que investir é melhor que especular
e tentar te enfiar “goela abaixo”, na marra, o que acredito. Não vai dar certo e você acabará
cedendo aos inúmeros cantos das sereias vendedoras de cursinhos mágicos que dominam o
mercado.

Assim, como especular pode ser muito tentador para alguns, preciso fornecer informações

88 suficientes sobre o funcionamento do mundo da especulação e os riscos envolvidos, para que


você, sábio e analítico gafanhoto, tire suas próprias conclusões e defina que caminho irá trilhar.
Afinal, na minha opinião, uma pessoa só é capaz de seguir fielmente uma estratégia quando está
convicta da eficácia desta.

Enfim, você deve compreender por que motivo irá investir e não especular. Caso contrário, sempre
irá se questionar se está tomando a atitude correta e encontrará subterfúgios para ignorar sua
estratégia. Eu mesmo precisei colocar dinheiro em jogo, ganhar e perder, para entender bem o
que realmente faz sentido para mim. Esse é o roteiro que inevitavelmente a maioria das pessoas
que começa a colocar dinheiro no mercado financeiro segue, muitas vezes de uma forma não
espontânea. No início, tal roteiro pode lembrar o de um filme de aventura, com um pouco de
suspense, mas, com o tempo, acaba se revelando um misto de drama, terror e tragédia. Muitos
perdem todas suas economias e até fazem dívidas por tratarem o mercado como uma roleta.
Por isso, ainda que eu tenha certeza de que muitos de vocês irão ignorar boa parte das minhas
advertências e vão quebrar a cara fazendo bobagem no mercado, faço questão de esclarecer,
tanto quanto puder, o que vão encontrar pela frente.
ESPECULAR VS. INVESTIR

ESPECULAÇÃO

John Maynard Keynes, um dos mais importantes economistas do século XX, famoso pela influência
de suas ideias na recuperação da economia dos Estados Unidos após o crash de 1929, foi um
especulador muito bem-sucedido – até praticamente ir à falência tentando prever movimentos no
mercado de câmbio. Enriqueceu, e depois empobreceu, fazendo uso da sua teoria dos castelos no
ar para lucrar com a irracionalidade das massas.

Em seu livro “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, Keynes descreveu a especulação
como a tentativa de prever mudanças na psicologia do mercado. Para ilustrar seu raciocínio,
comparou o ato de especular a uma competição, na qual os competidores devem identificar os
seis rostos mais bonitos entre diversas fotografias. Para ser bem-sucedido, o competidor deve
escolher não os rostos que ele ache mais bonitos, mas os que ele supõe que serão os eleitos pelos
outros competidores. Todavia, os outros competidores também enfrentam o mesmo problema.
Consequentemente, devemos tentar prever o que a opinião média espera que seja a opinião
média, que também fará o mesmo e assim por diante. Esse raciocínio gera uma espiral infinita que 89
demonstra claramente por que é tão difícil prever o comportamento do mercado, especialmente
no curto prazo.

Apesar dos grandes riscos envolvidos, sempre existiu especulação no mercado financeiro.
Descrições de homens que tentavam obter lucro rápido mediante compra e venda de propriedades,
empréstimo de dinheiro a juros e câmbio com moedas estrangeiras remontam à Roma antiga.
No entanto, foi a partir da década de 1970 que se deu a ascensão do especulador moderno,
melhor definido pelo jargão financeiro como “trader”. Durante essa época, muitos bancos de
investimento estrearam na bolsa de valores dos EUA. Com maior acesso a capital, passaram a
buscar maiores lucros por meio de suas mesas de especulação, as “proprietary trading”. Devido
à baixa regulamentação do mercado no período, os traders expandiram rapidamente suas
atividades e passaram a operar com instrumentos financeiros cada vez mais sofisticados.

Na década de 1980, eles já dominavam completamente Wall Street (um livro rápido e divertido
sobre o tema é o Liar’s Poker, de Michael Lewis). Com o avanço rápido da tecnologia da informação
e dos meios de comunicação, os fundos de hedge – muitos voltados para atividades especulativas
– também prosperaram, juntamente com o maior apetite a risco em busca de lucros instantâneos.

Já na década de 1990 ocorreu uma das maiores falências da história do mercado financeiro
mundial. Um único trader, Nick Leeson, fez a proeza de quebrar sozinho – devido a operações
especulativas altamente alavancadas nos mercados futuros de Singapura – o Barings, maior
banco de investimentos da Inglaterra, à época com mais de duzentos anos de existência. A história
foi retratada pelo filme “Rogue Trader”, estrelado por Ewan McGregor. Vale muito a pena assistir.

No início dos anos 2000, a revolução da tecnologia da informação e especialmente a internet


já havia mudado completamente os mercados. Até então exclusividade de traders profissionais,
a especulação passou a estar ao alcance de todos. Bastava você ter uma conta numa corretora
e um computador conectado à internet para operar via seu home broker. Essa facilidade trouxe
liquidez e oportunidades nunca vistas pelo investidor amador. Todavia, vieram acompanhadas de
novos e substanciais riscos.

90 Durante esse período, ocorreu uma verdadeira bolha nos fundos de hedge. O capital investido
nesses produtos saltou de 39 bilhões de dólares, em 1990, para 490 bilhões, em 2000, e para
2 trilhões, em 2007. Em especial, ganharam espaço os fundos “quant” – fundos de investimento
quantitativos, que fazem uso de modelos matemáticos avançados para tentar lucrar mais que
a média do mercado. Tais modelos utilizavam algoritmos complexos para encontrar pequenas
distorções no comportamento do mercado e lucrar com elas, especulando.

Segundo Scott Patterson, autor do livro “Mentes Brilhantes, Rombos Bilionários”, os quants
perseguiam o “alfa”, ou “a verdade”, uma qualidade etérea e intangível, que conteria o segredo
universal sobre a maneira como o mercado funciona e, consequentemente, seria a chave para se
conseguir bilhões em lucros. Você já ouviu falar na pedra filosofal, capaz de transformar metal em
ouro e tema do primeiro livro do Harry Potter?! É tipo isso. Encontrar o alfa significava encontrar
o caminho para ganhos muito superiores aos do mercado. Um quant que tivesse o alfa era como
o Goku virando Super Sayajin.
ESPECULAR VS. INVESTIR

Enfim, até hoje ainda não encontraram o tal do alfa, mas o resumo da história é que, na busca
pela “verdade”, os quants passaram a elaborar produtos financeiros cada vez mais sofisticados.
O sucesso inicial fez com que ficassem progressivamente mais confiantes nos seus modelos
matemáticos. Suas operações, baseadas em tirar proveito de desvios estatísticos, colaboraram
para a diminuição da volatilidade dos mercados. Ben Bernanke, ex-presidente do Fed, chegou
a afirmar, em 2004, que havíamos entrado numa era conhecida como “A Grande Moderação”.
Inocente... A maior confiança e a menor volatilidade serviram de munição para um aumento
excessivo da alavancagem dos fundos. Como você já deve estar imaginando, o resultado não
foi nada “moderado”. Com o estouro da crise de 2008, boa parte dos fundos de hedge, quants
inclusos, faliu ou perdeu parte substancial do seu capital. No meu curso, conto em detalhes a
hitória do LTCM, um fundo que ficou famoso por reunir as mentes mais “brilhantes” do mercado e,
logo em seguida, por quebrar subitamente...

Nos dias de hoje, vem ganhando espaço a especulação feita por robôs. Por exemplo, os HFT (High
Frequency Trading) operam por algoritmos que enviam e executam ordens numa alta frequência,
em milissegundos, com o intuito de obter lucros rápidos ao assumir posições especulativas no 91
mercado. Mesmo com esse avanço da automação dos processos de trade, principalmente no
Brasil, parece que cada vez mais pessoas estão sendo atraídas pelo universo da especulação.

Eu sugiro fortemente que você não se inclua nesse grupo e atenha-se a uma estratégia de
alocação de ativos, que será explicada detalhadamente nos próximos capítulos. Todavia, antes
de se prender a uma estratégia específica de investimentos, compreendo que você queira entender
o significado de todos esses termos novos sobre trading que ficam aparecendo diariamente na tela
do seu computador. Essa curiosidade é saudável. Eu mesmo apenas consigo tomar uma decisão
importante e segui-la com segurança se tiver plena convicção da minha escolha. E tal convicção
apenas pode ser alcançada mediante conhecimento, compreensão, análise e comparação de
todas as opções disponíveis.

Por isso, além de tratar da estratégia que julgo ser a mais adequada para a vasta maioria, no meu
curso (não tenho espaço aqui, este ebook já está enorme) eu explico todos os conceitos-chave
para se entender a atividade especulativa: como funciona a cabeça de um especulador, quais são
as principais estratégias e janelas temporais que traders utilizam para operar no mercado e quais
são os erros que mais quebram as contas bancárias daqueles que inventam de se arriscar nesse
ramo (sim, pode se assustar, isso acontece com muita frequência). Assim, você compreenderá a
fundo os assuntos mais importantes acerca do mercado financeiro e poderá tomar suas próprias
decisões com convicção.

Porém, se, mesmo após todos os meus alertas, você quiser tentar a sorte fazendo trades, vá por
sua conta e risco e não venha chorar depois falando que eu não avisei. Você não terá o meu
ombro disponível para isso. Eu mesmo já vi inúmeras histórias de traders que arruinaram a vida
especulando no mercado. Perderam todo o dinheiro que tinham, além de saúde, tempo, qualidade
de vida e convívio familiar. Por isso, na minha humilde opinião, a melhor advertência sobre sair
fazendo operações especulativas e seguindo dicas dos “gurus” da internet já foi dada há muitos
anos, por uma pouco apreciada pensadora mexicana de bobs nos cabelos, Dona Florinda, que
sabiamente asseverou: “Tesouro, não se misture com essa gentalha...”.

Você deveria ter respondido “sim, mamãe”, como o jovem Quico. Porém, caso seja um gafanhoto

92 rebelde e ainda assim queira testar operações especulativas, pelo menos me prometa que irá
estudar muito o assunto antes, pesquisar todo o material possível (que vai muito além deste livro)
e começar colocando pouquíssimo dinheiro em jogo até ganhar experiência (e perceber que
isso não funciona). Não caia no canto da sereia que muita gente vende por aí. Você não vai
enriquecer rápida e facilmente.

Enfim, espero sinceramente que, após a leitura deste capítulo, você desista de vez dessa ideia
de ser “trader”. A atividade especulativa é tão ingrata que arriscaria dizer, sem medo, que obter
sucesso no longo prazo dessa maneira é mais difícil que juntar as sete esferas do dragão. Se
vacilar, garanto que vai sangrar mais que figurante de filme do Tarantino. Vai dançar mais que o
Fofão do Carreta Furacão. Portanto, fique esperto – não quero que criem um gafanhoto dançarino
no Carreta!

P.S. Se gostou de ver o vídeo do Fofão, não deixe de conferir o talento dançante do Homem
Aranha – é muita malemolência...
ESPECULAR VS. INVESTIR

INVESTIMENTO

Muito mais eficiente que especular é investir. É investindo corretamente que você conseguirá
retornos reais consistentes. Este é um dos objetivos principais deste livro: ensiná-lo a investir
adequadamente, para que conquiste a sua independência financeira no longo prazo.

Já tratamos exaustivamente das diferenças entre investimento e especulação. Espero que, a esta
altura do campeonato, não esteja mais com o dedinho coçando para comprar um cursinho de
como operar contratos futuros de boi gordo na internet. Ainda assim, não custa repetir, para que
isso entre de uma vez por todas na sua cabeça de gafanhoto: você não vai ficar rico especulando.

No entanto, você pode enriquecer investindo. Para isso, terá que se afastar da mentalidade de
lucro rápido que assola a manada e desenvolver o mindset do investidor, focado no longo prazo.
As características fundamentais para o investidor obter sucesso são exatamente as que estudamos
no capítulo 4: disciplina, foco, persistência e paciência.

Segundo Warren Buffett, provavelmente o maior investidor de todos os tempos, o mercado de


93
renda variável é um mecanismo de transferência de recursos dos impacientes para os pacientes. Os
investidores que souberem ser pacientes e tiverem astúcia para investir em momentos de incerteza
deverão ser premiados pelo mercado no longo prazo. O próprio Buffett é prova disso. Ele fez
seu primeiro investimento aos 11 anos de idade, ao custo de poucas dezenas de dólares. Cerca
de 76 anos depois, possui um patrimônio de aproximadamente 85 bilhões de dólares. Todavia,
o crescimento da sua fortuna não foi instantâneo. Buffett apenas atingiu a marca de 1 milhão de
dólares aos 30 anos de idade. Aproximadamente 99,6% de tudo que ele tem hoje foi construído
após os 50 anos, sendo que 95% foram somente após os 60 anos.

O segredo eu já contei para vocês: juros compostos. São eles que irão fazê-lo ficar rico.
Definitivamente, você não precisa ter o QI do Isaac Newton para enriquecer no mercado
(oops...). No entanto, deverá ser paciente e ter um grande controle emocional. Warren já falou
exatamente isso. Para ele, você não precisa ser um gênio para investir com sucesso no longo prazo.
O que você precisa é de impedir que suas emoções estraguem a sua estratégia e de desenvolver
um sólido arcabouço intelectual (uma estratégia) para tomar decisões.
Os principais arcabouços intelectuais dos investidores são o value investing e a análise
fundamentalista. Como os próprios nomes indicam, essas metodologias têm o objetivo de investir
em ativos que estejam sendo negociados a preços abaixo de seu valor intrínseco. Para isso, é
preciso primeiramente encontrar o valor justo de um ativo, ou seja, o preço que represente os
verdadeiros fundamentos deste. Portanto, não importam as oscilações das opiniões de curto prazo,
mas o valor intrínseco do ativo, pois é isso que irá preponderar no longo prazo.

Oscar Wilde descreveu um cínico como alguém que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada.
Essa descrição também se aplica muito bem a grande parte dos analistas, gurus e especuladores
que dominam o mercado. Estes, adeptos da teoria do maior idiota, não acham importante
conhecer o valor de um ativo, desde que sempre tenha alguém disposto a pagar um preço maior.
Apesar dessa teoria ser capaz de eventualmente produzir lucros rápidos, dificilmente consegue ser
vencedora consistentemente, pois, como vimos, a volatilidade de curto prazo torna imprevisível a
solvência e o futuro do alavancado especulador. Afinal, qualquer mínima oscilação é capaz de
dilapidar todo o seu patrimônio.
94
Por outro lado, Buffett afirma que a volatilidade não é um problema para quem pretende ficar
posicionado em um ativo por um prazo longo o suficiente para que seu preço passe a refletir seu
valor intrínseco. Por isso, sou adepto de investimentos em valor. Não recomendo que aposte que
sempre haverá um idiota maior para quem você venderá suas ações, a fim de obter lucros rápidos.
O idiota pode acabar sendo você.

