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3) PARTE I DA CONSTITUIÇÃO:
A primeira parte da Constituição Européia se destina a definir a União, apontar seus
objetivos e traçar sucintamente as competências dos órgãos e das instituições, já que na
1
António Vitorino, membro da Comissão Européia responsável pela justiça e assuntos intermos.
2
Em 15 de dezembro de 2001, o Conselho Europeu, reunida em Laeken, adotou uma ‘ declaração sobre o
futuro da União Européia, ou também chamada de Declaração de Laeken.
3
Prefácio da Constituição da União Européia.
Parte III este tema é tratado pormenorizadamente. Alguns assuntos merecem destaque desde
já.
Interessante é analisar a competência da União, a qual apresenta dois níveis. Em certas
questões4 como, por exemplo, funcionamento do mercado interno e política comercial
comum, ela atua com exclusividade no estabelecimento de regras. Em outras, todavia,
compartilha sua competência com os Estados-Membros, isso significa que esses só são
competentes em determinadas matérias na medida em que a União não tenha exercido a sua
competência ou tenha decidido deixar de exercê-la5. Aqui reside uma grande celeuma, visto
que em áreas de suma importância e urgência, como energia, ambiente e defesa dos
consumidores6, os Estados-Membros ficam, de certa maneira, impedidos de agir.
Também a política externa e de segurança provoca discussões profundas. Os Estados-
membros são obrigados a apoiá-la ativamente e sem reservas. Além disso, foi novamente
proclamado que a política da União respeitará as obrigações decorrentes da OTAN7,
conforme já havia disposto o Tratado da União Européia8; para muitos, consagra-se, com
isso, a dependência do projeto de defesa européia a tal organização.
Há também que se ressaltar o processo legislativo criado de co-decisão9 entre o Parlamento
Europeu e o Conselho de Ministros- instituições da União que serão posteriormente
detalhados – pelo qual ambos se encontram em pé de igualdade. Contudo, em certos
domínios legislativos fundamentais ao Parlamento só cabe emitir pareceres, pode-se citar a
fixação de preços agrícolas e a matéria fiscal.
Por fim, é importante destacar que a Conferência Intergovernamental10 enfrentará ainda a
objeção de países, como a Finlândia, a Áustria, a Suécia e a Polônia, em duas outras
questões essenciais. A primeira se refere ao fator populacional empregado quando o
Conselho Europeu e o Conselho de Ministros deliberarem por maioria qualificada, pois
esta se configura com a maioria dos Estados que representem, no mínimo, três quintos da
população da União11. Países pouco populosos, ficarão, em conseqüência disso,
subordinados a Estados como o Alemão e o Francês. A Outra controvérsia consiste na
redução do número de comissários com direito a voto justamente num momento em que ----
novos membros aderem à União
4) CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPÉIA:
A carta dos direitos Fundamentais não apresenta nenhuma grande inovação face à Carta de
200012, as poucas mudanças foram de redação para lhe adaptar à nova estrutura institucional
da União conferida pela Constituição. É por tal motivo muito criticada.
4
Artigo 12, Parte I, Projeto de Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa ,Jornal Oficial n° C
169 de 18 de Julho de 2003.
5
Ibid., Artigo 11, segundo parágrafo, Parte I.
6
Ibid., Artigo 13, Parte I.
7
O tratado que criou a Organização do Tratado do Atlântico Norte foi assinado em 4 de abril de 1949 em
Washington, nos Estados Unidos e é formada por 26 países.
8
Artigo 17 do Tratado da União Européia, Jornal Oficial nº C 325 de 24 de dezembro de 2002.
9
Artigo 19, item 1, e artigo 22, ambos da Parte I, Projeto de Tratado que estabelece uma
Constituição para a Europa ,Jornal Oficial n° C 169 de 18 de Julho de 2003.
10
Segundo o artigo 48, primeiro parágrafo, do Tratado da União Européia, Jornal Oficial º C 325 de
dezembro de 2002, no âmbito dessa Conferência os Estados –membros negociam as reformas dos tratados.
11
Artigo 24, Parte I, Projeto de Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa ,Jornal Oficial n° C
169 de 18 de Julho de 2003.
Em alguns artigos se inseriu referência às agências da União, não apenas às instituições e
órgãos13. Em outros momentos, em vez de falar em direito comunitário ou dos Tratados da
União e da Comunidade Européia, emprega-se os termos direito da União e se faz remissão
ao próprio texto constitucional14.
