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Constantino

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Constantino I, também conhecido como Constantino I
Constantino Magno ou Constantino, o
Imperador romano
Grande (em latim: Flavius Valerius
Constantinus; Naísso, 272 — 22 de maio de
337), foi um imperador romano, proclamado
Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de
306, que governou uma porção crescente do
Império Romano até a sua morte.

Constantino derrotou os imperadores Magêncio


e Licínio durante as guerras civis. Ele também
lutou com sucesso contra os francos e alamanos,
os visigodos e os sármatas durante boa parte de
seu reinado, mesmo depois da reconquista da
Dácia, que havia sido abandonada durante o
século anterior. Constantino construiu uma
nova residência imperial em Bizâncio,
chamando-a de Nova Roma. No entanto, em
honra de Constantino, as pessoas chamavam-na
de Constantinopla, que viria a ser a capital do
Império Romano do Oriente durante mais de
Fragmento de uma estátua monumental de
mil anos. Devido a isso, ele é considerado como
Constantino, que combinava partes em mármore com
um dos fundadores do Império Romano do outras em bronze, representando-o sentado e vestido
Oriente. de couraça. Erguida na chamada Basílica de
Constantino, em Roma, foi projetada por Magêncio e
completada por Constantino; atualmente está nos
Museus Capitolinos.

Índice Reinado 25 de julho de 306 — 29 de


outubro de 312 (aclamado
Fontes como Augusto no Ocidente,
oficialmente nomeado César
Ascensão a Augusto do Ocidente por Galério com Severo como
Religião Augusto, por acordo com
Maximiano, recusou a
Reformas religiosas, militares e relegação a César em 309)
administrativas 29 de outubro de 312 — 19 de
Fundação de Constantinopla setembro de 324 (Augusto do
Ocidente em disputa, principal
Sucessão Augusto no Império)
Morte 19 de setembro de 324 — 22
Apreciações póstumas de maio de 337 (imperador do
império unificado)[1]
Ver também
Consorte Minervina, dissolvido por
Notas
morte ou divórcio antes de
Referências 307,
Fausta
Antecessor(a) Constâncio Cloro
Fontes Sucessor(a) Constantino II
Constâncio II
Constantino era um governante de grande Constante I
importância histórica e sempre foi uma figura Dinastia Constantiniana
controversa[3]. As flutuações na reputação de Nascimento 27 de fevereiro de 272[2]
Constantino refletem a natureza das fontes Naísso (moderna Niš, Sérvia)
antigas de seu reinado. Estas são abundantes e Morte 22 de maio de 337 (65 anos)
detalhadas[4], mas foram fortemente
Nicomédia (atual Izmit,
influenciadas pela propaganda oficial do Turquia)
período[5], e são muitas vezes unilaterais[6]. Não Enterro Igreja dos Santos Apóstolos,
há histórias de sobreviventes ou biografias que Constantinopla
lidaram com a vida de Constantino e do Filho(s) Com Minervina:
Estado[7]. Os mais próximos subsídios são a Crispo
Com Fausta:
Vida de Constantino de Eusébio de Cesareia, Constantina
uma obra que é uma mistura de elogio e Constantino II
Constâncio II
hagiografia.[8] Escrito entre 335 e cerca de Constante
339,[9] a Vita exalta virtudes morais e religiosas Helena
de Constantino[10]. A Vita cria uma imagem Fausta
tendenciosamente positiva de Constantino[11], Pai Constâncio Cloro
que os historiadores modernos vêm Mãe Helena
frequentemente contestando a sua
fiabilidade[12]. A mais completa vita secular de Constantino é do anónimo Origo Constantini[13]. Uma
obra de data incerta[14], o Origo concentra-se em acontecimentos militares e políticos, em detrimento
de assuntos culturais e religiosos.[15]