• VALUE INVESTING E ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

O livro “Security Analysis”, publicado em 1934 pelos professores da Universidade de Columbia,


Benjamin Graham e David Dodd, é considerado o marco do value investing e da análise
fundamentalista aplicada a ações.

Na obra, Graham estabelece que a diferença entre investimento e especulação é que o primeiro
consiste em uma operação que, após análise profunda, promete segurança do capital investido e
um retorno adequado. Qualquer outro tipo de operação seria especulativo. Apesar de “Security
ESPECULAR VS. INVESTIR

Analysis” ter sido o pioneiro, foi outro livro do mesmo autor, “O Investidor Inteligente”, de 1949,
que conseguiu atingir o grande público. Em virtude da linguagem mais acessível e menos técnica,
investidores individuais de todo o mundo passaram a ter acesso à metodologia de Graham.

Nesse livro, o autor explica que uma ação representa um negócio real, com um valor intrínseco
que independe do seu preço na bolsa de valores. Portanto, um investidor deve encontrar o valor
e não o preço da ação. Afinal, este último depende do ânimo momentâneo do mercado, que
se comporta como um pêndulo, sempre oscilando entre o otimismo insustentável e o pessimismo
injustificável. Assim, o investidor inteligente deve ser um realista, que vende para os otimistas e
compra dos pessimistas.

No curso “Como Investir”, eu explico muitos conceitos essenciais para se tornar um bom investidor
fundamentalista, como o método do fluxo de caixa descontado para precificação de ativos, o de
margem de segurança, círculo de competências, os principais múltiplos contábeis utilizados para
se avaliar uma empresa, como fazer análises qualitativas, identificar um mercado superaquecido
e, ainda, quem são alguns dos principais investidores fundamentalistas do mundo e, até mesmo,
95
do Brasil.
96
7
ALOCAÇÃO DE ATIVOS
Como obter maiores retornos correndo menos riscos

W
arren Buffett diz que o mercado não é sempre eficiente, mas que, na maior parte
do tempo, possui, sim, algum grau de eficiência. Ademais, o investidor afirma
que tentar vencer o mercado pode ser desastroso. Por isso, ao invés de ações
específicas, ele indica títulos públicos e fundos de índices para a maior parte dos investidores,
inclusive para os seus familiares.

Concordo com a visão de Buffett. Por isso, acredito que a estratégia ideal para a grande maioria 97
das pessoas seja uma que consiga prosperar, no longo prazo, em um mercado que se comporte,
algumas vezes, de maneira eficiente e, outras vezes, nem tanto. Ou seja, tal estratégia deve
conseguir tirar vantagem tanto de um mercado randômico quanto de um altamente influenciado
pela psicologia das massas – lucrar com a assimetria do mercado. Ao mesmo tempo, deve estar
apta a blindar, tanto quanto possível, o investidor de comportamentos emocionais autodestrutivos
e de Cisnes Negros negativos. Essa estratégia, a meu ver, deve visar à obtenção de rentabilidades
médias acima da inflação, no longo prazo, e sempre considerar o perfil, os objetivos, os prazos, a
tolerância a risco e o grau de volatilidade adequado para cada investidor.

Por tudo isso, para a maior parte das pessoas, acredito que a estratégia mais adequada
de investimentos seja uma baseada não na seleção de ações ou de um ativo individual, mas
que considere uma carteira diversificada, adequadamente composta por ativos de diferentes
características. Essa estratégia é chamada de “asset allocation” (alocação de ativos) e utiliza
algumas premissas da teoria moderna do portfólio.
TEORIA MODERNA DO PORTFÓLIO E ALOCAÇÃO DE ATIVOS

Em 1952, um economista da Universidade de Chicago, Harry Markowitz, publicou um artigo de


apenas 14 páginas, intitulado “Portfolio Selection”, que modificou a forma com a qual investidores
profissionais gerenciam suas carteiras de investimento, inspirou a hipótese dos mercados eficientes
e rendeu ao seu autor um Nobel em Economia anos depois.

O artigo de Markowitz introduziu ao mundo a “Teoria Moderna do Portfólio” (TMP), que


argumenta que certa dose de risco não é apenas necessária, mas desejável, em um portfólio de
investimentos, pois propicia a obtenção de maiores taxas de rendimento e, ao mesmo tempo,
menores oscilações. Achou contraintuitivo?! Calma que tem mais. Markowitz também demonstrou
que o risco da carteira pode ser controlado mediante a diversificação dos investimentos.

A lógica simplificada da TMP é que, como os ativos se comportam de formas diferentes, as


variações negativas de um podem ser compensadas pelas positivas de outro, de modo a manter a

98 consistência do portfólio. Assim, uma carteira corretamente diversificada pode ser menos arriscada
e ainda rentabilizar melhor que um ativo isolado.

Inspirada nos preceitos da TMP, a estratégia de investimentos denominada “alocação de ativos”


tem o objetivo primordial de construir portfólios de investimento diversificados, cujos retornos
esperados são maximizados para dado nível de risco. Para você entender melhor, seu gafanhoto
televisivo, é mais ou menos assim: lembra, em Power Rangers, que sempre que os bonequinhos
desengonçados pegavam um Power Ranger sozinho davam uma surra nele (especialmente se
fosse o azul), porém, quando eles se juntavam e formavam um Megazord, não tinha para ninguém,
nem o Godzilla aguentava?!

Pois é, a estratégia de alocação de ativos faz exatamente isso, um Megazord financeiro. Com tal
intuito, utiliza as premissas da TMP para investir no mercado e aplica as ideias de Markowitz na
construção de carteiras de investimento que considerem o perfil, a tolerância a risco, os objetivos
e o horizonte de tempo de cada investidor. A ideia básica é simples: 1 – aloque seus investimentos
entre diferentes classes de ativos, a fim de reduzir o risco conjunto do seu portfólio; 2 – diversifique
também dentro de cada classe, ou seja, adquirindo ativos diferentes, para diluir o risco específico
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

de um único ativo; 3 – atenha-se à sua estratégia e seja disciplinado; e 4 – faça o rebalanceamento


da sua carteira no momento adequado, com o objetivo de manter seu risco sob controle e seus
custos baixos.

No meu curso, cito vários exemplos de estudos e práticas que comprovam a eficiência dessa
estratégia de investimentos. Agora, sigamos em frente.

• RISCO e RETORNO

Afinal, você sabe o que é risco?! Risco, colocando em termos simples, é a probabilidade de
insucesso de determinado empreendimento, em função da ocorrência de algum evento incerto. O
conceito de risco, em finanças, é melhor capturado pelo símbolo chinês que representa a palavra:
. Se estiver com o seu Mandarim enferrujado, o primeiro caractere significa “perigo” e o
segundo “oportunidade”. Ou seja, risco é um misto de perigo com oportunidade.

Normalmente (digo “normalmente” pois no Brasil não é exatamente assim, como veremos adiante),
maiores riscos estão relacionados a maiores retornos – pelo menos, potencialmente. Logo, para 99
obter retornos mais substanciais, você terá que correr mais riscos. Isso é evidente, já que, em certa
medida, todos somos naturalmente avessos ao risco, o que impede a existência de “almoços
grátis” no mercado. Afinal, quem gostaria de pagar mais caro num ativo que irá lhe proporcionar
o mesmo retorno que outro, mas com uma maior chance de lhe dar um belo de um prejuízo?!

Imagine só: você precisa optar por comprar um carro entre dois disponíveis. Ambos são da
mesma cor e têm as mesmas funcionalidades. Os preços são os mesmos e as perspectivas são que
continuem custando a mesma coisa nos próximos anos. Todavia, um deles é de uma montadora
reconhecida por problemas mecânicos. Ou seja, existe um risco muito maior que um dos carros
lhe proporcione boas dores de cabeça. Qual carro você escolheria?! Óbvio, não é?! Quando o
assunto é investimento, nem tanto. Muita gente observa apenas a rentabilidade absoluta dos ativos
para aplicar seu dinheiro e se esquece dos riscos envolvidos. Sequer compara a volatilidade e o
retorno dos ativos que tem na carteira.
E quais são os riscos presentes no mercado financeiro?! Inúmeros...

O primeiro a se considerar é o risco de liquidez, que basicamente consiste na impossibilidade


de vender determinado ativo no momento que desejar, em virtude da falta de um mercado
desenvolvido ou de compradores interessados. Assim, a realização da operação, se possível, se
dará com uma queda substancial nos preços normais do ativo. Esse tipo de risco fica bem evidente
quando a pessoa investe em imóveis, mas também está presente em títulos e ações.

Já o risco de crédito está associado à probabilidade de o credor tomar um calote do devedor.


É o risco de determinada empresa lhe vender um título, mas não honrar com suas obrigações.
Principalmente por conta desse risco que títulos privados, ou seja, que não são emitidos pelo
governo, oferecem rentabilidades superiores aos títulos do Tesouro. É muito maior a probabilidade
de uma empresa específica deixar de lhe pagar uma obrigação que o Tesouro Nacional fazer isso.

O risco operacional é bem fácil de entender. É basicamente a chance de você fazer uma cagada
quando for operar. Por exemplo, clicar errado e comprar um ativo ao invés de outro ou então uma
100 quantidade diversa da que pretendia.

Todos esses riscos devem ser levados em consideração pelo investidor quando for fazer um
investimento. Não obstante, sob a ótica da TMP, são dois os grandes riscos sobre os quais
precisamos nos atentar. O primeiro é o risco não-sistemático (diversificável), que corresponde
à parcela do risco total de uma carteira que não depende de variáveis econômicas, apenas de
fatores específicos do ativo. No caso de uma ação, é o risco relacionado à empresa emissora
(será que ela vai ter prejuízos? As vendas vão cair? O negócio vai quebrar?). O segundo é o
risco sistemático (não diversificável) e diz respeito às oscilações de preço naturais do mercado,
advindas de fatores macroeconômicos, como eleições presidenciais, taxa de juros ou expectativas
de inflação.

Para a TMP, o risco de um ativo normalmente é mensurado matematicamente pela sua volatilidade.
Por sua vez, a volatilidade é calculada pelo desvio padrão, que é uma medida estatística de
dispersão em relação à média de determinados dados. Assim, uma ação cujos preços oscilem
substancialmente terá um alto desvio padrão e, naturalmente, um alto risco. Por exemplo, imagine
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

uma ação que tenha um retorno anual de 5% e um desvio padrão anual de 7%. Isso significa que,
considerando uma distribuição normal, na maioria dos anos, o retorno ficará entre -2% (5% - 7%)
e 12% (5% + 7%). O intervalo de certeza de um único desvio padrão é de apenas 68%. Isso
significa, para o exemplo acima, que, em apenas 68% das vezes, os retornos da ação ficarão
entre -2% e 12%.

Para medidas mais precisas de risco, precisamos considerar intervalos maiores. Com essa
finalidade, existe um método chamado de “Value at Risk” (VaR). O VaR avalia com até 99% de
certeza quais os retornos prováveis, mediante subtração ou adição de três desvios padrões ao
retorno médio esperado. Considerando o nosso exemplo, é possível afirmar, com 99% de certeza,
que a rentabilidade anual da ação irá ficar entre -16% e 26%.

Você deve estar se perguntando sobre os 1% restantes, não capturados pelo VaR. Esses eventos
extremamente raros são chamados de riscos de cauda (ou caudas gordas) das probabilidades,
justamente por não serem adequadamente mensurados por métodos estatísticos tradicionais. A
fim de estimar eventos tão improváveis, alguns investidores profissionais, como Nassim Nicholas
101
Taleb, fazem uso de simulações de stress, como a de Monte Carlo, que emula centenas de cenários
alternativos, considerando eventos estocásticos, ou seja, aleatórios. Isso permite que mais fatores,
além do desvio padrão, sejam utilizados para se estimar riscos possíveis. Por isso, a volatilidade será
um termômetro, mas não a bússola principal dos nossos investimentos, como você compreenderá.

“Beleza, entendi o conceito de volatilidade, mas o que é que isso influencia nos meus investimentos?”

Não se desespere, meu pequeno e serelepe gafanhoto, estou aqui para ajudá-lo a desvendar os
mistérios da vida. Para responder a essa pergunta, irei recorrer a um exemplo. Imagine dois ativos
(um chamado aleatoriamente de “Terra” e o outro de “Fogo”). O retorno médio de ambos é o
mesmo, mas a volatilidade anual é substancialmente diferente:

Volatilidade Retorno Retorno


Retorno
Ativos Ano 1 Ano 2 Ano 3 Composto
Anual Médio Acumulado
Anual
Terra 7,00% 7,00% 6,00% 0,58% 6,67% 6,66% 21,35%
Fogo 10,00% -20,00% 30,00% 25,17% 6,67% 4,58% 14,40%
Para que você não se perca: I – o retorno médio é a média simples dos resultados dos três anos
considerados. Na hipótese do ativo Terra, 7 + 7 + 6 ; II – o retorno acumulado é o retorno total
3
do ativo e o que importa para verificarmos se você está enriquecendo, já que os investimentos
funcionam com base em juros compostos. Para calculá-lo, basta multiplicar os rendimentos dos
anos considerados. No caso do ativo Terra, seria: 1,07×1,07×1,06; e III – o retorno composto
anual é o retorno anual “verdadeiro” dos seus investimentos, justamente por causa dos juros
compostos. Para calculá-lo, simplesmente eleve o retorno acumulado pelo inverso do número de
anos. Considerando o ativo Terra, seria assim: 〖(1,2135)¹/³.

Como você pôde observar, apesar de ter o mesmo retorno médio, o ativo Fogo, muito mais
volátil, teve um retorno composto muito inferior ao do ativo Terra. Consequentemente, o retorno
acumulado do Fogo também foi muito inferior ao do Terra. Isso, na verdade, é bem intuitivo.
Você concorda que se o preço de uma ação cai 50%, terá que subir 100% para voltar ao mesmo
patamar anterior?! Por exemplo, se a ação custa 20 reais e cai para 10 reais (50% de queda) terá
que subir 10 reais (100% em relação ao preço atual de 10 reais) para voltar aos mesmos 20 reais
102 iniciais. Portanto, claro que quedas frequentes ou expressivas prejudicarão a rentabilidade de um
ativo. Como o nosso objetivo é obter os maiores retornos compostos possíveis no longo prazo, é
interessante que mitiguemos a volatilidade da carteira.

Assim, respondendo diretamente à sua pergunta, quanto maior for a volatilidade dos retornos de
um ativo, menor os retornos compostos anuais e vice-versa (menor volatilidade igual a maiores
retornos compostos), em relação a um ativo que apresente retornos médios equivalentes.
Logo, qualquer estratégia que seja capaz de mitigar a volatilidade de um ativo – ou seja, a
oscilação dos retornos anuais –, sem reduzir o seu retorno médio, irá resultar em um maior
retorno composto anual. E é exatamente esse danado desse retorno composto que nós queremos
para enriquecer.

