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1 Sobre a bibliografia pesqueira no Brasil (1930 a 1980): temas, autores e suas

2 preocupações1
3
4 Dauto J, da Silveira2
5
6 Resumo
7 O presente artigo trata, fundamentalmente, da produção bibliográfica pesqueira brasileira de
8 1930 a 1980. O nosso objetivo é mostrar a formação do pensamento teórico sobre as
9 populações pesqueiras no exato momento de fortalecimento das instituições liberais. Há uma
10 intrínseca relação entre esses dois elementos, não obstante a referida população nunca tenha
11 exercido influência nas Ciências Sociais autênticas. Usamos o método de pesquisa
12 documental, iconográfico e dialético para amarrar as teias que unem esse complexo campo de
13 produção. Chegamos a conclusão que a produção bibliográfica começa com trabalhos no
14 terreno meramente descritivos, especialmente nas revistas de dados geográficos e políticos e,
15 em seguida, os trabalhos se consubstanciam em universidades federais e institutos de
16 pesquisas.
17
18 Palavras-chave: pescador artesanal, pesca, revistas, autores
19
20 Abstract
21 This article deals mainly with Brazilian bibliographic production from 1930 to 1980. Our
22 objective is to show the formation of theoretical thinking about the fishing populations in the
23 moment of strengthening of liberal institutions. There is an intrinsic relationship between
24 these two elements, although the population has never influenced the authentic Social
25 Sciences. We use the method of documentary, iconographic and dialectical research to tie the
26 webs that unite this complex field of production. We have come to the conclusion that
27 bibliographic production begins with purely descriptive field work, especially in geographic
28 and political data magazines, and then the work is incorporated into federal universities and
29 research institutes.
30
31 Key words: artisanal fisherman, fishing, magazines, authors
32
33 Introdução
34 Se é verdade que a força dos trabalhos de Ciências Sociais, no que toca à temática da
35 pesca, dá-se, mormente, no início do século XXI, não é menos verdade que no século anterior
36 esses trabalhos começaram de forma isolada, descrevendo formas empíricas de processos to-

1 Este artigo é parte constitutiva da pesquisa doutoral realizado no ano de 2016 no interior do Programa de
Pós-graduação em Sociologia da Universalidade Federal do Paraná. Essa abordagem faria parte do capítulo
IV da nossa tese, mas por questões metodológicas, ou melhor, de redução sociológica resolvermos separá-lo
do conteúdo do trabalho final. Como se trata de uma temática pouco explorada no terreno dos trabalhos de
pesca artesanal a publicação em forma de artigo se fez necessária.
2 Doutor em Sociologia e Professor da Faculdade Ielusc. Email: dautojs@gmail.com
37 tais da pesca, além de abordagem sobre o modo de vida desses pescadores e depois foram
38 consubstanciando-se em análises dentro de instituições governamentais nascentes, como é o
39 caso do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP) e da Revista Brasileira de Geografia
40 vinculada ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É expressão desses pri-
41 meiros trabalhos o que foi produzido por Henrique Jorge Hurley, em 1933, no IHGP. Trata-se
42 de trabalhos isolados, alheio a um constructo teórico ou a programas de pós-graduação.
43 Não é demais ressaltar que até 1950 os escritos que abordavam o tema, ora em discus-
44 são, apareceram também em livros expressivos sobre a realidade brasileira. Nesse sentido, po-
45 demos destacar três deles, ainda que não fossem livros sobre a pesca artesanal ou o modo de
46 vida dos pescadores mencionavam tal atividade e as algumas contradições em que estavam
47 submetidos. São eles: i) Populações Meridionais do Brasil, de Oliveira Viana, de 1923 e ii)
48 Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire, de 1933 e iii) Sobrados e Mucambos, também de
49 Gilberto Freyre, de 1936. No primeira livro os pescadores aparecem enquanto sujeitos que
50 participaram da vida dos grandes domínios territoriais do Brasil Colônia, ou seja, eram parte
51 constitutiva do que Viana (1920) chamou de “povo-massa”. Não houve por parte do autor ne-
52 nhuma preocupação em abordar as práticas pesqueiras, os hábitos, os costumes, modos de
53 produzir a vida, etc. No entanto, é um registro histórico desses singulares desconhecidos. Já
54 nos livros de Gilberto Freire há mais evidência do papel da pesca na medida em que ele apare-
55 ce enquanto prática dos negros, ou ainda, atividade que sustentava a sua existência. Essa evi-
56 dência é mais forte no segundo livro, especialmente quando ele está a descrever o processo de
57 crescimento das cidades litorâneas e a vida que levavam os pescadores artesanais, contudo o
58 uso dado pelo autor não ultrapassa a fronteira da exposição factual desses sujeitos singulares.
