DOSSIÊ
REPRODUÇÃO ASSISTIDA NO BRASIL
Marilena C. D. V. Corrêa
Maria Andréa Loyola
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as sozinhas, homossexuais, por exemplo, também material reprodutivo de sobra para os ensaios
reivindicarem sua utilização dificulta a delimita- de fertilização que se seguirão. Isso porque há per-
ção meramente técnica (médica) da (in)fecundidade, das e falhas, até o momento incontroláveis, entre
que não dá conta do fenômeno em questão. A pro- as diferentes etapas do processo hiperestimulação
dução de bebês por via técnica e tecnológica be- hormonal, coleta de óvulos, fertilização in vitro,
bês de proveta, clonagem indica estar em jogo transferência de embriões para o útero, implanta-
mais uma vez, um processo de intervenção nos ção, gravidez clínica e nascimento. O aumento da
processos reprodutivos humanos que ultrapassa produção de óvulos (via hiperestimulação
sua dimensão biológica. hormonal) e, na etapa seguinte, de embriões tem
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Existem variantes técnicas da FIV, como a ICSI (injeção sido a forma comumente utilizada para contornar
intracitoplasmática de espermatozóides), que consiste aquelas falhas. Com o mesmo objetivo de melho-
em injetar um único espermatozóide diretamente no
óvulo; a heteroplasmia mitocondrial, ou rejuvenescimen- rar a performance da RA, admite-se também, como
to de óvulos, como ficou conhecida popularmente, que
consiste na mistura de material genético de origem boa prática médica e como eticamente adequada, a
mitocondrial de duas mulheres visando também à
melhoria da performance da FIV em casos de mulheres 3
Na prática, já tivemos experimentos não controlados
em idade reprodutiva mais avançada, que receberiam parte ética e socialmente, como nos casos anunciados na
de material genético de mulheres jovens; entre outras mídia, a posteriori, de clonagem de embriões humanos
técnicas. (ainda que não totalmente comprovados cientificamente).
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b) A aceitação das limitações técnicas acima men- brido de norma profissional e norma bioética, sur-
cionadas tornou-se, efetivamente, responsável giu apenas em 1992, portanto após mais de dez
pela constituição de uma população de embri- anos de atividade de fertilização in-vitro (FIV) no
ões congelados em clínicas de RA (dos quais, Brasil.4 Trata-se de uma resolução do Conselho
no caso brasileiro, desconhece-se o número ou a Federal de Medicina (CFM), instância máxima de
situação). A ela vão estar ligados desdobramen- controle do exercício da medicina no País, que tam-
tos ainda mais controversos, como pesquisas e bém concentra atividades no campo da bioética. A
intervenções sobre embriões; possibilidade de Resolução 1.358 (CFM, 1992) define-se como uma
análises genéticas e seleção; intervenções no curso norma bioética e, reconhecendo a legitimidade do
da vida individual por suspensão da mesma por anseio de superar a infertilidade humana, pro-
congelamento, e na própria espécie, tanto no blema de saúde com implicações médicas e psico-
sentido da preservação ou de alterações mais ou lógicas, reafirma os princípios gerais da
menos arbitrárias de características genéticas, inviolabilidade e da não comercialização do corpo
quanto no da possibilidade de criação de qui- humano, da gratuidade do dom e do anonimato
meras (mistura de diferentes espécies vivas), da doação. Indica a necessidade de observação do
como de clonagem, etc. A liberação no ambien- consentimento formal dos sujeitos participantes
te, fora do corpo de homens e mulheres, de em- de programas de FIV e estabelece regras para dimi-
briões e células reprodutivas, permite sua trans- nuir a possibilidade de incesto inadvertido. Sem
formação em material biológico disponível, e o mencionar a sexualidade, o documento aceita que
surgimento de propostas de apropriação de ele- mulheres solteiras possam ter acesso às técnicas
mentos humanos vivos para aplicação de de RA, bem como à doação temporária do útero
tecnologias experimentais, como as novas (barriga de aluguel), práticas que possibilitariam o
tecnologias de células tronco de embriões. Estas acesso de homossexuais as NTRc. No caso da do-
propostas se desdobram na possibilidade de ação temporária de útero (ou barriga de aluguel), é
patenteamento de células, tecidos, seqüências preconizado, ainda, que ela ocorra dentro da famí-
genéticas, o que evidencia interesses comerciais lia, entre irmãs, cunhadas, tias, etc.
