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Por que o apoio familiar no processo de assumir a sexualidade é tão

importante?
Por Alessandra Diehl, em abril/2019

“Sair do armário” é uma expressão coloquial que diz respeito a revelar sua própria
orientação sexual, em geral não hetero normativa, para seus familiares, amigos,
parentes, colegas de trabalho, entre outros. Em inglês, o termo comumente
utilizado é “coming out”. Na verdade, sair do armário é um processo. Isso porque
para muitas pessoas pode levar algum tempo para assumir a sexualidade,
enquanto para outras uma vida toda.

Primeiramente, o indivíduo pode demorar para se reconhecer com uma orientação


sexual diferente da grande maioria e tal processo nem sempre é algo simples.
Menos simples ainda pode ser perceber que se identifica como gay ou lésbica e
revelar esse seu desejo aos seus amigos e familiares por medo de rejeição,
incompreensão, de violência (verbal, física, psicológica e simbólica), medo de
serem rotulados, ignorados, postos para fora de casa ou ridicularizados na escola
ou no ambiente de trabalho.

Orientação sexual nada mais é do que a forma ou a direção para onde se dirige o
nosso afeto amoroso, libidinal ou sexual de uma pessoa por outras. Assim sendo,
estamos falando de uma característica que é inerente a todos os seres humanos e
que caminha dentro de um espectro de possibilidades (heterossexualidade,
bissexualidade, homossexualidade e assexualidade). Não é doença, não pega,
não se escolhe, não é “opção” propriamente dita.

Portanto, se estamos falando de amor, de desejo e de prazer, isso não deveria ser
algo tabu, difícil ou doloroso. Os tempos mudaram, é verdade! Porém, estamos
mais tolerantes em algumas questões e menos tolerantes com muitas outras.
Muitas famílias ainda têm muitas dificuldades de apoiar seu filho gay ou sua filha
lésbica. Por outro lado, os filhos gays e as filhas lésbicas ainda têm dificuldades de
conversar com seus pais sobre assumir a sexualidade.
Infelizmente, essa é uma demanda bastante comum dentro dos consultórios
psicológicos e psiquiátricos: a não comunicação entre pais e filhos não héteros
sobre sua orientação sexual e a aceitação/compreensão familiar. Ambas as partes
começam a criar diversas fantasias sobre o assunto, negam inicialmente e alguns
preferem “não olhar” para não ouvir a resposta. Tentam ignorar, escondem e
invisibilizam o filho ou a filha, e vivem em mundos distintos: “o mundo de quem
sabe e o mundo quem não sabe sobre a minha orientação sexual”. Na realidade,
pode ser aterrorizante, frustrante, sufocante ou aprisionador para família e filhos.

Os estudos mostram que assumir a sexualidade e ter o apoio familiar tende a gerar
maior qualidade de vida, maior conforto pessoal, melhora da autoestima, da
sensação de pertencimento, de bem-estar consigo mesmo, aumento da
capacidade de lidar com bullying por aumento da resiliência. Além disso, diminui
chances de sintomas depressivos, reduz sintomas ansiosos e, principalmente, das
temidas tentativas de suicídio e o suicídio de fato.

Por isso, basta de perdermos nossos filhos gays e nossas filhas lésbicas, nossos
amigos bissexuais por suicídio ou por homofobia! Se desejarmos ser uma
sociedade amadurecida, mais igualitária, mais respeitosa e inclusiva, vamos ter
que discutir esses assuntos em casa sim e também em diversos outros espaços.
No último congresso da World Association for Sexual Health (WAS) que fui em
Praga, no ano de 2017, tive a oportunidade de assistir uma palestra de um
terapeuta mexicano que, junto a um grupo de pessoas, desenvolve um trabalho há
mais de 20 anos em educação sexual chamado “El amario abierto”. Entre as
atividades o projeto contempla famílias e seus filhos gays no sentido de fortalecer
este vínculo e empoderar as famílias para que possam olhar para nossos amados
como eles de fato são: filhos/filhas/filhes/filhxs e vidas valiosas que nos importam
muito!

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