Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
1
Foi um filósofo do direito e uma das principais figuras no estudo da moral e da filosofia política. Seu
trabalho mais famoso por sua obra intitulada "The Concept of Law", de 1961. Doutor honoris causa pelas
Universidades de Glasgow, Kent, Estocolmo, Chicago, Harvard e Cambridge. Membro da Academia
Britânica e membro honorário de vários Colleges de Oxford. Foi um influente filósofo do direito, sendo
precursor no desenvolvimento de uma teoria sofisticada sobre o positivismo jurídico nos marcos da
filosofia analítica, além de publicar estudos sobre a responsabilidade jurídica (causalidade e imputação),
o direito penal e a história do pensamento jurídico, tendo dedicado o período de 1969 a 1973 para
investigar a obra de Jeremy Bentham, cujos manuscritos jurídicos fez editar A obra “O Conceito do
Direito” causou tamanho impacto que deu origem a uma multiplicidade de publicações discutindo a
argumentação desenvolvida não só no contexto da Teoria Jurídica, como também no da Filosofia Política
e da Filosofia da Moral. Em virtude de sua própria argumentação, Hart é classificado como positivista da
corrente inclusivista que não exclui totalmente a moral da definição do direito, contrapondo-se a
positivistas das correntes exclusivistas, liderada por seu aluno Joseph Raz. Tal afirmação traduz-se no
prefácio de sua obra “O Conceito de Direito”, quando o autor afirma que, embora o estudo seja dedicado
primariamente aos estudantes de direito, também pode servir àqueles cujos interesses recaem na
filosófica moral ou política. A teoria de Hart sofreu críticas tanto de moralistas como até de seus próprios
seguidores, sugerindo o aperfeiçoamento de seus conceitos. Nesse sentido, torna-se famosa sua polêmica
com representantes do moralismo jurídico como Lon Fuller e Ronald Dworkin e até com seu pupilo Neil
MacCormick.
2
2
O conceito de lacuna é um conceito relacional, pois representa uma inadequação em relação a alguma
coisa. O conceito gênero é a inadequação normativa. As espécies decorrem do relacionamento do
subsistema prescritivo com outros subsistemas. A expressão lacuna concerne a um estado incompleto do
sistema, ou seja, há lacuna quando uma exigência do direito, fundamentada objetivamente pelas
circunstâncias sociais, não encontra satisfação na ordem jurídica. Três são as espécies de lacunas: 1.
normativa, quando se tiver ausência de norma sobre determinado caso; 2. ontológica, se houver norma,
mas ela não corresponder aos fatos sociais (o grande desenvolvimento das relações sociais, o progresso
tecnológico, etc.); 3. axiológica, ausência de norma justa, isto é, existe um preceito normativo, mas , se
for aplicado, sua solução será insatisfatória ou injusta.
3
Hart em seu livro “O conceito de Direito” defende que o Direito tem textura aberta. Hart defende a
atividade criadora do juiz ao sentenciar, mesmo em casos em que não há previsão legislativa explicita.
Assim, disse o autor: “A textura aberta do direito significa que há, na verdade, áreas de conduta em que
muitas coisas devem ser deixadas para serem desenvolvidas pelos tribunais ou pelos funcionários, os
quais determinam o equilíbrio, à luz das circunstâncias, entre interesses conflitantes que variam em peso,
de caso para caso. Seja como for, a vida do direito traduz-se em larga medida na orientação, quer das
autoridades, quer dos indivíduos privados, através de regras determinadas que, diferentemente das
aplicações de padrões variáveis, não exigem deles uma apreciação nova de caso para caso. Este fato
saliente da vida social continua a ser verdadeiro, mesmo que possam surgir incertezas relativamente à
aplicabilidade de qualquer regra (quer escrita, quer comunicada por precedente) a um caso concreto”.
3
4
KAUFMANN, Arthur. Analogia y “naturaleza de la cosa”: Hacia una teoria de la comprension jurídica.
Santiago: Editorial Juridica de Chile, 1965.
5
A controvérsia entre juspositivismo inclusivo e exclusivo. O debate sobre o positivismo jurídico foi
renovado e intensificado a partir dos anos 1990 mediante as controvérsias internas entre os positivistas
(cronologicamente “pós-hartianos”) que rejeitam qualquer influência normativa da moral no estudo do
direito e aqueles que adotam uma posição mais moderada sobre a questão. Faremos aqui uma
apresentação dessas correntes. O positivismo jurídico inclusivo (inclusive legal positivism) é também
conhecido como incorporationism ou soft positivism (termo traduzido para o português como: positivismo
moderado). Essa abordagem é adotada por muitos autores contemporâneos, podendo citar os nomes de
David Lyons, Jules Coleman e Wilfrid Waluchow. O próprio Hart, em texto postumamente publicado,
considerou que sua visão sobre o direito corresponde “àquilo que foi designado como ‘positivismo
flexível’”.
