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FILOSOFIA

1
Módulo

capítulo 1

A EXPERIÊNCIA DO
PENSAR FILOSÓFICO
FILOSOFIA Módulo 1 A experiência do
capítulo 1 pensar filosófico

É possível definir filosofia?


n A questão sobre o que é a filosofia já é, por si só, uma questão filosófica.

n Na história da filosofia, os filósofos formularam definições diversas para tal


questão.
• Na Antiguidade, por exemplo, a filosofia era considerada um saber
universal, enquanto na Idade Média cristã ela se tornou uma “serva
da teologia”.

n Diante da multiplicidade de definições, percebe-se: a filosofia não é um


saber irrefutável e acabado, mas está constantemente aberta à indagação.

n O questionamento caracteriza a atitude problematizadora da filosofia.


FILOSOFIA Módulo 1 A experiência do
capítulo 1 pensar filosófico

Informação, conhecimento e sabedoria


n A distinção entre as ideias de informação, conhecimento e sabedoria nos
ajuda a entender a experiência filosófica.
• A informação é o relato de fatos ocorridos, por exemplo, por meio de uma
notícia de jornal.
• O conhecimento amplia a compreensão da notícia, tal como faz o
conhecimento científico (história, sociologia, ciências médicas,
psicologia etc.).
• A sabedoria compreende tanto o saber teórico como o saber prático, que
está atrelado às vivências de todos. Ambos se completam. Em seu aspecto
prático, a sabedoria se identifica com a chamada filosofia de vida, o
filosofar espontâneo de todos nós.
FILOSOFIA Módulo 1 A experiência do
capítulo 1 pensar filosófico

Aprender a filosofar
n Kant afirmou: não é possível aprender qualquer filosofia, mas somente
aprender a filosofar.

n Diferentemente dos cientistas, que não precisam conhecer a história de


suas ciências no decorrer de uma pesquisa, a reflexão do filósofo profissional
parte de um conhecimento prévio da história da filosofia. Porém, ele não
recebe as reflexões como um produto acabado.

n Assim, pode-se dizer que não existe filosofia, mas filosofias.

n Se as ciências em geral se empenham em dar uma explicação objetiva da


realidade com base em experimentos, a filosofia indaga o que as coisas
significam para nós.

n A experiência filosófica consiste em não aceitar certezas e soluções já


estabelecidas, mesmo parecendo óbvias. A discussão filosófica está
sempre aberta a controvérsias.
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capítulo 1 pensar filosófico

A reflexão filosófica
n A reflexão não é privilégio do filósofo: ela é a capacidade intelectual por
meio da qual o pensamento questiona a si mesmo.

n A reflexão filosófica apresenta especificidades. Para o filósofo brasileiro


Dermeval Saviani, a filosofia constitui uma reflexão radical, rigorosa
e de conjunto:
• Radical porque explicita os conceitos fundamentais que estão no pensar
e no agir e vai à raiz do problema.
• Rigorosa porque tem por base argumentos coerentes e articulados entre si,
procurando sempre se utilizar de raciocínios válidos.
• E de conjunto porque aborda os diversos aspectos de uma questão e os
articula entre si. Além disso, não tem objeto específico, pois qualquer
assunto pode ser alvo da reflexão filosófica.
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capítulo 1 pensar filosófico

Outros olhares sobre a filosofia


n A definição de filosofia, entretanto, não se limita ao que foi até aqui
apresentado.

n Os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, por exemplo, afirmam que a


filosofia não é reflexão, mas uma disciplina cuja função é criar conceitos.

n Já para o professor Mario Ariel González Porta o que caracteriza a filosofia


é a preocupação com um problema.
ACERVO DO MUSEU DE BELAS ARTES DE BOSTON

De onde viemos?
O que somos? Para onde
vamos? (1897), pintura de
Paul Gauguin. Refletir não
é privilégio do filósofo,
mas a reflexão filosófica
apresenta características
que a diferenciam
das demais.
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capítulo 1 pensar filosófico

Para que serve a filosofia?


n Numa visão pragmática, a filosofia é acusada de não servir para nada.
n No entanto, sua importância está na maneira como ela vai além das
necessidades imediatas.
n O exercício de reflexão nos faz questionar o já estabelecido.
n Assim, a filosofia é uma ameaça constante aos poderes vigentes.
Há exemplos históricos de

COLEÇÃO PARTICULAR
n

perseguições a que o pensamento


filosófico esteve sujeito.