• DIVERSIFICAÇÃO

Pronto, já sabemos que precisamos, estrategicamente, diminuir a volatilidade da carteira para


aumentar os nossos retornos. Também já foi dito que não é possível mitigar o risco sistemático,
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

pois este depende exclusivamente das condições macroeconômicas. Por outro lado, os riscos não-
sistemáticos podem, sim, ser diminuídos, mediante a diversificação dos ativos que compõem o
seu portfólio.

“Ok, mas como a diversificação diminui os riscos e maximiza os retornos de uma carteira?”

Ótima pergunta, meu afoito pequeno gafanhoto. Em virtude de os ativos não se comportarem
exatamente da mesma maneira, o resultado negativo de um pode ser parcialmente compensado
pelo resultado positivo de outro. Assim, o desvio padrão e, consequentemente, o risco da sua
carteira poderá ser diminuído pelo acréscimo de alguns ativos mais arriscados aos seus investimentos
mais seguros e tradicionais. Logo, você poderá obter maiores retornos e correr menos riscos no
seu portfólio do que se você considerasse determinado ativo isolado, como títulos públicos pós-
fixados. Por isso, a volatilidade de um portfólio de investimentos não é, simplesmente, a média da
volatilidade dos ativos que a compõem. A volatilidade global da carteira depende da correlação
entre os seus ativos.

“Ôxe, e o que é esse diacho de ‘correlaçaum’?”


103

Imagino que você, esperto pequeno gafanhoto que é, já tenha entendido que, a fim de diminuir a
volatilidade da carteira, é importante que os ativos que a compõem não se comportem da mesma
maneira. Afinal, se estes agirem sempre da mesma forma – ou seja, se um ativo subir 10% e o outro
também subir 10% e se um cair 15% e o outro também cair 15% –, o portfólio irá oscilar sempre
do mesmo modo. Como consequência, não haverá diminuição de riscos e nem maximização dos
retornos compostos. Portanto, ao montar o seu portfólio, é importante que escolha ativos que não
sejam totalmente correlacionados, ou seja, que não se comportem do mesmo modo o tempo todo.

Muita gente quebra a cara (e a conta) achando que está protegido porque tem uma carteira
diversificada. Porém, seus ativos são todos muito correlacionados. O resultado é que quando
ocorre uma zebra (ou melhor, um Cisne), todos sofrem da mesma forma. Richard Ferri, autor do
livro “Asset Allocation Explained”, cita um evento que ocorreu no final dos anos 1990. Nessa
época, muita gente achou que tinha um portfólio protegido, porque estava “bem diversificado”
entre diversos fundos de ações. Quando a bolha da internet estourou nos anos 2000, todos os
fundos despencaram e os portfólios se mostraram não tão bem diversificados assim. Lembre-se: a
nossa carteira precisa ter diversificação com qualidade, não quantidade.

A correlação é uma medida estatística e tem como objetivo exatamente calcular a relação entre
o movimento de duas variáveis. Se dois ativos normalmente seguem na mesma direção, ou seja,
tendem a subir ou cair juntos, diz-se que são positivamente correlacionados. Por outro lado,
se andam em direções opostas, ou seja, quando um cai o outro sobe e vice-versa, dizemos que
são negativamente correlacionados. E se não tiver nenhuma correlação entre os movimentos
dos ativos – ou seja, se, às vezes, quando um sobe o outro cai, mas, em outros momentos, ambos
sobem juntos e, em outras ocasiões, quando um cai o outro não faz nada?! Aí dizemos que os
ativos são não-correlacionados.

Como disse, a correlação é uma medida estatística (que divide a covariância de duas variáveis
pelos respectivos desvios padrões). Portanto, pode ser expressa matematicamente. Quando os
ativos são positivamente correlacionados, o valor da correlação fica entre +0,3 e +1. Quando

104 são negativamente correlacionados, entre -0,3 e -1. Já os não-correlacionados, de -0,3 a


+0,3.

O ideal para uma carteira de investimentos é ter ativos negativamente correlacionados, não-
correlacionados ou pouco correlacionados. Afinal, é assim que reduziremos o risco e aumentaremos
os retornos compostos da carteira. Quanto menos correlacionados forem dois ativos, menor será
a volatilidade da carteira.

No entanto, isso não é tão fácil quanto parece. Além da baixa correlação, evidentemente, os
ativos que comporão a sua carteira devem ter uma expectativa de retorno real (descontada a
inflação) positiva. De nada adianta ativos pouco correlacionados que rendam super mal.

Para dificultar ainda mais, as correlações são dinâmicas, ou seja, mudam constantemente. Por isso,
não existem ativos que sejam sempre negativamente correlacionados. Ainda fica pior: em tempos
de crises severas, como a de 2008, é comum que ativos historicamente pouco correlacionados
passem a andar todos juntos – para baixo. Portanto, a meta não é encontrar investimentos totalmente
descorrelacionados, tampouco confiar que isso é uma garantia absoluta contra flutuações no
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

patrimônio. O que você deverá buscar são ativos diferentemente correlacionados e que tenham
uma expectativa de retorno real positiva no longo prazo. Nada fácil, mas, como veremos mais à
frente, factível.

Resumindo, para diversificar adequadamente a sua carteira, deveremos avaliar alguns fatores
importantes: 1 – os retornos esperados para cada ativo, mensurados pelas suas rentabilidades
históricas; 2 – os riscos específicos dos ativos, medidos pela volatilidade de cada um; e 3 – a
correlação entre os diversos ativos que compõem a carteira, ou seja, se, normalmente, quando o
preço de um sobe o do outro cai, sobe junto ou não se altera.

Agora que você compreendeu o conceito de correlação, podemos nos aprofundar mais nas
maravilhas que a diversificação de ativos pode provocar na sua carteira. Vou utilizar um exemplo
bem básico, considerando a interação de dois ativos, apenas para que você compreenda o efeito
prático de um portfólio diversificado.

Imagine um ativo chamado aleatoriamente de “Vento” e outro de “Água”. Eles são negativamente
correlacionados (-0,46). O primeiro tem um risco (desvio padrão) de 4,9% e o segundo de 11,4%.
105
O Vento tem um retorno composto anual muito menor que o Água (2,6% contra 6,9%). Agora,
considere que a nossa carteira tenha 50% de cada ativo. Qual você acha que será o risco e o
retorno esperados da carteira?!

É possível que você tenha respondido que o risco será de 8,15% (50% de 4,9% + 50% de 11,4%)
e que o retorno será de 4,75% (50% de 2,6% + 50% de 6,9%). Se pensou assim, você demonstrou
por que ainda é apenas um pequeno gafanhoto. Como já falei, a diversificação, em virtude da
interação entre os ativos, permite que a sua carteira se comporte de modo mais eficiente: quando
analisado em conjunto, o seu portfólio terá um retorno superior e um risco inferior do que se
fizéssemos um simples somatório dos retornos e dos riscos de acordo com as proporções de cada
ativo.
Para compreender melhor esse conceito, analise a tabela abaixo. Ela traz o retorno anual dos
investimentos durante 12 anos, bem como os retornos de carteiras compostas por diversas proporções
de cada ativo. Observe também a volatilidade e o retorno composto de cada combinação.

Ano Vento 90/10 80/20 70/30 60/40 50/50 40/60 30/70 20/80 10/90 Água
1 -1,00% 2,10% 5,20% 8,30% 11,40% 14,50% 17,60% 20,70% 23,80% 26,90% 30,00%
2 1,00% 2,10% 3,20% 4,30% 5,40% 6,50% 7,60% 8,70% 9,80% 10,90% 12,00%
3 6,00% 5,40% 4,80% 4,20% 3,60% 3,00% 2,40% 1,80% 1,20% 0,60% 0,00%
4 2,00% 1,60% 1,20% 0,80% 0,40% 0,00% -0,40% -0,80% -1,20% -1,60% -2,00%
5 4,00% 3,20% 2,40% 1,60% 0,80% 0,00% -0,80% -1,60% -2,40% -3,20% -4,00%
6 -5,00% -3,00% -1,00% 1,00% 3,00% 5,00% 7,00% 9,00% 11,00% 13,00% 15,00%
7 -2,00% -1,60% -1,20% -0,80% -0,40% 0,00% 0,40% 0,80% 1,20% 1,60% 2,00%
8 12,00% 11,80% 11,60% 11,40% 11,20% 11,00% 10,80% 10,60% 10,40% 10,20% 10,00%
9 4,00% 3,60% 3,20% 2,80% 2,40% 2,00% 1,60% 1,20% 0,80% 0,40% 0,00%
10 9,00% 7,20% 5,40% 3,60% 1,80% 0,00% -1,80% -3,60% -5,40% -7,20% -9,00%
11 -2,00% 0,20% 2,40% 4,60% 6,80% 9,00% 11,20% 13,40% 15,60% 17,80% 20,00%
12 5,00% 6,00% 7,00% 8,00% 9,00% 10,00% 11,00% 12,00% 13,00% 14,00% 15,00%
Volatilidade
4,92% 4,03% 3,51% 3,56% 4,13% 5,07% 6,20% 7,44% 8,74% 10,07% 11,44%
Anual
Retorno
2,64% 3,15% 3,63% 4,10% 4,54% 4,97% 5,39% 5,78% 6,16% 6,52% 6,87%
Composto

106
Pela tabela, fica fácil perceber que, no exemplo dado, o risco de uma carteira composta por
50% de cada ativo será, na verdade, de 5,07% (muito menos que os 8,15% que você pensou) e o
retorno será de 4,97% (maior que 4,75%). Ou seja, tanto o retorno quanto o risco da carteira são
muito melhores que a simples média dos ativos. Da mesma forma, a maior parte das combinações
percentuais entre os ativos é mais eficiente, em termos da relação risco e retorno, que possuir
uma carteira composta por um único ativo.
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

Essa interação entre diferentes proporções de ativos, a fim de melhorar a relação risco e retorno da
carteira, é denominada de fronteira eficiente e pode ser facilmente compreendida pelo gráfico
abaixo.
FRONTEIRA EFICIENTE
8,00%

7,00%

100% Água
6,00%
50%/50% 20%/80%

5,00%
RETORNO ANUAL

4,00% 70%/30%

3,00%
100% Vento
2,00%

1,00%

0,00%
0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 107
RISCO (DESVIO PADRÃO)

A setinha vermelha mostra onde você achou que ficaria a relação risco e retorno da carteira. Já
o emoji indica onde esta realmente ficará, graças ao efeito da diversificação. A fronteira eficiente
revela todas as combinações de risco e retorno para dois ativos. Como pode perceber, quanto
mais à esquerda e no alto estiver a sua carteira (quadrante noroeste), melhor. É muito interessante
reparar como é mais vantajoso, no exemplo que estamos analisando, você possuir 70% do
ativo Vento (pouco volátil) e 30% do Água (que é muito volátil), ao invés de 100% do Vento. Tal
diversificação aumenta os seus retornos ao mesmo tempo em que diminui os seus riscos.

Se bem te conheço, neste momento, você deve estar se perguntando qual a combinação perfeita. A
resposta é que isso não existe. Vai depender de qual a sua disposição a correr riscos. Certamente,
é mais interessante você possuir 70% de Vento e 30% de Água que 100% de Vento. Todavia, entre
essa divisão (70/30) e outra da fronteira eficiente que ofereça maiores retornos (por exemplo,
50/50), não há uma carteira melhor que a outra. Vai depender do seu perfil – ou seja, se deseja
correr mais riscos, para tentar obter maiores retornos.

Pronto, você já entendeu como funciona o processo de diversificação da sua carteira com dois
ativos. Porém, usei esse exemplo apenas porque é o mais didático para que você pudesse
compreender as vantagens que a diversificação proporciona. Não se prenda a apenas dois
ativos. A ideia é adicionar ao portfólio vários ativos que tenham expectativa de retorno real no
longo prazo e que não sejam totalmente correlacionados entre si. Não existe um número máximo,
mas, de acordo com o já citado Richard Ferri, os benefícios da diversificação tendem a diminuir
após aproximadamente a inclusão de 12 classes diferentes de ativos na carteira.

Um exemplo de portfólio muito bem diversificado poderia ser um construído com os 4 ativos dos
quais já tratamos aqui: Terra, Fogo, Vento e Água. Se você foi uma criança feliz, já sabe onde
isso vai parar, não é?! Diversifique um pouco mais o seu portfólio, adicionando aos 4 anteriores

108 um quinto ativo, chamado “Coração”, e, pela união dos seus poderes, você terá... a carteira de
investimentos do Capitão Planeta!

Não me critique. Estou certo de que, graças a essa piadinha infame, você nunca mais se esquecerá
de diversificar adequadamente os seus investimentos.

Enfim... Prosseguindo... A diversificação da sua carteira deverá ser realizada em duas etapas
(extraclasse e intraclasse) . Nós veremos isso em detalhes no curso, mas, sumarizando tudo o
que aprendemos sobre diversificação, podemos afirmar que esta é a prática de dividir o risco
entre diferentes ativos para reduzir a volatilidade da carteira e as chances de uma grande perda.
Com o intuito de diversificar da forma mais eficaz possível, utiliza-se a alocação de ativos. Essa
estratégia estima o risco e o retorno esperado para várias classes de ativos, e também de que
maneira tais ativos interagem, em diferentes séries temporais. Dessa forma, a alocação de ativos
permite a construção de uma carteira de investimentos adequada para determinado perfil de
investidor. Essa carteira engloba as classes e os ativos específicos em uma proporção que confira
maior probabilidade de o investidor alcançar as suas metas financeiras, maximizando retornos e
minimizando os riscos.
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

Espero que tenha compreendido a importância de uma carteira bem estruturada. Neste momento,
preocupe-se apenas em entender a lógica da diversificação. Não fique esquentando a sua
preciosa cabecinha com a matemática “astrofísica” vista até aqui. O objetivo foi facilitar a sua
compreensão do assunto. Você não precisará calcular a rentabilidade composta, o desvio padrão,
as correlações e a fronteira eficiente de cada produto que pretenda incluir na sua carteira. Como
sei que ainda é um pequenino gafanhotinho, darei tudo isso mastigadinho para você nos capítulos
8 e 9, onde estudaremos as performances históricas dos ativos disponíveis no Brasil, bem como
possíveis carteiras de investimento.

