Você está na página 1de 355

MI IANA

IN S T R U Ç Ã O P A R A 0 G O V E R N O
B A C A P IT A N IA D E M I N A S G E R A IS
J o ã o T e ix e ir a C o a lh o

D IS C U R S O H I S T Ó R I C O E P O L ÍT IC O
SOBRE A SUELEVAÇÃO QUE
N A S M IN Á S H O U V E N O A N O D E 1 7 2 8

B R E V E D E S C R IÇ Ã O G E O G R Á F I C A ,
F ÍS IC A E P O L ÍT IC A B A C A P IT A N IA
O E M I N A S G E R A IS
D io g o P e r e i r a R i b e i r a d e V a s c o n c e l o s

M E M Ó R IA S O B R E Ã C A P IT A N IA
D A S M I N A S G E R A IS - S E U T E R R IT Ó R IO ,
C L IM A E P R O D U Ç Õ E S M E T Á L IC A S
J o s é V ie ir a C o u to

G E O G R A F IA H IS T Ó R IC A
D A C A P IT A N IA D E M I N A S G E R A IS
descrição Geográfica, Topográfica,
H is t ó r ic a e P o lí t ic a d a C a p ita n ia
d e M in a s G e r a is

M e m ó r ia , H is t ó r ic a
d a C a p ita n ia d e M in a s G e r a is

J o s é J O a q u im d a R o c h a

E X P L O R A N D O E V IA J A N D O
T R Ê S M IL M IL H A S A T R A V É S
D O B R A S I L - D O R ÍO D E J A N E I R O
AO M AR AN H ÃO
J a m e s W . W e lls

B R A S IL N O V O M U N D O
W , L. v ó n E s c h w e g ©

S E IS S E M A N A S
N A S M IN A S D E O U R O 0 0 B R A S IL
V is c o n d e E r n e s t d e G a u r e y

T R A T A D O D E G E O G R A F IA
D E S C R IT IV A E S P E C I A L D A
PROVÍNCIA DE M INA S G E R A I S
J o s é J o a q u im d a S ilv a

V IS IT A S P A S T O R A IS D E D : F R E I
D A S A N T ÍS S IM A T R IN D A D E

A P R O V ÍN C IA B R A S IL E IR A D E M I N A S G E R A IS
H.G.F. HALFELD E J J von Tschudi

0 O U R O E M M IN A S G E R A IS
P a u l F e rra n d
('É o /i‘'Ç ã<7
IANA

O OURO EM MINAS GERAIS

PAUL FERRAND
PAUL F E R R A N D

O OURO EM MINAS GERAIS

TRADUÇÃO
Júuo C a s t a n õ n G u im a r ã e s

TRADUÇÃO TÉCNICA E GLOSSÁRIO


J o ã o H e n r iq u e G r o s s i S a d

NOTAS
J o ã o H e n r iq u e G r o s s i S a d
F r ie d r ic h E. R e n g e r

ESTUDOS CRÍTICOS
J o ã o H e n r iq u e G r o s s i S a d
J u v e n il F é u x
F r ie d r ic h E, R e n g e r
R o n a ld F le is c h e r

BIBLIOGRAFIA
F r ie d r ic h E. R e n g e r

F u n d a ç ã o J o ã o P in h e ir o
C e n t r o d e E s t u d o s H is t ó r ic o s e C u l t u r a is

B e l o H o r iz o n t e

1998
FICHA CATALOGRÁFICA

F372o Ferrand, Paul

O O uro em M inas Gerais / Paul Ferrand; tra d u çã o Júlio


C astanõn G uim arães, Notas João H enrique Grossi,
Friedrich E, Renger, Estudos críticos João H enrique Grossi...
[e t ali- Belo H o rizo n te: Sistema Estadual de P lanejam ento;
C e n tro de Estudos H istóricos e C ulturais. Fundação João
P inheiro, 1998.
350p.
Tradução de: L'or a M inas Geraes

1. O uro - M in a s e M in e ra çã o - M inas Gerais - História


I. G uim arães, Júlio C astanõn II. Grossi, João H enrique
III. Renger, Friedrich E. V. Título

CDD: 981
CDU: 9 (8 1 5 .1 )
A P O IO :
Fundação de A m p a ro à Pesquisa do Estado de M inas Gerais - FAPEM1G
U niversidade Federal de O uro Preto - UFOP
IANA

C O N S E L H O EDITO RIA L

A ffo n s o Á v ila , A ffo n s o R o m an o de S a n t'A n a , A m ílc a r V ia n n a M a rtin s Filho, A n ­


gela G u tie rre z, A n tô n io O ctá vio C in tra , A lu ísio P im enta, A n g e lo O sw a ld o de
A ra u jo S antos, B e rn a rd o M a ta M a c h a d o , C e lin a A lb a n o , C lé lio C a m p o lin a D i­
niz, C yro S iqueira, D ouglas C ole Libby, Fábio Lucas, Fábio W a n d e rle y Reis, F ern a n ­
d o C orreia Dias, Francisco Iglésias, G erson de B ritto M e llo Boson, G uy de A lm e i­
da, H in d e m b u rg o C h a te a u b ria n d Pereira D iniz, Isaías G o lg h er, Jarbas M e d e iro s,
João A n tô n io de Paula, José A p a re c id o de O liveira , José B e n to Teixeira de Salles,
José E rnesto B allstaedt, José Israel Vargas, José M u rilo de C a rvalho , Jú lio B a rb o ­
sa, Lucíiia de A lm e id a Neves D e lg a d o, Luis A u re lia n o G am a de A n d ra d e , M a ria
A n to n ie ta A n tu n e s C u n h a , M a ria E figênia Lage de Resende, M ig u e l A u g u s to
G o n çalve s de S ouza, N o rm a de G óes M o n te iro , O rla n d o M . C a rv a lh o , O tá v io
Soares D u ici, Paulo R o b e rto H a d d a d , Paulo Tarso Flexa de Lima, Paulo de Tarso A l­
m eida Paiva, Pio Soares C anedo, R oberto B o rg es M a rtin s , R o b e rto B ra n t, Rui
M o u rã o , Vera A lic e C a rd o so , V iv a ld i M o re ira , W a lte r M o re ira Salles.
C O O R D E N A Ç Ã O E D IT O R IA L
ELEONORA SANTA ROSA
JUNIA FERREIRA FURTADO

IN D IC A Ç Ã O DE T EX T O
ROBERTO BORGES MARTINS

REVISÃO D A T R A D U Ç Ã O
IRENE ERNEST DIAS
JOÃO HENRIQUE GROSSI SAD

P R O JE T O G R Á F IC O E ARTE
ESCRITÓRIO DE DESIGN

P R O D U Ç Ã O EX ECU T IV A
ROSELI DE AG UIAR

R E P R O D U Ç Ã O E O T O G R Ã E IC A
JUNINHO MOTTA

REV ISÃO DE T EX T O
JOÃO HENRIQUE GROSSI SAD
APRESENTAÇÃO

U M A M I N A DE H I S T Ó R I A :
P A U L F E R R A N D E S E U L’r O R À M I N A S G E R A E S

Q u a nd o chegou ao Brasil, em 1882, Paul Ferrand tin h a 2 7 anos, e era recém -


g ra d u a d o pela Écoie N a tio n ale Supérieure des M inas de Paris.
0 jo ve m e n g e n h e iro veio se ju n ta r a um p e queno g ru p o de franceses e b ra ­
sileiros, co m p o sto p o r A rth u r Thiré, A rm a n d de Bovet, Leônidas Dam ásio, A rchias
M e d ra d o , e o u tro s que, sob a liderança de C laude Henri Gorceix, estava p ro m o ve n ­
do, cum m e n te e t m alleo, um a a u tê n tica revolução no ensino da ciência e da te c n o ­
logia no Brasil agrário, escravista e in te le ctu a lm e n te co lo n iza d o do te rce iro qu artel
do século XIX.
O tocus dessa revolução era a Escola de M inas de O uro Preto, que fo ra in a u ­
g urada em 1876 e que, ao im plantar, ao lado de rigo ro so ensino das ciências bási­
cas, a prática do la b o ra tó rio , da o ficin a , da e xperim entação e da pesquisa de ca m ­
po, criou um a im p o rta n te ru p tu ra co m a tra d içã o retórica e bacharelesca herdada do
co lo n iza d o r ibérico, assentando as bases para o su rg im e n to de um a g e olog ia , de
um a m ineralogia e de um a m e ta lu rg ia cientificas no Brasil.
A lém de lecionar cadeiras básicas e aplicadas em diversas áreas do currículo
da escola, Ferrand fo i ainda um pesquisador a tivo e a b ra ng e n te, sobre a indústria de
fe rro em M inas e no Brasil, a m ineração do o u ro em seus aspectos geológicos, té c­
nicos e econôm icos, e vários o u tro s tem as de engenharia civil e de m inas, que p u b li­
cou no Le G énie Civil, na Revista de Engenharia, na Revista In du stria l de M inas G e­
rais, nos A n a is dà Escola de M inas, na Revista Brazileira, e em o u tro s periódicos fra n ­
ceses e brasileiros.
Seu principal tra b a lh o , L'O r à M ina s Geraes, fo rm a , co m o co rre ta m e n te o b ­
servou Friedrich Renger, com o P luto Brasiliensis, de Eschwege, e co m os escritos de
W illia m Jory H e n w o o d, a mais im p o rta n te trilo g ia sobre a m ineração de o u ro em M i­
nas Gerais, leitura o b rig a tó ria para q u a lq u e r pesquisador desse ca p ítu lo de nossa his­
tó ria econôm ica, social e cu ltu ra l.
O te x to de Ferrand reúne a rtig o s que vin h a m sendo publicados, desde 1890,
no Le G énie Civil, "ré vu e générale h e bdom aire des industries françaises e t étra n gè -
re s", de Paris, e é o resultado parcial de um p lano m u ito mais am bicioso, que previa
dois grandes blocos de estudos. O p rim e iro cobriria as e xp lo ta tio n s anciennes, ou do
período colonial, e o se g un d o cuidaria das e xp lo ta tio n s m odernes, ou do século XIX,
co m p re e n d en d o , além de um v o l d 'o ise a u sobre as m inas e as em presas d o período
nacional, " o e studo in d ividual de cada um a das com panhias m ineradoras em a tivi­
dade, e a legislação re ferente às m inas de o u ro desde a Independência d o Brasil até
os nossos d ia s".
Ferrand fo i c o lh id o p o r u m m al s ú b ito e m o rre u p re m a tu ra m e n te , an te s de
c o m p le ta r 4 0 anos, em 18 de ju lh o de 1 8 95 , te n d o c u m p rid o apenas p a rte d o
p ro je to .
Ficamos privados d o que seria, ce rta m e n te , um a obra m o n u m e n ta l, mas o
que fo i co n clu ído já é um dos m elhores registros existentes sobre a m ineração no se-
te ce n to e no o ito c e n to , e um a fo n te indispensável de in fo rm a çã o histórica sobre M i­
nas Gerais.
O necrológico, p u b lica d o em 1896 na Revista Braziieira, observava que "o n
p e u t dès m a in te n a n t a ffirm e r que L'O r à M ina s Geraes est le travail le plus co m p le t
q u i a it été pubiié sur ce sujet, e t m é rite d 'ê tre considéré co m m e classique" e, sem
m e d o de errar, podem os acrescentar que esta afirm ação co n tin u a rigo ro sa m en te vá­
lida até hoje, mais de cem anos depois.
O p rim e iro vo lu m e , fin a liza d o em ju lh o de 1894, co n tém a parte relativa à
co lônia (história e g e og ra fia dos descobrim entos, tip o s de jazidas, m é to d os antigos
de m ineração e de processam ento, os sistem as de trib u ta ç ã o e a legislação colonial
sobre o setor), e um "A p e rç u général sur les m ines d 'o r e t les com pagnies des m i­
n e s", que co n stitu i o p rim e iro ca p ítu lo da segunda p arte d o plano.
No a p e rçu , Ferrand co m pila to d o s os autores relevantes sobre o assunto e
oferece um resum o precioso e único da história de quase to da s as em presas aurífe-
ras que a tua ram em M inas no p e río do nacional, desde a pioneira Im p e ria l Brazilian
M in in g A ssociation, d o G o n go Soco, até as com panhias em a tividade no início da era
republicana.
As únicas lacunas no seu le va n ta m e n to são a G eneral M in in g A ssociation,
que o p erou q u a tro m inas em São José dei Rei a p a rtir de 1827, a Serra da C andon-
ga C om pany, ativa no Serro p o r p o u co te m p o a p a rtir de 1834, e alguns e m p re e n ­
d im e n to s brasileiros de p o rte m é dio que m ereceriam m enção.
N o v o lu m e dois, do qual só saiu o p rim e iro fascículo, co n clu ído em setem bro
de 1894, Ferrand p u blico u um lo n g o e studo sobre a velha M ina da Passagem de M a ­
riana, e n tã o p e rte nce n te à O uro P reto G o ld M ine s o f Brazil Ltd., escolhida para in a u ­
g u ra r a série de estudos individuais p o r ser, em sua o p in iã o, a m ina mais im p o rta n te
de M inas naquele m o m e n to , com M o rro V elho ainda convalescente d o g ra n de cave
in de 1886.
L 'O rà M ina s Geraes fo i p u b lica d o apenas em francês, em 1894, pela Im p re n ­
sa O ficial do Estado de M inas Gerais, p o r decisão da com issão nom eada pelo presi­
d e n te A fo n s o Pena para o rg a niza r a p articipação de M inas na Exposición de M ine ria
y M e ta lu rg ia de S antiago, no C hile. Só teve um a reim pressão, em 1913, ta m b é m em
francês. A tra d u ção de Júlio C astanõn G uim arães fo i revista em seus aspectos té c n i­
cos pelo g e ó lo g o João H enrique Grossi Saad que, entusiasta da o bra de Ferrand,
ta m b é m co o rd e no u um a pequena e q uipe de experts.
Friedrich E. Renger, d o In s titu to de Geocíências da UFMG, d ivid iu com o p ro ­
fessor Saad a tarefa de e la b orar as notas explicativas, e Juvenil Félix e Ronald Fleis­
cher som aram -se aos dois p rim eiros para p ro d u z ir os q u a tro estudos críticos que in-
tro d u ze m o a u to r e a obra.
A Universidade Federal de O u ro Preto g e n tilm e n te cedeu exem plares da p ri­
m eira edição para a re p ro d ução do m a terial Ico n og rá fico q u e acom panha o te x to e
a FAPEMIG, parceira co n stan te da C oleção M ine iria n a, a p oiou fin a n c e ira m e n te a p u ­
blicação. Q ue Deus conserve!

R oberto Borges M a rtins


Presidente da Fundação João Pinheiro
SUMÁRIO

APR ESEN TAÇ ÃO ..................................................................................................................9

ESTUDOS CRÍTICOS

Paul Ferrand e O O u ro e m M in a s G erais - Friedrich E. R e n g e r.............. 15


Paul Ferrand e a Escola de M in a s - J. H. G rossi S a d ........................ 21
O O u ro em M in a s G erais - a spectos g e o ló g ic o s - R onald F le is ch e r 31
Práticas de m in e ra çã o na M in a de Passagem - Juvenil Félix....................39

O OURO E M M IN A S GERAIS.......................................................................................... 67

N O T A S ................................................... .................................................................................. 3 4 9
G LO S SÁR IO ................................................. .............................................. ........................... 3 5 5
R EFERÊNCIAS B IB L IO G R Á F IC A S .........................................................362
PAUL F E R R A N D E O O U R O EM M IN A S GERAIS

F R I E D R I C H E. R EN GER,

A reedição d o livro L 'o r à M in a s G eraes de Paul Ferrand em tra d u ç ã o para


o p o rtu g u ê s acrescenta m ais um a o b ra clássica so b re os recursos m in e ra is e a his­
tó ria de sua e xp lo ra çã o no e sta do à C oleção M in e iria n a da Fundação João P in h ei­
ro. É ta m b é m um a h o m e n a g e m aos 3 0 0 anos de O u ro Preto, o n d e a p rim e ira m is­
sa fo i ce le b ra d a em 2 4 de ju n h o de 1 6 98 , pe lo Pe. João de Faria Fiaiho, n o lu g a r
o n d e h o je localiza-se a capela de São João d o M o rro d o O u ro Fino.
A o b ra fo i fru to da p a rtic ip a ç ã o m ine ira na E xposição de M in e ra çã o e M e ­
ta lu rg ia realizada em 1 8 9 4 em S a n tia g o d o C h ile . M ina s G erais fo i o ú n ic o e s ta ­
d o b ra sile iro q u e se fe z re p re se n ta r nesta exposição. A d e le ga çã o m in e ira era c h e ­
fia d a pe lo Dr. Jo a qu im C â n d id o C osta Sena, na época le n te de m in e ra lo g ia e g e o ­
lo g ia da Escola de M ina s de O u ro Preto. A com issão era c o m p o s ta p o r Francisco
Luiz da Veiga co m o p re sid e n te , Levindo Ferreira Lopes, A lcid e s M e d ra d o , Paul Fer­
rand e J.C. C osta Sena, sendo os trê s ú ltim o s professores da Escola de M inas. A
com issão o rg a n iz o u u m a exp osiçã o p re p a ra tó ria em O u ro Preto e e n vio u n u m e ­
rosa co leção de espécim es m ine rais para S a ntiag o , c o m p o sta de a m ostras de m i­
nérios de o u ro das p rin c ip a is jazidas, ta n to em a tivid a d e , c o m o a b a n d o n a d a s, de
m in é rio s de fe rro e p ro d u to s s id e rú rg ic o s bem co m o um a g ra n d e va rie d a d e de
o u tro s m in é rio s e m ine rais de to d o o e sta do , in c lu in d o um m o s tru á rio de d ia m a n ­
tes. A o rg a n iz a ç ã o das coleções fic o u a ca rg o d o Prof. Paul Ferrand, na época le n ­
te da cadeira de M e ta lu rg ia e E xploração de M inas, na Escola de M ina s de O u ro
Preto (Fonte: Escola de M inas, 1 969). As coleções o rg a n iza d a s p o r Paul Ferrand
su p era ra m as da Exposição U niversal de Paris em 1 8 89 q u e ta n to c h a m a ra m a te n ­
ção dos especialistas pela beleza e o rg a n iza çã o sistem ática.
E vid e n te m e n te , um a das in te n çõ e s da p a rtic ip a ç ã o m in e ira nesta e x p o s i­
ção era a tra ir novos in ve stid o re s para a in d ú s tria de m in e ra ç ã o de o u ro q u e n a ­
q uela é p oca passava m ais um a vez p o r um p e río d o m u ito d ifíc il. Em 1 8 83 o p e ra ­
vam so m e n te trê s m inas co m p ro d u ç ã o re g u la r; M o rro V e lh o em Nova Lim a, Pary
p e rto de Santa Bárbara e M o rro de S antana nos a rre d o re s de M a ria n a (B ovet
1 883). A o u tro ra fa m o sa m ina d o G o n g o Soco havia e n c e rra d o suas a tivid a d e s e
sua p ro p rie tá ria , a Im p e ria l B razilian M in in g A s so cia tio n tin h a id o à fa lê n c ia havia
quase 3 0 anos.
Em 1 8 94 , a ié m da m ina d o M o rro V elho, q u e co m e ço u a se re cu p e ra r do
desastre de 1 8 88 , restavam p o uco s e m p re e n d im e n to s em a tiv id a d e na m in e ra çã o
de o u ro , das quais um a das poucas m inas re n tá veis era a de Passagem , da O u ro
P reto G o ld Fields C om pany, L td.. A p e s a r d o n o m e inglês, era u m a das poucas
co m p a n h ia s de c a p ita l fra n cê s a tu a n te na Província de M in a s G erais, o q u e e x p li­
ca p o rq u e Paul Ferrand d e d ico u to d o o s e g u n d o v o lu m e da sua o b ra a esta m ina.
A s duas p rim e ira s partes da o b ra ora p u b lica d a fo rn e c e m um breve resu­
m o da h istó ria d o o u ro em M ina s G erais, desde a sua d e sco be rta p e lo s b a n d e i­
ra n te s paulistas a té a in sta la çã o das c o m p a n h ia s de m in e ra çã o inglesas (e o fe ­
c h a m e n to de m u ita s delas). A p a rte h istó rica das de sco be rta s, dos m é to d o s de la ­
vra e da le g islação baseia-se e sse n cia lm e n te em o u tra o b ra n ã o m enos fa m o sa , o
P lu to brasiliensis de W ilh e lm vo n E schw ege (1 8 3 3 ), u sando inclusive p a rte de suas
fig u ra s. Ferrand a c h o u aí um a fo rm a de d iv u lg a ç ã o desta o b ra clássica da qua!
não existia tra d u ç ã o nem para o fra n cê s, m u ito m enos para o p o rtu g u ê s . A te r­
ceira p a rte tra ta e xclu siv a m e n te da M in a de Passagem de M a ria n a . C o m o m e n ­
cio n a no p re fá cio , Ferrand p lanejava a inda p u b lic a r o u tro s fascículos co m a des­
criçã o das o u tra s m inas da O u ro P reto G o ld Fields Co., isto é das m inas de Espíri­
to S anto (p e rto de Raposos), de Raposos, e dos Borges (nos a rre d o re s de C aeté).
A sua m o rte precoce m a lo g ro u este p lano.
Um a descrição, te c n ic a m e n te d e spre te n cio sa , destas m inas é a d o V isc o n ­
de Ernest de C o u rc y (1 8 8 7 ) q u e vis itou -as, a p a re n te m e n te em c o m p a n h ia de um
do s a cio n ista s da sociedade, em 1 8 86 . Já este liv ro é m ais u m a defesa d o sistem a
m o n a rq u is ta e fo rn e c e poucas in fo rm a ç õ e s té cn ica s (fo i e scrito para a filh a d o a u ­
to r, q u e p ro va ve lm e n te n e m p re te n d ia um a d ivu lg a ç ã o m ais am pla).
D o p o n to de vista h is tó ric o , a p a rte m ais in te re ssa n te de O O u ro em M ina s
G erais é a co m p ila ç ã o das co m p a n h ia s de m in e ra çã o de o u ro na época a tu a n te s
ou já desativadas. É a p rim e ira sinopse das co m p a n h ia s , na sua g ra n d e m a io ria in ­
glesas. B u rto n (1 8 6 9 ) ta m b é m c ita ra m u ita s delas p o ré m , c o m o Ferrand escreveu
25 anos m ais ta rd e , p ô d e d a r u m a visão m ais a b ra n g e n te .
0 interesse pelas m inas de o u ro do Brasil fo i a g u ç a d o p e lo cu rio s o liv ro de
Barclay M o u n te n e y (1 8 2 5 ): S e le ctio ns fro m th e va rio u s a u th o rs w h o h ave w ritte n
c o n c e rn in g B razil; m o re p a rtic u la rly re s p e c tin g th e c a p ita n c y o f M in a s Geraes,
a n d th e g o ld m ine s o f th a t p ro v in c e . 0 p o m p o s o títu lo e n co b re , e n tre o u tro s as­
su n tos, um a relação de m ais de seis dezenas de o co rrê n cia s de o u ro em M inas
G erais co m as in fo rm a ç õ e s e n tã o acessíveis ao a u to r, q u e n u nca pisara em solo
b ra sile iro . Suas in fo rm a ç õ e s são o riu n d a s das p rim e ira s descrições de via g e ns ao
Brasil e seu in te rio r d o in ício d o século XIX, viagens c o m o as de M a w e (1 8 1 2 ), o
p rim e iro e s tra n g e iro a v ia ja r no D is trito D ia m a n tin o ; Luccock (1 8 2 0 ), Spix e M a r-
tiu s (1 8 2 3 ), C a ld cle u g h (1 8 2 5 ), K o ster (1 8 1 6 ), M a ria G ra h a m (1 8 2 4), W ie d -N e u -
w ie d (1 8 2 0 /2 1 ), e o u tro s m ais. Pela d a ta de p u b lica çã o (1 8 2 5 ) p o de se d e d u z ir
q u e serviu aos e sp eculad o re s da bolsa de Londres c o m o g u ia de in ve stim e n to s.
Um a m eia d ú zia de co m p a n h ia s fo ra m fu n d a d a s nos anos 2 0 e 3 0 dos o ito c e n -
to s, a lg u m a s das quais n e m ch e g a ra m a o p e ra r no Brasil, pois e ram desde o in í­
cio g o lp es de seus p ro m o to re s .
Em 1 8 3 3 , E schw ege p u b lic o u no seu P lu to brasiliensis um a relação bem
m ais c o m p le ta de cerca de 5 0 0 m inas ou o co rrê n cia s de o u ro em M ina s d a n d o
c o n ta a in d a d o e sta do (em p ro d u ç ã o ou desativadas), d o n ú m e ro de tra b a lh a d o ­
res (separados p o r livres ou escravos) e a p ro d u ç ã o le va n tad a no a n o de 1814.
O u tra o b ra clássica so b re as m inas de o u ro em M ina s G erais fo i a d o inglês W il­
liam Jory H e n w o o d (1 8 7 1 ). H e n w o o d fo i o ú ltim o s u p e rin te n d e n te da im p e ria l
B ra zilia n M in in g A s s o c ia tio n na M in a de G o n g o Soco até 1 8 56 , a n o em que te r ­
m in o u o m a n u s c rito d este tra b a lh o m u ito a b ra n g e n te , p o ré m de d ifíc il le itu ra , até
ho je não tra d u z id o para o p o rtu g u ê s .

B IO G R A F IA DE PAUL FE R R A N D

Dados b io g rá fic o s de Paul Ferrand são b a sta n te escassos. Nasceu na Fran­


ça em 15 de a g o sto de 1855, a n o de fa le c im e n to de W . L. vo n E schw ege. Estu­
d o u na École N a tio n a le S u périeure des M ine s de Paris, o n d e g ra d u o u -s e em 1880,
se n d o d is tin g u id o co m a m e d a lh a de h o nra c o n fe rid a pela A ssociação dos A lu ­
nos. C o m o e n g e n h e iro recém fo rm a d o , tra b a lh o u na S ocieté des C o n s tru c tio n s
de B a tig no lles. A os 2 7 anos veio ao Brasil, a c o n v ite de H enri G o rceix, D ire to r da
Escola de M in a s de O u ro Preto que se le cio n o u os professores p o r reco m e n d a çõe s,
e sp e c ia lm e n te de seus a m ig o s Delesse, D a u b ré e e Des C loiseaux.
Ferrand le c io n o u M ecânica e C o n s tru ç ã o C ivil, d e p o is Resistência de M a ­
te ria is, e M e cânica ra cio n a i e a p lica d a. Por ú ltim o fo i c o n tra ta d o , em 1 8 87 , para
a cadeira de M e ta lu rg ia e E xploração de M ina s. Sua aulas e ram "m e tic u lo s a s , se­
veras e rig o ro s a m e n te h o n e s ta s".
C asou-se em O u ro Preto co m a fiih a d o D e se m b a rg a d o r Jo a q u im C a e ta n o
da Silva G u im arães, de d is tin ta fa m ília m in e ira . C om este ca sa m e n to c rio u laços
fa m ilia re s co m duas ilu stres fig u ra s de O u ro Preto, o D ire to r H enri G o rce ix da Es­
cola de M inas e o e x -a lu n o João Pandiá C alógeras, fo rm a d o em 1 8 90 em E nge­
nh aria de M in a s "c o m regalias de C iv il". Os dois era m ig u a lm e n te casados com
filh a s d o D e se m b a rg a d or, q u e ta m b é m fo i avô de D jalm a G uim arães. A té ho je
existem d e sce nd e n tes seus na fa m ilia de C ristia n o B arbosa da Silva.
Era um e xe m p la r chefe de fa m ília e um ca va lh e iro e s tim a d o pela a fa b ilid a ­
de e de lica d eza de tra to . V eio a fa le c e r in o p in a d a m e n te na estação d o C ru z e iro
da E.F. C e n tra l d o Brasil, em 18 de ju lh o de 1 8 9 5 , um mês an te s de c o m p le ta r 4 0
anos. A Revista B ra zileira, que p e rd eu em Paul Ferrand um dos seus m ais d is tin ­
to s co la b o ra d o re s, re fe riu -se a ele n u m n e c ro ló g io nas se g u in te s palavras: "E n tre
os nossos cie n tista s, o c u p o u o Dr. Paulo Ferrand h o n ro s o lugar. Q uem q u e r que
te n h a c o n h e c im e n to dos tra b a lh o s d o p ro fe ss o r da Escola de M ina s de O u ro Pre­
to te rá n o ta d o a escru p u lo sa e x a tid ã o dos dados, a escolha conscienciosa das a u ­
to rid a d e s citadas, a m inu ciosa e c o n s ta n te p re o cu p a çã o d o d e ta lh e , a o b servação
sagaz e a fid e lid a d e de suas descricões; esse c o n ju n to de q u a lid a d e s a trib u i a a l­
g um as de suas p u blica çõ e s lu g a r co n sp ícuo em nossa lite ra tu ra c ie n tífic a ."
Os seus m é rito s c ie n tífic o s fo ra m re co n h e cid o s p o r diversas d istin çõ e s h o ­
n o rífica s: em 7 de m a io de 1 8 84 fo i e le ito m e m b ro da S ocieté des In g é n ie u rs C i-
viis de France; em 31 de ju lh o de 1891 n o m e a d o O ffic ie r d 'A c a d é m ie ; em 2 de
m a io de 1 8 9 4 , m e m b ro da A llia n c e Française, da q u al era d e le g a d o em O u ro Pre­
to . Este c a rg o era c e rta m e n te m ais d o que um ca rg o h o n o rífic o , pois fra n cê s era
língua o b rig a tó ria para o ingresso na Escola de M ina s de O u ro Preto, inglês e a le ­
m ã o e ram fa c u lta tiv a s . A im p o rtâ n c ia d o fra n cê s é bem ilu stra d a pelos n ú m eros
da b ilb lio te c a da Escola de M ina s: co n tava co m 2 .7 0 0 vo lu m e s dos quais 2 .1 0 0
em fra n cê s (Lessa 1 994). F in a lm en te , fo i n o m e a d o em 17 de a b ril de 1 8 95 m e m ­
bro da S ocieté de G e o g ra p h ie C o m m e rcia le de Paris.
Ferrand p u b lic o u tra b a lh o s sobre processos m e ta lú rg ic o s d o fe rro e a in ­
d ú stria sid e rú rg ic a em M ina s G erais, sistem as e lé trico s, estradas de fe rro e sua le­
gislação e so b re p o nte s, em revistas especializadas no Brasil e na França. Pela re ­
lação dos títu lo s fica p a te n te o a m p lo e sp e c tro de interesses té c n ic o -c ie n tífic o s do
a u to r. O Tratado d e m e ca n ica a p p lic a d a á re sistê n cia de m a te ria e s fo i e scrito em
p o rtu g u ê s m as e d ita d o em Paris, c e rta m e n te c o m o m a te ria l d id á tic o para os seus
alunos. Era a m a té ria q u e le c io n o u an te s de assum ir a cadeira de M e ta lu rg ia e Ex­
p lo ra çã o de M inas. Tam bém o p in o u so b re te m a s da legislação m in e ra l em ca rta
ao re d a to r d o J o rn a l d o C o m m e rc io (re p ro d u z id o na Revista d e E n ge n h aria (n.
2 5 0 , p. 3 4 5 , ja n e iro de 1 8 9 1 ) re fe re n te a e x p lo ta ç ã o de recursos m in e ra is em te r­
ras de te rce iro s e a inda q u e s tio n a n d o a in tro d u ç ã o de um a ta xa an ua l para a ex-
p fo ta çã o de um a m ina .
Porém , o m ais fa m o s o dos seus tra b a lh o s é o L 'o r à M in a s G eraes, a m e ­
lh o r síntese sobre as m inas de o u ro de M ina s G erais e sua lavra d o fin a l d o sécu­
lo. Q u a n d o escreveu o livro, Ferrand a p ro v e ito u u m a série de a rtig o s a n te rio rm e n ­
te p u b lic a d o s no p e río d o de 1 8 90 a 1893 na revista francesa, G énie Civil, e d ita ­
da em Paris, sob o títu lo O u ro P reto e t les m in e s d 'o r (Brésil) bem co m o um a sé­
rie de a rtig o s sob o títu lo O u ro P reto e as m ina s de o u ro inserida na Revista de
E n ge n h aria d o Rio de Janeiro, nos anos de 1 8 87 a 1 8 91 , q u e co rre s p o n d e m à p ri­
m eira p a rte d o p rim e iro v o lu m e até a p ágina 6 0 (a o b ra o rig in a l fo i e d ita d a em
dois vo lu m e s). Referências ao m esm o te m a acham -se ta m b é m em E x p lo ta tio n s
a u rifè re s d e M in a s G eraes na Revue U niverselle des M in e s e t M e ta llu rg ie (Liège
e Paris; vol. XXVIII, p. 192 - 2 0 4 ,nov. 1 894) e na Revista in d u s tria i de M in a s G e­
raes (n. 1, p. 6 - 11). A o b ra e s g o to u -se ra p id a m e n te , e te ve um a se g un d a edição
em 1913.
O tra b a lh o to rn o u -s e um a re fe rê n cia o b rig a tó ria para q u a lq u e r e s tu d o so­
bre o o u ro em M inas Gerais. A ssim , to d o s os a u to re s sub se qu e n tes se re fe re m res­
p e ito s a m e n te a esta o b ra : H ussak (1 9 0 0 ), S antos Pires (1 9 0 3 ), ta m b é m p ro fe sso r
da Escola de M ina s de O u ro Preto, C alógeras (1 9 0 4 /0 5 ), B ra n ne r (1 9 1 9 ), M ille r &
S in g e w a ld (1 9 1 9 ), vo n Freyberg (1 9 3 4 ) e o u tro s mais, a té os dias de h oje. O livro
de Paul Ferrand m a rco u d e fin itiv a m e n te o seu lu g a r c o m o a c o n trib u iç ã o da es­
cola francesa na trilo g ia sobre a h is tó ria da m in e ra çã o d o o u ro em M ina s G erais,
ao la d o de o u tro s dois clássicos: o P lu to brasiliensis, de E schw ege (1 8 3 3 ) e
O n th e g o ld m ine s o f M in a s Geraes, in Brazil, de H e n w o o d (1 8 7 1 ). O a le m ã o Es­
c h w e g e re tra ta a situ a çã o n o in ício d o século XIX, antes d o ingresso d o ca p ita l in ­
glês na m in e ra çã o d o o u ro em M ina s G erais, o inglês H e n w o o d , em m eados do
século (apesar de ser p u b lic a d o em 1871, H e n w o o d fin a liz o u seu m a n u s c rito em
1856), e o fra n cê s Ferrand descrevem o e s ta d o da a rte da m in e ra çã o e sua te c n o ­
logia no fin a l, p o u c o an te s de in ve n çã o da cia n e ta çã o q u e re v o lu c io n o u o p roces­
so de re cu p e ra çã o d o o u ro fin o .

FONTES:

A N Ô N IM O . Paulo Ferrand [N e c ro ló g io ]. Revista B razileira. a n o II, to m o V,


fase. 28, p. 251 - 2 5 4 , 1 5 /0 2 /1 8 9 6 .
CARVALHO, José M u rilo de. A Escola de M ina s de O u ro Preto, o peso da g ló ria . São
P aulo/R io de Janeiro: Cia E d itora Nacionai/FINEP, 1978. 177 p.
PINHEIRO FILHO, A n tô n io (org.). A Escola de M inas. O uro Preto: Esc. N acional de M i­
nas e M e ta lu rg ia , 1 9 59 . 3 8 6 p.
VEIGA, Pedro X a vie r da. E fe m é rid e s m ine ira s, vo l. III. O u ro P reto: Im prensa O ficia l,
1897.
LESSA, M o n ica Leite. A A lia n ça Francesa no Brasil, p o lítica o fic ia l de in flu ê n c ia c u l­
tu ra l. Varia H isto ria - FAFICH/UFM G, Belo H o riz o n te , vo l. 13, p. 7 8 - 9 5 , 1994.
PAUL FER RA N D E A ESCOLA DE M IN AS

J. H. G R O S S I SAD

Só se e n te n d e a o b ra de. P. Ferrand no c o n te x to de sua fo rm a ç ã o a ca d ê ­


m ica (Escola de M ina s de Paris) e de sua a tu a çã o c o m o p ro fe s s o r (Escola de M i­
nas de O u ro Preto). A Escola de M ina s de O u ro Preto fo i criada em 1 8 7 6 , sendo
seu fu n d a d o r e p rim e iro d ire to r, C la u d e H enri G orceix. É necessário re co n h e ce r
qu e o passado da Escola, em especial as p rim e ira s décadas q u e se se g uira m à fu n ­
dação, fo ra m m e lh o re s q u e as presentes. Idéias essenciais, c o m o e vo lu çã o e p ro ­
gresso, fo ra m prem issas para o d e s e n v o lv im e n to da Escola.
H enri G o rce ix e n c o n tro u e n orm e s d ific u ld a d e s nos p rim e iro s anos de fu n ­
c io n a m e n to da Escola. N o P a rla m e n to d o Im p é rio d iscu tia -se so b re a co n v e n iê n ­
cia da m a n u te n ç ã o da in s titu iç ã o . A tra vé s dos anos o assu n to fo i re to m a d o , d e ­
m o n s tra n d o a d ific u ld a d e da e lite p o lític a da época para o necessário e m b ríc a -
m e n to e n tre ciências, te c n o lo g ia , e d u ca çã o e d e s e n v o lv im e n to e c o n ô m ic o . G o r­
ceix, ju n to c o m o o u tro s professores da Escola, d e n tre eies, Paul Ferrand, e de uns
p o u co s p a rla m e n ta re s m ine iro s, em m e io à to rm e n ta q u e se a b a tia sobre a in s ti­
tu iç ã o , não re n u n c ia ra m às suas idéias e ideais.
A Escola de M in a s desde sua criação e n fre n to u e venceu d ific u ld a d e s de
to d a o rd e m , ora s o fre n d o pressões id e o ló g ica s (que n ã o são p ro p u lso ra s do p ro ­
gresso), ora a m a rg a n d o d ific u ld a d e s fin a n c e ira s (que m esm o a m e a ça do ras não
são d e stru id o ra s), o ra sendo vista c o m im ensa má v o n ta d e . A in s titu iç ã o , ho je
ce n te n á ria , não te ve q u e b ra d a sua e sta b ilid a d e .
A Escola fo rm a v a e n g e n h e iro s p re p a ra d o s para tra b a lh a r em g e o lo g ia , em
m in e ra çã o , em m e ta lu rg ia e, ta m b é m , em o b ra s civis. N ão há q u a lq u e r d ú vid a
qu e ta l a b ra n g ê n c ia era fu n d a m e n ta l para a la va ncar o d e s e n v o lv im e n to n a cional
e re sp o n d e r a d e safios diversos. Isso estava em o p o siçã o ao q u e se p ra tica va em
o u tra s in s titu iç õ e s brasileiras de ensino.
A tu a lm e n te os re q u is ito s p ro fissio n a is são m u ito d ife re n te s da qu e le s do
passado. C o n tu d o , n o ta -se que as in stitu iç õ e s de e n sin o s u p e rio r de h o je são
m a n tid a s em um a cam isa de fo rç a , o q u e não a c o n te cia na Escola de M ina s em
seus p rim ó rd io s . A fo rm a ç ã o p ro fis sio n a l nas décadas iniciais da Escola não d ico -
to m iz a v a ciência e té cn ica . Palavras c o m o te o ria e p rá tica não fa z ia m s e n tid o , se
usadas s e p a ra d a m e n te . A o c o n trá rio , c o n fu n d ia m -s e , co m o m o d e rn a m e n te se
to rn o u regra. Paul Ferrand é um n o tá ve l e x e m p lo d o exercício da ciência e da té c ­
nica para o b e m co m u m . O q u e ho je se co n sid e ra m o d e rn id a d e era e xe rcid o p o r
Ferrand, c o m o p ro fe sso r da Escola e co m o a u to r de te x to s de a lto nível.
Na Escola de M inas, na época de G orceix, Ferrand e o u tro s professores,
pra tica va -se um e n sin o de excelência e não de m assificação. Os fo rm a n d o s esta-
vam ca p a c ita d o s para a b o rd a r questõ e s m ú ltip la s . A tu a lm e n te as especializações
p ro fissio n a is são co m p le xa s e as a tivid a d e s de g e o lo g ia e m in e ra çã o são p o r d e ­
m ais am plas, to rn a n d o frá g e is os p o n to s em c o m u m . Na re a lid a d e , o q u e real­
m e n te im p o rta v a era a excelência, ta l c o m o existia. O e n sin o de excelência, no
passado da Escola, não tin h a q u a lq u e r p re o cu p a çã o co m o p re e n c h im e n to de va­
gas ou de c o n c o rrê n cia e n tre in stitu içõ e s. Esses dois p a râ m e tro s fo ra m usados p o r
pessoas diversas para c ritic a r a Escola, U tiliz a n d o professores d o nível de Paul Fer­
rand, a Escola de M ina s preparava p ro fissio n a is v o lta d o s para os interesses m a io ­
res da nação.
O tra b a lh o de Paul Ferrand, O O u ro em M in a s G erais, p o d e ria te r servido
c o m o p a ra d ig m a de p ro c e d im e n to s a a d ota r, em relação à g e o lo g ia , à m in e ra çã o
e à m e ta lu rg ia . Os d a dos a p re se n ta d o s co n c e rn e n te s à g e o lo g ia dos m in é rio s o x i­
d a dos e não o xid a do s, às p ra tica s de lavra e avanços da m e ta lu rg ia p o d e ria m o p e ­
rar co m o guias d o que se d everia fa ze r em c o n tin u a ç ã o às p rá tica s a d o ta d a s. Tal
não a co n te ce u p o r ig n o râ n c ia ou má fé g o v e rn a m e n ta is , o u am bos.
A d e stru iç ã o d o m e io a m b ie n te (cham a a te n çã o as e n o rm e s q u a n tid a d e s
de m e rcú rio lançadas nos cursos de água, re p o rta d a s pe lo a u to r) é descrita de
m o d o cla ro e o b je tiv o no O O u ro em M in a s Gerais.
A reavaliação da o b ra de Paul Ferrand p õ e em evid ê ncia seu n o tá ve l p e r­
fil p ro fissio n a l. G orceix, Ferrand e o u tro s professores d a Escola de M ina s c u m p ri­
ram , co m d e dicação e e ficiê n cia , ética e h o n ra d e z, o papel q u e lhes c o u b e co m o
p a rtic ip a n te s e fe tivo s e a tivo s no d e s e n v o lv im e n to n a cio n a l. Faz p o u c o mais de
um século q u e Paul Ferrand m o rre u em O u ro Preto, aos q u a re n ta anos de idade
(18 de ju lh o de 1 895). D eixou le g a d o im p o rta n te e c o m p le x o . A o re p o rta r m é to ­
dos e técnicas a p lica d os à lavra das ja zid a s de o u ro e aos processos de c o n c e n tra ­
ção, p ro p ô s novos ca m in h o s para a e n g e n h a ria m in e ra l. A o m esm o te m p o , d e i­
xo u cla ro q u e o d e s c o n h e c im e n to das co n diçõ es g e o ló g ica s dos ja z im e n to s , em
especial sua e s tru tu ra , p ro vo co u em m u ito s casos a ruína dos e m p re e n d im e n to s .
O d e s c o n h e c im e n to da m in e ra lo g ia e te o r dos m in é rio s nas ja zid a s é o u ­
tra q u e stã o re p o rta d a . Em g e ra l, não se d e te rm in a v a o te o r d o m in é rio in s itu mas
sim , d o m in é rio d e s m o n ta d o (e p e n e ira d o e se le cio n a do ). A o se b e n e fic ia r o m i­
n é rio recuperava-se m e nos o u ro q u e a q ue le d e te rm in a d o e essa re cu p e ra çã o va ­
riava e n tre a m p lo s lim ite s; isso era d e v id o ao d e s c o n h e c im e n to da m in e ra lo g ia do
m in é rio e d o e sta do em q u e se e n c o n tra v a o o u ro (iivre ou não) e sua g ra n u lo m e -
tria ; assim , m u ito se p e rd ia em te rm o s de recuperação.
O exercício da ló g ica p e rm e ia o O O u ro em M in a s Gerais. N ota-se cla ra ­
m e n te a p re o cu p a çã o d o a u to r em descrever de m a n e ira sim ples e d ire ta o m o d o
de o co rrê n c ia dos d e p ó s ito s e ja zid a s de o u ro , suas e n caixa nte s, d im e n sõ e s, c o n ­
te ú d o m in e ra ló g ic o d ire çã o e m e rg u lh o , espessura e te o r re cu p e ra d o , re p o rta n d o
a inda as a tivid a d e s de lavra e b e n e fic ia m e n to . Isso se parece bem c o m o o q u e se
p ra tica h oje, isto é, descreve-se o o b je to , d e p o is ele é e n te n d id o .
Suas descrições de ja z im e n to s são co m e d id a s e ao e sta be le ce r os a trib u ­
to s físicos e q u ím ico s d o s m esm os, o rg a n iz a -o s em q u a tro " tip o s " ou ca te go rias,
fu n d a m e n ta is cada um dos m esm os co m a lg u n s a trib u to s em c o m u m . U m dos t i ­
pos era re s trito à um a p a rte da co lu n a g e o ló g ica , o u tro era exte nsivo , um dos t i ­
pos era m ais rico (isto é, tin h a te o r m ais e levado) q u e os o u tro s ; o q u a rto tip o era
a lu vio n ar.
Descreveu d e ta lh a d a m e n te os e q u ip a m e n to s u tiliz a d o s na m ais im p o rta n ­
te m ina da é p oca. Passagem, e d isc u tiu o m o d o de o p e ra çã o dos m esm os. As té c ­
nicas de re cu p e ra çã o de o u ro , no ú ltim o q u a rte l d o século XIX fo ra m analisadas
c ritic a m e n te . O m in é rio re fra tá rio de Passagem ao ser s u b m e tid o à m o a g e m fin a ,
a m a lg a m a çã o , u stu la çã o e clo re ta çã o , re sp o n dia bem ao tra ta m e n to , co m eleva­
ção da re cuperação.
O e s tu d o dos m in é rio s em escala de la b o ra tó rio fo i a p o n ta d o p o r P. Fer­
rand co m o ca m in h o n a tu ra l para a p rim o ra r a re cu p e ra çã o (do o u ro ). C o m e n te -se
q ue a lix ivia çã o p o r á c id o é té cn ica usuai, ho je em dia, a p lica d a a m in é rio s o x id a ­
dos de b a ixo teor.
Em m u ita s passagens d o O O u ro em M in a s G erais percebe-se a p re o c u p a ­
ção d o a u to r em descrever operações de lavra e tra ta m e n to nas quais a m e c a n i­
zação com eçava a s u b s titu ir o tra b a lh o braçal.
Paul Ferrand to rn o u -s e p ro fe sso r da Escola de M inas em 1 8 82 , m esm o ano
da sua chegada em O u ro Preto. A cid a d e não lhe causou boa im pressão. Era p o ­
bre, sem ja rd in s na fre n te das casas, tin h a ruas to rtu o s a s e m al traçadas. Os dias
de g ló ria tin h a m passado. Sua p o p u la ç ã o era p e q u e n a co m p a ra d a co m a d o pas­
sado. Lecionou, e n tre 1882 e 1 8 86 , as d isciplin as M e cânica e C o n stru çã o , M e câ ­
nica Racional e A p lica d a , Resistência dos M a te ria is e após 1 8 86 , M e ta lu rg ia e La­
vra de M ina s, até 1895, q u a n d o fa le ce u . A d ivu lg a ç ã o d o c o n h e c im e n to p o r p a r­
te de Paul Ferrand era c o n tín u a e p e rm a n e n te : e n tre 1883 e 1 8 9 4 p u b lic o u um a
vin te n a de tra b a lh o s ve rsa n d o sobre ciência e té cn ica .
Presenciou, em 1 8 91 , o ro m p im e n to d o elo e n tre a in s titu iç ã o Escola de
M ina s e seu c ria d o r e d ire to r, Henri G orceix. Falta de recursos e ó d io s p o lític o s c o n ­
trib u íra m para ta l. G o rce ix re to rn o u e n tã o à sua te rra n a ta l. M e sm o u m o b serva ­
d o r d istra íd o fica ch o c a d o ao c o n s ta ta r o p ro v in c ia n is m o da m a io ria dos p o lítico s
da época, q u e c o n trib u íra m para o in cid e n te . Paul Ferrand fo i um be io espelho da
in s titu iç ã o e da tra d iç ã o da Escoia de M ina s. Im e d ia ta m e n te após sua fu n d a ç ã o , a
Escola já havia cria d o um a tra d iç ã o de ensino.
Em m eados d o século XVIII e a va n ç a n d o pe lo século XIX, as a tivid a d es de
m in e ra çã o de o u ro em M ina s Gerais e n co n tra va m -se em p le n o d e clín io . A p a rtir
da In d e p e n d ê n cia (1 8 2 2 ), no ta -se a existência de esforços para m u d a r o p a n o ra ­
m a e c o n ô m ic o d o Brasil. M ais p ara o fim d o século, co n so lid a -se a idéia de d esen­
vo lv e r in d u s tria lm e n te o país e a Escola de M ina s (fu n d a d a em 1 876) m ostrava ser
a in s titu iç ã o capaz de p re p a ra r c ie n tífic a e te c n ic a m e n te o pessoal necessário para
ta l fim . É im p o rta n te m e n c io n a r q u e professores e a lu n o s tin h a m d e dicação e xclu ­
siva e te m p o in te g ra l.
C rio u-se co m a Escola de M ina s um a in s titu iç ã o e desenvolveu-se um a tr a ­
d içã o . Essas não são palavras apenas fo rm a is . A Escola era um a in s titu iç ã o v o lta ­
da para a so ciedade e n q u a n to se desenvolvia um a tra d iç ã o dedicad a à ciência e à
té cn ica , c ritic a m e n te p ra ticadas. A Escola, co m o in s titu iç ã o , apoiava-se em pes­
soas e suas ações, p ro c e d im e n to s e e xpectativas, lastreados p o r um c o n ju n to de
n o rm a s de e n sin o e pesquisa visavam a m p lia r e d iv u lg a r c o n h e c im e n to . Em c o n ­
seqüência, criou-se um a tra d iç ã o re la cio n a d a a o b je tiv o s e c o m p o rta m e n to s .
Os c o m e n tá rio s a se g u ir d e m o n s tra m c o m o P. Ferrand re p re se n to u o "e s ­
p írito " da Escola de M inas. U tiliz a m o -n o s de a lg u m a s passagens d o L'O r M in a s
Geraes, em tra d u ç ã o livre, para ta l d e m o n stra çã o .
Q u a n d o re p o rta o p a n o ra m a re g io n a l, P. Ferrand escreve: "P o r to d a p a rte ,
inclusive na p ró p ria cid a d e [de O u ro P reto] são e n c o n tra d o s ve stíg io s dos tra b a ­
lhos p rim itiv o s : m o n ta n h a s revolvidas das quais as encostas rasgadas fo rn e c e m
te s te m u n h o vo ra z da agressão h u m a n a; im ensos re se rva tó rio s lim ita d o s p o r es­
pessos m u ros de pedra, c im e n ta d a co m te rra e n d u re cid a pe lo te m p o , tê m d im e n ­
sões de d ifíc il ju s tific a tiv a ...,M a rg e a n d o as estradadas q u e a d e n tra m o ca m p o , e n ­
c o n tra m -s e m u ros en eg re cido s, ruínas de a n tig a s casas q u e a te sta m a g ra ndeza
d o passado e cujas fu n d a ç õ e s a inda sólidas resistem às v io le n ta s te m p e s ta d e s que
se a b a te m sobre a re g iã o ..."
As agressões ao m e io a m b ie n te n ã o se re strin g e m à a tiv id a d e de lavra a
céu a b e rto ; Ferrand descreve te rre n o s fo rte m e n te ravin a d o s e e sb ura cad o s p o r
causa d o d e s m o n te da c o b e rtu ra ve g e ta l, através de q u e im a d a s não c o n tro la d a s .
A a b e rtu ra das ja zid a s a céu a b e rto , fe ita p o r m e io de ta lh o s a b e rto s na
encosta das m o n ta n h a s , te m e fe ito s c a ta s tró fico s ; os co rte s e ram a b a n d o n a d o s
em v irtu d e de sua p ro fu n d id a d e e as chuvas in s ta b iliza va m os ta lu d e s. Os ta lh o s
a b e rto s são c h a m a d o s de a tiv id a d e "p e rn ic io s a " de lavra. O a b a n d o n o das m inas
a céu a b e rto e os p e río d o s p ro lo n g a d o s de chuva sobre te rre n o de o n d e fo ra re­
tira d a a v e g e ta çã o o rig in a v a m áreas escalavradas, im p e d in d o seu uso agrícola.
S etenta anos an te s da p u b lica çã o d o tra b a lh o ora tra d u z id o , um dos m ais
no tá ve is cie n tista s q u e via ja ra m p e lo Brasil escreveu em seu d iá rio , em 13 de ju ­
n h o de 1 8 24 : "É d ifíc il te r um a idéia dos a b surd os e da d evastação q u e se c o m e ­
te m a q u i nas escavações de o u ro . É c o m o se m o rro s e vales tivessem sid o rasga­
dos e despe d a ça do s p o r um a tro m b a d 'á g u a . A sede de o u ro está tã o enraizada
nas pessoas q u e m u ita s delas, a inda ho je , c o n tin u a m a in ve s tir c o n tra as p a rte s
a in d a in to c a d a s dos m o rro s, re vo lve n d o e escavando a te rra a e s m o " (LANGS-
DORFF, G e o rg . Os D iá rio s de L a n g sd o rff. vo l. I. Rio de Janeiro: E d itora F iocruz/F un-
d e p, 1 997). O a u to r se re fe ria à área de São João dei Rei.
Palavras m u ito se m e lh a n tes fo ra m escritas p o r Paul Ferrand, q u e não teve
acesso aos D iários, só a g ora p u b lica d o s . O q u e se n o ta é q u e pessoas p re o c u p a ­
das co m o m e io a m b ie n te há m ais de um século e sem a s ín d ro m e e co ló gica
a tu a l, se n tia m d o m esm o m o d o as agressões p ra tica d as c o n tra a N a tu re za .
A o d is c u tir as po ssib ilida d e s de d e s e n v o lv im e n to alicerçadas na m in e ra ­
ção, P. Ferrand escreve: "a s riqu e za s m ine rais q u e p o d e ria m c o n s titu ir fo n te de
p ro sp e rid a d e para o va sto te rritó rio de M ina s G erais fo ra m dissipadas pelos a n ti­
gos a ve n tu re iro s, sem te re m sido e sg o ta d a s.,. N o e n ta n to , a cu ip a não é dos m i­
n eiros, apenas. O g o v e rn o m e tro p o lita n o c o la b o ro u para ta i, co m seu desleixo na
re g u la m e n ta ç ã o m in e ra l e ao n ã o c o n trib u ir para bem o rie n ta r a a tiv id a d e de !a-
vra. Esta ú ltim a q u e stã o te ria sido resolvida co m a vin d a [da E uropa] de pessoas
h a b ilita d a s na a rte da m in e ra çã o e ca p acitad a s g e re n c ia lm e n te . P o rtu ga l s o m e n ­
te se pre o cu pa va co m os m in e ra d o re s para os coagir, fa to c o m p ro v a d o pela le itu ­
ra das in stru çõ e s tra n s m itid a s aos g o ve rn a d o re s e, ta m b é m , d o processo de T ira -
d e nte s, em 1 7 9 2 ."
A o c o m e n ta r sobre o a b a n d o n o de a lg u m a s m inas o u tro ra prósperas, P.
Ferrand deixa e n tre v e r um a ce rta a n g ú stia e descrença. T rata n do d o G o n g o Soco,
escreve: "H o je tu d o não passa de ruínas e não se e n te n d e c o m o a inda subsistem
a fa ch a d a e partes da Casa G ra n d e, o p ó rtic o da e n tra d a e o arco a b o b a d a d o que
lim ita va a p ro p rie d a d e , a o rie n te . N o local dos m o in h o s e salas de lavação, o b ser-
vam -se as relíquias das fu n d a ç õ e s e dos m u ros, re co b e rto s p o r ta p e te de v e g e ta ­
ção. As e n tra d a s dos poços estão e n tu lh a d a s e o v e lh o n e g ro , ú n ic o g u a rd iã o des­
sas ruínas, q u e tra b a lh o u na m in a q u a n d o jo ve m , acha d ifíc il in d ic a r sua posição
ao v is ita n te , in te re ssa d o em recordações de a lg o que p a sso u."
A o c ritic a r a legislação m in e ra l c o m e n ta : "O s va ria d o s d e cre tos [g o v e rn a ­
m e n ta is] d e stin a d o s d u ra n te a lg u m te m p o a p re e n c h e r lacunas da legislação, ser­
vira m para to rn á -la co n fu s a e, pior, a C a rta Régia de 2 9 de Fevereiro de 1752,
o fe re cid a ao m in e ra d o r q u e possuísse um m ín im o de 3 0 escravos, o p riv ilé g io de
não ser preso nem te r escravos co n fisca d o s [caso não pagasse suas dívidas], Essa
lei p ro vo co u injustiças, a rru in a n d o o c ré d ito dos m esm os. "C h e g a -se , desse
m o d o , ao fin a l d o século [XVIII] sem se to m a r m edidas sensatas visan d o m e lh o ra r
o tra b a lh o nas m inas, e n q u a n to d im in u ía a p ro d u ç ã o de o u ro ."
Na é p o ca em q u e fo i p u b lic a d o O O u ro em M in a s G erais o a u to r re p o r­
to u a e xistê n cia de 79 ja z im e n to s q u e p ro d u z ia m o u tin h a m p ro d u z id o o u ro em
M ina s G erais. Destes, 13 c o n tin u a v a m o p e ra n d o , 52 e sta vam pa ra lisa d o s, 11 t i ­
n h a m sid o a b a n d o n a d o s , 2 e sta vam se ndo p re p a ra d o s para lavra e 1 estava sen­
d o in v e s tig a d o .
A o b ra em q u e s tã o é um a espécie de a te s ta d o de n a s c im e n to da m in e ra ­
ção no Brasil. A d e sco b e rta d o o u ro em M in a s G erais o co rre u em 1 6 99 . Entre
1 7 00 e 1 8 2 0 (p o rta n to 120 anos) p ro d u z iu -se um m ín im o de 5 3 5 to n e la d a s de
o u ro , das quais cerca de 107 to n e la d a s fo ra m repassadas à coroa p o rtu g u e s a (im ­
p o sto d o q u in to ) o u seja, um a m é dia de cerca de 8 9 2 q u ilo s p o r ano.
Em fin s d o século X V ill e na e n tra d a d o século XIX, a m a io r p a rte da p ro ­
d u çã o de o u ro d e c lin o u fo rte m e n te , co m p aralisação de quase to d a s as m inas. A
e n tra d a de co m p a n h ia s e stra n ge ira s, lo g o d e po is, re a tiv o u a a tiv id a d e de p ro d u ­
ção e e n tre 1 8 2 6 e 1 8 86 , fo ra m g e ra d o s cerca de 82 to n e la d a s de o u ro , isto é,
a p ro x im a d a m e n te 1,37 to n e la d a s anuais. Em c o n tra p o s iç ã o , e n tre 1 7 0 0 e 1820
p ro d u z ira m -s e 4 ,4 6 to n e la d a s anuais.
M in a s G erais só v o lto u a ser im p o rta n te p ro d u to r de o u ro a p a rtir da d é ­
cada de 8 0 d o p re sente século. Para e xe m p lifica r, no a n o de 1993 fo ra m p ro d u ­
zidas 1 7 ,9 to n e la d a s de o u ro . A tu a lm e n te , em d e co rrê n cia d o b a ixo preço d o m e ­
ta l, m inas estão fe ch ad a s, o u tra s e stão p ra tic a m e n te e xa urid a s e te m o c o rrid o
co n siderável d e cré scim o na p ro d u ç ã o .
Diversas co n sta ta çõ e s d e co rre m da le itu ra da o b ra de Paul Ferrand, das
quais destacam os:
a ) não o c o rre u d e s e n v o lv im e n to in d u s tria l de m a io r s ig n ific a d o no Estado
de M ina s G erais com base na m in e ra çã o de o u ro , a té o século passado.
b) a Região C e n tra l de M ina s G erais, e s p e c ifica m e n te o Q u a d rilá te ro Fer-
rífe ro fo i a m b ie n ta lm e n te d e vasta d o , co m c o n ta m in a ç ã o dos cursos de água p o r
m e rcú rio . Para o R ibeirão d o C a rm o há re g istro fid e d ig n o : e n tre 1 8 8 4 e 1 8 93 (9
anos) fo ra m la n çados 5 7 6 q u ilo s de m e rc ú rio p o r a n o nas águas d o m esm o.
c) o g o v e rn o c o lo n ia l, s e g u id o d o im p e ria l, em m o m e n to a lg u m , a g iu no
se n tid o de in d u s tria liz a r M ina s G erais (e o Brasil). N ão e xistira m ações s ig n ific a ti­
vas q u e rom pessem co m o d e clín io e c o n ô m ic o d o Estado. Em vez de in d u s tria li­
zar, educar, c o n s tru ir estradas, e tc., m a n te ve -se o o d io s o e in ju s to p a g a m e n to do
im p o s to d o q u in to . C o m isto, pe rd eu -se a o p o rtu n id a d e de in sta la r no século pas­
sado um a in d ú s tria sid e rú rg ica im p o rta n te , para a b aste ce r os m ercados m u n d ia is
co m p ro d u to s brasileiros.
d ) a q u e stã o e d u ca cio n a l, isto é, e d u ca r para desenvolver, fo i relegada a
p la n o se cu n d á rio . U rgia fo rm a r especialistas em g e o lo g ia (e sp e cia lm e n te em g e o ­
lo g ia e co n ô m ica e a p lica d a à m in e ra çã o ), m in e ra ç ã o e m e ta lu rg ia , Repare-se que
m esm o após a In d e p e n d ê n cia , o co rre u rejeição siste m ática à Escola de M inas,
criada em 1 8 76 . Isto se deveu às in g e rê ncia s p o lítica s e à ig n o râ n c ia de m u ito s.
e ) o d e clín io da p ro d u ç ã o de o u ro em M in a s G erais fo i p ro v o c a d o p rin c i­
p a lm e n te p o r questões te c n o ló g ic a s ligadas às baixas re cu p e ra çõ es d o m e ta l, ao
d e s c o n h e c im e n to dos m in é rio s, à má p rá tica de lavra, q u e p ro vocava fre q ü e n te s
colapsos dos tra b a lh o s su b te rrâ n e o s, à alta relação e s té rii-m in é rio nas m inas o p e ­
radas à céu a b e rto , à fa lta de uso de técnicas adeq u a da s de e xtra çã o , à ausência
de pessoal e d u ca d o e h a b ilita d o às lides da m ine raçã o , ao d e s c o n h e c im e n to da
g e o lo g ia dos d e p ó sito s e sua a m o s tra g e m , à legislação, etc,
Paul Ferrand tin h a interesse p o r tu d o q u e se relacionasse co m a m in e ra ­
ção. Um te m a s u je ito a co n tro vé rsia s p ro fu n d a s , ho je superadas, diz re sp e ito ao
d ire ito de lavrar, isto é, ao c o n tro le d o solo e subsolo. Em 1890, o g o v e rn o b ra si­
le iro resolveu q u e a p ro p rie d a d e d o solo d ife ria da p ro p rie d a d e das ja zid a s e m i­
nas, tra ta n d o -s e de títu lo s d ife re n te s . D e cid iu , e n tã o , e sta belecer um a regra rela­
tiva à lavra de m iné rio s. Só eram a u to riz a d o s aqueles (in d ivíd u o s o u firm a s) que
solicitassem e o b tive sse m concessão g o v e rn a m e n ta l para lavrar. Desse m o d o , o
p ro p rie tá rio d o solo d everia o b te r a u to riz a ç ã o para lavrar m in é rio s a céu a b e rto
ou s u b te rra n e a m e n te . Caso não o fizesse, o u tro s p o d e ria m so lic ita r essa a u to ri­
zação, m esm o não se ndo d o n o s d o solo.
Em carta à Revista de E n ge n h aria (ja n e iro , 1891), Ferrand a rg u m e n ta que
ja zid a s o c o rre n d o na su p erfície d o te rre n o (o caso q u e su scito u o p ro n u n c ia m e n ­
to g o v e rn a m e n ta l d izia re sp e ito à jazidas de m in é rio de fe rro ), e q u e eram la vra ­
das co m o p e dreiras e às quais não se a p lica va m m é to d o s su b te rrâ n e o s de lavra,
d e ve ria m ser tra ta d a s c o m o p a rte s in te g ra n te s d o solo e c o m o ta l n ã o p o d ia m ser
co n sid e ra da s c o m o m inas ve rd a d eira s. Em co n se qü ê n cia , o p ro p rie tá rio d o solo
n ã o necessitaria de a u to riz a ç ã o g o v e rn a m e n ta l para lavrar.
A m p lia n d o a a rg u m e n ta ç ã o , a firm o u q u e um m in e ra d o r ao a d q u irir o -te r-
re n o de um a pe dreira não d everia ser a g ra va d o co m o p a g a m e n to an ua l de im ­
p o sto d e c o rre n te da a u to riz a ç ã o g o v e rn a m e n ta l. Isso c o n fig u ra ria p a g a m e n to d u ­
p lo . Finalizou d iz e n d o q u e as in d u stria s de tra n s fo rm a ç ã o , u tiliz a n d o m a te ria l de
pedreiras, (n o caso em te la , o m in é rio de fe rro seria usado para p ro d u z ir fe rro m e ­
tá lic o ) só p o d e ria m se d e sen vo lver se ficassem livres de e m p e c ilh o s g o v e rn a m e n ­
tais (licença, taxas anuais, etc.).
Paul Ferrand, ao c o n trá rio da m a io ria dos e stra n g e iro s q u e re a liza ram v ia ­
gens e expedições p e lo Brasil a fo ra , co m passagem o b rig a tó ria p o r M ina s G erais,
não era u m n a tu ra lis ta e isto explica o p o rq u e da sua c o n trib u iç ã o para o d e se n ­
v o lv im e n to da e n g e n h a ria m in e ra l brasileira.
D u ra n te décadas n a tu ra lista s p e rc o rre ra m o Brasil, co m a p o io de so cie d a ­
des cie n tífica s e g o ve rn o s (em especial, e u ro p e u s, em m in o ria a m e rican o s). Era
época do d e s e n v o lv im e n to ca p ita lis ta a lice rça d o na in d u s tria liz a ç ã o ; para ta l, fa ­
zia-se necessário d is p o n ib iliz a r recursos n a tu ra is e xte rn os,
N o caso de P o rtu ga l, s e g u id o p e lo g o v e rn o im p e ria l, n ã o se n o ta a p re o ­
cup ação e fe tiv a co m o d e s e n v o lv im e n to m in e ra l (m e sm o c o n ta n d o o país com
no táveis reservas de m in é rio de fe rro , ca lcá rio, etc.). O bserve-se q u e na ó tic a dos
p o lític o s b rasileiros n o p e río d o im p e ria l, a Escola de M ina s de O u ro Preto era a lg o
d escartável. A Escola havia sido fu n d a d a p o r C lau d e H enri G o rce ix e xa ta m e n te
para p re p a ra r especialistas na in ve stig a çã o de recursos m ine rais, na sua lavra e na
sua tra n s fo rm a ç ã o .
De um m o d o g e ra l, os via ja n te s e stra n g e iro s não c o m p a rtilh a v a m suas e x­
pedições, coleções e e scrito s co m a c o m u n id a d e (c ie n tífic a e té cn ica ) b ra sile ira . As
p u b lica çõ e s e ram realizadas nos países de o rig e m . Tudo isso se o p u n h a à p rá tica
a d o ta d a p o r Ferrand, q u e inclusive p u b lic o u em p o rtu g u ê s m u ito s de seus tra b a ­
lhos, te n d o o rg a n iz a d o e sp e ta cu la r co le çã o de m inerais e m in é rio s, ju n to co m o u ­
tro s professores da Escola, para a E xposição M in e ira e M e ta lú rg ic a de .Santiago,
C h ile , em 1 8 94 . A p ró p ria o b ra L 'O r a M in a s G eraes fo i p re p arad a para essa ex­
posição.
Paul Ferrand fo i o p rim e iro a u to r a fa z e r a m p la análise d o passado e d o
pre se n te da in d u s tria de m in e ra çã o brasileira, co m sugestões para sua c o n s o lid a ­
ção fu tu ra . A o m o s tra r q u e a c o n tín u a e xp e rim e n ta ç ã o co m m é to d o s de lavra e
de c o n c e n tra ç ã o m in e ra l, c o m co n s e q ü e n te a p lica çã o dos re su lta d os, in d ica va o
ca m in h o a seguir.
Seus c o m e n tá rio s sobre a p rá tic a da m in e ra çã o a d o ta d a no passado d e n o ­
ta m seu in c o n fo rm ís m o c o m a m esm a. A u tiliz a ç ã o de novas te c n o lo g ia s e de n o ­
vos ca p ita is (tra zid o s p o r firm a s e stra n ge ira s) fo i d e fe n d id a p o r Ferrand.
Sua o b ra O O u ro em M in a s G erais n ã o é um tra b a lh o a ca dê m ico . A n te s
de tu d o é v o lta d a para a disse m in açã o da in fo rm a ç ã o té c n ic o -c ie n tífic a , de m o d o
co e re n te e m e tó d ic o . A s v irtu d e s d o tra b a lh o de Paul Ferrand p o d e rã o ser agora
apreciadas nesta o b ra o ra p u b lic a d a em p o rtu g u ê s.
O OURO EM MINAS GERAIS - ASPECTOS GEOLÓGICOS

R O N A L D F L E IS C H E R

C om a a b e rtu ra dos p o rto s às nações am igas em 1 8 08 , o Brasil passou a


p o d e r ser liv re m e n te vis ita d o , o q u e a té e n tã o só era p e rm itid o através de c o n v i­
tes especiais da coroa. Era à época expressivo p ro d u to r de o u ro e d ia m a n te s , o
q u e, ju n ta m e n te com suas características tro p ic a is e seus índios, lhe co n fe ria um
e x o tis m o q u e aguçava a cu rio sid a d e da E uropa. N ada m ais n a tu ra l q u e se to rn a s ­
se um dos d e stin os fa v o rito s para via g e ns e exped içõe s e x p lo ra tó ria s , m u ita s v e ­
zes fin a n c ia d a s p o r sociedades cie n tífic a s q u e re co n h e cia m nas m esm as um g ra n ­
de p o te n c ia l de novas d e sco be rta s sob seu p a tro cín io .
Os via ja n te s, a lé m d o necessário ca b ed a l in te le c tu a l e c ie n tífic o , tin h a m
um e sp írito a v e n tu re iro q u e os fa zia viver in te n s a m e n te as e xp eriê n cia s que, m i­
n u cio sa m e n te a n o ta d a s em seus d iá rio s de viagens, e ra m p o s te rio rm e n te tra n s ­
fo rm a d o s em livros c o n te n d o um m isto de ciência e a v e n tu ra . E m bora p o r vezes
fossem especialistas n u m a m a té ria , seus re la to s e ram a b ra n g e n te s , c o b rin d o d e ­
ta lh e s da rota se g u id a , co stu m e s dos h a b ita n te s q u e e n c o n tra v a m , a spectos da
flo ra e p rin c ip a is tra ço s da fis io g ra fia q u e atravessavam , não ra ro te c e n d o c o m e n ­
tá rio s crític o s o u e lo g io so s dos a c o n te c im e n to s vivid os. Suas n a rra tiva s e m b o ra
precisas nos fa to s, s e g u ia m um a lin h a ro m â n tic a de exp osiçã o , pois era esta a
é poca q u e se vivia na E uropa de e n tã o . São d e ste p e río d o e e s tirp e M a w e (1 8 0 9 -
10), S a in t-H ila ire (1 8 1 6 -2 2 ), Luiz e E lizabeth Agassiz (1 8 6 5 -6 6 ), R ichard B u rto n
(1 8 6 7 ) e n tre ta n to s o u tro s .
N o te rc e iro q u a rto d o século XIX, o ro m a n tis m o dera lu g a r ao realism o, e
o e n fo q u e n a tu ra lista a té e n tã o d a d o aos recursos m ine rais passara a ser m ais sis­
te m á tic o , co m um a clara p re o cu p a çã o in d u s tria l. As descrições g e rais d e ra m lu ­
g a r à siste m a tiza ç ã o das observações, e n tã o c o m um o b je tiv o bem d e fin id o , q u al
seja a c u rto p ra zo d e fin ir as extensões das m inas em p ro d u ç ã o e, a m ais lo n g o
p razo, p ro m o v e r a d e sco b e rta de novas jazidas a p a rtir da co m p re e n sã o dos p ro ­
cessos responsáveis pela fo rm a ç ã o das ja zid a s co n he cida s. A lé m de o cupar-se
co m aspectos p u ra m e n te o p e ra c io n a is da lavra e b e n e fic ta m e n to nas m inas, os
e n g e n h e iro s de m inas eram levados a se p re o c u p a r co m a c o n tin u id a d e d o m in é ­
rio e a e n c o n tra r novos co rp o s, o q u e sig n ifica va v o lta r sua a te n ç ã o para aspec­
to s g e o ló g ic o s o b je tiv o s que p e rm itiss e m d e sve n d a r os processos.
R eco n he ce n d o a necessidade d o c o n h e c im e n to do s processos g e o ló g ico s,
a Escola S u p e rio r de M ina s de Paris crio u , em 1 8 79 , o cu rso de g e o lo g ia a p lic a ­
da, q u e é m in is tra d a p o r M .Fuchs a té sua m o rte em 1 8 89 , q u a n d o fo i s u b s titu í­
d o p o r Louis de Launay, q u e em 1 8 93 p u b lica , em c o -a u to ria co m M .Fuchs, o m a ­
g istra l Traité des G ites M in e ra u x M e ta llifè re s .
Nesta o b ra , d e sco rtin a -se a m e to d o lo g ia da escola francesa, q u e p o d e ser
resum ida na a n a to m ia co m p a ra d a dos d e p ó sito s m inerais, c o n s istin d o p rim e iro em
classificar as ja zid a de um a d e te rm in a d a substância em tip o s, s e g u n d o cara cte rís­
ticas g e o ló g ica s co m u n s. Esta m e to d o lo g ia pre ssu p un h a que cada ja zid a tivesse
seus p a râ m e tro s g e o ló g ico s fu n d a m e n ta is descritos e em seguida co m p a ra d o s
co m o u tra s jazidas. Um a vez d e fin id o seu tip o , seria possível e n c o n tra r novas ex­
tensões e novas jazidas, p ro cu ra n d o -s e os p a râ m e tro s g e o ló g ico s característicos.
É neste c o n te x to q u e deve ser e n te n d id a a o b ra de Paul Ferrand, egresso
da co n c e itu a d a Escola S u p e rio r de M ina s de Paris, q u e serviu de m o d e lo p ara a
fu n d a ç ã o da Escola de M ina s de O u ro Preto.
Suas descrições, a e x e m p lo d a q u e la da m ina da Passagem, são c o m p le ta ­
m e n te fa c tu a is . D ife re n cia m -se da m a io ria das descrições de d e p ó s ito s m ine rais
fe ita s a té a m e ta d e d o século XIX, o n d e a in te rp re ta ç ã o g e n é tic a tin h a p re ce d ê n ­
cia sobre a o b servação, e o n d e se ressaltava apenas aqueles p a râ m e tro s q u e m e ­
lh o r se e n caixa va m na m esm a. P re o cu pa n d o-se ta n to co m aspectos g e o ló g ic o s
o n d e te n ta v a sis te m a tiz a r suas observações, c o m o co m aspectos de lavra e bene-
fic ia m e n to , o n d e a lé m das operaçõe s d e ta lh a va a m ecânica e fu n c io n a m e n to dos
e q u ip a m e n to s , Ferrand d e m o n s tro u te r d u p la a p tid ã o , de e n g e n h e iro de m inas e
de g e ó lo g o .
T rata n do -se de um tra b a lh o so b re as ja z id a s e lavras de o u ro em M ina s
G erais e, m ais e s p e c ifica m e n te no Q u a d rilá te ro F errífero, Ferrand tra to u de e sb o ­
çar em poucas lin h a s a g e o lo g ia em q u e se d e senvolveria sua n a rra tiva para nela
c o n te x tu a liz a r as o co rrê n cia s de o u ro . Neste esboço re fe riu -s e a trê s gra n de s d i­
visões co m c o n o ta ç ã o c ro n o -lito ló g ic a : um a in fe rio r de gnaisses e m icaxistos,
p o u c o in te re ssa n te para sua e xp osiçã o ; um a m é dia co m xistos m icáceos, q u a rtz i-
to s xistosos, xistos a rg ilo so s e ita b irito s que, m ais a d ia n te se verá, c o n s titu i e x a ta ­
m e n te a seqüência p o r ele descrita na m ina de Passagem de M a ria n a ; e o u tra su­
perior, de q u a rtz ito s co m p a c to s e grés, q u e deve c o rre sp o n d e r aos q u a rtz ito s da
Serra de ita c o lo m i. É n a tu ra l q u e esta divisão ru d im e n ta r não te n h a re sistid o à
c a rto g ra fia g e o ló g ic a siste m ática realizada n o fin a l da década de 1 9 50 , nem a t o ­
dos tra b a lh o s de d e ta lh e que a se g u ira m , a inda mais se c o n s id e ra rm o s a e s tru tu ­
ra m u ito co m p le xa da área. Ilustra no e n ta n to , sua p re o cu p a çã o em e n q u a d ra r
g e o lo g ic a m e n te suas observações.
Na seqüência, em p a ra le lo co m sua descrição geral das ja zid a s de o u ro ,
Ferrand desenvolve o p rim e iro esboço de tip o lo g ia de d e p ó s ito s q u e se te m n o tí­
cia no Brasil, d is tin g u in d o 6 tip o s. In icia lm e n te separa os aluviões do s filõ e s. Os
d e p ó sito s aluviais são su b d ivid id o s em d e p ó s ito s de le ito s, de m a rge n s e g ru p ia -
ras. Os filõ e s são separados se g u n d o c o n te n h a m ou não s u lfe to s . Os su lfe ta d o s,
encaixados na u n id a d e m édia, te ria m te o re s de o u ro m ais h o m o g ê n e o s , e n q u a n ­
to aqueles e xclu sivam e nte a q u a rtz o , que c o rta m s o m e n te a u n id a d e s u p e rio r te ­
ria m te ore s m u ito a le a tó rio s . A lé m destes dois tip o s, haveria os filõ e s de q u a rtz o
a travessando os ita b irito s , o n d e o o u ro não estaria lim ita d o aos veios, c o m o o c o r­
re nos dois tip o s p re ce d en te s, m as estaria disperso ta m b é m nas e n caixa nte s a d is­
tâ n cia s de a té 5 0 m dos veios.
A m ina de Passagem de M a ria n a , q u e é um dos te m as ce n tra is da o b ra ,
c o n s titu i um e x e m p lo d o tip o filã o co m q u a rtz o e su lfe tos.
A o n a rra r a h istó ria desta m ina , Ferrand ilu stra c la ra m e n te o im passe im ­
p o s to aos e m p re e n d im e n to s m in e iro s p e lo d e s c o n h e c im e n to g e o ló g ic o . C om
e fe ito , desde os p e q u e n o s p ro d u to re s tra b a lh a n d o nas datas q u e lhes tin h a m sido
co n ce dida s no século XVIII, passando pe lo p e río d o de q u a re n ta anos da S ocieda­
de M in e ra ló g ic a da Passagem, até os dez anos de o p e ra çã o da A n g lo -B ra z ilia n
G o ld M in in g Co., Passagem fo i p a lco de sucessivos insucessos e co n ô m ico s.
Todos estes fracassos d e co rre m d o fa to de que planejava-se u n ic a m e n te a
lavra e o b e n e fic ia m e n to , isto é, as despesas, e n q u a n to não se tin h a c o n tro le das
receitas q u e d e p e n d ia m d o c o n h e c im e n to p ré vio da g e o m e tria , vo lu m e e va ria çã o
dos te o re s d o m in é rio . O c o n c e ito da pesquisa prévia para d e fin iç ã o das reservas,
sobre as quais se d e te rm in a a v ia b ilid a d e d o e m p re e n d im e n to m in e iro , a inda não
tin h a sido d e sen vo lvid o.
Neste s e n tid o , Ferrand re la ta duas situ a çõ es e m b le m á tic a s : a p rim e ira
q u a n d o m o stra q u e em to d o s seus dez anos de o p e ra ç ã o a A n g lo -B ra z ilia n G o ld
M in in g Co. te ve re su lta d os ne ga tivo s; a se g un d a q u a n d o re la ta q u e, ao a p ro fu n ­
d a r a lavra na concessão M in e ra ló g ic a , esta em presa e n c o n tro u u m s e to r o n d e o
q u e devia ser m in é rio se revelou e sté ril, fa to que o b v ia m e n te s u rp re e n d e u os
o p e ra d o re s.
Ferrand não co n ta v a à sua época c o m m apas to p o g rá fic o s da região, m u i­
to m e nos co m m apas g e o ló g ic o s para lhe fa c ilita r a análise das relações e n tre a
m in e ra liz a çã o e a g e o lo g ia da área. C o n se g u iu fa z ê -lo le v a n ta n d o e d e se n h a n d o
co m g ra n d e precisão o p e rfil g e o ló g ic o da re g iã o , fa z e n d o -o passar, a e xe m p lo
d o q u e fize ra E schw ege em 1 8 3 2 , pela ja z id a . C a ra cte riz o u e n tã o ,- e n is to fo i o
p rim e iro a fa z ê -lo a m in e ra liza çã o c o m o um filã o -c a m a d a , e m b o ra esta d is p o ­
sição já fosse a p a re n te no p e rfil de E schwege. Filão p o rq u e seus c o n s titu in te s
p rin cip a is - q u a rtz o le ito s o , tu rm a lin a e a rs e n o p irita - são co m u n s em ja zid a s filo -
nianas, em g e ra l se cantes às e n caixa nte s; e cam ada p o rq u e c o n tra ria m e n te à g e ­
n e ra lid a d e dos filõ e s , a m in e ra liz a ç ã o de Passagem se apresenta c o n c o rd a n te
co m as encaixantes.
C o m o ta l, o cu p a ria u m a d e te rm in a d a p o sição no e d ifíc io e s tra tig rá fic o , o
q u e tin h a duas conse qü ê n cia s interessantes. P rim eiro, suas extensões p o d e ria m
ser e xtra p o la d a s para em seguida serem c o n firm a d a s; se g u n d o , o u tro s co rp o s m í-
ne ra liza d o s p o d e ria m ser p ro sp e cta d o s em o u tra s áreas o n d e se reconhecesse a
m esm a sucessão e s tra tig rá fic a .
C abia e n tã o d e fin ir a sucessão e s tra tig rá fic a o n d e a m in e ra liza çã o o c u p a ­
va um a p o sição bem d e fin id a . Isto Ferrand fe z co m m ae stria, de ta l fo rm a q u e
h o je p o de -se fa c ilm e n te re co n h e ce r pela sua d e scrição cada um a das u n id ad e s
referidas.
A ssim , os m icaxistos q u a rtz o s o s da base de sua c o lu n a c o rre s p o n d e m ao
q u e na e s tra tig ra fia m o d e rn a d o Q u a d rilá te ro F errífero se d e n o m in a G ru p o Nova
Lim a. Seguem -se os q u a rtz ito s m icáceos a trib u íd o s m o d e rn a m e n te à Form ação
M o e d a da base da Série M ina s, c o n s titu íd o s de q u a rtz ito s sericíticos, se ricita -xis-
to s q u a rtzo s o s e, lo c a lm e n te , c o n g lo m e ra d o s . A n a tu re za d o c o n ta to e n tre estas
duas un id ad e s, na re g iã o de Passagem, é a in d a ho je co n tro ve rsa . Para uns tra ta -
se de um c o n ta to essencialm ente n o rm a l, para o u tro s seria um c o n ta to te c tô n ic o .
C o m p re e n d e -se assim a d ú vid a de Ferrand q u a n d o observa q u e os m icaxistos
q u a rtzo s o s tê m n a tu re za b io tític a nas p a rte s su p e rio re s da m ina , to rn a n d o -s e se-
ricítico s nas p a rte s m ais p ro fu n d a s o n d e parecem tra n s ic io n a r aos q u a rtz ito s se-
ricítico s. A in d a q u e h o je se saiba q u e um a im p o rta n te d isco rd â n cia separa estas
duas u n id ad e s, a a p a re n te tra n siç ã o q u e se observa em Passagem c o n tin u a a a li­
m e n ta r a d ú v id a e x p e rim e n ta d a p o r Ferrand e q u e a in d a h o je não está d e fin itiv a ­
m e n te esclarecida. C o m e fe ito , e n q u a n to to d o s c o n c o rd e m q u e a tra n s iç ã o seja
e fe ito de um te c to n is m o , uns o associam a um e m p u rrã o e n v o lv e n d o g ra n d e s
d e slo ca m e n to s, e n q u a n to para o u tro s te ria apenas h a vid o d e sliza m e n to s e n tre
cam adas, a d ic io n a d o ao fa to da Form ação M o e d a c o m p o rta r dois fa cie s: os
q u a rtz ito s se ricíticos típ ic o s e q u a rtz o -filito s q u e em m u ito se assem elham aos xis­
to s su b ja ce nte s.
Ferrand supõe, sem c o n ta r co m a p o io de um a base c a rto g rá fic a , q u e os
q u a rtz ito s se ricíticos o b serva do s na m in a , sejam c o rre la cio n á ve is àqueles lavrados
em O u ro Preto para o b te n ç ã o de lages, bem c o m o a o u tro s o c o rre n d o p ró x im o à
estra d a e n tre O u ro Preto e Passagem ou a in d a a a flo ra m e n to s no le ito d o R ibei­
rão d o C a rm o e n tre as duas lo ca lid a d e s. A c a rto g ra fia m o d e rn a m o s tro u o a ce r­
to desta sup osiçã o q u e dá a d im e n sã o da visão espacial de q u e era d o ta d o .
A cim a da m in e ra liza çã o , fo rm a n d o sua capa, Ferrand descreve xistos c rip -
to c ris ta lin o s q u e se riam fo rm a d o s p o r q u a rtz o , m ica negra e p irita fin a d isse m in a ­
da na massa, alé m de g ra n a d a q u e se co n c e n tra n o lim ite s u p e rio r d o filã o . C o r­
re sp o n d e m aos filito s g ra fito s o s da Form ação B atatal.
Sobre estes se su p e rp õ e m os ita b irito s que c o n s titu e m n o Q u a d rilá te ro
Ferrífero um h o riz o n te chave pelas suas p e cu lia rid a d e s q u e não passaram e v id e n ­
te m e n te desapercebidas para Ferrand. A o fin o b a n d e a m e n to ca ra cte rístico dos
ita b irito s , d e vid o à a lte rn â n c ia de d e lg ad o s e stra to s de q u a rtz o co m o u tro s de he-
m a tita la m e la r d e n o m in o u de m istu ra xistosa. O b se rvo u ta m b é m a presença de
d issem inação c a rb o n á tic a e n tre os estra to s, a lé m de descrever o p ro d u to de a lte ­
ração s u p e rfic ia l desta u n id a d e q u e c o n s titu i a canga q u e fre q ü e n te m e n te fo rm a
u m a carapaça d ura nas encostas d o m in a d a s pelos ita b irito s .
É no p o s ic io n a m e n to da m in e ra liz a çã o neste e d ifíc io e s tra tig rá fic o q u e a
d e scrição de Ferrand é e x tre m a m e n te vaiiosa p o rq u e a b s o lu ta m e n te o b je tiva sem
concessões a h ip ó te se s g enéticas, ao c o n trá rio d o q u e se p ra tic o u p o r m u ito te m ­
po e a inda h o je se p ra tica , q u e consiste em descrever-se o m o d e lo g e n é tic o ao
q u a l se a c re d ita p e rte n c e r a ja zid a .
Ferrand observa q u e , em regra g e ra l, a m in e ra liza çã o se e n c o n tra e n tre os
m icaxistos na lapa e os xistos c rip to c ris ta lm o s na capa. Por vezes um a d e lg ad a ca ­
m ada de x is to n e g ro g ra fito s o ve m se in te rp o r no c o n ta to in fe rio r a c o n te c e n d o o
m esm o, mas m u ito mais ra ra m e n te n o c o n ta to superior. A lé m d isto , e fa to im p o r­
ta n te , os m icaxistos da base p e n e tra m lo c a lm e n te no filã o -c a m a d a fo rm a n d o e n ­
tã o um a falsa lapa, o q u e exciue a in te rp re ta ç ã o p u ra m e n te se d im e n ta r da m in e ­
ralização. A p lic a n d o um ra cio cín io s im é tric o , co n sta ta q u e a m in e ra liz a çã o nunca
p e n e tra nos ita b irito s da capa, o q u e o leva a sugerir, m as sem q u e isto c o n d ic io ­
ne de a lg u m a fo rm a sua descrição, q u e a m in e ra liza çã o seria p o s te rio r aos q u a rt­
zito s m as a n te rio r aos ita b irito s . Não h a ve n d o d isco rd â n cia e n tre estas duas u n i­
dades, m as ao c o n trá rio um a g ra d a ç ã o s e d im e n ta r c o n tín u a , a m in e ra liza çã o só
p o d e ria ser s e d im e n ta r, e m b o ra n ã o n e cessariam ente s tric tu sensu. M as n ã o pa­
rece te r sido esta sua idéia um a vez q u e m ais adiante,, c o m e n ta n d o os filõ e s de
q u a rtz o secantes o c o rre n d o no M o rro de S a nto A n tô n io , ele se re fe re ao filã o de
Passagem c o m o in je ta d o nos q u a rtz ito s .
C o m o n o te m p o de Ferrand a lavra a in d a não tin h a u ltra p a ssa d o o nível
4 3 5 , sua a firm a ç ã o de q u e a m in e ra liza çã o n u nca p e ne tra va os ita b irito s d o te to
p o d e não ser v e rd a d e ira , pois que na a itu ra d o nível 7 0 0 , a tin g id o m u ito m ais ta r­
de, fo i d e s c o b e rto e la vra d o , na década de 2 0 , um n o v o c o rp o m in e ra liz a d o - o
c o rp o Jo p lin . Este c o rp o está to ta lm e n te e n ca ixa d o nos ita b irito s , m u ito e m b o ra
sua e n v o ltó ria im e d ia ta seja descrita c o m o in te ira m e n te a n fib o lític a , o que fa z
pensar n u m a in te rca la çã o c a rb o n á tic a no seio dos ita b irito s . In fe liz m e n te não
e xiste m re la to s sobre sua d e s co b e rta q u e fo i m u ito p ro va ve lm e n te a p a rtir de in ­
dicações su rg id a s no te to da m ina d u ra n te a lavra, já q u e não era usual so n d a r
sis te m a tic a m e n te o te to , a p ro cu ra de co rp o s paralelos "c e g o s ". H oje este c o rp o
se e n c o n tra na p a rte in u n d a d a da m ina.
Nos trê s p e rfis co m q u e ilu stra sua descrição, e q u e a té h o je c o n s titu e m as
m e lh o re s re p re sentações g rá fica s da m in e ra liz a ç ã o de Passagem, fic a cla ro de um
la d o que a m in e ra liza çã o de u m m o d o geral se c o m p o rta c o m o um a cam ada,
o c u p a n d o a p o sição das duas u n id ad e s e s tra tig rá fica s q u e o co rre m e n tre os m i­
caxistos Nova Lima e os ita b irito s : as fo rm a ç õ e s M o e d a e B atatal. N o g e ra l, a m i­
ne ra liza çã o aparece c o n c o rd a n te co m as u n id ad e s da capa e da lapa, m as no d e ­
ta lh e observam -se fre q ü e n te m e n te relações secantes.
De o u tro la d o , no in te rio r d este h o riz o n te , as várias lito lo g ia s - q u a rtz ito s
sericíticos, xistos c rip to c ris ta lin o s , q u a rtz o b ra n co le ito so , q u a rtz o co m tu rm a lin a
e a rse n o p irita e xistos co m vê n ulas de a rs e n o p irita e tu rm a lin a - se in te rp e n e tra m ,
se espessam e se a d eiga ça m de m a n e ira a p a re n te m e n te a le a tó ria . Tendo fe ito es­
tas observações, rigorosas, Ferrand p re fe riu n ã o se a lo n g a r em discussões g e n é ­
tica s além da sug estã o que fez. A p a rtir dos anos 1 9 60 , estas discussões fo ra m
re to m a d a s e não se p o de d ize r q u e te n h a m cessado. C o m e fe ito , baseados nesta
in te rp e n e tra ç ã o a p a re n te m e n te ca ó tica co m a d e lg a ça m e n to s e espessam entos,
uns co n clu e m te r h a vid o g ra n d e tra n s p o rte te c tô n ic o ao lo n g o deste p la n o , fa v o ­
re cid o pelos xistos g ra fito s o s da Form ação B atatal, e n q u a n to para o u tro s não
ho u ve nada m ais q u e u m e s tira m e n to a c o m p a n h a d o de ru p tu ra das lito lo g ia s
co m p e te n te s c o m o os q u a rtz ito s e os tu rm a lin ito s , e p re e n c h im e n to dos vazios
p o r q u a rtz o e calcita
Se Ferrand d e ixo u de se e ste n d e r em co n siderações g e né tica s, tiro u a lg u ­
mas, e m b o ra m odestas, co nclusões práticas das suas observações. R econheceu
qu e Passagem , M a tta C avalo e M o rro de S a n t'A n n a fa z ia m p a rte de um m esm o
h o riz o n te , m in e ra liz a d o de fo rm a d e sco n tín u a q u e apre se nta va um a extensão la­
te ra l de 4 k m e q u e p o d e ria se p ro lo n g a r a té Taquara Q u e im a d a a n o rd e s te e, a
oeste, a té a m ina de Saragoça em O u ro Preto, o q u e elevaria esta e xte nsã o para
alé m de 1 1 km . Em p ro fu n d id a d e , nada no in te rio r da m ina indicava que a m in e ­
ra lização deixasse de a p re se n ta r ta m b é m g ra n d e c o n tin u id a d e .
A área lavrada n o te m p o d e Ferrand co rre s p o n d e a apenas 1 0 % d a qu e la
a tin g id a ao fin a l do seu ú ltim o p e río d o p ro d u tiv o em 1958. Nesta d a ta a lavra fo i
in te rro m p id a p o r fa to re s e co n ô m ico s, sem q u e a m in e ra liza çã o tivesse sid o e x a u ­
rida. Isto m o stra o a c e rto da sup osiçã o de c o n tin u id a d e .
A d e scrição d e ta lh a d a e precisa de Ferrand das operaçõe s de lavra e be-
n e fic ia m e n to de Passagem , revela, c u rio s a m e n te pe lo que ele d e ixo u de descre­
ver, um a das g ra n d e s d e ficiê n cia s da e n g e n h a ria de m ina da época, o u seja a fa l­
ta de c o n tro le dos te o re s nas fre n te s de lavra. Os te o re s m o stra d o s na ta b e la I re­
fe re m -se às to n e la g e n s de m in é rio m o íd o e não a m édias de te o re s de a m o s tra ­
gens nas fre n te s de tra b a lh o . Eles c o m p o rta m trê s im p o rta n te s depressores. O p ri­
m e iro e m ais im p o rta n te é re p re se n ta d o pelas perdas no processo de b e n e fic ia -
m e n to e stim a d a s p o r Ferrand em 3 4 % . Em se g uida vem as d ilu içõ e s na lavra -
m istu ra de m a te ria is de a lto te o r co m o u tro s de b a ixo te o r - e fin a lm e n te alguns
êrros de cá lcu lo d e vid os a conversões p ro b le m á tic a s de vo lu m e s de m in é rio a b a ­
tid o em pesos, u tiliz a n d o p ro va v e lm e n te um a d e nsida d e m édia. Já era c o n h e c id o
na é p oca q u e as gra n de s massas de q u a rtz o le ito so , q u e nos três p e rfis m o s tra ­
dos, c o m p re e n d e m vo lu m e s substanciais, eram estéreis o u c o n tin h a m te o re s b a i­
xos. Não h a ve n d o c o n tro le dos te ore s, lavrava-se e be ne ficiava-se tu d o q u e e s ti­
vesse e n tre a capa e a lapa, re d u n d a n d o n u m a d ilu iç ã o exagerada d o m in é rio , o
q ue c e rta m e n te fo i um a das causas dos insucessos e co n ô m ico s. O a u m e n to do
te o r m é d io o b tid o n o p e río d o e n tre 1 8 84 e 1 9 27 , q u e passou de 7 ,2 4 g /t para
1 1 ,5 7 g /t deve ser re s u lta d o de m e lh o ria s in tro d u z id a s q u e r na lavra q u e r n o be-
n e fic ia m e n to o u em am bas.
O u tro a sp e c to in te re s s a n te q u e ressalta da d e s criç ã o d e ta lh a d a de Fer­
ra n d , da o p e ra ç ã o de Passagem , é c o m re la çã o ao m e io a m b ie n te . C o m e fe ito ,
Ferrand re p o rta q u e e n tre 1 8 6 4 e 1 8 8 8 , os e flu e n te s d o processo de a m a lg a m a -
ção para a re cu p e ra çã o d o o u ro , q u e e ra m la n ça d o s n o R ibe irão d o C a rm o , c o n ­
tin h a m m e rc ú rio n u m a p ro p o rç ã o m é d ia de 3 5 g H g p o r to n e la d a de m in é rio tra ­
ta d o . R esulta, q u e s o m e n te n este p e río d o , fo ra m v e rtid a s n o R ibe irão d o C a r­
m o , nada m e nos q u e 3 ,6 t de m e rc ú rio . A p a rtir de 1 8 8 8 , o ritm o tin h a re d u z i­
d o para 2 0 g H g /t de m in é rio tra ta d o . S a be n d o-se , de u m la d o , q u e a a m a lg a m a -
ção ta m b é m tin h a s id o usada em o p e ra ç õ e s a n te rio re s e, q u e c o n tin u o u a ser
usada na lavra p o s te rio r e, de o u tro la d o , c o n s id e ra n d o a p ro p o rç ã o da área la ­
vra d a n o te m p o de Ferrand para a área to ta l tra b a lh a d a em 1 9 5 8 , o passível
a m b ie n ta l de Passagem , p o d e ser a v a lia d o em 4 3 ,5 t de m e rc ú rio de spe ja d a s no
re fe rid o rib e irã o .
Um asp ecto a d ic io n a l im p o rta n te para a ca ra cte riza çã o da m in e ra liza çã o
de Passagem é o do seu q u im is m o , q u e p e rm ite e sta be le ce r pa ra le lo s co m o u tra s
jazidas de o u ro . O arsênico (na a rse n o p irita ), o a n tim ô n io (na e s tib n ita ) e o bis-
m u to (na fo rm a de m a ld o n ita ) são os e le m e n to s g e o q u im ic a m e n te im p o rta n te s ,
que neste asp ecto p a rtic u la r a a p ro x im a m das jazidas de M a ld o n (A u strá lia ) e Sal-
signe (França).
PRÁTICAS DE MINERAÇÃO NA MINA DE PASSAGEM

JU V E N IL FÉLIX

In tro d u ç ã o

Ensina o Prof. Jo a q u im M a ia , da Escola de M inas de O u ro Preto, q u e m i­


ne ração é A rte e C iência ; e n te n d e n d o -s e a in d a q u e : "m in e ra ç ã o é a a rte de des­
co b rir, a va lia r e e x tra ir as su b stâncias m in e ra is úteis existe n tes no in te rio r o u na
su p e rfície da te rra " ,
S e ndo A rte (c o n ju n to de p re ce ito s para a p e rfe ita e xecução de u m a fin a ­
lidade), "a m in e ra çã o deve ser e n te n d id a c o m o a rte lib e ra l, isto é, m ais d e p e n ­
d e n te da in te lig ê n c ia q u e de h a b ilid a d e s m anuais".-
A ssim d e fin id a , a sua co rre ta a p lica çã o exige q u e seja fe ita de fo rm a a p re ­
servar as riquezas m in e ra is d e n tro de p rin c íp io s sócio e c o n ô m ico s q u e a te n d a m
aos interesses n a cio na is e a fe lic id a d e da h u m a n id a d e .
Isto requer, pois, a u tiliz a ç ã o de recursos q u e sejam c o n tro la d o s p o r m é ­
to d o s e fic ie n te s , q u e to d o de spe rdício seja e vita d o , e q u e cada bem m in e ra l seja
e m p re g a d o em h a rm o n ia co m a sua n a tu reza e as necessidades sociais.
Nesta a m p litu d e de co n tro le s e d o m ín io s da té cn ica , su rg e a necessidade
de ap lica çã o de diversas especialidades afins, e n g lo b a d a s no q u e se d e n o m in a
ciências da te rra , tais c o m o , g e o g ra fia , g e o lo g ia , m in e ra lo g ia , g eofísica, g e o q u í-
m ica, q u e p o r sua vez se d e sd o b ra m em o u tra s dezenas de especialidades.
É esta c o n ju g a ç ã o de A rte e Ciência, que in d u z a to d o s q u e se d e d ica m à
m in e ra çã o q u e o fa ça m co m um a p a ixã o irresistível. Este s e n tim e n to p o d e ser p e r­
ce b id o em to d o s os níveis de p ro fission a is, naqueles q u e fre q ü e n ta ra m as escolas
e u n iversidades, a té naqueles q u e a p re n d e ra m e se to rn a ra m "p ro fe s s o re s " na
lida d o tra b a lh o .
Destes ú ltim o s , presenciam os fa to s m e m orá veis de c o ra g e m , de dicação e
c ria tiv id a d e , p o ré m um deles im p re s sio n o u -m e de ta l m a n e ira , q u e p e rm ito -m e
re la tá -lo co m o um e xe m p lo , d e n tre ta n to s o u tro s.
De ce rta fe ita , um o p e rá rio de um a m ina su b te rrâ n e a in d a g a d o sobre os
m o tivo s que o levaram a tra b a lh a r e g o s ta r de tra b a lh a r no su bsolo , ele re sp o n -
deu sem p e s ta n e ja r: "a q u i é o lu g a r em q u e m e realizo: to d o s os dias eu c o lo ­
co o pé n u m lu g a r em q u e n in g u é m n u nca p is o u "; referia-se, e v id e n te m e n te , às
novas a b e rtu ra s d e co rre n te s d o avanço de tú n e is e galerias.
Isto vem se re p e tin d o e a p rim o ra n d o desde a é poca em que o h o m e m , u t i­
liz a n d o um a pedra de fo rm a a p ro p ria d a presa a um b a stão de m a d e ira , c rio u o
m a ch a d o ou b o rd u n a para assegurar a sua sobrevivência.
M ic h e la n g e lo , em sua sa b ed o ria, p ro m o v e u o d e s e n v o lv im e n to de té c n i­
cas q u e lhe p e rm itira m a escolha de b lo co s de rochas, sem im p e rfe iç õ e s, para
b rin d a r a h u m a n id a d e co m sua a rte e te rn a ; ele p e rcebeu q u e a análise da q u a li­
d a de da rocha, fe ita ao alvorecer, u tiliz a n d o -s e da d e co m p o s içã o da luz so la r s o ­
bre a pedra m o lh a d a , indicava as im p e rfe iç õ e s existe n tes e, assim, p o d e ria sele­
cio n a r os m e lh o re s b lo co s para as suas e sculturas.
D aqueles que tiv e ra m a o p o rtu n id a d e de re la ta r as suas experiências em li­
vros e a rtig o s, o s e n tim e n to de id e a lism o a flo ra nas riquezas de de ta lh e s q u e e n u ­
m eram e re g istra m a té cnica, a h a bilid a d e , a cria tiv id a d e das soluções, aplicadas
n o convívio h a rm ô n ic o d o h o m e m com a n a tu reza , na e x tra o rd in á ria m issão de
tra n s fo rm a r recursos n a tu ra is em riquezas para o uso e o bem da h u m a n id a d e .
D e n tre estes a u to re s, há um d e sta q u e especial q u e p o d e ser o b se rva d o no
tra b a lh o in titu la d o L 'O ra M in a s Geraes, - 1 8 94 , 2a ed. 1 9 13 - Bresil, de Paul Fer­
rand, a n tig o a lu n o d 'É co le N a tio n a le S u p é rie u re des M in e s d e Paris - P rofessor de
m e ta lu rg ia e e x p lo ta ç ã o de m inas na Escola de M inas de O u ro Preto, co m base no
q u al a n alisa m o s as p rá tica s da m in e ra çã o na M in a de Passagem de M a ria na .
A o fin a liz a r esta in tro d u ç ã o , n ã o p o d e ria d e ixar de re le m b ra r a g ra n d e
c o n trib u iç ã o que a m in e ra çã o de o u ro le g o u à h u m a n id a d e d u ra n te o e sp fen d o r
d o C iclo d o O u ro , co m a g e ração de cen ten a s de obras de a rte em e d ifica çõ e s e
e sculturas, em obras de a rtista s c o m o A le ija d in h o , e na c o n trib u iç ã o para o p ro ­
cesso p o litic o q u e re s u lto u na In d e p e n d ê n cia d o Brasil.
Este tra b a lh o te m p o r o b je tiv o a p re se n ta r um " r e tr a to " da p rá tica de m i­
neração na M in a de Passagem.
D O G A R IM P O À A T IV ID A D E EM PRESARIAL

A d e sco be rta d o o u ro , na re g iã o de O u ro Preto o co rre u em 1 6 99 pelos


p a ulista s A n tô n io Dias, Tomas Lopes C a m a rg o , Francisco Breno da Silva e Padre
João de Faria, cujas e xtra çõ e s o c o rria m esse n cia lm e n te nos le ito s dos rios. C om o
e s g o ta m e n to das reservas de o u ro a lu vio n ar, as buscas tra n s fe rira m -s e para as
m o n ta n h a s , o n d e as a tivid a d e s extra tíva s to rn a va m -s e m u ito m ais onerosas.
Nessa é p oca, p ro cu ra va -se apücar nas m o n ta n h a s , os m esm os m é to d o s
a té e n tã o u tiliz a d o s nos rios, fa z e n d o a b e rtu ra n o solo e rochas alte ra d as, cu jo
m a te ria l era tra n s p o rta d o para a lavação e a p u ra ç ã o em bateias ju n to ao rio,
D eu-se, assim , in ício à p rá tic a da m in e ra çã o a céu a b e rto no Brasil.
As g ra n d e s d ific u ld a d e s pe lo d e s c o n h e c im e n to de té cn ica s adeq u a da s de
m ecânica de rochas, o q u e p ro vocava d e sa b a m e n to das paredes la te ra is das es­
cavações, a lia d o aos a lto s im p o s to s {o q u in to d o o u ro ), fiz e ra m co m q u e os tr a ­
balhos nas m o n ta n h a s fo sse m se ndo a b a n d o n a d o s.
Q u a n d o as m inas, na re g iã o d e O u ro Preto, estavam em p le n a a tivid a d e
em 1 7 50 , e xistia m cerca de 8 0 .0 0 0 tra b a lh a d o re s , n ú m e ro este re d u z id o para
6 .0 0 0 pessoas em 1820.
É in te re ssa n te notar, neste asp ecto , q u e as a tivid a d e s de g a rim p o em Ser­
ra Pelada, na década de 8 0 , tin h a m , a p ro x im a d a m e n te , o m esm o n ú m e ro de
8 0 .0 0 0 h o m e n s tra b a lh a n d o na e xtra çã o de o u ro .
C om a paralisação das m inas, o re co lh im e n to dos im po sto s (q u in to ) caiu
de 1170 q u ilo s de o u ro em 1750, para 5 7 0 q u ilo s em 1799 e, 105 q u ilo s em 1819.
Q u a n d o a Fam ília Real ch e g o u ao Brasil, p ro cu ro u -se d a r m a io r a ten çã o
aos p ro b le m a s sociais q u e a tin g ia m os g a rim p e iro s pela fa lta de tra b a lh o . O e n ­
tã o M in is tro de Estado, C o n d e de Linhares, e n vio u a M in a s G erais, em 1 8 11 , o
Barão vo n Eschwege, e n g e n h e iro a le m ã o , para o rie n ta r os g a rim p e iro s no s e n ti­
d o de a u m e n ta r a p ro d u tiv id a d e das m inas.
A s té cn ica s e e q u ip a m e n to s p o r ele p ro p o s to s fo ra m recusadas pelos g a ­
rim p e iro s q u e in sis tira m em suas p rá tica s p rim itiva s.
E schw ege, co n sc ie n te de q u e seria necessário p e rsistir na in tro d u ç ã o de
novas té cn ica s de m in e ra çã o , co n ve n ce u o g o v e rn o em criar, através de d e cre to
em 1 8 1 7 , p o u c o an te s da In d e p e n d ê n cia , um a em presa de m in e ra çã o que a d q u i­
riu a M in a de Passagem, através da em presa d e n o m in a d a S ociedade M in e ra ió g i-
ca de Passagem.
Este fo i o m o m e n to da tra n s fo rm a ç ã o da m in e ra çã o na M in a de Passagem
de g a rim p o para a p rim e ira a tiv id a d e e m p re sa rial o rg a n iza d a .
A p e s a r d o ê x ito d o e m p re e n d im e n to , e sta e x p e riê n c ia d u ro u p o u c o , p o rq u e
E schw ege te ve que a b a n d o n a r o Brasil p o r m o tivo s p o lítico s.
S o m e n te após a In d e p e n d ê n cia do Brasil é q u e fo ra m o rg a n iza d a s as c o m ­
panhias de m in e ra çã o de o u ro , se ndo q u e a m a io ria delas e ram inglesas, co m o
o b je tiv o de la n ç a m e n to de ações na Bolsa de Londres e m a io r e n fo q u e em espe­
cu lação d o q u e em e xp lo ta ç ã o p ro p ria m e n te d ita .
Para re to m a r a e x p lo ta ç ã o na M in a de Passagem fo i criada, em 1 8 6 3 , a
em presa A n g lo B ra zilia n G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d .

A JA Z ID A - C A R A C T E R ÍS T IC A S G E O L Ó G IC A S

A ja z id a de Passagem é d o tip o ve e iro -ca m a d a (filã o ), fo rm a d a p o r q u a rt­


zo e p irita a u rífe ra , co m d ire çã o NE, e m e rg u lh a co m u m a in c lin a ç ã o de 18o a 20°
para SE.
As rochas e n caixa nte s d o filã o são co m p o sta s de q u a rtz ito s xistosos na
lapa, m ica xisto s e ita b irito s na capa, sendo q u e , em a m b o s os casos, as rochas são
m u ito c o m p e te n te s .
O c o m p o rta m e n to da ja zid a é b a sta n te regular, se n d o sua in clin a ç ã o p ra ­
tic a m e n te c o n s ta n te , co m p equenas variações em sua direÇão. E n tre ta n to , a es­
pessura é m u ito va riável, a sse m elhando-se às e s tru tu ra s em rosário, v a ria n d o de
2 ,0 m a 1 5 ,0 m , a p re s e n ta n d o ta m b é m g ra n d e va ria çã o de te o re s d e n tro destes
bolsões. Os te o re s m enores, situ a d o s no q u a rtz o le ito so , tê m de 2 a 3 g ra m a s /to ­
n elada, e n q u a n to q u e, nos locais o n d e a p arecem m isp iq u e l e tu rm a lin a , o c o n ­
te ú d o de o u ro p o d e alca n ça r a té 2 0 0 g ra m a s/to n e la d a .
A ja zid a a p re se n ta um a e xte nsã o de pe lo m e n o s q u a tro q u ilô m e tro s , se­
g u n d o a d ire çã o , se n d o que, n o in te rio r da m in a , fo ra m realizadas tra b a lh o s no
filã o em 7 0 0 m de d istâ n cia s e g u n d o a d ire çã o e 4 5 0 m em p ro fu n d id a d e .
C o n clu íd o s os tra b a lh o s e co n o m ic a m e n te viáveis para a lavra a céu a b e r­
to nos locais d e n o m in a d o s Fundão, M in e ra ló g ic a , Paredão e M a ta -C a v a lo , a d o ­
to u -se , in ic ia lm e n te , a p rá tic a da lavra su b te rrâ n e a na área d o Fundão.
A M IN A

1. P re p a ra ç ã o d o p á tio in d u s tria l

0 filã o a flo ra va em cerca de 5 5 m acim a d o nível d o R ibeirão d o C a rm o .


N um a p la ta fo rm a ali e xiste n te , criou -se o p á tio para circu la çã o de pessoal e m a ­
te ria l e acesso para o su bsolo, a través de dois Planos In clin a d os (lo c a lm e n te d e ­
n o m in a d o s Pia), bem co m o a in sta la çã o da usina de tra ta m e n to m e ta lú rg ic o (ta m ­
bém co n h e cid a co m o e n g e n h o ).
U m sistem a de via fé rre a era u tiliz a d o para tra n s fe rê n c ia de m a te ria l dos
d e p ó sito s e a lm o x a rifa d o s para os Planos In clin a d os e o m in é rio deste para a u s i­
na de tra ta m e n to m e ta lú rg ic o .
Os resíduos da usina e os estéreis re tira d o s da m in a e ra m la n çados d ire ta ­
m e n te n o R ibeirão d o C arm o.
O a c e n tu a d o relevo ali e xiste n te fo i u tiliz a d o para d is trib u iç ã o dos e q u ip a ­
m e n to s, a rra n jo geral da usina, de m a n e ira a a p ro ve itar-se dos desníveis, fa z e n ­
do, p o r co n se qü ê n cia , a tra n s fe rê n c ia da p o lp a p o r g ra vid a d e , e vita n d o -s e , assim
a necessidade de b o m b e a m e n to .

2. D e s e n v o lv im e n to d a m in a

Os tra b a lh o s de d e s e n v o lv im e n to da m ina c o m p re e n d e n d o Planos In c lin a ­


dos para acessos p rin cip a is em p ro fu n d id a d e , a b e rtu ra de galerias de tra n s p o rte
(tú n e is o u galerias de nível), galerias para exposição de m in é rio e g a le ria s para
d re n a g e m e para v e n tila ç ã o e ram c o n h e cid a s na M in a de Passagem p e lo te rm o
re g io n a l d e n o m in a d o tra ça g e m .
A divisão h o riz o n ta l da ja zid a era fe ita em painéis (níveis) o u andares de
50 e 35 m etros.
O acesso p rin cip a l aos tra b a lh o s su b te rrâ n e o s fo i c o n s titu íd o , in ic ia lm e n ­
te , p o r dois Pianos In clin a d o s (Pia) a fasta d o s e n tre si, na su p erfície , p o r 3 0 m , que
acessavam a ja z id a de m o d o d iv e rg e n te , fo rm a n d o o Plano n° 1 em â n g u lo de 10°
à esquerda co m o m e rg u lh o d o filã o , e o Plano n° 2, situ a d o à esquerda d o n° 1,
fo rm a n d o co m este um â n g u lo de 15°.
0 o b je tiv o destes planos d ive rg e n te s, era p e rm itir o acesso a d ife re n te s
posições da ja zid a q u e pro p icia sse m um a m e n o r d istâ n cia de tra n s p o rte h o riz o n ­
ta l das fre n te s de lavra às estações de carga nestes planos, e daí ao p á tio in d u s ­
tria l, O Plano n° 1 possuía um a seção de 3 ,5 0 m de la rg u ra p o r 2 ,5 0 m de a ltu ra ,
se ndo u tiliz a d o para tra n s p o rte de pessoal, m a te ria l e m in é rio , e n q u a n to que, no
Plano n° 2, a seção era de 3 ,0 0 m de la rg u ra p o r 2 ,2 0 m de a ltu ra e a sua u tiliz a ­
ção era apenas para tra n s p o rte de m in é rio .
Estes Planos estavam p o sicio n a d o s s e g u n d o o m e rg u lh o e a c o m p a n h a va m
o te to d o filã o . M ais ta rd e , fo i a b e rto um no vo Plano In c lin a d o (Pia 3), q u a n d o o
tra n s p o rte a NE d o Plano in c lin a d o 2 (Pia 2) a tin g iu 5 0 0 m de d istâ n cia , d istâ n cia
esta já m u ito lo n g a para tra n s p o rte com tra ç ã o m a n u a l de v a g o n e te s de 5 0 0 k g
de capacidade.
Em 1 8 92 , a m ina já alcançava 4 5 0 m de exte nsã o s e g u n d o o m e rg u lh o .
A s galerias de tra n s p o rte (galerias de níveis) possuíam 2 ,0 0 m de la rg u ra
p o r 2 ,0 0 m de a ltu ra , a c o m p a n h a n d o o m in é rio s e g u n d o a d ire çã o . Nos tre ch o s
em que a espessura era m aior, estas galerias tin h a m d im e n sõ e s de 3 ,0 0 m de la r­
g ura p o r 2 ,0 0 m de a ltu ra .
A ssim co n ce b id a a " tra ç a g e m ", fica v a m d is p o n ib iliz a d o s fre n te s de tra ­
b a lh o co m 3 5 m a 5 0 m de la rg u ra , co rta d a s em in te rva lo s variáveis e n tre 4 0 m a
7 0 m , p o r galerias in clinadas, fo rm a n d o -s e b lo co s re ta n g u la re s para a extração.

3. M é to d o d e la v ra

Tendo-se em c o n ta o baixo nível té c n ic o co m q u e se p ra tica va a lavra a céu


a b e rto , e em c o n tra p o s iç ã o , os cu id a d o s e té cn ica s q u e vie ra m a ser aplicadas na
m ina su b te rrâ n e a , este tra b a lh o dará e n fo q u e apenas a esta ú ltim a .
Há q u e se considerar, a in d a , que os g a rim p o s em o u ro a lu v io n a r no R ibei­
rão d o C a rm o fo ra m s u b stitu íd o s, m u ito s anos mais ta rd e , p o r d ra g a g e m com
té cn ica a p u ra d a , q u e p e rm itiu q u e u m m esm o local d o rio fosse lavrado alg u m a s
vezes, em p a rte pela baixa re cu p e ra çã o d o o u ro d e v id o às técnicas usadas em
épocas a n te rio re s, em p a rte pela renovação d o d e p ó s ito pe lo c a rre a m e n to d o
o u ro das fo n te s prim á ria s.
3 .1 . Lavra sub terrânea

D ada as características da ja zid a , descritas a n te rio rm e n te , co m ênfase


para a in clin a çã o e re g u la rid a d e d o filã o e as rochas e n caixa nte s serem c o m p e te n ­
tes, o p to u -s e pela u tiliz a ç ã o d o m é to d o d e lavra p o r câm aras e p ila re s q u e c o n ­
siste em c o n s tru ir as câm aras de extra çã o d o m in é rio , d e ixa n d o -se pilares em in ­
te rva lo s variáveis, p o ré m co m p a tív e is co m a su ste n ta çã o d o te to .
O m é to d o de lavra p o r câm aras e pilares te m c o m o p rin c íp io para a sua
a p lica çã o a d is trib u iç ã o das cargas so b re ja ce nte s sobre os pilares, le va ndo-se em
co n ta a resistência m ecânica de rocha,
Este m é to d o é u tiliz a d o , na m a io ria das vezes, em jazidas co m in clin a ç ã o
in fe rio r a 20°.
Este m é to d o de lavra é a in d a ho je u tiliz a d o em ja zid a s co m c a ra cte rís ti­
cas sim ilares, c o m variações em d e co rrê n cia da e vo lu çã o te c n o ló g ic a dos e q u ip a ­
m e n to s e fe rra m e n ta s , c o m o p o r e xe m p lo , o uso de brocas co m p a stilh a s de ca r-
b o n e to de tu n g s tê n io em lu g a r de brocas e stam padas, a u tiliz a çã o de p e rfu ra tri-
zes p n e u m á tica s, de ju m b o s e le tro -h id rá u lic o s , de rastelos (scrapers), de ca rre g a ­
deiras sobre pneus e ca m in h õ e s e lé trico s ou à diesel, bem c o m o da g ra n d e e vo ­
lu çã o dos c o n h e c im e n to s de m ecânica de rocha, que p e rm itira m o d im e n s io n a -
m e n to de câm aras m a iores em relação ao a fa s ta m e n to dos. pilares, e a u xílio na
su ste nta çã o d o te to p o r sistem a de a p a ra fu s a m e n to (cavilhas).
Para ap lica çã o deste m é to d o na M in a de Passagem, e xistia m c o m o v a n ta ­
gens o c o m p o rta m e n to re g u la r da ja z id a , co m in clin a çã o a d e q u a d a e p ra tic a m e n ­
te co n s ta n te , o fa to das rochas e n caixa nte s serem c o m p e te n te s , ta n to na capa
q u a n to na lapa, e te n d o -s e c o m o d e sva n ta g e m , a g ra n d e va ria çã o da espessura
d o filã o , bem c o m o a irre g u la r d is trib u iç ã o de o u ro d e n tro do filã o .
Para co m p e n sa r as d ific u ld a d e s da d is trib u iç ã o irre g u la r d o te o r d o o u ro ,
o p to u -s e p o r lo ca lizar pilares em zonas de baixo te o r, sendo estes abandonados,-
e nos casos em q u e o a fa s ta m e n to e n tre os pilares, em m in é rio de a lto te o r, es­
tava acim a dos lim ite s capazes de s u p o rta r o te to das fre n te s de tra b a lh o , e ram
co n stru íd o s pilares a rtific ia is , co m rocha e sté ril, o b tid a a p a rtir da tria g e m d o es­
té ril d e s m o n ta d o ju n to c o m o m in é rio , o u e xtraída em locais de rocha estéril.
A c o n s tru ç ã o destes p ila re s a rtific ia is era fe ita a tra vé s da s u p e rp o s iç ã o
de p e d ra seca (em a lg u m a s m ina s de M in a s G erais, d e n o m in a d o s m u ros ou p e ­
d re ira s), de fo rm a a rte s a n a l, e n o caso e sp e cífico de Passagem , q uase um a
o b ra de a rte .