59 Nesse momento não há, o que mais tarde viemos a conhecer na literatura sociológica,
60 arranjos categoriais que demonstrassem a situação social dos pescadores. Há apenas exposi-
61 ções das dificuldades existenciais desses seres singulares. A preocupação teórica, metodológi-
62 ca é tarefa das gerações seguintes, ou seja, na medida em que o trabalho científico no Brasil
63 vai se ossificando, as entranhas das condições existenciais, dos arranjos produtivos e comerci-
64 ais, etc. começam a ganhar contornos reais. É nesse contexto que os pescadores artesanais
65 passam a ser tratados como grupos sociais vulneráveis. Faz todo sentido essa alteração especi-
66 almente se observarmos que o pescado, o seu produto central, entra na rota comercial e indus-
67 trial brasileira a partir da segunda metade do século XX. O controle desse produto, portanto,
68 significava algo estratégico. Ao mesmo tempo as suas baixas condições materiais, somado ao
69 fraco terreno institucional e social, impedia grandes transformações na vida desses seres. So-
70 mente assim podemos tecer novos comentários sobre as pesquisas advinda desse momento.
71
72 Nova produção pesqueira
73 Outra forma de entender a evolução dos trabalhos dos homens do mar é observar os
74 nascentes trabalhos que começaram a pulular nas instituições de pesquisa e ensino do Brasil
75 na segunda metade do século XX. Como forma de ossificar o que estamos a defender é opor-
76 tuno apresentar a classificação que faz Diegues (1999) sobre a abordagem da pesca no interior
77 das Ciências Sociais. No terreno das contribuições individuais podemos dividir os trabalhos
78 em três fases: i) até 1960 de baixa intensidade; ii) entre 1960 e 1980 de intensidade razoável e
79 iii) de 1980 aos dias atuais de intensidade considerável.
80
81 Primeira fase: produção bibliográfica de baixa intensidade (1900 - 1960)
82 Na primeira fase podemos destacar, especialmente:
83 os trabalhos dos antropólogos Pierson e Teixeira (1947), Survey de Icapara, uma
84 Vila de Pescadores do Litoral Sul de São Paulo, e de Gioconda Mussolini, O cêrco
85 da tainha na Ilha de São Sebastião (1945) e O cerco Flutuante: uma rede de pesca ja-
86 ponesa que teve a ilha de São Sebastião como centro de difusão no Brasil (1946),
87 que descreveram o modo de vida e técnicas de pesca utilizadas pelos pescadores-cai-
88 çaras do litoral do Estado de São Paulo (DIEGUES, 1999, p. 363).
89 O fato de serem trabalhos de pesquisadores solitários não diminui o peso e a importân-
90 cia que tiveram, pelo menos é o que podemos observar no texto abaixo:
91 é referência fundamental para os estudos brasileiros sobre pesca, cultura e organiza-
92 ção social de comunidades litorâneas, em geral, e populações caiçaras do litoral de
93 São Paulo, em particular. O subcampo disciplinar da antropologia da pesca tem no
94 nome de Gioconda Mussolini uma espécie de “mãe fundadora”. Suas pesquisas de
95 campo ainda orientam os estudos de muitos pesquisadores contemporâneos (Ciachi,
96 2007, p. 182)
97 Não é demais salientar que temos em Mussolini uma concreta contribuição teórica,
98 metodológica e epistemológica. A sua produção está diretamente ligada aos “aspectos da cul-
99 tura e da organização social dos pescadores e das populações caiçaras do litoral norte de São
100 Paulo, e há alguns textos que, mais indiretamente, se referem à mesma região, embora não
101 abordem expressamente ou exclusivamente o trabalho da pesca”, conforme nos esclarece Cia-
102 chi (2007, p. 183). A sua importância é inversamente proporcional ao desconhecimento que
103 impera nos trabalhos de pós-graduação das Ciências Sociais do mar. É raro observar pesquisas
104 que se preocupem com o que foi dito pela autora há cinquenta anos atrás.
105 É mister comentar que é nesta primeira fase que há as contribuições de geógrafos hu-
106 manos, que ao longo das suas preocupações, descreviam os variados aspectos da distribuição
107 e formas de vida dos pescadores entre o sudeste e o sul do país. Diegues (1999, p. 363) subli-
108 nha o trabalho “Agricultores e Pescadores Portugueses na Cidade do Rio de Janeiro” de Brito
109 Soeiro, de 1960, na sua analise sobre a “introdução da pesca de linha de fundo com caíques,
110 introduzida pelos pescadores portugueses provenientes da Póvoa do Varzim”, como uma mar-
111 ca desta fase. É expressão desta primeira fase de trabalho estudo sistemático sobre a pesca da
112 jangada no Nordeste e as comunidades de jangadeiros, do folclorista Luís da Câmara Cascu-
113 do, em Jangadeiros, de 1957. Ainda podemos falar do livro, de 1946, Contos Tradicionais do
114 Brasil, em que o autor comenta sobre os vida dos pescadores artesanais. Nos contos: O marido
115 da mãe-d'água; A aranaha-caranguejeira e o Quibungo; Vivo Deus e ninguém mais; Feleicida-
116 de e Sorte e Toca por pauta, Cascudo (1946) descreve o modo e as histórias envolvendo a pes-
117 ca e os pescadores nordestinos.