Esses autores distinguem entre o direito visto como fato “duro” (hard fact) e o direito analisado como
convenção social (social convention), segundo uma distinção feita por Coleman. Os valores morais não
são sempre decisivos para definir e aplicar o direito. Mas, em certas sociedades, pode haver uma
convenção social impondo levar em consideração a moral para determinar a validade e para interpretar
normas jurídicas. Acreditam na (possível) existência de sistemas jurídicos que adotam “critérios de
juridicidade de cunho moral": “O caráter jurídico de normas pode depender algumas vezes de seus
méritos (morais) substanciais e não somente de sua origem ou fonte social”. Pode ocorrer que, em
determinado território e momento, sejam reconhecidos como jurídicos regulamentos feitos “conforme a
justiça”, “promovendo o bem-estar de todos”, “segundo valores morais da comunidade”, segundo a
“moralidade política” ou, nas palavras de Hart, “conforme princípios morais e valores substantivos”. Em
tais situações, uma norma jurídica só é válida se for submetida e aprovada em “exame moral”,
dependendo sua validade e a forma de aplicação de qualidades morais, conforme decisão do aplicador.
4
Desta forma, somente diante de um sistema completo, é que o papel do juiz seria
conforme à missão que lhe cabe, a de determinar os fatos do processo e, daí
extrair as consequências jurídicas que se impõem, sem colaborar ele próprio na
elaboração da lei.
5
6
Karl Bergbohm, lançou o argumento do espaço jurídico vazio. Segundo esse doutrinador, a atividade
humana é dividida em dois espaços: espaço jurídico pleno (regulado por normas jurídicas, caso
juridicamente relevante) e espaço jurídico vazio (livre, caso juridicamente irrelevante). A esfera da
liberdade pode diminuir ou aumentar, de acordo com as normas jurídicas, mas um ato não pode ser ao
mesmo tempo livre e regulado. Até onde o direito alcança não há lacunas, onde ele não alcança há espaço
jurídico vazio, ou seja, não há lacuna no Direito, mas atividade indiferente deste (não há deficiência no
ordenamento, e sim um limite natural). O ponto fraco dessa teoria reside na falsa identificação do direito
como obrigatório;
sendo que na verdade existem três modalidades normativas do ordenamento, do proibido e do permitido.
Para sustentar essa tese do espaço jurídico vazio é preciso excluir a permissão das modalidades, pois
aquilo que é permitido se coincidira com aquilo que é juridicamente irrelevante. Mas o juridicamente
irrelevante não existe, afinal os termos lícito e ilícito são contraditórios, e assim como ambos não podem
ser verdadeiros, também não podem ser falsos. Então a situação é lícita ou ilícita. Cogita-se, ainda, de
liberdade não protegida, mas o fato da liberdade não ser protegida não torna essa situação juridicamente
irrelevante, porque, conforme Norberto Bobbio no momento em que a liberdade de agir de um não está
protegida, está protegida a liberdade de outro de exercer a força; e, enquanto está protegida, esta é a
juridicamente relevante em vez da outra. Não falha a relevância jurídica: simplesmente muda a relação
entre dever e direito.
7
A referida teoria afirma que a completude do ordenamento jurídico a partir do entendimento de que as
ações humanas não regulamentadas são implicitamente admitidas e aceitas por esse ordenamento.
Observa-se que não se confundem a falta de regulamentação pela ausência de expressa disposição legal.
A norma geral exclusiva foi uma segunda teoria que procurou sustentar a completude do direito, pelo fato
de que o Direito nunca falta. O raciocínio pode ser resumido assim: uma norma que regula um
comportamento não só limita a regulamentação e, portanto, as consequências jurídicas que desta
regulamentação derivam para aquela conduta, mas ao mesmo tempo exclui daquela regulamentação
todos os outros comportamentos. Uma norma que proíbe fumar permite todas as outras condutas que
não sejam fumar. Desta forma, todos os comportamentos não compreendidos na norma particular são
regulados por uma norma geral exclusiva. A característica da norma geral inclusiva é a de regular os casos
não compreendidos na norma particular, mas semelhantes a eles, de maneira idêntica, ou seja, estas
normas preveem as lacunas e estabelecem os modos de preenchimento. Assim, frente a um caso não
regulamentado, utilizando a norma geral inclusiva, será resolvido de maneira idêntica ao que está
regulamentado; já utilizando a norma geral exclusiva o caso será resolvido de maneira oposta. Os tipos
6
É permitido tudo aquilo que não é proibido e nem comandado. Norberto Bobbio8
qualificou esta norma secundária implícita de norma de clausura, visto que
assegura a completude do ordenamento, garantindo a atribuição de uma
qualificação jurídica a todos os fatos não previstos pelas outras normas.
