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1.1 Introdução
1.2 Estruturas do sistema reprodutor masculino
1.2.1 Escroto
1.2.2 Testículos
1.2.3 Ductos do sistema reprodutor masculino
1.2.4 Glândulas sexuais acessórias
1.2.5 Pênis
1.3 Controle Hormonal da Função Reprodutora Masculina
1.4 Puberdade e envelhecimento
1.5 Conclusão
Referências
Créditos
Design Instrucional: Gezilda Balbino Pereira, Juliana Moraes Marques Giordano, Maria Angélica
S. Barrios (estagiária), Melissa Gabarrone, Michelle Carvalho e Vani Kenski.
Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço,
João Costa, Lidia Yoshino, Mauricio Rheinlander Klein e Thiago A. M. S.
1.1 Introdução
A reprodução humana consiste em eventos biológicos essenciais para a preservação da
espécie, envolvendo mecanismos fisiológicos complexos em estruturas formadoras dos sistemas
reprodutores masculino e feminino. A compreensão desses mecanismos é extremamente
importante e envolve o conhecimento anatômico e funcional desses sistemas, associado às suas
alterações durante o desenvolvimento, maturação e envelhecimento.
Existem semelhanças morfofuncionais entre algumas estruturas do sistema reprodutor
feminino e masculino, sobretudo pelo fato de ambos derivarem do mesmo tecido embrioló-
gico. Um exemplo disso são as gônadas, responsáveis pela gametogênese em ambos os sexos.
Entretanto, as gônadas femininas, denominadas ovários, são responsáveis pela produção de
oócitos, ao passo que as masculinas - os testículos - produzem os espermatozoides. Os esper-
matozoides e os oócitos são os gametas masculinos e femininos, respectivamente. Eles diferem
entre si em diversos aspectos, como na duração de sua produção. Ambos possuem os compo-
nentes genéticos responsáveis pela formação de um novo indivíduo.
Neste texto, a nossa preocupação será esclarecer aspectos anatomofuncionais dos compo-
nentes do sistema reprodutor masculino envolvidos na gametogênese e no comportamento
sexual, essenciais para a reprodução humana.
Figura 1.1: Estruturas do sistema reprodutor masculino. / Fonte: Modificada de Curi, 2009.
1.2.1 Escroto
O escroto é uma bolsa que consiste em pele frouxa e fáscia superficial, que pende da raiz
(parte fixa) do pênis, formando uma estrutura de suporte para os testículos. Externamente,
o escroto parece uma bolsa simples de pele, separada em partes laterais pela crista mediana,
chamada rafe. Internamente, o septo de escroto divide-se em duas bolsas, cada uma contendo
um só testículo. O septo é formado por uma fáscia superficial e por tecido muscular, chamado
músculo dartos, que consiste em fascículos e fibras musculares lisas. O músculo dartos também
é encontrado no tecido subcutâneo do escroto e é contínuo ao tecido da parede abdominal
(Figura 1.2). Quando se contrai, o músculo dartos provoca o enrugamento da pele do escroto.
1.2.2 Testículos
A periferia dos túbulos é revestida por células germinativas indiferenciadas, que dão início
à produção dos espermatozoides em direção ao lúmen do túbulo, onde os espermatozoides
serão liberados (Figura 1.4). Parte do processo de maturação ainda ocorrerá ao longo do
trajeto dos espermatozoides pelos ductos do sistema reprodutor masculino, bem como no
interior do sistema reprodutor feminino, para que ele esteja apto para a fecundação. Além das
células germinativas, os túbulos seminíferos possuem as chamadas células de Sertoli, respon-
sáveis pela nutrição e amadurecimento das células germinativas. Os testículos são divididos
em compartimentos por meio do prolongamento de uma de suas camadas de revestimento.
Esses compartimentos são denominados lóbulos, que têm de um a três túbulos seminíferos.
Cada testículo contém entre 200 e 300 lóbulos.
Figura 1.4: Ilustração da histologia do túbulo seminífero dos testículos. / Fonte: Modificada de Curi, 2009.
A maior parte da massa testicular - em torno de 80% - é composta pelos túbulos seminíferos.
O tecido intersticial que envolve os túbulos contém vasos sanguíneos e células produtoras de
testosterona, denominadas células de Leydig.
Figura 1.6: Ilustração da anatomia do sistema reprodutor masculino e estruturas adjacentes. Observe o trajeto do ducto
deferente. / Fonte: Modificada de Tortora, 2012.
De maneira geral, as glândulas sexuais acessórias são responsáveis por secretar a maior parte
da porção líquida do sêmen, armazenado e transportado pelos ductos do sistema genital mascu-
lino. Essas secreções estão envolvidas em diversas funções, como o transporte e a nutrição dos
espermatozoides, como também na lubrificação do pênis e da uretra. Entre as glândulas sexuais
acessórias, estão as vesículas seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais (Figura 1.6).
A próstata é uma estrutura única, que secreta um líquido leitoso na região prostática da
uretra através de diversos ductos. Está localizada abaixo da bexiga urinária, e tem um formato
de anel envolvendo completamente a uretra (Figura 1.7). Sua secreção, que compõe apro-
ximadamente 25% do sêmen, contribui para a coagulação do sêmen após a ejaculação e sua
subsequente decomposição. Além disso, contém substâncias que são usadas para a produção de
ATP e contribuem para a motilidade e a viabilidade dos espermatozoides.
O tamanho da próstata modifica-se ao longo dos períodos de desenvolvimento e vida
adulta do homem. O aumento é mais lento até a puberdade, seguido de um aumento mais
acentuado até os 30 anos, permanecendo estável até os 45, quando um novo aumento pode
ocorrer. Eventualmente, esse aumento pode ser excessivo, caracterizando uma neoplasia, que
corresponde ao segundo tipo de câncer mais comum nos homens. Isso determina uma grande
importância clínica para a próstata e a necessidade de exames médicos e laboratoriais regulares
para homens acima dos 50 anos – ou acima dos 45, para aqueles com histórico familiar.
As vesículas seminais são estruturas pares, de aproximadamente 5 cm, localizadas atrás da
base da bexiga urinária e à frente do reto (Figura 1.6). Sua secreção é importante para ade-
quar o pH da uretra masculina e do trato genital feminino, tornando-o compatível à vida dos
espermatozoides. A natureza alcalina do líquido ajuda a neutralizar esse ambiente ácido. Além
disso, tem em sua composição frutose (açúcar monossacarídeo), importante para a formação de
ATP, que fornece grande parte da energia utilizada pelos espermatozoides para sua manutenção
e locomoção até uma possível fertilização. As prostaglandinas, também presentes no líquido
seminal, estimulam a contração muscular do trato genital feminino, facilitando a locomoção
dos espermatozoides dentro dele e, consequentemente, viabilizando seu encontro com o óvulo.
Aproximadamente 60% do sêmen é constituído pelo líquido secretado pelas vesículas seminais.
Finalmente, as glândulas bulbouretrais, também chamadas glândulas de Cowper, estão
localizadas bilateralmente abaixo da próstata. Possuem ductos que se abrem na parte esponjosa
da uretra (Figura 1.6 e 1.7), onde secretam substância alcalina, contribuindo também para
diminuir a acidez na uretra causada pela passagem da urina. Sua secreção, que ocorre durante
a excitação sexual, contém um muco com importante função lubrificante para a extremidade
do pênis, facilitando a relação sexual pela diminuição do atrito e diminuindo a quantidade de
espermatozoides danificados durante a ejaculação.