Galileu diante do tribunal da Inquisição


(século XIX), de Joseph-Nicolas­
Robert-Fleury. No século XVII, Galileu
foi levado ao tribunal da Inquisição
porque suas descobertas na área da
astronomia contrariavam a filosofia de
Aristóteles e passagens da Bíblia.
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Módulo

capítulo 2

A CONDIÇÃO HUMANA
FILOSOFIA Módulo 1
A condição humana
capítulo 2

Cultura: o conceito
n Entre as numerosas interpretações do conceito de cultura, podem ser
destacados o sentido antropológico e o sentido restrito.
• No sentido antropológico, todos somos seres culturais porque produzimos
obras materiais e de pensamento.
• Fazem parte da cultura, entendida em
sentido antropológico, a invenção de

ROKA PICS/SHUTTERSTOCK
instrumentos e utensílios, a criação de leis
e instituições, a construção da língua, da
moral, da política, das artes etc.
• No sentido restrito, cultura é a produção
intelectual do mundo das artes plásticas,
das letras, da música, do cinema etc.
• A diversidade cultural manifesta a
existência de diferentes formas de os O grafite pode ser compreendido
como cultura no sentido restrito,
indivíduos se relacionarem entre si e enquanto os esportes, como cultura
com a natureza. no sentido antropológico.
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A condição humana
capítulo 2

Quem é você?
n O existir humano não é apenas natural e biológico, mas pressupõe também
uma realidade cultural.

n A cultura contribui para a formação de nossa identidade.

n A descoberta de si e a formação da identidade são processos que dependem


das relações estabelecidas com o outro.

n Para o filósofo Merleau-Ponty, no homem são sobrepostas ao mesmo tempo


características naturais e culturais.

O comportamento animal
n Os humanos, diferentemente dos animais, conseguem transformar natureza
em cultura porque têm consciência da finalidade de atos que dependem da
sua escolha.
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A condição humana
capítulo 2

A linguagem
n A linguagem é um sistema de signos (qualquer coisa que está no lugar de
outra e o representa). Os signos podem ser de três tipos: ícones, índices e
símbolos.
• Os ícones guardam uma relação de semelhança com a coisa representada.
• Os índices mantêm uma relação de contiguidade com a coisa representada.
• Os símbolos tratam de convenções arbitrárias e seus significados precisam
ser interpretados.
n Os animais são capazes de se comunicar por meio de ícones e índices, mas o
universo da linguagem simbólica é exclusivamente humano.
n Para o filósofo Cassirer, o símbolo é um tipo de representação versátil,
flexível, móvel.
n A linguagem animal é restrita à adequação a situações concretas; já a
humana distancia os homens das experiências vividas e as transforma.
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A condição humana
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Cultura e educação
n Para o sociólogo Durkheim, “a sabedoria humana se acumula sem fim”.
n Os saberes acumulados são transmitidos de uma geração a outra de diversas

maneiras (família, lazer, trabalho, educação formal e escolarizada).


n A educação funciona como instância mediadora entre indivíduo e sociedade,

mantendo viva a memória de um povo e garantindo sua sobrevivência


material e espiritual.