e financeiros na matéria viva e nos processos No que diz respeito ao acesso e, em de-
vitais. corrência, ao tipo de família que se constituiria a
d) Finalmente, formas de organização das famíli- partir das técnicas procriativas ele vem sendo
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as, da filiação e do parentesco, e das gerações regulado na própria prática, isto é, em função do
podem decorrer das diversas possibilidades aber- poder aquisitivo dos solicitantes, uma vez que,
tas pelas técnicas de RA e das técnicas ditas com- como dito, a quase totalidade das clínicas de FIV
plementares, como doação de sêmen, de óvulos, concentra-se no setor privado da medicina e está
de útero, e de embriões humanos (sejam elas fora de qualquer tipo de controle oficial. Os raros
utilizadas por homossexuais ou heterossexuais); serviços implantados, nos últimos anos, em hos-
doação a partir de células e embriões congelados pitais públicos (e universitários) não oferecem a
de pessoas mortas (inseminação, fertilização post- integralidade dos procedimentos de RA, cabendo
mortem); ou ainda de um só indivíduo aos clientes custear medicamentos, exames e ma-
(clonagem). terial, todos de altíssimo custo, o que exclui, por
razões de ordem econômica, larga parcela da po-
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Com relação aos destinos dos embriões, a do CFM não faz referência à necessidade de se
Resolução do CFM citada delimita em 14 dias o criar algum tipo especial de licença para regular o
tempo máximo de desenvolvimento de um em- funcionamento das clínicas de RA ou algum siste-
brião humano fora do corpo feminino, em conso- ma para monitorar os resultados dessas técnicas,
nância com as normas e recomendações bioéticas o que também contraria a tendência observada nos
internacionais que se seguiram ao Warnock Report países dos quais o Brasil importou essa tecnologia.6
(Warnock, 1985). Com relação à pesquisa, ela é Esse quadro poderá ser alterado a partir de
bastante econômica: proíbe a fecundação de iniciativas provenientes do próprio meio profissi-
ovócitos humanos, com qualquer outra finalidade onal. Desde os anos 2000, associações profissio-
que não seja a procriação. Como o abortamento é nais da área da medicina reprodutiva brasileira,
considerado crime no Brasil, a Resolução não aceita sob a liderança da Sociedade Brasileira de Repro-
nem a destruição de embriões supranumerários, dução Assistida (SBRA), desenvolvem um movi-
nem a redução embrionária (em casos de gestações mento pela acreditação das clínicas e pela cons-
de múltiplos fetos), embora admita como eticamen- trução de um cadastro nacional das atividades de
te aceitável a transferência de até quatro embriões FIV. Caso tenha êxito, esse empreendimento nos
por tentativa de gravidez. Sob esse aspecto, a nor- permitirá conhecer a localização das clínicas, as
ma contraria a tendência de limitação desse núme- técnicas empregadas, sua eficácia, o perfil das
ro, sugerida pela literatura especializada internaci- infertilidades, o número de embriões congelados
onal e pelo relatório da Organização Mundial da existentes no país, o tempo de congelamento, as
Saúde (Who, 2001), que propõe que apenas um características das gestações, dos recém-nascidos
embrião seja transferido por ciclo FIV. Finalmen- e assim por diante, dados ainda não disponíveis e
te, o congelamento e a doação de embriões, desde de grande importância para o debate bioético e sobre
que autorizados, são admitidos. a regulação da RA.7
As gestações múltiplas e seus efeitos dele- A partir de meados do anos 1990, surgem
térios para a saúde de mulheres e bebês foram e projetos de lei específicos sobre a RA (Corrêa; Diniz,
continuam sendo fonte de preocupação e debate 2000; Diniz, 2003). Os primeiros projetos pratica-
na literatura médica.5 Essa discussão focaliza prin- mente reproduzem a norma do Conselho Federal
cipalmente o problema da baixa eficiência das de Medicina e, por serem todos eles de autoria de
NTRc e os procedimentos paliativos propostos parlamentares médicos, encontram-se permeados
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bém o consentimento formal (através da assinatu- to recomenda que se incitem os poderes públicos
a realizar campanhas alertando as pessoas inférteis
para a possibilidade de adoção desses embriões.
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Os três primeiros projetos de lei mais importantes e As mudanças ocorridas no texto do projeto
abrangentes foram: PL 3.638/93 (do deputado Luis
Moreira); PL 2.855/97 (do deputado Confúcio Moura); de lei ao longo de sua tramitação em muito o afas-
PL 90/99 (do senador Lúcio Alcântara). E, em um se-
gundo momento, o PL 120/2003 (da deputada Maninha) taram da norma do CFM, levando os especialistas
e o PL 2.061/2003 (do deputado Roberto Pessoa), os dois
últimos focados na questão da filiação e no direito de em RA a considerá-lo muito controlista. Para eles,
conhecer as origens individuais e a identidade biológi- a proibição do congelamento de embriões, a restri-
ca (Diniz, 2003). A informação e o acompanhamento
de PL estão disponíveis nos sites da Câmara e do Senado ção ao máximo de dois embriões por transferên-
Federal.