Resumindo, o fluido ejaculado - ou sêmen - contém espermatozoides e secreções das ve-
sículas seminais, glândulas bulbouretrais e próstata. O ejaculado do homem tem volume de
aproximadamente 3 ml e contém ao redor de 100 milhões de espermatozoides por ml. As
secreções dessas glândulas acessórias compreendem o volume total de sêmen e auxiliam no
transporte e nutrição dos espermatozoides. De fato, os espermatozoides contribuem com pe-
quena porcentagem do volume total. O fluido seminal contém diferentes substâncias químicas,
tais como: altas concentrações de frutose, que serve como substrato energético para os esperma-
tozoides; tampões que protegem os espermatozoides contra o ambiente ácido da vagina; muco
lubrificante, de origem nas glândulas bulbouretrais; e altas concentrações de prostaglandinas, as
quais são consideradas capazes de aumentar a motilidade do útero, facilitando assim o transporte
dos espermatozoides no trato genital feminino. Um resumo dos componentes do sêmen e suas
respectivas funções pode ser visto na Tabela 1.1.
Tabela 1.1: Resumo dos componentes do sêmen e suas principais funções. / Fonte: modificado de Silverthorn, D.U. 2010.
1.2.5 Pênis
O pênis é uma estrutura de formato cilíndrico, composta por massas de tecido erétil
bastante vascularizadas, denominadas corpos cavernosos e corpos esponjosos. Além disso, a uretra
encontra-se na região medial peniana, envolvida pelo corpo esponjoso, permitindo a passagem da
urina e do sêmen pelo óstio externo da uretra. Essa região está localizada na extremidade distal
do pênis, que é levemente dilatada, denominada glande, e recoberta pelo prepúcio (Figura 1.8).
Figura 1.8: Ilustração da anatomia de estruturas do sistema reprodutor masculino. Observe à direita os detalhes do corte transversal
da estrutura peniana, onde podemos observar os corpos cavernosos e esponjosos, juntamente com a posição da uretra. / Fonte:
Modificada de Silverthorn, 2010.
diversos homens realizam a retirada do prepúcio por motivos médicos ou religiosos. Essa prática
cirúrgica é denominada circuncisão. Atualmente, a Organização das Nações Unidas discute a
ideia de menor risco de contaminação do vírus da AIDS por homens circuncisados.
Além de permitir a passagem do sêmen e da urina pela uretra, o pênis tem importante
função na copulação sexual. Para isso, estímulos sexuais visuais, táteis, auditivos, olfatórios
ou psíquicos causam a dilatação das artérias penianas que irrigam os corpos cavernosos
e esponjosos, e, consequentemente, o aumento do aporte sanguíneo para essa região.
A expansão desses espaços comprime as veias que drenam o pênis, causando a diminuição da
saída do sangue. Essas mudanças causam o aumento e o endurecimento da estrutura peniana
característicos da ereção, facilitando sua penetração no canal vaginal durante o ato sexual.
A ereção peniana é um mecanismo reflexo controlado pelo sistema nervoso parassimpático.
Para isso, impulsos nervosos, desencadeados pelos estímulos sensoriais citados acima, trafegam
pelas aferências medulares até o centro integrador localizado entre os níveis medulares
S2-S4. Posteriormente, fibras eferentes parassimpáticas deixam a medula espinal para inervar
a musculatura vascular peniana, causando sua vasodilatação. As vias parassimpáticas também
podem ser estimuladas por informações provenientes das regiões encefálicas, responsáveis
pelo processamento de informações emocionais. O pênis retorna ao seu estado flácido
quando as artérias se contraem e a pressão sobre as veias é aliviada.
A ejaculação também é uma ação reflexa, que promove a emissão do sêmen para dentro da
uretra e sua posterior ejeção para o exterior, lembrando que a passagem dos espermatozoides
será facilitada pela prévia lubrificação da uretra por meio das secreções bulbouretrais, que ocor-
rerá durante a ereção. O mecanismo de ejaculação é mediado pelo sistema nervoso simpático,
que tem ação antagônica ao parassimpático, causando o término da ereção peniana. Como parte
do reflexo simpático de ejaculação, deflagrado pela estimulação tátil das glândulas penianas, a
musculatura lisa do epidídimo, vaso deferente e glândulas secretoras se contraem, causando
a propulsão dos espermatozoides e das secreções glandulares. Além disso, o músculo liso do
esfíncter, na base da bexiga urinária, se fecha. Como resultado, a urina não é expelida durante
a ejaculação e o sêmen não entra na bexiga urinária. O sistema nervoso autônomo – com suas
divisões simpática e parassimpática – será estudado na disciplina de Integração e Controle.
Figura 1.10. Esquema geral de uma alça de retroalimentação negativa. / Fonte: Modificado de Silverthorn, 2010.
Os andrógenos são predominantes nos homens ao passo que os estrógenos são predomi-
nantes nas mulheres. O principal e mais abundante dos androgênios é a testosterona, envolvida
no desenvolvimento e manutenção das características sexuais masculinas, além de estar intima-
mente relacionada à síntese de espermatozoides. Sua secreção é realizada, principalmente, pelos
testículos e uma pequena parte é secretada pelo córtex da adrenal, perfazendo um total de 5 a
9 mg de testosterona por dia, circulando acoplada a proteínas transportadoras. Alguns tecidos
periféricos alvos realizam a conversão da testosterona em diidroxitestosterona (DHT), que tem
efeitos fisiológicos mais potentes.
Como descrito anteriormente, os andrógenos têm diversos efeitos no organismo humano.
Para isso, receptores androgênicos ativados controlam a expressão gênica de uma grande
variedade de tipos celulares responsáveis pelos efeitos fisiológicos desses hormônios, entre os
quais o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias. As características
sexuais primárias são estabelecidas durante o desenvolvimento embriológico e são resultado da
diferenciação celular mediada pelos andrógenos, responsáveis pela formação dos órgãos sexuais
externos e da genitália masculina interna. Já as características sexuais masculinas secundárias
são desenvolvidas a partir da puberdade, quando ocorre um grande aumento na secreção dos
hormônios androgênicos, e caracterizam-se pela determinação do formato corporal descrito
como um triângulo invertido, com ombros largos e cintura e quadril pequenos – diferenciando
do formato das mulheres, que é semelhante a uma pera, com quadril largo e ombros menores.
Além disso, o crescimento de barba e de pelos pubianos, o aumento da espessura e quantidade
dos pelos da superfície corporal, o desenvolvimento da musculatura esquelética, o engrossa-
mento das cordas vocais e o surgimento do comportamento (e desejo) sexual também fazem
parte das características sexuais secundárias masculinas. Adicionado a isso, durante a puberdade
ocorre ainda o crescimento peniano, do escroto, das vesículas seminais e da próstata, juntamente
com a estimulação de suas secreções, o aumento das secreções sebáceas, responsáveis pelo
surgimento da acne, o crescimento púbere ósseo e muscular, e alterações no metabolismo lipí-
dico, responsáveis pelo acúmulo de gordura na região superior do corpo.Tanto as características
sexuais primárias como as secundárias podem ser causadas pela testosterona ou pela DHT,
havendo prevalência pela molécula efetora de acordo com os tipos e quantidades de receptores
presentes no tecido alvo, como pode ser observado da Figura 1.11, que ilustra os principais
efeitos dos hormônios androgênicos.
Figura 1.11: Esquema dos efeitos dos hormônios esteroides sobre diferentes tipos celulares. Efeitos da testosterona (T), efeitos da
diidrotestosterona (DHT) e do estradiol (E2). / Fonte: Modificado de Berne, 2009.
1.5 Conclusão
Nesta aula, discutimos as estruturas anatômicas constituintes do sistema reprodutor mascu-
lino e suas respectivas funções. Além disso, descrevemos algumas alterações anatomofuncionais
envolvidas principalmente na maturação do sistema reprodutor durante a puberdade, bem como
alguns aspectos do envelhecimento. Pudemos observar a grande participação do sistema endó-
crino e também do sistema nervoso na regulação e coordenação das funções fisiológicas do
sistema reprodutor. Dessa forma, podemos concluir que o adequado funcionamento deste sistema
está relacionado com sua integração aos demais sistemas fisiológicos do organismo humano.
Sua principal função é garantir a fertilidade masculina, fundamental para a reprodução humana.
Referências
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Berne R. et al. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
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Curi, R; Procópio, J. Fisiologia Básica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
Guyton, A.C; Hall J.E.Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
Lent, R. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2010.