Essa Carta é inserida no texto com força vinculativa. Tal fato assegura certeza jurídica na
proteção dos direitos dos cidadãos relativamente aos atos das instituições européias. Por
outro lado, é conferido competência à União para aderir à Convenção Européia dos Direitos
do Homem e aceitar a jurisdição do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, o que
constitui um controle externo dos atos da União, os direitos da pessoa ganham, então, maior
proteção.
A inovação exposta é de grande relevância, visto que comprova a fixação do ser humano
como cerne das ações da União, o que também se evidencia pelo expurgo da pena de morte
do contexto dos Estados-Membros, pela proibição de práticas eugênicas e da clonagem
reprodutiva e pela proibição de afastamento, expulsão ou extradição para Estado onde a
pessoa corra sério risco de ser sujeita à pena de morte, a tortura ou a outros tratos ou penas
desumanas ou degradantes.
Veda-se a discriminação em suas mais variadas formas: de cor, etnia, credo, sexo, origem
social, opinião, língua, nascimento, idade e, muito propriamente inserida na Carta, de
características genéticas e de orientação sexual. É proibida também a discriminação por
motivo de raça, termo este anacrônico dado à ciência há muito Ter negado a existência de
raças na espécie humana; constitiu, então, expressão inaceitável em uma constituição
recentemente elaborada.
Declara-se a liberdade de associação, de reunião, de religião e convicção, de expressão e
informação, de profissão, de empresa, de pensamento, de artes e ciência e de circulação e
permanência de pessoas. Asseguras-se o direito de petição, de resposta na mesma língua, de
juiz natural e imparcial, dentre outros.
Proclamou-se também direitos sociais e políticos de que são exemplos: direitos de asilo, de
educação, de propriedade, da criança viver em contato com ambos progenitores, dos idosos,
de trabalho e ação coletiva, de proteção à saúde, de eleição, etc.
Diversos são os setores descontentes com a atual redação – ambientalistas, grupos ligados
ao progresso da ciência e da tecnologia, associações de apoio às crianças e aos idosos,
católicos etc – devido a impropriedades terminológicas, omissões ou falta de profundidade.
Todos esses problemas devem evidentemente ser analisados pela Conferência
Intergovernamental, o que não se pode olvidar é que o sentido de uma Constituição se dá
mais pelo valor que as instituições e o povo souberem lhe dispensar, tendo em vista tratar-
se de um sistema em construção, do que por seu sentido literal.
5) POLÍTICAS E FUNCIONAMENTOS DA UNIÃO:
12
Segundo site oficial do Parlamento Europeu, a Carta dos direitos Fundamentais da União Européia, Jornal
Oficial nº C364 de 18/12/2000, p.1 à 22, foi elaborada e aprovada por uma Convenção composta por
representantes do parlamento Europeu, dos Parlamentos nacionais, dos Estados-membros e da Comissão
Européia, sendo solenemente proclamada no Conselho Europeu de Nice de Dezembro de 2000. É considerada
pelo PE como embrião de uma verdadeira Constituição.
13
É o que se observa nos artigos 43 e 51 da Carta dos Direitos Fundamentais, que é a Parte II da Constituição
14
são exemplos: os artigos 16 e o 52, segundo parágrafo, da Parte II
A UE constituída por 25 paises atualmente, iniciou-se com o objetivos apenas econômico e
monetário, ampliando-se, consideravelmente, com a inserção de novos domínios, como a
cultura, a informação, a defesa de consumidores, a segurança, a energia, o meio ambiente,
as relações internacionais e o desenvolvimento cientifico e tecnológico, até alcançar a
amplitude e a complexidade que apresenta hoje. Daí as profundas implicações no campo da
sociologia jurídica e do Direito, e o surgimento de um pluralismo jurídico, caracterizada
pela existência e concomitante de dois ordamentos: o primeiro, representado pelo Direito
Nacional composto por normas internas elaboradas no âmbito de cada pais membro; e o
segundo, representado pelo Direito Comunitário, composto por normas supranacionais
decorrentes dos tratados comunitários e elaboradas pelas instituições comunitárias diretivas
( conselho da União Européia, Comissão Européia e Parlamento Europeu) e pela
jurisprudência emanada do tribunal de justiça das Comunidades Européias.
