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. . . Jll<' l·m•111s 1, 1'1 .
descer nos 111tcn111s 1 • 11..-11 uld11 p11r r<:rccira dimensão, aquela da ve~1cal1dade. Mas
. 1111· 1 1, t1•mp 111 1 ' •··
contcmplnr a P • ' ' 1 . niih' p,,r i11t,·1ni.
•
essa util ização~ esse desenv?lv1mento cristaos
Dédalo. o n d1· sllo ,m1s~rn1 ,,s i1 da imagem ant1_g~ estão es~ntament~ limitados
com o labirinto inclus,w. , . 1 1 liciorrnis ., literatura rehgrosa de ltngua latma. Até
Em oposii;·1lo a csscs ,·mprqi.os n t ' lll
século XIII, de fato, as diversas literaturas~
ou arcaicos da palavra. vmno~ _cnc:::::~e~- línguas vulgares ignoram o termo e a temática
plarão uma utilização que anreupa t· ·t que lhe é própria, bem onde a consciência rno-
velmcnre os usos futuros que dela serão er os.
dema esperaria vê-los aparecer. Há motivos
Em Eutid<!mo (29 1 b). Sócrates recorre a _essía para isso.
imagem quando se refere a um t'ipo de racroc -
nio que, com a pretensão de levar a uma con- Globalmente considerado, o labirinto é 0
clusão acaba levando, na verdade, ao ponto de mundo do mal: e a forma mais bem acabada
partid~. Independentemente de Her~doto, ~ .º desse mundo é o inferno. Num libelo intitulado
primeiro uso da palavra sem re'.erê?cia explici- Visio Caroli Tertii, o autor (talvez Remigio
ta ao mito. É também o seu primeiro empre~o novamente) atribui ao imperador Carlos m
metafórico. O labirinto esboça aqui sua carreira uma visão no curso da qual seu espirito se
de estrutura simbólica autônoma e profana. Ele desliga de seu corpo, recebe um novelo de fio
se opõe ao percurso protegido do mito, ou do brilhante como um cometa e por esse fio é
rito, e assinala, para o pensamento que se aven- conduzido in laberintheas infernorum poenas.
tura, o risco do retomo ao ponto de partida, o Lá ele encontra o tio que lhe manda transmitir
lugar da perambulação. Ao realizar a passagem por aquele fio o cargo imperial a seu sobrinho-
do muthos ao logos, o pensamento filosófico neto Louis de Provence (a quem a igreja de
retém essa possibilidade de escolher livremente Reims e provavelmente Remigio de Auxene
o caminho que o mito havia apenas entreaberto, eram favoráveis). Carlos obedece e dâ ao me-
e faz de tal possibilidade o próprio princípio da nino "omnem monarchiam imperii per ipsum
raz.ão moderna. Pensar é entrar no labirinto e
filium". O fio se junta então na mão de Louis
arriscar-se a perder-se nele. O labirinto é tam-
formando uma bola radiante e o espfrito do
bém uma metáfora da aporia, e por isso se
encontra na fonte do pensamento ocidental. imperador consegue reencontrar seu corpo. De
Na Idade Média os clérigos que glosam os modo que, por todo o tempo que durou essa
t~xtos clássicos têm uma idéia precisa do labi- descida aos tonnentos Iabirfnticos dos infernos.
nnto construído por Dédalo. Notas que deve- aquele fio luminoso guiou os passos do impe-
mos provavelm.ente a Remígio de Auxerre (cer- rador, afugentou os demônios, facilitou~~-
~ ~ exphcam, a propósito de Virgílio, de
90?) missão legítima do trono, para reconst~tr-se
ru cio, de Sedulius, que o labirinto é uma finalmente em globo, símbolo do poder tm~
rial. Neste mundo mau, ele dá testemunho
- graça divina .que d
deveria.
esclarecer Carl
l.abirinto 1 559
cultural e
mental. não aparcc\ns. ordinárias
is relatos de v1ag de navega-
~d; -•,q..,_
para descrever uma situação ani0r0Sa. -
cncontramo~ nAu ·as nem naqueles A tradição J/Corbaccio(O son~o). de 1354,qucl>Oral...~
. ordm rr · não. levou o subtttulo de laberinto d ' ~
ou e:xt~an1 elas encantadas ou_do sonho (ou tempO - d . .""""t
ções. se~ d da Antiguidade imagem. Boccaccio propõe :-- m o ma1s longe do
connnua a
da visão) também
Noutras palavras. n
n:~ de volta a -
t~onho ini~ial d~o~:
desenvolv1men
. lesmente refenr-se ( como o fez cm ni~
s1mp de suas obras, tanto 1atmas
rosas T
-
..
corno ---~
) 80 mito de eseu - uma ut11lzação Ínt..:
it~•·
·--.
mande la Rose. com s~u edida (onde. de pas- nas . d I b.. ..._
f, m1a de peregrinação imp nem os diversos ramente nova da. imagem
d . , o a fitrtnto. An:,;~- .._
nado Por uma hn a viuva que . ã
ez pouco~ .._
s~gem. é feita alus~o a 1,desePua~adis de Raoul de
- ,t J 01es u f nem a dele O narrador tem uma v1s o em que, dqJois
Songesd'En_,cre_ Condé Rutebeu. de a~avessar paisagens sedutoras ( a s ~
Houdenc, Baudom de . 1'do próprio /nfer-
grandiosa descida em espira Virgílio encon-
amorosas). ele descobre o que chama de "labi.
ue O autor e · todo amor·· ou "curral de porcos de VênUs"
no de Dante (em q . ) deixam apare- nn I d .
tram. no entanto. o Mmotauro
. . Com · a ·exceção de Aqueles que. como e e, eixaram-~e enl~Pt-
cer o termo e sua_ temat;:·Foumival. "Talent 1 miraaens do amor, acham-se ah reduzidõsa
as
um º bestial. Mas til.
estado e 1zme~te para o autor,
um poe~a de __R1c~a~ em que. através d:
avoie d a1mer O-6 ). abalhadas. amar e ele encontra uma sombra enviada_ do céu, 0
metáfora das mais ~m ~o na maison Deda- marido da viúva. a quem conta sua hIStóriaec1c
comparado a estar pns1one1 seu senso em troca lhe revela todos os defeitos da sua
/ O lab irinto - pelo menos em
"· . _ é desconhecido . das 1·t1eraturas euro- mulher. Graças a esse encontro providencial.o
estrito L d 8 lado com narrador escapará ao castigo. mas deverá, como
péias anteriores ao século XIV. a o d
a exceção supramencionada, podemos, quan o penitência, contar tudo o que viu. Annadilba
muito lembrar a construção, em certos par- criada pelo próprio homem, o labirinto acha-se
ques, documentada na F~ça des?e O sécul~ aqui inteiramente liberado do relato grego. A
XII. de "maisons Dedalus -: mats provavel metamorfose em animal que revela o homem
mente caramanchões do que simples sebes la- a si mesmo. dá à figura uma função simbólica
birínticas. fecunda. Como Boccaccio, Petrarca, por sua
vez. vai, num único verso do Can:OfÜer!
Na Renascença, a tensão que o labirinto ( 1366), fixar uma outra imagem, mais despoj&,
parece privilegiar é aquela entre o exterior e o da, do labirinto de amor. Evocando a manen
interior. Enquanto o labirinto medieval era como Laura o cativou, ele afirma com exatidlo
ameaçador, mas permanecia externo e alheio, no último terceto do soneto 211: "Em mil tte-
com a pré-renascença italiana do século XIV zentos e vinte e sete, precisamente à primeira
ele entra na esfera do homem. Por uma espécie hora do seis de abril, / no labirinto entrei e dele
de revolução muito significativa, há poetas a
não sei como sair." Essa imagem da entlldae
quem ocorre pensarque o labirinto talvez esteja
fundamental. Conjugada na primeira pesado
ranto dentro de nós como nós dentro dele; ou,
singular, ela assinala a implicação do individuo
ainda, que somos nós que o projetamos para
fora. De objetivo ele se faz subjetivo, ou vice- na história. Não mais se trata de um haôi
versa; entre espaço interno e espaço externo há exemplar, agora é Petrarca pessoalmente quG
correspondência, como entre microcosmo e passa pela experiência do labirinto. Este já nlo
macrocosmo. Posso escapar a esse de fora que se acha sob o controle de um monstro mftic:o.