3 .2 . P e rfu ra ç ã o e d e s m o n te

A p e rfu ra ç ã o era fe ita co m p o n te iro (broca de aço de seção o c to g o n a l,


esta m p a d a ) e m a rre ta , o p e ra d a peios b ro q u e iro s . Possuía um d iâ m e tro de 22 m i­
lím etros, e os jo g o s de brocas tin h a m os c o m p rim e n to s v a ria n d o de 0 .3 0 m ;
0 ,4 5 m ; 0 ,6 0 m ; 0 ,9 0 m ; 1 ,2 0 m ; 1 ,3 5 m ; 1 ,5 0 m ; 1 ,5 0 m ; 1 ,8 0 m .
A o fin a l de cada tu rn o de tra b a lh o (0 6 :0 0 h s . às 14 :0 0 h s. e 1 7 :0 0 h s. às
00:01 hs), carregavam -se os fu ro s co m d in a m ite -g o m a de N obel de fa b rica çã o
francesa, a c o n d id o n a d a s em c a rtu ch o s co m 2 0 m ilím e tro s de d iâ m e tro e 100 m i­
lím e tro s de c o m p rim e n to . A razão de carga era de 2 c a rtu c h o s p o r to n e la d a des­
m o n ta d a . A s d e to n a çõ e s eram realizadas às 1 4 :0 0 h s. e 0 1 :0 0 h s.
O in te rv a lo e n tre o fim e o in ício de cada tu rn o era para saída dos gases
e poeiras, re su lta n te s da d e to n a ç ã o . Por razões de segurança, co n ce dia-se pe lo
m enos o in te rv a lo de um tu rn o , para q u e os tra b a lh o s fossem re to m a d o s na fre n ­
te q u e fo ra d e to n a d a n o tu rn o a n te rio r.
Já n a qu e la época, havia tra b a lh o s te rc e iriz a d o s (d e n o m in a d o s c o n tra tis -
tas), para escavação das galerias de d e s e n v o lv im e n to da m in a , e sp e c ia lm e n te das
galerias de nível e p ia n os in clin a d o s e, ta m b é m , para lavra d o m in é rio . A re m u n e ­
ração dos c o n tra tis ta s era fe ita p o r m e tro c ú b ico d e s m o n ta d o , no caso da lavra,
e p o r m e tro linear, n o d e s e n vo lv im e n to .
Esta p rá tica da te rce iriza çã o é, a inda hoje, u tiliz a d a c o m fre q u ê n c ia no
Brasil para o d e s e n v o lv im e n to de tú n e is , Planos In clin a d o s e poços ve rtica is, e
ta m b é m no C anadá e USA inclusive para a p ro d u ç ã o de m in é rio .

3 .3 . C a rre g a m e n to e tra n s p o rte

Os m a te ria is d e sm o n ta d o s c o n s titu íd o s de m in é rio e estéril e ram se le cio ­


nados e tra n s p o rta d o s em. c a rrin h o de m ão, c irc u la n d o sobre tá b u a s. O m in é rio
era a c u m u la d o ju n to à via fé rre a q u e in te rlig a v a o p o n to de e xtra çã o à estação
de carga d o Plano In clin a d o , o u la n ça d o em poços ve rtic a is (cham inés) para ser
re to m a d o n o nível in fe rio r. O e sté ril era usado c o m o a te rro nas câm aras já la vra ­
das, ou para c o n s tru ir os pilares a rtific ia is .
O m in é rio era tra n s p o rta d o nas galerias de nível, em va g o n e te s de cerca
de 5 0 0 q u ilo s, q u e tra fe g a v a m so b re trilh o s e m p u rra d o s pelos carreiros.
A lin h a fé rre a possuía um a b ito la de 0 ,4 0 m nas galerias de re co rte s (ou
acessos secundários).
A e xtra çã o d o m in é rio d o in te rio r da m ina para a su p e rfície era fe ito p o r
tra çã o m e cânica através dos Planos In clin a d os n° 1 e n° 2, em va g o n e ta s bascu-
lantes co m p o rta la te ra l, q u e deslizavam n u m a via té rre a , tra c io n a d a p o r um ca b o
de aço, a cio n a d o p o r um g u in c h o s itu a d o na su p erfície .

3 .4 . D e s a g u a m e n to d a m in a

Fazia-se o d e s a g u a m e n to p o r m e io de b o m b a s em série, instaladas ao lo n ­


g o dos Planos In clin a d o s n° 1 e n° 2. Todas as b o m b a s tin h a m o eixo fix a d o em
b a la n ço em um e ixo -m e s tre , q u e se este nd ia ao lo n g o d o Plano In c lin a d o , a p o ia ­
dos de d istâ n cia em d istâ n cia em roda livre. O a c io n a m e n to das b o m b a s era fe i­
to p o r um a roda h id rá u lica e xte rn a , co m 6 ,8 0 m de d iâ m e tro , situ a d a na e n tra d a
d o Plano, e p o r um a p e qu e n a roda P elton, in sta la d a na ju n ç ã o d o Plano e da g a ­
leria de e s co a m e n to , p ara a p ro v e ita m e n to de um a q u e d a d 'á g u a de 7 m , d o ca ­
nal de e n tra d a d o Plano, e 50 m e tro s desse p o n to até a g a le ria de saída.
A b o m b a s u p e rio r p ro d u z ia 3 6 0 litro s p o r m in u to .
A s d ific u ld a d e s co m o b o m b e a m e n to d 'á g u a a ca rre ta ra m a a b e rtu ra de
galerias de d re n a g e m (lo n g o s tú n e is ) nos niveis 175 e 3 1 5 , a b a ixo da e n tra d a dos
trê s Pianos Inclinados.

3 .5 . V e n tila ç ã o

O sistem a de v e n tila çã o da m ina era p o r tira g e m n a tu ra l. Nas galerias mais


p ro fu n d a s , u tilizava -se da in je çã o de ar c o m p rim id o a través de tu b o s .
3 .6 . Ilu m in a ção

U tiliza va m -s e pequenas lâm p a d a s de fe rro , co m a ilu m in a ç ã o fo rn e c id a


pela q u e im a de ó le o de rícino (m a m o n a).

4 . G e re n c ia m e n to d a m in a

A e s tru tu ra o rg a n iz a c io n a l da m ina era c o m p o s ta p o r um C a p itã o da


M in a , capatazes e o p e rá rio s e specializados em p e rfu ra ç ã o e d e sm o n te , na lavra,
d e s e n v o lv im e n to , c a rre g a m e n to e tra n s p o rte .
A m ão de o b ra era c o m p o s ta de b rasileiros e e stra n g e iro s, n o ta d a m e n te
ita lia n o s, q u e em g e ra l exe cu ta va m os tra b a lh o s de e m p re ita d a (c o n tra tista s).

5. P ro d u ç ã o e custo

A p ro d uç ão m ensal de m in é rio a tin gia um a m édia de 3 .8 0 0 toneladas, ou


150 toneladas p o r dia, produzidas p o r um to ta l de 3 6 0 hom ens, p o rta n to , com p ro ­
d u tivid a d e de 0 ,4 2 to ne la d a s de m iné rio p o r hom em .
No período de 1859 a 1868, fo ra m extraídos 7 5 3 .5 6 0 gram as de ouro, c o r­
respondendo a um te o r m é dio de 7 ,2 4 gram as p o r to n e la d a do m etal.
O custo de extração de m iné rio no período de 1891 a 1892, era o seguinte:
CU STO DA EXPLOTAÇÃO N O EXERCÍCIO 1891 - 1892
TONELADAS EXTRAÍDAS: 46.20 0

C usto da Explotação p o r
Despesas A nuais
Tonelada

Em réis Em francos Em réis Em francos

1. C apitania 2 :6 5 0 $ 0 0 0 3 ,65 5 05057 0 ,0 8

II. M ã o de O bra:

D esm onte 1 8 7 :2 9 8 5 0 0 0 2 5 8 ,3 4 2 45054 5,59

Traçagem 8 3 :2 1 1 5 0 0 0 114,773 15801 2 ,4 9

Extração 2 1 :9 7 1 5 0 0 0 3 0 .3 0 5 05475 0 ,6 5

2 9 2 :4 8 0 5 0 0 0 4 0 3 .4 2 0 65330 8,73

III. M ã o de O bra:

D esm onte 3 2 :1 9 0 5 0 0 0 4 4 ,4 0 0 0 5 69 7 0 ,96

Traçagem 2 9 :7 7 8 5 0 0 0 4 1 ,0 7 3 05644 0 ,89

6 1 :9 6 8 5 0 0 0 8 5 .4 7 3 15341 1,85

IV. Barra m ina 5 :8 0 9 5 0 0 0 8,081 05126 0,17

V. Ilum inação 7 :7 7 1 5 0 0 0 10,718 05168 0,23

VI. Ilum inação 1 9 :0 0 0 5 0 0 0 2 6 ,2 0 7 05411 0,57

Total 3 8 9 :6 7 8 $ 0 0 0 5 3 7 ,4 8 5 8$433 1 1 ,6 3
U S I N A DE T R A T A M EN T O M E T A L Ú R G IC O

1. L o c a liza ç ã o d a usina

C o n fo rm e já re fe rid o a n te rio rm e n te , a lo ca liz açã o da U sina em 4 niveis


o b e d e ce u à e stra té g ia de m e lh o r a p ro v e ita m e n to d o a c e n tu a d o relevo, p e rm itin ­
d o-se, assim , a tra n s fe rê n c ia p o r g ra vid a d e da p olpa de m in é rio e re je ito s.
O p rim e iro nível c o n tin h a o p e n e ira m e n to e a tria g e m (s itu a d o a 5 0 .5 0 m
acim a d o rib e irã o ), a p re p a ra çã o m e cânica, p ilã o e a mesa de lavação.

2. O processo m e ta lú rg ic o

Na ja zid a da M in a de Passagem, o o u ro a p resenta-se em d o is estados:


o u ro livre, d isse m in a d o em fin a s p a rtícu la s no q u a rtz o , e c o m b in a d o , c o m tu rm a ­
lina e su lfe to s (p irita arsenical, p irita e p irro tita ).
P o rta n to , era um m in é rio re fra tá rio ao tra ta m e n to c o n ve n cio n a l p o r g ra ­
v im e tria , o que exigia processo m e ta lú rg ic o m ais co m p le xo .
As p rim e ira s a tiv id a d e s de tra ta m e n to para re cu p e ra çã o d o o u ro co n sis ­
tia m em u m a sé rie de lavações p ara c o n c e n tra ç ã o e p u rific a ç ã o c o m o uso de
b a te ria s.
A p ré -c o n c e n tra ç ã o era fe ita em bicas (d e n o m in a d a s canoas e b o lin e te s)
rasas co m 1 ,5m de c o m p rim e n to e 0 ,7 m de la rg u ra , revestidas no fu n d o com
c o u ro de b o i o u lã grossa, dispostas em série, n u m p la n o in c lin a d o co m 15o a 20°,
co m 2 ,0 m de c o m p rim e n to .
Q u a n d o o m in é rio era o rig in á rio de rocha, havia necessidade de ser t r it u ­
ra d o (re d u zir à m e n o r g ra n u lo m e tria possível) para p e rm itir a lib e ra çã o d o o u ro ,
para, em se g u id a , ser s u b m e tid o à lavação,
Os m é to d o s u tiliz a d o s eram a q u e b ra das pedras e m o a g e m co m o uso de
q u a rtz ito ou d ia b á sio (rochas m ais d u ra s q u e a quela q u e c o n tin h a o o u ro ). Daí o
m a te ria l era le va d o em gam elas para as canoas e a se g u ir para as bateias.
E schw ege de sen vo lveu a lg u ns e q u ip a m e n to s para m e ca n iza çã o d o tra b a ­
lh o de m o a g e m , através de u m a p a re lh o de tritu ra ç ã o , q u e fa zia co m q u e o m i­
n é rio passasse e n tre duas placas de q u a rtz ito , se ndo q u e um a delas m o v im e n ta ­
va a cio n ad a p o r um eixo e xc ê n tric o e m anivela.
S e g u n d o Paul Ferrand, cada escravo p ro d u z ia , a n te rio rm e n te à m e ca n iza ­
ção, em m é d ia , 50 q u iio s de m in é rio m o íd o p o r dia, se ndo a p ro d u tiv id a d e d o ­
brada co m o uso d o tritu ra d o r de Eschwege.
No in ício das operações até 1 8 89 , a re cu p e ra çã o era m u ito baixa, um a vez
q u e não se u tiliza va a clo re ta çã o .
A aplica çã o da te c n o lo g ia , d e scrita a seguir, p e rm itia a re cu p e ra çã o de
6 6 % d o o u ro c o n tid o n o m in é rio .
O processo m e ta lú rg ic o para tra ta m e n to d o m in é rio c o m p re e n d ia três
g ra n d e s fases:

a ) P re p a ra ç ã o m e c ân ic a

O m in é rio era s u b m e tid o a um a b rita g e m e p e n e ira m e n to . Fazia-se um a


seleção (tria g e m ) d o m in é rio e e sté ril, m a n u a lm e n te . O m in é rio b rita d o já p e n e i­
ra d o , e em g ra n u lo m e tria a d e q u a d a , era levado aos pilõ e s (h o je m o in h o s ) para
a tin g ir a um a g ra n u lo m e tria q u e p e rm itisse a lib e ra çã o d o o u ro livre e d o s s u lfe ­
to s da ga ng a q u a rtzo sa .
O m a te ria l m o íd o era s u b m e tid o a seguidas lavagens em mesas estáticas
para o b te n ç ã o de dois co n c e n tra d o s, um de o u ro livre e o u tro de su lfe to s c o n ­
te n d o o u ro . O c o n c e n tra d o de o u ro era levado para a a m a lg a m a çã o .
O re je ito das mesas era e n via do s para clo re ta çã o .

b ) A m a lg a m a ç ã o

A a m a lg a m a ç ã o é u m processo q u e co n siste em so lu b iliz a r o u ro em m e r­


c ú rio líq u id o . A o b te n ç ã o d o o u ro é o b tid o pela d e stila çã o da a m á lg a m a .
O m a te ria l d o c o n c e n tra d o q u e não era a m a lg a m a d o era tra n s fe rid o para
ju n ta r-s e ao re je ito das mesas co n ce n tra d o ra s.
O a m á lg a m a era filtra d o e d e s tila d o e o o u ro b ru to le va d o ao re fin o . Daí
era tra n s fo rm a d o em barras para co m e rcia liza çã o .
c) C lo ra ç ã o

0 c o n c e n tra d o s u lfe ta d o era s u b m e tid o a um a u stu la çã o para e lim in a r o


e n xo fre e a rsê n io e p e ro x id a r o fe rro . 0 m a te ria l u s tu la d o era s u b m e tid o a c lo ra ­
ção p o r via ú m id a (processo N e w b e ry -V a u tin ). A se g u ir era filtra d o , e o b tin h a -s e
um a so lu çã o c o n te n d o c lo re to de o u ro em dissolução.
O o u ro c o n tid o na so lução era p re c ip ita d o p e lo p ro to s u lfe to de co b re , sob
a fo rm a de o u ro e e n xo fre . Daí o p re c ip ita d o era levado ao re fin o e d e p o is tra n s ­
fo rm a d o em barras para co m e rcia liza çã o .

3. E q u ip a m e n to s d a u s in a d e tr a ta m e n to

3 .1 . P re p a ra ç ã o m e c â n ic a

a ) P en e ira s
0 sistem a de p e n e ira m e n to era c o n s titu íd o de 7 peneiras in clinadas, d is­
postas lo g o a b aixo da via fé rre a , no p o n to de descarga d o m in é rio , fo rm a d a s p o r
barras co m 3 ,5 cm de d iâ m e tro , co m a fa s ta m e n to de 10 cm e n tre eixos e in c lin a ­
das a 40° em reiação à h o riz o n ta l.

b ) B rita d o re s
U tiliza va m -se dois b rita d o re s d o tip o B lake M a rsd e n , em série, e um o u tro
tip o S a n d ycro ft, co m a b e rtu ra de 4 0 cm p o r 2 4 cm , co m ca p ac id ad e de b rita g e m
de 6 m e tro s cú b ico s p o r h o ra , re d u zin d o -se o m in é rio a 16 c e n tím e tro cú b ico s .
Os sistem as de b rita g e m a tua ! d ife re m destes apenas na e vo lu çã o te c n o ­
ló g ica dos e q u ip a m e n to s , cu jo s p rin cíp io s são os m esm os.

c) M o in h o s
A m o a g e m processava-se p o r trê s sistem as de pilões, se ndo dois b ra s ile i­
ros e um c a lifo rn ia n o . Um dos m o in h o s b rasileiros era de 2 4 pilões e o o u tro era
de 32, o p e ra n d o em série, de a m b o s os lados da roda m o triz .
O sistem a de a c io n a m e n to destes pilões era p o r e xcê n trico s fixa d o s, em
n ú m e ro de 6 para cada u m . 0 fu n d o das a lm o fa rize s , o n d e colocava-se a ro ch a a
ser m o íd a , era fo rra d o co m q u a rtz o bra n co .
Todo o a c io n a m e n to era fe ito p o r rodas h id rá u lica s.
Este tip o de pilõ e s fo i, na a tu a lid a d e , to ta lm e n te s u b s titu íd o p o r m o in h o s
ro ta tiv o s de bolas, barra, s e m i-a u to g e n o s o u a u to g e n o s.
A té cn ica de m o a g e m , através de pilões, resistiu d u ra n te m u ito s anos, haja
vis to que a M o rro V elho, única em presa p ro d u to ra de o u ro co m a tiv id a d e in in ­
te rru p ta desde 1 8 34 , s u b s titu iu os pilõ e s p o r m o in h o s de bo la so m e n te em 1960.

d ) M e s a s C o n c e n tra d o ra s
U tilizava-se mesas de telas e vib ra tó ria s , co m la rg u ra de 0 ,5 0 m e c o m p ri­
m e n to q u e variava de 4 ,5 0 m a 5 ,5 0 m , para c o n c e n tra ç ã o de m a te ria l em o u ro li­
vre e os s u lfe to s co m o u ro associado.
O m a te ria l, d e po is de passar pelas m esas vib ra tó ria s , era d irig id o para as
mesas de telas, e daí para um a re m o a g e m .

e ) A g ita d o r
O a g ita d o r recebia o m a te ria l dos m o in h o s para e lim in a ç ã o de g a n g a , e o
m a te ria l c o n c e n tra d o era le va d o às mesas de telas.

3 .2 . A m a lg a m a ç ã o

Eram u tiliz a d o s to n é is de m a d e ira , c in ta d o s co m placas de fe rro fu n d id o ,


co m m o v im e n to de ro ta ç ã o em to rn o de seu eixo h o riz o n ta l.

a ) B a te ia s
Eram feitas da m adeira vin h á tico , com 60 cm de d iâ m e tro e 1 5 cm de altura.

b ) M o in h o s d e M a r te lo
Eram pilõ e s de m a d e ira , te n d o na base um a sapata de fe rro q u a d ra d o de
15 cm de la d o , q u e servia para p u lv e riz a r p a rte d o m a te ria l já passado nos t o ­
néis (para lib e ra r o o u ro ) q u e , a d ic io n a n d o um p o u c o de m e rc ú rio , re c u p e ra ­
va m o o u ro .
c) R e to rta s d e D e s tila ç ã o
Eram c ilín d rica s , m e tá lic a s, de fe rro fu n d id o , para p ro m o v e r a d e s tila ç ã o d o
a m á lg a m a .

3 .3 . C lo re ta ç ã o

A o fic in a de clo ra çã o c o m p u n h a -s e d o local dos fo rn o s de ustu la ção , o lo ­


cal de re s fria m e n to d o m a te ria l (areia) e dos p ré d io s de clo ra çã o e p re c ip ita ç ã o .

a ) Forn os d e U s tu la ç ã o
Possuíam dois fo rn o s de revérbero, co m duas soleiras dispostas em p ro ­
lo n g a m e n to um a da o u tra , co m um a fo rn a lh a para q u e im a de m adeira,

b ) Á re a d e R e s fria m e n to
Era um g a lp ã o sem paredes laterais, com um a lage de 9 ,5 0 m de com ­
p rim e n to p o r 3 ,0 0 m de la rg u ra , situ a d a 0 ,5 0 m a b a ixo d o nível dos fo rn o s .

c) In s ta la ç ã o d a C lo re ta ç ã o
O p ré d io de clo ra çã o e p re cip ita ç ã o era d iv id id o em 3 andares. N o a n d a r
su p erior, tin h a um a tre m o n h a para c a rre g a m e n to d o m a te ria l n o to n e l de c lo ra ­
ção, q u e se situava no a n d a r m é d io , e lo g o a b a ixo deste, havia um a o u tra tre m o ­
nha que a lim e n ta va d ire ta m e n te a m istu ra d o to n e l na cuba de filtra ç ã o , situ a d a
n o a n d a r in fe rio r.

d ) T o n el d e C lo re ta ç ã o
Era se m e lh a n te ao de a m a lg a m a çã o , co m ro ta çã o s e g u n d o o eixo h o riz o n ­
ta l. Possuía in te rn a m e n te um re v e s tim e n to em p in tu ra , para e v ita r a p re c ip ita ­
ção p re m a tu ra do o u ro em c o n ta to co m m a té ria s o rg â nica s.

e ) R e c ip ie n te d e F iltra ç ã o
Era um a cu b a re ta n g u la r de m a d e ira , p ro vid a de um fu n d o d u p lo . O fu n ­
d o s u p e rio r fu n c io n a v a co m o filtro . D o fu n d o in te rio r da cu b a, existia um tu b o de
aspiração da b o m b a , para la nçar a so lu çã o de filtra g e m até a cuba de recepção.
f ) B a rrile te s d e P re c ip ita ç ã o
Era um a cuba de m e n o r cap acid ad e , se m e lh a n te à de p re c ip ita ç ã o , com
um fu n d o sim ples de o n d e sai o tu b o de e n tra d a da so lu çã o d o b a rrile te s u p e rio r
de p re c ip ita çã o . Eram trê s b a rrile te s, em d e g ra u , in te rc o m u n ic a n te s .

M O D ELO S DE FLUXOGRAMAS DE PRO CESSO S ATUALMENTE EM


USO PARA M IN ÉR IO S REFRATÁRIOS
A se g u ir são a p re se n ta d o s os flu x o g ra m a s de processo das M ina s de C u ia ­
bá (M in e ra ç ã o M o rro V e lh o) e São B e n to (M in e ra ç ã o São B ento) q u e o le ito r p o ­
derá co m p a ra r co m o flu x o g ra m a d o processo u tiliz a d o em Passagem (ver Tabela
18, 3 a p a rte , te x to tra d u z id o ). Os flu x o g ra m a s são a u to e xp lic a tiv o s,

FL U X O G R A M A DE P R O C E S S O - C I R C U I T O DE SÃO B E N T O
FLUXOGRAM A DE P R O C E SSO - C IR C U IT O DE SÃO BEN TO
LEGISLAÇÃO SOBRE A MINERAÇÃO DE O URO

A in clu sã o deste assu n to neste tra b a lh o , te m p o r o b je tiv o levar ao le ito r


um a idéia breve de c o m o a m in e ra çã o de o u ro no Brasil in flu e n c io u a legislação
d o país, e p o r ela fo i in flu e n c ia d a , a fe ta n d o , c o m o já re fe rid o , aspectos té cn ico s,
te cn o ló g ic o s , e co n ô m ico s, p o lítico s , sociais e cu ltu ra is.
As p rin c ip a is legislações so b re a m in e ra çã o de o u ro o co rre ra m na se g u in ­
te o rd e m (a p a rtir de 1891 a legislação aplicava-se a bens m in e ra is em geral):

a ) Em 17 de d e z e m b ro de 1 5 57 , fo i c ria d o o q u in to do o u ro que estip u la va o p a ­


g a m e n to de u m q u in to da p ro d u ç ã o de o u ro e p ra ta fu n d id o s à co ro a e o d ízim o
sobre os o u tro s m etais.

b) Em 1 6 03 , no B ra sil-C o lô n ia , assegurava q u e q u a lq u e r d e s c o b rid o r de p e s q u i­


sa e lavra, tin h a o d ire ito de d e m a rca r a área de 7 .7 4 4 m 2 (8 0 x 8 0 varas), desde
q u e assumisse o c o m p ro m iss o de p a g a r o q u in to .

c) C om o o b je tiv o de e s tim u la r a busca d o o u ro , o d e s c o b rid o r te ria um a re c o m ­


pensa de v in te cru za d o s, a u m e n ta n d o -s e a área de lavra para 1 5 .4 8 8 m 2 . D atada
de 1 6 28 , so m e n te fo i re g istra d a no Brasil em 1652.

d ) Em 1 7 0 2 , criou -se o R e g im e n to d o S u p e rin te n d e n te , G u a rd a s-M o re s e O ficiais


D e p u ta d o s, co m o d e ta lh a m e n to de suas a trib u iç õ e s na o rg a n iz a ç ã o e c o n tro le da
a tiv id a d e a u rífe ra (d u ra n te o Século XVIII nem se m p re o q u in to c o rre s p o n d e u à
e xa ta m e n te 1/5 da p ro d u ç ã o , h a ve n d o variações).

e) Entre 1 7 3 6 -1 7 5 0 , fo i cria d o o Im p o s to da C a p ita çã o q u e in cid ia não m ais so ­


bre a p ro d u ç ã o , m as sobre o n ú m e ro de escravos e m p re g a d o s nas lavras.

f) Em 1 7 20 , co m a criação da C a p ita n ia de M in a s G erais, fo ra m e sta be le cido s n o ­


vos re g u la m e n to s , co m e n fo q u e especial para tra b a lh o s em m inas situ a d as nas
m o n ta n h a s , e para a u m e n ta r o nível de c o n tro le sobre as p ro d u ç õ e s de o u ro .
g ) Em 1 8 03 , com a d im in u iç ã o da p ro d u ç ã o de o u ro , fo i in tro d u z id a nova le g is­
lação específica para o u ro e d ia m a n te , através d o A lva rá de 03 de m a io de 1803,
e cria çã o da A d m in is tra ç ã o Real das M in a s e da M o e d a , p ro ib in d o -s e a circu la çã o
d o o u ro em pó, que v in h a s u b s titu in d o a m o e d a em tra n sa çõ es co m e rcia is. Re­
d u ziu -se o q u in to à m e ta d e.

h) Tendo em vista o fracasso do A lva rá acim a d e scrito , em 1 8 08 , D. João VI, a d o ­


to u m e d id a s q u e evitassem o c o n tra b a n d o de o u ro . A baixa circu la çã o de o u ro em
pó e a in e xistê n cia de n u m e rá rio para p e rm u ta s de o u ro , fo i d e fin itiv o para a ins­
titu iç ã o d o papel m o e d a p ro vin cia l para c o m p ra de o u ro em pó.

I) O P rivilé g io da T rin da d e , q u e havia sido cria d o em 1 7 52 , p e lo q u al concedia


aos m in e iro s p ossuidores de p e lo m enos 30 escravos, o p riv ilé g io de e xce tua rem
esses escravos de p e n h o ra em caso de dívidas, fo i a m p lia d o em 1 8 1 3 , d e te rm i­
n a n d o -se a im p e n h o ra b ilid a d e de lavras e escravos. Este fa to tro u x e g ra n d e d is­
tú rb io nas relações com erciais, p e rm itin d o a rtifíc io s para as m in e ra d o ra s não p a ­
g a re m aos seus credores.

j) Em 16 de ja n e iro de 1 8 17 , a C o ro a a u to riz a v a a criação de S ociedade para la­


vra na M in a de C u iabá (h o je p e rte n c e n te a M o rro V elho). Esta fo i a p rim e ira m e ­
d id a co n cre ta para a e x p lo ta ç ã o ra cio n a l de m inas. Neste a n o, o Barão de E schw e­
ge fo i a u to riz a d o a e x p lo ta r as ja zid a s de Passagem.

k ) Em 1 8 22 o g o v e rn o lib e ro u a e xp lo ta çã o para em presas e stra n ge ira s.

I) C o m a C o n s titu iç ã o de 1 8 91 , fo ra m in tro d u z id a s m ud a n ças p ro fu n d a s na le­


gislação m in e ra l, co m o d is p o s itiv o de q u e as m inas passaram a p e rte n c e r ao p ro ­
p rie tá rio d o solo. E vid e n te m e n te , esta fo i um a b a rre ira ao d e s e n v o lv im e n to da m i­
n e ração n o país.

m ) S o m e n te em 1 9 1 5 , fo i d e c id id o q u e a p ro p rie d a d e p o d e ria ser d e s a p ro p ria ­


da, c o m o de u tilid a d e p ú b lic a para e x p lo ta ç ã o in d u s tria l.
Os p ro p rie tá rio s tin h a m o p ra zo de um a n o para m a n ife s ta re m so b re o
d ire ito de e x p lo ta ç ã o , caso c o n trá rio o u tra s pessoas p o d e ria m e x e rc e r o d ire i­
to de m a n ife s ta r.
n ) Em 1 9 31 , o D e creto 2 0 .2 2 3 de 17 de ju lh o , su spendeu to d o s os a tos de a lie ­
nações de q u a lq u e r ja zid a , crian d o -se , assim , o re g im e de concessão de pesquisa
e lavra de ja z id a à perm issão g o v e rn a m e n ta l.

n ) Em 19 de ju lh o de 1 9 34 , d e cre to u -se o C ó d ig o de M inas, m o d ific a n d o -s e in ­


te ira m e n te o re g im e ju ríd ic o da e xp lo ra çã o m in e ra l. O p rin cip a l fa to fo i q u e, para
e fe ito de a p ro v e ita m e n to in d u s tria l, as m inas e dem ais riquezas d o su b so lo pas­
saram a c o n s titu ir p ro p rie d a d e d is tin ta da d o solo.
C riou-se, e n tã o , o d ire ito co n h e c id o c o m o M a n ife s to , c o m p re e n d e n d o as
jazidas e m inas co n he cida s, p ro c e d im e n to este q u e deveria ser exe rcid o pelos seus
p ro p rie tá rio s n o p e río d o de um a n o , re ce b e n d o o títu lo após a co m p ro v a ç ã o da
existência d o d e p ó s ito m in e ra l e d o h is tó ric o da p ro d u ç ã o .
A s novas d e sco be rta s passaram a ser p a trim ô n io da u n iã o , sujeitas, p o r­
ta n to , a a u to riz a ç ã o d o g o v e rn o para o seu a p ro v e ita m e n to .

o ) A C o n s titu iç ã o de 1 9 4 6 , em retrocesso, estabeleceu o d ire ito de p re fe rê n c ia ao


p ro p rie tá rio d o solo.

p ) A C o n s titu iç ã o de 1 9 67 m a n te ve os d isp o sitivo s a n te rio re s, e lim in a n d o o d ire i­


to de p re fe rê n c ia d o p ro p rie tá rio d o solo e e sta b e le ce n d o o d ire ito de p a rtic ip a ­
ção d o p ro p rie tá rio d o solo no re su lta d o da lavra.

q ) A c o n s titu iç ã o de 1 9 88 m a n te ve os m esm os d isp o sitivo s de 1 9 67 , a cre sce n ta n ­


d o , co m o n o vid ad e , a FEM - C o n trib u iç ã o Financeira para Estados e M u n ic íp io s ,
no re su lta d o da p ro d u ç ã o .
EV O LU ÇÃO D O C O N T R O L E A C IO N Á R IO DA M IN A
DE PASSAGEM

1784 Foi a d q u irid a p o r José B o te lh o Borges


1819 Foi a d q u irid a pe lo Barão de Eschew ege, fu n d a n d o a S ociedade M in e ra ló -
gica de Passagem . T rab a lh o u na m ina a té 1 8 23 , q u a n d o d e ixo u o Brasil. A m ina
fic o u paralisada.
1859 Foi a d q u irid a p o r um m in e iro inglês que a revendeu q u a tro anos mais tarde.
1863 Foi a d q u irid a pela A n g lo B ra zilia n G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d . Esta e m ­
presa o p e ro u a m ina d u ra n te nove anos, p ro d u z in d o , neste p e río d o , 7 5 3 .5 6 0 g ra ­
mas de o u ro . A m ina fic o u paralisada p o r m ais 3 anos.
1875 A m ina fo i ve n d id a a um S in d ica to Francês, q u e c rio u a em presa The O u ro
P reto G o ld M in e Com pany.
1895 As p ro p rie d a d e s e in stalações fo ra m ve n d id a s à C o m p a n h ia M in a s de Pas­
sa g em , em presa b ra sile ira de p ro p rie d a d e da fa m ília G u im arães.
Esta em presa te ve o m a io r p e río d o de o p e ra ç ã o c o n tín u a , a lc a n ç a n d o os s e g u in ­
tes níveis de produção:.
De 1933 a 1 9 3 9 , a p ro d u ç ã o fo i de 1 8 7 0 ,4 kg de o u ro , p o rta n to , co m
um m é dia an ua l de 2 6 7 k g .
Em 1 9 41 , a p ro d u ç ã o fo i de 3 6 0 k g de o u ro .
Em 1 9 43 , a p ro d u ç ã o a tin g iu 4 3 0 k g de o u ro .
N o p e río d o 1951 a 1 9 5 4 , a p ro d u ç ã o fo i de 1 1 0O kg de o u ro . E stim a-
se q u e a C o m p a n h ia M in a s d e P a s s a g e m p ro d u z iu , a té 1 9 5 4 , c e rc a de
5 .0 0 0 k g de o u ro .
As a tivid a d e s de su b so lo em a p ro fu n d a m e n to da m ina fo ra m in te rro m p i­
das, p ro s s e g u in d o a lavra em a lg u n s filõ e s laterais, e na d ra g a g e m d o R ibeirão do
C a rm o , a té 1954.
1976 W a lte r R odrigues a d q u iriu a m ina já c o m p le ta m e n te in u n d a d a a té a g a le ­
ria de d re n a g e m e m a n te ve o tra b a lh o , em ritm o le n to , b u sca nd o sócios para n o ­
vos in ve stim e n to s , co m o o b je tiv o de fa ze r pesquisas em p ro fu n d id a d e e la te ra l­
m e n te , e re a b ilita r a p ro d u ç ã o su b te rrâ n e a e a usina.
Nessa época, as p rin cip a is em presas de m in e ra çã o , a tu a n te s no Brasil,
an alisa ra m a p o ssib ilid a d e de a c o rd o so c ie tá rio co m a fa m ília R odrigues.
A em presa canadense Lysander G o ld C o rp o ra tio n , após firm a r um c o n tra ­
to co m o p çã o e p a rtic ip a ç ã o , re a lizo u tra b a lh o s de so n da g e n s para v e rific a ç ã o da
c o n tin u id a d e d o filã o em p ro fu n d id a d e (abaixo dos 4 5 0 m ) e la te ra lm e n te no se n ­
tid o de S antana e S a nto A n tô n io .

Estes tra b a lh o s co n sta ra m esse n cia lm e n te de:

• 6 fu ro s co m c o m p rim e n to s e n tre 3 0 0 m e 6 0 0 m (o m ais p ro fu n d o ), bu sca nd o


v e rific a r a c o n tin u id a d e d o filã o em p ro fu n d id a d e ;

• 15 fu ro s p o u c o p ro fu n d o s de a té 9 6 m , para v e rific a çã o da c o n tin u id a d e d o f i­


lão na d ire çã o de Santana;

• 13 fu ro s de a té 2 2 m de p ro fu n d id a d e na d ire çã o de S anto A n tô n io .

Os tra b a lh o s fo ra m e n cerra d os e os re su lta d os não fo ra m d ivu lg a d o s.

A M IN A DE PASSAGEM, H O JE

Nos ú ltim o s te m p o s , os p ro p rie tá rio s d e c id ira m fa z e r das in stalações um


m in i-p a rq u e te m á tic o , a b e rto à visitação tu rís tic a . A p ro v e ita ra m -s e o tre c h o e n tre
a su p erfície e a g a leria de d re n a g e m , q u e não está in u n d a d o . Os v is ita n te s p o d e m
acessar o su b so lo através d o Plano In c lin a d o , a c io n a d o p o r um g u in c h o e lé tric o ,
v is ita n d o galerias e fre n te s de lavra o u figas.
A re to m a d a de o p e ra ç ã o té cn ica e e c o n o m ic a m e n te viável da M in a de
Passagem d e p e n d e rá e sse n cia lm e n te de pesquisa g e o ló g ica q u e ve nha a revelar
reservas m in e ra is q u e p e rm ita m a p ro d u ç ã o de u m a ta xa m ín im a d iá ria de 1500
to n e la d a s de m in é rio , co m te ore s su p erio re s a 7 ,0 0 gram as p o r to n e la d a , e um a
vida ú til de no m ín im o 15 anos.
Tudo isto d e p e n d e rá d o p re ço d o o u ro , q u e no m o m e n to é in fe rio r a U$
3 0 0 /o n ç a , v a lo r este que, em te rm o s re lativos, co rre sp o n d e ao m esm o p re ço do
fin a l d o século passado.
NOTAS DA REVISÃO TÉCNICA

J. H. GROSSI SAD

• 0 liv ro L 'O r à M in a s G eraes, o ra a p re s e n ta d o em tra d u ç ã o , é um te x to


c ie n tífic o e té c n ic o , q u e a p re se n ta d e ta lh a d o e s tu d o so b re a g e o lo g ia , m in e ra ­
ção e le g isla çã o re la tiva s ao o u ro n o Estado de M in a s, nos d o is p rim e iro s sécu­
los de a tiv id a d e .

• Para a tra d u ç ã o de te rm o s c ie n tífic o s e té cn ico s fo ra m u tiliz a d a s p a la ­


vras in co rp o ra d a s há m u ito ás lite ra tu ra s g e o ló g ic a e de m in e ra ç ã o brasileiras,
c o n fo rm e se c o m e n ta a seguir, em uns p o uco s exem plos.

• A p a la vra e x p lo ita tio n fo i p re c is a m e n te tra d u z id a c o m o e x p lo ta ç ã o (e


n ã o p o r e x p lo ra ç ã o , q u e te m o u tro s ig n ific a d o ) na revisão. É o m e s m o q u e la ­
vra , e xtra çã o .

• A expressão c o m p a g n ie de m ines fo i tra d u z id a c o m o c o m p a n h ia d e m i­


nas; sig n ific a o m e sm o q u e em presa de m in e ra çã o , c o m p a n h ia de m ine raçã o .

• A palavra re n d e m e n t fo i tra d u z id a c o m o re cu p e ra çã o, q u e s ig n ific a te o r


re cu p e ra d o e não, sim p le sm e n te teor.

• A tr a d u ç ã o p a ra c a m p d e e x p lo it a tio n é f r e n t e d e la v ra (o u f r e n ­
te d e e x tra ç ã o ).

• N om es de m in e ra is fo ra m d ire ta m e n te tra d u z id o s , e m p re g a n d o -s e p a la ­
vras fo ra de uso a tu a lm e n te co m o , p o r e xe m p lo , p irita de fe rro (h o je em dia usa-
se p irita , apenas), p irita arsenical (a rs e n o p irita ), p irita de co b re (c a lc o p irita ), p irita
m a g n é tica (m a rca s ita ), o lig is to (h e m a tita ), d is tê n io (c ia n ita ), etc. Em g lo ssá rio no
fim d o te x to , to d o s os n om es são a p re se nta d o s, co m d e fin iç ã o .

N om es de lo ca lid a d e s fo ra m re p ro d u z id o s c o m o co n sta m d o te x to em
fra n cê s, a tu a líza n d o -s e a o rto g ra fia . Em a lg u n s casos os nom es fo ra m m u d a d o s
n o d e co rre r d o te m p o e em n o ta s de pé de p á gina isso é m o s tra d o . A lg u n s e xe m ­
plos: C o n g o n h a s de Sabará (a tu a lm e n te , Nova Lim a), Ita b ira d o M a to D e n tro
(a tu a lm e n te , Ita bira ) V ila d o Príncipe (a tu a lm e n te , Serro), C a e thé (escreve-se,
h oje, C aeté), M a ria n n a (escreve-se M a ria n a ) etc,

* N om es de pessoas fo ra m e scrito s d o m esm o m o d o q u e a q u e le re g is tra ­


d o no o rig in a l, c o m o T ho m a s Lopes de C a rv a lh o (e não Tom ás Lopes de C a rva ­
lh o ), A ffo n s o A u g u s to M o re ira Penna (e não A fo n s o A u g u s to M o re ira Pena), etc.

* O te x to p rim itiv o fo i p u b lic a d o em dois vo lu m e s, o p rim e iro co m duas


partes. Na tra d u ç ã o te m -s e apenas um v o lu m e , co m três partes, as duas p rim e i­
ras c o rre s p o n d e n d o ao p rim e iro v o lu m e , a te rce ira , ao s e g u n d o v o lu m e . As três
p a rte s d ivid id a s em c a p ítu lo s ; a su b divisã o no o rig in a l é fe ita p o r seções e a lg u ­
m as delas co n sta m de um m e sm o ca p ítu lo , na tra d u ç ã o .

* As no ta s de pé de p á gina d o te x to em fra n cê s fo ra m a g ru p a d a s em um a
única seção, no fim d o te x to tra d u z id o e são n u m e ra d a s c o n tin u a m e n te , de 1
(u m ) a 123, re fe re m -se às n o ta s d o autor.

* A lg u m a s n o ta s de pé de p á g in a (id e n tific a d a s c o m o *N R - n o ta s do
re visor) são usadas p ara e x p lic a r pa la vra s d o te x to (ou para fo rn e c e r n o m e a tu a l
de lo ca lid a d e s).
* Paul Ferrand u tiliz a quase se m p re o te rm o ita b irito no se n tid o d e fin id o
p rim itiv a m e n te p o r W . L. vo n E schw ege (G e o gn o stish e s G e m ã ld e von B rasilien
u n d W a h rsch e in lich e s M u tte rg e s te in d e r D ia m a n te n . W eim ar, 1 8 22 .), isto é, s ig n i­
fic a n d o m in é rio de fe rro (h e m a tític o ) de a lto te o r (ver, p o r e x e m p lo , a análise q u í­
m ica fo rn e c id a p o r Ferrand, q u a n d o tra ta da M in a d o G o n g o Soco). O u tro s a u to ­
res usaram a palavra de m o d o v a ria d o : fo rm a ç ã o fe rrífe ra silicosa p o bre, fo rm a ­
ção fe rrífe ra em g e ra l. M in é rio de fe rro d u ro fo rm a ç ã o fe rrífe ra b ra n d a , etc, O uso
a tu a l re s trin g e o te rm o às rochas la m in a d a s-b a n d a d a s, co n s titu íd a s p o r a lte rn â n ­
cias claras (q u a rtz o , p rin c ip a lm e n te ) e escuras (h e m a tita , p rin c ip a lm e n te ) nas
quais os c o n s titu in te s são visíveis.
• Do m o d o e xp o s to verifica-se q u e as ja c u tin g a s descritas p o r Ferrand são
m iné rio s de fe rro h e m a títico s, de a lto teor, b ra n d o s (c o n fo rm e análise acim a m e n ­
cion a da ) e auríferos.

• A o descrever a e s tru tu ra das rochas estra tjfica d a s e/ou xistosas, bem


co m o a q u e la dos filões c o n co rd a n te s c o m a e stra tifica çã o o u a xistosidade (filões
- ca m ada) e dos não c o n c o rd a n te s (m u ito s deles descritos c o m o coiunas de seção
elipsoidal), P. Ferrand e m p re g a os te rm o s d ire c tio n e in c lin a tio n . No caso de c o r­
pos ou o b je to s planares, tra d u z id o s p o r dire çã o e m e rg u lh o , no caso de corpos
ou o b je to s lineares (co m o as colunas), u tiliz a m o s ru m o e c a im e n to co m e te -se que
u m o b je to linear (p o r exe m p lo , planos de estratificação) mas sem r u m o n ã o c o in ­
cide, necessariam ente, co m o r u m o d o m e rg u lh o .

• A o q u e parece, P. Ferrand fo i o p rim e iro a u to r a descrever a relação aci­


m a m e n c io n a d a , para os ja z im e n to s da Região C e n tra l de M inas Gerais (isto é,
c o rp o a u rífe ro de e stru tu ra linear, c o n tid o em u m plano), in d ic a n d o a te n d ê n cia
d o c a im e n to para leste.

A o fim d o v o lu m e fo ra m in c o rp o ra d o s um glossário e u m a b ib lio g ra fia .


IH H É S IJ .)
jj I j í j p a r 8 p jf I

M. PAUL FERRAND
Anciea étève de PEcole Naíionale Supérjeure des mines de Paris,
Projfesseur de métalfurgie et d'exploitation des mines á 1’Ecoíe
des Mines d'O uro Preto (Rrésil), O ftíder d'Acadetnie « j

it-JUDvf v AA- A . AO A> AA s/a

:v
0/: -V" ..: S-TO
à i ‘ < s< . io n Ú í ..................... ..................

BEX.LO H O R IZ O N T E
lua p r e n s a O ffic ia l d o E s t a d o d e M i n á s O e r a a a
.1 9 1 3
O OURO EM MINAS GERAIS
(BRASIL)

Sr. PAUL FERRAND


A n tig o a lu n o da École N a tio n a le S u pé rie u re des M in e s de Paris
Professor de m e ta lu rg ia e e x p lo ta ç ã o de m inas na
Escola de M in a s de O u ro P reto (Brasil),
O fic ia l da A ca d e m ia

Estudo p u b lic a d o sob os auspícios da


CO M ISSÃO D A EXPOSIÇÃO PREPARATÓRIA DO ESTADO
DE M IN AS GERAIS, EM OURO PRETO

Por ocasião da
Exposição m ineira e m e ta lú rg ica de S antiago (Chile)
Em 1 8 94

O u ro Preto
Im prensa O fficia l d o Estado de M ina s Gerais
1894
O U R O EM M INAS GERAIS

SUMÁRIO

Trabaihos p u b lic a d o s ................................................................................................ 73


P re fá c io ............... , ...................................................... 77
H is tó ric o ..................................................................................................................... 81

P rim e ira P a rte (E x p lo ta ç õ e s A n tig a s ) .......................................................91


M é to d o s de E xp lo ta ç ã o .............................................. 92
Jazidas de o u r o .................................................................................................................92
D epósitos de a l u v iã o ................................................................................ 97
C am adas e filões a u rífe ro s ...........................................................................................109
T ra ta m e n to das areias e m in é rio s a u r ífe r o s .............................. *.................... 117
G eneralidades ...............................................................................................................117
Areias e terras a u rífe ra s ....................................................................................... 117
M in é rio s a u rífe ro s..................................... 128
Im p o sto sobre o o u ro e casas de f u n d iç ã o ................................... 132
Im p o sto sobre o o u r o ................................................................... 132
Casas de fu n d iç ã o e de p e r m u t a ...............................................................................137
Legislação das m inas de o u ro na é poca das coiônias p o rtu g u e s a s ,.,..1 4 4
Exame su m á rio da legislação das minas de o u ro até 1 8 2 2 ......................... '144
Estatutos das sociedades de m in a s .......................................................................... 157

S e g u n d a P a rte (E x p lo ta ç õ e s M o d e r n a s ) ......................................... 161


M ina s de O u ro e C o m p a n h ia s de M i n a s ............................................................... ...162
A p re se n ta çã o g e ra l.......................................................................................................... 162
Im perial Brazilian M in in g A s s o c ia t io n ............................................... 164
Saint John D 'el Rey M in in g C o m pany, L im it e d .......................... 176
Brazilian C o m p a n y ............................................................................................................185
N a tio n al Brazilian M in in g A s s o c ia tio n .......................................... 186
East Del Rey M in in g C o m pany, L i m i t e d .......................... 187
D o m Pedro N o rth Del Rey G o ld M in in g C o m pa n y, L im ite d ...........188
Santa Barbara G o ld M in in g C o m pa n y, L i m i t e d ..................................................190
A n g lo -B ra zilia n G o ld M in in g C o m pany, L im ite d ................................................ 194
Roça G ra n d e Brazilian G old M in in g C o m pa n y, Lim ited ...... 197
Brazilian Consols G old M in in g Com pany, L im ite d ...,.......................................198
Associação Brasileira de M in e r a ç ã o ............................................ 198
P itangui G o ld M in in g C o m pany, L im i t e d .......................................................,....1 9 9
Empreza de M in e ra çã o d o M u n ic íp io de T ira d e n te s .................... 199
Brazilian G old M ines, L im ite d ................................................ 200
O u ro Preto G old M ine s o f Brasil, L im ite d ..............................................................2 0 0
Société des M ine s D 'O r de Faria............................................................................... 20 5
C o m p a n h ia de M in e ra çã o d o F urquim ......... 210
C o m p a n h ia das M ina s de O u ro -F a lla ............................ 210
C o m p a n h ia M in e ra lú rg ic a B ra s ile ira .............................. ....................................... 211
Empresa de M in e ra çã o de C a e th é .................................................................. <....... 211
C o m p a n h ia A u rífe ra de M ina s G e ra is............................................................ 212
C o m p a n h ia Brasileira de Salitraes, Terras e C o n s tr u ç õ e s ..............................212
Associações Particulares de M in a s .......................................... 213

T e rc eira P a rte (M in a d e P a s s a g e m ) ...... 217


A p r e s e n ta ç ã o ...................... - ................................. 218
S ituação da m in a e a p a n h a d o g e o g r á f ic o ................................................................ 21 9
Síntese g e o ló g ic a .............................................................................. 221
C o m p o siç ã o da ja z id a ......... 221
C o m p o rta m e n to e im p o rtâ n c ia da jazida ...........................................................2 2 7
H istórico da e x p lo ta ç ã o ......................................................................................................232
Disposição Geral dos T r a b a lh o s ..................................................................................... 2 4 0
E x p lo ta ç ã o .......................................................................................................................... 2 4 0
T r a n s p o rte ...................................................................................................... 249
D e s a g u a m e n to ...................... .,2 5 4
Serviços a c e s s ó rio s ................................ ,......................................................... 255
Pessoal da m in a .................................................................................................................2 5 6
Produção e custo da e x p lo ta ç ã o ...............................................................................257
T ra ta m e n to m ecâ n ico e m e ta lú rg ic o d o m i n é r i o ...................................................259
Princípio d o t r a t a m e n t o .................................................................................. 259

70
Disposição d o p á tio industrial e da usina de t r a t a m e n t o ..............................263
Descrição dos E q u ip a m e n to s e M o to r e s ..................................... 267
Preparação m e c â n ic a ............................................. 267
A m a lg a m a ç ã o ....................................... 277
C lo r e t a ç ã o ............................................... f ....... .................................................................281
A n d a m e n to das O p e ra ç õ e s ................................................... 287
Preparação m e c â n ic a ......................................................................................................28 7
A m a lg a m a ç ã o ................................,................................................................. 291
C lo r e t a ç ã o ........................................................................................... ,..............................295
Considerações té c n ic a s ..................................................................................................29 9
Serviços a c e s s ó rio s ..........................................................................................................30 8
O rg a n iza çã o dos Serviços da Usina. Pessoal da M in a . S a lá rio s.......................30 9
Produção da Usina de T ra ta m e n to ..............................................................................3 1 4
Preparação m e c â n ic a ....................................................... , ......... ,..................................3 1 4
A m a lg a m a ç ã o ................................................................................. 321
C lo r e t a ç ã o .......................... 322
C u sto líq u id o d o t r a t a m e n t o ...................................... 323
Força m o t r i z ...................... ,.................................... ,.3 2 6
A d m in is tra ç ã o , A rm a z é m , Serviço M é d ico , A lo ja m e n to ,
Im postos, C o n stru çã o , Pessoal, C u s t o s ....................... 332
A d m in is tra ç ã o , D iretoria, A lm o x a r if a d o .......................... 332
Serviço m é d ic o . , ........................... 332
A lo ja m e n to e h a bita çõ e s o p e r á r ia s .........................................................................333
Im p o sto s e tra n s p o rte d o o u r o .................................................................................. 3 33
C o n s t r u ç ã o .................................. 334
Pessoal ............................... 335
Custo. Resumo das o p e r a ç õ e s .......,.........................................................3 3 5
A p ê n d ic e ao tra ta m e n to m ecâ n ico e m e ta lú rg ic o .............................................341
TRA BALH O S P U B LIC A D O S

Industria de fe rro no Brasil. Étude sur le p ro cé d é au creuset. Revista d e E ngenha


ria, São Paulo, vol. V, n. 75, p. 2 3 7 -2 3 9 , 14 set. 1883.
A industria de fe rro no Brasil. A n n a is da Escola de M inas, O u ro Preto, n. 4, p. 167-
188, 1885.
Ilu m in a ç ã o electrica da C a p ita l da Província de M ina s. R evista d e E n g e n h a ria , n.
77, 14 nov. 1883.
Industrie du fe r au brésil (Étude de Ia m é th o d e des cadines). G enie Civil, vol. IV,
n.4, 22 nov. 1883.
Eclairage é le c triq u e de Ia c a p ita l de la Province de M ina s. D ia rio o ffic ia l, n. 18,2
ja n . 1884.
Ponte sobre o rio S. G o n ça lo p e rto de Pelotas. Revista de E nge n h aria , n. 97, 14
set. 1884.
Industrie du fe r au Brésil (é tu d e de Ia m é th o d e italienne). G enie Civil, vol. V, n; 25,
18 o u t. 1884.
Industria de fe rro na província de M in a s Geraes (M é th o d o italiano). Revista de
Engenharia, n. 108, 28 fev. 1885. e Annais da Escola de M inas, Ouro Preto, n. 4 , 1 8 8 5 .
Bois de c o n s tru c tio n s d u Brésil. G enie Civil, vol VII, n. 10, 4 jul. 1885.
R e d u c ç ã o d o v ã o de u m a p o n t e re ta e m tr e liç a . R e vis ta d e E n g e n h a ria , n.
1 1 9 , 14 a g o . 1 8 8 5 .
Législation de ch e m in s de fe r au Brésil. G enie Civil, n. 14, 31 jul. 1886.
L'industrie d u fe r dans la Province de M in a s Geraes. B u lle tin de ( ' A s s o c ia tio n a m i
cale des elèves de 1'Ecole M in e s Paris, n. 7, ju l. 1886.
O u ro Preto e as minas de ouro. Revista de Engenharia, nos. 174, 177, 183, 267, 268,
269, 270.
Tratado d e m e ca n ica a p p lica d a a resistência de m a te ria e s. Paris: G u illa rd /A illa n d
& Cia, 1888.
Récréations scientifiques. La N a tu re , 19 jan. 1889,
Les c h e m in s de fe r au brésil (C he m in s de fe r D. Pedro II.). G énie Civil, vol. XIV, n05.
17, 18, 19, 23, 24; e Revistas das Estradas de Ferro, 31 jul. 1889.
O u ro Preto e t les m ines d ’o r (Brésil). Première partie. G enie Civil, vol. XVI, nos 13,
14, 15, 16, 17 18, 19, 21; vol XVÍI, n os1, 2.
O u ro Preto et les mines d.'or (Brésil). Deuxièm e partie. G enie Civil, vol. XIX, nos 14,
15; vol XX, n. 26; vol. XXIII, n°V 21, 22; vol. XXV, nos. 6, 8, 9, 11, 13, 1 8 90 -1 8 9 3.
O u ro Preto e as minas de o u ro . Revista de E n ge n h aria , p. 2 6 1 - 2 6 3 , 1887; p. 1-4,
7 6 -7 7 ; 1888; p. 5 8 1 -5 8 2 , 591, 6 0 5 -6 0 6 , 6 1 7 -6 1 8 , 6 3 0 , 1892.
Industria de fe rro ; seu e stado actual n o Brasil. J o rn a l d o C o m m e rcio , 5 fev. 1893.
e Revista In d u s tria l d e M in a s Geraes, n. 5, p. 1 0 2 -10 6 .
E xp lo tation s auriferes de M in a s Geraes. Revista In d u s tria l d e M in a s Geraes, n. 1,
p. 6-11 e Revue U niverselle des M in e s e t M e ta llu rg ie , Liège/Paris, vol. XXVIII, p.
1 9 2 -2 0 4 , nov. 1894.
N o te sur F é ta t actuel de I'in d u s trie du fe r au brésil. Revue U niverselle des M in e s
e t M e ta llu rg ie , set. 1893.
Fonte e fe rro fu n d id o . Revista In d u s tria l d e M in a s Geraes, a n o I, n. 3. e D ia rio O f
fic ia l, a n o XXXIII, n. 52, 22 fev. 1894.
Produção d o o u ro das principais co m p a n h ia s de m in e ra çã o em M ina s Geraes.
Revista In d u s tria l de M in a s Geraes, a n o I, n. 2 0 9 - 2 0 7 , 1894.
Usina União. Revista In d u s tria l d e M in a s Geraes, a n o I, n. 6, p. 127, 1894.
Usina M o n le v a d e . Revista In d u s tria l d e M in a s Geraes, a n o I, n. 7, 1894.
A p e rçu général sur FA m e rica n B lo o m a ry Process, son a p lica tio n à M in a s Geraes.
Revista In d u s tria l de M in a s Geraes, a n o I, n. 8, p. 1 8 7 -1 9 3 , 1894.
L 'o rà M in a s G eraes (Brésil). O u ro Preto:. Im prensa O ficial, 1 8 94 . 2 vol. reim presso
em 1913; ta m b é m em: Revue U niverselle des M ine s e M e ta lu rg ie , vol. XXVI
11,1894, vol. XXX, 1895.
Pontes de aço p ortáteis. Revista B ra zileira, n. 6, 15 mar. 1894.
O OURO EM MINAS GERAIS
----------------
Paul Ferrand

76
PREFÁCIO

Desde 1 8 90 desenvolvo n o G énie C iv il* a p u blica çã o de u m e s tu d o sobre


o o u ro em M ina s Gerais, co m o títu lo OURO PRETO ET LES M INES D 'O R (BRÉ­
S IL )**. Esse tra b a lh o deve co m p o r-se de duas partes, refe rin d o -se a p rim e ira ao
e s tu d o das explo taçõ e s antigas, a segunda às e xp lo taçõ e s m o d e rn a s. A tu a lm e n ­
te, estão concluídas apenas a prim eira parte e um ca p ítu lo da se g un d a p a rte re­
fe re n te a um a EXPOSIÇÃO GERAL SOBRE AS M INAS DE OURO E AS C O M P A ­
NHIAS DE M IN AS; seu c o n ju n to fo rm a a m atéria deste p rim e iro vo lu m e , q u e d e ­
verá ser seg uido p o r um se g un d o , c o m p o s to pe lo e s tu d o p a rtic u la r de cada u m a
das co m p a n h ia s de minas em a tu a çã o e da legislação das m inas de o u ro desde a
In d e p e n dê n cia d o Brasil até nossos d i a s . * * *
A Com issão n o m e a d a pe lo Sr. A ffo n s o A u g u s to M o re ira Penna, p residen­
te d o Estado de M ina s Gerais, para o rg a n iz a r a exposição p re p a ra tó ria de O u ro
Preto, p o r ocasião da Exposição M in e ira e M e ta lú rg ic a de S antiago (Chile), em
1894, ju lg o u q u e o q u e já havia sido p u b lic a d o deste e stu d o fo rm a v a u m c o n ju n ­
t o s u fic ie n te m e n te h o m o g ê n e o para ofere cer a lg u m interesse ao te m a da in d ú s­
tria d o o u ro ; assim, d ecidiu p o r sua publicação. Este v o lu m e se c o m p õ e desses d i­
versos a rtig o s d o G énie C ivil, que p u de , de resto, c o m p le ta r em vários p o n to s co m
a ajuda de novas info rm a çõ e s.

O u ro Preto, 1o de ju lh o de 1894.
Paul Ferrand

* NR: Le G énie C ivil, Revue g é né nale H e d to m a ire des in du stries françaises e t étrangéres. Paris, 6, rue de Ia C haus-
sée - d 'A n tin .
* * NR: O u ro Preto e as m inas de o u ro (Brasil).
* * * NR. 0 p ro je to de P. Ferrand, de p u b lica r um s e g u n d o v o lu m e c o m o e stu do de cada c o m p a n h ia restrin giu -se ao
da O u ro Preto G o ld M ines o f Brazil, Lim ited (M in a de Passagem), em v irtu d e d o fa le c im e n to d o m esm o. A m esm a
razão im p e d iu o e s tu d o da legislação, a p a rtir d a Indep en dên cia. Na presente p u b lica çã o pre feriu-se u tiliz a r o s e g u in ­
te a rra njo ; P rim eira Parte, Segunda Parte (no o rig in a l c o m p u n h a m o V o lum e I) e Terceira Parte (no o rig in a l, corres­
p o n d e n d o ao Volume II).
79
Fig. 1 - Minas Gerais e seus centros de explotação aurifera no tem po da colônia p o rtu g u e s a
Fig. 2 . - V ila Rica (O u ro P reto)

80
H IS T Ó R IC O

Já há m u ito te m p o , os p o rtu g u e se s havia m f u n d a d o n u m e ro so s esta be le ­


c im e n to s em to d a a costa d o Brasil, e as riquezas m inerais d o in te rio r ainda lhes
era m desconhecidas. Essa im ensa colô n ia , colocada sob as o rd e ns de u m G o ve r­
n a d o r esta be le cido na Bahia, ve rd a d e iro vice-rei e n via d o pela m e tró p o le , era d ivi­
dida em 14 capitanias, dispostas ao lo n g o da costa e a va n ç a n d o para o in te rio r
até os s e rtõ e s 1 inacessíveis o c u p a d o s pelas trib o s indígenas (Fig. 1).
Em 1572, c o m e ç o u a se d ifu n d ir o ru m o r de que havia num erosas jazidas
de pedras preciosas no in te rio r da C a p ita nia de P orto Seguro, nos co n fin s da Ca­
p ita nia d o Espírito Santo. Esse te rritó rio , h a b ita d o p o r popu la çõ e s pacíficas e d e ­
dicadas à a g ricu ltu ra , era co m fre q ü ê n cia in va d id o p o r g ru p o s de aventureiros
pro ve n ie n te s d o Sul; estes, desig na d o s c o m o paulistas, e m fu n ç ã o da aldeia de
São Paulo, q u e tin h a m fu n d a d o na ca p ita nia de São V ice n te, p e rco rria m os ser­
tõ es em busca de índios, q u e p re n d ia m , u sa nd o -o s c o m o escravos. Foi nessas ca­
çadas ao h o m e m q u e a lcançaram as m a rge n s d o Rio Doce e reco lh e ra m alguns
indícios dos m inérios da região.
D iante dessa notícia, fo rm a ra m -s e vários g ru p o s de e xp lo ra d ores para ir
em busca das jazidas d o in te rio r; mas os n u m e ro so s o b stácu lo s a ve ncer lo g o d i­
m in u íra m seu e n tu siasm o e s o m e n te em 1 6 93 u m paulista, n atural de Taubaté,
A n tô n io R odrigues A rzã o , tro u x e as provas da existência de o u ro . C hegara, com
um g ru p o de 50 h om ens, através dos sertões d o Rio Doce, até o d is trito de Cae-
té (floresta espessa)*, e aí, g u ia d o p o r u m a índia, conseguira re co lh e r a lg u m a s p e ­
pitas de o u ro , cerca de 3 oitavas, q u e o fere ceu à C â m ara d o Espírito Santo, o n d e
ch e g o u , ao descer o Rio Doce; a Câm ara m a n d o u fa ze r co m o o u ro duas m e d a ­
lhas, u m a das quais fo i d e p o sita d a nos A rq u iv o s e a o u tra e n tre g u e a A rzão. Em
seguida, re to rn o u a Taubaté, a fim de e m p re e n d e r u m a n ova expedição, mas m o r ­
reu em conseqüência de suas fadigas, sem te r p o d id o execu ta r o p ro je to e d e i­
x a n d o o d iá rio de suas investigações para seu c u n h a d o , B a rto lo m e u Bueno. Este,
a rru in a d o pelo jo g o e á vid o p o r re c o n q u is ta r a fo rtu n a , co n se gu iu fa ze r co m que

* NR: a palavra C aeté designa várias plantas, cujas fo lh a s os índios usavam para fin s diversos {d o tu p i Kaae'te:
K a 'a = fo lh a + e 'te = verdadeiro). O utro significado: indivíduo da tribo Caetés, índios que habitavam a antiga capita­
nia de Pernam buco.
vários de seus p arentes e a m ig o s o a co m p a n h a sse m em u m a exp ed ição ao in te ­
rior: p a rtira m de São Paulo no c o m e ç o de 1 6 9 4 e, gu ia do s p e lo itin e rá rio de A r ­
zão, atravessaram espessas florestas dos sertões, re g u la nd o -se pelos picos eleva­
dos de a lg u m a s serras, q u e lhes serviam de faróis na im en sidã o deserta; a tin g ira m
assim a Serra de Itaverava, a 8 léguas d o local o n d e deveria ser e rg u id a , mais t a r ­
de, O u ro Preto.
A p esar da fa lta de experiência e da insuficiência de seus meios, c o n s e g u i­
ra m retirar u m p o u c o de o u ro . C o m o não possuíam utensílios de fe rro , e ra m o b r i­
g ados a cavar a te rra servindo-se de estacas afiladas, a fim de d e sco brir as areias
auríferas e fa ze r sua c o n c e n tra ç ã o nos p ra to s de m adeira ou e sta nh o q u e os via ­
ja n te s se m p re tra z ia m consigo; assim, só e xtra ía m u m a p e q u e n a p a rte d o o u ro
c o n tid o . C h e g a ra m , no e n ta n to , a recolher u m a certa q u a n tid a d e d o precioso
m etal, 12 oitavas a p ro x im a d a m e n te , que tro c a ra m p o r um a ca rabina co m u m dos
c o m p a n h e iro s d o co ro n e l Salvador Fernandes Furtado, chefe de um g ru p o que
desenvolvia suas buscas ao pé d o Ita colom i, à beira de u m a flu e n te d o ribe irão do
C a rm o . Esse ind ivíd u o, u m a vez de posse d o o u ro , de ixo u seus c o m p a n h e iro s a
fim de v o lta r a São Paulo, mas e m Taubaté c o n to u sua boa sorte a um a m ig o , que
n ã o e n c o n tro u nada de m e lh o r q u e o espoliar e f u g ir para o Rio de Janeiro, o n d e
o G ove rn a do r, re co m p e n s a n d o -o p o r um a d e scoberta q u e não fizera, n o m e o u -o
c a p itã o -m o r da cid a d e de Taubaté.
Esses fa to s fo ra m su ficientes para excitar o espírito a ve n tu re iro dos paulis­
tas; o a rd o r q u e d e senvolviam na ca p tura dos índios, e m p re g a ra m para a busca
d o o u ro , cuja existência estava d e fin itiv a m e n te reco n h ecida . Estabeleceu-se, a
p a rtir de e n tã o , um a c o rre n te de e m ig ra çã o para os sertões, e as descobertas das
regiões auríferas se to rn a ra m mais num erosas a cada dia.
Os paulistas A n t o n io Dias, T h om as Lopes de C a m a rg o , Francisco Bueno da
Silva e o padre João de Faria Fialho fo ra m os prim e iro s a desco brir o u ro no d is tri­
t o de O u ro Preto em 1699, 1 7 00 e 1701, e p o r causa da cor escura d o m e ta l re­
tira d o , d e ra m à serra que o c o n tin h a , o n o m e de Serra de O u ro Preto, A riqueza
das m inas a tra iu g ra n d e n ú m e ro de. aventu re iro s, que a u m e n ta v a a cada dia, Er-
gueu-se, no pé da serra, u m a cidade co m o m e sm o n o m e . O u ro Preto se to rn o u
ra p id a m e n te o c e n tro de um vasto te rritó rio , d e n o m in a d o M inas Gerais e cujos
h a b ita n te s fo ra m ch a m a d o s M in e iro s (m ineradores); para p e rp e tu a r a lem brança
de sua criação, fo ra m d ados a bairros da cid a d e nom es de alguns dos prim e iro s
exploradores. .
Esse te rritó r io das m inas fo i po sto, de início, sob a d e p e n d ê n cia da C a p i­
ta n ia geral d o Rio de Janeiro; depois, em v irtu d e de sua im p o rtâ n c ia crescente,
fo i re u n id o ao te rritó r io de São Paulo, a fim de fo r m a r a C ap ita nia geral de São
Paulo e M inas, co m a cid a d e de São Paulo c o m o capital (C arta Régia de 23 de n o ­
v e m b ro de 1709). O p rim e iro g o v e r n a d o r* da nova C ap ita nia geral, q u a n d o de
sua ida a M inas, para instalar um re g im e re g u la r e re g u la m e n ta r os im postos, c o n ­
fir m o u o e s ta tu to de vila para O u ro Preto, co m o n o m e de Vila Rica de O u ro Pre­
to , a 8 de ju lh o de 1711.
C o m o a u m e n ta v a c o n s ta n te m e n te o ta m a n h o da p o p u la ç ã o d o n o vo t e r ­
ritó rio , e a fim de re p rim ir de m aneira mais eficaz q u a lq u e r m o v im e n to de rebe­
lião dos m ineiros, sobre os quais recaía o pesado im p o s to d o q u in to , o g o v e rn o
da m e tró p o le elevou, p o r Provisão de 2 de d e z e m b ro de 1720, a C a p ita nia su b al­
te rn a de M ina s Gerais à co n d iç ã o de C a p ita nia geral, in d e p e n d e n te de São Pau­
lo, co m Vila Rica c o m o capital. Essa vila passou ao nível de cidade e re to m o u seu
a n tig o n o m e de O u ro Preto, q u a n d o da in d e p e n d ê n cia d o Brasil, em 1822, t o r ­
nando-se ca p ita l da província de M ina s Gerais, co m o n o m e de Im perial C idade
de O u ro Preto.
" A posição da capital das M ina s fo i in te ira m e n te decidida pela riqueza dos
te rre n o s sobre os quais se erg u eu , pois, em to d o s os o u tro s níveis, n ã o teria sido
possível fa ze r escolha pior. Por to d a s as partes, está cercada p o r altas m o n ta n h a s ,
no m e io das quais se d is tin g u e ao lo n g e o Ita colom i, co m seu cu m e cu rva d o em
fo rm a de ch ifre r o m b u d o " 2 (Fig.2). Por to d a p arte, na p ró p ria cidade, e n c o n tra m -
se m u ito s vestígios dos a n tig o s tra b a lh o s: m o n ta n h a s revolvidas, cujos fla n co s ras­
g ados te s te m u n h a m , ainda hoje, ataques d o h o m e m ; reservatórios im ensos com
paredes de g ra n d e espessura, fe ito s de e n o rm e s blocos de pedras, c im e n ta d o s
s im p le sm e n te co m te rra diluída e n d u re cid a pe lo te m p o e cuja resistência d ific il­
m e n te a picareta venceria, e n orm e s receptáculos o n d e as águas auríferas vin h a m
d e p o s ita r suas lamas preciosas, q u e o m in e ra d o r re to m a va para delas retirar o m e ­
tal c o n tid o . E p o r to d o s os lados, nas estradas q u e levam ao c a m p o , e n c o n tra m -
se tre ch o s de m u ro s enegrecidos, ruínas de a n tiga s casas, velhos restos te s te m u ­

* NR: A n to n io de A lb u q u e rq u e C o e lh o de C arvalho, 1 7 1 0 -1 7 1 3 .
nhas de u m a gran de za passada, cujas fu n d a ç õ e s ainda sólidas resistem às v io le n ­
tas te m p e sta d a s q u e se a b a te m a cada a n o sobre a região e co m fre q ü ê n c ia ser­
vem de base para casas novas q u e se e rg u e m n o local.
E n q u a n to O u ro Preto era fu n d a d a , o u tro s g ru p o s p rosseguiam as buscas
em diversos p o n to s: fo i assim q u e o g ru p o d irig id o pelo co ro n e l Salvador Fernan­
des F u rta d o co n se gu iu , ao e xp lo ra r um a flu e n te d o ribeirão d o C a rm o , alcançar o
p ró p rio ribeirão. A ch e ga d a dos e xp lo ta d o re s nessas paragens oca sio n ou a f o r m a ­
ção de u m c e n tro p o p u lo so , considerável o su ficie n te para que se lançassem os
p rim e iro s fu n d a m e n to s de u m a vila q u e recebeu, e m 1 7 11 , o n o m e de Vila d o
C a rm o , e que, pela C arta Régia de 23 de abril de 1745, fo i elevada a cidade, com
o n o m e de M a ria na , em h o m e n a g e m à rainha D. M a ria n a da Á u stria , esposa de
D. João V, q u a n d o da criação de u m bisp a do em Minas.
D u ra n te m u ito te m p o , os m in e ra d o re s d o C a rm o ig n o ra ra m a vizin ha n ça
de O u ro Preto, q u e dista apenas 12 q u ilô m e tro s : c o n to rn a v a m o m a ciço d o Ita-
c o lo m i para lá chegar, pois não existia c a m in h o através das espessas flo re sta s e
rochas escarpadas n o m e io das quais co rre o rio q u e passa em O u ro Preto, antes
de a tin g ir a Vila d o C a rm o , o n d e to m a v a o n o m e de rib e irã o d o C a rm o . Todavia,
c h e g a ra m a su sp e itar da existência d os tra b a lh o s na viz in h a n ça , p e lo asp ecto das
á guas tu rva d a s pela lavação d o o u ro , e c h e g a ra m a a b rir um c a m in h o através
dessas regiões quase im pe n e trá ve is, g u ia n d o -s e pelas águas lam acentas d o rib e i­
rão. Este fo i d u ra n te m u ito t e m p o o ú n ico c a m in h o q u e existiu e n tre as duas ci­
dades.
C o m o a fe b re d o o u ro o cu pava cada vez mais os espíritos, a c o rria m às m i­
nas a ve ntu re iro s das C apitanias d o Rio de Janeiro, Espírito Santo, P orto Seguro,
Bahia, Sergipe e P e rn am b uco: daí num erosas lutas e sucessivos co n flito s, suscita­
dos pela co n co rrê n cia , mas a necessidade de se esp alha rem p o r to d a p a rte levou
à d e sco be rta de novas regiões auríferas.
Foi graças a essas jazidas de o u ro q u e o fé rtil te rritó rio de Sabará veio a
ser e x p lo ta d o e viu ch e ga r um a tal a g lo m e ra çã o de pessoas q u e ra p id a m e n te se
f o r m o u u m a vila, q u e recebeu o n o m e de Vila de Sabará, a 17 de ju n h o de 1711.
A .a lg u m a s léguas dali, as ricas regiões de C aeté a tra íra m os aventureiros,
e lo g o se e rg u e u u m p o vo a d o , q u e fo i tra n s fo rm a d o em vila e m 2 9 de ja n e iro de
1714, co m o n o m e de Vila Nova da Rainha.
Em 1 7 20 , os irm ãos llbernaz c h e g a ra m ao pé de u m pico elevado, o n de
de sco brira m jazidas auríferas; d e ra m -ih e o n o m e de itabira (ita, pedra; bira, b ri­
lhante). Em breve, e xp lo ta d o re s se a g ru p a ra m ao seu redor, e o local t o m o u o
n o m e de Itabira d o M a to D e n tro .*
Em Santa Bárbara, encon tra va -se o u ro nas areias d o rio. Em Catas Altas,
era e n c o n tra d o d isse m in a d o na ja c u tin g a .3 In fic io n a d o (in fe cta d o ) to m o u seu
n o m e de u m canal p ro fu n d o o n d e o o u ro existia em a b u n d â n c ia . C a m a rg o s foi
assim d e n o m in a d a p o r causa de Th o m a s Lopes de C a m argo s, u m dos prim e iro s
e xp lo ta d o re s das jazidas auríferas de O u ro Preto, q u e veio, e m seguida, se esta ­
belecer nesse local.
Por to d a p a rte havia provas da existência de o u ro e o n de , no c o m e ço d o
século só havia florestas im penetráveis, dez anos mais ta rd e havia vilas populosas.
Todavia, c o m o a u m e n ta va c o n s ta n te m e n te o a n ta g o n is m o e n tre os p ri­
m eiros o cu p a n te s e seus novos co n co rre n tes, o g o v e rn a d o r da C ap ita nia , A n t o ­
n io de A lb u q u e rq u e , dirigiu-se às m inas, no c o m e ç o de 1 7 11 , a f im de aí resta­
belecer a o rd e m e instalar um re g im e re g u la r pela fo rm a ç ã o de u m c ó d ig o de leis
relativas às minas; in fe liz m e n te , o e s ta b e le c im e n to d o im p o s to d o q u in to sobre o
o u ro e, lo g o depois, a criação de q u a tro casas de fu n d iç ã o , em Vila Rica, Sabará,
São João dei Rei e Vila d o Príncipe, e n v e n e n a ra m ainda mais os espíritos, e n u m e ­
rosas revoltas eclo d ira m .
Cada m in e ra d o r era o b rig a d o a e n tre g a r as pepitas e o pó de o u ro q u e re­
colhia aos fu n c io n á rio s reais; estes retiravam a q u in ta parte (q u in to ), e o resto era
p u rific a d o e fu n d id o em barras, às custas d o G o ve rn o ; essas barras e ra m testadas
e m arcadas s e g u n d o seu títu lo e seu valor, depois e n tre g u e s ao p ro p rie tá rio com
u m a perm issão de circulação.
Esse im p o s to sobre o o u ro era tã o o n eroso, q u e os m in e rad o re s e m p re g a ­
ram to d o s os m eios para dele escapar. A fra u d e assum iu p ro p o rçõ e s co n sid e rá ­
veis; apesar das mais severas ordens, passava-se f o r tu ita m e n te para o Rio de Ja­
n eiro um a g ra n d e q u a n tid a d e de o u ro em e stado de p ó b ru to . Para p ô r fim a isso,
o n o vo g o v e rn a d o r instalou barreiras nos p rincipais p o n to s dos ca m in h o s c o n h e ­
cidos: aí as pessoas q u e v in h a m d o d is trito das m inas eram s u b m e tid a s a u m e xa­
m e escrupuloso; a n otava-se em u m registro o c e rtific a d o de q u e cada u m devia

* NR. A tu a lm e n te , Itabira. O pico eievado, anos d e po is, g a n h o u o n o m e Cauê.


estar m u n id o e no qual estava d e sig n a d o o q u e levava e o local para o n d e ia.
A lé m disso patru lh as, q u e circulavam p o r to d o s os ca m in h o s d o interior, co n fisca ­
vam , em b e ne fício da Coroa, t o d o o o u ro e x p o rta d o c o m o c o n tra b a n d o .
A p esar de tu d o , as fra u d es c o n tin u a ra m e, para im pedi-las, fo i m o d ific a ­
da a fo rm a d o im p o s to ; era a p lica d o sucessivam ente p o r fin ta s , c o n trib u iç õ e s
anuais fixadas e n tre o g o v e rn a d o r e a câm ara, p o r b a te ia , b a te ia d o r a d m itid o
para trabalhar, ou p o r ca pitação, n ú m e ro de cabeças de tra b a lh a d o re s e m p re g a ­
dos na m ina . As o rd e ns q u e os g o v e rn a d o re s recebiam da m e tró p o le referiam -se,
na m a io ria , às diversas m aneiras de re co lh e r o im p o s to sobre o o u ro para a C o ­
roa e às m e d id a s a serem to m a d a s para resistir às sublevações dos m ine rad o re s.
Foi assim que, para estabelecer o sistema da ca pitação, o g o ve rn a d o r, M a r tin h o
de M e n d o n ç a , recebeu u m a C arta Régia de 3 0 de o u tu b r o de 1 7 33 o rd e n a n d o ,
basica m e n te, q u e se in fo rm a sse sobre o n ú m e ro de escravos q u e tra b a lh a m nas
minas, visitasse as casas de fu n d iç ã o , estudasse o m e lh o r m e io de rece b e r os
q u in to s, examinasse a localização mais co n v e n ie n te para a residência dos g o v e r­
nadores, "c u ja h a bita çã o , co m o asp ecto de u m a casa, apre se nte a segurança e
a u tilid a d e de u m a f o rta le z a " , visse a co n ve niên cia de reservar a lg u ns te rre n o s de
minas, e recolhesse to d a s as in fo rm a ç õ e s g e og rá fica s possíveis, to m a n d o posse,
a p re te x to de d e sm a ta m e n to s , de te rre n o s q u e p udessem c o n v ir à Coroa.
Era in ú til m u d a r o sistema de im p o s to , pois co n tin u a va o n e ro s o para os in ­
felizes m ineradores; co m fre q ü ên cia , acontecia de te re m de p a g á -lo n o m o m e n ­
t o e m q u e se e n c o n tra v a m reduzidos à m a io r miséria, depois de te re m e m p re e n ­
d id o custosos tra b a lh o s de buscas, e que, c o m p le ta m e n te fru s tra d o s em seus p la ­
nos, não tin h a m e n c o n tra d o o u ro ou não o p o d ia m extrair, p o r causa das d ific u l­
dades devidas aos te rre n o s sujeitos a d e sa b a m e n to s ou às in filtraçõe s con tín u a s
das águas q u e in u n d a v a m a m ina.
Os p rim e iro s e xp lo ra d ores buscavam , p re fe re n c ia lm e n te , e x p lo ta r o leito
dos rios, p o r ser mais fácil e, co m fre q ü ê n cia , d a r bons resultados; esses rios lo g o
se e sg ota ra m , em razão da a fluência das pessoas que se d e d ica ra m ao tra b a lh o
das minas. Foi preciso, e n tã o , re to rn a r às m o n ta n h a s , cujas jazidas tin h a m sido
in icia lm e n te a b an d o na d a s, p o r causa das m aiores d ificu ld a d e s e n co n tra d a s para
sua a b o rd a g e m .
A fim de fa c ilita r as buscas, q u e im a ra m -s e im ensas extensões de florestas,
e lo g o as m o n ta n h a s a p re se nta ra m u m aspecto d e s n u d a d o e in te ira m e n te d e so ­
lado. C o m o esses m in e rad o re s não d e cid ia m se a ve n tu ra r nas e n tra n h a s da terra,
fa z e n d o tra b a lh o s de m ina , e a b a n d o n a r a cla rida d e d o dia, im a g in a ra m aplicar
às m o n ta n h a s o m é to d o q u e usavam para os rios, e e m p re g a ra m este pernicioso
sistema q u e consiste em e x p lo ta r u m a m o n ta n h a a céu a b e rto . Para a tin g ir o veio
a u rífero, retiravam m o n te s de te rra que o re co b ria m , ta lh a n d o as encostas em t a ­
ludes, a fim de p o d e r a tin g ir o f u n d o sem p erigo; à m e d id a q u e p e n e tra v a m em
p ro fu n d id a d e , eram o b rig a d o s a a la rg a r as bordas dessas imensas escavações, c u ­
jas jazidas, co m fre q ü ên cia , tin h a m apenas a lg u ns decím etros; co m o a u m e n to do
espaço vazio, o c o rria m d e sab a m e n to s, c o n s u m a n d o a ruína d o m in e ra d o r e des­
tru in d o em a lg u m a s horas o tra b a lh o de lo n g os meses. Assim, a ja zid a se perdia,
depois de te r sido apenas a rra n h a d a na superfície (Fig. 3).
Os m ineradores, inábeis para lu ta r co n tra as forças da natureza, c o m p le ­
t a m e n te ig n o ra n te s da arte de e x p lo ta r as minas, sa turados de perseguições e im ­
postos, aca ba ram p o r a b a n d o n a r p o u c o a p o u c o seus tra b a lh o s. As minas, que no
co m e ço d o século passado, estavam em u m e stado cada vez mais flo re sce n te, não
ta rd a ra m a p e ric lita r a p o n t o de ficar, p o r fim , e m co m p le ta decadência. Assim,
na época em q u e as m inas estavam em plena prosp e rid a de , e m to r n o de 1750,
a p ro x im a d a m e n te , o n ú m e ro dos tra b a lh a d o re s q u e se o cu p a v a m n o tra b a lh o das
m inas chegava a mais de 8 0 .0 0 0 , e n q u a n to em 1 8 2 0 havia apenas 6 .0 0 0 pessoas
em p re g a d a s na e xtração d o o u ro .O q u in to d o o u ro co rresp o n d ia a 1 1 70 qu ilo s
e m 1 7 50 ; n ã o passava de 5 7 0 qu ilo s em 1 7 99 e, de apenas 105 q u ilo s e m 1 8 1 9 .4
Os m ine rad o re s, p o r fim , cansados dos num e ro so s sacrifícios q u e faziam
para re colher u m p o u c o de o u ro , e c o n ta n d o e n c o n tra r na fe rtilid a d e d o solo mais
recursos para su ste n ta r suas necessidades, d eixaram a picareta e a alavanca para
se de dicare m à a g ricu ltu ra . M as o f o g o p o sto sem e scrú p u lo em to d a s as partes,
a fim de fa c ilita r a d e sco be rta d o o u ro , e as num erosas escavações devidas ao t r a ­
b a lh o das m inas tin h a m to r n a d o o solo im p r ó p r io para a cu ltu ra ; a b a n d o n a ra m
p o u c o a p o u c o a região das m inas para buscar lo n g e locais mais férteis. O d is tri­
t o m in e ra d o r se d e sp o vo o u cada vez mais: O u ro Preto, que em m e a d o s d o sécu­
lo passado tin h a mais de 8 0 .0 0 0 ha bita n te s, ho je te m apenas de 10 a 1 2.000,
" A este rilida d e dos cim os da serra, as g a rg a n ta s e escavações, u m céu
quase se m p re enevo a d o , casas e dificadas sem sim etria e m o u te iro s desiguais com
q u in ta is estreitos mal cu ltivados, e separados uns dos o u tro s p o r m u ros a rru in a -
Fig. 3 - Escavaçao fe ita p o r a n tig o s m in e ra d o re s de O u ro P reto p a ra e x p lo ta ç ã o a céu a b e rto de filã o de
q u a rtz o a u rífe ro

d o s, eis o a s p e c to p o u c o lis o n je iro q u e o fe re c e a c a p ita l da p ro v ín c ia de M in a s .


As casas p o s ta s e m c im a d o s o u t e ir o s são a c o m p a n h a d a s d e ruas m a l calçadas e
m al a lin h a d a s , sem e x c e tu a r a m ais m e rc a n til e c o m p r id a , c h a m a d a ru a D ireita,
q u a lific a ç ã o b a s ta n te m al ju s tific a d a . São d e te rra , chãs e sem s o b r a d o , cada u m a
c o m seu q u in t a l p o r d e trá s . O p a lá c io d o g o v e r n o c o n s ta d u m e d ifíc io q u a d r a d o
q u e se p a re c e m ais c o m u m a f o rta le z a q u e u m p a lá c io , m o r m e n t e o l h a d o da b a n ­
da d u m f o r t i m u m p o u c o a r r u in a d o q u e fica a ca v a le iro da cid a d e . Parte d e s te e d i­
fíc io serve de a lo ja m e n to das a u to r id a d e s da p ro v ín c ia t a n t o m ilita re s , c o m o civis,
o re s ta n te é a a n tig a f u n d i ç ã o . " 5
Essa é a d e s c riç ã o q u e M illie t d e S a in t - A d o lp h e fa z ia de O u ro Preto, n o c o ­
m e ç o d o Im p é rio , e o a s p e c to a tu a l é b e m p o u c o d ife r e n te . V ê -se q u e as in s t r u ­
ções ao g o v e r n a d o r M a r t in h o d e M e n d o n ç a f o r a m c u m p r id a s , p e lo m e n o s em
p a rte : a in d a h o je o P re sid e n te h a b ita o a n t ig o p a lá c io d o s g o v e rn a d o r e s .

88
As riquezas m inerais, q u e p o d e ria m te r sido u m a f o n t e de p ro sp e rid a d e
para o vasto te rritó r io de M ina s Gerais, fo ra m desperdiçadas antes d o c o m p le to
e s g o ta m e n to , pelos a n tjg o s e xp lo tad o re s. Já em 1799, José V ieira C o u to se q u e i­
xava: "Desses m esm os m o n te s q u e d ize m estar e sg otados e lavrados não se p o de
dizer senão que estão a rra n h a d o s nas suas superfícies e q u e as veias dos m etais
se a ch am pela m a io r p a rte a inda intactas no seu centro. A ig n o râ n c ia dos m in e i­
ros e o de scu id o que h o u ve de se instruir, em t e m p o na sua profissão, esta p re ­
ciosa classe de h o m e n s é a causa única e. ao m e sm o t e m p o m u i b a stan te da d e ­
cadência a tua l da m in e ra ç ã o ." 6
Todavia, o erro não cabe apenas aos m ineradores: o g o v e rn o da m e tr ó p o ­
le ta m b é m fo i responsável p o r tal e stado de coisas, d e vid o a sua incúria ao não
re g u la m e n ta r o tra b a lh o das m inas e não im p r im ir u m a boa dire çã o aos tra b a lh os,
e n via n d o pessoas hábeis na arte das minas e capazes de o rie n ta r os m ineradores;
só se o cu pava e m os pressionar, c o m o te s te m u n h a m as diversas instruções d irig i­
das aos g o ve rn a d o re s e o processo da conspiração de Tiradentes e m 1792.
Foi s o m e n te q u a n d o da vin d a da fam ília real para o Brasil q u e c o m e ç o u a
haver p re o cu p a çã o co m o d e stin o dos m in e rad o re s; o m in is tro de Estado, conde
de Linhares, e n vio u a M inas, em 1811, um alem ão, o Barão de Eschwege, para
e stu da r a m aneira c o m o os m ine rad o re s p o d e ria m to r n a r suas m inas mais p ro d u ­
tivas e. para lhes fo rn e c e r e sclarecim entos e conselhos. In felizm e n te , os m in e r a d o ­
res se apeg a va m a seus a n tig o s erros e se recusaram a instalar a lg u ns e q u ip a m e n ­
tos d e stin ad o s a fa c ilita r o tra ta m e n to dos m inérios. Todavia, e sp era nd o q u e seu
e x e m p lo fizesse os m in e rad o re s c o m p re e n d e r m e lh o r seus p ró p rio s interesses, o b ­
teve, p o r d ecreto, em 1817, a a u to riza çã o de fo r m a r um a c o m p a n h ia de minas;
para isto, c o m p ro u a m ina de Passagem, situada p e rto da vila de m e sm o n o m e , a
seis q u ilô m e tro s de Vila Rica. Instalou u m e n g e n h o de 9 pilões, e c o m e ç o u a a brir
um a galeria p ro fu n d a , destinada ao e s g o ta m e n to das águas que in u n d a v a m a
m ina, da qual existem , ainda hoje, vestígios. Os a c o n te c im e n to s políticos de 1 8 20
o o b rig a ra m a de ixa r o Brasil e o im p e d ira m de assistir ao sucesso de seu e m ­
p re e n d im e n to , q u e deu b ons resultados, graças a um a a d m in is tra ç ã o sensata.
Os esforços de Eschwege não fo ra m in te ira m e n te perdidos; ao criar um a
c o m p a n h ia , in a u g u ro u um a era nova para a e xp lo ta çã o das m inas de o u ro no Bra­
sil. É verd a d e q u e o n ú m e ro das co m p a n h ia s existe n tes a tu a lm e n te n o Estado de
M ina s Gerais é b e m restrito, q u a n d o c o m p a ra d o à q u a n tid a d e de m inas e xp lo ta -
das no século passado; existem o p e ra n d o apenas nove co m p a n h ia s de minas de
o u ro . Em p a rte são estrangeiras; d e vem ser acrescentadas diversas pequ e n as as­
sociações particulares, form adas geralm ente com a finalidade de valorizar um a jazida:

S a in t-J o h n d 'E I-R e y M in in g C o m p a n y (M in a s d e M o r r o V e lh o e C u ia b á )

S a n ta -B a rb a ra G o ld M in in g C o m p a n y (M in a d o Pari)

D o n P e d ro G o ld M in in g C o m p a n y ( M in a d e M a q u in é )

O u ro P re to G o ld M in e s o f B ra zil {M in a s d e P assa g e m e R aposos)

S o c ié té d e s M in e s d 'O r d e Faria ( M in a d o Faria)

C o m p a n h ia d a s M in a s d e O u ro fa la (a lu v iõ e s d o R io S a p u ca í)

E m p re sa d e M in e ra ç ã o d e C a e té ( M in a d o C a rra p a to )

C o m p a n h ia A u n fe r a d e M in a s G e ra is (M in a d e D. F lo ris b e la )

C o m p a n h ia B ra s ile ira d e S a litra e s , T e rra s e C o n s tru ç õ e s (M in a d o V a sa d o ).

A fo rm a ç ã o de u m a c o m p a n h ia de m inas no Brasil é e fe tu a d a co m g ra n ­
de le n tid ã o e depois de serem superadas num erosas dificu ld a d es. Os capitais são
difíceis de e n co n tra r; é o e stra n g e iro q u e fo rn e c e a m a io r parte. A lé m disso, os
p ro p rie tá rio s de um a m ina só se d e cid e m ve n dê -la depois de longas enum erosas
conversas. Por não te re m q u a lq u e r idéia d o v a lo r da jazida que possuem e p e r­
suadidos de q u e c o n té m um te so uro, a co nte ce co m fre q ü ê n cia d e m o n s tra re m
pretensões q u e u m a c o m p a n h ia não p o d e a ce ita r sob pena de se arruinar. Em vez
de e n tra re m e m a co rd o , p re fe re m c o n tin u a r a a rra n h a r s u p e rfic ia lm e n te sua
m ina, d e te rio ra n d o um b e m d o qual não tira m q u a lq u e r p ro ve ito , p o r ser im p o s ­
sível co n se g u ir os meios para fa zê -lo fru tifica r,

As minas de o u ro passaram, p o rta n to , p o r duas fases, q u e fo rm a r ã o as duas g ra n ­


des divisões deste e s tu d o .* À p rim e ira co rre s p o n d e m as e xp lo ta çõ e s a n tig a s fe i­
tas pelos p ró p rio s m ine rad o re s, q u e e m p re g a v a m os num e ro so s escravos que p os­
suíam; isto explica p o r que, c o m seus m eios ru d im e n ta re s, te n h a m p o d id o exe­
c u ta r esses gigante sco s tra b a lh o s dos quais ain d a se e n c o n tra m n u m e ro so s t r a ­
ços. À se g un d a co rre s p o n d e m as e xp lo ta çõ e s m o d e rn a s pelas co m p a n h ia s de m i­
nas, c o m um pessoal restrito e u m a a p a re lh a g e m mais apro pria d a.

* NR: as duas divisões c o rre s p o n d e m ao. V o lu m e I da obra p u b lica d a e m francês.


PRIMEIRA PARTE
EXPLOTAÇÕES ANTIGAS
CA PITU LO I o

M É T O D O S DE EXPLOTAÇÃO

1. J a zid as d e o u ro
As m inas de o u ro , e m M in a s Gerais, e stão c o n c e n tra d a s em g ra n d e p a r­
t e nos fla n c o s da Serra d o E spinhaço. Essa g ra n d e cadeia de m o n ta n h a s , q u e
fo r m a o m a c iç o ce n tra l d o Estado, te m u m a dire çã o N-S, s e g u in d o um a linha
se n s iv e lm e n te m e rid ia n a q u e passa pe lo Rio de Janeiro, O u ro Preto e D ia m a n ti­
na, e separa as á guas da bacia d o Rio Doce, a leste, das da bacia d o Rio São
Francisco, a oeste.
Na p a rte desse maciço q u e recebeu o n o m e de Serra de O u ro Preto, é que
se e n c o n tra m n u m e ro so s vestígios das a n tiga s explotações.
Q u a n d o se e xam ina a c o n s titu iç ã o g e o ló g ica da re g iã o ,7 parece que p o ­
d e m ser d istin g u id o s , na o rd e m de superposição dos te rre n o s, três grandes p e río ­
dos (g eológicos) distintos:

I o Gnaisse, M icaxistos.
2o Xistos micáceos, Q u a rtz ito s xistosos, Xistos a rg ilosos,Itabiritos.
3 o Q u a rtz ito s co m p a cto s, A re n ito s.

As rochas mais antigas, incluídas nos dois prim e iro s períodos, apre se nta m
características de e stra tifica çã o q u e te n d e m a desaparecer naquelas d o terceiro
período. Parecem análogas às rochas c o s tu m e ira m e n te classificadas nos terrenos
p rim itivo s: as d o p rim e iro p e río d o co rre sp o n d e ria m a terre n o s Laurencianos, as do
se g un d o , a te rre n o s H uronianos.
C o m o as rochas d o p rim e iro p e río d o o fe re c e m p o u c o interesse d o p o n to
de vista q u e nos o c u p a , não nos d e te re m o s nelas. A o c o n trá rio , as d o se g u n d o
p e río d o são, para nós, p a rtic u la rm e n te interessantes. Os xistos micáceos, que
o c u p a m sua base, são g e ra lm e n te cinza-escuro, quase negros, u n tu o so s ao ta to
e se a p re se nta m sob dois aspectos u m p o u c o dife re n te s: na p a rte inferior, são
mais macios, lig e ira m e n te g rafitosos, e scurecendo os dedos; na p a rte superior,
são mais duros e co m p a cto s, p a re ce nd o a lg u m a s vezes c o m ardósias. Entre os
dois, às vezes, vêm se intercalar os q u a rtz ito s xistosos; estes são g e ra lm e n te d u ­
ros e resistentes, suscetíveis de se separar e m cam adas delgadas, utilizadas c o m o
lajes na região, co m o n o m e de p e d ra de lajes.
Os xistos argilosos que, co m os ita b irito s, o c u p a m o nível su p e rio r dos
te rre n o s fra n c a m e n te xistosos, p ro v ê m da d e c o m p o s iç ã o mais ou m e n o s a vança­
da dos xistos micáceos. São e n c o n tra d o s sob c a p e a m e n to s e n orm e s, e as e x p o ­
sições e n c o n tra d a s a cada passo nos ca m in h o s o fe re c e m ao o lh a r u m a série de
cam adas re g u la rm e n te e stra tifica d a s co m u m a va rie d a d e n o tá ve l de cores, in d o
d o c in z a -b ra n c o ao n e gro, passando pe lo a m a re lo e o v e rm e lh o . Nas partes a l­
tas, a d e c o m p o s iç ã o d os xistos é mais avançada, as características de xistosida-
de desap a re ce m , a consistência d im in u i e se te m a tra n s fo rm a ç ã o c o m p le ta em
argila, g e ra lm e n te ve rm e lh a .
Os ita b irito s são u m a m istu ra xistosa de q u a rtz o de grãos fin o s e fe rro es­
pecular. São e n c o n tra d o s e m cam adas friáveis de areias b rilha n te s, designadas
v u lg a rm e n te c o m o ja c u tin g a ,8 ou no e sta d o de massa c o m p a c ta q u e c o n té m
p o u c o q u a rtz o e fo rm a d a de o lig is to quase p u ro , que recebeu a d e n o m in a ç ã o de
p e d ra de fe rro . F ornecem u m e xce le n te m in é rio para a fa b rica çã o d o fe rro . Es­
sas cam adas a p re se n ta m a flo ra m e n to s consideráveis, co m u m a espessura que
a tin g e c o m fre q ü ê n c ia mais de 100 m e tro s, n u m a exte nsã o de vários q u ilô m e ­
tros, q u e são quase se m p re re co b e rto s p o r u m a crosta d u ra de c o n g lo m e ra d o de
cor ve m e lh o -e scu ra , f o r m a d o de fra g m e n to s de q u a rtz o o u h e m a tita ligados p o r
u m c im e n to a rg ilo -fe rru g in o s o . Essa rocha, q u e se e n c o n tra e m massas fr e q ü e n ­
te m e n te cavernosas, sob u m a espessura de a lg u ns m e tro s apenas, era ch a m a d a
pelos a n tig o s m in e ra d o re s ta p a n h u a ca nga (cabeça de n egro) e hoje, mais s im ­
p le sm e n te , canga. Os ita b irito s a p arecem a lg u m a s vezes em ca m a d a s in te rc a la ­
das nos xistos argilosos.
As rochas d o te rce iro pe río do , q u e fo r m a m o nível s u p e rio r dos te rre n o s
m e ta m ó rfic o s da região, são q u a rtz ito s de diversas variedades, g e ra lm e n te c o m ­
pactos. Às vezes o q u a rtz o é e n c o n tra d o no e sta d o de areia friável aos dedos;
te m -s e e n tã o u m a rocha q u e passa ao e stado de arenito.
As jazidas de o u ro são de dois tipos: os filões e os d e pó sito s de aluviões.
Os filões q u e c o n tê m o u ro co rre s p o n d e m a dois tip o s de asp ecto bem dis­
tin to : os filões de q u a rtz o e de piritas auríferas e os filões de q u a rtz o a urífero.
Os p rim eiros, os filões de piritas, são fo rm a d o s p o r um a massa de q u a r t­
zo co m piritas, c o m u m e arsenical, em cristais e m b u tid o s na massa o u em veios
de grãos densos e fin o s, nos quais o o u ro se e n c o n tra disse m in ad o de m o d o bas­
ta n te irre gu la r c o m o um a espécie de poeira tê n u e , excessivam ente difícil de sepa­
rar da massa, m e sm o d e po is de re duzida ao e stado de areia fin a . À pirita arseni­
cal e à pirita c o m u m acrescentam -se a c id e n ta lm e n te , de a co rd o co m as jazidas,
o u tro s minerais, c o m o a calcita, a d o lo m ita , a siderita, o distênio, a h o rn b le n d a ,
a g ranada, a mica, a tu rm a lin a , a albita, a pirita m a g n é tica , a p irita de cobre, a
galena, a estib in ita . C o m o o u ro recolhe-se u m p o u c o de prata e, ta m b é m , mais
ra ra m en te , b is m u to m etálico.
Os se g undos, os filões de q u a rtz o , co m p õ e m -s e g e ra lm e n te de q u a rtz o
bra n co leitoso, o n d e se e n c o n tra m d issem inados gra n de s cristais de piritas, p rin ­
c ip a lm e n te pirita de fe rro e a lg u m a p irita arsenical, co m finas lâm inas de o u ro ir­
re g u la rm e n te repartidas na massa. E n q u a n to os filões de piritas tê m um a riqueza
b a stan te co n sta n te , e m b o ra p e q u e n a , os filões de q u a rtz o e n cerra m o u ro e m p ro ­
p o rçã o m u ito variável, mas os grãos mais grosseiros são, em co m p e n sa ção , mais
fáceis de separar da massa estéril.
Os filões co m pirita só a p arecem nos níveis inferiores, p rin c ip a lm e n te nos
xistos m icáceos inferiores e nos q u a rtz ito s xistosos; acim a n ã o são mais e n c o n tra ­
dos, o q u e faria s u p o r q u e são a n te rio re s aos xistos micáceos superiores e, con se ­
q ü e n te m e n te , aos xistos argilosos e aos itab irito s. Esses filões ora c o rta m n itid a ­
m e n te os te rre n o s q u e atravessam, ora seguem planos de e stra tifica çã o e f o rm a m
o que se ch a m a de filões cam ada; em to d o s os casos, são cla ra m e n te separados
da rocha encaixante, g e ra lm e n te dura. C o m d ific u ld a d e se e n c o n tra u m p o u c o de
o u ro na m atéria das salbandas.
A o c o n trá rio , os filões de q u a rtz o são e n c o n tra d o s nos diversos níveis de
e m p ilh a m e n to dos te rrenos, até m e sm o nos q u a rtz ito s superiores, o q u e p e rm iti­
ria c o n c lu ir p o r sua o rig e m p o ste rio r à d os precedentes; verifica-se ainda que,
q u a n d o co rta m te rre n o s permeáveis, a rocha se e n c o n tra im p re g n a d a de e m a n a ­
ções filo n ia n a s p o r um a extensão, às vezes, considerável. É o q u e a co nte ce q u a n ­
d o esses filões atravessam as cam adas q u e o c u p a m as partes superiores d o m a c i­
ço central de M inas: xistos argilosos, ita b irito s, q u artzito s.
Nos xistos argilosos, g e ra lm e n te verm elho s, a m atéria filo n ia n a p e n e tro u
nas num erosas fe n d a s da fra tu ra , de m a n e ira a fo rm a r, na m aio ria das vezes, uma
série de p e q u e n o s filões paralelos, separados p o r íeitos de xistos co m im p re g n a ­
ção de o u ro s e g u n d o certa extensão.
Nas cam adas de ita b irito s friáveis, ja cu tin g a s , q u e fo ra m atravessadas p o r
filões de q u a rtz o , há im p re g n a ç ã o de o u ro a u m a distância tal q u e parece fo rm a r
ja zid a s, à p rim e ira vista, distintas dos filões e q u e no e n ta n to são e s tre ita m e n te
ligadas aos m esm os. "O s arredores de O u ro Preto a p re se n ta m nesse asp ecto f a ­
to s co m p ro va d o re s: u m a cam ada considerável de ja c u tin g a fo i aí e xp lo ta d a a céu
a b e rto p o r to d a p a rte o n d e era atravessada p o r filões de q u a rtz o ; as e xp lotações
se e ste nd ia m a 30, 4 0 o u 50 m e tro s à direita e à esquerda d o filã o , e tive ra m
c o m o resu lta d o o d e sa p a re cim e n to c o m p le to da cam ada de ja c u tin g a ; ao c o n tr á ­
rio, as partes q u e estavam e n tre dois filões, lo n g e um d o o u tro , fo ra m deixadas
intactas, de tal sorte q u e hoje, ao lo n g o do c a m in h o de O u ro Preto a M a ria n a (12
q u ilô m e tro s ), na m a rg e m esquerda d o Rio d o C a rm o , o te rre n o apresenta um a sé­
rie de co rte s paralelos, to d o s m o s tra n d o no f u n d o a lg u ns filões de q u a rtz o , sepa­
rados p o r massas in ta ctas de ja c u t in g a " , 9 O o u ro se e n c o n tra nessas cam adas em
p alhetas grossas irre g u la rm e n te dissem inadas na massa de q u a rtz o e de fe rro oli-
gisto. Em v irtu d e da fria b ilid a d e da m atéria, a separação é fácil.
Nos q u a rtzito s, rochas duras mas que a p re se nta m planos de pa rtiçã o , h o u ­
ve apenas u m a p e quena p e n e tra çã o nos leitos de fra tu ra vizinhos d o filão.
Assim, os filões de pirita e os filões de q u a rtz o d ife re m sensivelm ente e n ­
tre si pela época de o rig e m , p o r sua c o m p o siçã o e pe lo e sta d o d o o u ro c o n tid o .
Observe-se, ainda, q u e os a n tig o s só ra ra m e n te tra b a lh ava m , pe lo m e n o s s e g u n ­
d o nosso c o n h e c im e n to , os filões de piritas. T in h a m d ific u ld a d e para retirar o
o u ro , co m os meios ru d im e n ta re s q u e e m p re g a v a m . C o m fre q ü ê n cia , p o ré m , ex-
p lo ta ra m as ja c u tin g a s auríferas e os xistos argilosos em c o n ta to co m filõ e s de
q u a rtzo , ra ra m e n te o p ró p rio filã o , s o b re tu d o nos q u artzito s: a rocha, p o r causa
de sua dureza, exigia-lhes m u ito t e m p o e tra b a lh o para ser re duzida a pó.
Os d e pó sito s de aluviões se f o rm a r a m nos vales o u nos leitos dos rios; as
pedras e o o u r o arra n ca d os dos flancos das m o n ta n h a s pelas águas se a c u m u la ­
ram nos fu n d o s dos vales, fo r m a n d o u m le ito de seixos rolados, de areia e de
o u ro , d e sig n a d o na região c o m o cascalho, cujo e n riq u e c im e n to se p ro d u z iu p o r
um a espécie de c o n ce n tra çã o m ecânica n a tu ra l. Os cursos de água, ao p e n e tra r
nas fra tu ra s escavam, p o u c o a p o uco , cavidades que a p re se nta va m o aspecto de
e n o rm e s caldeiras, co m fo rm a cilíndrica. O fu n d o , em m eia esfera e_as paredes,
fic a m lisos e p o lid o s pela ro ta çã o da á g ua q u e arrastava consigo seixos e fr a g ­
m e n to s de rochas. Essas cavidades, as quais se dá o n o m e de caldeirões, e n c h e ­
ram-se, co m o te m p o , de m a té ria mais pesada fo r m a n d o d e pó sito s de cascalho
a u rífe ro de riqueza fre q ü e n te m e n te saliente. Nas partes em q u e a c o rre n te era
mais rápida as águas, escavando o fu n d o , ta lh a ra m depressões c o m o se fossem
corredores, ch a m a d o s daipavas, o n d e o cascalho rico p ô de se acum ular.
São esses d e pó sito s q u e c o n s titu íra m in icia lm e n te o alvo das buscas dos
m ine rad o re s: sua m a io r fa cilid a d e de tra ta m e n to e riqueza e xtra o rd in á ria deviam
te n ta r os p rim e iro s e xp lo ta d o re s de o u ro , que, não te n d o q u a lq u e r n o çã o d o t r a ­
b a lh o das minas e to m a d o s pe lo desejo de e n riq u e c e r o mais ra p id a m e n te possí­
vel, d irig ira m to d o s os esforços para a d e sco be rta desses d e pósitos, e m vez de
o p e ra r os filões que necessitavam de tra b a lh o s mais penosos e mais difíceis para
a e xtração d o o u ro . Esses d e p ó sito s se e sg o ta ra m ra p id a m e n te , t a n t o p o r causa
d o n ú m e ro de m in e rad o re s q u e a u m e n ta v a a cada dia, c o m o p o r causa da fo rm a
desastrosa de e x p lo ta r ao acaso e sem q u a lq u e r o rd e m , d e ixa n d o q u e as águas
d o rio arrastassem os restos estéreis das explotações, q u e ia m se d e p o sita r à j u ­
sante no f u n d o virg e m , fic a n d o este inexplotável.
Depois de te re m revo lvido in ú m e ra s vezes os te rre n o s de aluvíões, os m i­
neradores, cansados de nada mais encon tra r, tiv e ra m e n tã o de se v o lta r para as
m o n ta n h a s e p ro cu ra r tirar, ao cu sto d e .m u ito s sacrifícios e tra b a lh o s co n sid e rá ­
veis, o o u ro q u e encerra va m e m seu seio.
Foi p o r isso q u e os a n tig o s m in e ra d o re s fo r a m levados a e xtrair, sucessi­
v a m e n te , o o u ro d os alu viõ e s e dos filões. Para c o n h e c e r sua m a n e ira de e x p lo ­
tar, é preciso e x a m in a r s e p a ra d a m e n te os m é to d o s q u e e m p re g a ra m , o u c o m o
d iz ia m seus serw ços, s e g u n d o fo sse m d e p ó s ito s de alu viõ e s o u rochas a tra ve s­
sadas pelos filões.
2. D e p ó s it o s d e a l u v ia o

Os a n tig o s m ine rad o re s d is tin g u ia m três categorias de d e pó sito s de a lu ­


viões auríferos ;
a) Os veios, aluviões q u e fo r m a m o leito p ro p ria m e n te d ito dos rio s;10
b ) Os ta b u le iro s , d e pó sito s q u e o c u p a m as m a rge n s dos rios, em u m nível
lig e ira m e n te su p e rio r ao dos d e pósitos precedentes;
c) As g ru p ia ra s, d e pó sito s mais elevados, co m fre q ü ê n cia ligados aos f la n ­
cos das m o n ta n h a s , p ro ve n ie nte s g e ra lm e n te de a n tig o s leitos que os cursos
d 'á g u a a b a n d o n a ra m após num erosas revoluções d o g lo b o o u ao a b rire m p o u c o
a p o u c o um n o vo leito situado, co m fre q ü ê n cia , b e m abaixo d o a n tig o .
Em to d o s esses depósitos, o q u e buscavam era o cascalho, fo rm a d o de sei­
xos re d o nd o s e lisos nos veios e ta b u le iro s , e angulosos e ásperos nas g ru p ia ra s ,
p o r te re m sido m e n o s rolados pelas águas.
C o n s ta ta ra m q u e o d e p ó s ito de cascalho q u e atin gia, a lg u m a s vezes, vá ­
rios d e cím e tro s de espessura, repousava, e m geral, sobre rochas duras em fo rm a
de lajes (c e rta m e n te q u a rtzito s) ou sobre u m a ca m a d a de argila xistosa m u ito un-
tuosa, a p iça rra, sobre a qual se e n co n tra va em g ra n d e p a rte o o u ro e m grãos ou
em palhetas, d e p o s ita d o m e ca n ica m e n te . Um a vez a tin g id a esta ú ltim a cam ada,
não levavam mais a d ia n te suas buscas: o serviço chegara ao fim . Nos rios, o cas­
ca lh o rico era e n c o n tra d o ora à f lo r d o leito, ora re co b e rto p o r um a cam ada de
seixos, m istu ra d o s c o m areia, o cascalho b ra vo . Nos ta b u le iro s e g ru p ia ra s , para
c h e g a r ao cascalho a u rífe ro tin h a m de cavar a terra, g e ra lm e n te verm elha, que
se e n con tra va na superfície, n u m a p ro fu n d id a d e de 2 a 4 m etros e até mais; e n ­
co n tra v a m e m seguida um leito de saibro, fre q ü e n te m e n te c o m fra g m e n to s a g lu ­
tin a d o s à areia ou, às vezes, fo r m a n d o u m a massa co m p a c ta e m u it o du ra c o n ­
te n d o h e m a tita , ch a m a d a c a n g a .11 Depois de retirados os seixos o n d e já se e n c o n ­
trava o o u ro , surgia o cascalho, f o r m a d o de seixos maiores,
Somos levados, p o rta n to , a e stu da r sucessivam ente os diversos tra b a lh os
e xecu ta d o s para extra ir o o u ro dos aluviões, d e po sita d o s nos leitos ou nas m a r­
gens dos rios, ou nos fla n co s das m o n ta nh a s.
1o T R A B A L H O S N O S L E IT O S D O S R IO S (S e rv iç o d o s veios). 0 q u e os p r im e ir o s
e x p lo ta d o r e s b u s c a v a m , de p re fe rê n c ia , era o ca sca lh o a u r ífe r o , e n c o n t r a d o d es­
c o b e r t o nos rios.
Em v ir t u d e da f a c ilid a d e de t r a t a m e n t o , e xplica -se a v in d a t ã o rá p id a de
u m g r a n d e n ú m e r o de a v e n tu re iro s , a tra íd o s ao m e s m o t e m p o para a e x p lo ta ç ã o
dos rios. N o p rin c íp io , esses h o m e n s , d e s p ro v id o s de t o d o s os m e io s , e x tra ía m o
o u r o e n t r a n d o na á g u a para r e m e x e r as areias c o m estacas a fia d a s, q u e r e c o lh ia m
e m s e g u id a e m p e q u e n o s re c ip ie n te s , p ra to s de e s ta n h o ou g a m e la s de m a d e ira ,
nos q u a is s e p a ra v a m os g rã o s de o u r o c o m os d e d o s , r e je ita n d o em s e g u id a a
areia para o rio. A s g a m e la s de m a d e ira f o r a m s u b s titu íd a s m ais t a r d e p o r um
vaso e m f o r m a de f u n il o u d e c o n e m u it o a b e r to , a b a te ia , (Fig. 4) p r o v a v e lm e n ­
te im p o r t a d a da Á fric a , q u a n d o da e n tr a d a d os n e g ro s na c o lô n ia . D e p o is de c o ­
lo c a r na b a te ia u m a c e rta q u a n t id a d e de c a s c a lh o rico e de á g u a , im p r im ia -s e u m
m o v im e n t o g ir a t ó r io a c o m p a n h a d o de lig e ira s sacu d id a s, c o n s e g u in d o - s e jo g a r
fo ra , p o u c o a p o u c o , a te rr a e os seixos, e n q u a n t o o o u r o , m ais p e sa d o , a c u m u ­
lava-se n o f u n d o .