Silverthorn, D.U. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
Tortora, G.J; Grabowski, S.R. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 10. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Glossário
Morfofuncionais: Características morfológicas e funcionais.
2.1 Introdução
2.2 Estruturas do sistema reprodutor feminino
2.2.1 Ovários
2.2.2 Tubas uterinas
2.2.3 Útero
2.2.4 Vagina
2.2.5 Órgãos externos do sistema reprodutor feminino
2.2.6 Glândulas mamárias
2.3 Hormônios sexuais femininos
2.4 Menarca e Puberdade
2.5 Menopausa
2.1 Introdução
O conhecimento sobre a organização anatômica e funcional do sistema reprodutor feminino,
com suas modificações ao longo do desenvolvimento e envelhecimento, é essencial para a com-
preensão da reprodução humana. O sistema reprodutor feminino apresenta diversas características
funcionais diferentes do sistema reprodutor masculino, como por exemplo a presença de ciclos
ovarianos, onde ocorrem as ovulações. Esses ciclos estão presentes durante a fase reprodutiva da
mulher, que se inicia na puberdade e termina com a menopausa.
As alterações hormonais que ocorrem nesse período estão relacionadas com o desenvolvi-
mento do sistema reprodutor feminino, bem como com o seu envelhecimento. Nesse sentido,
estudaremos as estruturas desse sistema e suas alterações anatomofuncionais ao longo da vida da
mulher causadas pelos hormônios sexuais femininos.
Vale ressaltar que essas características são distintas em cada fase de desenvolvimento
da vida, passando pela infância, juventude, fase adulta reprodutiva e climatério.
2.2.1 Ovários
A mulher adulta possui dois ovários, que pesam de 15 a 20 gramas, têm cerca de 2 a 4 cm de
comprimento cada e formato semelhante ao de uma amêndoa. Os ovários têm a mesma origem
embriológica que os testículos masculinos e estão envolvidos na produção dos gametas femininos - os
oócitos, e na produção de hormônios. Dessa forma, eles podem ser também considerados glândulas
endócrinas. Estão localizados um de cada lado do útero e são mantidos nessa posição por diversos
ligamentos (Figura 2.1), entre os quais podemos citar o ligamento largo do útero, que faz parte
do peritônio parietal (membrana serosa que reveste a cavidade abdominal), além dos ligamentos
útero-ováricos e suspensores, que ancoram os ovários ao útero e à parede pélvica, respectivamente.
Os vasos sanguíneos, linfáticos e a inervação ovariana têm acesso aos ovários através do hilo.
Figura 2.1: Estruturas do sistema reprodutor feminino. / Fonte: modificado de Tortora & Grabowski, 2002.
Figura 2.2: Ilustração da histologia do ovário, contendo folículos ovarianos em diferentes estágios de desenvolvimento. / Fonte: modificado
de Tortora & Grabowski, 2002.
Os folículos presentes no córtex são os oócitos envolvidos por diferentes tipos celulares,
que se modificam ao longo do desenvolvimento folicular. Essas células estão envolvidas em
importantes eventos que fazem parte da reprodução humana, como a nutrição e proteção
dos oócitos, além do seu amadurecimento e liberação no momento adequado. Elas também
secretam hormônios responsáveis pela preparação da vagina e das trompas de Falópio para a
fertilização e do útero para a gravidez.
Os ovários podem ser sentidos durante um exame clínico por meio da apalpação pélvica e
também podem ser analisados por exames de imagem como o ultrassom.
2.2.3 Útero
O útero é um órgão único, localizado entre a bexiga urinária e o reto.Tem o formato de uma
pera invertida e seu tamanho varia de acordo com a fase reprodutiva em que a mulher se encontra,
sendo menor durante o envelhecimento. Anatomicamente, o útero é dividido em três regiões:
• o fundo, que tem a forma de domo e está localizado acima das trompas;
• o corpo, que é a porção central cônica, formando a cavidade uterina em seu interior;
• o colo, que corresponde à região inferior estreita.
O interior do colo do útero, denominado canal do colo, abre-se superiormente na cavi-
dade uterina e inferiormente na vagina. Suas células secretoras de revestimento produzem
o muco cervical, composto por substâncias que auxiliam na suplementação energética dos
espermatozoides, além de protegê-los do ambiente hostil da vagina. Sua consistência se mo-
difica ao longo do ciclo reprodutor feminino, sendo mais fluido durante a ovulação, o que
facilita a passagem e a movimentação dos espermatozoides pelo colo do útero. Nos demais
períodos, o muco encontra-se mais viscoso, formando um tampão que impede fisicamente a
entrada de espermatozoides. Esse aumento na viscosidade e formação de tampão também se
verifica durante a gestação.
A posição uterina é mantida por diversos ligamentos, que colocam o fundo do útero proje-
tado para frente e para cima e o colo projetado para trás e para baixo, posição essa denominada
anteflexão (Figura 2.4). Esses ligamentos são formados, em sua maioria, por extensões do pe-
ritônio parietal, como por exemplo os ligamentos largos que fixam o útero à cavidade pélvica.
Figura 2.4: Ilustração e fotografia das estruturas do sistema reprodutor feminino e órgãos adjacentes. /
Fonte: modificado de Tortora & Grabowski, 2002.
A camada externa uterina, denominada perimétrio, é composta por parte do peritônio visce-
ral, que também participa da formação dos ligamentos largos e recobre a bexiga. O miométrio,
camada média do útero, é formado por fibras musculares lisas sobrepostas em diversas direções,
responsáveis pelas contrações uterinas durante o trabalho de parto. Mais internamente, temos o
endométrio, formado por células secretoras e ciliadas revestindo o lúmen, e também por tecido
conjuntivo e glandular (Figura 2.5 e 2.6). Durante a menstruação, parte do endométrio sofre
grandes alterações que causam sua descamação, ou seja, a própria menstruação. Essa região é
denominada camada funcional e reveste internamente o útero. Já a camada que está em contato
com o miométrio, denominada camada basal, não sofre grandes alterações durante a menstruação.
O endométrio apresenta uma rica vascularização, que se renova a cada ciclo menstrual.
Figura 2.5: Vista anterior do útero, com o lado esquerdo parcialmente cortado. / Fonte: modificado de Tortora & Grabowski, 2002.
Figura 2.6: Fotografia histológica das camadas uterinas. / Fonte: modificado de Curi & Procópio, 2009.
2.2.4 Vagina
a bexiga, ao reto e ao canal anal. Em sua abertura inferior - o óstio da vagina, comumente há
uma fina prega de mucosa pouco vascularizada, denominada hímen, que pode fechar parcial
ou totalmente a abertura vaginal (Figura 2.7). Ao contrário do que diz a crença popular, seu
rompimento após a ocorrência da primeira relação sexual não é doloroso e não causa grande
sangramento, uma vez que apresenta pouca vascularização.
Figura 2.7: Ilustração dos órgãos externos do sistema reprodutor feminino. / Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
Figura 2.8: Ilustração do períneo feminino. / Fonte: modificado de Tortora & Grabowski, 2002.
Figura 2.9: Ilustração das glândulas mamárias. / Fonte: modificado de Tortora & Grabowski, 2002.
A principal função das glândulas mamárias é a síntese e ejeção de leite coordenadas por
reflexo neuroendócrino, desencadeadas principalmente por estímulos mecânicos presentes na
sucção realizada pelo recém-nascido. A estrutura interna da mama garante essa importante
função da reprodução humana. Cada mama é constituída por 15 a 20 lobos, que se dividem em
Figura 2.10: Ilustração da glândula mamária com detalhamento da organização dos lóbulos, ductos e das células epiteliais. /
Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
O desenvolvimento das glândulas mamárias, para que elas adquiram as características essen-
ciais à síntese e ejeção do leite, ocorre em duas fases.
A primeira delas acontece sob influência dos hormônios da puberdade, que estimulam a for-
mação de novos ductos, aumentando a canalização da mama. Além disso, ocorre um aumento
em seu volume como resultado do crescimento de tecido conjuntivo e adiposo. Posteriormente,
durante as primeiras menstruações, ocorre importante desenvolvimento dos lóbulos e alvéolos.