recorrentes de lacunas são os seguintes: Próprias (reais) – pertencem ao sistema, estão dentro do
sistema. Existem quando há norma geral exclusiva e inclusiva e o caso não-regulamentado pode ser
encaixado tanto numa quanto noutra. São solucionadas mediante as leis vigentes e completáveis pelos
intérpretes. Se há lacunas próprias, o sistema está incompleto. Impróprias (ideológicas) – derivam da
comparação do sistema real com o sistema ideal. Existem quando há somente norma geral exclusiva. Só
é eliminada pela formulação de novas normas, e são completáveis só pelo legislador.
8
Segundo Bobbio, alguns juristas ao criticarem a ideia de completude da lei usam o termo lacunas não
em seu sentido técnico, mas ideológico. Ou seja, não criticam basicamente a falta de uma regra geral
reguladora, mas sim daquela que representaria a ideia deles do que seria justo. Os juristas criticam
também a teoria para indicar a dissonância entre a mens legis e a mens legislatores, isto é, a vontade
expressa e a presumida da lei.
7
que o legislador não aceitou como relevante certa distinção que deveria ter sido
considerada.
9
Para se completar um ordenamento jurídico pode-se recorrer a dois métodos diferentes, chamados de
heterointegração e de auto-integração. O primeiro consiste na integração operada através de recurso a
ordenamentos diversos daquele que é dominante. Já a auto-integração é um método para completar o
ordenamento que consiste na integração cumprida através do mesmo ordenamento, no âmbito da
mesma fonte dominante, sem recorrência a outros ordenamentos e com o mínimo recurso a fontes
diversas da dominante. Os métodos de heterointegração consistem no preenchimento através de
ordenamentos anteriores ou outros ordenamentos estatais ou através de recurso a fontes diversas
daquela que é dominante. Os métodos de auto-integração consistem em dois procedimentos: a analogia
e os princípios gerais do direito. Entende-se por analogia o procedimento pelo qual se atribui a um caso
não regulamentado a mesma disciplina que a um caso prescrito semelhante. A fórmula do raciocínio por
analogia pode ser expressa assim: M é P, S é semelhante a M, portanto S é P. Destaca-se que a semelhança
8
A ideia de Direito completo, entretanto, não pode ser encarada somente sob a
perspectiva da existência ou não de normas jurídicas, pois estas podem até
mesmo existir, estando expressamente positivadas no ordenamento jurídico,
mas isto, não garante que seja capaz, por si só, de regular o caso concreto que
demanda sua aplicação.
A questão foi abordada pelo jurista inglês Hart identificada com a expressão
"textura aberta do direito" e que descreveu de forma que tanto os juristas como
as pessoas comuns pudessem entender, valendo-se, para tanto, de
instrumentos criados pela filosofia analítica.
entre os dois casos suscetíveis a analogia seja uma semelhança relevante. O outro procedimento de auto-
integração é a recorrência aos princípios gerais do Direito, ou seja, buscar em princípios ou normas não
expressas, através da comparação de normas aparentemente diversas entre si, formuladas pelo
interprete, aquilo a que comumente se chama o “espírito do sistema”.
10
Um dos primeiros filósofos do Direito moderno a enfocar a questão de como o juiz deve atuar foi Austin,
que é considerado como um dos pais do juspositivismo. E, ainda apresenta como parte de sua definição
de Direito as leis divinas. Para o filósofo, a lei positivada é definida a partir da figura de quem as positivou,
seja do soberano ou de um corpo de pessoas como um congresso ou assembleia. O soberano é aquele
que faz e dá autoridade à lei. A aproximação do pensamento de Austin e de Hobbes é bem direta, no que
tange ao poder da autoridade da lei. Esteve interessado em uma visão do Direito como um processo, em
que uma autoridade determina um comando a ser seguido. Sendo emitido dentro de uma sociedade
política composta por dirigentes políticos a súditos, contexto do qual o dirigente político tem o poder, se
assim o desejar, de infligir um mal ou sofrimento quando o comando for desobedecido.