Fig,4 - C o rte e p la n o de u m a b a teia


Fig. 5 - Faiscador fa z e n d o o o u ro s u g ir na b a teia

98
Esse m o d o de e x p lo ta r o c a s c a lh o d os rios se c o n s e rv o u a té nossos dias
c o m os fa is c a d o re s q u e , d u r a n t e a esta çã o das chuva s, v ã o bu sca r o o u r o tr a z id o
pe lo s a lu v iõ e s há p o u c o d e p o s ita d o s nos cursos d 'á g u a , d e p o is das g ra n d e s
cheias. O fa isca d o r, para isso, in stala a n t e c ip a d a m e n te de cada la d o d o rio, c o m
a a ju d a de estacas e r a m a g e n s , p e q u e n o s d iq u e s tran sve rs a is q u e v ã o a l t e r n a d a ­
m e n t e de u m a m a r g e m para o m e io da á g u a , de m o d o a r o m p e r o c u rs o e o b r i ­
ga r as m a té ria s a rra s ta d a s a se d e p o s ita r e m . Q u a n d o , d e p o is de g ra n d e s chuvas,
o d e p ó s it o a t in g iu u m a c e rta espessura, a r m a d o de u m a b a te ia d e 6 0 a 75 c e n t í ­
m e tro s de d iâ m e tr o , e n tr a na á g u a , c o m f r e q ü ê n c ia a té os jo e lh o s , e e n fia sua b a ­
te ia n o c a s c a lh o d o rio; d e p o is , m a n t e n d o - a na á g u a , im p r im e - lh e a lg u m a s s a c u ­
d id a s para u m la d o e o u t r o , a f im de q u e a te rra e as areias leves se ja m levadas
pela c o r re n te , e n q u a n t o o c a s c a lh o e o o u r o , m ais pesados, se a c u m u la m n o f u n ­
d o . E r g u e n d o a b a te ia , fa z a s e p a ra ç ã o d o o u r o , r e je ita n d o p o u c o a p o u c o as m a ­
té ria s estéreis pela ro ta ç ã o , e x a t a m e n t e da m e s m a m a n e ira q u e os a n tig o s la v a ­
dores. O p ó de o u r o é e m s e g u id a r e c o lh id o e m u m a bolsa de c o u r o q u e tra z e m
na c in tu r a . São, e m g e ra l, n e g ro s p o b re s q u e se d e d ic a m a esse tra b a lh o , exces-

F ig .6 - C a v a d e ira / Fig. 7 - A lm o c ra fe / Fig.8 - N e g ro c a rre g a d o r de ca sca lh o c o m u m c a ru m b é

99
siv a m e n te p e n o so p o r causa da d ife re n ç a de t e m p e ra tu r a s u p o rta d a p e lo c o r­
po, q u e se e n c o n tra e x p o s to , no a lto , aos raios de u m sol a rd e n te e, e m b a ix o ,
ao f r io da á g ua c o rre n te . A ssim , só p o d e m tra b a lh a r d u ra n te a lg u m a s horas;
c o n te n ta m -s e , de resto, co m u m p e q u e n o g a n h o e tã o lo g o te n h a m e c o n o m i­
z a d o s u fic ie n te m e n te para viv e r d u ra n te u m a sem ana, n ã o fa z e m mais nada o
resto d o te m p o .
Esse m e io p rim itiv o de e xp lo ta çã o se a p e rfe iç o o u p o u c o a p o u co , so b re ­
t u d o p o rq u e nos prim e iro s te m p o s, os lavadores de o u ro d e sco bria m cascalho rico
mais acessível para, em seguida, o p e ra r com cascalho s itu a d o a u m a p ro fu n d id a ­
de maior, sob água ou re co b e rto p o r um a cam ada mais o u m enos espessa de cas­
c a lh o estéril, d e p o s ita d o n a tu ra lm e n te ou p ro v e n ie n te dos rejeitos da lavação.
Desse m o d o fo ra m levados a e m p re g a r p ro c e d im e n to s m e n o s simples,
qu e va m os descrever sucessivam ente.
M é to d o de desvio dos cursos de á g ua p o r b a rra g e m e c a n a l la teral. Esse
sistema consistia em desviar as águas do le ito do rio, a b rin d o um canal lateral em
u m a das m arge n s e estabelecendo, p e rto da e n tra d a , u m a b a rra g e m fe ita de fe i­
xes c o b e rto s de te rra e pedras, de m aneira a d irig ir as águas para seu n ovo leito.
Os m in e ra d o re s p o d ia m e n tã o co m e ça r seus tra b a lh o s de e xp lo ta çã o na
p a rte d o leito p o sto a d e sco b e rto mas c o m o as escavações p ro d uz id as e n ch ia m -
se ra p id a m e n te de água q u e vazava da b a rra g e m e d o canal, eram o b rig a d o s a
esvaziá-las c o n s ta n te m e n te . Nos p rim e iro s te m p o s, fa zia m o esva zia m e n to de
m o d o braça!, co m bateias e ca ru m b é s (caixa de m adeira q u a d ra d a , co m a b ertura
na p a rte superior); mais ta rd e e m p re g a ra m caixão em rosário, in clina d o , m o v i­
m e n ta d o p o r escravos ou p o r um a roda hidráulica. Essas m á q u in a s in cô m o d a s só
p o d ia m , in fe liz m e n te , servir para esvaziam entos de p e q u e n a p ro fu n d id a d e e
apre se nta va m o in co n ve n ie n te de exigir, para seu d e slo ca m e n to , o co n curso de
u m g ra n d e n ú m e ro de braços; mais de 50 escravos tin h a m d ific u ld a d e para m o ­
ver essas massas e n orm e s e a m a n o b ra era repetida várias vezes em um a mesma
e xp lo taçã o . Pode-se avaliar as d ificu ld a d e s d o e s g o ta m e n to em tais co n dições e
os entraves acarretados ao tra b a lh o .
Por o u tro lado, para a e xtração e o tra n s p o rte d o cascalho fo ra d o rio, não
havia m á q u in a s n e m vagonetes: m u n id o s da alavanca, q u e é um a barra de fe rro
se rvind o c o m o d e sm o n ta d e ira , da cavadeira, espécie de cinzel de fe rro de p o nta
c h a ta e c o r ta n te c o m c a b o d e m a d e ira (Fig.6) e d o a lm o c a fre , pá curva e p o n t u ­
da,(Fig. 7) os m in e r a d o re s escav avam o casca lho, e n q u a n t o escravos, c o m u m ca-
r u m b é d e p e q u e n a c a p a c id a d e p o s to na cab e ça , (Fig. 8) ia m e v in h a m c o m d is p o ­
sição le n ta e p re g u iç o s a , de m a n h ã à n o ite , para trazer, a ca d a vez, u m a p e q u e ­
na c a rg a d os d e p ó s ito s d o rio. E n q u a n to isso, passava o t e m p o . É p re c is o q u e t o ­
d os esses tr a b a lh o s se ja m e x e c u ta d o s d u r a n t e a e s ta ç ã o seca; c o m u m a f o r t e c h u ­
va, o rio vai s u b ir r a p id a m e n te , in u n d a n d o os tra b a lh o s , a b a r r a g e m será levada,
e será difícil q u e t e n h a m t e m p o para salvar suas g ra n d e s m á q u in a s de e s g o ta ­
m e n to : u m a cheia d o rio será s u fic ie n te para d e s tr u ir e m a lg u m a s h o ra s tra b a lh o s
e x e c u ta d o s c o m g r a n d e c u s to , e m vários meses. Q u a n ta s vezes n ã o f o r a m , p o r t e ­
re m d e m o r a d o n os tr a b a lh o s p r e p a r a tó r io s de desvio d o rio e d e e s g o ta m e n to ,
s u r p r e e n d id o s pelas ch u v a s a n te s de p o d e r e m re tira r u m a ún ica b a te ia de casca­
lh o rico. C o m fre q ü ê n c ia , n os ú ltim o s t e m p o s , e x p e r im e n ta v a m u m a d e c e p ç ã o
a in d a m a io r q u a n d o , a o d a r e m e m u m a p a r te d o rio já e x p lo ta d a , só e n c o n t r a ­
v a m c a sca lh o p o b re .

Fig. 9 - D iq u e p a ra e x p lo ta ç ã o d o le ito dos rios / Fig. 10 - F e rra m e n ta pa ra p e g a r o cascalho

101
Fig. 11 - Pespectiva, c o rte e p la n o de um m u n d é u

102
Q u a n d o as m a rg e n s d o rio e ra m e sca rp a d a s o u a p r e s e n ta v a m m u ita s d i f i ­
c u ld a d e s para se a b r ir u m ca n a l e m u m d os lados, fa z ia m u m d iq u e lo n g it u d in a l
q u e p a rtia d e u m a das m a rg e n s a té o m e io d o rio, o n d e segu ia a d ire ç ã o da c o r ­
rente p o r u m a certa distância e voltava e m segu ida a g a n h a r a m a rg e m , de m o d o a
fo r m a r u m a n te p a ro e n cra va d o e m p arte d o leito na m e ta d e da la rgura d o rio (Fig 9).
U m a vez t e r m in a d o esse d iq u e , f e it o de fe ixe s e n tr e m e a d o s d e ped ra s e de te rra ,
o c e rc a d o era s e ca d o c o m a a ju d a de rosários h id rá u lic o s , e o t r a b a lh o era e x e c u ­
ta d o da m e s m a m a n e ira q u e o p r e c e d e n te , r e je ita n d o n o rio o c a sca lh o b r a v o q u e
p o d ia c o b r ir o c a s c a lh o rico, e n q u a n t o este era t r a n s p o r t a d o para os d e p ó s ito s .
As p a rte s secas d o le ito e r a m c o m u m e n t e de p e q u e n a e x te n sã o , e m c o n s e q ü ê n ­
cia d o p o u c o t e m p o d is p o n ív e l a n te s das chuvas, b e m c o m o p o r causa das m a io ­
res d ific u ld a d e s de e s g o t a m e n t o d e v id a s às in filtra ç õ e s a tra vés d o d iq u e , m a io re s
q u e as d o canal.

Fig. 12 - Os m u n d è u s d o V eloso

103
M é to d o da p e sca d o c a sca lh o . Q u a n d o os rios e r a m m u i t o la rg o s o u m u i ­
t o p r o f u n d o s para q u e fo sse possível in s ta la r u m a b a r r a g e m o u u m d iq u e , os m i ­
n e ra d o re s re c o rria m e n t ã o a esse m é t o d o m u it o sim p le s, m as t a m b é m tã o in c e r ­
t o q u a n t o o d o s faisca dores.
O in s t r u m e n t o e m p r e g a d o para a pesca era u m saco passa d o e m u m f o r ­
te a n e l de fe rr o , q u e se p r o lo n g a de u m la d o e m f o r m a de pá p o n t u d a e q u e traz,
d o la d o o p o s to , u m b u r a c o q u e p e r m it e a fix a ç ã o d e u m a lo n g a vara (Fig 10).

Fig. 13 - C o rte da ja z id a da M in a de Passagem


Le ge nda : R ibe irã o d o C a rm o , M ica xisto s q u a rtz o s o s , Ita b irito s , Filão.

Os p e sca d o re s de o u r o , u s a n d o u m b a rc o , a v a n ç a m p e lo rio e la n ç a n d o
c o m fo rç a seu in s tr u m e n t o , f a z ia m - n o p e n e tr a r n o f u n d o ; o saco se e n c h e de cas­
c a lh o e seu c o n t e ú d o é, e m s e g u id a , d e s p e ja d o n o b a rc o . R e p e te m essa o p e ra ç ã o
até q u e o b a rc o esteja c h e io ; d e p o is d e p o s it a m o c a r r e g a m e n t o n os d e p ó s ito s de
lavação, na b e ira d o rio.
Esse m o d o d e e x p lo ta ç ã o te ria sido, n o d iz e r de V o n E s ch w e g e , b a s ta n te
p r o d u t iv o . C ita a esse re s p e ito a f o r m a ç ã o d e u m a e m p re s a brasile ira , e m t o r n o
de 1 8 1 7 , para pesca r o u r o n o rio P a ra ib u n a : te ria o b t i d o b o n s re s u lta d o s , m as
u m a a d m in is tr a ç ã o in c o m p e t e n t e o b r ig o u a liq u id a ç ã o da e m p re s a e os sócios
p e rderam tu d o .

104
Esses diversos m o d o s de e x p lo ta r os rios devem te r sido p ro d u tiv o s o su fi­
ciente para não afastar os m ine rad o re s, apesar das inúm eras d ificuldades, p ro ve ­
nientes t a n to dos m eios p rim itivo s de q u e d is p u n h a m , c o m o dos obstácu lo s que
lhes o p u n h a a natureza, a p o n to de só os te re m a b a n d o n a d o depois de te re m m e ­
xid o e re m exido em to d a s as direções e de te re m p e rd id o to d a esperança de a in ­
da desco brir a lg u ns vestígios d o precioso metal.

2 o. T R A B A L H O S N A S M A R G E N S D O S RIOS (Serviço do s ta bu le iro s). Os a n ti­


gos m in e ra d o re s davam , c o m o sabem os, o n o m e de ta b u le iro s aos d e pó sito s de
aluviões q u e o cu p a va m as m a rgens dos rios em um nível um p o u c o su p e rio r ao
q u e fo rm a seu Jeito atual.
C o m o esses d e pó sito s tê m a m esm a o rig e m q u e os d os rios, era b a stante
natu ral que, q u a n d o estes ú ltim o s c o m e ça ra m a se esgotar, os m ine rad o re s fo s ­
sem atraídos para os m esm os, p ro c u ra n d o o m etal que tin h a m ta n ta d ific u ld a d e
para recolher em o u tra s partes, t a n to mais q u e sua e xp lo ta çã o era re la tiva m e n te
mais fácil que a dos rios, cujo curso era preciso desviar para e xtra ir o cascalho.
Bastava, de fa to , para isto, retirar as cam adas de te rra e de saibro q u e co b ria m o
cascalho v irg e m f o r m a d o de seixos maiores.
M é to d o das catas. A m aneira p rim itiva de tra ta r essas cam adas de aluviões
era a das catas. 13
Um a cata é u m a escavação re d o nd a , ab erta em fo rm a de fu n il. Sua s u p e r­
fície apresenta u m a in clinação su ficie n te para e vitar q u a lq u e r d e s a b a m e n to para
o in te rio r e cuja a b e rtu ra alarga-se à m edida que se a p ro fu n d a , a fim de m a n te r
c o n s ta n te a m esm a inclinação dos taludes.
O m in e ra d o r fazia, in icia lm e n te , u m a p e q u e n a cata, re tira n d o a cam ada
de terra e de saibro, de m aneira a desco brir u m p o n to d o d e p ó s ito de cascalho
virge m , d o q u al tirava um a certa q u a n tid a d e em u m ca ru m b é para fazer o teste
na bateia. A p e q u e n a q u a n tid a d e de o u ro q u e ficava no f u n d o da bateia, depois
da lavagem , se cham ava p in ta. O m in e ra d o r ju lg a va o va lo r d o cascalho a p a rtir
d o va lo r d o teste: abaixo de 5 réis, considerava c o m o p in ta p o bre, acim a de 1 v in ­
té m 14, c o m o p in ta rica.
Se a bateia n ã o desse um a p in ta de a lg u m valor, depois de vários testes fe ito s t o ­
m a n d o -se u m p o u c o de cascalho em diversos lugares, a cata era a b a n d o n a d a , e
se ia reco m e ça r em o u tro p o n to ; se, ao c o n trá rio , m ostrava um a boa pinta, p ro s­
seguia-se sua e xplotação, p rin c ip a lm e n te d o lado q u e mais p ro m e tia . 15
Para isso os escravos alargavam a escavação, a fim de abarcar a m a io r ex­
tensão d o d e p ó sito , e ta lh a v a m vários ca m in h o s nos taludes superiores para a c ir­
culação dos carregadores q u e su b ia m c o n s ta n te m e n te , co m o c a ru m b é carreg a ­
d o na cabeça. A terra q u e co b ria os aluviões era lançada para as m a rge n s da es­
cavação, o saibro e o cascalho eram tra n s p o rta d o s para os ta n q u e s de lavação.
C o n tin u a va -s e a a p ro fu n d a r cada vez mais, ca vando e le va n do o m a te ria l para
fo ra , até q u e se a tin gia a piçarra o u a rocha d u ra que fo rm a a base dos d e p ó si­
to s de aluviões.
Pode-se fa z e r u m a idéia da d im e n s ã o dos tra b a lh o s e d o v o lu m e de t e r ­
ra re tira d a para e x u m a r o cascalho, a o se sa b e r q u e m u ita s dessas escavações
a t in g ia m 10 e m e s m o 15 m e tro s de p ro fu n d id a d e . Em D ia m a n tin a , o n d e as ca ­
m a d a s de a lu viõ e s t ê m u m a espessura de 2 a 6 m e tro s , as catas a p re s e n ta v a m
o a s p e c to de v e rd a d e ira s crateras, no e x te rio r das q u ais se v ia m a g ita r c e n te ­
nas de n egros.
O grave in co n ve n ie n te desse m é to d o era que só p o d ia ser a p lica d o d u ra n ­
te a estação seca, pois as chuvas in u n d a v a m os tra b a lh os, e os d e sa b a m e n to s que
se seg uiam fe ch ava m a escavação. Era preciso, p o rta n to , se apressar em e xtra ir o
cascalho, antes da a p ro xim a çã o da estação chuvosa. D u ra n te a estação seca, não
era m e n o r a luta co n tra as águas, d e vid o às infiltrações: q u a n d o a q u a n tid a d e era
pequena, era esgotada co m ca ru m b é s que os negros tra n s p o rta v a m na cabeça,
c o m o fa zia m co m a te rra . O m e io é sim ples, mas b a stan te le n to e in c ô m o d o ;
q u a n d o a á g ua era a b u n d a n te , tin h a m de recorrer a seus rosários hidráulicos, e,
q u a n d o este ú ltim o recurso era insuficiente, im p o te n te s na luta, era m o b rig a d o s
a a b a n d o n a r os tra b a lh os.
M é to d o d o s canais p a ra le lo s. Face às d ificu ld a d e s q u e os m in e rad o re s e n ­
c o n tra v a m a cada passo e q u e se re p e tia m sem cessar, im a g in a ra m fa ze r da água
u m a auxiliar, em vez de p ro cu ra r se livrar dela. Para isto, era preciso que o rio t i ­
vesse u m curso s u fic ie n te m e n te rá p id o para lhes fo rn e c e r a co rre n te necessária.
Nesse caso, o p ro c e d im e n to consistia em a b rir u m canal de a p ro x im a d a m e n te
0 ,2 5 m de p ro fu n d id a d e , co m um a largura de 2 m etros, n o qual fa zia m co rrer a
água d o rio, in te rro m p id a p o r um a b a rra g e m , em q u a n tid a d e e co m a velocidade
co n v e n ie n te para arrastar as areias e os seixos c o n tin u a m e n te rem exidos pelos es­
cravos. Esses, p o sicio n a do s a intervalos de 3 a 4 m e tro s na água, q u e lhes c h e g a ­
va acim a d o to rn o z e lo , rem exiam c o n s ta n te m e n te o f u n d o co m o a lm o ca fre , em
to d a a largura d o canal, s u b in d o a co rre n te . Enfiavam seu in s tru m e n to na areia
e a levantavam le n ta m e n te sob a água, im p rim in d o -lh e ligeiras sacudidas, a fim
de fa cilita r a q u e d a das partes mais pesadas, e n tre as quais se e n co n tra va o o u ro ,
e n q u a n to os fra g m e n to s mais leves era m levados pela co rren te ; era preciso u m a
certa h a b ilid a de , sem m o v im e n to s m u ito bruscos, sob pena de deixar ser a rrasta­
da um a p a rte d o ouro,
Os seixos m aiores q u e resistiam à c o rre n te eram re colhidos à m ã o e jo g a ­
dos fo ra d o canal. Depois de u m a hora desse tra b a lh o , in te rro m p ia -s e a passagem
da água, e a massa de areias pesadas, q u e fo rm a v a u m a cam ada de vários ce n tí­
m e tro s de espessura n o f u n d o d o canal, era recolhida e levada aos d e pó sito s de
lavação. Um a vez retirada a cam ada, soltava-se de n o v o a á g ua e se recom eçava
a m esm a operação, q u e se repetia até q u e se tivesse a tin g id o a rocha d o fu n d o .
Q u a n d o o f u n d o d o canal tin h a sido c o m p le ta m e n te re m e xid o e e s g o ta d o d o cas­
calho que c o n tin h a , abria-se ao lado o u tr o canal, n o qual se tra b a lh a va d o m es­
m o m o d o e o ja z im e n to só era a b a n d o n a d o após te r sido re m o v id o em to d a a sua
extensão.
Desse m o d o fo r a m e x p lo ta d o s os ta b u le iro s de M a ria n a , p e rto de O u ro
Preto, o n d e n u m e ro s o s canais c o m p r o f u n d id a d e de 2 a 4 m e tro s fa z ia m co m
q u e parecessem de lo n g e u m va s to c a m p o c o rta d o p o r p ro fu n d o s sulcos.
Todavia, esses tra b a lh o s e ra m na m a io ria d o s casos in te r r o m p id o s d u ­
ra n te a e sta çã o das chuvas: as á g u a s to rre n c ia is ca rre g a v a m t u d o . M e s m o a
b a rra g e m e as m a rg e n s d o canal d e s m o ro n a v a m , c o b r in d o de n o v o o d e p ó s i­
t o a u rífe ro .

3 o. T R A B A L H O S N O S FLANCO S D A S M O N T A N H A S (Serviço das g ru p ia ra s ). Os


d e pó sito s de aluviões auríferos situados acim a dos fu n d o s dos vales e encostados
nos flancos das m o n ta n h a s, desig na d o s c o m o grupiaras, era m tra ta d o s de m o d o
d ife re n te das jazidas precedentes; os m in e rad o re s u tilizava m a diferença de nível
para fa ze r passar correntes de água sobre to d a a massa, q u e era arrastada e re­
co lh id a e m b a ixo . 16
Esses depósitos, fo rm a d o s p o r areias e seixos mais ou m enos rolados, com
u m a ca m a d a de te rra p o r cim a, tin h a m u m a espessura variável q u e podia ir de
1,50 a 2 ,5 0 m . Assim , para lhes aplicar o m é to d o e m p re g a d o , ve rd a d eiro m é to d o
h id rá u lico , era necessário q u e os m in e ra d o re s tivessem à sua disposição uma
g ra n d e q u a n tid a d e de água. C o m e ça va m p o r construir, para essa fin a lid a d e , um
lo n g o canal de nível q u e se estendia pelas regiões superiores da serra, de m o d o a
levar as águas acim a da jazida que p re te n d ia m explotar. A lg u n s desses canais t i ­
n h a m várias léguas de c o m p rim e n to , em conseqüência da necessidade de captar
água em q u a n tid a d e su ficie n te para seus tra b a lh o s. A p a rtir da e x tre m id a d e do
canal, q u e desem bocava d ire ta m e n te na jazida em seu p o n to c u lm in a n te , os es­
cravos escalonavam -se em u m a linha q u e seguia a in clinação do te rre n o e m u n i­
dos da cavadeira, a 'e n fia v a m v e rtic a lm e n te na te rra ; depois, in clina n d o -a c o m o
u m a alavanca, cavavam um re g o q u e descia através do d e p ó s ito a u rífero, até o pé
da m o n ta n h a . A bria-se em seguida a água d o canal, q u e escapava c o m o c o rre n ­
te im p e tu o sa pe lo c a m in h o q u e havia sido tra ça d o, d ilu in d o e levando em seu
curso o m a te ria l escavado.
U m canal mais largo, de p e q u e n a incljnação, espécie de co rre d o r que
apresentava u m a sucessão de barragens, e n co s ta d o na p a rte in fe rio r da m o n ta ­
nha, n o qual as águas d o re g o se d e rra m a va m , recebia as lamas preciosas que
era m arrastadas. Estas se d e p o sita va m p o u c o a p ouco, e n q u a n to as águas turvas
escorriam no vale. À m e d id a q u e as terras era m arrastadas pela co rre n te , os es­
cravos ala rg a va m o rego, c o n tin u a n d o a escavar o te rre n o de u m lado e f o r n e ­
ce n d o assim um n o vo a lim e n to às águas q u e c o n tin u a v a m a ser dirigidas para a
parte recém -revolvida, de m o d o a lavar sucessivam ente to d a a superfície dos t r a ­
balhos. Um a vez retirada, dessa m a n e ira , um a p rim e ira cam ada, recomeçava-se a
cavar mais p ro fu n d a m e n te o te rre n o a u rífe ro para alcançar u m a nova cam ada, e
se repetia essa o p e ra ç ã o até q u e se tivesse e n c o n tra d o a rocha viva.
A terra que co b ria a jazida, b e m c o m o as areias e os cascalhos pobres e ri­
cos de que era fo rm a d a , acum ulava-se no c o rre d o r inferior. Esse corredor, de 2
m e tro s de largura a p ro x im a d a m e n te , estendia-se p o r u m c o m p rim e n to q u e d e ­
p e ndia d o local disponível e era c o rta d o , a intervalos de 10 a 30 m etros, p o r p e ­
quenas barragens fo rm a d a s de estacas q u e re tin h a m ra m agens e pedras a n te rio r­
m e n te acum uladas. À m e d id a q u e as lamas se d e p o sita va m , elevava-se p o u c o a
p o u c o a altu ra das barragens, até q u e a espessura dos d e pó sito s fosse co n sid e ra ­
da suficiente; e n tã o se in te rro m p ia o tra b a lh o de escavação para fa ze r a c o n c e n ­
tra çã o das lamas auríferas, a n álog a à p raticada para os ta b u le iro s; os escravos, es­
ca lo n a n d o -se ao lo n g o d o corredor, no c o m p a rtim e n to s itu a d o acim a da p rim e i­
ra b a rra g e m , revolviam os d e pó sito s co m o a lm o ca fre , sob u m a fo rte co rre n te de
água, de m o d o q u e as lamas argilosas e as m atérias leves fossem arrastadas, e n ­
q u a n to o o u ro a fun d a va no m e io das m atérias pesadas. Para fa c ilita r a saída das
partes leves, abaixava-se o nível da b a rra g e m , retiran d o -se p o u c o a p o u c o a ra­
m a g e m e as pedras q u e a fo rm a v a m , e contínuava-se a co n ce ntraçã o , até a tin g ir
o nível d o s e g u n d o c o m p a rtim e n to , o n d e recomeçava-se a m esm a operação, que
era repetida sucessivam ente nos diversos c o m p a rtim e n to s até o ú ltim o . Um a vez
c o m p le ta d a a co n ce ntraçã o , o e s c o a m e n to da água era in te rro m p id o , e se reco­
lhiam as areias auríferas nos ca ru m b é s levando-as aos ta n q u e s de lavação. C o m
o co rre d o r de sem b ara çad o , recom eçava-se de n o v o a a cu m u la çã o das lamas, c o n ­
tin u a n d o a cavar o te rre n o e a lavá-lo co m as águas, e se re p e tia m essas diversas
operações até q u e a e xp lo ta çã o tivesse e sg ota d a a ca m a d a de aluviões.
A lg u m a s vezes, em seguida ao corredor, acrescentavam -se mesas co m t e ­
cido para reter as partes mais pesadas das lamas arrastadas pelas águas; as m a ­
térias retidas eram ta m b é m levadas para os ta n q u e s de lavação.
Q u a n d o os m ine rad o re s tin h a m à sua disposição u m a q u a n tid a d e in s u fi­
cie n te de água, o canal de c o n d u ç ã o vinha d e s e m b o c a r em u m reservatório de
a cu m u la çã o , só a b e rto em certos intervalos, a fim de lim p a r de um a só vez to d a
a te rra escavada.
As águas d e se m p e n h a va m , p o rta n to , u m papel im p o rta n te nessa m aneira
de e x p lo ta r as jazidas das m o n ta n h a s ; p areciam tã o necessárias, q u e se to rn o u
u m axiom a, e n tre esses a n tig o s m ineradores, q u e "se m água de nada valia uma
serra de o u r o " . 17

3. C a m a d a s e filõ e s a u rífe ro s

V im o s q u e os a n tig o s m in e rad o re s só c o m e ça ra m a o p e ra r co m as rochas


auríferas q u a n d o os d e pó sito s de aluviões se to rn a ra m cada vez mais pobres. H a ­
b itu a d o s aos m o d o s de e xp lo ta çã o a céu a b e rto , não im a g in a ra m nada m e lh o r se-
n á o repetí-los, sem se p re o c u p a r se havia o u tro s m é to d o s mais vantajosos.
S o m e n te nos ú ltim o s te m p o s, q u a n d o se e n c o n tra ra m em presença de ja ­
zidas q u e p e ne tra va m p ro fu n d a m e n te nas m o n ta n h a s ou co b ertas de cam adas
espessas estéreis, que d e cid ira m fa ze r a lg u m a s galerias de m ina, de resto nunca
m u ito p ro fu n d a s, in te rro m p id a s na m aio ria das vezes p o r fa lta de ve n tila çã o ou
p o r invasão de água, q u e co m seus meios ru d im e n ta re s de e s g o ta m e n to , não
co n se gu ia m d om inar.
C o m o n o ca so d o s a lu v iõ e s , p o d e m - s e c o n s id e r a r trê s c a te g o r ia s de
t r a b a lh o s , s e g u n d o a ja z id a se e n c o n t r e n o va le , n o f la n c o o u n o se io das
m o n ta n h a s .

1o. T R A B A L H O N O S VALES. Q u a n d o a ja zid a o corria em u m vale, recorriam ao


m é to d o das catas q u e e m p re g a v a m para os ta bu le iro s: escavando p o u c o a p o u c o
im ensos buracos em fu n il, a tin g ia m as partes ricas das camadas, fo rm a d a s g e ra l­
m e n te de argilas xistosas, verm elhas ou m arrons, im p re gn a d as de o u ro . Esse m a ­
terial, tr a ta d o e x a ta m e n te c o m o as areias de aluviões, era ca rreg a d o em c a ru m ­
bés na cabeça dos negros, q u e o despejavam nas bacias de deposição, de o n de
era re to m a d o para ser tra ta d o .
Foi p o r esse p ro c e d im e n to que fo ra m e xp lo tad a s as cam adas d o vale de
A n tô n io Pereira e a jazida de Cata Preta, p e rto do In ficio n a d o . Eschwege relata
q u e a Lavra de M ata-C avalos, em A n t ô n io Pereira, p ro d u z iu , em u m a ho ra de tr a ­
b a lh o na jazida, um va lo r de 3 6 .0 0 0 cru za d o s de o u r o 18, mas a te rra era tã o d e ­
co m p o s ta e os ta lu de s d o escavação tin h a m sido fe ito s co m tã o p o u c o c u id a d o
que, im e d ia ta m e n te , h ouve d e sm o ro n a m e n to s , e n te rra n d o escravos e feitor. 19

2 o. TR A B A LH O S N O S FLA NCO S D A S M O N T A N H A S . Esses tra b a lh o s era m a p li­


cados às rochas friáveis ou d ecom postas, atravessadas pelos filões de q u a rtz o a u ­
rífero; as rochas eram xistos argilosos ve rm elho s e moles co rta d o s p o r num erosos
veios de q u a rtzo , em geral, esbura cad o e c o n te n d o palhetas de o u ro ou itabiritos
no e stado de ja c u tin g a , im p re g n a d o s s e g u n d o os estratos p o r q u a rtz o aurífero de
g ra n u la ç ã o fina, e m e sm o , co m mais fre q ü ê n cia , p o r sim ples infiltraçõe s de o u ro
q u e fo rm a v a m verdadeiras linhas. Q u a n d o o filã o de q u a rtz o corta va cla ra m en te
esses te rre n o s xistosos, a e xp lo ta çã o se estendia às paredes superiores ou in fe rio ­
res, até a cessação das im p re gn a çõ e s dos filões.
0 m é to d o e m p re g a d o pelos m in e rad o re s era o m e s m o q u e o a p lica d o às
grupiaras. Só que, para o b te r um e fe ito mais in te nso da qu ed a da água, a c u m u -
lavam -na e m u m reservatório superior, s itu a d o na e x tre m id a d e d o canal de c o n ­
d ução, para só soltá-la em certos m o m e n to s d o dia, d irig ín d o -a c o m a ajuda de
um fosso ao p o n to de e xp lo ta çã o q u e acabava de ser re m e xid o pelos negros. É
assim q u e tra b a lh a v a m nos itabiritos, cuja massa pesada oferecia certa resistência
à ação da água.
Q u a n d o se abria a c o m p o rta d o reservatório, as águas se p re cip ita va m
co m violência sobre o te rre n o , a rra sta n d o e ca rrea n d o terras e pedras até u m ca­
nal in fe rio r q u e s u b s titu ía o c o rre d o r das grupiaras, e q u e era d irig id o para g ra n ­
des reservatórios de alvenaria, ch a m a d o s m u n d e ú s, d estinados a recolher as la­
mas auríferas.
Os tra b a lh o s de e xp lo taçã o , e ste nd id o s nas p a rte altas, iam se e stre ita n d o
para baixo, a fim de ch e ga r ao canal inferior, o n d e as águas v in h a m .s e co n c e n ­
trar, A descida era tã o im p e tu o sa que, no m o m e n to da a b e rtu ra da c o m p o rta , t o ­
cava-se u m a tro m b e ta para p revenir os negros, o c u p a d o s em tra b a lh a r na passa­
g e m da c o rre n te ou no canal, Retiravam -se sob pena de serem carregados pelas
águas q u e co rria m em tu rb ilh õ e s tu m u ltu o s o s , levando areias e fra g m e n to s de ro ­
chas. Para resistir aos num e ro so s choqu e s, o canal tin h a de ser c o n s tru íd o de
m o d o m u ito sólido: na m aio ria das vezes, era a b e rto na rocha dura, n u m a la rg u ­
ra de dois m etros, co m paredes ta lh a d a s a p icareta, e a va n ç a n d o p o r u m a p r o f u n ­
d id a d e variável s e g u n d o sua posição local. Nos te rre n o s macios, era f o r m a d o de
duas paredes espessas de pe lo m e n o s Q ,70m , co m f u n d o lajeado para e vita r a
ação das águas.
Os m u n d é u s, g e ra lm e n te encostados no fla n c o de u m a m o n ta n h a vizinha
da e xplotação, era m grandes reservatórios re tangulares ou semicirculares. M e ­
d ia m in te rn a m e n te até 16 m etros, e m e sm o 2 4 m e tro s de lados. T in h a m 3 a 6
m e tro s de p ro fu n d id a d e , co m paredes de quase dois m e tro s de espessura, em al­
venaria de blocos de pedra s im p le sm e n te c im e n ta d o s co m u m a m istura de argila
e areia (Fig. 11). Eram dispostos em série, uns ao lado dos o u tro s , e co m ligeiro
desnível, e m fu n ç ã o d o canal lateral q u e levava as águas carregadas de lamas a u ­
ríferas para os m esm os, p o r um e sco a do u ro co lo c a d o em saliência n o m e io da pa­
rede do fu n d o , u m p o u c o acim a d o reservatório.
 /77etirerrien ê.

{satenavfa

S k& -0 à â
U fric

■ w //M

F ig .14 - C o rte de u m a n tig o salão da m in a d e Faria


L e ge nda : A flo ra m e n to , 1a g a le ria , 2 a g a le ria , 3a g a le ria , p ila r h o riz o n ta l

O ca n a l la te ra l, e n c o s ta d o na m o n t a n h a , lig a va -se c o m o ca n a l in fe rio r,


s e n d o q u e u m a de suas p a re d e s era a b e r ta n o f u n d o , n o p o n t o de ju n ç ã o . O c a ­
nal in fe rio r, q u e se p r o lo n g a v a a té o vale, a p re s e n ta v a , a ju s a n t e d o o r ifíc io de
e n t r a d a d o c a n a l la te ra l, u m ressalto f o r m a d o d e vig a s tra n s v e rs a is e d e g ra n d e s
b lo c o s de p e d ra ; a m o n t a n t e , o nível d o f u n d o d o ca n a l era e r g u i d o a té a c im a
d o o r ifíc io , e o e s p a ç o v a z io era c o b e r t o c o m u m a g r a d e d e f o r t e s b a rra s t r a n s ­
versais de f e r r o , de m a n e ira a f o r m a r u m f u n d o e m e s c o a d o u r o . A s p e d ra s c a r ­
readas pelas á g u a s p a ssa va m p o r c im a e e r a m le vadas p a ra o vale, e n q u a n t o as
á g u a s la m a c e n ta s d e s c ia m a tra vé s das g ra d e s e ia m e s c o a r n o s r e s e rv a tó rio s p e lo
ca n a l la te ra l.
N o m e io d a p a r e d e de f r e n t e d e c a d a m u n d é u , existia e m to d a sua a ltu r a
u m a fe n d a v e rtic a l de 1 ,5 0 m de la rg u ra , c o n t r a a q u a l se a p lic a v a m in t e r n a m e n ­
te travessas espessas d e m a d e ira , c o lo c a d a s u m a s s o b re as o u tra s , à m e d id a q u e
o nível d o d e p ó s it o se elevava e m c a d a re s e rv a tó rio , de m o d o a d a r t e m p o às
ág u a s, de d e c a n ta r, a n te s d e e s c o a re m p o r c im a desse e s c o a d o u ro . Pedras, e m sa­
liência na f e n d a , d is p o s ta s e m z ig u e z a g u e p e r t o da b o r d a in fe rio r, servia m de

112
a p o io às travessas, q u e resistiam m e lh o r à pressão lateral. As águas depois da d e ­
cantação escoavam para o canal in fe rio r q u e as dirigia para o vale. C h e io um m u n -
déu, suprim ia-se a co m u n ica çã o co m o canal lateral e, q u a n d o to d o s estavam
cheios, in te rro m pia-se o tra b a lh o de escavação para proce d er à co n ce n tra çã o das
areias depositadas, Essa co n ce n tra çã o era fe ita no pé de cada reservatório, dia n te
da fe n d a vertical, no ca m in h o q u e as águas seguiam para a tin g ir o canal inferior.
Um a p e q u e n a p a rte das pedras rejeitadas pelas grades era posta de lado.
Essas pedras p o d ia m apre se nta r sinais da presença d o o u ro ; a elas se ju n ta v a m os
f ra g m e n to s de rochas da jazida, de snu d a d as pelas águas e que apre se nta va m os
m esm os sinais. O c o n ju n to era p o s to de lado para ser s u b m e tid o a u m tra t a m e n ­
t o m ecâ n ico especial.
V erem os n o ca p ítu lo se g uinte c o m o era m feitas as diversas o perações v i­
sa n d o a c o n c e n tra ç ã o das areias e da e xtração d o o u ro .
O n ú m e ro de m u n d é u s con stru ído s p o r u m m e sm o p ro p rie tá rio de m ina
variava s e g u n d o a im p o rtâ n c ia da jazida e as fa cilidades de instalação. A lg u m a s
vezes era a p ro v e ita d o um p e q u e n o vale en caixa do e n tre m o n ta n h a s c o n s tru in d o -
os uns acim a dos o u tro s, e e lim in a n d o as paredes laterais dos reservatórios.
C ertos p ro p rie tá rio s de minas c o n stru íra m reservatórios de grandes d i­
mensões, em n ú m e ro su ficie n te para a c u m u la r o p ro d u to d o tra b a lh o de u m ano.
Os que p o d e m ser vistos na m ina d o Veloso, em O u ro Preto, são u m m o d e lo des­
se tip o ; fu n c io n a v a m q u a n d o da presença de Eschwege em M inas, e se e n c o n ­
tra m a inda ho je em p e rfe ito estado de conservação 20 (Fig 12).
Por esse p ro c e d im e n to , os m in e ra d o re s c o n se g u ia m cavar p ro fu n d a m e n te os fla n ­
cos das m o n ta n h a s , mas p e rd ia m m u ito o u ro . D u ra n te a estação das chuvas, a
violência das águas que rolavam e m to rre n te s era tal q u e nada p odia resistir às
mesmas; tre ch o s inteiros de te rre n o s era m arrancados, e o m a te ria l estéril, m ístu-
rando-se às partes ricas, to rn a v a o tra b a lh o de c o n ce n tra çã o mais difícil. A lé m dis­
so, no canal, u m a p a rte das águas, passando p o r cim a das grades co m as pedras,
escoava d ire ta m e n te para o vale, de m o d o q u e u m a certa q u a n tid a d e de o u ro se
e n co n tra va perdida para o p ro p rie tá rio da m ina , t a n t o pelos fra g m e n to s das ro ­
chas q u a n to pelas areias q u e iam se d e p o sita r a d ia n te nos rios. De fa to , n u m e ro ­
sos faiscadores chegavam a g a n h a r a vida tr a ta n d o areias de f u n d o nesses rios,
fa ze n d o a tria g e m de algum as pedras que esm agavam para retirar o o u ro na bateia.
3o. T R A B A L H O S N O IN TE R IO R DA S M O N T A N H A S . S o m e n te q u a n d o os m in e ­
radores d e p a ra ra m com jazidas c o m p le ta m e n te e m b u tid a s nas m o n ta n h a s ou c o ­
bertas p o r cam adas espessas de rejeito, d e cid ira m recorrer aos p ro c e d im e n to s da
arte das minas, arte b e m ru d im e n ta r para os m esm os e reduzida a a b rir a lgum as
galerias p o u c o p ro fu n d a s, sem o rd e m , in te ira m e n te ao acaso,
Era desse m o d o q u e e xp lo ta va m cam adas de ita b irito s co rta d as p o r n u m e ­
rosos p e q u e n o s veios de q u a rtz o ou filões cujos a flo ra m e n to s haviam d e sco b e rto
n o fla n c o das m o n ta n h a s e q u e se a fu n d a v a m em seu seio. Nesse caso, o p e ravam
nos p o n to s q u e p areciam m elhores, escavando um a galeria q u e seguia as linhas
ricas, ve rdadeiros buracos de to u p e ira , fa z e n d o curvas inacreditáveis e cuja seção
p o r vezes mal p e rm itia a passagem de um h o m e m . Q u a n d o a tin g ia m u m a p a rte
m u ito p ro d u tiv a , alargavam à direita, à esquerda, acim a, em b a ixo , a le a to ria m e n ­
te, fa z e n d o desse m o d o u m a escavação q u e ia a u m e n ta n d o , até o dia em que
o c o rria m d e s m o ro n a m e n to s q u e fe ch a va m a passagem , o u q u a n d o era m d e tido s
pela fa lta de aeração o u pela presença de a lg u m a água, q u e não p o d ia m c o n tr o ­
lar co m os p e q u e n o s m eios a sua disposição. Assim , e x p lo ta va m u m a ja zid a p o r
um a série de galerias que chegavam , cada uma, a um a câm ara isolada, fe ita na
pa rte mais rica. Q u a n d o u m a das razões p recedentes o b rig a va a a b a n d o n a r essa
câm ara, recom eçavam mais a d ia n te um a nova galeria.
Um notável e xe m p lo desse sistema é a inda visível na m ina de Passagem.
A jazida é fo rm a d a p o r um filã o de c o n ta to , q u e pene tra n o fla n c o de um a m o n ­
ta n h a escarpada, a p ro fu n d a n d o se g u n d o u m â n g u lo de 18 a 20° (Fig 13). Nos
a flo ra m e n to s , a b rira m e sp açad a m e n te , galerias q u e a vançam 2 0 ou 4 0 m etros,
s e g u in d o o m e rg u lh o . Em seguida fo ra m alargadas, de m o d o a fo r m a r salões de
dim ensões a lg u m a s vezes consideráveis. Os m in e rad o re s q u e e xp lo ta va m esse f i­
lão fo ra m d e tid o s em seus tra b a lh o s pelo d e s m o ro n a m e n to de u m te t o p o u c o es­
tável, f o r m a d o de ita b irito s friáveis e, s o b re tu d o , pelo a p a re c im e n to rá p id o de
água, d e v id o ao m o d o de avanço, d e sce nd o se g u n d o o m e rg u lh o . Essas escava­
ções são p o u c o extensas em p ro fu n d id a d e . Q u a n d o a m ina passou para as mãos
de u m a c o m p a n h ia , fo i ab erta um a galeria in fe rio r de e s c o a m e n to de água, na
rocha, para secar a p a rte su p erio r da jazida.
Os a n tig o s m in e rad o re s p re fe ria m fazer o d e s a g u a m e n to à mão. Em pre­
gavam vários escravos para tra n s p o rta r a água nos carum bés, c o m o fa zia m no
caso d o m in é rio , em vez de a b rir u m a g a le ria na rocha. Eram re beldes à idéia
de p e rd e r a ja zid a de vista, d e ix a n d o de ver as lin h a s o n d e se e n c o n tra v a o
o u r o visível,
Todavia, q u a n d o a jazida aurífera tin h a u m m e r g u lh o sensivelm ente pa ra ­
lelo ao declive da m o n ta n h a , d e cid ia m , às vezes, q u a n d o os tra b a lh o s a céu a b e r­
t o não eram mais possíveis, a b rir u m a p e quena galeria h o rizo n ta l através dos t e r ­
renos estéreis e, u m a vez na jazida, a b ria m u m a câm ara tã o g ra n d e q u a n to lhes
p e rm itia a solidez das paredes e desciam abaixo do nível da galeria, até q u e fo s ­
sem d e tid o s pela a b u n d â n c ia das águas. Foi assim q u e se e x p lo to u , n o princípio,
o filã o d o Faria, p e rto de C o n g o n h a s de Sabará, filã o de q u a rtz o co m piritas a u ­
ríferas, vertical, cujos a flo ra m e n to s a p arecem n o c u m e da serra.
A in d a hoje se vêem vestígios desses a n tig o s salões, a b e rto s n o a flo ra m e n ­
to , e aos quais se chegava, nas partes baixas, p o r pequenas galerias. Graças a sua
a b e rtu ra superior, essas escavações são b e m ventiladas e s u fic ie n te m e n te ilu m in a ­
das para p e rm itir fácil inspeção. Um a delas, q u e p e rm a n e ce u quase in ta ta, dá
um a idéia co m p le ta do p ro c e d im e n to de e xp lo taçã o seg uido pelos a n tigo s (Fig 14).
Os m in e ra d o re s co m e ç a ra m p o r p ra tic a r u m a escavação a céu a b e r to so­
bre o a f lo ra m e n to d o filão, e m um p o n to re c o n h e c id o c o m o rico ; a b rira m p r i­
m e ira m e n te um a ve rd a d e ira cata, a tu a lm e n te m u ito mais larga q u e no p rin cíp io ,
p o r causa d os d e s a b a m e n to s p ro d u z id o s em suas paredes. Em breve, in c o m o ­
da d o s pelas águas, tiv e ra m de a b rir u m a p rim e ira g a le ria m u it o p e q u e n a , de 5
m e tro s a p ro x im a d a m e n te , situ a d a no f u n d o d o fu n il e q u e serviu ao m e sm o
t e m p o para a saída d o m in é rio . Foi a p a rtir dessa g a le ria q u e c o m e ç a ra m a e n ­
t r a r sob a te rra , se m p re s e g u n d o o m é to d o de seguir, passo a passo, a c h a m i­
né de m in é r io rico em q u e se e n c o n tra n o filã o . C o n tin u a r a m em descida e n ­
q u a n t o n ã o se vira m in c o m o d a d o s pelas águas, fa z e n d o o d e s a g u a m e n to p o r
to d o s os m e io s à disposição.
C h e g o u um m o m e n to e m que, e n c o n tra n d o -s e m u ito abaixo d o nível de
p rim e ira galeria, fo ra m o b rig a d o s, para p o d e r c o n tin u a r os tra b a lh os, a a b rir uma
nova galeria de e s g o ta m e n to mais extensa, co m cerca de 2 0 m e tros, e xtra in d o
neste nível t u d o o que era possível retirar; e n fim , vencidos pela a flu ên cia de água
de po is de te re m a b e rto um a terceira galeria p o u c o abaixo da prece d en te , só p u ­
de ra m fa ze r a e xtração n u m a p ro fu n d id a d e de 8 m e tro s a p ro x im a d a m e n te . Para
co n tin u a r, teria sido necessário abrir, e m níveis inferiores, novas gaierias m e d in d o
c o m p rim e n to s consideráveis, em con se qü ê n cia da p e q u e n a in clinação d o te rre n o ,
coisa em q u e não pensavam . Assim, p re fe rira m a b a n d o n a r essa escavação, para
co m e ça r o u tra em o u tr o p o n to , d e ixa n d o u m vazio q u e m e d e p e rto de 50 m etros
de c o m p rim e n to , co m largura e a lg u ra que va ria m de 5 a 8 m etros.
C o m o m e d id a de precaução, deixavam de te m p o s e m te m p o s u m p ilar de
sustentação, e sco lh e nd o n a tu ra lm e n te lugares o n d e o m in é rio mais p o b re os t e n ­
tava menos. Assim, na escavação d o Faria, e n con tra -se um p ilar vertical no fu n d o
d o fu n il, e um o u tro h o rizo n ta l, espécie de arco lançado e n tre as duas paredes,
na p a rte larga abaixo d o nível da terceira galeria.
Essas são as raras explotações feitas pelos m ine rad o re s a n tigo s com a a ju ­
da de galerias abertas nas rochas p o u c o duras, e sem q u a lq u e r reve stim en to para
assegurar a m a n u te n çã o . O tra n s p o rte dos m ateriais era fe ito u n ica m e n te pelos
negros que carregavam na cabeça um ca ru m b é cheio: avalia-se c o m o esse m o d o
devia ser penoso, q u a n d o a galeria se inclinava se g u in d o a jazida ou q u a n d o era
preciso subir d o f u n d o até seu nível. Não se p o d e deixar de a d m ira r a paciência
desses h o m e n s que, apesar dos meios reduzidos, ch e ga ram a a b rir tais escavações.
CA PÍTU LO 2 o

TRATAMENTO DAS AREIAS E MINÉRIOS AURÍFEROS

1. G e n e r a lid a d e s

V im os que os a n tig o s m in e ra d o re s e x p lo ta ra m p rin c ip a lm e n te os aluviões


e as rochas friáveis auríferas e, mais ra ra m en te , as rochas duras, o n d e e n c o n tra ­
vam traços visíveis de o u ro . O tr a ta m e n to q u e d a vam às prim eiras se reduzia a
um a seqüência de lavações, de m o d o a o b te r areias co n ce n tra d a s cuja a p uraç ão
co m p le ta v a m na bateia. Retiravam o u ro em pó c o n te n d o ainda a lg u m a s parcelas
estéreis. Para as rochas duras, e ra m o b rig a d o s a fa z e r um a tritu ra ç ã o prévia, a n ­
tes de as su b m e te r à lavação.
É preciso, p o rta n to , d is tin g u ir o tra ta m e n to a p lica d o às areias e terras a u ­
ríferas e a q u e le e m p re g a d o para as rochas.

2. A r e ia s e t e r r a s a u r í f e r a s

C o m o a cabam os de dizer, esse tra ta m e n to se c o m p õ e de sim ples lavações.


No princípio, os m in e ra d o re s c o n te n ta v a m em fa ze r a c o n c e n tra ç ã o das
areias e a a p u ra ç ã o d o o u ro u n ic a m e n te na bateia; este p ro c e d im e n to era exces­
sivam e nte d e m o ra d o , p o r causa da p e qu e n a q u a n tid a d e de areia q u e p o d ia ser
tra ta d a ao m e sm o te m p o . Assim, para p o d e r tra ta r m aiores v o lu m e s ao m e sm o
te m p o , im a g in a ra m d ivid ir a o p eraç ão de lavação em duas, fa z e n d o a c o n c e n tra ­
ção em um a p arelho capaz de receber u m a carga considerável de areias, e reser­
va n d o o tra b a lh o na bateia para a a p uraç ão do o u ro das areias concentradas.
C o m o a se g u n d a p a rte d o tra ta m e n to era fe ita co m p ro p o rç ã o reduzida de m a ­
téria, evitavam -se os p ro b le m a s criados pelo uso da bateia, ao m e sm o te m p o que
se conservava esse e q u ip a m e n to , o m e lh o r in s tru m e n to de a p u ra ç ã o q u e tive ra m
à sua disposição.
1o. C O N C E N T R A Ç Ã O D A S A R E I A S E T E R R A S A U R Í F E R A S Os m in e r a d o re s f a ­
z ia m a c o n c e n tr a ç ã o o u o e n r iq u e c im e n to das areias e te rra s au rífe ra s, s u b m e t e n ­
d o -a s à a ç ã o de u m a f o r t e c o r re n te de á g u a nos la v a d o u ro s m a n u a is , d e s ig n a d o s
c o m o ca n o a s e b o lin e te s , e r e te n d o as parcelas pesadas, a rra s ta d a s p e la á g u a , e m
m esas c o m te la s fixas situ a d a s a p ó s cada la v a d o u ro .
A c a n o a era u m la v a d o u ro m ais p r im it iv o q u e o b o lin e te , m as, e m c o m ­
p e n sa çã o , de in s ta la ç ã o m ais sim ples, c o m o p o d e m o s c o n s ta ta r, e s t u d a n d o suces­
s iv a m e n te esses dois sistem as de lavação.
L a va çã o nas can o a s. A c a n o a co n s is tia e m u m fo s s o p o u c o p r o f u n d o , f e i­
t o na te rra , n o lu g a r o n d e se q u e ria p r o c e d e r à la vação das areia s.21
C o m e ç a v a -s e p o r a b r ir u m p e q u e n o ca n a l para le var a á g u a e, e m s e g u i­
da, a b ria -s e u m fo s s o r e ta n g u la r d e 1 ,0 0 a 1 ,5 0 m de c o m p r im e n t o p o r 0 , 5 0 a
0 , 7 0 m de la rg u ra e 0 , 1 0 a 0 , 6 0 m de p r o f u n d id a d e . O f u n d o era lig e ir a m e n te in ­
c lin a d o n o s e n tid o da c o r re n te . O la d o m e n o r d e b a ix o era s u p r im id o e o f u n d o
da c a n o a era p r o lo n g a d o p o r u m p la n o in c lin a d o , c h a m a d o bica, m e d in d o p e r t o
de 2 m e tr o s de c o m p r im e n t o e cuja in c lin a ç ã o variava de 1 5o a 25°, s e g u n d o a
n a tu re z a d o m a te ria l a la var (F ig .15) . Era a bica q u e servia de m esa d e te la fixa,

Fig. 15 - C o rte e p ia n o de u m a canoa


L e ge nda : C a b e ce ira , Bica, C a n o a , M esa de telas.
aí se e s t e n d e n d o peles de bo is, c o m os pê lo s p a ra c im a , o u p e d a ç o s d e t e c id o de
lã grossa, p a ra m e lh o r re te r os f r a g m e n t o s pesados. A d ia n t e o ca n a l c o n tin u a v a ,
para fa c ilita r a saída da á g u a , a r r a s ta n d o c o m ela as m a té ria s estéreis. Para q u e
as p a re d e s d o fo s s o se s u s te n ta s s e m , p u n h a -s e , e m geral, a c a n o a s o b re u m solo
a rg ilo s o ; e m caso c o n t r á r io , e r a m c o n s o lid a d a s c o m a rg ila e to r r õ e s de c a p im . U m
n e g ro p o d ia p r e p a r a r u m a c a n o a e sua bica e m d u a s horas.
A s areia s d e s tin a d a s à c o n c e n t r a ç ã o e r a m d e p o s ita d a s e m m o n t e s j u n t o
d a c a n o a e, u m a vez e s t e n d id a s as peles o u os te c id o s d e lã s o b re a bica, o la ­
v a d o r c o m e ç a v a seu tr a b a lh o . Para isto, e n tr a v a n o fo s s o e, c o m o a lm o c a fr e ,
d e s c a rre g a v a u m a pá d e areia q u e a c u m u la v a a d ia n te , n o in íc io da c a n o a ( c a b e ­
ceira); e m s e g u id a , s o lta v a a á g u a , q u e , c a in d o e m casca ta s o b re a areia, e s p a ­
lh a v a -a n o f u n d o (Fig. 16).
Para im p e d ir q u e escapasse de u m a só vez, e n t r e seus pés, u m a q u a n t i ­
d a d e m u it o g r a n d e de m a te ria l, o la v a d o r p u x a v a p a ra c im a , c o m seu in s t r u m e n ­
t o , u m a p a r te das areias a rra s ta d a s , q u e a c u m u la v a d e n o v o s o b a q u e d a d 'á g u a ,
e n q u a n t o as la m a s leves e r a m le vadas a d ia n t e p e la c o r r e n te , s o b re as mesas. Re­
m e x ia e m s e g u id a esse m o n t e d e areias, le v a n t a n d o - o c o m o a lm o c a fr e , para
m e lh o r e x p ô - lo à a ç ã o da á g u a , de m o d o a p e r m it ir a o o u r o d e p o s ita r -s e n o f u n ­
d o . Q u a n d o , d e p o is d e t e r r e p e t id o várias vezes esse t r a b a lh o de re m e xe r, c o n ­
se g u ia se liv ra r das te rra s la m a c e n ta s m a is leves e a c im a só restava u m a c a m a -

W KÈÊÊÊfflfâÊfàBtè

Fig. 16 - Vista de um a canoa (reprodução de um d esen ho de von Eschew ege)

119
da de areias puras co m o o u ro d e p o s ita d o , to m a v a u m a nova pá de areia, q u e
tra ta v a d o m e sm o m o d o , co m a p re ca u ção de só re m exe r o n o v o m o n te , sem t o ­
car no d e p ó s ito de baixo.
D u ra n te a p rim e ira fase da op eração , o lava d or aplicava u m a verdadeira
lim peza à massa, q u e a m o n to a v a c o m o cam adas sucessivas em dire çã o à parte
su p e rio r da canoa. Q u a n d o esta estava cheia, parava de carregar e procedia à
c o n ce n tra çã o da massa lavada.
P rim e ira m e n te , com eçava p o r in te rro m p e r a c o rre n te de água e p o r lavar
as telas das areias em u m a cuba; postas de n o v o no lugar, soltava n o v a m e n te a
água, mas em q u a n tid a d e m enor, e fazia um a lavação da massa co n tid a no fo s ­
so, a fu n d a n d o o a lm o ca fre até o fu n d o , de m o d o a levar à superfície as partes le­
ves. A o cabo de u m c e rto te m p o , e sta n d o o lavado re d u zid o a u m a ca m a d a fina
estendida no fu n d o , o a lm o c a fre se to rn a v a in ú til para rem exer; d im in u ía e n tã o a
in te nsid ad e da c o rre n te e, com u m a chapa de m a d e ira na m ão, p u nh a -se a ras­
p a r o d e p ó s ito para re u n í-lo sob a q u ed a e o b rig a r as ú ltim a s parcelas leves a es­
capar. Enfim , nada mais sendo a rra sta d o e a cam ada c o n s titu in d o apenas um a lâ­
m ina m u ito fina, desviava c o m p le ta m e n te a água e, co m um a p e qu e n a vassoura,
reunia a p a rte espalhada n o te rço s u p e rio r d o fosso, para a re colher em um reci­
p ie n te qualquer, bateia ou ca ru m b é . Essa parte, a mais rica em o u ro , era posta de
la d o para ser p u rifica d a , e n q u a n to o resto d o d e p ó s ito era va rrid o e re u n id o sob
a qu ed a d 'á g u a , de n o vo liberada, a fim de fa z e r passar o m aterial, p o u c o a p o u ­
co, sobre as mesas. Feito isto, as telas era m lavadas na cuba d o d e p ó s ito e su b s­
titu ída s. O tra b a lh o da lavação na canoa estava te rm in a d o e o lavador re co m e ça ­
va co m u m a nova massa de areias.
Esse é o p ro c e d im e n to sim ples a p lica d o à c o n ce n tra çã o das areias e terras
auríferas q u e os m in e rad o re s e xtra ia m dos rios ou das m o n ta n h a s e levavam para
os d epósitos de lavação. C o m u m e n te estabeleciam suas canoas à beira de u m rio
d o qual desviavam u m a p a rte da água, com vista à lavação. As dim e n sõ e s da ca ­
n oa e a inclinação das mesas variavam s e g u n d o a q u a n tid a d e e a n atureza d o m a ­
terial a tratar.
Q u a n d o o o u ro o c o rria co m g ra n u la ç ã o fin a , o q u e a u m e n ta v a as d ific u l­
dades de re te n ção , m o n ta v a m -s e várias canoas, dispostas e m cascata umas. s o ­
bre as outras,, seja d ire ta m e n te , seja co m mesas de telas interca la d as (Fig 17).
Q u a n to m a io r o n ú m e ro de mesas, m a io r a in clina çã o para as últim as; assim, se
as m esas s u p e rio re s fo s s e m in c lin a d o s de 15°, as s e g u in te s t e r ia m 2 0 ° e as da
te rc e ira fila , 2 5 a 30°. Era, de resto , p o r e x p e riê n c ia q u e c h e g a v a m a d e t e r m in a r
a in c lin a ç ã o c o n v e n ie n te . N o caso de u m a ta l série de a p a re lh o s , o t r a b a lh o de
lim p e z a era f e it o p o r u m la v a d o r e m cada c a n o a , e, para a c o n c e n t r a ç ã o d o m a ­
te ria l la v a d o , t ra b a lh a v a - s e p r im e ir o na c a n o a s u p e rio r, d e p o is e m c a d a u m a das
s e g u in te s , s u c e s s iv a m e n te .
A lé m d as c a n o a s cavad as na te rra , c o n s tru ía m -s e t a m b é m c a n o a s de p e ­
dras, q u a n d o a la vação era e x e c u ta d a c o n s t a n te m e n t e n o m e s m o lu gar, c o m o
o c o r r ia n o caso da c o n c e n t r a ç ã o d o s d e p ó s ito s a u rífe ro s d os m u n d é u s . C o m essa
fin a lid a d e , tin h a -s e a o pé da f e n d a ve rtic a l d e cada r e s e rv a tó rio u m a soleira la je a ­
da e lig e ir a m e n te in c lin a d a , de cerca d e 2 m e tr o s de c o m p r im e n t o , e m cuja c o n ­
t in u a ç ã o v in h a a c a n o a , q u e t in h a f u n d o f o r m a d o p o r lajes e g ra n d e s b lo c o s de
ped ras; sua la rg u ra era s u p e r io r à das ca n o a s c o m u n s . D e pois, s e g u ia m -s e as m e ­
sas fixas lajeadas, e m n ú m e r o de d u a s a q u a tr o , g e r a lm e n te s e p a ra d a s e n t r e si p o r
u m p e q u e n o r e b o r d o d e lajes a p o ia d a s na fa c e m ais e s tre ita . Essas m esas t in h a m
u m a in c lin a ç ã o m e n o r q u e as c a n o a s sim ples, m as u m c o m p r im e n t o m a io r, a t in ­
g in d o a té 10 m e tro s ; e m sua c o n t in u a ç ã o , existia u m p la n o in c lin a d o , p a v im e n t a ­
d o c o m p e d ra s ro la d a s e cuja in c lin a ç ã o m u i t o f o r t e p e r m itia o e s c o a m e n to r á p i­
d o d o s re je ito s q u e ia m c a ir n o ca n a l in fe rio r.

Fig 17 - C anoas superpostas (re p ro d u çã o de u m d e se nh o de v o n Eschwege)

121
No m o m e n to de e fe tu a r a c o n c e n tra ç ã o dos d e pó sito s a cu m u la d o s em um
m u n d é u , com eçava-se p o r e ste nd e r telas (peles o u pedaços de lã) sobre as mesas;
depois, após retirar a travessa su p e rio r da fe n d a , soltava-se u m a certa c o rre n te de
água no m u n d é u , pelo e sco a do u ro de trás. A fo rça da água arrastava p o u c o a
p o u c o as lamas da superfície, era m lançadas pela fe n d a e caiam em cascata so­
bre a soleira lajeada e, em seguida, na canoa, o n d e as partes pesadas se d e p o si­
ta va m . Q u a n d o o nível das lamas tin h a baixa do n o reservatório, a p o n to de não
p o d e re m passar mais p o r cim a da b a rra g e m , retirava-se um a nova travessa, e o
tra b a lh o co n tin u a va . A o p e ra ç ã o da lavação na canoa era e fe tu a d o pe lo p ro c e d i­
m e n to c o m u m , co m a diferença de que. o la va d or não tin h a de d e rra m a r cargas
de areia na cabeceira, já que era d ire ta m e n te trazidas pela água.
Lavação no s b o lin e te s . O b o lin e te era um a espécie de caixa de madeira,
cujas dim e n sõ e s p e rm itia m a dois o u três h o m e n s tra b a lh a r ao m e sm o te m p o ; sua
p ro d u ç ã o era p o rta n to su p e rio r à da canoa. De resto, tin h a um a fo rm a análoga:
um a caixa inclinada, de m a d e ira grossa, co m 1,50 a 3 ,0 0 m e tro s de c o m p rim e n ­
to , co m u m a largura a p ro xim a d a de 1 m e tro na cabeceira, q u e ia d im in u in d o para
baixo, o n d e não tin h a mais de 0 ,9 0 m . C o m o a canoa, era a b e rto na e xtre m id a d e
in fe rio r; só q u e era m ad ap ta d as travessas de m adeira que, colocadas um as sobre
as outras, fo rm a v a m u m a b a rra g e m , p e rm itin d o a c u m u la r na caixa um a m a io r
q u a n tid a d e de massa lavada. A lé m disso, atribuía-se u m a m a io r p ro fu n d id a d e ao
bolinetes. A inclinação da caixa era ta m b é m maior, para fa c ilita r a saída da água
e d o m aterial leve; variava, de resto, s e g u n d o a n atureza das areias a serem tra ­
tadas. A p ó s o b o lin e te eram dispostas mesas de telas fixas, e x a ta m e n te c o m o no
caso da canoa. 22
O tra b a lh o era fe ito do m e sm o m o d o ; a água chegava p o r u m re g o e caía
e m cascata na cabeça da caixa, o n d e nas areias eram colocadas co m pés. Os la­
vadores fa z ia m o serviço s e g u n d o o p ro c e d im e n to c o m u m ; à m e d id a q u e se a c u ­
m u la va m as cam adas de massa lavada, a crescentavam u m a travessa para m a n te r
o e s c o a m e n to no nível da ca m a d a superior. Um a vez colo ca d as to d a s as tra ve s­
sas, c o m o a caixa não po dia receber u m a nova carga de areia, passava-se à c o n ­
ce n tra çã o , q u e era e fe tu a d a raspa n do -se co m o a lm o c a fre . A massa era, desse
m o d o , levada para a q u e d a d 'á g u a „ Para fa c ilita r a saída das m até ria s leves re ti­
rava-se u m a travessa da b a rra g e m e, à m e d id a q u e se avançava na raspagem , re­
tira va m -se sucessivam ente to d a s as travessas. Um a vez te rm in a d o o tra b a lh o ,
q u a n d o só restava na caixa u m a ca m a d a fin a de massa lavada, re colhia-se a p a r­
te rica da cabeceira para passá-la na bateia, e n q u a n to se fazia o resto co rre r so ­
bre as mesas. 23
Q u a n d o se tra ta v a m areias e terras nas quais o o u ro era fin o e leve, fazia-
se a lavação em u m a série de bolin e te s escalonados uns sobre os o utros, co m m e ­
sas de telas e m seqüência o u intercaladas no in te rva lo de duas caixas. Os m in e ra ­
dores observavam as regras citadas p re c e d e n te m e n te , q u a n to à inclinação das
mesas e à m aneira de execu ta r o tra b a lh o.
C o m o os diversos lavadouros era m descobertos, só se p o d ia tra b a lh a r d u ­
ra n te a estação seca; chuvas to rre n cia is q u e caíam quase c o n s ta n te m e n te d u ra n ­
te um a certa parte d o ano, im p e d ia m q u a lq u e r tra ta m e n to . Por esse m o tiv o era m
dadas gra n de s dim ensões aos m u n d é u s, a f im de p o d e r a c u m u la r t o d o o m aterial
da e xp lo ta çã o de u m ano.
Em resumo, o tra b a lh o era o m e sm o na canoa e no b o lin e te e c o m p re e n ­
dia duas fases distintas: na prim eira, acum uiava-se a massa aurífera na caixa, fa -
ze n d o -a passar p o r u m a sim ples lim peza; na segunda, executava-se a c o n c e n tra ­
ção da massa, cuja p a rte rica era posta à parte, e n q u a n to o resto passava sobre
as mesas, o n d e as parcelas pesadas eram retidas. O d e p ó s ito rico e o das mesas
e ra m em seguida s u b m e tid o s a u m a nova operação, cada u m se p a ra da m en te ,
para a a p uraç ão d o ouro.

2 o. A P U R A Ç Ã O D O O U R O . A a p u ra ç ã o d o o u ro era sem pre fe ita na b a te ia ,24


A separação era fe ita m u ito fa c ilm e n te , q u a n d o a massa lavada p ro vin h a de d e ­
pósitos de aluviões, o n d e o o u ro ocorria em grãos b astante grandes e em p e p i­
tas. O tra b a lh o tornava-se, ao co n trá rio , mais difícil, q u a n d o o o u ro ocorria na
m istura em um grau mais fin o : era, e n tã o , necessário o p e ra r com m u ito s c u id a ­
dos para e vita r perdas elevadas. Assim, os negros que tin h a m um a certa h a b ilid a ­
de para m a n e ja r a bateia era m m u ito p ro cu ra d o s pelos p ro p rie tá rio s de minas.
Para execu ta r esse tra b a lh o , cavava-se u m fosso de cerca de 1 m e tro de
p ro fu n d id a d e , g e ra lm e n te na beira d o rio, n ã o lo n g e dos lavadouros; o ne gro e n ­
ca rreg a d o da apuração, o a p urad o r, ficava nesse fosso, co m á g ua até os joelhos,
e p u n h a n u m a bateia u m p u n h a d o de massa lavada d e p o sita d a em u m m o n te ao
lado. C om eçava p o r fazer um a papa fina, acrescentava um p o u c o de água e
amassava a m istura co m a m ã o ; depois, após u m n o vo acréscim o de água, se g u ­
rava a bateia pelas bordas oposta s e a m ovia, de m o d o a im prim ir, p o u c o a p o u ­
co, à to d a a massa u m m o v im e n to circular. As partes leves p e rm a n e cia m em sus­
pensão na água, e n q u a n to as parcelas pesadas se a c u m u la va m co m o o u ro no
f u n d o da bateia; para fa cilita r sua descida, tin h a o c u id a d o de a c o m p a n h a r o m o ­
v im e n to co m ligeiras sacudidas dadas à bateia, co m a m ã o esquerda. E n q u a n to a
água perm anecesse tu rva , elim inava u m p o u c o da mesm a, a c e n tu a n d o a a g ita ­
ção, de m o d o a rejeitar a lg u m a s parcelas leves; depois pegava u m a nova q u a n ti­
dade de á g ua no fosso, re p e tin d o esse d u p lo m a n e jo até q u e a água da bateia f i­
casse lím pida.
Q u a n d o a bateia só c o n tin h a as areias pesadas co m o o u ro , o a p u ra d o r
passava à p a rte delicada da op eração : devia, p o r u m a ro ta çã o mais intensa, m a n ­
te r em suspensão na água as diversas parcelas pesadas; em seguida, d im in u in d o
um p o u c o o ritm o , q u a n d o julgava q u e o o u ro havia tid o te m p o de se d e po sita r
no fu n d o , inclinava b a stan te a bateia, de m o d o a fa ze r co m q u e to d a a água saís­
se, e x p o n d o a massa lavada cujas partes mais leves escoavam para a borda.
C o m o não era possível o b te r um a separação nítida e n tre o o u ro e a mas­
sa estéril, e c o m o se form asse u m a zona in te rm e d iá ria devida a grãos de o u ro
fin o , q u e ficava em suspensão co m as areias mais pesadas, o negro, agora co m a
bateia em sua posição inclinada na m ã o esquerda, to m a v a um p o u c o de água
c o m a m ã o direita em concha e lavava to d a a massa exposta na b o rd a, até o p o n ­
t o o n d e apareciam parcelas de o u ro d e rra m a n d o -a no fosso. A esse p ro c e d im e n ­
t o os m in e ra d o re s ch a m a va m c o rta r o lavado. R ecolhendo na bateia u m a nova
po rçã o de água clara, repetia essa m esm a m a n o b ra até q u e conseguisse e xp o r no
f u n d o da bateia o o u ro livre de t o d o o estéril. C o m a lg u m a s g o ta s de água e es­
fre g a n d o a m ão, ele d e rra m a va esse o u ro em u m recipiente de co b re cheio de
água, cuja ta m p a , em fo rm a de cone oco, atravessado p o r buracos, era em parte
a fu n d a d o , de m o d o q u e t o d o o o u ro era o b rig a d o a cair no f u n d o e se e n c o n tra ­
va ao a b rig o dos roubos, já q u e só o p ro p rie tá rio possuía a chave d o recipiente.
Q u a n d o o o u ro ocorria e m pó e em grãos fin o s, c o m o ocorria co m as t e r ­
ras lam acentas e argilosas, o tra b a lh o da bateia se to rn a v a mais delica d o: esse
o u ro fin o se e n co n tra va mais in tim a m e n te m is tu ra d o c o m a massa viscosa; ch e ­
gava m e sm o a f lu t u a r na superfície da água e era fa c ilm e n te arrastado. Para c h e ­
g a r a separá-lo, executavam -se os m o v im e n to s da bateia co m mais le n tid ã o e t o ­
m a va m certas precauções: q u a n d o o a p u ra d o r tin h a jo g a d o fo ra as águas turvas
e lamacentas, re te n d o na bateia apenas a massa c o n ce n tra d a ; d e rra m a va água
pura, na qual o o u ro fin o tin h a um a m a io r te nd ê n cia a boiar, e acrescentava com
a m ã o u m p o u c o de á g ua tira d a de u m recipiente, o n d e a lgum as plantas tin h a m
sido postas, cu jo suco, m is tu ra d o c o m a água, tin h a a p ro p rie d a d e de fa ze r d e ­
p o sita r o o u ro flu tu a n te .
Os a n tig o s m in e rad o re s tin h a m co n s ta ta d o esse fa t o p o r u m a lo n g a e xp e ­
riência; ainda hoje se e m p re g a co m a m esm a fin a lid a d e a á g ua o n d e se m acera-
ram fo lh a s de m a ra cu já -a ç u (m a ra c u já -g ra n d e ), de ju ru b e b a , de e n xo ta (santana),
de p e g a d e ira (m a ta -p a s to , erva d o v ig á rio ). 25
A p esar disso, só se chegava a u m a a p u ra ç ã o c o m p le ta p e rd e n d o um a p a r­
te d o o u ro fin o ; assim, preferia-se te rm in a r a o p e ra ç ã o d e rra m a n d o o c o n te ú d o
da bateia em u m p ra to de cobre, c h a m a d o caco, de 0 ,1 5 a 0 ,3 0 m de d iâ m e tro ,
ch e io de suco de plantas, m a n o b ra d o c o m o a bateia, mas co m m aiores cuidados.
A lé m d o mais, para e vitar que a m a io r p a rte d o o u ro passassse d ire ta m e n te com
os rejeitos da bateia para o fosso, in te rp u n h a -s e em sua passagem u m a o u tra b a ­
teia deixada f lu t u a n d o na superfície da água e na qual se recolhia t u d o o q u e es­
corria da p rim e ira ; os d e pó sito s q u e a c u m u la d o s eram , p o r sua vez, re to m a d o s e
se fazia c o m eles o m e sm o tra b a lh o , re p e tid o duas e m e sm o três vezes; f in a lm e n ­
te os ú ltim o s rejeitos era m despejados d ire ta m e n te n o fosso. 26
Todavia, não era possível im p e d ir que m u ito o u ro escapasse da bateia com
os rejeitos, q u e fo rm a v a m d e pó sito s la m a ce n to s n o fosso; assim, essas lamas
eram re to m a d a s ao fim de cada ano, ou q u a n d o o fosso estivesse m u ito ch e io de
lama, im p e d in d o o tra b a lh o , e ao co n ce ntrá-la s e purificá-las, retirava-se ainda
um a q u a n tid a d e notável de o u ro . Por essa razão, os m ine rad o re s q u e tin h a m ex­
p lo ta ç ã o de m a io r p o rte posicio n a va m , de preferência, o fosso de a p u ra ç ã o no in ­
te rio r de construções fechadas, co m paredes espessas. O fosso o cu pava o m e io
de um a sala lajeada, e o n e g ro tra b a lh ava sob os o lh o s d o s e n h o r ou d o feitor,
en ca rre g a d o de vigiar para que ele não roubasse palhetas de o u ro , e sco n d e n d o -
as h a b ilm e n te na cabeleira crespa (Fig 18).
Fig. 18 - P urificação d o o u ro (re p ro d u çã o de u m a n tig o desenho de v o n Eschwege)

126
Fig. 19 - N eg ro tritu ra n d o o m in é rio a u rífe ro

127
As lamas, retiradas d o fosso, era m d e rra m a d a s e m u m a canoa, fa z e n d o -
se c o m q u e corressem sobre mesas de telas co locadas em seqüência; o q u e aí se
d e p o sita va era em se g uida s u b m e tid o à a p u ra ç ã o na bateia, c o m o da p rim e ira
vez. Q u a n d o as lamas c o n tin h a m s o b re tu d o o u ro fin o , os m in e ra d o re s tin h a m
im a g in a d o u m sistem a c o m p lic a d o de re te n ção nas telas: d a vam às mesas um a
p e q u e n a in clinação, para d im in u ir a ve lo cid a d e da c o rre n te , e p o r cim a c o lo c a ­
va m duas fileiras de telas su p erp osta s e lig e ira m e n te afastadas u m a da o u tra ,
para de ixa r passar água, de m o d o q u e o o u ro flu tu a n te p e rm a n e cia preso às t e ­
las superiores. Os d e p ó s ito s o b tid o s era m p u rific a d o s s e g u n d o o p ro c e d im e n to
h a b itu a l.
Todos esses m eios eram b e m p o u c o eficazes para reter o o u ro fin o ; t o d a ­
via, fo i so m e n te nos ú ltim o s te m p o s q u e os m in e ra d o re s reco rreram à a m a lg a m a ­
ção para e fe tu a r as purificações difíceis. Na bateia q u e c o n tin h a as lamas já c o n ­
centradas, o a p u ra d o r acrescentava um p o u c o de m e rc ú rio e amasssava o to d o
c o m a paJma da m ã o ; q u a n d o s u p u n h a q u e o o u ro tin h a sido in te ira m e n te a b s o r­
vido, lavava a m istura para livrar o a m á lg a m a de to d a im pureza, e a d e rram ava
em u m p ra to de cobre, q u e colocava sobre um braseiro, d e po is de o te r re co b e r­
t o co m u m a g ra n d e fo lh a verde de fig u e ira . O m e rc ú rio se evaporava e se c o n ­
densava, em parte, c o n tra a fo lh a , q u e era su b stitu íd a de te m p o s em te m p o s p o r
um a nova, mais fresca, e n q u a n to se recolhia em u m recipiente o m e rc ú rio q u e aí
se d epositava. A p ó s a destilação co m p le ta , retirava d o f o g o o p ra to q u e c o n tin h a
o o u ro v irg e m no fu n d o . Esse p ro c e d im e n to de a m a lg a m a ç ã o era b e m ru d im e n ­
ta r e ocasionava perdas elevadas de m e rcúrio .

3. M in é rio s a u rífe ro s

Q u a n d o a jazida aurífera era fo rm a d a p o r rochas duras, nas quais a p re ­


sença de palhetas de o u ro visível tin h a e s tim u la d o os m in e rad o re s a ultrapassar as
d ificu ld a d e s da e xp lo taçã o , co m e ça va m s u b m e te n d o o m in é rio e xtra íd o a u m a tri-
tu ra ç ã o prévia le va n d o -o ao e stado de areia fin a , para aplicar os p ro c e d im e n to s
de lavação. 27
O sistema de tritu ra ç ã o e m p re g a d o na m a io ria das minas era e xe cu ta d o
d ire ta m e n te pela m ã o do h o m e m . Os escravos sentad o s no chão ou em u m a p e ­
dra t in h a m d ia n te de si, e n t r e as p e rn a s , u m a p e d ra d u r a e c o m p a c ta , p e d a ç o de
d iá b a s io o u q u a r t z it o , s o b re o q u a l e s m a g a v a m o m in é r io c o m a a ju d a de u m a
m a rre ta d e c a b o c u r to , cuja cabe ça pesava d e 1 a 2 q u ilo s . D a v a m p e q u e n o s g o l­
pes n os p e d a ç o s de m in é r io e s p a lh a d o s na b ig o r n a de p e d ra , para os re d u z ir ao
e s ta d o de areia m ais o u m e n o s f in a q u e p u n h a m , e m s e g u id a , de la d o , p e g a n d o
u m a n o va q u a n tid a d e .
O m a te ria l t r i t u r a d o tin h a t a m a n h o d e s ig u a l e, p a ra fa z e r a s e p a ra ç ã o os
m in e r a d o re s t in h a m d e re c o rre r a u m m e io b e m sim ples: d e s p e ja v a m t u d o e m u m
m o n t e de f o r m a c ô n ica , de m o d o q u e os fin o s se a m o n t o a v a m n o c u m e , e n q u a n ­
t o o g ro s s o ro la va para baixo. Esse ú l t i m o passava de n o v o pela tritu r a ç ã o ; os f i ­
nos e ra m la va d o s na c a n o a e s o b re as mesas.
Os d e p ó s ito s d as te la s ia m d ir e t a m e n t e p a ra a a p u ra ç ã o , m as as areias q u e
t in h a m s id o c o n c e n tra d a s na c a n o a n ã o e r a m s u f ic ie n t e m e n t e fin a s p a ra delas se
e x tra ir o o u r o ; v is a n d o e ste f im , s o fria m u m a p u lv e riz a ç ã o c o m p le m e n ta r , s e n d o
e s fre g a d a s f o r t e m e n t e e n t r e d u a s p e d ra s d u ra s (Fig 19).

129
Para isso punha-se, sobre blocos de pedra, um a laje espessa de ita c o lo m ito *
c o m p a c to , de 2 0 c e n tím e tro s de lado, d a n d o -lh e u m a inclinação de cerca de 30°.
O ne gro e n ca rre g a d o d o tra b a lh o de pulverização se m a n tin h a atrás, te n d o à sua
esquerda o m o n te de areia a ser esm agada e, à sua direita, u m a tigela cheia de
água. C om eça va p o r d e p o s ita r sobre a pedra u m p u n h a d o de areia q u e aspergia
c o m a lg u m a s go ta s de água retiradas da tig e la e, em seguida, executava a t r it u -
ração, e sfre g a n d o a massa co m u m o u tr o f r a g m e n to de pedra d u ra , diábasio ou
q u a rtz ito , q u e segurava co m as duas m ãos e q u e passava sobre a laje, im p r im in ­
d o to d a sua força . A cre s c e n ta n d o de te m p o s em te m p o s um p o u c o de água, che­
gava a fo r m a r um a lama fin a que escorria p o u c o a p o u c o para a b o rd a in fe rio r da
laje e caía em u m p ra to de m adeira (g a m e la ) p o sto na beirada para re colher a
lama. Esse p ro c e d im e n to de m o a g e m era b e m eficaz, mas b a stan te cansativo
para o h o m e m e s o b re tu d o , m u ito le n to. De resto, a tritu ra ç ã o c o m m a rre ta t a m ­
bé m n ã o era m u ito rápida, pois cada n e g ro p ro d u z ia e m m édia, p o r dia, 50 q u i­
los de m in é rio p u lve riza d o , A p esar disso, os m in e ra d o re s fic a ra m m u ito t e m p o
sem p ro c u ra r m e lh o ra r o p ro c e d im e n to de tritu ra ç ã o e, a inda hoje, e n c o n tra m -
se nos a rredores de O u ro Preto p e q u e n o s e x p lo ta d o re s q u e e sm a g a m o m in é rio
de q u a rtz o a u rífe ro d o m e s m o m o d o .
A lg u n s m in e ra d o re s mais ju d icio so s te n ta ra m m o n t a r e q u ip a m e n to s ca ­
pazes de s u b s titu ir a tritu ra ç ã o m a n u a l. Entre to d o s , c o n vé m assinalar u m siste­
m a h id rá u lic o , d e scrito p o r V o n E schw ege, q u e fo ra im a g in a d o t o m a n d o c o m o
m o d e lo o tra b a lh o de c o m in u iç ã o e x e c u ta d o à m ã o pe lo n e g ro (Fig 20). Um a
g ra n d e placa de cerca de 1 ,5 0 m de c o m p r im e n to p o r 0 ,7 5 m de la rg u ra re p o u ­
sava sobre u m a p la ta fo rm a de m a d e ira , inclinada; o u tra placa m enor, co m m e ­
ta d e d o c o m p rim e n to , mas da m esm a la rg u ra , era co lo ca d a sobre a prim eira,
c o m a fa ce lisa para baixo. Um anel fix a d o p o r u m a c h a rn e ira em sua e x tre m id a ­
de su p e rio r p e rm itia q u e fosse ligada p o r u m a biela e um a m anivela à á rvo re de
u m a p e q u e n a roda de m o in h o , a p o ia d a e m u m a a rm a çã o à distância de cerca de
2 m etros, atrás da p la ta fo rm a , p a ra le la m e n te ao lado m enor. Um c o n d u to de
m a d e ira trazia água acim a da roda, q u e ao g ira r im p rim ia à placa m e n o r u m m o ­
v im e n to de vai e ve m id ê n tic o à m a n o b ra e xe cu ta d a pe lo h o m e m . U m n e g ro d e r­

* Ita c o lo m ito é u m te rm o im p ró p rio e que, de lo ng a d a ta , não é m ais u tiliza d o . D esigna varie dad e de q u a rtz ito xis-
to s o e flexível, c o n te n d o m inerais m icáceos, além de q u a rtz o . Na área da Serra d o Ita co lo m i nã o exite ta l varie dad e
de q u a rtz ito , presente apenas na Serra de O u ro Preto, ju n to dos q u a rtz ito s utiliza dos c o m o lages.
ram ava de te m p o s e m te m p o s sobre a placa maior, na p a rte mais alta, um p u ­
n h a d o de areia q u e era m o lh a d a pela água q u e caía g o ta a g o ta de u m p e q u e ­
n o re g o co lo c a d o em c o n tin u a ç ã o ao c o n d u t o e a levava sob a pedra de t r it u r a ­
ção, tra n s fo rm a n d o - a p o u c o a p o u c o e m lam a fina, re co lh id a e m b a ix o em um a
bateia. Q u a n d o a placa su p e rio r estava m u ito gasta, p u n h a -se so b re ela u m a p e ­
dra pesada para q u e co n tin ua sse a e sfre g ar os grãos, de m o d o s u fic ie n te m e n te
e n é rg ico , para serem pulverizados,
Q u a lq u e r q u e fosse o m o d o e m p re g a d o na pulverização, a lama o b tid a era
su b m e tid a à lavação, s e g u n d o os p ro c e d im e n to s já descritos.
CA PÍTU LO 3 o

IM POSTO SOBRE O OURO E CASAS DE FUN D IÇÃ O

1. Im p o s to s o b re o o u ro

A p a rtir d o m o m e n to em q u e a notícia da d e sco be rta d o o u ro no Brasil se


e spalho u pela m e tró p o le e que se to m o u c o n h e c im e n to da a fluência de a v e n tu ­
reiros q u e se e stabeleciam no n o v o te rritó rio , o g o v e rn o o cu p o u -se im e d ia ta m e n ­
te de in tro d u z ir u m a re g u la m e n ta ç ã o das minas e, s o b re tu d o , de g a ra n tir a parte
q u e devia caber à C oroa. A d o to u -s e um a lei q u e já existia há ce rto te m p o em Por­
tu g a l, a trib u in d o ao rei a q u in ta p a rte de to d o s os m iné rio s extraídos, sob o n o m e
de im p o s to d o q u in to , e ela fo i aplicada ao Brasil.
A lv a rá de 17 de d e ze m b ro d e 1557. D os q u e d e sco b re m veios d e m e ta l, e
o p rê m io q u e haverão.

4. E de to d o s os m e ta is q u e se tira re m d e p o is de fu n d id o s e a p urad o s, p a ­
g a rã o o q u in to a S. A . salvo de to d o s os cu sto s.... 28
P rovedores, espécie de cobradores, fo ra m enviados, em 1700, para rece­
ber o im p o s to e, a fim de fa c ilita r sua arrecadação, o g o v e rn a d o r A r t h u r de Sa
M enezes p ro ib iu , pe lo B a n d o de 18 de abril de 1701, q u a lq u e r pessoa de e x p o r­
ta r o u ro sem um a a u to riza çã o de circulação q u e provasse q u e havia q u ita d o o im ­
p o sto. Para isso, m a n d o u criar registros nas estradas do Rio de Janeiro, São Pau­
lo, Bahia e Pernam buco.
Esse m o d o de cobrança prosseguiu até 1713, q u a n d o da ch e ga d a às m i­
nas d o g o v e rn a d o r D. Braz Balthazar da Silveira, q u e c o n v o c o u os fu n c io n á rio s e
o povo em assembléia em Vila Rica, para tra ta r da cobrança dos im p o sto s e dos
m eios de reduzir a fra u d e . E n co ntro u u m a fo rte op osiçã o p o r p a rte dos m in e ra ­
dores, q u a n d o a p re se nto u o p ro je to d o rei de m a n d a r c o n s tru ir casas de f u n d i­
ção. Para evitar q u a lq u e r d e sord em , a ca bo u p o r co n c o rd a r co m um a p ro p osta da
assembléia, pela qual o p o vo se c o m p ro m e tia a e n tre g a r a n u a lm e n te à Coroa
um a c o n trib u iç ã o { fin ta ) de 3 0 arrobas (4 5 0 quilos) de o u ro , sob a co n d içã o de
q u e os registros fossem a b o lid o s e de q u e cada um pudesse e x p o rta r livre m e n te
seu o u ro . Em 1715, c h e g o u u m a resposta d o rei d e s a p ro v a n d o o sistem a e o rd e ­
n a n d o a aplica çã o d o q u in to p o r bateia; o g o v e r n a d o r fo i o b rig a d o a re u n ir de
n o vo a assem bléia, t e n d o sido fix a d o e m 10 oitavas (3 5 ,8 6 gram as) o im p o s to
p o r bateia q u e se a d m itia o p e ra n d o . Essa reso lu çã o p e rm a n e c e u sem e fe ito , pois
os m in e ra d o re s p ro te s ta ra m e, em o u tu b r o de 1 7 15 , o rei a p ro v o u o c o n tra to
das 3 0 arrobas. 29
Essa co n ve nçã o fo i renovada a n u a lm e n te até 1718, é poca em q u e fo i d i­
m in u íd a para 25 arrobas (3 7 5 quilos), mas co m re to rn o ao rei dos im p o sto s de im ­
p o rta çã o . C o m o essa c o n trib u iç ã o era dividida de m a n e ira m u ito desigual e n tre
os h a b ita n te s das minas, o rei D. João V d e cre to u , p o r um a lei de 11 de fevereiro
de 1719, q u e esse sistem a de im p o s to seria s u p rim id o e s u b s titu íd o pelo q u in to .
Seriam construídas, para esse e fe ito , às custas da C oroa, casas de fu n d iç ã o , o n d e
t o d o o o u ro seria f u n d id o em barras e q u e seria p ro ib id o e x p o rta r o u ro em pó.
A fim de e xe cu ta r a o rd e m , o g o v e rn a d o r co n v o c o u os provedores, em 16
de ju lh o de 1719, e os co n s u lto u sobre os locais o n d e seria co n v e n ie n te e stabe­
lecer casas de fu n d iç ã o . De c o m u m a co rd o , desig na ram Vila Rica, Sabará, São
João dei Rei e Vila d o P ríncipe*, te n d o fic a d o d e c id id o q u e o p o vo c o n tin u a ria a
p a g a r a c o n trib u iç ã o anual até o m o m e n to e m q u e as casas de fu n d iç ã o estives­
sem p ro n tas para fu n c io n a r. Q u a n d o os m in e ra d o re s tiv e ra m c o n h e c im e n to des­
sa decisão, h ouve um a revolta, e o g o vern ad o r, ve n cid o pelos a c o n te cim e n to s,
teve de su sp e nd e r a co n s tru ç ã o das casas e se re tira r para a Vila d o C a r m o * * . Em
v irtu d e das co n tín u a s pertu rb açõe s, D. João V n o m e o u u m novo g o ve rn a d o r, D,
Louren ço de A lm e id a , q u e ch e g o u às m inas em 1721 e, co m p ru d ên cia, con se ­
g u iu restabelecer a o rd e m . U m a vez a ca lm a d o s os espíritos, o g o v e rn a d o r c o n v o ­
cou u m a assembléia em Vila Rica, a 2 5 de o u tu b r o de 1722, para d eliberar sobre
as ordens reiteradas d o rei, relativas à co n stru çã o das casas de fu n d iç ã o .
Para re ta rd a r a execução dessa o rd e m , o povo, q u e até e n tã o pagava a
c o n trib u iç ã o anual de 2 5 arrobas, o fere ceu a u m e n tá -la em 12 arrobas e se o b r i­
gou, p o r decisão da assembléia, a pa ga r a partir, de e n tã o , u m a c o n trib u iç ã o de
37 arrobas (5 5 5 quilos). O g o vern ad o r, te m e n d o um a nova efervescência dos es­
píritos, c o n c o rd o u c o m essa p ro p o s ta ; mas, a p a rtir d o m o m e n to e m q u e a d q u i­
riu a u to rid a d e su ficie n te sobre o po vo, c o n v o c o u de n o vo a assembléia, em 15 de
* NR: a tu a lm e n te cham a-se Serro.
* * NR: a tu a lm e n te cham a-se M a ria na.
ja n e iro de 1 7 24 , e a c a b o u p o r o b te r a decisão, p o r u n a n im id a d e , de c o n s tru ç ã o
das casas de fu n d iç ã o decretando, ao m esm o te m p o , que com eçariam a funcio na r
em 1° de fevereiro de 1725, época em que o sistema de co ntribuição acabaria.
A p a rtir desse dia, to d o o o u ro em pó devia ser levado às casas de f u n d i­
ção: aí se retirava a q u in ta p a rte da q u a n tid a d e trazida, o resto era f u n d id o e d e ­
v o lvid o a seu p ro p rie tá rio co m um a a u to riza çã o de circulação (guia), p ro va n d o
qu e o q u in to fo ra pago. Esse im p o s to , m u ito pesado para os m ine rad o re s, d e te r­
m in o u u m a u m e n to da fra u d e ; para m ino rá-la , fo i re duzido, p o r decisão da as­
sembléia, de 2 0 % para 1 2 % , em 1730. Em fins de 1732, veio u m a o rd e m do rei
para tra n s fo rm a r o q u in to em im p o s to de c a p it a ç ã o . * * * Esse sistem a era pio r
para o m in e rad o r, que se via o b rig a d o a pa ga r o m e sm o im p o sto , q u e r co n se gu is­
se m u ito o u p o u c o o u ro de sua m ina. Assim, o povo, re u n id o em A ssem bléia, a
2 4 de m a rço de 1734, ofereceu-se para assegurar ao rei um a c o n trib u iç ã o anual
de 100 arrobas (1 .5 0 0 quilos), c o m p ro m e te n d o -s e a c o m p le ta r essa q u a n tid a d e ,
caso as e n tra da s d o q u in to nas casas de fu n d iç ã o não a alcançassem.
Essa p ro p o s ta n ã o fo i aceita e, p o r resolução da assembléia, convo cad a a
30 de ju n h o de 1735, em Vila Rica, pelo n o vo g o vern ad o r, G om es Freire de A n ­
drade, o im p o s to de ca p ita ção fo i estabelecido, apesar de num erosas oposições.
Fixou-se em 4 ,7 5 oitavas (17 gram as) o valor d o im p o s to an ua l a pa ga r p o r cada
n e g ro e m p re g a d o nas minas; aqueles co m m e n o s de 14 anos, nascidos nas m i­
nas, eram os únicos isentos. 30
Em bora a experiência n ã o dem orasse a p ro va r q u e esse sistema de im p o s ­
to era excessivam ente d e fe itu o s o e q u e levava fre q ü e n te m e n te o m in e ra d o r à ruí­
na, fo i m a n tid o até 1o de a g o sto de 1751. A p a rtir dessa d ata fo i a p lica d o o sis­
te m a p ro p o s to a n te rio rm e n te p e lo povo, q u a n d o da Assem bléia de 2 4 de m arço
de 1734, e q u e o rei a ca bo u p o r aceitar, d ia n te das súplicas repetidas dos h a b i­
ta n te s das minas. A lei de 3 de d e z e m b ro de 1 7 50 , anulava o im p o s to de ca p ita ­
ção e restabelecia o d o q u in to . A lei estipulava q u e o o u ro seria f u n d id o e m b a r­
ras nas casas de fu n d iç ã o , d e po is de te r sido d e d u z id o o q u in to , e q u e o p o vo as­
seguraria à C oroa u m a c o n trib u iç ã o anual de 100 arrobas de o u ro ; se a entra da
dos q u in to s apresentasse u m deficiência em relação a essa q u a n tia , o c o m p le ­
m e n to seria o b tid o p o r m e io de c o n trib u iç õ e s e n tre os ha bita n te s. Se houvesse,

* * * NR: im p o s to p a g o pe lo n ú m e ro de escravos
ao c o n trá rio , excedente, o excesso seria p o sto em reserva até o fim d o a n o se­
g u in te , de m o d o a servir para c o m p le ta r os q u in to s, se estes se vissem d im in u íd o s
o u, em caso c o n trá rio , seria d e fin itiv a m e n te in c o rp o ra d o à Coroa.
A p a rtir de e n tã o , não fo i mais fe ita m o d ific a ç ã o no m o d o de c o b ra r o im ­
p o sto, q u e p e rm a n e ce u o m e sm o , até o dia em q u e o Brasil sacudiu o ju g o da
m e tró p o le . A c o n te c e q u e a c o n trib u iç ã o de 100 arrobas, q u e d u ra n te os p rim e i­
ros anos se via co b erta p o r um e xcedente dos q u in to s, c o m e ç o u a ser c o m p le ta ­
da com d ificu ld a d e , q u a n d o os m esm os d im in u íra m e m con se qü ê n cia da d e ca ­
dência das minas. C h e g o u um m o m e n to e m q u e a e n tra d a dos q u in to s nas ca­
sas de fu n d iç ã o se t o r n o u tã o p e q u e n a , q u e os h a bita n te s tive ra m de suportar,
para fo rn e c e r o c o m p le m e n to , e ncargos tais q u e o p a g a m e n to da c o n trib u iç ã o
sofreu num e ro so s atrasos, e lo g o se viram na im p o ssib ilid a d e de satisfazer seus
com p ro m isso s. A e n tra d a dos q u in to s nas casas de fu n d iç ã o , q u e se elevava a
mais de 1 1 6 arrobas em 1759, m anteve-se em cerca de 100 arrobas até 1766. De­
clino u a p a rtir dessa época: não passava de 7 0 arrobas em 1 7 77 e de 30 arrobas
em 1808. Caiu para 7 e 2 arrobas em 1819 e 1820, respectivam ente.
D iante d o tris te d e stin o da p o p u la ç ã o das minas, parece q u e o g o v e rn o
real p ro cu ro u , p o r u m m o m e n to , n o c o m e ço d o século, p ro p o rc io n a r-lh e u m alí­
vio: o Príncipe Regente, p o r um A lvará de 13 de m a io de 1803, q u e tra ta da a d ­
m inistra çã o das m inas de o u ro e d ia m a n te s d o Brasil, declara que, te n d o c h e g a ­
d o ao seu c o n h e c im e n to q u e os m in e rad o re s se e n c o n tra v a m na im possib ilid a d e
de q u ita r o d ire ito real d o q u in to , e d e sejan d o fa vo re ce r os tra b a lh o s e im p u ls io ­
nar a e xp lo ta çã o d o precioso m e ta l, o re fe rid o im p o s to seria d o ra va n te re d u zid o
pela m e ta d e , ao e stado de m e io q u in to o u d ízim o , e q u e seriam p agos ainda dois
p o r ce n to, o q u e levava o im p o s to de 2 0 % para 1 2 % . Q u a n to à c o n trib u iç ã o fixa,
n ão se fazia q u a lq u e r m e n çã o à mesm a. Há a lg u m te m p o sua cobrança tin h a sido
abandonada.
In fe lizm e n te , essa lei nunca fo i aplicada, e o q u in to subsistiu n o m e sm o
estado. V on Eschwege diz que, q u a n d o de sua vin d a às minas, e m 1811, fez t o ­
dos os esforços possíveis ju n t o ao g o v e rn o para que o im p o s to fosse d im in u íd o
para o d é cim o , mas sem o b te r resultado, p o rq u e o m au e sta d o das finanças não
p e rm itia p e rd e r a m e ta d e d o q u in to , que ia in ce ssa n tem e nte d im in u in d o . Foi com
g ra n d e d ificu ld a d e q u e co n se gu iu introduzir, nos e sta tu to s das sociedades de ex-
plo ta ç ã o das minas de o u ro , fixados p o r Carta Régia de 12 de a g o sto de 1817, um
p a rá g ra fo re d u zin d o o q u in to ao d é c im o ao cabo de dois anos, a c o n ta r do c o m e ­
ço dos trabalhos, se se provasse que esses tra b a lh o s eram executados p o r m eio de
m á q u in a s aperfeiçoadas q u e davam m elhores resultados, e se a cada ano a q u a n ­
tid a d e de o u ro p ro d u z id a não fosse in fe rio r à dos dois prim eiros a nos31.
O va lo r d o im p o s to p o d e servir, até um ce rto p o n to , de base para d e te r­
m in a r o g ra u de p ro sp e rid a de das minas de o u ro e a im p o rtâ n c ia de. sua p r o d u ­
ção desde o dia da d e scoberta. V on Eschwege c h e g o u a avaliar a p ro x im a d a m e n ­
te a q u a n tid a d e de o u ro paga ao rei c o m o im p o s to em M inas, desde o a n o de
1 7 00 até 1820. Eis o resum o, s e g u n d o a ta be la q u e apresenta em seu livro 3 2 :

Q uantidade de o u ro entregue co m o im posto, em M inas Gerais, de 1700 a 1820

1 7 00 a 1713 Im p o sto d o q u in to 13 arrobas


1 7 1 4 a 1725 Im p o sto de c o n trib u iç ã o 312
1 7 25 a 1735 Casas de fu n d iç ã o 500
1 7 35 a 1751 Im p o sto de capitação 2 .0 4 0
1751 a 1820 Casas de fu n d iç ã o 4 .2 5 5
Total 7.131 arrobas

S e g u n d o esses dados, vê-se q u e a im p o rtâ n c ia d o im p o s to cresceu sensi­


ve lm e n te desde os p rim e iro s an os até 1735; d u ra n te o p e río d o de 1 7 35 a 1751,
fo i e m m édia de 128 arrobas p o r ano; depois de 1751 até 1766, m anteve-se q u a ­
se c o n s ta n te m e n te acim a de 100 arrobas, para d eclinar g ra d u a lm e n te e reduzir-
se a duas arrobas e m 1820. Seria, p o rta n to , no p e río d o q u e se estende de 1735
a 1766, isto é, em m eados d o século, q u e a in d ú stria das m inas de o u ro teria usu ­
fru íd o da m a io r pro sp e rid a de , e a decadência teria c o m e ç a d o pelo fim d o século,
q u a n d o os m in e ra d o re s , s a tu ra d o s de p e rse g uiçõe s e can sa do s pelas d ific u ld a ­
des de e x p lo ta ç ã o , se vira m p o u c o a p o u c o o b rig a d o s a a b a n d o n a r suas minas.
Para se te r um a idéia, pelo m e n o s a p ro xim a d a , da im p o rtâ n c ia da p ro d u ­
ção, p o d e m o s nos basear n o to ta l dos im postos. C o m o u m a a rroba co rresp o n d e
a 1 5 quilos, esse to ta l seria de 7 1 3 1 ,5 arrobas, ou seja, 7 1 3 1 ,5 x 15 = 1 0 6 .9 7 2 ,5
quilos, o u quase 107 to n e la d a s de ouro.
A d m it in d o que o im p o s to fosse e x a ta m e n te a q u in ta p a rte d o o u ro extra í­
do, a p ro d u ç ã o teria sido, p o rta n to , d u ra n te esse p e río d o de 120 anos, de 535
to n e la d a s de ouro.
Essa cifra deve ser consid e ra da c o m o um m ín im o , pois sería preciso acres­
c e n ta r à m esm a a q u a n tid a d e de o u ro confiscada e aquela e xp o rta d a p o r c o n tra ­
b a n d o ; de via m ser b a stan te consideráveis, a ju lg a r pela q u a n tid a d e de o u ro em
p ó co n fiscada apenas d u ra n te o p e río d o de 1 7 0 0 a 1 7 13 , q u e fo i de 11,5 a rro ­
bas, quase igual ao va lo r d o q u in to d u ra n te esse m e sm o período, e pelas d is p o ­
sições q u e se to m a v a m c o n s ta n te m e n te para p e rseguir os co n tra ba n d ista s. A lé m
d o mais, se os m in e ra d o re s se o p u s e ra m d u ra n te m u ito te m p o à co n s tru ç ã o das
casas de fu n d iç ã o , o n d e se devia retirar o q u in to , p re fe rin d o p a g a r a n u a lm e n te
u m a c o n trib u iç ã o fixa, é p o rq u e devia m e n c o n tra r va n ta g e m , e p o rq u e essa c o n ­
trib u iç ã o n ã o representava o q u in to da p ro d u ç ã o .
Assim, pode-se a d m itir q u e a p ro d u ç ã o fo i pelo m e n o s de 535 toneladas,
o q u e representaria u m v o lu m e de cerca de 2 8 m e tro s cúbicos e u m va lo r de
1.605 m ilh õe s de francos.
Isso dá 4 . 4 5 0 * quilos de o u ro , p o r ano, em m édia, cujo vo lu m e seria o q u in ­
t o de um m e tro cúbico e o valor u m p o u co m e n o r que 13,5 m ilhões de francos.

2. Casas d e fu n d iç ã o e d e p e rm u ta

Sabem os q u e o e s ta b e le c im e n to das casas de fu n d iç ã o em M ina s fo i d e ­


c re ta d o pe lo rei D. João V (lei de 11 de fe ve re iro de 1 7 1 0 ) . * * Só co m e ç a ra m a ser
construídas q u a tro delas e m 1724,. em Vila Rica, Sabará, São João dei Rei e Vila
d o Príncipe, e só fu n c io n a ra m a p a rtir de 1o de fevereiro de 1725.
Eram co m p o sta s de escritórios o n d e o o u ro em pó era re cebido e g u a rd a ­
do, de u m a sala para a fu n d iç ã o das barras e de u m la b o ra tó rio para os testes. A
de Vila Rica estava situada nos porões d o palácio d o g o ve rn a d o r, as o u tra s na casa
d o inspetor.
Na sala de fu n d iç ã o , havia três fo rn o s de fo rja a fo le d u p lo m o v im e n ta d o

* NR: na verda de o v a lo r c o rre to é 4 .4 5 8 .


* * NR: a d a ta co rre ta é 1719.
p o r negros, u m fo r n o de m u fla de fe rro para os testes e a lg u m a s caixas para a
a m a lg a m a çã o .
A instalação dessas casas era m u ito simples: ao co n trá rio tin h a m pessoal
m u ito n u m e ro so . Os cargos co m os v e n cim e n to s respectivos de cada e m p re g a d o 33
vêm relacionados a seguir. A d ic io n a lm e n te , a casa de Vila Rica tin h a :

1 m estre g ra va d o r......................... 8 0 0 5 0 0 0 réis


1 fiscal ............................................. 600$000
1 terce iro fu n d id o r ........................ 4 0 0 $ 0 0 0
1:8 0 0 $ 0 0 0
14 pessoas no to ta l 8 :3 0 0 $ 0 0 0 réis

e le va nd o o n ú m e ro de pessoas para 14, para um to ta l de salários de 8 :3 0 0 $ 0 0 0


réis (casa de fu n d iç ã o de Vila Rica).
O pessoal de cada casa totalizava, p o rta n to , 11 pessoas, co m exceção de

PES SO AL DAS CASAS DE F U N D I Ç Ã O

C a rg o do s e m p re g a d o s Salário
para uma fundição para quatro fundições
Juiz da co m a rca c o m o in s p e to r da casa 4 0 0 5 0 0 0 réis 1 :6 0 0 $ 0 0 0 réis
Tesoureiro 8005000 3 :2 0 0 $ 0 0 0
Escrivão da receita 800S000 3 :2 0 0 5 0 0 0
C o n fe re n te 800S000 3 :2 0 0 5 0 0 0
Escrivão 700S000 2 :8 0 0 5 0 0 0
Ensaiador 800$000 3 :2 0 0 5 0 0 0
A u xilia r de ensaiador 400$000 1 :6 0 0 5 0 0 0
P rim eiro fu n d id o r 800S000 3 :2 0 0 5 0 0 0
S e g u n d o f u n d id o r 400S000 1 :6 0 0 5 0 0 0
M e irin h o 300$000 1 :2 0 0 5 0 0 0
G ra va d o r 300$000 1 :2 0 0 5 0 0 0
1 1 pessoas 6 :5 0 0 5 0 0 0 réis ' 2 6 :0 0 0 5 0 0 0 réis
Vila Rica, o n d e o n ú m e ro de e m p re g a d o s to taliza va 14, p o r causa da im p o rtâ n c ia
da fu n d iç ã o . O to ta l c o m p re e n d ia 4 7 pessoas, q u e recebiam a n u a lm e n te
2 7 :8 0 0 $ 0 0 0 réis. Todas as despesas para a tra n s fo rm a ç ã o d o p ó de o u ro e m b a r­
ras eram p o r c o n ta erário real; pagava-se u n ic a m e n te o im p o s to , q u e era re tirad o
d ire ta m e n te da q u a n tid a d e de o u ro e n tre g u e à fu n d iç ã o .
O o u ro tra z id o p o r cada u m era tra n s fo rm a d o em barras, se p a ra da m en te .
0 fu n d id o r, depois de te r recebido a parte a ser fu n d id a , d e d u z id o o q u in to , es­
colhia u m c a d in h o co m ta m p a , de capacid ad e c o n ve n ie n te , n o qual depositava o
pó de o u ro e o p u n h a no fo g o , c o b rin d o -o c o m carvão vegetal. U m a vez in ca n ­
descente o ca d in h o , soprava co m fo r t e co rre n te de ar, para f u n d ir o o u ro e, re ti­
rada a ta m p a , d e rra m a va o s u b lim a d o corrosivo, p o u c o a p o uco , a fim de exe cu ­
t a r a a p u ra ç ã o do m e ta l. Retirava em seguida, co m u m a cureta, as m até ria s im ­
puras q u e boiassem na superfície e in te rro m p ia a o p e ra ç ã o q u a n d o o b a n h o f i­
cava p arecido co m u m espelho b rilh a n te , de cor verde. Retirava o c a d in h o do
f o g o e d e rram ava o líq u id o em u m a fô rm a ; a barra, s u fic ie n te m e n te resfriada, era
m e rg u lh a d a na água e, co m u m m a rte lo , curvava u m a e x tre m id a d e para avaliar
sua m alea b ilida d e . Se não houvesse rachaduras nas bordas, considerava boa a
fu n d iç ã o ; caso c o n trá rio , recomeçava co m um a dose mais fo rte de su b lim a d o , até
q ue o m e ta l ficasse p e rfe ita m e n te maleável. A barra o b tid a tin h a u m a cor cinza
devida ao m e rcúrio , q u e desapareceria passando-a sobre f o g o fo rte . Essas o p e ra ­
ções d u ra va m 15 a 25 m inu to s.
Por esse p ro c e d im e n to , havia u m a perda considerável de o u ro , s o b re tu d o
q u a n d o os fu n d id o re s fa zia m o tra b a lh o ra p id a m e n te , c o m o a co nte cia co m f r e ­
qüência. Assim, recolhiam -se, no fim d o ano, os d e pó sito s das fu m a ça s na c h a ­
m iné, b e m c o m o as cinzas e os restos dos cadinhos, para serem tra ta d o s. O c o n ­
te ú d o era p u lve riza d o e m a lm o fa riz e s de fe rro c o n te n d o u m p o u c o de m e rcú rio
no f u n d o e u m a q u a n tid a d e de á g ua su ficie n te para to r n a r a massa b e m flu id a ;
u m a g ita d o r de fe rro , p ro v id o de dois braços em cruz e m o v im e n ta d o p o r um a
roda a m anivela, m a n tin h a em suspensão as areias, q u e a circulação de água a r­
rastava para fo ra da caixa, e n q u a n to as parcelas de o u ro mais pesadas se am al-
g a m a va m e m c o n ta to co m o m e rcú rio , ao cair no fu n d o .
A p e s a r disso, a perd a era a in d a elevada: V o n E sch w e g e a avaliava e m 2 , 5 % d o
o u r o f u n d id o . 34
O o u r o p ro v e n ie n te dos q u in to s era g u a r d a d o em u m c o fre especial e f u n d i d o se­
m estral ou a n u a lm e n te .
Q u a n d o u m a pessoa tra z ia o u r o p a ra fu n d ir, a n o ta v a -s e seu n o m e e m u m
re g is tro , pesa va-se o p ó e m sua p re s e n ç a e se d e d u z ia o q u i n t o ; o re sto era f u n ­
d id o e v a z a d o e m b a rra , q u a lq u e r q u e fo sse a q u a n tid a d e . A b a rra passava e m
s e g u id a pe la s m ã o s d o e n s a ia d o r, q u e d e t e r m in a v a o t í t u lo e im p r im ia , d e um
la d o as a r m a s reais, o n ú m e r o de o r d e m , o a n o , a m a rc a da casa d e f u n d iç ã o , o
t í t u lo e o p e so da b a rra , e as p a la vra s p o r e n s a io o u p o r t o q u e , s e g u n d o o t í t u ­
lo tivesse s id o d e t e r m i n a d o p e lo e n s a io o u p e lo t o q u e . D o o u t r o la d o , im p r im ia
as a rm a s d o Brasil (Fig. 2 1 ) .
C o m o o t í t u lo d o o u r o das p rin c ip a is m in a s era m u it o c o n h e c id o , c o m f r e ­
q ü ê n c ia se c o n t e n t a v a e m d e t e r m in á - lo p e lo t o q u e .
U m a vez m a rc a d a a barra , era d e v o lv id a a seu p r o p r ie t á r io c o m u m a a u ­
to r iz a ç ã o de c ir c u la ç ã o (guia ), na q u a l e s ta v a m in s c rito s seu n o m e , a q u a n t id a d e

Fig. 21 - Frente, verso e p e rfil de um a barra de ouro qu in ta da em Vila Rica


d e o u r o e n tr e g a d a e a r e tira d a c o m o q u in t o , o n ú m e r o da b a rra e as diversas m a r ­
cas q u e tra z ia . A Figura 2 2 a p re s e n ta a g u ia da b a rra de o u r o m e n c io n a d a .
Essa g u ia , re g is tra d a em u m livro espe cial da casa d e f u n d iç ã o , d e via s e m ­
pre a c o m p a n h a r a barra ; servia para c e r tific a r a sua a u t e n t ic id a d e .
A b a rra p o d ia e n t ã o c irc u la r c o m o m o e d a c o r r e n te n o in te r io r mas, q u a n ­
d o era d e s tin a d a à e x p o rta ç ã o , devia ser a p re s e n ta d a aos re g istro s e s ta b e le c id o s
n os c a m in h o s nos lim ite s da c a p ita n ia , p a ra q u e aí fo sse r e g is tra d a . Trata-se de
u m m e io de im p e d ir a p a ssa g e m p o r c o n t r a b a n d o das b a rra s q u e n ã o t in h a m sa­
t is f e it o o q u i n t o e q u e n ã o p o d ia m c irc u la r e m M in a s p o r f a lt a d e guia. M e n c io -
ne-se q u e c o n s e g u ia f a c ilm e n te v e n d ê -la s nos p o r t o s de mar.
C o m o o m in e r a d o r t in h a de s u p o r t a r u m a re d u ç ã o im p o r t a n t e na q u a n t i­
d a d e de o u r o le vada às casas de f u n d iç ã o , t a n t o p e lo q u i n t o q u a n t o p e la p e rd a
na f u n d iç ã o , o c o n t r a b a n d o se d e s e n v o lv ia . A ssim , para p ô r - lh e u m fre io , a lé m
d o s re g is tro s d o s c a m in h o s e das p a tr u lh a s q u e c irc u la v a m c o n s t a n te m e n t e p e lo
c a m p o , f o r a m e d ita d a s p en as severas, p o r diversas vezes, c o n t r a os c o n t r a b a n d is -

síiíspe

SN. W Ê Ü
_m.JBt tUmg o n e fta C a fa

X ■■ sí..'V's ■: ^ ç : •
' .■ :•• . ^- a . ■■ ;
■ÇU( ; ax? ' " '■ ::'
I
X 2; " . ■ c:
te"- ; ' . ? .. ; ■ • ■ ., ; ■/■ ; . A ' : 2: í ■ .
K u m a harrA a« »•* m i f maVCO - -

«••• Òncai’ oitava^ .e J? d t g r & o j de ouro de vinte p
m
«8
vt quenelle íe fez, e Íeíhe entregou néfta Caía de Fük- 5

-/A. : c ' . ■■ a o ::

Fig. 22 - Guia de um a barra de ouro

141
tas. Pela lei de 3 de d e z e m b ro de 1750, fo i d e cre ta d o q u e q u a lq u e r pessoa que
levasse para fo ra d o d is trito das minas, o u ro em pó ou em barra não fu n d id a em
u m a das casas de fu n d iç ã o , incorria no co n fisco to ta l desse o u ro , e m benefício
dos cofres d o q u in to . Se tivesse ha vid o denú n cia , o d e n u n c ia n te ficaria co m a m e ­
ta d e d o o u ro confisca d o. Pelo alvará de 13 de m a io de 1803, as penas c o n tra o
c o n tra b a n d is ta era m ain d a mais duras: da p rim e ira vez ele perdia o d o b ro d o va ­
lo r d o o u ro desviado, sendo q u e u m te rç o cabia ao d e n u n c ia n te , u m o u tr o te rço
a q u e m havia fe ito a c a p tu ra e o resto ao Erário Régio; da se g un d a vez, o q u á ­
d ru p lo d o valor, q u e era re p a rtid o da m esm a m aneira, e ele era e xpulso da c a p i­
ta nia; se voltasse sem te r sido p e rd o a d o , era d e p o rta d o para a África.
A lé m disso, para re string ir mais ainda a circulação do o u ro em pó e to rn a r
o c o n tra b a n d o mais difícil, fo i d e cre ta d o , pelo Alvará de 1o de se te m b ro de 1808,
q u e casas de p e rm u ta seriam estabelecidas nas cidades o u vilas vizinhas dos c e n ­
tro s m ineradores. Nessas casas os m in e rad o re s e os faiscadores deveriam tro ca r
seu o u ro em pó o u retirar um a a u to riza çã o a fim de tra n s p o rtá -lo para fo ra dos
lim ites d o d is trito da casa de p e rm u ta . O com issário da casa de p e rm u ta pagava
s o m e n te um a fra çã o d o o u ro recebido, o resto só era a ce rta d o d e po is da f u n d i­
ção em barra, fe ita a d e d u çã o d o im p o s to e das perdas de re fin o . A cada três m e ­
ses, a p ro x im a d a m e n te , oficiais reais passavam nas casas de p e rm u ta para recolher
o o u ro . Os comissários das casas de p e rm u ta eram escolhidos e n tre os n e g o c ia n ­
tes q u e m ereciam a lg u m a co n fia nça ; ficavam , p o r seu tra b a lh o , co m 1/25 do o u ro
re cebido e u su fru ía m a lg u m a s prerrogativas. O o u ro em pó tra z id o às casas de
p e rm u ta só era a ce ito q u a n d o apresentava u m grau su ficie n te de pureza, caso
c o n trá rio era d e vo lvid o a seu p ro p rie tá rio , a fim de q u e fizesse a apuração, a m e ­
nos q u e se percebesse a lg u m e m b u s te e q u e o p ó fosse fa lsific a d o pela adição de
m atérias estranhas, mica o u lim alhas de latão, p o r e xem plo, c o m o o c o rria com
b a stan te fre q ü ê n cia , caso em q u e t u d o era confisca d o. Assim, cada com issário
devia estar m u n id o de alguns in s tru m e n to s necessários a u m e xa m e s u m á rio do
o u ro , p e rm itin d o -lh e desmascarar a fra u d e.
0 e s ta b e le c im e n to das casas de p e rm u ta tin h a p e lo m e n o s a v a n ta g e m de
evitar, no co m é rc io , as perdas de o u ro devidas às co n tín u a s pesagens d o p ó para
os p a g a m e n to s, sem c o n ta r o in c ô m o d o para o co m p ra d o r, de ser o b rig a d o a cir­
cu la r c o m u m a balança na mão. Em co m p e n sa ção , sobre ca rre g a va m as finanças
reais de u m acréscim o de despesas pela criação de novos e m p re g o s, e isto no m o ­
m e n to em q u e a e n tra d a dos q u in to s d im in u ía c o n s ta n te m e n te . Nessa o p o r t u n i­
dade, as casas de fu n d iç ã o , co m excesso de e m p re g a d o s, apenas co b ria m seus
custos e, a p a rtir de 1820, suas receitas não era m su ficientes para p a g a r as des­
pesas d o pessoal. V im os, de fa to , q u e os e m p re g a d o s das q u a tr o casas de f u n d i­
ção custavam a n u a lm e n te ao g o v e rn o p e rto d e 2 8 c o n to s de réis; c o m o a oitava
de o u ro valia, nessa época, 1 $ 5 0 0 réis, tal despesa representava u m peso de 67
quilo s de o u ro a p ro x im a d a m e n te , e n q u a n to o to ta l dos q u in to s chegava e m 1820
a 2 arrobas, o u 3 0 quilos, m e n o s da m e ta d e da cifra m e n cio n a da .
Se os diversos m e io s de c o m b a te r o c o n tra b a n d o d e ra m a lg u ns re su lta ­
dos, q u e stion á ve is, tro u x e ra m m u ito s entra ves para os n e g ó cio s d os m in e r a d o ­
res e, c e rta m e n te as c o n tín u a s perseguições, ju n ta m e n te co m os im p o s to s o n e ­
rosos a q u e e ra m s u b m e tid o s , fo ra m as p rin cip a is causas da decad ê n cia da in ­
d ú stria das m inas.
CA PÍTU LO 4 o

LEGISLAÇÃO DAS MINAS DE OURO NA ÉPOCA DAS


COLÔNIAS PORTUGUESAS

1. E x a m e s u m á rio d a le g is la ç ã o d as m in a s d e o u ro a té 1 8 2 2

Bem antes da descoberta d o o u ro em M ina s Gerais, teve-se a prova de sua


existência no Brasil: em 1590, u m ce rto A ffo n s o Sardinha e n con tra ra o u ro na Ser­
ra de Jaraguá, no te rritó rio de São Paulo. Assim, lo g o q u e essa notícia c h e g o u a
Portugal, o g o v e rn o se p re o cu p o u em re g u la m e n ta r a indústria das minas em sua
colônia. Em conseqüência, te m -se a p ro m u lg a ç ã o sucessiva de um P rim eiro R egi­
m e n to das Terras M in e ra is d o B r a s ild e 15 d e a g o sto de 1603 e de u m S e gu n d o
R e g im e n to de 8 de a g o s to de 1618. Nessas duas leis, q u e diziam respeito p rin c i­
p a lm e n te às minas de o u ro , fazia-se um a exposição m inuciosa das condições a que
se deviam su b m e te r as pessoas o cupadas co m a pesquisa e a exp lo taçã o das ja z i­
das e d e pósitos auríferos. Na prim eira, especificava-se que q u a lq u e r pessoa que
descobrisse u m a jazida tin h a o d ire ito de e x p lo ta r um a m ina co m superfície re ta n ­
g u la r de 8 0 p o r 4 0 varas (varas de 5 palmos; 8 8 p o r 4 4 m etros ou 3 .8 7 2 m etros
q u adrados) c o m o d e sco b rid o r e um a o u tra , de 60 p o r 3 0 varas (66 p o r 33 m etros
ou 2 .1 7 8 m etros q u ad ra d o s) c o m o explotador. O resto da jazida tin h a de ser repar­
t id o entre as diversas pessoas q u e desejassem fazer sua e xplotação, à razão de
u m a parte explotável de 6 0 p o r 30 varas para cada um a delas. Na segunda, para
fa vorecer as descobertas, era c o n c e d id o ao d e sco b rid o r u m a recom pensa de 20
cruzados, além de sua parte, que era elevada a 80 p o r 4 0 braças de 10 palm os
(1 7 6 p o r 8 8 m e tro s ou 1 5 .4 8 8 m e tro s quadrados), e de um a parte c o m u m e x p lo ­
tável. Em cada d istrito m inerador, um p ro v e d o r das minas era en carre g ad o de f a ­
zer a aplicação desses re g u la m e n tos, o que lhe era mais ou m enos impossível, t e n ­
d o em vista a extensão d o te rritó rio p o sto sob sua direção. Assim, essas leis n u n ­
ca fo ra m bem executadas; devem , de resto, te r p ro d u z id o p o u c o e fe ito sobre a
d e scoberta das minas, pois se vê mais ta rd e o rei, p o r Carta Régia de 18 de m a rço
d e 1694 ao g o v e rn a d o r e capitã o-ge ral d o Brasil, p ro m e te r ho nra e riquezas, com
títu lo de nobreza, àqueles q u e descobrissem minas ricas de o u ro e prata.
A p rim e ira lei q u e teve verdadeira aplicação e cujos a rtig o s e m sua m a io ­
ria p e rm a n e c e ra m m u ito t e m p o em vigor, co m as alterações feitas p o s te rio rm e n ­
te, é o R e g im e n to dos S u p e rin te n d e n te s, G u a rd a s -M o re s e O ficiais D e p u ta d o s às
M in a s de O uro, d e 19 d e a b ril de 1702. Deixa b e m em evidência o fa to de q u e os
a n tig o s m in e ra d o re s c o m e ça ra m p o r e x p lo ta r os d e pó sito s de aluviões dos rios,
de p re fe rê ncia às jazidas das m o n ta n h a s , pois nela só se fa z m e n ç ã o aos p rim e i­
ros. Tendo em vista sua im p o rtâ n c ia , c o n vé m re su m ir seus p o n to s p rincipais.35
O s u p e rin te n d e n te tin h a a seu c a rg o a vigilância e o d e s lo ca m e n to das
pessoas q u e tra b a lh a v a m nas m inas: devia levá-las a a c o rd o e m caso de disputas
e vig ia r para q u e os g u a rd a s -m o re s fjzessem a m e d içã o dos te rre n o s susceptíveis
de e xp lo ta çã o , a fim de os re p a rtir sob fo rm a de d a ta s e n tre as pessoas q u e f a ­
ziam o p e d id o ; caso os g u a rda s-m o re s não pudessem d a r co n ta desse tra b a lh o
p o r causa das g ra n de s distâncias e n tre os te rre n o s a serem m ed id o s, nom eava
g u a rd a s -m e n o re s e n carregados de substituí-los e m certos p o n to s.
Q u a n d o um rio a u rífe ro acabava de ser d e sco b e rto , o g u a rd a -m o r c o m e ­
çava p o r d e te rm in a r seu c o m p rim e n to em braças; fazia em seguida a re partição
p o r datas q u a d ra d a s de 3 0 braças (66 m etros) de la d o ou 9 0 0 braças quad ra d a s
(4 .3 5 6 m e tro s q u a d ra d o s) d o m o d o se g uinte : ao d e sc o b rid o r cabia u m a p rim e ira
data no p o n t o esco lh id o p o r ele; u m a se g un d a d a ta d e fin id a em b o m lu g a r era
reservada para a C oroa; a terceira d ata era co n ce d id a ao descobridor, c o m o ex-
p lo tad o r, no lugar q u e lhe fosse c o n ve n ie n te , e, se esse d e s c o b rid o r tivesse d es­
c o b e rto q u a tro rios auríferos, tin h a d ire ito , no ú ltim o , a q u a tro datas, duas c o m o
d e s c o b rid o r e duas c o m o e xp lo ta d o r; em seguida, era co n ce dida , p o r m e io de
so rte io , u m a d ata a cada u m dos e xp lo ta d o re s q u e possuíssem pelo m e n o s doze
escravos, ou u m a superfície q u a d ra d a de 2 ,5 braças (5 ,5 0 m ) ao lado dos q u e t i ­
n h a m u m n ú m e ro in fe rio r de escravos. U m e x p lo ta d o r só p o d ia o b te r u m a nova
data depois de te r te rm in a d o a e xp lo ta çã o da prim eira; to da via, a q uele q u e p os­
suísse mais de d oze escravos p odia receber, se a inda restassem terras a serem re­
partid a , um a vez to d o s providos, u m a superfície de 2 ,5 braças para cada cabeça
de n e g ro excedente.
O g u a r d a -m o r m a n tin h a u m livro, ru b ric a d o pe lo s u p e rin te n d e n te , no
q u a l inscrevia to d o s os rios c o m a d a ta d e sua d e sco be rta , o dia d e sua re p a rti­
ção e m datas e superfícies de terras co m os n o m e s dos possuidores respectivos,
b e m c o m o os lim ite s e te rm o s apostos; redigia-se e m se g uida u m a to , q u e era
assinado pelo g u a r d a -m o r e p o r cada u m d os m in e ra d o re s q u e tivessem re ce b i­
d o u m a data.
Caso o p ro p rie tá rio de u m a d a ta n ã o tivesse co m e ç a d o a e xp lo ta çã o nos
q u a re n ta dias q u e se seg uiam à repartição, ela era confiscada e m b e ne fício da C o ­
roa, excete se pudesse fo rn e c e r a prova de u m im p e d im e n to p o r causa de d is tâ n ­
cia m u ito g ra n d e ou e m conse qü ê n cia d o m a u te m p o , o u p o r fa lta de víveres ou
de doença. Não p odia v e n d e r suas datas, sob pena de m u lta , salvo e m caso de
perda de seus escravos, depois de te r sido d e v id a m e n te a u to riz a d o pela s u p e rin ­
te n d e n te ; se, em seguida, quisesse o b te r a posse de um a nova data, era preciso
p rim e iro q u e provasse q u e tin h a o b tid o o u tro s escravos em n ú m e ro su ficie n te
para a e xplotação.
As datas da C oroa e aquelas confiscadas era m postas em leilões públicos
d u ra n te n ove dias; se, ao cabo desse te m p o , não fosse fe ita o fe r ta aceitável, o su ­
p e rin te n d e n te as fazia explotar, p o r co n ta d o Estado, p o r índios postos sob a d i­
reção de um m in e ra d o r de co nfiança.
Os e m p re g a d o s e oficiais reais não p o d ia m p os­
suir datas n e m te r q u a isq u e r interesses nas mesmas; recebiam e m o lu m e n to fixo ,
q u e era re tira d o d o p r o d u to dos d é cim o s pagos pelos m in e ra d o re s e n tre os quais
fo ra m re partidas as datas. Esse d é c im o co rre sp o n d ia , para cada data, à décim a
p a rte d o preço ao qual fo ra a trib u íd a a d ata da C oroa e, para as minas de su p er­
fície m enor, em p ro p o rç ã o ao n ú m e ro de braças quadradas. Os ve n c im e n to s de
cada um era m os seguintes:

S u p e rin te n d e n te 3 .5 0 0 cruzados (1 :4 0 0 $ 0 0 0 réis)


G u a rd a -m o r 2 .0 0 0 ( 800S000 }
G u a rd a -m e n o r 1 .0 0 0 { 400$000 )
M e ir in h o 506 ( 200S000 )
Escrevente 500 ( 200$000 )

A lei a n te rio rm e n te referida te rm in a v a co m u m a a u to riza çã o para q u e o


su p e rin te n d e n te pudesse su spender a execução dos a rtig o s q u e trouxessem p re ­
ju ízo ao e rá rio real e s u b m e te r ao rei os p o n to s que pudessem ser in tro d u z id o s
sob fo rm a de acréscimos. C o m o dava o d ire ito de ju risdiçã o o rd in á ria , civil e cri­
minal sobre to d a a extensão das minas, o s u p e rin te n d e n te era se m p re escolhido
e n tre os juristas, de m o d o que as questões de e xp lo ta çã o fo ra m , na m a io ria das
vezes, m al reguladas, co m g ra n d e prejuízo para os m ineradores.
Pouco depois da p ro m u lg a ç ã o desse re g im e apareceram a lg u ns acrésci­
mos e m q u a tr o C artas Régias, d e 17 de m a io de 1703, dirigida s a o d e s e m b a rg a ­
d o r José Vaz Pinto, s u p e rin te n d e n te das m inas de ouro.
Pela p rim eira carta era co n ce dida , a cada u m dos sócios d o descobridor,
u m a vez fe ita a escolha de sua se g un d a data, u m a superfície q u a d ra d a de 5 b ra ­
ças (11 m etros) de lado, sem prejuízo de seu d ire ito de e x p lo ta d o r; depois disso,
e antes de p ro ce d e r à d is trib u iç ã o das datas, era c o n c e d id o u m a d a ta ao su p e rin ­
te n d e n te e ao g u a rda -m o r.
Pela se g u n d a carta era p e rm itid o , ao su p e rin te n d e , e x p lo ta r as datas às
quais tin h a d ire ito c o n tin u a n d o , ao m e sm o te m p o , a perce b er os v e n c im e n to s f i ­
xados pe lo re g im e p recedente; a m esm a perm issão era co n ce dida aos guardas-
m ores e o u tro s oficiais das minas, mas seu e m o lu m e n to fix o era s u p rim id o e ces­
sava a c o n trib u iç ã o estabelecida nesse se n tid o, q u e era retirada dos m ineradores,
para cada data na repartição.
Pela terceira carta, os g u a rd a s-m o re s eram a u to riza d o s a nom ear, para os
s u b s titu ir nos p o n to s afastados, g u a rda s-m o re s s u b stitu to s, te n d o d ire ito às mes­
mas prerrogativas.
Pela quarta carta, era d ecretado, se g u n d o p ro p osta do su p e rin ten d e n te ,
que ao fazer d ire ta m e n te a explotação das datas que não tivessem alcançado um
lance aceitável, estas dessem prejuízo ao erário real, seriam dadas a m ineradores de
co nfiança, sob a co n d içã o de q u e a m e ta d e do o u ro extraído coubesse à Coroa.
A té 1721, o regim e das minas sofreu apenas m odificações sem im portância.