118
119 Segunda fase: produção bibliográfica de intensidade razoável (1960 e 1980)
120 Na fase que estamos a classificar como de intensidade razoável, os trabalhos começam
121 a ser revestidos de uma carga mais aguda de cientificidade. A atividade pesqueira e os desar-
122 ranjos comunitários e pesqueiros são tratados dentro da lógica da sociabilidade capitalista e os
123 conflitos entre pesca e artesanal e empresarial passam a ser reconhecidos pelo mundo dos pes-
124 quisadores. Como marca desta fase temos o trabalho do sociólogo Fernando Mourão, de 1971,
125 “Pescadores do Litoral Sul do Estado de São Paulo”. Outro trabalho que faz parte deste perío-
126 do é o de Antonio Carlos Diegues, “Pesca e Marginalização no Litoral Paulista”, de 19733.
127
128 Terceira fase: produção bibliográfica de intensidade alta (1980 – aos dias atuais)
129 Por fim, na fase de intensidade considerável os trabalhos começam a ser mais comple-
130 xos e com uma preocupação metodológica mais marcante. O Instituto Nacional de Pesquisas
131 da Amazônia foi fundado em 1952, mas em 1976 é fundado o Programa de Pós-Graduação
132 em Biologia de Água Doce e Pesca Interior (PPG BADPI), com o curso de Mestrado e em
133 1984 instituiu o curso de Doutorado. Já havia por parte deste programa uma preocupação com
134 o que acontecia acerca das pescas realizadas no interior das águas do Estado amazônico. Nes-
135 te período surgem, também, outros institutos que discorrem sobre a pesca, ainda que não se-
136 jam centros de pesquisa sobre tal atividade pesqueira tradicional. São pesquisas voltadas ao
137 mundo da arqueologia e a pesca aparece enquanto atividade jungida às práticas sambaquianas.

3 O leitor poderá encontrar mais referência alusiva a este período no trabalho de Diegues (1999) A sócio-
antropologia das comunidades de pescadores marítimos no Brasil.
138 Dentro desta conjuntura podemos destacar o Instituto de Arqueologia do Brasil 4, fundado em
139 1961 e o Instituto Superior de Cultura Brasileira.
140 À luz dos antagonismos sociais, cada vez mais dramáticos dos anos de 1980, desta-
141 cam-se trabalhos cujos horizontes são as mudanças sociais produzidos por tais processos. São
142 notáveis os trabalhos de sociólogos como Mourão ( que já começara em 1967 e 1971) e Die-
143 gues (1983). Ou ainda os trabalhos sob o guarda-chuva institucional do Museu Emílio Goeldi5
144 do norte do país. É preciso destacar a fundação de algumas instituições de pesquisa que paula-
145 tinamente vão criando Centros de Pesquisas sobre a cultura marítima e enriquecendo os traba-
146 lhos científicos sobre pesca artesanal. Podemos evidenciar o Programa de Pós-Graduação em
147 Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janei-
148 ro6, criado em 1968. Os trabalhos advindos do Centro de Estudos Marítimos 7 da Universidade
149 de São Paulo engrossam os trabalhos sobre a pesca artesanal. Já nos anos de 1980 os impor-
150 tantes Encontros de Ciências Sociais e o Mar8 produziram duas coletâneas de trabalhos que
151 marcaram aquela década. Os trabalhos foram realizados pela Comissão Interministerial para
152 os Recursos do Mar (CIRM) por intermédio de sua Secretaria e coordenado pelo professor
153 Antônio Carlos Diegues, na época secretário do Meio Ambiente de São Paulo, que promoveu
154 o Seminário: Ciências Sociais e o Mar no Brasil, com o objetivo de reunir pela primeira vez
155 pesquisadores de Ciências Sociais que trabalhavam em pesquisa e/ou ensino na área das rela-
156 ções entre o homem e os ecossistemas. O segundo Encontro de Ciências Sociais, realizado em
157 julho de 1988 teve como tema as Ciências Sociais e o Mar no Brasil. Foram 22 trabalhos de
4 O IAB é “uma instituição particular de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos (ONG), que tem por
missão dedicação integral à Pesquisa, Ensino e Divulgação da Arqueologia Brasileira”, conforme menciona
a própria instituição. Para mais informações consulte o site: http://www.arqueologia-iab.com.br/page/quem-
somos Acesso em: 29/10/2016.
5 A instalação do Museu Paraense Emilio Goeldi, é importante para a produção científica do norte do país.
Inaugurado em 1871, como Museu do Pará e em 1900, com o atual nome, o museu se tornou um centro de
pesquisa sobre a pesca em meados do século XX. Segundo Considera (2011) a criação do Museu Emílio
Goeldi, o Museu Paulista, criado em 1893, e o Museu Real, que mais tarde se tornou o Museu Nacional do
Rio de Janeiro, em 1818, tiveram grande influência do pensamento ilustrado da época. Conforme relata a
autora: “estes três museus, representativos do pensamento de uma época, e ao mesmo tempo absorvendo
características locais, preocupações e funções inerentes aos contextos regionais, durante o final do século
XIX e início do século XX, representaram a produção do conhecimento científico e desenvolveram
processos museológicos específicos, adaptando modelos internacionais à realidade nacional” (2011, p. 01).
6 A dissertação de Mestrado do professor Roberto Kant de Lima: “Pescadores de Itaipu: A Pescaria da Tainha
e a Produção Ritual da Identidade Social” de 1978 e a dissertação de Mestrado do antropólogo Luiz
Fernando Duarte: As Redes do Suor de 1978, ambos do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social
do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro marcam este período.