11
O referido filósofo estabeleceu uma função única para a linguagem, que é a função descritiva, aspecto
que retornará de modo contrário, mais tarde, em sua obra intitulada "Investigações Filosóficas", onde
negará a existência de uma função primordial e única para linguagem. Ludwig Wittgenstein (1891-1951)
foi um dos filósofos mais influentes do século XX e o principal responsável pela chamada virada linguística
9
Desta forma, o êxito da atuação do Direito sobre as amplas áreas da vida social
depende de uma ampla capacidade difusa de reconhecer certos atos, coisas e
circunstâncias como manifestações das classificações gerais feitas pelas leis.
Para melhor exemplificar sua tese, Hart se vale de um exemplo simples, não-
jurídico. Relatou um caso de um pai que, ao chegar à igreja com seu filho, emite
da filosofia, movimento que colocou a linguagem no centro da reflexão filosófica, deixando de figurar
como mero meio para nomear as coisas ou pessoas. Wittgenstein tenta romper com a visão tradicional
da filosofia, que vê o mundo como um mero agregado de coisas que podem ser pensadas de modo
independente umas das outras. Tal visão não é incorreta, apenas incapaz de explicar qual a relação
existente entre as coisas.
12
Existem também as chamadas normas gerais inclusivas, aquelas previstas no Art. 5º da LICC (LINDB),
segundo a qual, no caso de lacuna, o juiz deve recorrer às normas que regulam casos parecidos ou
matérias análogas. Enquanto que norma geral exclusiva é aquela norma que regula todos os casos não
compreendidos na norma particular, mas os regula de maneira oposta, a característica da norma geral
inclusiva é a de regular os casos não compreendidos na norma particular, mas semelhantes a eles, de
maneira idêntica.
10
Ocorre que, tomando por base este exemplo de Hart, ainda quando a
transmissão do padrão geral de conduta venha acompanhado de orientações
verbais, pode ficar em aberto um amplo leque de possibilidades, como por
exemplo, a forma de se retirar o chapéu, se é possível recolocá-lo dentro da
igreja e, etc.
Hart advertiu que, ao contrário do que defendeu grande parte da Teoria do Direito
do século XX, não se poderia afirmar que os exemplos dotados de autoridade
(precedentes) possuiriam maior certeza na comunicação que a transmissão de
padrões gerais de conduta feita por uma linguagem geral vinculante (legislação),
,pois em ambos os casos podem surgir incertezas quanto ao tipo de
comportamento por estas exigido: as situações de fato, particulares ou não, não
esperam por nós já diferenciadas entre si e rotuladas tais como exemplos da
norma geral cuja aplicação está em pauta, nem a norma geral pode se adiantar
para demarcar seus próprios exemplos.
13
O estudo da linguagem jurídica é um dos momentos ricos de percepção da língua como instituição
social, enraizada na tradição cultural que ela reproduz, transmitida de geração após geração. A linguagem
jurídica é também via de acesso à compreensão de que a cultura transmitida pela língua revela uma “visão
de mundo” que possui uma tendência à conservação linguística. A linguagem Jurídica se tem por base um
estudo amplo, quando a visão unitária do Direito, onde se é possível adquirir um vocabulário, em que
cada ciência exprime uma linguagem em especial. Como forma de comunicação seu desenvolvimento
decorre da história, bem como a divergência existente quanto ao seu conteúdo que é formando por
elementos naturais, ou apenas de vista consensual. Mediante ao registro histórico e sua evolução,
podemos perceber que a linguagem natural deriva, provem de um convívio social, adquirindo um sentido
especial no mundo jurídico. A Linguagem Jurídica por meio do legislador e os seus operadores tem o poder
de incorporar a linguagem natural com forma de essa linguagem servir melhor ao direito e a própria
sociedade, ante a sua especificidade. A existência das normas depende da linguagem, a linguagem é como
um conjunto de símbolos onde podemos analisar em três concepções, conhecidos como: Concepção
Sintática, que consiste basicamente em explicar a utilidade de escrever, e o mais importante interpretar
o direito de forma correta, uma ideia de segurança jurídica. A segunda concepção é a Semântica, onde se
tem o estudo do signo, dentro da realidade, excluindo tudo aquilo que é impreciso que muitas das vezes
provem da linguagem natural, a semântica tem por base a denotação e a conotação, para poder buscar a
realidade para cada termo. A terceira concepção é a Pragmática é um estudo que facilita a comunicação
entre o que emite a norma e o destinatário desta que pode ser apenas um receptor. Dessa forma deixa
de ser um mero receptor parasse tornar um conhecedor da mesma, tornando a linguagem algo muito
11
mais leve e eficaz. Para se transpor no mundo do Direito e sua linguagem é preciso, pois, de um estudo
de cinco anos e que dedique com atenção redobrada a termologia jurídica, onde se encontra um
conhecimento amplo e necessário de uma outra forma não há possibilidade de algum conhecimento e
comunicação.