B A N D O DE 10 DE FEVEREIRO DE 1 7 1 4 D O G O V E R N A D O R D . BRÁZ B A LTH A ­


ZA R D A SILVEIRA. Os m in e ra d o re s era m a u to riz a d o s a c o rta r a m a d e ira necessá­
ria para seus tra b a lh o s nas p ro p rie d a d e s vizinhas, dadas a seus p ro p rie tá rio s por
carta de sesmaria, carta de in vestidura de u m a p o rçã o de terras incultas para a g ri­
cu ltu ra e criação, sob pena de u m a m u lta de 2 0 0 oitavas (7 1 7 gram as) de o u ro ,
se se opusessem a tal.
B A N D O DE 2 2 DE FEVEREIRO DE 1 7 1 4 D O G O V E R N A D O R D. BRÁZ B A LTH A ­
ZA R D A SILVEIRA. Q u e m q u e r q u e fizesse descobertas de minas não as podia e x­
p lo ta r c la n d e s tin a m e n te sob pena de u m a m u lta de 6 0 0 oitavas (2,151 gramas),
das quais u m te rço caberia ao d e n u n cia n te , e de dois anos de prisão na fo rta le za
da Barra dos Santos.

O R D E M R ÉG IA DE 12 DE JA N E IR O DE 1 7 2 0 . R ecom endava ao g o v e rn a d o r que


não alterasse o re g im e dos su p e rin te n d e n te s, g u a rda s-m o re s etc.

O R D E M R É G IA DE 2 4 DE FEVEREIRO DE 1 7 2 0 . M a n d a va repartir, pelo g u arda -


mor, as águas d o rios e n tre os m ineradores, co m recurso ao su p e rin te n d e n te , das
partes que se julg a sse m prejudicadas.
C h e g a m o s a u m a o rd e n a çã o d o g o v e rn a d o r q u e te m im p o rtâ n c ia pelo
f a to de tra ta r pela p rim e ira vez da e xp lo ra çã o das minas situadas nas m o n ta n h a s:

B A N D O DE 2 6 DE SE TE M B R O DE 1 7 21 D O G O V E R N A D O R , D. LO U R E N Ç O DE
A L M E ID A . Todos aqueles q u e quisessem a b rir minas nos flancos das m o n ta n h a s
e nos locais o n d e as datas não estavam distribuídas, seriam a u to riza do s, c o n d ic io ­
nand o -se q u e n e n h u m a galeria seria aberta alé m de 4 0 pa lm o s (8 ,8 0 m ) da vizi­
nha e, em caso de a b a n d o n o , deveria ser e n tu lh a d a para e vitar os desab a m e n to s,
sob pena de dois meses de prisão.
C o m o os tra b a lh o s de minas nas m o n ta n h a s to m a v a m um ce rto d e sen vo l­
v im e n to , lo g o fo i necessário in tro d u z ir um a re g u la m e n ta ç ã o especial para a ex­
p lo ta ç ã o dessas novas jazidas. É dessa época q u e d a ta m p ro va ve lm e n te , se g u n d o
Eschwege, as ALTERAÇÕES À LEI DE 1702, cuja data se ig n o ra 35.
Eis, em resumo, as principais modificações introduzidas por esse novo decreto:
Se um a jazida era d e scoberta nas m o n ta n h a s , procedia-se à distribuição,
c o m o de c o s tu m e :o d e sc o b rid o r recebia p rim e iro um a data , u m a segunda era re­
servada à Coroa, e a terceira cabia ao descobridor, co m promessa, se fizesse u m a
nova d e scoberta, de receber mais te rre n o , m e sm o que possuísse pouco s escravos,
para a n im a r os m in e ra d o re s a fa ze re m buscas. Se o d e sc o b rid o r fosse a u xilia d o
p o r vários c o m p a n h e iro s, cada u m dele recebia u m a data de 30 braças (6 6 m e ­
tros) de lado ou 9 0 0 braças quad ra d a s (4 .3 5 6 m e tro s quadra d o s).
Se os m in e rad o re s fossem o b rig a d o s a a b rir u m lo n g o canal para levar
m o n ta n h a acim a a água necessária à lavação das terras auríferas de sua e x p lo ta ­
ção, os g u a rda s-m o re s su b stitu to s deviam m e d ir to d o o te rre n o q u e reclam avam
para essa fin a lid a d e .
N o caso da d e scoberta de um a jazida te r sido fe ita em u m local p riva d o
de água, o d e s c o b rid o r devia d a r c o n h e c im e n to ao g u a rd a -m o r, q u e p rocedia a
u m a investigação, para saber se não haveria possibilidade de levar água. Se des­
cobrisse essa possibilidade, fazia a re p a rtiçã o e m datas; caso c o n trá rio , repartia o
te rre n o e n tre os m ineradores, s e g u n d o o m o d o de e xp lo ta çã o e m p re g a d o p o r
eles. Q u a n d o p ro c u ra v a m a tin g ir a ja zid a p o r galerias h o rizo n tais, tin h a m d ire ito
a 6 0 palm os (1 3 ,2 0 m ) de cada lado, à direita e à esquerda, em cim a e e m baixo,
para p o d e re m a b rir galerias transversais. A o s q u e fa zia m a e xp lo ta çã o p o r m e io
de poços, m e d ia m -se 6 0 p a lm o s em to d a a volta d o p o ç o t o m a d o c o m o centro;
o m e s m o se dava no caso daqueles q u e avançavam p o r galerias inclinadas, e,
q u a n d o a tin g ia m a ja zid a e q u e ria m e xp lo tá -la h o riz o n ta lm e n te , recebiam u m a
p a rte igual à dos prim eiros.
O g u a rd a -m o r devia fazer co m que o escrivão inscrevesse e m seu registro:
a data da re p a rtiçã o d o te rre n o , os atos de concessão ou cartas de datas, a loca­
lidade e os lim ites das concessões m arcadas nos q u a tro cantos p o r u m poste, e
p o r fim , a d istrib u iç ã o das águas.
As data s p e rte n c e n te s à C o ro a d e v ia m ser v e n d id a s p u b lic a m e n te a
q u e m pagasse.
O m in e rad o r, p o ssu id o r de u m a m ina, p o d ia vendê-la co m seus escravos,
depois de te r o b tid o a u to riza çã o d o g u a rd a -m o r ou d o su p e rin te n d e n te , Se, ao
c o n trá rio , tin h a e s g o ta d o c o m p le ta m e n te sua m ina e encontrasse, para o c u p a r
seus escravos, u m te rre n o co m possibilidade de e xp lo ta çã o co m a a juda da água
su p érflu a de u m vizinho, podia co n se g u ir q u e lhe fosse d a d o , pelo g u a rd a -m o r,
tal excesso de água e m e d in d o no te rre n o re q u isita d o u m a data de 30 braças (66
m etros) de lado, sob a co n d iç ã o de n ã o causar q u a lq u e r d a n o ao p ro p rie tá rio do
canal. Caso descobrisse u m a ja zid a rica, p odia associar-se co m este ú ltim o para
fa ze r a e xp lo ta çã o em c o m u m .
Os p ro p rie tá rio s de terras não tin h a m o d ire ito de im p e d ir os m in e rad o re s
de c o rta r em suas florestas as grandes m adeiras de q u e tin h a m necessidade para
sua exploração; mas se a lg u é m as cortasse so b o p re te x to de as e m p re g a r nas m i­
nas, era p u n id o de a co rd o co m as leis. A lé m d o mais, era p ro ib id o , so b pena de
m u lta , c o rta r m adeiras na vizin ha n ça das fo n te s a m enos de 5 0 0 p a lm o s (1 1 0 m e ­
tros) de distância, a fim de ser assegurada a conservação das águas.
Q u a n d o surgia u m a d isp u ta e n tre m ine rad o re s, o g u a rd a -m o r, a ju d a d o
p o r seu escrivão, devia fazer u m a investigação para d e cid ir a q u estão, e to d o s os
dois recebiam um a d ie ta (salário) p o r dia, q u e era paga pelas partes. Podia-se a p e ­
lar ao su p e rin te n d e n te , q u e p o r sua vez fazia um a nova investigação re ce b e n d o
p o r isso, b e m c o m o seu escrivão, as dietas respectivas, da p a rte dos interessados;
de sua decisão só se p o d ia recorrer aos trib u n a is superiores. Em co m p e n sa ção a
a u to riza çã o , co n ce d id a aos e m p re g a d o s e fu n c io n á rio s reais, para possuir e e x p lo ­
ta r minas, era retirada.
Depois desse n o v o re g u la m e n to , h o u ve apenas a lg u m a s orde na çõ e s que
tra z ia m diversas m odificaçõ e s, até q u e surgisse a lei de 1803, destin ad a a in s titu ir
um a nova o rg a n iza çã o da indústria das minas.

A O R D E M RÉG IA DE 17 DE D E ZE M B R O DE 1 7 3 4 re com endava não im p e d ir que


se fizessem novas descobertas nas terras incultas.
Em conseqüência d o g ra n d e n ú m e ro de g u a rda s-m o re s e escrivãos n o ­
meados, h ouve grandes abusos e m sua m a n e ira de receber os e m o lu m e n to s e
gastos de via g e m . Assim, para p ô r te rm o a isto, surgiu, n o c o m e ço de 1736, u m

B A N D O D O G O V E R N A D O R G O M E S FREIRE DE A N D R A D E , d e cla ra n d o que,


d o ra va n te , q u a n d o fizessem u m a investigação ou re p a rtiçã o de te rrenos, os g u a r­
das-m ores o u s u b s titu to s não p o d e ria m perce b er c o m o e m o lu m e n to s mais de 6
oitavas (21 gram as) de o u ro , seus escrivãos, 3 oitavas (1 0 ,5g). Receberiam p o r
seus gastos de d e slo ca m e n to , respe ctiva m e n te , apenas 3 e 2 oitavas (1 0 ,5 e 7
g ram as; p o r dia; além d o mais, se fizessem mais de u m a investigação p o r dia, no
m e sm o local, deviam c o n ta r apenas u m m e io dia para cada investigação, re p a r­
t in d o os custos de via g e m e n tre as mesmas. Para a inscrição e o registro de uma
carta de datas, era c o n c e d id o a o g u a rd a -m o r ou s u b s titu to e a seu escrivão, um a
sem i-oitava (1,8 g ) de o u ro , in d iv id u a lm e n te .
Esse m e sm o g o v e rn a d o r p u b lic o u p o u c o depois, co m a a u to riza çã o d o rei,
e sp era nd o q u e fosse estabe le cido u m n o vo regim e, u m B A N D O DE 13 DE M A IO
DE 1 7 3 6 , A D IC IO N A L A O R E G IM E N T O D O S SU P E R IN TE N D E N TE S E G U A R ­
D A S -M O R E S DA S M IN A S . Reduzia o n ú m e ro dos guarda s-m o re s su b stitu to s.
Eram co n cedidas cartas de datas para as águas, e de via m ser observadas para sua
re partição e seu registro, as regras aplicadas às terras m ineralizadas. Se u m m in e ­
ra d o r fazia u m p e d id o de te rre n o s ou de águas, o g u a r d a -m o r com eçava p o r ve ­
rifica r e m seu livro se já n ã o tin h a m sido co n ce dido s e, nesse caso, fazia a divisão
em datas s e g u n d o o n ú m e ro de escravos e o p ro c e d im e n to de e xp lo ta çã o d o re-
q u isita n te , m a rc a n d o os lim ites co m m arcos o u postes nos q u a tr o cantos. Q u a n ­
do se su p u n h a q u e o g u a r d a -m o r tivesse c o n c e d id o u m a exte nsã o excessiva de
te rrenos, fazia-se u m a a ve rig u a ção p o r á rb itro s escolhidos peio s u p e rin te n d e n te
e n tre os guardas s u b s titu to s vizinhos, a fim de re d u z ir de m o d o c o n v e n ie n te o n ú ­
m e ro de datas. Q u a n d o , p o r te r fe ito um a dada divisão, o g u a r d a -m o r ficava su­
je ito a u m a caução, o s u p e rin te n d e n te designava o u tro , de ofício.
Se u m e x p lo ta d o r tin h a u m excesso de água para seus tra b a lh o s, essa
q u a n tid a d e podia ser co n ce dida a u m o u tr o nas co n diçõ es observadas para as t e r ­
ras. Se as águas de u m a e xp lo ta çã o desapareciam d e vid o à a b e rtu ra de u m a m ina
na vizinhança, a u m a distância de 2 0 0 pa lm o s (4 4 m etros) de altu ra e 4 0 pa lm o s
(8 ,8 0 m ) de largura, elas tin h a m de ser repostas, e o m in e ra d o r n ovo só tin h a d i­
reito de usá-las para u m la va d o u ro de 7 pa lm o s (1 ,5 5 m ) de c o m p rim e n to p o r 4
pa lm o s (0 ,9 0 m ) de largura. C o m o as águas dos d istrito s m inerais tin h a m de ser
em p re g a d a s de p referência para a e xp lo ta çã o das minas, só p o d ia m ser utilizadas
para u m a indústria ou para a a g ric u ltu ra o n d e não houvesse e xp lo ta çã o em a tiv i­
d a de . Se surgisse u m c o n flito ou u m a co n testa çã o , o g u a rd a -m o r estava a u to r i­
za d o a se o p o r aos tra b a lh o s até a decisão da a u to rid a d e superior, q u e punia
q u a lq u e r co n tra ve nçã o .
C o m a fin a lid a d e de im p e d ir os m in e rad o re s de a b rir um a m ina sim ples­
m e n te para vender, sem in te n ç ã o de prosseguir e m sua e xp lo taçã o , declarava-se
q u e se o m in e ra d o r in te rro m pe sse seus tra b a lh o s antes de te r a b e rto u m p oço ou
um a galeria de pelo m e n o s 3 ,3 0 m e de nele te r o c u p a d o um escravo d u ra n te 4 0
dias consecutivos, perdia t o d o d ire ito sobre a m ina, sem o u tra fo rm a lid a d e ; em
caso c o n trá rio , a perda só p odia ser p ro n u n cia d a após n o tific a ç ã o e sentença.
A respeito das m adeiras e florestas, havia diversas proibições. Nas in d ú s ­
trias, não era p e rm itid o q u e im a r as m adeiras que pudessem servir para fa b rica r
bateias ou q u e m edissem 10 p a lm o s (2 ,2 0 m ) de c ircu n fe rê n cia . Todo p ro p rie tá ­
rio de te rra q u e fizesse d e s m a ta m e n to em florestas virge n s tin h a de reservar um a
faixa de 2 0 0 p a lm o s (4 4 m e tro s) de la rg u ra em cada la d o , q u e n ã o p o d ia ser a b a ­
tid a sem a u to riz a ç ã o d o g o v e rn a d o r, sob pena de te r esta faixa co n fisca d a em
b e n e fíc io d o v iz in h o e de te r de p a g a r u m a m u lta de 50 oitavas (1 7 9 gram as) ao
d e n u n c ia n te ; e se os dois viz in ho s estivessem em c o n tra v e n ç ã o , p a g a va m uma
m u lta d u p la . O p ro p rie tá rio ou co n ce ssio n á rio de te rre n o s co m m atas tin h a de
conservar, alé m das faixas prescritas, a dé cim a p a rte de suas m atas, da q u al uma
m e ta d e nas m a rg e n s d o rios q u e aí passassem, e n ã o p o d ia im p e d ir os m in e ra ­
dores das e xp lo ta çõ e s vizinhas de c o rta re m as m a d e ira s necessárias a seus tr a b a ­
lhos, t u d o so b as m esm as penas. A lé m d o mais, era p r o ib id o a p ro pria r-se dos
te rre n o s, sem o b te r a concessão d o g o ve rn a d o r, sob p e na d.e u m a m u lta de 2 0 0
oitavas (717 gramas).
Essas diversas declarações, destinadas a p re e nche r p ro v is o ria m e n te n u m e ­
rosas lacunas n o ta d a s na legislação das minas, serviram a inda mais para a u m e n ­
ta r a co n fu sã o . Foi ainda p io r q u a n d o apareceu um a CARTA RÉGIA DE 2 9 DE FE­
VEREIRO DE 1752, q u e concedia ao m in e ra d o r q u e possuísse p e lo m e n o s 3 0 es­
cravos o p rivilé g io de não p o d e r ser p e n h o ra d o p o r suas dívidas nem te r seus es­
cravos confiscados. Essa lei suscitou m u ita s injustiças e a ca bo u p o r a rru in a r o cré­
d ito dos m ineradores.
C h e g a m o s assim a o fim d o século, sem q u e te n h a m sido to m a d a s m e d i­
das ju d icio sa s co m vista a a p e rfe iç o a r os tra b a lh o s das minas, apesar da d im in u i­
ção crescente da p ro d u ç ã o d o o u ro . Foi s o m e n te após a v o lta de A n d ra d e e de
C am ara, enviados em missão a M inas, q u e estes, te n d o re c o n h e c id o q u e a d e ca ­
dência das m ina s era de vid a a u m a m á legislação e à ig n o râ n c ia d os m in e r a d o ­
res, fo ra m e n ca rre g a d o s de la n ça r as bases de u m a nova lei, p ro m u lg a d a e m se­
g u id a sob o títu lo de A lv a rá de 13 d e m a io d e 1803, tra ta da a d m in is tra ç ã o das
m in a s de o u ro e de d ia m a n te s d o Brasil, de q u e in d ica re m o s as passagens mais
interessantes.
A LV A R Á DE 13 DE M A IO DE 1 8 0 3 , T R A T A N D O D A A D M IN IS T R A Ç Ã O DA S
M IN A S DE O U R O E DE D IA M A N T E S D O BRASIL ? 7 Resum irem os desta lei a p e ­
nas os a rtig o s q u e se referem à e xp lo ta çã o das minas de o u ro .
A rt. 1o. D o e s ta b e le c im e n to da ju n ta a d m in is tra tiv a das m in a s e casas da
m o e d a em M in a s G erais. Era criada na ca pitania de M ina s Gerais um a ju n ta a d ­
m inistra tiva real de minas e casa da m o e d a , co m p o s ta pe lo G ove rn a do r, c o m o
presidente, p o r u m in te n d e n te g e ra l das minas, pe lo O u v id o r g erai de Vila Rica
c o m o ju iz co n se rva d o r d os m etais, pelo P rovedor da casa da m oe d a , p o r dois d e ­
p u ta d o s especialistas em m ine ralog ia , p o r u m ou dois e n ge n h e iro s de m inas e p o r
dois m in e ra d o re s escolhidos e n tre os mais hábeis. D eviam reunir-se to d o s os anos
para exam e dos negócios: p ronunciar-se sobre os recursos d evidos à apelaçã o so ­
bre as decisões to m a d a s e sentenças d o in te n d e n te geral e d o ju iz conservador,
estabelecer as tabelas da situação e co n ô m ica das minas, de sua p ro d u ç ã o e d e ­
pendências, e da situação das co n tas da a d m in istração .
Dizia, além d o mais, que to d o s os favores ou privilégios co n ce d id o s até e n ­
tã o aos m in e ra d o re s era m m a n tid o s, salvo anulaçã o in tro d u z id a p o r essa lei.
A rt. 6 o. C o m o deve s e r fe ita a d ivisão das te rra s p a ra a e xp lo ta çã o das m i­
nas e das d a ta s q u e o in te n d e n te deverá re p a rtir. Era especificado q u e na repar­
tiçã o dos te rre n o s de minas, devia ser dada p referência aos h a bita n te s d o d istrito
o u dos d istrito s vizinhos, e e n tre estes, para as partes im p o rta n te s , às co m p a n h ia s
o u sociedades ou, e m sua ausência, aos m in e rad o re s hábeis q u e possuíssem o
m a io r n ú m e ro de escravos. As pessoas ausentes n ã o p o d ia m to m a r p a rte na re­
p a rtiçã o p o r procu ra çã o , c o m o haviam to le ra d o ce rto s guardas-m ores.
Todo o te rre n o devia ser d istrib u íd o , sem q u a lq u e r reserva para a C oroa e
a cada um era co n ce d id a um a data de 15 braças (33 m etros) de la d o ou 2 2 5 b ra ­
ças q u a d ra d a s (1 .0 8 9 m e tro s q u ad ra d o s) p o r escravo q u e possuísse. No m o m e n ­
t o da repartição das terras devia estar presente o in te n d e n te o u seu re p re se n tan ­
te. Em u m registro especial, assinado p o r ele, era m inscritos: o n o m e d o m in e ra ­
d o r o u da c o m p a n h ia aos quais era m concedidas datas, a extensão do te rre n o
co m seus limites, o n ú m e ro de escravos destinados aos tra b a lh os, as co n dições a
q u e era su b m e tid a a e xplotação. Um a vez d e lim ita d o o te rre n o , o in te n d e n te m a n ­
dava um m a p a das datas ao concessionário, q u e Im e d ia ta m e n te to m a v a posse.
Para c o m p e n sa r a d im in u iç ã o na e n tra d a d o q u in to , em conseqüência de
sua re d u çã o ao d é cim o , t o d o concessionário q u e já possuísse u m a e xp lo ta çã o ou
recebia u m te rre n o de m ineração, devia p a g a r ao rei, n o fim de cada trim e stre ,
u m a renda de 3 0 0 réis p o r data. Se atrasasse esse p a g a m e n to , recebia a m u lta de
igua! va lo r para cada trim e s tre passado e, ao te rm o de u m ano, sua m ina era c o n ­
fiscada e cedida a q u e m a pedisse. Em caso de suspensão d o tra b a lh o p o r m o t i­
vo aceito p e lo in te n d e n te geral, o t r ib u t o era re d u zid a para 100 réis.
Um a e xp lo ta çã o não p o d ia ser ve n d id a sem os escravos ligados à mesm a,
exce to q u a n d o o c o m p ra d o r tivesse um n ú m e ro igual de escravos d e stin ad o s ao
tra b a lh o . O c o n tra to de venda era re g istra d o co m o n o m e d o c o m p ra d o r n o livro
de datas, o q u e p e rm itia ve rifica r se não havia concessionários q u e a d q u iria m d a ­
ta s s im p le sm e n te para as vender; estes, na te rce ira cessão, era m privados d o d i­
re ito de o b te r terrenos. Todavia, q u e m tivesse d e s c o b e rto um a jazida estava livre
para d isp o r de suas datas de d e sc o b rid o r c o m o b e m entendesse, e p o d ia vendê-
las, à v o n ta d e , sem os escravos q u e a f tra b a lh a va m .
U m a vez te rm in a d a a re p a rtiçã o das datas, o concessionário tin h a de c o ­
m eçar os tra b a lh o s d e n tro de três meses, sob pena de prescrição, e a concessão
po dia, desde e n tã o , ser tra n sfe rid a pelo in te n d e n te a q u e m q u e r q u e a reclam as­
se e com provasse o n ú m e ro de escravos e x ig id o para a e xp lo taçã o . Q u a n d o o
concessionário tin h a co m e ç a d o os tra b a lh o s, não po dia in te rro m p ê -lo s sem se
ju s tific a r ao in te n d e n te , q u e dava p a rte à a d m in istraç ão : além das causas n a tu ­
rais, c o m o in u n d a ç ã o e e p id e m ia , era a d m itid a a ausência c o m p le ta de cascalho
e a pobreza n o to ria m e n te reco n h ecida da m ina, c o m o m o tiv o su ficie n te de a b a n ­
d o n o das datas concedidas, co m d ire ito de a d q u irir outras.
A rt. 7°. Das co m p a n h ia s de m ina s e sua o rg a n iza çã o . Os te rre n o s a u rífe ­
ros que exigiam tra b a lh o s im p o rta n te s para sua e xp lo taçã o , c o m o as jazidas das
m o n ta n h a s , eram co n ce d id o s pe lo in te n d e n te , de preferência, às com p a n hias,
que recebiam para tal fim um m a p a das datas, q u e trazia os lim ites d o te rre n o
c o n c e d id o . Um a c o m p a n h ia era fo rm a d a co m 128 ações, duas delas c o m p le ta ­
m e n te liberadas, c a b e n d o u m a ao e rá rio real, o u tra à caixa de e c o n o m ia das m i­
nas e fu n d iç õ e s. O n ú m e ro de escravos e m p re g a d o s não devia ser m e n o r que
2 5 2 , n e m s u p e rio r a 1 .00 8 , de m o d o q u e cada ação representava o va lo r de 2 a
8 escravos. As diversas despesas era m dividas e n tre as ações, salvo as duas libe­
radas; os lucros era m d istribu íd o s ig u a lm e n te e n tre to da s, mas era retirada um a
p a rte d o q u e cabia a cada um a das 126 ações dos associados, e n tre g u e , à caixa
da c o m p a n h ia para c o b rir despesas e x tra o rd in á ria s . Cada c o m p a n h ia devia te r u m
d ire to r-m ín erad o r, e n ca rre g a d o da e xplotação, e u m c o n fe re n te e n ca rre g a d o da
adm in istração ; estes dois e m p re g a d o s p ro p o s to s pela m a io ria dos acionistas t i ­
n h a m de ser a p ro va do s pela a d m in istra ç ã o das minas, q u e estava a u to riz a d a a t o ­
m a r to d a s as disposições necessárias para o b o m a n d a m e n to dos tra b a lh o s e para
a p ro sp e rid a de das co m p a n hias.
A rt. 9o. Dos m o d o s de e s tim u la r novas d e sco b e rta s e da u tiliz a ç ã o das
á g u a s e flo re sta s. Os in te n d e n te s tin h a m de p ro c u ra r o rg a n iz a r g ru p o s o u asso­
ciações de pessoas co m vista a novas explo taçõ e s e lhes co n ce d e r to d a s as fa c ili­
dades, d e sig n a n d o as regiões q u e esperavam explotar, o n ú m e ro de escravos e de
pessoas e, q u a n d o de seu re to rn o , de d arem co n ta de suas buscas e de e n tre g a ­
rem o o u ro extraído. Q u a n d o de um a d e scoberta, a d istrib u iç ã o das terras se fa ­
zia s e g u n d o o m o d o estabelecido n o a rtig o 6 o, e era co n ce d id a ao d e s c o b rid o r
u m a data q u a d ra d a de 30 braças de lado, c o m o recom pensa, sem prejuízo d a q u e ­
las a q u e p o d ia p re te n d e r c o m o explorador, s e g u n d o o n ú m e ro de escravos de
q ue d isp u n h a . Se a d e scoberta fosse fe ita p o r um a b a nd e ira o u associação, cada
m e m b r o tin h a d ire ito a u m a recom pensa igual, avaliada pe lo in te n d e n te e pelos
especialistas, s e g u n d o o serviço prestado.
Q u a n d o da p a rtilh a de u m te rre n o , o in te n d e n te tin h a de p ro vid e n cia r a
água que p o d ia servir aos tra b a lh o s, e fazia co m que chegasse aos lugares às cus­
tas dos concessionários q u e as usassem. Se estivesse e m um a p ro p rie d a d e cedida
a co lo n o s e n ã o servisse para a c io n a r m á q u in a s o u m o in h o s, p o d ia ser utilizada
nas minas.
Para im p e d ir a d e stru içã o das florestas, declarava-se q u e to d o s os terrenos
co m matas, n o p la n o e sem p ro p rie tá rio , seriam d o ra va n te reservados para que
seus p ro d u to s fossem utilizad o s nos tra b a lh o s das minas, Q u a n to às florestas p e r­
te n c e n te s a particulares, q u a n d o houvesse necessidade de re tira r m a d e ira para
q u e im a ou carvão, os p ro p rie tá rio s tin h a m de fo rn e cê -la s pelo preço estabelecido
pe lo in te n d e n te de a c o rd o co m a a d m in is tra ç ã o d o erário. A a d m in is tra ç ã o das
m inas e, em sua ausência, os g o vern ad o re s, eram responsáveis pela inspeção e
conservação das m atas e florestas.
Todas as disputas e n tre os m in e rad o re s a respeito das terras m ineralizadas,
águas e florestas, era m ju lg a d a s pe lo in te n d e n te ou seu s u b s titu to , co m recurso
a p re se n ta d o à a d m in is tra ç ã o das m inas, q u e as ju lg a va , e m ú ltim a instância.
Já s a b e m o s q u e essa lei p e rm a n e c e u , p o r assim dizer, n o e s ta d o de le­
tra m o r ta . C o n tin h a boas coisas e m te o ria , m as n ã o c o m b in a v a b e m c o m as
c o n d iç õ e s da re g iã o . A lé m d o mais, o g o v e r n o n ã o t in h a h o m e n s e sp e c ia liza ­
d os n o a s s u n to e n ã o possuía o d in h e iro necessário para o rg a n iz a r a a d m in is ­
tra ç ã o das m inas.
Só te m o s ainda de registrar a lg u m a s leis secundárias para a b o rd a r aquela
q u e se refere às Sociedades de m in a s.38

A LV A R Á DE 1o DE O U T U B R O DE 1 8 1 1 . Recom endava a criação de co m p a n hias


para um a e xp lo ra çã o re g u la r das minas, co m a ajuda de m á q u in a s p róprias para
esta indústria.

A LV A R Á DE 17 DE N O V E M B R O DE 1 8 1 3 . Estendia a to d o s os m in e rad o re s o p ri­


vilé g io co n ce d id o , pe lo d e c re to de 19 de fe ve re iro d e 1 7 5 2 , àqueles q u e possuís­
sem 30 escravos, pe lo menos.

CARTA R É G IA DE 4 DE D E ZE M B R O DE 1 8 1 6 A O G O V E R N A D O R DE M IN A S ,
D. M A N U E L DE P O R TU G A L E C A STRO . Enu ncíava as m e didas a serem t o m a ­
das a respeito das datas m inerais e da c o m p ra d o o u ro e xtra íd o das minas. Um
a rtig o m e n cio n a va que a d istrib u iç ã o dos te rre n o s auríferos tin h a de ser feita a t o ­
dos aqueles q u e os reclam assem , dand o -se a cada u m , livre o u escravo, u m a d ata
q u a d ra d a de 1 5 braças (33 m etros) de lado.
Enfim , pelos conselhos re p e tid o s d o barã o vo n Eschwege, e n via d o a M i­
nas Gerais para e xa m in a r o e stado das minas, o g o v e rn o d ecidiu se ocupar, de
m o d o m e n o s p la tô n ic o , co m a criação de C o m p a n h ia s de m inas e d irig iu , nesse
se n tid o, u m a Carfa Régia de 12 de a g o s to de 1 8 17 a o G o v e rn a d o r D. M a n u e l de
P o rtu g a l e Castro, a u to riz a n d o a fo rm a ç ã o de sociedades p o r ações para a e x p lo ­
tação das jazidas auríferas, e sta b e le ce n d o os e sta tu to s q u e deviam ser aplicados.
Esses e sta tu to s, q u e fo ra m fe ito s p o r von Eschwege, a p a re n te m e n te sofre­
ram d e po is várias m odificaçõ e s. Seu re su m o é a p re se n ta d o a seguir.
2 . E s ta tu to s das S o c ie d a d e s d e M in a s 39

As Sociedades só p o d ia m ser orga niza da s co m a a u to riza çã o d o G o v e rn a ­


dor. Na espera da criação de u m C o n se lh o de a d m in istra ç ã o , c o m o o rd e na va o A l ­
vará de 1803, um in sp e to r geral das m inas de to da s as Sociedades, n o m e a d o pelo
rei, tin h a o c o n tro le de suas e xp lotações e p odia se fazer assistir p o r u m su b sti­
tu to , em cada um a das mesmas. O f u n d o social era f o r m a d o p o r ações co m va ­
lo r u n itá rio de 4 0 0 5 0 0 0 e m d in h e iro ou p o r 3 escravos jovens e de b o m físico,
co m idade e n tre 16 e 2 6 anos, aceitos pelo in sp e to r geral; cada sociedade devia
c o m p re e n d e r u m n ú m e ro m ín im o de 23 ações e de 128, no m á xim o , s e g u n d o a
im p o rtâ n c ia da jazida, e não p o d ia te r mais que 1008 escravos, c o m o dizia o A l ­
vará de 1803.
Os terre n o s auríferos desco be rto s no f u t u r o deviam ser de p re fe rê ncia
co n ce d id o s às sociedades; ta m b é m era p ro ib id o ao g u a rd a -m o r fa ze r a divisão
dos terre n o s e das águas sem avisar p re via m e n te o inspetor, que exam inava se ha­
via co n d iç ã o de o rg a n iz a r um a sociedade e, nesse caso, isto devia ser fe ito em
seis meses. A o cabo deste te m p o , o g u a rd a -m o r p odia d ivid ir os te rre n o s s e g u n ­
d o o sistema h a b itu a l.
Q u a n d o o in sp e to r houvesse re co n h e cid o a necessidade de e x p lo ta r um a
m ina p o r u m a Sociedade, o g u a r d a -m o r devia p ro c e d e r à d e m a rca çã o dos te rre ­
nos e registrar o m a p a de datas co rre sp o n d e n te ; mas se passados seis meses a So­
ciedade não tivesse c o m e ç a d o os tra b a lh o s, a concessão era declarada caduca, e
o te rre n o po dia ser d iv id id o e n tre as pessoas que o reclamassem, s e g u n d o as re­
gras estabelecidas no a rtig o 6 o d o A lvará de 1803.
O d e s c o b rid o r de u m a ja zid a m ineral, co n ce d id a a u m a Sociedade, devia
receber c o m o recom pensa os benefícios c o rre sp o n d e n te s ao va lo r de um a ação.
Se te rre n o s m ineralizados, suscetíveis de serem e xp lo ta d o s p o r u m a Socie­
dade, fossem p ro p rie d a d e de pessoas q u e os deixavam no a b a n d o n o , o g o v e rn a ­
d o r os in tim ava a abrir, d e n tro de seis meses, a e xp lo ta çã o re g u la r dos mesmos,
sob pena de pe rd erem os dire ito s em b e ne fício da Sociedade, à qual era tra n s m i­
tid a a carta de datas co m a declaração das águas. Eram co n ce d id o s ao a n tig o p ro ­
p rie tá rio os benefícios c o rre sp o n d e n te s a 1/3, 2/3 o u u m a ação, s e g u n d o a riq u e ­
za e a extensão dos terrenos. Todavia, se esses te rre n o s tivessem sido a d q u irid o s
p o r co m p ra , o u p o r herança, ou c o m o p rê m io de a lg u m serviço, neste caso eram
avaliados p o r u m especialista e c o m p ra d o s p o r seu valor, ou e n tã o o p ro p rie tá rio
e n tra va na sociedade c o m seus te rre n o s c o m o p a rticip a çã o , sem p e rd e r c o m isto
seus dire ito s de p ro p rie tá rio em caso de liquidação.
Deviam ser reservados para o erário real os benefícios c o rre sp o n d e n te s ao
va lo r de u m a ou duas ações p o r sociedade fo rm a d a p o r u m n ú m e ro de m e n o s ou
de mais de 6 4 ações, a fim de c o m p e n s a r os sacrifícios fe ito s pelo rei em b e n e fí­
cio dessas sociedades, c o m o a vin d a de m e stres-m in e ra d o re s aiemães destinados
a p ro p a g a r os m é to d o s de e xp lo ta çã o das minas.
0 in sp e to r geral era e n ca rre g a d o de o rg a n iz a r os serviços, de d irig ir os t r a ­
balhos e da co n stru çã o das usinas e m á q u in a s necessárias. Cada sociedade tin h a
um a a d m in is tra ç ã o separada, c o m p re e n d e n d o o in s p e to r geral, u m te so u re iro -p a -
g a d o r e u m o u vários d iretores de tra b a lh o s, s e g u n d o a im p o rtâ n c ia das minas: o
te so ureiro era n o m e a d o p o r u m a com issão de associados, pela m a io ria dos votos,
e os dire to re s era m escolhidos e n o m e a d o s pe lo in s p e to r geral, salvo a provação
d o g o vern ad o r. As mesm as fo rm a lid a d e s eram necessárias para os destituir, em
caso de m aus serviços. Os supervisores e co n tra m e stre s era m de escolha d o ins­
petor, d o te so u re iro e d o diretor, b e m c o m o o guarda -livro s e n ca rre g a d o das es­
crituras d o tesoureiro.
0 cofre d e s tin a d o a receber os fu n d o s da sociedade era co lo c a d o sob a
responsabilidade d o te so ureiro , que tin h a u m a chave, b e m c o m o o in s p e to r e o
d ire to r mais a n tig o . O te so u re iro tin h a de e n tre g a r a cada sócio u m recibo d o d i­
n h eiro ou dos escravos postos p o r ele na sociedade, a fim de q u e pudesse retirar
os títu lo s das ações co rre sp o n d e n te s, assinados pelos três a d m in istrad o re s.
U m a vez entre gu e s os fu n d o s e co m o to ta l de escravos, os a d m in is tra d o ­
res n o m e a d o s e n tra v a m em a tuação. Se viessem a fa lta r alguns escravos, p ro v i­
denciava-se sua su b stitu içã o , retiran d o -se a som a necessária do f u n d o de reserva
e, para não c o m p ro m e te r o a n d a m e n to dos tra b a lh o s, a lugavam -se diaristas até
q u e essa c o m p ra fosse feita. No caso de m o rre r a m a io ria dos escravos e de os
fu n d o s serem insuficientes para os substituir, e os sócios se recusassem a fazer
a d ia n ta m e n to s para esse fim , procedia-se à dissolução da sociedade, pela in te r­
venção d o g o vern ad o r. O m e sm o se dava se o in s p e to r geral reconhecesse q u e as
despesas de e xp lo ta çã o eram superiores à p ro d u ç ã o . Então tu d o era v e n d id o em
hasta p ú b lica e o p r o d u to era d iv id id o e n tre os acionistas; q u a n to ao te rre n o , era
a b a n d o n a d o , a m e n o s q u e coubesse de d ire ito a seu p rim e iro p ro p rie tá rio .
Se o in s p e to r geral julgasse necessário d a r u m m a io r d e s e n v o lv im e n to aos
tra b a lh o s e os fu n d o s da sociedade fossem consid e ra do s Insuficientes, fazia-se
u m a pelo aos acionistas, a fim de e fe tu a re m u m novo in ve stim e n to , o u e n tâ o se
criavam novas ações até se c o m p le ta r a som a desejada, se n d o seu p re ço de e m is­
são fix a d o pelos a d m in istra d o re s, para q u e pudessem u s u fru ir as mesm as v a n ta ­
gens q u e as antigas.
Um a vez fo rm a d a a sociedade, os acionistas não p o d ia m retirar seu d in h e i­
ro o u seus escravos, mas era m livres para tra n s fe rir suas ações para terceiros, com
a co n d iç ã o de in fo rm a re m os a d m in istrad o re s.
N o fim de cada ano, era fe ito u m bala nço d o e sta d o dos fu n d o s da socie­
dade, a f im de q u e os a d m in istra d o re s pudessem fix a r os divid e n do s; u m a cópia
era e n tre g u e ao G ove rn a do r, que a re m etia ao M in is tro e Secretário de Estado dos
Negócios d o Reino, a p re s e n ta n d o -lh e diversas p ropostas co m vista ao progresso
da sociedade.
Os negócios referentes aos tra b a lh o s de e xp lo ta çã o das Sociedades d e ­
via m ser resolvidos ra p id a m e n te pelos su p e rin te n d e n te s das minas, c o m o juizes
a u d ito re s dessas sociedades.
O G o v e rn a d o r era e n c a rre g a d o de cu id a r da execução desses e sta tu to s e
de levantar to d a s as dúvidas q u e pudessem se apresentar.
V on Eschwege fo i n o m e a d o in s p e to r geral. E n co n tro u , desde o prin cíp io ,
gra n de s d ificu ld a d e s para fo r m a r u m a p e q u e n a c o m p a n h ia de minas, e fo i co m
m u ito cu sto q u e co n se g u iu re u n ir 3 0 acionistas. Resolveu, de início, estabelecer
seu c e n tro de e xp lo ta çã o em m e io a u m a das m inas a b a n d o n a d a s das m o n ta n h a s
de Vila Rica, a f im de g e rir o p e q u e n o capital p o s to à sua disposição e de poder,
ao m e sm o te m p o , fa z e r c o m q u e os m in e ra d o re s das cercanias tirassem p ro ve ito
de suas experiências. In fe lizm e n te , c o m o a nova (ei não a n u lo u as a nteriores,
cria ra m -lh e tais chicanas, q u e se viu o b rig a d o a in te rro m p e r os tra b a lh o s. Ten­
to u levá-los para o u tro s p o n to s vizinhos, mas, t e n d o e n c o n tra d o os m esm os e m ­
p ecilhos, d e cid iu a p ro v e ita r a venda e m leilão de u m a m in a consid e ra da rica, p e r­
t o da vila de Passagem, a u m a hora de Vila Rica. Foi c o m p ra d a co m 2 0 escravos,
te rre n o s e casa.
Foi alí q u e estabeleceu d e fin itiv a m e n te a sede de sua c o m p a n h ia e co n s ­
tru iu u m e n g e n h o de 9 pilões co m mesas de lavação. Teve a satisfação de fica r
sabendo, d e po is de re to rn a r à A le m a n h a , q u a n d o da revo lu çã o n o Brasil, que
essa c o m p a n h ia tin h a p ro s p e ra d o a p o n to de p o d e r re e m b o lsa r seu capital a o fim
de a lg u ns a n o s.40
Essa lei sobre as Sociedades de minas encerra as diversas fases da legisla­
ção estabelecida pelos po rtu gu e se s para a e xp lo taçã o das jazidas auríferas de M i­
nas Gerais. Resulta de tu d o o q u e precede que a indústria das m inas fo i, p o r assim
dizer, re g u la m e n ta d a u n ica m e n te , d u ra n te t o d o o te m p o da d o m in a ç ã o p o rtu g u e ­
sa, pelo R e g im en to de 19 de abril de 1702, c o m suas alterações posteriores.
C h e g a m o s ag ora ao p e río d o m o d e rn o , q u e com eça co m a in d e pe n d ên cia,
e que e stu d a m o s a seguir.
SEG U N D A PARTE
EXPLOTAÇÕES M ODERNAS
----------------
M IN A S DE O U R O E C O M P A N H IA S DE M INAS

1. A p re s e n ta ç ã o g e ra l

Pouco antes da revo lu çã o q u e levou à in d e p e n d ê n cia d o Brasil, em 1822,


a indústria das minas de o u ro tin h a e n tr a d o em um a nova fase, co m a fo rm a ç ã o
da p e qu e n a c o m p a n h ia o rg a n iza d a p o r vo n Eschwege, ch a m a d a S ociedade M in e -
ra ió g ic a da Passagem, co m a fin a lid a d e de e x p lo ta r a jazida de Passagem, p e rto
de O u ro Preto. C o m o a nova o rd e m de coisas não tin h a tra z id o q u a lq u e r m o d if i­
cação para o re g im e das minas, vários a n tig o s e xp lo ta d o re s c o n tin u a ra m a tra b a ­
lhar, à sua m aneira, as m inas q u e possuíam , de pai para filh o , c o m o a inda h o je se
e n c o n tra m exem plos. Graças às facilidades co n cedidas p o u c o depois pelo n o vo
G o ve rn o , para a o rg a n iz a ç ã o das sociedades estrangeiras, várias jazidas im p o r ta n ­
tes co m e ça ra m , a p a rtir de e n tã o , a ser e xp lo tad a s p o r co m p a n hias.
R eunim os no Tabela 1 (ao fin a l do livro) os n o m e s das principais jazidas a u ­
ríferas de M in a s Gerais, classificando-as s e g u n d o a n a tu reza de seu m in é rio e in ­
d ic a n d o seus p ro p rie tá rio s atuais. C o m o a m a io ria dessas jazidas se e n c o n tra si­
tu a d a em u m ce rto raio em t o r n o de O u ro Preto, o m apa da Figura 2 3 p e rm ite vi-
sualizarsua posição e os meios de acesso, sabendo-se que se p o d e vir d o Rio de
Janeiro pela Estrada de Ferro C entral (antiga estrada de fe rro D o m Pedro II), que
vai até Santa Luzia e te m em S. Julião (estação de M ig u e l B urnier) u m a b ifu rca çã o
para O u ro Preto (do Rio de Janeiro a S. Julião, '500 q u ilô m e tro s ; de S, Julião a
O u ro Preto, 4 0 q u ilô m e tro s ), o u pela Estrada de Ferro Leop o ld in a , q u e vai até
Saúde-(do Rio de Janeiro a Saúde, 5 5 2 q u ilô m e tro s).
As diversas jazidas q u e fo ra m exp lo tad a s p o r co m p a n hias, de 1822 até
hoje, se e n c o n tra m a g ru pa d a s em t o r n o de O u ro Preto e estão, c o n s e q ü e n te m e n ­
te, inscritas n o m apa. C o m o são as q u e a p re se n ta m m a io r interesse, d a rem os al­
gu ns detalhes sobre os tra b a lh o s execu ta d o s nas mesmas, passando b re ve m e n te
p o r aquelas ainda em e xplotação, u m a das quais será o b je to de e s tu d o especial
na Terceira Parte.
Fig. 23 - M apa das principais jazidas auríferas existentes nas proxim idades de O uro Preto

163
2. Im p e ria l B ra z ilia n M in in g A s s o c ia tio n (1 8 2 4 )

A p rim e ira c o m p a n h ia de m inas estrangeira fo i o rg a n iza d a p o r um inglês,


E dw ard O x e n fo rd , q u e m o rara e m Vila Rica. Q u a n d o da fe b re de especulação com
minas, q u e o co rre u na Inglaterra em t o r n o de 1823, resolveu valer-se de seu c o ­
n h e c im e n to das jazidas auríferas de O u ro Preto e obte ve , para este fim , p o r d e ­
cre to d o g o v e rn o im perial, a u to riza çã o para fa ze r tra b a lh o s de m inas no Brasil.
Isso lhe p e rm itiu o rg a n iz a r em Londres, em 1824, u m a c o m p a n h ia , co m capital
de 3 5 0 .0 0 0 libras esterlinas, re p re se n tad o p o r 10.0QQ ações de 3 5 libras e ste rli­
nas cada um a, e que to m o u
O n o m e Im p e ria l B ra zilia n M in in g A sso cia tio n . V o lto u ao Brasil co m o ca­
p itã o de m ina Treg o n in g, en carre g ad o , pela nova c o m p a n h ia , de e x a m in a r minas
de o u ro e de realizar sua co m p ra , se fosse o caso.
Este ú ltim o a d q u iriu , p o r co n ta da c o m p a n h ia , a u m preço elevado, a p ro ­
p rie d a de das m inas de G o n g o 5oco, p e rto de Caeté, de Cata Preta, p e rto d o Infi-
cio n a d o , e de A n tô n io P ereira, p e rto de O u ro Preto, bem c o m o u m a p a rte das t e r ­
ras a u rífe ra s da Serra d o S o co rro , na vizinhança d o G o n g o . Eis, s e g u n d o von Es­
c h w e g e , os preços de c o m p ra dessas diversas m ina s41 :

M in a de G o n g o Soco 7 3 .9 1 6 libras esterlinas


M in a de C ata Preta 5 .5 8 4
M in a de A n t ô n io Pereira 2 .1 0 0
Terras auríferas da Serra d o Socorro 2 .1 5 8

Total 8 2 .7 5 8 libras esterlinas

De to d a s essas minas, a mais im p o r ta n te era a d o G o n g o Soco, o n d e des­


de m eados d o século a n te rio r se explotava u m a jazida de ja c u tin g a aurífera c o n ­
siderada de g ra n d e valor. Situada em um a elevada região no sopé de u m a m o n ­
ta n h a de fe rro , essa jazida teria sido d e scoberta p o r u m escravo (co n g o ), q u e d u ­
ra n te u m ce rto te m p o g u a rd o u segredo, mas suas ausências fre q ü e n te s e as des­
pesas que fazia a tra íra m lo g o a a te n çã o dos c o m p a n h e iro s. Estes o e s p io n a ra m e
o s u rp re e n d e ra m u m dia em u m b u ra co q u e havia cavado, se n ta d o sobre um
m o n te d e te rra a u rífe ra na p o siçã o de u m a g a lin h a q u e cho ca seus ovos; d e ri­
va daí o n o m e de C o n g o c h o c o d a d o ao local e que, p o r c o rru p te la , to rn o u - s e
G o n g o S o co .42
O p rim e iro p ro p rie tá rio q u e a e x p lo to u fo i o co ro n e l M a n u e l da Cam ara
de N o ro n h a ; seu filh o a ve n de u , em 1808, a u m p o rtu g u ê s, o c o m e n d a d o r e ca-
p itã o - m o r José Alves da C u n h a , e a seu s o b rin h o p o r aliança, o c a p itã o -m o r João
Batista Ferreira de Souza C o u tin h o (que mais ta rd e se t o r n o u o barão de Catas A l­
tas).43 O p rim e iro e xe cutou diversos tra b a lh o s a céu a b e rto e ch e g o u e m 1 8 18 a
desco brir u m veio rico, no fla n c o d o M o r ro d o Tijuco, d o q u al teria re tirad o , em
u m mês, 1 7 0 q u ilo g ra m a s d e o u ro . Q u a n ô o de sua m o rte o barão, q u e se to rn o u
ú n ico p ro p rie tá rio em conse qü ê n cia de a cordos de fam ília, c o n tin u o u a e x p lo ta r
as exposições { Talho A b e r to ) q u e se e ste n d ia m p o r cerca de 2 0 0 m e tro s de c o m ­
p rim e n to co m u m a p r o fu n d id a d e que a tin g ia cerca de 4 0 m etros. A b riu três g a ­
lerias curtas, q u e p e rm itira m a tin g ir o m in é rio rico, de m o d o q u e so m e n te nos
meses de Fevereiro e M a rç o de 1 8 2 4 retirou p e rto de 2 0 0 q u ilo g ra m a s de o u ro 44.
Assim, q u a n d o das negociações c o m Treg o n in g, em 1825, para a c o m p ra da
m ina , p ediu u m m ilh ã o de cruza d o s (9 5 .0 0 0 libras esterlinas). Finalm ente, v e n ­
de u-a para a c o m p a n h ia p o r 7 3 .9 4 6 libras esterlinas. 45
S o m e n te a m ina de G o n g o fo i e xp lo ta d a desde o p rin cíp io das operações.
A p esar das grandes despesas co m a aquisição das minas, do pesado im p o s to do
q u in to fix a d o e m 2 5 % pe lo g o v e rn o provincial, dos custos co m n u m e ro s o pes­
soal, t a n t o na Inglaterra q u a n to no Brasil, e, n o dizer de vo n E schw ege46, d o m a u
g e re n c ia m e n to dos tra b a lh o s, a c o m p a n h ia passou p o r u m a era de prosp e rid a de
graças à p ro d u ç ã o ve rd a d e ira m e n te e xtra o rd in á ria da m ina. Os tra b a lh o s s u b te r­
râneos execu ta d o s n o ve io p rincipal puseram a d e s c o b e rto linhas tã o ricas, v e rd a ­
deiros cachos {bunches), que o C a p itã o Lyon, s u p e rin te n d e n te da m in a de 1827
a 1830, cita o se g u in te fa to em u m de seus relatórios: no dia 21 de ja n e iro de
1830, tro u x e ra m da m ina um ch a pé u de m in e ra d o r cheio c o m cerca de 4 litros de
te rra a urífera, da qual re tira ra m 10 q u ilo g ra m a s de o u ro .47 Esse caso não fo i ú n i­
co, já que são citados o u tro s notáveis exem plos de p ro d u ç ã o , que fo ra m realiza­
das d u ra n te os anos 1 8 29 e 1 8 30 , co m m in é rio e xtra íd o no m e sm o local da m ina:
De 19 a 2 4 de ja n e iro de 1829 5 8 ,8 kg em 6 dias
De 2 5 a 2 6 de fe ve re iro de 1 8 29 4 7 .6 kg em 2 dias
De 22 a 28 de s e te m b ro de 1829 193 kg e m 6 dias
De 21 a 22 de ja n e iro de 1830 5 2 .6 kg em 2 dias
Total 3 4 7 kg em 16 dias48

o u seja, 2 1 ,7 kg de o u ro p o r dia.

Assim, desde o co m e ço , h o u ve pressa em a b rir a jazid a em diversos p o n ­


tos, p o r m e io de n u m e ro so s poços. Os tra b a lh o s a d q u irira m u m tal de sen vo lvi­
m e n to q u e o pessoal, q u e desde o p rim e iro a n o , em 1826, se elevava a 4 5 0 pes­
soas, se n d o 4 0 ingleses, subiu para 7 8 2 pessoas e m 1 8 29 e quase 8 0 0 e m 1832
(183 europeus, 2 0 7 brasileiros e 4 0 4 escravos, 7 9 4 pessoas no to ta l).49 Form o u-
se ra p id a m e n te nesse local um a verdadeira vila, próspera, co m sua igreja, cuja es­
cola de música era fa m o sa na região. Foi co m esse aspecto q u e ela surgiu para o
naturalista G eo rg e G ardner, q u a n d o ch e g o u à m ina d o G o n g o em a g o s to de
1840, p o r ocasião de sua via g e m ao in te rio r d o Brasil pelo d is trito das minas. " A
situação o n d e se e n c o n tra acrescenta m u ito à sua beleza; ocupa u m e stre ito vale,
lim ita d o ao n o rte p o r u m a alta serra co m m atas e q u e segue para Cocais a oes­
te, p ro lo n g a n d o -s e ao sul p o r u m a pradaria de pe qu e n as ondu la çõ e s. C o m exce­
ção da g ra n d e casa o c u p a d a pe lo Sr, Duval, o s u p e rin te n d e n te , to d a s as outras
tê m u m a n d a r té rre o , são bem alinhadas, s e g u in d o as ruas, isoladas e dispersas
c o m o c o tta g e s ingleses c o m jardins de flores e ta m b é m palm eiras e o u tra s p la n ­
tas tropicais. Perto d o c e n tro da vila se e rg u e um a igreja, p e q u e n a ,.m a s e le g a n ­
te, para os tra b a lh a d o re s brasileiros livres e os escravos e m p re g a d o s pela c o m p a ­
nhia. Um padre ca tó lico é d e d ica d o a seu serviço e o u tro ra havia, ta m b é m , um
p a s to r inglês. Nessa vila residem os chefes e a m a io r p a rte dos m in e ra d o re s in g le ­
ses. As o perações da m ina se e fe tu a m a u m a meia m ilha a oeste, e as casas dos
escravos estão situadas p e rto dos tr a b a lh o s " 50.
A serra, no pé da qual se e n c o n tra a jazida, fa z p a rte d o m aciço ce n tra l da
Serra d o Espinhaço. E n q u a n to os prim e iro s p ro p rie tá rio s haviam fe ito g ra n de s es­
cavações e m seu fla n co , para realizar a e xp lo ta çã o a céu a b e rto , p rin c ip a lm e n te
na p a rte que recebeu, p o r isto, o n o m e de Talho A b e rto , a c o m p a n h ia se apres-
sou em a b a n d o n a r esse sistema desastroso q u e am eaçava c o m p ro m e te r o f u t u r o
da m ina e o su b stitu iu pela e xp lo ta çã o su b terrâ n ea , a b rin d o num e ro so s poços.
Em sua obra, von E schw ege51 re p ro d u z u m p la n o da m ina, d a ta d o de 1829, o n d e
se c o n ta m 16 poços, sendo que pe lo m e n o s 8 serviam para extração, executada
p o r m e io de sarilhos. Os tra b a lh o s era m realizados a p a rtir de galerias h o rizo n tais
abertas em níveis sucessivos de 7 fa th o m s (1 2 ,8 0 m ) de a ltu ra , ab aixo da galeria
principal (A d it levei), q u e servia de galeria de e sco a m e n to . A e xp lo ta çã o c o m ­
p re e nd ia nessa é poca 3 níveis, e s ta n d o o mais p ro f u n d o a 21 fa th o m s (3 8 ,40 m ).
Q u a n d o G a rd n er visitou a m ina, a área de e xp lo ta çã o c o m p re e n d ia 9 ní­
veis de 7 fa th o m s , co m u m a p ro fu n d id a d e to ta l de 62 fa th o m s (1 1 4 metros), mas
os dois ú ltim o s estavam in u n d a d o s e só p ô d e descer até o nível 48, a 8 8 m etros
de p ro fu n d id a d e . Já se lutava co n tra as d ificu ld a d e s devidas à a b u n d â n c ia de
á g ua e m u m te rre n o m o le , espécie de esponja q u e exigia m u ito m a d e ira m e n to
para a m a n u te n ç ã o das galerias e o re ve stim e n to dos realces. A situação da ja z i­
da é descrita pelo m e sm o a p a rtir d o exam e de u m a seção d o te rre n o , q u e teve
o p o rtu n id a d e de ver no e scritório da m ina. " A Serra, q u e corre de leste a oeste e
qu e se e n c o n tra ao n o rte da m ina é de caráter p rim itiv o , co n sistin d o de g ra n ito a
massa de seu centro. Sobre o g ra n ito repousa u m a espessa ca m a d a de xisto a rg i­
loso (sch isto se a n d cla y slates) co m u m m e rg u lh o de 45° para o sul. A cim a se es­
te n d e um a cam ada espessa de ita b irito s ( fe rru g in o u s Ita c o lu m ite ) co m a m esm a
inclinação e, im e d ia ta m e n te acim a, a ja c u tin g a ou sideroxisto m icáceo b ra n d o
{s o ft m ica ce ou s iro n schist), q u e c o n té m o o u ro e q u e te m u m a espessura de cer­
ca de 5 0 fa th o m s (90 metros). Sobre a ja c u tin g a se e n c o n tra o u tra ca m a d a espes­
sa de ita b irito s e fin a lm e n te a um a meia m ilha para o sul da m ina, um a espessa
cam ada de calcário cristalizado e e s tra tific a d o aflo ra co m o m e sm o m e r g u lh o e a
m esm a dire çã o q u e as o u tra s rochas. A um a meia m ilha a leste da e n tra d a da
m ina , a cam ada de ja c u tin g a te rm in a e m cu n ha , e n q u a n to para oeste parece ines-
gotávef; é nessa direção q u e serão desenvolvidos os tra b a lh o s f u t u r o s 52".
O m in é r io era c o m p o s t o de ja c u t in g a , na f o r m a d e i t a b i r i t o friá v e l,
m a r r o m , lig e ir a m e n t e m a n g a n e s í f e r o e p u ro , c o m o p ro v a a s e g u in t e a n á l i­
se f e it a p o r F a ra d a y 53:
Peróxido de fe rro 9 7 ,0 %
Silica 1,6
A lu m in a 1,1
Ó xid o de m a n g a nê s 0,6
Cal traços.
Total 100,3

0 m in é rio apresentava-se, ainda, sob a fo rm a de especularita fin a b rilh a n ­


te e co m p a c to . Em v irtu d e de sua fraca consistência, o m in é rio era a ta c a d o a p i­
careta, u n ic a m e n te p o r m in e ra d o re s europeus. A q u e le co m o u ro visível, no local,
era d e staca d o da cam ada co m c u id a d o e p o sto im e d ia ta m e n te em caixas sólidas,
cu id a d o s a m e n te fechadas e enviadas d ire ta m e n te ao la va d o u ro (w a s h in g -h o u s e ).
Aí o m e ta l era separa do de sua g a n g a p o r simples tritu ra ç ã o no a lm o fa riz e por
lavação na bateia.
O m in é rio m u ito p o b re para ser s u b m e tid o a esse p ro c e d im e n to , le n to e
oneroso, era e n via d o aos e n g e n h o s de pilões {s ta m p in g -m iils ). Esses pilões eram
sem e lh a n tes àqueles ainda em uso: cada pilão, co m sua haste de m adeira e seu
ê m b o io de fe rro da região, pesava cerca de 130 quilos. Seu curso era de 0 ,2 5 m e
d a vam de 55 a 65 g o lp es p o r m in u to , tr itu ra n d o , em 2 4 horas, u m a m édia de
3 .2 5 0 qu ilo s de m in é rio p o u c o resistente. A massa lavada, c o m p o s ta de á g ua e
de m in é rio em pó, escorria das gam elas (cover) através das grades, e m u m c o n ­
d u to c o m u m a to d a a instalação, depois se espalhava so b re mesas fixas, co m in ­
clina çã o de 7o. Cada mesa tin h a 12 m e tro s de c o m p rim e n to e 0 ,4 0 m e tro s de lar­
g u ra ; sobre as mesm as tin h a m sido dispostos co uros (c u re d h id e ) co m os pêlos
para cim a e, e m seguida, flanelas. Para fa c ilita r a saída d os fra g m e n to s , passa­
vam -se nas gam elas 2 0 litros de á g ua p o r m in u to e p o r pilão e mais ou m e n o s 35
litros no c o n d u to , im p e d in d o co m isso um a a cu m u la çã o excessiva das areias na
cabeça das mesas.

* NR: a análise qu ím ica apresenta 9 7 % de p e ró x id o de fe rro ; parece ha ve r u m e n g a n o e ta l c o n te n d o corre s p o n d e ­


ria a p ro tó x id o de fe rro (F e2 03 ), fó rm u la da h e m a tita . N ão se p o d e ch a m a r um a rocha com 9 7 % de h e m a tita pelo
no m e de ita b irito , pois este te m q u a n tid a d e considerável de q u a rtz o e a análise in dica apenas 1 ,6 % S i0 2 , além de
0 ,6 % M n O e 1,1 % A I2 0 3 . N o G o n g o Soco, a m ina de o u ro é encaixada (C o rp o d o G o n g o ) e m m in é rio h e m a títico
m u ito puro, c o n te n d o bu ch os a lo n g a d o s de ja c u tin g a , m in é rio au rífe ro. A análise ap resen tad a é, p o rta n to , da rocha
en ca ixante (m in é rio h e m a títico ). Se se tratasse de ja c u tin g a (aurífera) a anáiise deveria c o n te m p la r a lg u m ta lc o e cao-
lim e, p o rta n to , c o n te ria M g O e H 2 0 (água de constituição ).
Cada mesa recebia o p ro d u to de 2 pilões e c o m o sobre os prim e iro s c o u ­
ros fica va m retidos os grãos m aiores e palhetas de o u ro , co m as partes mais pe­
sadas d o m in é rio , era m p ro te g id o s co m u m a g ra d e fe ch ad a . Depois de a lgum as
horas, os co uros e as flanelas e ra m su b stitu íd o s para serem lavados nas cubas,
mas os dois p rim e iro s co uros era m lavados c o m m a io r fre q ü ê n c ia e em cubas es­
peciais. As areias recolhidas era m co n ce n tra d a s de n o vo sobre o u tra s mesas e,
q u a n d o se chegava a separá-las p o r teor, as mais pobres vo lta va m aos pilões, e n ­
q u a n to as mais ricas era m levadas ao la va d o u ro para serem su b m e tid a s a u m ú l­
tim o tr a ta m e n to na bateia.
As areias não retidas sobre as mesas era m , em parte, recolhidas em um re­
servatório, mas ra ra m e n te p a g a va m o custo de um n o vo tra ta m e n to . As areias f i­
nas escapavam com a á g ua para o rio e iam fo r m a r a 4 ou 5 q u ilô m e tro s , nas m a r­
gens, d e pó sito s lam acentos, q u e faiscadores pobres da vizinhança lavavam para
e xtra ir ainda u m p o u c o de o u r o 54.
O o u ro o b tid o tin h a 20 a 21 quilates: as im pu reza s co n tid as era m c o m p o s ­
tas p rin c ip a lm e n te de prata e de paládio, co m u m p o u c o de platina e, ra ra m e n ­
te, de cobre.
Depois da visita de Gardner, conse gu iu -se e sg ota r a água dos níveis do
fu n d o , o q u e p e rm itiu e n tra r de n ovo e abrir, e m 1844, u m a nova galeria n o ní­
vel 7 0 (1 2 8 m etros) na parte leste da m ina, e n q u a n to o d e s e n v o lv im e n to dos t r a ­
balhos p e rm itia co n h e ce r m e lh o r a jazida.
Desde o p rin cíp io , tin h a -se ob serva do q u e a ca m a d a aurífera se estreitava
de oeste para leste, mas graças aos tra b a lh o s posteriores, execu ta d o s n u m a ex­
te n s ã o de 1 .2 0 0 m etros, ch e g o u -se a te r um a idéia mais exata da ja zid a e se co n s ­
ta to u nessa ca m a d a a presença de dois veios principais, separados na m a io r p a r­
te p o r um le ito de ita b irito s pobres, p o u c o d ife re n te s daqueles d o m u ro . Esses
dois veios era m co n hecidos, o d o n o rte pe lo n o m e de veio d o G o n g o , o d o sul,
ve io de C u m b a , e a m b o s a d elgaçavam em p ro fu n d id a d e . A lé m disso, o veio do
G o n g o bifurcava para leste, a p a rtir d o nível 27, separa do p o r u m a massa de ita ­
birito s estéreis, fo r m a n d o cu n h a q u e ia se a b rin d o e m p ro fu n d id a d e . Esse veio t i ­
nha, na superfície, um a largura reconhecida de cerca de 150 m e tro s na e x tre m i­
d a de o este dos tra b a lh o s e de m e n o s de 3 0 m e tro s na e x tre m id a d e le ste .* En-
co n tra va -se e s tre ita d o n o nível 2 7 e era d iv id id o e m dois ram os, u m d e lg a d o , de
1 m e tro de espessura, no n o rte , o o u tr o mais largo, de 5 m e tro s de espessura,
n o sul. F in a lm e n te se reduzia a a lg u n s ce n tím e tro s, o p rim e iro desde o nível 48,
o s e g u n d o no ú ltim o nível. O veio de C u m b a , q u e na superfície a oeste tin h a 120
m e tro s de largura, conservava ain d a no f u n d o dos tra b a lh o s , a leste, u m a la rg u ­
ra de 12 m e t r o s . * * De m o d o q u e a ca m a d a q u e tin h a , a oeste, na superfície um a
la rg u ra de 180 m e tro s não tin h a mais q u e 15 m e tro s a leste, n o f u n d o da
m i n a . * * * Essa ca m a d a a presentava na su p erfície d o la d o oeste u m a g ra n d e la r­
g u ra e as linhas ricas se e n c o n tra v a m co n ce n tra d a s, s o b re tu d o , nas p artes mais
estreitas; isso explica p o rq u e os tra b a lh o s te n h a m se d e se n vo lv id o s o b re tu d o na
dire çã o leste da jazida.
Das duas m inas e xplotadas, a d o G o n g o era a mais rica. A í se d is tin g u ia m
três linhas im p o rta n te s, P rincipal, N o rth e N e w -N o rth , e a lg u m a s pequenas linhas
secundárias.
A linha P rin cip a l se estendia mais ou m e n o s p o r t o d o o c o m p rim e n to dos
tra b a lh o s, e n q u a n to as o u tra s duas, situadas mais ao n o rte , só existiam na p a rte
leste e apenas em u m a certa p ro fu n d id a d e .
A linha N e w N o rth , q u e a flo ra v a p e lo m e io da m in a , tin h a c a im e n to para
leste e desap a re cia n o nível 3 4 (62 m e tro s), a p re s e n ta n d o g rã o s e p a lh e ta s de
o u ro , c o m a lg u m a s massas e n tre os níveis 7 e 21 (1 2 ,8 0 e 3 8 ,4 0 m e tro s, res­
p e c tiv a m e n te ).
A linha N o rth n ã o existia acim a d o nível 14 (2 5 ,6 0 m ) e desaparecia a b ai­
xo d o nível 41 (75 metros), d a n d o o u ro em grãos e escamas nos diversos níveis e,
m esm o, a lg u m a s massas de o u ro em vários ponto s.
A linha P rin cip a l c o n tin h a , s e g u n d o a direção, duas gra n de s massas a u rí­
feras ligados e n tre si na altu ra d o m e io da m ina, p o r u m filã o de m in é rio pobre.
O m e n o r o u massa o c id e n ta l, q u e existia na p a rte oeste dos tra b a lh o s, fo i e xp lo -
ta d o da superfície até o nível 21 (3 8 ,4 0 m etros), o n d e se to rn a v a e stre ito e p o ­
bre; deu grãos e fio s de o u ro até essa p ro fu n d id a d e , co m cachos de o u ro (b u n -

* NR. Há, ce rta m e n te , um e n g a n o na dim e n sã o m e ncio nad a, isto è, la rg u ra de 1 5 0 m até 3 0 m . O a u to r usa a pa­
lavra " la rg e u r", c o rre ta m e n te tra d u z id a p o r largura.
* * NR. M esm a observação anterior.
* * * NR. Idem.
ches) e n c o n tra d o s na p a rte co m p re e n d id a e n tre os níveis 7 e 14 (1 2 ,8 0 m e
2 5 ,6 0 m ). O maior, o u massa o rie n ta l, que o cu p a va a p a rte central dos tra b a lh os
e se estendia para leste, e m p ro fu n d id a d e , era sem co m p a ra ç ã o o mais rico dos
dois. Da superfície à p ro fu n d id a d e de 23 fa th o m s (46 m etros) e n c o n tro u -s e m u i­
t o o u ro em grãos, palhetas e massas, e, e n tre os níveis 7 e 21 (1 2 ,8 0 m e 3 8 ,4 0 m ),
e n orm e s bolsas de o u ro ; essa fo i a parte mais p ro d u tiv a da c a m a d a 55. A b aixo , as
grandes massas de o u ro era m m e n o s a b u n d a n te s ; to da via, no níveí 41 (75 m e ­
tros), eram ainda fre q ü e n te s; no nível 4 8 (90 m etros), se to rn a v a m m en o re s e m e ­
nos num erosas; depois, só se o b tin h a m pequenas q u a n tid a d e s de o u ro no nível
55 (1 0 0 metros), para só se e ncontrar, em intervalos, raros grãos de o u ro abaixo
d o nível 62 (1 1 5 metros).
Foi nos a flo ra m e n to s da linha P rin cip a l d o veio d o G o n g o q u e os p rim e i­
ros e xp lo ta d o re s e x e c u ta ra m tra b a lh o s a céu a b e rto e a b rira m a g ra n d e escava­
ção d o Talho A b e r to ; aí o barã o fe z a coleta de o u ro , de q u e se fa lo u , na p a rte
central da jazida.
O veio de Cum ba, que foi ig u a lm e n te exp lo tad o a céu a b e rto pelo p ro p rie ­
tá rio brasileiro. Na parte oeste, era m enos rico q u e o precedente; co n tin h a algumas
linhas estreitas e curtas, encerrando grãos e palhetas de ouro, da superfície ao nível
21 (3 8 ,4 0m ) e m o stran d o algumas pequenas massas de o u ro no nível 14 (25,60m )
para só m o stra r, a b a ix o , raras parcelas d is s e m in a d a s nas p a rte s p r o f u n d a s 56.
S e g u n d o o q u e fo i d ito , vê-se q u e o o u ro era e n c o n tra d o e m a b u n d â n c ia
s o b re tu d o nas partes estreitas da jazida, vizinhas da superfície; isso explica p o r
que, desde o c o m e ço de suas operações, a c o m p a n h ia re to m a ra a e xp lo taçã o
subterrâ n ea , na região da jazida reco n h ecida c o m o p ro d u tiv a pelo barão, e p o r ­
q u e a p ro d u ç ã o de o u ro cresceu ra p id a m e n te e c h e g o u ao a p o g e u em alguns
anos, q u a n d o os tra b a lh o s p e rm itira m desenvolver a e xp lo ta çã o n o local mais
rico, c o m p re e n d id o e n tre os níveis 7 e 21 (1 2 ,6 0 m e 3 8 ,4 0 m ). Esse fa t o é bem
e vid e n c ia d o na Tabela 2, q u e apresenta a p ro d u ç ã o anual da co m p a n h ia desde o
c o m e ç o até o fim de suas o p e ra ç õ e s57 .
A q u a n tid a d e de o u ro p ro d u z id a d u ra n te os prim e iro s anos fo i tal que, no
c u rto espaço de 13 anos, de m a rço de 1 8 26 ao fim de 1839, essa m ina p ro d uzia
cerca de 11 to n e la d a s de o u ro co m u m va lo r de cerca de 1 .2 0 0 .0 0 0 libras ester­
linas. Os acionistas, q u e tin h a m investido apenas 20 libras esterlinas p o r ação para
a c o m p ra das p ro p rie d a d e s e para as prim e ira s despesas de exp lo ra çã o, já esta­
vam reem bolsados nessa época, e tin h a m mais 10 libras esterlinas p o r ação.
In fe lizm e n te , esse p e río d o e x tra o rd in a ria m e n te p ro d u tiv o n ã o fo i m a n ti­
do. C o m o as linhas ricas se to rn a v a m cada vez mais raras à m e d id a q u e se a p ro ­
fu n d a v a e as d ificu ld a d e s a u m e n ta v a m em conseqüência da in filtra ç ã o das águas,
a p ro d u ç ã o anual, q u e se elevava em 1832 a 1 .56 8 q u ilo g ra m a s, declinava co n s­
ta n te m e n te a p a rtir dessa época ca in d o para 2 5 q u ilo g ra m a s em 1855.
TABELA 2. P R O D U Ç Ã O DE O U R O DA M I N A DE
C O N G O ' S O C O , (182 6-1 856)

PRODUÇÃO DE OURO
P r o f u n d id a d e
da M in a
A nos Pessoal N a La v a ç ã o Nos M o in h o s
T o tal
(wasshing-house) (stamp-mills)
(fathoms) quilogramas
quilogramas quilogramas

1 8 26 3 450 207 207


1 8 27 7 750 75 0
1828 14 396 39 6
1829 21 782 1.421 143 1.564
1830 25 1.047 88 1.135
1831 27 909 223 1.132
1832 34 794 1.029 53 1.568
1833 41 776 668 447 1.115
1834 48 611 349 268 617
1835 48 609 212 ■ 198 410
1836 48 675 205 168 373
1837 48 772 350 172 522
1838 55 751 236 153 389
1839 55 758 322 196 518
1840 62 801 177 206 383
1841 62 714 136 210 346
1842 62 683 142 228 370
1843 68 632 37 189 226
1844 70 685 88 126 214
1845 70 6 53 20 71 91
1 8 46 70 624 22 88 110
1847 70 5 75 2 57 59
1848 70 324 64 64
1849 70 262 59 59
1850 70 270 52 52
1851 70 271 39 39
1852 70 316 40 40
1853 70 449 48 48
1854 70 520 36 36
1855 70 458 25 25
1856 70 447 29 29
Totais 8 .7 2 5 4 .1 6 2 1 2 .8 8 7
D ian te da q u e d a c o n tín u a da p ro d u ç ã o , te n to u -s e tira r a lg u m p ro v e ito das
o u tra s m inas c o m p ra d a s no p rin cíp io (A n tô n io Pereira, Cata Preta) ou ad qu irid as
a seguir (Boa Vista, Á g u a Q u e n te etc.). A m ina de q u a rtz o aurífero de Cata Preta
p ro d u z iu , de 1 8 4 4 a 1846, apenas 1 0 .5 0 0 gram as de o u ro ; a de ja c u tin g a de
Á g u a Q u e n te p ro d u z iu , de 1847 a 1853, mais de 3 0 0 q u ilo g ra m a s de o u ro ; mas,
to rn a n d o -s e cada vez mais p o bre, fo i p o r sua vez a b a n d o n a d a .
Em conseqüência das perdas repetidas nos ú ltim o s anos, o f u n d o de reser­
va foí c o m p le ta m e n te e sg o ta d o , sendo necessário fa ze r ch a m a d as de fu n d o s para
su ste n ta r pe lo m enos a e xp lo ta çã o de G o n g o ; em conseqüência dos fracos resul­
ta d o s o b tid o s e na im p o ssib ilid a d e, c o m os p e q u e n o s recursos de q u e se d is p u ­
nha, de e sg ota r as galerias invadidas pelas águas, o c o rre u o fe c h a m e n to da m ina,
em fin s de 1856. O c o m e n d a d o r Francisco de Paula Santos, a q u e m se deviam
150 co n tos p o r h ip o te ca , e m b a rg o u os escravos e fin a lm e n te se t o r n o u p ro p rie ­
tá rio da m ina 58.
Eis u m resum o das op eraçõe s da C o m p a n h ia d u ra n te seu p e río d o de a ti­
vidade, de 1o de ja n e iro de 1 8 26 a 31 de d e z e m b ro de 1 8 5 6 59:

Produção total 12.887 quilos de o u ro (20-21 quilates)


C apital investido 2 0 0 .0 0 0 libras esterlinas
C ham adas de fu n d o s 29.871
Total dos inve stim en to s 229.8 7 1
RECEITAS 1 .6 9 7 .2 9 5

DESPESAS: Em G o n g o Soco

A q u isiçã o de p ropriedades,
m ina , escravos etc. 1 0 0 .8 0 8 libras esterlinas
C o m p ra de m á quinas, utensílios,
gado, a lim e n to s etc. 4 5 1 .9 9 5
Salários e p ro ve n to s 4 3 2 .9 4 2
Diversos 3 .2 0 7
Despesas em G o n g o Soco 9 8 8 .9 5 2 libras esterlinas
Despesas nas o u tra s m inas 2 5 .6 4 9

m p o sto s no Brasil:

Im p o s to provincial 3 1 0 .7 7 7 libras esterlinas


Im p o s to de e xp ortação 3 2 .4 0 3

3 3 3 .1 8 0

Total das despesas 1.347.781 libras esterlinas


B e ne fício s 3 4 9 .5 1 4
D iv id e n d o s ao s a cio n ista s 3 4 8 .7 5 0

Em caixa, em 31 d e d e z e m b ro de 1 8 56 754 libras esterlinas

O im p o s to c o b ra d o a n u a lm e n te p e lo g o v e rn o da província fo i de 2 3 % so­
bre a p ro d u ç ã o até ju lh o de 1837, de 2 0 % até ju lh o de 1 8 40 , de 1 0 % até o u t u ­
b ro de 1 8 50 e de 5 % até o u tu b r o de 1853; a p a rtir dessa época, a c o m p a n h ia f i ­
cou isenta d o im p o s to 50 Entregou 2 .6 0 7 quilo s de o u ro e 2 2 .0 3 9 libras esterlinas
em m o e d a , o q u e representa u m va lo r to ta l de 3 1 0 .7 7 7 libras esterlinas. O im p o s ­
t o an ua l mais ele va do fo i de 3 9 2 .0 8 9 gram as, e m 1832; o im p o s to a n u a l m e n o r
fo i de 1 .7 2 0 gram as, p a go em 1853, O im p o s to de e x p o rta ç ã o p a g o ao G o ve rn o
Im perial era de 2 % ; ch e g o u ao to ta l de 2 2 .4 0 3 libras esterlinas. O im p o s to to ta l,
de 3 3 3 .1 8 0 libras esterlinas, excessivam ente pesado, fo i quase igual a o m o n ta n ­
te dos lucros o b tid o s. Essa carga fo i ce rta m e n te u m a das causas q u e apressaram
a ruína dessa c o m p a n h ia , já q u e o m o d o de cobrança, baseado na p ro d u ç ã o , não
evitava de m o d o a lg u m o p a g a m e n to d o im p o s to , m e sm o q u a n d o os resultados
da e xp lo ta çã o davam prejuízo, c o m o o co rre u c o n tin u a m e n te a p a rtir de 1844,
A m in a não se re ergueu. Q u a n d o passou p o r G o n g o Soco, p o r ocasião de
sua via g e m a M ina s Gerais em 1867, o ca p itã o Richard B u rto n fic o u d o lo ro s a m e n ­
te im p re ssio n a d o co m o cen ário o fe re c id o pe lo e sta b e le cim e nto , co m suas n u m e ­
rosas con stru çõ es fech ad a s e c a in d o em ruínas. O c o m e n d a d o r ainda executava
a lg u m a extração, co m u m p e q u e n o n ú m e ro de negros, sob a supervisão de um
fe ito r. A rra n c a v a m o m in é rio de a lg u ns pilares a b a n d o n a d o s , o n d e ap arecia m t r a ­
ços de linhas p ro d u tiva s e o tra ta v a m em u m e n g e n h o de. 18 pilões, para retirar
apenas, c o m o parece, 1 .59 0 gra m a s de o u ro p o r a n o .61
Hoje, t u d o não passa de ruínas; mal subsistem a fa ch ad a e a lg u ns c ô m o ­
dos da Casa G rande, o n d e m orava o s u p e rin te n d e n te da c o m p a n h ia (o ú ltim o fo i
H e n w o o d ), b e m c o m o o p ó rtic o de e n tra d a , em fo r m a de a b ó b a d a em sem icírcu­
lo, q u e lim itava a p ro p rie d a d e a leste. No local o n d e se e n c o n tra v a m os m o in h o s
e lavadouros, só se vêem os vestígios das fu n d a ç õ e s e das paredes, c o b e rto s por
u m ta p e te de vegetação; to d a s as bocas dos poços estão e n tu lh a d a s e o ve lh o n e ­
gro, ú n ico g u a rd iã o dessas ruínas, que tra b a lh o u na m ina em sua ju v e n tu d e , mal
p o d e in d ica r sua localização ao viajante, interessado nas le m branças de u m a in ­
dústria passada.

3. S a in t John D 'e l-R e y M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 3 0 )

Em abril de 1 8 30 fo rm o u -s e em Londres um a c o m p a n h ia de minas, co m


capital de 1 6 5 .0 0 0 libras esterlinas, para a e xp lo ta çã o das jazidas auríferas s itu a ­
das ao n o rte de São João dei Rei, co m o n o m e de S a in t-Jo h n d ’EI Rey M in in g
Com pany, L im ite d .
Em fin s de 1834, c o m o as perdas alcançassem 2 6 .2 8 7 libras esterlinas, o
d ire to r resolveu a b a n d o n a r essa e xp lo ta çã o , ce n tra liz a n d o os tra b a lh o s em M o r­
ro Velho, p e rto de C o n g o n h a s de S abará*. Visava e x p lo ta r u m a ja zid a de q u a r t ­
zo e pirita aurífera q u e a c o m p a n h ia acabava de com prar, pe lo preço de 5 6 .4 3 4
libras esterlinas.62
A jazid a pertencia, no c o m e ç o d o século, ao pa dre Freitas, depois de seu
pai tê-la c o m p ra d o p o r 1 5 0 .0 0 0 cruzados. Os prim e iro s tra b a lh o s, e xe cu ta d o s a
céu a b e rto no a lto da m o n ta n h a o n d e fo ra m desco be rto s os a flo ra m e n to s , c o n ­
sistiram em d e to n a r a rocha, fa z e n d o fu ro s recheiados co m pólvora, ou, na fa lta
desta, usando-se f o g o com aspersão de água fria; o m in é rio era, em seguida, m o i-
d o e lavado, p ro d u z in d o -s e u m pó de o u ro im p u ro , co m apenas 19 quilates. No
c o m e ç o e m pregava-se para a tritu ra ç ã o sete e n g e n h o s c o m dois pilões, de m o d o
que a p ro d u ç ã o era p e q u e n a ; assim, em 1814, p ro d u z ira m -se 16 qu ilo s de o u ro ,

* N R : a tu a lm e n te N ova Lim a
usando-se 2 4 brasileiros e 122 e s c ra v o s 63 A seguir, substituiu-se o e q u ip a m e n to
p o r três m o in h o s de pilões, q u e p e rm itira m o b te r d ia ria m e n te , co m 7 0 escravos,
2 5 a 3 0 oitavas (9 0 -1 0 0 gram as) de o u ro , e x p lo ta n d o a p a rte ch a m a d a V in a g ra ­
do, p o r causa da c o r a ve rm e lh a d a d o m in é rio d e c o m p o s to .
A e xp lo ta çã o deve t e r sido in te rro m p id a em to r n o de 1818, p o rq u e A u ­
g u ste de Saint-Hilaire, de passagem p o r C o n g o n h a s de Sabará nesta época, es­
creve em seu rela to de via g e m : " C o n g o n h a s deve sua fu n d a ç ã o a m in e rad o re s
a traídos pe lo o u ro q u e se e n co n tra va nos arredores, e sua história é a de ta n to s
o u tro s p o voados. O precioso m etal se e sg oto u ; os tra b a lh o s se to rn a ra m mais d i­
fíceis e C o n g o n h a s m o stra a tu a lm e n te apenas a decadência e o a b a n d o n o " 65.
O corre q u e se precipitara ao d e clarar que o o u ro estava e sg ota d o ; o f u t u r o lhe
apresentaria u m d e s m e n tid o fo rm a l. De fa to , o c a p itã o Lyon, d ire to r de G o n g o
Soco, a d q u iriu a p ro p rie d a d e de M o r ro Velho d o pa dre Freitas e a revendeu em
seguida para a C o m p a n h ia Saint-John d'EI Rey, q u e co m e ço u de im e d ia to seus
tra b a lh o s, em d e z e m b ro de 1 8 3 4 e não cessou sua e xp lo ta çã o desde e n tã o .*
A jazida é fo rm a d a p o r u m filã o de espessura considerável, quase vertical,
q u e se apresenta sob a fo r m a de u m a co lu n a oval, inclinada de p o u c o m e n o s de
45° n o p la n o d o filã o , q u e p e n e tro u xistos cinza, ora re co rta n d o , ora a c o m p a ­
n h a n d o os m esm os e m seus planos de e stratificação. A rocha é co n stitu íd a p o r
um a massa c o m p a c ta de q u a rtz o de g rã o fin o , co m pirita arsenical e p irita de f e r ­
ro, bem c o m o , o ca sio n a lm e n te , p irita m a g n é tica , pirita de cobre, calcita, d o lo m i-
ta, siderita e alb ita ; estes ú ltim o s a p re se n ta m belos cristais em g eodos. A co lu n a
te m ru m o s u d e s te .* * Sua espessura é variável, a lca n ça n d o 20 m e tro s e m certos
p o n to s e sua extensão h o riz o n ta l chega, em m édia, p e rto de 150 m etros; a mas­
sa filo n ia n a está fre q ü e n te m e n te m istura da co m o xisto encaixante, q u e fo rm a
partes pobres na co lu n a e que o rig in a , até m e sm o , o a p a re c im e n to de porções es­
téreis. Nos a flo ra m e n to s , sua extensão alcançava cerca de 2 5 0 m e tros. A p re s e n ­
tava dois co p os principais co rre sp o n d e n te s aos centros d os tra b a lh os: Q uebra-P a-
ne la e Baú a oeste e Cachoeira, a leste co m u m ra m o secu n dá rio, N o rth -b ra n c h ,
q u e ram ificava para o n o rte , para reencontrar, a leste u m espessam ento d e sig n a ­
d o G am bá.

* NR: A lavra de M o rro V elho só fo i in te rro m p id a recen tem en te, não p o r te r o c o rrid o e s g o ta m e n to mas sim p o r cau-
.sa d o baixo preço do ouro.
* * NR: A frase, em francês, é; "La c o lo n n e est d irig é e vers W qu elques degrés N ". Tal orie n ta çã o é incorreta.
Os prim e iro s tra b a lh o s da C o m p a n h ia fo ra m execu ta d o s a céu a b e rto em
três p o n to s : abriu-se u m p rim e iro c a m p o de e xp lo ta çã o e m Q u e bra Panela e Baú,
um s e g u n d o em C achoeira e u m te rce iro em G a m b á 65; em p ro fu n d id a d e c o n c e n ­
tra ra m -se os tra b a lh o s nos dois p rim eiros, a b a n d o n a n d o -s e o veio de G am bá, m e ­
nos rico. Os dois centro s de Baú e de C achoeira p e rte n c ia m , para ser exato, ao
m e sm o veio d iv id id o p o r um a p o rçã o pobre, e a rocha e n tre os dois servia de p i­
lar de sustentação; em 1 8 60 resolveu-se d e rru b á-la , de m o d o q u e a p a rtir desse
p o n t o as escavações to rn a ra m -s e apenas um a. Os tra b a lh o s prosse g uira m a b rin ­
do-se u m a imensa câ m a ra até a época d o in cê n dio q u e d e v o ro u o e sco ra m e n to
p ro v o c a n d o na n o ite de 21 de n o v e m b ro de 1867, o d e s m o ro n a m e n to da m ina.
A escavação tin h a u m a p ro fu n d id a d e de 3 6 0 m e tro s até seu p o n t o mais baixo,
co m extensão de 2 1 0 m e tro s e u m a largura que variava em seus diversos p o n to s
de 2 m e tro s a 2 7 m etros, co m u m a média de 9 m e tro s na p a rte da C achoeira e
de 12 m e tro s na d o Baú.57
D u ra n te esse p rim e iro p e río d o das op eraçõe s da C o m p a n h ia , p ro d u z ira m -
se 2 8 .6 5 8 qu ilo s de o u ro , extraídos de um m in é rio cu jo te o r m é d io era 2 3 ,5 g ra ­
mas p o r to n e la d a e cuja recupe ra çã o era 15,5 g ra m a s.68 D u ra n te os q u a tro p ri­
m eiros anos, p re p o n d e ra ra m as perdas, mas a p a rtir de 1 8 39 h o u ve lucros c o n tí­
nuos e co m e ço u -se , e m 1842, a p a g a r d ivid e n d o s aos acionistas. Do capital in i­
cial fo ra m investidas 1 3 5 .0 0 0 libras esterlinas. O to ta l dos divid e n do s, pagos de
1842 a 1 8 67 , se elevou a 8 9 6 . 50Ò libras esterlinas, re p re se n ta n d o u m lucro m é ­
d io de mais de 2 5 % p o r ano sobre o capital, d u ra n te o p e río d o de 2 5 a n o s.69
Os tra b a lh o s prosse g uira m sem in te rru p ç ã o até a época d o in cê n dio. O
m in é rio , e xtra íd o da m ina p o r um p la n o in clin a d o a 45°, co lo c a d o e n tre as duas
escavações de Baú e da C achoeira, era s u b m e tid o a u m a seleção para separar o
xisto e o q u a rtz o pobre, depois envia do aos e n g e n h o s de pilões para ser m o id o e
lavado sobre mesas; as areias, retidas nas peles, era m e m seguida tra ta d a s p o r
a m á lg a m a , e m to n é is de Freiberg, e n q u a n to os rejeitos das mesas (ta ilin g s ) eram
s u b m e tid o s a u m a nova m o a g e m nos arrastras, para um a nova c o n c e n tra ç ã o e
a m a lg a m a çã o . Os e n g e n h o s , p o u c o d ife re n te s d o tip o Gallois, c o m p u n h a m -s e de
2 7 pilões em 1835. Em 1853 havia 6 m o in h o s co m u m to ta l de 135 pilões, p e ­
sando cada um 2 0 0 quilos e que o p e ravam co m 60 a 8 0 golpes p o r m in u to .70 A lé m
d o mais, haviam sido instalados na praia, nos ú ltim o s anos, 56 pilões destinados
à m o a g e m das areias a serem re tra ta da s, c o n ju n ta m e n te co m os arrastras. Os
tra b a lh o s tin h a m a d q u irid o u m tal im p u ls o que, e n q u a n to se m o in h a m apenas
1 6 .0 0 0 to ne la d a s, e m 1838, co m 65 pilões, chegava-se a m o e r em 1856, com
os 135 pilões, cerca de 9 0 .0 0 0 to n e la d a s. A m ã o de o b ra c o m p u n h a -s e de 3 0 0
pessoas em 1 8 36 . Pouco a p o u c o , elevou-se para 2 .4 0 0 pessoas, das quais 130
era m e u ro p e u s. 71
C o m p re e n d e -se o tra n s to rn o tra z id o p e lo in cê n dio, para u m e m p re e n d i­
m e n to q u e se e n co n tra va nas m elhores co n dições de prosp e rid a de . Assim, t o ­
m o u -se ra p id a m e n te a decisão de a b rir nova fre n te de lavra, visando e n c o n tra r o
filã o p o r m e io de dois p o ços gêm eos, a u m a p ro fu n d id a d e q u e p e rm itiu d e ixa r
sob os d e s m o ro n a m e n to s u m massa de m in é rio su ficie n te para fo r m a r u m sólido
pilar de p ro te ção . Para fa ze r face às despesas necessárias à re to m a d a dos tra b a ­
lhos, o ca p ita l o rig in a l fo i a u m e n ta d o e 2 5 3 .0 0 0 libras esterlinas, das quais fo ra m
usadas 2 2 3 .0 0 0 libras esterlinas.
Os dois poços, iniciados em o u tu b r o e em n o v e m b ro de 1868, fo ra m a b e r­
tos no fla n c o da m o n ta n h a que encerrava a jazida, com u m a extensão de 3 6 3 m e ­
tros; u m serviu para fazer a extração, de início p o r m e io de cubas, mais ta rd e com
a ajuda de gaiolas guiadas, e o o u tro para o e s c o a m e n to das águas prod uzid as
em a b u n d â n c ia na a n tig a escavação. Gastou-se um a som a de 8 3 .5 1 5 libras e ster­
linas para re a b rir a m ina e, e sp e ra n d o q u e se pudesse re to m a r a e xp lo ta çã o su b ­
terrânea, re tra b a lh a ra m -se a lg u n s m aciços de m in é rio p o b re na superfície, de
m o d o q u e já em 1868, era m m o id a s 6 2 .0 0 0 to n e la d a s de m in é rio , q u e p ro d u z i­
ram 3 4 6 q u ilo s de o u ro .
A p a rtir d o m o m e n to q u e te rm in o u a a b ertura dos poços, iniciou-se a a b er­
tu ra de um a nova escavação e a m ina passou de n ovo p o r um a fase produtiva.
Em d e z e m b ro de 1874, recom eçava a d istrib u iç ã o de d ivid e n d o s q u e p ro s­
seguiu re g u la rm e n te até 1882, q u a n d o a som a e n tre g u e aos acionistas se eleva­
va a 5 5 6 .0 0 0 libras esterlinas, isso representa u m lucro anual m é d io de 31 % so ­
bre o n o vo capital, pe lo p e río d o de 8 anos.
In fe lizm e n te , à m e d id a q u e a m ina se a p ro fu n d a v a , as d ificu ld a d e s de ex­
p lo ta ç ã o a u m e n ta ra m . C o m o as águas am ea ça va m invadir os tra b a lh os, fo i p re ci­
so instalar m á q u in a s mais p o te n te s de e s c o a m e n to das mesmas, o q u e a u m e n to u
as despesas. Por o u tr o lado, a p ro d u ç ã o d im in u iu sensivelm ente e m 1882, a p o n -
t o de n o a n o se g u in te h aver d é fic it e de nos o u tro s anos os lucros serem m u ito
pe qu e n os. Por isso não fo ra m mais d istribu íd o s d ivid e n d o s até a época da catás­
tro fe que o ca sio n o u o d e s a b a m e n to geral da m ina na n o ite de 10 de n o v e m b ro
de 1 8 8 6 .72 Havia sido a b e rto pela e xp lo ta çã o , n o lu g a r da co lu n a de m in é rio , um
im en so realce inclinado, m e d in d o p e rto de 2 0 0 m e tro s de p ro fu n d id a d e , co m d i­
m ensões h o rizo n ta is de 15 m etros, a p ro x im a d a m e n te , e n tre paredes, e mais de
100 m e tro s no se n tid o o p o sto .
Enormes blocos de pe dra se so lta ra m de um pilar de suste nta çã o de te to ,
na p a rte alta da escavação, e as paredes, e n tã o in s u fic ie n te m e n te apoiadas, ruí-
ra m a rra sta n d o e q u e b ra n d o e m sua q u e d a as pilastras maciças q u e serviam de
suste ntã cu lo , b e m c o m o o m a te ria l de e xtração e de e s g o ta m e n to e t u d o o q u e
se e n co n tra va e m sua passagem; o a balo fo i taí q u e p ro p a g o u -s e para os poços,
o n d e os reve stim en to s e as peças m etálicas fo ra m , em p a rte , d e m o lid a s ou des­
locadas, e u m deles ch e g o u a desabar a p a rtir da p ro fu n d id a d e de 160 m e tros.
A n te s dessa catástrofe, a em presa de M o r ro V e lh o tra b a lh ava s e g u in d o o
m e sm o p ro c e d im e n to d o p rim e iro p e río d o até 1878, co m o m e sm o n ú m e ro de p i­
lões, c o m o m o stra a Tabela 3, fe ita para dois anos, 1 8 65 e 1877, c o rre s p o n d e n ­
te cada a n o a u m a das fases dos tra b a lh o s.
TABELA 3. O P E R A Ç Õ E S DE B R IT A G E M EM 1865 E 1877

1 86 5 (a ) 1 87 7 ( b)
N úmeros
N omes dos
dos N úmeros T o neladas N úmero T o neladas
Eng enho s T o neladas T o neladas
PlLÒES de D ia s d e POR D IA E d e d ia s DE
TRITURADAS
POR D IA E
TRITURADAS
T rabalho p o r p il ã o T r abalho POR p il ã o

Lyon 30 3 5 7 ,4 6 1 2 .1 0 0 1,13 3 5 7 ,4 6 1 3 .1 6 7 1,23


C o te s w o rth 12 356 4 .9 3 2 1,15 3 5 0 ,0 3 5 .05 7 1,20
Susanna 9 3 6 1 ,1 2 2 .8 9 7 0 ,8 9 361,01 3 .16 7 0,97
Powles 36 3 5 1 ,2 4 1 7 .5 6 3 1,39 3 5 3 ,2 3 17 .6 0 8 1,39
H erring 24 3 5 7 ,2 9 1 1 .4 9 5 1,33 355,91 1 1 .4 1 0 1,34
A d d is o n 24 3 5 3 ,5 2 1 0 .6 2 0 1,25 3 5 7 ,0 9 1 2 .3 3 6 1,44
Totais ou
185 3 5 6 ,1 0 5 9 .6 0 7 1,24 3 5 5 ,7 4 6 2 .7 4 5 1,30
médias

(a ) A r t h u r Phillips, op. cit.


(b ) R eport o f th e Saint-John d'El Rey M in in g C o m pa n y, Lim ited, 1878.

C o m o alguns dos e n g e n h o s se e n c o n tra v a m em m a u estado, em co n se ­


qüên cia de uso p ro lo n g a d o , to rn o u -s e necessário p ro vid e n cia r sua su bstituição,
in tro d u z in d o -s e na m esm a ocasião os a p e rfe iç o a m e n to s q u e o progresso e a p rá ­
tica sugeriam . Assim o e n g e n h o Susanna fo i s u p rim id o e, e m seguida, o e n g e n h o
C o te s w o rth fo i su b stitu íd o , em fe ve re iro de 1880, p o r u m n o vo e n g e n h o de 2 4
pilões, p ro v id o de mesas g ira tó ria s (re v o lv in g strakes) q u e su b stitu ía m as antigas
mesas de telas. F in a lm en te o e n g e n h o Powles, p a ra d o em 1881, fo i su b stitu íd o
p o r u m e n g e n h o c a lifo rn ia n o de 30 pilões, q u e c o m e ç o u a fu n c io n a r em 1883.
A lé m disso, b rita d o re s v in h a m fa c ilita r e substituir, em parte, a a n tig a operação
m a n u a l. A p a rtir dessa época, a m o a g e m passou a ser executada nos cinco e n g e ­
nhos, c o m 132 pilões. A Tabela 4 apresenta os resultados das op eraçõe s para dois
anos consecutivos, 1 8 83 e 1884.
Desde o co m e ço das o perações em 1 8 3 4 até o f im de 1 8 86 , d u ra n te as
duas prim eiras fases dos tra b a lh os, a m ina de M o r ro V e lh o p ro d u z iu 5 8 .3 4 4 q u i­
los de o u ro , re p re s e n ta n d o u m va lo r de 5 .2 1 5 .0 0 0 libras esterlinas 73, o q u e leva
a p ro d u ç ã o m édia, d u ra n te esse p e río d o de 52 a n o s r a 1 .11 5 quilos p o r ano, 93
qu ilo s p o r mês e 3 q u ilo s p o r dia.
Essa m a g n ífica p ro d u ç ã o fo i realizada co m u m m in é rio cuja recuperação,
em geral, era de 10 a 2 0 gram as de o u ro p o r to n e la d a , ra ra m e n te 25 gramas.

TABELA 4. O P E R A Ç Õ E S DE BR IT AGEM EM 1883 E 188 4

1883 (a ) 1884 (b )
N úmeros
N o m es dos
DOS N úmeros T o neladas N úmero T o neladas
M o in h o s T o neladas T o neladas
P il õ e s de D ia s d e POR D IA E d e d ia s d e p o r d ia e
t r it u r a d a s t r it u r a d a s
T rabalho POR PILÃO T rabalho POR PILÃO

Lyon 30 3 6 0 ,8 0 12.741 1,17 3 5 5 ,1 8 12.031 1,13


C o te s w o rth 24 3 3 9 ,9 8 9 .6 8 6 1,18 3 5 3 ,6 4 9 .7 2 2 1,14
Powles 30 3 1 5 ,0 4 1 2 .4 4 4 1,31 3 0 0 ,0 4 1 2 .5 5 7 1,39
Herring 24 3 4 6 ,1 0 11.462 1,37 3 4 8 ,2 2 1 0 .0 8 9 1,20
A d d iso n 24 3 3 8 ,5 9 1 1 .9 2 7 1,46 3 3 6 ,5 6 12.192 1,51
Totais ou 132 3 3 9 ,5 9 5 8 .2 6 0 1,29 3 3 7 ,7 0 56.591 1,27
médias

(a ) Report o f th e Saint-John d'EI Rey M in in g C o m pa n y, Lim ited, 1884.


(b ) Idem , 1885.

C o m p re e n d e -se que d ia n te de tal passado, a c o m p a n h ia te n h a p ro c u ra d o


o b te r recursos q u e lhe pe rm itisse m reabrir u m a se g un d a vez a m ina. As d ific u ld a ­
des eram grandes: a p ro fu n d id a d e da segunda escavação abaixo d o nível da boca
dos poços a tin gia 5 7 0 m e tro s e esses poços, em p a rte destruídos, se e n c o n tra v a m
inutilizados. A p esar disso, o d ire to r da m ina, Sr. G. Chalm ers, p ro p ôs re to m a r os
tra b a lh o s fa z e n d o u m a instalação c o m p le ta m e n te nova: dois novos poços g ê ­
m eos seriam a b e rto s de m o d o a a tin g ir o filã o p o r u m a p e q u e n a travessa, reser­
va n d o área para um pilar de 12 m etros, no p o n to mais p ro fu n d o da ú ltim a c â m a ­
ra. A p a rtir desse p o n to seriam im p la n ta d o s planos inclinados no p ró p rio filã o
para os serviços de e xtração e das b om bas, desenvo lven d o -se a jazida s e g u n d o ní­
veis h o rizo n ta is de 3 5 m etros; na superfície, u m a nova usina de tra ta m e n to m e ­
cânico seria instalada, c o m p re e n d e n d o 100 pilões ca lifo rn ia n o s, dispostos em li­
nha, s e g u n d o baterias de 5, com mesas de lavação e e q u ip a m e n to s m o d e rn o s de
a m a lg a m a çã o . A força m o triz seria fo rn e c id a pela água a lim e n ta n d o diversas ro ­
das Pelton. O p ro je to baseava-se na suposição que a zona de m in é rio re la tiv a m e n ­
te pobre, e n c o n tra d a e n tre 1882 e 1884, te n d e ria a m elhorar, c o m o o correra nos
dois ú ltim o s an os da e xp lo ta çã o em 1 8 85 e 1 8 86 ; co m recuperação m édia de 16
gram as, ter-se-ia realizar um a nova c a m p a n h a m u ito lucrativa. Essa p ro p o s ta foi
aceita e a c o m p a n h ia re co n stitu ída em 1888, c o m capital de 2 5 2 .0 0 0 libras e ster­
linas, em ações de 1 libra; fo ra m vendidas apenas 2 3 3 .3 9 4 ações, hoje quase
c o m p le ta m e n te integralizadas, pois fo ra m p agos 19 sh. 6 d. p o r ação, ou seja, um
t o ta l de 2 3 3 . 1 7 4 libras esterlinas, Foram im e d ia ta m e n te iniciados os tra b a lh o s
que de via m p e rm itir acesso à jazida; a localização dos novos poços fo i escolhida
n o fla n c o da m o n ta n h a vizinha à dos a flo ra m e n to s e um a galeria situada no pé
da m o n ta n h a fo i a b e rta para c o m u n ic a r os poços co m o vale (p ra ia ) d e stin a d o a
servir de local para a usina de tra ta m e n to .
A galeria, m e d in d o 3 0 7 m e tro s de c o m p rim e n to , fo i iniciada em abril de
1 8 89 e te rm in a d a em m a rço de 1890; os poços fo ra m concluídos, u m c o m a p r o ­
fu n d id a d e de 6 6 2 m e tro s em m a rço de 1892, o o u tr o co m a p ro fu n d id a d e de 7 0 0
m e tro s em abril de 1892. Logo se a b riu a travessa d e s tin a d o a a tin g ir o filã o ; e n ­
co n tro u -se a 7 m etros d o poço u m p rim e iro veio, p ro va ve lm e n te o p ro lo n g a m e n ­
t o d o veio N o rth -b ra n c h ou d o veio d o G am bá, q u e apresentava espessura de
4 ,5 0 m . Em p ro sse g u im e n to , e n c o n tro u -s e a 3 0 m e tro s o filã o principal, co m um a
espessura p ró xim a de 14 m etros. S e g u n d o testes não d e ta lh a d o s, esperava-se p o ­
d e r o b te r u m a recuperação de 1 2 ,5 gram as p o r to n e la d a para o m in é rio do p e ­
q u e n o veio e de 25 gra m a s para o d o filão, q u e c o n tin h a u m veio central m u ito
rico; as esperanças d o d ire to r fo ra m realizadas, p o rta n to , antes d o ele estim ava.
A tu a lm e n te , iniciam -se tra b a lh o s de d e s e n v o lv im e n to s u b te rrâ n e o de stin ad o s a
p e rm itir a e xp lo ta çã o d o m in é rio e se c o m p le ta a instalação de enge n h os, q u e d e ­
vem estar p ro n to s para fu n c io n a r no co rrer d o ano.
A lé m da m ina de M o rro Velho, a m esm a C o m p a n h ia t e n to u e x p lo ta r as
m inas de Gaia e de G a b iro b a , vizinhas da pre ce d en te , e a m ina de C uiabá, p e rto
de Sabará; n e n h u m a deu resultados satisfatórios.
As minas de Gaia e de G a b iro b a, situadas na p ro p rie d a d e de Fernão
Paes*, fo ra m a d q u irid a s em 1862, ao preço de 1 1.583 libras esterlinas. Só fo ra m

* NR: Fernão Dias Paes Lem e, b a n d e ira n te a fa m a d o .


trabalhadas mais tarde, q u a n d o o incêndio pôs fim aos tra b a lh o s de M o r ro Velho.
Em Gaia u m m o in h o de 2 4 pilões, p o sto em fu n c io n a m e n to em 1868, p e rm itiu tra ­
ta r m in é rio de q u a rtz o e piritas, co m te o r de 13 gramas, d o qual se recuperaram
7 gram as de o u ro p o r to ne la d a . Em 1871, esse m inério, to rn o u -s e ainda mais p o ­
bre, p ro d u z in d o 2 gram as p o r to n e la d a . A b a n d o n o u -s e a e xp lo taçã o e o e n g e n h o
d e s m o n ta d o fo i substituir, em M o rro Velho, o a n tig o e n g e n h o C o te s w o rth , desa­
tiv a d o .74 Em G abiroba, a jazida é co m p o sta p o r filã o quase vertical, co m q u artzo
c o m p a c to e piritas finas: o te o r m é d io é de 14 gram as de o u ro p o r to n e la d a mas,
pelo fa to de o o u ro nele c o n tid o ser e x tre m a m e n te fin o , só se p o d e m recuperar 7
g ra m a s p o r to n e la d a . A e xp lo taçã o , in te rro m p id a u m a p rim eira vez, fo i re to m a d a
após o ú ltim o d e s a b a m e n to de M o rro Velho, mas co m igual insucesso.
A p ro p rie d a d e de Cuiabá, situada na a n tig a estrada de Sabará para Cae-
té , fo i c o m p ra d a pela C o m p a n h ia , e m 1 8 77 , pelo preço de 7 .0 0 0 libras esterlinas,
co m a fin a lid a d e de e x p lo ta r u m a jazida cujos a flo ra m e n to s são vistos acim a da
vila de Cuiabá. Essa ja zid a c o m p re e n d e um a série de q u a tro filõ e s paralelos, com
q u a rtz o de g ra n u la ç ã o fin a e piritas de fe rro em cristais, q u e co rta m xistos negros
maciços. São co n h e cid o s pelos n o m e s de C anta G alo, F o n te G rande, D o m in g a s e
S errote. A lé m destes, há três filões de q u a rtz o a u rífe ro em p e qu e n o s veios, e n ­
c o n tra d o s em te rre n o de argilas verm elhas, p ro ve n ie nte s da d e c o m p o s iç ã o dos
xistos. São co n h e cid o s pelos n o m e s de Terra Verm elha, P ita n g u e ira e Baú. Essas
diversas jazidas explotadas, há mais de sessenta anos, p o r diversos p ro p rie tá rio s
brasileiros, p rin c ip a lm e n te nos a flo ra m e n to s , fo r a m re to m a d a s p o r tra b a lh o s de
subsolo pela c o m p a n h ia , que a b riu no fla n c o da m o n ta n h a , a cerca de trin ta m e ­
tro s acima d o f u n d o d o vale, u m a g ra n d e galeria para a tin g ir as jazidas de Canta
Galo, Fonte G ra n d e e D o m in ga s, as únicas e xp lo tad a s até o m o m e n to . A lg u n s t r a ­
balhos, in d e p e n d e n te s d os precedentes, fo ra m executados na jazida de P ita n g u e i­
ra e não a p re se n ta ra m bons resultados. A e xp lo ta çã o , iniciada em d e z e m b ro de
1878, só alcançou ce rto im p u ls o após a m o n ta g e m de u m e n g e n h o de 4 0 pilões
c a lifo rn ia n o s c o m p le ta d o e m 1883; pôde-se, a p a rtir dessa época, t r itu ra r p o r
mês 1.500 to n e la d a s de m in é rio co m te o r m é d io de 12,5 gram as p o r to n e la d a ,
d o qual se recuperava cerca de 5,5 gram as de o u ro excessivam ente f in o . 75 O b a i­
xo te o r d o m in é rio e as d ificu ld a d e s de tra ta m e n to para reter um o u ro m u ito f á ­
cil de escapar fize ra m a nova c o m p a n h ia d e cid ir pela re d u çã o da e xp lo ta çã o de
Cuiabá, a fim de c o n c e n tra r to d o s os seus esforços em M o r ro Velho. A t u a lm e n ­
te, o pessoal co m p re e n d e 2 5 o p erário s e d os 4 0 pilões, só 15 estão em f u n c io n a ­
m e n to . A p ro d u ç ã o anual mais elevada fo i de 9 9 .2 5 5 gra m a s em 1884; fo i a p e ­
nas de 1 5 .1 2 0 gra m a s no a n o anterior. A p ro d u ç ã o to ta l de o u ro desde o início
das o perações elevou-se a cerca de 7 0 0 quilos.