~ llmbán o meu de denlro? &tou de qualquer mas sim de uma mortal, a supram~
modo envolvido, e a figura se mostra como um Laura. A exatidão manfaca com que s1o Je8IS"
embuste sedutor, ou um destino adverso a que trados dia e hora não constitui simples SUf*S"
~ bem diflcil escapar. tição amorosa; ela dâ plena solenidade ao qiae
éna llélia que otenno 11p1rece pela primeira representa também o momento da entnda do
=!ln~~lpr: no Canzonte,e de Cino
aa.-.,u., em Bocc:accio e em Petrarca.
homem - de sua queda. dirlo
tempo histó'nco.
•
algunS..;;
Do sagrado, estamOS _L..3
ao profano. Com Petrarca. nesse seis de ....
- foi de certa. forma
- o homem oc·d
rrou no 1a bmnto e que desde entã0
1 ental q
ue en- num . pai·ac10 . maravilh
Labtrmto 1 561
de procurar sua saida. não cessou nnto do Egito e sob c oso (comparado ao lab1-
Liberada. por Boccaccio e p e trarca · sentada a lenda UJa abóbada se acha repre
. grega) M . ·
gern do 1ab 1nnto mantém-se na I T1 · ª •ma- q1uando, assustado p I d as - e isto é novo -
í~rn mais dificuldade em impor-se tá nª· mas ela ha na obscuridade; o ragão. Po\ifilo menrn-
literaturas?ª Europa. Três textos odas outras completo e vagueia ~ palácio, ele se perde por
onto de vista. ser considerados p em. desse perguntar se "101. pararongamente. no "L b. -
a ponto de se
P levam a. Renascença. Alémcomode
que d graus o Engenhoso" Fe 1·•zmente ·a mnto de Dédalo
esparsas ao mito grego. eles apr as alusões um momento . isso não é mais que
. · d esentam t0 d lo, que. um ;: progre~são seguida por Polifi-
rres. a visão . e um labirinto• ed"fi . prod"
l ICIO ' .os " labirinto" uco mais adiante. descobre o
so. alegórico. mas também específico igio- ' um estranho . d.
que o caminho erc . Jar im aquático em
House of Fame (A Casa da Fama · E_m The uma espiral de p orndo pelas águas fonna
Chaucer nos anos 1379-1 3 80 ). escrito por
fontes e torresse~e orbes ~adeadas por árvores,
rransportado por uma águia de·oº poeta vê-se sétima e úlf · ssa espiral fecha-se sobre a
. uro até a e
da Fama. onde se decidem a boa e á asa invisível e ~:í~:7e,uhabitada _por um dragão
ção: depois. até à Casa dos Boatoª ; reputa- qualquer etapa d q e pode interceptar. em
desprende o ruído enonne das falsas. e ~n~e s~ bordo de u b e seu percurso. o viajante a
· ·t · , s not1c1as E atrás e ma arca. Não há meio de voltar
esta u uma que e comparada a um labirin ·
v.J921) no que constitui . to ( li 1. escap·ar adqouele que durante o trajeto conseguir
a primei·ra .incorpora
monstro acª bara· mev1tavelmente
· - -
inoe t~sa · Trata-se de um- enoolid
ção do remio . à . 1mgua
.
i°
bem cunoso ed1flc10 todo feito de galhadas ue sétima por;le quando a corrente levá-lo à
se emaranham - umas . nas outras• que gira . qem sorte .
Ihorre.. corre então o seu julgamento e a
e é ditada. melhor ou pior. Enquanto
tomo d e s1 próprio . e é habitado por d ensa t}gem global da vida humana. esse " labirin-
população de fabricantes de mentiras E Th o re~o~a a forma mais ortodoxa de um r-
Legend ofGood U~omen (A lenda das ;,,u~ere: curso unico. Mas. depois de haver escapadrao
exemplares).
. . escnta , em cerca de 1386, esse dragão. Polifilo encontrará a rainha do lu
1abmnto cretense e evocado da mesma maneira deu~a da li~rdade. e em seguida conh~
bastante concreta ("For hit is shapen as th Poha, a rnaJs pura das ninfas. Nos três textos
mase 1s . wroght ") - o que de algum modo se e q~e comentamos, o labirinto ê um local mara-
deve certamente às tradições irlandesa e inglesa v1 lhoso que permite a descobena de uma ver-
dos "mazes". Em E/ /aberinto de Fortuna dade. e sua função é, ainda. em boa parte
(1444), de Juan de Mena, o autor, perdido num alegórica. Mas nesses textos vemos que se arti~
bosque e ameaçado por animais selvaoens 0 é cu!~ _também uma verdadeira imaginação do
socorrido pela Providência que toma a fo~a l~bmn~0 - Em seguida às antecipações revolu-
de uma mulher belíssima. Ela o conduz até uma c10nân~ de Boccaccio e Petrarca. eles podem
..grande casa" de onde é dificil sair, o labirinto ser considerados vetores da imagem até o cen-
tro da Renascença e, ultrapassando-o. até o
de Fortuna, primeiro e muito precoce uso da
palavra em espanhol, e primeiro uso explícito Barroco.