Na sociedade brasileira, o discurso jurídico, em especial, foi muito influenciado pela retórica tradicional,
e, por isso, continuou resistente às transformações. Essa resistência se torna perceptível, por exemplo,
na permanência do uso dos brocardos jurídicos incluídos nos discursos orais ou escritos. É sabido que a
linguagem permeia todos nossos atos, em todas as instâncias da realidade social e que, por meio dela, se
podem perceber manifestações de poder entre os indivíduos que deixam transparecer a hierarquia
existente na sociedade. A linguagem do direito é matéria privilegiada para a percepção do universo
hierárquico.
14
Propôs Emílio Betti a oferecer aos juristas quatro cânones jurídicos de interpretação que devem ser
aplicados de forma combinada, e deveriam garantir simultaneamente segurança jurídica e correção
material das decisões judiciais. O primeiro cânone visa basicamente a garantir a segurança jurídica contra
a manipulação ideológica dos intérpretes e determina que o sentido é algo que não se deve sub-
repticiamente introduzir, mas sim, extrair das formas representativas. Portanto, para Betti, a atividade
interpretativa envolve a descoberta do sentido da norma e não uma atribuição autônoma de sentido à
norma.
O segundo cânone ratifica a regra hermenêutica tradicional de que as partes devem ser interpretadas em
função do todo e de que o todo deve ser descrito a partir de uma combinação harmônica das partes. E,
segundo Betti, os critérios para subtrair os elementos singulares o sentido do todo e de entender o
elemento singular em função do todo que é parte integrante. Este cânone representa o reconhecimento
da importância dos critérios sistemáticos de interpretação e, combinado ao primeiro, retoma-se a
proposta típica de Savigny e dos pandectistas de construir uma ciência jurídica simultaneamente história,
voltada a descrever e não a criar o direito positivo. O terceiro cânone introduziu propriamente a noção
de entendimento, pois exige que o intérprete reconstrua, no interior de sua subjetividade, o pensamento
original do autor, em uma atitude ao mesmo tempo ética e reflexiva, que deve ser feita, com humildade
e abnegação de si e ser reconhecida em um honesto e resoluto prescindir dos próprios preconceitos e
hábitos mentais obstativos. O quarto cânone introduz a noção de correção, na qual o intérprete não deve
apenas entender o sentido original do texto, porém, compreender o sentido de maneira tal que possa
reconstruí-lo, de forma que se adapte as novas necessidades sociais.
12
Neste caso, Hart apresentou seu ponto de vista que vai se tornar uma das mais
controversas questões de sua tese, amplamente combatida por Dworkin, a de
que o juiz, nesses casos, em que a linguagem jurídica está em crise da
comunicação, não havendo, pois, um juízo consensual, sobre seus termos,
deverá escolher, entre as alternativas abertas.
Repare que o verbo "escolher" utilizado por Hart já é um indício de sua conclusão
de que, nestes casos, age o juiz discricionariamente, ao decidir os casos difíceis,
os hard cases.
15
O critério de identificação do direito escolhido por Hart consiste em uma única “regra de
reconhecimento”, cuja estrutura se encontra segmentada na prática social de determinada comunidade
e, faz com que todas as demais normas sejam identificadas com base nela, o que lhe atribui um enorme
senso de autocrítica, evidenciando seu caráter preponderantemente interno.
16
Mas Dworkin repele abertamente a concepção cética do direito. Afinal, mesmo a opinião de que
nenhuma interpretação pode ser a melhor deve ser conquistada e defendida como qualquer outro
argumento interpretativo, e, portanto, não invalida a teoria interpretativa do direito. Contudo, Dworkin
não defende que a interpretação é, tal qual a física, que é capaz de demonstrar suas proposições. Nem
tampouco os valores morais do universo ou alguma realidade transcendental em que possam ser
descobertos pela interpretação. Reconhece, assim, que o significado atribuído por uma interpretação não
pode ser comprovado de maneira empírica ou metafísica conforme pretendem os céticos exteriores,
justamente porque se trata de uma interpretação.