A constituição da União propõe como política interna basilar o estabelecimento de um
mercado interno compreendido como um espaço sem fronteiras internas entre os paises no
qual é assegurado a livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais. Nesse
aspecto, os trabalhadores não empregados na administração publica têm direito de circular
livremente na União, sendo vedado toda e qualquer discriminação entre os trabalhadores
dos Estados –Membros, razão da nacionalidade, no que diz respeito ao emprego, à
remuneração e às demais condições trabalhistas15.
A Constituição Européia a fim de assegurar a livre circulação de pessoas proíbe também as
restrições à liberdade do estabelecimento dos nacionais de um Estado-Membro no território
do outro Estado-Membro16.
Entretanto, essa liberdade de locomoção nos territórios dos Estados-Membros encontra-se
restrito à aplicabilidade das disposições legislativas nacionais de cada país que prevejam
um regime especial para os estrangeiros justificado por razões de ordem pública, segurança
pública e saúde pública.
Cabe também a livre circulação de mercadorias mediante uma União Aduaneira17 que
abrange a totalidade do comércio mercante e implica a proibição, entre os Estados-
Membros de direitos aduaneiros de importação e exportação e de quaisquer encargos de
feito equivalente bem como a adoção de uma pauta aduaneira comum nas suas reações com
países terceiros. Proibi-se também, as restrições quantitativas e os direitos aduaneiros de
natureza fiscal18.
Tem-se de forma suscita como finalidade da União Aduaneira: a promoção de trocas
comerciais entre Estados-Membros e paises terceiros; aumento da competitividade das
empresas pertencentes à União; o abastecimento desta em matérias-primas e produtos semi-
acabados, e assegura o desenvolvimento racional da produção e a expansão do consumo na
União, evitando perturbações graves na vida econômica dos Estados-Membros.
15
Constituição da União Européia, Título III: Políticas e Ações Externas, Seção 2: Livre circulação de
pessoas e serviços, Artigo III-18.o.
16
Ibid., Subseção 2: Liberdade de Estabelecimento, Artigo III-22.o.
17
Constituição da União Européia, Titulo III: Políticas e Ações Internas, Seção 3: Livre circulação de
mercadorias, Subseção 1: União Aduaneira, Artigo III- 36.o.
18
Ibid,. Artigo III-38.o.
Nota-se que para que haja a manutenção da livre concorrência no mercado interno a União
reserva para si a supressão de disposições legislativas ou administrativas dos Estados-
Membros que provoquem distorções na livre circulação de mercadorias.
Quanto a política econômica e monetária tem-se uma ação em prol de uma moeda única, o
euro, e a definição e condução de uma política monetária e cambial únicas, cujo objetivo
primordial é a manutenção da estabilidade dos preços de acordo com o principio de uma
economia de mercado aberto e de livre concorrência. Contudo nem todos os paises aderiram
a chamada Zona Euro que engloba apenas 12 Estados-Membros e três países “pré-
participantes”: Dinamarca, Suécia e Reino Unido. Sendo os Estados restantes designados
como “Estados-Membros objeto de uma derrogação”19 aos quais incumbe cumprir certas
obrigações para que sejam admitidos na Zona Euro como: realização de um elevado grau de
estabilidade dos preços; sustentabilidade das finanças públicas; e não desvalorização de sua
moeda nacional em relação ao Euro pelo período de dois anos.
Uma das inovações trazida pela Constituição Européia está o Sistema Europeu de Bancos
Centrais constituído pelo Banco Central Europeu e pelos Bancos Centrais Nacionais, sendo
atribuições ao Banco Central Europeu a aplicação de multas ou sanções pecuniárias
compulsórias às empresas em caso de incumprimento de seus regulamentos europeus e a
determinação de medidas necessárias para utilização do euro como moeda única dos
Estados-Membros.
Já em relação à Política Social a “União dos Estados- Membro, tendo presentes os direitos
sociais fundamentais, tal como os enunciam a Carta Social Européia assinado em Turim,
em 18 de outubro de 1961, e a carta comunitária dos Direitos Sócias fundamentais dos
trabalhadores de 1989, têm por objetivos a promoção do emprego, a melhoria das condições
de vida e de trabalho, de modo a permitir a sua humanização, assegurando simultaneamente
essa melhoria uma proteção social adequada, o diálogo entre parceiros sociais, o
desenvolvimento dos recursos humanos, tendo em vista um nível de emprego elevado e
duradouro, e a luta contra as exclusões. Para o efeito a União e os Estados-Membros atuam
tendo em conta a diversidade das práticas nacionais em especial no domínio das relações
contratuais, e a necessidade de manter a capacidade concorrencial da economia da União. A
União e os Estados-Membros consideram que esse desenvolvimento decorrerá não apenas
do funcionamento do mercado interno, que favorecerá a harmonização dos sistemas sociais,
mais igualmente de processos previstos na constituição e da aproximação das disposições
legislativas regulamentares e administrativas20”,
Complementando a política social a União instituiu o Fundo Social Europeu administrado
pela comissão que tem por escopo promover facilidades de emprego e a mobilidade
geográfica e profissional dos trabalhadores, bem como facilitar a adaptação às mutações
industrias e a evolução dos sistemas de produção.