4 . B ra z ilia n C o m p a n y (1 8 3 2 )

Em 1832, o Sr. M o r n a y c o m p ro u em n o m e de u m a c o m p a n h ia inglesa (a B razilian


C om pany, co m capital de 6 0 .0 0 0 libras esterlinas) a m ina de Cata B ranca, situada
n o fla n c o d o pico de Itabira d o C a m p o * . Essa m ina p e rtencia ao co n d e de L inha­
res, que a havia c o m p ra d o dois anos antes pela som a de 2 2 .0 0 0 cru zados (cerca
de 2 2 .0 0 0 francos); este, depois de nela te r f e it o a lg u ns tra b a lh os, cedeu-a à
c o m p a n h ia inglesa, p e lo preço de 78 co n tos de réis (cerca de 1 9 5 .0 0 0 fra n co s)76.
A jazida é c o m p o s ta p o r um filã o de q u a rtz o quase vertical, que atravessa os xis­
tos micáceos, co m direção N 15° E. Sua espessura, m u ito p e qu e n a na superfície,
a tin g e 2 a 5 m e tro s em p ro fu n d id a d e .
A e xp lo ta çã o d u ro u uns pouco s anos: a lavra era preju d ica d a p o r e n tra d a
a b u n d a n te de água. C o m o o a p ro fu n d a m e n to era sem pre fe ito p o r m eio de g ra n ­
des escavações, sem p re e n c h im e n to e com m a d e ira m e re strito aos p o n to s p e rig o ­
sos, c h e g o u um m o m e n to em q u e um a das paredes, m ina d a pelas águas, p r o d u ­
ziu um a pressão e n o rm e sobre o e sc o ra m e n to e desabou e m 1844, e n te rra n d o
cerca de trin ta m in e ra d o re s sob seus escom bros. Essa q u e d a fo i devida a duas
causas: a e c o n o m ia nos tra b a lh o s e u m m au m é to d o de e x p lo ta ç ã o 77.
A c o m p a n h ia não co n se g u iu se re e rg u er re to m a n d o os tra b a lh o s. Eis os
resultados o b tid o s d u ra n te os cinco ú ltim o s anos de sua e xp lo taçã o , s e g u n d o o
M in in g J o u rn a l:

'* NR: a tu a lm e n te Pico de Ita b irito .


Ano Extração P rodução de R ecuperação p o r
(to n e la da s) o u ro (gram as) to n e la d a (gram as)

1840 1 8 .5 2 2 3 6 3 .3 0 2 19,6
1841 22.051 3 2 2 .2 7 2 1 4 ,4
1842 2 1 .9 5 8 2 9 4 .6 7 0 1 3 ,4
1843 2 1 .9 9 4 1 4 3 .6 0 5 6,5
1 8 44 (seis meses) 8 .0 2 6 5 7 .4 1 2 7,1

Totais 9 2 .5 5 1 1 .18 1 .2 91 M é d ia 12,8

Essa m esm a c o m p a n h ia te ria ta m b é m e x p lo ta d o a ja zid a de ita b irito s a u ­


ríferos do M o rro das A lm as, p e rto de Á g u a Q u e n te , a o este da Serra d o Caraça,
m as n ã o c o n s e g u im o s o b te r in fo rm a ç õ e s sobre os re su lta d os de seus tra b a lh o s.

5. N a tio n a l B ra z ilia n M in in g A s s o c ia tio n (1 8 3 3 )

D ia n te d o sucesso da m in a de G o n g o Soco, fo ra m fe ita s pesquisas nas v i­


zin h a n ç a s dessa ja zid a , na esp era nça de e n c o n tra r u m a ja zid a s e m e lh a n te . A
m in a de ja c u tin g a a u rífe ra de C ocais, situ a d a p e rto da vila de m esm o n o m e , a
n o rd e s te d o G o n g o e p e rte n c e n te a vá rio s p ro p rie tá rio s b ra sile iro s, fo i a rre n d a ­
da em 1 8 3 3 , p o r c o n tra to p e lo p ra zo de 50 anos, para u m a nova c o m p a n h ia in ­
glesa q u e , u sa nd o o n o m e de sua v iz in h a , d e n o m in o u -s e N a tio n a l B ra zilia n M i­
n in g A s so cia tio n .
A ja zid a está p o sicio n a d a em um p o n to elevado da serra de C ocais e seus
a flo ra m e n to s fo ra m e x p lo ta d o s c o m p ro v e ito , desde o século passado, pelos m i­
n e ra do re s locais, q u e haviam e xe cu ta d o im p o rta n te s tra b a lh o s a céu a b e rto . Fora
d e sco b e rta de m o d o to ta lm e n te fo r tu ito p o r negros que, ao d e sbra var um te rre ­
no, tin h a m d e m o lid o um fo rm ig u e iro de g ra n d e p o rte e p e rce b id o g ra n d e s grãos
de o u ro disse m in ad o s na te rra .78 A p re se nta va -se sob a fo rm a de cam adas de ja ­
c u tin g a escura, no m e io de ita b irito s em le ito s a lte rn a d o s de h e m a tita e q u a rtz o
b ra n co , fre q ü e n te m e n te le n ticu la riz a d a s, co m d ire çã o geral N 10° - 20° E e m e r­
g u lh o de 30° a 55° para sui. O o u ro d istrib u ía -se irre g u la rm e n te na massa, na fo r ­
ma de g rã o fin o , ra ra m e n te de p e p ita .
N o in ício do século, c o m o as e xp lo ra çõ es s u p e rficia is re n d ia m discreta
q u a n tid a d e de o u ro 79, os p ro p rie tá rio s m o n ta ra m p e qu e n as fo rja s nas m a rgens
d o Rio Una, a fim de u tiliz a r a ja c u tin g a co m o m in é rio , e xce le n te para a fa b ric a ­
ção de fe rro p o r re d ução d ire ta 80 A e x p lo ta ç ã o su b te rrâ n e a fo i re to m a d a pela
co m p a n h ia , q u e co m e ço u os tra b a lh o s em ju n h o de 1 8 3 4 e os desenvolveu ra p i­
d a m e n te . Q u a n d o da visita de G ardner, em 1 8 40 , o p o ç o tin h a um a p ro fu n d id a ­
de de m ais de 9 0 m e tro s e o pessoal c o m p re e n d ia 3 0 e u ro pe u s, 3 0 b ra sile iro s e
3 0 0 escravos.81 In fe liz m e n te n ã o d e ra m os re su lta d os esperados. L u to u -se co n tra
fo rte vazão de água, de ta l m o d o q u e os tra b a lh o s fo ra m in te rro m p id o s em 1846,
d e p o is de se te r re cu p e ra d o 2 0 7 .9 0 0 gra m a s de o u ro , que, co n v e rtid o s , p ro d u z i­
ram 21.7 1 1 libras e ste rlin a s 82. A s despesas se e levaram , em 1 8 40 , a mais de
2 0 0 .0 0 0 libras e sterlinas. Sob a ação lenta das águas, p ro d u z ira m -s e d e s m o ro n a ­
m e n to s e a m ina fo i in u n d a d a ; em 1 8 51 , a C o m p a n h ia re scindiu o c o n tra to .
A C o m p a n h ia te n to u , em se g uida , se reerguer, e x p lo ta n d o o u tra s m inas:
em C u iabá, e x p lo to u as ja zid a s de D o m in g a s e de Terra V erm elha, q u e tin h a ig u a l­
m e n te a rre n d a d o , mas o m in é rio m u ito p o b re não dava re to rn o . Em B ru cu tu , la ­
vro u u m a cam ada de ja c u tin g a q u e só p ro d u z iu re su lta d os n ã o sig n ific a tiv o s . Em
1 8 69 c o n tin u a v a a sobreviver, co m d ific u ld a d e .
D ia n te dessa seqüência de insucessos, e x p e rim e n ta d o s pelas ú ltim a s c o m ­
pa nh ia s, h o u ve um a in te rru p ç ã o e so m e n te após 1 8 60 , q u a n d o M o rro V e lh o rea­
b ilito u as a p licações fin a n c e ira s no Brasil, assistiu-se à fo rm a ç ã o de novas so cie ­
dades de m inas.

6. E ast D e l R ey M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 6 1 )

A East d e l Rey M in in g C o m p a n y L im ite d , fo rm a d a em 1 8 61 , tin h a ca p ita l


de 9 0 .0 0 0 libras e sterlinas. P ro p u n h a -se e x p lo ta r as m inas de q u a rtz o a u rífe ro de
C apão e de Papa Farinha, p e rto de Sabará, q u e haviam sid o cedidas p o r um p ra ­
zo de 50 anos. Essas m inas tin h a m sido a d q u irid a s a n te rio rm e n te pe lo p re ço de
1 .2 0 0 libras e ste rlin a s p o r um d ire to r da C o m p a n h ia de C ocais, q u e e xe cu ta ra tr a ­
balhos co m nu m e ro so s escravos, mas a p ro d u ç ã o não c o b riu as despesas. Toda­
via, a cessão fo i fe ita à c o m p a n h ia em co n d içõ e s b a s ta n te onerosas: a c o m p ra
das co n stru çõ e s e d o m a te ria l fo i e fe tu a d a ao p re ço de 2 .5 0 0 libras e ste rlin a s. O
p ro p rie tá rio re ce b e ria u m p a g a m e n to a n u a l de 3 % so b re o o u ro e x tra íd o in c lu in ­
d o , a in d a , um a som a de. 1 0 .0 0 0 libras e ste rlin a s, d e p o is dos a cio n ista s te re m re­
c e b id o 1 0 .0 0 0 libras e ste rlin a s de d iv id e n d o s . A d ic io n a lm e n te um a nova som a,
de 1 0 .0 0 0 libras e ste rlin a s, seria paga q u a n d o os m esm os tive sse m re ce b id o
2 0 .0 0 0 lib ra s .83
In fe liz m e n te , os tra b a lh o s e x e c u ta d o s m o s tra ra m q u e se tra ta v a de ja z i­
das irre g u la re s: d e p o is de te r fe ito um a despesa de m ais de 3 6 .0 0 0 libras e s te r­
linas, a C o m p a n h ia tra n s fe riu suas operaçõe s, em 1 8 6 3 , para o M o rro São V ic e n ­
te , o n d e e x p lo to u as ja zid a s de q u a rtz o a u rífe ro d o M o rro São V ice n te e d o M o r ­
ro das A lm a s ; os tra b a lh o s da p rim e ira e x p lo ta ç ã o cessaram em 1 8 75 , os da se­
g u n d a , em 1 8 76 .

7. D o n P e d ro N o rth D el Rey G o ld M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 6 2 ).

Em 1862, a D on P edro N o rth d e l Rey G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d , co m


ca p ita l de 1 2 5 .0 0 0 libras esterlinas, co m e ço u a e x p lo ta r um a ja zid a de q u a rtz o e
p irita a u rífe ra , situ a d a no M o rro d e S antana, p e rto de M a ria n a . Passados a lg u ns
anos o p erava-se em p a rte p o bre d o filã o . O d ire to r, ca p itã o T ho m a s Treloar, se­
g u in d o in dicações de um a n tig o p ro p rie tá rio de m ina , m a n d o u fa z e r buscas na
v e rte n te o p o s ta d o vale. D e sco b riu , nas p a rte s elevadas de M a q u in é , um a ca m a ­
da de ja c u tin g a a u rífe ra no m e io dos ita b irito s , em p ro p rie d a d e da co m p a n h ia .
A p a rtir de e n tã o , m a n d o u a b a n d o n a r os tra b a lh o s d o M o rro de S antana.
Para o b te r m a io r re cu p e ra çã o de o u ro d o m in é rio c o n c e n tro u to d o s os esforços
na nova m in a , cuja e x p lo ta çã o , in icia d a em 1 8 6 3 , prossegue a té h o je , co m resul­
ta d o s variados.
A cam ada m in e ra liza d a é fo rm a d a p o r ita b irito s friá ve is de c o r n egra, com
espessura de 2 0 a 3 6 m e tro s, e n tre as cam adas estéreis de ita b irito m ais ou m e ­
nos co m p a cto s. A p re se n ta n o te to o a sp ecto de e sp e c u la rita ; a flo ra nas p a rte s a l­
tas da serra, co m um a d ire çã o a p ro xim a d a n o rd este e m e rg u lh a para n o ro este ,
co m m e rg u lh o de 27° a 36°. O o u ro o c o rre em grãos disse m in ad o s irre g u la rm e n ­
te na massa; às vezes fo rm a lin h a s e cordões salientes, a p o n to de ser possível
d e sta cá -lo s da massa arenosa sob a fo rm a de lo n g as fo lh a s , se m e lh a n te s a f o ­
lhas m o rta s.
O acesso aos tra b a lh o s era, n o co m e ço , re a liz a d o p o r um a g a le ria h o ri­
z o n ta l, a b e rta no fla n c o da m o n ta n h a , a b a ixo da cam ada, de m o d o a s e rvir à e x­
tra ç ã o d o m in é rio e ao e s c o a m e n to das águas; fo i p ro lo n g a d a , para baixo, c o m o
p la n o in c lin a d o de 23°, q u a n d o os tra b a lh o s se d e se n vo lve ra m em m a io r p ro fu n ­
d id a d e . Em se g uida , a b riu -s e o p la n o a té a su p e rfície , a fim de p o d e r fa z e r a e x­
tra ç ã o d ire ta m e n te , p o r m e io de um m a n e jo de m ulas, c o lo c a d o p ró x im o da
boca d o p la n o . A s águas da m in a , levadas p o r b o m b a s a té o nível da g a le ria , es­
co a va m pela m esm a.
C o m o o m in é rio o c o rria em e sta do friá ve l, co m raras p a rte s co m p a cta s,
era d e s m o n ta d o co m pica re ta s e, para e v ita r d e s m o ro n a m e n to s , fa zia -se um re ­
v e s tim e n to cu id a d o so nas fre n te s de lavra, co m fo rte m a d e ira m e n to . O tra ta m e n ­
to d o m in é rio consistia em pèneirar, in ic ia lm e n te , as p a rte s pedregosas, fa z e n d o -
as passar em se g u id a p o r um m o in h o de pilões e o to d o , sob fo rm a arenosa, era
s u b m e tid o à lavação em diversos a p a re lh o s b a s ta n te co m p le xo s (rifles, caixão a le ­
m ão, mesas de telas). Por fim fa zia -se um a lavação na b a te ia , a fim de se p ara r o
o u ro das areias co n ce ntrad a s.
Nos p rim e iro s anos a p ro d u ç ã o fo i n o tá v e l; d o co m e ço dos tra b a lh o s
(1 8 6 3 ) ao ano de 1 8 68 , a lca n ço u 2 .4 2 7 q u ilo s de o u ro e, n o ano de 1 8 68 , 103
to n e la d a s de m in é rio g e ra ra m 124 q u ilo s de o u ro 84 * . A seguir, o m in é rio e xtra í­
do, de te o r c o m u m , rendeu em m é dia 15 g ra m a s de o u ro p o r to n e la d a , e a ex­
p lo ta ç ã o te ria c o n tin u a d o de m a n e ira sa tis fa tó ria , se não tivessem s u rg id o g ra n ­
des d ific u ld a d e s em co n se qü ê n cia da a b u n d â n c ia das águas.
A p a rtir de 1 8 7 8 a m ina , e m b o ra p o u c o p ro fu n d a (212 m e tro s de p ro fu n ­
d id a d e s e g u n d o o m e rg u lh o ) fo i in u n d a d a , em co n se qü ê n cia da in su ficiê n cia dos
m eios de e s g o ta m e n to ; p ro c u ro u -s e m in o ra r o p ro b le m a , m as sem re su lta d o e fi­
caz, e a C o m p a n h ia c o n su m iu seus ú ltim o s recursos.
Foi re co n s titu íd a em 1 8 88 , co m c a p ita l de 1 0 0 .0 0 0 libras esterlinas, em
ações de 1 lib ra, das quais 8 9 .3 1 3 fo ra m subscritas, co m a fin a lid a d e de c o n tin u a r
o d e s a g u a m e n to da m in a e a re to m a d a dos tra b a lh o s. A a tiv id a d e in ic ia l consis-

* NR: essa p ro d u çã o co rre sp o n d e a 1 ,2 0 quilos de o u ro p o r to n e la d a de m in é rio !


tiu em in sta la r b o m b a s de e s g o ta m e n to ; c o m o só se d isp u n h a de um a queda
d 'á g u a lim ita d a , in sta lo u -se n o pé da m o n ta n h a um a roda P eiton, d e stin ad a a u ti­
lizar a a ltu ra da qu ed a de m a n e ira m ais c o m p le ta . A tra n sm issã o da fo rç a p o r ca ­
bos te le d in â m ic o s fo i fe ita até a e n tra d a d o p la n o in c lin a d o , o b je tiv a n d o a c io n a r
as hastes das b o m b a s (colocadas n o in te rio r) e o ta m b o r do cabo de extração.
A p a rtir de 1 8 92 a m ina fo i c o m p le ta m e n te secada e re to m a n d o -s e os tr a ­
balhos de e xtra çã o p o r m e io d o a n tig o a rra n jo , e n q u a n to era c o m p le ta d a a co n s­
tru ç ã o d o e q u ip a m e n to d e s tin a d o à tra ç ã o m ecânica e à in sta la çã o da nova usi­
na de tra ta m e n to , q u e c o m p re e n d ia um e n g e n h o de apenas 3 pilõ e s e ap arelho s
de lavação se m e lh a n tes aos a n tig o s . A p a rtir d o fim de 1898, tu d o estava e sta be ­
le cid o de m o d o a fu n c io n a r re g u la rm e n te ; to d a v ia , até a q ui a p ro d u ç ã o fo i pe­
q u e n a e os tra b a lh o s de d e s e n v o lv im e n to fo ra m m o m e n ta n e a m e n te suspensos
e m m a io , a fim de p ro lo n g a r o p la n o in c lin a d o e preparar, em se g u id a , um a nova
fre n te de e xp lo ta çã o .

8 . S a n ta B a rb a ra G o ld M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 6 2 )

No a n o de 1862 fo i c o n s titu íd a a S anta Barbara G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d ,


co m c a p ita l de 6 0 .0 0 0 libras e sterlinas, para a e x p lo ta ç ã o de um filã o de q u a rtz o
e p irita a u rífe ra , s itu a d o em Pari, p e rto da vila de São Francisco, a 12 q u ilô m e tro s
a leste de Santa B árbara, a p ro x im a d a m e n te .
A ja zid a o c o rre sob a fo rm a de um filã o -c a m a d a in te rc a la d o e n tre xistos
m icáceos e co m a n fib ó lio , co m espessura m u ito variável, de 0 ,6 0 a 5 ,0 0 m e tro s,
d irig id o de n o rte para sul e m e rg u lh a n d o de 45° a 5 5 ç para leste. C o m põ e -se de
q u a rtz o de g ra n u la ç ã o fin a , p irita de fe rro e p irita arsenical, co m q u a n tid a d e s va ­
riáveis de a n fib ó lio , g ra n a d a e m ica, e n c o n tra d o s co m fre q ü ê n c ia em massas cris­
ta liza d a s, fo rm a n d o veios pobres no m e io das partes p iritosas. Esse filã o e xpõe
seus a flo ra m e n to s n o fla n c o de. um a co lin a situ a d a na m a rg e m d ire ita d o Rio São
Francisco, n u m a exte nsã o de m ais de um q u ilô m e tro , e seus vestígios são e n c o n ­
tra d o s sob fo rm a de rochas fe rru g in o s a s d e co m p o s ta s a mais de 6 q u ilô m e tro s de
d istâ n cia , co m a m esm a d ire çã o e o m esm o m e rg u lh o .
A p ro p rie d a d e de Pari p e rte n cia ao co ro n e l João José C a rn e iro de M ira n ­
da, q u e a-vendeu, à co m p a n h ia p e lo p re ço de 1 2 .0 0 0 libras esterlinas, pagáveis
dois te rços em d in h e iro , o re sto em a ç õ e s 85. Havia e x p lo ta d o os a flo ra m e n to s a
céu a b e rto , em co rte co m p ro fu n d id a d e de cerca de v in te m e tro s, e a b e rto um a
ga le ria de 15 m e tro s para c o n tin u a r a e xtra çã o . Dois e n g e n h o s, de 12 pilõ e s cada
um , serviam para m o e r o m in é rio .
A co m p a n h ia re to m o u os tra b a lh o s p o r via su b te rrâ n e a , em o u tu b ro de
1 8 62 . C o m e ço u a b rin d o um a g a le ria d ire cio n a l, a lg u ns m e tro s acim a d o nível das
cheias, a fim de e x p lo ta r to d a a massa de m in é rio acim a situ a d a e re a liz a n d o o
e s c o a m e n to n a tu ra l das águas; re c u p e ro u os dois e n ge n h os, c o n s tru iu um te rc e i­
ro, ig u a lm e n te de 12 pilões, e in sta lo u um to n e l de a m a lg a m a çã o . Toda a p a rte
da ja zid a acim a dessa g a le ria fo i lavrada e p re e n c h id a , salvo um p la n o in c lin a d o
reservado para a e xtra çã o . Os tra b a lh o s c o n tin u a ra m em p ro fu n d id a d e , p o r m e io
de dois p la n os íncíínados, se ndo q u e um era p ro ío n g a m e n to d a q u e le m a n e ja d o
nos aterro s; dois m anejos de m ulas, situ a d o s na cabeça de cada p la n o , um fo ra ,
o o u tro em um a câm ara ligada à g a le ria de d ire çã o , serviam à e xtra çã o . C o m o a
rocha e n ca ixa n te era m ais sólida nas p a rte s p ro fu n d a s , c o n te n to u -s e em colocar,
em in te rva lo s, fo rte s vigas para a su ste n ta çã o d o te to . V árias delas a p o d re ce ra m
e a m ina ru iu em 17 de m a io de 1 8 82 , q u a n d o os tra b a lh o s tin h a m a tin g id o a
p ro fu n d id a d e de 90 m e tro s.
C o m o os planos in c lin a d o s se e n c o n tra v a m p a rc ia lm e n te d e stru ído s, fo i
preciso re to m a r os tra b a lh o s s e g u n d o um n o v o p la n o q u e p a rtia da g a le ria d ire ­
cio n a l a lé m da p a rte d e sm o ro n a d a . Esse p la n o in c lin a d o no filã o , seguia seu c a i­
m e n to e a tin g iu o nível d o fu n d o da m ina em ja n e iro de 1 8 84 . A b riu -se um a nova
fre n te de e x p lo ta ç ã o na ja z id a , re servando um a separação de p ro te ç ã o de 12 m e ­
tro s de espessura ab aixo dos d e s m o ro n a m e n to s . A e x p lo ta çã o , re to m a d a de m a ­
neira re g u la r n o c o m e ç o de 1 8 85 , co n ce n tra va -se na p a rte situ a d a à d ire ita do
p la n o . À m e d id a q u e a p ro fu n d a v a , o p la n o p e ne tra va em um a p a rte p o b re da ja ­
zid a , e n q u a n to o veio rico parecia afastar-se cada vez m ais para a d ire ita . Isso e x i­
g ia g ra n d e s despesas co m a b e rtu ra de galerias de tra ç a g e m e, p o r isso, resolveu-
se, em 1888, a b rir um no vo p la n o n o filã o , em d ia g o n a l, p a rtin d o da d ire ita do
p re ce d e n te , de m o d o a p e n e tra r d ire ta m e n te n o m a ciço rico. Esse p la n o , c o m p le ­
ta d o no c o rre r de 1 8 8 9 , serve, desde e n tã o , u n ic a m e n te para a e x tra ç ã o .86 A ex­
p lo ta ç ã o se fa z p e lo m é to d o de câm aras e pilares, co m la rg u ra de cerca de 30 m e ­
tro s; a tu a lm e n te te m -s e o ito câm aras, a c o n ta r d o 'p ila r de p ro te ç ã o , e a p ro fu n ­
d id a d e da m ina é de 3 0 0 m e tro s a b a ixo da g aleria.
A n te s d o d e s m o ro n a m e n to , a e xtra çã o era fe ita p o r m e io dos m a n e jo s de
m ulas a té a g aleria de d ireção, d e po is usavam -se va g o n e ta s a té a usina de tra ta ­
m e n to . C o m o havia p o uca água, seu e s g o ta m e n to era fe ito p o r um m a n e jo de
m ulas, s u fic ie n te para a cio n a r as b o m b a s. A o g a n h a r p ro fu n d id a d e , esses m eios
se to rn a v a m in s u fic ie n te s , e fo i preciso c u id a r de s u b s titu ir os m a n e jo s p o r a p a re ­
lhos m ais p o te n te s. C o m o a qu ed a d 'á g u a de q u e se d is p u n h a para os m o to re s
era m u ito fra ca , a C o m p a n h ia a b riu , a p a rtir de 1 8 80 , um canal d e s tin a d o a des­
v ia r um a p a rte das águas d o Rio São Francisco; c o n c lu íd o em 1 8 82 , este canal
m e dia 9 .6 0 0 m e tro s. Tem seção tra p e z o id a l de 0 ,7 5 m de a ltu ra , co m la rg u ra de
1,8 0 m no fu n d o , e de 2 ,4 0 m no a lto , e te m vazão de 5 7 0 litro s p o r se g u n d o , com
a ltu ra de qu ed a de 18 m e tro s, dos quais 7 m e tro s eram u tiliz a d o s para a roda de
e s g o ta m e n to e 11 para a roda de e xtra çã o . A in sta la çã o fo i c o m p le ta d a no m o ­
m e n to da in te rru p ç ã o dos tra b a lh o s e graças à p o tê n c ia dos novos m o to re s se
p ô de re o p e ra r a m ina e co m e ç a r sua e x p lo ta ç ã o em 1 8 84 ; desde essa é p oca, os
tra b a lh o s pro sse g ue m de m o d o regular.
O m in é rio , ao sair da m ina , é s u b m e tid o a um a tria g e m e q u e b ra m a n u a l.
Em seguida é e n v ia d o aos m o in h o s, para tritu ra ç ã o ; passa em se g uida p o r mesas
de lavação re co b e rta s de fla n e la s para a co n c e n tra ç ã o das areias, q u e são fin a l­
m e n te tra ta d a s p o r a m a lg a m a çã o nos ta m b o re s de Freiberg. No co m e ço das o p e ­
rações, a usina de tra ta m e n to era c o m p o s ta de 3 e n g e n h o s co m um n ú m e ro t o ­
ta l de 3 6 pilõ e s e 1 ta m b o r de a m a lg a m a çã o ; ín stalou -se um se g u n d o ta m b o r em
1 8 7 3 , um n o vo e n g e n h o de 15 pilõ e s em 1877 e um o u tro de 10 p ilõ e s em 1886,
de m o d o que a usina co m p re e n d e a tu a lm e n te 5 e n g e n h o s co m 61 pilões no t o ­
ta l e 2 ta m b o re s de a m a lg a m a çã o , p e rm itin d o tra ta r m e n sa lm e n te 1 .0 0 0 a 1 .50 0
to n e la d a s de m in é rio .
Nesse m e io te m p o , a c o m p a n h ia , cu jo ca p ita l in icial era de 6 0 .0 0 0 libras
e sterlinas, fo i re c o n stitu íd a em 1 8 69 , co m ca p ita l re d u z id o para 3 0 .0 0 0 libras. Foi
a u m e n ta d o para 4 0 .0 0 0 libras em 1 8 80 , a fim de e n fre n ta r as despesas exigidas
pela c o n s tru ç ã o d o canal; a lé m disso, fo ra m e m itid a s 1 0 .0 0 0 libras de o b rig a çõ e s
e m 1 8 82 , para re a b ilita r a m ina , após o d e s m o ro n a m e n to .
Desde o co m e ç o dos tra b a lh o s , os re su ltã d os o b tid o s fo ra m b a s ta n te sa­
tis fa tó rio s , e m b o ra m o d e sto s, p o r causa da p e q u e n a re cu p e ra çã o d o m in é rio . A
p ro d u ç ã o to ta l em 1o de ja n e iro de 1 8 9 4 alcançava 2 .6 8 2 .4 5 3 gra m a s de o u ro ,
p ro ve n ie n te s da tritu ra ç ã o de 2 7 0 .6 6 1 to n e la d a s de m in é rio , o q u e representa
u m a re cu p e ra çã o m é dia de 10 gra m a s p o r to n e la d a . O v a lo r to ta l d o o u ro a lca n ­
çou 3 2 8 .1 6 2 libras esterlinas.
A Tabela 5 a p re s e n ta a p ro d u ç ã o d u ra n te os ú ltim o s anos da e x p lo ta ç ã o ,
a c o n ta r da re to m a d a dos tra b a lh o s , ap ós o d e s m o ro n a m e n to ,
Vê-se q u e a m a io r p ro d u ç ã o o c o rre u em 1 8 8 6 ; d e c lin o u no s ú ltim o s
a n os, em v irtu d e das d ific u ld a d e s e n c o n tra d a s para c o n s e g u ir pessoal necessá­
rio ao d e s e n v o lv im e n to dos tra b a lh o s : o n ú m e ro dos o p e rá rio s , em 1 8 8 6 era de
3 0 8 (in te rio r da m in a 1 3 2 , e x te rio r 1 6 6 ), em 1 8 9 3 , to ta liz a v a 2 1 3 (in te rio r 110,
e x te rio r 103).

TABELA 5. RE S U L T A D O DAS O P E R A Ç Õ E S D E S D E A
R E T O M A D A D O S T R A B A L H O S (*)

M lN É R IO Produção de O uro
V alo r
A no Po r T o n e l a d a s em libras
T o neladas T o neladas T o tal
TRITURADAS esterlinas
E x t r a íd a s T r it u r a d a s gramas
grama
1885 1 6 .7 1 7 1 4 .1 0 2 1 5 0 .7 1 6 10,7 1 8 .1 1 6

1 8 86 2 2 .6 2 4 1 8 .6 0 7 2 3 2 .4 0 1 12,5 2 8 .2 2 2
1887 2 1 .0 2 0 1 8 .0 6 0 1 9 5 .8 8 9 10,8 2 3 ,5 4 4
1888 1 8 .8 6 2 1 5 .5 9 9 1 2 7 .3 0 7 8,1 15.241
1889 1 9 .6 0 5 16.561 1 6 4 .5 5 8 9 ,9 19.571
1890 1 8 .6 4 2 1 4 .2 0 2 1 4 9 .0 9 5 10,5 1 7 .9 1 3
1891 1 5 .1 5 9 1 2 .0 5 0 1 3 7 .3 5 0 11 ,4 1 6 .5 6 6
1892 1 1 .4 1 0 8 .9 7 0 9 1 .2 4 9 10,1 1 1 .1 2 5
1893 9 .9 9 7 8 .5 6 3 8 6 .4 7 3 10,1 1 0 .2 4 8

( * ) M in in g J o u rn a l, M ay, 16, 1 8 91 ; May, 13, 1893


9. A n g lo -B ra z ilia n G o ld M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 6 3 )

Em fin s de 1 8 63 , fo rm o u -s e um a c o m p a n h ia inglesa, co m ca p ita l de


1 0 0 .0 0 0 libras e sterlinas, com a fin a lid a d e de re to m a r a e x p lo ta ç ã o da ja zid a de
q u a rtz o e p irita a u rífe ra de Passagem , p e rto de O u ro Preto, a n te rio rm e n te e x p lo -
ta d a pela S ociedade M in e ra ló g ic a , o rg a n iz a d a p o r vo n Eschwege.
O ca p itã o de m ina Thom as Treloar, d ire to r da nova c o m p a n h ia , a d q u iriu as
q u a tro m inas existe n tes em Passagem , d e n o m in a d a s F undão, M in e ra ló g ic a , Pare­
d ã o e M a ta -C a va lo s, p e lo p re ço de 8 0 co n to s de réis {9 .0 0 0 libras esterlinas).
A m ais im p o rta n te , a lavra da M in e ra ló g ic a , p ro vin h a da re u n iã o de várias
concessões, e n tre g u e s a d ife re n te s m in e ra d o re s (e n tre 1 7 29 e 1 756) e passadas
pelas m ãos de diversos p ro p rie tá rio s para, fin a lm e n te , serem co m p ra d a s em 1 7 84
p o r um ú n ico , o cô n e g o José B o te lh o Borges. Q u a n d o de sua m o rte , seus bens
fo ra m le ilo a d o s e a m ina , co m os 2 0 escravos q u e a ela estavam ligados, fo ra m
a d q u irid o s p e lo b a rã o vo n E schw ege, a 12 de m a rço de 1 8 19 , p e io p re ço de 5
c o n to s de réis. O b a rã o fo rm o u , co m o dissem os a n te rio rm e n te , co m o n o m e de
S ociedade M in e ra ló g ic a da Passagem , um a c o m p a n h ia co m c a p ita l de 2 0 .0 0 0
cru za d o s (1 .9 0 0 libras esterlinas) S7.
D u ra n te a lg u ns anos ele p ró p rio d irig iu a e x p lo ta ç ã o , e xe cu to u diversos
tra b a lh o s su b te rrâ n e o s e c o n s tru iu u m e n g e n h o de 9 pilões. A p ó s vários anos de
p ro sp e rid a d e , os n e g ó c io s d e c lin a ra m e os tra b a lh o s fo ra m in te rro m p id o s . A p ro ­
p rie d a d e fo i ve n d id a , em 1o de ju n h o de 1 8 59 , pe lo liq u id a d o r a um m in e ra d o r
inglês, Thom as B a w d en , p e lo p re ço de 12 co n to s de réis (cerca de 1 .2 0 0 libras es­
te rlin a s), e este a re vendeu, q u a tro anos mais ta rd e , à A n g lo -B ra z ilia n G o ld M i­
n in g C o m p a n y L im ite d .
A lavra d o Fundão, viz in h a da p re ce d e n te , era c o m p o s ta de várias co n ce s­
sões e n tre g u e s, e n tre 1735 e 1 7 78 , a diversos m in e ra d o re s. Tornara-se, em 17 de
fe v e re iro de 1 8 3 5 , p ro p rie d a d e d o c o m e n d a d o r Francisco de Paula S antos, que, a
e x e m p lo d o vizinho^ fu n d o u u m a associação co m o n o m e de S ociedade U nião M i­
neira; d ia n te d o insucesso da e x p lo ta ç ã o , os associados in te rro m p e ra m os tra b a ­
lhos e a ce ita ra m fin a lm e n te a o fe rta d e T h o m a s B a w d e n e A n to n io B uzelin, q u e
co m p ra ra m a m ina , a 12 de a b ril de 1 8 50 , re ve n d e n d o -a , m ais ta rd e , à c o m p a ­
nh ia inglesa.
A lavra d o Paredão, do o u tro la d o da M in e ra ló g ic a , fo ra o b je to de co n ce s­
sões fe ita s em 1 7 58 a A n tô n io M e n d e s da Fonseca; p e rte n ce u em seguida a d i-
versos, p ro p rie tá rio s . Passou, em 1843 para a fa m ília M a rtin s C o e lh o , q u e a v e n ­
deu à A n g lo B razilian G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d , p o r in te rm é d io de Thom as
B a w den, q u a n d o da ve nda das duas ja zid a s a n te rio rm e n te m en cio n a da s.
A co m p a n h ia inglesa to m o u posse dessas três lavras em 26 de n o v e m b ro
de 1863. D epois, em 3 0 de s e te m b ro de 1 8 65 , a d q u iriu a lavra de M ata-C avalos,
situ a d a após a do Paredão, p e rto de M a ria na .
A ja zid a co m p õ e -se de um filã o de q u a rtz o e p irita , encaixada em te rre ­
nos xistosos, sob a fo rm a de um filã o de c o n ta to que p e n e tra n o fla n c o de um
c o n tra fo rte da Serra de O u ro Preto, ao pé d o q u al flu i o R ibeirão d o C a rm o , que
a b riu um le ito p ro fu n d o e n tre duas paredes ve rtica is (Fig. 24).
O filã o é c o m p o s to , e sse n cia lm e n te , de q u a rtz o b ra n co , tu rm a lin a e p irita
a rsenical, co m m e n o re s q u a n tid a d e s de p irita c o m u m de fe rro e de p irita m a g n é ­
tica ; um a cam ada de q u a rtz ito e sté ril in te rp õ e -se na massa, a p o n to de o cu p a r
em ce rto s p o n to s to d o o espaço da ja zid a ; repousa sobre um m u ro de m ica xisto
q u a rtzo s o , e n q u a n to no te to um a fin a cam ada de x is to c rip to c ris ta lin o separa o
filã o d o ita b irito . Sua d ire çã o é e sse n cia lm e n te n o rd e s te e m e rg u lh a co m um a in ­
clin a çã o de 18° a 20° para SE.

Fig. 2 4 - C o rte v e rtic a l da ja z id a de Passagem


L egenda: C an ga, M ica xisto s qu a rtz o s o s , E ntrada d o p la n o in c lin a d o n° 1, X istos c rip to c ris ta lin o s ,
N ível ze ro m e tro s, R ibeirão d o C a rm o

195
P ertence à c a te g o ria dos filõ e s d isse m in ad o s co m e s tru tu ra em rosário,
a p re s e n ta n d o um a sucessão de a d e lg a ç a m e n to s e de espessam entos, cuja espes­
sura varia de 2 a 15 m e tro s. In fe liz m e n te , as p a rte s espessadas são o cu pa d a s p rin ­
c ip a lm e n te pe lo q u a rtz ito ou q u a rtz o b ra n co p o bre, e n q u a n to as massas co m tu r ­
m a lin a e p irita a u rífe ra e stão co n ce n tra d a s s o b re tu d o nas p a rte s estreitas e, em
ge ra l, na viz in h a n ça da lapa. O m in é rio c o m p o s to u n ic a m e n te de tu rm a lin a ou de
p irita arsenical, em massas co m p a cta s de g rã o ce rra d o , a tin g e um te o r de 150 a
2 0 0 gra m a s de o u ro p o r to n e la d a . Esse te o r cai se n sive lm en te q u a n d o in te rp õ e -
se q u a rtz o ; o q u a rtz o b ra n co é, ao c o n trá rio , p o b re e te m apenas 2 a 3 gram as
p o r to n e la d a , mas desde q u e a p re se n te fra tu ra s p re e nchida s co m m a te ria l m e tá ­
lico, seu te o r se eleva a 10 ou 15 gram as p o r to n e la d a .
O filã o m o stra seus a flo ra m e n to s a mais de 60 m e tro s acim a d o nível da
água na m a rg e m d ire ita d o rio , n o p o n to o n d e a co m p a n h ia in glesa e m p re e n d e u
seus tra b a lh o s su b te rrâ n e o s, e n q u a n to na o u tra m a rg e m os te rre n o s de c o b e rtu ­
ra fo ra m excessivam ente re m exido s e, em g ra n d e p a rte , re tira d o s pelos p rim e iro s
e xp lo ra d o re s, que e x e cu ta ra m a m a io r p a rte dos tra b a lh o s a céu a b e rto , salvo em
a lg u n s p o n to s o n d e a b rira m p e q u e n o s poços, ve rd a d eiro s b uracos de to u p e ira
d e stin a d o s a atravessar a crosta de ca nga q u e fo rm a a su p erfície da. cam ada de
ita b irito , a fim de a tin g ir o filã o e lavrar o m in é rio em u m c e rto espaço c u jo c e n ­
tro co rre sp o n d ia aos poços.
A co m p a n h ia inglesa co m e ç o u seus tra b a lh o s em ja n e iro de 1 8 64 , c o n ­
c e n tra n d o -o s na ja zid a s M in e ra ló g ic a e no F undão, alcançadas p o r m e io de g a le ­
rias in clinadas, ab ertas no p ró p rio filã o , d e n o m in a d a s D aw so n e Fiaym en na p ri­
m eira, e Foster na se g un d a , u tiliz o u ig u a lm e n te um v e lh o p o ço da Sociedade
U n iã o M in e ira . Pôde-se e fe tu a r a m o a g e m d o m in é rio e xtra íd o , desde o co m e ço
das operações, u sando, após a lg u n s reparos, um dos três e n g e n h o s q u e existiam
no local. Esse e n g e n h o , de 6 hastes de m a deira, estava in s ta la d o na M in e ra ló g i­
ca; um se g u n d o , em p a rte a p o d re c id o , no Fundão, fo i quase c o m p le ta m e n te
s u b s titu íd o p o r um e n g e n h o de 12 hastes c o m p ra d o na viz in h a n ça ; q u a n to ao
te rc e iro , n ã o há in fo rm a ç õ e s . U m n o v o e n g e n h o de 3 0 hastes fo i p o s to em fu n ­
c io n a m e n to no c o m e ç o de 1867 e o p rim e iro e n g e n h o s u b s titu íd o p o r um o u tro
de 12 hastes n o a n o s e g u in te , de m o d o q u e a usina de tra ta m e n to a ca b o u p o r
se c o m p o s ta de trê s e n g e n h o s co m um to ta l de 5 4 p ilõ e s; e xistia m , alé m do
m ais, duas arra stras para p u lv e riz a r m ais fin a m e n te um a p a rte das areias das m e ­
sas de lavação.
Os tra b a lh o s p ro sse g u ira m , m as sem p o d e r c o b rir as despesas, até o c o ­
m e ço de 1 8 73 . Nos ú ltim o s anos, em M in e ra ló g ic a , te ria o c o rrid o a invasão das
águas, m e sm o c o m a e xistência da g a le ria de e sc o a m e n to , a b e rta a lg u n s m e tro s
acim a d o le ito d o rio; além d o m ais p e n e tro u -se n u m a p a rte estéril d o filã o , o que
te ria fe ito a g e re ncia d e c id ir p o r c o n c e n tra r a e xp lo ta çã o no Fundão. C o m o o m i­
n é rio era c o m p o s to , na m a io r p a rte , de q u a rtz o p o b re , as perdas a u m e n ta ra m .
Isso levou à suspensão dos tra b a lh o s em fe v e re iro de 1 8 73 , d e po is de no ve anos
de e xp lo ta ç ã o . Nesse p e río d o m o eu-se um to ta l de 1 0 3 .9 7 8 to n e la d a s de m in é ­
rio, das quais fo ra m re tiradas 7 5 3 .5 6 0 gram as de o u ro , re p re s e n ta n d o um re cu ­
peração m é dia de 7 ,2 4 gram as de o u ro p o r to n e la d a . O v a lo r d o o u ro p ro d u z id o
se elevou a 8 7 .7 9 5 libras esterlinas, e n q u a n to as despesas te ria m a tin g id o
1 1 5 .9 6 2 libras, cau sa nd o assim um a perda de 2 8 .1 6 7 libras.
A c o m p a n h ia , d ia n te das perdas c o n tín u a s o co rrid a s em Passagem te n to u ,
e m 1 8 71 , o p e ra f a m in a de ja c u tin g a de P ita n gu i, situ a d a em um c o n tra fo rte da
Serra d o C araça. As d ific u ld a d e s p ro vo ca da s pe lo g ra n d e v o lu m e de água perco-
la n d o te rre n o s excessivam ente perm eáveis, levaram ao a b a n d o n o da e xp lo ta ç ã o
n o fin a l d o a n o se g u in te , d e p o is de nela te re m sid o in vestidas m ais de 1 0 .0 0 0 li­
bras e sterlinas. A c o m p ra e as despesas de e xp lo ta çã o dessa m ina c o m p le ta ra m a
ruína da c o m p a n h ia ; co m o o c a p ita l in v e s tid o se e n co n tra v a in te ira m e n te c o n s u ­
m id o em 3 0 de ja n e iro de 1873, d e cid iu -se p o r sua liq u id a ç ã o , após m e n o s de dez
anos de existência.

10. Roça G ra n d e B ra z ilia n G o ld M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 6 4 )

Essa c o m p a n h ia fo i c o n s titu íd a em 1 8 64 , co m ca p ita l de 1 0 0 .0 0 0 libras


e sterlinas, co m a fin a lid a d e de e x p lo ta r a ja z id a de q u a rtz o a u rífe ro de Roça G ra n ­
de, p e rto de C aeté, c o m p ra d a p e lo preço de 2 2 .0 0 0 libras esterlinas 8S, pagas m e­
ta d e em espécie, m e ta d e em ações, e n q u a n to d u ra n te m u ito te m p o n ã o se c o n ­
seguira um c o m p ra d o r p o r 1 .6 0 0 libras e ste rlin a s . Esperava-se e x p lo ta ç ã o lu c ra ­
tiva, pois havia sid o a v a lia d o o teor, em diversos p o n to s , em m ais de 150 gram as
de o u ro p o r to n e la d a ; os re su lta d os não c o rre s p o n d e ra m a essa e xp e c ta tiv a , e, há
m u ito , a m ina está fe c h a d a .
1 1 . B ra z ilia n C onsols G o ld M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 7 3 )

A co m p a n h ia inglesa B razilian C onsols fo rm a ra -s e co m ca p ita l de 1 0 0 .0 0 0


libras esterlinas, para e x p lo ta r a ja zid a de Taquara Q u e im a d a , no c a m in h o de M a ­
riana para A n tô n io Pereira, no fla n c o da Serra de O u ro Preto. A p ro p rie d a d e fo ra
a d q u irid a , em a g o sto de 1 8 73 , pe lo p re ço de 35 c o n to s de réis (cerca de 4 .0 0 0
libras esterlinas), p agos m e ta d e em espécie, m e ta d e em ações. Os tra b a lh o s , in i­
ciados n o m esm o a n o , fo ra m suspensos ao ca b o de dois anos, em a g o s to de
1 8 75 , d e p o is de te re m sid o re tirad a s 4 .7 5 0 gram as de o u ro , que fo ra m in s u fic ie n ­
tes para c o b rir as despesas. C o m o o ca p ita l n ã o fo ra in te ira m e n te su b scrito , a e x­
p lo ta ç ã o fo i in te rro m p id a , p o r fa lta de recursos.

12. A s so ciação B ra s ile ira d e M in e ra ç ã o (1 8 7 4 )

Desde o co m e ço d o século, as cam adas de canga e de ita b irito s a u rífe ro s


que e xiste m em Ita b ira de M a to D e n tro fo ra m e xp lo ta d a s p o r n u m e ro so s m in e ra ­
dores. Em 1 8 70 , um a c o m p a n h ia inglesa c o m p ro u to d a s as m inas aí a b ertas, p o r
um preço a p ro x im a d o de 3 5 0 c o n to s de réis (cerca de 3 2 .0 0 0 libras esterlinas).
D epois de te r fe ito num erosas despesas de in sta la çã o , fo i necessário su sp e n d e r os
tra b a lh o s e liq u id a r a c o m p a n h ia , em 1 8 74 . Foi e n tã o fo rm a d a um a so cie d a de de
a cionistas d o país, co m o n o m e de A ssociação Brasileira de M in e ra çã o . Essa firm a
c o m p ro u , p o r p re ço ín fim o , várias das m inas da c o m p a n h ia , e n tre o u tra s a m ina
de S anta A n n a , q u e tin h a um m o in h o de pilões de 12 hastes, q u e cu sto u
2 1 :8 0 8 $ 0 0 0 réis e fo i c o m p ra d a p o r 4 :8 0 0 $ 0 0 0 réis (m in a e usina in clu íd a s)89. A
gerência dos tra b a lh o s fo i c o n fia d a a um dos associados, B e rn a rd in o Lage, que d i­
rig iu o e m p re e n d im e n to a c o n te n to , d u ra n te os p rim e iro s anos. In fe liz m e n te , o
d e s m o ro n a m e n to de poços de e xtra çã o , após te n ta tiv a s in fru tífe ra s de e xp lo ta ç ã o
h id rá u lic a na su p e rfície , o c o rrid a s p o u co após a m o rte d o d ire to r, le varam a um
tra n s to rn o ta l, que o e m p re e n d im e n to não p ro sp e ro u . H oje essas m inas são ex­
p lo ta d a s de m o d o irregular,, na su p e rfície , p o r a lg u n s faiscadores.
13. P ita n g u i G o ld M in in g C o m p a n y , L im ite d (1 8 7 6 )

A c o m p a n h ia fo i c o n s titu íd a em 1 8 76 , co m c a p ita l de 8 .0 0 0 libras e s te rli­


nas, para re to m a r a e x p lo ta çã o da ja zid a de ja c u tin g a a u rífe ra de P ita n g u i, c o m ­
prada em 1 8 75 da C o m p a n h ia A n g lo -B ra z ilia n , e n tã o em liq u id a çã o , p e lo p re ço
d e 9 0 0 lib ras esterlinas. A p e sa r da a b u n d â n c ia de água, q u e havia cau sa do a in ­
te rru p ç ã o da e xp lo ta ç ã o p re c e d e n te , os tra b a lh o s fo ra m e xe cu ta d o s de m a n e ira
quase c o n tín u a , a té o c o rre r de 1 8 87 , época em q u e fo ra m suspensos em co n se ­
q ü ê n cia de novas d ific u ld a d e s p ro vo ca da s pela presença de á g ua . Foram e xtra í­
das, n o to ta l, 1 8 .2 2 7 to n e la d a s de ja c u tin g a , q u e re n d e ra m p e rto de 2 8 3 q u ilo ­
g ra m a s de o u ro , ou seja, 15,6 g ra m a s de o u ro p o r to n e la d a .

14. E m p re z a d e M in e ra ç ã o d o M u n ic íp io d e T ira d e n te s (1 8 7 8 )

Essa c o m p a n h ia , a u to riz a d a a fu n c io n a r p o r d e c re to de 17 de a g o s to de 1878,


co m o n o m e de Em preza de M in e ra ç ã o d o M u n ic íp io de S. José d'EI-Rey, fo rm a ­
ra-se co m ca p ita l de 5 0 0 c o n to s de réis (cerca de 1 .2 0 0 .0 0 0 fra n co s), a fim de re ­
to m a r a e x p lo ta ç ã o das ja zid a s de Lagoa D o u ra d a e de Prados, a n o rte de S. José
dei Rey, h o je T ira de n te s.
A ja zid a de Lagoa D o u ra d a , situ a d a ao la d o da vila de m esm o n o m e , em
u m c o n tra fo rte da Serra d o E sp in h a ço *, co m p õ e -se de vários filõ e s de q u a rtz i­
to s * * a u rífe ro s , in te rca la d o s e n tre as cam adas de xistos verdes. Têm um a espes­
sura va riá ve l, de 0 ,1 0 a 1 m e tro co m d ire çã o s e g u in d o um a lin h a N 60° E, e m e r­
g u lh o para SE v a ria n d o de 60° a 85°..
A ja zid a de Prados, não lo n g e da vila d o m esm o n o m e , é um d e p ó s ito de
aluviões, c o m p o s to de cascalho co m um a m istu ra de areia e a rg ila fe rru g in o s a ;
fo rm a um a cam ada de g ra n d e extensão, q u e p e rte n c e à classe das ja zid a s d e s ig ­
nadas c o m o g ru p ia ra s pelos a n tig o s m ineradores,- cujas num erosas escavações e
a b u n d a n te s resíduos de lavação revelam as e x p lo ta ç õ e s .90

* NR. A Serra d o E spin ha ço n ã o se e x te n d e a té T ira d e n te s. A serra q u e d o m in a as p a rte s m a is elevadas da re ­


g iã o te m o m e sm o n o m e da c id a d e .
* * N R . D eve ser q u a rtz o ; n o o rig in a l, c o n tu d o , escreve-se " q u a r tz ite s " .
Foi e m p re g a d a apenas a m e ta d e d o c a p ita l, e após diversos tra b a lh o s de
pesquisa e a lg u ns tra b a lh o s de e x p lo ta ç ã o e xe cu ta d o s a té esses ú ltim o s anos, as
operaçõe s fo ra m in te rro m p id a s .

15. B ra z ilia n G o ld M in e s , L im ite d (1 8 9 0 )

Essa co m p a n h ia fo i c o n s titu íd a em Londres, em 1 8 80 , co m c a p ita l de


8 0 .0 0 0 libras e sterlinas, visan d o colocar, em co n d içõ e s p ro d u tiv a s um a ja z id a de
vários filõ e s de q u a rtz o a u rífe ro , co m 1 a 2 m e tro s de possança, e x p lo ta d o s su ­
p e rfic ia lm e n te pelos a n tig o s m in e ra d o re s em D e sco b e rto , d e p o is de C aeté, ao pé
da Serra da P iedade.91
O re su lta d o das operaçõe s fo i desastroso. Fora e m p re g a d o apenas m e ta ­
de d o c a p ita l; e m m e n o s de trê s anos, tu d o havia sido g a sto e tin h a m sid o re tira ­
do s apenas 15 q u ilo g ra m a s de o u ro , co m um v a lo r de cerca de 1 .8 0 0 libras e s te r­
linas. A c o m p a n h ia e n tro u em liq u id a ç ã o e te n to u -s e sua re c o n s titu iç ã o em 1 8 87 ,
co m ca p ita l de 2 0 0 .0 0 0 libras esterlinas, co m a fin a lid a d e de re to m a r os tra b a lh o s
e e x p lo ta r um a ja zid a de ja c u tin g a e xiste n te na p ro p rie d a d e .92

16. O u ro P re to G o ld M in e s o f B rasil, L im ite d (1 8 8 4 )

A m ina de Passagem , q u e p e rte n c e ra à A n g lo -B ra z ilia n G o ld M in in g C o m ­


p a n y, fo ra co m p ra d a em 1875 p e lo p ró p rio liq u id a n te da c o m p a n h ia . Esse a v e n ­
d eu, p o r sua vez, em 2 4 de m a rço de 1 8 83 , ao Sr. R obey P a rtrid g e , re p re se n ta n ­
te de u m a associação fra n ce sa , fo rm a d a em 1 8 8 0 , co m a fin a lid a d e de p ro c u ra r
m inas de o u ro no Brasil, passíveis de serem postas em co n d içõ s p ro d u tiv a s p o r
u m a co m p a n h ia .
U m e n g e n h e iro fra n cê s, C h. M o n c h o t, fo ra e n v ia d o a Passagem , em
1 8 81 , para v e rific a r o v a lo r provável da m ina e p re p a rá -la o b je tiv a n d o um a nova
e x p lo ta ç ã o .93 C o m o havia m ais de 7 anos q u e a c o m p a n h ia inglesa in te rro m p e ra
os tra b a lh o s, a m ina se e n co n tra va , em p a rte , cheia de e n tu lh o e in u n d a d a a b a i­
xo d o nível da g a le ria de e sc o a m e n to ; q u a n to à usina, a m a io r p a rte do m a te ria l
u tiliz á v e l fo ra ve n d id a e o re sto caía em ruínas. M o n c h o t co m e ço u p o r lim p a r a
g a leria de e n tra d a p rin c ip a l (D aw so n) e to m o u , em se g uida , m edidas para re a li­
zar o e s g o ta m e n to e a e xtra çã o fu tu ra d o m in é rio . C om os m a te ria is re sta n tes da
usina, ch e g o u a re c o n s titu ir um e n g e n h o de 12 pilões, que p ô d e fu n c io n a r em ju ­
n h o de 1881 e serviu para as e xp eriê n cia s, m as seu m au e s ta d o lo g o e xig iu subs­
titu iç ã o p o r um o u tro , q u e fo i p o sto em fu n c io n a m e n to em ju lh o de 1 8 82 .
A associação, d e po is de te r re a liza d o a co m p ra da m ina , no co m e ço de
1 8 8 3 , fe z ta m b é m a c o m p ra de três o u tra s m inas, R aposos e E spírito S a nto , s itu a ­
das p e rto de Sabará e B orges, p e rto de C aeté. O rg a n iz o u , n o fim de fe v e re iro de
1 8 84 , um a c o m p a n h ia de m inas que c o m p re e n d ia essas q u a tro p ro p rie d a d e s -
Passagem, Raposos, Espírito S anto e Borges - sob o n o m e de The O u ro P reto G o ld
M in e s o f B ra zil L im ite d . 0 c a p ita l da co m p a n h ia era de 4 0 0 .0 0 0 libras esterlinas
em 8 0 .0 0 0 ações de 5 libras e sterlinas; os v e n d e d o re s receberam 3 2 0 .0 0 0 libras
e sterlinas, se n d o 1 3 3 .0 0 0 em ações e 1 8 7 .0 0 0 em d in h e iro .94
Os tra b a lh o s co m e ça ra m em a b ril d o m e sm o a n o e m Passagem e em Ra­
posos; a ja zid a de E spírito S anto p e rm a n e ce u in ta cta a té h oje, e em Borges fiz e ­
ram -se apenas a lg u n s tra b a lh o s de pesquisa. E n q u a n to em Raposos a e xp lo ta çã o
pe rm a n e ce u e sta cio n á ria , em co n se qü ê n cia da p e q u e n a re cu p e ra çã o d o m in é rio ,
a m ina de Passagem to m o u , ao c o n trá rio , um g ra n d e d e s e n v o lv im e n to .
Os tra b a lh o s de m in e ra ç ã o em Passagem, c o m o os da a n tig a co m p a n h ia ,
estavam c o n c e n tra d o s na M in e ra ló g ic a e no Fundão. Foram c o m p le ta m e n te re cu ­
peradas as duas galerias de e n tra d a D a w so h e H aym en, a tu a lm e n te d e n o m in a d o s
Planos In clin a d os n. 1 e n. 2, o p rim e iro se ndo usado para a e xtra çã o e para o es­
g o ta m e n to de á g ua , a té o nível da g aleria de e sco a m e n to que fo i ta m b é m d e ­
so b stru íd a ; o s e g u n d o serve, u n ic a m e n te para e xtra çã o . A e xp lo ra çã o é fe ita c o r­
ta n d o a ja z id a em câm aras longas, p o r m e io de galerias d ire cio n a is, que fo rm a m
níveis de 50 e de 35 m e tro s, s e g u n d o a in clin a çã o ; cada nível é, em seguida, d i­
v id id o p o r re co rte s em p orções re ta n g u la re s, o n d e se a b re m câm aras de extração.
A m ina , e ste nd ia -se em p ro fu n d id a d e a té o nível 175 m e tro s, q u a n d o da re to m a ­
da dos tra b a lh o s se g u n d o o Plano n. 1. A tin g e a g ora m ais de 4 5 0 m e tro s n o fu n ­
d o desse p la n o , e os tra b a lh o s a b arca m 7 níveis, e s ta n d o 4 em e x p lo ta ç ã o e os 3
ú ltim o s , em d e s e n v o lv im e n to . A usina, c o m p o s ta de um ú n ic o e n g e n h o de 12 p i­
lões, desenvolveu-se p o u c o a p o u c o e, desde ju lh o de 1890, te m 2 e n g e n h o s de
pilões b ra sile iro s, um co m 2 4 hastes e o o u tro co m 32 hastes de m a d e ira , além
de um e n g e n h o de 4 0 pilõ e s ca lifo rn ia n o s . Isso p e rm ite tritu ra r p o r mês, em m é ­
dia, 3 .0 0 0 to n e la d a s de m in é rio , co m um a p ro d u ç ã o de 3 0 a 4 0 q u ilo g ra m a s de
o u ro . No co m e ço , apenas su b m e tia m -se as areias a um a p rim e ira lavação sobre
mesas fixas, e n q u a n to perdia-se no rio as areias pobres (ta ilin g s). A s areias ricas
e ram a m a lg a m a d a s n o to n e l. Desde d e z e m b ro de 1 8 89 , aplica-se um tra ta m e n to
c o m p le m e n ta r p o r clo re ta çã o às areias p ro ve n ie n te s dos ta ilin g s e às que saem
dos ta m b o re s de a m a lg a m a çã o , d e po is de c o n c e n tra ç ã o prévia. Pôde-se assim d i­
m in u ir as perdas de o u ro de 4 2 para 3 4 % .
Os re su lta d os das o p e ra ç õ e s da m ina de Passagem a té fim de d e ze m b ro
de 1893 fo ra m os se g uinte s:

M in é rio e xtra íd o da m in a 2 7 9 .9 1 7 to n e la d a s
M in é rio tritu ra d o nos e n g e n h o s 2 1 7 .8 0 4
P rodução de o u ro em lin g o te s 2 .5 6 7 q u ilo g ra m a s
V a lo r d o o u ro 3 2 5 .4 3 1 libras e sterlinas
R e n d im e n to p o r to n e la d a tritu ra d a 1 1 ,8 gram as

Essa m ina é a tu a lm e n te a m ais im p o rta n te de to d a s as q u e se e n c o n tra m


e m e x p lo ta ç ã o em M in a s G erais.
A m in a de Raposos, q u e fo i p osta em e x p lo ta ç ã o ao m esm o te m p o q u e a
p re ce d e n te , está situ a d a p e rto de Sabará, na m a rg e m esquerda d o Rio das Velhas,
q u e a separa da vila de Raposos, a o la d o da Estrada de Ferro C e n tra l d o Brasil
(q u ilô m e tro 5 7 0 d o Rio de Janeiro). A ja zid a c o m p õ e -se de filõ e s de q u a rtz o e p i­
rita a u rífe ra , p resentes c o m o co lu n as que atravessam os xistos q u a rtzo s o s e q u e
tê m c a im e n to de 40°, a p ro x im a d a m e n te , para E-SE. Tem espessura v a ria n d o de
2 ,5 0 a 11 m e tro s .95 Seus a flo ra m e n to s a p arecem n o fla n c o e no cu m e de dois
m o rro s, o M o rro das A lm a s e o M o rro da C ruz, p e rte n c e n te s a um c o n tra fo rte da
Serra d o C u rra l; p o r to d a p a rte o n d e a flo ra v a m os filõ e s, os a n tig o s fiz e ra m a ex­
p lo ta ç ã o p o r m e io de um p la n o in c lin a d o s e g u in d o o ve io , m as n u n ca a um a p ro ­
fu n d id a d e m u ito g ra n d e . Sem o p la n o in c lin a d o , q u a lq u e r in filtra ç ã o de á g ua , in ­
te rro m p ia o tra b a lh o .96 A d ic io n e -se , a in d a , as d ific u ld a d e s d o tra n s p o rte d o m i­
n é rio , fe ito p o r h o m e n s ca rre g a n d o um ca ru m b é na cabeça, ao lo n g o de um a g a ­
leria in clin a d a de 40°. S o m e n te nos ú ltim o s te m p o s um dos p ro p rie tá rio s d e c id iu
a b rir no fla n c o d o M o rro da C ruz, cerca de 120 m e tro s acim a d o Rio das Veihas,
um a travessa d e stin a d a a e n c o n tra r c o p o de m in é rio da M in a G r a n d e um a das
m ais im p o rta n te s , cu jo s a flo ra m e n to s a p arecia m a 180 m e tro s. Desse m o d o p o ­
deria co n tin u a r, p o r baixo, a e x p lo ta ç ã o com e ça d a pe lo a lto . Essa g aleria tin h a
c o rta d o diversos veios an te s de alca n ça r o ve io p rin c ip a l; a p ro v e ito u -s e para ex-
p lo tá -lo s, de baixo para cim a, a té a s u p e rfície . A p e sa r disso, os tra b a lh o s fo ra m
re strin g id o s, pois só existia um e n g e n h o de 4 pilões, q u a n d o da cessão da p ro ­
p rie d a d e de Raposos ao Sr. P a rtd rig e , em 1 8 83 . Ele c o n s e rto u o e n g e n h o , co m
u m a créscim o de 2 pilões e c o n s tru iu um o u tro , de 12 pilões, em um nível in fe ­
rior, a fim de u tiliz a r a água m o triz que saia d o p rim e iro e n g e n h o .
O a rra n jo m e n c io n a d o p e rm itiu à co m p a n h ia c o m e ça r as operaçõe s, co m
os dois m o in h o s e um to ta l de 18 p ilõ e s. A g a le ria da M in a G ra n d e serviu de base
para a nova e x p lo ta çã o , co m duas o u tra s travessas a b e rta s m ais e m b a ixo , um a a
cerca de 4 6 m e tro s a b aixo e a o u tra a 3 5 m e tro s desta ú ltim a , a fim de p o d e r
a p ro v e ita r diversos o u tro s co rp o s e p ro sse g u ir a e x p lo ta ç ã o dos o u tro s , em p ro ­
fu n d id a d e .
A e x p lo ta ç ã o prossegue até agora p o r m e io dessas 3 galerias, às quais
Vêm se lig a r diversas travessas cu rta s para fa z e r c o m u n ic a çã o co m os corpos, q u e
são e xp lo ta d a s de baixo para cim a , em cada um desses níveis. Era in te n ç ã o , em
1 8 86 , fa z e r a m p lo tra b a lh o de d e s e n v o lv im e n to ; co m e ço u -se m esm o a c o n s tru ir
um no vo e n g e n h o de 15 pilõ e s d e s tin a d o a s u b s titu ir o a n tig o e n g e n h o de 6 p i­
lões, p o sto fo ra de serviço, após a d e sco be rta de veios ricos q u e m o stra va m em
ce rto s p o n to s , linhas de o u ro no m e io d o q u a rtz o . In fe liz m e n te , esse m in é rio lo g o
desapareceu e re n u n c io u -se ao p ro je to , para c o n c e n tra r to d o s os e sfo rço s na
m in a de Passagem. Desde essa é poca, c o n tin u o u -s e a e xp lo ta ç ã o em p e q u e n a es­
cala, u tiliz a n d o um ú n ico e n g e n h o de 12 pilões, para a m o a g e m .

Os re su lta d os das op eraçõe s da m ina de. Raposos até fim de d e ze m b ro de


1893 são os seguintes:

M in é rio tritu ra d o 3 1 .4 1 7 to n e la d a s
P rodução de o u ro em lin g o te s 157 q u ilo g ra m a s
V a lo r d o o u ro 1 9 .6 3 0 libras e sterlinas
R ecuperação p o r to n e la d a tritu ra d a 5 gram as
A m ina d o E spírito S anto está situ a d a na m o n ta n h a de m esm o n o m e em
se g uida a Raposos, e n tre esta vila e a m in a de M o rro V e lh o, cuja p ro p rie d a d e é li­
m ítro fe , A ja zid a co m p õ e -se , co m o a de Raposos, de um a série de filõ e s em c o ­
lunas, co m c a im e n to de cerca de 35° para E, a p re se n ta n d o um a espessura v a riá ­
vel de 3 a 8 m e tro s 97 Esses filõ e s tê m a m esm a co m p o siçã o q u e os pre ce d en te s
e, na o p in iã o de M ezger, seriam m ais n u m e ro so s e m ais ricos q u e os de Rapo­
sos.98 Todavia, até h o je a c o m p a n h ia não re a lizo u q u a lq u e r tra b a lh o ; os a n tig o s ,
ao c o n trá rio , a b rira m num erosas escavações su p e rficia is, d istrib u íd a s sobre mais
de 3 0 0 m e tro s, co m um a p ro fu n d id a d e de 2 0 m e tro s o u mais.
A m ina do B orges, situ a d a ao sul de C aeté, na v e rte n te o e ste da Serra de
S ocorro, fo i c o m p ra d a , em 5 de a b ril de 1883, p e lo Sr. P a rtrid g e , em n o m e d o S in­
d ica to , de um p ro p rie tá rio b ra sile iro , A n tô n io Pereira Borges. A ja zid a é c o m p o s ­
ta de um filã o de q u a rtz o e s fu m a ç a d o , co m a lg u m a p irita arsenical, te n d o um a
d ire çã o p re fe re n cia l de oeste a leste e um m e rg u lh o de 38° para o sul. O o u ro en-
c o n tra -se c o n c e n tra d o em co rp o s co lu n are s c u jo c a im e n to é de 35° a 40° para E,
no p la n o d o filã o .99 A té a q u i um ú n ico c o rp o , M in a d e Á g u a , fo i ve rd a d e ira m e n ­
te e x p lo ta d a , s o b re tu d o pelos a n tig o s p ro p rie tá rio s . O Sr. P a rtrid g e in sta la ra um
e n g e n h o de 16 pilõ e s e a C o m p a n h ia , no p rim e iro a n o de e x p lo ta ç ã o , fe z a lg u ns
tra b a lh o s . C o m o de 1 .68 5 to n e la d a s de m in é rio re cu p e ra ra m -s e apenas 2 .5 1 0
gram as de o u ro , ou seja, 1,5 g ra m a p o r to n e la d a , a b a n d o n o u -se a e x p lo ta çã o .
D u ra n te o exercício 1 8 8 8 -1 8 8 9 , fez-se o u tra te n ta tiv a , em um s e g u n d o c o rp o ,
C achoeira: de 4 3 0 to n e la d a s de m in é rio , re cu p e ro u -se 6 7 2 g ra m a s de o u ro , ou
seja, 1 ,5 6 g ra m a p o r to n e la d a .100 Desde e n tã o , cessou a a tivid a d e .
Em re su m o , das q u a tro m inas da c o m p a n h ia , a ú n ica q u e a d q u iriu g ra n d e
im p o rtâ n c ia fo i a de Passagem. Para a te n d e r às despesas exigidas p e lo d e s e n v o l­
v im e n to dos tra b a lh o s e as m o d ific a çõ e s de tra ta m e n to , e c o n s id e ra n d o q u e a
som a paga p e lo S in d ica to para a d q u irir as diversas p ro p rie d a d e s e in stalações t i­
nha a b s o rvid o 4 /5 d o c a p ita l, fo i necessário fa ze r em 1 8 8 9 um a em issão de
6 0 .0 0 0 libras e sterlinas, em 3 .0 0 0 o b rig a çõ e s h ip o te c á ria s de 2 0 libras. A lé m d o
m ais, c o m a fin a lid a d e de in sta la r um n o vo e n g e n h o c a iifo rn ia n o , em lu g a r do e n ­
g e n h o de 2 4 pilões, já a n tig o e em m au e sta do , e de in s ta la r a p e rfu ra ç ã o m e câ ­
nica, re c o n s titu iu -s e a C o m p a n h ia , em d e z e m b ro de 1 8 92 , em nova base, co m
c a p ita l de 8 0 .0 0 0 libras e sterlinas, em ações de 1 libra in te g ra liz a d a s p o r 15 s h ii-
lin g s e tro ca d a s pelas a n tig a s co m a c o n d iç ã o dos p o rta d o re s a p lica re m 5 s h il­
lin g s: isto p e rm itiu d isp o r de um a som a de 2 0 ,0 0 0 libras e sterlinas para fa z e r fa ce
às novas in stalações a tu a lm e n te em cu rso de execução.

17. S o c ié té des M in e s d 'O r d e Faria (1 8 8 7 )

A S o cié té des M in e s d 'O r de Faria é um a co m p a n h ia francesa c o n s titu íd a


em Paris, em 13 de a b ril de 1 8 87 , c o m ca p ita l de 1 .8 0 0 .0 0 0 fra n co s, co m a fin a ­
lid a d e de e x p lo ta r a m in a d o Faria, cuja p ro p rie d a d e , fo i a d q u irid a p e lo p re ço de
6 0 0 .0 0 0 fra n c o s , p a g o s to ta lm e n te em ações.
Essa m ina está situ a d a p e rto de C o n g o n h a s de Sabará, a 4 q u ilô m e tro s
a p ro x im a d a m e n te da estação de H o n ó rio B icalho, na Estrada de Ferro C e n tra l do
Brasil (q u ilô m e tro 5 6 0 d o Rio de Janeiro). A ja zid a c o m p re e n d e um filã o de q u a rt­
zo xisto so e de p irita a u rífe ra , cujos a flo ra m e n to s a p arecem a 5 0 0 m e tro s no fla n ­
co de um c o n tra fo rte q u e se destaca d o M o rro d o Pires na Serra d o C u rral, em
um a extensão de a p ro x im a d a m e n te 5 0 0 m e tro s a quase 2 5 0 m e tro s acim a d o
fu n d o d o vale,
O filã o se e n c o n tra e n ca ixa d o em xistos a rg iio so s de cores variegadas,
m ais ou m e nos co m p a cto s, co m um a d ire çã o m é dia N 58° E, p o u c o d ife re n te da
dos xistos; sua in clin a çã o é de 60° para SE. A p re se n ta , s e g u n d o a d ire çã o , um a
e s tru tu ra em rosário, co m espessam entos e e s tra n g u la m e n to s sucessivos; dois dos
espessam entos o u colunas, separados p o r um in te rv a lo de apenas um a q u in ze n a
de m e tro s, são visíveis na su p erfície , graças às escavações exe cu ta d a s pelos p ri­
m eiros m ine rad o re s. São os m aiores d e n tre aqueles q u e fo ra m o b je to de tra b a ­
lhos im p o rta n te s .
Os a n tig o s p ro p rie tá rio s co m e ç a ra m e x e c u ta n d o um a p rim e ira e x p lo ta ­
ção su p e rfic ia l, a té q u e as águas im p e d issem sua c o n tin u a ç ã o . D epois re c o rre ­
ram à a b e rtu ra de p e q u e n a s travessas a b e rta s su ce ssivam ente êm d ife re n te s ní­
veis (Fig. 14) co m a fin a lid a d e de p ro sse g u ir os tra b a lh o s . Entrava-se cada vez
m ais n o c o rp o , se g u in d o passo a passo, até ser necessário em v irtu d e das d ific u l­
dades de e s g o ta m e n to da água, e xe cu ta r um a nova a b e rtu ra , m ais ab aixo. A
m ina p e rte n cia , p o r ú ltim o , ao te n e n te -c o ro n e l Francisco de Assis Jardim , q u e a
havia c o m p ra d o p o u co d e po is da d issolução de um a associação q u e se fo rm a ra
e n tre os dois p ro p rie tá rio s a n te rio re s , para e x p lo ta r a ja z id a . Essa associação
c o m p u n h a -s e d o c a p itã o João W ild e d o m a jo r H e n riq u e F elizardo R ibeiro, com
duas o u tra s pessoas, o c a p itã o S ilvério de A ra ú jo Lim a e Francisco A lve s de M e ­
nezes. O c o ro n e l Ja rd im tin h a a b e rto nos ú ltim o s te m p o s u m a travessa de cerca
de 8 0 m e tro s, a fim de c o rta r o c o rp o a b a ixo d o a flo ra m e n to , para e x p lo tá -la
m ais fa c ilm e n te , sem tra n s p o rte n e ni e s g o ta m e n to o n e ro so s. T in h a a b e rto em
p le n o m a ciço , em rocha p a rc ia lm e n te d e c o m p o s ta , um a ca vid a d e cujas d im e n ­
sões a tin g ia m m ais de 2 5 m e tro s .d e c o m p rim e n to , 12 m e tro s de la rg u ra e 6 m e ­
tro s de a ltu ra , q u e a ca bo u p o r ruir, p o n d o fim aos tra b a lh o s e im p o s s ib ilita n d o
sua re to m a d a c o m recursos p ró p rio s .101 Q u a n d o de sua m o rte , o c o rrid a a lg u n s
anos d e po is, os h e rd e iro s a ce ita ra m o fe rta de um g ru p o de ca p ita lista s e e n g e ­
n h e iro s franceses, q u e c o m p ra ra m a m in a no co m e ç o de 1 8 8 7 , em n o m e da
nova so cie d a d e em fo rm a ç ã o .
N o m ês de ju n h o d o m esm o a n o , a C o m p a n h ia co m e ço u suas operações.
Em lu g a r de a tin g ir a p a rte virg e m da ja zid a p o r um a g a leria h o riz o n ta l de g ra n ­
de c o m p rim e n to , em co n se qü ê n cia da p e qu e n a in clin a ç ã o d o te rre n o , resolveu-
se a b rir u m p o ço n o te to d o filã o , em nível 2 0 m e tro s a b a ixo dos a flo ra m e n to s ,
de m o d o a a lca n ça r o g ra n d e c o rp o p o r duas travessas, a b e rta s a 35 m e tro s e a
50 m e tro s, da boca d o p o ço. Já se tin h a a va nçad o o p o ço , de b a ixo para cim a, a
38 m e tro s da su p erfície e a b e rto um a p a rte da travessa no nível 3 6 , q u a n d o o c o r­
reu a flu ê n c ia de á g ua , de ta l m o n ta que fo i im possível c o n tro lá -la co m os e q u ip a ­
m e n to s d isponíveis. Foi preciso re co rre r à so lução de um a g a le ria de e s co a m e n to .
C o m eço u -se a a b rir in ic ia lm e n te , u m a p rim e ira g aleria q u e devia a tin g ir o filã o no
nível 50 a b a ixo da boca d o p o ço. A p ó s ava nço de 1 5 0 m e tro s, a tin g iu -s e te rre n o
la m a c e n to e as d ific u ld a d e s de escavação se to rn a ra m tais e o avanço tã o le n to ,
q u e se d e cid iu , para g a n h a r te m p o , e x e c u ta r um a g aleria m ais c u rta q u e devia d e ­
se m b o ca r n o p o ç o n o nível 26. Esta ú ltim a a tin g iu o filã o , depois de te r e n c o n ­
tra d o o po ço, em fe ve re iro de 1 8 90 . A g aleria de nível 50 a lca n ço u o m esm o, p o r
sua vez, no co m e ço de ju lh o de 1891.
Nesse m e io te m p o , fo i a b e rto um canal de 6 q u ilô m e tro s de c o m p rim e n ­
to . T in h a seção de 1 ,5 0 m e tro s q u a d ra d o s, e visava desviar um a p a rte das águas
na co rre n te za d o R ibeirão dos M acacos, q u e co rre ao pé da m o n ta n h a , a fim de
se o b te r um a qu ed a d 'a g u a de 4 0 m e tro s. C om vazão de um m e tro cú b ic o p o r
se g u n d o , p e rm itiria fo rn e c e r um a fo rç a d isp o n íve l de m ais de 5 0 0 cavalos. Foi
c o n s tru íd o um e n g e n h o de 2 0 p ilõ e s b ra sile iro s m o vid o s p o r um a roda, p e rto do
p o n to de chegada d o canal, C o m o este se e n c o n tra va a m ais de 1 .0 0 0 m e tro s de
d istâ n cia e a 1 8 0 m e tro s abaixo da boca d o p o ço , realizava-se o tra n s p o rte da fo r ­
ça necessária à e xtra çã o e ao e s g o ta m e n to p o r m e io de um a tra n sm issã o e lé trica
co m a a ju d a de m á q u in a s G ram m e: duas pe qu e n as tu rb in a s , tra b a lh a n d o sob
apenas 12 m e tro s de qu ed a , a cio n a v a m duas m á q u in a s d ín a m o s ge ra do re s, lig a ­
das p o r ca b o a duas m á q u in a s re ce p tora s colo ca d as p e rto d o po ço, um a para c o ­
m a n d a r um g u in c h o de e xtra çã o , a o u tra , a b o m b a de re c a lq u e .102 Um a p e quena
estrada de fe rro de m ina , co m cerca de 1 q u ilô m e tro de c o m p rim e n to , c o m p re e n ­
d e n d o duas vias e dois p la n os in c lin a d o s a u to m o to re s de 2 3 0 m e tro s cada, fo i
c o n stru íd a para o tra n s p o rte d o m in é rio da m ina a té o m o in h o .
A e x p lo ta ç ã o só co m e ç o u de m a n e ira c o n tin u a q u a n d o a g a le ria 50 fo i
a b e rta e o p o ço a b e rto a té esse nível co m u n ic o u -s e co m a m esm a. C o m o a boca
d o p o ço se e n c o n tra v a 12 m e tro s acim a dos a n tig o s tra b a lh o s , tin h a -s e , p o rta n ­
to , um a a ltu ra de 3 8 m e tro s de m in é rio a e xp lo ta r, em um c o rp o de fo rm a oval,
c o m la rg u ra de 12 a 14 m e tro s (n o m e io ) e c o m p rim e n to crescente de 2 0 m e tro s
no nível 12, a té 3 4 m e tro s no nível 5 0 .103 A massa de q u a rtz o e p irita n ã o o c u p a ­
va to d a a espessura d o c o rp o ; e xistia m três zonas de co n ce n tra ç ã o : um a no te to ,
o u tra n o m e io e a te rc e ira na parede, nos xisto s c o lo rid o s b a s ta n te moles,, passan­
d o a lg u m a s vezes ao e sta d o de ve rd a d eira s argilas. C o m o a m in e ra liza çã o p e n e ­
tro u -o s c o m p le ta m e n te , é seu c o n ju n to q u e fo rm a o filã o q u e é necessário lavrar.
A té a q u i a e x p lo ta ç ã o re tiro u u n ic a m e n te a p a rte dessa co lu n a situ a d a acim a do
nível 50, de m o d o q u e o p o ç o fic o u p ro v is o ria m e n te in ú til. A g a le ria 50 serve, ao
m esm o te m p o , para o tra n s p o rte d o m in é rio e e s c o a m e n to da água,
A tu a lm e n te os tra b a lh o s de in sta la çã o no in te rio r c o m p re e n d e m 4 g a le ­
rias: a g a le ria 50, q u e serve de acesso in fe rio r, e. as galerias 3 7 , 2 6 e 12, situadas
a 13 m e tro s, 2 4 m e tro s e 3 8 m e tro s acim a dela. N um erosas galerias de e n tra d a
fo ra m a b e rta s e n tre esses diversos sub-níveis para a co lo ca çã o de a te rro , a de sci­
da d o m in é rio e a circu la çã o dos o p e rá rio s, e a e x p lo ta ç ã o se fa z s e g u n d o o m é ­
to d o de travessas q u e co n siste em lavrar da parede d o te to tre ch o s de 2 p o r 2 m e ­
tro s, fa ze n d o -se em se g uida o p re e n c h im e n to e o p e ra n d o ao m esm o te m p o em
vários m aciços isolados, em diversos n íve is.104 O e n g e n h o , p o s to em fu n c io n a ­
m e n to pela p rim e ira vez no c o rre r de 1 8 90 s o fre u várias in te rru p ç õ e s , em conse­
q ü ê n cia de a cid e n te s o c o rrid o s n o canal e só co m e ço u a o p e ra r de m a n e ira re g u ­
lar em ju lh o de 1 8 91 . O m in é rio levado aos pilões, d e po is de fra g m e n ta ç ã o p ré ­
via m a n u a l, é re d u z id o ao e sta do de areia, c o n c e n tra d o em mesas de teias e a m a l-
g am adas n o to n e l, s e g u n d o o p ro c e d im e n to usual da re g iã o .

TABELA 6. R E S U L T A D O S D O T R A T A M E N T O ATÉ F I M DE
D E Z E M B R O DE 1893.

Recuperação de
M in é r io Produção de
O u ro por V a lo r do O uro
A nos TRATADO O uro
T o nelada francos
toneladas gramas
gramas

1891 5 098 4 4 591 8 ,72 148 3 4 8


1892 8 875 53 0 2 5 ■ 5 ,97 180 285
1893 5 699 51 2 7 6 9 ,0 0 174 3 3 8
Totais ou Médias 19 672 148 8 9 2 7 ,57 502 971

Pode-se ver p o r essa ta b e la q u e fo ra m extraídas, apenas 7 ,5 7 gra m a s de


o u ro p o r to n e la d a de m in é rio tra ta d o , q u a n d o se esperava, no início, re tira r 26
g ra m a s .105 As e xp eriê n cia s realizadas p o r Robellaz, e n g e n h e iro e n via d o à Faria pe­
los a d m in is tra d o re s da Sociedade, no c o rre r de 1893, a fim de e x a m in a r os tra b a ­
lhos e e s tu d a r as m e lh o ria s passíveis de serem fe ita s n o tra ta m e n to , fiz e ra m -n o
c o n c lu ir q u e se re cuperava 4 2 % d o o u ro c o n tid o no m in é rio , o q u e re p re se n taria
u m te o r ve rd a d e iro de 18 gram as p o r to n e la d a d o m in é rio tra ta d o , desde o c o ­
m e ço d o s tra b a lh o s a té fin s de d e z e m b ro de 1 8 93 . O o u ro d o Faria apresenta-se,
de fa to , co m g ra n u la ç ã o excessivam ente fin a e escapava em g ra n d e p a rte co m os
re je ito s (ta ilin g s ) das p rim e ira s mesas, de m o d o q u e é c o m p le ta m e n te p e rd id o na
seqüência d o tra ta m e n to . A ssim , fo i p ro p o s ta , s e g u in d o os con se lh os de R obel­
laz, a m o d ific a ç ã o d o tra ta m e n to a tu a l, co n c e n tra n d o -s e os re je ito s em mesas de
Frue (F rue-V anner) e tra ta n d o -s e ^ o s c o n c e n tra d o s p o r c lo re ta ç ã o .106
Em re su m o , desde o in ício dos tra b a lh o s , essa c o m p a n h ia passou p o r um a
série de dissabores, Em p rim e iro lugar, as d ific u ld a d e s e n c o n tra d a s para a b rir a
m in a , q u e a o b rig a ra m a a b a n d o n a r a so lução esco lh id a , de a b e rtu ra d o p o ço,
para a b rir um a p rim e ira g a le ria de e sc o a m e n to . Em s e g u n d o lugar, a necessidade
de a b rir um a s e g u n d a g aleria m ais c u rta , te m e n d o -s e q u e fracassasse a p rim e ira .
Por fim , os re su lta d os de ploráveis de um tra ta m e n to q u e p e rd e m ais da m e ta d e
d o o u ro c o n tid o no m in é rio .
A co n se qü ê n cia é que o ca p ita l fo i ra p id a m e n te e sg o ta d o pelos diversos
tra b a lh o s de in sta la çã o , o q u e e xig iu um a nova ch a m a d a de fu n d o s e um a u m e n ­
to de ca p ita l, levado a 2 .4 0 0 .0 0 0 fra n c o s, n o c o rre r do a n o de 1 8 90 . D epois, um a
vez p o sto em fu n c io n a m e n to o m o in h o , a p ro d u ç ã o de o u ro fo i m u ito p e quena,
c o b rin d o apenas os custos, de m o d o q u e era im possível executar, além dos tra b a ­
lhos de e xp lo ta ç ã o , os diversos tra b a lh o s necessários à p re p aração de e stágios f u ­
tu ro s ; a so ciedade se viu acuada d ia n te da necessidade de fa z e r m o d ific a çõ e s em
sua usina de tra ta m e n to e de a b rir um nova fre n te de lavra, já q u e a a tu a l esta­
va, em p a rte , e sg o ta d a . Para sa tisfa ze r essa necessidade, fo i liq u id a d a em 2 8 de
o u tu b ro de 1 8 93 , a fim de p o d e r se re c o n s titu ir em novas bases. A so ciedade fo i
fo rm a d a co m o n o m e de S o cié té N o u v e lle des M in e s d 'O r d e Faria, co m ca p ita l
de 1 .6 0 0 .0 0 0 de fra n co s: desta som a, 8 0 0 .0 0 0 fra n co s fo ra m e n tre g u e s em ações
aos a cionistas da a n tig a sociedade, para c o b rir sua c o n trib u iç ã o , e 8 0 0 .0 0 0 fr a n ­
cos fo ra m su b scrito s em espécie e e m p re g a d o s na co m p ra de m a te ria l e em tra ­
b a lh os diversos.
T e rm inam os assim a a p re se n ta çã o geral das co m p a n h ia s de m inas c o n s ti­
tu íd a s d u ra n te o p e río d o d o Im p é rio , e vem os q u e, dessas c o m p a n h ia , m u ito p o u ­
cas estão a tu a lm e n te em o p eração .
Em seguida à p ro cla m a çã o da R epública dos Estados U n id o s d o Brasil, em
15 de n o v e m b ro de 1 8 89 , o c o rre u um c e rto m o v im e n to de n e gó cio s, que te ve
o rig e m n o d e c o rre r de 1 8 90 , e várias co m p a n h ia s de m inas se o rg a n iz a ra m , t o ­
das co m c a p ita is brasileiros. A m a io ria a in d a está no p e río d o p re p a ra tó rio dos tra ­
balhos; a lg u m a s já in te rro m p e ra m suas operações, seja em co n se qü ê n cia de pes­
quisas in fru tífe ra s , seja p o r fa lta de ca p ita l.
18. C o m p a n h ia d e M in e ra ç ã o d o F u rq u im (1 8 9 0 )

F orm ou-se no co m e ço de 1 8 90 , co m c a p ita l de 150 c o n to s de ré is 107, com


a fin a lid a d e de e x p lo ta r os d e p ó s ito s de a lu viõ e s d o R ibeirão do C a rm o , no pé da
ca ch o eira de F u rq u im , e um a ja z id a de q u a rtz o a u rífe ro na vizin h a n ça , fo rm a d a
de p e q u e n o s veios de q u a rtz o nos xistos a rgilosos. Dois an os m ais ta rd e , o c a p i­
ta l fo i a u m e n ta d o para 6 0 0 c o n to s de réis, mas a té a g o ra só se in ve stiu um q u a r­
to d o to ta l, is to é, 150 co n to s.
Os tra b a lh o s , in iciad o s p rim e ira m e n te no le ito d o rio, fo ra m suspensos d e ­
v id o à d ific u ld a d e s e n o rm e s e n c o n tra d a s para e xp o r o cascalho a u rífe ro ; a e x p lo ­
ta çã o se v o lto u , e n tã o , para a ja zid a de q u a rtz o . In stalou-se para esse fim um a
usina de tra ta m e n to , c o m p re e n d e n d o 2 e n g e n h o s de pilõ e s c a lifo rn ia n o s , um
co m 10 pilõ e s e o o u tro co m 2 0 pilões, q u e estavam p ro n to s para fu n c io n a r,
q u a n d o os tra b a lh o s fo ra m in te rro m p id o s , em fin s de 1 8 93 , em co n se qü ê n cia da
fa lta de ca p ita l.

19. C o m p a n h ia das M in a s d e O u ro -F a lla (1 8 9 1 )

Essa c o m p a n h ia fo i c o n s titu íd a em 11 de ju lh o de 1 8 91 , c o m c a p ita l de


150 co n to s de réis, para e x p lo ta r um d e p ó s ito de a lu viõ e s a u rífe ro s situ a d o p e r­
to d o lu g a re jo de O u ro fa la , a 3 q u ilô m e tro s do Rio Sapucaí, p ró x im o da cid a d e de
São G o n ç a lo d o Sapucaí.
A ja zid a é c o m p o sta p o r cam ada de a rg ila negra co m fra g m e n to s de
q u a rtz o b ra n co , q u e repousa sobre gnaisse d e c o m p o s to . O o u ro o co rre em pe­
q u e n o s grãos no c o n ta to dessas duas un id ad e s, e o gnaisse é atravessado p o r d i­
versas linhas fin a s de o u ro . C o m o as diversas cam adas era m fa c ilm e n te atacadas
p o r água sob pressão, resolveu-se fa z e r a e xp lo ta ç ã o h id rá u lica , s e g u n d o o p ro ­
c e d im e n to c a lifo rn ia n o . Foi preciso, para ta l, c o n s tru ir um canal de 33 q u ilô m e ­
tro s de c o m p rim e n to co m vários a q u e d u to s , se ndo um de 4 2 4 m e tro s sobre um
vale a 2 8 m e tro s acim a d o p o n to m ais baixo, a fim de tra z e r as águas para o lo ­
cal da ja z id a , co m um a vazão de 3 0 0 litro s e um a q u e d a de 5 0 m e tro s de a ltu ra ,
p e rm itin d o la nçar os ja to s sob um a pressão de 4 ,5 a tm o sfe ra s.
C o m o a co m p ra da p ro p rie d a d e tin h a a b so rvid o a m a io r p a rte d o ca p ita l,
p e rto de 126 co n to s de réis, fo i necessário, para fa z e r fa ce à a q u isiçã o d o m a te ­
rial e à execução dos p rim e iro s tra b a lh o s , e n tre o u tro s os d o canal, e m itir in ic ia l­
m e n te , n o co rre r d o p rim e iro ano, duas séries de o b rig a çõ e s, c u jo m o n ta n te t o ­
ta l se elevou a 50 c o n to s e, p o u co depois, e levar o ca p ita l para 2 0 0 c o n to s de réis,
q u e fo ra m in te g ra lm e n te in v e s tid o s .108
Os tra b a lh o s p re p a ra tó rio s estão a p o n to de te rm in a r e a co m p a n h ia c o n ­
ta co m e ça r d e n tro em p o u c o os tra b a lh o s de e x p lo ta çã o .

2 0 . C o m p a n h ia M in e ra lú rg ic a B ra s ile ira (1 8 9 1 )

Essa c o m p a n h ia fo i fu n d a d a em 1 8 91 , co m ca p ita l de 2 .0 0 0 c o n to s de
réis, dos quais apenas 4 0 0 c o n to s fo ra m in vestidos até ho je , a fim de fa z e r a c o m ­
pra e p ô r em p ro d u ç ã o diversas ja zid a s m etálicas. Dessas, três são ja zid a s a u rífe ­
ras, situ a d as a vários q u ilô m e tro s ao sul de O u ro Preto: Falcão e Venda d o C am ­
p o , c o n te n d o diversos filõ e s de q u a rtz ito s * a u rífe ro s, e o Rio G u a la ch o , c o m ­
p re e n d e n d o a cam ada de a lu viõ e s q u e fo rm a o le ito d o rio no p o n to o n d e este
descreve um a curva a ce n tu a d a .
Foram fe ito s apenas a lg u ns tra b a lh o s de e xp lo ta çõ e s no Falcão e fo i c o n s­
tru íd o n o Rio G u a la ch o um cana) q u e c o rta a re fe rid a curva, a fim de desviar as
águas e secar o le ito .

2 1 . E m p re s a d e M in e ra ç ã o d o C a e th é (1 8 9 2 )

Trata-se de um a associação fo rm a d a pelos srs. B aptista, M ascarenhas, Bi-


ca lh o e o u tro s , co m ca p ita l de 2 0 0 co n to s de réis, para e x p lo ta r as m inas de Car-
ra p a to , C a rvalho e A rra ia l V elho, a g ru p a d a s to d a s ao sul de C aeté.
A m ina de C a rra p a to , a m ais im p o rta n te e a única a tu a lm e n te em e x p lo ­
ta çã o , co m p re e n d e q u a tro filõ e s de q u a rtz o a u rífe ro , in te rca la d o s e n tre cam adas
de xistos, c o m um a d ire çã o se n sive lm en te leste. Dois filõ e s fo ra m e x p lo ta d o s pela
S ociedade; são de sig na d o s p o r M in a de Cim a e M in a de Baixo. O p rim e iro é c o m ­

* N R . D eve ser q u a rtz o e m filã o , c isa lh a d o , q u e p o d e fic a r c o m a s p e cto s e m e lh a n te ao de q u a r tz ito o u , e n tã o ,


q u a rtz ito c is a lh a d o e re c ris ta liza d o .
p o s to de q u a rtz ito * , co m um a certa q u a n tid a d e de p irita c o m u m e a lg u m a p irita
arsenical, dispostas em planos e stra tifica d a s , co m espessura q u e a tin g e 6 m e tro s
e a p resenta um m e rg u lh o de 39° para N. O se g u n d o é c o m p o s to de q u a rtz o cris­
ta lin o , fre q ü e n te m e n te e s fu m a ça d o , co m um p o u c o de p irita de fe rro e de cobre,
b e m co m o g a le na ; o o u ro é fre q ü e n te m e n te visível, ora c o m o grãos fin o s , o ra sob
a fo rm a de gra n de s m anchas. A espessura é de cerca de 2 m e tro s e o m e rg u lh o ,
45° para o n o rte ’109.
O tra ta m e n to d o m in é rio é fe ito em e n g e n h o de 15 pilões b rasileiros; as
areias co n c e n tra d a s p o r lavação so b re mesas de telas são s u b m e tid a s, em s e g u i­
da, à a m a lg a m a çã o .

2 2 . C o m p a n h ia A u r ífe r a d e M in a s G e ra is (1 8 9 2 )

Estabelecida em 21 de m a rço de 1 8 92 , co m c a p ita l de 2 0 0 c o n to s de réis,


co m a fin a lid a d e de e x p lo ta r diversas ja zid a s m etálicas; a d q u iriu p o u c o depois,
p e lo p re ço de cerca de 6 8 c o n to s de réis, a ja zid a de q u a rtz o e p irita de D. Floris-
bela, c u id a n d o im e d ia ta m e n te de sua e x p lo ta ç ã o 110.
In ic ia lm e n te fo ra m a b e rta s duas galerias d e stin a d a s a a tin g ir a ja zid a , já
desnu d a d a em a lg u n s p o n to s pelos a n tig o s p ro p rie tá rio s , Foi in s ta la d o um e n g e ­
nh o de 5 pilões c a lifo rn ia n o s , m o v id o p o r um a roda P elton, q u e recebe água tra ­
zida p o r um canal de 7 .4 7 4 m e tro s, q u e é lançada em um c o n d u to de tu b o s de
fe rro fu n d id o de 2 0 0 m e tro s, co m um a qu ed a de 120 m e tro s de a ltu ra .
Os tra b a lh o s e stão a inda no p e río d o p re p a ra tó rio .

2 3 . C o m p a n h ia B ra s ile ira d e S a litra e s , T erras e C o n stru cçõ es (1 8 9 3 )

Essa c o m p a n h ia e x p lo ta , d e sde ja n e iro de 1 8 9 3 , a m in a d o Vasado, si­


tu a d a a cerca de 3 q u ilô m e tro s da V ila d o S u m id o u ro , no fla n c o sul da Serra do
Ita c o lo m i.
A ja zid a é c o m p o s ta p o r veios de q u a rtz o b ra n co , a c o m p a n h a d o de a lg u ­
ma p irita de fe rro e de g alena a rg e n tífe ra , co m g rã o s de o u ro visíveis n o q u a rtz o .
C o rta te rre n o s de xistos m icáceos.
A tu a lm e n te , e xe cu ta m -se diversos tra b a lh o s de e xp lo ta çã o .
* NR. Deve ser q u a rtz o filo n ia n o ou q u a rtz ito cisa lh ado e recristalizado.
2 4 . A ssociações P a rtic u la re s d e M in a s

A lé m dessas diversas co m p a n h ia s , e xiste m ta m b é m a lg u m a s pe qu e n as as­


sociações p a rticu la re s, q u e fa ze m a e x p lo ta ç ã o de ce rtas ja zid a s co m a fin a lid a d e
de fo rm a r m ais ta rd e um a c o m p a n h ia , se a im p o rtâ n c ia da ja zid a o p e rm itir, ou
s im p le sm e n te para c o lo ca re m suas p ró p ria s m inas em co n d içõ e s de p ro d u ç ã o .

Entre elas, d e stacarem os:

a ) A m ina da Barra, p e rto de Santa Bárbara, p e rte n c e n te à fa m ília Penna,


q u e a e x p lo ta há vários anos. "O o u ro é e n c o n tra d o em m a te ria l fe rru g in o s o li-
m o n ític o , p ro v e n ie n te c e rta m e n te da d e co m p o s içã o de p irita e o fe re c e n d o um in ­
teresse p a rticu la r. A m o stra s desse ch a pé u de fe rro d e riva d o d o filã o c o n té m 1 5
gram as de o u ro p o r to n e la d a , te o r q u e se eleva a 4 5 g ra m a s no caso de co n cre -
ções fe rru g in o s a s . Esse filã o é a c o m p a n h a d o de q u a rtz ito friá v e l, areias ocreosas,
concreções de lim o n ita e h e m a tita , das quais se tê m am o stra s q u e c o n tê m até
2 6 0 gra m a s de o u ro p o r to n e la d a ''111 . Essa m ina , e x p lo ta d a o u tro ra a céu a b e r­
to , é tra b a lh a d a a g ora p o r m e io de galerias; dois e n g e n h o s b rasileiros, um de 5
pilões, o u tro de 9 pilões, p e rm ite m e xe cu ta r a tritu ra ç ã o d o m in é rio , la va d o em
seguida sobre m esas de telas.
b ) A m ina de C ó rre g o S. M ig u e l, p e rto de São João d o M o rro G ra n d e, é
e x p lo ta d a há m ais de dois anos p o r um s in d ic a to inglês, ty lo rro G ra n d e S yndicat.
A ja zid a co m p re e n d e um a cam ada de ja c u tin g a a u rífe ra , e x p lo ta d a in ic ia lm e n te a
céu a b e rto . A tu a lm e n te p ro p õ e -se a tin g ir a ja zid a , em p ro fu n d id a d e , p o r um
po ço, q u e já te m p e rto de 3 0 m e tro s, m as cuja escavação está m o m e n ta n e a m e n ­
te parada p o r causa de a flu ê n c ia de água, q u e se p re te n d e re tira r p o r m e io de
um a b o m b a , em m o n ta g e m ; ab re m -se ta m b é m , no fla n c o da serra, duas galerias
de nível d e stin ad a s a e n c o n tra r a cam ada nas p a rte s altas. Os tra b a lh o s se e n c o n ­
tra m , p o rta n to , re d u zid o s à e xecução dessas diversas vias de acesso.
c) A m ina de Boa Esperança, ao sul de C aeté, n o fla n c o o este da Serra do
E spinhaço, o p o s to ao fla n c o q u e encerra a ja zid a de G o n g o Soco. P ertence a dois
sócios, o co ro n e l T e ó filo M a rq u e s Ferreira e José G onçalves de C a rvalho . A ja zid a
é c o n s titu íd a p o r u m filã o de q u a rtz o b ra n co o u e s fu m a ça d o , de e s tru tu ra èm ro ­
sário, c o m p re e n d e n d o vários espessam entos ou ch a m in é s dispostas s e g u n d o um a
linha de ru m o N 75° E, in te rca la d o s e n tre te rre n o s xistosos fo rm a d o s p o r rocha
fe rru g in o s a (caco) na lapa e de xis to cinza na capa; seu m e rg u lh o é de 60° para
n o rte . A lin h a do s a flo ra m e n to s p o d e ser se g u id a p o r um a e xte nsã o de m ais de
u m q u ilô m e tro , em co n se qü ê n cia das escavações fe ita s pelos a n tig o s m in e ra d o ­
res em vários desses co rp o s. A e x p lo ta ç ã o a tu a l cuida apenas de um a das c h a m i­
nés, d e sig na d a p rim itiv a m e n te c o m o m ina d o Tijuco e, p o s te rio rm e n te , Serra.
E xp lotada, de início, a céu a b e rto a té um a p ro fu n d id a d e de cerca de 30
m e tro s, fo i re to m a d a pelos p ro p rie tá rio s a tua is p o r m e io de um a g aleria em tra ­
vessa, q u e a tin g iu a ja zid a a lg u n s m e tro s ab aixo. Em se g uida , p o r m e io de um
p e q u e n o p o ço in c lin a d o , a b rira m -se dois andares de 8 m e tro s co m gaierias de d i­
reção em cada nível. O p o ço fo i p ro lo n g a d o na p a rte s u p e rio r até a su p e rfície , de
m o d o q u e a e xp lo ta ç ã o é realizada p o r m e io de um m a n e jo c o lo c a d o na s u p e rfí­
cie, p e rto da boca. O e s g o ta m e n to de á g ua é fe ito p o r m e io de um a b o m b a que
eleva a água s o m e n te a té o nível da travessa. Os tra b a lh o s fe ito s a té a g ora p e r­
m itira m c o n s ta ta r q u e a ch a m in é a p resenta um a espessura variável de 0 ,3 0 a 2 ,5 0
m e tro s, n u m c o m p rim e n to e x p lo tá v e l, s e g u n d o a d ire çã o , de cerca de 50 m etros,
e q u e te n d e a se deslocar para leste, à m e d id a q u e a p ro fu n d a . Dois e n g e n h o s b ra ­
sileiros, de 6 pilões cada, tra b a lh a n d o irre g u la rm e n te e apenas de dia, tritu ra m 50
a 6 0 to n e la d a s de m in é rio p o r mês. As areias co n c e n tra d a s em mesas de telas são
a m a lg a m a d ã s na b a te ia . O te o r d o m in é rio tra ta d o é de 25 gram as p o r to n e la d a ,
se ndo q u e 5 gra m a s são p e rd id a s nos ta ilin g s 112.
d) A m ina de Juca V ieira, desig na d a ta m b é m p e lo n o m e de São Luís, é ex­
p lo ta d a desde 1891 p o r José A fo n s o , associado co m o u tra s pessoas. A ja z id a , si­
tu a d a a a lg u n s q u ilô m e tro s ao sul de C aeté, é um filã o de q u a rtz o e sfu m a ça d o
c o n te n d o a lg u m a p irita de fe rro e p irita arsenical e um p o u c o de g a lena e de es-
tib in ita . O o u ro é e n c o n tra d o em grãos fin o s e, alg u m a s vezes, em fo lh a s e c o r­
dões. Os a n tig o s m in e ra d o re s fiz e ra m tra b a lh o s nos a flo ra m e n to s e a b rira m um
lo n g o tre c h o , q u e segue um a lin h a p re fe re n c ia l le ste-oeste; c o m o a ja zid a parece
se a p ro fu n d a r co m um m e rg u lh o v iz in h o da v e rtica l, a e xp lo ta çã o a tu a l é fe ita p o r
m e io de um p o ço de acesso, co m um m a n e jo de m ulas para a extração.
Um e n g e n h o de 12 p ilõ e s b ra sile iro s serve para a tritu ra ç ã o d o m in é rio ,
cujas areias passam sobre m esas de telas e são, em se g u id a , a m a lg a m a d a s em
um p e q u e n o to n e l. T ratam -se a p ro x im a d a m e n te 3 6 0 to n e la d a s de m in é rio p o r
mês. C o m e ço u -se a m o a g e m em ju lh o de 1891 e a p ro d u ç ã o desde essa époéa
fo i a s e g u in te :

1891 (6 meses) 8 .9 8 2 g ra m a s de o u ro
1 8 92 1 4 .6 8 9 1 4 .6 8 9
1893 1 9 .4 8 4 1 9 .4 8 4

Total 4 3 .1 5 5 4 3 .1 5 5

Isso representa um va lo r de 109 c o n to s de réis. Essa e x p lo ta çã o , d irig id a


de m a n e ira e co n ô m ica p e lo p rin c ip a l associado, é realizada co m 25 o p erário s,
e ) A m ina de Carranca e sua vizin ha Santa Cruz, situadas ao sul de C aeté. P erten­
cem ao b a rã o de T in g u á e a A n tô n io José Peixoto de Sousa. A tu a lm e n te so m e n te
C arranca está em e xp lo ra çã o. A ja zid a é fo rm a d a p o r veios de q u a rtz o arenoso
b ra n co , in te rca la d os em xistos co lo rid o s, co m um a espessura que a tin g e até 3 m e ­
tro s nas p a rte s descobertas. A d ireção segue um a linha p re fe re n c ia l leste-oeste, de
extensão d e sconhecida. No m o m e n to , se fa ze a lg u ns tra b a lh o s de pesquisa nas
partes altas da m o n ta n h a , q u e encerra a ja zid a , p o r m e io de cu rtas galerias de ní­
vel. O tra ta m e n to desse m in é rio , de resto fá cil, q u e em p a rte é te rro so , é e xe cu ta ­
d o em u m e n g e n h o de 6 pilões brasileiros, tra b a lh a n d o so m e n te de dia, com m e­
sas de lavação e a m a lg a m a çã o m anuel.. M o e m -se em m édia, 3 to n e la d a s de m in é ­
rio p o r dia de tra b a lh o , das quais re tira m de 6 a 10 gram as de o u ro p o r to n e la d a .
A essas diversas m inas é preciso a cre sce n tar o u tra s e xp lo ta d a s p o r seus
p ro p rie tá rio s.. Na Tabela 1 (ao fin a l d o livro ) se e n c o n tra m a g ru p a d a s as diversas
m inas citadas, bem c o m o as de m e n o r im p o rtâ n c ia , a tu a lm e n te em e x p lo ta ç ã o ou
q u e fo ra m e xp lo ta d a s a n te rio rm e n te .
Fig. 2 5 - V ista geral da usina de tra ta m e n to de Passagem (se g u n d o u m a fo to g ra fia )

Legenda: A - ad m istra çá o; B - arm azém ; C - la b o ra tó rio ; D - clore tação ; E - local de p re p a ro dos cartucho s; F -
a flo ra m e n to s da ja zida; G - galerias ab an don ad as; H - e n tra d a dos planos inclinados;
I - rodas de extração e e s g o ta m e n to ; J - ala de p e n e ira m e n to e tria g e m ; K - m o in h o de 2 4 pilões;
L - c o rre d o r dos fra g m e n to s m enores para os m o in h o s de 32 pilões; M - m o in h o de 32 pilões;
N - o fic in a dos ta nqu es; O - o fic in a de am algam ação ; P - sala de lavação na bateia; Q - fo rn o de de stila çã o do
m e rcú rio; R - c o rre d o r dos fra g m e n to s m aiores; S - b rita d o r; T - m o in h o de 4 0 pilões;
U - tu rb in a dos 4 0 pilões; V - p la n o aéreo

2 16
TERCEIRA PARTE
THE OURO PRETO M INES
OF BRAZIL, LIMITED
M IN A DE PASSAGEM
APRESENTAÇÃO

C o n fo rm e d e cla re i na a p re se nta çã o das duas p rim e ira s p a rte s, ao in ic ia r o


e stu d o p a rtic u la r das co m p a n h ia s de m inas em e xp lo ta çã o , dei p re fe rê n c ia à da
M in a d e Passagem , p ro p rie d a d e da OURO PRETO GOLD MINES OF BRASIL, L IM I­
TED, p o r ser a m ina a tu a l m ais im p o rta n te d o Estado de M ina s G e ra is *. Esse es­
tu d o , já p u b lic a d o no G énie C ivil, c o n s titu i o p rim e iro fa scícu lo desta Terceira Par­
te q u e c o m p re e n d e rá , adem ais, o e s tu d o das o u tra s m inas da m esm a C o m p a n h ia ,
em um s e g u n d o fa s c íc u lo .* *

C o m o a o b ra p re c e d e n te , esta p u b lic a çã o se deve à so lic ita ç ã o da com issão, n o ­


m eada p e lo Sr. A ffo n s o A u g u s to M o re ira Penna, P residente d o Estado de M ina s
G erais, p ara o rg a n iz a r a Exposição p re p a ra tó ria de O u ro Preto, p o r ocasião da Ex­
p osição m in e ira e m e ta lú rg ic a de S a ntiag o (C hile) em 1894.

O u ro Preto, 1o de s e te m b ro de 1894.
Paul Ferrand

* NR: essa m ina era a m ais im p o rta n te p o rq u e a m in a de M o rro V e lh o estava aind a sendo recup erad a do desaba­
m e n to de n o ve m b ro de 1886.
* * NR: O fa le c im e n to p re m a tu ro d o a u to r nã o p e rm itiu a pre pa raçã o d o s e g u n d o fascículo.
CA PÍTU LO I o

SITUAÇÃO DA M IN A E APANHADO GEO G R ÁFICO

Das q u a tro m inas de p ro p rie d a d e da C o m p a n h ia The O u ro P re to G o ld M in e s o f


Brasil, L im ite d , Passagem, Raposos, Espírito S a nto e B orges, a p rim e ira é a mais
im p o rta n te ; é a única q u e no m o m e n to está em e x p lo ta ç ã o re g u la r e cu jo s tra b a ­
lhos a d q u irira m re c e n te m e n te um d e s e n v o lv im e n to n o tá ve l. A ssim , é p o r ela que
co m e ça re m os o e stu d o dessas diversas m inas.
A m ina de Passagem está situ a d a p e rto da vila de m esm o n o m e , na e s tra ­
da q u e leva de O u ro Preto a M a ria n a , a 7 q u ilô m e tro s a Leste da p rim e ira e a 3
q u ilô m e tro s da ú ltim a .113 E ncontra-se no fla n c o de um c o n tra fo rte da Serra de
O u ro Preto, cuja cadeia fa z p a rte da Serra d o Espinhaço, o m a ciço c e n tra l de M i­
nas. Essa cadeia, que te m , de O u ro Preto a Passagem, um a o rie n ta ç ã o vis ive lm e n ­
te O este-Leste, fa z neste local um leve c o to v e lo , para se a lte a r p e rto de M a ria n a
s e g u in d o um a d ire çã o m ais ou m e nos p e rp e n d icu la r, para o N o rte . O c o n tra fo r­
te da Serra de O u ro Preto vem se u n ir a um a ra m ifica çã o da Serra de Ita c o lo m i,
c u jo p ic o ele va do d o m in a O u ro Preto. Entre essas duas serras flu i o Rio d o C a r­
m o , q u e vai de O u ro Preto a M a ria n a , se g u in d o um a d ire çã o paralela à das duas
cadeias q u e o encaixam até Passagem , o n d e vem de e n c o n tro à ra m ific a ç ã o d o
Ita co lo m i, q u e o o b rig a a fa ze r um b rusco c o to v e lo e o lança c o n tra o c o n tra fo r­
te da Serra de O u ro Preto, através da q u al c rio u u m ca m in h o , a b rin d o um a p ro ­
fu n d a ravina de paredes quase ve rtica is; seu cu rso se to rn a to rre n c ia l e só re to m a
a tra n q ü ilid a d e na p la n ície de M a ria n a (Fig. 26).
A m ina de Passagem co m p re e n d e um a p ro p rie d a d e , so lo e subsolo, e um a
concessão para a e x p lo ta ç ã o d o subsolo. A p ro p rie d a d e a p resenta a fo rm a de
um a g ra n d e faixa de te rra de mais de 2 q u ilô m e tro s de c o m p rim e n to p o r cerca
7 0 0 m e tro s de la rg u ra , p a rtin d o da estra d a de O u ro P reto e a c o m p a n h a n d o a
m a rg e m d ire ita d o Rio d o C a rm o até M a ria n a . A concessão e n g lo b a essa p ro p rie ­
dade e se e ste nd e a té a crista da Serra de Ita co lo m i; o cupa um a s u p e rfície to ta l
de cerca de 7 0 0 hectares.
Fig. 26 - Situação da Mina da Passagem

0 canal q u e f o r n e c e a á g u a necessária aos m o to re s t e m c o m p r im e n t o de


9 q u ilô m e tr o s ; c o m e ç a em u m a b a r r a g e m e r g u id a n o Rio d o C a rm o , p e r t o da vila
de Taquaral, segu e a m a r g e m e s q u e rd a d o rio e passa e m s e g u id a , a tra vés d e u m
a q u e d u t o de fe rr o , para a m a r g e m d ire ita , a c o m p a n h a n d o - a c o n s t a n te m e n t e a té
a m in a . A p o rç ã o q u e se e n c o n tr a na m a r g e m e s q u e rd a está s itu a d a e m u m a p r o ­
p r ie d a d e e n tre o rib e irã o e a e stra d a de O u ro Preto, p r o p r ie d a d e esta q u e a c o m ­
p a n h ia a d q u ir iu q u a n d o da e x e cu çã o d os tra b a lh o s .
A Estrada de Ferro C e n tra l d o Brasil, q u e ch e g a a t u a lm e n te a O u ro Preto
p o r m e io de u m ra m a l e q u e deve ser p r o lo n g a d a a té Itab ira d o M a t o D e n t r o * ,
p a s s a n d o p o r Passagem e M a ria n a , te rá u m a esta çã o q u e p e r m itir á servir d ir e t a ­
m e n te a m in a e e v ita rá os tra n s p o r te s p o r carro ças o u p o r tro p a s de m u la s de O u ro
Preto a té Passagem. A lin h a fé rre a , c u jo tr a ç a d o é d e te r m in a d o p e lo t r e c h o q u e vai
de O u ro P reto a M a ria n a , p e r m a n e c e q u a se c o n s t a n te m e n t e e n c o s ta d a n o fla n c o
da Serra de O u ro Preto, atravessa a e stra d a p e r t o de Passagem e passa d ia n te da
m in a na m a r g e m e s q u e rd a d o rib e irã o , e m u m nível s u p e rio r a o d o s e scritórios.