A segunda fase se desenvolve durante a gestação, por influência dos hormônios gestacionais.
Nesse período há um aumento inicial de volume, seguido da diferenciação dos lóbulos em estruturas
completamente capazes de sintetizar o leite, além de um novo aumento na quantidade de ductos e
alvéolos mamários. Assim, podemos perceber que a formação das mamas, isto é, a mamogênese, tem
um complexo mecanismo de desenvolvimento e maturação, sob influência dos hormônios sexuais e
gestacionais que flutuam ao longo da vida.Vamos agora conhecer esses hormônios.
Na mulher, ocorre uma flutuação cíclica e sincronizada na secreção desses hormônios como
resultado do ciclo ovariano – período entre duas ovulações sucessivas, que dura em torno de 28
dias. Durante esse período, observamos diversas modificações tanto no útero quanto nos ovários
em função da variação na concentração de estrógenos e progesterona.
do oócito e dos espermatozoides para uma possível fertilização. O maior depósito de tecido
gorduroso nas mamas, nádegas e coxas, que determina o formato do corpo feminino, também
é resultado da ação estrogênica.
A progesterona está envolvida, principalmente, na estimulação de secreções em tecidos
alvos, como o endométrio e as mamas, além de reduzir a excitabilidade da musculatura
uterina e das trompas. Esses são alguns dos efeitos que tornam a progesterona fundamental
para o estabelecimento e a manutenção da gravidez, como veremos em breve.
Outros tecidos são alvos dos hormônios sexuais femininos, como o sistema nervoso
central, onde a presença de estrógenos pode modular funções relacionadas ao humor, à
cognição e à percepção de dor – que sofrem alterações devido a flutuações na secreção
desse hormônio ao longo do ciclo ovariano, como também ao longo da vida reprodutiva
feminina. Estudos relacionam eventos como a tensão pré-menstrual e, até mesmo, quadros
depressivos à diminuição na secreção de estrógeno nas mulheres. Alterações na secreção de
progesterona também demonstram seus efeitos no sistema nervoso central, uma vez que a
sua diminuição causa ansiedade e excitabilidade.
Figura 2.13: Estágios do desenvolvimento das mamas e dos pelos pubianos durante a puberdade. / Fonte: modificado de
Curi & Procópio, 2009.
A menarca marca o início dos ciclos reprodutivos femininos, sendo um importante marcador
da maturação sexual. Entretanto, a idade de surgimento pode variar em função da influência
ambiental e nutricional, além dos fatores genéticos. Normalmente, ocorre entre os 12 e 13 anos.
2.5 Menopausa
A vida reprodutora feminina entra em declínio juntamente com a função ovariana, quando
a ovulação e as secreções de estrógeno e progesterona se tornam irregulares. Isso causa inter-
valos variados entre as menstruações, bem como a diminuição do fluxo. O último episódio de
menstruação, denominado menopausa, ocorre entre os 40 e os 60 anos.
Durante o período em questão, a diminuição dos hormônios sexuais causa importantes
alterações no organismo feminino. Podemos destacar a atrofia do endométrio, do miométrio e
do epitélio vaginal, a diminuição dos pelos pubianos e axilares, o afinamento e o enrugamento
da pele. Entretanto, algumas modificações tornam-se mais marcantes, uma vez que podem
causar disfunções importantes, como por exemplo a diminuição de cálcio ósseo, responsável
pela frequente presença de osteoporose em mulheres nessa idade. Além disso, a diminuição
de estrógeno pode facilitar a presença de alterações emocionais como irritabilidade, insônia,
depressão e ansiedade, e, até mesmo, alterações no sistema nervoso central relacionadas ao
aumento da temperatura corporal, causando as características ondas de calor da menopausa.
Outra queixa comum é a menor lubrificação vaginal, devido à diminuição na secreção de seu
muco. Dessa forma, após a menopausa a mulher se torna mais suscetível a patologias como
a osteoporose e a distúrbios do humor. Estudos também indicam um maior risco de infarto
do miocárdio e doença de Alzheimer. Nesse sentido, a reposição hormonal tem sido utilizada
como uma alternativa da clínica médica.
2.6 Conclusão
Nesta aula, discutimos as estruturas anatômicas constituintes do sistema reprodutor feminino
e suas respectivas funções. Além disso, descrevemos algumas alterações anatomofuncionais
presentes na puberdade, bem como alguns aspectos do envelhecimento, relacionando-os à
fase reprodutora da mulher. Nesse cenário, pudemos compreender a grande participação dos
hormônios sexuais femininos, controlados pela interação neuroendócrina, no funcionamento
do sistema reprodutor feminino.
Referências Bibliográficas
Aires, M.M. (org.). Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Alberts, B., Bray, D. & Lewis, J. Biologia Molecular da Célula. 5. ed. Porto Alegre:Artmed, 2009.
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Silverthorn, D.U. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 5. ed. Porto Alegre:
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Tortora, G.J.; Grabowski, S.R. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 10. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
Tortora, G.J.; Funke, B.R.; Case, H.L. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Glossário
Motilidade: Movimentação espontânea.
4.1 Introdução
4.2 O ciclo reprodutor feminino
4.3 O controle hormonal do ciclo reprodutor feminino
4.4 Métodos contraceptivos
4.4.1 Métodos de barreira
4.4.2 Abstinência periódica
4.4.3 Métodos hormonais
4.4.4 Métodos cirúrgicos
4.4.5 Coito interrompido
4.4.6 Dispositivos intrauterinos
4.5 Conclusão
Referências
4.1 Introdução
A produção de gametas femininos não ocorre de maneira contínua ao longo da vida repro-
dutiva da mulher, ao contrário do que ocorre com os homens. Flutuações hormonais cíclicas
desencadeiam alterações ovarianas, responsáveis pelo desenvolvimento, amadurecimento e
liberação de oócitos em ciclos com duração de aproximadamente 28 dias. Durante esse período,
modificações na parede interna do útero, também estimuladas pelas flutuações hormonais, o
preparam para uma possível gestação. As modificações uterinas provocam a menstruação quando
não ocorre a gravidez e, por isso, podem ser chamadas de ciclo menstrual ou uterino, enquanto
as modificações ovarianas identificam o ciclo ovariano. Tanto o ciclo menstrual quanto o ciclo
ovariano garantem à mulher as características fisiológicas necessárias para iniciar uma gravidez;
por isso, esse conjunto de alterações é denominado ciclo reprodutor feminino.
A regulação do ciclo reprodutivo ocorre por meio de alças de retroalimentação entre
os hormônios secretados pelos ovários, pela hipófise e pelo hipotálamo. Suas características
funcionais, bem como o controle de suas secreções, serão detalhadamente discutidos ao longo
do texto. Entretanto, vale ressaltar que modificações em suas concentrações fisiológicas podem
impedir a adequada maturação dos oócitos, inviabilizando o desenvolvimento de uma gravidez.
Por isso, métodos contraceptivos fazem uso da administração de hormônios sexuais, impedindo
ou dificultando o desenvolvimento do oócito, bem como a sua fertilização e implantação.
Para compreender a fase folicular, é importante lembrar que os ovários possuem, em sua
região cortical, diversos folículos em diferentes estágios de desenvolvimento (Figura 4.1).
Os folículos são constituídos de oócitos em desenvolvimento, circundados por células que
participam de sua proteção e nutrição. Essas células também secretam hormônios sexuais. Nesta
fase, considerada a primeira fase do ciclo reprodutor, ocorre o crescimento e amadurecimento
de alguns dos folículos ovarianos sob influência hormonal. No final deste período, que tem
uma duração variável (em torno de dez dias a três semanas), apenas um folículo permanece se
desenvolvendo, enquanto os demais interrompem seu desenvolvimento e sofrem morte celular,
denominada atresia.
Figura 4.1: Ilustração da histologia do ovário, contendo folículos ovarianos em diferentes estágios de desenvolvimento.