O último desses textos conduz. na ltilia. a
do labirinto como imagem do mundo. Em seu
Orlando furioso (1516-1532) de Ariosto. Ê
interior, de fato, o poeta pode ver o conjunto do
bem verdade que nesse pais a imagem do labi-
espaço terrestre e três grandes rodas que repre-
rinto como prisão de amor pennanece presente
sentam o passado, o presente e o futuro. Juan na poesia petrarquii.ante dos stculos V e VI,
de Mena recorre, assim, ao labirinto que Dante com Antonio da Ferrara, Giusto da Conti, Luigi
havia ignorado. A imagem não é aquela de um Pulei, Colonna Vittoria. .. mas a epop6ia de
caos, mas, pelo contrário, aquela da prodigiosa Ariosto renova a utiliaçlo da imagem. Ela o
ordem que preside ao mundo, sobre a qual a faz, em primeiro lugar. em tomo do tema da
Providencia instruiu generosamente o poeta. floresta. Refúgio dos proscritos. espaço da pe-
No interessante romance que é Hypnerotoma- rambulaçlo, a floresta esti por todos os cantos
chia Poliphili (literalmente, "Luta de amor em na literatura medieval. Em Chaucer, Juan de
sonho"), de F. Colonna ( 1499), Polifilo penetra
~ 2 / 1 11 hirlnlo
. t' t·111 11111111s po1. t ·xri:ll-nda o 1l11g1u
· 1 " do 11xí111oron
d (" I~
f, 111111
,1 Jo s(1111111. Mns•
is1t·1a e "· ou e un l!Qtn,..~·""'
Colonnn (C(llllt 1 . 1)antt•
' t'lll
l\lcnn.) clRé o n~tu\rio hn 111,111·111tk untn l.'xpc- ~,;i/'111 11" 11tJ1c 1•
do11111111ge"l, 1553 l,t1q ; ~
outros 111 é o oc ·x 11e- 11 • H'i). A111Htlls J11111 y 11 vé !)t' ~11!.A:rrildcJ ''"'•
. f'reqUcntcmcntc, e t '71u,:nt1 clcssn e.: k 1\1i1alt' ,..., /ahy, /111/,e d 'aimt•1 (No ~'14
1 1
:~ncin lnhirl_ntic~~ ;11~~:.::::(: fü1.-sc tnrd in111,'-'np:-~~ lubirinlo th: a111111 ' l 'i 74) J_.de U1>)'1i1 r
.. c1·asobtls1gno
nen · . rll"'º
. t11lvcz se·1n t 1•
J /
O relRIOde ()r/,mw~ " . p ,r outro lado, c e E.Pnsqu icr, l'h.I>e~porlcs ~e dizem l~Ual "
n,eiro a dctuRr essa .111~çn~1~c1;nt1m1cnto i\qucle 1 )risioneiros. Nn h1111ça o htbu 1111.o d e ,
se favorecer a ligação entre as dua . os deves- aquelaçadosa hrainha das fadas, e em seguida
apesar da tradição mantida das "ca s imagens, e dançarllo sobre omens
o eh pod. erâ recomeçar. Eles
lo'', tal ligação n~o se fez. Sem co~;~de_Dé~a- haviam deitado os ão Just~mente em que se
aquático e alegórico do Sonho de pO ur.~0Jardim os sortilégios se d~u~domuam (IV, 1, 86-88)·
oeromaquia), pode-se dizer que ~, (Hip- mente, se poderá 1ss1parão. No palâcio, final~
'b da
Jerusalém /, erta o labirinto
somente na peça e os atores ãencenar Píramo e Tisbe. A
. à l d " acresce se n o valem grande coisa,· mas
prestfgios que es o hortus conclusus" us nomundoreconcil' d
"locus amoenus" . Ele protege com ou do contém prom ta o esse teatro carnavalesco
dros oblíquos o jardim maravilhoso se~stean- ainda estão p~;s:~e todos os nascimentos que
O
feiticeira Annida numa ilha longínqcna pela fig~: !~º,:~~l_ássica (séculos XVII e XVlll), a
. d ua, no cen
tro do palácio e se~ amante Rinaldo. Aban · ca uma osi innto nã~ ~cupa na estética barro-
nada por este, Annida, na dor do des . do- se faz p . ção tão privilegiada como em geral
com que tudo desapareça (XVI). peito, faz ficativacrer, tem, contudo u
OI b' . . ' ma presença s1gn1-
. .
· ª mnto Já não é apenas o efeito de
um sortilégio momentâneo, ele tende a conver-
Shakespeare
t d' õ leu os
.
italianos
. ,
masca t
p atam- ter-se no. pó r pno· mundo, encarado em sua per-
bém a~ ra 1ç es nac1ona1s. Em A Midsummer
Níght s Dream (Sonho de uma noite de verão manê~cia ~nganadora. Já não é tanto a tensão
entre i_ntenor e exterior que ele põe em foco,
1595), entrdamos com os enamorados num bos~
mas sim a problemática vizinha (apreendida
que perto e Atenas. Mas, nessa noite de São
~?mo fu nd~?1e~tal) d~ realidade e das aparên-
João, todo o mundo pan:ce ter resolvido marcar as. Os fe1t1ce1ros deixam o primeiro plano e
encontro nesse bos~~e,_ e os amantes vão depa- ª experiência do logro e da verdade é feita
rar-se nele com fe1t1ceiros. comediantes e ou- agora, de outros ângulos: na representação tea~
tros espíritos ma~iciosos. Em principio, essa trai, em tomo do motivo do disfarce; no roman-
floresta é o domínio do rei e da rainha das fadas ce, por meio do discurso didático, e depois da
0beron e Titânia, mas, depois que os dois dei: experiência iniciática; na expressão poética,
xaram de se entender, o rei, com a ajuda de Puck por tentativas de representação fonnal do secre-
o duende travesso, multiplica os sortilégios, to. Dom Quixote ( 1605-1615) é bem uma intro-
suscita equívocos e contratempos, e é num bos- dução a tudo isso.
que verdadeiramente "assombrado" (haunted No capitulo 48 da primeira parte, Sancho,
grove) que nós entramos. Além do mais, em tendo reconhecido o padre e o barbeiro da al-
virtude de Oberon haver perturbado as danças deia nos mascarados que aprisionaram Dom
de roda que a rainha das fadas conduzia habi- Quixote, fala francamente com seu patrão das
tualmente sobre a relva, o curso das estações se dúvidas que alimenta sobre a verdadeira iden-
tidade daqueles "bruxos". Dom Quixote res-
interrompe, o mundo vira às avessas, os casa-
ponde que é bem possivel, de fato, que eles
mentos não se podem realizar..., os homens
guardem certa semelhança com aqueles seus
esquecem-se de dançar e de atravessar labirin- velhos conhecidos. mas o que não significa
tos: "And the quaint mazes in the wanton necessariamente que sejam eles, pois é próprio
green / For Jack. of thread are undistinguisha- dos bruxos justamente assumir a figura que lhes
ble"(II, 99-100). Por falta de uso, os singulares convêm "e eles terão assumido aquela de nos-
labirintos construídos com sebes de gramado sos amigos a fim de te dar ocasião de pensar o
(numerosos na Inglaterra da época) não !"ais s_e que pensas. e de te lançar num ~abiri,nto _de
distinguem na grama superabundante. E preci- incertezas ('en un laberinto de 1mag1nac10-
so que recomece a dança e que recomece o nes,) de que O fio de Teseu não seria ca~ de
b'ljeto ritual do labirinto para que O tempo te fazer sair" . A argumentação do cav~le1ro dà,
,.,...e seu curso e a floresta se desembarace de de fato, o que pensar. Se Sa~c~o se de_1xa tomar
seus sortil6gios. A expressão to thre_a1 a m_aze ela dúvida, entra num labmnto de mterroga-
tem aqui, como se ve, seu sentido on~~nal ltga- pões desconcertantes. Basta ce~os de crer.
do àdança eao uso ritualfstico do labmnt?· ~o ~ara que a realidade se tome muito problemà-
logoot,eron decida reconciliar-se com T1tân1a,
o lar da peça, o pastor Tarso qu .
1
~64 I ·• biri"'º . dessa
beira ma o desenr tar conseguindo enfiar os caflita.
· . · o nos põe à retll"'"'
·-...,,os se de não ese lhe dão para vestir e J>ede ÇOcs
romance inteir_ em- Se nos_ ·e infinita Plissados qu contrar as ''entradas y sa/;}lle o
tica. O dessa vert1g mos na sen. te es· ensine . rn a en . «as Qe
,, (as entradas e sa1das deste labiti
vac1·1ação1 eda crença, entra·ro oom Qu1xo den· esa Triª momento em que os personagllto,
do c1rcu o tas Desde mut 'e encerrar-seas J.á
d pcrgun · bruxos . _ rn 520). a~sim no imbroglio dramático, a Pi:::
ci~heu acreditar no~esrna rnan~1rado disfarce entram . sentido. Por todo o desenrolar "·
tro do circulo. ~; corn a ternáuca táculo dado ",az rnu1to calções, por sina
aqui numa rela:uando, após o es':ita reconhe· peça, esses
. 1
,
.
.à
, continuarão
b I d
""
""11-
. 0 e insistente sim o o os múftipfOs
e do teatrodo duque, Sancho a~:ioride e infor- d0 O cunos
no castelo s traços da rca que da . gos e •·<lentidade. As conotações
d . . . do Vefho
cerno intendenQ te ~xote este lhe exp i deduzir JOorne de Tróia não são aqui ms1gnificantes·.