Ascensão a Augusto do Ocidente


Nascido em Naísso, na Mésia Superior (actual Niš na Sérvia), filho de Constâncio Cloro (ou Constâncio
I Cloro) e da filha de um casal de donos de uma albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla,[16]
Constantino teve uma boa educação — especialmente por ser filho de uma mulher de língua grega e
haver vivido no Oriente grego, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilíngue própria da elite romana —
e serviu no tribunal de Diocleciano depois do seu pai ter sido nomeado um dos dois césares, na altura
um imperador júnior, na Tetrarquia em 293. Embora a sua condição junto de Diocleciano fosse em
parte a de um refém, Constantino serviu nas campanhas do césar Galério e de Diocleciano contra os
sassânidas e os sármatas. Aquando da abdicação conjunta de Diocleciano e Maximiano em 305,
Constâncio seria proclamado augusto, mas Constantino seria descartado como césar em proveito de
Valério Severo (também conhecido modernamente como Severo II, título que jamais usou, para não ser
confundido com o grande imperador do século anterior, Septímio Severo).
Pouco antes da morte do seu pai, em 25 de julho de 306, Constantino conseguiu a permissão de Galério
para se reunir a ele no Ocidente, chegando a fazer uma campanha juntamente com Constâncio Cloro
contra os pictos, estando junto do leito de morte do seu pai em Eburaco (atual Iorque) na Britânia,[17] o
que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito, proclamando-se "césar" e sendo
reconhecido como tal por Galério, então feito "augusto" do Oriente.[18] Desde o início de seu reinado,
assim, Constantino tinha o controle da Britânia, Gália, Germânia e Hispânia, com sua capital em
Augusta dos Tréveros, cidade que fez embelezar e fortificar.

Nos dezoito anos seguintes, combateu uma série de batalhas


e guerras que o fizeram o governador supremo do Império
Romano. Como Maximiano desejava retomar a sua posição
de augusto, da qual se havia afastado a contragosto
juntamente com Diocleciano, Constantino recebeu-o na sua
corte e aliou-se a ele por um casamento em 307 com a filha
de sete anos de Maximiano, Fausta[a], o que lhe permitiu ser
Termas construídas por Constantino
em Augusta dos Tréveros reconhecido tacitamente como Augusto em 308 por Galério
(Tréveris), capazes de atender numa conferência tetrárquica em Carnunto (atual Petronell-
milhares de pessoas Carnuntum na Áustria). Em 309, no entanto, Constantino
enfrentaria o seu sogro, que tentava recuperar abertamente
o poder, capturando-o em Marselha e mandando assassiná-lo. Em 310, Constantino seria formalmente
reconhecido como Augusto por Galério.[19] Severo havendo sido entrementes eliminado, em 307, por
Magêncio, filho de Maximiano que se havia proclamado imperador em Roma, Constantino deveria
acabar por enfrentar o seu cunhado para conseguir o domínio completo do Ocidente romano. Após uma
série de mediações fracassadas e lutas confusas, Constantino, após apoiar o usurpador africano Lúcio
Domício Alexandre, cortando o fornecimento de trigo de Roma, de 308 a 309, desceu em 312 até Itália
para eliminar Magêncio.

Essas guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de mais nada, um
reformador militar, que, para aumentar o número de tropas à sua disposição imediata, constituiu o
cortejo militar do imperador (comitatus) num corpo de tropas de elite autossuficiente - um verdadeiro
exército de campanha — principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos que se
apresentavam ao exército romano nos termos de diversos tratados de paz, a começar pelo rei alamano
Croco II, que teve um papel decisivo na aclamação de Constantino como Augusto.[20]

Religião
O facto de Constantino ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que sempre influiu nas suas
preocupações religiosas e ideológicas: enquanto esteve diretamente ligado a Maximiano, ele
apresentou-se como o protegido de Hércules, deus que havia sido apresentado como padroeiro de
Maximiano na primeira tetrarquia. Ao romper com o seu sogro e após o ter eliminado, Constantino
passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos imperadores-soldados do século
anterior, Deus Sol Invicto, ao mesmo tempo que fez circular uma ficção genealógica (um panegírico da
época. Para disfarçar a óbvia invenção, dizia, dirigindo-se retoricamente ao próprio Constantino, que se
tratava dum facto "ignorado pela multidão, mas perfeitamente conhecido pelos que te amam") pela
qual ele seria o descendente do imperador Cláudio II — ou
Cláudio Gótico — conhecido pelas suas grandes vitórias
militares, por haver restabelecido a disciplina no exército
romano, e por ter estimulado o culto ao Sol.[21]

Constantino acabou, no entanto, por entrar na História


como primeiro imperador romano a professar o Fólis de Constantino, cunhada em
cristianismo, na sequência da sua vitória sobre Magêncio na Lugduno, na Gália, por volta de 310,
Batalha da Ponte Mílvia, em 28 de outubro de 312, perto de com o Deus Sol Invicto
Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo
a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim:

“ In hoc signo vinces”



De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e
conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo. Esta narrativa tradicional não é hoje considerada
um facto histórico, tratando-se antes da fusão de duas narrativas de factos diversos encontrados na
biografia de Constantino pelo bispo Eusébio de Cesareia.

