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Lagoa
Azul
H. DE VERE STACPOOLE
SUMÁRIO
LIVRO I
PRIMEIRA PARTE
1 A luz do lampião 3
2 Sob as estrelas 8
3 A sombra e o fogo 17
4 E como um sonho se dissipa 21
5 Vozes através do nevoeiro 27
6 A aurora sobre o vasto mar 32
7 História do porco e do bode 40
8 "Shenandoah" 44
9 Sombras ao luar 53
10 A tragédia dos barcos 59
SEGUNDA PARTE
11 A ilha 65
12 O lago azul 71
13 A morte oculta sob o líquen 79
14 Ecos do país das fadas 83
15 As lindas imagens do azul 88
TERCEIRA PARTE
1 Soboartu 137
2 Metade criança, metade selvagem 140
3 O demônio do recife 148
4 O que a vasa ocultava 152
5 O som de um tambor 157
6 Velas sobre o mar 161
7 A escuna 170
8 O amor 174
9 O sono do paraíso 181
SEGUNDA PARTE
LIVRO III
- Eu abriria a porta.
- Tu falas em soltar os animais; isto me lembra que o meu
avô tinha um velho porco — (Paddy e Emelina conversavam
com toda a seriedade, como entre iguais). — Eu era um pirralho
do tamanho da minha bota e ia à porta do chiqueiro,
8 "shenandoah"
Sombras ao luar
- Quem é?
Livro 1
Segunda parte
11 A ilha
- Meninos! — chamou Paddy, enforquilhado sobre as
barras em plena
aurora.
Dick e Emelina, de pé sobre o convés, levantaram a cabeça
para ele.
- Há uma ilha lá defronte!
- Hurra! — aplaudiu Dick.
12 O lago azul
Ela não teve tempo de pensar muito sobre o caso. Dick corria
para ela com um caranguejo vivo que tinha pegado e gritava-lhe
que o ia fazer picá-la.
- Leva-o — suplicou Emelina, escondendo o rosto entre as
mãos. — Senhor Button! Senhor Button!
- Deixa-a tranqüila, maroto, ou eu te vou às costelas!
ilha, aqui mais próximos, além mais afastados. Subia até eles a
canção do mar, semelhante ao ruído que se ouve numa concha;
mas, coisa estranha, embora a balada da praia fosse contínua, dali
ela parecia intermitente; dir-se-ia que os escolhos uns após outros
se suicidavam, precipitando-se no mar.
Já vistes um campo de trigo agitado pelo vento; assim, do alto
da colina, podia-se ver a passagem do zéfiro sobre a folhagem
que o sol radioso iluminava. A brisa vinha de sudoeste,
embalando as bananeiras e os coqueiros, os artus e as árvores de
fruta -pão. Tão lindo era o espetáculo do mar varrido pelo vento
alegre, da laguna cristalina, dos recifes escumosos, das árvores
ondulantes, que se imaginava haver surpreendido a natureza num
dia de gala, nalgum festival mais alegre que de ordinário.
Dick.
- Que coisas?
Livro 1
Terceira Parte
criança.
Dick enumerou-as.
- Eu te ensinarei a escrever, Paddy. Não tens vontade de
escrever teu
nome?
- Eu? Não — replicou Mestre Button, não aspirando a
outra coisa senão fumar em paz o seu cachimbo. — O meu nome
não me serve para nada.
Mas Dick, com a infatigável tenacidade da infância, não se
desencorajava assim tão facilmente, e o infeliz Paddy, malgrado
seu, teve de ir para a aula.
Em breve pôde ele desenhar sobre a areia caracteres que se
assemelhavam vagamente aos impressos mais acima — mas não
sem relutância.
Dick e Emelina, imóveis de cada lado, retinham a respiração,
temendo um
erro.
- E que mais? — perguntou o escriba, extenuado,
transpirando por todos os poros — que mais? Despacha-te,
porque vou me derreter.
- Oh! Mas tu fazes o "N" ao contrário. Isto! Agora está
bem.
- Hurra! Hurra! — gritava o aluno, sacudindo o velho
chapéu acima do seu
nome.
E o eco das palmeiras repetia "hurra!", enquanto os hi! hi!
longínquos das gaivotas ressoavam sobre a laguna azul, como se
elas tivessem tomado conhecimento do fato e o aplaudissem. o
gosto das lições vem com a
continuação.
contramestre.
- Fizemos o quê?