* NR: a tu a lm e n te o n o m e é Itabira. A estrada de fe rro nã o fo i p ro lo n g a d a . A n o s de p o is fo i c o n s tru íd a a estrada e n ­


tre Itabira e V itória .
CA PÍTU LO 2 o

SÍN TESE G E O L Ó G I C A

C o m p o s iç ã o d a ja z id a

A ja z id a de Passagem é f o r m a d a p o r u m filã o d e q u a r t z o e p irita a u rífe ra ,


c o m p o s t o e s s e n c ia lm e n te de q u a r t z o b r a n c o le ito s o , de t u r m a lin a e de p irita a r ­
senical, c o m m e n o r e s q u a n tid a d e s d e p irita c o m u m de f e r r o e p irita m a g n é tic a .
Esse f ilã o p e r te n c e à c a te g o r ia d os filõ e s -c a m a d a : t e m de f a t o a a p a r ê n ­
cia de u m a c a m a d a in te r e s tra tific a d a n os q u a r t z it o s xistoso s, q u e p o r sua vez, são
in te rc a la d o s à t e rr e n o s xistosos.
O f ilã o está s itu a d o n o f la n c o de u m a m o n t a n h a a o pé da q u a l c o rre o ri­
b e irã o d o C a r m o , q u e e scavou u m le ito p r o f u n d o e n tr e d u a s p a re d e s verticais, e
m o s tr a seus a f lo r a m e n t o s a cerca de 55 m e tr o s a c im a d o nível da á g u a na m a r ­
g e m d ire ita , n o local o n d e a t u a lm e n t e se fa z a e x p lo ta ç ã o . Sua d ire ç ã o é sensivel­
m e n te NE e m e r g u lh a c o m u m a in c lin a ç ã o d e 18° a 2 0 ° p a ra SE (fig . 27).
A o r d e m d e sucessão d o s t e rr e n o s q u e o e n c a ix a m é a s e g u in te : na base,
nas p a rte s m ais p r o fu n d a s , re c o n h e c id a s a té h o je , o c o r r e m m ic a x is to s q u a rtz o s o s ;

Fig, 27 - C o rte s e g u n d o o m e rg u lh o da jazida


Legenda: C anga, M icaxistos qu atzosos, E ntrada d o p la n o in clin a d o n° 1, X istos crip to crista lin o s , Q u a rtzito s e Filão

221
seguem -se, para acim a, os q u a rtz ito s xistosos e n caixa nte s d o filã o , d e po is os xis­
to s c rip to c ris ta lin o s e p o r fim , na p a rte su p erio r, os sid e ro xisto s, o u ita b irito s , e os
xistos a rg ilo so s ve rm elho s, re co b e rto s na su p e rfície p o r u m a crosta de ca nga mais
o u m enos dura.
M ica xisto s q u artzosos. Esses m icaxistos se a p re se n ta m sob dois aspectos:
m ica xisto co m m ica negra, m a rro m a co b re a d o ou verde escuro, o c u p a n d o as p a r­
tes superiores e m ica xisto co m m ica verde, m ais cla ro , a lg u m a s vezes a c e tin a d o ,
a lte rn a n d o -s e co m o p rim e iro , mas a u m e n ta n d o de v o lu m e em p ro fu n d id a d e .
Este ú ltim o parece se m e lh a n te aos q u a rtz ito s xistosos, m as d ife re dos m esm os
pela a b u n d â n c ia de m ica.
São e n c o n tra d o s , co m fre q ü ê n c ia , e n tre as cam adas de m ica xisto , veios de
q u a rtz o c ris ta lin o ou le ito so , c o m espessam entos ocasionais q u e a tin g e m p e rto
de um m e tro de espessura e, a inda, in filtra ç õ e s calcárias. Nos g e od o s fo rm a d o s
p o r esses espessam entos, co n stata -se a presença de cristalizações variadas: o dis-
tê n io azul, g e ra lm e n te im erso na massa d o q u a rtz o le ito so , o q u a rtz o em cristais,
a m ica ve rd e de co r clara ou esm eralda em placas hexagonais, a m ica negra ou
ve rd e -e scu ro em pequenas p a lh e ta s h exagonais, a tu rm a lin a ve rm e lh a em fin a s
ag ulha s, a calcita em ro m b o e d ro s , a d o lo m ita co m fo rm a de cristas de g a lo , a si-
d e rita em e sta do de e sp ato d o u ra d o e a lg u ns cristais de p irita . Na viz in h a n ça dos
a flo ra m e n to s e n co n tra m -s e , nesses g e od o s, in d u to s calcários em fo rm a de n ó d u -
los q u e re co b re m as cristalizações e, às vezes, os cristais de fe rro esp átíco a p re ­
se ntam sinais avançados de d e co m p o s içã o . De co r d o u ra d a vítrea, to rn a ra m -s e
m a rro ns, opacos, passando ao e sta do de h e m a tita m a rro m , a inda q u e co n se rva n ­
d o sua cristaliza çã o . A rocha se co b re de um a cam ada ocreosa; a lg u ns desses cris­
tais espáticos se e n c o n tra m re d u zid o s a seu e n v o ltó rio e xte rio r, fo rm a d o de lâ m i­
nas fin a s. São vazios in te rn a m e n te .
Q u a rtz ito s xis to so s e filã o . Os q u a rtz ito s são b ra n c o - esverdeados, em ca­
m adas e s tra tifica d a s b a sta n te regulares. Sua m ica, p aralela à e s tra tific a ç ã o , é de
um b ra n c o -a c e tin a d o ou ve rd e -cla ro , de um b rilh o n a carado. É m u ito u n tu o s a ao
ta to , o q u e fa z co m q u e fre q ü e n te m e n te seja to m a d a c o m o ta lc o . Trata-se de
um a va rie d a d e de sericita.
O s q u a r t z it o s se e n c o n t r a m in t im a m e n t e m is tu r a d o s c o m o filã o . Na m a io r ia das
vezes são in te r e s tra tific a d o s e m c a m a d a s paralelas, de espessura variá v e l o u , a i n ­
da, m o s tr a m -s e m u t u a m e n t e in te r p e n e tr a d o s sob a f o r m a de c u n h a ; a m assa fi-
lo n ia n a p o d e , t a m b é m , e m c e rto s p o n to s o c u p a r to d a a espessura d o c o r p o da
ja z id a e, e m o u tr o s , p o d e d e s a p a re c e r p o r c o m p le to , q u a n d o e n t ã o t o d a a c a m a ­
da é f o r m a d a p o r q u a r t z it o s (figs. 2 8 e 29).
Esses m e s m o s q u a r t z it o s são visíveis e m d ife r e n te s p o n to s a o lo n g o da
Serra, d e s d e O u r o P reto a té A n t ô n i o Pereira, p a s s a n d o p o r Passagem e p e lo M o r ­
ro de S a n ta n a . Em O u r o Preto, seus a f lo r a m e n t o s são c o n s id e rá v e is ; lá f o r a m
a b e rta s várias p e d re ira s p a ra e x tra ç ã o de lajes (p e d ra s d e la je ), p o r causa de sua
f a c ilid a d e para se p a r t ir e m c o m o lo n g a s fo lh a s ; nas p e d re ira s f o i possível c o n s t a ­
t a r a pre se n ça d e n u m e r o s o s filõ e s de q u a r t z o , n o r m a is à e s tra tific a ç ã o e sem
a p r e s e n ta r q u a lq u e r das ca ra c te rís tic a s d o d e Passagem . De O u r o P re to a Passa-

Fig. 2 8 - Plano da M in a de Passagem

223
g e m , os q u a r t z it o s a f lo r a m e m dive rs o s locais, seja na p r o x im id a d e da e stra da,
seja n o le ito d o Rio d o C a rm o . Tem -se to d a ra z ã o e m s u p o r q u e essas d ife r e n te s
c a m a d a s na v e r d a d e f o r m e m a p e n a s u m a ; há d e f a t o g r a n d e c o n c o r d â n c ia em
sua d ire ç ã o e m e r g u lh o : de O u r o P re to a P a ssagem , a d ire ç ã o varia de N 7 0 ° a 60°
E. Na m in a ela é N 4 5 ° E e n o M o r r o de S a n ta n a , N 3 6 ° E; a cu rv a q u e a serra faz
na v iz in h a n ç a de M a ria n a ju s tific a essa p e q u e n a m o d if ic a ç ã o na d ire ç ã o . O m e r ­
g u lh o , v o lta d o a p r o x im a d a m e n t e para SE, é d e 2 0 ° a 2 5 ° p e r t o d e O u r o Preto,
de 18° a 2 0 ° e m Passagem e de 1 5 ° 3 0 ' n o M o r r o de S a n t a n a . 114
O filã o se c o m p õ e de q u a r t z o le ito s o , r e c o r ta d o p o r n u m e r o s o s e espes­
sos veios de m is p íq u e l e m cristais e m b u t id o s na massa, a c o m p a n h a d o s c o m f r e ­
q ü ê n c ia p o r t u r m a lin a e m a g u lh a s n e g ra s e, t a m b é m , m as e m m e n o r q u a n t i d a ­
de, de p irita de f e r r o q u e a p re s e n ta crista liza çõ e s varia d a s, e de p irita m a g n é tic a .
O m is p íq u e l e a tu r m a lin a e n c o n tr a m - s e e m m a io r a b u n d â n c ia : o p r im e i­
ro se e n c o n tr a e m m assas c o m p a c ta s f o r m a d a s de p e q u e n o s cristais a g r u p a d o s ,
de c o r b ra n c a p r a te a d a , cuja te x tu r a g r a n u la d a e b r ilh o vivo le m b r a m o a s p e c to
d o aço, m as são m u it o friáveis. A t u r m a lin a o c o r r e s o b a f o r m a de p e q u e n a s a g u ­
lhas n e g ra s m u it o fin a s , re u n id a s e m m assas de t e x tu r a ce rra d a , b a s ta n te friáveis,
c o m m u it a f r e q ü ê n c ia s a lp ica d a s de cristais iso la d o s de m is p íq u e l. A p irita de f e r ­
ro se a p re s e n ta e m cristais cú b ic o s , a lg u m a s vezes sem f o r m a p r ó p r ia e a g r u p a ­
dos, m as e m g e ra l iso la d o s c o m o m is p íq u e l. Tod avia, e m u m a c e rta p a r te d o fi-

Q n a # * Warns. v e ln é 1

kel et ScmrMidlBc,

Fig. 29 - C ortes d o filã o da M in a de Passagem


Legenda: C o rte A B, C o rte C D e C o rte E F: Plano in clin a d o n° 1, G aleria e s g o ta m e n to
Teto Ita biritos, X istos crípto crista lin os, Q ua rtzitos
Filão: Q u a rtzo bra nco, Veios de p irita e tu rm a lin a . Veios de m ispichel e tu rm a lin a , X istos com
veios de m isp ichel e tu rm a lin a
M u ro : M ica xixto s qu artzosos

224
lão, bem lim ita d a , d e sco briu -se p irita co m asp ecto in te ira m e n te especial: aparece
em massa c o m p a rtim e n ta d a , cujas células são fo rm a d a s de cristais fin o s de um a
c o r a m a re lo -cla ro , le m b ra n d o a d o o u ro verde; exposta ao ar, cobre-se de e flo re s-
cências de fio s b rancos sedosos e ta m b é m de cristalizações brancas e verdes de
s u lfa to de fe rro , o q u e fa z s u p o r q u e se está em presença de p e q u e n o s cristais de
m arcassita. Esses c o m p a rtim e n to s são, às vezes, p re e n c h id o s p o r h e m a tita c o m ­
p a cta ve rm e lh a ou m a rro m um p o u c o a rg ilo sa ; depois desaparece, su b stitu íd a p o r
um a massa d u ra de h e m a tita . A p irita m a g n é tic a se e n c o n tra em pequenas m a s­
sas co m p a cta s, a m a re lo -b ro n z e , g e ra lm e n te associada co m a p irita c o m p a rtim e n ­
ta d a . A p irita de co b re , m u ito rara, a co m p a n h a em p e q u e n a p ro p o rç ã o os cristais
de p irita c o m u m .
C o m o se vê, a co m p o siçã o da ja zid a não é u n ifo rm e . De resto, convém
acre sce n tar que nela se co n sta ta a presença de o u tro s m in e ra is além dos já c ita ­
dos: são a calcita, d o lo m ita , s id e rita , g alena, e s tib in ita , d is tê n io , g ra n a d a , m icas
verde e n egra. A m a io ria existe na viz in h a n ça das salbandas, o q u e te n d e a lhes
d a r um a o rig e m co m u m co m a das rochas encaixantes: descobrem -se crista liza ­
ções de ca lcita , d o lo m ita , s id e rita , d is tê n io e m ica ve rd e p e rto d o m u ro , gra n ad a s
u n id as à p irita cú b ica , p e rto d o te to e m icas negras no te to e no m u ro * . Todavia,
veios de c a rb o n a to se in filtra ra m irre g u la rm e n te na massa fito n ia n a . E n q u a n to a
ca lcita é e n c o n tra d a nos m icaxistos sob a fo rm a de cristais ro m b o é d rico s, nos
g e od o s d o filã o aparece co m o m a g n ífico s cristais in co lo re s esca le n oé d ricos e,
ta m b é m , prism as he xag o n a is; estes ú ltim o s a p re se n ta m co m fre q ü ê n c ia a p a rti­
c u la rid a d e de, ao serem destacados, q u e b ra re m -se na base s e g u n d o sua cliva -
g e m , d e ix a n d o na p a rte c e n tra i um n ú cle o cris ta lin o , q u e não é senão um escale-
n o e d ro e m b u tid o n o cristal de prism a h e xa g o n a l.
N o m u ro , o filã o está em c o n ta to co m os m icaxistos, dos quais às vezes é
se p ara do p o r um a sa lb a nd a fo rm a d a p o r um xis to n e gro, g ra fito s o , q u e p e ne tra
fre q ü e n te m e n te na p ró p ria massa d o filã o ; de resto, co n sta ta -s e em diversos lo ­
cais a p e n e tra ç ã o dos m icaxistos n o filã o , a p o n to de fo rm a r um fa ls o m u ro que
a tin g e a té um m e tro de espessura, sob a q u al se e n c o n tra a massa filo n ia n a . Em
g e ra l, é p e rto d o m u ro q u e se e n c o n tra m c o n c e n tra d o s p re fe re n c ia lm e n te os
veios ricos co m p o sto s de p irita arsenical e tu rm a lin a , co m u m p o u co de q u a rtz o .

* NR: as palavras te to e m u ro tê m c o m o s inô nim os, capa e lapa.


N o te to , e n c o n tra -s e ta m b é m um a salb a nd a fo rm a d a de xis to g ra fito s o , mas
m ais ra ro ; fre q ü e n te m e n te é s u b s titu íd a p o r um a ca m a d a de cristais de g ra n a ­
das, p irita de fe rro e um p o u c o de p irita de co b re e m ica n e gra, de p e q u e n a es­
pessura, em c o n ta to c o m xis to s c rip to c ris ta lin o s . A té a q u i, n u n ca se c o n s ta to u a
p e n e tra ç ã o d o te to p o r in filtra ç õ e s d o filã o ; há, p o rta n to , um a fo rte p ro p e n sã o
a su p o r q u e a ja z id a , p o s te rio r aos q u a rtz ito s , seria a n te rio r à massa dos te rre ­
nos q u e a re co b re m .
X isto s c rip to c ris ta lin o s . Esses xistos, q u e o cu p a m o te to d o filã o , parecem
co m p o s to s de q u a rtz o , m ica negra e p irita de fe rro disse m in ad o s em grãos fin o s
na massa. Talvez a g ra n a d a e n tre na co m p o siçã o desses xistos, a ju lg a r pelas cris­
ta liza çõ e s q u e o c o rre m na salbanda d o te to , cujos e le m e n to s de vem te r sido fo r ­
necidos pelos m esm os xistos, pois são po bres em o u ro . Essa cam ada de x is to te m ,
g e ra lm e n te , um a p e q u e n a espessura e, às vezes, desaparece. Os ita b irito s , e n tã o ,
re p o usam d ire ta m e n te so b re a ja zid a .
Ita b irito s . A cim a dos xistos a p arecem os ita b irito s , m istu ra xistosa de
q u a rtz o de g rã o s fin o s e fe rro o lig is to em p e qu e n as pa lh eta s co m b rilh o de aço;
nas partes altas vizin ha s da su p erfície , esses ita b irito s são su b s titu íd o s p o r xistos
a rg ilo so s ve rm e lh o s ou p o r um a crosta d u ra de canga, c o n g lo m e ra d o de c o r t i ­
jo lo co m te x tu ra esponjosa, c o m p o s to de fra g m e n to s de q u a rtz o o u de ita b irito
lig a d o s p o r um c im e n to a rg ilo fe rru g in o s o .
Essas cam adas existem em e n o rm e a b u n d â n c ia na re g iã o : p o r to d o o ca­
m in h o de O u ro Preto a Passagem e a d ia n te , a té A n tô n io Pereira, os te rre n o s su ­
p e rio re s da Serra de O u ro Preto são quase to ta lm e n te fo rm a d o s p o r ita b irito s e
xistos a rg ilo so s, q u e se a p re se n ta m em a flo ra m e n to s consideráveis. R ecobrem a
ja zid a de Passagem n u m a a ltu ra de m ais de 50 m e tro s acim a d o nível da e n tra d a
da m ina e su rg e m , ta m b é m , d o o u tro la d o d o rib e irã o , co m um a espessura m e ­
nor, co m sua cam ada de ca n ga , cuja co r característica é visível em nu m e ro so s
p o n to s da su p erfície . Os ita b irito s e n ce rra m um g ra n d e n ú m e ro de belos cristais
o cta é d rico s de m a g n e tita ; co n sta ta -s e ta m b é m , às vezes, e n tre as lam inações, a
presença de im p re g n a çõ e s ca rb o n áticas.
C o m p o r ta m e n to e im p o rtâ n c ia d a ja z id a

O c o m p o rta m e n to da ja zid a é b a s ta n te re g u la r; sua in clin a çã o é quase


c o n sta n te , sua d ire çã o varia p o u c o e o b ed e ce à leve curva q u e a p re se n ta m as ca­
m adas. Sua c o m p o siçã o e sua possança, ao c o n trá rio , são m u ito variáveis e a le ­
va m a ser parecida co m os filõ e s d isse m in ad o s de e s tru tu ra em rosário. É, de fa to ,
fo rm a d a p o r um a série de linhas, ora ricas, ora pobres, e a p resenta um a se q ü ê n ­
cia de e s tra n g u la m e n to s e de espessam entos tais que, em ce rto s p o n to s, a espes­
sura d o filã o a tin g e q u a n d o m u ito 2 m e tro s e em o u tro s vai a té p e rto de 15 m e­
tro s. In fe liz m e n te , esses espessam entos são o c u p a d o s, em g ra n d e p a rte , p o r
q u a rtz ito s o u q u a rtz o le ito so p obre.
A s p a rte s m ais ricas são aquelas o n d e o m isp íq u e l e as tu rm a lin a s se a p re ­
se n ta m em massas co m p a cta s de grãos ce rrad o s, s o b re tu d o q u a n d o os cristais de
m isp íq u e l são m u ito fin o s e tê m um a n o tá ve l c o r b ra n c o -p ra te a d a ; p o d e m c o n te r
150 a 2 0 0 gram as de o u ro p o r to n e la d a , m as o te o r d im in u i se n sive lm en te a p a r­
tir d o m o m e n to em q u e se e n c o n tra m m istu ra d a s co m q u a rtz o . É s o m e n te nes­
sas p a rte s d o filã o que se te m o p o rtu n id a d e de e n c o n tra r pe qu e n as p in ta s de
o u ro visíveis n o m isp íq u e l ou na tu rm a lin a .
A o c o n trá rio , as massas de q u a rtz o le ito so são pobres: tê m de 2 a 3 g ra ­
mas de o u ro p o r to n e la d a . Tornam -se mais ricas q u a n d o a p re se nta m pequenas fra ­
tu ra s cheias de im pre gn a çõ e s p irito sa s (p irita de fe rro , m isp íq u e l) ou de tu rm a lin a ;
reconhece-se, à p rim e ira vista, q u e o q u a rtz o le ito so é m ais rico, q u a n d o a massa
branca é re co rta d a p o r um a m a io r q u a n tid a d e de pequenas linhas negras devidas
a essas im pregnações. Q u a n d o o q u a rtz o apresenta fra tu ra s preenchidas p o r m a­
té ria s m etálicas, o te o r se eleva fa c ilm e n te para 10 e 15 gram as p o r to n e la d a .
As p irita s c o m p a rtim e n ta d a s , em p a rte d e co m p o s ta s, u n id as em g e ra l às
tu rm a lin a s , parecem ter, p o r esse m o tiv o , te o r b a s ta n te elevado; c o n tê m 2 0 a 30
g ra m a s de o u ro p o r to n e la d a , só q u e seu e sta do de d e co m p o s içã o to rn a o tra ta ­
m e n to m ais fá c il.
E ncontram -se nesse filã o , ju n to co m o o u ro , b is m u to e um p o u co de prata.
Os q u a rtz ito s não c o n tê m o u ro .
A im p o rtâ n c ia da ja zid a p o d e ser fa c ilm e n te re co n h e cid a , n ã o apenas pe lo
d e s e n v o lv im e n to dos tra b a lh o s su b te rrâ n e o s e xe cu ta d o s na m ina de Passagem,
mas ta m b é m pelos a flo ra m e n to s e pelos num erosos vestígios dos a n tig o s trabalhos.
N o in te rio r da m ina os ú ltim o s tra b a lh o s p e rm itira m re co n h e ce r o filã o
n u m c o m p rim e n to de quase 7 0 0 m e tro s se g u n d o a d ire çã o e 4 5 0 m e tro s em p ro ­
fu n d id a d e , se g u n d o o m e rg u lh o .
A céu a b e rto , os a flo ra m e n to s se a lte a ra m na m a rg e m d ire ita ao lo n g o do
rib e irã o d o C a rm o , desde a p o n te de Passagem a té M a ria n a , o n d e desaparecem
sob um a cam ada de a lu viõ e s q u e fo rm a o le ito d o rio, para reaparecerem do o u ­
tro lado, n o fla n c o esca rp a do de u m c o n tra fo rte da Serra de O u ro Preto, c h a m a ­
d o M o rro de S antana. V im o s, na p a rte p re ce d e n te , q u e um a ja zid a de q u a rtz o e
de p irita s a u rífe ra s fo i e x p lo ta d a , de 1862 a 1 8 65 , pela D o n P edro N o rth d e l Rey
G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d , na v e rte n te SE d o M o rro de S antana. Essa ja zid a
a p resenta c o m p o rta m e n to de g ra n d e sem elhança com a de Passagem : e n q u a n to
em Passagem a d ire çã o é N 45° E e o m e rg u lh o para SE de 18° a 20°, a d ireção
m u d a um p o u c o para o N n o M o rro de S antana, to rn a n d o -s e N 30° E e o m e rg u ­
lh o , p o u c o d ife re n te d o declive da m o n ta n h a , é de 1 5 °30 ' para SE; estas p e q u e ­
nas m o d ific a ç õ e s de c o m p o rta m e n to são, de re sto , a m p la m e n te ju s tific a d a s pela
p e q u e n a curva q u e a serra descreve na vizin h a n ça de M a ria n a . A lé m d o m ais, essa
ja zid a parece c o rre s p o n d e r aos a flo ra m e n to s que.se p e rce b em n o fla n c o escarpa­
d o d o m o rro , t re co b e rta em to d a essa extensão p o r um a cam ada de vários m e ­
tro s de ita b irito s , co m u m a crosta de canga na s u p e rfície ; além disso, aí se e n c o n ­
tra m os p rin cip a is e le m e n to s d o m in é rio de Passagem . C o m p õ e -se , de fa to , de
q u a rtz o b ra n c o , c o n te n d o o u ro na p irita arsenical, tu rm a lin a e p irita m a g n é tic a .
Por esses m o tiv o s , te m -s e tu d o para ju lg a r q u e as m inas de Passagem e d o M o r­
ro de Santana p e rte n c e m ao m esm o filã o . Essa h ip ó te s e se e n c o n tra ju s tific a d a
p e lo fa to de que, ao lo n g o dos a flo ra m e n to s e n tre as duas m inas, existem n u m e ­
rosas galerias e tra b a lh o s s u b te rrâ n e o s fe ito s pelos a n tig o s m in e ra d o re s b ra s ile i­
ros, p rin c ip a lm e n te em Paredão e em M a ta -C a va lo s, q u e c e rta m e n te não os te ­
ria m e xe c u ta d o se o m in é rio e xtra íd o fosse m u ito p o b re , já q u e só p o d ia m re tira r
o u ro das rochas p o r m e io de p ro c e d im e n to s m u ito ru d im e n ta re s .
Nessas co n diçõ es, a ja zid a a p re se nta ria um a e xte nsã o de pe lo m e nos q u a ­
tro q u ilô m e tro s s e g u n d o a d ire çã o , de Passagem ao M o rro de Santana.
Na m a rg e m o p o sta à da m ina , no M o rro de S anto A n tô n io , os nu m e ro so s
tra b a lh o s a céu a b e rto , e xe cu ta d o s pelos a n tig o s m in e ra d o re s brasileiros, assina-
Iam a presença d o filã o desse la d o . A in d a se vêem , de resto, vários a flo ra m e n to s
de um filã o de q u a rtz o nas paredes de a lg u m a s das g ra n d e s escavações das quais
o te rre n o está re p le to ; esse filã o , p o r seu m e rg u lh o , parece ser o p ro lo n g a m e n to
d a q u e le q u e está se ndo e x p lo ta d o , ta n to m ais q u e, p e rto da p o n te de Passagem,
o rib e irã o a p re se nta um a q u e d a sob a q u al passam vis ive lm e n te seus a flo ra m e n ­
to s q u e vêm se ju n ta r aos d o Fundão, o q u e m o stra de um a m a n e ira c o n v in c e n ­
te q u e a passagem a b e rta pe lo rib e irã o não fo i p ro d u z id o p o r um a fa lh a , m as sim
p o r erosão, e q u e as ja zid a s de um la d o e o u tro d o rio p e rte n ce m a o m e sm o f i ­
lão. Esta era ta m b é m a o p in iã o d o b a rã o de E schw ege, c o m o se p o d e c o n s ta ta r
p e lo c o rte (Fig. 27) da ja zid a de Passagem, p o r ele d e s e n h a d o .115
Os tra b a lh o s fe ito s n o fla n c o da m o n ta n h a devem te r s id o m u ito im p o r­
ta n te s, a ju lg a r pe lo asp ecto c o m p le ta m e n te re m e xid o d o te rre n o . D istrib u e m -se
ao lo n g o d o rib e irã o , desde a qu ed a d 'á g u a , p o r um a e xte nsã o de m ais de um
q u ilô m e tro , e c o n s ta n te m e n te se p e rce b em seus tra ço s n u m a e xte nsã o de a p ro ­
x im a d a m e n te 6 0 0 m e tro s m o rro acim a.
N o a lto a m o n ta n h a fo i, em p a rte , escavada pelas águas e sua parede v e r­
tica l, d e snu d a d a, fo rm a u m im en so a n fite a tro q u e se este nd e , à e sq uerda p ara Ta­
qu aral, à d ire ita para o M o rro de S antana; aí se co n s ta ta em n u m e ro so s locais a
presença de a flo ra m e n to s de q u a rtz o ou q u a rtz ito s que, p o r sua posição, tê m
to d a a a p a rê n cia d e p e rte n c e r à m esm a ja z id a . Para c o n s ta ta r a e x a tid ã o desta ú l­
tim a asserção, seria necessário fa z e r diversos tra b a lh o s de pesquisa. Em to d o
caso, as num erosas escavações s u p e rfic ia is fe ita s pelos a n tig o s m in e ra d o re s no
M o rro de S a nto A n tô n io são um a p ro va e v id e n te de q u e a ja z id a existia e era lu ­
cra tiva ; as q u a n tid a d e s de casas em ruínas que são e n co n tra d a s a to d o in s ta n te
dã o te s te m u n h o d o n ú m e ro de pessoas q u e estavam e m p re g a d a s nos tra b a lh o s ,
n ú m e ro ju s tific a d o p e lo m o d o de e x p lo ta ç ã o a d o ta d o .
C o m o a ja zid a era re co b e rta p o r um a p e q u e n a espessura de ita b irito s e de
canga, achavam m ais c ô m o d o de cap e á -la , a fim de p o d e r a rra n ca r m ais fa c ilm e n ­
te a ro ch a d u ra , ao passo que, na o u tra m a rg e m , a espessura da c o b e rtu ra era ta l
q u e lhes fo i im possível e m p re g a r o m esm o m é to d o e se v ira m o b rig a d o s a re co r­
rer a tra b a lh o s s u b te rrâ n e o s. Todavia, nas e xp lo ta çõ e s d o M o rro de S anto A n tô ­
nio , há u m a p a rtic u la rid a d e a n o ta r; além dos p e q u e n o s canais laterais q u e su l-
cam o fla n c o da m o n ta n h a para levar a água necessária às lavações, co n stata-se
a presença de n u m e ro so s m u n d é u s m u ito bem conservados, o que nos fa z su p o r
q u e os m in e ra d o re s tra ta v a m ta m b é m os ita b irito s , q u e d e via m co n te r, nesse
caso, injeções de q u a rtz o a u rífe ro ; isto e xp lica ria de m a n e ira m ais ra cio n a l seu sis­
te m a de e x p lo ta ç ã o a céu a b e rto . Essa in je çã o de q u a rtz o seria, p o rta n to , p o ste ­
rio r aos ita b irito s e, p o r co n se qü ê n cia , ao filã o q u e in je to u os q u a rtz ito s .
Na o u tra m a rg e m , no Fundão, realizaram -se tra b a lh o s s u b te rrâ n e o s, mas
existe e n tre eles e a m a rg e m um a im ensa escavação a céu a b e rto , q u e pôs a des­
c o b e rto os m icaxistos d o m u ro d o filã o ; a única e xp lica çã o plausível para essa
a n o m a iia seria a de q u e esses tra b a lh o s su p e rficia is fo ra m exe cu ta d o s co m vista a
lavar essa cam ada so b re ja ce nte , e o q u e parece c o n firm á -lo é a e xistência de um
p ro fu n d o fosso de paredes verticais, co m apenas dois m e tro s de la rg u ra , que d e ­
via fa cilita r, após a c o n ce n tra ç ã o das areias, o e s co a m e n to das águas de lavação
para o rib e irã o . Em se g uida , esse sistem a te ria sido a b a n d o n a d o para q u e fossem
e xe cu ta d o s tra b a lh o s su b te rrâ n e o s, q u a n d o a cam ada te rro sa se te ria to rn a d o
m u ito p o bre. N o Paredão, e n c o n tra -s e sobre a m o n ta n h a , d ire ta m e n te acim a da
ja zid a , os vestígios m u ito bem conservados das mesas de lavação fe ita s em te rra
ve rm elha e n d u re c id a . Essas mesas serviam para tra ta r os xistos a rg ilo so s v e rm e ­
lhos da vizin h a n ça , q u e e n ce rra m nesse local veios de q u a rtz o ca ru n ch o s o , co m o
nos fo i d a d o constatar.
E nfim , um a p ro va e vid e n te da e xistência de o u ro nos te rre n o s de c o b e r­
tu ra é que, nos ú ltim o s anos da e x p lo ta ç ã o da ja zid a pela co m p a n h ia inglesa que
precedeu a co m p a n h ia a tu a l, o d ire to r fazia passar u n ic a m e n te p o r um dos m o i­
n h os de pilões, ita b irito s tira d o s d o te to d o filã o , re tira n d o 1,8g de o u ro p o r t o ­
n elada, em m édia.
Em sum a, a ja z id a de q u a rtz o e p irita a u rífe ra de Passagem parece a p re ­
se n ta r um a g ra n d e e xte nsã o , ta n to s e g u n d o a d ire çã o c o m o no se n tid o do m e r­
g u lh o . A té ho je , os tra b a lh o s de su b su p e rfície não tro u x e ra m q u a lq u e r e le m e n to
que fa ça prever um a m o d ific a ç ã o radical em p ro fu n d id a d e , n o c o m p o rta m e n to e
na co m p o siçã o da ja z id a . S e g u in d o a d ireção, só é possível ju lg a r a exte nsã o em
co n d içõ e s de ser e x p lo ta d a a p a rtir d o e scla re cim e n to re su lta n te de diversos tra ­
b a lh os de pesquisas.
C o n sta ta m o s , p e rto de O u ro Preto, na m ina de Saragoça, a presença de
um filã o de q u a rtz o e de p irita arsenical q u e co rta n o rm a lm e n te as p irita s x.isto-
sas, m as q u a n d o m u ito é possível a trib u ir-lh e um a o rig e m c o n te m p o râ n e a ao f i ­
lão de Passagem: o v e lh o m in e ra d o r q u e o e x p lo ta pesquisa as p a rte s p irito sa s, já
q ue o q u a rtz o p u ro é m u ito p o b re e não com p e n sa as despesas de m o a g e m e la­
vação. Esse é o ú n ic o p o n to de sem elhança co m o filã o q u e nos o c u p a : seu c o m ­
p o rta m e n to é c o m p le ta m e n te d ife re n te . O m ispíquel te m um a fácies d ife re n te ,
baça em lu g a r de b rilh a n te ; os o u tro s m in e ra is n ã o são e n c o n tra d o s , mas, em
com p e n sa ção , a p resenta p e q u e n o s g e o d o s de e sco ro d ita .
Para além d o M o rro de S antana, p e rto de Taquara Q u e im a d a , em um a p e ­
qu en a escavação fe ita n o fla n c o da serra e que e xpõe um a cam ada de q u a rtz ito ,
ter-se-ia c o n s ta ta d o a presença de veios de q u a rtz o co m p irita s; c o n te n ta m o -n o s
em assinalar essa observação, q u e não nos fo i possível co n fe rir.
CA PÍTU LO 3o

H I S T Ó R I C O DA EXPLOTAÇÃO

A p ro p rie d a d e m in e ra l de Passagem abarca as q u a tro m inas o u lavras do


F u n d ã o , M in e ra ló g ic a , Paredão e M a ta -C a va lo s. No século passado fo ra m o b je to
de concessões fe ita s a diversos m in e ra d o re s da re g iã o e a d q u irid a s em seguida
p o r um a m esm a c o m p a n h ia , a A n g lo -B ra z ilia n G o ld M in in g Com pany, L im ite d .
A lavra de M in e ra ló g ic a c o m p re e n d ia 4 9 da ta s (5 ,3 4 hectares), p ro v e n ie n ­
tes da re u n iã o de várias concessões, fe ita s de 1 7 29 a 1 7 56 a d ife re n te s m in e ra ­
dores e que, d e p o is de te re m passado pelas m ãos de diversos p ro p rie tá rio s , t i ­
nh am sido c o m p ra d a s p o r um a única pessoa. Q u a n d o de sua m o rte , os bens f o ­
ram le ilo a d o s e a m in a , co m diversos acessórios e os v in te escravos q u e a ela es­
ta va m ligados, fo ra m e n tre g u e s ao b a rã o de Eschwege, a 12 de m a rço de 1819.
A té e n tã o a ja zid a tin h a sid o apenas a rra n h a d a pelos m in e ra d o re s em vários p o n ­
to s nos a flo ra m e n to s ; a p a rtir desse m o m e n to , fo i a d o ta d a um a e x p lo ta ç ã o mais
regular. E schw ege fo rm o u a p rim e ira co m p a n h ia e xiste n te no país, co m o n o m e
de S o ciedade M in e ra ló g ic a da Passagem , e in s ta lo u um m o in h o de n o ve pilões.
In fe liz m e n te , d e p o is de vários anos de p ro sp e rid a d e , a so ciedade e n tro u em fa ­
lência e os tra b a lh o s fo ra m in te rro m p id o s . A p ro p rie d a d e fo i v e n d id a em 1o de ju ­
n h o de 1 8 59 pe lo iiq u id a n te , a um m in e ra d o r in g lê s, T ho m a s B a w d en , q u e tra b a ­
lhara a lg u m te m p o em Fundão, m ina v izin h a , e este ú ltim o a re vendeu q u a tro
anos depois, em 26 de n o ve m b ro de 1 8 63 , a Thom as Treloar, re p re s e n ta n te da
nova co m p a n h ia em fo rm a ç ã o , a A n g lo -B ra z ilia n G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d .
A lavra d o F u n d ão , c o m p o sta de 76 da ta s (8 ,2 8 hectares), te n d o c o m o li­
m ites de um la d o a estrada de O u ro Preto e d o o u tro , a m ina da M in e ra ló g ic a , era
fo rm a d a p o r várias concessões e n tre g u e s, de 1735 a 1 7 78 , a d ife re n te s m in e ra ­
dores; d e p o is de te r p e rte n c id o su cessivam ente a vários p ro p rie tá rio s , a ca ba ram
p o r ser a g ru p a d a s nas m ãos de um ú n ico , q u e ve n de u o c o n ju n to ao c o m e n d a ­
d o r Francisco de Paula S antos, em 17 de fe v e re iro de 1 8 35 . Este, a e xe m p lo do
v iz in h o , fo rm o u u m a associação co m o n o m e de S ociedade U nião M in e ira . Os as­
sociados e xe cu ta ra m , de in ício , num e ro so s tra b a lh o s na su p e rfície , a b rin d o im e n ­
sa escavação a inda visível nos dias de ho je ; depois, co m o esse sistem a era p o u c o
re n tá vel, d e c id ira m a b rir a lg u m a s câm aras su b terrâ n ea s, sem m a io r sucesso. Foi
e n tã o q u e d e c id ira m pela ve nda e a ce ita ra m a o fe rta de Thom as B a w d en e A n to ­
n io B uzeiin, q u e a d q u irira m a m in a , em 12 de a b ril de 1 8 50 , e a re ve n d eram mais
ta rd e à A n g io -B ra z ilia n G o ld M in in g C o m pany, L im ite d , ao m esm o te m p o q u e a
pre ce d e n te ,
A lavra d o Paredão, co m um a su p e rfície de 12 da ta s (1,2 hectares), s itu a ­
da em se g uida à M in e ra ló g ic a , fo i o b je to de concessões fe ita s em 1 7 5 8 a um ce r­
to A n to n io M e n d e s da Fonseca; d e p o is de te r p e rte n c id o a d ife re n te s pessoas,
passou em 1843 às m ãos da fa m ília M a rtin s C o e lh o , q u e a ve n de u à A n g lo -B ra ­
z ilia n G o ld M in in g C o m pa n y, L im ite d , p o r in te rm é d io de T hom as B a w d en , q u a n ­
d o da ve nda das o u tra s duas m inas.
A C o m p a n h ia inglesa e n tro u na posse das três lavras em 2 6 de n o v e m b ro
de 1863 e so m e n te m ais ta rd e , em 3 0 de s e te m b ro de 1 8 65 , a d q u iriu a lavra de
M a ta -C a va lo s, co m u m a su p erfície de m e nos de duas da ta s (0,2 hectares), que se
este nd ia d o Paredão à e n tra d a da cid a d e de M a ria n a . Os tra b a lh o s de su b su pe r-
fícíe fo ra m e m p re e n d id o s desde o co m e ço d o a n o de 1 8 64 e io g o se p ô d e e fe ­
tu a r a m o a g e m d o m in é rio e xtra íd o , tira n d o o m e lh o r p a rtid o possível de trê s e n ­
g e n h o s d e p ilõ e s existe n tes no local. Um deles, mais ou m e nos em co n diçõ es, fo i
p o sto im e d ia ta m e n te em fu n c io n a m e n to ; tra ta va -se d a q u e le d e s ig n a d o co m o
F ernandes stam ps, co m seis hastes de m a d e ira co m sapatas de fe rro , in s ta la d o no
te rre n o de M in e ra ló g ic a , n o local o c u p a d o a tu a lm e n te p e lo m o in h o de 2 4 pilões.
Um dos dois o u tro s , B a w d e n sta m p s, e n g e n h o de 9 hastes e xiste n te n o Fundão,
m as em p a rte d e te rio ra d o , fo i quase c o m p le ta m e n te s u b s titu íd o p o r um e n g e n h o
de 12 pilõ e s c o m p ra d o em Taquaral, que recebeu o n o m e de H e ske th 's stam ps:
q u a n to ao te rc e iro , estava fo ra de uso. Em seguida, um n o vo e n g e n h o , V icto ria
sta m p s, de 30 hastes, fo i c o n s tru íd o no locai d o e n g e n h o a tu a l de 32 pilões, e o
Fernandes s ta m p s fo i s u b s titu íd o p o r u m o u tro , W ild e s sta m p s, co m 12 pilões à
esquerda e duas arra stras à d ire ita . A usina de p re p aração m ecânica era c o m p o s ­
ta , p o rta n to , p o r trê s e n g e n h o s co m c in q ü e n ta e q u a tro pilões e duas arrastras.
Os tra b a lh o s e xe cu ta d o s pelos p rim e iro s e x p lo ta d o re s tin h a m sído in ic ia l­
m e n te su p e rficia is, p rin c ip a lm e n te no Fundão; d e po is, a a b u n d â n c ia dos re je ito s
a retirar, para p ro sse g u ir nesse sistem a, o b rig o u -o s a re co rre r a um m é to d o su b ­
te rrâ n e o . Foi a se qüência desses ú ltim o s tra b a lh o s que fo i re to m a d a peia c o m p a ­
nh ia inglesa, cujas operações d u ra ra m de ja n e iro de 1 8 64 a fe v e re iro de 1 8 73 ; no
to ta l, nove anos c o m p le to s .

A Tabela 7 a p resenta o re su m o dessas o p e ra ç õ e s .116

Vê-se p o r essa ta b e la q u e os re su lta d os fin a n c e iro s se tra d u z ia m a n u a l­


m e n te p o r perdas, de m o d o q u e q u a n d o o ca p ita l se e s g o to u , fo i necessário sus­
p e n d e r os tra b a lh o s e liq ü id a r a c o m p a n h ia . A e x p lo ta ç ã o fo ra c o n c e n tra d a em
M in e ra ló g ic a e Fundão, o n d e se tin h a acesso pelas galerias de H aym en (a tu a l­
m e n te Plano in c lin a d o n° 2) e de D aw so n (a tu a lm e n te Plano in c lin a d o n° 1) no
caso da p rim e ira , e pela de Foster e p e lo ve lh o p o ço , no caso da se g un d a . Nos ú l­
tim o s anos, os tra b a lh o s em M in e ra ló g ic a fo ra m p re ju d ica d o s pelas águas, apesar
da e xistência da g a le ria de e s c o a m e n to que fo i a b e rta a lg u n s m e tro s acim a d o le i­
to d o rio e q u e serve a in d a ho je para e s g o ta m e n to das águas da m in a ; a lé m do
m ais, ter-se-ia e n tra d o em um a p a rte estéril d o filã o , A g e rê ncia d e c id iu c o n c e n ­
tra r to d a a e xp lo ta çã o em Fundão c u jo m in é rio , c o m p o s to p rin c ip a lm e n te de
q u a rtz o , tin h a baixa re cu p e ra çã o. A d ire to ria da época ta m b é m tin h a im a g in a d o
passar p o r um dos e n ge n h os , ita b irito s p o u c o a u rífe ro s re tira d o s d o te to na M i­
n e ra ló g ic a , sob p re te x to de que, e m b o ra se retirasse deles m enos de 2 gram as de
o u ro p o r to n e la d a , era possível tra ta r um a m a io r q u a n tid a d e ao m esm o te m p o e
a u m e n ta r a p ro d u ç ã o . É isto que explica a d im in u iç ã o d o te o r d o m in é rio d u ra n ­
te os três ú ltim o s anos. A c o m p a n h ia , à beira da fa lê n c ia , te n to u , para se re e r­
guer, p ô r em co n diçõ es de e x p lo ta ç ã o , a p a rtir de 1 8 71 , a m ina de ja c u tin g a a u ­
rífe ra de P ita n g u i, m as os diversos
TABELA 7. R E S U M O DAS O P E R A Ç Õ E S DA A N G L O B R A Z I L I A N
G O L D M I N I N G C O M P A N Y L I M I T E D EM PASSAGEM
DE J A N E I R O DE 1 8 6 4 A FEVEREIRO DE 1873

N Ú M E R O DE O uro e x t a íd o

N úm ero de
P ILÕ E S TONELADAS T otal POR TO NELADA
A nos TO NELADA S TRABALHANDO T R IT U R A D A S
T R IT U R A D A S E M M É D IA P O R P IL Ã O E
em o it a v a s EM G RAM AS E M O IT A V A S EM G RAM AS
P O R D IA P O R D IA

1864 2 .9 97 14,4 0,61 3 .9 97 14.333 1,33 4 ,7 7

1865 5.137 18 0 ,7 9 1 1 .0 0 2 3 9 .4 5 3 2 ,1 4 7 ,6 7

1866 7 .7 8 7 2 4,5 0 ,8 7 25,991 9 3 .2 0 4 3,33 11,94

1867 17.31 8 4 5,2 1,05 3 8 .2 2 6 1 3 7 .0 7 8 2 ,2 0 7 ,8 9

1 868 1 8.89 5 5 1,5 3 9 .3 8 5 1 41 .2 3 5 2 ,0 8 7 ,4 6

1869 1 6.22 9 54 0,83 3 3 .2 9 3 1 19 .3 8 9 2 ,0 5 7 ,3 5

1870 16.022 52 0 ,8 4 3 3 .4 8 8 1 20 .0 88 2 ,0 9 7 ,4 9

1871 9 .7 5 6 42 0 ,6 3 11.55 9 41.451 1,18 4 ,2 3

1872 9 .4 9 9 42 0,62 12.69 2 4 5 .5 1 3 1,33 4 ,7 7

1873 3 38 30 0 ,3 7 490 1.757 1,45 5 ,3 0

Total 1 0 3 .9 7 8 2 1 0 .1 2 3 7 53 .5 01 2 ,0 2 7 ,2 4

236
Pr odução C usto em P erdas em

E M LIB R A S LIBRAS l ib r a s O bservações

E S TE R LIN A S E S TE R LIN A S E S TE R LIN A S

Fernandes stam ps , 6 p il õ e s p o s t o s em f u n c io n a m e n t o em 21 de

JA N E IR O DE 1864

HESKETH'S STAMPS, 12 PILÕES POSTOS EM FUNCIONAMENTO EM 7 DE MAIO DE 1864

V ic t o r i a s t a m p s , 15 p il õ e s p o s t o s e m f u n c i o n a m e n t o e m 27 de ju lh o d e 1866

11.69 6 19.151 7 .4 5 5 V ic t o r i a s t a m p s , 15 n o v o s p il õ e s p o s t o s e m f u n c i o n a m e n t o e m 10 d e j a n e ir o

de 1867

Fe r n a n d e s stam ps, parado s e m 18 d e a b r il d e 1867

17.191 2 0 .9 3 5 3 .7 4 4 WlLDES STAMPS, 6 PILÕES POSTOS EM FUNCIONAMENTO ÊM 14 DE SETEMBRO DE

1867

WlLDES STAMPS - 6 NOVOS PILÕES POSTOS EM OPERAÇÃO EM 27 DE MAIO

1 7.72 3 18.34 5 622 - 2 ARRASTRAS POSTOS EM OPERAÇÃO, UM EM 15 DE JULHO E 0

OUTRO EM 4 DE NOVEMBRO

14.982. 17.27 6 2 .2 9 4

1 5 .0 7 0 18.00 0 2 .9 3 0 HESKETH'S STAMPS, PARADOS EM FIM DE OUTUBRO DE 1870

5 .2 0 2 1 0 .7 9 4 5.5 92

5.711 11.07 5 5.361 WlLDES STAMPS, PARADOS EM FIM DE DEZEMBRO DE 1872

220 386 166

8 7 .7 9 5 115 .9 62 2 8 .1 6 7
tra b a lh o s p re p a ra tó rio s q u e fo ra m e xe cu ta d o s a ca baram p o r a b sorve r seus ú lti­
m os recursos. C o m o o c a p ita l se e n co n tra v a c o m p le ta m e n te e sg o ta d o em 3 0 de
ja n e iro de 1 8 73 , fo i d e cid id a a sua liq ü id a ç ã o .
A m in a de Passagem fo i c o m p ra d a , em 1 8 73 , p e lo liq ü id a n te da c o m p a ­
nh ia , q u e a ve n d e u , p o r sua vez, em 2 4 de m a rço de 1 8 83 , a R obey P a rtrid g e , re ­
p re se n ta n te de um s in d ica to fra n cê s c o n s titu íd o em 1 8 80 , co m a fin a lid a d e de
buscar m inas de o u ro passíveis de serem postas em co n d içõ e s de e x p lo ta çã o p o r
um a co m p a n h ia .
Nesse ín te rim , um e n g e n h e iro fra n cê s, C h. M o n c h o t, fo ra e n v ia d o pelo
S in d ica to à Passagem, em 1 8 81 , a fim de se in te ira r do v a lo r provável da m ina e
p re p a rá -la co m vistas a um a nova e x p lo ta ç ã o .117 C o m o nessa época, havia mais
de sete anos q u e a c o m p a n h ia inglesa cessara to d o s os tra b a lh o s , o acesso à m ina
se to rn a ra im possível em co n se qü ê n cia dos d e sa b a m e n to s. A s galerias de e n tra ­
da estavam em p a rte cheias, a. g a le ria de e sco a m e n to e n tu lh a d a e os tra b a lh o s ,
in fe rio re s ao nível dessa g aleria, c o m p le ta m e n te in u n d a d o s. Q u a n to à usina, um a
p a rte d o m a te ria l estava um ta n to e sp a lh a d o p o r to d o s os lados, o resto estava
quase em ruínas. O Sr. M o n c h o t co m e ço u p o r to m a r m e d id a s para o d e sa g u a ­
m e n to da m ina , para a e xtra çã o fu tu ra d o m in é rio e para a re to m a d a de um a p a r­
te da usina de tra ta m e n to . M a n d o u d e sa te rra r o p e q u e n o canal de 3 a 4 q u ilô ­
m e tro s q u e servia a n te rio rm e n te para levar água d o Ita c o lo m i aos tra b a lh o s e de-
se n tu lh a r a g a le ria de e sc o a m e n to , a fim de secar a m ina até o nível da m esm a.
D u ra n te esse p e río d o , co n stru íu -se um a roda h id rá u lic a de 9 m e tro s de d iâ m e tro ,
qu e acionava de um la d o um a b o m b a de e s g o ta m e n to e d o o u tro um ta m b o r de
e xtra çã o . C o m o os tra b a lh o s na viz in h a n ça d o p o ço D a w s o n 's eram os m ais im ­
p o rta n te s , pôs em e sta do de fu n c io n a m e n to essa g a le ria de e n tra d a e aí in sta lo u
a b o m b a e a via fé rre a para a e xtra çã o . Em se g uida , re cu p e ro u a roda m o triz dos
W ild e s sta m p s e, co m os m a te ria is re sta n tes da usina, co n se g u iu re c o n s titu ir um
e n g e n h o de 12 pilões, q u e co m e ço u a fu n c io n a r em ju n h o de 1881 e serviu para
os testes co m o m in é rio . In fe liz m e n te , seu m au e stado n ã o p e rm itiu operaçção
lo n g a e, p o u c o an te s da p a rtid a d o Sr. M o n c h o t, um a nova b a te ria de 12 pilões,
d e stin ad a a s u b s titu ir a p rim e ira , fo i posta em p re p a ro . C o m e ço u a fu n c io n a r em
ju lh o de 1882.
0 S in d ica to, d e po is de te r re a liza d o a co m p ra da m ina no co m e ço de 1883, a d ­
q u iriu trê s o u tra s m inas, Raposos e Espírito S anto, situ a d as p e rto de Sabará, e
Borges, p e rto de C aeté, e o rg a n iz o u , n o fin a l de fe ve re iro de 1 8 84 , um a c o m p a ­
nh ia de m inas que c o m p re e n d ia essas q u a tro p ro p rie d a d e s — Passagem, R apo­
sos, Espírito S anto e Borges — , co m o n o m e de The O u ro P reto G o ld M in e s o f
Brasil, L im ite d . Essa co m p a n h ia co m e ço u as o p e ra çõ e s em Passagem em a b ril de
1 8 84 . C o n tin u o u im e d ia ta m e n te os tra b a lh o s e m p re e n d id o s pe lo S in d ica to , fa ­
ze n d o o tra ta m e n to m e câ n ico dos m in é rio s co m o e n g e n h o de 12 pilões; um se­
g u n d o e n g e n h o de 12 pilões fo i em seguida p re p a ra d a para ser co lo ca d a d o o u ­
tro la d o da roda, a fim de c o m p le ta r u m e n g e n h o de 2 4 pilões. M ais ta rd e , in s ta ­
lou-se, ao la d o e ab aixo d o p re ce d e n te , um n o vo e n g e n h o de 32 pilõ e s e depois,
em um nível a inda m ais baixo, um e n g e n h o de 4 0 pilões c a lifo rn ia n o s , de m o d o
qu e , a tu a lm e n te , a usina te m três e n g e n h o s de pilões, q u e re p re se n ta m um to ta l
de 9 6 pilões.
CA PÍTU LO 4 o

D I S P O S IÇ Ã O GERAL D O S TRABALHOS

V im o s q u e a ja zid a de Passagem é fo rm a d a p o r um filã o q u e p e n e tra no


fla n c o de u m a m o n ta n h a , s e g u n d o um m e rg u lh o de 18° a 20° (fig . 27). No nível
dos a flo ra m e n to s , a p ro x im a d a m e n te 55 m e tro s acim a d o nível d o rib e irã o , existe
um a p la ta fo rm a , de o n d e p a rte m os dois planos in clin a d o s q u e dão acesso às
fre n te s de e xp lo ta ç ã o , e xe cu ta d o s s e g u n d o m é to d o s u b te rrâ n e o . O m in é rio , tra ­
z id o para a su p erfície , é s u b m e tid o a tra ta m e n to m e câ n ico e m e ta lú rg ic o , em vá ­
rios e n g e n h o s e sta be le cido s em d ife re n te s níveis, abaixo da p la ta fo rm a , sobre d e ­
g ra u s ta lh a d o s na ro ch a viva.. E n q u a n to o e sté ril e resíduos pobres da lavação são
e n via do s d ire ta m e n te ao rib e irã o , as.areias co n ce n tra d a s são elevadas p o r um p e ­
q u e n o trilh o aéreo a um nível s u p e rio r ao da p la ta fo rm a , para aí ser c o n c lu íd o seu
tra ta m e n to m e ta lú rg ic o .
D is tin g u ire m o s, p o rta n to , duas espécies de tra b a lh os:, aqueles d o in te rio r,
qu e co m p re e n d e m o d e s e n v o lv im e n to , a e xtra çã o e o d e sa g u a m e n to , e aqueles
d o e xte rio r, q u e d ize m re sp e ito ao tra ta m e n to m e câ n ico e m e ta lú rg ic o dos m in é ­
rios, e xa m in a d o s neste e n o p ró x im o c a p ítu lo , re sp e ctiva m e n te .
A d o ta re m o s essa o rd e m p a ra o e s tu d o sucessivo dos d ive rso s serviços
da in s ta la ç ã o .

1. E x p lo ta ç ã o

M É T O D O DE E X P LO TA Ç Ã O . O acesso aos tra b a lh o s s u b te rrâ n e o s é p ro ­


p ic ia d o pelos dois planos in clin a d o s, q u e a d e n tra m a ja z id a de m o d o d iv e rg e n te ,
a c o m p a n h a n d o quase c o n s ta n te m e n te o te to d o filã o (fig . 2 8). O Plano n° 1 te m
â n g u lo de 10° para o e ste, em relação à lin h a d o m e rg u lh o d o filã o ; sua seção é
re ta n g u la r, c o m 3 ,5 0 m de la rg u ra e 2 ,5 0 m de a ltu ra , e serve ao m e sm o te m p o
para e xtra çã o e tra n s p o rte . O Plano n° 2, s itu a d o à esquerda d o p re ce d e n te , fa z
co m este um â n g u lo de 15°; te m um a seção re ta n g u la r m enor, com 3 m de la rg u ­
ra e 2 ,2 0 m de a ltu ra , e serve u n ic a m e n te para a e xtra çã o . A d istâ n cia e n tre as
duas bocas de e n tra d a é de a p ro x im a d a m e n te 3 0 m etros.
A e x p lo ta ç ã o da ja z id a se fa z p o r u m m é to d o q u e c o n ju g a os p rin c íp io s de
a b a n d o n o parcial e de a te rra m e n to * . C o n siste em d iv id ir a ja z id a , s e g u n d o sua
d ire çã o , em porções longas, co rta d a s em se g uida em p o rçõ e s re ta n g u la re s. Em
cada um a delas, a b re m -se câm aras de d e sm o n te , d e ixa n d o , em in te rva lo s v a riá ­
veis, pilares de su ste nta çã o . São a b a n d o n a d o s, q u a n d o c o n s titu íd o s p o r m a te ria l
p o b re , ou re to m a d o s d e po is de se erguer, em sua p ro x im id a d e , pilares de pedras
re tira d o s d o e sté ril p ro v e n ie n te de um a p rim e ira tria g e m , fe ita na m in a . Essas câ­
m aras são, em se g uida , a b a n d o n a d a s; são p re e nchida s em p a rte co m os rejeitos
de q u e se d isp õ e, se e stão situ a d as na p ro x im id a d e dos tra b a lh o s em execução,
o u , em caso c o n trá rio , deixa-se o te to de sab a r n a tu ra lm e n te .
C o m o se vê n o m apa da m ina (Fig. 2 8), a ja z id a é d iv id id a em níveis de 50
e 35 m e tro s, se g u in d o o declive d o Plano in c lin a d o n° 1; um a g a le ria d ire cio n a l,
p a rtin d o d o pé de cada nível, d iv id e o c o rp o em p o rçõ e s paralelas, fo rm a n d o as­
sim partes lo n g as co m 50 a 35 m e tro s de la rg u ra , d ivid id a s em p o rçõ e s re ta n g u ­
lares, de exte nsã o variável (4 0 ou 7 0 m e tro s), p o r galerias in clina d a s ou recortes.
Todas as diversas galerias tê m seção re ta n g u la r. A s galerias de nível tê m 2 m e tro s
de la rg u ra p o r 2 m e tro s de a ltu ra ; os re co rte s m ais largos, tê m 3 m e tro s de lar­
g u ra p o r 2 m e tro s de a ltu ra .
Essa rede de tra b a lh o s p re p a ra tó rio s ,* d e s tin a d a a p e rm itir a in sta la çã o de
fre n te s de d e sm o n te , e stendia-se, em I o de ju lh o de 1 8 92 , a 4 5 0 m e tro s de p ro ­
fu n d id a d e s e g u n d o o m e rg u lh o , e c o m p re e n d ia , e n tre os níveis 1 2 0 e 4 3 5 (va lo ­
res q u e in d ica m a d istâ n cia de cada nível até a boca d o Plano in c lin a d o n° 1), um
to ta l de sete níveis, se ndo q u a tro em e x p lo ta ç ã o e os trê s ú ltim o s , em p re p a ra ­
ção. N o nível 120, a g a le ria d ire c io n a l d e sem b oc ou na s u p e rfície , em m e io aos
a flo ra m e n to s q u e se e n c o n tra m a p ru m o neste local, a b rin d o assim um a nova via
de ve n tila çã o .
Os tra b a lh o s de e x p lo ta ç ã o p ro p ria m e n te d ito s co n siste m em a b rir em
cada parcela re ta n g u la r um a ou várias pequenas galerias, p a rtin d o seja de um a
g a leria de nível, seja de um re c o rte q u e d e p o is são a la rg a d o s la te ra lm e n te e para
cim a , de m o d o a a b rir g ra n d e s câm aras, o n d e se fa z o c o rte da massa m ine ral
em um a única fa tia , p o r m e io de várias fre n te s de c o rte e stabelecidas so b re o c o n ­
to rn o , d e ix a n d o pilares de su ste n ta çã o ou fo rm a n d o pilares de pedras para sus­

* N R : a rede de tra b a lh o s p re p a ra tó rio s é m o d e rn a m e n te c ham ad a "d e s e n v o lv im e n to "


te n ta r o te to . Esses tra b a lh o s e stão a tu a lm e n te c o n c e n tra d o s nos dois subniveis
c o m p re e n d id o s e n tre os níveis 2 1 5 e 3 1 5, e na viz in h a n ça d o Plano n.° 2 n o nível
120; há ta m b é m u m in ício de e xp lo ta ç ã o no su b níve l c o m p re e n d id o e n tre os ní­
veis 3 1 5 e 3 6 5 .

D E S M O N T E . O d e s m o n te da rocha é e x e cu ta d o c o m a a b e rtu ra de fu ro s
q u e são ca rreg a d os co m d in a m ite . Os fu ro s tê m um d iâ m e tro u n ifo rm e de 0 ,0 3 m
e um c o m p rim e n to q u e varia de 0 ,2 0 m a 1 ,7 0 m . São fe ito s s e g u n d o o p ro c e d i­
m e n to clássico de fu ra ç ã o co m a juda d o p o n te iro (b ro ca ) e da m a rre ta m a n ip u la ­
da p e lo o p e rá rio m in e ra d o r (b ro q u e iro ).
O tra b a lh o é g e ra lm e n te e fe tu a d o p o r u m h o m e m q u e m a n o b ra os dois
in s tru m e n to s ; os fu ro s p ro fu n d o s são fe ito s p o r dois h o m e n s q u e m a n e ja m , a lte r­
n a d a m e n te , um a m a rre ta e o o u tro , o p o n te iro .
As brocas e m p re g a da s são barras de aço de seção o c to g o n a l, de 22 m ilí­
m e tro s de d iâ m e tro e co m um peso de 3 ,1 0 k g p o r m e tro linear. O jo g o de brocas
co m p re e n d e os c o m p rim e n to s de barras de 0 ,3 0 m , 0 ,4 5 m , 0 ,6 0 m , 0 ,9 0 m ,
1 ,2 0 m , 1 ,3 5 m , 1 ,5 0 m , 1 ,6 5 m e 1 ,8 0 m . A m a rre ta sim ples pesa de 2 kg a 2 ,5 k g ;
a de duas m ãos, 5 kg.
Para a e xecução dos fu ro s in clin a d o s para baixo, o o p e ra d o r d e rra m a nos
m esm os um p o u co de á g ua , a fim de re s fria r sua fe rra m e n te , de o n d e p ro vé m a
d e sig na çã o b u ra co s d 'a g u a . V isa n d o im p e d ir q u e essa água espirre a cada g o lp e
da m a rre ta , co b re o b u ra co co m um ta m p ã o de c o u ro a b e rto n o m e io , para d e i­
xa r passar a broca. A lim p eza se fa z co m um sim ples p e da ço de m a d e ira , cuja
p o n ta grossa lig e ira m e n te a ch a ta d a fo rm a um a b o rra in a que, in tro d u z id a no b u ­
raco e re tira d a b ru s ca m e n te , arrasta para fo ra a lam a re tid a pela a lm o fa d a .
Os fu ro s in clin a d o s para cim a são vazados a seco e lim p o s co m um a cure-
ta de fe rro ; são de sig na d o s b u ra co s ch u la no s.
Nas fre n te s de lavra, os m in e ra d o re s o c u p a m -se u n ic a m e n te em fa z e r f u ­
ros nos locais in d ica d o s pe lo m a rc a d o r, q u e lhes dá a posição, ru m o e extensão
de cada um dos m esm os. Esses fu ro s tê m um a p ro fu n d id a d e que va ria de 3 a 8
p a lm o s (0 ,6 5 a 1 ,7 0 m )118 e q u a n d o um deles está p ro n to , o o p e ra d o r in tro d u z
u m a vara para d e ix á -lo assinalado para o m a rca d o r e n c a rre g a d o da v e rifica çã o .
Seu tu rn o é de 8 horas p o r d ia , e cada u m fa z, d u ra n te esse p e río d o , de 7 a 12
p a lm o s (1 ,5 0 m a 2 ,6 0 m ), c o n fo rm e a posição dos b u ra co s e a dureza da rocha.
0 c a rre g a m e n to e fo g o são fe ito s , no fim d o tu rn o de tra b a lh o , p o r dois
o p e rá rio s especiais, os fo g u e te iro s , q u e a c o m p a n h a m o m a rca d o r em sua ro n d a;
este, d e p o is da ve rifica çã o , lhes in d ica o n ú m e ro de c a rtu ch o s q u e deve c o m p o r
a carga de cada fu ro .
A d in a m ite e m p re g a d a é a d in a m ite -g o m a de N o b e l, de fa b ric a ç ã o fra n ­
cesa, em c a rtu c h o s e n vo lvid o s em pa pe l a p e rg a m in h a d o , de 2 0 m ilím e tro s de d iâ ­
m e tro e 100 m ilím e tro s de c o m p rim e n to . O n ú m e ro de c a rtu c h o s de um a carga
d e p e n d e da p ro fu n d id a d e d o fu ro : no caso de um fu ro de 3 p a lm o s, a carga é de
3 ca rtu c h o s; 4 p a lm o s, 4 c a rtu c h o s ; 6 p a lm o s, 5 ca rtu ch o s ; 8 palm os, 6 ca rtu ch o s.
São co n su m id o s em m édia 6 c a rtu c h o s de d in a m ite para d e s m o n ta r um m e tro c ú ­
b ico de rocha; à razão de 3 to n e la d a s p o r m e tro cú b ico , isto representa um c o n ­
su m o de 2 c a rtu ch o s p o r to n e la d a d e sm o n ta d a .
Para ca rre g a r um fu ro , in tro d u z -s e o n ú m e ro de c a rtu c h o s in d ic a d o , o ú l­
tim o co m e s to p im , sem p ô r q u a lq u e r b ucha; no caso do s fu ro s in c lin a d o s para
cim a, o fo g u e te iro c o n te n ta -s e em m a n te r a carga co m a a juda de um a sim ples
bu ch a d e p a p e l. A m a rra -s e u m a m echa de a lg o d ã o , e m b e b id a em p e tró le o , na
e x tre m id a d e d o b ra d a d o co rd ã o , que te m c o m p rim e n to de 0 ,1 0 a 0 ,1 5 m , o que
p e rm ite a ce n d e r ra p id a m e n te diversos lances em um a m esm a fre n te de lavra.
C o m o os tu rn o s da m in a co m e ça m às 6 h o ra s da m a n h ã e às 5 da ta rd e ,
os fo g u e te iro s p re p a ra m as cargas e as d e to n a m a p a rtir de 2 horas da ta rd e e de
1 h o ra da m a d ru g a d a , de m o d o q u e há um in te rv a lo s u fic ie n te de te m p o , antes
da re to m a d a d o tra b a lh o , para p e rm itir q u e se dissipem os vapores nocivos p ro ­
d u z id o s pelas explosões. Por segurança, deixa-se sem pre tra n s c o rre r o in te rv a lo
de um tu rn o an te s de d e slo ca r h o m e n s para um a fre n te o n d e h o uve explosões.
Os fo g u e te iro s o cu p a m -se , a té a h ora da re tira d a de m in é rio em destacar,
co m a a ju d a de alavancas, nas diversas fre n te s de lavra, os pedaços de ro ch a , em
p a rte descalçados, q u e a m eaçam ca ir d o te to o u das paredes.
O m a te ria l p ro d u z id o s pelas d e to n a çõ e s é d e s m o n ta d o pelos o p erário s,
q u e fa ze m no local um a p rim e ira tria g e m , a fim de separar o m in é rio dos q u a r t­
zito s e dos xistos estéreis. A c u m u la m o m in é rio e m b a ixo , p e rto da p e q u e n a via
fé rre a q u e e n tra na fre n te de lavra, o u o tra n s p o rta m , em c a rrin h o s de m ã o sem
pés q u e tra fe g a m sobre um c a m in h o de tá bu a s, a té um co rred o r, o n d e o descar­
regam , para ser re to m a d o e m b a ixo . O estéril é u tiliz a d o c o m o a te rro q u e vai ser
jo g a d o nas câm aras a b an d o na d a s. Esses o p e rá rio s são e n via do s sucessivam ente
pe lo m arcador, de fre n te em fre n te , para lá e xe cu ta rem o d e sm o n te .

TR A N S P O R TE . O tra n s p o rte é e fe tu a d o , em cada nível, das fre n te s às es­


tações dos planos, e stabelecidas na base d o nível, p o r m e io de va g o n e te s e m p u r­
rados pelos ca rreiro s sobre trilh o s co lo ca d o s nas galerias de nível e nos diversos
recortes h o riz o n ta is .
Todos os va g o n e te s são d o m esm o m o d e lo : são fo rm a d o s p o r um a caixa
re ta n g u la r de fe rro , m o n ta d a e m b a la n ço sobre o c a rrin h o de m a d e ira , no q u al
são fixa d o s os eixos das rodas; s o lta n d o o g a n ch o que liga a caixa ao c a rrin h o na
p a rte de trás, ela se m ove em to rn o de um a ch a rn e ira h o riz o n ta l e se in clina para
d ia n te , a b rin d o -s e c o m o um a p o rta e p e rm itin d o escoar a carga.
Sua c a p a c id a d e é de 3 5 0 litro s , e o peso e sp e c ífico d o m in é rio em fr a g ­
m e n to s é 1 ,5 , A ca rg a de m in é rio q u e re cebem é de 5 0 0 q u ilo g ra m a s , a p ro x i­
m a d a m e n te .
As vias fé rre a s são to d a s fe ita s co m trilh o s V ig n o le ; a la rg u ra da via é de
0 ,4 0 m nas g a le ria s de nível e nos re co rte s de lig a çã o co m as fre n te s de lavra, e
so m e n te de 0 ,2 6 m nas diversas galerias pequenas que p a rte m das várias fre n te s
para se ra m ific a r em um c o rre d o r in c lin a d o , p ro v id o e m b a ix o de um d e p ó s ito de
a lim e n ta ç ã o , na p ro x im id a d e de u m a g a le ria de nível. A s fre n te s p ró xim a s da g a ­
leria p rin cip a l in fe rio r estão d ire ta m e n te lig a d o s a ela, e o tra n s p o rte é e fe tu a d o
de um a única vez a té a recepção, e n q u a n to para aquelas ab ertas nas partes su ­
pe rio re s d o nível evita-se o e s ta b e le c im e n to de p e q u e n o s planos in clin a d o s, e fe ­
tu a n d o -s e o tra n s p o rte de duas vezes, dos ca n teiro s ao c o rre d o r e da base desse
c o rre d o r até a recepção.
Os ca rreiros, em n ú m e ro de d o is p o r v a g o n e te , fa z e m o c a rre g a m e n to d o
m in é rio , seja nas fre n te s de lavra, seja e m b a ixo de um co rred o r, e e m p u rra m o
ve ícu lo a té a recepção e xiste n te no nível, o n d e d escarregam em um a g ra n d e cai­
xa de d is trib u iç ã o . Os veículos de tra n s p o rte não saem , p o rta n to , d o in te rio r da
m ina . Os ca rreiro s fa ze m seu serviço nas diversas fre n te s , para o n d e são enviados
sucessivam ente p e lo m arcador.
Todo o tra n s p o rte da p a rte SW da m ina está c o n c e n tra d o no Plano n° 1,
e n q u a n to a q ue le e n tre os p la n os e o da p o rçã o NE, são d irig id o s para o Plano n°2.
P R E E N C H IM E N T O . O p re e n c h im e n to é fe ito u n ic a m e n te co m os q u a rtz i­
to s e xistos d o m u ro , os quais fre q u e n te m e n te precisam ser d e s m o n ta d o s ju n to
co m o m in é rio , para fa c ilita r o tra b a lh o e o d e s a g u a m e n to re g u la r da ja zid a . Os
q u a rtz ito s se destaca m em placas, u tiliz a d a s p ro v e ito s a m e n te para e rg u e r os p ila ­
res e as paredes de su ste nta çã o ; o m a te ria l fin o e os xistos servem para o p re e n ­
c h im e n to desses m aciços, à m e d id a q u e vão se ndo e d ifica d o s .
Q u a n d o há n e cessidade de e n tu lh a r um a câ m a ra a b a n d o n a d a , co m o
a q u e la s na viz in h a n ç a do s p la n o s, os p e d re iro s e rg u e m e m b a ix o u m a p a re d e de
p e d ra s secas, e n q u a n to os o p e rá rio s u tiliz a m os m a te ria is estéreis re sta n te s des­
p e ja n d o -o s d o a lto da escavação, a fim de q u e o a te rro c h e g u e n a tu ra lm e n te
ao lugar.

E S C O R A M E N T O . O e s c o ra m e n to é quase dispensável, graças à solidez da


rocha e d o te to . Os acessos a b e rto s na ja zid a não necessitam q u a lq u e r re ve sti­
m e n to ; nas fre n te s de lavra, os pilares de s u ste n ta çã o são e sta be le cido s de m o d o
a m a n te r o te to , o n d e um a cam ada de xistos crista lin o s m u ito re siste n te , apesar
de sua p e q u e n a espessura, separa o filã o d o ita b irito suscetível de se p a rtir em
placas fin a s, im p e d in d o -a s de ruir. Nos locais o n d e o ita b irito se e n c o n tra e xp os­
to , estabelecem -se a lg u m a s elevações, n ã o ta n to para s u s te n ta r o te to , mas para
servir de te s te m u n h o e avisar da im in ê n c ia de um d e sa b a m e n to ; nos p o n to s la ­
vrados, chega-se m esm o a p ro vo c á -lo .
O p rin c ip a l tra b a lh o dos estiva d ore s é a in sta la çã o e m a n u te n ç ã o das ca i­
xas de d is trib u iç ã o , q u e e xiste m no pé dos co rre d o re s e nos p la n os das recepções
dos diversos níveis em e x p lo ta çã o .

S A LÁ R IO S D O S O PER Á R IO S D O D E S M O N T E . Os diversos serviços do


d e s m o n te são c o n tro la d o s pelos m a rcadores, q u e recebem um salário m ensal de
15 0 $ 0 0 0 réis (2 0 7 fra n c o s ).119
Os m in e iro s são pagos p o r p a lm o de fu ra ç ã o , à razão de 3 0 0 réis p o r p a l­
m o , e, c o m o fa ze m em m é dia 10 p a lm o s p o r dia, isto lhes dá um a d iá ria de 3 S 0 0 0
réis (4 ,1 4 fra ncos).
Os fo g u e te iro s são p a gos a 2 0 0 réis p o r hora e tra b a lh a m a lte rn a d a m e n ­
te 11 horas de dia o u 13 horas de n o ite a cada sem ana, o q u e lhes dá um a d iá ­
ria m é dia de 12 horas à razão de 2 $ 4 0 0 réis (3,31 fr a n c o s ).
Os o p erário s são pagos a 2 0 0 réis p o r h o ra e tra b a lh a m 10 horas p o r dia;
sua diária é, p o rta n to , de 2 $ 0 0 0 réis (2 ,7 6 f r a n c o s ).
Os carreiros re cebem 2 5 0 réis p o r hora e tra b a lh a m 10 horas p o r dia; sua
diária é, p o rta n to , de 2 $ 5 0 0 réis (2 ,7 6 francos).
Os pedreiros rece b e m 3 0 0 réis p o r ho ra e tra b a lh a m 10 horas p o r dia; sua
diária é, p o rta n to , de 3 $ 0 0 0 réis (4 ,1 4 fra n co s ).
Os c a rp in te iro s recebem 2 0 0 a 3 2 0 réis p o r hora e tra b a lh a m 10 horas p o r
dia; sua diária é, p o rta n to , 2 $ 0 0 0 a 3 $ 2 0 0 réis (2 ,7 6 fra n co s a 4,41 francos).
A tu a lm e n te o d e s m o n te é e x e c u ta d o e m g ra n d e p a rte p o r e m p re ita d a ,
p o r m in e rad o re s especializados desig na d o s c o m o contratistas. São p agos p o r m e ­
tro cú b ico de m a ciço d e s m o n ta d o , à razão de 11 $ 0 0 0 réis (1 5 ,2 0 fra n co s ) o m é -
tro cúbico. Têm de e xe cu ta r os furos, d e to n á -lo s, fa ze r a tria g e m d o m a te ria l des­
m o n ta d o , carregar e tra n s p o rta r o m in é rio até as d e pó sito s e e rg u e r os pilares de
sustentação, Têm a seu ca rg o as despesas co m explosivo e ilu m in a ção ; a c o m p a ­
nhia fo rn e ce -lh e s apenas os d o rm e n te s e os trilh o s para a instalação das vias f é r ­
reas necessárias ao tra n s p o rte . Esses h o m e n s são a g ru p a d o s p o r esquadras, c o lo ­
cadas cada u m a sob a dire çã o de u m ch e fe, ao q u al a d ire çã o a trib u iu u m a f r e n ­
te de lavra; essas esquadras são d ivididas em dois tu rn o s e são c o m p o sta s de dois
m ine rad o re s para um carreiro. V erificou-se q u e 150 h om ens, em cin co esquadras,
d e s m o n ta m 1 .5 0 0 m e tro s cúbicos p o r mês de 25 dias de tra b a lh o , à razão de 60
m e tro s cúbicos p o r dia, e c o n s o m e m para isto 9 .0 0 0 ca rtu ch o s co m d in a m ite . A
11 $ 0 0 0 réis o m e tro cú b ico , dedu zid a s as despesas de d in a m ite , q u e a a d m in is ­
tra ç ã o lhes fo rn e c e à razão de 4 0 0 réis (0 ,5 5 francos) p o r c a rtu ch o , e d o m o n ­
ta n te dos salários dos 5 chefes de esquadra, fix a d o cada u m em 1 5 0 S 0 0 0 réis
(2 0 7 francos) mensais, os m in e ra d o re s recebem em m édia 9 0 S 0 0 0 réis (1 2 4 ,2 0
francos), e os carreiros, 7 0 $ 0 0 0 réis (9 6 ,6 0 fran co s ) p o r mês.
ABERTURA DOS ACESSOS. A a b e rtu ra das galerias e dos planos é fe ita sob
e m p re ita d a p o r m in e rad o re s especializados, to m a n d o c o m o base o m e tro linear
de acesso a b e rto . As co n dições e o m o d o de execução desses tra b a lh o s d ife re m
se g u n d o a posição e a seção de acesso.
Para a a b e rtu ra das galerias, o tra b a lh o é e xe cu ta d o em dois tu rn o s de 8
horas p o r dia, cada t u r n o in ician d o o tra b a lh o nas horas de e n tra d a na m ina . Dois
m ineiros, são e m p re g a d o s no avanço p o r t u r n o . Têm a seu ca rg o a a b e rtu ra da
galeria, a tria g e m e o tra n s p o rte d o m ateria! d e s m o n ta d o até o pla n o, a co lo c a ­
ção dos d o rm e n te s e trilh o s q u e são fo rn e c id o s pela a d m in istra ç ã o ; as despesas
de ilu m in a ç ã o e explosivo são ca b e m aos m ineiros. São auxiliados e m sua tarefa
p o r dois carreiros, e n ca rre g a d o s d o d e s m o n te e d o tra n s p o rte até o pla n o, que
tra b a lh a m s o m e n te d u ra n te o t u r n o d o dia e fa ze m o serviço c o rre s p o n d e n te a
dois avanços. Assim , a a b e rtu ra de u m a galeria é, na realidade, realizada p o r 5
h o m e n s (4 m ine iro s e u m carreiro),.
Q u a n to às galerias de direção, cuja seção é u m q u a d ra d o de 2 m e tro s de
lado, o tra b a lh o da p e rfu ra çã o se faz da se g u in te m aneira: cada par de m ineiros
p e rfu ra a meia altu ra u m fu r o A, in clin a d o para o a lto e m sem ideclive, co m um
c o m p r im e n to de 1 ,1 0 m , e carregam 4 ca rtu ch o s p o r fu r o e x p lo d in d o -o na hora
d o fo g o . Produzem u m a cavidade na p a rte su p e rio r da fre n te de corte . P erfuram
em seguida dois fu ro s sem e lh a n tes B, situ a d os um p o u c o abaixo da posição dos
p recedentes e inclinados para baixo em sem ideclive, e dois fu ro s cu rto s C, in cli­
nados para o a lto co m 0 ,3 0 m a 0 ,4 0 m de c o m p rim e n to , para e n ta lh a r os â n g u ­
los superiores da galeria; d e to n a m os q u a tro , d e po is de te re m ca rre g a d o cada
fu r o B co m 3 ca rtu ch o s e cada fu r o C com 1 c a rtu c h o e m eio. A c a b a m de nivelar
a seção co m a a juda de p e q u e n o s fu ro s de 0 ,3 0 m de c o m p rim e n to , carregados
co m u m c a rtu c h o e m e io cada u m . Em 25 dias de tra b a lh o p o r mês fa ze m , em
m édia, 7 m e tro s de a vanço e c o n s o m e m 4 2 0 cartu ch o s; isto representa u m c o n ­
su m o de 15 ca rtu ch o s p o r m e tro cú b ico de rocha d e sm o n ta d a .
Q u a n to às galerias transversais, cuja seção é de 3 m e tro s de la rg u ra p o r 2
m e tro s de altu ra , o tra b a lh o é e xe cu ta d o de m o d o u m p o u c o d ife re n te : p rim e iro
os m ineiros fa z e m no m e io um fu r o A de 1,1 Om de c o m p rim e n to , in c lin a d o para
o lado; c a rre g a m -n o co m 4 ca rtu ch o s q u e d e to n a m na hora a d e q u a d a . Depois
e xe cu ta m 2 fu ro s A' u m p o u c o m e n o s p ro fu n d o s e situados mais o u m e n o s no
m e sm o nível de um la d o e o u tr o d o p rim e iro , co m u m a inclinação igual para o
alto. C a rre g a m cada u m co m 3 ca rtu ch o s e os d e to n a m ; p e rfu ra m em seguida 2
a 3 fu ro s B, in clinados para baixo, n o pé da cavidade p ro d u z id a e em u m nível um
p o u c o in fe rio r ao dos precedentes. Esses fu ro s recebem um a carga de 3 cartu ch o s
cada u m e são d e to n a d o s. Finalm ente, para faze r desaparecer a p ro tu b e râ n cia
qu e existe e n tre as duas cavidades e para avivar os ân gu lo s da galeria, e xecutam
6 fu ro s C de 0 ,3 0 m a 0 ,5 0 m , 2 a meia altu ra e 4 nos cantos, que ca rreg a m com
1,5 a 2 cartuchos, Em 2 5 dias de tra b a lh o p o r mês fa ze m , em m édia, 6 ,5 0 m de
avanço e u tiliz a m 5 5 0 cartu ch o s; isto p erfaz 4 4 ca rtu ch o s p o r m e tro cú b ic o de ro ­
cha d e s m o n ta d a .
Q u a n to à a b e rtu ra dos planos inclinados, c o m o é in te ira m e n te necessário
q u e o avanço se faça o mais ra p id a m e n te possível, para p o d e r a b rir novos subní-
veis, o tra b a lh o é fe ito p o r dia de três tu rn o s de 8 horas, Os m ine iro s são apenas
en ca rre g a d o s da a b e rtu ra e da co locação d o acesso d o p la n o . O d e s m o n te é e xe­
c u ta d o p o r o p erário s fo rn e c id o s pela a d m in istraç ão , fo ra da e m p re ita d a , q u e te m
a seu ca rg o as despesas de ilu m in a ç ã o e de explosivo.
Q u a n to ao Plano n° 2, c o m seção de 3 m e tro s de largura p o r 2 ,2 0 m e tro s
de altu ra , 3 m in e ra d o re s tra b a lh a m p o r tu rn o . Furam p rim e iro , a 1 m e tro d o solo,
3 fu ro s A de 1 ,1 0 m de c o m p rim e n to , in clinados para baixo em sem ideclive, car­
re g a m -n o s co m 3 ca rtu ch o s cada u m e d e to n a m , o q u e p ro d u z u m a cavidade no
m e io da p a rte in fe rio r da fre n te de corte . Furam em seguida, mais o u m e n o s no
m e sm o nível, 3 o u tro s fu ro s B de m e sm o c o m p rim e n to , in clinados para o a lto em
sem ideclive, ca rreg a m -no s co m 4 ca rtu ch o s cada um e fa ze m u m a nova d e to n a ­
ção, q u e p ro d u z o u tra cavidade na p a rte superior. Depois, fin a lm e n te , fa z e m d e ­
saparecer o ressalto q u e existe e n tre as duas cavidades e avivam as quinas, fu r a n ­
d o 6 fu ro s C de 0 ,3 0 m a 0 ,5 0 m , 2 a meia a ltu ra e 4 nos cantos, q u e carregam
c o m 1,5 a 2 ca rtu ch o s. Os 9 m ine iro s fa ze m , em 2 5 dias de tra b a lh o p o r mês, de
7 ,8 0 m a 8 m e tro s de a vanço e c o n s o m e m 6 5 0 a 6 8 0 cartu ch o s, ou seja, 13 car­
tu c h o s p o r m e tro cú b ico de rocha d e s m o n ta d a .
Q u a n to ao Plano n° 1, co m seção de 3 ,5 0 m de la rg u ra p o r 2 ,5 0 m de al­
tu ra , 4 m ine iro s tra b a lh a m p o r t u r n o e e xe cu ta m a ta re fa e xa ta m e n te c o m o no
caso d o Plano n° 2, co m a única d ife re n ça de que fa ze m 4 fu ro s A e 4 fu ro s B
em lugar de 3. Desse m o d o tê m de fu ra r;

4 fu ro s A para baixo, carregados co m ,3 ca rtu ch o s cada um


4 fu ro s B para cim a, carreg a d os c o m 4 ca rtu ch o s cada u m
6 fu ro s C em to rn o , carregados co m 1,5-2 ca rtu ch o s cada um

Depois de e xecutar o a rra n jo m e n c io n a d o , d e to n a m . Os 12 m ineiros f a ­


zem , e m 2 5 dias de tra b a lh o , 7 ,5 0 m a 8 m e tro s de avanço, e c o n s o m e m para tal,
7 9 0 a 8 4 0 cartuchos, ou seja, 12 ca rtu ch o s p o r m e tro cúbico.
Os preços de execução dos acessos estão indicados na Tabela 8, q u e a p re ­
senta as q u a n tia s pagas à e m p re ite ira p o r m e tro linear de via a b e rta e m ostra o
va lo r m é d io dos salários mensais dos o p e rá rio s e n ca rre g a d o s desse tra b a lh o .
Nos planos, colo ca m -se os m e lh o re s m ine rad o re s, p o r causa das m aiores
d ificu ld a d e s de a b e rtu ra e da o b rig a ç ã o de trabalhar, e m p arte, na água; assim, o
p re ço da e m p re ita d a é ca lcu la d o de m o d o a p e rm itir q u e g a n h e m u m salário u m
p o u c o mais elevado.

2. E x tra ç ã o

A e xtração d o m in é rio é fe ita p o r tra ç ã o m ecânica através dos dois planos


inclinados n° 1 e n° 2 d e m ã o única (fig. 30). Em cada pla n o, há u m a única linha
férrea, de 0 ,6 0 m de la rg u ra de via, sobre a qual circula u m v a g o n e te de chapa de
fe rro fu n d id o lig a d o a u m cabo de aço, q u e se e n ro la na superfície em u m a polia
cilíndrica, m o v id a p o r um a ro d a m ecânica . As duas polias (fig. 31), de eixo c o ­
m u m , p o d e m g ira r s e p a ra d a m e n te no eixo da roda, de m o d o que tra b a lh a m in ­
d e p e n d e n te m e n te um a da o u tra . Cada um a é m u n id a de um a e m b re a g e m , soli­
dária ao eixo m o triz, a fim de p ro d u z ir a tra ç ã o d o v a g o n e te cheio, pe lo e n ro la -
m e n to d o cabo, e de u m fre io de sapata para d im in u ir a ve lo cid a d e da polia sol­
ta d o eixo, d u ra n te a descida d o v a g o n e te vazio. Um a c o m p o rta serve para re g u ­
lar a e n tra d a da água na roda, de m o d o a p ro d u z ir a tra ç ã o sobre os dois t a m b o ­
res o u sobre u m deles apenas, p e rm a n e c e n d o o o u tr o im óvel ou se m o v e n d o li­
vre m e n te , e m s e n tid o c o n trá rio , para a descida.
O v a g o n e te e m p re g a d o é f o r m a d o p o r u m a caixa paralelepipédica, m o n ­
tada e m ch a rn e ira sobre u m chassi de m adeira, ao qual é presa p o r u m g a nch o ;
ao soltá -lo , a caixa se inclina, e n q u a n to u m dos lados, a b rin d o -se c o m o um a p o r ­
ta e m to r n o de um a d o b ra d iç a na p a rte superior, p e rm ite esvaziá-la fa c ilm e n te
(fig. 32). Sua capacidade é de 0 ,5 6 m e tro s cúbicos; seu peso m o r to é de 2 5 0 q u i­
los. Transporta um peso útil de m in é rio de 7 5 0 quilos. Cada v a g o n e te é m u n id o
de um g a n c h o de e n g a te p ro lo n g a d o p o r u m a garra q u e serve c o m o fre io , t a n to
na descida c o m o na subida. Se o cabo se ro m p e o u o veículo se solta, im e d ia ta ­
m e n te a garra cai de vid o a seu peso e a fu n d a na terra, p a ra n d o o va g o n e te , No
caso de u m a descida rápida q u e im p e d iria a garra de a n co ra r su fic ie n te m e n te ,
Fig. 3 0 - Planos inclina do s. D isposição geral
Legenda: A p a re lh o de tra çã o m ecânica, Plano in clin a d o n° 2, M o to r de e s g o ta m e n to ,
P lano in c lin a d o n° 1

2 50
Fig. 31 -C o rte vertical e p ro je ç ã o h o riz o n ta l d o a p a re lh o de tra çã o m ecânica

251
Fig. 32 - C o rte e vertical e p ro je ç ã o h o riz o n ta l de u m vago ne te

252
esta se m p re fa z o veículo sair dos trilh o s v ira n d o -o para u m la d o e p ro d u z in d o
apenas alguns estragos m ateriais, em lugar de c o n tin u a r a c o rre r sobre a via, com
u m a ve lo cid a d e acelerada e se a rre b e n ta r n o fu n d o , p ro d u z in d o acidentes f r e ­
q ü e n te m e n te graves.
Os cabos de e xtra çã o são cabos de seção circular, de aço, c o m 17 m ilím e -
t r o s d e d iâ m e tro , pe san d o 1 .0 1 6 gram as p o r m e tro linear. Term inam n u m anel c ô ­
nico q u e serve para p re n d ê -lo s no g a n c h o de e n ga te . A cada cabo se liga u m ú n i­
co va g o n e te ; viagens de ida e volta , feitas em 2 4 horas nos dois planos, variam
de 2 0 0 a 2 2 0 ; a velocid a d e m édia d o veículo é de 1r7 5 m . *
O c a rre g a m e n to do s va g o n e te s é fe ito a p a rtir de gra n de s caixas de d is tri­
b u içã o q u e p o d e m receber 4 0 to n e la d a s de m in é rio ; t ê m a fo rm a de u m a tre m o -
nha, fe ch ad a na parte in fe rio r p o r u m a p o rta de alavanca, e são d ire ta m e n te c o ­
locadas e m cada nível em e xp lo ta çã o n o m e io d o pla n o, de m o d o a de ixa r a b a i­
xo passagem livre para os veículos. Isso p e rm ite fazer o c a rre g a m e n to d ire to , p a ­
ra n d o o v a g o n e te e x a ta m e n te ab aixo da p o rta . Os coletores no subsolo, em n ú ­
m e ro de dois e m cada pla n o, servem à diversas recepções de um p la n o e se des­
locam s e g u n d o as necessidades para fa ze r o c a rre g a m e n to nos diversos níveis. Na
superfície, os coletores, em n ú m e ro de três para os dois planos, recebem o v a g o ­
n e te cheio, s u b s titu e m -n o p o r u m vazio e o d irig e m ao local de tria g e m para lá
bascular sua carga.
E m pregam -se dois m ecânicos na m a n o b ra dos g u in cho s, u m para cada
g u in c h o . Têm a seus pés o pedal d o fre io e, ao alcance da m ão, a m anivela da
e m b re a g e m . Entre os dois e acim a de sua cabeça te m -s e a alavanca de m a n o b ra
da c o m p o rta de e n tra d a da á g ua na ro d a . U m m a rte lo , m o v id o p o r u m fio de f e r ­
ro q u e corre ao lo n g o de cada plano, p e rm ite -lh e s receber os sinais dos coletores
d o subsolo.
O serviço da e xtração é fe it o e m dois tu rn o s , u m de 10 horas de dia, o o u ­
tro de 13 horas à n o ite. O pessoal m u d a de t u r n o s e m a n a lm e n te . É p a g o por
hora: os coletores d o subsolo à razão de 3 5 0 réis, re ce b e n d o assim 4 $ 0 0 0 réis (50
francos) p o r dia; os coletores da superfície, de '1 8 0 a 190 réis, o que lhes dá
2 $ 0 0 0 a 2 $ 2 0 0 réis (2 ,7 5 fra n co s a 3 francos) p o r dia; os m ecânicos, à razão de
2 2 0 réis, o q u e lhes dá 2 S 5 0 0 réis (3 ,4 7 francos) p o r dia.
TABELA 8. P R EÇ O DE EX ECU Ç Ã O DAS

Preço do m etro Preço correspondente

de A vanço de d o m etro c ú b ic o d e

D im e n s õ e s V ia A berta rocha desm o ntada N úm ero de A vanço


V ia de
D A SEÇÃO o p e r á r io s n o M ensal em
C o m u n ic a ç ã o
em M etro s avanço m etros

G a le ria d e
2x2 1005000 13 8 255000 3 4 ,5 0 5 7
D ireçã o

G a le ria de
3x2 1205000 1 6 5 ,5 0 205000 2 7 ,6 0 5 6 ,5 0
R eco rte

Plano
3x2,20 1805000 248 275000 3 7 ,2 0 9 7 ,5 0 -8
In clin a d o n° 2

Plano
3 ,5 0 x 2 ,5 0 240$000 330 275000 3 7 ,2 0 12 7 ,5 0 -8
Inclinado n° 1

3. D e s a g u a m e n to

0 d e s a g u a m e n to é e xe cu ta d o p o r m e io de b o m b a s instaladas no Plano n°
1, cujo a vanço é se m p re m a n tid o a um a m a io r p ro fu n d id a d e q u e a q uela d o Pla­
no n° 2, para aí c o n c e n tra r as águas.
As b o m b a s estão dispostas em série ao lo n g o de u m dos lados d o p la n o e
elevam as águas desde o f u n d o até o nível 150, de o n d e p a rte um a galeria de es­
c o a m e n to q u e ve m d e se m b o c a r acim a d o rio, a a lg u ns m e tro s d o nível das cheias
e 50 m e tro s ab aixo da p la ta fo rm a da boca dos planos (Fig. 29).
O jo g o das b o m b a s c o m p re e n d e : na p a rte inferior, u m a b o m b a de sucção
e de elevação de 0 ,1 3 m de d iâ m e tro , q u e é m u n id a de um a sp ira d o r de ju n ç ã o
flexível e m c o u ro e eleva as águas ao nível 4 0 0 . São re to m a d a s p o r três sucessi­
vas b o m b a s de recalque, de e m b o lo m e rg u lh a d o r, para serem levadas ao nível da
galeria de e sco a m e n to , p o r o n d e flu e m n a tu ra lm e n te até se lançarem no rio. A
p rim e ira b o m b a , de 0 , 1 5 m de d iâ m e tro , eleva as águas d o nível 4 0 0 ao nível .315;
a segunda, de 0 ,2 0 m de d iâ m e tro , eleva ao nível 235, e a terceira, de 0 ,2 3 m de
d iâ m e tro , eleva ao nível 150.
VIAS DE C O M U N IC A Ç Ã O

Salá r io M ensal M é d io N úm ero M ensal M é d io N úm ero M ensal M é d io (D e d u z id a a

por H o m em por H o m em D espesas de D in a m it e ) por H o m em

Por Por
Em
Em Reis Total M e tro M e tro Em Reis Em Francos
Francos
C o rre n te C ú -b ic o

140$000 193 420 60 15 1065000 146

156S000 215 550 84 14 1125000 1 5 4 ,5 0

1505000 - 1605000 .2 0 7 - 2 2 0 6 5 0 -6 8 0 86 13 1 2 1 $ 0 0 0 -1 3 0 $ 0 0 0 1 6 7 -1 7 9

1505000 - 1605000 2 0 7 -2 2 0 7 9 0 -8 4 0 105 12 1 2 4 5 0 0 0 -1 3 2 5 0 0 0 1 7 1 -1 8 2

Todas essas b o m b a s tê m o eixo fix a d o em balanço, em u m eixo-m estre,


q u e corre ao lo n g o d o p la n o in clin a d o e repousa, de distância em distância, so­
bre rodas livres. São postas em m o v im e n to p o r um a ro d a hidrá u lica e xte rn a , de
6 ,8 0 m de d iâ m e tro , situada na e n tra d a da boca d o plano, e p o r u m a p e q u e n a
roda Pelton instalada n o p o n t o de ju n ç ã o d o p la n o e da galeria de e sco a m e n to .
Esse a rra n jo p e rm ite u tiliz a r u m a a ltu ra to ta l de q u e d a da á g ua de 7 m e tro s, d o
canal de e n tra d a à boca d o p la n o, e de 50 m e tro s desse p o n to até a galeria p o r
o n d e saem as águas m otrizes, depois de te re m p ro d u z id o sua ação ju n t o co m as
águas de d e s a g u a m e n to . Cada ê m b o lo te m u m curso de 1 ,5 0 m e dá 6 golpes d u ­
plos p o r m in u to : a vazão da b o m b a su p e rio r a tin g e 3 6 0 litros p o r m in u to .

4 . S erviços acessórios

V E N T IL A Ç Ã O . No passado o ar era re n o v a d o p o r sim ples ve n tila çã o n a tu ­


ral; a tu a lm e n te o m e s m o o co rre nas fre n te s de lavra, mas nos tra b a lh o s de d e se n ­
v o lv im e n to , hoje m u ito p ro fu n d o s , esse m o d o de ve n tila çã o to rn o u -s e in s u fic ie n ­
te. Houve necessidade de instalar na superfície u m com pressor, q u e envia o ar
c o m p rim id o para u m regulador, q u e o d istribu i nos diversos avanços, p o r m e io de
tu b o s de ventilação.
IL U M IN A Ç Ã O . A ilu m in a çã o é fe ita co m óle o de rícino (m a m o n a), em p e ­
quenas lâm padas de fe rro d o m o d e lo de Freiberg,
Cada m in e iro te m sua lâ m p a d a e paga seu óle o e as mechas, q u e lhe são
fo rn e c id a s pela a d m in is tra ç ã o à razão de 6 0 0 réis (0,83 f r a n c o s ) o litro de ó le o e
de 4 2 0 réis (0 ,1 6 5 f r a n c o s ) o m e tro de m echa. Em 5 dias, ele co n so m e u m litro
de óle o e 0 ,5 0 m de m echa; a lâ m p a d a cheia d u ra um dia inteiro.
E X P LO S IV O S . A d in a m ite e m p re g a d a é a d in a m ite -g o m a de Nobel, em
caixas de 2 5 0 cartuchos. O cu sto de u m a caixa e n tre g u e na m ina é de 1 0 0 5 0 0 0
réis (1 3 8 francos).
As cápsulas são feita s de p e qu e n o s cilin dro s de co b re de 25 m ilím e tro s de
c o m p r im e n to p o r 6 m ilím e tro s de d iâ m e tro , cheios até um te rç o de fu lm in a t o de
m ercúrio. A caixa co m 100 cápsulas fica em 5 $ 0 0 0 réis (6 ,9 0 fra n c o s ).
E m p re g a -se e s to p im de se g u ra n ça de B ic k fo rd , re c e b id o da França, e
cu sta 1 5 0 0 0 réis (1 ,3 8 fr a n c o ) cada 8 m e tro s; u tiliz a -se o co rd e l b ra n c o para
os fu ro s secos e o c o rd e l p re to r e c o b e rto de a lc a trã o p a ra os fu ro s q u e c o n t e ­
n h a m á g ua .
Um fo g u e te iro especial, in sta la d o em um a p e q u e n a casa isolada na s u p e r­
fície, p repara os ca rtu ch o s pelo p ro c e d im e n to co rren te , c o m u m m e tro de cordel
para cada um . É, ao m e s m o te m p o , e n ca rre g a d o d o serviço das lâ m p a d a s espe­
ciais da a d m in istraç ão .

5. Pessoal d a m in a

Os tu rn o s da m ina co m e ç a m às seis horas da m a n h ã e às cin co da ta rd e , com in ­


te rru p ç ã o de d o m in g o até se g un d a de m an h ã . Os operários d o t u r n o da m an h ã ,
q u e tra b a lh a m p o r hora, tê m u m descanso de u m a hora para alm oçar, das 9 às
10 horas. Em conseqüência da in te rru p ç ã o d o d o m in g o , o serviço da extração
deve ser fe ito , d u ra n te a sem ana, de m o d o a satisfazer as necessidades da usina
de tra ta m e n to m ecânico, que fu n c io n a c o n tin u a m e n te .
Os diversos serviços da m ina estão sob a dire çã o de u m m e stre -m in e ra d o r
o u ca p itã o de m ina, q u e fa z c o m q u e sejam execu ta d o s os tra b a lh o s o rd e n a d o s
pe lo diretor.
Serviço de d e s m o n te M arcad o re s 4
M in e iro s 100
Carreiros 50
Diversos 60

214

Serviço de tra ç a g e m M in e iro s 53


Carreiros 8
Diversos 2

63

Serviço de e xtração C apatazes 2


C oletores 14
M e câ n ico s 4
Diversos 9

29

Total d o pessoal 306

Esse pessoal c o m p õ e -se e m p a rte de brasileiros, quase to d o s m u la to s ou


negros, e de estrangeiros; estes últim os, na m a io ria italianos, tra b a lh a m p rin c ip a l­
m e n te p o r e m p re ita d a . O h a b ita n te d o país fo rn e c e um a boa m ã o -d e -o b ra , mas
é p o u c o assíduo: em 2 5 dias de tra b a lh o n o rm a l p o r mês, é raro q u e c u m p ra mais
de 18 a 2 0 dias. Por isso, é preciso re fo rç a r o pessoal e m cerca de u m terço , para
se te r o e fe tiv o c o m p le to para os trabalhos.

6 . P ro d u ç ã o e cu sto d a e x p lo ta ç ã o

A p ro d u ç ã o m ensal de m in é rio b r u t o é, e m m édia, de 3 .8 0 0 toneladas, o


que co rre sp o n d e a 150 to n e la d a s p o r dia de tra b a lh o .
O to ta l e xtra íd o d u ra n te o ú ltim o exercício, de 1o de ju lh o de 1891 a 1o
de ju lh o de 1892, fo i de 4 6 .2 0 0 toneladas.
A Tabela 9 apresenta o cu sto da e xp lo ta çã o p o r to n e la d a extraída, nesse
m e sm o exercício.
TABELA 9. C U S T O DA EXPLO TA ÇA O N O E X E R C ÍC IO
1891-1892 (4 6 .2 0 0 T)

C usto d a Ex p lo taç ã o por


D espesas A n u a is
T o nelada

Em réis Em francos Em réis Em francos

1. Capitania 2 :6 5 0 $ 0 0 0 3,655 0$057 0,08

li. M ã o de Obra:

Desm onte 18 7 :2 9 8 $ 0 0 0 25 8 ,3 4 2 4S 05 4 5,59

Traçagem 83:211 $000 114,773 1 $801 2 ,4 9

Extração 2 1 :9 7 1 $ 0 0 0 3 0 .3 0 5 0$475 0,65

2 9 2 :4 8 0 $ 0 0 0 4 0 3 .4 2 0 6$330 8,73

III. M ã o de Obra:

Desm onte 3 2 :1 9 0 $ 0 0 0 4 4 ,4 0 0 0$ 69 7 0,96

Traçagem 2 9 :7 7 8 $ 0 0 0 41 ,0 7 3 0$644 0,89

6 1 :9 68 $ 0 0 0 8 5 .4 7 3 1 $341 1,85

IV. Barra mina 5 :8 0 9 $ 0 0 0 8,081 0$ 126 0,17

V. Iluminação 7 :7 7 1 $ 0 0 0 10,718 0$168 0,23

VI. Iluminação 1 9 :0 0 0 $ 0 0 0 26,207 05411 0,57

Total 3 8 9 :6 7 8 5 0 0 0 5 3 7 ,4 8 5 85433 1 1 ,6 3
CA PÍTU LO 5o

TRATAMENTO M E C Â N IC O E M ET A LÚ R G ICO
D O M I N É R IO

1. P rin c íp io d o tr a ta m e n to

0 m in é rio de Passagem co m p õ e -se essencialm ente de q u a rtz o , tu rm a lin a


e p irita arsenical, co m m e nores q u a n tid a d e s de pirita de fe rro c o m u m e pirita
m a g n é tica ; b is m u to o co rre p ro v a v e lm e n te em e sta do de sulfeto.
O o u ro apresenta-se nesse m in é rio e m dois estados distintos: n o e stado
n ativo, disse m in ad o em finas partículas n o q u a rtz o , e n o e sta d o n a tiv o o u de
c o m b in a ç ã o ainda mal d e fin id a na tu rm a lin a e nos sulfetos. Do p o n to de vista
p rá tico da e xtração d o m e ta l precioso, tem -se, p o rta n to , um m in é rio co m p le xo
p e rte n c e n te à classe dos m iné rio s q u a rtzos os a u ríferos refratários, q u e os a m e ri­
canos d e sig na m c o m o re fra c to ry ores .* Não se p o d e aplicar aos m e sm o s u m t r a ­
ta m e n to sim ples, p o r p reparação m ecânica, c o m p le ta d o p o r a m a lg a m a çã o , sob
pena de se p erder nos rejeitos (ta ilin g s ) u m a g ra n d e p a rte d o o u ro c o n tid o . É p re ­
ciso s u b m e tê -lo a u m a série de o perações q u e p o d e m ser a g ru pa d a s e m três ca­
te g o ria s distintas:
1a. Um a m o a g e m b a stan te fin a que p e rm ita efetuar, p o r lavação, a sepa­
ração das partículas de o u ro livre (fre e g o ld ) e de sulfe tos (s u lp h u re ts ) da ganga
qu artzosa, de m aneira a p o d e r s u b m e te r cada um desses e le m e n to s ao tra t a m e n ­
to q u e lhe co nvém , sem q u e as reações sejam p rejudicadas pela presença a b u n ­
d a n te de q u a rtz o estéril.
2 a. A a ção d o m e rc ú rio sobre as p a rtícu la s isoladas de o u ro livre, de
m o d o a realizar sua a m a lg a m a ç ã o ; co le ta d o a m á lg a m a e seu t r a t a m e n t o para
separar o o u ro .
3 a. A ação de u m re a g en te q u ím ico , o cloro, em nosso caso, sobre as p a r­
tículas de su lfe tos d ire ta m e n te co n ce n tra d a s o u refratárias à a m a lg a m a çã o ; a p re ­
cip ita çã o d o o u ro da dissolução e sua fusão.
D epreende-se daí que o m é to d o de tra ta m e n to c o m p re e n d e três partes:
1a. p re p aração m ecânica; 2a. a m a lg a m a çã o ; 3a. cloretação.
* NR: M in é rio s refra tá rios.
PREPARAÇÃO M E C Â N IC A . O m in é rio b ru to é s u b m e tid o p rim e ira m e n te
a u m a classificação q u e co m p re e n d e um p e n e ira m e n to e u m a tria g e m m anual
(ik lã u b a g e ) para a separação dos estéreis a rejeitar. O m in é rio para tra ta m e n to
passa pelos pilões, as partículas m aiores após b rita g e m prévia, as m enores, dire ­
ta m e n te . As areias p ro d u z id a s passam p o r várias lavações sucessivas em mesas,
co m u m a pulverização intercalada destin ad a a c o m p le ta r a lavação, de m o d o a
o b te r areias co n ce n tra d a s em dois graus de e n riq u e c im e n to : as areias ricas, c o n ­
te n d o a m a io r p a rte d o o u ro , vão para a a m a lg a çã o, e as concentradas, p ro v e ­
nientes dos ta ilin g s, são enviadas para cloretação.
A M A L G A M A Ç Ã O . A a m a lg a çã o é fe ita pelo p ro c e d im e n to d ire to e c o m o
u m a fra çã o d o o u ro escapa à ação d o m e rcúrio , as areias são recolhidas n o v a m e n ­
te, depois de separa do o a m á lg a m a p ro d u z id o e ju n ta d a s às areias concentradas,
para serem tra ta da s p o r cloretação. O a m á lg a m a é filtr a d o e d e stila d o e o o u ro
b ru to passa para o re fin o , a fim de ser tra n f o r m a d o em barras.
CLO R ETA Ç Ã O . As areias co n ce ntrad a s são su b m e tid a s a u m a c o m b u s tã o
para e lim in a r c o m p le ta m e n te o e n x o fre e o arsênio das piritas e pero xída r o f e r ­
ro; depois essas areias ustuladas passam para a clo re ta çã o p o r via ú m ida, s e g u n ­
d o o p ro c e d im e n to N e w b e ry-V a u tin ; p o r filtra g e m , o b té m -s e u m a solução que
c o n té m o clo re to de o u ro e m dissolução, da qual se p recipita o o u ro p e lo p ro to -
s u lfe to de cobre, sob a fo rm a de u m a m istura de o u ro e de e nxofre, q u e é s u b ­
m e tid a ao re fin o para o b te n ç ã o d o o u ro em barras.
Por esse m é to d o , chega-se a retirar de um m in é rio c o m p le x o , c o m o são os
m iné rio s de q u a rtz o e de piritas auríferas, dois terços de o u ro to ta l c o n tid o .
No c o m e ç o das o perações da c o m p a n h ia , n ã o se fazia cloretação; co n te n -
tava-se, depois de u m tra b a lh o m a n u a l cu id a d o so para separar o estéril e o q u a r t­
zo p o bre, em e xecutar o tra ta m e n to m ecânico, d e ixa nd o ir para o rio as areias p o ­
bres p ro ve n ie nte s de um a prim eira lavação, e n q u a n to se aplicava a a m a lg a m a çã o
às areias ricas. A tu a lm e n te , recolhe-se u m a g ra n d e p a rte d o o u ro , q u e escapou à
a m a lg a m a ç ã o ou foi levado co m as areias pobres, co m p le ta n d o -s e o tra ta m e n to ,
pela cloretação. das areias de a m a lg a m a çã o e dos ta ilin g s p re via m e n te c o n c e n tra ­
dos. Essa m o d ific a ç ã o fo i in tro d u z id a no m é to d o pe lo d ire to r a tua l da m ina,
Henry G iffo rd , a p a rtir de d e z e m b ro de 1889, após testes fe ito s no la b o ra tó rio ,
sob sua direção.
0 Q u a d r o 1 m o s tr a a s e q ü ê n c ia d o t r a t a m e n t o p r im itiv o , ta l c o m o era f e i­
t o e m 1 8 8 8 ; p e r m it e q u e se t e n h a u m a idéia das diversas o p e ra ç õ e s a q u e e n t ã o
era s u b m e t id o o m in é r io e pela d e s c riç ã o d o n o v o t r a t a m e n t o , q u e v a m o s e m ­
p r e e n d e r n o m o m e n t o , será fácil p e r c e b e r os a p e r f e iç o a m e n t o s in tr o d u z id o s .

QUADRO 1

261
L e g e n d a d o Q u a d r o 1.
T r a i t e m e n t d u m in e r a i e m 1 8 8 8 ( p e n d a n t u n e j o u r n é e d e .24 h e u re s ):
T r a t a m e n t o d o m i n é r io e m 1 8 8 8 , d u r a n t e j o r n a d a d e 2 4 h o ra s ,
M i n e r a i v e n a n t da m in e ; M i n é r i o p r o v e n ie n t e d a m in a .
C r lb la g e e t S c h e id a g e : P e n e ir a m e n t o e E sco lh a m a n u a l
Q u a rtz pauvre: Q u a rtz o p o b re
S té rile s (a la r iv ie r e ) : E sté re is (p a ra o rio )
M e n u s : F ra g m e n to s m e n o re s
B o c a rd s : M o in h o s
1 a r (2 e , 3e) Tables r e t ilig n e s : P rim e ira s (segundas, t e r c e ir a s ) m e sas
re tilín e a s
S a b le s p u v re s ( t a ilin g s a la r iv ie re : A re ia s p o b r e ( r e je it o s ) p a ra o rio
S a b le s d e n s e s : A r e ia s d e n s a s
D is trib u ite u r: D is trib u id o r
S a bles ric h e s : A re ia s ricas
R e je cts (ré s c e rré s ): R e je ito s (r e s e r v a d o s )
T o n n e a u d 'a l m a g a m a t i o n : T a n q u e d e a m a lg a m a ç ã o
S a bles e t A m a lg a m e : A re ia s e A m á lg a m a
M e r c u r e : M e r c ú r io
C aísse d e d é p ô t : C a ix a de d e p o s iç ã o
B o u e s le g e re s (a Ia riv ie re ); L a m a le ve (p a ra o rio )
D é p ô t : D e p ó s it o
M o u l i n à M a r t e a u x : M o i n h o de m a r te lo s
A p p a r e il à re s s a u ts : A p a r e l h o c o m re s s a lto s
F il t r a t io n : F ilt r a g e m
A m a lg a m e im p u r e : A m á lg a m a jm p u r a
M e r c u r e e t B is m u t h a u r if é r e : M e r c ú r io e B is m u t o a u r í f e r o s
L a v a g e e t F il t r a t io n : L a v a ç ã o e F iltr a g e m
..A ffin a g e : P u r if ic a ç ã o
B is m u th a u r if é r e en b a rre s : B is m u t o a u r í f e r o e m b a rra s
S é p a r a t io n : S e p a ra ç ã o
Or b ru t; O u ro b ru to
O r e m b a rre s : O u r o e m b a rra s
P e rte : P erda
2. D isposição d o p á tio in d u s tria l e d a u s in a d e tr a ta m e n to

V im os que os dois planos inclinados, p o r o n d e o m in é rio sai da m ina, d e sem b ocam


em um a p la ta fo rm a situada no fla n co da m o n ta n h a , cerca de 55 m etros acima do
nível m é d io das águas d o ribeirão d o C a rm o (ver Fig. 29). Para não localizar a usi­
na em u m p o n to m u ito a fastado das bocas de saída da m ina, inicialm ente a rocha
fo i e ntalhada no nível da p la ta fo rm a e abaixo, a fim de estabelecer as primeiras de­
pendências de preparação mecânica. Foi possível, de resto, utilizar parcia lm en te os
locais, j á preparados a n te rio rm e n te , das instalações da antiga co m p a n h ia . A seguir,
c o m o o d e se n vo lvim e n to dos tra b a lh os exigiu a criação de novas instalações, foi
preciso a brir grandes trechos na rocha, visando recebê-las (Fig. 25). Hoje a usina
co m p re e n d e q u a tro andares situados em níveis diversos entre a p la ta fo rm a e o ri­
beirão (Prancha I, Fig. 33). O a n d a r superior n° 1 co m p re e n d e o local de peneira­
m e n to e de tria g e m {p a io !), na cota 5 0 ,5 0 m acima d o ribeirão; depois vêm abaixo,
sucessivamente, os três andares de preparação mecânica, c o n te n d o cada um, um
e n g e n h o de pilões (s ta m p -m il!) co m os aparelhos de lavação, de m o d o a utilizar as
mesmas águas motrizes, que passam de um an da r a o u tro , antes de se lançarem no
ribeirão. No an da r n° 2, situado na cota 4 1 ,6 0 m , encontra-se um e n g e n h o de 24
pilões, m o v id o p o r u m a roda hidráulica e mesas de lavação. No a n d a r n° 3, na cota
3 0 m, existe u m e n g e n h o de 32 pilões, m o v id o ig u a lm e n te p o r um a roda h id rá u li­
ca e mesas; neste m e sm o an da r e ncontram -se, além d o mais, os britadores, os m o i­
nhos de m a rte lo (hamm er-m ills), a oficin a das panelas de m o a g e m , a oficina de
am alg a m a çã o , a oficina de lavação na bateia e o fo rn o de destilação. No a n d a r n°
4, na cota 1 4 ,4 0 m , e ncontra-se u m e n g e n h o de 4 0 pilões, m o vid o p o r um a roda
hidráulica de ferro, a judada p o r u m a tu rb in a colocada abaixo da oficina. Neste mes­
m o nível estão instaladas numerosas mesas e, acessoriam ente, dois aparelhos m e ­
cânicos destinados a fazer testes para u m a m e lh o r co n centração das piritas: uma
mesa inclinada de Castelnau e um a mesa vibratória de Frue, dita Frue-Vanner.
A usina de cloretação, instalada p o ste rio rm e n te às precedentes, e n co n tra -
se, ao contrá rio , acim a da p la ta fo rm a de chegada d o m inério, na m esm a cota
6 9 ,8 0 m d o fo rn o de ustulação, e as areias concentradas, q u e aí recebem tra ta m e n ­
to , são levadas do a n d a r in fe rio r n° 4 a este nível, p o r u m p e q u e n o trilh o aéreo
(Fig 34).
Prancha 1: Fig. 33 - Usina de tra ta m e n to / Fig. 4 6 - Projeção h o riz o n ta l da o fic in a de mós
Fig. 39 - Projeção horizontal do m oinho de 40 pilões californiano
Legenda 1 - Praça de p e n e ira m e n to , 2 - M o in h o de 2 4 pilões brasileiro, 3 - M o in h o de 32 pilões brasileiro, 4 -
O fic in a dos ta nqu es, 5 - M o in h o de 4 0 pilões c a lifo rn ia n o

2 65
Fig 3 4 - D epend ên cia de clo re ta çã o

266
CA PÍTU LO 6 o

D E S C R IÇ Ã O D O S E Q U IP A M E N T O S E M O T O R ES

1. P re p a ra ç ã o m e c ân ic a

Peneiras. 0 p e n e ira m e n to é e xe cu ta d o e m sete peneiras de grades in c lin a ­


das (A, Fig. 33), dispostas ao lo n g o e abaixo da via férrea de ch e ga d a d o m iné rio .
Cada um a dessas peneiras é fo rm a d a p o r barras de fe rro re d o n d o co m 0 ,0 3 5 m
de d iâ m e tro , co m 0,1 Om de a fa s ta m e n to e n tre os eixos e são inclinadas de 40°
em relação à h o rizo n ta l.
B rita d o re s. A c o m in u iç ã o é fe ita em dois níveis: a b rita g e m dos m aiores
fra g m e n to s e a m o a g e m dos m enores. E m pregam -se para a b rita g e m dois b rita ­
dores de m a n d íb u la , um d o tip o Blake M arsde n , o o u tr o d o tip o S andycroft, a m ­
bos m e d in d o na boca 0 ,4 0 m p o r 0 ,2 4 m e p o d e n d o tr itu r a r 5,5 a 6 m e tro s c ú b i­
cos p o r hora, co m ta m a n h o de 16 ce n tím e tro s cúbicos, e q u e fa z 2 5 0 voltas p o r
m in u to (figs. 35, 3 6 e 37).
E ngenhos. A m o a g e m efetua-se p o r m e io de três e n ge n h os , se n d o dois do
sistema brasileiro e u m d o sistema ca lifo rn ia n o .
Os e n g e n h o s brasileiros, um de .24 pilões, o o u tr o de 32 pilões, estão dis­
postos cada u m em duas séries, de u m e o u tr o la d o da roda m o triz e p o r baterias
de q u a tro pilões em cada série. Sua disposição d ife re p o u c o da d o a n tig o e n g e ­
n h o Gallois (B, Fig. 33). Sua haste é de m a d e ira dura d o país, fre q ü e n te m e n te de
ja c a ra n d a -tã o , co m seção q u a d ra d a de 0,1 5m de lado e co m u m a a ltu ra de 4 m e ­
tros; 0 e s to q u e * e as guias são de fe rro , a sapata é de fe rro d o país, fa b ric a d o
p e lo p ro c e d im e n to d ire to dos c a d in h o s '20, e te m a fo rm a de u m prism a reto re­
tangular, e n cim a d a p o r u m a espiga que p e rm ite in tro d u z i-la na haste, na qual é
fixada p o r m e io de dois colares colo ca d os a q u e n te (Fig. 38)

* NR: haste de fe rro , de seção q u a tra d a , te rm in a d a em p o n ta .


Fig 3 5 /3 6 - C o rte vertical e p ro jeção d o brita d o r, tip o Blake M arsden

268
Fig 37 - Vista de c o n /u n to do bntador, tipo Sandycroift

0 peso d e u m p ilã o desse t ip o é d is tr ib u íd o d o m o d o s e g u in te :

Haste de m a d e ira 1 0 0 q u ilo g ra m a s


S a p a ta d e f e r r o 90
F erragens acessórias 80

Peso t o t a l 270

C a da p ilã o é le v a n ta d o p o r seis e x c ê n tric o s fix a d o s na c ir c u n fe r ê n c ia de


u m a á rv o re de m a d e ira de 0 , 6 0 m de d iâ m e tr o , s u s te n ta d a p o r u m a e s tru tu r a de
m a d e ira . C a d a á rv o re , u m a p o r série, recebe seu m o v im e n t o da ro d a m o tr iz , p o r
m e io d e u m p in h ã o , c o lo c a d o e m u m a das e x tre m id a d e s , e n g r e n a d o in t e r n a m e n ­
te c o m u m a ro d a d e n ta d a a p lic a d a d e cada la d o d o m o to r . C o m o a ro ta ç ã o da á r­
v o re de e x c ê n tric o s é de 10 v o lta s p o r m in u t o , u m p ilã o dá, p o r t a n t o , 6 0 g o lp e s
p o r m in u t o ; seu cu rs o é de 0 , 2 0 m .

2 69
i.