7 Podemos falar da dissertação de Mestrado do Professor Antônio Carlos San'tana Diegues: Pesca e
marginalização no litoral paulista de 1973 no Centro de Cultura Marítimas da Universidade de São Paulo.
8 O primeiro encontro se realizou em Brasília de 11 a 14 de agosto de 1986 e não houve coletânea de
trabalhos, mas teve como objetivos: “a) intercambiar conhecimentos e resultados de pesquisa entre os
cientistas sociais ligados ao mar; b) avaliar o estado atual de conhecimentos e as lacunas existentes; c)
propor temas novos para novas pesquisas; d) criar mecanismos que garantam o contato frequente entre os
pesquisadores e instituições pelo país; e) sugerir medidas e modalidades de fomento à pesquisa de Ciências
Sociais aplicadas ao mar.” (1 Encontro de Ciências Sociais e o Mar, 1986).
158 diversas áreas de conhecimento humano das várias universidades federais brasileiras tendo
159 como temas a ecologia humana, a antropologia, a sociologia, a linguística, a economia e a bio-
160 logia. Estes trabalhos já começaram a expressar uma preocupação que, em seguida se reiterou,
161 qual seja, os problemas advindos das atividades industriais fomentadas pelas políticas da SU-
162 DEPE. O terceiro Encontro deu-se em 1989 de 03 a 05 de abril, tendo como tema Pesca Arte-
163 sanal: tradição e modernidade. Foram 31 trabalhos de um número superior a 170 pesquisado-
164 res de todo o litoral brasileiro que versaram sobre os problemas decorrentes entre tradição e
165 modernidade na pesca artesanal.
166 Abaixo veremos uma tabela a apresentar o quadro histórico das pesquisas dentro das
167 universidades brasileiras em uma tentativa de classificar o processo de crescimento das pes-
168 quisas e a institucionalização do mundo pesqueiro. Terminaremos a exposição do quadro his-
169 tórico no fim da década de 1980 por um recorte analítico, isto é, a instalação do Instituto Bra-
170 sileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) representou o fim da época sude-
171 piana e aprofundou a crise institucional que culminou com a criação do Secretaria Especial de
172 Aquicultura e Pesca (SEAP) em 2003. Como o nosso objetivo é evidenciar a nascente produ-
173 ção bibliográfica não ultrapassaremos a fronteira do século XX. É oportuno reiterar que o bu-
174 sílis deste quadro bibliográfico é senão demonstrar o fortalecimento das instituições de pes-
175 quisas técnicas e científicas no mesmo momento em que se processa a complexificação das
176 condições de existências dos pescadores artesanais no Brasil. Por esse motivo, e somente por
177 esse, não avançaremos na fase que chamamos de Intensidade Alta, o que será motivo de preo-
178 cupação em trabalhos futuros.
179
180 Tabela 1. Evolução das Instituições de Pesquisa e de trabalhos científicos sobre pesca no
181 Brasil no século XX
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
Primeira fase: produção bibliográfica de baixa intensidade (1900 - 1960)
1933 Instituto Henrique Jorge No domínio das História Segundo Guimarães (2012): “os
Histórico e Hurley aguas (livro dos trabalhos publicados na Revista do
Geográfico do pescadores para- IHGP consistiram nos esforços desses
Pará (IHGP)9 enses), historia sujeitos históricos em enquadrar a
da pesca no Pará história local e/ou regional no contexto
nacional e até internacional, como uma
forma de inserir a Amazônia à lógica
9 Segundo Guimarães (2002, p. 66): o (IHGP) “foi fundado em comemoração ao Quarto Centenário do
Descobrimento do Brasil, no dia três de maio de 1900, juntamente com a Academia Paraense de Letras e a
Liga Humanitária do Estado do Pará.” Nesse instituto tivemos a Revista do IHGP cuja temática era a
preocupação com a natureza amazônica, “como elemento principal do discurso identitário da associação.” É
tratado, portanto, a temática do homem e a sua relação com o meio natural, destacando os elementos
imanentes desta relação, tal como a imaterialidade (representações, símbolos), além do caráter da produção
material.
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
de 'progresso' e 'civilização' tão
debatida no início do século XX”.
Nesse sentido, os trabalhos do Jorge
Hurley foram importantes para a
implantação das Colônias de
Pescadores sob a tutela do comandante
Frederico Villar.