No entanto, é certo que Constantino era atraído, enquanto homem de Estado, pela religiosidade e pelas
práticas piedosas — ainda que se tratasse da piedade ritual do paganismo: o senado, ao erguer em
honra a Constantino o seu arco do triunfo, o Arco de Constantino, fez inscrever sobre este que sua
vitória se devia à "inspiração da divindade"(instinctu divinitatis mentis), o que certamente ia ao
encontro das ideias do próprio imperador. Até um período muito tardio do seu reinado, no entanto,
Constantino não abandonou claramente a sua adoração com relação ao deus imperial Sol, que manteve
como símbolo principal nas suas moedas até 315.

Só após 317 é que ele passou a adotar clara e principalmente lemas e


símbolos cristãos,[22] como o "chi-ró", emblema que combinava as
duas primeiras letras gregas do nome de Cristo ("X" e "P"
sobrepostos). No entanto, já quando da sua entrada solene em Roma
em 312, Constantino se recusou a subir ao Capitólio para oferecer
culto a Júpiter, atitude que repetiria nas suas duas outras visitas
solenes à antiga capital para a comemoração dos jubileus do seu
reinado, em 315 e 326.[23]

A sua adoção do cristianismo pode também ser resultado de


influência familiar. Helena, com grande probabilidade, havia
Cristograma de Constantino nascido cristã e demonstrou grande piedade no fim da sua vida,
quando realizou uma peregrinação à Terra Santa, localizou em
Jerusalém uma cruz que foi tida como a Vera Cruz e ordenou a construção da Igreja do Santo Sepulcro,
substituindo o templo a Afrodite que havia sido instalado no local — tido como o do sepultamento de
Cristo — pelo imperador Adriano.
Mas apesar do seu batismo, há dúvidas se realmente ele se tornou cristão. A Enciclopédia Católica
afirma: "Constantino favoreceu de modo igual ambas as religiões. Como sumo pontífice ele velou pela
adoração pagã e protegeu seus direitos." E a Enciclopédia Hídria observa: "Constantino nunca se
tornou cristão". No dia anterior ao da sua morte, Constantino fizera um sacrifício a Zeus, e até o último
dia usou o título pagão de pontífice máximo (pontifex maximus). E, de facto, Constantino, até ao dia da
sua morte, não havendo sido batizado, não participou de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a
eucaristia. No entanto, era uma prática comum na época retardar o batismo, que era suposto oferecer a
absolvição a todos os pecados anteriores — e Constantino, por força do seu ofício de imperador, pode
ter percebido que as suas oportunidades de pecar eram grandes e não desejou "desperdiçar" a eficácia
absolutória do batismo antes de haver chegado ao fim da vida.[24]

Qualquer que tenha sido a fé individual de Constantino, o facto é que ele educou os seus filhos no
cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença institucional no Estado
romano (a partir de Constantino, o tribunal do bispo local, a episcopalis audientia, podia ser escolhida
pelas partes de um processo como tribunal arbitral em lugar do tribunal da cidade[25]). E quanto às
suas profissões de fé pública, num édito do início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa,
ele tratava os pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de uma velha
superstição".[26]

Esta clara associação da casa imperial ao cristianismo criou uma situação equívoca, já que o
cristianismo se tornou a religião "pessoal" dos imperadores, que, no entanto, ainda deveriam regular o
exercício do paganismo — o que, para um cristão, significava transigir com a idolatria. O paganismo
retinha ainda grande força política — especialmente entre as elites educadas do Ocidente do império —
situação que só seria resolvida por um imperador posterior, Graciano, que renunciaria ao cargo de
pontífice máximo em 379 — sendo assassinado quatro anos depois por um usurpador, Magno Máximo.
Somente após a eliminação de Máximo e de outro usurpador pagão, Flávio Eugénio, por Teodósio I é
que o cristianismo tornar-se-ia a única religião legal (395).