Há, ainda, uma política comum quanto a agricultura, pesca, ambiente, defesa dos
consumidores,transportes e energia.
A política agrícola comum tem por objetivos: incrementar à produtividade da
agricultura,fomentando o progresso tecnológico, assegurando o desenvolvimento racional
19
Constituição da União Européia, Titulo III: Políticas e Ações Internas, Capitulo II: Política econômica e
monetária, Seção 4: Disposições Transitórias, Artigo III- 92.o.
20
Constituição da União Européia, Titulo III: Políticas e Ações Internas, Capitulo III: Políticas Noutros
Domínios Específicos, Seção 2: Política Social, Artigo III- 103. o.
da produção agrícola e a utilização ótima dos fatores de produção (mão-de-obra);assegurar
um nível devida eqüitativo à população agrícola mediante aumento do rendimento
individual dos trabalhadores; estabilizar os mercados; garantir a segurança dos
abastecimento;e assegurar preços razoáveis nos fornecimentos aos consumidores. Já em
relação ao ambiente tem-se os princípios da precaução e da ação preventiva da correção,
prioritariamente na fonte,dos danos causados ao ambiente e no principio do poluidor
pagador.
Nesse contexto, as medidas de harmonização destinadas a satisfazer exigências em matéria
de proteção do ambiente incluem, nos casos adequados, uma clausula de salvaguarda
autorizando os Estados-Membros a tomar, por razões ambientais não econômicas,
disposições provisórias sujeitos a um processo de controle por parte da União. Resta
lembrar o esforço da União em promover a coesão econômica, social e territorial dos países
envolvidos, bem como a redução da paridade entre os níveis de desenvolvimento das
diversas regiões em atraso.
6) ESPAÇO DE LIBERDADE, SEGURANÇA E JUSTIÇA:
A União constitui um espaço de liberdade, segurança e justiça, na observância dos direitos
fundamentais e tendo em conta as diferentes tradições e sistemas jurídicos dos Estados-
Membros, desenvolvendo uma política comum em matéria de asilo, imigração e de controle
das fronteiras externas.
A Constituição Européia também desenvolve uma cooperação judiciária nas matérias civis
de modo a assegurar: o reconhecimento mutuo entre os Estados- Membros das decisões
judiciais e extra- judiciais, a citação e notificação transfronteiras dos atos judiciais e extra-
judiciais; compatibilidade das regras aplicáveis nos Estados- Membros em matéria de
conflito de lei e de competência; a cooperação na obtenção de provas; elevado acesso a
justiça; compatibilidade das normas de processo civil aplicáveis nos Estados- Membros;
métodos alternativos de solução de litígios; e apoio à formação dos magistrados e dos
profissionais de justiças21.
Já nas matérias penais busca-se estabelecer regras comuns sobre a admissibilidade mutua
das provas; direitos individuais em processo penal; e direitos das vitimas de criminalidade.
Essa política penal comum destina-se aos seguintes tipos penais: terrorismo, tráfico de seres
humanos e exploração sexual de mulheres e crianças, tráfico de drogas e de armas,
branqueamento de capitais, corrupção, contra facção dos meios de pagamento,
criminalidade informática e organizada22. Em se tratando de crimes graves que afetam
vários Estados- Membros, bem como das infrações lesivas dos interesses financeiros da
União, a Procuradoria Européia é competente para investigar, processar e levar a
julgamentos os autores e cúmplices, atuando em ligação com a Europol, sendo esse órgão
responsável por reforçar a ação das autoridades policiais e dos outros serviços de execução
das leis dos Estados- Membros.