Departamento Gianconda O cêrco da tainha Sociologia
1945 de Ciências Musssolini na Ilha de São
Sociais da Sebastião
Faculdade de
Filosofia, Letras
e Ciências
Humanas/USP
Revista Elza Coelho de Pescadores do Segundo Evangelista (2012, s/p) o:
Brasileira de Souza Litoral do Sul “Conselho Nacional de Geografia
Geografia (CNG) foi criado enquanto expressão
Restinga
vinculada ao do caráter estratégico da geografia ao
1948 Instituto José V. da Costa Pesca do tempo do Estado Novo”. Tratou-se de
Brasileiro de Pereira Pirarucu um Conselho em uma época
Geografia e importante da história do Brasil onde
1949 Carlos Pedrosa O Pescador de
Estatística os pesquisadores encontravam neste
Tarrafa
(IBGE) espaço e no IBGE lugares para as suas
Viveiros de perquirições. Na referida Revista
Peixes do Recife encontramos uma miríade de trabalhos
Etnografia
sobre pesca artesanal. É verdade que os
1950 Ligia Maria C. A Pesca no litoral
trabalhos eram de caráter descritivo e
Bernardes e Nilo do Rio de Janeiro
muitas vezes só apresentavam dados da
Bernardes
pesca ao longo do Brasil. Contudo,
1951 Nelson Werneck O Espia evidencia a nascente preocupação com
Sodré a população litorânea brasileira e os
Costeiras
complexos caminhos que trilhariam
1955 Francisco Tipos de Pesca depois da segunda metade do século
Barbosa Leite no Nordeste: A XX.
moita É importante observar que a
organização dos trabalhos na Revista
1956 Maria Contribuição Ao Geografia
estava disposto da seguinte forma: i)
Magdalena Estudo da Pesca
Artigos, ii) Vultos da Geografia do
Vieira Pinto Na Região Do
Brasil, iii) Comentário, iv) Tipos e
Rio Arari (Ilha
Aspectos do Brasil e v) Noticiário.
De Marajó)
A nossa pesquisa alcançou doze
1958 Lysia Maria Pescadores da História trabalhos, durante quase vinte e cinco
Cavalcanti Ponta do Caju: anos de publicação, disposto da
Bernardes aspectos da seguinte maneira: foram cinco
contribuição de trabalhos publicados no ítem Artigos.
portugueses e Esse ítem era responsável por trabalhos
espanhóis para o mais alongados e que trouxessem uma
desenvolvimento discussão pormenorizada sobre a
da pesca na temática. Os trabalhos de Maria M. V.
Guanabara
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
1961 Myriam Gomes Caiçaras do Rio Etnografia Pinto, Lysia M. C. Bernardes, Myriam
Coelho Grande do Norte G. C. Mesquita e Lígia M. C.
Mesquita Bernardes e Nilo Bernades se inserem
neste ítem. Já os trabalhos de Elsa C.
de Souza, José V. da Costa Pereira,
Carlos Pedrosa, Nelson Werneck Sodré
e Francisco B. Leite foram publicados
no ítem Tipos e Aspectos do Brasil. O
objetivo deste ítem era trazer trabalhos
que falassem da forma de expressão do
povo marítimo brasileiro, seus aspectos
e características. Por último tivemos
um trabalho, de Elsa C. de Souza,
publicado no ítem Comentários, cujo
sentido era fazer relatos gerais.
1965 E. M. SALLES Sambaquis do Arqueologia
CUNHA, litoral carioca
Segunda fase: produção bibliográfica de intensidade razoável (1960 e 1980)
1961 Faculdade Paulo Fernando Contribuição Geografia A Faculdade Catarinense de Filosofia
Catarinense de de Araújo Lago Geográfica ao teve os seus primeiros trabalhos em
Filosofia e Estudo da Pesca 1951, dado as mobilizações da
Departamento no Litoral de Faculdade de Direito e dos jesuítas, do
de Geografia e Santa Catariana10 tradicional Ginásio Catarinense. A
Cartografia de Faculdade que era juridicamente
Santa Catarina estadual foi federalizada na década de
1960 quando a Universidade Federal
de Santa Catarina começou a se
estruturar no Estado. Já o
Departamento de Geografia e
Cartografia de Santa Catarina (DEGC)
foi fundado por Victor A. Peluso Júnior
e se constituiu em um importante
departamento de estudo e pesquisa.
1960 Fundação Clóvis Mercado de Economia De acordo com o site da própria
Joaquim Nabuco Cavalcantti pescado do Fundação11, em 1948 Gilberto Freyre
Grande Recife defende, em discurso na Câmara dos

10 Vale Mencionar que este artigo também foi publicado, no mesmo ano, na Revista Brasileira de Geografia.
Como se trata do mesmo trabalho resolvermos mostrá-lo nesta Instituição.
11 Para mais informações consultar: www..fundaj.gov.br
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
Pedro Castelo Reservas Deputados, a criação de um instituto de
Branco Silveira extrativistas e pesquisas com o nome de Joaquim
pesca artesanal: Nabuco, argumentando que a
etnografia do homenagem acrescentaria “ao efêmero
campo e ao convencional das cerimônias
socioambiental simplesmente festivas e acadêmicas do
em Pernambuco centenário do grande brasileiro, alguma
coisa de duradouro e fora das
convenções”. Um ano depois, o Diário
de Pernambuco publicou matéria
expressando um voto de louvor e de
confiança ao instituto prestes a nascer:
Com o Instituto Joaquim Nabuco volta
o Recife ao antigo esplendor de Centro
de Renovação Social e Intelectual do
Brasil.
O Instituto Joaquim Nabuco foi criado
em 21 de julho de 1949, na cidade de
Recife, sob a Lei n. 770, dedicando-se
ao estudo sociológico das condições de
vida do trabalhador brasileiro.