RICARDO TELES/PULSAR IMAGENS


Indígenas do Xingu em intervalo da
Conferência Nacional de Políticas
Indigenistas, realizada em Cacoal (RO).
Foto de 2015. A sobrevivência de uma
cultura requer a luta pela manutenção de
um conjunto de saberes.
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A condição humana
capítulo 2

Tradição e ruptura
n Na autoprodução da cultura há dois movimentos opostos e inseparáveis:
a sociedade exerce um efeito modelador sobre o indivíduo e este, por sua
vez, elabora e interpreta a herança recebida socialmente a partir de sua
perspectiva pessoal.
n Não há sociedade estática: em maior ou menor grau, todas mudam, numa

dinâmica que resulta do embate entre social e pessoal, tradição e ruptura,


herança e renovação.
n A recriação da cultura é um processo permanente, em que o “já feito” pode

ser transgredido e transformado por atos de liberdade, a fim de realizar


novos projetos.
n Para o filósofo Cassirer, o nosso desafio está na luta entre tradição e

inovação, entre forças reprodutoras e forças criadoras.


n A era da sociedade da informação e do conhecimento, que tem transformado

de maneira radical todos os setores da vida, acelera o processo de ruptura


e cria novas maneiras (talvez mais flexíveis e menos duradouras) de
constituir uma tradição.
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A condição humana
capítulo 2

Cultura e diversidade
n Das múltiplas possibilidades de convivência resultam diferentes identidades
pessoais e comunitárias, que podem ser vistas pelas demais com algum
estranhamento.
n Esse estranhamento só impede o bom convívio caso se torne fonte de
preconceitos ou de exclusão do diferente, negando o valor da cultura
do outro, considerada desdenhosamente exótica ou inferior.
n Etnocentrismo, preconceito étnico-racial e xenofobia são algumas das
violências que se praticam contra o outro em razão da falsa crença na
superioridade de uma cultura ou do medo de incluir o que é considerado
estranho.
n Em resposta à exclusão, há movimentos emancipatórios que visam à
inclusão de pessoas diferentes das demais.
n A discussão sobre gênero e identidade de gênero estendeu a necessidade
de compreensão da diversidade também para o universo da sexualidade.
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Módulo

capítulo 3

TRABALHO E LAZER
FILOSOFIA Módulo 1
Trabalho e lazer
capítulo 3

Trabalho e técnica
n O ser humano pode ser designado como Homo sapiens (homem que sabe),
mas também é Homo faber (homem que faz).
n Ele modifica a natureza para

sobreviver, satisfazer aspirações

LUCAS LACAZ RUIZ/FOLHAPRESS


e realizar projetos.
n A posição ereta do corpo liberou as

mãos humanas, transformando-as em


instrumento de ação sobre o mundo.
n Após esse momento crucial,

observaram-se três etapas do


desenvolvimento da técnica:
utensílio (martelo, arado etc.),
máquina (armazenamento de Artesão pintando peça em madeira, em
energia) e automação (máquinas Paraty (RJ). Foto de 2015. O ser humano
pode ser designado como Homo faber, na
“pensantes”). medida em que transforma a natureza por
meio de sua ação.
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Trabalho e lazer
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Trabalho e humanização
n O trabalho é condição de humanização, por meio do qual o ser humano
constrói sua subjetividade, relaciona-se com os demais e transforma o
mundo em que vive.

n Na história da humanidade, porém, estabeleceu-se a divisão entre os que


mandam e os que obedecem.

n Para pensadores como Rousseau, essa dicotomia não existia em sociedades


tribais, sendo fruto da invenção da propriedade privada, que trouxe uma
desigual apropriação dos frutos do trabalho.

n Em algumas sociedades, como na Grécia antiga, a divisão do trabalho


seguia o critério da educação: o trabalho braçal era exclusivo dos escravos
e considerado inferior ao trabalho intelectual.
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Trabalho e lazer
capítulo 3

Teorias da modernidade
n Na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, surge uma nova
concepção de trabalho, que decorre da ascensão da burguesia, originada
dos servos libertos.

n Nesse período, desenvolveram-se as atividades mercantis e manufatureiras,


de modo que a riqueza passou a significar a posse do dinheiro.

n Enquanto na Idade Média predominava o saber contemplativo, na


modernidade desenvolve-se o ideal prometeico da dominação da natureza
pela técnica.