Agora que você já sabe como funciona a estratégia de alocação de ativos, precisa aprender a
operacionalizá-la corretamente, ou seja, além de montar a sua carteira, precisa aprender a fazer
a alocação inicial dos seus recursos, como realizar aportes mensais com o dinheiro que conseguir
poupar e como rebalancear o portfólio após movimentos bruscos do mercado. Por exemplo, o que
fazer se a bolsa avançar muito no curto prazo e, ao invés de, por exemplo, 10% eu acabar tendo
18% da carteira alocada em ações? É uma ótima dúvida, mas este ebook já está muito grande. Por
isso, vou deixar essas situações mais práticas para uma das aulas do meu curso. 109
O essencial, neste momento inicial, é que você compreenda que existem inúmeros riscos nos
investimentos (e em todas as áreas da vida). Com este livro, demos um passo significativo para
que pelo menos alguns riscos evitáveis, como os decorrentes de ignorância financeira, sejam
substancialmente reduzidos. No entanto, apesar de riscos, sejam eles quais forem, poderem ser
mitigados, não podem ser completamente eliminados. Portanto, é inevitável que você passe por
alguns momentos pouco agradáveis durante a sua trajetória como investidor. Isso faz parte da
natureza cíclica dos mercados. Caso seja tão avesso ao risco ao ponto de não conseguir tolerar a
mínima oscilação patrimonial no curto prazo, ficará difícil para você conseguir retornos significativos
no longo prazo, o que dificultará seus planos de se tornar financeiramente independente.

Assim, é importante que você aprenda a se manter tranquilo o suficiente para, inclusive, tirar
proveito dos excessos do mercado. Sua estratégia de alocação de ativos será construída com esse
objetivo. Por isso, você diversificará as suas aplicações e fará o rebalanceamento periódico da
sua carteira. Aliás, para que a sua estratégia seja eficaz, é imperativo que você cumpra as suas
metas de poupança, pois, apenas assim, terá dinheiro disponível para realizar aportes mensais
mesmo nos momentos menos alvissareiros. Em tais ocasiões, deverá ter a confiança e a disciplina
necessárias para continuar realizando seus investimentos e seguindo a sua estratégia, como se
estivesse no piloto automático. Caso contrário, perderá o benefício de comprar ações baratas
após uma grande queda do mercado ou de adquirir títulos a juros altos, após uma forte contração
monetária. Lembre-se sempre: é quando o céu fecha e a multidão se retrai que as oportunidades
aparecem.

Ademais, é essencial que você tenha consciência de que, em um momento ou outro, algumas
classes isoladas de ativo performarão melhor que a sua carteira. Em certas ocasiões, pode
parecer, até mesmo, que “todo mundo” está lucrando investindo na bolsa (ou em bitcoins), mas
que o seu portfólio não está performando tão bem – já que ele não se concentra em um ativo
específico. Nessas circunstâncias, não se esqueça de que o seu foco está no longo prazo e de
que o mesmo ativo que rentabilizou muitíssimo bem hoje pode despencar de valor amanhã. Essa
aleatoriedade faz parte do comportamento do mercado e engana muitos investidores novatos,
que ficam confiantes com a obtenção de sucesso em um evento singular – certos de que a razão
110 do acerto foram as suas “super habilidades”, sendo que o verdadeiro motivo foi nada mais que a
boa e velha sorte – e acabam quebrando a cara nas operações seguintes.

No livro “Iludido pelo Acaso”, Nassim Nicholas Taleb demonstra como resultados de curto prazo
podem ser enganosos. O êxito em um pequeno intervalo de tempo pode levar as pessoas a
adotarem um pensamento Darwiniano simplificado que as fará acreditar que são as mais aptas
para o sucesso, quando, na verdade, são verdadeiros losers no longo prazo – que é o que importa.
Como disse o ex-Presidente do Corinthians, Vicente Matheus: “o jogo só acaba quando termina...”

Para que o seu jogo não termine drasticamente, você precisará manter-se distante das tentações
e distrações imediatistas. O que te protegerá de revezes significativos e impedirá que a oscilação
aleatória de ativos individuais dilapide o seu capital e, consequentemente, acabe com o sonho da
sua independência financeira será justamente a sua estratégia e a sua carteira de investimentos
corretamente diversificada. A sua meta deve ser sobreviver no longo prazo – é essa a verdadeira
seleção natural.
ALOCAÇÃO DE ATIVOS

Todavia, que fique claro: a estratégia de alocação de ativos não tem a intenção de fazer
futurologia ou de blindar a sua carteira de investimentos de quaisquer oscilações negativas, que,
inevitavelmente, ocorrerão. A matemática utilizada por esse método está longe de ser perfeita e se
ampara em análises de rentabilidades históricas, o que, como vimos ao estudar os Cisnes Negros,
definitivamente, não são nenhuma bola de cristal.

Por isso, os dados históricos são um ponto de partida (pois, justamente pelo fato de o amanhã
ser imprevisível, precisamos de algum parâmetro analítico para não ficarmos paralisados), mas,
como veremos nos capítulos seguintes, não são absolutos. Existem muitos outros fatores a serem
considerados na construção de uma boa estratégia de investimentos.

Assim, o objetivo da alocação de ativos que proponho não é tentar adivinhar os próximos
movimentos dos ativos, mas reduzir a probabilidade de você sofrer perdas substanciais e frequentes
no mercado, bem como maximizar os seus retornos compostos reais (acima da inflação) no longo
prazo. Com o intuito de fazer valer esse objetivo, você precisará montar uma carteira que atenda
bem às suas necessidades, mantenha os seus custos baixos e controle os seus riscos – para que o
111
seu emocional não passe a te dominar e lhe faça entrar em pânico em razão de perdas temporárias.
Ademais, não importa o cenário, você deverá manter-se fiel à sua estratégia, pois, ao longo do
tempo, ela tenderá a performar de maneira muito mais eficiente que ativos individuais.

Por fim, para ser bem-sucedida, a estratégia adotada deverá considerar a realidade do mercado
brasileiro. Afinal, não podemos simplesmente importar modelos prontos elaborados para
contextos completamente diferentes do nosso e esperar que funcionem adequadamente aqui. Por
esse motivo, no capítulo seguinte, nos dedicaremos a compreender profundamente a dinâmica de
funcionamento do nosso mercado, pois é no Brasil que vivemos e as nossas principais opções de
investimento são os ativos disponíveis aqui, com suas vantagens e desvantagens.
112
8
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS
RENTABILIDADES HISTÓRICAS
Por que nem sempre maiores riscos significam maiores retornos

M
ercado e Sistema Financeiros. Todo mundo já ouviu falar desses conceitos, mas
quase ninguém entende realmente o que significam. Não, não é o lugar onde os
banqueiros burgueses maquiavélicos vão para expropriar a “mais valia” dos
inocentes e sofridos operários.

Mercado financeiro é simplesmente o “local” (inicialmente, há centenas de anos, era um lugar


113
físico mesmo, como uma feira de domingo) onde se encontram agentes superavitários (que
poupam dinheiro) e deficitários (que precisam de dinheiro para consumir ou investir em algum
empreendimento). Ou seja, o mercado financeiro harmoniza o desejo de emprestar com a
necessidade de pegar dinheiro emprestado.

Aqueles que têm dinheiro em excesso emprestam para quem tem pouco ou não tem nada, em
troca de uma remuneração. Assim, quando você compra um título (do Tesouro Nacional, por
exemplo) você está emprestando dinheiro para quem precisa (no caso, o governo brasileiro), a fim
de receber uma contraprestação (juros).

Portanto, resta nítido que o mercando financeiro é absolutamente essencial para o crescimento
econômico e o desenvolvimento de uma sociedade. Sem ele, não há capital em circulação na
economia e, consequentemente, não há crédito para investimentos, criação de emprego, aumento
da produtividade e geração de riqueza. Por isso, da próxima vez que alguém abrir a boca para
falar mal do “mercado financeiro”, antes de apoiá-lo, saiba pelo menos do que está falando.
Por sua vez, Sistema Financeiro é basicamente o conjunto de instituições, públicas e privadas,
que possibilita a transferência de recursos dentro do mercado financeiro. Não vou ficar me
aprofundando nesse tema que você já deve estar achando bem chato, então vamos ao que
interessa.

ATIVOS FINANCEIROS

Em primeiro lugar, vale diferenciar renda fixa de renda variável. Apesar de os conceitos serem
bem intuitivos, aposto que irá se surpreender com algumas questões.

Renda fixa é uma classe de obrigações que têm os rendimentos definidos no momento da compra
do ativo. As remunerações desses rendimentos podem ser prefixadas, pós-fixadas ou híbridas.
Quando você compra um título prefixado já sabe exatamente qual a taxa de juros irá receber
até o fim da aplicação. Já no caso de o título ter sua remuneração pós-fixada significa que os
juros irão variar de acordo com alguma taxa, normalmente um percentual do CDI. Por fim, se o

114 título tiver um método remuneratório híbrido significa que parte dos juros será prefixada e parte
pós-fixada, por exemplo, ao IPCA. Em razão da menor volatilidade dos ativos de renda fixa frente
aos ativos de renda variável, esse tipo de investimento é considerado mais conservador, ou seja,
de menor risco.

Por sua vez, renda variável diz respeito a ativos cuja remuneração não é determinada no
momento da aplicação. Assim, a rentabilidade pode oscilar positivamente ou negativamente. Por
serem ativos mais arriscados, esperam-se rentabilidades superiores que as da renda fixa no longo
prazo. Todavia, isso está longe de ser uma regra. Como veremos, commodities são altamente
arriscadas e mal empatam com a inflação. O mesmo vale para investimentos em câmbio. No
Brasil, até mesmo o comportamento da bolsa de valores (auferido pelo Ibovespa) é inconsistente.
Portanto, é essencial que o investidor sábio possua foco de longo prazo e tenha uma estratégia
adequada de diversificação e alocação de ativos.

“Falamos de IPCA, CDI, Ibovespa... Já até ouvi falar nesses bichos, mas quando alguém me
pergunta sempre me enrolo... Poderia explicar exatamente o que significa tudo isso?”
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

É evidente que sim, meu gafanhoto predileto. O IPCA é simplesmente um índice, calculado pelo
IBGE, que tem por objetivo medir a variação de preços de um conjunto de produtos e serviços
comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias. Portanto, é um importante
referencial da inflação do país.

Já o CDI (Certificados de Depósito Interbancário) são títulos emitidos por instituições financeiras
com o objetivo de transferir recursos entre instituições que têm reserva e instituições que necessitam
de capital para repor o seu caixa diariamente. Assim, a Taxa DI, que é o referencial para boa parte
dos títulos privados pós-fixados, é apurada de acordo com o fluxo de Depósitos Interfinanceiros
(DIs) e publicada diariamente no site da Cetip. Tal taxa é praticamente idêntica à Selic, que consiste
na taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e
de Custódia (Selic) para títulos federais. A Selic é o referencial para títulos do tesouro pós-fixados.

Por fim, o Ibovespa (Índice Bovespa) é o índice de ações mais importante do Brasil, resultado de
uma carteira teórica de ações negociadas na BM&FBovespa. O percentual que cada empresa
representa no índice pode variar, de acordo com a liquidez e o volume de negociações das suas
115
ações. O Ibovespa reflete as variações dos ativos que o compõem ao longo do dia, bem como a
distribuição de proventos das empresas. Por ser um indicador do desempenho médio das cotações
dos ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro, o
Ibovespa tornou-se a referência para rentabilidade de fundos de ações e para o desempenho do
mercado acionário.

• RENDA FIXA

As empresas que ofertam ativos de renda fixa normalmente são classificadas quanto aos seus riscos
de crédito, num processo conhecido por rating. Existem agências especializadas exatamente
nisso, como Standard&Poor’s, Moody’s e Fitch. Elas atribuem notas (rating), a fim de determinar a
qualidade dos créditos. Quantos mais A’s tiverem no rating da empresa, melhor o crédito desta e,
consequentemente, menor o risco de você levar um calote. De AAA até BBB, diz-se que a empresa
tem grau de investimento, o que significa que o risco do título é pequeno. Mais precisamente, se a
nota for AAA, AA ou A o risco é baixo e, se for BBB, é médio. Caso o rating seja BB ou B, significa
que a coisa já começa a ficar mais arriscada e o investimento é considerado especulativo. De CCC
para baixo é muito arriscado, altamente especulativo e com grandes chances de calote. Veja,
abaixo, a escala de avaliação das principais agências de rating:

Escala de ratings
Risco
Fitch S&P Moody's
AAA AAA Aaa Menor risco
AA+ AA+ Aa1
Grau de Investimento

AA AA Aa2 Risco baixo


AA- AA- Aa3
A+ A+ A1
A A A2 Risco médio-baixo
A- A- A3
BBB+ BBB+ Baa1
BBB BBB Baa2 Risco médio
BBB- BBB- Baa3
BB+ BB+ Ba1 Risco médio-alto

116 BB
BB-
BB
BB-
Ba2
Ba3
Risco alto
Capital Especulativo

B+ B+ B1
Risco muito alto -
B B B2
altamente especulativo
B- B- B3
CCC+ Caa1
CCC Caa2
Risco extremamente alto
CCC CCC- Caa3
- altamente especulativo
CC
Ca
C
DDD D C Falência

Pessoalmente, eu prefiro comprar apenas ativos com grau de investimento, ou seja, de AAA até
BBB, quando são garantidos pelo FGC (você entenderá que essa garantia não é absoluta); e
somente ativos de risco baixo, AAA até A, se forem títulos não garantidos pelo FGC. Passo longe
de qualquer ativo de renda fixa com grau especulativo (para mim, a assimetria, nesse caso, é muito
desfavorável ao investidor, já que os riscos de se perder tudo são altos em relação aos ganhos
remuneratórios extra, que não são tão superiores).

Você certamente já ouviu muito falar do FGC, mas duvido que entenda realmente o que esse
bicho é. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi criado pelo governo, mas, ao contrário do
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

que você pensa, não é controlado pelo poder público. O FGC é uma associação civil, sem fins
lucrativos, mantida por diversas entidades privadas, tais quais bancos múltiplos, comerciais, de
investimento, de desenvolvimento e sociedades de crédito. O objetivo primordial do fundo é o
de garantir a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Com tal finalidade, oferece garantias
para mitigar os riscos dos investidores em certos instrumentos financeiros (como CDB, LH, LCI e
LCA). Porém, outros ativos (como derivativos, ações, debêntures, Letras Financeiras, CRI e CRA)
não são cobertos pelo FGC.

O fundo garante, atualmente, o valor de 250 mil reais por CPF/CNPJ, por conglomerado financeiro,
até o teto de um milhão de reais, a cada período de 4 anos. Ou seja, o FGC garante que se os seus
devedores quebrarem e lhe derem calote, você receberá de volta 250 mil reais por conglomerado
financeiro (pode ser que várias instituições façam parte de um mesmo conglomerado, portanto,
fique atento). Entretanto, a cada quadriênio, você poderá receber no máximo um milhão de reais.
Um detalhe é que os valores garantidos, 250 mil e 1 milhão, incluem o principal investido mais os
juros – ou seja, se você colocou 230 mil, o investimento rendeu 50 mil e depois o banco quebrou,
o FGC irá lhe devolver apenas 250 mil (os outros 30 você irá perder). Uma alternativa para 117
aqueles que já possuem investimentos acima dos limites garantidos, é diversificar as alocações
entre os diferentes CPFs da família (todavia, não servem contas conjuntas, pois estas se enquadram
no limite único de 250 mil reais) ou abrir CNPJs e aplicar por meio de uma pessoa jurídica.