/ Fonte: modificado de Tortora, 2002.
corpo lúteo terá uma vida útil de 12 dias. Esta fase tem uma duração relativamente constante,
quando comparada à fase folicular, cuja duração é bastante variável. O final da fase lútea carac-
teriza o encerramento de um ciclo reprodutor e o início do próximo.
Paralelamente às alterações ovarianas, ocorrem as alterações uterinas, que constituem o ciclo
uterino ou menstrual, onde podemos identificar a:
• menstruação;
• fase proliferativa;
• fase secretória.
A menstruação marca o início do ciclo reprodutor por ser facilmente identificada e
correspondente ao início da fase folicular nos ovários. A descamação do endométrio – ou
seja, a menstruação – é causada pela atresia do corpo lúteo, que tem papel fundamental na
manutenção das células endometriais. Sua duração pode variar em torno de três a sete dias,
sendo o fluxo menstrual bastante específico para cada mulher. Após a menstruação, as células
endometriais começam a se proliferar, reconstituindo a camada celular perdida durante a
descamação do endométrio. Esta fase, denominada fase proliferativa, coincide com o período
final da fase folicular dos ovários. Após a ovulação, inicia-se a fase secretória uterina, em que
as células endometriais depositam lipídeos e glicogênio para o fornecimento de energia para
uma possível gestação. Além disso, ocorre o crescimento de novos vasos sanguíneos nessa região.
Quando ocorre a atresia do corpo lúteo – finalizando a fase lútea e iniciando a fase foli-
cular nos ovários – ocorrem também o fim da fase secretória uterina e o início de uma nova
menstruação, caracterizando o começo de um novo ciclo reprodutor.
Podemos notar que existe correspondência entre os eventos uterinos e ovarianos do ciclo
reprodutor feminino. A relação entre os ciclos se dá pelo controle hormonal a que estão
submetidos os ciclos ovariano e uterino. Essa relação é essencial para que uma eventual gestação
se estabeleça, uma vez que o útero deve estar em condições adequadas para receber um embrião
logo após a ovulação, o que possibilitará a fecundação. Vamos agora compreender o controle
hormonal do ciclo reprodutor feminino e sua influência sobre o organismo feminino.
Figura 4.2: Esquema do controle da secreção Figura 4.3: Ilustração dos folículos ovarianos com
hormonal por retroalimentação negativa e positiva. detalhe para as células da granulosa e da teca. / Fonte:
/ Fonte: modificado de Silverthorn, 2010. modificado de Silverthorn, 2010.
Gráfico 4.1: Flutuações hormonais ao longo do ciclo reprodutor feminino e os eventos uterinos e ovarianos
relacionados. / Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
Veremos agora o controle intrínseco dessas secreções hormonais em detalhes e suas conse-
quências fisiológicas em cada fase do ciclo reprodutor.
Podemos observar que, no final do ciclo reprodutor, ocorre um aumento na secreção das
gonadotrofinas pela hipófise anterior. Esse aumento é responsável pelo recrutamento de
folículos ovarianos, que darão início à sua maturação sob influência do FSH, o que caracteriza
a fase folicular. O crescimento dos folículos provoca um aumento na secreção de hormônios
esteroides pelas células foliculares. Neste período, o aumento gradual de estrógeno é bastante
evidente, principalmente na fase folicular tardia. O aumento de estrógeno inibe a secreção de
FSH e LH, bem como de GnRH, por mecanismos de retroalimentação negativa (Figura 4.2).
A diminuição da secreção de LH e FSH impede o recrutamento de novos folículos no mesmo
ciclo. Entretanto, apesar da diminuição principalmente de FSH, permanece o aumento na
secreção de estrógenos, controlada por uma alça de retroalimentação positiva, em que os estró-
genos estimulam a secreção de mais estrógenos pelas células da granulosa (Figura 4.2).
Por volta do 6º dia da fase folicular, um dos folículos
torna-se dominante, interrompendo o crescimento dos
demais folículos recrutados. Isso ocorre por meio da secre-
ção de um hormônio chamado inibina, que também inibe
a secreção de FSH pela hipófise anterior (Figura 4.4).
A diminuição de FSH, associada à secreção de inibina, causa
a parada no crescimento dos demais folículos, fazendo com
que, em geral, apenas um folículo ovule a cada ciclo.
Durante a primeira metade da fase folicular ocorre a
menstruação uterina, que dura em torno de cinco a sete dias.
Esse fluxo menstrual uterino é composto de 50 a 150 ml
de sangue, líquido tecidual, muco e células epiteliais do
endométrio. A menstruação é causada pela diminuição
dos hormônios estrógeno e, principalmente, progeste-
Figura 4.4: Esquema do controle da secreção
rona (no final da fase lútea). Essa diminuição estimula a hormonal por retroalimentação negativa e positiva.
/ Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
liberação de prostaglandinas, que causarão constrição das
arteríolas uterinas do endométrio, privando-o de oxigênio. Com isso, ocorre a morte das células
endometriais e a posterior descamação, chamada de menstruação. O fluxo menstrual é elimi-
nado da cavidade uterina através do colo e da vagina. Após o final da menstruação, inicia-se a
fase proliferativa no útero, quando o aumento do estrógeno secretado pelos folículos estimula
nova proliferação celular no endométrio. Além disso, ocorre o aumento da vascularização do
endométrio e de seu suprimento de nutrientes e oxigênio. O aumento de estrógenos também
causa a secreção de muco claro e viscoso pelas glândulas mucosas do colo do útero. Essa se-
creção facilita a relação sexual e a entrada de espermatozoides na cavidade uterina em um
período próximo à ovulação, propiciando uma possível fertilização. A detecção do muco e suas
características viscosas são utilizadas por algumas mulheres para identificar o seu período fértil
próximo à ovulação. Neste período, o muco possui uma viscosidade que permite sua distensão
por alguns milímetros (Figura 4.5).
Figura 4.5: Fotografia do colo do útero contendo muco cervical à esquerda e fotografia ilustrativa da distensão do muco à direita.
/ Fonte: modificado de Aires, 2012.
Figura 4.6: Ilustração do rompimento folicular e expulsão do oócito envolto por células da
granulosa. / Fonte: modificado de Tortora, 2002.
Figura 4.7: Ilustração de ciclos reprodutores feminino com diferentes durações. / Fonte: modificado de Aires, 2012.
Os níveis de GnRH, bem como de FSH e LH, diminuem durante a fase lútea, pois suas secreções
estão sendo inibidas pela presença da progesterona, do estrógeno e da inibina lútea (Figura 4.8).
Assim, neste período não são recrutados novos folículos, uma vez que o organismo feminino está se
preparando para uma possível gestação.
Podemos considerar a progesterona como o principal hormônio da
fase lútea. Seus efeitos causam o contínuo crescimento do endométrio,
onde as glândulas endometriais se enrolam e novos vasos são formados,
além do depósito de lipídeos e glicogênio já mencionado. Também
causam o espessamento do muco secretado pelas glândulas do colo do
útero. Esse espessamento provoca a formação de um tampão no colo do
útero, que impede a entrada de microrganismos, assim como de novos es-
permatozoides. Portanto, o útero encontra-se protegido para desenvolver
uma possível gestação.
Quando ocorrem a fecundação e a implantação do embrião no útero pre-
parado, células endometriais se modificam e iniciam a secreção do hormônio
4.8: Esquema
gonadotrofina coriônica humana (hCG), que sustenta a presença do corpo Figura do controle da secreção
lúteo. Isso faz com que o corpo lúteo permaneça íntegro, secretando seus hor- hormonal por retroalimen-
tação negativa.
mônios durante o primeiro trimestre gestacional. Entretanto, na ausência da /SFonte: modificado de
ilverthorn, 2010.