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O atual PL 1.184 tramitou como PL 90/99 e teve como cia, a proibição da gestação de substituição e a re-
relatores o ex-senador Roberto Requião e o senador Tião dução embrionária praticamente inviabilizariam a
Viana. Como é comum no processo legislativo, a ele
foram apensados os demais projetos citados na nota prática da RA. A derrota dos médicos, nessa eta-
anterior (exceto o PL 3.638, de Luis Moreira, aquele que
permaneceu mais próximo da norma do CFM, mas pa, corresponde a uma vitória (ao que tudo indica
engavetado). Apesar de diferenças substantivas entre
eles, dificilmente se chegaria a examinar dois projetos de provisória) das igrejas e das bancadas religiosas,
lei sobre uma mesma matéria como a RA, cabendo a fortemente representadas no Legislativo.
proposição de emendas e destaques durante a tramitação,
até o momento da votação. De fato, ao final do ano de 2002, o Ministé-
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rio da Saúde mobilizou-se para criar um grupo de universalista foi o princípio do qual decorreu a
trabalho sobre reprodução humana assistida, para aceitação das diferentes técnicas doação de sê-
discutir os rumos da regulação da RA no âmbito men, óvulos, barriga de aluguel, etc entendidas
do Legislativo, que lhe pareciam indicar a cons- como arranjos para se atender a qualquer deman-
trução de obstáculos maiores para a aplicação das da de reprodução por pessoas sozinhas ou uni-
técnicas de reprodução assistida no País.10 Como das, independentemente de seu sexo ou sexuali-
resultado, foi produzida uma nota técnica em tor- dade. Por outro lado, a garantia do direito ao Pla-
no dos pontos considerados mais sensíveis no texto nejamento Familiar é desafiada, no caso da repro-
do projeto de lei 1184, no sentido de garantir o dução assistida, pela necessidade de se harmoni-
acesso e evitar abusos: o acesso universal, ou seja, zar direito à prole e direito à saúde (tal como pre-
garantido a pessoas solteiras, casadas ou unidas, visto na mesma lei), o que nem sempre é evidente
independentemente de sua sexualidade; o consen- nessa área, visto que a aplicação das técnicas
timento livre e esclarecido para a aplicação de to- procriativas comporta riscos para mulheres e be-
das as técnicas, obrigatoriamente exigido para to- bês, a partir de uma situação não necessariamente
dos os participantes; a decisão quanto ao número patológica a ausência involuntária de filhos
de embriões transferidos, que deve ser definido mas que é efetivamente redescrita como tal pelas
em cada caso; o restabelecimento da possibilidade próprias técnicas de reprodução assistida (Becker;
de congelamento de embriões; a possibilidade de Nachtigall, 1992; Becker, 1994).
acesso à identidade genética dos doadores em nome
do direito de o indivíduo conhecer suas origens (o
que pressupõe a quebra do sigilo sobre a doação, A REGULAÇÃO DA RA E SEUS PARADOXOS
mas sem efeitos no âmbito do parentesco); a ad-
missão da gestação de substituição (para possibili- A regulação da reprodução assistida é, de
tar o acesso igual para homens e mulheres soltei- fato, uma questão particularmente complexa, por-
ras); a necessidade de uma instância oficial de fis- que envolve interesses muito variados e cujos efei-
calização e controle da RA no Brasil. tos apresentam-se, muitas vezes, como paradoxais,
Para o momento, é difícil explicar comple- tanto no caso do acesso às técnicas (eligibilidade)
tamente o que determinou essa primeira quanto no caso das pesquisas com embriões. O
mobilização por parte do Ministério da Saúde na acesso às técnicas reprodutivas, visto como uma
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tação, do ponto de vista bioético, das possibilida- no sentido que essas técnicas foram concebidas
des de acesso às técnicas, deve-se reconhecer que para ajudar casais heterossexuais infertéis a rea-
os efeitos sociais e simbólicos da dissociação entre lizar seus projetos reprodutivos, o mais proxima-
genitores (de gametas) e pais sociais não constitui mente possível do modelo natural. Mas, em se-
uma decorrência do uso das técnicas biomédicas guida, a ampliação do acesso às NTRc é reivindi-
de procriação. Ao contrário, o surgimento e a difu- cado também por homossexuais e pessoas sozi-
são da reprodução assistida deram-se em um con- nhas, o que lhes permite reproduzirem-se biologi-
texto histórico-social marcado pela tensão entre, camente. Tal demanda permite supor a generaliza-
por um lado, o ideal de uma paternidade e de uma ção do desejo por filhos biológicos, o que não dei-
maternidade completas, ou seja, aquelas que xa de ser paradoxal nos caso dos homossexuais
unem procriação (biológica), filiação (nome), sexu- que lutam pelo reconhecimento social e jurídico
alidade (heterossexual) e prazer, e, por outro lado, de uma vida comum e familiar fundada em laços
a existência efetiva de práticas heterogêneas no afetivos, fora do modelo familiar justificado pela
plano da filiação e da família, da sexualidade e das diferença biológica entre os sexos e a
formas de união entre os sexos, tais como divórcio heterossexualidade.