. Dom ui ' deve nara afé m do Trojae /usus romano
ma isso a dos rostos não se essoas; e P . 1 e de even.
semelhança a unidade das p Dulcí- is labirintos defensivos, a p~ avra sugere a
precipitada~et~o antes com relaçã~ aem de- t~a 1 de (e a corte) que é preciso conquistar.
como já havia e~a Sancho de especu ar is há o c ?ª t mbém (mas nada se sabe a respeito e
néia, desacons_el 'd de das pessoas, po l'- Diz-set aa coisa se passa na Europa do Norte) ' '
masia sobre a ident.', ~ labirintos bem compd~ de res o,entro . b d d
perigo de se mete~ e valeiro admite que tu q ue no c do TroJa urgo . e pe ras o prê.
cados" (li, 44). ca mas prefere não se mio par . a O percurso . podia ser h ) d mulher. la
uma
isso pode suscitar questões, Não nega a exis- VIGIO ._., es sueno (A vida é sonI od e Calderón
r"onamento.
aventurar no ~~es t nosso mundo, mas, por (l 631 _35) é o melhor ex_emp o ess~ tr~vessía
téncia do labmnto em ções para não das aparências que devena nos conscientizar de
a suas precau
isso mesmo, to~ e a literatura barroca O mundo não passa de um teatro de sorn.
entrar n~le. Ironia à partã~ semcomplacência, que bras. ÜJ. ogo de reflexos entre reaJ'd d .
I a e e ilusão
segue a hção: ele evoca, n essa em conjurá-lo. no qual estamos encerrad os com s·1g1smundo .
5
o la~irinto, m~ logo ; a~r do tema do thea- tem sido freqüentemente comparado a um labi-
E sabida a tmportanc; át'ca do século rinto. Mas aí, mais uma vez, a estrutura global
trum mu11di na produção ram 1
de ouro espanhol: nele o mundo se r~ve!a c~?1.º não se tematiza diretamente na imagem do la-
não passando de um teatro_ de apare~c1as m- birinto. Apenas se acha presente de maneira
gido por Deus, única reahdade. Ahás, é por secundária, fazendo fundo para as metamorfo-
tratar-se apenas de urna imagem do mundo, ses de Sigismundo e de Rosaura. Esta, quando
urna ilusão, que o teatro se mostra ~ap~ de começa a história, acha-se perdida num " labi-
fazer ver O caráter quimérico e trans1tóno de rinto confuso" de rochedos, e, ao cabo de mui-
nosso mundo. Esse tema, entretanto, não puxa tos disfarces, vai descobrir-se numa torre cer-
Jogo de salda o tema do labirinto; f3:2 isso
cada por montanhas da Corte da Polônia. Ao
indiretamente, em geral através do motivo do
disfarce. Encontramos, por sinal, o primeiro explicar a Clotaldo que seu traje é um "enig-
exemplo no próprio Cervantes, numa das co- ma", que esse traje não pertence a quem ele
médias publicadas em 1615 (na coletânea Ocho parece pertencer, que ela própria não é o que
comedias y ocho e111remeses nuevos [Oito co- parece etc., Clotaldo se pergunta: "Que labirin-
médias e oito intermédios novosJ) :E/ laherinto to mais confuso é este, em que a razão não
de amor (O labirinto de amor). O "cego labi- consegue encontrar o fio?" (975-978). Meio
rinto" em que mergulhamos com os persona- homem, meio mulher, Rosaura terá que sedes-
&en_s é 89Uele do amor e das espantosas trocas vencilhar de suas máscaras e encontrar sua
~ 1dent1dades a que ele nos arrasta (duques verdade. Se examinannos ainda outros belos
disfarçados como camponeses, princesas como exemplos de "teatro dentro do teatro" - Le
PIStoras...) antes que cada um encontre
verdade final sua due commedie in commedia (As duas comédias
sua luz. Em e que o mundo seja restitufdo à na comédia) de Gian Battista Andreini, a Illu-
Elvergonzosoe,, Palacio(Otún 'd sion comique de Comeille ou Le Véritable
: : : ; 1624), de Tirso de Molina, quaa:d:
~aint Genes, de Rotrou - v~remos que nelesª
CC>nfilalo de roupas trocadas que ani- •magem do labirinto não se acha presente. A
atticulação estrutural dos enredos não a suscita.
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0 de i\1i111l11,•",
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ocorrencias reagru a umer~t1vo. Mas essas
levam a diversos centros, ou seja às · de urn certo n. P m-se facilmente em tomo
quetes
on possíveis8) daA graça (J. . . Koch ,' l7q4u2atro
ou o " Iab'irmtisrno"
. umeroc de.temas
. , ou topoi, de que
f, Wagner, 175 . o permitir uma apreensão
A, As súbitas expansã~nst!tui a dimensão comum.
bal da figura tanto quanto uma apreen ã rlntica nas im e enfase da dimensão labi-
lo
grogress1~a· d o texto' o lab" tnnto espiritualsdá desde muito tern agens que a J't
O
• eratura conhecia
P seio assim a uma dupla abordagem do m. é danças na repre!~tcaorrespondem a novas mu-
en ~ à A. • • tst - qu_e o lab·1r1·nto e ~ão do mundo. A tensão
rio. Quanto s exhpe~1cla enc1as criptográficas (es- p rm1t
con ect s d d Prtoridade nos é e ser representada com
tas, 1am bém, es e a Antiguidade) d' , s cu 1os XIX XX
é sobretudo na Espanha e _em Portugal que a~ tante aquela que õ .e ' será dai por
encontramos;~ ponto de ta1~ composições poé- poderíamos talv º~- e_o finito e o infinito. Mas
ticas suscetfver_sdde sherem ltdas de muitas ·m a- três aspectos s ez l~tmguir três momentos ou
d novos temas ucess1vos des~a oposição. Os
neiras ter~tn ~t o ~ ama as de "laberintos" XIX d bque surgem no princípio do século
nesses dois pa1ses, urante o século XVIII N esem ocam antes de m · d
" t ó da" d . a periência romã t·' d . . ais na a, na ex-
leitura re r gra dpo e -se: P~r exemplo, ler que O • ti . n ica os hm1tes. Descobre-se
um soneto começan o pe1ou1timo terceto N ti m mito pode ser também um assustador
leitura "vertical", pode-se ler um sonet~ dª con mam~nt~. Mais do que a questão de ultra-
Gôngora ( o inventor do superlativo •'dedal· -~ passar os hmites, o que é levantado em seguida
mo'' [dedalíss imo]), seguindo duas colunas~:- : : t~rmos de finito e de infinito, é a questão d~
ferentes de palavras. Em ambos os casos O ntido do mundo. Simbolizado até o século
poema se apresenta "normalmente" e a seg:m- XV lJI pelo ~entr? do labirinto e sempre alcan-
da leitura está "criptografada" por trás da pri- ~ável em principio, 0 sentido se toma, no final
0
meira. Mas a e laboração pode ainda se tomar . ~éculo XIX e ainda mais no século XX
mais sistemática. Dispostos sobre um tabuleiro mt~tramente problemático. Para circunscreve;
de damas com 169 casas, as palavras dum texto ma,~ honeStamente essa questão do fim e do
de Luis Nunes Tinoco oferecem, de acordo com sentido, ª li!eratura começa a interrogar-se so-
br~ se~s mews e sobre sua capacidade de curn-
os cálculos do autor, cerca de 15 milhões de pnr tais objetivos. A questão da literatura tor-
possibilidades de leituras. Da combinatória de na:se .ª pnmeira
· · que esta deve formular para si
palavras podemos passar à combinatória de propna.