7) AÇÃO EXTERNA DA UNIÃO EUROPÉIA:
A ação da União na cena internacional assenta nos princípios que presidiram à sua criação,
desenvolvimento e alargamento, e que é seu objetivo promover em todo o mundo:
21
Constituição da União Européia, Titulo III: Políticas e Ações Internas, Capitulo IV: Espaço de Liberdade
Segurança e Justiça, Seção 3: Cooperação Judiciária em Matéria Civil, Artigo III- 170.o.
22
Ibid,. Seção 4: Cooperação Judiciária em Matéria Penal, Artigo III- 171.o.
democracia, Estado de Direito, universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais, respeito da dignidade humana, igualdade e solidariedade e
respeito do direito internacional, em conformidade com os princípios da Carta das Nações
Unidas23.
Dentre as inúmeras políticas e ações nas relações internacionais, fica disposto na
Constituição: apoiar o desenvolvimento sustentável nos planos econômico, social e
ambiental dos países em vias de desenvolvimento, tendo como principal objetivo erradicar
a pobreza, e além disso, eliminar progressivamente os obstáculos ao comércio
internacional. O que se constituiria com a as relações do bloco econômico da união
européia com os demais, o que incluiria o Mercosul.
Os Estados- Membros apóiam a política externa e de segurança comum num espírito de
lealdade e de solidariedade mútua de modo a abstercem de empreender quaisquer ações
contrarias ao interesse da União.
A Constituição também abarca uma política de cooperação para os países em
desenvolvimento contribuindo para erradicação da pobreza, o que inclui ações de
cooperação econômica, financeira inclusive de assistência, especialmente no domínio
financeiro24. Já as ações da União no domínio da ajuda humanitária referem-se ao socorro e
proteção as populações dos países terceiros vitimas de catástrofes naturais ou de origem
humana, de modo a fazer às necessidades humanitárias resultantes dessas diferentes
situações.
Por fim, cabe a União celebrar acordos internacionais com um ou mais Estados terceiros ou
organizações internacionais somente nos casos em que a constituição expressamente
preveja a sua possibilidade ou quando a celebração de um acordo seja necessária para
alcançar um dos objetivos das políticas da União previstas constitucionalmente.
8) INSTITUIÇÕES DA UNIÃO EUROPÉIA:
O funcionamento da União Européia é bastante complexo e exige a necessidade do trabalho
conjunto de várias instituições, órgãos consultivos e agências.As instituições que garantem
o bom funcionamento do gigante europeu são o Parlamento Europeu, a Comissão, o
Tribunal de Justiça e o Tribunal de Contas.Os órgãos consultivos da União são o Comitê
das Regiões e o Comitê Econômico e Social. A agência mais importante é o Banco Europeu
de Investimentos.
O Parlamento Europeu (PE), na sua qualidade de Instituição representativa dos cidadãos
europeus, constitui o fundamento democrático da Comunidade. A fim de garantir à
Comunidade a sua plena legitimidade democrática, deve ser plenamente associado ao
procedimento legislativo comunitário e exercer, em nome dos cidadãos, o controlo político
sobre as outras Instituições da Comunidade. A celebração de qualquer tratado de adesão e
de associação de um novo Estado-Membro está sujeita ao parecer favorável do Parlamento.
Estão igualmente sujeitos ao parecer favorável os atos relativos ao procedimento eleitoral e
os procedimentos tendentes a sancionar um Estado-Membro em caso de violação grave e
persistente dos princípios fundamentais da União. No que se refere à participação do
procedimento legislativo o PE participa na elaboração dos atos legislativos comunitários a
23
Constituição da União Européia, Titulo V: Ação Externa da União, Capitulo I: Disposições de Aplicação
Geral, Artigo III- 193.o.
24
Constituição da União Européia, Titulo V: Ação Externa da União, Capitulo IV: Cooperação com os países
terceiros e ajuda humanitária, Seção 1: cooperação para o desenvolvimento, Artigo III-218.o.