Resumindo o que discutimos até agora, a Figura 4.10 mostra uma síntese do controle hor-
monal do ciclo reprodutor por mecanismos de retroalimentação positiva e negativa. Eles deter-
minam modificações temporalmente precisas para que a ovulação ocorra no momento em que as
demais condições do organismo feminino estejam adequadas para receber a implantação de um
futuro embrião. Além disso, podemos destacar a predominância de estrógeno na primeira metade
do ciclo e da progesterona na segunda metade.
Figura 4.10: Resumo do controle hormonal ao longo do ciclo reprodutor feminino por meio de retroalimentação.
/ Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
Modificações nas concentrações adequadas desses hormônios podem dificultar e, até mesmo,
impedir a ovulação, a fecundação ou a implantação. Por essa razão, podem ser utilizadas como
métodos contraceptivos.Veremos agora os principais métodos contraceptivos existentes.
Os métodos hormonais são largamente utilizados devido à sua grande eficácia. Além disso,
avanços significativos na anticoncepção hormonal ocorreram na década de 70, no sentido de
diminuir a quantidade de hormônios utilizados, além de combiná-los de maneira adequada
para maior eficácia e menores efeitos colaterais. Entre esses métodos, o mais utilizado é a
pílula anticoncepcional, que apresenta concentrações variáveis de estrógeno e progesterona.
A presença desses hormônios no organismo feminino inibe a secreção de GnRH pelo hipo-
tálamo, bem como de FSH e LH pela hipófise anterior, impedindo a maturação de oócitos e,
consequentemente, a sua ovulação. Além disso, a progesterona presente leva ao espessamento do
muco cervical, dificultando a entrada de espermatozoide na cavidade uterina. Modificações no
endométrio também podem ser provocadas, dificultando a instalação de uma gestação.
Os anticoncepcionais hormonais podem ser administrados por via oral (as pílulas), injetáveis,
adesivos transdérmicos, implante subdérmico e anel vaginal. A escolha entre cada um deles deve
ser feita com orientação ginecológica. Existem algumas vantagens para a utilização das pílulas de
baixa dosagem hormonal, que são as mais utilizadas nos dias de hoje. Podemos destacar entre elas:
• diminuição do fluxo e da cólica menstrual;
• controle das irregularidades menstruais;
• proteção ou tratamento contra tumores ovarianos benignos;
• proteção contra doenças mamárias benignas;
• proteção contra anemia ferropriva;
• proteção contra endometriose.
Figura 4.13: Ilustração da laqueadura tubária por meio da secção das trompas uterinas. /
Fonte: modificado de Zugaib, 2012.
Figura 4.15: Ilustração da laqueadura tubária por meio da amarração das trompas uterinas. /
Fonte: modificado de Zugaib, 2012.
O coito interrompido ocorre com a retirada do pênis da vagina antes que ocorra a
ejaculação. Entretanto, durante o ato sexual ocorre a emissão pré-ejaculatória de líquido da
uretra, já contendo espermatozoides. Por isso, e pela dificuldade de retirar o pênis no momento
adequado, a eficácia deste método pode ser comprometida.
O dispositivo intrauterino (DIU) é colocado na cavidade uterina (Figura 4.16), onde pro-
voca alterações no endométrio, impedindo a progressão do espermatozoide e a implantação do
embrião. Hoje em dia, o modelo mais utilizado libera pequenas quantidades de progestógeno
(hormônio sintético semelhante à progesterona), causando aumento da viscosidade do muco
cervical, atrofia do endométrio, inibição da ovulação e inibição da motilidade espermática.
Todos esses efeitos impedem a fecundação e a implantação, não permitindo, portanto, a gestação.
4.5 Conclusão
Discutimos aqui a sequência de eventos fisiológicos característicos do ciclo reprodutor
feminino, bem como o controle hormonal das diversas fases do ciclo ovariano e uterino, e a
relação temporal entre eles. Relacionamos as modificações uterinas e ovarianas com as variações
nos níveis de hormônios como os estrógenos, progesterona, LH e FSH. Além disso, descrevemos
alguns métodos contraceptivos, relacionando-os com a anatomofisiologia do sistema reprodutor
masculino e feminino.
Referências
Aires, M. M. (org.). Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Berne, R. M. et al. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Campbell, N. A. et al. Biologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
Curi, R.; Procópio, J. Fisiologia Básica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
Guyton, A.C.; Hall, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
Silverthorn, D. U. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
Tortora, G. J.; Grabowski, S. R. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 10. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012.
Zugaib, M. Zugaib Obstetrícia. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.
Glossário
Retroalimentação: Mecanismo pelo qual parte do sinal de saída de um sistema é transferida para a sua
entrada com o objetivo de diminuir, aumentar ou controlar a saída desse mesmo sistema.
3.1 Introdução
3.2 O ato sexual
3.3 Doenças Sexualmente Transmissíveis
3.1.1 Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)
3.3.2 Sífilis
3.3.3 Cancro mole
3.3.4 Gonorreia
3.3.5 Hepatites virais
3.3.6 Herpes genital
3.3.7 Verruga genital
3.4 Conclusão
Referências
3.1 Introdução
A reprodução humana envolve o desenvolvimento de comportamentos específicos da espécie
que compõem a resposta sexual de cada indivíduo. Esses comportamentos são controlados de
maneira integrada pelo sistema nervoso e pelos órgãos reprodutores masculinos e femininos. Para
isso, é fundamental a maturação desses sistemas, que adquirem características anatomofuncionais
necessárias para a resposta sexual, o que ocorre durante a puberdade. Neste período, o aumento
na secreção de andrógenos é o principal responsável pelo início do comportamento sexual com
o desenvolvimento do desejo pela atividade sexual.
A ação dos andrógenos sobre estruturas do sistema nervoso central, como a amígdala (Figura 3.1),
é responsável por desencadear a motivação pela busca da atividade sexual. Entretanto, o ato sexual,
também conhecido como cópula, coito ou relação sexual, é controlado por outra estrutura do sistema
nervoso, denominada hipotálamo (Figura 3.2).
a b
Figura 3.1: Vista lateral do encéfalo (a) e corte frontal (b), com identificação da amígdala. /
Fonte: modificado de Lent, 2010.
Figura 3.2: Vista medial do encéfalo para a identificação do hipotálamo. / Fonte: modificado de
Bear; Connors; Paradiso, 2002.
Como veremos, durante o ato sexual ocorre o contato entre os órgãos genitais dos par-
ceiros sexuais. Esse contato pode favorecer a transmissão de doenças infecciosas sexualmente
transmissíveis (DSTs), já que nessa região ocorre a presença das lesões da maioria das DSTs.
Além disso, a troca de fluidos corporais, como sêmen e as secreções vaginais, também facilita
essa transmissão. Por isso, a compreensão de aspectos fisiopatológicos das DSTs é essencial
para a discussão dos meios de transmissão e prevenção, uma vez que suas complicações
podem trazer sérios prejuízos para a vida humana.
A excitação sexual pode ser deflagrada por diversos estímulos, tanto físicos quanto psico-
lógicos, que causam a ativação de estruturas centrais, como a amígdala e o hipotálamo, provo-
cando o desejo sexual e as respostas fisiológicas que caracterizam essa fase. Durante a excitação,
temos a ereção peniana e clitoriana, além da lubrificação do canal vaginal por meio da maior
secreção de muco. Essas respostas podem ser geradas por reflexos medulares e/ou coordenados
pelo hipotálamo, de acordo com o tipo do estímulo deflagrador.
Estímulos táteis em áreas erógenas, como a região peniana e o clitóris, ativam receptores que
deflagram impulsos sensoriais que se propagarão ao longo do nervo pudendo até o centro in-
tegrador, localizado nos níveis medulares entre S2 e S4. Essas vias sensoriais ativarão, na medula,
as fibras parassimpáticas responsáveis pelo relaxamento da musculatura lisa das arteríolas nos
tecidos genitais. Nos homens, esse relaxamento vascular causa maior volume de sangue nessa
região, comprimindo as veias de drenagem e aprisionando o sangue. Dessa forma, o pênis
aumenta de tamanho e torna-se rígido, caracterizando a ereção peniana. Nas mulheres, os
eventos são semelhantes e levam à ereção clitoriana, ingurgitamento dos pequenos e grandes
lábios e relaxamento da musculatura lisa vaginal, além do aumento das mamas e ereção das
papilas mamárias. A ereção peniana tem consequências funcionais, que possibilitam o ato sexual
por meio da introdução do pênis no canal vaginal. A ativação parassimpática também provoca
a maior liberação de muco pelas glândulas bulbouretrais nos homens e, principalmente, pela
parede vaginal na mulher, facilitando a penetração durante o ato sexual.