O imperador romano Constantino influenciou em grande parte na inclusão na igreja cristã de dogmas
baseados em tradições. Uma das mais conhecidas foi o Édito de Constantino, promulgado em 321, que
determinou oficialmente o domingo como dia de repouso, com exceção dos lavradores — medida
tomada por Constantino utilizando-se da sua prerrogativa de, como Pontífice máximo, de fixar o
calendário das festas religiosas, dos dias fastos e nefastos (o trabalho sendo proibido durante estes
últimos).[27] Note-se que o domingo foi escolhido como dia de repouso, em função da tradição sabática
judaico-cristã, o nome original em latim Dominicus, significa "dia do Senhor".

Reformas religiosas, militares e administrativas


Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em que se tornou
imperador, com o Édito de Milão, mas também não tornou o paganismo ilegal ou fez do cristianismo a
religião estatal única. Na sua posição de pontífice máximo — cargo tradicionalmente ocupado por todos
os imperadores romanos, e que tinha a ver com a regulação de toda e qualquer prática religiosa no
império — estabeleceu as condições do seu exercício público e interferiu na organização da hierarquia
quando convocado, seguindo uma prática, no que diz respeito aos cristãos, que já havia sido inaugurada
por um imperador pagão, Aureliano, que fora chamado a
arbitrar uma querela entre o bispado de Antioquia e o
bispado de Roma, que excomungara Paulo de Samósata,
bispo de Antioquia, por heresia. O imperador reafirmara o
que já era do direito circunscricional da Igreja Romana —
ou seja, que as igrejas cristãs locais, no que diz respeito a
sua organização administrativa — inclusive quanto a eleição
dos bispos — deveriam reportar-se à igreja de Roma, a
capital.

A sua vitória em 312 sobre Magêncio resultou na ascensão


ao título de augusto ocidental, ou soberano da totalidade da
metade ocidental do império, reconhecida pelo pagão
Licínio, único augusto do Oriente após a eliminação de
Maximino Daia. A vitória de Constantino teve uma
Constantino: mosaico em Santa
consequência militar imediata: Constantino aboliu
Sofia
definitivamente a guarda pretoriana, que havia sustentado
Magêncio e, com ela, os interesses políticos da aristocracia
italiana, substituindo-a por um corpo de tropas de elite ligadas à pessoa do imperador, as escolas
palatinas, que, a partir daí, seriam o núcleo do sistema militar romano, enquanto os velhos corpos de
tropa territoriais eram negligenciados.[28] As escolas eram principalmente regimentos de cavalaria, que
serviam como uma força-tarefa ligada à pessoa do imperador, e seu principal objetivo era garantir uma
capacidade de ação imediata em caso de guerra civil ou externa; quanto às forças de defesa territorial,
os limítanes, estas acabaram por se reduzir a uma mera força policial de fronteira, entrando em
declínio imediato na sua capacidade combativa.[29] O objetivo destas reformas militares era
principalmente político, colocando a quase totalidade das forças militares móveis à disposição imediata
do imperador — com a exceção de certas unidades territoriais que eram equiparadas às forças móveis e
chamadas pseudocomitatenses — concentradas em áreas urbanas onde pudessem ser mantidas
abastecidas pelos fornecimentos que eram agora a maior parte do soldo militar (os pagamentos em
dinheiro, tornando-se recompensas esporádicas pagas aquando da ascensão ou dos jubileus de
ascensão do imperador ao trono).[30]

Quando Licínio expulsou os funcionários cristãos da sua corte, Constantino encontrou um pretexto
para enfrentar o seu colega e, tendo negada permissão para entrar no Império do Oriente durante uma
campanha contra os sármatas, fez disto a razão para derrotar e eliminar Licínio em 324, tornando-se
imperador único.