diversos níveis, em função da base jurídica pertinente para cada um desses atos. O seu
papel evoluiu progressivamente de uma participação exclusivamente consultiva para uma
co-decisão em pé de igualdade com o Conselho. Quanto aos poderes orçamentais, o PE
participa no procedimento orçamental desde o seu estado preparatório, nomeadamente no
tocante às linhas de orientação gerais e à natureza das despesas. O PE aprova
definitivamente o orçamento e controla a sua execução. O PE dá quitação à execução do
orçamento. O controle do Executivo também é tarefa do PE, para isso dispõe de vários
instrumentos de controle. O primeiro refere-se à investidura da Comissão. Em 1992, através
do Tratado de Maastricht25 subordinou à sua aprovação prévia a nomeação pelos Estados-
Membros do Presidente e dos demais membros da Comissão, enquanto colégio. Com o
Tratado de Amsterdã26 foi mais longe, ao submeter à aprovação distinta do Parlamento a
designação do Presidente da Comissão, previamente à dos demais membros. Outro
mecanismo é o que realiza as perguntas, ou melhor, Período de Perguntas27 das sessões
plenárias. A Comissão e o Conselho são obrigados a dar uma resposta. O PE tem o poder de
constituir uma comissão de inquérito temporária para controlar as alegações de infração ou
de má aplicação do direito comunitário. Em matéria de política externa, de segurança
comum e de cooperação policial e judiciária, o PE tem direito a ser regularmente informado
e pode dirigir ao Conselho perguntas ou formular recomendações. É consultado sobre os
principais aspectos e as opções fundamentais da política externa, de segurança comum e de
cooperação policial e judiciária (PESC) e sobre qualquer medida prevista, à exceção das
posições comuns em matéria de cooperação política e judiciária. O PE tem o poder de
interpor recurso junto do Tribunal de Justiça, em caso de violação do Tratado por uma outra
Instituição. É o PE quem nomeia o Provedor de Justiça28.
Analisando as atribuições do Conselho de Ministros, observa-se que, com base nas
propostas apresentadas pela Comissão, o Conselho adota a legislação comunitária, sob
forma de regulamentos e de diretivas, ou conjuntamente com o Parlamento Europeu, ou
individualmente, após consulta ao Parlamento Europeu. O Conselho adota igualmente as
decisões individuais e as recomendações não vinculativas e promulga resoluções.
Estabelece ainda as modalidades para o exercício dos poderes de execução que são
conferidos à Comissão ou reservados ao próprio Conselho. No que se refere à política
externa, o Conselho celebra acordos internacionais da Comunidade, acordos que são
negociados pela Comissão e cuja celebração exige o parecer favorável do Parlamento
25
Tratado que instituiu a cidadania da União Européia e a esta foram atribuídos direitos e deveres. Foi
firmado em 7 de fevereiro de 1992 com representantes dos doze países-membros das "Comunidades
Européias", isto é, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo,
Holanda, Portugal e Reino Unido. Mais tarde, aderiram ao Tratado: Áustria, Finlândia e Suécia.
26
Assinado em outubro de 1997, o tratado de Amsterdã é aquele que consolida os avanços obtidos no tratado de
Maastricht e dá especial atenção à temática social, de imigração e direitos humanos.
27
`A Comissão caberá responder, oralmente ou por escrito, às questões que lhe sejam colocadas pelo
Parlamento Europeu ou pelos seus membros [art. 197.º (140.º) e 239.º CE].
28
O Parlamento Europeu nomeia o Provedor de justiça Europeu, que tem poderes para receber queixas
apresentadas por qualquer cidadão da União ou qualquer pessoa singular ou coletiva com residência ou sede
estatuária num Estado-Membro e respeitantes a casos de má administração na atuação das instituições, órgãos
ou agências da União, com exceção do tribunal de Justiça no exercício das respectivas funções jurisdicionais
[ art. 237. º CE].
Europeu. Referente às nomeações, Conselho nomeia os membros do Tribunal de Contas, do
Comitê Econômico e Social e do Comitê das Regiões.Nas políticas econômica e monetária
o Conselho assegura a coordenação das políticas econômicas dos Estados-Membros e, sem
prejuízo das competências do Banco Central Europeu, toma as decisões políticas no
domínio monetário.
O Conselho Europeu dá à União os "impulsos necessários ao seu desenvolvimento" e
define as "respectivas orientações políticas gerais". Na política externa define os princípios
e as orientações gerais da política externa e de segurança comum e decide sobre as
estratégias comuns com vista à sua execução. Em matéria de cooperações reforçadas, cabe-
lhe decidir em última instância sobre a autorização a conceder aos Estados-Membros que se
proponham instituir entre si uma cooperação política e judiciária reforçada.