13
Por tudo isso, Haft17 afirmou que a linguagem do Direito não pode ser unívoca,
ao contrário, deve ser equívoca e plurívoca. Ou seja, repleta de significados.
17
Fritjog Guntram Haft (1940) é juristas alemão. Estudou Direito na Ludwig Maximilians Universidade
Munich e, em 1960 tornou-se membro do Corps Isaria. Em 1969 recebeu seu doutorado com uma tese
sobre os sistemas cibernéticos em Direito na Universidade Justus Liebig Giessen. Em 1982, ele se habilitou
na Faculdade de Direito da LME Munique. De 1982 até 2005 ocupou os cargos de Presidente de Direito
Pena e Direito Penal, Filosofia Jurídica e informática legal da Universidade de Eberhard Karl Tubingen.
14
No Direito brasileiro, Luís Roberto Barroso, atual Ministro do STF, ataca o que
chama de crença iluminista no poder absoluto da razão, apontando dois grandes
abalos àquela crença. O primeiro advindo do materialismo histórico marxista que
apontou ser a razão prisioneira da ideologia, fruto de um conjunto de valores
introjetados e imperceptíveis que condicionam o pensamento e a vontade.
Tais abalos colocam por terra, o imaginário do conhecimento científico que não
é possível ser atingido pelo Direito, imaginário constituído por duas
características inafastáveis do verdadeiro conhecimento científico: a
neutralidade e a objetividade.
A teoria de Hart sobre a textura aberta do Direito pode ser considerada como
teoria de indeterminação moderada da linguagem jurídica, posto que afirme que
nos casos fáceis, não haveria indeterminação na linguagem, mas apenas nos
casos difíceis (hard cases).
18
Para Dworkin, a teoria geral do direito é interpretativa e justificadora, e, mais do que isso, é parte do
próprio direito, como parte geral de qualquer decisão. Nas palavras de Dworkin, “(...) o voto de qualquer
juiz é, em si, uma peça de filosofia de direito, mesmo quando a filosofia está oculta e o argumento visível
é dominado por citações e listas de fatos. A doutrina é a parte geral da jurisdição, o prólogo silencioso de
15
Diante dessa estrutura concebida, Hart permitiu que o Direito cumpra com duas
necessidades sociais19, a saber: uma, referente à necessidade de certas regras,
com grau razoável de certeza, que podem ser entendidas e aplicadas pelos
qualquer veredito”. Dworkin entende que o direito não pode ser descrito, mas apenas interpretado, pois
essa é a melhor explicação do que é o direito. A preocupação de Dworkin em delinear uma teoria do
direito como integridade, levando-o à firme tentativa de adequá-la e justificá-la como a teoria que mostra
nossa prática jurídica sob sua melhor luz, reflete sua concepção de que o direito apenas pode ser
interpretado e não descrito.
19
As regras ditas secundárias, são responsáveis por atribuir poderes, seriam um traço peculiar das
sociedades desenvolvidas, que muito evoluíram através da dinâmica das relações sociais mais complexas.
E, nessa onda de transformações, que sofreram as sociedades primitivas, surgiram três grandes
problemas, que segundo Hart, estariam relacionados à impossibilidade de manutenção de um sistema
fundado em regras primárias.
O primeiro problema seria o da incerteza ligada à questão da mutação de regras sociais ao longo do tempo
e, ainda a dificuldade de reconhecimento de mudanças por parte dos membros da sociedade.
O segundo problema é do caráter estático das regras, relacionado à escassez de meios encontrados pela
sociedade para institucionalizar novas regras ou fazer com que as antigas deixem de existir.
Quando ao terceiro, o doutrinador denomina problema de ineficácia, sustentando-se no fato de que o
descumprimento das regras dentro de determinado contexto social, gera sua ineficácia no mundo
jurídico, transmitindo-se a ideia de desobrigação.
16
20
Nota-se uma mudança significativa nas teorias dos jusfilósofos apontados em relação à questão da
atuação do juiz, de como as sentenças são proferidas e dos limites dessa atuação. Enquanto Austin e Hart
defendem que as sentenças são parte da criação do juiz, mas essas não são criações ilimitadas devido à
limitação que o faz o soberano, no caso de Austin, e do Parlamento, no caso de Hart. Kelsen irá defender
um apreço as normas jurídicas na atuação do juiz, mas não delimita como o juiz pode atuar. Dworkin
entende que a limitação ao juiz decorre da sua discricionariedade fraca e da necessidade de uma busca
de uma técnica para julgar e não de uma atuação política, que permitiria criar o novo e minimizar a
insegurança.