Apesar da Igreja ter prosperado sob o auspício de Constantino, ela própria caiu no primeiro de muitos
cismas públicos. Constantino, após ter unificado o mundo romano, convocou o Primeiro Concílio de
Niceia, um grande centro urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de
Licínio, a fim de unificar a Igreja cristã, pois com as divergências desta, o seu trono poderia estar
ameaçado pela falta de unidade espiritual entre os romanos. Duas questões principais foram discutidas
em Niceia (atual İznik): a questão da Heresia Ariana que dizia que Cristo não era divino, mas o mais
perfeito das criaturas, e também a data da Páscoa, pois até então não havia um consenso sobre isto.
Constantino só foi batizado e cristianizado no final da vida. Ironicamente, Constantino poderá ter
favorecido o lado perdedor da questão ariana, uma vez que ele foi batizado por um bispo ariano,
Eusébio de Nicomédia (que não deve ser confundido com o biógrafo do imperador, Eusébio de
Cesareia). A inclinação que Constantino e seu filho e sucessor na condição de augusto único,
Constâncio II, demonstraram pelo arianismo, é bastante explicável, na medida em que ambos tentaram
apresentar a figura do imperador como um análogo do Cristo ariano: uma emanação divina, reflexo
terreno do Verbo.[31] A tempestuosa relação de Constantino com a Igreja da época dá conta dos limites
da sua atuação no estabelecimento da Ortodoxia: pouco antes de sua morte, em 335, ele mandou exilar,
na capital imperial de Augusta dos Tréveros (Tréveris, o patriarca de Alexandria Atanásio, campeão da
ortodoxia, por suas violentas atitudes antiarianas, e apesar do facto de que Atanásio continuou a ser
perseguido pelos sucessores de Constantino, o abertamente ariano Constâncio II e o pagão Juliano, o
Apóstata, foi a sua visão teológica que acabou por prevalecer.

Ao mesmo tempo que velava pela unidade religiosa do


império, Constantino quis resolver o problema da divisão da
elite dirigente numa aristocracia senatorial com acesso
exclusivo às "dignidades" (as velhas magistraturas
republicanas, sem poderes ou responsabilidades, e
transformadas numa mera hierarquia de status) e numa
hierarquia burocrática de funcionários imperiais com
funções administrativas efetivas e pertencentes à ordem
equestre: após 326, os altos funcionários passam à
pertencer à ordem senatorial (os clarissimi) e o número de
senadores passa de 600 a 2.000, com os requisitos de
entrada elevados (em Roma, os ex-questores deixam de ser
senadores, e a entrada no senado passa a depender da
Estátua de Constantino em Iorque,
pretura; na nova capital de Constantinopla, o acesso ao
onde foi aclamado augusto
senado seria garantido aos ex-titulares do posto de tribuno
da plebe, velha magistratura ressuscitada). Com a entrada
do alto pessoal administrativo na ordem senatorial, quaisquer pretensões de independência política da
velha aristocracia ficaram eliminadas; a escolha de todos os imperadores subsequentes seria feita
exclusivamente na família do imperador ou através do exército.[32] Em contrapartida, no entanto,
Constantino parece haver cedido aos senadores no final do seu reinado o direito de elegerem, eles
mesmos, questores e pretores e assim determinarem que pessoas queriam fazer ingressar na sua
ordem, abandonando a prática da nomeação imperial de novos senadores, a adlectio. O senado, assim,
se continuou sem o poder de fazer uma política própria, passou a ter o poder de estabelecer um
"cadastro de reserva" da administração imperial. Por outro lado, paralelamente à carreira senatorial
"padrão", a qual se chegava pela eleição às magistraturas, forma-se uma carreira alternativa, pela qual
indivíduos não oriundos da aristocracia tradicional se tornam automaticamente senadores ao serem
nomeados pelo imperador para cargos de hierarquia senatorial.[33] Por outras palavras: o título de
senador passou a significar uma posição na hierarquia administrativa, e não uma função pública
(excetuando-se, aí, o governo local de Roma). O que aconteceu com os senadores romanos foi apenas o
exemplo mais notável do que aconteceu em todo o império com sua cristianização: as identidades
culturais e políticas locais deixaram de contar diante da hierarquia burocrática central.[34]

Fundação de Constantinopla
Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as principais frentes
militares da época, sem recorrer ao expediente de uma residência imperial "interina", Constantino
reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio, que dedicou em 11 de maio de 330 chamando-a de Nova
Roma, dotando-a de um senado e instituições cívicas (catorze regiões, um fórum, distribuições de trigo,
um prefeito urbano) semelhantes aos da antiga Roma. Tratava-se, no entanto, de uma cidade
puramente cristã, dominada pela Igreja dos Santos Apóstolos, junto à qual se encontrava o mausoléu
onde Constantino seria sepultado.[35] Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas
neles foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens dos deuses.[36] Após a morte de Constantino,
Bizâncio foi renomeada Constantinopla, tendo-se gradualmente tornado a capital permanente do
império. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo tratado (foedus) realizado entre
Constantino e seus descendentes com os godos, que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira do
Danúbio e fornecer homens ao exército romano, em troca de abastecimentos.[37] A mudança da capital
imperial enfraqueceu a influência do papado de Roma e fortaleceu a influência do bispo de
Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocariam futuramente o Grande
Cisma do Oriente.

