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2018.1
ALIENAÇÃO E O TRABALHO ESTRANHADO
Com efeito, segundo este pressuposto está claro: quanto mais o trabalhador
se desgasta trabalhando (ausarbeitet), tanto mais poderoso se torna o
mundo objetivo, alheio (fremd) que ele cria diante si, tanto mais pobre se
torna ele mesmo, seu mundo interior, e tanto menos o trabalhador pertence
a si próprio. (MARX, 2008, p. 81)
O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto
mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna
uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a
valorização do mundo das coisas (Sachenwelt) aumenta em proporção
direta a desvalorização do mundo dos homens (Menschenwelt). (MARX,
2008, p. 80)
Parece portanto que o capitalista compra trabalho deles com dinheiro. Estes
vendem-lhe o seu trabalho a troco de dinheiro. Mas só na aparência é que
isto se passa. Na realidade, o que os operários vendem ao capitalista em
troca de dinheiro é a sua força de trabalho. [...], portanto, o salário é apenas
um nome especial dado ao preço da força de trabalho, a que se costuma
chamar preço do trabalho; é apenas o nome dado ao preço dessa
mercadoria peculiar que só existe na carne e no sangue do homem. [...] O
capitalista compra, com uma parte da fortuna que tem, do seu capital, a
força de trabalho do tecelão, exactamente como comprou com outra parte
da sua fortuna a matéria-prima - o fio - e o instrumento de trabalho - o tear.
Depois de fazer estas compras, e entre as coisas compradas está a força de
trabalho necessária para a produção do pano, o capitalista produz agora só
com matérias-primas e instrumentos de trabalho que lhe pertencem.
(MARX, 1982, p. 8-10)
Marx vê também que o trabalho exercido pelo homem é necessário para seu
entendimento como indivíduo, é essencial para ser humano. Em O Capital, existe
uma passagem que retrata essa relação do trabalho com a natureza:
Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso,
uma condição de existência do homem, independente de todas as formas
de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo
entre homem e natureza e, portanto, da vida humana. (MARX, 1985, p.50)
Nesse primeiro momento, Marx trata sobre essa exteriorização dos produtos e
como o capital é um produto da força humana. Após essa utilização da força
humana e a produção do objeto, entramos na segunda dimensão, a alienação em
relação ao processo de trabalho, que retrata sobre o trabalhador não se reconhecer
nesse produto. “O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas forçado, trabalho
obrigatório. O trabalho não é, por isso, a satisfação de uma carência, mas somente
um meio para satisfazer necessidades fora dele” (MARX, 2008, p. 83).
Como já retratado, Marx vê o trabalho como uma substância que torna-nos
humanos, seria o momento em que nos reconhecemos como indivíduos. Nessa
segunda dimensão, vemos que não é apenas o produto que se é estranhado pelo
trabalhador, o próprio processo parece-lhe como algo exterior que se impõe a ele.
No momento em que o capitalista compra a força de trabalho, ele se torna dono
daquele percurso até o objeto, impondo no ato de produção um caráter alienante,
opressivo.
Com isso, o trabalho que deveria humanizar, apenas explora. O trabalhador
torna-se apenas uma força, perdendo sua individualidade. O trabalhador tem a sua
força explorada, recebe uma quantia injusta em troca e necessita comprar o que ele
mesmo produziu. Essa força que é explorada transforma o trabalhador em apenas
um meio para a obtenção do objeto, que é o fim.
O auge desta servidão é que somente como trabalhador ele pode se manter
como sujeito físico e apenas como sujeito físico ele é trabalhador. [...] a
economia nacional oculta o estranhamento na essência do trabalho porque
não considera a relação imediata entre o trabalhador (o trabalho) e a
produção. Sem dúvida. O trabalho produz maravilhas para os ricos, mas
produz privação para o trabalhador. [...], mas o estranhamento não se
mostra somente no resultado, mas também, e principalmente, no ato da
produção, dentro da própria atividade produtiva. (MARX, 2008 p. 82)
MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. 1 ed. Lisboa: Editorial Avante, 1982.