Ao Sr. Magnífico Reitor da Universidade Federal Fluminense
Vimos aqui externar nossa posição frente ao conteúdo da carta redigida,
assinada e enviada à reitoria por quatorze professores do Departamento de Artes e Estudos Culturais do campus de Rio das Ostras, datada de 30 de janeiro de 2017, apresentada à plenária departamental na condição de “informe” apenas no dia 28 de março.
Algumas dificuldades apontadas na carta são do conhecimento de todos
e, em conjunto, vimos pleiteando melhorias na infraestrutura do campus há muitos anos. Avançamos com algumas conquistas; a criação de laboratórios, por exemplo. Mas até o momento, a precariedade material não foi superada. Reconhecemos que a infraestrutura não atende às nossas necessidades básicas. Apesar disto, não nos sentimos convencidos a apoiar o fim de um curso que tem muito mais ganhos do que perdas acadêmicas.
As dificuldades estruturais – e que esperamos venham a ser um dia
superadas – não impediram que o curso caminhasse no sentido de obter êxitos em várias frentes e que nossos alunos tenham realizado trabalhos surpreendentes junto à várias instâncias de Rio das Ostras e adjacências, ou mesmo em suas cidades de origem. Até hoje não temos ainda um estudo detalhado da vida profissional de nossos alunos egressos, mas aqueles que espontaneamente retornam ou se comunicam pela rede, manifestam-se muito positivamente, reiterando a importância do curso em suas vidas e nas decisões profissionais que passaram a tomar. Expressão de uma transformação social.
Rio das Ostras é pioneira na implantação do Sistema Municipal de
Cultura na região. E nós estamos participando dessa construção coletiva. Mantemo- nos em articulação com outros municípios da região, através do Fórum de Gestores de Cultura da Região dos Lagos. Além disto, a existência de acadêmicos na área de Produção Cultural tem proporcionado a abertura de novos campos de estágio modificando, assim, o cenário cultural a partir de Organizações Não Governamentais, empresas e instituições públicas.
Contestamos a propalada inadequação da cidade ao curso, que contraria
inclusive a justificativa apresentada na construção do projeto pedagógico, referindo-se a importância do curso na região, tanto pelo aspecto cultural, como pela geração de empregos. Nos dez anos decorridos de existência do curso, todas essas variáveis evoluíram positivamente, em um contexto no qual a população da cidade saltou de 70.000 para 136.000 habitantes.
Acreditamos em uma relação equilibrada entre o ensino, a pesquisa e a
extensão. E o produtivismo acadêmico, tomado apenas como cômputo matemático, por si só não é garantia de sucesso no compromisso da Universidade com a sociedade. Sabemos muito bem, que publicações de livros, artigos, participações em Congressos por si só não qualificam seus autores, caso essas produções não sejam frutos de um saber que tenha por finalidade última a sociedade em que vivemos. Indagamos então: Qual é de fato a finalidade da universidade? Qual deve ser o papel de todos nós neste espaço acadêmico?
A despeito de toda a dificuldade de infraestrutura que discentes e
docentes enfrentam, a importância do curso e da crescente qualificação do mesmo vem ocorrendo na perspectiva de um cenário que se constrói paulatinamente, sem a imposição de um ritmo danoso configurado pelo produtivismo acadêmico e que pouco tem a ver com a sociedade que vivemos. Percebe-se que o curso cresce em qualidade também pelo atendimento das constantes demandas para o pós-doutoramento, demandas estas que são reconhecidas e atendidas de imediato, sem prejuízo para o curso. No que tange ao corpo discente, testemunhamos vários relatos de participação exitosa de nossos alunos estagiários e ou mesmo já formados em instituições como Secretarias Municipais e Estaduais de Cultura, SESC, ANCINE, produtoras locais, curadorias etc.
Ao contrário do que vimos na carta encaminhada ao Reitor, nossa
percepção é de que o curso de Produção Cultural de Rio das Ostras tem mantido um diálogo constante e crescente com seu entorno. Há diferenças inegáveis entre os cursos oferecidos no campus. Mas estamos em um tempo cujo desafio é justamente a busca pela integração, seguindo o caminho da transdisciplinaridade e da transculturalidade. Nossos alunos têm realizado enormes avanços no exercício da convivência e do diálogo com o outro. Acreditamos que, em um ambiente democrático, o convívio social e o exercício da cidadania implicam justamente o convívio com a diferença.Permitimo-nos vislumbrar um futuro no qual apareçam projetos interessantes unindo os diversos cursos, o que seria uma inovação acadêmica digna de aplauso e inteiramente diferente daquela obtida com o curso sediado em Niterói.
Acreditamos que a interiorização veio para atender a comunidade desta
região. Tirar o Curso de Produção Cultural deste município representará um grande retrocesso no desenvolvimento do espírito universitário em nosso estado. Temos sim que exigir melhores condições de trabalho e estudo para o nosso Campus de Rio das Ostras. Mas isso só pode ser alcançado através do compromisso com o projeto de interiorização das universidades e com a qualidade da educação.
Reconhecemos, enfim, que a insatisfação dos quatorze professores com
as condições de trabalho oferecidas no campus é pertinente. Mas discordamos sobre a avaliação que os mesmos apresentam a respeito do futuro do Bacharelado em Produção Cultural oferecido no Instituto de Humanidades e Saúde / IHS.
A fim de garantir a manutenção do Bacharelado em Produção Cultural no
campus de Rio das Ostras, solicitamos, portanto, a garantia de que as vagas que ora são ocupadas por esses quatorze professores sejam mantidas no Departamento de Artes e Estudos Culturais / RAE.