A excitação também pode ser provocada por estímulos sexuais visuais, auditivos e emo-
cionais. Neste caso, a ação parassimpática sobre a ereção e a lubrificação será coordenada por
regiões hipotalâmicas. Vale lembrar que estímulos não sexuais durante o sono também podem
causar a ereção masculina. Durante a excitação, também se observa o aumento da frequência
cardíaca e respiratória e do tônus da musculatura esquelética.
Essas alterações atingem um nível intenso, que pode durar por um período variável, de
alguns segundos a vários minutos, caracterizando o estágio de platô do ato sexual. Neste está-
gio, a vasocongestão na vagina causa um aumento do seu volume, diminuindo a sua abertura e
comprimindo o pênis durante a relação sexual. Isso pode levar ao estágio do orgasmo, também
conhecido como clímax, onde ocorre a ejaculação masculina e se tem grande sensação de
prazer. Para isso, impulsos simpáticos reflexos ativam a musculatura lisa dos ductos testiculares,
do epidídimo e do ducto deferente, causando contrações peristálticas que conduzem o sêmen
ao canal da uretra. A ativação simpática também causa a contração e emissão das secreções da
Figura 3.3: Ilustração da anatomia de estruturas do sistema reprodutor masculino. Observe à direita os detalhes do corte
transversal da estrutura peniana, onde podemos observar os corpos cavernosos e esponjosos, juntamente com a posição
da uretra. / Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
A ativação simpática responsável pelo reflexo da ejaculação pode ser provocada pela estimu-
lação tátil de receptores localizados na glande do pênis. A integração desses estímulos ocorre na
medula espinhal, de onde saem as aferências simpáticas. Entretanto, a ejaculação também pode
ser deflagrada por estímulos sexuais de outra natureza, como os emocionais, e não apenas por
estímulos mecânicos. O término da ereção também é causado pela ativação simpática, que leva
à vasoconstrição das arteríolas penianas. Nas mulheres, o orgasmo é caracterizado por contra-
ções rítmicas da musculatura da vagina, útero e períneo, seguido por intensa sensação de prazer.
Após a ejaculação e o orgasmo, ocorre o último estágio do ato sexual, denominado reso-
lução, onde se observa uma sensação de relaxamento profundo, seguido do retorno ao estado
normal das variáveis fisiológicas, como a estabilização da frequência cardíaca e respiratória, bem
como do tônus das arteríolas genitais.
Como vimos, durante o ato sexual ocorre o contato direto das áreas genitais masculina e
feminina por meio da penetração peniana. Além disso, ocorre a troca de substâncias como o
sêmen e as substâncias lubrificantes secretadas. Pequenos vasos também podem ser rompidos
pela fricção dos tecidos, causando pequeno extravasamento de sangue, que entra em contato
com a mucosa de ambos os indivíduos. Por todos esses motivos, eventuais micro-organismos
contidos nesses fluidos corporais podem ser transmitidos para o parceiro, causando patologias
conhecidas como doenças sexualmente transmissíveis.
• Cancro mole
• Clamídia e Gonorreia
• Condiloma acuminado (HPV)
• Doença inflamatória pélvica (DIP)
• Donovanose
• Hepatites virais
• Herpes
• Infecção pelo vírus T-linfotrópico humano (HTLV)
• Linfogranuloma venéreo
• Sífilis
• Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)
• Síndrome do corrimento uretral masculino
• Tricomoníase
• Clamídia: 1.967.200
• Gonorreia: 1.541.800
• Sífilis: 937.000
• HPV: 685.400
• Herpes genital: 640.900
Baseado na análise desses dados estatísticos, o Ministério da Saúde destacou algumas evidên-
cias, que estão organizadas no Quadro 3.1:
Destaques do boletim
• A prevalência de infecção pelo HIV na população jovem, 0,12% em conscritos do Exército em
2007, apresenta tendência de aumento no Brasil. Em 2010, a taxa de incidência de casos de
aids em jovens de 15 a 24 anos foi de 9,5/100.000 habitantes, estabilizada nos últimos 10 anos,
mas com aumento nas regiões Norte e Nordeste, diminuição nas regiões Sudeste e Sul, e
estabilização na Região Centro-Oeste.
• A prevalência de infecção pelo HIV na população de jovens gays, 1,2% em conscritos do Exército
em 2007, apresenta tendência de aumento no Brasil. Nos últimos 12 anos, considerando os casos
de aids notificados entre homens na faixa etária de 15 a 24 anos, houve um aumento de 45,9%
na proporção de casos com categoria de exposição HSH, 46,4% em 2010.
• De 1980 a junho de 2011, no Brasil, foram notificados 608.230 casos de aids. Em 2010 foram
notificados 34.218 novos casos, com taxa de incidência nacional de 17,9/100.000 habitantes
e razão de sexo de 1,7 novos casos em homens para cada caso em mulheres. Ao longo dos
últimos 12 anos observa-se uma estabilização da taxa de incidência no Brasil, mas, segundo as
regiões, a taxa diminuiu na Região Sudeste e aumentou nas demais regiões.
• De 1980 a junho de 2011, no Brasil, foram notificados 14.127 casos de aids em menores de
cinco anos. Em 2010 foram notificados 482 novos casos, com taxa de incidência de 3,5/100.000
habitantes. No Brasil, a taxa de incidência em menores de cinco anos é utilizada como indicador
de monitoramento da transmissão vertical, e ao longo dos últimos 12 anos observa-se uma
redução de 40,7%, mas, segundo as regiões, a incidência aumentou no Norte e Nordeste e
diminuiu nas demais regiões.
• De 1980 a 2010, no Brasil, ocorreram 241.469 óbitos tendo como causa básica a aids. Em 2010
ocorreram 11.965 óbitos, com coeficiente bruto de mortalidade de 6,3/100.000 habitantes.
Considerando o coeficiente de mortalidade padronizado (População brasileira de 2000, IBGE),
nos últimos 10 anos observa-se redução de 11,1% na mortalidade por aids no Brasil, mas,
segundo as regiões, a mortalidade aumentou no Norte, Nordeste e Sul, diminuiu no Sudeste e
estabilizou no Centro-Oeste.
• Em 2010 foram notificados no Brasil 5.666 casos de HIV em gestantes, com taxa de detecção de
2,0 casos por 1.000 nascidos vivos. Em 2010, a única região com uma taxa de detecção de HIV
em gestantes superior à média nacional foi a Região Sul com 4,8 casos por 1.000 nascidos vivos.
• Em 2010, foram notificados no Brasil 10.084 casos de sífilis em gestantes, com taxa de detecção
de 3,5 casos por 1.000 nascidos vivos. Em 2010, as Regiões Centro-Oeste (5,4/1.000 nascidos
vivos), Norte (4,5) e Sudeste (3,6) apresentaram taxas superiores à média nacional.
• Em 2010, foram notificados no Brasil 6.677 casos de sífilis congênita em menores de um ano de
idade, com taxa de detecção de sífilis congênita de 2,3 casos por 1.000 nascidos vivos. Em 2010,
as Regiões Nordeste (2,6/1.000 nascidos vivos) e Sudeste (2,5) apresentaram taxas superiores à
média nacional.
Quadro 3.1
De modo geral, podemos observar que os números de casos de DSTs são preocupantes,
tendo aumentado em algumas regiões do Brasil. Para que a população se conscientize sobre os
riscos de transmissão e as possíveis complicações inerentes à contaminação, é necessária a com-
preensão de alguns aspectos da fisiopatologia das DSTs.Vários esforços também têm sido feitos
com o intuito de conscientizar a população sobre as medidas de prevenção, que também serão
abordadas aqui. Vamos conhecer melhor quais são os micro-organismos envolvidos em cada
uma das principais DSTs, seus principais sinais e sintomas, assim como medidas de prevenção,
tratamento e possíveis complicações.