Outro ponto ao qual os investidores devem se atentar é que os pagamentos do FGC são limitados
ao saldo existente. Portanto, ainda que o saldo do fundo seja bastante elevado, se houver uma
crise sistêmica e várias instituições financeiras entrarem em colapso, pode ser que o FGC não
consiga honrar com todos os pagamentos. Esse risco é baixo, mas não duvide de que possa
acontecer. Em 1982, em 1990 e em 2008, diversos bancos dos EUA praticamente ficaram
insolventes – o Fed teve que injetar centenas de bilhões de dólares para que o sistema financeiro
daquele país não desmoronasse. Não sei como o FGC reagiria em uma situação similar e você,
que já leu sobre os Cisnes Negros, deveria assumir que também não sabe.
Por tudo isso, apesar de os investimentos garantidos pelo FGC serem, de fato, uma excelente forma
de se buscar mais rentabilidade, correndo poucos riscos, definitivamente não são uma garantia
absoluta e nem menos arriscados que títulos do Tesouro – ao contrário do que muita gente sai
afirmando por aí.

Além do mais, os produtos cobertos pelo FGC que oferecem boa rentabilidade, muitas vezes, não
têm liquidez no mercado secundário e possuem carências (data mínima de resgate) longas, acima
de 3 anos, enquanto os títulos do Tesouro sempre podem ser negociados, ainda que – a depender
do tipo – com eventual deságio. Por outro lado, justamente pelos maiores riscos, os títulos privados
rendem mais que os públicos. Portanto, mais uma vez, vale a máxima: sempre tenha uma carteira
equilibrada, diversificada e com foco no longo prazo.

¶¶ TÍTULOS PÚBLICOS FEDERAIS (TESOURO DIRETO)

Por falar em títulos do Tesouro, está na hora de você aprender de verdade o que são esses
ativos. Quando decide comprar um título público federal, você empresta dinheiro para o governo
118 brasileiro (e ele precisa bastante de dinheiro). Em troca, a Secretaria do Tesouro Nacional, órgão
do Ministério da Fazenda responsável pela administração financeira do nosso país, se compromete
a lhe pagar uma determinada remuneração. Assim, ao final, você receberá o que emprestou mais
os juros sobre esse empréstimo. Esse tipo de investimento é considerado o de menor risco da
economia, pois os títulos públicos são 100% garantidos pelo Tesouro Nacional. O risco de calote
é baixo, pois, em última instância, o governo pode simplesmente imprimir dinheiro para arcar com
sua dívida interna, ainda que isso gere severas distorções na economia.

A forma de o investidor comum adquirir títulos públicos federais é mediante o Tesouro Direto, que
é um programa governamental que tem a intenção de facilitar o acesso popular. Esse programa
possibilita a negociação de três tipos de títulos federais: Tesouro Selic, IPCA e prefixado.

Os títulos pós-fixados, vinculados à taxa Selic, são os menos voláteis, pois seu valor de
mercado segue a taxa Selic diária. Como essa taxa não é, e provavelmente – ao menos enquanto
estivermos vivos – não será, negativa no Brasil, o valor desses títulos apenas aumenta com o passar
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

do tempo. Por isso, são considerados os menos arriscados de todos em termos de volatilidade. O
investidor não incorre em perdas, caso opte por vendê-los antes da data de vencimento.

Por outro lado, os títulos indexados ao IPCA são os únicos que garantem que você obterá
rentabilidade real no seu investimento, ou seja, que seu dinheiro renderá mais que a inflação.
A rentabilidade do Tesouro IPCA se dá por meio de duas parcelas somadas: uma taxa de juros
prefixada e a variação da inflação (IPCA). Existem dois tipos de títulos indexados ao IPCA, o
simples faz o pagamento total (principal + juros) na data de vencimento do título, já o título com
juros semestrais paga uma parcela dos rendimentos a cada seis meses – o que é interessante para
quem necessita da renda do investimento para arcar com as suas despesas.

Tal qual o Tesouro IPCA, os títulos prefixados também podem ser simples ou com juros semestrais.
A diferença deste para os outros é que somente o prefixado define exatamente a rentabilidade
nominal que o investidor irá receber se mantiver o título até a data de vencimento. Como vimos, a
remuneração dos demais depende de outros indicadores (Selic ou IPCA).

Diferentemente dos títulos indexados à Selic, o preço dos títulos prefixados e dos indexados ao
119
IPCA dependem das expectativas futuras da taxa de juros. Assim, caso você se desfaça desses
títulos antes da data de vencimento, eles serão precificados à mercado, o que significa que a
rentabilidade poderá ser maior ou menor que a contratada na data da compra. Não vou entrar
nas minúcias matemáticas, pois estou certo de que você não está interessado nisso, mas é muito
importante que você saiba que os preços dos títulos do Tesouro prefixados e indexados ao IPCA
podem oscilar, de acordo com o que o mercado espera que acontecerá com a política monetária
no futuro. Se a expectativa é que os juros futuros aumentem, o preço dos títulos prefixados e
indexados ao IPCA caem, e vice-versa. Por isso, esses títulos são mais voláteis que os Tesouro
Selic. Em virtude do maior risco, também costumam rentabilizar melhor. No entanto, vale a pena
frisar novamente, tais oscilações são apenas para a venda dos títulos antes do vencimento. Caso
você os mantenha até a expiração, irá receber exatamente o valor principal investido acrescido
dos juros combinados.

Por fim, é importante que se atente aos custos para se investir no Tesouro Direto. Seus lucros são
tributados de acordo com a tabela padrão para renda fixa. Assim, caso se desfaça dos seus títulos
antes de 180 dias terá de pagar 22,5% de imposto de renda, entre 180 e 360 dias são 20%,
de 360 a 720 dias são 17,5% e acima de 720 dias, 15%. Diferentemente do que ocorre com
ativos de renda variável, sobre os quais você é o responsável pelo recolhimento do tributo, no caso
de ativos de renda fixa isso sempre é feito na fonte. Logo, em virtude da tributação, da oscilação
de mercado e da inviabilidade de se prever o comportamento futuro do mercado, é recomendável
que, via de regra, mantenha os seus títulos até o vencimento.

Além do imposto de renda, você terá obrigatoriamente que pagar uma taxa de custódia de
0,3% sobre o montante investido. Não tem como você se livrar dessa taxa, pois é cobrada
pela BM&FBovespa. Todavia, existe uma outra taxa, a de administração, que pode ser evitada.
Normalmente, ela é cobrada por bancos e pode chegar a estratosféricos 2%. Porém, é comum
que corretoras independentes isentem seus clientes desse custo. Portanto, fique atento e jamais
concorde em pagar taxa de administração para investir no Tesouro.

¶¶ TÍTULOS PRIVADOS

120 Todos os títulos de renda fixa que não são emitidos pelo governo são títulos de dívida privada, ou
títulos privados. Estes podem ser expedidos tanto por instituições financeiras quanto por empresas
não-financeiras. Apesar de ambos serem considerados títulos privados, os títulos emitidos por
empresas não-financeiras normalmente são mais arriscados. Além de não contarem com cobertura
do FGC, o risco de crédito costuma ser superior. No entanto, a rentabilidade também é maior.
Assim, a depender do perfil de risco, pode valer a pena contar com as duas classes de ativos na
carteira. Por isso, avaliaremos os produtos disponíveis nessas categorias separadamente.

ƒƒ TÍTULOS PRIVADOS GARANTIDOS PELO FGC

• Caderneta de Poupança

Você já deve estar cansado de ouvir que a poupança remunera pior que os demais ativos, mas
será mesmo?! Sim, será. O tempo passa, o tempo voa, mas a poupança Bamerindus não continua
numa boa, pequeno gafanhoto. Se você tivesse colocado 50 mil reais na poupança em janeiro
de 1995, teria aproximadamente 476 mil reais 23 anos depois, no final de 2017. Bom, né?! Não!
Caso investisse o mesmo montante num produto superseguro, que rendesse o equivalente à Selic
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

ou ao CDI, você teria, atualmente, mesmo depois de pagar todos os impostos, mais de 1,7 milhões
de reais! Um pouquinho melhor, não acha?! Ainda assim, por pura falta de educação financeira,
a poupança continua sendo a aplicação mais popular no Brasil. Espero que você deixe de fazer
parte desse time após ler este livro.

De qualquer maneira, é importante que você compreenda como funciona esse produto financeiro.
A rentabilidade da poupança é isenta de imposto de renda e depende da taxa Selic. Caso esta
seja menor ou igual a 8,5% ao ano, a poupança irá pagar 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial
– não rende praticamente nada). Por outro lado, se a taxa Selic for superior a 8,5% ao ano, a
remuneração da poupança será de 0,5% ao mês (aproximadamente 6,2% ao ano) mais a TR.

É verdade que a caderneta de poupança tem a vantagem de ser um investimento com boa
liquidez, mas, para tal propósito, vale mais a pena adquirir produtos garantidos pelo FGC que
sejam atrelados ao CDI e não tenham carência ou mesmo papéis do Tesouro Selic, que também
são líquidos e, mesmo não tendo isenção de IR, rendem muito mais, conforme pudemos verificar
pelo exemplo dado no início do tópico.
121
• Certificado de Depósito Bancário (CDB)

O CDB é um título de renda fixa oferecido por bancos comerciais e múltiplos. Ele pode ter
rendimentos prefixados (juro anual estabelecido antes do investimento), pós-fixados (atrelado ao
CDI) e híbridos (com um juro anual fixo mais a variação do IPCA).

A maior vantagem dos CDBs é que possuem baixo risco. O não pagamento do montante investido
dependeria do calote do banco emissor, o que não é muito comum, e, mesmo que isso ocorresse,
o investidor ainda contaria com os limites de garantia do FGC.

No entanto, um ponto que merece a sua atenção é a liquidez desses títulos. CDBs de bancos
pequenos e médios apresentam rentabilidade muito superior aos de bancos grandes, mas podem
possuir vencimentos longos e exigir anos de carência. Por praticamente não haver negociação
no mercado secundário, é muito importante que se atente a tais características, pois prazos muito
longos podem aumentar o risco e reduzir excessivamente a liquidez da sua carteira – justamente
por isso pagam juros maiores.
Assim, para equilibrarmos as relações de risco e retorno, haverá espaço na sua carteira tanto para
produtos com vencimento e carência mais curtos quanto para mais longos. No capítulo 9, quando
falarmos sobre a elaboração do seu portfólio de investimentos, trataremos melhor desse tema.

O imposto de renda aplicado sobre os rendimentos é regressivo e segue a regra padrão para
ativos de renda fixa, que já expliquei quando falamos dos títulos do tesouro (de 22,5% a 15%).

É comum CDBs que rendam um percentual do CDI, por exemplo, 110%. Para calcular a rentabilidade,
basta multiplicar o valor da taxa Selic (praticamente igual à do CDI) pelo percentual indicado.
Assim, para uma Selic de 10% ao ano, o CDB supracitado pagará 11% ao ano (1,1*10%).

Existem muitos outros títulos privados garantidos pelo FGC (LCI, LCA, LC, LH) e, atenção,
vários títulos que NÃO recebem essa proteção (Debêntures, CRI, CRA e LF). No curso definitivo
sobre investimentos “Como Investir” analiso todos eles. Agora, avaliemos as opções de ativos
considerados como “renda variável”.

122 • RENDA VARIÁVEL

¶¶ AÇÕES

Ações são valores mobiliários emitidos por sociedades anônimas, representativos da menor fração
do seu capital social. Diferentemente do que ocorre quando compra um título de dívida, como
uma debênture, o investidor que adquire uma ação se torna sócio, e não credor, da empresa. Por
isso, tem direito de participação nos lucros da companhia, mediante recebimento de dividendos e
juros sobre o capital próprio. No primeiro caso (dividendos) há isenção de imposto de renda. No
segundo (juros sobre o capital próprio) o recolhimento se dá na fonte. Portanto, apesar de precisar
registrar tais recebimentos no local apropriado da sua declaração de IR, não precisará pagar
nada a mais para o Leão.

Quanto aos dividendos, vale um esclarecimento adicional, pois muita confusão é feita acerca do
percentual mínimo que deve ser distribuído para os acionistas. Frequentemente, “especialistas”
dizem que as empresas devem distribuir, no mínimo, 25% dos seus lucros. No entanto, isso não é
verdade. De acordo com o art. 202 da Lei nº 6.404, de 1976, que regulamenta as sociedades
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

por ações, o estatuto social de cada empresa pode definir qual a parcela de seus lucros que
irá distribuir – para que você tenha ideia, já teve empresa, a Universo Online S.A. (UOL), que
fixou esse percentual em 1%. No entanto, caso o estatuto seja omisso, o percentual mínimo a ser
pago deverá ser de 50%. Nas situações de omissão, a assembleia geral de acionistas poderá
deliberar sobre o tema – aí, sim, nesse caso, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a
25%. Portanto, para que fique claro: 1 – a regra é não existir um percentual de dividendo mínimo,
já que o estatuto social de cada empresa tem liberdade para definir esse valor; 2 – se este for
omisso, a companhia deverá distribuir 50% dos lucros obtidos; e 3 – se o estatuto não disciplinar o
assunto, mas a assembleia geral de acionistas deliberar sobre ele, o dividendo mínimo não poderá
ser inferior a 25%.

O principal objetivo de uma empresa quando opta por emitir ações é captar recursos para o
financiamento de empreendimentos que visam ao crescimento da companhia. Provavelmente,
você, um instruído gafanhoto, já ouviu o termo IPO. Isso significa Initial Public Offer e representa
o primeiro lançamento de ações no mercado. Após essa abertura de capital, a empresa poderá
realizar outras ofertas públicas de ações, conhecidas como Follow on. Já quando deseja fechar 123
seu capital, ou seja, recomprar as ações que estão sendo negociadas na bolsa, a empresa faz uma
oferta pública de aquisição (OPA).

Existem dois tipos de ações no Brasil, ordinárias e preferenciais. A principal diferença é que
o titular de ações ordinárias possui direito de voto nas assembleias de acionistas, enquanto o
detentor de ações preferenciais tem prioridades e vantagens no recebimento de dividendos, bem
como no reembolso do capital na hipótese de dissolução da empresa. Assim, o titular de ações
ordinárias prioriza o controle da companhia e o de preferenciais, o recebimento de lucros.