letras. Da mes ma form a que a inscrição "sancta O primeiro dos ternas do labirintismo ro-
ecclesia" contida no centro do labirinto da Ba- mântico é certamente O castelo. Ele está onipre-
sflica de Orléansville / EI Asnam, que pode ser sente no romance "gótico" que se desenvolve
lida em todas direções, um poeta português na Inglaterra no final do século XVIII e começo
compõe um labirinto alfabético de forma retan- do século XIX, tendo como modelo o Castle of
guiar, em que uma mesma frase repetida em Otranto (Castelo de Otranto, 1764) de Horace
todas as linhas (com uma letra que se desloca Walpole. Encarapitado no alto de uma monta-
decada vez) pode ser lida de infinitas maneiras. nha ou perdido no fundo de uma floresta, o
Um outro (Manuel Ferreira Leonardo) vai mais castelo - ou, mais genericamente falando, a
longe, ao acrescentar a esse tipo de poema arquitetura gótica - revela-se uma armadilha
letrista que se desdobra ad infinitum a fonna de insidiosa. Apesar de ter a entrada livre, a heroi-
uma cruz, retomando com isso o caligrama na descobre que lâ se acha, na realidade, se-
"no estilo alemão". Um texto pode com isso qUestrada. Portas indispensâveis estão barra-
esconder outro - ou uma infinidade de outros. das; outras, ocultas, se abrem. O tirano tem o
Nele o segredo do Verbo acha-se inscrito e nos domínio exclusivo do espaço desorientador que
c.onna o castelo. E faz disso o instrumento de
escapa. JI
seu poder e de suas arbitrariedades. Em The
Mysteries ofUdolpho (Os mistérios de Udolfo)
Com o perfodo romântico, as ocorrências do de Ann Radcliffe (1794), hâ nada menos que
labirinto tomam-se tio freqüentes que já não
quatro castelos. Centenas de romances, não
nos é possível prosseguir na sua descrição ado-
. te'ncia da Sombra; afinna que
~H I , __ r,1r11110 Alema- a e XIS
Luzes, . . conhecida das coisas. · •Sob
há ainda lodo
. na a super~,;~elatente. Ern The /ta/ia~, de A. Raci.
na França, como
1n1crrn, mas re,nálica-
"Pcnns nn lng , plo1·am essa b. ·nto entre-
" . - ex
um n1Ll
1797 ), 0 subterrâneo é p_roJeção sin,bó.
nha. na Russlíl--:nvcstidos pcIo laI ,rie o caste
' l
o cliffe ( negra de Schedoni, o monge n,
to<los ns tc111asd1O castelo é dup o I branco da Jica da ~(ma ue O torna mal-assombrado.~
tanto. aq uclca muitas vezes o caste lehrjahre (os
O
quiavéllco ,n, (O monge, 1796),
Theq•-"onk , Ambr""·V3IO
negro mascar l"'/helm Meisters . ter 1795- do, em I galerias subterraneas da ab,.,..
. · "' Em "'ão de Wilhe
i111c1açno. '" Mets
. 1..... , per-
L tário carre~a pe asdesmaiada (na verdade, sua i""''ª --
anos de fon;:çtorre do castelo d~ a~esslvel a a Jovem ã ) . ·•11q
um ba de tirar da m e , para v1olá-ta-
96). uma vc ·10 estranhamente, in rso ele lá
manece, mui Ide seu percu , d qu~ ele aca ueletos, forçoso é ad mthr . . que "'" el
Wilhehn. Bem no fina brirá os rolos on e meio ª esq. um domínio ilícito. Desse ep~
será intro~uzido e doe:;~s. seus "anos de fo~: e~plor~e:i;ará Julien Gracq que, em Au Chá-
estão inscritos, entre . é íos a que ele é fina d1o s:'Argol (1938), faz chegar Albert ao urn.
maÇão"· Tais.são os m1stmarcam r seu acesso à teaud O
bral apo
sento "iluminado pelo clarão COn-
h " M
mente admiti~~ e qu\illiers de l'Jsle-Ad~m
mestria. Em l~ts, ~e I birinto soberbo CUJOS fuso e vac1·1ante de um are ote d . asbéa traves.
( 1862),opalác1oé um a d ..... sábia". Ao
. d
s1a o su bterrâneo negro. con 1 tam . m à luz.
uz
dem uma or e.. , mundo gótico ma ensaiava seus
meandros escoo b"f"ado com um Quando O
. u . . h
1 · cular mo 11 . · s passos , Nova.11s, em nemr,c von
rimeiro
centro, no sa ão c1r acha-se a misteriosa P
leito em forma de esfinge,
· É por me1
·o dela que o
. O1ir.ter,d"mgen ( J 802)' fazia das com
.. do encontro . 0
marquesa Fahnana. á conheci- · · 0 e da descida ao dédalo galenas"
. Wilhelm de Anthas entrever O . rnmeir d ..
Jovem d astelo gótico, o um momento capital da aventura e Hemnch.
mento vivo, Para além o c . ·1 de A busca do metal no interior da te~-~ãe é de
alácio de Corleone, em L 'Homme q~1 r, Em
~ictor Hugo (1869) é um labirinto feérico, mas certo modo aquela do ouro dos alqu1m1stas. . d
também enganador. Pois, à parte a tran~gressão Die Bergwerke zu Falun (As mmas e Falun,
de que cogitou por um momento, Jos1ane ~ão 1819), E.T.A. Hoffinann utiliza'. ~or sinal, um
mais prestará nenhuma atenção a Gwynplame. simbolismo parecido. Mas o labmnto subterrâ-
É preciso passar pelo negrume, para chegar à neo assum irá ainda em nossos dias múltiplas
luz. "No flanco de um abismo, construído em formas, quer seja ele artificial ( esgotos, cata-
pedra filosofal, descortina-se o castelo estrela- cumbas, túneis, galerias cavadas pelas toupei-
do", escreverá ainda A. Breton em L 'Amour ras, galerias do metrô ...), quer seja natural (gru-
/ou (0 amor enlouquecido, 1937). tas, cavernas, búzios, intestinos ...). Victor
Entretanto, talvez mais ainda que no castelo, HugQ, com os esgotos de Paris em Les Miséra-
é no subterrâneo, seu prolongamento, que o bles (l 862) e a gruta marinha em Travailleurs
labirinto encontra melhores condições para rea- de la mer (1 866), iria fornecer dois grandiosos
lizar-se. À diferença do castelo propriamente exemplos.
dito, o subterrâneo é, sem dúvida, uma passa-
gem do mundo inferior, um caminho de som- Até o século XIX, o sonho é antes de mais
bra. "Sob a terra, todo caminho é tortuoso", diz nada um artificio de apresentação retórica. Ele
Bacbelard. O subterrâneo do romance gótico permite entrar num outro espaço que escapa ao
exprime tudo o que há de oculto, de recalcado principio de realidade. A visão é o pretexto
sob~ castel~, ou sob a abadia Ele metaforiza c~nven_cionado para toda espécie de quadros
0
espl~to cavdos~ e as sombrias maquinações do sunbóhcos e de discursos conjeturais, não é a
Mahgno. Sua hgaçlo com o tema do lab' . t evocação das impressões do sonho de alguém.
é · fn · 1nn o
IDIIS tuna queaquela da gruta ou da Quando se começa a sonhar na literatura e a
na, · a.._.._ caver-
:.és
. pois O SUuw.mmeo é uma CODstruçlo art.ti
ve~ até artificiosa. Ele abre para si ~~
.& - - ~ no •mJ>:Cnetrável e explora o proibid
querer (o que nem sempre acontece) evocar 0
espaço onírico, não tarda que apareça a imagem
~u, pelo menos, a experiência do labirinto. A
._....,a ~ ato daqu 1 "' 0·
riatoc1e,;;;;.: e e _mtenninável labi- ~ratura gótica ou fantástica irá dar, af tam·
Olrtnto, Wa1po:~,terpente1asob ocastelo de • exemplos bem precoces. Em The Roman-
nna, em pleno Sdculo das ce 0/the Forest (O romance da floresta, 1791)
de Ann Radclitre, a herofna tem um pesadelo
rrt·nll,nitorl'-' em que ela se ,·~ e"tra ·' •, .tada
Lahirinlo / 5<,9
_. ,,ens sinuos.'.lS da abadia. 'ªºti""~ d nas Nerval ( l S65) rctên d
"~'· 1 =-
• .,_.uír enl'0nrrar uma porta. De um
;::. seu!) o se •n
t
.:l'tl~"= . mod o sensação de es~ranh l o labirinto sobretudo a
. ,,erJI. ern O m,1nusl.nfo Ok,>ntr ., O recurso à . , amemo mágico. '
[11.il' = ) 1S 1 - d ttuo em - imagem d 1 ..