A partir desse momento, o DNA viral pode produzir novos vírus e liberá-los na corrente san-
guínea, causando novas contaminações (Figura 3.5a). Entretanto, esse DNA pode permanecer
latente, sem produzir novos vírus por décadas, permanecendo escondido e não sendo detectado
pelo sistema imunológico do indivíduo. Quando produzido, o DNA viral pode permanecer la-
tente, dentro de vacúolos da célula hospedeira (Figura 3.5b) e não ser liberado. A possibilidade
de o HIV permanecer oculto dentro das células hospedeiras dificulta a identificação da infecção
pelo sistema imunológico, bem como o combate do vírus por anticorpos. Além disso, o HIV
sofre rápidas mutações ao longo de um dia, chegando a um número em torno de 1 milhão de
variantes do vírus em indivíduos portadores assintomáticos, e 100 milhões nos estágios finais
da infecção, o que também contribui para que o HIV consiga driblar as defesas imunológicas
desses indivíduos. Isso também dificulta extremamente a produção de drogas e vacinas.
Figura 3.5: Ilustração da infecção pelo vírus HIV. / Fonte: modificado de Tortora, 2008.
Nem todos os indivíduos infectados pelo HIV têm o diagnóstico de AIDS. O diagnóstico
é feito por meio da contagem de linfócitos T CD4/mm3. Quando a contagem está abaixo
de 200/mm3, o indivíduo tem AIDS. Geralmente, essa baixa contagem está associada a um
conjunto de infecções oportunistas que caracterizam a síndrome. Entre elas, podemos destacar
as infecções por Candida albicans no esôfago, brônquios e pulmões, as infecções oculares por
citomegalovírus, a tuberculose, a pneumonia por Pneumocystis, a toxoplasmose cerebral e o
sarcoma de Kaposi, causado pelo herpesvirus humano.
A contagem de linfócitos T no indivíduo portador do HIV pode variar muito, provocando
diferentes quadros clínicos que podem ser divididos em três categorias, de acordo com a con-
tagem e a sintomatologia apresentada. O gráfico abaixo estabelece a relação entre elas ao longo
dos anos, e identifica as três categorias existentes (Gráfico 3.2).Vale lembrar que o indivíduo
com a contagem de linfócitos T CD4 abaixo de 200/mm3, com o diagnóstico de AIDS e a
sintomatologia descrita acima, encontra-se na categoria C.
Gráfico 3.2: Ilustração gráfica da progressão da infecção pelo vírus HIV. / Fonte: modificado de Tortora, 2008.
O tratamento para a AIDS teve um grande avanço nos últimos anos, permitindo
uma sobrevida maior a cada dia e diminuindo o número de mortes. Por outro
lado, isso causou uma diminuição nas medidas de prevenção adotadas pela
população, aumentando os números de transmissão do vírus. A prevenção
ainda é o método mais eficaz de combate à AIDS. Medidas preventivas, como
o teste das amostras envolvidas na transfusão, nos transplantes e na inseminação
artificial, diminuíram muito o risco de contaminação. Entretanto, a prevenção
pelo uso de preservativo e de agulhas e seringas descartáveis (principalmente
por usuários de drogas) ainda não é adequada. A utilização de preservativos
pode ser realizada por homens e mulheres, sendo que os preservativos
masculinos e femininos devem ser colocados de maneira correta (Figura 3.6)
e obedecer a algumas orientações destacadas nos quadros abaixo.
• Deve ser armazenado longe do calor (como bolso de calça, porta-luvas, dentro de bolsas).
• Observar a integridade da embalagem, bem como o prazo de validade.
• Deve ser colocado antes da penetração, durante a ereção peniana.
• Receptáculo existente na extremidade do preservativo deve ser mantido apertado entre
os dedos durante a colocação, retirando todo o ar do seu interior.
• Ainda segurando a ponta do preservativo, desenrolá-lo até a base do pênis.
• Devem ser usados apenas lubrificantes de base aquosa (gel lubrificante), pois o uso de lubrifi-
cantes oleosos (como vaselina ou óleos alimentares) danificam o látex, ocasionando sua ruptura.
• No caso de ruptura, o preservativo deve ser substituído imediatamente.
• Após a ejaculação, retirar do pênis ainda ereto, segurando o preservativo pela base para
que não haja vazamento de esperma.
• O preservativo não pode ser reutilizado e deve ser descartado no lixo (não no vaso
sanitário) após o uso.
Figura 3.6: Ilustração da colocação correta dos preservativos masculino (a) e feminino (b). / Fonte: modificado do
Manual de controle das DSTs.
3.3.2 Sífilis
O cancro mole, também conhecido como cancro venéreo, é uma doença causada por um
bacilo gram-negativo, denominado Hemophilus ducreyi. Sua maior incidência ocorre nas regiões
mais tropicais do Brasil. Poucos dias após a infecção, surgem úlceras edemaciadas e dolorosas nas
regiões genitais, juntamente com infecção dos linfonodos mais próximos. Esses locais infectados
podem secretar pus, facilitando a contaminação. Outro sintoma comum é o relato de dor durante
as relações sexuais e a evacuação. Sua principal forma de transmissão são as relações sexuais sem o
uso de preservativos, e o seu tratamento e cura são obtidos com o uso de antibióticos.
3.3.4 Gonorreia
A hepatite é uma inflamação no fígado que pode ser causada por diversos fatores, sendo o
principal deles a infecção viral. As hepatites virais mais conhecidas são causadas por cinco vírus
diferentes, denominados vírus da hepatite A, B, C, D e E, que causam as hepatites de mesmo nome.
Destas, a hepatite A e E são transmitidas principalmente por via fecal-oral, enquanto as hepatites
tipo B, C e D têm a via parenteral como principal via de transmissão, incluindo o contato sexual.
A hepatite tipo B tem uma sintomatologia leve, com presença de febre baixa, dores articu-
lares e falta de apetite, olhos e pele amarelados e urina escura. Quando diagnosticada e tratada
corretamente, a grande maioria dos casos apresenta recuperação completa. Entretanto, uma
pequena parcela pode evoluir para a hepatite crônica, quando a infecção permanece por mais
de 6 meses. As crianças, principalmente com menos de um ano, têm grande chance de evoluir
para hepatite crônica. Indivíduos portadores de hepatite crônica apresentam altos índices de
câncer de fígado (Figura 3.10). Por isso, o diagnóstico e o tratamento precoce e adequado da
hepatite aguda são indispensáveis.
Figura 3.10: Fígado saudável, à esquerda. Fígado com lesões crônicas causadas pela hepatite, à direita. /
Fonte: modificado de Tortora, 2008.
Na tabela abaixo podemos ver um resumo das principais características das hepatites virais
(Tabela 3.1).
3.4 Conclusão
Neste texto, discutimos a fisiologia envolvida no comportamento sexual e no controle do
ato sexual. Além disso, discutimos as implicações do ato sexual no desenvolvimento de DSTs,
bem como a fisiopatologia e a prevenção das principais DSTs no cenário nacional.
Referências
Aires, M.M. (org.). Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Berne, R.M. et al. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Campbell, N.A. et al. Biologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
Curi, R.; Procópio, J. Fisiologia Básica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
Lent, R. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência. 2. ed.
São Paulo: Atheneu, 2010.
Silverthorn, D.U. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
Tortora, G.J.; Funke, B.R.; Case, H.L. Microbiologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Glossário
Boletins epidemiológicos anuais: Acesse o site http://www.aids.gov.br/tags/tags-do-portal/boletime-
pidemiologico e veja alguns dos boletins emitidos pelo Ministério da Saúde.
Retrovírus: Vírus que produz DNA a partir de seu RNA viral.