Na sua qualidade de depositário do interesse comum, a Comissão constitui o centro
impulsionador da ação comunitária e o garante da sua aplicação. A Comissão detém,
normalmente, o monopólio da iniciativa no que diz respeito às decisões comunitárias e
elabora, a este título, as propostas sobre as quais deliberarão as duas instituições com poder
de decisão, ou seja, o Parlamento e o Conselho. Em matéria de gestão da União Econômica
e Monetária, a Comissão deve apresentar ao Conselho: recomendações para a elaboração de
um projeto de orientações gerais das políticas econômicas dos Estados-Membros e da
Comunidade; relatórios sobre a evolução econômica em cada Estado-Membro;
recomendações sobre as medidas a tomar em relação aos Estados-Membros que não
seguem as orientações estabelecidas; propostas de medidas no caso de surgirem
dificuldades econômicas graves na Comunidade ou num determinado Estado-Membro;
pareceres e recomendações no caso de existir ou poder ocorrer um déficit orçamental
excessivo num determinado Estado-Membro; propostas no sentido de conferir ao Banco
Central Europeu atribuições relativas à supervisão prudencial das instituições financeiras;
propostas (na ausência de propostas do Banco Central Europeu) de alteração dos estatutos
do Sistema Europeu de Bancos Centrais; recomendações sobre as taxas de câmbio entre a
moeda única e as outras moedas, bem como sobre as orientações gerais para a política de
taxas de câmbio; recomendações sobre as medidas a tomar no caso de surgirem
dificuldades num determinado Estado-Membro ao nível da balança de pagamentos. No
âmbito da política externa e de segurança comum e da cooperação policial e judiciária, a
Comissão é plenamente associada aos trabalhos do Conselho, como pode apresentar
qualquer proposta ao Conselho. A Comissão vela pela boa aplicação dos Tratados
comunitários, bem como pela aplicação das decisões adotadas por força destes.
Quanto às atribuições do Tribunal de Justiça, este "garante o respeito do direito na
interpretação e aplicação dos Tratados". Para tanto, resolve litígios entre a CE e os Estados-
Membros; litígios entre a CE e os Estados-Membros; litígios entre as instituições; litígios
entre os particulares e a Comunidade; emite pareceres sobre acordos internacionais. Em
certos casos especiais, o Tribunal de Justiça pronuncia-se fora do seu domínio de
competências, como, por exemplo, quando emite um parecer sobre os acordos externos
concluídos pela Comunidade.
Outra instituição importante é o Tribunal de Contas, cuja competência é cobrir as contas da
totalidade das receitas e despesas da Comunidade, bem como de qualquer organismo criado
pela Comunidade (salvo exclusão prevista pelo ato constitutivo do organismo em causa). O
Tribunal examina estas contas no sentido de garantir a sua fiabilidade, a legalidade e a
regularidade das receitas e despesas e a boa gestão financeira.
Como já foi mencionado, o Comitê Econômico e Social é de natureza consultiva e o seu
papel consiste em comunicar às Instituições responsáveis pelas decisões comunitárias a
opinião dos representantes da vida econômica e social. O Tratado prevê que, num certo
número de domínios, só poderá ser tomada uma decisão após consulta do Comitê pelo
Conselho ou pela Comissão, como, por exemplo, a política agrícola; a livre circulação de
pessoas e serviços; a política dos transportes; a política de emprego; a política social;
educação, formação profissional e juventude; saúde pública; defesa dos consumidores;
política industrial, investigação e desenvolvimento tecnológico; ambiente; entre outros.
Pode igualmente ser consultado em todas as matérias pela Comissão, pelo Conselho ou pelo
Parlamento Europeu, sempre que estas instituições o considerarem oportuno.
O Comitê das Regiões é um órgão consultivo que garante a representação das coletividades
regionais e locais da União, sendo o porta-voz dos interesses destes órgãos territoriais junto
da Comissão e do Conselho, a que apresenta pareceres. A criação do Comitê das Regiões
constitui uma vertente significativa da vontade de "continuar o processo de criação de uma
união cada vez mais estreita entre os povos da Europa, em que as decisões sejam tomadas
ao nível mais próximo dos cidadãos, de acordo com o princípio da subsidiariedade".
Quanto às consultas obrigatórias, estas dizem respeito à educação, formação profissional e
juventude; cultura; saúde pública; redes transeuropéias nos setores de infra-estruturas de
transportes, das telecomunicações e da energia; coesão econômica e social, na sua
amplitude. O Comitê poderá, por outro lado, ser consultado sobre todas as matérias pela
Comissão, pelo Conselho ou pelo Parlamento, caso estas Instituições o considerem
oportuno.