e recomposições familiares, famílias monoparentais, A aplicação das NTRc só encontraria limi-
união homossexual, adoção, etc. E, ainda mais tes no desejo oposto, ou seja, no desejo explíci-
recentemente, pela proposição, no plano jurídico, to de não se reproduzir. De fato, sem desejo de
de diretivas favoráveis à reprodução de homosse- filhos não existe infertilidade e, em conseqüência
xuais adoção, casamento homossexual (Bélgica, reprodução assistida (Corrêa, 1997; 2001). O bebê
Holanda, Espanha) ou de dispositivos equivalen- de proveta tem de ser desejado como tal, e esse
tes (como o Pacto Civil de Solidariedade, na Fran- desejo tem de ser afirmado para que se possa co-
ça, Inglaterra, e países escandinavos, entre outros meçar a definir investigar e diagnosticar a
países da Europa). infertilidade. Sem essa demanda, a infertilidade
De fato, o debate bioético sobre a RA, desde não existe e nem seu tratamento pela reprodução
suas origens (Warnock, 1985), vislumbra a ligação assistida. Sem ela, como justificar social e moral-
direta entre o tratamento das infertilidades e a cri- mente a produção de embriões da qual a prática
ação de famílias, e coloca explicitamente a neces- da RA se tornou um lócus privilegiado, senão pela
sidade de discutir suas implicações. Este texto leva existência de uma ordem social biologicamente
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comercialização de plantas, com exceção das práti- dução (soja transgênica, animais transgênicos para
cas de pesquisa em ambiente confinado). A nova laboratório) com aqueles ligados também à repro-
lei conhecida agora como Lei de Biossegurança dução humana (embriões para a pesquisa).
(PL 2401/ 2003) que acaba de ser aprovada no De fato, esses desenvolvimentos nos levam
Congresso Nacional e aguarda a sanção presiden- a interrogar sobre os problemas relacionados ao
cial, constitui, na verdade, uma revisão da antiga patenteamento da matéria viva em geral e de ele-
lei de biotecnologia de 1995. Ela altera profunda- mentos vivos (biológicos, genéticos) do corpo hu-
mente esse quadro, assim como o mundo da ferti- mano, passíveis de serem cristalizados no plano
lização in vitro, uma vez que, se sancionada, tor- da lei, em um contexto de discussão ainda pobre,
nará possível a captação de embriões oriundos das como no caso brasileiro.13 A apropriação da maté-
clínicas de RA para pesquisa, em particular para a ria viva de seres humanos por um instrumento de
aplicação experimental da tecnologia de células- propriedade como a patente é algo que atinge dire-
tronco. Ela impõe, ainda, uma rediscussão do Pro- tamente o único bem que universaliza o direito de
jeto de Lei 1.184 sobre RA (que tramitou paralela- propriedade (ou que torna a propriedade um di-
mente à lei de biossegurança no Congresso Nacio- reito universalizável): o corpo humano. O cami-
nal, nos últimos dois anos).12 nho a ser trilhado no plano do debate bioético so-
A sensação de perplexidade gerada pela bre essa questão não poderá ignorar as pressões
votação, aparentemente muito rápida, desse novo macroeconômicas favoráveis à apropriação do ser
texto está relacionada, primeiramente, ao fato de o vivo, que já podem ser bem identificadas no caso
debate público sobre a biotecnologia ter avançado de plantas e de animais. Nesses, como no caso de
pouco, ou talvez mais lentamente do que o deseja- elementos do corpo humano, a apropriação
do (ao contrário do processo de tramitação e vota- indiscriminada de inovações biomédicas e de bens
ção da lei). Mas também porque ele inverte com- para a saúde pode resultar em situações de exclu-
pletamente o sentido da lei anterior, liberando tudo são, como se verifica para medicamentos, equipa-
o que estava até então proibido em termos de enge- mentos etc. Em diversos países, existem pedidos
nharia genética no país. E, sobretudo, pelo que foi de patentes (algumas concedidas) relativos a teci-
identificado na mídia como a incompreensível dos, células, moléculas, genes, células-tronco de
mistura, numa mesma lei, de aspectos ligados à animais (para comercialização e uso em experiên-
biotecnologia verde (apropriação de sementes ve- cias), o que poderá acontecer, também, com as li-
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