Sucessão
Um ano depois do Primeiro Concílio de Niceia, em (326), portanto, durante uma viagem solene a Roma
para a comemoração dos seus vinte anos de reinado, Constantino mandou matar o seu próprio filho e
sucessor designado Crispo, um general competente que provavelmente foi suspeito de intrigar para
derrubar o pai. Pouco depois, sufocaria a sua segunda mulher Fausta num banho sobreaquecido,
provavelmente por suspeitar que ela tivesse intrigado contra o seu enteado Crispo. Mandou também
estrangular o cunhado Licínio, que se havia rendido em troca da vida e chicotear até à morte o seu filho
(e sobrinho do próprio Constantino). Foi sucedido pelos seus três filhos com Fausta: Constantino II,
Constante I e Constâncio II, os quais dividiram entre si a administração do império até que, depois de
uma série de lutas confusas, Constâncio II emergiu como augusto único.

Morte
Na Páscoa de 337 Constantino havia percebido que a sua morte chegaria em breve. Dessa forma
chamou Eusébio de Nicomédia e pediu-lhe os sacramentos.[38] Morreu em Ancirona, nos subúrbios de
Nicomédia (atual cidade turca de Izmit), ao sul do Mar de Mármara.[39]

Apreciações póstumas
Constantino foi uma figura controversa já na sua época: o último imperador pagão, seu sobrinho
Juliano, dizia que ele era atraído pelo dinheiro e que buscou acima de tudo, enriquecer-se e aos seus
partidários[40] — traço este (de saber enriquecer os seus amigos) que também foi reconhecido pelo
historiador Eutrópio e pelo próprio Eusébio de Cesareia.[41] O historiador pagão Zósimo criticou
severamente as suas reformas militares.[42] Mas como primeiro imperador «cristão», Constantino foi
reverenciado durante toda a Idade Média, seja pela cristandade oriental, que o tinha como fundador do
Império Bizantino — e a Igreja Ortodoxa acabou por canonizá-lo — seja pela ocidental, que, sem lhe
atribuir o status de santo, considerava haver ele criado os Estados Papais, territórios doados ao Papa
pela chamada Doação de Constantino. Só com o Iluminismo o seu legado começou a ser pesadamente
criticado, e o historiador inglês Edward Gibbon, no seu livro clássico sobre a "A História do Declínio e
Queda do Império Romano" caracteriza-o como um general romano de velha cepa a quem o poder
absoluto (e, por extensão, o cristianismo) havia convertido num déspota oriental.[43] Com a
secularização da sociedade moderna, a apreciação de Constantino em função exclusivamente das suas
reformas religiosas perdeu acuidade - e ele passou a ser analisado em termos da sua própria época,
como um dos fundadores, juntamente com Diocleciano, do Baixo-Império (ou Dominato), do qual ele
estabeleceu as estruturas políticas e sociais básicas.[35]

A limes danubiana e oriental no tempo de Constantino, com os territórios conquistados no


curso das campanhas germano-sarmáticas (de 306 a 337). O mapa representa também o
Império Romano pouco depois da morte de Constantino (337), com os territórios
"repartidos" entre os seus três filhos (Constante I, Constantino II e Constâncio II)

Ver também
Cristianização
Édito de Constantino
História do Cristianismo
Impacto do cristianismo na civilização
Paz na Igreja
Perseguição aos cristãos

Notas
[a] ^
Constantino já era casado com Minervina e afastou-se dela para poder
casar-se com Fausta.