A Fundação se consolidou como um
importante espaço de produção de
pesquisa em áreas como: i) estudos
educacionais, ii) estudos econômicos e
populacionais, iii) estudos ambientais e
da Amazônia, iv) estudos sociais e
culturais e v) estudos de ciência e
tecnologia.
1968 José Maria Breve Estudo Economia O referido Instituto é caudatário de
Adonai Pinheiro Econômico sobre duas outras instituições do Pará que na
Rocha os Principais década de 1960 já produziam trabalhos
Municípios Para- sobre a realidade rural e marinha do
enses Produtores Pará, são elas: o Companhia
Instituto de de Pescados Desenvolvimento Econômico do Pará
Desenvolviment (CONDEP) e o Conselho de Política de
1969 Roberto Santos A Pesca no Pará
o Econômico, Desenvolvimento Econômico do Pará.
Social e Os institutos tinham como missão
Ambiental do realizar estudos, pesquisas, projetos,
Pará análises demandados pelo governo e
disponibilizados para a sociedade,
como observaremos nos trabalhos que
1969 Rosyan Caldas Breve Planejamento seguem.
Britto Et Alii Informação sobre
a Pesca no Pará
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
1971 Departamento Fernando População do Sociologia Nasceu com a Universidade de São
de Ciências Augusto litoral sul do Paulo e, até certo momento de sua
Sociais da Albuquerque Estado de São história, com ela se confunde. Por meio
Faculdade de Mourão Paulo - um dessa Faculdade, a USP adquiriu uma
Filosofia, Letras estudo de dimensão peculiar que a distinguiu das
e Ciências sociologia demais universidades brasileiras. Sua
Humanas/USP diferencial fundação seu deu em 25 de janeiro de
1934. Organismo de articulação e
reflexão, a Faculdade assumiu
estrategicamente o significado de lugar
onde o conhecimento pode ser
elaborado dentro de uma perspectiva
de unificação dos interesses sociais.
O primeiro trabalho de Mourão (1971)
diz respeito a sua pesquisa de
doutorado junto à USP. No segundo
caso, trata-se de uma pesquisa
realizada no litoral paulista.
1974 Departamento Maria da Graça Um Estudo de Antropologia O histórico Setor de Antropologia foi
de Antropologia de Pinho Tomada de fundado em 1962, pelo professor
- Universidade Tavares Decisão Eduardo Galvão no mesmo ano de
Federal de (decision fundação da Universidade Federal de
Brasília. making) na Pesca Brasília. Tornou-se um importante
Artesanal: Icaraí- centro de pesquisas sobre etnologia e
Ceará linguística. O professor Heraldo Maués
estava vinculado à Universidade
Federal do Pará, mas a pesquisa de
mestrado, ora analisada, foi defendida
no Setor de Antropologia da
Universidade Nacional de Brasília.
1976 Núcleo de Apoio Francisco Borba Sambaqui do Arqueologia Criado em 1893, no período
à Pesquisa sobre Ribeiro Neto Forte - republicano, e com grande influência
Populações identificação do pensamento ilustrado o Museu
Humanas em espacial das Paulista tonou-se um marco na
Áreas Úmidas atividades transformação do conceito de museu,
Brasileiras/NUP humanas e sua de museologia e de processos
AUB implicações museológicos, que culminaram com a
(Cabo criação do curso de museologia em
Frio, RJ, Brasil). 1932. Mesmo atuando na temática
museológica, não podemos
1977 Museu Paulista L. M. KNEIP Pescadores e
desconsiderar os trabalhos envolvendo
coletores pré-
os pescadores e coletadores que
históricos do
marcaram a vida deste museu.
litoral
de Cabo Frio, RJ
Departamento Antropologia O histórico Setor de Antropologia foi
de Antropologia Heraldo Maués A Ilha fundado em 1962, pelo professor
- Universidade Encantada: Eduardo Galvão no mesmo ano de
Federal de Medicina e fundação da Universidade Federal de
Brasília. Xaanismo numa Brasília. Tornou-se um importante
Comunidade centro de pesquisas sobre etnologia e
Pesqueira linguística. O professor Heraldo Maués
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
Maria Angélica Trabalhadeiras e estava vinculado à Universidade
Motta Maués Camaradas: um Federal do Pará, mas a pesquisa de
1977 estudo sobre o mestrado, ora analisada, foi defendida
status da mulher no Setor de Antropologia da
numa Universidade Nacional de Brasília.
comunidade de
pescadores
1978 Universidade Alex Fiúza de A Pesca sob o Ciência O Curso de Mestrado em Ciências
Federal de Melo Capital, a Politica Política da Universidade Federal de
Minas Gerais - Tecnologia a Minas Gerais é o mais antigo do Brasil,
Mestrado em Serviço da data de 1966. A dissertação acima foi
Ciência Política Dominação produzida em 1981 dentro dos marcos
da área da Ciência Política.