- Por que não plantamos algumas batatas?
- E onde poderíamos encontrar uma pá para plantá-las?
- Acho que podíamos fabricar uma. Uma vez eu fiz uma,
em casa, com uma tábua velha, papai me ajudou.
- Bem. Então, some-te, e vai fazer uma pá, agora — tornou
Mestre Button, que desejava ficar em paz. — Vocês dois poderão
cavar na areia.
Emelina, sentada perto, confeccionava, com uma liana, uma
guirlanda de flores magníficas. Meses de sol e de ozônio tinham-
na mudado consideravelmente: ela estava morena como uma
cigana, toda constelada de sardas; não muito maior, mas duas
vezes mais gorda. Seus olhos perdiam a expressão longínqua com
que pareciam contemplar o futuro e a imensidade, não como
abstrações, mas como imagens concretas; e ela não era mais
sonâmbula. O choque da tenda, caindo-lhe em cima na primeira
noite a havia curado, bem como suas novas condições de
existência; os banhos de mar e a vida ao ar livre são os melhores
calmantes.
17 o tonel do diabo
- Sim.
- Ah! graças a Deus! E dizer que eu ficava sentado sobre
um velho tonel que supunha vazio, com a língua caída até os
calcanhares, de sede, quando o tonel estava cheio de rum!
Esta história lhe devia ser fatal. Logo que seus ouvintes
deitaram e adormeceram, a imagem da sereia e de Jack
cambaleante levantou-se ante seus olhos, excitando nele uma
irresistível sede de alegria.
doze anos, podia fazer fogo e remar no barco tão bem como
Paddy.
- Como foi que ele pôde ir até lá, se o barco está amarrado
à árvore?
- Não sei. Só o que sei é que ele lá está, agora. Vamos até lá,
de barco, para acordá-lo. Eu vou dar um grito na orelha dele e tu
hás de ver o salto que ele dá.
Desceram do rochedo e voltaram pelo mato. Ao longo do
caminho, Emelina, colhendo flores, começava a tecer guirlandas.
Alguns hibiscos vermelhos, algumas campânulas, um par de
papoulas desmaiadas, com hastes felpudas e um perfume amargo.
- Por que fazes essas coisas? — perguntou Dick, que
considerava aquela
22 Sozinhos!
"Northumberland".
23 Mudança
Livro 2
Primeira Parte
1 Sob o artu
3 O demônio do recife
152
4 O que a vasa ocultava
5 O som de um tambor
No dia seguinte, Dick, à sombra do artu, com uma linha ao
lado, abria uma caixa de anzóis. A princípio, continha a caixa duas
dúzias de anzóis de vários
7 A escuna
certa.
E ela pôs-se a pensar, observando o seu companheiro, que
ligava os dois pedaços da arma com essa espécie de tecido pardo
que envolve o tronco dos cacaueiros.
8 O amor
O lugar aonde eles iam, e que Dick descobrira num dos seus
passeios, enchia Emelina de um vago medo; ela não iria lá
sozinha nem por um império.
Entraram na mata e passaram por diante de um pequeno
poço, com um fundo de areia fina e seca. Como se formara ali a
areia? Impossível adivinhá-lo; a
9 o sono do paraíso
Eles eram tão felizes na sua ignorância, que não sabiam senão
uma coisa, e era que de repente a vida se transformara, que o céu
e o mar estavam mais límpidos e que, por um poder mágico, eles
faziam parte um do outro.
Livro 2
Segunda Parte
Dick, certo dia, trepando sobre o artu, fez sair Dona Koko do
ninho onde ela chocava e olhou para o interior deste, onde se
encontravam vários ovos de um verde pálido. Não lhes tocou,
mas desceu, e o pássaro retomou o seu lugar como se nada
tivesse acontecido. Tal aventura teria aterrorizado um pássaro
afeito aos hábitos humanos, mas ali o povo alado não era
medroso, e tinha tal confiança, que, muitas vezes, uma daquelas
lindas criaturas seguia Emelina pelo mato, olhando-a por entre as
folhas, chegando-se bem para perto dela; uma vez mesmo um
pássaro lhe pousou no ombro.
Os dias passaram. Dick tinha perdido seus modos taciturnos, e
o seu desejo de viajar desaparecera. Não tinha mais nenhum
motivo para querer partir. Em todo o vasto universo não
encontrava nada mais desejável do que o que ele possuía.