O BEI, Banco Europeu de Investimento, acima denominado como uma agência, é uma
instituição sem fins lucrativos, tem por principal missão a concessão de empréstimos e de
garantias a médio e longo prazo a projetos de investimento que contribuam para o
desenvolvimento equilibrado da União. O Banco apóia também países terceiros cujo
desenvolvimento a União pretenda favorecer. Dentro da União Européia ele cuida
basicamente de assuntos relacionados ao desenvolvimento econômico das regiões menos
favorecidas; melhoramento das infra-estruturas de transportes e de telecomunicações;
proteção do ambiente natural e urbano; apoio às pequenas e médias empresas; educação e
saúde, além da iniciativa Inovação 200029.
9) DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS:
A União Européia sucede à Comunidade Européia e a União em todos os seus direitos e
obrigações, quer sejam internos, quer resultem de acordos internacionais constituídos antes
da entrada em vigor do Tratado que estabelece a Constituição por força dos Tratados,
protocolos e atos anteriores, incluindo a totalidade do ativo e do passivo da Comunidade e
da União, bem como os respectivos arquivos30.
29
Lançada em Março de 2000, a iniciativa destina-se a construir uma Europa baseada no conhecimento e na
inovação. Os objectivos dos empréstimos são o desenvolvimento das pequenas e médias empresas (PME) e do
espírito empresarial, a divulgação da inovação, da investigação e do desenvolvimento e das redes de
tecnologias da informação e da comunicação, a formação de capital humano e o investimento em projectos
audiovisuais europeus. Desde Maio de 2000, estes empréstimos destinaram-se às redes de comunicação (965
milhões de euros), à educação (448 milhões) e ao capital de risco (214 milhões) a favor das PME inovadoras.
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Constituição da União Européia, Disposições Gerais e Finais, Artigo IV- 3.
O Tratado que estabelece a Constituição é aplicável ao Reino da Bélgica, ao Reino da
Dinamarca, à República Federal da Alemanha, à República Helênica, ao Reino da Espanha,
a República Francesa, à República Italiana, ao Grão Ducado de Luxemburgo, ao Reino dos
Países Baixos, a República da Áustria, à República Portuguesa, à República da Finlândia,
ao Reino da Suécia e ao Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte31.
As disposições gerais tratam ainda, do processo de revisão do tratado que estabelece a
Constituição, a adoção, a ratificação e a entrada em vigor da Constituição, num período de
vigência ilimitada.
10) CONCLUSÃO
Em vista da análise e dos fatos apurados no decorrer deste trabalho, pode-se concluir que
falar da Constituição Européia deve ter presente que esta constituição é:
a) um contrato da sociedade européia com os seus cidadãos; b) uma identidade cultural
formada por várias culturas em termos de religião, educação, ensino, ciência, arte e
desporto; c) é um espaço de cultura jurídica assente na unidade e pluralidade; d) um
espaço de publicidade plural onde a política assume um papel de relevo; e) uma
comunidade constitucional constiruida pelas Constituições nacionais e a
Constituição européia; f) um espaço jurídico em que desaparecerá o “Direito
Europeu” para dar lugar a disciplinas como “Direito Constitucional Europeu”; g)
um espaço onde o “constituir Constitucional faz referencia a instâncias universais e
a dimensões transcendentais.
Neste patamar, a extrema variedade de normas incorporadas na Constituição Européia
criará, desde logo, relevantes problemas quanto à normatividade desta Constituição. Se
entendermos por normatividade de uma Constituição a sua especificidade e respectivos
efeitos facilmente se verificará que a sua pretensão de se converter em norma e medida para
a política e para o exercício do poder vai encontrar notáveis dificuldades, desde logo porque
ao constitucionalizar todas as políticas se transforma igualmente numa Constituição
dirigente da vida econômica e social; ou seja, fato este que é de uma aplicabilidade
questionável em paises tão diferentes, como exemplo, os do leste europeu como a
Alemanha. Seria então sobreposição de interesses de paises dominantes? Questiona-se
ainda, se tal dirigismo Constitucional não iria no sentido contrário a questão das soberanias
nacionais.
Por outro lado o discurso sobre a Constituição européia não deve subestimar princípios
fundamentais estruturantes da competência da União, designadamente os princípios da
atribuição, da subsidariedade e da proporcionalidade.
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Constituição da União Européia, Disposições Gerais e Finais, Artigo IV- 4.
REFERÊNCIAS:
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