1978 Museu Paraense Lourdes Aspectos Antropologia


Emílio Goeldi Gonçalves Históricos e
Furtado Econômicos de
Marapanim O Museu Paraense Emílio Goeldi foi
(Nordeste fundado no agitado último quartel do
Paraense)
século XIX, período no qual o Estado
1979 Isolda Maciel da Formas de paraense passava for profundas
Silveira Aviamento num transformações políticas culturais,
Povo Adu
sociais e econômicas. Se em 1861 as
Pesqueiro da
Amazônia. expedições de naturalistas europeus
influenciaram o governo local para
1979 Universidade Maria Eunice A Dialética da Sociologia criar um Museu, 10 anos depois, em 25
Federal de Soares Penner Atividade
de março de 1871, o Museu foi
Pernambuco Pesqueira no
Nordeste instalado oficialmente pelo Governo do
Amazônico Estado, tendo sido nomeado Domingos
Soares Ferreira Penna como seu
1980 Lourdes Aspectos Antropologia
Gonçalves Históricos e primeiro diretor. O Museu já na virada
Furtado Econômicos de do século XIX mostrava-se
Marapanim comprometido as pesquisas
(Nordeste geográficas, geológicas,
Paraense) climatológicas, agrícolas, faunísticas,
florísticas, arqueológicas, etnológicas e
museológicas. Podemos dizer que na
década de 1960 com a direção de
Eduardo Galvão houve uma alteração
no quadro de produção de trabalhos
científicos de Antropologia Social,
surgindo novos pesquisadores e
aparecendo trabalhos no âmbito das
populações ribeirinhas, marítimas, etc..

Terceira fase: produção bibliográfica de intensidade alta (1980 – aos dias atuais)
Instituto Paulista Maria José
de Oceanografia Brabo
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
de São Paulo - Curralistas e
Programa de Redeiros de
Pesquisa e Marudá:
Conservação de Pescadores do
áreas Úmidas do Litoral do Pará
Brasil12
Pesca Artesanal:
Um
Delineamento de
sua História no
Pará
1981 Os Caboclos O atual Instituto de Oceanográfico da
Pescadores do Universidade de São Paulo foi fundado
Baixo Rio
Amazonas e o em 1946, como Instituto Paulista de
Processo de Oceanografia. Em 1951, mudou para o
Mudança Social seu nome atual quando foi incorporado
e Econômica à USP. “Na época de fundação, os
1981 Pescadores, objetivos de seus idealizadores
Geleiros, apontavam para a necessidade de uma
Fazendeiros: os instituição que fornecesse bases
Conflitos da científicas à pesca e, numa concepção
Pesca em mais ampla, à exploração de todos os
Cachoeira do recursos disponíveis ao longo do litoral
Arari
paulista”, conforme apresenta o site do
Antônio Carlos Formas de Sociologia Instituto13.
1988 Diegues Organização da
Produção
Pesqueira no
Brasil: alguns
aspectos
metodológicos
Renato José Aspectos da
Rivaben de Pesca Artesanal
Sales na Região
Lagunar de
Iguape-Cananéia
1988 Programa de Tânia Elias Nas Beiradas de O Programa de Pós-graduação de
Estudos de Pós- Magno da Silva Maré. Um Mestrado em Ciências Sociais da
graduação em Estudo do Pontífice Universidade Católica de São
Ciências Sociais Professor Leigo Paulo foi criado em 1973 e, em 1982,
da Pontífice em Comunidades foi criado o Doutorado.
Universidade Camponesas
Católica de São Pobres
Paulo
Lúcia Helena de Entre o Mar e a Antropóloga
Oliveira Cunha Terra: tempo e
espaço da pesca
em Barra da
Lagoa
S/D Universidade Miguel Petrere Utilização de Curso de Graduação em Ecologia do
Estadual de São Junior Recursos Instituto de Biociências da UNESP, Rio
12 É importante sublinhar que dentro do Instituto Paulista de meados do século XX já havia uma preocupação
candente com as populações que viviam nas costas brasileiras. Ainda que esta área de perquirição tenha se
tornado mais fecunda depois da vinculação à USP, mormente com o Programa de Pesquisa e Conservação de
Áreas Úmidas no Brasil, não podemos esquecer do papel importante que exerceu o referido instituto para a
institucionalização dos trabalhos sobre pesca artesanal.
ANO INSTITUIÇÃO AUTOR OBRA ÁREA CONTEXTO
(GO e MA) como Ciências Biológicas, Geológicas,
Exatas e Humanas, o que é muito
favorável para a formação do
profissional Ecólogo, uma vez que as
questões ambientais, por sua grande
complexidade, requerem uma
abordagem multi e interdisciplinar.
S/D Instituto de Edna M. Impacto da Ecologia Instituto de Biologia (IB) é uma
Biologia, Machado Urbanização unidade de ensino, pesquisa e extensão
Departamento Guimarães sobre da Universidade Federal do Rio de
de Ecologia da Comunidades Janeiro (UFRJ), criado em 1968, sendo
Universidade Pesqueiras sucessor do então Departamento de
Federal do Rio Artesanais do História Natural da Faculdade Nacional
de Janeiro Município de de Filosofia.
Maricá
S/D Departamento Aspectos da Sociologia Em 1979, a FURG já possuía um corpo
de Oceanografia Pesca do docente de alto nível, justificando a
Biológica da Camarão no criação do Programa de Pós-Graduação
Universidade do Estuário da em Oceanografia Biológica (nível
Rio Grande Lagoa dos Patos, Mestrado). A Universidade Federal do
RS. Rio Grande (FURG), foi fundada em
20 de agosto de 1969.