'· .1_i::,,~;1. I SL_~-. ::,} e_ Potock1. .\lfons1 çoes de cidade é o abmnto nas descri-
· , • lf de tl,do:- O.:, seu:- e.:, torços. , e-se l. textos modernos um p d
chavão tnuno · comum 1105
J~:-· b setnpre
11,' n16·
m0 lu~ar· "º '-' pat1bulc, dos · _
1rn1aos
clusão de que . o e-se mesmo chcoar à con-
º
" ou°'' -
alber~ue da \ enta Qtt"'m da. o ci.düde passot, .aco111 a revo 1ução .industrial .,
Z o t~· - _ . . a ser o 1 1 ,'
,r 110 íl'1m1.11~e. nao pro, em de unla mente ocorre a . , oc_a onde mais comu-
r,'I t ·
T d man,- dora, ame ela a expenencm do labirinto e que
. _ ,. io t,n1tal o sobrenatural n1as d
1.:-~11
• ~·
-,ntJillinaçào do espaço real pelo espaço .
• e uma tempo coube ssun1e , fl opa, pc, 1que durame muno
.. , · d 0111- volta de 18,o a oresta. Na literatura, é por
. _,· andar sem sair. _ o lugar
r.ll - · o retorno o bses- - que as grand ·d
vem substituir a . es c, ades européias
.,i, 0 ac mesmo. ";\,10, contentes . com son 11ar
cos como cená/qutt~turas e subten·âneos gótí-
r'-'m.intiCl~s e pos-romant1cos cultivam O sonho: Tal como nos o t~s e tnstrumentos da aventura.
Em Cor1tr?Ss1011s of ~'! English Opium-Earer enxertado . u ros casos em que o labirinto é
confissões dt> um op1om~no. 1822). de Th. de ·
ficação . ,em. 1maoens
~
.
que antes tmham s1.oni-
Quince~. as 1~1agens da\ tia-labirinto desfilam . ptopna. o efeito do enxerto é dar a1~nda
maior <amb igu, .. ·dade a esse labirinto. Sem ' duvi-
.:om um mo, 1mento lento e unifonne. sem cor da, e le serve par e: · .
alguma. nu~a atmosfera de irrealidade em que ª en iattzar as d1ficu Idades do
todos os nndos parecem abafados. Cada gesto percurso urbano: vemos, por exemplo, o opiô-
p.lfeçe fadado à repetição. e a busca de A;n se mano entrar subitamente ··nos labirintos de
confunde com a abordagem interminável do rue!a_s, nos enigmas de becos sem saída''. o
labirinto é evocado em todos os extravíos: "Ao
inacessível ou da mone. "Num sonho. Baude-
"?ltar. perdi-me nesse prodigioso labirinto da
laire se ,e numa imensa "torre-labirinto'· cidade com um milhão e meio de almas" ob-
autêntica Babel carcomida por uma lepra se~ serva M ichelet em seu Journa/ ( 1834), ao ~es-
ereta e a ponto de desmoronar. mas da qual mo tempo que permite trazer à luz o caminho
ele não consegue sair (Pléiade, p. 3 17). Em que leva, passando pela cidade, da ignorância
seus Paradis art{ficiels (paraísos artificiais) ao autoconhecimento, do anonimato à identida-
t 1860). uma mulher conta como, sob efeito de. O desconhecido. que desde a primeira frase
do haxixe. ela se imagina encerrada por trás dos Mysteres de Paris ( 1842-44) envereda pelo
das grades de "uma gaiola suntuosa·· que se ··dédalo de ruas obscuras, estreitas, tortuosas",
abre por todos os lados para o espaço (Pléia- no final retoma seu nome e seus títulos. Oliver
de, p.368). De Musset a Tom Wolfe, passando Twist. filho de pai desconhecido e de mãe anô-
por Daumal ou Michaux, a experiência da nima, numa cidade não nomeada, parte para
droga vai desembocar, aliás, regular e infali- Londres no dia de seu nono aniversário. Assim
velmente. naquela do labirinto. Numa e nou- fazendo, entra num espaço ao mesmo tempo
tra estão inscritos o desejo e as dificuldades muito realista e muito simbólico, em que, de-
de um conhec imento de outro tipo. Mas o pois de muitas mortes-renascimentos, reencon-
simples sonho romântico levava já, muitas tra sua família e sua identidade (Dickens, 1837-
38). Em The Picture ofDorian Gray (O retrato
vez.es, a percursos iniciáticos com componen-
de Dorian Gray), de Oscar Wilde (1890), o
tes labirínticas. Assim é que o primeiro capítulo mergulho de Dorian no labirinto dos submun-
de Heinrich von Otferdingen conta um sonho dos de Londres é um meio de descobrir sua
em que Heinrich transpõe mares, atravessa uma verdadeira natureza e também a afinnação de
flon:sta, penetra numa montanha por uma gale- que a beleza se situa para além do bem e do mal,
ria e chega a uma gruta onde revê a flor azul (ª e até se for necessário chegar a tanto, na ver-
que se segue, no livro, toda uma de~es~ dos dade' da morte. Todas as cidades, grandes e
sonhos, a qual convence o pai de Hemnch a menos grandes, pennitem entrever, por trás de
contar, por sua vez, um sonho em tudo e por labirinto ideal. Uma delas,
seu rosto de pedra•O k'
~ comparável ao do filho). Da mesma ma- t de Beckford a Byron, de Rus m a
~ os sonhos de Die Junger von Sais (Os ::::~, º~sa, mais que qualquer outra, o labi-
discípub de Sais. 1797-98) ou de Aurélia, de
~~2!70~/!;L!_!•b~ir~in~t!º-----------------------~--~-
em presença de labirintos multiformes.
rinto como fom,a de representação: é Ven:za, Vc au Centre de la Terre ( l 864) é le
0
a cidade que se duplica. Arquitetura refleuda, ?'ªgfe·o ao fim um labirinto subterrâneo~~
pnnc pi ' ,--q..
cosmo edificado sobre o caos, imobilidade na cida diflcil mas venturosa, entranhamento C\J.
movimentação, pais de máscaras e de meta- fórico no corpo elementar do mundo. Etn Le
morfoses de luz e de morte, labirinto por fim Chateau des Carpathes (1892), o herói, dePois
adivinhado que permite passar um momento de haver atravessado o caos da~ rochas, chc
para o outro lado da água. Continuaremos a •·cuJ· 0 plano geométrico oferecia ga
ao castel0 . urn
encontrá-la, à medida que formos avançando sistema tão comphcado quanto aqueles dos la.
no texto. .. tos de p 0 rsena, de .Lemnos .ou de Creta••,
btnn
Toda viagem pode comportar, de um ~o- 1
eo t da a história lhe ensma, por sma,..a deQ,,-.