Em vez de encontrar um selvagem seminu, seguido Por sua
companheira como por uma galguinha, agora, ao crepúsculo,
teríeis visto um par de amorosos a passear Pelos recifes. Eles
tinham ornamentado a sua casa com uma trepadeira trazida do
mato; ela dava uma florzinha azul e curvava-se em ogiva acima da
entrada.
11 O desaparecimento de emelina
— Dick!
12 O desaparecimento de Emelina (continuação)
13 O recém-chegado
14 Ana
— Dick!
15 A laguna de fogo
16 O ciclone
17 A floresta devastada
19 A expedição
profunda filosofia.
Ela escutou, e o capítulo do tubarão fê-la estremecer.
- Eu queria ter um anzol bem grande para pegá-lo —
continuou Dick, olhando a água como para lobrigar o seu
inimigo.
- Não penses mais nele — retrucou Emelina, apertando
mais estreitamente a criança contra o seu seio. — Continua a
remar.
Ele retomou os remos, mas sua expressão dizia que estava a
rememorar o incidente. Depois de passarem o último
pròmontório e terem avistado a praia e a abertura do canal,
Emelina teve um pequeno sobressalto de espanto.
O local tinha mudado, de maneira sutil; as coisas ali eram as
mesmas, e, no entanto, tudo parecia diferente; a laguna parecia
mais estreita, o recife mais próximo, os coqueiros tinham
diminuído de metade. Ela comparava a realidade com a
recordação. A mancha escura sobre o recife desaparecera, varrida
pelo ciclone.
20 O guardião da laguna
21 O braço do mar
22 Juntos
Livro III
Lestrange, o louco
2 O segredo do oceano
Perder a um filho amado é, sem dúvida, o pior sofrimento que
possa acontecer a um pai. Eu não me refiro à morte.
Um menino passeia na rua, a criada se distrai um instante, ele
desaparece. A princípio não se tem noção nítida da coisa,
experimenta-se um choque no coração; as palpitações diminuem
ante o pensamento de que uma criança perdida numa cidade
civilizada não pode deixar de ser encontrada pelos vizinhos ou
pela polícia. Entretanto a polícia ou os vizinhos ignoram o
incidente, as horas passam. Cada minuto pode trazer o
vagabundo, os minutos fogem, o dia escurece, a tarde muda-se
em noite, a noite em aurora, e os ruídos de um dia ordinário
recomeçam. Não se pode permanecer em casa. Fica-se inquieto,
sai-se, para voltar imediatamente a pedir notícias, anda— se com
o ouvido à escuta, mas o que se ouve incomoda os sons habituais,
o rolar dos carros, os passos dos transeuntes vêm aumentar a
nossa tristeza. A música transforma a nossa miséria em loucura, e
a alegria dos outros é tão monstruosa como uma gargalhada
ouvida no inferno.
3 O capitão Fountain
Há oito anos que ele não fazia senão isso, esperar; que lhe
importavam alguns instantes mais? Mas em nenhum momento,
durante aqueles oito anos, tinha sofrido tanto; seu coração sabia
que ali, naquela casa qualquer, de lábios que eram sem dúvida os
do marido daquela mulher comum, ouviria o que ele temia ou
esperava. Ostentava-se, numa chaminé, um barco aprisionado
numa garrafa e havia conchas oriundas de praias longínquas,
todas as coisas que ornamentam em geral a casa de um velho
marinheiro. Lestrange podia ouvir o que se passava no quarto ao
lado, provavelmente o do enfermo.
Aquela gente, sem dúvida, estava com as melhores disposições
a respeito do visitante. O anúncio deste, sua fisionomia e
maneiras, deviam dar-lhes a entender que não era momento de se
fazerem esperar. A mulher, no entanto, pôs-se a arranjar o quarto
e compor o leito, como se Lestrange estivesse em estado de notar
tais detalhes.
Por fim a porta se abriu e a mulher lhe disse:
- Venha por aqui, senhor.
dedos.
- Há sete anos. Nós tínhamos ido fazer provisão d’água
num lugar ao sul da Linha; nossos marinheiros a chamam "a ilha
da palmeira" por causa de uma árvore que há à entrada da laguna.
Um dos meus homens trouxe a caixa para
- Sim.
- Parece esquisito — tornou o capitão — que eu os tenha
achado, que seu anúncio tenha aparecido e que a sua resposta
estivesse entre as minhas velhas bugigangas; mas assim é o
mundo.