17
Para tanto, analisou aquilo que chamou de duas típicas defesas do positivismo.
A primeira defesa afirma que o verdadeiro argumento sobre o Direito dever ser
empírico e não teórico, de modo que, nestes casos, o Direito, ou melhor, as
instituições jurídicas precedentes21, simplesmente não havia posto nenhuma
norma jurídica para resolver a questão.
Desta forma, os juristas discordariam quanto à solução a ser dada aos casos
difíceis devido à divergência quanto ao significado e às regras de uso das
palavras.
21
A teoria do stare decisis que observa o princípio da integridade exige o respeito aos precedentes e não
sua imutabilidade, não admite que se revogue um precedente porque este será melhor para toda
comunidade tal como o pragmatismo que ignora os precedentes com base em argumentos de política.
Dessa forma, o que se defende pela aplicação do princípio da integridade na decisão judicial é que se
aplique uma ampla doutrina do stare decisis, pela qual se impõe respeito ao passado, o que poderá ser
feito, seguindo, revogando ou distinguindo os precedentes. In: BARBOZA, Estefânia Maria de Queiroz.
Escrevendo um romance por meio dos precedentes judiciais. - Uma possibilidade de segurança jurídica
para a jurisdição constitucional brasileira. BH: A&C – R. de Dir. Administrativo & Constitucional, ano 14,
n. 56, p. 177-207, abr./jun. 2014.
18
sobre onde a linha divisória sobre o significado de um termo deve ser traçada,
quando na verdade na discussão é muito maior que isso, a discussão é sobre o
conteúdo do direito, sobre o que o direito realmente é.
Ao revés de Hart, para Dworkin haveria uma resposta correta, one right answer22
para todos os casos, inclusive para os casos difíceis. Para encontrar a resposta
correta, Dworkin invoca a aplicação de princípios e, não apenas das regras,
como faria, sempre na visão de Dworkin invoca a aplicação dos princípios e, não
apenas das regras, como fariam, sempre na visão de Dworkin, as teorias
positivistas.
22
A tese da única resposta correta é uma relevante contribuição de Dworkin para compreensão do Direito
Democrático. Todavia, em paralelo às regras, pode-se perceber que os juristas utilizam um outro standard
normativo, os princípios, in lato sensu, que abrangem tanto os princípios propriamente ditos, quanto as
chamadas diretrizes políticas. O difícil parece entender esse divórcio entre os princípios e as regras. E,
Dworkin, assumindo as consequências do giro linguístico, afirmou que a diferença decorre simplesmente
de uma ordem lógico-argumentativa e não morfológica, conforme defendeu Alexy. E quando os princípios
estão em conflito, o juiz deve ponderar, considerando a força relativa de cada um destes, devendo-se
aplicar aquele que for mais adequado ao caso concreto.
19
23
Para Dworkin o poder do juiz ao julgar não pode invadir a esfera da política e criar o novo, mas deve se
manter no âmbito do direito e se utilizar dos princípios para criar o direito no caso concreto para
solucionar a determinada demanda. Seguindo os princípios de Direito o juiz teria um poder discricionário
fraco, utilizaria de técnicas para decidir e se afasta da política e da arbitrariedade das decisões.
Nota-se também uma crescente preocupação com a previsibilidade dos julgamentos, que está retratado
na teoria de Dworkin. Esta preocupação já estava presente nas discussões dogmáticas no início do século
XX, porém é nos fins do século XX que se elabora uma teoria para buscar justificar a atuação do juiz dentro
de uma tradição legal e que assim seja de alguma maneira previsível. A questão de como escolher diante
de diversas possibilidades de legislação ou precedentes para elaborar uma sentença está presente em
uma gama de teorias filosóficas, como as vistas acima, como também nas próprias regras da dogmática
jurídica. Escolher com base na utilidade das sentenças é uma das correntes hermenêuticas que se tiveram
desenvolvimento no fim do século XX. In: SALGADO, Gisele Mascarelli. Considerações sobre as decisões
judiciais para juspositivistas: Austin, Kelsen, Hart, Dworkin. Disponível em:
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=19463&rev
ista_caderno=15 Acesso em 28.02.2018.