n O liberalismo econômico e político criou a figura jurídica do contrato livre


de trabalho, contrapondo-se às relações servis medievais.
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Trabalho e lazer
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O trabalho como mercadoria


n O desenvolvimento da sociedade capitalista e as consequências da
Revolução Industrial acirraram a oposição entre a classe burguesa e
os trabalhadores. Estes eram sujeitos a jornadas de trabalho exaustivas.

n Karl Marx tornou-se o principal crítico da exploração dos trabalhadores,


questionando a visão otimista do trabalho diante de tais condições
precárias.

n Os principais conceitos utilizados por Marx em sua crítica à sociedade


burguesa foram:
• alienação (perda do produto e de si mesmo);
• fetichismo (valorização da mercadoria em detrimento do trabalhador);
• reificação (transformação do ser humano em “coisa”);
• ideologia (ideias da classe dominante que ocultam a dominação por
ela exercida).
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Trabalho e lazer
capítulo 3

A era do olhar: a disciplina


n Michel Foucault investigou as mudanças decorrentes do nascimento das
fábricas.
n Ele também interpretou a exploração do trabalhador como um lento
processo de imposição da disciplina e da “docilização” do corpo como
mecanismos de coerção.

UNDERWOOD ARCHIVES/GETTY IMAGES


n Nesse contexto, sobressai o olhar
vigilante. A fábrica organiza e impõe
ao trabalhador um tempo e um espaço
específicos, o que se repete em outras
instituições fechadas voltadas para o
controle social, como as prisões, os
hospitais psiquiátricos, as escolas etc.
n Trata-se da sociedade disciplinar, na
qual o indivíduo é controlado pelo Prisão de Stateville, nos Estados Unidos,
arquitetada no modelo Panopticon, que
exterior e também interioriza o olhar mantém o olhar vigilante sobre todos os
que o vigia. pontos da construção. Foto de 1928.
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Trabalho e lazer
capítulo 3

As transformações no trabalho
n A sociedade do século XX observou mudanças profundas nas relações de
trabalho, como o taylorismo e o fordismo.
• Taylorismo: modelo de administração desenvolvido por Frederick Taylor,
que visa ao aumento da eficiência operacional (trabalho cronometrado).
• Fordismo: modelo de produção em massa desenvolvido por Henry Ford
(linha de montagem).
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Trabalho e lazer
capítulo 3

Crítica à sociedade administrada


n As transformações no mundo do trabalho com o apoio da tecnologia foram
objeto de reflexão dos filósofos da Escola de Frankfurt. Para eles, a ciência e
a técnica, de início apresentadas como libertadoras, tornaram-se opressoras,
pois houve o predomínio da razão instrumental.

n A razão instrumental não se volta para a busca da verdade, como faz a


razão cognitiva, mas tem por foco agir sobre a natureza e dominá-la.
Ela visa à produtividade e à eficiência, mas não é reflexiva, provocando
a alienação do trabalhador e o esgotamento dos recursos naturais.

n Houve muitas mudanças no mundo do trabalho a partir das décadas de


1970 e 1980, como o enfraquecimento dos sindicatos, a implantação
de sistemas mais flexíveis nas fábricas, a priorização do trabalho em
equipe e a polivalência da mão de obra. Além disso, acentuou-se o
deslocamento dos trabalhadores para o setor de serviços.
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Trabalho e lazer
capítulo 3

Uma civilização do lazer?


n O lazer foi criado pela sociedade industrial e caracteriza-se como um
contraponto explícito ao período de trabalho. É resultado da luta contra
extensas jornadas de trabalho.

n O tempo liberado é aquele que se gasta com transporte, compromissos


familiares, sociais, políticos ou religiosos, enquanto o tempo livre é o
que sobra após a realização de todas as obrigações. No tempo livre se
desenvolve o lazer.

n Podem-se apontar algumas funções do lazer: descanso, equilíbrio psicológico


e participação social mais livre.

n O lazer, porém, encontra alguns obstáculos para se efetivar: opções


limitadas de divertimento, falta de infraestrutura pública que ofereça
espaços de lazer aos cidadãos, precarização dos trabalhos, que implica perda
de benefícios antes conquistados, entre outros.

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