Ademais, por lei, em caso de venda da companhia, os acionistas minoritários ordinários têm o
direito de receber uma oferta equivalente a, no mínimo, 80% do valor da oferta feita ao acionista
controlador. Apesar de não ser obrigatório, a bolsa de valores recomenda que as empresas
estendam tal direito (conhecido como tag along) aos acionistas preferenciais. Portanto, vale a
pena verificar qual a política de tag along da empresa da qual pretende comprar ações.
O recolhimento dos impostos sobre os lucros auferidos em virtude da negociação de ações é
de responsabilidade do próprio investidor e deve ser feito até o último dia útil do mês seguinte
ao da conclusão da operação. Para tanto, o investidor deverá acessar o site da Receita Federal,
preencher e emitir o DARF (código 6015) com o valor a ser pago. O imposto incidente sobre
operações com ações que não tenham sido abertas e fechadas no mesmo dia, ou seja, que não
sejam do tipo day trade, é de 15% sobre os lucros líquidos (você deve descontar todos os gastos
com impostos recolhidos na fonte e com taxas de corretagem). Caso as operações tenham sido do
tipo day trade, o imposto será de 20%.

Se o investidor tiver levado prejuízo em negociações anteriores, poderá compensá-los, desde que
seja dentro da mesma categoria – isto é, prejuízos resultantes de operações que não são day trade
só podem ser compensados com lucros obtidos com esse tipo de operação e prejuízos com day
trade apenas com lucros de day trade.

Por fim, é importante ressaltar que os ganhos líquidos de pessoas físicas em operações no mercado

124 à vista de ações serão isentos de IR se o valor das vendas (não é dos lucros) totais realizadas
dentro de um mesmo mês tiver sido igual ou inferior a 20 mil reais. Todavia, operações day trade
não entram nessa conta – você deve pagar impostos de qualquer maneira.

Em virtude da dificuldade de se calcular os valores exatos, muitos investidores optam por contratar
serviços pagos de empresas que fazem o cálculo do imposto de renda devido em cada mês. Como a
sugestão deste livro é que você não fique selecionando ações individualmente, com poucas exceções,
e, principalmente, que não fique girando sua carteira, terá que pagar impostos raramente, via de regra,
no máximo uma vez ao ano, quando for fazer o rebalanceamento do seu portfólio.

¶¶ EXCHANGE TRADED FUND (ETF)

O ETF é basicamente um fundo negociado em Bolsa. O produto replica a performance de uma


carteira de ativos, por exemplo, o índice Ibovespa. No Brasil, esse tipo de investimento ainda é
muito incipiente, mas, em outros países, como EUA, Inglaterra, Canadá e Austrália, existem ETFs
para tudo o que você imaginar: renda fixa internacional, títulos privados com alto risco de crédito,
ações de países emergentes, commodities, água doce, cannabis e muitos outros.
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

Os custos para se investir em um ETF são muito inferiores aos de um fundo convencional, pois as
taxas de administração normalmente são menores e não há cobrança de taxa de performance.
Além do mais, esses ativos seguem o desempenho de índices pré-definidos, o que correlaciona a
sua rentabilidade às do mercado, evitando a interferência de decisões pessoais e erros cognitivos,
como a ilusão de superioridade, nos seus investimentos.

Em virtude dessa facilidade de diversificação da carteira (você tem acesso a diversos ativos
mediante um único ETF) e do baixo custo, as estratégias de alocação de ativos nos EUA se baseiam
fortemente em ETFs. Todavia, como dito, no nosso país isso não é possível, já que ainda existem
poucas opções desse produto. Por aqui, os mais relevantes, na minha opinião, são três: IVVB11
(replica o desempenho do índice S&P 500, que é a principal referência do mercado acionário norte-
americano), BOVA11 (atrelado ao Ibovespa, que você já conhece bem) e o SMAL11 (indicador do
desempenho médio das cotações dos ativos de uma carteira composta pelas empresas de menor
capitalização, as “small caps”).

Além do mercado acionário e dos ETFs, existem muitos outros ativos de renda variável: Brazilain
125
Depositary Receipts (BDR), Derivativos (e.g. opções, contratos futuros e a termo), commodities
(e.g. ouro), câmbio (e.g. dólar), fundos de investimento (imobiliário, em renda fixa, em ações e
multimercados) e certificados de operações estruturadas (COE). Aprenderemos tudo o que importa
sobre cada um desses ativos no curso, mas, agora, preste bem atenção, pois as próximas páginas
fazem análises inéditas na literatura brasileira.

ANÁLISE DAS PRINCIPAIS CLASSES DE ATIVOS


DISPONÍVEIS NO BRASIL

Os livros sobre alocação de ativos escritos por norte-americanos sugerem, resumidamente, que os
investidores comprem um punhado de ETFs, cada um indexado a uma diferente categoria de investimento,
e fiquem “de boa”. Todavia, por aqui, isso é inviável. As opções de investimento no mercado brasileiro
são extremamente limitadas quando comparadas às de outros países, como Estados Unidos, Inglaterra,
Canadá e Austrália. ETFs mesmo, são pouquíssimos. Portanto, é bem mais difícil montar uma carteira
apropriadamente diversificada no nosso País. Obter sucesso sendo brasileiro não é impossível, mas,
como você certamente já sabe, exige uma dedicação extra, inclusive para selecionar ativos.
Para avaliarmos as nossas opções de investimento, analisaremos as rentabilidades e volatilidades
históricas, as correlações e os índices de Sharpe (explico melhor esse conceito no meu curso) de
13 produtos ou indicadores: CDI, IRF-M 1+, IMA-B 5, IMA-B 5+, IDA-DI, IDA-IPCA, IHFA, IFIX,
Ouro, Dólar, Ibovespa, S&P 500 e Small Caps.

• Títulos Pós-Fixados – CDI

No início deste capítulo, já expliquei sobre a taxa DI, que é praticamente equivalente à taxa
básica de juros da economia, Selic, e serve como principal referencial para a rentabilidade de boa
parte dos títulos privados pós-fixados no Brasil.

Conforme também já afirmado, os títulos pós-fixados são considerados os mais seguros em termos
de volatilidade, pois acompanham a evolução dos juros praticados no mercado e, portanto, não
oscilam de valor, como ocorre com papeis prefixados ou mistos (parte prefixada e parte atrelada
à inflação). Sendo assim, pós-fixados têm um importante papel na carteira: diminuir riscos e elevar
o retorno composto de longo prazo.
126
Ademais, muitos títulos pós-fixados possuem liquidez imediata (alguns desses títulos, emitidos
por bancos, podem ser resgatados no mesmo dia, enquanto os do Tesouro são depositados na
sua conta no dia seguinte ao resgaste). Por isso, são boas opções para aplicação do dinheiro
destinado à sua reserva para emergências (discutida nos capítulos 5 e 9).

Portanto, tendo em vista a segurança, a baixa volatilidade e a possibilidade de grande liquidez


proporcionados pelos títulos pós-fixados, os demais investimentos deverão superar o CDI em
termos de rentabilidade para serem considerados vantajosos. Porém, no Brasil, onde os juros
reais praticados estão entre os mais altos do mundo, será que isso acontece? Como você poderá
verificar, nem sempre.

Analisei a rentabilidade da Selic e do CDI desde 1987, a série mais antiga disponibilizada pelo
Banco Central, e a conclusão é que realmente é bem difícil superar esse índice. De 1987 a 2017,
o CDI ofereceu um retorno composto anual de 120%. No mesmo período, o IPCA foi de 98% ao
ano e o Ibovespa rentabilizou 109%. Ou seja, o retorno real do CDI foi de mais de 11% ao ano,
enquanto o da bolsa de valores foi de 5,5%. Detalhe, a volatilidade do Ibovespa, medida pelo
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

desvio padrão, foi muito superior. Veja o gráfico abaixo, que relaciona a rentabilidade do ativo
(eixo vertical) com o tempo (eixo horizontal):

1987 - 2017
45x10¹¹%
40x10¹¹%
35x10¹¹%
30x10¹¹%
25x10¹¹%
20x10¹¹%
15x10¹¹%
10x10¹¹%
5x10¹¹%
0%
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
IBOV CDI IPCA

Você pode estar questionando que, no período analisado, houve momentos de hiperinflação que
forçaram uma política monetária super restritiva, o que elevou muito as taxas de juros praticadas
no país. No entanto, mesmo se analisarmos os números pós-plano Real, a partir de 1995, o CDI 127
continua rentabilizando muito mais que a bolsa de valores. O primeiro rendeu 17% ao ano, enquanto
o segundo apenas 13%. Durante esses mais de vinte anos, o IPCA anual composto foi de 7%. Ou
seja, o retorno composto anual real do CDI foi de 9,3%. Já o do Ibovespa, de 5,6%. Novamente,
a volatilidade mensal anualizada da bolsa de valores foi muito superior (aproximadamente 30%
contra 2,5% do CDI).

1995 - 2017
4000%
3500%
3000%
2500%
2000%
1500%
1000%
500%
0%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
-500%

IBOV CDI IPCA


Ainda que adiantemos o início das séries históricas, o CDI continua sendo muito superior à renda
variável. De 2000 para cá, rendeu 14% ao ano, contra 9% do Ibovespa. Desde 2004, foram 12%
contra 9%. A partir de 2009, o CDI rentabilizou 11% ao ano e a bolsa de valores apenas 8%. Ou
seja, ganhar da renda fixa no Brasil realmente é muito difícil. Por isso, por aqui, uma estratégia de
investimento adequada não precisa correr tantos riscos na renda variável quanto em um país que
pratique juros baixos, como os Estados Unidos. Ainda assim, como veremos, pode ser interessante
ter um percentual investido em ações, especialmente porque a tendência é que os juros praticados
em nosso país sejam cada vez menores ao longo do tempo.

Além do mais, não fique preso aos pós-fixados. Dentro da própria classe “Renda Fixa” é possível
obtermos rentabilidades ainda muito superiores ao CDI, mesmo que com um pouco mais de
volatilidade, conforme veremos a seguir.

• Títulos Prefixados – IRF-M 1+

O IRF-M e o IMA-B fazem parte de uma família de índices de renda fixa que representam a dívida
128 pública por meio dos preços a mercado de uma carteira de títulos públicos federais, divulgados
pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O
IRF-M avalia a rentabilidade de títulos prefixados e o IMA-B de títulos indexados ao IPCA. O
IRF-M 1+, que iremos analisar agora, mede a performance de títulos públicos federais prefixados
com tempo de maturidade igual ou superior a um ano. Optei por esse indicador, ao invés do
IRF-M, porque a maior parte dos produtos prefixados disponíveis no mercado tem prazo igual ou
superior a um ano.

O IRF-M 1+ começou a ser calculado pela Anbima apenas em dezembro de 2000. Por isso, não é
possível avaliar a performance dessa classe de ativos em períodos anteriores, mas, como já temos
quase 20 anos de dados, é viável termos uma excelente ideia da rentabilidade comparada dos
títulos prefixados.

Desde o início de sua publicação até julho de 2018, o IRF-M 1+ rendeu aproximadamente 15%
ao ano, enquanto o CDI foi de 13% e o IPCA de 6% ao ano. Ou seja, o IRF-M 1+ rendeu 2 pontos
percentuais acima do CDI e 9 acima da inflação. O detalhe é que o índice avalia apenas títulos
prefixados públicos. Os privados, por serem mais arriscados, renderam ainda mais.
PRINCIPAIS OPÇÕES DE INVESTIMENTO NO BRASIL E SUAS RENTABILIDADES HISTÓRICAS

Obviamente, esse retorno extra não vem gratuitamente. Como vimos na sessão anterior, os
prefixados têm seus preços calculados em função das expectativas dos juros futuros. Portanto, os
valores desses títulos oscilam ao longo do tempo. Logo, a volatilidade é superior à do CDI. De fato,
o IRF-M 1+ teve um desvio padrão anualizado de aproximadamente 6% no período analisado
(dezembro de 2000 a julho de 2018), enquanto a oscilação do CDI foi pouco maior que 1%.

Se mudarmos o início das séries analisadas, os prefixados continuam apresentando rentabilidade


superior. De 2003 para cá, renderam mais de 15% ao ano, contra 12,6% do CDI. Desde 2004, os
prefixados pagaram quase 14% ao ano, enquanto o retorno do CDI foi de aproximadamente 12%.
Desde 2009, os prefixados rentabilizaram cerca de 12,5% anuais e o CDI, 10,5%.

Essa vantagem de rentabilidade composta anual de aproximadamente 2 pontos percentuais a


favor dos títulos prefixados em relação aos pós continua ocorrendo em praticamente todas as
séries históricas consideradas. No entanto, a volatilidade anualizada do IRF-M 1+ varia de 4 a
6%, a depender do ano de início da série, enquanto a do CDI usualmente se encontra próxima
de 1%. Ainda que a correlação dos prefixados com o Ibovespa seja relevante, aproximadamente
129
+0,45, com o CDI esta é menor que + 0,3.

Em suma, os títulos prefixados são uma boa oportunidade de diversificação. Oferecem retornos
superiores ao CDI e uma volatilidade muitíssimo inferior às da renda variável. Ademais, o IRF-M 1+
apresenta retornos reais (superiores à inflação) consistentes. Por tudo isso, é bastante interessante
que esses títulos constem da nossa carteira.

O próximo passo seria analisar os títulos atrelados ao IPCA, mas já me estendi muito neste ebook.
De qualquer maneira, não se preocupe, no meu curso, eu analiso detalhadamente todas as outras
principais classes de ativos disponíveis no Brasil: títulos atrelados ao IPCA, debêntures, fundos de
investimento multimercado, fundos de investimento imobiliários, ações (tanto domésticas quanto
norte-americanas), commodities (como ouro) e dólar.

No capítulo seguinte, passaremos a avaliar como utilizar tudo isso a nosso favor, a fim de montar
uma carteira de investimentos adequada para as necessidades de cada um. Antes disso, dê uma
última olhada com calma na performance e na volatilidade de todos ativos que estudamos, desde
2004, e já vá pensando quais são os que mais fazem sentido para você.
130
9
ENFIM, PRÁTICA
It’s showtime!

J
á avançamos muito desde o início deste livro. A essa altura – se você não tiver “dado o
migué” e saltado várias páginas e se tiver lido com atenção ao invés de fazer uma “leitura
dinâmica” –, você já possui um conhecimento financeiro consideravelmente superior à
média. Por si só, isso já lhe permite se afastar da manada e obter melhores retornos no longo prazo
sem a assunção de riscos desnecessários ou mesmo maiores que os que você consegue tolerar
sem que um certo reflexo intrínseco, mediado pelo sistema nervoso entérico local na parede do
seu reto, seja ativado.
131

No entanto, ainda falta lapidarmos um pouco todo o conhecimento adquirido, a fim de entendermos
melhor como colocar todos esses ensinamentos em prática. Com tal intuito, neste capítulo, irei
mostrar-lhe de que maneira você poderá montar um portfólio de investimentos adequado para o
seu perfil. Portanto, é hora de finalmente começarmos a colocar a mão na massa.

Este capítulo será prático. Terá a intenção de consolidar as informações relevantes dos últimos
capítulos, bem como de ensiná-lo a fazer adequadamente o seu próprio planejamento financeiro
e a montar sua carteira de investimentos, para que, assim, atinja a sua sonhada independência
financeira. Com isso, deixará de ser um pequeno gafanhoto e se tornará um verdadeiro investidor.