__,
mento para outro, uma passagem Iabirínt1c~: fiar das ilusões. Por pouco que pnv1legiãsse.
arquitetura que desorienta, cidade desconheci- s os romances de aventuras, não terlarnos
mO . d
da, paisagem que confunde... E pode també~, dificuldade em continuar passan ? e~ revista
enquanto percurso, ser comparada ou associa- tema indefinidamente; quer a h1stórta trans-
0
da como um todo a um labirinto. Com o ro- corra no que possa haver de mais misterioso na
m~ntismo, multipdcam-se os relatos de vi age~
'l dos quais certos momentos mais fortes s_ão v_1-
vidos como abordagens labirínticas do mistério
Africa - na floresta de She, de H.R. Haggard
( 1-887), naquela de Hearl o/Darkness (Coração
das trevas), de J. Conrad, 1902, ou nas galerias
do mundo. Em Voyage en Orient (Viagem ao subterrâneas de King Solomon sMines (As mi-
Oriente) de Lamartine (1835), Balbek, Damas- nas do Rei Salomão), de H.R. Haggard, 1885
co, Constantinopla sugerem, cada uma por uma _ ou nas galerias da Atlântida, quer a aventura
razão particular, a metáfora do labirint_o. No
surja alucinada, inaudita, no desvio do labirinto
relato de Nerval ( 1848-5 1), a visita ao Cairo (II,
de Hampton Court (Three menina boat [Três
131) é um entranhamento sistemático no déda-
homens num barco], de J.K. Jerome, 1889).
lo e no tumulto, como para confundir-se com o
Na " invenção" da narrativa policial por
caos e a deterioração da cidade. Encarada em
seu conjunto, a viagem romântica ao Oriente é, E.A. Poe, em 1842, vemos o sinal de um deslo-
por sinal, ao mesmo tempo uma busca da outra camento da imagem do labirinto, da aventura
cultura e um remontar à origem dos mistérios. existencial dos limites, para aquela, mais inte-
Em The Narrative o/ Arthur Gordon Pym (As lectual, do conhecimento. O enigma no qual o
aventuras de Arthur Gordon Pym, l 83 7), a criminoso encerra os personagens e o detetive
poética da viagem pelo mar e aquela da traves- do relato é, com efeito, uma aporia exasperante,
sia clandestina dos porões labirínticos do navio um labirinto lógico: "Ele tinha a impressão de
estão sobredetenninadas pelo magnetismo do seguir um labirinto onde os mesmos obstáculos
pólo sul. O narrador e seu companheiro lá de- eram representados a cada virada do percurso",
saparecerão (e sua narração cessará) ante a vi- escreve S.A. Steeman (L 'Assassin habite au 21,
são de uma figura imensa, com a brancura 1939). Os cenârios privilegiados do romance
perfeita da neve, que atravessa o seu caminho. policial clássico, a cidade e suas ruelas, a man-
Eles tinham acabado de explorar abismos si- são senhorial e suas dependências, todos os
nuosos cujo desenho hieroglífico constituia recintos fechados e bizarros trazem à lembran·
uma mensagem em escrita etiope (completada ça labirintos e são metáforas espaciais do enig·
por palavras em árabe e em egípcio gravadas ma. Mas, para malicioso, malicioso e meio. Ao
diretamente na pedra). Através desses abismos labirinto do criminoso, o detetive respon~rá
de granito negro, esses "abismos alfabéticos" elaborando sistematicamente o labirinto do tn·
- como diz Baudelaire - , eles se aproxima- qu6rito: "Foi o que você me deu para ~-a li~
vam, talvez, da fonte branca dos signos. É ( ...). Uma pista árdua em forma de labmnto •
sabido que Júlio Veme em Le Sphinx des Gla- resume Ellery Queen em Ten Day ~ ~0~ '
ca( 1897)e H.P.Lovecraft em At the mountains ( 1948). Para reconstituir o labirinto por mt~ro,
o/madna1 (1931) retomam o tema desse ro- era-lhe necessério seguir essa pista até O un,
mance de Poe. Mais do que outras, as viagens ou, digamos, para reconhecer o labirinto.ti:.
eKINOrdtn6rilldeVemettrnocasilodenospõr lhe necess6rio segurar um fio e não so • ·
Labirinto / 5'71
NA cidndt· a~ • .,c111 1 e _gcor_nétrica, 110 topo da çoando cad . ara. se proteger, vai aperfei-
. ...,.,.,uill au11H111s1ra11va.
,, mstaln-sc O .sCllR(1or ram ifica oeª vez ma,s uma toca com múltiplas
111c.., -. .
Apolo Apolonov11c 1ld, ~entr~1 único do univcr- "castelo\> s. ,~em ~erto do centro, em seu
rcal tanto quanto o 1rnngmário" No A visões (ai rte , empilhou uma porção de pro-
~o • 1 Ih " . nmago
"''"
l•~
sua forta c7a,do vc o n..o pára . de lcgislar, d e postas e gu_mas, por precauçao, estando dis-
clAt,orar uma rc e caca 1 vez mais densa de tex- tro do d~ d1~ersos centros secundários). Den-
105 rcgulamcntare~. dcomo um labirinto defensi- ran d spos1t1vo que construiu goza da segu-
vo que o protcgen~ o ~u~do à s ua volta. Mas ça e um castelo, mas uma inquietação se
suas rcgulam entaç esds ? ineficazes, suas cir- ereta não tardª 8 apoderar-se dele É que onde•
culares vãs. 0 centro o unpério já não cxe quer .que se encontre nessa toca, · escuta
' ou
comando sobr~ nada. O ediffcio está com rac~:~ apcred1t~ escutar, um " imperceptfvel assobio"
duras: o própno ~enador _sofre de irrupções não or. mais que cont·mue cavando sempre mais e·
controladas do mconsc,ente. A obsessão d mais, o ruido se enfia com ele i~exorável para
"brecha'_' está presente cm toda parte, pela qua~ dentro
. . dª terra; aonde quer ' que vá, o 'ruido
se anuncia a grande A meaça. Visado pela bom- inquietante - cada vez mais inquietante -
ba que seu filho preparou, com a esquizofrenia segue atrás. Haverá para ele uma possibilidade
no seu encalço, o velho rabugento de repente se de escapar? A narrativa, de modo evidente, dá
vê refletido nos es~el_h~s do salão Tsukatov, poucas esperanças. Vejamos, entretanto, a porta
disperso numa. mult1pltc1dade de imagens de SI· de entrada (muito pouco usual) da toca. O sis-
l tema de galerias que a ela conduz e que é de
próprio. O ret nu exp ode numa mirfade de
reflexos, rompe-se a centralização aprisionado- cons~rução mais antiga chama-se justamente o
ra; mas as porta~ dos espelhos abrem para 0 ''.labirinto". Embora o considere já agora insa-
quê? Nas narrativas de Kafka a natureza do tisfatório, o animal provavelmente não mexerá
centro é conjetural, sendo seu acesso geralmen- ~.e~e, deixando-o tal como está, porque, diz ele,
te impossfvel. O personagem kafkiano _ é s_mt~ ~ma fraqueza por essa minha obra de
sabido - empurra portas, atravessa corredores prmc1p1ante". Os comentadores autorizados
vale-se de intermed iários, mas jamais alcanç~ v_êem nesse labirinto um sim bolo da obra ante-
seus objetivos. Por mais que recomece as mes- rior de Kafka. Observam que, não obstante essa
mas iniciativas, é trazido de volta ao ponto de porta do labirinto-toca ser curiosamente cha-
~a~a de ''salda", o labirinto nem por isso cons-
partida e não consegue ir além do umbral. O que
existe al~m desse umbral é algo que ele só ~:tu I urna possibilidade de escapar à maldição:
(essa) salda, de qualquer modo, é incapaz de
conhece por ouvir dizer. e o único contato que
me salva~; é mais provável que signifique mi-
tm com tal realidade. ou com tal verdade, será
nha perd1_ção; ~as é sempre uma esperança e
muito indireto. Não conhecerá a lei, mas tão
não consigo viver sem ela". De modo que o
somente a história do g uardião da lei. O que
lab~rinto, menos que um espaço a explorar,
acontece ao personagem prefigura o que acon-
sena o que cavamos ou construimos com a
tece ao leitor: da mesma fonna que não existe
nos~a "fro~te", como faz o animal. A obra pode
outra verdade a não ser aquela - relativa e
ser msufic1ente, e mesmo aperfeiçoando-a ad
llipcatica - contida na história do guardião, infinitum, nela encerramos conosco o "asso-
tamMm o sentido da narrativa não se há de bio". Assim como está, entretanto. ajuda-nos a
encontrar fora do texto da narrativa, ainda que viver. A literatura como labirinto: construção
16.jlllflmente, ele nos escape a todo instante. A vã e insensata, mas, possivelmente, vital.
llltndadopersonagem induze dá a reconhecer
Antes mesmo dos textos de Biely e de Kaftc.a
0 _ . , nlo decisório do sentido. Tal é a
se poderia dizer que os relatos fantásticos do
~ fundamental do labirinto em Kaf- século XIX eram estruturados como labirintos.