1988 Programa de Gláucia Oliveira Tudo que tem na Sociologia Carregando o título de ser o primeiro
Pós-Graduação da Silva Terra tem no curso, criado em 1968, de pós-
em Antropologia Mar: a graduação em Antropologia Social do
Social do Museu classificação dos país o Programa de Pós-Graduação do
Nacional da seres vivos entre Museu Nacional da Universidade
Universidade os trabalhadores Federal do Rio de Janeiro,,sempre teve
Federal do Rio da pesca em a preocupação de articular pesquisa e
de Janeiro Piratininga, RJ ensino, produzindo conhecimento
original acerca da realidade
Edila Vianna da Estudo de um Antropologia
sociocultural e formando, ao mesmo
Silva campo
tempo.
Semântico de
linguagem do
pescador norte-
fluminense
1988 Núcleo de Apoio Francisco Borba Estudo das Ciências Centro interdisciplinar de pesquisa
à Pesquisa sobre Ribeiro Neto formas de Sociais ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa da
Populações sobrevivência de Universidade de São Paulo, foi criado
Humanas em populações em 1988 (inicialmente um Programa de
Áreas Úmidas tradicionais em Pesquisa) para estudar as relações entre
Brasileiras/NUP áreas úmidas populações humanas e áreas
AUB altamente periodicamente inundáveis do Brasil.
degradadas: o
caso de Cubatão
182
183 Considerações Finais
184 A partir do que expusemos na tabela acima fica patente que até o final da década de oi-
185 tenta o cenário não muda: não há grandes instituições que trabalhem com o tema da pesca ar-
186 tesanal. As produções foram engendradas em poucas universidades e em departamentos de

13 Disponível em: http://www.io.usp.br


187 pesquisa de antropologia, na sua maioria. Foi possível perceber que boa parte das análises, nas
188 duas primeiras fases sublinhadas, tratavam da temática dos pescadores de forma secundária,
189 ou seja, a preocupação era com os povos vulneráveis e, nesse contexto, surgia os pescadores.
190 É necessário enfatizar que até a segunda metade do século XX não havia o conceito de pesca-
191 dor artesanal tal qual nós apregoamos no tempo presente, razão pela qual era possível falar de
192 pescador artesanal sem se debruçar sobre os problemas, especificamente das práticas artesa-
193 nais. As análises sociológicas sobre a pesca artesanal versus pesca industrial, portanto, sobre o
194 conflito entre as duas formas de produção, são algo que surge no fim do século e se tornando
195 mais robustas neste presente século.
196 A produção científica pesqueira dos dias correntes tem apresentado um vigor analítico
197 considerável e uma importante retomada de estudos críticos sobre as formas de lutas emanci-
198 patórias e a participação democrática dos pescadores artesanais. Em boa verdade, esse vigor
199 mostra-se presente no continente latino-americano. É expressão desse vigor os trabalhos reali-
200 zados no Chile, especialmente os que envolvem a relação dos pescadores artesanais originais
201 e as indústrias de salmão. Também é notório os trabalhos envolvendo os problemas decorren-
202 tes do marco regulatório da pesca artesanal, com os seus sistema de cotas. Na Colômbia, Mé-
203 xico e Equador os trabalhos também apresentam uma força relevante, a marcar um horizonte
204 concreto de lutas sociais por parte dos povos originais da América Latina.
205 No Brasil a temática, ora em análise, não só se ossificou, enquanto uma área das Ciên-
206 cias Sociais, como a institucionalização da pesca artesanal ficou marcada com a criação da
207 Secretaria da Pesca e Aquicultura, em 2003 e do Ministério da Pesca e Aquicultura, em 2009.
208 Também é marca desse crescimento os grupos e núcleos de pesquisa, a abertura de grupos de
209 trabalhos em eventos Nacionais e Internacionais, etc..
210 Referências Bibliográficas
211 CIACCHI, Andrea. Gioconda Mussolini: uma travessia bibliográfica. Revista De Antropo-
212 logia, São Paulo, USP, V. 50 No 1. 2007.
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214 revisão bilbiográfica. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História (ANPUH) São Paulo.
215 2011.
216 DIEGUES, Antonio Carlos. A sócio-antropologia das comunidades de pescadores maríti-
217 mos no brasil. Etnográfica, Vol. III (2), 1999, pp. 361-375.
218 IAB. Um patrimônio de Todos. Disponível em: http://www.arqueologia-iab.com.br/page/
219 quem-somos
220 EVANGELISTA, Helio de Araujo. Conselho Nacional de Geografia. Revista geo-paisagem
221 (on line). Ano 11, nº 21, Janeiro/Junho de 2012.
222 1 ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E O MAR. Cemar - Centro de Culturas Maríti-
223 mas. Brasília, Agosto, 1986.
224 GUIMARÃES, Iza Vanesa Pedroso de Freitas. Amazônia no domínio das águas: Hurley e a
225 revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (1917-1938). Revista de História Regi-
226 onal. 17(1): 66-88, 2012.

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