PLANEJAMENTO FINANCEIRO

É comum que bancos e corretoras comecem a avaliação do grau de tolerância a risco de uma
pessoa por um questionário ou uma análise do perfil do investidor (API), que fazem perguntas
sobre idade, horizonte de investimentos, aceitação de risco, entre outras.
Você deve aproveitar essas perguntas para realmente pensar sobre elas. Esse processo irá ajudá-
lo a compreender o seu perfil e os seus objetivos. A idade, como veremos, é um fator, mas está
longe de ser o único. Quanto mais jovem, mais riscos você tem a opção de assumir. Afinal, o
longo prazo está trabalhando a seu favor. Assim, mesmo que ocorra uma crise ao longo do
caminho, se seguir adequadamente sua estratégia de alocação de ativos, haverá bastante tempo
para seus investimentos se recuperarem e você conseguir excelentes retornos compostos no longo
prazo. Aliás, o horizonte de tempo é fundamental. Para alcançar a independência financeira,
inevitavelmente deverá pensar no longo prazo. Quanto maior o seu horizonte, maior a sua
expectativa de rentabilidade, pois poderá assumir mais riscos de crédito, liquidez e mercado. Por
exemplo, títulos de renda fixa prefixados de cinco anos pagarão juros maiores que os de um ano.

A ideia desses questionários é entender o grau máximo de tolerância a risco de cada um, a fim
de enquadrar o investidor em determinada categoria (conservador, moderado ou agressivo) e,
a partir daí, sugerir uma carteira de ativos cuja composição seria a ideal para tal perfil. Apesar
de serem uma boa maneira para que você comece a entender o seu grau de tolerância a risco,
132 definitivamente, não deverá utilizar esses instrumentos como único parâmetro para elaboração
da sua carteira. Afinal, é impossível que algumas perguntas compreendam profundamente suas
necessidades e características, muito menos sua real tolerância a risco.

Ademais, é muito perigoso montar uma carteira baseada num suposto grau máximo de tolerância a
risco. Essa tolerância é dinâmica e tende a diminuir muito em períodos de crise – e são justamente
nesses períodos que, se o investidor não estiver tranquilo com seu portfólio, irá se desesperar, fugir
da sua estratégia de alocação de ativos e perder bastante dinheiro.

Muita gente que achava que era superagressiva em mercados calmos viu que era absurdamente
conservadora quando estourou a crise de 2008. Nesse ano, as bolsas de valores do mundo
inteiro derreteram e o patrimônio daqueles que estavam excessivamente posicionados em ativos
arriscados afundou junto. Grave o que estou dizendo, seu pequeno e ousado gafanhoto – se
assumir mais riscos do que realmente tolera, vai “pedir penico” quando emergir uma crise.

Por isso, antes de decidir qual a sua disposição para ativos arriscados, sugiro fortemente que
faça uma espécie de teste de estresse, para ver como você se sentiria em cenários extremos. Faça
ENFIM, PRÁTICA

perguntas do tipo “e se...”. Por exemplo, “e se a bolsa de valores cair 30% no ano, o que eu faço?
Se eu tiver 50% alocado em ações, consequentemente irei perder 15% do meu patrimônio. Eu
ficaria tranquilo com essa situação e rebalancearia normalmente minha carteira no momento certo
ou iria querer vender tudo, xingar o assessor financeiro e nunca mais comprar ações na vida?” Se
você estiver inclinado a escolher a segunda opção, é um bom indício que a alocação de 50% em
ações é muito agressiva para você.

Seja sincero com você mesmo. Muitas pessoas têm uma tolerância real a riscos bem menor do
que declaram ter. Utilize as técnicas de visualização aprendidas no capítulo 4 para se imaginar
vividamente em tais situações. Seja detalhista. Perceba como realmente se sentiria nessas condições.
Abordarei mais seu grau de tolerância a risco quando for analisar certos perfis de investimento.
Todavia, já adianto que pender para o lado da prudência nunca quebrou ninguém.

William Bernstein, no livro “The Intelligent Asset Allocator” recomenda que o investidor defina
o percentual da carteira que irá colocar em ações a partir de quanto toleraria suportar de
redução patrimonial momentânea, a fim de obter maiores retornos. Para ele, se um investidor
133
consegue aguentar sem maiores problemas uma diminuição de até 35% no valor do seu portfólio,
poderia alocar até 80% em ações; 30% equivaleria a 70%; 25% a 60% e assim sucessivamente.
Considerando que a volatilidade do nosso mercado de ações é aproximadamente o dobro
da do norte-americano, sugiro que, caso queira utilizar uma regra similar, considere a metade
da alocação em ativos de renda variável recomendada por Bernstein para cada percentual
considerado. Assim, uma tolerância de 35% de redução patrimonial significaria que você pode
alocar até 40% em ações; 30% de oscilação equivaleria a 35% em renda variável; 25% a 30%;
20% a 25%; 15% a 20%; 10% a 15%; 5% a 10% e 0% a zero.

Após fazer o teste de estresse e de analisar quanto aceita de oscilação negativa no seu capital a
fim de buscar retornos maiores no longo prazo, você já terá uma ideia de quão agressivo realmente
é. No entanto, antes de montarmos sua carteira, precisaremos fazer uso de equações de cálculo
astrofísico nuclear avançado de séries temporais e variáveis estocásticas para definirmos quanto
você precisará poupar por mês para ficar rico.
Apesar de ser brincadeira, a maior parte das pessoas que eu conheço realmente acredita ser
absurdamente complexo a realização de alguns cálculos muito simples. Consequentemente, a
preguiça intelectual vence e praticamente ninguém coloca no papel quanto precisa poupar por
mês para alcançar sua independência financeira. Não preciso nem dizer que é óbvio que isso dificulta
muito o seu planejamento. Assim, abra um pouco a mente. Procurarei ser, como sempre, o mais didático
possível, mas preciso de um pouco de esforço da parte de vossa excelência para entender algumas
fórmulas básicas que comporão a sua “calculadora da independência financeira”.

Dessa forma, você não ficará dependente de uma calculadora financeira ou de sites contendo
fórmulas alheias (muitas vezes erradas) para saber quanto precisa economizar mensalmente e
como pode manipular as variáveis que influenciam no seu enriquecimento: patrimônio líquido
disponível para investimentos hoje, poupança mensal, tempo até a liberdade financeira e taxa de
juros reais de rentabilização da carteira.

CALCULADORA DA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA


134
Conforme acabei de dizer, existem quatro variáveis que influenciam no seu enriquecimento. A
primeira delas é a quantia de dinheiro que você já tem disponível para investir. Obviamente,
quanto maior esse montante, mais rapidamente você irá alcançar a sua aposentadoria.

A segunda variável depende dos seus hábitos diários de consumo e poupança. Conforme vimos
no capítulo sobre orçamento doméstico, quanto mais conseguir economizar por mês para investir,
menor o tempo necessário para o enriquecimento.

Aliás, por quanto mais tempo você poupar e investir, maior será o seu patrimônio no momento
que decidir aposentar. Essa é a nossa terceira variável. Quando o assunto é tempo, nossos maiores
aliados são os juros compostos. Utilizando nossa calculadora você poderá simular cenários
diversos para ver na prática a mágica acontecendo.

Assim, a quarta e última variável quantitativa que irá influenciar na consecução da sua independência
financeira é a taxa de juros com a qual conseguirá rentabilizar os seus investimentos. Utilizamos
a taxa real porque, como vimos, ela já desconta os efeitos negativos da inflação no poder de
ENFIM, PRÁTICA

compra da moeda. Afinal, de nada importa aumentar nominalmente o patrimônio, se, ano após
ano, sua capacidade de consumo for reduzida. Por isso, são os juros reais que importam quando
analisamos enriquecimento. Quanto maior a taxa composta anual real com a qual conseguir
rentabilizar a sua carteira, mais o seu capital irá crescer.

Muita atenção a isso, pois é comum que sites de “experts” em investimentos façam cálculos
utilizando taxas de juros nominais. Obviamente, é muito mais impactante utilizar as taxas nominais.
Por exemplo, se você considerar 13% ao ano de juros nominais ao longo de 20 anos, 100 mil reais
se transformariam em mais de 1 milhão! No entanto, se a inflação do período tiver sido de 6%
ao ano, seus 100 mil reais valerão apenas 350 mil em termos atuais, ou seja, muito distante dos
milhões prometidos pelos “gurus”.

A inflação corrói o seu poder de compra. Não adianta nada ter um milhão na conta se um único
rolo de papel-higiênico custar 2 mil reais. Você está achando graça, mas esse tipo de coisa já
aconteceu de verdade – no Brasil dos anos 1980 e, mais recentemente, na Venezuela. No país
vizinho, o papel-higiênico simplesmente sumiu dos supermercados e o seu preço atingiu patamares
135
absurdos. Virou um artigo de luxo. Por isso, insisto tanto que você deve ser obcecado em obter
retornos reais, especialmente no Brasil, que tem um histórico de graves problemas inflacionários.
Caso contrário, pode ser que tenha que instalar um bidê em casa...

Agora que você já compreende quais os fatores que iremos considerar para fazer os cálculos
relacionados à sua independência financeira, vamos fazer uma engenharia reversa e definir quanto
você precisa poupar mensalmente para alcançar esse sonho. Muita gente prefere simplesmente
recomendar “poupe o máximo que puder” ou “poupe, no mínimo, 30% do seu patrimônio”.
Evidentemente, quanto mais conseguir economizar sem sacrificar sua qualidade de vida presente
de modo considerável, melhor. Todavia, acredito que seres humanos funcionam melhor com
números absolutos ao invés de dados hipotéticos. Por isso, sugiro que utilize a calculadora da
independência financeira para definir uma meta específica de poupança. Assim, acredito que
você terá maior motivação para alcançá-la.

O primeiro passo será definir quanto você gostaria de receber mensalmente para poder parar
de trabalhar e viver apenas da renda dos seus investimentos. Para isso, você deverá avaliar as
despesas atuais da sua família, pelo seu orçamento doméstico (percebe como tudo no livro está
relacionado?!), bem como o estilo de vida que tem a intenção de levar quando se aposentar, pois
isso influenciará no valor da renda mensal da qual necessitará.

Vamos supor que você gostaria de se aposentar recebendo vinte mil reais por mês, em termos
de hoje. Agora, multiplique esses vinte mil por doze, pois, assim, saberemos qual a renda anual
que você precisa para poder se aposentar. No nosso exemplo, você irá necessitar que seus
investimentos rendam, em termos reais, ou seja, preservando o poder de compra do seu capital,
240 mil reais por ano.

Tendo definido a renda anual que deseja, temos de calcular qual o valor que você precisa ter
investido para receber todo esse dinheiro. Isso é bastante simples, basta dividir a quantia desejada
pela taxa de juros real com a qual acredita que conseguirá rentabilizar a sua carteira anualmente.
Sugiro que estime que seus investimentos renderão 5% ao ano em termos reais, ou seja, já blindados
contra a inflação. Essa é uma estimativa bastante prudente. Para você ter uma ideia, percentual

136 similar é utilizado no planejamento financeiro de cidadãos norte-americanos, mesmo as taxas de


juros de lá sendo muito menores que as nossas. Portanto, no Brasil, é possível que você consiga
taxas reais até melhores que 5% ao ano. Ainda assim, prefiro adotar uma postura conservadora.
Afinal, estamos falando da sua independência financeira. Logo, no exemplo dado, se dividirmos
os 240 mil reais que você espera obter de renda por 0,05, descobriremos que você precisará de
4,8 milhões na sua carteira de investimentos para atingir sua sonhada liberdade financeira. Caso
queira estimar sua renda considerando uma taxa de juros diferente, o processo é o mesmo. Por
exemplo, se acredita que seus investimentos renderão 6% ao ano, basta dividir os 240 mil por
0,06. Considerando esse cenário alternativo, ao invés de 4,8 milhões, você precisaria de apenas
4 milhões para se aposentar.

Repare que a ideia é que, além de proteger o seu capital da inflação, você viva indefinidamente
apenas da sua renda, ou seja, sem consumir qualquer fração do montante principal investido.
No nosso exemplo, isso significa que você viveria para sempre apenas com a renda real dos
4,8 milhões, sem gastar nada deles e, ainda, repondo as perdas inflacionárias. Prefiro adotar
essa estratégia, pois, caso se programe para consumir, além dos rendimentos, todo o patrimônio
ENFIM, PRÁTICA

investido, correrá o “risco” de viver muito e o dinheiro acabar. Como não quero que você fique
com medo de viver demais, sugiro que se organize para cobrir todas as suas despesas apenas com
as receitas pagas pelos seus investimentos. À medida que for envelhecendo, pode refazer essas
contas e começar a consumir parte do capital, além da renda, até o limite que pretende deixar de
herança. No entanto, para fazer essa conta precisará de uma calculadora financeira.

Pronto, você já sabe quanto quer ganhar por mês, e por ano, para se considerar financeiramente
independente. Também já calculou quanto precisa ter investido para alcançar esses valores. Agora
é hora de definirmos quanto você irá precisar poupar todo mês para conseguir cumprir sua meta.
Para isso, teremos de calcular duas rentabilidades, a do seu patrimônio atual e a dos seus aportes
mensais, que serão feitos a partir das suas economias.

Para isso, sugiro que utilize uma fórmula, adaptada por mim, para facilitar o cálculo. No curso
definitivo “Como Investir” eu forneço a fórmula, explico os cálculos e ainda disponibilizo uma
planilha que automatiza todo o processo, para que você possa fazer várias simulações de cenários
possíveis.
137
MONTANDO A PRÓPRIA CARTEIRA DE INVESTIMENTOS

Adotaremos uma estratégia de diversificação em três níveis. Primeiramente, dividiremos sua carteira
entre renda fixa e variável. Em seguida, escolheremos as classes de ativos que a comporão, bem
como a forma de remuneração de cada classe. Por fim, você definirá quais ativos específicos
possuir. As classes e subclasses de ativos que podem, mais facilmente, ser negociadas no Brasil
são as seguintes:

RENDA FIXA:
• Pós-fixados (CDI)
TÍTULOS PÚBLICOS • Prefixados
• Indexados ao IPCA
TÍTULOS PRIVADOS (podem ou não possuir • Pós-fixados (CDI)
• Prefixados
garantia do FGC) • Indexados ao IPCA
RENDA VARIÁVEL:
• em Renda Fixa (FIRF)
• em Ações (FIA)
138 FUNDOS DE INVESTIMENTO
• Multimercado (FIM)
• Imobiliário (FII)
• Ibovespa
AÇÕES • Small Caps
• S&P 500
COMMODITIES • Ouro
CÂMBIO • Dólar

Apesar de essas possibilidades existirem a um fácil alcance, não recomendo que utilize todas elas
na sua carteira. A composição desta dependerá muito do seu perfil e dos seus objetivos. Você
deverá buscar ativos fundamentalmente diferentes para compor seu portfólio, não faz diferença,
por exemplo, você “diversificar” entre um ETF do Ibovespa e um fundo de investimento em ações
indexado ao mesmo índice. Na verdade, nem é vantajoso simplesmente diversificar o máximo
possível. Esse hábito acaba por pulverizar o seu portfólio e, além de gerar maiores dificuldades de
monitoramento, aumenta bastante os seus custos.