3l

Fig 3 8 - Sapatas e bases d o s pilões. Escala 1/40


Legenda: Sapatas de fe rro : A, n o vo . B, sem igasto. C, gasto.
Sapatas e bases de aço: D, E, novos. F, G, gastos.
<j
,
3
Os pilões tra b a lh a m nos a lm o fa rizes de m adeira, re p o u s a n d o em uma
rede de traves deitadas, e m b u tid a s na alvenaria das fu n d a çõ e s; o f u n d o dos a l­
m ofarizes é rech e a do de q u a rtz o b ra n co m o íd o pelos pilões q u e o p e ra m inicial­
m e n te n o vazio. Cada a lm o fa riz recebe u m a bateria de 4 pilões, tra b a lh a n d o na
o rd e m 2, 4, 3 e 1, e sobre suas faces a n te rio r e p o ste rio r estão as grades, in clina ­
das de 10° co m a vertical, p o r o n d e saem as areias.
As grades são feitas de folhas de cobre, p e rfu ra d a s à razão de 2 0 cavida­
des de 0 ,4 m ilím e tro s de d iâ m e tro p o r c e n tím e tro q u a d ra d o . A a lim e n ta ç ã o de
um a bateria é fe ita p o r m e io de u m co rre d o r in clin a d o de m adeira, q u e liga o re­
serva tó rio de m in é rio à p a rte su p e rio r d o a lm o fa riz . Este a p a re lh o recebe u m b a ­
lanço b rusco na p a rte d ia n te ira , q u a n d o o pilão ce n tra l d o a lm o fa riz bate, p o r in ­
te rm é d io de seu estque, sobre u m a haste vertical q u e a ele se liga, e de um a m o la
sem i-elíptica, fixada na parte traseira. Desse m o d o m o v im e n ta -s e para fre n te ,
im e d ia ta m e n te após o c h o q u e , p ro d u z in d o u m m o v im e n to brusco e sucessivo,
q u e p e rm ite a descarga lenta e re g u la r d o m in é rio na bateria. O m o v im e n to deve
ser tal q u e a carga se m a n té m c o n s ta n te m e n te co m o m esm a espessura de 2,5
c e n tím e tro s acim a da ca m a d a de q u a rtz o d o f u n d o d o a lm o fa riz .
As rodas m o trize s dos dois e n g e n h o s são rodas hidráulicas de a lim e n ta çã o
superior, a d o e n g e n h o de 2 4 pilões te m u m d iâ m e tro de 9 ,1 5 m e um a largura
de 1 ,80 m co m u m a p ro fu n d id a d e das m oe n d as de 0,30! a d o e n g e n h o 32 pilões
te m um d iâ m e tro de 1 2 ,2 0 m e u m a largura de 1 ,80 m , co m a m esm a p r o fu n d id a ­
de de m o e n d a s de 0 ,3 0 m .
O e n g e n h o c a lifo rn ia n o co m p re e n d e 4 0 pilões de fe rro , d o tip o Sandy-
cro ft, dispostos em duas séries de 2 0 de u m lado e o u tr o da roda m o triz, s e g u n ­
d o baterias de cinco pilões (Fig. 39, Prancha I e Fig. 40). Sem e n tra r nos detalhes
da descrição desses piiões, q u e são s u fic ie n te m e n te co n hecidos, c o n te n ta r-m e -e i
em assinalar os p o n to s principais e as felizes m o d ificaçõ e s in tro d u z id a s para fa c i­
lita r as m a n o b ra s e e vitar paradas fre q ü en te s.
O pilão é c o m p o s to de um a haste re d o n d a de fe rro fo rja d o , de 0 ,8 0 m de
d iâ m e tro , co m cabeça de fe rro fu n d id o d u ro de 0 ,4 0 m de altu ra ; a sapata de aço
especial, ra ra m e n te fe ita de fe rro d o país, bem c o m o o soco sobre o qual ele bate,
tê m o m e s m o d iâ m e tro q u e a cabeça; a sapata te m um a a ltu ra de 0 ,2 3 m e o
soco 0 ,1 2 m (D, E, Fig. 38); o e s to q u e é de aço f u n d id o b e m c o m o o d u p lo d e nte
q u e o e r g u e . 0 p ilã o t e m u m c o m p r i m e n t o t o t a l d e 4 m e tr o s , s e m a s a p a ta
(C, fig . 3 3 , P ra n c h a I). Seu p e s o t o t a l é d e 3 6 3 q u i lo g r a m a s assim d is t r ib u í d o s :

Haste d e fe rr o 1 2 7 q u ilo g r a m a s
E s to q u e d e aço 64
C a b e ç a de f e r r o f u n d i d o 89
S a pata d e aço 83
Peso t o ta l 3 6 3 q u ilo g ra m a s

fJLglLaJLfe.
= E £= X !:

Fig 4 0 - Baterias de pilões c a lifo rn ia n o s d o tip o S an dycro ft

2 72
0 passo te m 0 ,2 0 m ; o pilão dá 8 0 golpes p o r m in u to . Cada bateria c o m ­
p reende cinco pilões q u e tra b a lh a m na o rd e m 2, 4, 5, 3, 1, e a a lim e n ta ç ã o é f e i­
ta pelo m e sm o p ro c e d im e n to q u e n o caso dos pilões brasileiros. Os alm ofarizes,
de fe rro fu n d id o , são descarregados pela face anterior, q u e recebe duas telas m e ­
tálicas aplicadas u m a c o n tra a o u tra e inclinadas de 10°, A tela q u e se e n co n tra
n o in te rio r é de malhas em fio de fe r r o q u e serve para p ro te g e r a tela fin a c o n tra
o c h o q u e d ire to das lascas de pedra; em p re g a -se para isso um a tela n° 12 de 4
m alhas p o r c e n tím e tro q u a d ra d o com 3,5 m ilím e tro s de a b e rtu ra e f io de 1,5 m i­
lím etros de espessura; no exterior, te m -s e u m a tela de latão n° 31 co m 186 m a ­
lhas p o r c e n tím e tro q u a d ra d o co m espaços de 0,5 m ilím e tro de a b e rtu ra e fios de
0 ,2 5 m ilím e tro s de espessura. A fa ce p o ste rio r é disposta para receber placas de
co b re a m a lg a m a d o , mas não é utilizada.
A a rm açã o dos a lm o fa riz e s é fe ita co m m o n ta n te s unidos, de 3 m e tro s de
altu ra e 0 ,3 5 m de lado, ligados p o r m e io de fo rte s cavilhas. S uportes de m adeira
colo ca d os na p a rte traseira dos pilões servem para suspendê-los acim a d o a lm o ­
fa riz para q u a lq u e r reparo. As baterias são dispostas de m aneira a fu n c io n a r in ­
d e p e n d e n te m e n te um as das outras; cada u m a te m eixo co m e xcê n trico p ró p rio ,
co m polia ligada p o r u m a correia à polia c o rre s p o n d e n te d o eixo m o triz principal;
a polia é ligada a um a e m b re a g e m que p e rm ite to rn á -la solta ou fixa à vo n ta d e
no eixo, de m o d o que, p o r um sim ples m o v im e n to de alavanca, pode-se parar
um a b ateria de cinco pilões, e n q u a n to as o u tra s c o n tin u a m a fu n c io n a r.
A roda m o triz é de fe rro . Trata-se de um a roda hidrá u lica de 12 m e tro s de
d iâ m e tro e de 1 ,80 m de largura, co m um a espessura de coroa de 0 ,3 0 m . Trans­
m ite seu m o v im e n to às duas árvores m o trize s principais p o r m eio de e n gren a g en s
inte rn a s e c o m o a q u a n tid a d e de água disponível é su ficie n te apenas para a cio ­
n a r 30 pilões, é a ju d ad a p o r u m a tu rb in a h o riz o n ta l q u e utiliza a a ltu ra da q u ed a
da água em sua saída da roda até o nível do ribeirão. Essa tu rb in a tra n s m ite f o r ­
ça a um dos eixos m o trize s p o r m e io de correias de transm issão, e assim se te m
u m excesso de fo rça disponível, que é utilizada para a cio n a r os b ritadores, c o lo ­
cados n o a n d a r superior, p o r m e io de transm issões p o r correias.
M esas d e Ia v a ç ã o . As mesas e m p re g a d a s são mesas d o rm e n te s retilí-
neas, de du as espécies: as mesas g ira tó ria s (re v o lv in g stra ke s) e as mesas de t e ­
las (p la n e n h e rd ). Todas tê m la rg u ra de 0 ,5 0 m e c o m p r im e n t o q u e varia de 4 ,5 0
a 5 ,5 0 m e tros.
A s m esas g ira tó r ia s t ê m a f o r m a de urn p ris m a tria n g u la r , s u s t e n t a d o p o r
dois p in o s e m suas e x tre m id a d e s e in c lin a d a s de 1 /12 da h o r iz o n ta l (Figs. 4 1 , 4 2
e 4 3 ). Esses p ris m a s são f e ito s de t á b u a s f o r t e s e seus p in o s são d e m a d e ira d ura;
re c e b e m na s u p e rfíc ie la te ra l p e q u e n a s tá b u a s , e n ta lh a d a s s o b re u m a fa c e c o m
ra n h u ra s paralelas, e m re d e q u a d r a d a de 3 , 5 m m de p r o f u n d id a d e e e m in te r v a lo
ig u a l u m a s das o u tra s . São d is p o s ta s t ra n s v e rs a lm e n te ao c o m p r im e n t o d o p ris ­
m a, para m e lh o r re te r as areias pesadas; re b o r d o s d e 3 c e n tím e tr o s , c o lo c a d o s ao
lo n g o das arestas d o p ris m a , im p e d e m a á g u a de t r a n s b o r d a r para os lados.
Essas m esas são e m p re g a d a s u n ic a m e n t e para a c o n c e n tra ç ã o das areias
e m sua saída d os pilõ e s (D, Fig. 33). São e n file ira d a s e m u m a m e s m a lin h a a d ia n ­
t e e a b a ix o d o s a lm o fa riz e s de u m a série de p ilõ e s e a g r u p a d a s p o r pares e m u m
c o r re d o r in c lin a d o c o m p assa gem reservada para o la v a d o r e n tre dois co rre d o re s
vizin h o s. U m c o n d u t o d e m a d e ira , c o lo c a d o na cabe ce ira de cada m esa, tra z as
á g u a s c a rre g a d a s d e areias, e n q u a n t o na p a rte de trás u m p e d a ç o de c o u r o c o m u ­
nica a mesa c o m o c o n d u t o v e rtic a l de e s c o a m e n to . Há 10 mesas para o m o in h o

Fig 4 1 /4 2 - M esas g irató rias

Fig 4 3 - Projeções de um a m esa g ira tó ria

274
d e 2 4 pilões, 16 para o m o in h o d e 32 pilões e 4 0 para o m o in h o de 4 0 pilões.
A s m esas d e te la s m ó v e is se rve m para re te r as areias q u e e s c a p a ra m da
p rim e ira c o n c e n tra ç ã o , o u para c o n c e n t r a r de n o v o as areias já lavadas. Estas ú l­
tim a s são, p a ra ta l, d e r r a m a d a s e m caixas d e d is tr ib u iç ã o (p a s s a d o re s ), c o lo c a d a s
nas cabe ceiras, à ra z ã o de u m a caixa para d u a s m esas (Figs. 4 4 e 4 5 ). As d is tr i­
b u id o r a s são caixas de m a d e ira r e ta n g u la re s , c o m f u n d o f o r m a d o d o is p la n o s in-

275
clm ados, te n d o os m esm os in clinação de trás para d ia n te ; dois c o n d u to s de m a ­
deira co locados nos reb o rd os da caixa servem para levar a água, necessária à la­
vação; o de trás d e rra m a na caixa um fin o fio de água q u e arrasta p o u c o a p o u ­
co a areia pela a b ertura feita na fa ce a n te rio r ao pé dos planos inclinados, e n ­
q u a n to a da fre n te d irige um a co rre n te de água, p o r m e io de c o n d u to s verticais,
em u m co rre d o r lo n g itu d in a l co lo ca d o na cabeceira de cada mesa, u m p o u c o
abaixo dos orifícios de e s c o a m e n to das caixas.
As mesas são fo rm a d a s p o r um a superfície plana de tábuas, inclinada a
1/12, dividida na largura p o r barras tria n g u la re s de m adeira, a intervalos de
0 ,5 0 m um as das outras; em cada mesa m o n ta -se u m a série de telas, destinadas
a a u m e n ta r a aderência das areias e q u e p o d e m ser retiradas à v o n ta d e para sol­
ta r o d e pó sito . Um o rifício fe ito no corredor, na cabeceira de cada mesa, serve
para liberar a co rre n te de água e as areias. Na p a rte trazeira existe um re servató­
rio de m adeira o n d e se d e p o sita m as areias finas arrastadas pela água q u e esca­
pa, em seguida, pe lo ve rte d o u ro .
Depois de sua passagem sobre as mesas giratórias, as águas carregadas de
areias finas são d irigida s d ire ta m e n te p o r um c o n d u to para as mesas de telas, sem
a in te rm e d ia çã o de um a caixa de d istribu ição . No e n g e n h o de 2 4 pilões, há 10
mesas de telas e 2 caixas co m 4 mesas; no e n g e n h o de 32, 4 7 mesas de telas e 5
caixas co m 10 mesas; n o e n g e n h o de 40, 10 mesas de telas e 12 caixas (E, Fig.
33, Prancha I) co m 2 4 mesas. Há, além d o mais, no e n g e n h o de 4 0 pilões, 4 0 m e ­
sas de telas que servem ig u a lm e n te para reter as areias e cu jo d e p ó s ito é retirado
p o r m e io de vassouras de ju n c o .
Tonéis de m o a g e m . Servem u n ic a m e n te para p ro d u z ir um a pulverização
mais c o m p le ta das areias, a fim de p e rm itir u m a nova classificação p o r lavação (F,
Figs. 33 e 46). C o m p õ e m -s e de u m a cuba cilíndrica de fe rro , cu jo f u n d o é eleva­
d o no c e n tro e q u e se abre para dar passagem a u m eixo vertical de rotação que
recebe m o v im e n to de um a roda de e n g re n a g e m cônica, situada abaixo da cuba.
No f u n d o repousa u m re b o lo a n u la r de fe rro fu n d id o , sobre o qual se m ove um
re b o lo se m e lh a n te fix a d o em um a a rm a d u ra m etálica q u e se aparafusa sobre o
eixo, de m o d o a fazer va ria r o in te rva lo e n tre os dois rebolos. A espessura de cada
u m deles é de 6 ,5 m m , e sua largura na coroa é de 0 ,4 0 m .
0 a g ita d o r c o m relhas q u e recebe as areias q u e saem d o s m o in h o s é f o r ­
m a d o p o r u m a c u b a c ilín d ric a de fe rr o , na q u a l se m o v e u m s iste m a de q u a tr o
b ra ç o s fix a d o s e m u m c o n e a p a r a fu s a d o n o eixo de ro ta ç ã o . C a da b r a ç o recebe
trê s a g ita d o r e s d e f e r r o q u e t e r m in a m c o m o relhas d e c h a r r u a (G, Figs. 3 3 e 46).
Em s e q ü ê n c ia e s tã o in s ta la d a s 4 m esas d e te la s m ó ve is, s o b re as q u a is passam as
ág u a s c a rre g a d a s d e areias. O c o n j u n t o desses a p a re lh o s c o m p r e e n d e d o is m o i­
n h o s e u m a g ita d o r, c o lo c a d o s s o b re u m la d o d o e n g e n h o de 32 pilões. R e cebem
m o v im e n t o de u m a ro d a P e lton c o m 12 cavalos d e fo rç a , cuja á g u a m o t r iz é t r a ­
zida, p o r u m t u b o d e f e r r o f u n d i d o , d o nível d a p la t a f o r m a s u p e rio r, para escoa r
e m s e g u id a p o r u m c o n d u t o n o canal de a lim e n t a ç ã o d o s 4 0 pilões.

2. A m a lg a m a ç ã o

Tonéis d e a m a lg a m a ç ã o e saxes. A a m a lg a m a ç ã o é fe ita e m d o is to n é is de


F reib erg , a n im a d o s p o r u m m o v im e n t o de ro ta ç ã o e m t o r n o de seu eixo h o r iz o n ­
tal (A, Fig. 4 7 e Fig. 4 8 ). Esses to n é is são de m a d e ira c o n s o lid a d a p o r d u a s placas
d e f e r r o f u n d i d o q u e le va m os m a n c a is d o eixo. Em u m a de suas e x tre m id a d e s ,

Fig 47 - Corte logitudinal dos aparelhos de amalgamação

2 77
u m a ro d a d e n ta d a e n g re n a c o m a ro d a m o t r iz c o m u m aos dois (B, Fig. 4 8 ) e para
in t e r r o m p e r o m o v im e n t o de u m to n e l, basta m a n o b r a r u m a ala va n ca q u e faz
d esliza r la te r a lm e n te o b lo c o d o m a n c a i v iz in h o da e n g r e n a g e m (C, Fig. 4 8 ). U m a
ca lh a de d is tr ib u iç ã o , c o lo c a d a a b a ix o d o t o n e l (D, fig s. 47 e 4 8 ), re c e b e a m is t u ­
ra de areias e de a m á lg a m a , e a d e r r a m a le n ta m e n te n o saxe, para a s e p a ra ç ã o
(E, fig s. 4 7 e 48).
O saxe (figs. 4 9 , 5 0 e 5 1 ) c o m p õ e - s e d e u m a caixa r e ta n g u la r de m a d e ira
E, d iv id id a e m trê s c o m p a r t im e n t o s n os qu a is v ê m se alojar, r e s p e c tiv a m e n te , trê s
prism a s re ta n g u la re s d e m a d e ira , fix a d o s a b a ix o de u m c a rro F, f o r m a d o p o r um
q u a d r o q u e se a p ó ia s o b re d o is eixos, cujas ro d a s se m o v e m s o b re t r ilh o de f e r r o
p la n o , a p lic a d a s s o b re os re b o rd o s lo n g it u d in a is da caixa.
O c a rro é d o t a d o d e u m m o v im e n t o h o r iz o n ta l d e vai e ve m , de 0,1 Om de
a m p lit u d e , p o r m e io de u m a biela e de u m a m a n iv e la , q u e o lig a m a o e ix o m o t o r
d o s to n é is . Os prism a s são p ro v id o s de d e n te s de fe rr o , em sua base, e o p rism a

Fig 48 - Corte vertical dos aparelhos de almagação

278
Figs. 4 9 /5 0 /5 1 - C o rte vertical e p ro jeção h o riz o n ta l d o saxe e p o rta c a rrin h o

c e n tra l te rn n o m e io u m o r ifíc io e m f o r m a de f u n il q u a d r a d o para a in tr o d u ç ã o da


m is tu ra de areias e a m á lg a m a , a r ra s ta d a p o r u m a f o r t e c o r re n te de á g u a para o
c o m p a r t i m e n t o c e n tra l da caixa.
D o is v e r te d o u r o s p e r m it e m a o c o m p a r t i m e n t o a c im a m e n c io n a d o c o m u ­
nicar-se c o m os dois e x tr e m o s q u e p o s s u e m u m a a b e r tu r a d e saída p a ra u m d os
lados g r a n d e s da caixa, a u m a c u r ta d is tâ n c ia d o f u n d o ; u m c o r r e d o r lo n g it u d in a l
c o rre ao lo n g o da caixa e a p re s e n ta trê s a b e rtu r a s q u e d e s e m b o c a m e m u m a
m esa de te la s m ó v e is (G, fig s. 4 7 e 4 8 ). A o pé das m esas existe u m r e s e rv a tó rio
c o m v e r te d o u r o .

279
0 c o n ju n to do s a p arelhos de a m a lg a m a ç ã o co m p re e n d e , p o rta n to , dois
to n é is de Freiberg, duas calhas de d istrib u iç ã o , dois saxes e seis mesas d o rm e n -
tes. É d is p o s to sobre u m dos lados d o e n g e n h o de 32 pilões, c o m o eixo m o to r
lig a d o p o r m e io de u m a tra n sm issã o p o r correia, ao eixo d o e x c ê n tric o corres­
p o n d e n te .
B ateia. A lavação na ba te ia é fe ita em bateias de v in h á tic o, c o m fo r m a de
u m cone m u ito o b tu s o de 0 ,6 0 m de d iâ m e tro e 0 , 1 5m de altura.
M o in h o de m a rte lo s. Os m o in h o s de m a rte lo s (h a m m e r-m ilis ) são pilões de
m adeira que fu n c io n a m c o m o p e q u e n o s m arte le te s, cuja cabeça, m u n id a de u m a
sapata de fe rro q u a d ra d o de 0, 1 5m de lado, bate em um a larga calha de m a d e i­
ra sobre u m soco q u a d ra d o , ig u a lm e n te de fe rro ; o peso da sapata é de 50 q u i­
logram as, o de u m soco é de 25 q u ilo g ra m a s.
Servem para pulverizar em u m grau mais fin o um a p a rte das a re ia s já pas­
sadas nos to n é is e, pela presença de um p o u c o de m e rc ú rio que é a g ita d o nas ca­
lhas, retém -se um a g ra n d e p a rte d o o u ro liberado.
Em sua seqüência estão caixas de d e p ó sito , o n d e se a c u m u la m as areias
q u e saem m u ito le n ta m e n te das calhas.
Existem dois m o in h o s, na o ficin a dos 32 pilões; estão dispostos p o r bate-,
rias de cinco e m duas séries, um a de 20 m artelos, a o u tra de 10. O peso da p a r­
te q u e bate, em cada m a rte lo , é de 8 0 q u ilo g ra m a s. O eixo de excêntricos é m u ­
n id o de 3 excêntricos de m adeira p o r m a rte lo , e o n ú m e ro de g o lp es p o r m in u to
varia de 3 0 a 35 com um curso m u ito p e q u e n o de 0 ,1 0 m . A p ro fu n d id a d e das ca­
lhas é de 1 m e tro , e a égua sai p o r um o rifício lateral a 0 ,5 0 m do fu n d o , de m o d o
q u e a sapata está c o n s ta n te m e n te imersa na água. Estes a p arelhos recebem m o ­
v im e n to p o r u m a to m a d a de força nos eixos dos excêntricos dos 32.
R etortas de d e stila çã o . Para a destilação, são utilizadas re to rta s cilíndricas
de fe rro f u n d id o , c o m ta m p a e m fo rm a de disco lig e ira m e n te cô n ca vo (fig. 52),
de o n d e sai u m t u b o de fe rro recurvado, ao qual se se atarra ch a u m s e g u n d o tu b o
reto, em seu p ro lo n g a m e n to . Um a a rm açã o em arco se p re n d e no re b o rd o da re-
to rta . Pela in tro d u ç ã o de u m a cu n h a de fe rro e n tre o fla n g e e a ta m p a , o b té m -se
u m fe c h a m e n to h e rm é tico . A destilação é processada pelo a q u e c im e n to de cada
re to rta em u m fo r n o c o n s titu íd o p o r u m a sim ples fo rn a lh a de ustulação.Existe um
f o r n o de três fo rn a lh a s para essa operação, n o a n d a r d o e n g e n h o dos 32 pilões.
Fig 5 2 - R e to rta d e d e s tilia ç ã o

3. C lo re ta ç ã o

A o fic in a de c lo re ta ç ã o é, c o m o dissem os, c o m p le t a m e n t e in d e p e n d e n t e


das a n te rio re s , e p o s ic io n a d a a c im a da p la t a f o r m a de c h e g a d a d o m in é r io . C o m ­
põe -se d e trê s partes: o local d o s f o r n o s de u s tu la ç ã o , o local de r e s fr ia m e n to das
areias e o p r é d io d e c lo re ta ç ã o e p r e c ip ita ç ã o (Fig. 34).
F o rn o s d e u s tu la ç ã o . O local d o s f o r n o s de g ra d e , sim p le s g a lp ã o c o b e r t o
de te lh a o n d u la d a , c o m p r e e n d e d o is f o r n o s de re v é rb e ro c o m d u a s soleiras, d is­
p o s ta s e m p r o lo n g a m e n t o u m a da o u tra , c o m fo rn a lh a c o n s tru íd a p a ra q u e im a r
m a d e ira . U m de le s é u m f o r n o p e q u e n o , q u e serviu n o in ício p a ra os te ste s em
g r a n d e escala. O o u t r o é u m f o r n o g r a n d e . A t u a l m e n t e é o ú n ic o e m f u n c io n a ­
m e n t o regular.
O f o r n o p e q u e n o t e m d u a s soleiras r e ta n g u la re s , c o m u m a m e s m a la r g u ­
ra d e 2 , 1 5 m e u m c o m p r im e n t o d e 1 ,8 0 m , n o caso da f o r n a lh a m a is a fa s ta d a e
de 2 , 1 0 m n o caso da m ais p r ó x im a . Existe u m a d ife r e n ç a de nível de 0,1 Om de
u m a soleira para a o u tr a , e u m a p o r t a d e t r a b a lh o para c a d a u m a das m esm a s,
d e u m la d o d o f o r n o . A f o r n a lh a r e ta n g u la r t e m 1,1 Om p o r 0 , 5 0 m .

281
0 f o r n o g r a n d e t e m as d u a s soleiras c o m u m a la rg u ra u n i f o r m e de 3 , 0 5 m
e c o m p r im e n t o ig u a l d e 4 , 1 5 m , c o m a d ife r e n ç a de nível d e 0,1 Om de u m a para
a o u t r a (figs. 53, 5 4 e 55). De cada la d o d o f o r n o , e x is te m q u a t r o p o rta s de t r a ­
b a lh o , d u a s p o r soleira, e trê s p e q u e n o s t u b o s para a e n tr a d a d e ar, q u a n d o as
p o r ta s e s tã o fe c h a d a s . Sua f o r n a lh a t e m 1 ,6 0 m p o r 0 , 8 0 m .
Em s e g u id a ao f o r n o e n c o n tr a m - s e u m a fossa, o n d e c a e m as p o e ira s a r ­
rastadas, e o m a c iç o das c â m a ra s d e c o n d e n s a ç ã o , d iv id id a s p o r d ivisória s t r a n s ­
versais a l t e r n a d a m e n t e a b e rta s nas e x tre m id a d e s e n o m e io . Segue-se a ra m p a ,
c o m c o m p r im e n t o d e 4 0 m e tro s , a d a p ta d a ao declive d o m o r r o , p o r cerca de um
te r ç o d o c o m p r im e n t o e c h e g a -s e a u m a c h a m in é f e ita de d o is t u b o s de f e r r o ca-
v ilh a d o s u m s o b re o o u t r o , c o m d iâ m e t r o de 0 , 5 0 m e a ltu r a t o ta l d e 7 m e tr o s (Fig.
3 4). Para o c a r r e g a m e n t o das areias a s e re m u s tu la d a s, u m a t r e m o n h a está c o l o ­
cada a c im a de u m o r ifíc io f e it o na a b ó b a d a d o f o r n o n o m e io da so le ira m ais a fa s ­
t a d a da fo r n a lh a . Para a d e s c a rg a das areias q u e im a d a s a bre-se u m c o n d u t o v e r­
tical a tra vé s da o u t r a soleira, d ia n t e de u m a das p o rta s v iz in h a s da fo r n a lh a , d ir e ­
t a m e n t e a c im a de u m a a b ó b a d a f e ita n o m a c iç o d o f o r n o . Isso p e r m it e a i n t r o ­
d u ç ã o d e u m v a g o n e t e de ch a p a de fe rro .

Figs. 53/54/55 - Corte longitudinal, transversal e horizontal do forno de ustulação

2 82
Á re a de re s fria m e n to . 0 local de re sfria m e n to , simples g a lp ão a b e rto de
to d o s os lados, c o m p re e n d e um a p la ta fo rm a lajeada de 9 ,5 0 m e tro s de c o m p ri­
m e n to p o r 3 m e tro s de largura, situada a 0 ,5 0 m abaixo d o nível dos fo rn o s . Uma
linha férrea, com la rg u ra de 1 m e tro , p a rte d o fo r n o g ra n d e , corre acim a da área
lajeada em t o d o seu c o m p rim e n to , e u m a o u tra linha, co m largura de 0 ,6 0 m , si­
tu a d a ao lado a 1 m e tro abaixo dessa área, liga o local ,à clo re ta çã o (Fig. 34).
Instalação de clo re ta ç ã o . O p ré d io da clo re ta çã o ê de p re cip ita çã o é d iv i­
d id o em três andares, o n d e são re p a rtid o s os diversos serviços. De u m la d o se e n ­
co n tra , no a n d a r su p erio r (A, Fig. 34), u m a tre m o n h a para o c a rre g a m e n to das
areias n o to n e l de cloretação, co lo c a d o no a n d a r m é d io (B, Fig. 34), e d ire ta m e n ­
te abaixo deste, u m a segunda tre m o n h a para d e rra m a r a m istura d o to n e l na
cuba de filtra ç ã o , colocada n o a n d a r in fe rio r (C, Fig. 34). Do o u tro , u m a b o m b a ,
instalada em b a ixo , serve para levar a dissolução para um a cuba de recepção, no
a n d a r m é d io , passando-a em seguida, para os três barriletes de p re cip ita çã o dis­
postos em degraus n o a n d a r inferior. Um a tu rb in a de eixo vertical, colocada
n u m a e xtre m id a d e d o prédio, serve para a cio n a r os diversos a parelhos p o r m e io
de transm issões p o r e n g re n a g e n s e p o r correias. A tre m o n h a de ca rre g a m e n to , na
qual vem d a r a via férrea, é m a n o b ra d a p o r m e io de u m g u in c h o , de m o d o a le­
var sua bord a su p erio r ao nível d o assoalho, e n q u a n to o f u n d o pene tra na a b e r­
tu ra central d o to ne l.
Tonel d e c lo re ta ç ã o . O to n e l de clo re ta çã o é s e m e lh a n te ao de a m a lg a ­
m a çã o e é a n im a d o p o r u m m o v im e n to de ro ta çã o h o riz o n ta l em t o r n o de seu
eixo (D, figs. 56 e 57). É re c o b e rto in te rn a m e n te p o r u m a ca m a d a de p in tu ra m e ­
tálica ve rm e lh a , a fim de e vita r u m a p re c ip ita ç ã o p re m a tu ra d o o u r o e m c o n ta ­
t o co m m até ria s orgânicas. A tre m o n h a de saída, situ a d a abaixo, é fix a d a às v i­
gas d o assoalho.
R e cip ie n te de filtra ç ã o . O recipiente de filtra ç ã o é um a cuba retangular, de
m adeira, pro vid a de um f u n d o d u p lo (E, figs. 56, 57 e 58). O f u n d o superior, que
fu n c io n a c o m o filtro , repousa sobre duas barras de m adeira e é c o m p o s to p o r
um a gra d e de m adeira de três ce n tím e tro s de espessura, p o r u m a fo lh a de c h u m ­
bo com fu ro s de 0 ,5 m ilím e tro de d iâ m e tro , e p o r o u tra g ra d e de m adeira, cujos
intervalos são p re e nchido s de q u a rtz o branco, em grãos d o ta m a n h o de um a noz
e fin a lm e n te acima, p o r um a cam ada de 1 c e n tím e tro de espessura de q u a rtz o
284
Fig. 58 - C orte d o e q u ip a m e n to de clore tação

285
fin o . Do f u n d o in fe rio r da cuba p a rte o tu b o de aspiração da b o m b a , e n carregado
de c o n d u z ir a solução de filtra g e m até a cuba de recepção (F, Figs. 56 e 57). O re­
cipie n te e a cuba são recobertos de um a massa verm elha.
Barriletes de precipitação. A cuba de precipitação é se m e lh a n te à prece­
dente, mas de m e n o r capacidade, co m u m f u n d o simples de o n d e sai o t u b o de
entra da da solução no barrilete su p erio r de precipitação. Os três barriletes (G, Figs.
56 e 57), são dispostos sobre andaim es em degraus e ligados um ao o u tro p o r um
t u b o recurvado, fa z e n d o c o m u n ic a r o f u n d o de um co m o t a m p o d o o u tro . O ú l­
tim o te m u m tu b o e m b a ixo , que se p ro lo n g a para fora. Cada um dos barriletes é
de m a d e ira p in ta d a de v e rm e ih o e circ u n d a d o p o r u m anel de b ro n ze co m um
d iâ m e tro de 0 , 1 5m e altu ra de 0 ,3 0 m . O f u n d o te m fu ro s de 2 m ilím e tro s e é re­
c o b e rto p o r um a tela fin a q u e p e rm ite filtra r a solução e passar assim de um para
o o u tro . A tu rb in a q u e serve para m o v im e n ta r o to n e l e a b o m b a , utiliza um a q u e ­
da d 'á g u a de 3 ,5 0 m através de um a to m a d a lateral fe ita n o canal de e n tra d a das
águas m o triz e s da usina. D epois de sua ação, as águas escoam para u m canal in ­
ferior, q u e vai dar n o c o n d u to p rincipal em u m nível mais baixo.
CA PÍTU LO 7o

A N D A M E N T O DAS OPERAÇÕES

1. P re p a ra ç ã o m e c ân ic a

C lassificação. A o sair da m ina, o m in é rio b ru to é d irig id o para o local de


tria g e m pelos coletores d o dia, q u e descarregam os va g onetes acim a das diversas
grelhas, p e rm itin d o separar os m aiores fra g m e n to s dos m enores, que são m u ito
a b u n d a n te s. O b tê m -se duas classes de p ro d u to s , s u b m e tid o s s e p a ra d a m e n te a
um a tria g e m dos fra g m e n to s estéreis: os m aiores são lançados à m ã o pelos t r a ­
balhadores, h o m e n s e m eninos, nos va g onetes de ferro, q u e circulam ao lo n g o de
um a linha férrea, de 0 ,7 0 m de largura, instalada no m e io d o local; os fra g m e n to s
m enores são carreg a d os p o r m ulheres em p e q u e n o s ca ru m b é s, caixas de m a d e i­
ra sem ta m p a , q u e e n c h e m co m a ajuda de um a enxada e ca rreg a m na cabeça,
de sca rre g a nd o seu c o n te ú d o nas tre m o n h a s de c a rre g a m e n to dos m oin h o s.
As tre m o n h a s são caixas de m adeira, co m a fo rm a de u m prism a d e ita d o ,
providas de um a p o rta fe ch ad a p o r um a alavanca na p a rte in fe rio r da fa ce v e rti­
cal; sua capacid ad e é de 1 to n e la d a e q u a n d o estão cheias basta m a n o b ra r a a la ­
vanca fa z e n d o seu c o n te ú d o escoar para os reservatórios de a lim e n ta çã o dos m o i­
nhos. Foram dispostas sobre um a m esm a linha, d o lado o p o s t o a o dos crivos. São
4 to n e la d a s (2 p o r reservatório) para a lim e n ta r os pilões brasileiros d o e n g e n h o
de 2 4 pilões, e 6 (3 p o r reservatório) para o e n g e n h o de 32 pilões.
Os fra g m e n to s maiores, q u e servem para a lim e n ta r os pilões ca lifo rn ia n o s,
são e nviados p rim e iro s aos britadores. Os h o m e n s despejam o c o n te ú d o dos va ­
g o ne te s em um co rre d o r de tábuas, s itu a d o fo ra d o local de tria g e m . A fim de f a ­
c ilita r essa m a n o b ra , e m p re g a m -s e v a g o n e te s especiais fo rm a d o s de u m carro de
fe rro fu n d id o , m o n ta d o sobre rodas (Fig. 59), no qual repousa a caixa m u n id a de
dois braços curvos arm ad o s de dentes de e n g re n a g e m . Q u a n d o o g a n ch o de liga­
ção co lo ca d o na parte traseira é solto, os dentes p e rm ite m inclinar o vagonete.
A descarga é fe ita pela fre n te . Para evitar q u e a caixa a d qu ira um a in cli­
nação m u ito fo rte , u m a c o rre n te de segurança lim ita seu curso. As caixas são f o r ­
radas in te rn a m e n te p o r m adeira n o f u n d o e na face inclinada, a fim de a m o rte -
Fig. 59 - V a g o n e te ba sculante

cer os c h o q u e s d os p e d a ç o s m a io re s , n o m o m e n t o d o c a r r e g a m e n t o . Sua c a p a c i­
d a d e é d e 1 to n e la d a . Os estéreis são a c u m u la d o s e m u m c a n t o d o local e e m se­
g u id a c a rre g a d o s p o r sua vez nos v a g o n e te s , p a ra s e re m d e s p e ja d o s , p o r u m c o r ­
redor, n o rio.
0 pessoal da t r ia g e m t r a b a lh a a p e n a s d e dia; re c e b e o r d e n s de u m c a p a ­
ta z, e n c a rr e g a d o d e re g is tra r o n ú m e r o de t r e m o n h a s d e f r a g m e n t o s p e q u e n o s e
d e v a g o n e te s d e f r a g m e n t o s g r a n d e s , q u e passa ra m e m v in te e q u a t r o horas.
B rita g e m . Os f r a g m e n t o s m a io re s são s u b m e t id o s à b r it a g e m a n te s de
passar à m o a g e m . A c u m u la d o s e m u m re s e rv a tó rio especial, são c a rre g a d o s nos
v a g o n e te s , q u e c ir c u la m e m u m a via fé rre a p a ra le la aos b rita d o re s , para e n c h ê -
los su c e s s iv a m e n te . D e speja -se s o b re u m p la n o in c lin a d o o c o n t e ú d o d os v a g o n e ­
tes q u e é c o n d u z id o c o m a ju d a d e u m a e n x a d a , p o r dois o p e rá rio s , p o s ta d o s de
ca d a la d o d o b r it a d o r e m f u n c io n a m e n t o , para as m a n d íb u la s .
Os p r o d u t o s c a e m e m f o r m a de g r ã o s d o t a m a n h o d e u m a n o z n os re ­
s e r v a t ó r io s d e a l im e n t a ç ã o s it u a d o s a b a ix o . G ra ça s à r a p id e z d o a n d a m e n t o e
à p o t ê n c i a d o s b r it a d o r e s , a o p e r a ç ã o d u r a a p e n a s a lg u m a s h o ra s p o r d ia ; as­
s im , os d o is o p e r á r io s e m p r e g a d o s n e s te t r a b a lh o f a z e m , a lé m disso , o u t r o s
s e rv iç o s a c e ss ó rio s.
M o a g e m . T o d o o m in é r io t r a z id o e m f o r m a d e f r a g m e n t o s p e q u e n o s p as­
sa e m s e g u id a pela m o a g e m n os e n g e n h o s de pilões. Os re s e rv a tó rio s de a lim e n ­

288
tação, disp o stos em n ú m e ro de dois p o r e n g e n h o , tê m u m a ca p a cid ad e tal que
são mais d o q u e suficientes para o c o n s u m o d iá rio dos pilões. Os corred o re s in ­
clinados, q u e tra ze m o m in é rio para cada bateria, fu n c io n a m a u to m a tic a m e n te
de m aneira a m a n te r no a lm o fa riz u m a ca m a d a mais ou m e n o s c o n s ta n te de
2 ,5 c m de espessura. A o m e sm o te m p o , a água é in tro d u z id a p o r tu b o s de ferro,
à razão de 18 a 2 4 litros p o r m in u t o e p o r haste.
Não são in tro d u z id o s n e m m e rc ú rio n e m placas de co b re a m a lg a m a d o nos
alm ofarizes; visa-se apenas à tritu ra ç ã o d o m in é rio , sem p ro c u ra r re te r nos pilões
u m a p a rte d o o u ro c o n tid o . A pesar disso, q u a n d o a cada mês se fa z a lim peza
dos a lm o fa rizes de fe rro f u n d id o , en con tra -se, m istu ra d a ao m in é rio e m parte
m o id o e aos d e trito s q u e o acaso tro u x e para essas caixas, u m a certa q u a n tid a d e
de o u ro em pepitas e em p e q u e n o s pedaços m a rte la d o s; p o r um a lavação na b a ­
teia, separa-se o o u ro , de resto b a stan te a b u n d a n te , já q u e representa em m édia
1 0 % d o o u ro c o n tid o n o m in é rio t ra ta d o nos pilões ca lifo rn ia n o s.
Lavação nas m esas. O m in é rio sai d o a lm o fa riz sob fo rm a de grãos finos,
a rrastados pela água através das telas m etálicas, e passa p o r um c o n d u to de m a ­
deira q u e se su b d ivid e para re p a rtir o lavado e n tre as diversas mesas g ira tó ria s
(p rim e ira s mesas) Nas ra n h u ra s das mesas se d e p o s ita m as areias densas, p irito -
sas, e n q u a n to as areias leves {ta ilin g s ) são levadas pela á g ua para u m c o n d u to
de m adeira c o lo c a d o na p o n ta das mesmas. A cada 2 0 m in u to s u m m e n in o gira
sucessivam ente as mesas, im p r im in d o -lh e s u m a ro ta çã o de 120°, de m o d o a
a p re se n ta r à c o rre n te u m a su p erfície lim pa. M u n id o de u m a lança, lava o d e p ó ­
sito da p re ce d e n te , q u e o ja to de á g ua arrasta p o r u m c o n d u t o para u m a cuba
de d e p ó s ito especial. Temos assim dois tip o s de areias: as areias densas e as
areias leves (ta ilin g s ).
As areias densas são s u b m e tid a s a um a se g un d a lavação sobre mesas d o r-
m entes de telas móveis (segundas mesas): um o p e rá rio retira as areias da cuba e
as despeja e m u m a calha de d istribu ição , o n d e u m p e q u e n o file te de água as a r­
rasta p o u c o a p o u co . Um a fo r t e c o rre n te de água, avaliada a p ro x im a d a m e n te em
1 00 litros p o r m in u to e p o r calha, pega-as na saída e as arrasta sobre duas mesas
c o rresp o n d en te s. As areias ricas se d e p o s ita m sobre as telas, e n q u a n to as finas
vã o se a c u m u la r a lte rn a d a m e n te em u m a das duas caixas de d e p ó s ito instaladas
e m b a ix o das mesas e as águas levam os resíduos pobres para o rio. M u lh e re s são
encarregadas de e rg u e r a cada h o ra as telas das mesas, q u e são lavadas em um a
cuba especial cheia de água, e substituídas p o r outras. Essas areias ricas são s u b ­
m e tid a s à a m a lg a m a çã o , que e stu da re m os p o s te rio rm e n te .
P ulverização. As areias finas, extraídas das caixas de d e p ó sito , são e n v ia ­
das às panelas de m o a g e m para serem su b m e tid a s a u m a pulveriza çã o mais c o m ­
pleta. Despejam -se co m pá 5 0 0 q u ilo g ra m a s de areias na panela, c o m q u a n tid a ­
de de água su ficie n te para fo r m a r um a p olpa de consistência u m p o u c o sem e­
lh a n te à d o m el. A panela gira à razão de 60 voltas p o r m in u to s .
A m ó q u e é m óvel, á a trita d a co n tra a m ó fixa, de m o d o a p ro d u z ir o es-
m a g a m e n to c o m p le to das areias; disso resulta um a c e rto desgaste das mós, a
p o n to da espessura ser reduzida a m e n o s de 2 ce n tím e tro s ao cabo de 2 meses.
É preciso, nesse m o m e n to , p ro v id e n c ia r a sua su b stitu içã o . A o te r m o de 6 horas,
a carga das du as penelas de m o a g e m é despejada de u m a vez no a g itad o r, a b rin -
do-se a to rn e ira do fu n d o , e é lavada co m u m excesso de água. As areias são
m a n tid a s em suspensão na cuba d o a g ita d o r pe lo m o v im e n to dos braços verticais,
que g ira m à razão de 8 a 10 voltas p o r m in u to , e o m a te ria l lavado escoa le n ta ­
m e n te p o r u m o rifício lateral fe ito no a lto da cuba, a fim de ser c o n d u z id o para
trê s mesas retilíneas de telas móveis. U m a c o rre n te de água lim p a ch e g a na cuba,
para d ilu ir cada vez mais as areias.
C o m o o e sco a m e n to d o m aterial lavado é um p o u c o mais rá p id o que a in ­
tro d u ç ã o da água pura, seu nível d im in u i le n ta m e n te na cuba e é preciso, ao cabo
de u m certo te m p o , a brir o se g u n d o o rifício de esco a m e n to , in fe rio r ao prim eiro,
e faze r assim se g uida m en te , até a brir o d o f u n d o , q u e acaba p o r esvaziar o a g ita ­
dor. Esse tra b a lh o é realizado em 6 horas, de m o d o q u e ao cabo deste te m p o , a
cuba está p ro n ta para receber u m a nova carga dos panelas de m o a g e m . A massa
lavada que passa sobre as mesas deposita suas areias mais pesadas, e n q u a n to os
resíduos pobres são levados para o rio pelas águas. O d e p ó s ito das telas é lavado
de hora em ho ra p o r mulheres, que o a c u m u la m em u m a caixa de depósito.
Lavação do s ta ilin g s . As areias leves {ta ilin g s ), q u e n ã o fo ra m retidas sobre
as prim eiras mesas giratórias, são dirigida s e m sua saída para novas mesas (q u a r­
tas mesas) de telas fixas, que re tê m as areias mais pesadas, e n q u a n to as águas a r­
rastam os rejeitos para o rio,
Os d e pó sito s das mesas são va rrid os a cada m eia h o ra p o r g a ro tos, q u e in te rro m ­
pem , sucessivam ente em cada um a das mesas, a passagem das areias, para subs­
titu í-la p o r u m a c o rre n te de água pura, que, sob a ação c o m b in a d a da vassoura,
arrasta as areias c o n ce n tra d a s para u m a cuba de depósito.
Os d e pó sito s das terceiras e q u artas mesas, extraídos de suas cubas res­
pectivas e esgotados, são carregados em sacos e enviados pelo p la n o aéreo para
a cloretação,.
A p re p aração m ecânica e n co n tra -se te rm in a d a , nesse p o n to d o tra ta m e n ­
to , p o r assim dizer. C hegou-se, p o r p e n e ira m e n to s, m o a g e n s e lavações sucessi­
vas sobre mesas, a duas qu alid ad e s de areias, q u e vão ser su b m e tid a s a um t r a ­
ta m e n to m e ta lú rg ic o d ife re n te — as areias ricas vão para a a m a lg a m a çã o , e as
areias co n ce n tra d a s, para a cloretação.

2. A m a lg a m a ç ã o

A m a lg a m a ç ã o d ire ta . As areias ricas p ro ve n ie n te s das telas das segundas mesas


retilíneas são tra ta d a s p o r a m a lg a m a ç ã o direta em to n é is de Freiberg. C a rreg a m -
se em u m to n e l:

Areias ricas 1.000 q u ilo g ra m a s


M e rc ú rio 50

A ju n ta -se , e m seguida, á g ua em q u a n tid a d e suficiente, de m o d o a e n che r


quase c o m p le ta m e n te o to n e l: co m p ouca água, a a m a lg a m a ç ã o faz-se ra p id a ­
m e n te , mas o m e rc ú rio se divid e e escapa à lavação; co m m u ita água, a a m a lg a ­
m ação é m al feita.
A carga é in tro d u z id a pela a b e rtu ra central p o r m eto de u m a tre m o n h a ,
depois, co m a p o rta fe ch a d a p o r um a ta rra ch a , im prim e -se ao to n e l u m m o v i­
m e n to de ro ta çã o em to r n o de seu eixo, à razão de 16 voltas p o r m in u to . A o cabo
de 18 a 2 0 horas, g e ra lm e n te a o p e ra ç ã o está concluída; verifica-se isto fa z e n d o
u m a prova de teste na bateia. E n q u a n to f o r e n c o n tra d a u m a parcela de o u ro li­
vre no f u n d o da bateia, p ro lo n g a -se a operação . Q u a n d o não se te m mais o u ro
visível, é sinal de q u e a a m a lg a m a ç ã o está c o m p le ta d a . Derram a-se o c o n te ú d o
d o to n e l no d is trib u id o r co lo ca d o abaixo e se procede à separação d o a m á lg a m a
p o r m e io d o saxe.
Para isso, faz-se escoar le n ta m e n te a m istura p o r u m c o n d u to de m a d e i­
ra, que d irig e o líq u id o para a a b e rtu ra central d o carro, d o ta d o de u m m o v im e n ­
t o de vai e vem c o n tín u o à razão de 12 oscilações duplas p o r m in u to . Um p e q u e ­
no file te de água arrasta p o u c o a p o u c o a massa que, na saída da calha, é t o m a ­
da p o r um a c o rre n te de água, de 150 litros p o r m in u to , destin ad a a diluí-la; cai
n o c o m p a rtim e n to central d o saxe, p re v ia m e n te ch e io de m e rcúrio , de m o d o que
os d entes d o prism a central alcançam a superfície da cam ada.
O a m á lg a m a , mais denso q u e o m e rcúrio , cai no fu n d o , e n q u a n to a m is­
tu ra de areia e de água, mais leve, flu tu a e escapa pelos dois e scoadouros la te ­
rais, para passar aos c o m p a rtim e n to s externos; o lavado e m p o b re c id o deposita
um a certa q u a n tid a d e de areias pesadas, co m u m p o u c o de m e rc ú rio e de a m á l­
ga m a arrastados, e sai em seguida pe lo o rifício existente em cada e xtre m id a d e d o
saxe u m p o u c o acim a d o fu n d o , para se d iv id ir em três correntes q u e passam so ­
bre as mesas de telas (quintas mesas).
Retém-se sobre as telas u m a nova q u a n tid a d e de areias pesadas com m e r­
cúrio, q u a n to as areias leves vêm se a c u m u la r nas caixas de d e p ó s ito colocadas na
e x tre m id a d e das mesas; a lg u m a s lamas leves levadas pela água são arrastadas
para o rio. A carga de m e rcú rio d e rra m a d a no saxe é de 2 0 0 q u ilo g ra m a s; a m a io r
p a rte d o a m á lg a m a é aí retida, mas, sob a ação da co rre n te , apesar dos o b s tá c u ­
los in te rp o sto s na passagem da massa lavada para o b rig á -lo a d e p o sita r o m á x i­
m o possível de m e rcú rio a rrastado, u m a certa q u a n tid a d e de m e rc ú rio e m e sm o
de a m á lg a m a é arrastada co m as lamas para o rio.
O saxe fu n c io n a d u ra n te 8 horas para passar to d a a carga de u m to n e l e
se a lte rn a co m este ú ltim o , q u e só tra b a lh a dia sim, dia não; de resto, só há um
to n e l ou u m saxe em a tividade. M u lh e re s são encarregadas de su b s titu ir as telas
das mesas a cada hora, e o perários descarregam a lte rn a d a m e n te as duas caixas
de d e pó sito , à m e d id a q u e fica m cheias.
Depois de cada op eração , esvazia-se o saxe: liga-se o carro a u m cabo que
passa sobre u m a polia e q u e sustenta na ó u tra p o n ta u m a caixa de co n tra pe so ,
de m o d o que u m lig e iro esfo rço d o o p e rá rio é su ficie n te para fa ze r co m que o
carro suba, sendo m a n tid o no ar p o r u m co n tra p e so adicional a crescentado à cai­
xa. Procede-se e n tã o à lim peza, co m e ça n d o -se p o r d e sna ta r a m istura de á g ua e
de areias q u e subsiste na superfície d o m e rcú rio no c o m p a rtim e n to central, bem
c o m o os d e pó sito s de areias e m e rcú rio a c u m u la d o s nos c o m p a rtim e n to s e x te r­
nos ; em seguida tira-se a m istura de m e rc ú rio e de a m á lg a m a para levá-la ao lo ­
cal de lavagem na bateia.
Lavação na b a te ia e s e g u n d a m o a g e m . A m istura im p u ra q u e sai d o saxe,
b e m c o m o o d e p ó s ito das q u in ta s mesas q u e c o n té m se m p re u m a g ra n d e q u a n ­
tid a d e de m e rcú rio e de a m á lg a m a , são lavados na bateia p o r m ulheres em local
de lavação especial, sob o o lh a r de um capataz.
O m e rcú rio e o a m á lg a m a separados são ju n ta d o s ao resto, e n q u a n to as
areias passam nos m o in h o s de m a rte lo s (h a m m e r-m ills ), para serem m o id a s de
novo em presença de u m a p e q u e n a q u a n tid a d e de m e rc ú rio a g ita d a nas calhas.
Sob o c h o q u e re p e tid o dos m artelos, as areias se re d u ze m a pó, e o o u ro lib e ra ­
d o é t o m a d o pelo m e rcú rio , q u e fo rm a p o u c o a p o u c o u m a m á lg a m a especial,
excessivam ente d u ro , co m 3 5 % de o u ro , e n q u a n to , sob a ação de um a p e q u e n a
co rre n te de água enviada nas calhas, as areias e m p o b re cid a s saem p o r u m o rifí­
cio fe ito a m eia altu ra e m cada u m a delas, e se d e p o s ita m e m to ta lid a d e nas cai­
xas de d e p ó s ito instaladas a seguir.
Derram a-se o m e rc ú rio duas vezes ao dia nas diversas calhas, em média
2 0 0 gram as para os 3 0 m artelos, e to d o s os meses faz-se sua lim peza. Passa-se
seu c o n te ú d o p o r peneiras a fim de re te r os pedaços de a m á lg a m a , b e m c o m o os
d e trito s de to d a s as espécies tra zid o s pela água; o resto vai para a bateia a f im de
separar o m e rc ú rio e o a m á lg a m a , e n q u a n to as areias re co m e ça m o ciclo, passan­
d o de n o vo pelos m o in h o s de m artelos.
As areias a cu m u la d as nas caixas de d e p ó s ito em seguida aos m oin h o s,
b e m c o m o as p ro ve n ie n te s das caixas de d e p ó s ito d o saxe, são d e v id a m e n te es­
g o ta d a s e su b m e tid a s a u m tra ta m e n to p o ste rio r p o r cloretação.
F iltra g e m . O a m á lg a m a dissolvido em excesso de m e rcú rio é filtr a d o a tra ­
vés de u m a bolsa de a lg o dã o . Esse a m á lg a m a , re tid o no filtro , c o n té m um exces­
so de m e rc ú rio e se e n c o n tra c o n ta m in a d o p o r a lg u m a s im purezas. É lavado em
u m a lm o fa riz com u m p o u c o de água q u e n te e sabão, e fin a lm e n te filtr a d o em
u m a pele de cam urça. Para isso,fo rm am -se boías q u e são c o m p rim id a s ain d a
q u e n te s d e n tro da pele e b a te n d o co m u m p e q u e n o batedor, faz-se exsudar o
m e rcúrio em excesso. P roduzem -se assim bolas de a m á lg a m a d u ro de 5 ce n tím e ­
tros de d iâ m e tro , c o n te n d o de 4 0 a 5 0 % de ouro.
D estilação. As bolas de a m á lg a m a são em seguida colocadas e m u m a re-
to rta de fe rro fu n d id o para serem destiladas: reveste-se p re via m e n te o in te rio r da
re to rta c o m u m p o u c o de cinza, para im p e d ir q u e o o u ro cole nas paredes. De­
pois as diversas bolas são colocadas um as sobre as o u tra s (12 bolas), p e rfa z e n d o
um a carga de 10 q u ilo g ra m a s. Fecha-se a re to rta , q u e á colocada no fo g o , a d a p ­
ta-se o t u b o reto de fe rro , que é a p o ia d o em u m c o n d u to de m adeira no qual c o r­
re c o n s ta n te m e n te á g ua fria, e m e rg u lh a -se a p o n ta d o t u b o alguns c e n tím e tro s
em um balde cheio de água. E squentando-se le n ta m e n te até o ve rm elho -escuro,
pro d uz-se a destilação d o m e rcú rio , q u e se condensa no t u b o e cai no f u n d o do
balde. Recolhe-se o m e rcú rio p ro ve n ie n te d a .filtra g e m através da pele de c a m u r­
ça e a da destilação, para u m a nova o p eraç ão n o to n e l, usando-se um a p e q u e n a
q u a n tid a d e adicional de m e rc ú rio para c o m p le ta r a carga.
R e fino. O o u ro b ru to , q u e conservou a fo rm a das bolas, é re tira d o da re­
to rta e s u b m e tid o ao re fin o em um c a d in h o de p lu m b a g in a * , com u m a p e quena
q u a n tid a d e de salitre e b ó ra x c o m o fu n d e n te s . Depois é d e rra m a d o em barras em
u m a lin g o te ira de fe rro f u n d id o p re via m e n te revestida de n e g ro de f u m o , a fim
de evitar a aderência d o o u ro . A barra é fin a lm e n te lim p a co m u m pincel e m b e ­
b id o de solução nítrica para lhe d a r um a bela cor. Preparam-se assim barras de
-0 ,1 8 m de c o m p rim e n to , p o r 0 ,0 4 5 m de la rg u ra e 0 ,0 4 m de espessura, pesando
em m édia 5 q u ilo g ra m a s. Essas barras tê m títu lo de 911 milésim os, sendo a p ra ­
ta e o b is m u to as principais im purezas.
P u rifica çã o d o m e rc ú rio . O m e rcú rio p ro v e n ie n te da prim eira filtra g e m
tra z diversas m atérias m inerais, que, mais solúveis q u e o a m á lg a m a de o u ro , pas­
sam através d o te c id o de a lg o dã o . A mais im p o r ta n te de to d a s o é b is m u to , que
fo rm a u m a m á lg a m a te rn á rio de m e rcúrio , b is m u to e .ou ro. Para livrar o m e rcú rio
de suas im pureza, q u e o to rn a m m e n o s sensível, é fe ita sua destilação co m p le ta
q u a tro vezes p o r mês. O m e rcúrio p u rific a d o é e n via d o de n o vo para o saxe, com
o c o m p le m e n to de m e rc ú rio n o vo para pe rfa zer a carga, e o resíduo da de stila ­
ção, que c o m p re e n d e u m a liga de b is m u to e de o u ro c o m o u tra s im purezas, é re­

* NR: 0 m esm o que g ra fita .


fin a d o para o b te r um a barra de b is m u to au rífero, co m 2 4 % de o u ro . A separa­
ção d o o u ro e d o b is m u to é fe ita na Inglaterra, (para o n d e são levadas as barras),
seja p o r copelação, seja p o r q u a lq u e r o u tr o p ro c e d im e n to q u e p e rm ita u m a sepa­
ração c o m p le ta dos dois metais.

3. C lo re ta ç ã o

As areias c o n ce n tra d a s, p ro v e n ie n te s das terceiras e q u a rta s mesas, bem


c o m o as areias a cu m u la d a s nas caixas de d e p ó s ito dos saxes e dos m o in h o s de
m arte lo s, são s u b m e tid a s a u m tr a ta m e n to q u ím ic o p o r clo re ta çã o .
U stu la çã o . As areias são carregadas e m sacos e levadas para cim a d o f o r ­
no de clo re ta çã o pe lo p la n o aére o e p o r um a via férrea q u e liga a cabeça d o p la ­
no à tre m o n h a de c a rre g a m e n to d o fo rn o . Enche-se a tre m o n h a , cuja ca p a c id a ­
de de 6 0 0 litros co rre sp o n d e a u m a carga d o fo rn o . A b r in d o o registro, to d a a
areia cai sobre a soleira mais a fastada da fo rn a lh a . A carga varia de 9 0 0 a 1 .00 0
q u ilo g ra m a s ; o cu p a sobre a soleira u m a espessura de 5 a 6 ce n tím e tro s, e, ao
ca b o de o ito horas, passa para a o u tra soleira, o n d e p e rm a n e ce d u ra n te u m igual
pe ríd o de te m p o . Na p rim e ira soleira, as areias s u p o rta m u m a dessecação e u m
c o m e ç o de u stulação, de m o d o a e lim in a r u m a p a rte d o e n xofre, a p ro x im a d a ­
m e n te 2 0 % . Na se g un d a , c o m p le ta -s e a u stulação, a fim de q u e im a r t o d o o e n ­
x o fre e o arsênio e p e ro x id a r c o m p le ta m e n te o fe rro . O b têm -se , n o f im da o p e ­
ração, areias u stuladas co m p o s ta s de q u a rtz o e de p e ró x id o de fe rro co m o u ro
m etá lico.
C onstata-se o d e sa p a re cim e n to c o m p ie to d o e n x o fre pelo p ro c e d im e n to
se g uinte : d e rra m a m -se a m o stra s das areias ustuladas em diversos p o n to s da se­
g u n d a soleira sobre água fe rve n te . Depois de filtra d a , acrescenta-se à solução al­
g u m a s g o ta s de fe rro c ia n e to de potássio. Se a d q u ire um a co lo ra çã o azul, é sinal
de q u e subsiste e n xo fre nas areias, sob fo rm a de s u lfa to de fe rro q u e passou para
a dissolução aquosa. Deve-se p ro lo n g a r a ustulação. Se, ao c o n trá rio , a solução
p e rm a n e ce incolor, considera-se a u stu la ção c o m o te rm in a d a . A o p e ra ç ã o deve
ser fe ita co m cu id a d o , m a n te n d o na soleira de u stulação a te m p e ra tu ra d o v e r­
m e lh o ; apesar disto, n ã o se chega a e lim in a r c o m p le ta m e n te o arsênio e, c o m o
verem os, fo rm a -s e sem pre a rse n ia to de fe rro , q u e subsiste nas areias ustuladas.
Sua presença n ã o prejudica, de resto, o tra ta m e n to q u ím ico , co m a co n d iç ã o de
q u e sejam to m a d a s certas precauções.
Os dois operários, que tra b a lh a m em tu r n o de o ito horas, são e n ca rre g a ­
dos de faze r o e s b o ro a m e n to , p rin c ip a lm e n te na soleira de ustulação, a fim de im ­
p e d ir a fusão e a g lu tin a ç ã o dos grãos, fo r m a n d o g ru m o s q u e serão u stulados im ­
p e rfe ita m e n te . Trabalham cada u m de u m la d o d o fo r n o e no in te rva lo d o e sb o ­
ro a m e n to , co nservam as p ortas fechadas, e n tra n d o q u a n tid a d e su ficie n te de ar
pelas fissuras e pe lo c o n d u to s existentes.
Um a carga p e rm a n e ce no fo r n o d u ra n te dezesseis horas, o ito horas em
cada soleira; ao fim desse te m p o , procede-se ao d e sca rre g a m e n to , in tro d u z in d o
um v a g o n e te de fe rro sob a a b ó b a d a da soleira e, d e po is de te r tira d o co m um
e s b o ro a d o r a placa q u e fecha o p e q u e n o p o ço vertical, faz-se p o u c o a p o u c o cair
to d a a carga de areias ustuladas, de cor v e rm e lh o vin h o . O v a g o n e te é, em s e g u i­
da, levado acim a da área de re sfria m e n to , sobre a qual se despeja a carga, a b rin ­
d o u m de seus lados e in c lin a n d o -o lig e iram e nte . As poeiras, arrastadas pelas
cham as e depositadas n o fosso s itu a d o e n tre o f o r n o e as câm aras de c o n d e n s a ­
ção, são ju n ta d a s às areias ustuladas; os d e pó sito s das câm aras e da ram pa, em
parte c o m p o s to s de poeiras arseniosas, não passam p o r q u a lq u e r tra ta m e n to .
C o n so m e m -se em m édia 3,3 esté re os* de m a d e ira p o r to n e la d a de areia
tra ta d a , ou 10 estereos e m v in te e q u a tr o horas. As areias ustuladas co nservam
m ais o u m enos o v o lu m e das areias cruas, mas o peso é re d u zid o a dois terços;
espera-se, de fa to , q u e três to n e la d a s de areias não tra ta d a s p ro d u z a m duas t o ­
neladas de areias ustuladas. A o cabo de duas horas após sua saída d o fo rn o , es­
tã o s u fic ie n te m e n te resfriadas para serem su b m e tid a s à cloretação.
D isso lu ção p o r c lo re to d e ca lcio. C arregam -se as areias ustuladas e m um
v a g o n e te m etá lico, co m capacidade c o rre s p o n d e n te a u m a to n e la d a , tra z id o à
p la ta fo rm a da área de re s fria m e n to , para levá-las à cloretação.
O c a rre g a m e n to no to n e l é fe ito p o r m e io da tre m o n h a , in tro d u z in d o -s e as d iv e r­
sas q u a n tid a d e s de m atérias na se g u in te o rd e m :

* NR: M e d id a de v o lu m e para lenha, e q u iva le n te a u m m e tro cúbico.


q u ilo g ra m a s
Areias ustuladas 1.000
C lo re to de cálcio 12
Á g ua 850
Areias ustuladas 1.000
Á c id o s u lfú ric o c o m u m 14

As areias são carregadas duas vezes, se n d o q u e a se g un d a ca m a d a serve


para im p e d ir o c o n ta to im e d ia to d o clo re to de calcio co m o á cid o su lfú rico, d e r­
ra m a d o p o r ú ltim o , após o q u al se fecha o mais ra p id a m e n te possível a ta m p a do
to n e l para im p e d ir a perda do clo ro q u e com eça a ser p ro d u z id o .
Em con se qü ê n cia da alta pressão da liberação de clo ro no interior, o a ta ­
q u e se fa z ra p id a m e n te , a tiva d o ainda pe lo m o v im e n to de ro ta çã o do to n e l, que
fa z o ito voltas p o r m in u to . A o f im de q u a tro a seis horas, s e g u n d o a riqueza das
areias e o ta m a n h o dos grãos de o u ro , as reações te rm in a m e se d e rra m a o c o n ­
te ú d o d o to n e l no va silham e de lixiviação, o n d e se fa z a filtra g e m d o líquido.
Por m e io da b o m b a , a solução é aspirada através da ca m a d a filtr a n te e
e m p u rra d a para a cuba, n o a n d a r acim a, e n q u a n to um ja to de á g ua é envia do
para o in te rio r d o to n e l para lavá-lo c o m p le ta m e n te . A água é, em seguida, d e r­
ram ada no ta n q u e .D e p o is se fa z e m lavações repetidas sobre as areias co m água
pura até q u e as últim as águas n ã o a p re se nte m mais tra ço s de o u ro . Isso se v e rifi­
ca p e g a n d o a m ostras na saída d o t u b o de recalque e nelas d e rra m a n d o u m p o u ­
co de solução de su ífa to fe rro so A m e n o r q u a n tid a d e de o u ro p ro d u z u m tu rv a -
m e n to de co r m a rro m . A o p e ra ç ã o d u ra a p ro x im a d a m e n te três horas. Deixa-se,
e n tã o , e sgotarem -se c o m p le ta m e n te as areias, as quais são depois descarregadas
co m pás em u m v a g o n e te que as leva ao m o n te de resíduos.
P re cip ita çã o . A solução de clo re to de o u ro , p re via m e n te a cidulada na cuba
p o r u m a adição de 2 q u ilo g ra m a s de á cid o clorídrico, desce p o u c o a p o u c o pelo
t u b o d o f u n d o nos barriletes de precipitação, q u e c o n tê m cada um 2 q u ilo g ra m a s
de tris s u lfa to de cobre em pó co m grãos fin o s de c o r cinza de aço, co m u m a es­
pessura de 5 ce n tím e tro s acim a d o fu n d o .
A solução chega in ic ia lm e n te no ba rrilete su p erio r nD 1, o n d e o o u ro é p re ­
c ip ita d o pe lo co b re d o s u lfe to , q u e passa na dissolução a o e stado d e c lo re to de
cobre, depois para o b a rrile te n° 2, o n d e o o u ro q u e escapou à ação d o su lfe to
acaba de se p re cip ita r e fin a lm e n te para o ba rrilete in fe rio r n° 3, o n d e os ú ltim o s
traços de o u ro da solução se p re cip ita m .
À m e d id a q u e o co rre a p recipitação, a m atéria deposita-se e m massas
mais ou m e n o s co m p a cta s e, no fim , o b té m -se n o b a rrile te n° 1 u m a massa de
c o r a m a re lo -m a rro m c o m p o s ta de o u ro e de e nxofre, co m um a certa q u a n tid a d e
de su lfe to de cobre, q u e é separado d o resto d o pó não a tacado. O b a rrile te n° 2
e s o b re tu d o o n ° 3 c o n te n d o ainda u m a g ra n d e q u a n tid a d e de s u lfe to de cobre,
são utilizad o s para a o p e ra ç ã o seguinte, fa z e n d o subir o n° 2 no lu g a r d o n° 1, e
o n° 3 no lug a r d o n° 2; o b a rrile te n° 1 v e m e n tã o o c u p a r o lu g a r d o n° 3, d e ­
pois de te r re cebido u m a nova q u a n tid a d e de pó para c o m p le ta r sua carga.
A d u ra çã o da p re cip ita çã o é de d oze horas. O c o n s u m o de s u lfe to p o r
o p eraç ão é e m m édia de 2 0 0 gram as e a q u a n tid a d e de água e m p re g a d a para a
lavação é a p ro x im a d a m e n te de 1 .8 0 0 litros. A solução clorídrica q u e sai dos b a r­
riletes n ã o é utilizada, e m b o ra te n h a ce rto va lo r p o r causa d o cobre nela c o n tid o .
A p re cip ita çã o é fe ita em solução ácida, a fim de e vita r a fo rm a ç ã o , na so­
lução n e utra, de u m p re c ip ita d o b ra n c o -a m a re la d o de arse n ia to de fe rro , q u e a u ­
m e n ta ria c o n sid e ra ve lm e n te as im pu reza s d o o u ro p re c ip ita d o .121
R e fino. O refin o é fe ito e m q u a tr o operações, q u e c o m p re e n d e m três f u ­
sões e u m a copelação. As fusões são feitas em um c a d in h o de g ra fita de 0 ,1 5 m
de algura e 0 , 1 0 m de d iâ m e tro in te rn o ; a copelação é fe ita em copelas de cinzas
de osso, p reparadas em la b o ra tó rio de m o d o a p o d e r cop elar massas de 2 5 0 a
50 0 gramas.
1a fu s ã o : carrega-se o c a d in h o co m p re c ip ita d o de m o d o a e n ch ê -lo até
u m terço , e se acrescenta b ó ra x em q u a n tid a d e suficiente. Depois da fusão, o b ­
té m -se um a placa de o u ro co m 2 - 5 % de cobre, re p re se n tan d o cerca de 2 5 % d o
peso d o p re cip ita d o . A cim a te m -se u m a m a te de cobre, rica em o u ro e f in a lm e n ­
te, na superfície, b ó ra x fu n d id o .
2 a fusão: trata-se a m a te rica co m fusão p lu m b o sa , através da ad içã o de
u m a p e q u e n a q u a n tid a d e de c h u m b o que serve para fixa r o e n xo fre em excesso,
o p o r tu n id a d e na q u al se o b té m u m resíduo de o u ro no f u n d o d o ca d in ho .
Carrega-se a m ate, p re via m e n te tritu ra d a e m istura da com bórax, ju n t a n ­
do-se c h u m b o em grãos fin o s, na p ro p o rç ã o de 5 a 10 % d o peso da m ate. Re­
colhe-se, depois da fusão, u m resíduo de o u ro co m 10 % de cobre, re p re se n ta n ­
d o de 10 a 15 % d o peso da m a te rica, e acim a se e n c o n tra m no c a d in h o um a
m a te b a stan te p o b re e o b ó ra x fu n d id o .

3 a fu sã o: trata-se a m a te p o b re co m fu sã o p lu m b o sa para p ro d u z ir u m re­


síduo de c h u m b o b ru to q u e se a p ro p ria d o o u ro c o n tid o .

Para isso, m istura -se b o ra x e u m a p a rte d o c h u m b o à m a te m o id a . De­


pois, d e rra m a -s e o resto d o c h u m b o sobre a massa em fu sã o, q u e é a g ita d a
c o n s ta n te m e n te co m u m a vara de fe rro , para fa c ilita r a re u n iã o no f u n d o . Jun­
ta-se u m a q u a n tid a d e de c h u m b o igual a 3 0 % da m ate, e se o b te m , de 5 0 0 g ra ­
mas de m a te , 10 a 2 0 gra m a s de o u ro c o n c e n tra d o no resíduo de c h u m b o b r u ­
to . A m a te e sg o ta d a q u e se e n c o n tra acim a d o resíduo é, em p a rte , utilizada
c o m o a g e n te de p re cip ita çã o , c o n ju n ta m e n te co m o s u lfe to de co b re , esco lh e n-
do-se os fra g m e n to s ricos e m c o b re e tritu ra n d o -o s em pó fin o , e n q u a n to se re­
je ita m as p artes fe rru g in o sa s.

C opelação. Faz-se a copelação d o c h u m b o b ru to , a fim de o b te r um b o ­


tã o de o u ro puro, pelos p ro c e d im e n to s c o m u n s d o la b o ra tó rio .

Fusão fin a l. Os diversos resíduos e b o tõ e s de o u ro são p o r fim fu n d id o s em


c o n ju n to , para serem, re unidos em barras de o u ro sem elhantes às da a m a lg a m a ­
ção, mas cu jo títu lo é de 9 0 0 a 9 2 0 m ilésim os, sendo que o co b re c o n stitu i a sua
p rincipal im pureza.

4 . C o n sid era ç õ e s té c n ic as

Depois de te r s e g u id o passo a passo as diversas o perações q u e c o m p õ e m


o tra ta m e n to , a Q u a d ro 2 p e rm ite visualizar o c o n ju n to d o m é to d o ; c o m p a ra n d o -
se essa ta be la co m a Q u a d ro 1 (tra ta m e n to se g u id o em 1888), fica fácil perceber
m o d ific a çõ e s in tro d u zid a s no m é to d o p rim itiv o . A lé m disso, am bas a p re se n ta m a
q u a n tid a d e de m in é rio tra ta d a em 2 4 horas, e sp e cifica n do as d ife re n te s fases do
e n riq u e c im e n to . A c o m p a ra ç ã o e n tre tabelas to rn a possível co n sta ta r as m e lh o ­
rias in tro d u z id a s no tra ta m e n to , relativas à recuperação.
Para m e lh o r perce b er essas diferenças, e xa m in a re m o s sucessivam ente as
três categorias de o perações d o tra ta m e n to .
P reparação m e câ n ica . Essa p a rte d o tra t a m e n t o fo i co n s id e ra v e lm e n te
desen vo lvid a: e m vez de p e rd e r para o rio as areias leves {ta ilin g s ), q u e não era m
retidas nas prim e ira s mesas, são c o n c e n tra d a s sobre novas mesas, para re te r as
piritas, o b te n d o -s e u m p r o d u t o rico o s u fic ie n te para p a g a r as despesas s u p le ­
m e n ta re s d o tr a ta m e n to q u ím ic o . Perdiam-se 9 /1 0 das areias, c o n te n d o a inda 4
gra m a s de o u ro p o r to n e la d a ; hoje, re te m -se nos c o n c e n tra d o s u m a fra ç ã o d es­
se o u ro , in fe liz m e n te a in d a p e q u e n a : nas 3 ,8 5 g c o n tid a s os tailings,, p e rd em -se
3 ,3 gramas.
A n te r io rm e n te , p u n h a m -s e e m reserva os rejeitos das se gundas mesas;
a tu a lm e n te , são tra ta d o s de u m a m a n e ira regular, graças a u m a pulve riza çã o
c o m p le m e n ta r, q u e p e rm ite s u b m e tê -lo s a u m a nova lavação sobre as mesas.
O b te m -s e c o n c e n tra d o s s u fic ie n te m e n te ricos para passar ao tra t a m e n t o q u ím i­
co. Na saída das se g un d a s mesas, a so lu çã o cai em caixas de d e p ó s ito s o n d e se
a c u m u la m as areias fin a s mais densas, e n q u a n to as areias leves são levadas para
o rio. As areias densas é q u e são tra ta d a s de no vo; apesar disso, chega-se a re­
te r sobre as terceiras mesas apenas a m e ta d e d o o u ro q u e c o n tê m . A o u tra m e ­
ta d e se p e rd e co m os resíduos, te n d o a inda 1 8 ,2 g de o u ro p o r to n e la d a . As
areias leves, tra ze m t a m b é m u m a certa q u a n tid a d e de o u ro , já q u e c o n tê m em
m é d ia 1 4 ,2 g . Esses reje ito s tê m , p o rta n to , u m te o r elevado, mas in s u fic ie n te
para o tra t a m e n t o q u ím ic o ; estuda-se a tu a lm e n te c o m o c o n c e n trá -lo s . O e m p r e ­
g o das mesas fixas n ã o a p re s e n to u resultados, se n d o preciso re co rrer a o u tro s
e q u ip a m e n to s .
Em conse qü ê n cia d o a u m e n to do n ú m e ro das o perações destinadas ao
e n riq u e c im e n to , fo i possível s u p rim ir as reservas de q u a rtz o po bre. A tria g e m fo i
su b stitu íd a p o r u m sim ples p e n e ira m e n to , re su lta n d o um a d im in u iç ã o d o te o r
m é d io e u m a m a io r a b u n d â n c ia de ta ilin g s . C o m o são co n c e n tra d o s sobre as
q u artas mesas, recupera-se assim u m a p a rte d o o u ro c o n tid o no q u a rtz o . A su­
pressão da tria g e m p e rm itia u m a n o tá ve l e c o n o m ia de m ã o -d e - obra.
QUADRO 2

301
L eg en d a d o Q u a d ro 2
T r a ite m e n t d u m in e r a i e m 1 8 9 4 , p e n d a n t u n e jo u r n é e d e 2 4 heures):
T r a t a m e n t o d o m in é r io e m 1 8 9 4 , d u r a n t e jo r n a d a d e 2 4 h oras.
M in e r a i v e n a n t d e Ia m in e : M in é r io p ro v e n ie n t e da m in a .
C r ib la g e e t K la u b a g e ; P e n e ir a m e n to e Escolha m a n u a l
G ro s: F r a g m e n to s gro sso s
Stériles (a la riviere): Estéreis (p a ra o rio)
M e n u s : F r a g m e n to s m e n o re s
C o n c a s s e u r: B rita d o r
B oca rd s: M o in h o s
1eres Toiles: P rim e ira s telas
1es (2s,3s, 4 s ) Tables re tilig n e s : P rim e ira s (S e g u n d a s , Terceiras, Q u a rta s )
m e sas re tilín e a s
Sables riches, denses, p a u v re s (ta ilin g s ): A re ia s ricas, densas, p o b re s (rejeitos)
D is trib u ite u r : D is tr ib u id o r
Résidus de s sables riches: R esíduos da s areias ricas
S ables c o n c e n tré s : A re ia s c o n c e n tr a d a s
S ables tré s ríches: A re ia s m u it o ricas
B atée: Bateia
Caisse d e d é p ô t : C a ixa d e d e p o s iç ã o
F o u r d e g rilla g e : F o rn o d e u s tu la ç ã o
S ables à g rille r: A re ia s p a ra u s tu la r
S ables grillés: A re ia s u s tu la d a s
T o n n e a u d e C h lo r u r a t io n : Tonel d e c lo re ta ç ã o
P o u d re d ' o r im p u r ; Pó d e o u r o im p u r o
O r e m b arres: O u r o e m b a rra s
A f f in a g e : P u rific a ç ã o
L iq u e u r ch lo ris se d ' o r e t ré sid u s p a u re s : L ico r d e c lo r e to d e o u r o e re síd u os
p o b re s
F iltra tio n : Filtra çã o
Résidus (à Ia rivière): R esíduos (p a ra o rio)
O r p re c ip ite : O u r o p r e c ip ita d o
P ré c ip ita tio n : P re cip ita çã o
Caisse d e d é p ô t : C a ixa d e d e p o s iç ã o
Em resum o - tal c o m o o m é to d o era a p lica d o p rim itiv a m e n te - de uma
q u a n tid a d e a d e q u a d a de m in é rio para ser tra ta d a , c o n te n d o 1 .20 0 gra m a s de
o u ro , perd ia m -se d u ra n te a p re p aração m ecânica 5 0 0 gram as, ou seja, .4 2 % .
A tu a lm e n te , pelas m o d ific a ç õ e s in tro d u z id a s nessa p a rte d o tra ta m e n to , chega-
se a perder, em u m m in é rio q u e c o n té m 1 .60 0 gramas, apenas 5 5 0 gram as, ou
seja, 3 4 % . É e vid e n te q u e há u m progresso sensível, mas ain d a é preciso a p e rfe i­
çoar a c o n c e n tra ç ã o dos rejeitos pobres das q u artas mesas.
A m a lg a m a ç ã o . Essa p a rte d o tra ta m e n to p e rm a n e ce u , p o r assim dizer, a
mesm a, pelo fa t o d o p ro c e d im e n to e m p re g a d o só c o m p o rta r p o u co s a p e rfe iç o a ­
m e n to s e de ser preciso lu ta r s o b re tu d o c o n tra ações quím icas nocivas, in d e p e n ­
dentes d o p ro c e d im e n to . O e q u ip a m e n to co m ressaltos fo i s u b s titu íd o pela b a ­
teia, para separar o a m á lg a m a das areias. Nos m o in h o s de m a rte lo , são tra ta da s
apenas as areias ricas sucetíveis de c o n te r ain d a u m p o u c o de m a té ria a m a lg a m á -
vel, e n q u a n to o restante passa pelo tra ta m e n to q u ím ico . É e vid e n te q u e os m o i­
n hos de m a rte lo seriam v a n ta jo s a m e n te su b stitu íd o s p o r pilões ca lifo rn ia n o s de
m o d e lo m enor, a tu a n d o co m g ra n d e n ú m e ro de g o lp es e c o n te n d o m e rc ú rio em
seus alm ofarizes, já q u e se visa re d u zir as areias para p ó e p ro d u z ir a a m a lg a m a ­
ção no m o m e n to e m que, p o r sua q u e b ra recente, os grãos de o u ro livre são sus­
cetíveis de se u n ir mais fa c ilm e n te ao m e rcú rio . C o n tin u a -se , p o ré m , a e m p re g a r
esses aparelhos até nova o rd e m , co m o risco de só serem a b a n d o n a d o s q u a n d o
estiverem n o fim de seu fu n c io n a m e n to .
C lo re ta çã o Essa parte d o tr a ta m e n to é c o m p le ta m e n te nova. O tip o de
m in é rio co m p le x o , e m presença d o qual nos e n c o n tra m o s , n ã o p e rm ite o e m p re ­
g o ú n ico da a m a lg a m a çã o , sob pena de te r u m a elevada perda de o u ro . C o m o
m in é rio a tual, co m 15 gra m a s de o u ro p o r to n e la d a (exercício 1 8 9 2 -1 8 9 3 ), de
1 .60 0 gram as de o u ro c o n tid o retiram -se, p o r a m a lg a m a ç ã o sim ples, 8 9 5 gramas,
o q u e representa u m a perda de 4 4 % . Pela in tro d u ç ã o da cloretação, essa perda
é reduzida em 1/4; cai para 3 4 % . Esse tra ta m e n to c o m p le m e n ta r d im in u i de
m o d o notável as perdas, m as apresenta o in c o n v e n ie n te de to d o s os tra ta m e n to s
qu e exig e m o e m p re g o de reagentes quím icos especiais: seus custos são elevados,
o q u e só p e rm ite ap licá -lo a areias de um c e rto teor. Em Passagem é preciso que
as areias para u stu la r c o n te n h a m 16 gra m a s de o u ro p o r to n e la d a , para co b rir os
custos especiais da cloretação.
V a nta g e ns da c lo re ta ç ã o em co m p a ra çã o co m a a m a lg a m a çã o . C o m o o
o u ro é e n c o n tra d o no m in é rio em dois estados, disse m in ad o no q u a rtz o e disse­
m in a d o ou c o m b in a d o nos sulfetos, prefere-se não p ro lo n g a r a a m a lg a m a çã o ,
pois ela não retira, de m aneira eficaz, o o u ro dos sulfetos. Depois de haver recu­
p e ra d o o o u ro livre no c o n ta to co m o m e rcúrio , enviam -se to d a s as areias da
a m a lg a m a ç ã o para a cloretação.

Pelo e n riq u e c im e n to das areias pobres nas terceiras e q u artas mesas, o b ­


te m -s e c o n ce n tra d o s c o m p o s to s e m g ra n d e p a rte de piritas; na a m a lg a m a çã o , só
cederiam seu o u ro p a rcia lm en te . C o m o são s u fic ie n te m e n te ricas, são postas d i­
re ta m e n te na cloretação, o q u e sim plifica seu tra ta m e n to . Visa-se a tu a lm e n te su­
p rim ir o mais possível a a m a lg a m a ç ã o que, no caso, é u m a o p e ra ç ã o in te rm e d iá ­
ria, sem pre in su ficie n te para o o b je tiv o p e rse g uido . A n te s de p ro ce d e r à clo re ta ­
ção, fo i fe ita um a série de testes v a ria n d o o m o d o de e m p re g o d o m e rc ú rio a
fim de verifica r em que co n diçõ es seriam o b tid o s resultados mais satisfatórios que
aqueles p ro p icid a d o s pela a m a g a m a ç ã o no to n e l; to d o s fracassaram.

Vamos passá-los rapidam ente em revista e indicar as causas do seu insucesso.

a ) PLACAS DE COBRE A M A L G A M A D O . Testaram-se as placas de cobre


a m a lg a m a d o , seja no in te rio r d o a lm o fa rizes dos pilões ca lifo rn ia n o s, seja sobre
mesas na saída dos pilões. Para o b te r a a derência d o o u ro , é necessário m a n te r a
superfície d o a m á lg a m a b rilh a n te c o m o u m espelho. Em caso co n trá rio , a d e c o m ­
posição parcial dos sulfe tos c o n tid o s n o m in é rio dá lu g a r a águas ácidas, q u e e m -
ba cia m essa superfície e fa ze m c o m q u e t o m e u m a aparência lívida, de cor a m a -
relo-esverdeada, de m o d o que o m e rcú rio , nesse estado, te m pouca ação sobre o
o u ro . A lé m disso, os grãos de pirita tê m o in c o n v e n ie n te de rasgar p a rcia lm e n te
a ca m a d a de a m á lg a m a q u e se solta, p o u c o a p o uco , da placa. D iante dessas duas
causas de insucesso, re n u ncio u-se ao e m p re g o das placas.
b ) D E P U R A Ç Ã O D O M E R C Ú R IO N O S A L M O F A R IZ E S D O S PILÕES E
N A S PANELAS DE M O A G E M , Tentou-se co lo ca r um a certa q u a n tid a d e de m e r­
c ú rio nos a lm o fa rizes dos pilões ca lifo rn ia n o s, a fim de a p ro v e ita r a q u e b ra recen­
te dos grãos de o u ro , liberados d u ra n te a m o a g e m , para p ro d u z ir mais fa c ilm e n ­
te a a m a lg a m a çã o . In fe lizm e n te , diversas causas particulares ainda mal definida s
p ro d u z e m u m tal estado de divisão d o m ercúrio, que ele se tra n s fo rm a em pó e
escapa para fo ra dos alm ofarizes, levado pela co rre n te de água. A lé m d o mais,
d e vid o à presença de arsênio n o m in é rio , são p ro d u z id o s g ló b u lo s de m e rc ú rio es­
curo, em pó, re co b e rto s pe lo arsênio, q u e im p e d e q u a lq u e r c o n ta to co m o o u ro ,
de sorte q u e a a m a lg a m a çã o se to rn a impossível. Esse pó de m e rcúrio , n e g ro e
baço, não c o n té m a m á lg a m a , e co m u m a lavação na bateia, p o de m -se re u n ir os
diversos g ló b u lo s no c e n tro . C o m p r im in d o -o s co m a palm a da m ã o ressurgem as
pe qu e n as go ta s b rilha n te s de m e rcúrio , reunidas em u m g ló b u lo maior, e n q u a n ­
t o um d e p ó s ito n e g ro adere à pele.
O m e sm o fe n ô m e n o o co rre u , q u a n d o se te n to u fa z e r a a m a lg a m a çã o nas
panelas: t o d o o m e rc ú rio se d ivid iu e se tra n s fo rm o u em u m p ó n e g ro q u e era le­
va d o co m a massa lavada. Assim, as panelas são e m p re g a d a s u n ic a m e n te para
m o e r as areias.
De resto, esses in co n ve n ie n te s d o e stado de divisão d o m e rc ú rio e da p ro ­
d u çã o de pó n e g ro subsistem ig u a lm e n te , mas em um g ra u m enor, na a m a lg a m a ­
ção no to n e l: no saxe, na superfície d o b a n h o de m e rcú rio , vêem -se f lu t u a r p a r­
tículas negras e, apesar das mesas e das caixas de d e p ó s ito , um a p o rçã o d o m e r­
c ú rio é arrastada para o rio co m as lamas leves. Resulta desse p ro c e d im e n to um a
perda considerável de m e rcúrio , avaliada d ia ria m e n te em 2 q u ilo g ra m a s, o q u e re­
presenta 2 0 gram as de m e rc ú rio p e rd id o p o r to n e la d a de m in é rio tra ta d o .
Por fim , entre as diversas substâncias estranhas existentes no m in é rio , que
se u n e m ao m e rcú rio , deve-se in d ica r p rin c ip a lm e n te o b ism u to , q u e o arrasta e
im p e d e p a rcia lm e n te a a m a lg a m a ç ã o das partículas de o u ro , q u e seriam am a lg a -
máveis co m m e rc ú rio lim p o . Sua presença o b rig a qe se p u rifiq u e q u a tr o vezes p o r
mês t o d o o m e rcú rio co lo ca d o n o saxe. Para isso, com eça-se p o r destilar um a p a r­
te d o m e rcúrio ; deixa-se resfriar. C o m o re s fria m e n to d o m e rc ú rio líq u id o, fo r-
m am -se cristais de a m á lg a m a de b is m u to q u e são re co lh id o s e su b m e tid o s, p o r
sua vez, à destilação c o m p le ta para separar o b is m u to d o m e rcúrio . C o m o esse
b is m u to c o n té m se m p re u m a certa q u a n tid a d e de o u ro , e m t o r n o de 2 5 % , que
é a rra sta d o sob a fo rm a de a m á lg a m a de b is m u to a u rífe ro , m u ito solúvel e m ex­
cesso de m e rcú rio , faz-se d e po is da destila çã o o re fin o d o m e sm o , q u e se m o l­
da em lin g o tes, e nviados à In g la te rra para a separação dos dois m etais. A pro -
d u çã o de b is m u to , q u e to ta liz a 150 gra m a s p o r dia ou 1 ,4 g ra m a p o r to n e la d a
de m in é rio tra ta d o , vem p o rta n to c o m p lic a r a a m a lg a m a çã o e a u m e n ta r o n ú ­
m e ro das operações.
Por to d o s esses m o tivo s, explica-se fa c ilm e n te q u e se fa ça m na m ina n u ­
m erosas experiências co m a fin a lid a d e de re d u zir a a m a lg a m a çã o e d e sen vo lv er a
clo re ta ç ã o . O ideal seria s u p rim ir c o m p le ta m e n te a a m a lg a m a çã o , m as para isto
há um a d ific u ld a d e : as areias re co lh id a s sobre as p rim e ira s m esas c o n tê m a m a io r
p a rte d o o u ro n a tiv o e xiste n te no m in é rio , o u ro q u e se apresenta co m um a su p e r­
fície suja p o r o u tra s m a té ria s m inerais, de m o d o q u e o a ta q u e pe lo c lo ro se fa z
de um a m a n e ira in c o m p le ta , e é necessário repassar os resíduos, d e po is de filtr a ­
g e m , n o to n e l de clo re ta çã o Daí resulta q u e o tra ta m e n to se to rn a m u ito d isp e n ­
d io so p o r causa da q u a n tid a d e de areias a reprocessar e d o co n su m o ele va do de
re agentes q u ím ico s, e n q u a n to estas areias, um a vez desem baraçadas d o o u ro na­
tiv o pela a m a lg a m a çã o , são s u b m e tid a s à clo re ta ç ã o sim ples para delas se re tira r
o o u ro c o m b in a d o .
O p ro c e d im e n to de clo re ta ç ã o s e g u id o em Passagem é baseado no e m p re ­
g o do s u lfe to de co b re co m o p re c ip ita n te . No co m e ço , em p re g a va -se s u lfa to de
ó x id o fe rro so , se g u in d o a fó rm u la d o p ro c e d im e n to N e w b e ry -V a u tin p rim itiv o ; re­
n u n cio u -s e ao m esm o p o r causa da d ific u ld a d e em re u n ir o p re c ip ita d o , nas c u ­
bas, É preciso, de fa to , m u ito te m p o para alca n ça r esse re su lta d o , a in d a q u e se
consiga a tiva r a co n ce n tra çã o d o p re c ip ita d o to rn a n d o a so lu çã o c lo ríd rica fo rte ­
m e n te ácida. A p esar disso, só se p o d e re u n ir c o m p le ta m e n te o d e p ó s ito após 4 8
horas, o q u e exige um e q u ip a m e n to de p re c ip ita çã o b a s ta n te g ra n d e e in c ô m o ­
do. Pelo e m p re g o d o s u lfe to de co b re a p re c ip ita çã o faz-se, ao c o n trá rio , ra p id a ­
m e n te através dos b a rrile te s q u e o cu p a m p o u c o lugar. C o n tin u a -s e a a c id u la r a
so lução pe lo á cid o c lo ríd rico , m as em m e n o r q u a n tid a d e , u n ic a m e n te para e v ita r
a fo rm a ç ã o de um p re c ip ita d o a b u n d a n te de a rs e n ia to de fe rro , in e vitá ve l em so­
lução n e u tra em c o n ta to co m o a g e n te de p re c ip ita ç ã o . Por fim , a q u a n tid a d e
co n su m id a de s u lfe to é m u ito p e q u e n a em relação à d o á c id o s u lfú ric o necessá­
rio à p re p aração d o s u lfa to de fe rro , fe ita no local, ta n to mais q u e e sg ota d a a
m a te , d e po is de fu sã o p lu m b o s a , p o d e ser em p a rte u tiliz a d a co m o p re c ip ita n te .
Disso resulta um a e c o n o m ia sensível no c o n su m o de p ro d u to s q u ím ico s, e c o n o ­
m ia q u e se p o d e a va lia r a mais de 1/3, co m o se d e p re e n d e da ta b e la 10.
E m prega-se a inda, a lg u m a s vezes, o s u lfa to de fe rro , se p o r q u a lq u e r m o ­
tiv o , o s u lfe to de co b re , o u para tra ta r ce rto s tip o s de areias. Evita-se assim os in ­
co n ve n ie n te s a p re se n ta d o p e lo s u lfe to que exige, no re fin o , várias fusões suces­
sivas e q u e p ro d u z sem pre um o u ro de títu lo in fe rio r, e n q u a n to um a única fu sã o
co m b ó ra x p e rm ite tra n s fo rm a r o p re c ip ita d o de o u ro o b tid o pe lo s u lfa to em um
iin g o te , c u jo títu lo é, em m é d ia , de 9 8 0 m ilésim os, co m o fe rro m e tá lic o co m o
p rin cip a l im pu reza .

TABELA 10. CLORETAÇÃO. COMPARAÇÃO DAS DESPESAS DE


PRODUTOS QUÍMICOS POR TONELADA DE AREIA A USTULAR,
CONFORME O PROCEDIMENTO EMPREGADO NA PRECIPITAÇÃO

P r e c ip it a ç ã o P o r

P r o d u t o s Q u ím i c o s S u l f a t o d e p r o t o x it o
P r o to su lfeto de C obre
de Ferro

C lo re to d e cal a $ 9 0 0 réis o q u ilo 4 q u ilo s = 3 $ 6 0 0 réis 4 q u ilo s = 3 $ 6 0 0 réis

Á c id o s u lfú ric o a $ 6 0 0 réis o q u ilo 4 ,7 q u ilo s = 2 $ 8 0 0 réis 4 ,7 q u ilo s = 2 $ 8 0 0 réis

Á c id o c lo rid ic o a 1 $ 5 0 0 réis o q u ilo 3 ,3 4 q u ilo s = 5 S 0 0 0 réis 0 ,6 7 q u ilo s = 1 $ 0 0 0 réis

Á c id o s u lfú ric o (c o m o s u lfa to ) a $ 6 0 0 réis 2 q u ilo s = 1 $ 2 0 0 réis


o q u ilo

T ris s u lfe to d e c o b re a 6 $ 0 0 0 réis o q u ilo 4 q u ilo s = $ 8 0 0 réis

D espesas to ta is 1 2 S 6 0 0 réis 8 $ 2 0 0 réis

Pode-se d ize r q u e se dá p re fe rê n c ia ao e m p re g o d o s u lfe to de co b re p or


causa da c o m p lic a ç ã o das m a n ip u la çõ e s devidas à p re p aração d o s u lfa to e à p re ­
cip ita ç ã o em num erosas cubas. T e n tou -se s u b s titu ir o clo ro pe lo b ro m o para fa ­
zer o a ta q u e das areias u stuladas; o b tive ra m -s e excelentes re sultados, m as fo i
preciso re n u n c ia r a isto, s o b re tu d o p o r co n siderações de h ig ie n e , pois os o p e rá ­
rios tin h a m d ific u ld a d e s e n orm e s para tra b a lh a r em um clim a q u e n te n u m a a t-
m o sfe ra carregada de vapores de b ro m o .
A clo re ta çã o , ta l c o m o é p ra tic a d a a tu a lm e n te em Passagem, p e rm ite re­
tira r n o rm a lm e n te 9 1 % d o o u ro c o n tid o nas areias c o n ce n tra d a s. Trata-se-se de
um re su lta d o q u e m ilita em fa v o r d o p ro c e d im e n to e q u e ju s tific a as pesquisas fe i­
tas co m vistas a lhe d ar um m a io r d e s e n v o lv im e n to .

5. S erviços acessórios

L a b o ra tó rio . O la b o ra tó rio é p ro vid o de dois fo rn o s de m u fla , um g ra n d e que p e r­


m ite fa ze r copelações de 5 0 0 gram as de o u ro p o r vez, e um p e q u e n o , para as co-
pelações e calcinações co m u n s, e de dois fo rn o s a b e rto s para os testes e fusões.
A í se executa o re fin o das bolas de o u ro b ru to p ro v e n ie n te da a m a lg a m a ­
ção, as diversas fusões de massas de o u ro p re c ip ita d o da clo re ta çã o , bem co m o os
diversos testes e análises de areias e m inérios.
Forja e o fic in a das m á q u in a s o p eratrize s. Essa o fic in a co m p re e n d e 4 fo rjas,
sopradas p o r v e n tila d o r de R oot, e diversas m áq u in a s o p eratrize s (um to rn o , um a
m á q u in a de furar, um a m á q u in a de fa z e r parafusos etc.). São exe cu ta d o s os re p a ­
ros de in s tru m e n to s e de peças das m áquinas; co n stro e m -se ou m o n ta m -s e d ive r­
sos a parelhos m e tá licos e veículos de m inas e se fa zem m o ld a g e ns de peças de
b ronze q u e é fu n d id o em c a d in h o e escoado em fo rm a s.
C a rp in ta ria . O serviço da ca rp in ta ria é m u ito im p o rta n te na usina, p o r ca u ­
sa dos num erosos reparos q u e se fa ze m necessários nos pilões de m a deira. Os car­
p in te iro s estão c o n s ta n te m e n te o cu pa d o s em p re p a ra r novas flechas de m adeira e
as peças acessórias desses pilões, cu jo desgaste é m u ito rá p id o apesar d o e m p re ­
go, em sua fa brica çã o , de um a m a d e ira m u ito dura d o Brasil, o ja c a ra n d á -tã o .*

* NR. Deve ser o ja ca ra n d á -ca b iú n a , p o r causa da dureza.


C A PÍT U LO 8 o

O R G A N IZA ÇÃ O D O S SERVIÇOS DA U S I N A PES­


SOAL DA M IN A

Os serviços da usina estão sob a d ire çã o de um e n g e n h e iro especial, ch e ­


fe d o tra ta m e n to , q u e d e p e n d e u n ic a m e n te d o d ire to r e q u e te m a seu ca rg o o
b o m a n d a m e n to d o tra ta m e n to m e câ n ico e m e ta lú rg ic o , bem c o m o dos serviços
acessórios.
Os diversos serviços tra n s c o rre m de dia, das 6 horas da m a n h ã às 5 horas
da ta rd e , co m exceção d o d o m in g o , co m um a hora de in te rru p ç ã o das 9 às 10
horas para a lm o ço . Os serviços de m o a g e m , lavação e u stu la ção são c o n sta n te s e
fe ito s em 2 tu rn o s de 12 horas, no caso da m o a g e m e da lavação, e em 3 tu rn o s
de 8 horas, no caso da u stulação.

O pessoal da usina è c o m p o s to , nos diversos serviços, d o m o d o se g u in te :

1. SERVIÇO DE PREPARAÇÃO M E C Â N IC A

Triagem
C ap a ta z 1
O p e rá rio s (h o m e n s e m eninos) 28
O p e rá rio s (m ulheres) 24
53
B rita g e m e lavação
C apatazes 4
O perários dos pilões 8
Lavadores(m eninos)nas 1as mesas 8
Lavadores(m eninos)nas 4 as mesas 7
Lavadoras (m u lh eres) nas 2 a5 e 3 as mesas 3
O p e rá rio s nos b rita d o re s e nas areias 3
33
TOTAL 86
2. SERVIÇO DE A M A L G A M A Ç Ã O

C ap a ta z 1
Lavadoras na b a te ia 4
A m a lg a m a d o r 1
Lavadoras nas 5as mesas 2
O p e rá rio s nas areias 4
TOTAL 12

3. SERVIÇO DE CLO RETAÇÃO

Q u e im a d o re s no fo rn o 6
O p e rá rio s para e m p iih a r m a d e ira 1
M a n ip u la d o r na clo re ta ç ã o 1
A ju d a na clo riza çã o 1
TOTAL 9

4 . SERVIÇOS AC ESSÓ RIO S

L a b o ra tó rio
Q u ím ico 1
M e n in o de la b o ra tó rio 1
TOTAL 2

Forja e o ficin a

M e câ n ico s 2
Ferreiros 2
Ferreiros auxiliares 3
A p re n d ize s 2
TOTAL 9

310
C arpintaria

M e stre c a rp in te iro 1
C a rp in te iro s 8
TOTAL 9
Total do pessoal da usina 127

O serviço d o preparação m ecânica divide-se em tria g e m , m o a g e m e lavação.


O serviço de tria g e m d u ra das 6 horas da m a n h ã às 5 horas da ta rd e , com
in te rv a lo de um a h o ra . À fre n te desse serviço se e n c o n tra um ca p ata z e n ca rre g a ­
d o de m a rc a r o n ú m e ro de tre m o n h a s p re e nchida s com fra g m e n to s m e nores e de
va g on e te s p re e n c h id o s de fra g m e n to s m aiores, p o r dia de tra b a lh o . É p a g o p o r
mês à razão de 1 0 0 Í0 0 0 réis (1 3 8 fra n co s).
Os o p e rá rio s (h o m e n s e m e n in o s) ca rre g a m os va g o n e te s c o m os fra g m e n ­
to s m a iores e o re tira r estéril, d e sca rre g a n d o -o s nos lugares respectivos. São p a ­
gos p o r h o ra , à razão de 150 a 2 5 0 réis, s e g u n d o sua fo rç a ; c o m o tra b a lh a m 10
horas p o r d ia , recebem um a d iá ria de 1 $ 5 0 0 a 2 S 5 0 0 réis (1 ,9 0 a 3 ,2 0 fra n co s).
A s o p erárias (m u lh eres) são e n carregadas da tria g e m m a n u a l e de co lo ca r
os fra g m e n to s m e n o re s nas tre m o n h a s . São pagas à razão de 100 réis p o r hora,
re ce b e n d o p o r dia 1 $ 0 0 0 réis (1 ,3 8 fra n co s).
O serviço de m o a g e m e lavação é fe ito em dois tu rn o s , c o m e ç a n d o às 6
horas da m a n h ã e às 6 horas da ta rd e . À fre n te estão q u a tro capatazes, dois de
dia e dois à n o ite , a lte rn a n d o -s e a cada sem ana; os dois capatazes de cada tu rn o
são in cu m b id o s, um dos dois m o in h o s de pilões b rasileiros, o o u tro , d o m o in h o
de pilões c a lifo rn ia n o s . Esses capatazes co m e m no loca!. Recebem p a g a m e n to s
m ensais que va ria m de 10 a 12 libras esterlinas.
Os o ito o p e rá rio s dos pilões, o p e ra n d o em dois tu rn o s , são d is trib u íd o s
p o r tu rn o : um em cada m o in h o de piiões b rasileiros e um em cada série de pilões
ca lifo rn ia n o s , São e n carre g ad o s de c u id a r d o b o m fu n c io n a m e n to dos pilões e
das mesas g ira tó ria s, e de fa z e r a lim p eza dos a lm o fa rize s . São pagos à razão de
1 0 0 S 0 0 0 réis p o r m ês (1 3 8 fra n c o s ).122
Os o ito m e n in o s, nas p rim e ira s mesas, são d is trib u íd o s d o m esm o m o d o
q u e os o p e rá rio s dos pilões, São e n ca rre g a d o s da lavação das mesas e devem a ju ­
d ar o o p e rá rio sob as o rd e n s d o q u al estão co lo ca d os. São pagos à razão de 100
réis p o r hora e, c o m o se a lim e n ta m no local, n o in te rv a lo e n tre duas lavações, tr a ­
b a lh am d oze horas p o r tu rn o ; recebem assim 1 $ 2 0 0 réis p o r dia (1 ,5 4 francos).
Os sete m e n in o s, nas q u a rta s mesas, são d ivid id o s em dois tu rn o s , um de
três m e n in o s, o o u tro , de q u a tro , São in cu m b id o s da lavação das q u a rta s mesas
q u e recebem d ire ta m e n te o m a te ria l lavado p ro v e n ie n te das p rim e ira s mesas. São
pagos c o m o os precedentes.
As m ulheres, nas segundas e q u a rta s mesas, são encarre g ad a s da lavagem
das telas destas mesas, q u e só fu n c io n a m de dia: tra b a lh a m das 6 horas da m a ­
nhã às 4 horas da ta rd e . Recebem 120 réis p o r hora e, c o m o co m e m n o local, fa ­
zem um a jo rn a d a de de z horas à razão de 1 $ 2 0 0 réis (1 ,5 4 francos).
Os o p e rá rio s são in c u b id o s da o p e ra ç ã o dos b rita d o re s, q u e só fu n c io n a m
d u ra n te a lg u m a s horas p o r dia, e dos diversos tra n s p o rte s de areias. Trabalham
das 6 horas da m a n h ã às 4 horas da ta rd e e são p agos a 2 2 0 réis a hora. Sua d iá ­
ria é p o rta n to de 2 $ 2 0 0 réis (2 ,8 2 fra n co s).
O serviço de a m a lg a m a çã o é fe ito de dia, das 6 horas da m a n h ã às 5 h o ­
ras da ta rd e , co m in te rv a lo de um a hora. Um ca p a ta z é e n ca rre g a d o e sp e cia lm e n ­
te de c o n tro la r o tra b a lh o das lavadoras na b a te ia e das filtra g e n s e lavação do
a m á lg a m a , executadas sob seu c o n tro le , em um c ô m o d o ao la d o d o e n g e n h o de
32 pilões. Recebe 1 2 5 $ 0 0 0 réis p o r m ês (1 6 9 fra ncos).
A s lavadoras na b a teia são instaladas no c ô m o d o de lavação, em bancos
e m to rn o de cubas cheias de água, Providas de um a b a te ia , separam as pequenas
g o ta s de a m á lg a m a re tidas nas areias. Recebem 120 réis p o r hora de tra b a lh o ou
1 $ 2 0 0 réis p o r dia (1 ,5 4 francos).
O a m a lg a m a d o r, c o lo ca d o d ire ta m e n te sob as ord e ns d o e n g e n h e iro , é in ­
c u m b id o d o tra b a lh o d o to n e l de a m a lg a m a çã o , d o saxe e dos m o in h o s de m a r­
te lo . Recebe 2 8 0 réis p o r hora, o que lhe rende 2 $ 8 0 0 réis p o r dia (3 ,6 0 fra n co s).
A s m ulheres, nas mesas d o saxe, são e n carregadas de a ju d a r o a m a lg a m a ­
d o r em seu tra b a lh o e de e xe cu ta r a lavação das areias. Recebem , cada um a 120
réis p o r hora, o u seja, 1 $ 2 0 0 réis p o r dia (1 ,5 4 francos).
Os peões são e n carre g ad o s dos diversos tra n s p o rte s de areias. São pagos
p o r hora à razão de 2 2 0 réis, o u seja, 2 $ 2 0 0 réis p o r dia (2 ,8 2 fra ncos).
O serviço de clo re ta ç ã o co m p re e n d e duas partes d istin ta s: a u s tu la çã o e a
clo re ta çã o .
N o fo rn o , os seis o p e rá rio s u stu la do re s, tra b a lh a m dois a dois, p o r tu rn o s
de o ito horas, e recebem cada um 3 0 0 réis p o r hora, o q u e lhes re n d e 2 $ 4 0 0 réis
p o r dia de tra b a lh o (3 ,0 8 fra ncos).
O o p e rá rio e n c a rre g a d o da recepção e d o e m p ü b a m e n to da m a d e ira para
q u eim a r, tra b a lh a apenas de dia, das 6 horas da m anhã às 5 horas da ta rd e , com
in te rv a lo de um a h ora para a lm o ça r; recebe 2 5 0 réis p o r hora, ou seja, 2 $ 5 0 0 réis
p o r dia (3 ,2 0 fra n co s).
O tra b a lh o da clo re ta ç ã o é fe ito apenas d u ra n te a sem ana salvo, em raras
exceções, no d o m in g o , e u n ic a m e n te de dia. O m a n ip u la d o r e n ca rre g a d o d o fu n ­
c io n a m e n to dos ap arelho s de c lo re ta çã o recebe 5 0 0 réis p o r h o ra , o u seja, 5 $ 0 0 0
réis p o r dia (6 ,4 0 fra n co s). Seu a u x ilia r recebe 3 0 0 réis p o r hora, o u seja, 3 S 000
réis p o r dia (3 ,8 5 fra n co s).
Os diversos serviços acessórios são realizados de dia, d u ra n te a sem ana,
das 6 horas da m a n h ã às 5 horas da ta rd e , co m in te rva lo de um a hora.
O serviço d o la b o ra tó rio está sob a d ire çã o d o q u ím ico , e n c a rre g a d o ig u a l­
m e n te d o a n d a m e n to da clo re ta çã o Recebe 2 0 0 S 0 0 0 réis p o r m ês (2 7 5 fra n co s).
Um m e n in o v in c u la d o ao la b o ra tó rio recebe 2 5 0 réis p o r h o ra , ou seja, 2 $ 5 0 0 réis
p o r dia (3 ,2 0 fra n co s).
O serviço da fo rja e da o fic in a das m á q u in a s o p e ra trize s é re a liza d o p or:
a) u m m e câ n ico , q u e recebe 12 libras e sterlinas p o r mês, e um a u x ilia r de m e câ ­
nico a 3 0 0 réis p o r h ora, o u seja, 3 $ 0 0 0 réis p o r dia (3 ,8 5 fra n co s); b) dois fe rre i­
ros, u m a 3 5 0 réis, o o u tro a 4 0 0 réis p o r h o ra , o u seja, 3 $ 5 0 0 réis e 4 $ 0 0 0 réis
p o r dia (4 ,5 0 e 5 ,1 2 fra n co s); c) trê s auxiliares de fe rre iro a 2 5 0 réis p o r h ora ou
2 $ 5 0 0 réis p o r dia (3 ,2 0 fra n co s); d) e a p rendizes, q u e nada g a nh a m .
O se rviço da c a rp in ta ria e stá so b a d ire ç ã o d o m e stre c a rp in te iro , q u e
re ce b e 2 0 0 S 0 0 0 réis p o r m ês (2 5 7 fra n c o s ). Os c a rp in te iro s so b suas o rd e n s
g a n h a m 3 0 0 a 3 5 0 réis p o r h o ra , o u seja, 3 $ 0 0 0 a 3 $ 5 0 0 réis p o r d ia (3 ,8 5 a
4 ,5 0 fra n c o s ).
CA PÍTU LO 9 o

P R O D U Ç Ã O DA U S I N A DE TRATAMENTO

1. P re p a ra ç ã o m e c ân ic a

Para o e xe rcício 1 8 9 2 -1 8 9 3 , a p ro d u ç ã o da usina de tra ta m e n to fo i a


s e g u in te :

M in é rio e xtra íd o da m ina 4 6 .0 1 9 to n e la d a s


Estéril re je ita d o 8 .7 9 0
M in é rio tra ta d o 3 7 .2 2 0

Esse m in é rio se d ivid e em :

F rag m en to s m aiores passados nos b rita d o re s 13.151 to n e la d a s


F rag m en to s passados d ire ta m e n te Nos pilões 2 4 .0 7 8
Total 3 7 .2 2 9

O q u e m o stra q u e fo i b rita d o p o u c o m ais de um te rç o do m in é rio tra ta d o .


O tra b a lh o dos pilões nos trê s e n ge n h os, d u ra n te esse m esm o exercício,
fo i fe ito c o m o m o stra a Tabela 11.
D epreende-se dessa ta b e la q u e a p ro d u ç ã o p o r p ilã o e p o r dia é, em m é ­
dia, de 1 to n e la d a . C o n sta ta -se, além d o m ais, um a d ife re n ça n o tá v e l na p ro d u ­
ção p o r p iiã o , para cada um dos dois m o in h o s brasileiros; a p ro d u ç ã o d o e n g e ­
n h o de 2 4 pilões co rre s p o n d e a dois te rço s d a qu e la d o e n g e n h o de 32 pilões.
C o n tu d o , fo ra m co n stru íd o s a p a rtir d o m esm o m o d e lo . Isso se deve a duas c a u ­
sas: a p rim e ira é q u e o p rim e iro e n g e n h o é o m ais a n tig o e fo i c o n s tru íd o em c o n ­
dições precárias, de m o d o , que está d e sga sta d o e a fe ta d o p o r um a vib ra çã o c o n ­
tín u a , q u e a b o rve p a rte de sua fo rç a . C o m o se p re te n d e s u b s titu í-lo em breve,
realizam -se só p e q u e n o s reparos. A se g un d a é que, q u a n d o as sapatas d o s e g u n ­
d o e n g e n h o e stão gastas, são tra n s fe rid a s para o p rim e iro e n g e n h o para que aca­
bem de se desgastar, e n q u a n to n o s e g u n d o e n g e n h o elas são su b stitu íd a s p o r
sapatas novas; o b té m -s e assim para este ú ltim o um e xce le n te re n d im e n to , já que
tra b a lh a em ó tim a s co n diçõ es. É s o b re tu d o esta ú ltim a causa que te m g ra n d e in ­
flu ê n c ia na d ife re n ça das duas p ro d uç õe s. A ssim , para co m p a ra r os dois sistem as
de pilões, de m a d e ira e de fe rro , é preciso to m a r a p ro d u ç ã o m édia dos dois e n ­
g e nh o s brasileiros, para c o n fro n tá -la co m a d o m o in h o c a lifo rn ia n o . V em os que
ela é e xa ta m e n te a m e ta d e .

TABELA 11 . M O IN H O S EXERCÍCIO 1992/1993

N úmero N ú m e r o de N úmero
N úm ero M é d io d e T oneladas M é d io d e
N atureza dos N ú m e r o de
de D ia s P il õ e s e m T ratadas T oneladas
M o in h o s P il õ e s
T rabalhados T rabalho D urante por P il ã o
por D ia o A no e por D ia

M o in h o s b ra sile iro s .24 3 5 0 ,5 2 1 ,2 1 1 .6 9 8 0 ,5 1 9

» 32 3 5 4 ,5 2 9 ,9 4 9 .8 3 4 0 ,8 6 3

Total 56 3 5 2 ,8 5 1 ,1 5 1 4 .5 3 2 0 ,8 0 5

M o in h o s C a lifo rn ia n o s 40 3 6 4 ,5 3 8 ,0 2 2 2 .6 9 7 1 ,5 9 3

Total 96 3 5 6 ,2 8 9 ,1 7 3 7 .2 2 9 1 ,0 7 7

Para ju lg a r q u a l dos dois sistem as é o m ais va n ta jo so , e xa m in a re m o s quais


são os e fe ito s úteis p ro d u z id o s p e lo ch o q u e em cada caso, a d m itin d o p o r um m o ­
m e n to q u e as resistências passivas devidas à fric ã o das hastes e n tre seus guias se­
ja m nulas.
T om arem os co m o peso de um p ilã o seu peso m é d io , le va n do em co n ta o
desgaste da sapata d u ra n te o serviço. O ra, os p ilõ e s de m a d e ira tê m um a sapata
q u e , nova, pesa 9 0 q u ilo g ra m a s e q u e d e p o is d o desgaste, não pesa m ais de 25
q u ilo g ra m a s ; p erde, p o rta n to , 65 q u ilo g ra m a s, o q u e eleva seu peso m é d io para:

2 7 0 - (6 5 T I2 ) = 2 4 7 q u ilo g ra m a s
Q u a n to aos pilões de fe rro , c o m o a sapata nova pesa 83 q u ilo g ra m a s, e
co m o perde 70 q u ilo g ra m a s d u ra n te seu serviço, o peso m é d io de um p ilâ o é de

8 6 3 - (70112) = 3 2 8 q u ilo g ra m a s

Os d a dos necessário para o cá lcu lo são, p o rta n to :

Pilões de m a d e ira Pilões de fe rro


Peso m é d io de um pilão 24 7 q u ilo 3 2 8 q u ilo s
C urso 0,20m 0,20m
N ú m e ro de g o lp es p o r m in u to 60 80

De o n d e se d eduz:

E fe ito ú til de um p ilã o de m a deira: 2 4 7 x 0 ,2 0 x 60 = 2 ,9 6 4 k


E fe ito ú ti! de um p ilã o de fe rro : 3 2 8 x 0 ,2 0 x 8 0 = 5 ,2 4 8 k

T am ando-se as e razões dos e fe ito s te m -se (em p e rce n ta g e m ):

29 64 n 5428 = 56%

Esse re su lta d o te ó ric o não é o b tid o na p rá tica , já que o re n d im e n to do s p i­


lões de m a d e ira é apenas de 5 0 % ; essa d ife re n ça se explica fa c ilm e n te , pois a fri-
cão de um a haste q u a d ra d a de m a d e ira e n tre suas guias é m ais fo rte q u e a de
um a haste re d o n d a de fe rro
A essa va n ta g e m dos pilõ e s c a lifo rn ia n o s acrescentam -se o u tra s . Da m a ­
neira c o m o tra b a lh a m as hastes de fe rro , p o r ro ta çã o d u ra n te o curso, o c o rre um
desgaste m ais u n ifo rm e da sapata re d o n d a , e n q u a n to as hastes de m a d e ira , re ­
c e b e n d o sim p le s m e n te um m o v im e n to de tra n s la ç ã o v e rtica l, caem sem pre na
m esm a posição, de m o d o q u e o desgaste da sapata q u a d ra d a é m ais rá p id o d o
la d o da a lim e n ta ç ã o , o q u e explica a fo rm a em cu n h a que, p o u co a p o u co , essa
sapata a d q u ire (B, Fig. 14). R em edia-se p a rcia lm e n te esse in c o n v e n ie n te v ira n d o
a sapata, q u a n d o ela a tin g e a m e ta d e de seu te m p o de serviço, c o lo c a n d o a p o n ­
ta da cu n h a d o la d o da a lim e n ta ç ã o . A p e sa r disso, o te m p o de serviço to ta l é m e­
n o r q u e o das sapatas re d o nd a s: q u a n d o as duas são fa b rica d a s n o país, a sa p a ­
ta q u a d ra d a de fe rro d u ra trê s meses, e q u a n d o é de aço, sua d u ra çã o é m aior.
C o m o o desgaste das sapatas re d ondas é mais u n ifo rm e , isto p e rm ite u ti­
lizar m e lh o r a massa, quase até a espiga, e n q u a n to se é o b rig a d o a p o r de lado as
sapatas q u adradas an te s q u e to d a a massa te n h a sido co n su m id a . É o que se d e ­
preende da Tabela 12, q u e m o stra o co n su m o de sapatas, bem co m o o dos socos.
Vê-se q u e o desgaste dos socos é m e n o r q u e o das sapatas, o q u e é fá cil
de prever. Enfim,: as despesas das sapatas e socos co m b in a d o s nos pilões c a lifo r­
nianos são, apesar de tu d o , m e n o re s q u e as das sapatas sim ples q u e b a te m sobre
um fu n d o de q u a rtz o nos a lm o fa riz e s de m a d e ira . Por to d a s essas razões, há m o ­
tiv o p ara se p re fe rir o sistem a de pilõ e s c a lifo rn ia n o s . Não são as únicas q u e vêm
m ilita r em seu fa v o r: os pilões de m a d e ira e xig e m , além d o m ais, a presença c o n ­
tín u a de um c a rp in te iro , dia e n o ite , para os p e q u e n o s reparos a fa z e r n o local
nos dois e n g e n h o s de 2 4 e 32 pilões, ao q u e se acrescenta o tra b a lh o dos c a rp in ­
te iro s d e d ica d o s quase c o n s ta n te m e n te à co n fe cç ã o de novas hastes e a sua m o n ­
ta g e m para e n fre n ta r q u a lq u e r e ve n tu a lid a d e .
D e ixa n d o de la d o a q u e stã o de fo rç a necessária a um e n g e n h o em cada
um dos dois sistem as, q u e será tra ta d a em p a rá g ra fo especial, re sta-nos fin a lm e n ­
te e xa m in a r c o m p a ra tiv a m e n te o cu s to d o a rra n jo em um e o u tro caso.
C o m o o e n g e n h o dos 2 4 pilões brasileiros fo i m o n ta d o u tiliz a n d o -s e 12 p i­
lões in sta la d o s pe lo S in d ica to e c o m p le ta d o p o s te rio rm e n te pela C o m p a n h ia ,
co m 12 pilões novos, não é possível avaliar seu cu sto , m esm o a p ro x im a d a m e n te .
A o c o n trá rio , o e n g e n h o de 32 fo i c o m p le ta m e n te c o n s tru íd o pela c o m p a n h ia -
só se a p ro v e ito u a lo ca lizaçã o q u e havia se rvido a n te rio rm e n te para o e n g e n h o de
3 0 pilões da Á n g lo -B ra z ilia n C o m p a n y (V ic to ria S tam ps) - de m o d o q u e as d e spe­
sas para a insta la çã o das fu n d a ç õ e s fo ra m m u ito reduzidas, Os tra b a lh o s de co n s­
tru ç ã o co m e ça ra m no d e c o rre r de 1885; te rm in a ra m em fin s de 1 8 86 . O c o n ju n ­
to fo i p o sto em fu n c io n a m e n to c o m p le to em ja n e iro de 1 8 87 . Todo o m a te rila da
m a d e ira , a roda e a e s tru tu ra fo ra m fe ito s co m m a d e ira da re g iã o e p re p arad o s
no local; a fe rra g e m fo i p ro d u z id a na região, salvo a lg u m a s peças especiais, co m o
as e n gren a g en s e os m ancais d o eixo da roda e dos eixos dos e xcê n trico s, vindos
d o e stra n g e iro . Em co n se qü ê n cia d o m o d o a d o ta d o para a co n stru çã o , não fo i
possível te r um o rç a m e n to das despesas realizadas. O to ta l se elevou a 67 co n tos
de réis, o q u e re p re se n ta - n o c â m b io m é d io 4 9 0 réis p o r fra n c o , em 1 8 85 e 1886
- um a despesa to ta l de 1 3 7 .0 0 0 fra n co s, o u 4 .3 0 0 fra n co s p o r pilão.
A Tabela 13 a p resenta o o rç a m e n to dos 4 0 0 pilões c a lifo rn ia n o s , cuja ins­
ta la çã o necessitou de um e n o rm e c o rte no te rre n o , a v a lia d o em 3 .6 0 0 m e tro s c ú ­
bicos, para p re p a ra r a loca lizaçã o d o c o n ju n to , bem co m o a e d ific a ç ã o de espes­
sas paredes de su ste nta çã o , ta n to para a p la ta fo rm a co m o para os te rre n o s e n ta ­
lhados, em p a rte d e c o m p o s to s e co m risoc de d e sa b a m e n to sob ação das chuvas
to rre n c ia is , q u e caem em certa época do ano.
Para fa z e r a co m p a ra ç ã o dos dois e n ge n h os, é preciso d e d u z ir d o to ta l g e ­
ral, in s c rito na ta b e la , as despesas exigidas para a p re p aração da p la ta fo rm a d o
e n g e n h o , já q u e essas m esm as despesas não e xite m no to ta l da m o n ta g e m d o e n ­
g e n h o de 3 2 pilões, o q u e reduz a 3 0 0 .0 0 0 fra n co s d o m o in h o c a lifo rn ia n o .