Referências
21. Christol e Nony, op.cit., pg.236
1. John H. Rosser (2012). Historical Dictionary of
Byzantium (http://books.google.com/books?id 22. Christol e Nony, op.cit., pg.237
=AYpqikYr3Q8C&pg=PA512). Scarecrow 23. Carrié & Roussele, op.cit., pgs.254/255
Press. p. 512. ISBN 978-0-8108-7567-8. 24. Cf. Paul Veyne, Quand notre monde est
2. A data de nascimento varia mas a maior parte devenu chrétien, Paris, Albin Michel, 2007,
dos historiadores modernos usam circa 272. pgs.111/114
Lenski, "Reign of Constantine" (CC), 59. 25. Brown, Peter. Power and Persuasion in Late
3. Barnes, Constantine and Eusebius, 272. Antiquity, Madison, The University of
4. Bleckmann, "Sources for the History of Wisconsin Press, 1992, pg. 100
Constantine" (CC), 14; Cameron, 90–91; 26. Código Teodosiano, 9.16.2, citado por Peter
Lenski, "Introduction" (CC), 2–3. Brown, Rise of Christendom 2a.
5. Bleckmann, "Sources for the History of edição,Oxford, Blackwell Publishing, 2003, pg.
Constantine" (CC), 23–25; Cameron, 90–91; 74
Southern, 169. 27. Carrié & Rousselle, op.cit., pg.258
6. Cameron, 90; Southern, 169. 28. Ramsey MacMullen, Le Declin de Rome et la
7. Bleckmann, "Sources for the History of Corruption du Pouvoir, Paris, Les Belles
Constantine" (CC), 14; Corcoran, Empire of Lettres,1991, pg.308
the Tetrarchs, 1; Lenski, "Introduction" (CC), 29. Arther Ferrill, A Queda do Império Romano,
2–3. Rio de Janeiro,Jorge Zahar Editor, 1989,
8. Barnes, Constantine and Eusebius, 265–68. pg.43
9. Drake, "What Eusebius Knew," 21. 30. Edward N. Luttwak, The Grand Strategy of the
Roman Empire, Baltimore, The Johns Hopkins
10. Eusebius, Vita Constantini 1.11; Odahl, 3. University Press,1979, pgs.178/179
11. Lenski, "Introduction" (CC), 5; Storch, 145–55. 31. Christol & Nony, op.cit., pg.259
12. Barnes, Constantine and Eusebius, 265–71; 32. Christol & Nony, op.cit., pg.247
Cameron, 90–92; Cameron and Hall, 4–6;
Elliott, "Eusebian Frauds in the "Vita 33. Carrié & Roussele, op.cit., pgs.659/660 e 658
Constantini"", 162–71. 34. Brown, Peter. op.cit., pg. 19
13. Lieu and Montserrat, 39; Odahl, 3. 35. Christol & Nony, op.cit., pg.240
14. Bleckmann, "Sources for the History of 36. Carrié & Roussele, op.cit., pg.257
Constantine" (CC), 26; Lieu and Montserrat, 37. Christol e Nony, op.cit., pg.267
40; Odahl, 3. 38. MONTANELLI, Indro. História de Roma. 2ª
15. Lieu and Montserrat, 40; Odahl, 3. ed. Trad. Luís de Moura Barbosa. São Paulo:
16. Cf. Jean-Michel Carrié & Aline Roussele, Imbrasa, 1966, pág. 325.
L'Empire romain en mutation: des Sévéres à 39. http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/2
Constantin, 192-337, Paris Seuil,1999, ISBN +morre+o+imperador+constantino+i+a+tempo+d
2.02.025819.6, pgs.219/220 Página acedida em 23 de dezembro de 2015.
17. Cf. Carrié & Roussele, ibid., pg.220 40. Long, Jacqueline. "Julian Augustus' Julius
18. Carrié & Roussele, ibid., pg.743 Caesar", IN Maria Wyke, ed., Julius Caesar in
19. Carrié & Roussele, ibid., pgs. 221/222 e 744; Western Culture, Blackwell, Malden,
M. Christol & D. Nony, Rome et son Empire, MA,2006, pg.76
Paris, Hachette, 2003,pg.236 41. Apud Paul Veyne, Le Pain et le Cirque, Paris,
20. M. Christol & D. Nony, ibid.,pgs.235/236 Seuil, 1976, pg.760, nota263
42. Luttwak, Edward. op.cit., pg.188 43. Gibbon, Decline and Fall of the Roman
Empire, Chicago, Encyclopaedia Britannica,
1952, V.1, pg.256

Precedido por Sucedido por


Constâncio Cloro Imperador romano Constâncio II
306 - 337

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