Por isso, de acordo com Richard Ferri, autor do livro “All About Asset Allocation”, os benefícios da
diversificação tendem a diminuir após aproximadamente 12 investimentos. Lembre-se: a meta é
ENFIM, PRÁTICA

ser consistente. Se complicar demais as coisas, não irá conseguir consistência no longo prazo. O
maior inimigo de um bom plano é a busca por um plano perfeito, pois tal plano não existe.

No meu curso, explico conceitos essenciais, além da escolha das classes e percentuais de ativos,
para os quais você precisa se atentar quando for montar a sua carteira, como: qual o ciclo de
vida atual do investidor, qual a participação de títulos privados no portfólio, as críticas à estratégia
de alocação de ativos e como contorná-las, como montar um bom fundo para emergências de
acordo com o seu perfil, como considerar a carência, o vencimento e a duration dos papeis,
além de explicar qual o maior risco que o investidor brasileiro enfrenta em nosso país, o qual, eu
garanto, não é volatilidade.

• O Passo-a-Passo para Montar a Sua Carteira de Investimentos

Nos próximos tópicos, irei fazer algumas sugestões de carteira, de acordo com os perfis de
investidores mais preponderantes. Todavia, tenha em mente que você e suas necessidades são
únicas. Portanto, minha recomendação é que utilize os exemplos para se inspirar, mas que defina
o seu próprio portfólio de investimentos. São apenas cinco passos principais para que você consiga
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montar e gerenciar sua carteira de investimentos de modo eficiente:

1 - Analise bem a sua propensão a risco e as suas necessidades de longo prazo. Quanto mais
longe estiver a data na qual pretende se aposentar, mais riscos pode assumir. A partir daí,
defina qual o percentual que irá destinar para renda fixa e renda variável;

2 - Avalie cada classe de ativos. Compare rentabilidades históricas, riscos e correlações;

3 - Determine quais ativos irão compor cada classe. Lembre-se de verificar o rating do emissor,
a carência e a data de vencimento dos produtos;

4 - Implemente a estratégia de alocação de ativos e vá equilibrando os percentuais de cada


ativo na sua carteira a partir de aportes mensais; e

5 - Monitore e faça o rebalanceamento da sua carteira periodicamente. Isso irá controlar seus
riscos e maximizar seus retornos de longo prazo.
PERFIS DE INVESTIMENTO E EXEMPLOS DE CARTEIRAS

Existe uma regra de bolso muito utilizada nos Estados Unidos, para se determinar a divisão da
carteira, que diz que o investidor deve colocar a sua idade em renda fixa e o restante em renda
variável. Assim, uma moça de 20 anos deveria colocar apenas 20% da sua carteira em renda fixa
e 80% em ações.

Eu discordo veementemente dessa regra. Primeiramente, porque, no Brasil, simplesmente não é


vantajoso colocar tanto dinheiro assim em renda variável, já que, como analisamos anteriormente,
nossos juros reais são muito altos e não há um benefício claro em se assumir investimentos de maior
risco por aqui.

Se fosse para ter uma regra de bolso para investidores brasileiros, a meu ver, teria de ser algo
em torno de 1,5 a 2 vezes a sua idade em renda fixa. Ou seja, uma pessoa de 20 anos deveria
colocar de 30 a 40% do seu patrimônio em renda fixa.

140 Ainda assim, não acredito que uma regra pronta seja a melhor opção. Meu conselho é que resista
à tentação de usar esse tipo de artifício e tente se conhecer melhor. Como vimos, cada pessoa
tem suas necessidades, características e objetivos. A idade é apenas um de vários fatores que irão
influenciar no seu grau de tolerância a risco.

A fim de sugerir diferentes carteiras de investimentos, optei por trabalhar com 4 perfis principais.
Cada um se identifica melhor com determinada fase de vida. Todavia, essa análise é muito subjetiva.
Você pode ter 20 anos, já ter quatro filhos para sustentar e ser totalmente avesso ao risco. Ao
mesmo tempo, pode ter 60 anos, ninguém para sustentar e adorar correr riscos. Por isso, os perfis
com os quais vamos trabalhar mais à frente são apenas sugestivos. Inclusive, vou exemplificar
mais de uma carteira para cada perfil. Mais importante que a idade é sua realidade familiar e
financeira. Quanto mais despesas e obrigações familiares tiver e mais pessoas dependerem de
você, ou seja, quanto mais restrita a sua situação financeira, mais conservadora deverá ser a
postura adotada.
ENFIM, PRÁTICA

Utilizei essa classificação por perfis por questões didáticas e porque preciso de um artifício que me
permita fazer generalizações. Afinal, é impossível que eu sugira uma carteira para cada indivíduo.
Quando for montar a sua, relembre tudo que você leu e procure entender quais realmente são os
seus objetivos e qual é o seu perfil. Não se prenda aos percentuais sugeridos. Cada pessoa é
única. Somente você pode definir o seu portfólio de investimentos ideal.

PERFIL 1: RUBENS – DEVAGAR E SEMPRE


(CONSERVADOR)

O grande Rubens Barrichello é um dos caras mais injustiçados desse país. Ele é, até hoje, o piloto
de Fórmula 1 que mais disputou provas na história. Foram 326. O segundo, um tal de Michael
Schumacher, disputou 288. Rubens é o 8º piloto que mais pontuou na categoria e o 5º em
quantidade de pódios. Ele nunca ganhou um título, mas pilotou por anos uma Ferrari.

O objetivo de um Rubens definitivamente não é ganhar o título de mais rico do mundo. Na verdade,
se conseguir pilotar uma Ferrari, já estará bom demais. Portanto, se você quer enriquecer com 141
constância, sem sentir borboletas na barriga a cada vez que o mercado der uma estressada, não
tenha vergonha de ser um Rubens. Assuma-se. Saia do armário e diga em voz alta para todos
ouvirem: “Eu, pequeno gafanhoto, sou um Rubens!”. Verá a sensação de alívio que vai sentir após
admitir ao mundo quem você realmente é.

Muita gente perde dinheiro no mercado porque não aceita o fato de que é conservador. Cada
solavanco contrário é motivo para pânico e, consequentemente, razão para fazer cagada e jogar
dinheiro fora. Não tem nada de errado em ser um Rubens. Talvez você demore um pouco mais para
conquistar a independência financeira, mas o importante é que estará confortável com sua carteira
de ativos e com sua estratégia de investimentos. Portanto, a minha sugestão para os Rubens é que
deixem cerca de 90% em renda fixa e apenas 10 % em variável.
Aprofundando na diversificação, recomendo 30% do patrimônio alocado em títulos públicos.
Há quem diga que não vale a pena investir em Tesouro Direto, pois bastaria aplicar em títulos
privados, garantidos pelo FGC, que são seguros e pagam mais. Já disse por que discordo desse
tipo de pensamento, mas volto a reafirmar. Os títulos do Tesouro normalmente são mais líquidos
que os privados que rentabilizam melhor. Assim, se precisar sacar o dinheiro urgentemente, terá
essa opção, ainda que, a depender do tipo de investimento, os preços possam variar de acordo
com o mercado. Para completar, a proteção do FGC não é absoluta. Como vimos, ela tem várias
limitações (caso não esteja se lembrando de quais são, volte ao capítulo 8).

Além disso, sugiro cerca de 60% alocados em títulos privados com garantia do FGC e nada em
títulos não garantidos. Porém, se for um Rubens um pouco mais ousado, pode colocar cerca de 5%
do seu patrimônio nessa última categoria.

Os 10% restantes, mesmo você sendo conservador, recomendo que coloque em renda variável,
principalmente se ainda for jovem e faltar muito tempo até a idade com a qual pretende se

142 aposentar. A ideia é, com isso, conquistarmos rentabilidades maiores no longo prazo.

Dentro de cada categoria, você ainda precisará diversificar de acordo com as subclasses. Para
facilitar, veja na tabela abaixo minha sugestão inicial de alocação para um Rubens. Repare que
destinei 40% do seu patrimônio para títulos indexados ao IPCA (garantem retorno real e pagam
melhor que os demais no longo prazo), 15% para prefixados (boa relação risco e retorno e não
dependem do comportamento da inflação), 35% para pós-fixados (diminuem a volatilidade da
carteira, pois seguem o CDI e o preço do título não oscila para baixo, como pode ocorrer com
os demais), 5% em fundos multimercados (desde que você pesquise bastante e encontre um que
ofereça uma boa relação de risco e retorno a custos baixos, a fim de tentar melhorar a rentabilidade
de longo prazo da sua carteira) e 5% em ações (pode ser mediante um fundo, que você confie
e não cobre taxas absurdas, um ETF indexado ao Ibovespa ou selecionando ações individuais –
nessa última hipótese apenas se quiser dedicar horas diárias a essa atividade e sabendo dos riscos
envolvidos).

Caso opte por escolher suas próprias ações, recomendo que deixe pelo menos parte do percentual
alocado em um fundo ou ETF. Considerando, para a carteira abaixo, que 5% serão alocados em
ENFIM, PRÁTICA

ações, se quiser selecionar tais ativos individualmente, reserve, por exemplo, 2,5% para um ETF
indexado e 2,5% para você “brincar” de Warren Buffett. Dessa forma, diversificará melhor os seus
riscos intraclasse.

Por outro lado, se quiser maior diversificação ou se ficar desconfortável com quaisquer investimentos
no mercado acionário, mesmo mediante um ETF indexado ao Ibovespa, pode destinar todo ou
parte desses 5% a fundos imobiliários ou mesmo aumentar o percentual alocado em multimercados.

RUBENS 90/10
Indexados ao IPCA 10%
Títulos Públicos (Tesouro Direto) Prefixados 10%
RENDA FIXA

Pós-fixados (Selic) 10%


Indexados ao IPCA 30%
Títulos Privados com FGC (CDB, LCI, LCA) Prefixados 5%
Pós-fixados (CDI) 25%
RENDA VARIÁVEL

Fundos de Investimento Multimercado 5%

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Ações Ibovespa 5%

Caso tenha se assustado com a sugestão e seja um Rubens ainda mais conservador – dos tempos
de Williams e não de Ferrari –, ou então se já estiver num ciclo de vida mais avançado, é viável
alocar até mesmo todo o seu patrimônio em renda fixa. Eu explico como você pode fazer isso,
mantendo uma diversificação eficiente, no meu curso definitivo sobre investimentos.

Ademais, nele, faço uma análise ainda mais ampla de todos os outros perfis de investidores
(do mais conservador ao mais agressivo), a fim de englobar mais classes de ativos no portfólio,
como títulos de renda fixa sem FGC, Fundos Imobiliários, S&P 500 e Small Caps.. Aliás, esse é
o foco de praticamente uma aula inteira, na qual abordo esses perfis e suas variações, como o
perfil do “Filhinho de Papai Nutella” (que gosta de risco #sóquenão), do “Theo Becker” (que
tem volatilidade na veia) e o do “Michael Douglas” (que já está prestes a se aposentar, ou já se
aposentou, e quer apenas viver de renda e curtir a vida).
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10
CONCLUSÃO
Estourando bolhas

Q
uando decidi escrever este livro, assumi a missão de tentar livrar os meus pequenos
gafanhotos de duas grandes bolhas: a da precificação de ativos, que vez ou outra
dá as caras no mercado – acredite, se você ainda não vivenciou uma, certamente
ainda irá; e a da falta de educação financeira, dentro da qual ainda vive a grande maioria dos
brasileiros.

Assim, primeiramente, espero que esteja ciente do comportamento errático do mercado. Este, 145
sem dúvidas, irá passar por momentos de euforia, ou seja, de sobrevalorização de ativos e,
consequentemente, de pânico e crises. Portanto, torço para que você saiba reconhecer esses
comportamentos excessivos e simplesmente se mantenha longe deles. Não se deixe levar pela
insensatez do Sr. Mercado. Nos momentos de descontrole das massas, atenha-se à sua estratégia
simples e clara de alocação de ativos. Se fizer isso, garantirá o sucesso da minha primeira missão:
livrá-lo de bolhas especulativas.

No entanto, reafirmo que nada disso será fácil. Ao longo da sua vida como investidor, você
inevitavelmente irá se deparar com diversas situações nas quais tenderá a tomar decisões erradas
e a ceder aos erros comportamentais sobre os quais tanto discutimos. Essa tentação será maior
ainda durante momentos dominados pela psicologia das massas, as bolhas financeiras sobre as
quais conversamos arduamente ao longo de todo o livro. Apesar de tudo que você acaba de ler,
eu garanto que quando abrir uma página da internet e se deparar com uma notícia sobre como
todos estão ficando bilionários, da noite para o dia, em virtude – conforme já vislumbrado pelo
célebre parlamentar Tiririca – de súbitas altas no preço do “piqui”, você vai ficar se coçando para
raspar a poupança, vender um rim e ir lá se encher desses “ativos” sensacionais. Afinal, “não tem
como dar errado”, porque “desta vez é diferente”, não é mesmo, seu gafanhoto abestado?!

Todavia, nesse momento, antes de torrar todas as suas economias em “piqui”, suplico que lembre
que as manias do mercado costumam dar lugar às depressões. Como já dizia nosso garoto
propaganda predileto, Isaac, O Newton, pai da Lei da Gravitação Universal, ainda em 1687,
“tudo o que sobe, desce” ou algo assim... (ou será que foram “As Meninas” que disseram isso?!
Agora estou confuso...)

Em segundo lugar, espero que você esteja finalizando este livro tendo consolidado um nível
de conhecimento em finanças capaz de lhe garantir sucesso como gestor de seu orçamento
doméstico e de seus investimentos de longo prazo – o que significará meu sucesso quanto à missão
de tirá-lo de dentro da segunda bolha mencionada: a da falta de educação financeira.

Caso queira se aprofundar (muito) em tudo o que vimos até aqui, sugiro que fique atento para
a abertura da próxima turma do meu curso “Como Investir: O Curso Definitivo”. No entanto,
146 caso não esteja a fim, o conhecimento básico essencial para investir é coberto por esse ebook e
resumido nas seguintes lições: adote o mindset adequado, defina metas para poupar e investir
com constância e desenvolva uma estratégia suficientemente simples e clara para que você a
siga consistentemente, em momentos bons ou ruins, com disciplina e paciência. Como nada é
previsível, tenha uma carteira bem diversificada e jamais se esqueça de buscar retornos reais,
acima da inflação, para os seus ativos. É assim que enriquecerá e alcançará a sua independência
financeira no longo prazo. O resto é mimimi.
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