Nessas co n diçõ es, te m o s:

Custo do engenho de 32 pilões = 1 3 7.000 francos, ou 4 ,3 0 0 francos p o r pilão


C usto do e n genho de 4 0 pilões = 1 3 7.000 francos, ou 7 .50 0 francos p o r pilão

C o m o um p ilã o b ra sile iro tritu ra 0 ,8 0 5 to n e la d a s p o r dia e um c a iifo rn ia -


no, 1 ,59 3 to n e la d a s p o r dia e le va n d o em c o n ta o cu sto de tritu ra ç ã o de 1 to n e ­
la d a p o r p ilã o e p o r d ia , te re m o s, nos dois casos:

para o p ilã o b ra sile iro = 5 .3 4 2 fra n co s p o r p ilã o -to n e la d a


para o p ilã o c a lifo rn ia n o = 4 .7 0 7 fra n co s p o r p ilã o -to n e la d a

A ssim , c o m p a ra tiv a m e n te , o cu sto da m o n ta g e m dos pilões b rasileiros é


1 3 % m ais caro q u e o dos pilões c a lifo rn ia n o s .
A va n ta g e m destes ú ltim o s é p e qu e n a; é na re a lid a d e s u p e rio r à daqueles, pois o
n ú m e ro a d m itid o para os m esm os deveria ser a inda re d u zid o , p o rq u e fo i levado
em c o n ta to d a s as despesas devidas à c a rp in ta ria , e n q u a n to q u e essas m esm as
despesas fo ra m quase nulas n o caso d o c o n ju n to dos pilões b rasileiros, in s ta la d o
em um local já p re p a ra d o .
A c re d ita m o s te r p o sto em evid ê ncia de m o d o s u fic ie n te , através da co m p a ra çã o
dos dois c o n ju n to s de tritu ra ç ã o de sistem as d ife re n te s in sta la d o s na m esm a
m ina , as v a n ta g e n s q u e a p re se nta o e m p re g o dos pilões c o m p le ta m e n te m e tá li­
cos. Todas as vezes q u e em um a m ina de o u ro n o Brasil os m eios de tra n s p o rte
não vie re m a cria r d ific u ld a d e s in tra n sp o n íve is para levar ao local g ra n d e s peças
de m á q u in a s, será c o n v e n ie n te d a r p re fe rê n c ia ao m o in h o c a lifo rn ia n o .
TABELA 12. D E S G A S T E DAS SAPATAS E S O C O S
D O S PIL Õ ES ( E X E R C Í C I O 1892-1893).

N ú m e r o de sapatas o u
P il õ e s N ú m er o T ratado em T o n a la d a s
Saca s U sadas

5 6 h a ste s d e m a d e ira 1 4 .5 3 2 1 3 6 sa p a ta s

4 0 hastes d e fe rro 22 6 9 7 ^ sa p a ta s
6 6 sacos

2 2 .6 9 7

9 6 hastes 3 7 ,2 2 9

C u s t o de C u sto d a s Sapata o u S oco


C usto s d a s Sapatas o u So co s
T o n e l a d a s por por T o n ela d a s T ratadas

E m R é is Em Franco s Sapata o u So c o E m R é is Em Franco s

4 :6 7 3 $ 6 0 0 5 .9 9 2 1 0 7 ,6 $ 321 0 ,4 1 2

3 :7 5 3 $ 6 0 0 4 .8 1 1 2 6 5 ,7 $165 0 ,2 1 1
2 :4 7 2 $ 6 0 0 3 .1 6 9 3 4 3 ,8 $109 0 ,1 4 0

6 :2 2 5 $ 6 0 0 7 .9 8 0 $274 $ 351

1 0 :8 9 8 $ 6 0 0 1 3 .7 9 2 $293 0 ,3 7 5
TABELA 13. DESPES AS DE IN S T A L A Ç Ã O D O E N G E N H O DE
4 0 PILÕES C A L I F O R N I A N O S

D espesas
D etalhe
E m R é is Em franco s

I. A te rro s e A lv e n a ria ; v ig a m e n to

A te rro s p a ra o p re p a ro da P la ta fo rm a 5 0 :5 0 Q $ 0 0 0 1 0 0 .0 0 0

A te rro s e A lv e n a ria das F u n d a çõ e s, Paredes d e S u s te n ta ç ã o


e R ese rva tó rio s d e A lim e n ta ç ã o , M a te ria l d e M a d e ira , 9 0 :9 0 Q $ 0 0 0 1 8 0 .0 0 0
V ig a m e n to e C o b e rtu ra d o T e lh a d o

Total 1 4 1 :4 0 0 5 0 0 0 2 8 0 .0 0 0

II. M a te ria l m e tá lic o


(4 0 p ilõ e s , 2 tr itu ra d o r e s , tu r b in a e ro d a de
fe r r o , a c c e s ó rio s )

C u s to n a In g la te rra 3 7 :8 7 5 5 0 0 0 7 5 .0 0 0

F re te , tr a n s p o rte s , im p o s to s d e a lfâ n d e g a , e tc . 2 2 :7 2 5 5 0 0 0 4 5 .0 0 0

T o ta l 6 0 :6 0 0 5 0 0 0 1 2 0 .0 0 0

T o ta l G e ra l 2 0 3 :0 0 0 5 0 0 0 4 0 0 .0 0 0

2 . A m a lg a m a ç ã o

A q u a n tid a d e de areias ricas passadas na a m a lg a m a çã o , d u ra n te o exercí­


cio 1 8 9 2 -1 8 9 3 , fo i de 152 to n e la d a s , a p ro x im a d a m e n te . O n ú m e ro de to n e la d a s
de m in é rio , tra ta d o s n o m e sm o p e río d o fo i de 3 7 .2 2 9 to n e la d a s. 0 g ra u de c o n ­
ce n tra çã o das areias a tin g iu cerca de 0 ,4 % .
A Tabela 10 fo rn e c e os re su lta d os da a m a lg a m a çã o . A perda de m e rcú rio
é de 7 8 2 q u ilo s, ou seja, 21 g ra m a s p o r to n e la d a de m in é rio tra ta d o .
O o u ro p ro v e n ie n te da lim p eza dos a lm o fa riz e s de fe rro não é a m a lg a m a ­
d o , m as é p u fific a d o em c o n ju n to co m as bolsas de o u ro b ru to da a m a lg a m a çã o .
É isto q u e explica seu re g is tro na Tabela 14.
TABELA 14. A M A L G A M A Ç Ã O D U R A N T E O E X E R C Í C I O
1892-189 3. M I N É R I O TRATAD O: 57.229 T O N E L A D A S

B is m u t o O uro
A m álg am a (gramas) O uro O uro em
a u r If e r o(g r a m a s )
e x t r a íd o
BRUTO BARRAS
P r o v id ê n c ia Ba rr as de por
Bolsas de Espo n ja s O uro (g r a m a s ) (g r a m a s )
B IS M U T O TO N ELA D A
am álg am a D£ OURO e x t r a íd o T otal T otal
A U R ÍF E R O D E M IN É R IO

Ta n q u e 4 6 8 .6 0 0 1 9 8 .7 9 3 5 2 .1 7 2 1 2 .7 3 0 2 1 .5 2 3 2 0 6 .6 1 6 5 5 ,5

M o in h o de 9 5 .7 0 0 3 3 .7 8 2 3 3 .7 8 2 3 7 .7 8 3 8,9 1

m a rte lo s
L im p e z a dos 5 5 .2 9 0 5 4 .1 2 9 1 ,4 5
a lm o fa riz e s

Total 5 6 3 .7 0 0 2 3 2 .5 7 5 5 2 .1 7 2 1 2 .7 3 0 3 0 0 .5 9 5 2 9 4 .5 2 7 7 ,9 1

3. C lo re ta ç ã o

Passa-se para a c lo re ta ç ã o um a certa q u a n tid a d e de areias co n ce ntrad a s,


q u e representa cerca de 2 % d o pêso do m in é rio tra ta d o .

Desse m o d o obteve-se, para o exercício 1 8 9 2 -1 8 9 3 , os resultados seguintes:

M in é rio tra ta d o 3 7 .2 2 9 to n e la d a s
A reias co n ce n tra d a s, para u s tu la r 780
A reias ustuladas 572
O u ro e xtra íd o p o r c lo re ta çã o 5 4 .0 7 5 gram as
O u ro p o r to n e la d a de m in é rio tra ta d o 1,45
O u ro p o r to n e la d a de areias para u s tu la r 6 9 ,3 0
O u ro p o r to n e la d a de areias u stuladas 1 0 5 ,5 0

A p ro d u ç ã o to ta l de o u ro é a p re se nta d a na Tabela 15.


TABELA 15. P R O D U Ç Ã O DE O U R O N O
E X E R C Í C I O 1982-1983.

O uro e m barras O u r o f in o

Pro v id ê n c ia T ít u l o

E X T R A ÍD O POR TO N ELA D A E X T R A ÍD O POR TO NELADA

Amalgamação gr. gr. gr. gr. gr.


294.527 7,91 914,4 269.342 7,23
Clorização 54.075 1,45 928,2 50.196 1,35
Tota! 348.602 9,36 916,6 319.538 8,58

4. C u sto líq u id o d o tr a ta m e n t o

0 cu s to d o tra ta m e n to d o m in é rio é a p re s e n ta d o de m o d o d e ta lh a d o na
Tabela 16.
A ta b e la m o s tra q u e as g ra n d e s despesas são devidas às p rim e ira s o p e ra ­
ções d o tra ta m e n to ,
De fa to , a p re p a ra ç ã o m ecânica a bsorve m ais de dois te rç o s d o cu sto , e o
re sta n te é d iv id id o e n tre os serviços de a m a lg a m a çã o e de clo re ta çã o , à razão de
u m te rç o para a a m a lg a m a ç ã o e de dois te rço s para a clo riza çã o. 0 p rim e iro ser­
viço exige, p o rta n to , m ais despesas; é ve rd a d e q u e to d o o m in é rio deve passar
p o r ele, e n q u a n to nos o u tro s é tra ta d a um a fra çã o m u ito p e q u e n a das m atérias,
co m o vim o s no p a rá g ra fo p re ce d e n te .
C o m o as despesas de a m a lg a m a çã o e de clo re ta çã o re fe re m -se a um n ú ­
m e ro re d u z id o de to n e la d a s de areias c o n ce n tra d a s, estas devem a p re se n ta r um
te o r de o u ro c o m p e n sa d o r. O te o r m ín im o para p a g a r as depesas especiais da
a m a lg a m a çã o é de 4 0 g ra m a s de o u ro p o r to n e la d a de c o n c e n tra d o ; para a c lo ­
re ta çã o, é de 1 6 g ra m a s p o r to n e la d a de areias a ustular.
Todavia, e n q u a n to a in sta la çã o da a m a lg a m a çã o n o to n e l exige um m a te ­
rial sim ples e p o u c o im p o rta n te , a c lo re ta ç ã o o e m p re g a fo rn o s de u stu la ção e
n u m e ro so s ap arelho s, se bem q u e o uso d o s u lfe to de co b re p e rm itiu reduzí-los.
Os custos da p rim e ira in sta la çã o são p e q u e n o s para o p rim e iro serviço; são mais
TABELA 16. C U S T O D O T R A T A M E N T O N O E X E R C Í C I O
18 92-1 893 M I N É R I O TRATAD Q: 377.229 T O N E L A D A S
( C A M B I O M E D I O : 7 8 0 REIS P O R F R A N C O )
C usto do tratam ento
D e s p e s a s a n u a is
POR TO N ELA D A
N om enclatura

E M RÉIS E M FRANCOS E M R ÉIS E M FRANCOS

1. Q uím ico (trabaiha d u ra n te 6 meses) 1 :1 8 0 $ 0 0 0 1.513 $031 0 ,0 4 0

11. A m a lg a m a ç ã o

M â o d e o b ra 7 :4 1 0 5 0 0 0 9 .5 0 0 $199 0 ,2 5 5

M e rc ú rio 1 :5 8 9 $ 0 0 0 5 .8 8 3 $123 0 ,1 5 8

C o m p o n e n te s A ce ssó rio s 2 :0 1 2 $ 0 0 0 2 .5 8 0 $054 0 ,0 6 9

Total 1 4 :0 1 1 5 0 0 0 17.963 $376 0 ,4 8 2

III. C lo re ta ç ã o

M ã o d e o b ra 7 :5 1 4 5 0 0 0 9 .6 3 3 $201 0 ,2 5 8

M a d e ira p a ra q u e im a r 8 :4 8 4 5 0 0 0 1 0 .8 7 7 $228 0 ,2 9 2

P ro d u to s q u ím ic o s 7 :9 9 8 5 0 0 0 1 0 .2 5 4 $215 0 ,2 7 6

C o m p o n e n te s 6 :5 1 1 5 0 0 0 8 .3 4 7 $ 175 0 ,2 2 4

Total 3 0 :5 0 7 5 0 0 0 39.111 $ 819 1,050

IV. P re p a ra çã o m e c â n ic a e d iv e rs o s

M ã o d e o b ra d e tria g e m 2 1 :3 2 1 5 0 0 0 2 7 .3 3 6 $573 0 ,7 3 5

" tr itu ra ç ã o e lavaçã 2 0 :8 5 9 5 0 0 0 2 6 .7 4 2 $560 0 ,7 1 8

" fo r ja e o fic in a 7 :6 8 2 5 0 0 0 9 .8 4 9 $ 207 0 ,2 6 5

* c a rp in ta ria 7 :9 9 0 5 0 0 0 10.241 $ 215 0 ,2 7 5

Q u ím ic o 1 :1 8 0 5 0 0 0 1.513 $031 0 ,0 4 0

M ã o d e o b ra 7 2 :7 7 9 5 0 0 0 9 3 .9 0 4 1 $ 955 2 ,5 0 6

C o m p o n e n te s d ive rso s 7 0 :9 9 3 5 0 0 0 9 1 .0 1 7 15907 2 ,4 4 5

Total g e ra l 1 4 4 :9 5 2 5 0 0 0 1 8 5 .8 3 4 3S 823 4,991


elevados para o ú ltim o . Pode-se ju lg a r a a firm a tiv a a p a rtir d o cu sto de instalação
da c lo re ta çã o em Passagem , fe ita co m vistas a tra ta r 3 to n e la d a s de areias c o n ­
ce n tra d a s p o r d ia , c o n fo rm e se vê na ta b e la 17.

TABELA 17. C U S T O DA IN S T A L A Ç Ã O DA C L O R E T A Ç Ã O

D e s p e s a s d e in s t a l a ç ã o

N om enclatura

E M RÉIS E M FRANCO S

1. F o rn o d e u s tu la ç ã o ,
A te rro s 2:000$000 4.300
M a te ria l, c o n s tru ç ã o , c o b e rtu ra 5:000$000 10.700
T otal 7:0005000 15.000
II. C lo re ta ç ã o

M a te ria l e n v ia d o da In g la te rra (c u s to e tra n s p o rte ) 10:000$000 21.400


Local d e re s fria m e n to : c o n s tru ç ã o , c o b e rtu ra , c h e g a d a 15:000$0Q0 32.100
d e á g u a , c a n a l d e fu g a

T otal 25:000$000 53.500


T o ta l g e ra l 32:000$GQ0 68,500
CA PÍTU LO 10°

FO RÇA M O T R IZ

A fo rç a m o triz é fo rn e c id a p o r um a qu ed a d 'a g u a de 6 5 ,6 0 m de a ltu ra


co m um a vazão m é d ia de 4 5 0 litro s . A água é o b tid a p o r um desvio de um a p a r­
te d o R ibeirão d o C a rm o , q u e passa ao pé da m o n ta n h a .U m a b a rra g e m de a lve ­
naria, co m v e rte d o u ro de su p erfície , fo i c o n stru íd a . A travessa o rib e irã o no local
ch a m a d o Taquaral, e n tre Passagem e O u ro P re to .U m canal la te ra l de 9 q u ilô m e ­
tro s de c o m p rim e n to a c o m p a n h a a Serra de Ita c o lo m i, para levar água até a m ina .
O canal te m um a seção em fo rm a de tra p é z io , co m la rg u ra de 0 ,8 0 m no
fu n d o e 1 ,2 0 m n o a lto , co m p ro fu n d id a d e de 0 ,9 0 m . Na quase to ta lid a d e fo i
a b e rto em te rre n o de x is to d e c o m p o s to , q u e fo rm a te rra ve rm e lh a , b a sta n te dura
para e n fre n ta r co m p ica re ta , mas sujeitas, sob a ação das chuvas, a d e sa b a m e n ­
to s que o b rig a m a tra b a lh o s de co n s o lid a ç ã o b a s ta n te consideráveis. Q uase não
se atravessa rocha fresca; p o r isso fo i necessário usar d in a m ite n u m a extensão de
1 q u ilô m e tro . Esse canal fo i c o n s tru íd o pela co m p a n h ia a tu a l, m as fo i u tiliz a d o
u m a n tig o canal de 4 q u ilô m e tro s , já e xiste n te , q u e fo ra c o n s tru íd o pela C o m p a ­
nh ia A n g lo -B ra sile ira a fim de tra z e r para a m ina as águas d o Ita c o lo m i; c o n te n ­
ta ra m -se -se em a la rg a r a seção, lig a n d o a p a rte re cé m -co n s tru íd a (ver Fig. 26).
A c o n fig u ra ç ã o dos te rre n o s atravessados p e lo canal e xig iu sua execução
na p o rçã o à m o n ta n te , na m a rg e m esquerda d o rio, passando a m e nos de um
q u ilô m e tro da b a rra g e m , para a m a rg e m d ire ita , p o r m e io de um a q u e d u to de
m a d e ira , de 8 0 m e tro s de c o m p rim e n to . D epois de um o p e ra r seis anos, te ve de
ser s u b s titu íd o d u ra n te o ú ltim o exercício p o r um a q u e d u to de fe rro . O cu sto des­
se canal, b a rra g e m e a q u e d u to de m a d e ira elevou-se a 120 co n to s de réis
(2 4 0 .0 0 0 fra n co s, ao câ m b io m é d io da época), a .saber: 2 0 co n to s para os re p a ­
ros d o a n tig o canal e 100 co n to s para a execução dos 5 q u ilô m e tro s da p a rte
nova. Isto leva a 2 0 c o n to s (4 0 .0 0 0 fra n c o s ) o q u ilô m e tro e xe c u ta d o , co m b a rra ­
gem e a q u e d u to .
D e vid o à má q u a lid a d e d o te rre n o , o canal exige m a n u te n ç ã o c o n tín u a
d u ra n te a estação das chuvas; em ce rtas partes, atravessa te rre n o in stá ve l, o que
exige e fe tu a r tra b a lh o s de alvenaria ou in sta la r tre ch o s de m a deira. Nessas c o n d i­
ções, às despesas de co n s tru ç ã o se a cre sce n tam , a cada a n o, os custos e xig id o s
pelos reparos e m e lh o ria s realizados. A ssim , no ú ltim o exercício, 1 8 9 2 -1 8 9 3 , as
despesas de m a n u te n ç ã o d o canal c h e g a ra m a mais de 2 0 co n to s (2 6 .0 0 0 fra n ­
cos), se ndo preciso a cre sce n tar a in d a as despesas devidas à s u b s titu iç ã o d o a q u e ­
d u to de m a d e ira pe lo de fe rro . O cu sto dessa o b ra é a p re s e n ta d o pela Tabela 18.

TABELA 18. C U S T O A Q U E O D U T O M E T Á L I C O

D e s p e s a s d e in s t a l a ç ã o

N om enclatura

E M RÉIS E M FRANCOS

A lv e n a ria d o s p ila re s e estacas (fu n d a ç õ e s )

E xtração , tra n s p o rte è lo c a liz a ç ã o 1 2 :0 0 0 $ 0 0 0 1 5 ,1 0 0

M a te ria l m e tá lic o

C o m p ra e tra n s p o rte 2 5 ;0 0 0 $ 0 0 0 3 2 .0 0 0

M ã o d e o b ra e a cessórios

M o n ta g e m , m assa, p in tu ra , e tc. 6 :0 0 0 $ 0 0 0 7 .7 0 0

T otal 4 3 :0 0 0 $ 0 0 0 5 5 ,1 0 0

C o m o a s u b s titu iç ã o d o a q u e d u to de m a d e ira se to rn o u d u p la m e n te ne­


cessária em co n se qü ê n cia de seu m au e sta d o e da in su ficiê n cia dé sua seção para
a q u a n tid a d e de água e xig id a pelas necessidades da usina, resolveu-se s u b s titu í-
lo p o r um a q u e d u to m e tá lic o , capaz de resistir p o r m ais te m p o às ações dos a g e n ­
tes a tm o sfé ric o s . Esse ú ltim o é c o m p o s to de duas vigas em tre liç a , e n tre as quais
se e n c o n tra o c o n d u to se m icircular, de 1,50 m e tro s de d iâ m e tro e 73 m e tro s de
c o m p rim e n to , q u e se a p ó ia , a 18 m e tro s acim a d o rib e irã o , so b re q u a tro pilares,
um c o m p le ta m e n te fe ito de a lve n aria e cada um dos o u tro s três, fo rm a d o s p o r
um a p ila stra m e tá lica fix a d a sobre um pedestal de alve n aria (Fig. 60).
A o a tin g ir a m in a o canal é lig a d o ao tre c h o q u e tra z as águas às m á q u i­
nas, p o r um c o n d u to in c lin a d o de tu b o s de aço, co m c o m p rim e n to de 165 m e ­
tro s, que co b re um a d ife re n ça de nível de 14 m e tro s, fo rm a n d o assim um a q u e ­
da de reserva, q u e se p re te n d e u tiliz a r no fu tu ro .
Fig. 6 0 - A q u e d u to m e tá lic o

A f ig u r a e s q u e m á tic a da Tabela 19 m o s tra c o m o a á g u a é d iv id id a e c o m o


a q u e d a é u tiliz a d a .
O ca n a l p r im e ir o b ifu rc a , a f im d e q u e a m a io r p a r te da á g u a passe pela
t u r b in a de c lo re ta ç ã o e pelas ro d a s da b o m b a e da t r a ç ã o m e c â n ic a , e n q u a n t o o
resto a c io n a a p e q u e n a t u r b in a da fo rja . A s á g u a s re u n id a s e m s e g u id a se d iv i­
d e m de n o v o , a m a io r p a r t e p a s s a n d o s u c e s s iv a m e n te s o b re as ro d a s h id rá u lic a s
d o s e n g e n h o s de 2 4 e 3 2 pilões, d e ix a n d o cerca de 50 litros para as la vações e m
cada o fic in a .O re sto vai para a ro d a P e lton, a c io n a n d o as p a n e la s e o a g ita d o r.
R e ú n e m -s e e n f im , para passar em s e g u id a s o b re a ro d a d o e n g e n h o d e 4 0 pilões,
a p ó s s e p a ra ç ã o prévia de 5 0 litro s para as lavações, e f in a lm e n t e s o b re a tu r b in a
q u e a ju d a a ro d a , in s u fic ie n te para e n g e n h o s de 4 0 pilõ e s e os d o is m o in h o s , e m
c o n s e q ü ê n c ia da p e q u e n a q u a n t id a d e d is p o n ív e l de á g u a .

3 28
Q u a d ro 3
A fo rç a to ta l da q u ed a é de 3 0 3 cavalos-vapor, dos quais são u tiliz a d o s ,
para os diversos m o to re s:

Turbina de c lo re ta ç ã o 9 ,3 3 cava lo s-va p o r


Roda de e s g o ta m e n to 11

Roda de e xtra çã o 21
Turbina da fo rja 1 1 ,5 0
Roda d o m o in h o de 2 4 pilões 12
Roda d o m o in h o de 32 pilões 48
Roda de Pelton 30
Roda d o m o in h o de 4 0 pilões 48
Turbina 58
Total 2 8 1 ,8 3 ca va lo s-va p o r

Ressalta dos n ú m e ro s pre ce d en te s q u e a fo rç a to ta l fo rn e c id a aos .56 pilões


de m a d e ira é de 9 0 cavalos-vapor, ou seja, 1 ,64 cavalos p o r pilão, para tritu ra r em
m édia 0 ,8 to n e la d a de m in é rio p o r dia fo rça . A to ta l fo rn e c id a aos 4 0 pilões de fe r­
ro é de 106 cavalos-vapor, ou seja, 2 ,6 5 cavalos p o r p ilã o para tritu ra r em m édia
1,59 t p o r d ia ., A d e m a n da , para tritu ra r 1 to n e la d a p o r dia é de: 2 cavalos p o r p i­
lão n o p rim e iro sistem a, 1,66 cavalos p o r p ilã o n o s e g u n d o sistem a. O b tém -se ,
p o rta n to , um a e co n o m ia de 1 7 % da fo rça e m p re g a n d o os pilões c a lifo rn ia n o s , ra ­
zão que vem se acrescentar às já apresentadas para lhes d a r p re fe rê ncia .

O serviço d o canal co m p re e n d e o se g u in te pessoal:

C a pataz.
M arcen e iros 2
Pedreiros e o p e rá rio s d o s aterros 10
Total 13
Q U A D R O 3. D I S T R I B U I Ç Ã O DA F O R Ç A M O T R I Z

D is tr f lv u t iD n de ia Rare molncc

L — DM &) h-es
M —ffjufcur <k chato &imêtrcst
i
L e g e n d a d o Q u a d ro 3
D is trib u tio n de la fo rc e m o tric e : D istrib u iç ã o da fo rç a m o triz
L - D é b it em litres: L - V azão em litro s
M - H auteur, de c h u te em m étres: M - A ltu ra da qu ed a em m e tro s
T u rb in e de C h lo ru ra tio n : T urbina de c lo re ta çã o
T urbine de fo rg e : Turbina de fo rja
Roue de E xtra ctio n : Roda de E xtração
Roue de E p uisem ent: Roda de E sg o ta m e n to (da água)
Roue des p ilo n s: Roda dos pilões
T u rb in e des p ilo n s: Turbina dos pilões
Roue Pelton des Pans: Roda P elton dos Tanques
Lavage: Lavação
Riviére: R ibeirão

O ca p a ta z e n c a rre g a d o da inspeção d o canal e da execução dos tra b a lh o s


de re p a ro recebe 12 libras e sterlinas p o r mês,
Os c a rp in te iro s tê m de e x e c u ta r os ca n a is de m a d e ira e os re v e s tim e n ­
to s das p a rte s in stá ve is p o r m e io de q u a d ro s . Os p e d re iro s e os o p e rá rio s dos
a te rro s são e n c a rre g a d o s de e x e c u ta r a m o v im e n ta ç ã o da te rra , fa z e r as p a re ­
des de c o n s o lid a ç ã o e de o b s tru ir as fu g a s . São p a g o s à ra zã o de 3 5 0 réis p o r
h o ra e tra b a lh a m d u ra n te de z h o ra s, das 6 h o ra s da m a n h ã às 5 h o ra s da ta r ­
de, c o m in te rv a lo d e u m a h o ra ; re c e b e m , p o rta n to , u m a m é d ia d e 3 $ 5 0 0 réis
p o r d ia (4 ,5 0 fra n c o s ).
CA PÍTU LO 11°

ADM INISTRAÇÃO, ARMAZÉM, SERVIÇO MÉDICO,


ALOJAMENTO, IMPOSTOS, CO N STRUÇÃO ,
PESSOAL, CUSTO

1. A d m in is tra ç ã o , D ire to ria , A lm o x a r ifa d o

À fre n te dos diversos serviços e n c o n tra -s e u m e n g e n h e iro -d ire to r q u e é,


ao m esm o te m p o , o d ire to r g e ra l das o u tra s m inas da c o m p a n h ia , cuja sede so ­
cial é em Londres.
É se cu n d a d o , na m ina de Passagem, p o r um e n g e n h e iro , ch e fe d o serviço
de su p e rfície , e n q u a n to o serviço s u b te rrâ n e o é c o n fia d o a um c a p itã o de m ina.
U m c o n ta d o r é e n c a rre g a d o das escritu ras e d o caixa,
O a lm o x a rifa d o te m s o r tim e n to de to d o o m a te ria l n e c e s s á rio à m in a
e à u sin a .
A d in a m ite e as cápsulas são conservadas em um p a io l in s ta la d o na m o n ­
ta n h a , em um p o n to a fa s ta d o da p ro p rie d a d e .
O carvão ve g e ta l necessário ao a q u e c im e n to da fo rja é a c u m u la d o em um
a rm azé m especial. É fa b ric a d o em m edas d e ita d a s 123, a 12 q u ilô m e tro s da m ina e
le va d o em lo m b o de b u rro em dois cestos de 150 litro s cada. Esse carvão, bem
q u e im a d o e d u ro , é p a g o à razão de 11 $ 5 0 0 réis (1 4 ,7 5 fra n co s) o m e tro cú b ico ,
e n tre g u e na m in a . O peso d o m e tro c ú b ic o é de 2 4 4 q u ilo g ra m a s , o que leva o
p re ço da to n e la d a para 4 7 $ 0 0 0 réis (60 fra n co s); deste p re ço um te rç o represen­
ta o cu sto d o tra n s p o rte , a p ro x im a d a m e n te .

2 . S e rviç o m é d ic o

A c o m p a n h ia in sta lo u um h o sp ita l em u m a casa espaçosa e b e m v e n tila ­


da, s itu a d a a um q u ilô m e tro da m in a , na estra d a de Passagem a M a ria n a . Nele
estabeleceu um m é d ico , a u x ilia d o p o r um e n fe rm e iro e um a e n fe rm e ira . A í se tra ­
ta m fe rid o s , bem co m o os n a tiv o : d o e n te s, e m p re g a d o s na m in a , q u e n ã o tê m
m eios de se tra ta re m em casa.
Se o o p e rá rio q u e so fre u um a cid e n te , n o c a n te iro de obras, p re fe re tra -
tar-se em casa, recebe d u ra n te to d o o te m p o a m e ta d e de seu salário.
A lé m d o m ais, o m é d ic o e um a fa rm á cia são p o stos g ra tu ita m e n te à d is­
po sição d o pessoal e de sua fa m ília , p o r m e io de um a c o n trib u iç ã o m ensal de
1 ,5 % re tira d o dos salários.

3. A lo ja m e n to e h a b ita ç õ e s o p e rá ria s

Todos os e m p re g a d o s su p erio re s da co m p a n h ia recebem m o ria d ia .


No caso dos o p e rá rio s, fo ra m c o n s tru íd a s casas, espécies de g ra n d e s re ­
tâ n g u lo s d iv id id o s em dois, lo n g itu d in a lm e n te , e re p a rtid o s em cô m o d o s q u a ­
d ra d o s de q u a tro m e tro s de la d o , em n ú m e ro de 4 0 a 50 p o r casa. C ada c ô m o ­
d o te m um a ja n e la e u m a p o rta de um la d o , e se c o m u n ic a , d o o u tro , co m seu
s im é tric o p o r m e io de um a p o rta . Para os s o lte iro s , a lu g a -se um q u a rto à razão
de 2 $ 0 0 0 réis p o r m ês. A os casais, a lu g a m -se vá rio s q u a rto s , s e g u n d o o ta m a ­
n h o da fa m ília , à base de 2 S 0 0 0 p o r q u a rto ; a um casal sem filh o s , c o n c e d e m -
se d o is q u a rto s .

4 . Im p o s to s e tra n s p o r te d e o u ro

Os im p o s to s p a gos pela co m p a n h ia são os se guintes:

a ) O im p o s to m u n ic ip a l, q u e é de 1 c o n to de réis (1 .2 8 0 fra n co s), anual.


b ) O im p o s to d o Estado de M inas, q u e é fix a d o pela lei de 2 9 de ju n h o de
18 86 , em 4 0 $ 0 0 0 réis (5 1 ,3 0 fra n co s) p o r cabeça de p ilã o b ra sile iro e 5 0 $ 0 0 0 réis
(6 4 ,1 0 fra n co s) p o r cabeça de p ilã o e s tra n g e iro , q u e representa um to ta l de
4 :2 4 0 $ 0 0 0 réis (5 .4 3 6 fra n co s).
c) O im p o s to de e xp o rta ç ã o , para e x p e d ir para Londres, as barras de o u ro
pro d u zid a s, é p a g o ao g o v e rn o fe d e ra l. Esse im p o s to é de 2 ,5 % sobre o v a lo r f i­
xado pela a lfâ n d e g a para as barras de o u ro co m títu lo u n ifo rm e de 22 q u ila te s
(9 1 7 m ilésim os).
A e xp e d iç ã o d o o u ro é fe ita m e n sa lm e n te . N o exercício 1 8 9 2 -1 8 9 3 , ela fo i
em m édia, p o r mês, de 3 0 q u ilo s de o u ro e 3 q u ilo s de b is m u to , c o n tid o s em b a r­
ras de cin co q u ilo s cada u m a , a p ro x im a d a m e n te , colo ca d as em um a p e q u e n a ca i­
xa de m a d e ira d u ra , p re p arad a para este fim .
A e xp e d iç ã o é fe ita em lo m b o de b u rro , de Passagem a O u ro Preto, e pela
Estrada de Ferro C e n tra l d o Brasil, de O u ro Preto ao Rio de Janeiro.
O fre te p o r estrada de fe rro é baseado na ta rifa de valores c o m re d ução
de 5 0 % no caso de o u ro em barras; essa ta rifa é a se g u in te :
a) até 1 0 0 km , 15 réis p o r Km e p o r c o n to de réis;
b) a lé m de 100 km , 10 réis p o r Km e xce d e n te e p o r c o n to de réis.
C o m o de O u ro Preto ao Rio são 5 4 0 q u ilô m e tro s , o fre te de um c o n to de
réis é de 2 S 9 5 0 réis (3 ,7 8 fra n co s) o u , p o r um q u ilo g ra m a de o u ro , 7 $ 3 7 5 réis
(9 ,5 0 francos).
Na ch e g a d a ao Rio, os a g e n te s da c o m p a n h ia recebem a caixa acim a m e n ­
cio n a d a e fa ze m a sua e xp e d iç ã o para Londres.

5. C o n s tru ç ã o

A lé m dos diversos serviços da m ina , fa lta -n o s fa la r de um serviço extra,


q u e se d is tin g u e c o m p le ta m e n te dos a n te rio re s d e v id o à sua fin a lid a d e : é o das
co n stru çõ es, q u e abarca os novos tra b a lh o s e in stalações e fe tu a d o s , visando
s u b s titu ir aparelho s a n tig o s ou m o d ific a r o tra ta m e n to a d o ta d o . As despesas fe i­
ta s nesse s e n tid o são co b e rta s p o r um a c o n ta especial re tira d a d o ca p ita l da p ri­
m eira insta la çã o e n ã o a fe ta m o cu sto dos tra b a lh o s c o m u n s da m in a . Foi in c lu í­
d o nesse serviço e xtra to d a a insta la çã o de c lo re ta ç ã o c o m p le ta d a a o lo n g o do
a n o de 1 8 90 . A tu a lm e n te há a p ro p o s içã o de s u b stitu ir, n o d e c o rre r d o p ró x im o
exercício, 1 8 9 3 -1 8 9 4 , o e n g e n h o de 2 4 pilões, m u ito v e lh o e de sga sta d o , p o r um
o u tro de 2 0 pilões c a lifo rn ia n o s . Sua lo ca lizaçã o está se ndo p re p a ra d a d o o u tro
la d o d o m o in h o de 32 pilões; as despesas de a te rro e da co n s tru ç ã o d este n o vo
m o in h o serão postas nessa co n ta .
O pessoal e m p re g a d o é n a tu ra lm e n te m u ito variável a cada a n o , já q u e
d e p e n d e da d im e n sã o dos novos tra b a lh o s e xe cu ta d o s d u ra n te o exercício. A ssim ,
no de 1 8 9 2 -1 8 9 3 , o pessoal re d u ziu -se a:

C a rp in te iro s 3
Pedreiros e o p e rá rio s de a terro s 4
Total 7
Postos sob as o rd e n s d o ca p a ta z d o canal, esses o p e rá rio s tra b a lh a m nas
m esm as co n d içõ e s e recebem os m esm os salários q u e os d este setor.

6. Pessoal

O pessoal to ta l e m p re g a d o d is titu i-s e n o s d ive rso s serviços, da s e g u in ­


te m a n e ira :

A d m in is tra ç ã o 6
M ina 306
Usina 27
C anal 13
C o n stru çã o 7
Total d o pessoal 459

Esse pessoal é c o m p o s to , em p a rte , de brasileiros, ne gros o u m u la to s e,


em p a rte , de e stra n g e iro s, na m a io ria ita lia n o s; os chefes de serviço são ingleses,
b em c o m o quase to d o s os capatazes. Para o serviço da m in a , é necessário re fo r­
çar o n ú m e ro d o pessoal para te r sem pre um e fe tiv o em a tiv id a d e , s u fic ie n te .

7 . C u s to . R e s u m o das o p e ra ç õ e s

Para e n ce rra r este e s tu d o so b re a m ina de Passagem, a p re se n to na Tabela


19 o d e ta lh a m e n to d o c u s to p o r to n e la d a de m in é rio tra ta d o nos m o in h o s, re fe ­
re n te aos dois ú ltim o s exercícios.
A ta b e la m o stra , de m o d o e v id e n te , a im p o rtâ n c ia da lavra em relação a
to d o s os o u tro s e ressalta que a tu a lm e n te é para esse serviço q u e de vem se v o l­
ta r to d o s os e sfo rço s vis a n d o d im in u iç ã o d o cu sto . C o m o é a m ã o -d e -o b ra que
absorve sua m a io r p a rte , a so lu çã o está p ro va ve lm e n te na s u b s titu iç ã o d o tra b a ­
lh o m u scu la r d o h o m e m p o r m áq u in a s.
E nfim , pela Tabela 20 p o de-se s e g u ir o a n d a m e n to das operaçõe s da m ina
desde a b ril de 1 8 84 , é p oca em q u e a c o m p a n h ia co m e ço u seus tra b a lh o s em Pas­
sagem , a té o fim d o ú ltim o exercício, em 3 0 de ju n h o de 1893.
Vê-se q u e a m ina esteve em c o n s ta n te p ro gresso a té 1 8 90 , a n o em que
fo i in te ira m e n te c o n clu íd a a in sta la çã o d o m o in h o c a lifo rn ia n o e a d o ta d a a cíore-
ta çã o . G raças às diversas m o d ific a çõ e s in tro d u z id a s na lavra e no tra ta m e n to , fo i
possível d im in u ir de m a n e ira sensível o cu sto ; é o q u e se d e p re e n d e d o exam e das
cifras em fra n co s, se ndo a le itu ra das cifras em réis in flu e n c ia d a de m a n e ira se n ­
sível pelas variações d o câ m b io .

TABELÂ 19. C U S T O GERA L N O S E X E R C Í C I O S


1891-1892 E 189 2-1893

EXERCÍCIO 1 8 9 1 -1 8 9 2 M in é r io t r a t a d o : 3 6 .9 7 9
T O N E L A D A S ( c à M 8 IO M É D IO ! 725 R ÉIS P. F R A N C O )

D e s t in a ç ã o
D e s p e s a s a n u a is C U S TO POR TO N ELA D A

E M RÉIS EM FRANCOS E M RÉIS E M FRANCOS

A d m in is tra ç ã o 2 8 :3 8 7 $ 0 0 0 8 9 .1 5 4 $768 1 ,0 6 0

E x p lo ta çã o 3 8 9 :6 7 8 $ 0 0 0 5 3 7 ,4 8 5 105538 1 4 ,5 3 5

T ra ta m e n to m e c â n ic o e m e ta lú rg ic o 1 0 6 :2 8 7 5 0 0 0 1 4 6 .6 0 0 25874 3 .9 6 4

M a n u te n ç ã o d o ca n a l 1 1 :1 6 3 $ 0 0 0 1 5 .3 9 7 $302 0 ,4 1 7

Im p o s to e c a rre g a m e n to d o o u ro 2 4 :0 6 3 5 0 0 0 3 3 .1 9 0 $650 0 ,8 9 6

G a sto s a ce ssó rio s 1 0 :9 4 7 5 0 0 0 1 5 .0 9 9 $296 0 ,4 0 8

T otal 5 7 0 :5 2 5 5 0 0 0 7 8 6 .9 2 5 155428 2 1 ,2 8 0

EXERCÍCIO 1 8 9 2 -1 8 9 3 M in é r io t r a t a d o : 3 7 .2 2 9 toneladas

(c â m b io m é d io : 725 r é i s p. f r a n c o )

D e s t in a ç ã o
D e s p e s a s a n u a is C usto por to nelada

em RÉIS EM franco s em r é is E M FRANCOS

A d m in is tra ç ã o 3 2 :7 2 8 5 0 0 0 4 1 .9 5 9 $879 1 ,1 2 7

E x p lo ta çã o 4 4 4 :9 5 2 5 0 0 0 5 6 9 .6 4 4 115935 1 5 ,8 0 1

T ra ta m e n to m e c â n ic o e m e ta lú rg ic o 1 4 4 :9 5 2 5 0 0 0 1 8 5 .8 3 4 35893 4 ,9 9 1

M a n u te n ç ã o d o c a n a i 2 0 :5 0 7 5 0 0 0 2 6 .2 9 1 $550 0 ,7 0 5

Im p o s to e c a rre g a m e n to d o o u ro 1 9 :6 4 3 5 0 0 0 2 5 .1 8 3 $528 0 ,6 7 7

G a sto s a ce ssó rio s 1 1 :7 1 3 5 0 0 0 1 5 .0 1 7 $315 0 ,4 0 4

Total 6 7 3 :8 6 5 5 0 0 0 8 6 3 .9 2 8 185100 2 3 ,2 0 5
TABELA 2 0 . R E S U M O DAS

E x e r c íc io N úm ero de T oneladas P il õ e s Pr odução de o uro em barras

N úm ero
N úm ero de A m alg a ­ POR
M É D IO DE C lore­
E x t r a íd a s R e j e it a d a s T ratadas D IA S DE m ação T o tal T O N E LA D A
PILÕ ES tação
TRABALHO gram as TRATADA
P O R D IA

1 8 8 4 -1 8 8 5 4 .6 6 0 gram as gram as gram as

1 8 8 5 -1 8 8 5 3 .6 8 6 1 .2 3 6 3 .4 2 4 4 5 6 (a) 12 5 4 .5 8 2 5 4 .5 8 2 15,9

1 8 8 6 -1 8 8 7 1 4 .9 1 5 1 .0 2 4 2 .6 6 2 365 2 4 (b) 6 2 .5 8 4 6 2 .5 8 4 2 3 ,5

1 8 8 7 -1 8 8 8 29.961 3 .9 9 9 1 0 .9 1 6 36 5 4 0 ,8 7 (c) 173.681 173.681 16

1 8 8 8 -1 8 8 9 2 9 .7 9 8 1 1 .8 7 5 1 8 .0 8 6 366 53,3 2 5 9 .2 4 9 2 5 9 .2 4 9 14,3

1 8 8 9 -1 8 9 0 3 5 .7 2 7 5 .9 8 5 2 3 .8 1 3 362 6 7 ,4 (d) 3 0 8 .8 9 4 3 0 8 .8 9 4 13

1890-189 1 4 6 .6 1 7 7 .2 4 2 2 8 .4 8 5 3 5 4 ,5 7 5 ,4 2 (e) 3 5 9 .9 6 2 1 0 .0 6 2 (g) 3 7 0 .0 2 4 12,7

1 8 9 1 -1 8 9 2 4 6 .2 4 3 9 .0 7 4 3 7 .5 4 3 3 6 1 ,5 8 9 (f) 4 0 2 .2 5 2 4 6 .5 8 8 4 4 8 .8 4 0 12

1 8 9 2 -1 8 9 3 4 6 .0 1 9 9 .2 6 4 3 6 .9 7 9 3 5 8 ,5 91,1 3 0 7 .0 6 8 4 1 .4 5 7 3 4 8 .5 2 5 9 ,4

Total 2 5 7 .6 2 6 8 .7 9 0 3 7 .2 2 9 3 5 6 ,2 8 9 ,1 7 2 9 4 .5 2 7 5 4 .0 7 5 3 4 8 .6 0 2 9 ,4

5 8 .4 8 9 1 9 9 .1 3 7 ' 2 .2 2 2 .7 9 9 152 .1 8 2 2 .3 7 4 .9 8 1 1 1,9

(a ) As op eraçõe s da m ina co m e ça ra m em a b rii de 1 8 84 , o p rim e iro exer­


cício d u ro u 15 meses, de a b ril de 1 8 84 a 3 0 de ju n h o de 1885. O s exercícios se­
g u in te s tive ra m d u ra çã o de 12 meses, de 1o de ju lh o a 3 0 de ju n h o d o a n o se­
g u in te .
(b ) O m o in h o de 2 4 pilões estava p ro n to no co m e ço do p e río d o , m as fu n ­
cio n o u irre g u la rm e n te , p o r causa da fa lta de água.
(c) O m o in h o de 32 pilõ e s fo i co lo ca d o em o p e ra ç ã o , m e ta d e em o u tu ­
b ro de 1 8 86 e m e ta d e em ja n e iro de 1887.
(d ) O m o in h o de 4 0 pilões te ve 10 pilõ e s o p e ra n d o em o u tu b ro de 1 8 88
e 10 o u tro s em d e z e m b ro de 1888.
OPERAÇÕES DA M IN A

Preçoo de r even d a por


Valor da produção D e s p e s a s a n u a is
V a r ia ç ã o TO N ELA D A TRATADA

M É D IA DE
RÉIS P A R A
FRANCO
E M RÉIS E M FR A N C O S E M RÉIS E M FR A N C O S E M RÉIS E M FR A N C O S

50 0 85:125SOOO 1 7 0 .2 5 0 109:8505000 2 1 9 .7 0 0 325082 6 4 ,1 6

50 0 88:525$000 1 7 7 .0 5 0 124:9925000 2 4 9 .9 8 4 465954 93,91

440 250:2765000 5 7 3 .5 5 0 233:7445000 5 3 1 .2 3 6 215413 4 8 ,6 7

405 357:7085000 8 8 3 .2 0 5 316:5805000 7 8 1 .6 7 9 165906 4 1 ,2 5

353 .356:4245000 1 .0 0 9 .7 0 0 323:321.5000 9 0 9 .3 2 5 135573 3 8 ,1 0

384 456:8165000 1 .1 8 9 .6 2 5 352:4695000 9 1 1 .0 0 0 125374 3 2 ,1 0

468 659:4945000 1 4 0 9 .1 7 5 485:5085000 1 .0 3 0 .4 2 5 125932 2 7 ,5 0

725 791:6645000 1 .0 9 1 .9 5 0 570:5255000 7 8 6 .9 2 5 155428 2 1 ,2 8

780 848:6405000 1 .0 8 8 .0 0 0 673:8655000 8 6 3 .9 2 8 185100 2 3 ,2 0

3.894:672500 7 .5 9 2 .5 0 5 3.190:854500 6 .2 8 4 .2 0 2 165023 3 ,55

(e ) 10 novos pilõ e s passaram a o p e ra r n o m o in h o d e 4 0 pilões, em fe v e ­


reiro de 1891.
(f) Os 10 ú ltim o s pilõ e s d o m o in h o de 4 0 pilões to rn a ra m -s e o p e ra tivo s
em ju lh o de 1890
(g ) A clo re ta çã o co m e ço u a o p e ra r em d e z e m b ro 1889
A p ro d u ç ã o a lcançou um m á x im o em 1890. Diversos a p e rfe iç o a m e n to s in tro d u ­
zidos no m é to d o de tra ta m e n to , c o m o vim o s no c o rre r deste e stu d o , a ca rre ta ra m
esse re su lta d o ; essa p ro d u ç ã o não se m a n té m co n sta n te a p a rtir desse m á xim o ,
p o r causa da re d ução d o te o r d o m in é rio tra ta d o nestes ú ltim o s anos. N o início,
q u a n d o só e xistia m os dois m o in h o s b rasileiros, co m o só se p o d ia tra ta r pequena
q u a n tid a d e de m in é rio , p re fe ria -se passar aos pilões apenas m in é rio rico, e para
ta l se fa zia um a tria g e m cuidadosa, a fim de e lim in a r o q u a rtz o pobre.F oi so m e n ­
te a p a rtir de 1 8 88 q u e co m e ço u a passar o q u a rtz o b ra n co co m as p a rte s p irito -
sas do m in é rio e, nessa é poca, o te o r se elevava a 2 4 gram as p o r to n e la d a , da
q u ai se re tira va m n o m á xim o 15 gra m a s. H oje, de um m in é rio cu jo te o r se re d u ­
ziu para 15 gram as, chega-se a re tira r 10 gram as. A perda em o u ro , que era de
4 2 % , reduziu-se, p o rta n to , para 3 4 % . Esses re su lta d os são d e vid os a um tra ta ­
m e n to m ais a p e rfe iç o a d o , e servem para in c e n tiv a r as pesquisas, co m re su lta d os
buscados c o n s ta n te m e n te pe lo d ire to r da m ina.
CA PÍTU LO 12°

A P Ê N D IC E AO TRATAMENTO M E C Â N IC O E
M ETA LÚ R G ICO

Desde que o e s tu d o sobre o tra ta m e n to d o m in é rio de Passagem fo i e scri­


to , ch e go u -se , em co n seqüência de e xp eriê n cia s desenvolvidas na m ina no d e c u r­
so do a n o de 1 8 9 3 , a s im p lific a r a m archa das operações, pela supressão da a m a l-
gam ação.
Nas C onsiderações té cn ica s re la tiva s a o tra ta m e n to d o m in é rio (C a p ítu lo
7, Seção 4), in d ica m o s a d ific u ld a d e e xiste n te para s u p rim ir a a m a lg a m a çã o . A tra ­
vés de testes re p e tid o s co m as areias que se d e p o sita va m sobre as p rim e ira s m e ­
sas na saída dos piiões, ch e go u -se a c o n s ta ta r q u e os d e p ó sito s na cabeceira das
mesas c o n tin h a m a m a io r p a rte d o o u ro livre, e n q u a n to o resto dos d e p ó s ito s era
c o m p o sta de p irita s q u e c o n tin h a m p o u c o o u ro . Teve-se, e n tã o , a idéia de p ô r na
cabeceira de cada mesa g ira tó ria u m a te la m óvel sobre a q u al se d e p o s ita m as
areias ricas, co n ce n tra d a s n o v a m e n te nas segundas mesas de lavação; os d e p ó s i­
to s das telas dessas ú ltim a s mesas são sim p le s m e n te lavados na b ateia, para se­
p a ra r o o u ro livre, e n q u a n to as areias e m p o b re cid a s são enviadas d ire ta m e n te
para a clo re ta çã o .
O tra ta m e n to das a reias é, p o rta n to , re d u z id o a u m a la vação na b a te ia
para se re c o lh e r o o u ro livre e a um e n riq u e c im e n to s o b re as m esas p ara se o b ­
te r c o n c e n tra d o s , q u e passam to d o s p ara a c lo re ta ç ã o . Tem -se u m a q u a n tid a ­
de um p o u c o m a io r de a reias p ara u stu la r, m as o n ú m e ro das o p e ra ç õ e s é bem
d im in u íd o .
A fig u ra da Q u a d ro 4 p e rm ite se g u ir as diversas fases d o tra ta m e n to e,
p o r c o m p a ra ç ã o c o m a fig u ra da Q u a d ro 2, a p re s e n ta d o em fu n ç ã o d o tr a ta ­
m e n to a p lic a d o a n te rio rm e n te , p o de-se fa z e r u m a idéia c o m p le ta das s im p lific a ­
ções e fe tu a d a s.
As areias, d e po is de passaram sobre as p rim e ira s mesas, separam -se em
três ca te g o ria s, to d a s su b m e tid a s a um a nova co n ce n tra ç ã o : a) as areias ricas,
p ro ve n ie n te s das telas de cabeceira, vão para um a caixa de d is trib u iç ã o e passam
para as segundas mesas, o n d e são re tidas as areias m u ito ricas, e n q u a n to os resí-
Q U A D R O 4. T R A T A M E N T O D O M IN E R A L 18 94
(D U R A N T E UM J O R N A D A DE 2 4 HORA S)

Traitem ent du Minerai

en 1 8 3 4

S t í r i in
"tTsS (alorrvüre) .

T . ÍCS^G. 1800
ik

1
■--------------- - Í S i w » ’» u w u w c g ta e S / u u u ^ e i .
T. 0 , 800=a. 1000 (1250 C. p ar T) T. 10-G. 2 4 0 « 4 G . p ar T ) T. 5 4 ,2G0--a 33 3 & 8 0, p ar T)i

R íjtts
la r i vibre)

C f 5 Ò S ü itc » r a w n d ----- — ——
T.O)TOO-G. 100 (l43G -parT) T. 0,300-^. 130 ^44Gf. p a r T ) T.0,8C 0*G . 60 f S G . p arT )

T. 0, lOÍMr. 900 $00 0 G. p a r T .) * t 2,400=>G. 290 Ú2Í <fc p a r T )

1
I______
•.0,4ecG.»0(IODO&
T 1 ,7 5 0 *5 :
f - o u i f í <for t>p>W
« . 890

Cr f« iar*e:
<3.1150 (sa,9D 5- p t t pJsU v* f it ü t i*

0 r f r é if it é
ITêuãjton]»--- -
" t ' Í/Í&t-G- 40 í‘4 ) a pai* T )
Q. 3ò0
Liqueur chl<mire<Ftr

342
L e g e n d a d o Q u a d ro 4
T raite m en t du m inerai em 1884 (p e n d a n t une jo u rn é e de 2 4 heures): Tratam ento
d o m in é rio em 1884, d u ra n te jo rn a d a de 2 4 horas.
M inerai ve n an t de Ia m ine: M in é rio proveniente da m ina.
C riblage e tK Ia u b a g e : P eneiram ento e Escolha m anual
Stériles (a la riviere): Estéreis (para o rio)
M enus: Finos
Concasseur: B rítador
Bocards: M o in h o s
le re sT o ile s : Primeiras telas
1s Tables Retilignes: Primeiras mesas retilíneas
2s (3s, 4s ) Tables retilignes: Segundas (Terceiras, Q uartas) mesas retilíneas
Caisse de d é p ô t: Caixa de depósito
Rejets (à Ia rivière): Rejeitos (para o rio)
Résidus de sables riches: Resíduos de areias ricas
Sables concentrés: Areias concentradas
Sables trés riches: Areias m u ito ricas
Four de grillagé: U stulador
Sables à griller: Areias para ustular
Sables grillés: Areias ustuladas
Poudre d 'o r im pu r: Pó de o u ro im p u ro
Tonneau de C h lo ru ra tio n : Tonel de cloretação
O r en barres: O uro em barras
Liqueur chlorisse d 'o r e t résidus paures: Licor de clo re to de o u ro e resíduos pobres
Résidus (à Ia rivière): Resíduos (para o rio)
O r précípíté: O u ro p re cipitado
Liqueur ch lo ru re d 'o r: Licor de clo re to de o u ro
P récipitation: Precipitação
du os se a c u m u la m em caixas de d e p ó s ito situadas a se guir; b) as areias densas re­
tid a s sobre as p rim e ira s mesas vã o ig u a lm e n te para um a caixa de d is trib u iç ã o e
passam para as terceiras mesas, o n d e são re tid a s as areias co n ce n tra d a s, e n q u a n ­
to as fin a s vão para o rio; c) e n fim , as areias po bres {ta ilin gs ), q u e escaparam à
ação das p rim e ira s mesas, passam d ire ta m e n te para as q u a rta s mesas, o n d e é re­
tid a um a p a rte das m esm as sob a fo rm a de areias co n ce ntrad a s, e n q u a n to os re ­
síduos po bres co rrem para o rio.
As areias m u ito ricas vã o para a lavação na b a te ia e um a vez d e se m b a ra ­
çadas do o u ro livre, são enviadas para o fo rn o de ustu la ção , o n d e passam ig u a l­
m e n te os resíduos a cu m u la d o s nas caixas de d e p ó s ito das segundas mesas, bem
co m o as areias co n c e n tra d a s das te rce ira s e q u a rta s mesas.
A seqüência do tra ta m e n to é a m esm a já vista a n te rio rm e n te . A ssim , o c o r­
re supressão c o m p le ta da a m a lg a m a çã o e das operações q u e dela d e p e n d e m ,
c o m o o a b a n d o n o da p u lve riza çã o nas bacias. Reaiiza-se um e co n o m ia c o n s id e ­
rável de m ã o -d e -o b ra , devida às diversas m a n ip u la çõ e s e xig id a s p e lo e m p re g o da
a m a lg a m a çã o , q u e é, em p a rte , co m p e n sa da pe lo a u m e n to d o pessoal necessá­
rio à lavação das areias na b a te ia ; em co m p e n sa ção , não se te m m ais perda de
m e rcú rio , de m o d o q u e a e c o n o m ia nesse aspecto é c o m p le ta . E n fim , um a v a n ­
ta g e m co n siderável é devida à m e lh o ria d o re n d im e n to , o q u e é e vid e n c ia d o pe lo
q u a d ro e s q u e m á tico d o tra ta m e n to , que m o stra q u e a perda cai para 2 8 % ; em
co m p a ra çã o co m a Tabela 5, vê-se de fa to q u e a s im p lifica çã o tra z id a ao tr a ta ­
m e n to p e rm itiu re d u z ir a perda de 3 4 para 2 8 % .

Eis, de resto, os re su lta d os o b tid o s co m o n o vo tra ta m e n to :

EXERCÍCIO 1 8 9 3 -1 8 9 4

M in é rio e xtra íd o da m ina 4 4 .6 7 4 to n e la d a s


R ejeitos 7 .5 5 5
M in é rio tra ta d o nos pilões 3 7 .1 1 9
P rodução de o u ro em barras:

O u ro livre 3 0 0 .6 2 3 gram as
O u ro de clo riza çã o 1 0 2 .4 4 4
O u ro to ta l 4 0 3 .0 6 7

Teor de o u ro p o r to n e la d a tra ta d a 1 0 ,8 5 g ra m a s
V a lo r d o o u ro to ta l 1 .2 0 5 .5 0 0 fra n co s

A o se co m p a ra r este ú ltim o exercício co m o p re ce d e n te , d u ra n te o qual se


tra to u um m in é rio de te o r quase ig u a l, vê-se q u e o a u m e n to da p ro d u ç ã o de o u ro
fo i de m ais de 54 q u ilo g ra m a s .
Essa s im p lific a çã o de tra ta m e n to será a m p lia d a em se g uida , p e lo e m p re ­
g o geral das mesas de Frue (F rue -V a n n er), que d e ra m excelentes re su lta d os na
c o n c e n tra ç ã o das p irita s e que p e rm ite m a supressão das te rce ira s e q u a rta s m e ­
sas de lavação
Há a lg u m te m p o , a c o m p a n h ia se p ro p u n h a s u b s titu ir o e n g e n h o de 2 4
pilões b rasileiros, já v e lh o e fu n c io n a n d o m al, p o r um e n g e n h o de 2 0 pilões c a li­
fo rn ia n o s , de tip o S a n d ycro ft, co m mesas de Frue em lu g a r de mesas g ira tó ria s.
Esse p ro je to acaba de ser e x e c u ta d o e, em fim de ju n h o , c o m p le to u -s e a in s ta la ­
ção d o n o v o e n g e n h o , s itu a d o ao la d o d o e n g e n h o de 32 pilões, n u m a lo ca liz a ­
çã o d ife re n te d o e n g e n h o de 2 4 pilões, o q u e p e rm itiu fu n c io n a r este ú ltim o até
o fim só in te rro m p e n d o o a n d a m e n to dos diversos m o in h o s d u ra n te dois dias
para m o d ific a r o flu x o das águas m o trize s.
O n o vo m o in h o co m p re e n d e 2 0 pilões postos em m o v im e n to p o r um a tu r ­
b in a e d isp o sto s p o r b a te ria s de cin co , in d e p e n d e n te s um as das o u tra s; a massa
lavada, em sua saída dos a lm o fa riz e s dos pilões, passa sobre m esas d o rm e n te s
co m telas de 0 ,5 0 m de c o m p rim e n to , sobre as quais se d e p o s ita m as areias ricas,
c o n te n d o o o u ro livre, q u e são co n c e n tra d a s so b re as segundas mesas e enviadas
para a área de Javação na b a te ia ; depois, a massa lavada c o n tin u a sua m a rcha e
passa sobre mesas de Frue, em n ú m e ro de 8, duas p o r b a te ria , para separar c o m ­
p le ta m e n te as p irita s das areias m ais leves, levadas para o rio.
Os resíduos das segundas mesas e as p irita s p ro v e n ie n te s das mesas de
Frue são enviadas d ire ta m e n te para o fo rn o de u stu la ção a fim de serem su b m e ­
tid a s ao tra ta m e n to p o r clo re ta çã o . A ssim , nessa nova in sta la çã o , re a lizo u -se um a
m a io r s im p lifica çã o de e q u ip a m e n to s e de m a n ip u la çã o , o q u e p o de ser p o s to em
evid ê ncia p e lo exam e da ta b e la 22 (ú ltim o tra ta m e n to ), n o ta n d o q u e as mesas de
Frue s u b s titu e m , sozinhas, a quela p a rte das p rim e ira s mesas que segue as p rim e i­
ras telas, e as te rce ira s e q u a rta s mesas.
Eis os re su lta d os d o tra ta m e n to d u ra n te o p rim e iro m ês de fu n c io n a m e n ­
to d o n o vo e n g e n h o :

JULHO 1894

M in é rio e xtra íd o da m ina 4 .6 8 3 to n e la d a s


Rejeitos 702
M in é rio tra ta d o nos pilões 3.981

P rodução de o u ro em barras:

O u ro livre 3 3 .5 6 6 gram as
O u ro de c lo re ta çã o 8 .0 8 8
O u ro to ta l 4 1 .6 5 4
R e n d im e n to de o u ro p o r to m elada tra ta d a 1 0 ,4 6 gram as

V a lo r d o o u ro to ta l 1 2 4 .9 0 0 fra n co s

Vê-se q u e o n ú m e ro de to n e la d a s tra ta d a s m e n s a lm e n te e a c o rre s p o n ­


d e n te p ro d u ç ã o de o u ro , a u m e n ta ra m de um a m a n e ira sensível, pois, to m a n d o os
n ú m e ro s o b tid o s d u ra n te o m ês de ju lh o c o m o base, te ría m o s d u ra n te um ano:

M in é rio tra ta d o : 4 7 .7 7 2 to n e la d a s
P rodução de o u ro 4 9 9 .8 4 8 g ra m a s (em barras)
Em bora os novos e q u ip a m e n to s , d u ra n te o p rim e iro m ês de fu n c io n a m e n to , não
te n h a m a lca n ça do o re n d im e n to q u e deles se p o de esperar, q u a n d o em fu n c io ­
n a m e n to re g u la r p o d e m o s, to d a v ia , co m p a ra r os n ú m e ro s o b tid o s co m aqueles
dos trê s ú ltim o s exercícios, d u ra n te os quais o m in é rio tra ta d o fo i de um te o r mais
ou m enos co n sta n te . V e rifica m -se as v a n ta g e n s alcançadas p e lo n o vo tra ta m e n to
e o a u m e n to da p ro d u ç ã o d e v id o ao e m p re g o dos novos a p a re lh o s (Tabela 21).

TABELA 21. D A D O S C O M P ARA TIVO S DE P R O D U Ç Ã O


DE M I N É R I O E R EC U P ER A Ç Ã O DE O U R O

Pr o d u ç ã o de O uro e m Barras
V alor da
E x e r c íc io M i n é r io t r a t a d o
produção
POR TO N E LA D A
total
TRATADA

to n e la d a g ra m a s g ra m a s fra n c o s

1 8 9 1 -1 8 9 2 3 6 .9 7 9 3 4 8 .5 2 5 9 ,4 0 1 .0 9 1 .9 5 0

1 8 9 2 -1 8 9 3 3 7 .2 2 9 3 4 8 .6 0 2 9 ,4 0 1 .0 8 8 .0 0 0

1 8 9 3 -1 8 9 4 3 7 .1 1 9 4 0 3 .0 6 6 1 0 ,8 5 1 .2 0 5 .5 0 0

J u lh o 1 8 9 4 x 12 4 7 .7 7 2 1 4 4 9 .8 1 8 1 0 ,4 6 1 .4 9 8 .8 0 0

C reio te r p o s to em e vid ê n c ia as m e lh o ria s sucessivas, alcançadas n o tra ta m e n to


d o m in é rio , devidas às pesquisas incessantes d o d ire to r da m ina , ao q u al expres­
so, ao co n clu ir, m eus a g ra d e c im e n to s p o r to d a s as fa cilid a d e s q u e e n c o n tre i ju n ­
to ao m esm o, a fim de levar a te rm o este e s tu d o sobre a m ina de Passagem.
NOTAS

Há g ra n d e n ú m e ro de citações, em no ta s de pé de p á gina da o b ra de W .
L. Eschw ege, P lu to Brasiliensis, no tra b a lh o de P. Ferrand,. As citações, em sua
m a io r p a rte , referem -se à títu lo s de ca p ítu lo s d o P lu to e e stão em a le m ã o . Há um a
tra d u ç ã o fe ita p o r D o m íc io de F ig u e ire d o M u rta , que to m a m o s co m o re fe rê n cia ;
desse m o d o , as citações de E schw ege, o rig in a lm e n te em a le m ã o , vêm aqui
tra d u zid a s . Em a lg u ns casos a p re se n ta m o s um a tra d u ç ã o a lte rn a tiv a (fe ita p o r F.
E. Renger e revisada p o r J. H. G rossi Sad), que ju lg a m o s m ais a d e q u a d a q u e a q u e ­
le p u b lica d a . Nas no ta s q u a n d o aparece m e n c io n a d o o n o m e E schw ege, isolado,
0 te x to de re fe rê n cia é o P lu to Brasiliensis.
A s o b ra s cita d a s, do s d ive rso s a u to re s , c o n s ta m das "R e fe rê n cia s
B ib lio g rá fic a s ", P. Ferrand é um dos poucos a u to re s a n tig o s q u e fo rn e c e m b ib li­
o g ra fia (inclusive n ú m e ro da p ágina d o te x to c o n s u lta d o ). C o n tu d o , em a lg u ns
casos, fa lta m dados na m esm a. Por isso, a b ib lio g ra fia fo i d e tid a m e n te exa m in d a
e c o m p le ta d a p o r F. E. Renger.
O revisor p re fe riu n u m e ra r de m o d o c o n tín u o as no ta s de pé de p á g in a do
te x to o rig in a l. Estão n u m e ra d a s de 1 a 123 e id e n tific a d a s em relação à p a rte do
te x to a q u e se re fe re m (P rim eira, S egunda ou Terceira Parte).

P rim e ira P a rte

1 Sertões, regiões m o n ta n h o sa s, co b e rta s de espessas flo re s ta s e desabitadas.


2 C a ste ln a u. p. 2 2 0 .
3 Ja cu tin g a . C am adas friá ve is de areia b rilh a n te , c o m p o sta de q u a rtz o em grãos
fin o s e de fe rro especular. V er G lossário.
4 Eschege.
5 M iliie t de S a in t-A d o lp h e .
6 C o u to
7 G orceix; B ovet; M ezger.
8 Ja cu tin ga . N om e d e riva d o da ave cuja p lu m a g e m exibe asp ecto se m e lh a n te , tip o
de p in ta d a selvagem .
9 B ovet
10 C o u to
11 P o rto S eguro
12 E schw ege. "Espécies e m é to d o s de m in e ra ç ã o " (p. 167, V ol. 1). Tradução mais
a d e q u a d a : "M é to d o s e tip o s de fu n c io n a m e n to das escavações para o u ro " .
13 Eschwege
14 Um v in té m representava 3 7 ,5 réis: co m e fe ito , um v in té m c o rre sp o n d e a 1/32
da o ita va (3 ,5 8 6 g) o u 0 ,1 1 2 g e a o ita va valia 1 2 00 réis de o u ro . V u lg a rm e n te
o peso de um v in té m é ig u a l ao de um g rã o de fe ijã o (fava negra).
15 P orto S eguro
16 E schw ege
17 P orto S eguro
18 U m cru z a d o vale 4 0 réis. N o c â m b io para 1 $ 0 0 0 réis e q ü iva le a 2 ,8 3 fra n co s ; 1
(u m ) c o n to de reis (1 :0 0 0 $ 0 0 0 ) e q üivale a 2 8 3 0 fra n co s. Em co n se qü ê n cia , 4 0 0
reis ou um cru za d o e q üivalem a 1,15 fra n co s, 3 6 .0 0 0 cruzados a 4 1 4 0 0 francos.
19 E schwege. "S erviços em d e p ó s ito s dos va le s" (p. 176, V ol. 1).
20 Eschwege. "S erviços nas serras, em cam adas e v e io s ". M e lh o r tra d u ç ã o : "Se
q u a rtz o a u rífe ro ".
21 Eschwege. "Lavagem nas canoas te rm in a d a s em p la n o in c lin a d o " (p. 182, Vol. 1).
M e lh o r tra d u ç ã o : "L a vação nas canoas a g ita d a s c o m m esas planas in c lin a d a s ."
22 Eschwege. "L a va ge m nos b u lin e te s ou canoas ap efe iço a d as, a d o ta d a s para o
cascalho e fo rm a ç ã o fe rrífe ra " (p. 18, V ol. 1), M e lh o r tra d u ç ã o : "L a va ção nos
b o lin e te s o u a g ita d o re s a p e fe iço a d o s , e sp e c ia lm e n te para o cascalho e veios-
cam adas (F o rm a çã o )".
23 O b o lin e te le m b ra m u ito o caixão a le m ã o , p o r sua fo rm a e m o d o de tra b a lh o ,
pe lo m enos no que co n ce rn e à d e sla m a g em .
24 Eschwege. "A p u ra ç ã o d o o u ro nas b a te ia s " (p. 187, Vol. 1).
25M a racuja-assu: Passiflora q u a d o a n g u la ris. Ju ru b e ba : S o la nu m p a ssicu la tu m .
Enxota e p e g a d e ira , co m p o sta s d o g ê n e ro E n p a to riu m .
26Eschw ege. "A m a lg a m a ç ã o ".
27 Eschwege. "B rita g e m e p u lve riza çã o das rochas auríferas c o m p a c ta s " (p. 191,
V ol. 1). M e lh o r tra d u ç ã o : "B rita g e m e m o a g e m das ro ch a s a u rífe ra s ",
28 Ferreira
29 Eschwege. P rim eira Parte, C a p ítu lo 2. "D e s c o b e rta d o o u ro na Província de
M ina s G erais, N otícia sobre sua e xtra çã o e a p u ra ç ã o " {p. 2 7 , V ol. ). M e lh o r
tra d u ç ã o : P rim eira Parte, C a p ítu lo 2. "H is tó ria da d e s co b e rta d o o u ro , de sua
lavação e e xtra çã o na Província de M ina s G e ra is."
30 P orto S eguro
31 Eschwege. S egunda Parte, C a p ítu lo 2, "O Q u in to d o O u ro " (p. 133, V ol. I).
M e lh o r tra d u ç ã o : "S o b re o Q u in to d o O u ro e sobre os diversos sistem as de
a rre ca d a ç ã o ."
32 E schwege. Terceira Parte, C a p ítu lo 4. "O u ro e xtra íd o no p e río d o de 1 6 00 a
1 8 2 0 " (p. 197, Vol. I). M e lh o r tra d u ç ã o : "Q u a n tid a d e de o u ro fo rn e c id o pelo
Brasil, desde o a n o de 1 6 0 0 até 1 8 2 0 ."
33 Eschwege. Q u a rta Parte, C a p ítu lo 4. "A s casas de fu n d iç ã o " (p. 143, V ol. 1).
M e lh o r tra d u ç ã o : "S o b re as casas de fu n d iç ã o de o u ro no B ra sil".
34 Eschwege, ver n o ta 33.
35 Ferreira
36 Eschew ege. Q u a rta Parte, C a p ítu lo 1. "R e su m o da le g islação das m in a s " (p. 83,
V ol. 1), M e lh o r tra d u ç ã o : "E x tra to s da le g islação m ine ira re fe re n te às lavações
e escavações de o u ro " .
37 Ferreira
38 M e n d o n ça
39 Ferreira
40 Eschew ege. P rim eira Parte, C a p ítu lo 2. Ver n o ta 29.

S e g u n d a P a rte

41 E schew ege. V er n o ta 29.


42 Eschwege.
43 B u rto n . V ol. I, p. 211.
44 G a rd n er
45 Eschw ege. V er n o ta 29.
46 Eschwege
47 Lyon, p. 61.
48 H e n w o o d , Tabela VIII. Transactions.
49 B u rto n , I. pág. 2 1 2.
50 G ardner. P. 4 9 1 , Travels.
51 E schw ege, Prancha V.
52 G ardner, p. 4 9 4 .
53 Faraday.
54 H e n w o o d , P roceedings.
55 H e n w o o d , p. 2 7 9 , Transactions.
56 H e n w o o d , Tables VIII e X, Transactions.
57 Tabela e xtraída (e ve rifica d a ) de H e n w o o d , Table IX, Transactions.
58 B u rto n , p. 2 1 4.
59 H e n w o o d , p. 2 8 9, Transactions.
60 R eports o f th e Im p e ria l B razilian M in in g A sso cia tio n , LV (1 8 5 3 ), p. 11, LVI, p. 8.
61 B u rto n , p. 299.
62 B u rto n , p. 2 3 0.
63 E schw ege. "R e la çã o de to d a s as lavras de cada d is trito da Província de M inas
G e ra is" (Vol. 1, p. 2 0 " . M e lh o r tra d u ç ã o : "R e la çã o sin o tic a de to d a s as lavras
de cada d is trito da Província de M in a s G e ra is."
64C a ld cle u g h .
65S a in t-H ilaire , I, p. 169.
66Treloar, p. 2 7 .
67 B u rto n , V ol. I, p. 2 3 4.
68 H e n w o o d , Part II, Table VII.
69 M in in g W o rld , L o nd o n , June 2 1 , 1890.
70 H e n w o o d , Part II, Table VII.
71 Phillips, p. 83.
72M in in g Jo u rn a l, January 1, 1 8 87 , p. 10
73 C halm ers
74 R eports o f th e S aint-John d'EI-R ey M in in g C o m p a n y L im ite d . 1 8 69 , 1 8 71 , 1880.
75 Idem , 1 8 78 , 1 8 79 , 1 8 84 , 1885.
76C aste ln a u
77 B u rto n , p. 183.
78 M a w e , p. 2 9 1.
79 Em 1 8 14 , o to ta l de o u ro e x tra íd o pelos m in e ra d o re s fo i apenas de 4 3 7 5 ,
o ita va s (1 5 .6 9 3 gram as), (E schw ege, ver n o ta 62).
80 S a in t-H ila ire , p. 11 5 -1 1 6 .
81 G ardner, p. 4 8 9.
82 H e n w o o d , 18 71 a , p. 2 4 7 .
83 B u rto n , p. 4 3 6 .
84 F. J. de S a n ta -A n n a Néry. Le Brésil em 1 8 89 . C h a p itre IV (in G orceix).
85 B u rto n , p. 3 0 7.
86 M in in g Jo u rn a l. N ovem ber, 19, 1 8 87 ; May, 5, 1 8 88 ; M ay, 11, 1 8 89 .
87 B u rto n , p. 3 3 8.
88 B u rto n , p. 288.
89 Sena
90 C a m pos; Lom bard.
91 M in in g Jo u rn a l, June, 14, 1884.
92 M in in g Jo u rn a l, July, 2, 1887.
93 M o n c h o t
94The O u ro Preto G o ld M in e s o f Brasil, L im ite d . R eport, 1885.
95 M e zg e r
96 M o n c h o t
97 Idem
98 M a zg e r
99 M o n c h o t
100The O u ro Preto G old M ine s o f Brasil, L im ite d . R eports, 1 8 85 ; 1889.
101 N o tice sur la m ine d 'o r de Faria (Brésil). Paris, Février 1887.
102 Bovet
103 .R obellaz. R a p p o rt sur les m ines de Faria. Paris, 1 5 o c to b re 1893.
104 Idem
105 Ver n o ta 99.
106 Robellaz
107 0 câ m b io m é d io fo i:
Em 1890, 4 2 0 réis p o r fra n c o ; 1 c o n to de reis valia 2 .3 8 0 fra n co s
" 1891 " 590 " " ; ..................................................... 1 .7 0 0
11 1892 " 8 0 0 ;"" " " " 1 .2 5 0
" 1 8 93 "820 " " “ ; .................................................... 1 .2 0 0
108 R elatorios da C o m p a n h ia das M in a s de O uro-Falla, 23 de ju lh o de 1892;
3 de m a ró de 1894.
109 Prates
110 R e la to rio da C o m p a n h ia A u rife ra de M ina s G erais, 1 de ju lh o de 1 8 9 3 . Rio de
Janeiro. Soares & Niem eyer, é d it. 1893.
111 G orceix, p. 74.
112 Taylor e Sons

T e rc eira P a rte

113 Ver o m apa dos p rin cip a is fa z im e n to s a u rífe ro s nos a rre d o re s de O u ro Preto. O
O u ro em M ina s G erais, P rim eira Parte.
114 M e zg e r
115 E schw ege, 1832.
116 Esse ta b e la (Tabela 1) fo i resum ida de diversos d o c u m e n to s g e n tilm e n te
fo rn e c id o s pe lo c a p itã o de m in a M a rtin , a n tig a m e n te lig a d o a essa c o m p a n h ia .
117 M o n c h o t
118 O p a /m o te m 0 ,2 2 m .
119 A o câ m b io m é d io de 7 2 5 réis p o r fra n c o , no exercício de 1 8 9 1 -1 8 9 2 , ao q u al
c o rre s p o n d e m os diversos salários a p re sentados.
120 M é to d o b ra sile iro de tra ta m e n to d ire to dos m in é rio s de fe rro em p e q u e n o s
ca d in ho s. (Ver a descrição no G énie C ivil, t. IV, n° 4, p. 55).
121A análise desse p re c ip ita d o b ra n c o fo i fe ita n o la b o ra tó rio da Escola de M ina s
de O u ro Preto, p e lo Sr. C arlos T ho m a s de M a g a lh ã es G om es, re c o n h e c e n d o que
era um a rs e n ia to á cid o de fe rro .
122 A o câ m b io m é d io de 7 8 0 réis p o r fra n c o , n o exercíco 1 8 9 2 -1 8 9 3 , ao q u a l c o r­
re sp o n d e m os diversos salários re p o rta d o s ,
123V er p ro c e d im e n to de fa b rica ç ã o d o carvão, especial em M ina s G erais, n o G énie
C ivil, to m o V, n. 2 5 , p. 4 1 8 . In d u strie du fe r au Brésil (E studo d o m é to d o ita lia n o ).
G L O SSÁ R IO

J. H. G R O S S I SAD

A lavanca: Barra de fe rro p o n tu d a


A ib ita : M ineral do g ru p o dos plagioclásios, silicato de a lu m ín io e sódio
A lm o ca fre : Pá curva e p o n tu d a ,
A luvião: D epósito resultante da ação de cursos de água.
A m algação: Processo de extração de o u ro ou prata, co m b in a n d o -o s co m m ercúrio.
A re n ito : Rocha se d im e n ta r d e tritica , co n te n d o abun d a nte s grãos co m ta m a n h o
e q uivalen te a areia e siite grosso ( > 0 ,2 5 m m < 2m m ).
A rrastra: Peça cilíndrica usada para co m in u içã o de m inério.

Bateia: G am ela de m adeira ou de fe rro , usada na co n centração de o u ro , diam ente,


etc. No te x to do livro há precisa descrição d o m o d o de uso.
B olinete: Caixa de m adeira, usada para lavar areias auréferas.
Borraina: A lm o fa d a in fe rio r dos arções das selas.
Braça: A n tig a u n id ad e de co m p rim e n to , e q uivalen te a 2,2 m etros.
Bando: Proclam ação, pregão p ú blico.

Caeté: D esignação de várias plantas; indígena da trib o dos caetés, da a n tiga ca p ita ­
nia de Pernam buco.
Calcita: Um m ineral, ca rb o n a to de cálcio.
C anga: Rocha fo rm a d a pela cim e n ta çã o de fra g m e n to s de ta m a n h o variado, de
h e m a tita e /o u ita b irito . O c im e n to é o o x id o de fe rro , em geral h id ra ta d o . A lé m
deste tip o de canga elástica, há um a canga quím ica não fra g m e n tá ria co n stitu íd a
p o r ó xid o h id ra ta d o de fe rro . As cangas p o d e m capear d e pósitos de ita b irito ou
de h a m a tita .
Canoa: Escavação p o u co p ro fu n d a , fe ita na te rra , usada para lavar areias auríferas.
C apitação: Im posto pago p o r cabeça.
C apitania (hereditária): Cada um a das prim eiras divisões a dm inistrativas d o Brasil,
das quais derivaram as províncias e os atuais estados.
Carta Régia: O rd e n am e nto escrito, enviado pelo rei de P ortugal a seus g o ver­
nadores provinciais.
C arum bé: Caixa usada para tra n s p o rta r cascalho para ser lavado, nas catas de o uro
ou de d ia m a n te. Escreve-se, ta m b é m , calum bé.
Casa de fu n d iç ã o : Local criado pela a d m in istração portugesa o n de se fu n d ia (após
d edução do q u in to ) e se purificava o o u ro , apresentado em barras.
Casa de p e rm u ta : Local de troca de o u ro p o r um p a g a m e n to parcial e/ou o n de se
o b tin h a a u torização para tra n s p o rta r o m esm o.
Cascalho: S edim ento elástico não co n so lid a do , com grãos (partículas) m aiores que
2m m . C o n stitui-se de g rânulos (2 -4 m m ), seixos(4-64m m ), m egaseixos (6 4 -2 5 6 m m )
e m atações (> 2 5 6 m m ).
Cascalho bravo: M istura de cascalho e areia, q u e fo rm a cam ada re co b rin d o o cas­
calho "ric o " (aurífero).
Cata: Escavação em aiuvião, de fo rm a a fun ilad a .
Cavadeira: Cinzel de fe rro , de p o nta chata e co rta n te.
C ham iné: A plicada a fiiões, a palavra significa co rp o a p ru m a d o, de fo rm a cilíndrica.
C h u la n o: O m esm o que enxó.
C opelação: O peração de separação de m etais preciosos, sob a q ue cim e nto , em um
ca d in ho ch a m a d o copela.
C rocoita (Crocoise, em francês): Tam bém cham ada C h u m b o V erm elho da Sibéria.
C ro m a to de c h u m b o , um m ineral que ocorre em escamas ou pequenos cristais de
cor verm elha ja cin to , transparentes e frágeis, com b rilh o a d a m a n tin o e co m traço
(cor do pó) alaranjado.
C ureta: Espécie de co lh e r usada para lim p a r furos.

Data: Porção de te rre n o , concedida pela coroa portuguesa, para m ineração.


Dieta: V alor de um a diária.
Direção (geológica): O rientação de um a linha h o riz o n ta l no p la n o de um a cam ada,
veio, etc.
D istênio: N om e a tua l, cianita. Trata-se de um silicato de alum ínio.
D o lo m ita : Um m ineral, c a rb o n a to de cálcio e m agnésio.

Estau: C o m p a rtim e n to , casa, estalagem . No te x to o te rm o é u tiliza d o com o


p rim e iro significado.
Estéreo: M edida de vo lu m e , e q uivalen te a 1(um ) m e tro cúbico.
Estéril: M a te ria l sem valor; durante, a extração de m in é rio é rem ovido e levado para
um b o ta fo ra . A palavra é o p osta à palavra m inério.
Estibinita: Um m ineral, s u lfe to de a n tim ô n io .
E stratificação: Estrutura pro d uzid a pela deposição de sedim entos em camadas
(estratos), lâm inas, lentes e outras unidades essencialm ente tabuiares.
Explotação: Extração ou lavra de m inério. Não deve ser c o n fu n d id o com exploração
(m ineral) q u e significa d e te rm in a r a q u a n tid a d e de m iné rio e estabelecer co n dicio -
nantes naturais e econôm icos de ocorrência.

Faiscador: Pessoa que lava cascalho ou areias auríferas, à procura de faíscas (pal­
hetas) de ouro.
Ferro especular: H em atita (óxido de ferro) da variedade especular (especularita), de
b rilh o m e tá lico e cor preta. N om e fo ra de uso.
Filão: Ver d e fin içã o de veio.
Finta: Espécie de im p o sto ou encargo pecuniário.
Fratura: D escontinuidade em um co rp o rochoso.
Frente de lavra (em francês, dépilage): A b e rtu ra subterrânea na qual se extrai
m inério. Pode ser fe ita para cim a (a p a rtir do nível de tra b a lh o , para o m iné rio
superjacente) ou para baixo (a p a rtir d o nível de tra b a lh o , para o m iné rio subja­
cente). Feita em degraus, cham a-se estope. Na lavra a céu aberto, corresponde às
porções da jazida subm etidas à extração.

G alena: Um m ineral, su lfe to de ch u m b o .


G aleria: A b e rtu ra subterrânea, sensivelm ente h o rizo n ta l, co m seção regular, aberta
para se alcançar um c o rp o de m inério.Serve, ta m b é m , c o m o via de tra n sp orte.
Gnaisse: Rocha m e ta m ó rfica d o ta d a de fo lia çã o derivada da o rie n ta çã o de m inerais
m icáceos ou tabuiares segundo superfícies planas; a rocha é quartzo-feldspá tíca e
m ostra p artição im p e rfe ita segundo a foliação.
G ranada: G ru p o de m inerais, silicatos de cálcio, m agnésio, fe rro , m anganês e
alum ínio.
G rupiara: D epósito a lú vio -co lu vion a r po sicio n a do à m eia encosta.
G uarda-m or: A n tig o o ficial representante d o fisco.
H o rn b le n da : M ineral do g ru p o dos a n fibó lios. Silicato h id ra ta d o de cálcio, sódio,
m agnésio, fe rro e titâ n io .
H u ro n ia n o: Sistema de rochas sedim entares variadas, m e ta m o rfizad a s, p e rte n ­
centes ao Proterozoico In ferio r do Escudo Canadense. O Proterozoico corresponde
ao te m p o co m p re e n d id o entre 2 6 0 0 m ilhões de anos e 5 0 0 m ilhões de anos.

Ita b irito : Rocha m e ta m ó rfica , co n stitu íd a p or alternâncias (lâm inas) de q u artzo com
ó xid o de fe rro (h e m a tita e/ou m a g n e tita ). O a rra n jo a lte rn a d o claro e escuro c o n ­
fere notável aspecto listrado à rocha.
Ita co lo m ito ; V ariedade xistosa e flexível de q u a rtzito , co n te n d o m inerais micáceos
(m ica, clo rita) em adição ao c o n stitu in te p rincipal, q u a rtzo . Na realidade, o nom e é
im p ró p rio , pois os q u a rtito s da Form ação Itacolom i não são flexíveis; os q u artzito s
flexíveis da área de O uro Preto p e rtencem à Form ação M o e d a . O nom e não é
usado a tua lm e nte .
Itaipava: C am ada rochosa mais branda, encaixada em rocha mais dura, que atrav­
essa um rio, de m argem a m argem , fo rm a n d o um a depressão.

Jacutinga: Form ação fe rrífe ra friável p o rd ad o ra de ouro, co n te n d o a lgum ó x id o de


m anganês, caolim e talco. O nom e provém de um a ave g a lifo rm e , negra, com asas
m anchadas de branco.
Joseita; Um m ineral, su lfo -te lu re to de B ism uto.

Laurenciano: U nidade g e ológica d o A rq u e a n o (> 2 6 0 0 m ilhões de anos) d o Escudo


Canadense. C o n stitu ída p o r rochas graníticas.
Légua: M edida equivalente a 6 .6 0 0 m

M a te : P roduto de fu n d iç ã o , rico em m etal. Pode co n te r a lgum enxofre.


M eda: M o ih o s de galhos sobrepostos de m o d o a fo rm a r um cone, ap ro xim a d a ­
m ente. O arranjo serve para p ro d u z ir carvão vegetal.
M e rgu lh o : Inclinação de um a cam ada, veio, etc., m edida a p a rtir da h o rizo n tal, isto
é, â n gu lo entre uma linha na çam ada, pe rp en d icu la r à direção e o plano horizontal.
M ica: G ru p o de m inerais, co n stitu íd o de siiicatos, com um a clivagem p e rfe ita, em
folhas m u ito finas.
M ine iro : Nom es d a do àqueles que tra b a lh ava m na m inas de o u ro na região central
de M inas Gerais, no Século 18. A tu a lm e n te , designa o natural do Estado de M inas
Gerais. Os que tra b a lh ava m nas m inas de q u a lq u e r substância, são d e nom inados
m ineradores.
M u n d e u : Reservatório de fo rm a retangular, e m p a re d ad o em alvenaria
M u ro : Rocha da parte de baixo de um veio m ineral. S inônim o: Lapa.

O itava: A n tig a u n id a d e de m edida de peso, e q uivalen te a 1/8 da onça, isto é


3 ,5 8 6 gram as.
O ligisto: A n tig o n o m e da hem atita,

Plano inclinado: Galeria inclinada.


Pedra de lage: Na área de O u ro Preto, placas de q u a rtz ito destacadas das
exposições, o cu p a n d o superfície considerável, algum as vezes até um m e tro q u a d ra ­
do ou mais. A espessura das placas é discreta ( ce n tím e tro a centím etros). A par­
tiçã o em placas é fa c ilm e n te conseguida com uso de alavancas.
Período: (geológico) Na acepção m o d e rn a , unidade g eológica de te m p o , de carac­
te r co n tin e n ta l, co rresp o n d en d o a um sistem a (co n ju n to de rochas fo rm adas
d u ra n te o m esm o). Nas prim eiras classificações estratigráficas, as seqüências
rochosas eram atribuídas a períodos, d e no m in ad o s Prim eiro Período, etc.
Piçarra: M a te ria l argiloso, de decom posição de rochas sedim entares peliticas,
ta m b é m usado co m o sin ô n im o de ardósia.
Pilão: Geral de fe rro ou m adeira, usado para tritu ra r m iné rio ou para descascar
arroz, café, etc.
Pirita arsenical: S in ô n im o de a rs e n o p irita , s u lfe to de fe rro e arsênio. S in ô nim o :
m ispíckel.
Pirita aurífera: Pirita co n te n d o o u ro em sua e stru tu ra cristalina.
Pirita co m u m : S inônim o de pirita.
Pirita de cobre: S inônim o de ca lco p irita, s u lfe to de fe rro e cobre.
Pirita m agnética: M ineral de fó rm u la quím ica sem elhante à da pirita, cu jo nom e
m o d e rn o é m arcasita.
Pirita: Um m ineral, su lfe to de fe rro .
Plum bosa: Q ue encerra ch u m b o .
Provisão: D o cu m e n to c o n te n d o um a prescrição ou ordem .

Q u a rtzito : Equivalente m e ta m ó rfic o de a re n ito . Q u a rtz ito xistoso, ver xisto.


Q uartzo: M ine ral tra n sparente, de aspecto vítreo, co n s titu íd o p o r silício e o xigênio.
O corre em cristais bem fo rm a d o s {prism as hexagonais, p o r exem plo), em grãos
ju sta p osto s, etc.
Q u in to : Im p o sto de 2 0 % que o erário p o rtu g u ê s cobrava sobre o o u ro , a prata e
os diam antes p ro d uzid os no Brasil.

Rocha encaixante: M a te ria l que lim ita , de am bos os lados, um d a do co rp o rochoso


ou de m inério, p o r exem plo, um filão.

Salbanda: Partes de um veio ju n to da rocha encaixante.


S iderita: Um m ineral, c a rb o n a to de ferro.

Tabuleiro: D epósito a lu vio n a r po sicio n a do em nível mais elevado do que o do


d e p ó sito de aluvião de um rio.
Tailing (em p o rtu g u ê s rejeito): M aterial sem va lo r p ro d u z id o d u ra n te o processo de
concentração. A o ser separado d o m ineral m iné rio é d e p o sita d o co m o estéril.
Teto: Rocha da p arte de cim a de um veio m ineral. S in ônim o: Capa.
Título: Relação entre o m etal preciosa c o n tid o em um dado o b je to e o to ta l da liga.
Travessa: Galeria transversal a um co rp o de m inério ou à direção do acesso principal.
Turm alina: Um m ineral, b o ro silicato co m p le xo de sódio, lítio, m agnésio, fe rro e
a lu m ín io , de c o r variada.

U stulação: Processo de q ueim a ao ar iivre de m inerais suífelatos, para elim inação


d o enxofre e liberação d o m etal.

Vara: M edida de cu m p rim e n to , com a p ro xim a d a m e n te 1 (um ) m e tro


V a uq u e lin ita : C ro m a to de c h u m b o
Veio: Em iin g u a ge m não técnica, te rm o usado em m ineração para q u a lq u e r m a te ri­
al m ineralizado que exibe fo rm a tabular, m esm o que o m aterial seja um a cam ada
e stra tig rá fica . Nesse ú ltim o caso a expressão sem itécnica veio-cam ada é usada,
Filão é palavra sinônim a; a n alog a m e n te , tem -se filão-cam ada.
V in h á tico : D esignação co m u m de duas espécies de legum inosas de gênero
Platym enia, que tê m m adeira am arela de boa qualidade.

X isto: Nom e geral de rochas m e ta m ó rficas foliadas, e stru tu ra essa derivada da pre­
sença de m inerais lam elares (micas, cloritas, ta lco ) q u e tê m h á b ito em escamas. O
xisto se parte em folhas, paralelam ente ao a rra n jo fo lia d o dos m inerais (xistosi-
dade). M u ito s xistos, ao se d e com p ore m , a d qu irem aspecto argiloso.
X istosidade: A rra u jo planar, m u ito bem desenvolvido, de m inerais lam elares e/ou
prism áticos.
REFERÊN CIAS B IBL IO G R Á FIC A S

F. E. R E N G E R

BOVET, A rm a n d de, L'industrie m inérale dans la Province de M inas-G eraes.


A n na le s des M ines, Paris, 8. Sér., t, III, p. 85 -1 1 2 , 123 - 2 0 8, 1883.
BOVET, A rm a n d de, Notes sur les Transmissions électriques des M ines de
Faria. M é m o ire s de Ia Société des Ingénieurs cilvils, Paris, mai 1891.
BURTON, Richard Francis, E xplorations o f th e H ighlands o f B ra zil w ith a fu ll a cc o u n t
o f th e g o ld a n d d ia m o n d m ines. A lso, ca n o e in g d o w n 1500 m ile s o f th e g re a t
riv e r São Francisco, fro m Sabará to th e sea. L o nd o n : Tinsley Brothers, 1869.
BURTON, Richard Francis. Viagem d o Rio de Janeiro a M o rro Velho. Belo H o rizo nte /
São Paulo: Itatiaia/USP, 1976.
BURTON, Richard Francis. Viagem de canoa d e Sabará o O ceâno A tlâ n tic o . Belo
H o rizo nte / São Paulo: Itatiaia/USP, 1977.
CALDCLEUGH, A lexander. Travels in S o uth A m erica, d u rin g th e years 1 8 1 9 -2 0 -2 1 ;
c o n ta in in g na a c c o u n t o f th e p re s e n t sta te o f Brazil,. Buenos Ayres, a n d Chili.
London: John M urray, 1825.
CASTELNAU, Francis C o m te de. E xpéditión dans les p a rtie s centrales de TA m érique
d u Sud, de Rio de Janeiro à Lima, e t d e Lima au Pará, p e n d a n t les années 1843 a
1847. Paris: P. B ertrand, 1850.
CASTELNAU, Francis C o m te de. Expedição às regiões centrais da A m é rica d o Sul.
São Paulo: Cia. Ed. N acional, 1949. C oleção Brasiliana.
CHALMERS, G eorge. R eopening o f M o rro Velho. To th e d ire cto rs o f S aint-John d 'E i
Rey M in in g C om pany. London, se, 2 6 - 0 4 - 1888.
COSTA SENNA, Joaquim C â n d id o da. V iagem de estudos m e ta llu rg icos no centro
da Provincia de M inas Geraes. A n n a is da Escola de M inas de O uro Preto, O uro
Preto n. 1, p. 95 - 128, 1881.
COUTO, José Vieira. M e m ória sobre a C apitania de M inas Geraes. Revista do
In s titu to H istórico G e o gráfico B rasileiro, Rio de Janeiro, vol. XI, p. 2 8 9 -3 3 5 ,
1848.
COUTO, José V ieira. M e m ó ria so b re a Capitania das M in a s G erais; seu te rritó rio ,
clim a e p ro d u ç õ e s m etálicas. Estudo crítico de Júnia Ferreira Furtado. Belo
H orizonte; Fundação João Pinheiro, 1994. Coleção M ineiriana.
ESCHWEGE, W ilh e lm L udw ig von. B eitràge z u r G ebirgskunde Brasiliens. Berlin:
Reimer, 1832.
ESCHWEGE, W ilh e lm L udw ig von. P luto brasiliensis. Berlin: Reimer, 1833.
ESCHWEGE, W ilh e lm Ludw íg vo n . P luto brasiliensis. Belo H orizonte/S ão Paulo:
Itatiaia/USP, 1978.
FARADAY, W. Reports o f th e Im perial Brazilian M in in g A ssociation, p. 8 9 -9 5, 1828.
FERREIRA, Ignacio Francisco. R epertório ju ríd ic o d o m ine iro . Rio de Janeiro, 1884.
GARDNER, D aniel. R e port o f th e Im p e ria l Brazilian M in in g A sso cia tio n . I, p. 24-30,
1826.
GARDNER, G eorge. Travels in th e in te rio r o f Brazil, p rin c ip a lly th ro u g h th e n o rth e rn
provinces, a n d th e g o ld a n d d ia m o n d districts, d u rin g th e years 18 36 -1 8 4 1.
London: Reeve Brothers, 1846.
GARDNER, G eorge. Viagem ao in te rio r d o Brasil, p rin c ip a lm e n te nas províncias do
N o rte e no s d istrito s d o o u ro e d o d ia m a n te d u ra n te os anos de 7 8 3 6 -7 8 4 1.
Belo H o rizo nte - São Paulo: Itatiaia/E ditora USP , 1975.
G O N ZAG A DE CAMPOS, Luis Felipe. R elatório dos tra b a lh os de pesquisa e
p re lim in a re s d o M u n ic íp io de S. José d'E I Rey. Rio de Janeiro: J. D. de Oliveira,
1881.
GORCEIX, Henri. Estudo ch im ico e g e olog ico das rochas d o c e n tro da Provincia de
M inas Geraes. A n n a is da Escola d e M in a s de O uro Preto, O uro Preto, n. 1, p. 1 -
12; n. 2, p. 7 - 23, 1881.
GORCEIX, Henri. M iné ralog ie . In: NERY, F. J. de S anta-A nna. Le Brésil in 1889. Paris:
Ch. Delagrave, 1889. C a p ítulo IV, p. 61 - 104.
HENW O O D, Jory W illia m . D escription o f th e Brazilian m e th o d o f w a sh in g (dressing)
g o ld . Transactions - R. Geol. Soc. C o rn w a ll, Penzance, vol. VII, 1848.
HENW OOD, J. W. O bservations on m e ta lliferou s deposits: On th e go ld m ines o f
M ines Geraes, Brazil. Transactions - R. G eol. Soc. C o rn w a ll, Penzance, vol. VIII,
p a rt 1, p. 1 6 8-370,1871 a.
HENW OOD, Jory W illia n . O bservations on subterranean te m p e ra tu re . Transactions -
R. Geol. Soc. C o rn w a ll, Penzance, vol. VIII, p a rt 2, p. 7 3 3 -7 6 6 , 1871 b.
LOMBARD, Louis. N ote sur les e xp lo ita tio n s des m ines d 'o r anciennes aux environs
de S. João d'El-Rey, T iradentes e t Prados. Revista In d u s tria l de M ina s Geraes,
n. 6, 1 5 /1 2 /1 8 9 4 .
LYON, G eorge Francis. R eports o f th e Im p e ria l Brazilian M in in g A sso cia tio n , VIII,
p. 61, 1830.
M AW E, John. Viagens ao in te rio r d o Brasil. Belo H orizonte/S ão Paulo: Itatiaia/USP,
1978.
MEZGER, C. A d o lp h . R e p o rt o f th e m ines o f Passagem, Raposos a n d E spirito S anto:
The O uro Preto G o ld M ines, Lim ited. Paris: Chaix, 1885.
MILLIET DE SAINT-ADOLPHE, J.C.R. D iccionario geográfico do Im perio d o Brazil. 1845.
MENDONÇA, Francisco Maria de Sousa Furtado de. Repertorio geral das leis do Im perio
do Brazil, desde o com eço d o anno 1808 até o presente. Rio de Janeiro, 1850.
MONCHOT, Charles. R a p p o rt s u r les m ines de Raposos, E spirito Santo,. Broges e
Passagem d is tric t d 'O u ro Preto, Province de M ina s Geraes, Brésil. Paris:
Im p rim e rie N ouvelle, 1884.
PHILLIPS, J. A rth u r. The m in in g a n d m e ta llu rg y o f g o ld a n d silver. London: E. and F.
N. Spon, 1867,
PORTO SEGURO, V isconde de. Empreza de M ineração de C aethé. Revista In du stria l
de M ina s Geraes, A n n o I, n. 1, 1 5 /1 0 /1 8 9 3 .
SAINT-HILAIRE, A u g u ste de. Voyage dans ie d is tric t des d ia m a n ts e t s u r te litto ra l du
Brésil, su ivi de no te s s u r quelqu e s p la n te s caractéristiques e t d 'u m préscis de
Thistoire des ré vo lu tio n s de I'e m p ire brésilien, depuis le c o m m e n ce m e n t d u
rè g n e de Jean VI, ju s q u 'a á I'a b d ic a tio n de D. Pedro. Paris: Gide, 1833.
SAINT-HILAIRE, A u gu ste de. Viagem p e lo d is trito dos dia m a n tes e lito ra l d o Brasil.
Belo H o rizo nte / São Paulo: Itatiaia/E ditora USP, 1974.
TAYLOR, J. and Sons. R e p o rt o n th e Boa Esperança M in e . M a y 8, 1890.
TRELOAR, Thom as. R eports o f th e S aint-John d 'E l Rey M in in g Company, Ltd. XXVIII,
London, 1857.
VARNHAGEN, Francisco A d o lp h o . H istória g e ra l d o Brazil, isto é d o d escobrim ento,
colonização, legislação e d e sen vo lvim e n to deste estado, ho je im p é rio indepen
dente, escripta em presença de m u ito s d o cu m e n to s a u tê n tico s re co lh id o s nos
archivos d o Brazil, de P ortugal, da Hespanha e da H oilanda. Rio de Janeiro/
M a d rid : Laem m ert/V. de D o m in gu e z, 1854/57.
RELATORIOS DE COMPANHIAS DE MINERAÇAO E PERIODICOS:

C o m pa n h ia A u rífera de M inas Geraes. R elatorio de 1 de ju íh o de 1893. Rio de


Janeiro: Soares & Niem eyer, 1893.
C om panhia das M inas de O uro- Falia. Relatorios de 23 de ju lh o de 1892 e de 3 de
m arço de 1894.
Im perial Brazilian M in in g A ssociation. Reports I, V, VIII, LV. London, 1826-53.
Journal des Débats, 1 er. Julliet 1839: le ttre de M . de L.
S aint-John d'El Rey M in in g Com pany, Lim ited , A n n u a l Reports. London, 1857,
1878, 1879, 1881, 1885.
M in in g jo u rn a l. London. June 14, 1881; Jan. 1, 1887; July 2, 1887; Nov. 19, 1887;
M ay 5, 1888; M ay 11, 1889; M ay 16, 1891; M a y 13, 1893.
M in in g W o rld . June 21, 1890.
E ste liv r o f o i c o n fe c c io n a d o n o fo r m a t o 2 1 x 2 6
c m , c o m t e x t o p r in c ip a l n o t i p o F r u tig e r L ig h t
1 1 , e tí tu lo s n o t ip o T ra ja n B o ld 1 4 , m io lo im ­
p re s s o e m p a p e l P ó le m 1 2 0 g rs . C a p a e m S u p r e ­
m o 2 4 0 g r s . F o to lito s E sp a ç o A lt e r n a t iv o e Im ­
p r e s s ã o E d ito r a R o n a . T ir a g e m 1 0 0 0 e x e m p la re s .
TABELA 1 - PRINCIPAIS JAZIDAS AURÍFERAS DE MINAS GERAIS
I - FILÕES DE QUARTZO E PIRITA A U R ÍFER A
RECUPERÁVEL
R O C H A S E N C A IX A N T E S E S P E S S U R A M É D IA T E O R M É D IO S IT U A Ç Ã O D OS
N O M E D A J A Z ID A M U N IC ÍP IO P R O P R IE T Á R IO S C O N S T IT U IÇ Ã O D IR E Ç Ã O M ERG ULHO POR TO N ELA D AS
m u r o ( m ) t e t o (t) ( m e tr o s ) ( g r a m a s /to n e la d a s ) TRABALH O S
(g ra m a s)

Qtz arenoso are ocreosas de lim e p rovave lm ente chapeu do


Barra Feliz S a n ta B a rb a ra Família Penna 15-45 lav
hem concrecionaria i l l de p ir nos x_

m u ito s i l l em x negro
C uiaba C a e te S aint JoE i d El Rey M in in g C o m p a n y Ltd qz em grãos fin o s e pir 12 5 5 5 lav
co m p a cto

D ona-Florisbeta S a b a ra C o m p m hia A u rífe ra deM m as G erais qz e on x coloridos SUBVERT pre

D uffles S a b a ra D u ffle s e o u tro s qz e p ir par

E spirito Santo S a b a ra O u ro Pre o G o ld M in e s o f Brazil Lim ited qz g ra n u la r bra nco e pir collunas nos x NS 35E 3-8 par

Faria S a b a ra Soc ete des M in e s d o r de Faria qz arenoso b ra nco e qjt NS 8E $60E 8 16 7 7 lav

G abiroba S a b a ra S am t-Jot n d El Rey M in in g C o m p a n y lt d qz em grãos fin o s e Qir x co lo ridos 14 7 par

Gaia S ao a ra S am t-Jof n d El Rey M in in g C o m p a n y l* d qz e q it x cinzentos 13 7 par

Jacutinga C a e te D r M a - Del J o a q ^ n d e Lemos e o u t os qz e sfum aça do e Qjr X par

M o rro -d a -G lo ria S ab a ra Joã ) Pereira da C osta e o u tro s qz e Qir X par

qz branco tu L â rs Qir m a r cal


M o rro d e S anta-A nna M anana D on Pedi D G o ld M in in g C o m p a n y Lim ited fil n o c o n ta to x (m ) (0 - \» E par a p o s 1865
p o r vezes graos visíveis de Au

qz em g raos fin o s q q ars espessam ento d o fN


M o rro V elho S a b a 'a S3- W N7SW 2 0 -1 5 10-15 pre
2L=_ ca 1 s d cal alb no x cinza

qz e — g acs hnos q h ars


Pan S a n ta B a rb a ra Sam a Ba ; a a G c U ’ - ' ; C c ~ : ^ L: filã o - cam ada nos x m icaceos NS 10 lav
s - . ç a m ic

QÇ C s - . c m ar, cal. dol sid


fil de c o n ta to x m icaceos (m)
Passagem M a ria n a O u ro Pre o G o 'd M nes o f B a z l Lir- ed g T £ £ C i q j l m c. verde e branca Bj NE 15-25 12 lav
x criptcristalm os (t)
alguns grãos visíveis de Au
i i i . ----- ---------------- ---------- --------— — — ~
Raposos S ab a ra O uro Pre ;o G o ld M ines o f Brazil Lim ited colunas nos x quartzosos 5 lav
e linhas visíveis de ou o

II - FILÕES DE QUARTZO A U R ÍF E R O
A n to m o Pereira O uro Preto P a u la C a s tro q tz t 'c - c o veios p e q ^ e -c s em x a g csos par

B andeirinhas D ia m a n tin a L i iz d e R e z e n d e e o u tr o s qz b ra nco grãos e c s s i w pequenos f ces em_x co 'o n d o s p ar

C c o ' ?' T -rC C " 3 M s : . « > F r e 3 espessarre- o ce f c a -e o a roc^a


Boa E ^ce^a-ça Cae e g z esfu m a ça d o g aos \ - e > c e « j N7SE r .ó o . 03 2 5 25 lav
/ G o 'p w e> c e C s - c fer o j caco — 1e x c - r e - 0 1 j

;Z C -c P ' ■ «: L~ ed qz e s f u - ^ a d o c c — e_4 espessame- 0 da ‘ so em _x a 9 o>c< ; E 38S 15 par

ScCs 3 E«*>* c e r e / M -g C c -p c ". ~ eo (a -te rio rm e n te ) g z b ra -c o com p - e ga par

C scce - ’'a Sá'~ 3 Ea Ca 3 M o es o P e --a e Pad e lu c m d o par


pequenos veios mterestratiticados
Ca -a -c a Caeu? Barao d e Tin jua e A n to n io Jose Peixoto de Souza g z a e " :> o t a - :o
em x argiloso
V\E 6-10 lav
qz a lgum a q__ e g ec> e
C a rra p a to Caete Emp •eza de M in e ra ça o de Caete diversos filõ e s cam ada n o x WE n 3 9 -4 5 w 2 lav
m anchas e>

C arvalho Caete Emp eza de M in e ra çã o de Caete g z algum a q z ç sos s c s c? pe quenos filoe s nos x WE 26 par

C atita Caete g z e s C -c Ç s Z o par

C attas A ltas de N oruega Q ueluz gz a e par

C atta Branca O uro Preto Brasil [an C o m p a n y (a n te rio rm e n te ) q z co m a s t s. e .t x m icaceo N1SW N 8 0 -8 5 W 12 8 par em 1844

C atta Preta M ariana Jose C o tta e outros qz c o - z_ OU NE S40 58E 2-5 par

D escoberto qm m u ito s fil par


Caete Br isilian G old M in e Lim ited

Falcão O uro Preto C om r a nhia M in e ra lu rg ic a Brasileira Qtz a 'g jm a q z fil diversos 1-2 par

Furquim M ariana C om pa ihia de M in e ra çã o de F u rq u in q z b ra n co c o n o r e a oequenos veios em x argilosos par

G oiabeira O uro Preto g z com v a u q u eh - a aband

B onfim QZ filã o - cam ada em x coloridos N20E S45E aband


Itatiaiussu
gz e n fu m a ç a d o a 'g u m a g z a ^ . g a r. est
Juca V ieira Caete jo s e A ffo n s o e o u tr o s X 45 lav
G raos In h a s e cordoes visi e s d e A j

L a g o a D o u ra d a Tiradentes E m p re z a d e M ijn e ra ç ã o d o M u m c p io d e T ira d e n te s q tz a lg u m a q ü m u ito s filoes-cam ada em x verde N60E S 30E S 6 0 -8 S E 0 1-1 par

M achado O uro Preto Irm ã o s M a c h a d o g z x is to s o m ic a c e o par

• 'o c o C=~ e o fz fe r r u g n o s o filõe s-cam ada e n x a 'g 'oso N30E S 60E S 40E par

M o r o d a s A '^ a s O uro Pre o E ast d e l R ey M »r n g C o m p a n y lim te d ( a n te r io r m e n te ) 02 pa r em 1876


qz. com p e qu enos veios de
f * c ~ o S v c ê *'*? 0 „ * 3 P *r 0 la y d e ! Fey r - - g C c — p a " ; I — e d < a " * e ' c - e - 1 e) x a rgiloso 45 S 50E 3-9 pa r em 1875
p ir ars m a rr est qal

P a p a F a rin h a Sabara E ast d e l R ey M .r r g C o - p a " , 1 ~ ed < o — e n te ) g z com p ir grãos visíveis de Au par

P elú cia O uro Preto g z b ra n c o íta par

P issa rã o Sabará 02 p e qu enos veios em x argiloso p o u c o e x p lo rado

P ita n g u i d e S M ig u e l Santa Barbara /^ s s o c ia ç ã o M ig u e le n s e g z b ra n c o x a r g ilo s o par

P ita n g u y P ildnyuy | g z e s fu m a ç a d o a lg u m a g ir m u ito s fil e m x a rg ilo s o aband

R o ça G r a n d e Caete R oça G ra n d e B r iz ilia n G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d g z c o m p ir e ars x m ic a c e o WE 4 0 -5 0 S 0 5-1 par

S a ra g o ç a O uro Preto d iv e rs o s p r o p rie tá rio s g z e s b u ra c a d o c o m a rs esc q tz x ix to s o N30E N 6 0 -7 0 2 lav irregu lar

S a n ta C ru z Caete B a rã o d e T in g ja e A n t o n io Jose P e ix o to d e S o u z a 02 WE 45N par

S a n ta Q u ite n a Santa Barbara 02 par

S ão B e n to Santa Barbara 02 filõ e s e m x par

S ão J o ã o d e G u a n h ã e s Serro g z c o m p ir par

S S yria c o Serro B a rã o d o S e rro 02 par

T a p e ra O uro Preto F o ijtu n a to C a m p o s e o u tr o s g z , c o m D ir e ars par

T a q u a ra b Q u e im a d a M ariana B ra s ilia n C o n o ls G o ld M in in g C o m p a n y L im ite d 02 x a r g ilo s o par em 1875

T e s o u re iro M a ria n a [B a rã o d e C a m a rg o s g z c o m g ii x m ic a c e o N15W N 5 0 -6 0 E par

T in o c o M a ria n a C o rja n e l D o m ic ia n o e t o u tr o s g z f r ia v e l c o m lim e o x id o d e M n z e e q u e n o s v e io s e m x a rg ilo s o NS par

V asado M ariana C o m p a n h ia B rasi e ira d e S a litra e s , T e rra s e C o n s tr^ ç c e s g z b ra n c o c o m p ir e g a l x m ic a c e o expl

V e lo s o O u r o P re to 02 ita aband

Venda do C am po O u r o P re to C o m p a ih ia M in e r a lu r g ic a B ra s i’e ra 012 fil d iv e rs o s par

V ira C o p o s Caete Jam es A n d re w g z c o m p ir X WE S 2 S 10-14 expl

III - CAMADAS DE ITABIRITO A U R ÍF E R O


s- c := i- - ^ - J3C aband
a escecu a t CO e GZ g ra n u la r e m camadas
B o a V is ta S a n ta B a rb a ra f ra s a ernadas NS 4 0 -4 6 E aband

B ru c u tu S a n ta B a rb a ra ja c aband

C apanem a O u r o P re to jac aband

C ocaes S a n ta B a rb a ra ita e ja c c o m o x id o d e M n ita m ic a c io N 15E S 3 0 -S 5 E aband

C o rr e g o S M ig u e l S a n ta B a rb a ra IV o r ro G ra n d e S y n d ic a te ja c expl
jac co m o x id o de M n linhas e ag o rre ados
G o n g o S oco S a n ta B a rb a ra Im p e ria l B ra z ilia i M in in g A s s o c ia tio n ( a n te r io r m e n te ) ita WE 3 0 -5 0 S 90 aband
de A u Pd

Ita b ira d e M a t t o D e n tr o Ita b ira A s s o c k ç ã o B ra s ile ira d e M in e ra ç ã o c a n g a ita e q z g r a n J a r ita N45W N45E par
ita e qz fnavel (m) NE 2 0 -3 6
M a q u in e M anana D o n P e d ro G o ld M in in g C o m p a n y L im .te d ja c g rã o s e Im h a d e A u ita m icaceo e qz b ra n co (t) N 2 7 -3 0 W par

' *c '0 c a s ~ "•a s S a - t a B a rfcara ja c NE S 60E aband

F -a -g - S a o *a Ba'fcana P ita n g u i ( io ld M in in g C o m p a n y L im ite d ja c g rã o s lin h a s e c o rd o e s c e A j NE S 4 8 -6 5 E 2 0 -3 6 p o r em 1887

S e rra d a M n a S e rro D r Jc -e C a n d id o d a C o s ta S ena ja c par

Taquanl S ao a ra ja c c o m o x id o d e ? *n

IV - CAMADAS DE ALUVIÃO A U R ÍF E R O
B a rro A lto C am panha case e a '9 \ e r ~ e - a aband

B re n h a s c a se fe r u g " c s a cam ada sobre gnaisse d ecom po s­


O u r o P re to F ra n ci c o C a n d id o S oa re s d a S ilva to aband

D ezem boque S a c ra m e n to | a re g r ã o e p e p ta s v s e s c e A u l av

O u ro -F a lla C am panha C o m p a ih ia d e M in a s d e O u ro -F a lla cas e arg ferrugm osos g'aos s. e i ce ouro la v

ca s a re e a rg f e " u g " o s o s cam ada sobre gnaisse


P ra d o s T ira d e n te s E m p re z a d e M i le r a ç ã o d o M u n ic íp io d e T ira d e n te s par
d e c o m p o sto
R io G u a la c h o O u ro P re to C o m p a ih ia M in e r a lu r g ic a B ra s ile ira le ito e m u m m e a - d 'o d o n o par

V a ra s D ia m a n tin a Fa m ile F e lic io d o s S a n to s la v ir re g u la r

(m ) = m u r o a re = a re ia s, Bi = b is m u to d is = d is tê n io (o a m ta ) f il = filã o filo e s ja c ja c u tin g a M n = m anganês q tz = q u a r tz ito


(t) = te t o a rg = a rg ila b is = b is m u tim ta d o l = d o lo m ita g a l = g a le n a la v = e m la v ra p a r = p a ra liz a d o q z = q u a r tz o
aband = abandono a rs = a r s e n u p ir ita c a l = c a lc o p n t a esc = e s c o ro d ita g ra = g ra n a d a lim = lim o m ta Pd = p a la d io s id = s id e rita
a lb = a lb ita Au = o u ro c a lc = c a lc ita e s t = e s tib im ta h e m = h e m a tita m a s = m a rc a s ita p ir = p irita t u r = tu r m a lin a
a re = a re ia auf = a u fib o lito c a s = c a s c a lh o e x p l = e m e x p lo ra ç ã o ita = it a b ir ito m ic = m ic a p re = e m p re p a ra ç ã o x = x is to

Você também pode gostar