24
Diferentemente dos tribunais britânicos e norte-americanos, reconhecidamente pertencentes ao
sistema common law, os Tribunais pátrios não se preocupam em garantir a coerência em suas decisões,
nem mesmo respeitar os precedentes dos Tribunais Superiores, até mesmo a Suprema Corte não tem
respeitado as suas próprias práticas de precedentes, deflagrando um sentimento firme de insegurança
jurídica. Aliás, a segurança jurídica somente poderá existir concretamente juntamente com o princípio de
igualdade nas decisões judicias, posto que não haja que se cogitar em segurança jurídica quando se depara
com decisões conflitantes sobre assuntos e fatos exatamente idênticos.
Enfim, no brasil, a ausência clara de definição sobre a vinculação dos Tribunais inferiores aos precedentes
dos Tribunais Superiores, deflagra uma total ofensa ao princípio da igualdade, previsibilidade e segurança,
o que acarreta uma majoração desnecessária da litigiosidade justamente no âmbito dos Tribunais
Superiores exatamente para rever tais questões.
25
Nesse processo, o intérprete, assim como o romancista, deve criar a melhor interpretação possível
como se fosse a obra de um único autor. Trata-se de uma continuidade e não de um novo começo, e, por
isso, sua liberdade criativa fica bastante limitada. Numa primeira fase, a que Dworkin chama adequação,
deve-se identificar quais interpretações são compatíveis com os capítulos anteriores. Essas interpretações
devem ser capazes de explicar o texto de forma substancial. Não se exige concordância com todos os
elementos, mas ao menos em relação aos pontos estruturais. Pode ser que, após essa análise de
adequação, o intérprete conclua que há mais de uma leitura possível em relação ao texto. Deve decidir,
então, qual delas se ajusta melhor à peça em construção, isto é, como poderá mostrar o texto sob sua
melhor luz. Em suma, os juízes tentam encontrar, em algum conjunto coerente de princípios, a melhor
interpretação construtiva da estrutura política e da doutrina jurídica de sua comunidade. Em seguida,
verificam quais interpretações são adequadas a esse conjunto de princípios, e, apenas então, se houver
mais de uma interpretação adequada, deverão buscar aquela que maximize esse conjunto coerente de
princípios. O direito como integridade será determinante tanto na adequação quanto na justificação do
melhor significado.
21
Ao julgar os casos difíceis o juiz deve fazer uma escolha entre as interpretações
aceitáveis, perguntando-se qual delas apresenta sua melhor luz, do ponto de
vista moral política, a estrutura das instituições e decisões da comunidade, suas
normas públicas como um todo.
26
Para Hart, o juiz não se confunde com o legislador, uma vez que as sentenças dos juízes não fazem lei,
elas apenas criam onde não há legislação e sempre com base nas regras já existentes. Assim diz Hart: “A
textura aberta do direito deixa aos tribunais um poder de criação de direito muito mais amplo e
importante do que o deixado aos marcadores, cujas decisões não são usadas como precedentes criadores
de direito. Seja o que for que os tribunais decidam, quer sobre questões que caem dentro daquela parte
da regra que parece simples a todos, quer sobre as questões que ficam na sua fronteira sujeita a discussão,
mantém-se, até que seja alterado por legislação; e sobre a interpretação de tal, os tribunais terão de novo
a última palavra dotada de autoridade. Mesmo assim, continua a haver ainda uma distinção entre uma
constituição que, depois de esta constituição estabelecer um sistema de tribunais, dispõe que o direito
será tudo aquilo que o supremo tribunal considere adequado e a constituição efetivados Estados Unidos-
ou, para mesmo efeito, a constituição de qualquer Estado moderno (....)
Qualquer juiz em concreto, quando toma posse do seu cargo, como qualquer marcador quando inicia as
suas funções, encontra uma regra, por exemplo a que dispõe que os atos promulgados pela Rainha no
Parlamento são direito, estabelecida como uma tradição e aceite como padrão de conduta para aquele
cargo. Esta regra circunscreve, ao mesmo tempo que permite a atividade criadora dos seus titulares (...)”.
22
Referências
ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de
Estudos Políticos y Constitucionales, 2002.
BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito
constitucional brasileiro (pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). In:
27
Para a teoria moderna de Direito a jurisdição é valorizada como fonte do direito, o juiz é dotado de um
poder criativo, para alguns, fundamentado na lei, sendo exemplo a equidade na qual se encontra, sem
dúvida, uma transferência do poder de legislar do Legislativo para o Judiciário. No pensamento jurídico
anglo-saxão, da Escola da Jurisprudência Sociológica e do Realismo Jurídico, à função judicial é atribuída
a uma dimensão eminentemente prática, participando mais diretamente o juiz da edificação do direito
positivo.
23