~ ' te examinannos o uso muito in- em que um centro pouco digno de confiança.
- . que Kafka faz do tenno num texto ou francamente atannante, punha em questlo a
.. tardio, como Der Bau (A toca),
:IIIW.....otNvefn...,.•-te
imagem e o sentido ordin6rios do mundo. Des-
""' uma utilizaçlo sensivelmente di- de os romances góticos, ad aqueles da coleçlo
dade 4a ilnlaem, O narrador-animal 6 na ver- "Angoisse", numerosos seriam os exemplos de
...,_,. c:ompanvel ao senador Apolo
!~-:!4~ui~b:!!in:!!'ª:,!:'º:!...,_ ____ _______ ____________-..,
""
. do labirinto1 1')M J, cvm<, nc, rornan,-.
espaços fantásticos separados do resto do mun- noite
. 1 LaGuín lhe ' ,7r,m,ir,
f f"ntuan(Ostú""de
do e fortemente centraljz.ados em tomo da ma- ~s~= Atuan. 1971 J, <J labirinto {dédaJolllu,
ni fesração anonnal. Certos textos desenvol\ em pequenos entulho • no prm c1ro c;a.~; su ~
muito ex-plicitamente. a partir daí. a temática do neo imemorial, no r;c~undoJ é cenánodccuttos
labirinto. Assim. por exemplo. na novela de
M. R. James . .\Ir Humphreys and lus lnherican- assusta.dores e rn istcnos.o l ma outra • Verti~ ..
'4Cll!C
ndo pode ser entrevi- la no 1
ab,rinto (
ce (Mr. Humphre)s e sua herança 191 l). Hum- d om U ~
1 l 11
1
, 1111 lt1 , 1
,f, '""''' 1,l rr 1..-ri , , r mo de espelhos qUc f. tons.
8
' ' fllllfltfr, a tr,11,I 'J;1 r/' ,, , ::il n::i v crg.énc: a de suas facetas_~ 911fgii
vedadlem1rritw a ,:im111h,, i rr fil1 rn-1 Já n!iu c,,,ou apenas a imagem do lab~lato
ra ,, r;ir,, 'rit, ,, reproduz- he também a estrutura, aspira finto,
'vei•da!llelr lah rrnr,, p 111tr1,d1Jl'td<1 m,w iJ íntima experiência do mesmo. En~
'1 r I< r~r it ,,mát1c ;ide r,IJOJ'm na cm do labmntos da CSCtita. Os
/alyrrnth, ,,11 f,, /rirdm rf,, ,",,r Arthur, O labmnto torna-se entAo u~a das lllctâfo.
( '14f) o labmnto de vcgct;içllo,
r ra'.» mais exploradas da experiência litCfát·
""'"N1w1:.n, pe o m ~nata é um cq111v11fcntc e tsta, o mais das vezes. tende a se fazer ex ta.
bramenr,, do e f):t-yo fanta\magónu, rrénc1a do labirinto por diversos meios, :
d rr la a 11~ã" No f mal da h1i;1ória, primeiro lugar com relação à linguagem. Assi
1, 0 Aquele que 1,anglo1s rnand~ é que Beckett escreve longos textos em que 111 se
m Un /(fjt on fJ,v, rtmvment (IJm ret ouve a voz de personagens monologando no
rt mente } de <, ,ono ( 194 7 ), vem a ~er que poderia parecer um não findar de divaga.
0 3 marc.a pc oal a marca que ele deixa ções senis. Em Molloy (1948), numerosas Slo
a 1 ~ anl de e tourar os miolos. Em as cenas de errância que retomam ao espfritodt
( 1947} de L P G111gues, a imagem
,-111 ,1u
Molloy. depois de Moran. e o conjunto de suas
111 zada no contexto da dc'>coberta da mu- vidas desenrola-se como o lamentável vap
h e da cxpcnénc,a do cósmico, para uma sem rumo de vagabundos hemiplégicos. As
m o ação i<>brc o segredo do desejo. O caça- migalhas de infonnações que nos chegam por
q de l'ort Douphmer, de M. Carrouges meio de digressões ociosas, associações incon-
( 19 4) faz passar o narrador a uma outra dimen-
seqüentes, repetições, constituem tambffl) aseu
lo em que se m, turam singulannente visões
modo, para o leitor, um labirinto. A experi!n-
nr 1,-dom e segredos da Antiguidade para
cia, entretanto, não é comparada àquela do la-
,oru,r IOb a ~g,de do labirinto. "o caminho birinto porque não estamos numa narrativa em
Jonpmente deteJldo" O mais representa-
que o nfvel de consciência dos protagonistas
1,v romance do lab1rmto seria talvez
e lll11 de L Dun-ell (194 7), em que uma agên- permita a aparição da metâfora. Estamos
• de v1agen oferece, além da travessia a aquém de uma imagem tão construida e cultu-
v,
Creu. uma na • e.vema de CefaJu, o labi-
nnro do mito, • crer no que diz a agência.
ral. Estamos diante de um falar desorientado e
divagante. Não h6 razão para que ela encClllff
Ourante es,a v1 ,ta um •fundamento do terreno um centro. nem sequer - diga-se de passagem
dt u - um fim. Estamos dentro dela da mesma
aete tun1ta lffll guia na obscuridade
da, plería Cada um senl posro a prova e terá maneira que estamos dentro da linguagem e
um dellano que COffelponde • sua naturei.a dentro do mundo, que slo ao mesmo tempo
profunde Mu esse rotem, imciático compla- finitos e infinitos. A situaçlo nlo cbogl 1 •
Clfttanentt encenado I rtmbffll um jogo sobre identica, entretanto, pois a fala • 1mauaa-
-C
0pnla º.....,•
o 41" de taro ICOnloceu miataaogia de Ho- acionada por um locutor e vai ai se
ou míatiftcaçaoc1e Axelos cendo e se extenuando à medida quo Oele fala
..._•Ilha? o romanc,111 Duneu fJOliciO: se atrofia e se esaota, Pcrim, enquanto •
..... • •Jaum ponto tllCrl OI dois. Em 71w estamos com ole. vivos. BapllllllOI
4 C:..,
" ' - ' " Qa.w (O qua,teco de Alexandria, ,-Jor,nanc, dtn um pouco, gols• .,
do d6dalo miserbel das palavru. doJllldO
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D.S42 Dicionário de mitos literários / sob a direção do professor Pierre Brunel; tradução
Carlos Sussekiod... [et ai.]; prefácio à edição brasileira Nicolau Sevcenko; [capa e
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Traduçlo de: Dictionnaire des mylhes lmá'ai{CS.
Inclui bibliografia.
1. Mitologia - Dicionérios. 2. Mitolegia na literatura. I. Brunel, Pierre.
97-0155 CDD-398.203
CDU-398.2(038)