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R E V I S T A D O S E S T U D A NT E S D E F Í S I C A E
DOS FÍSICOS E TÉCNICO-FÍSICOS PORTUGUESES
VOL. I, FASC. 1
OUTUBRO, 1946
RADIOGRAFIA OBTIDA NO
LABORATÓRIO DE FÍSICA
DA F. C. L.
POR UM DOS ALUNOS
DO CURSO DE FÍSICA
F. Q. N.
GAZETA DE FÍSICA
Vol. I, Fasc. 1 Outubro de 1946
RESPONSÁVEIS DAS SECÇÕES
SUMÁRIO
1. TRIBUNA DE FÍSICA
A matéria de cada artigo é tratada sob a inteira responsabilidade do autor 12. INFORMAÇÕES VÁRIAS
Direcção
Dep.: LIVRARIA ESCOLAR EDITORA — R. da Escola Politécnica, 68-72 -Tel. 6 4040 — LISBOA
Vol. I, Fasc. 1 O u t u b r o de 1 9 4 6
1. TRIBUNA DA FÍSICA
EM NOME DA DIRECÇÃO
ARMANDO GIBERT
A «Gazeta de Física» tem por primeiro e encontrarão associando físicos às suas emprê-
grande objectivo contribuir activamente para sas (como fazem correntemente lá fóra). Lu-
o desenvolvimento e elevação dos estudos de taremos ainda por condições de vida dignas,
Física em Portugal em todos os graus de en- únicas capazes de assegurar um desempenho
sino, assim como para o esclarecimento dum eficiente e elevado de qualquer profissão, em
público mais vasto sôbre a posição real da particular da nossa, tão prejudicialmente ina-
intervenção da Física na vida moderna e sô- proveitada entre nós.
bre a acção do nível científico dos físicos e Dentro dêstes moldes não deixaremos de
técnico-físicos no ritmo e na independência imprimir à nossa revista uma orientação bem
do progresso industrial do nosso País. definida, mas agradecemos a todos os que con-
Estas palavras iniciaram a nossa primeira cordem com aquêles fins que enriqueçam os
circular. Mais adiante, propúnhamos, na mes- nossos projectos com sugestões, que serão
ma, a luta pela criação dum Corpo Nacional sempre bem recebidas, e que contribuam para
de Físicos e Técnicos Científicos. tornar o nosso serviço informativo tão com-
É isto, sem dúvida, o resumo dum programa pleto quanto possível. Desejamos também
e julgamos oportuno procurar desde já com- pôr as páginas da Gazeta de Física ao serviço
pletá-lo e desenvolvê-lo um pouco mais... do maior número de físicos ou amigos da
Para facilitar muitos dos nossos outros Física e para defesa das idéias mais diversas,
objectivos, procuraremos realizar por meio da mas reservamo-nos o direito de excluir todas
Gazeta de Física as condições, tão desejáveis as contribuições que, de qualquer modo, pelo
no nosso meio, de coordenação de iniciativas seu espírito ou pela sua forma, nos pareçam
e esforços dispersos e de colaboração entre susceptíveis de contrariar os nossos objectivos
os professores dos vários graus de ensino e fundamentais. Por vezes o nosso ponto de
os seus antigos alunos. Tentaremos também vista será errado, e talvez aquele que rejeitar-
promover o maior interesse de todos pela mos seja porventura o bom. No entanto es-
«profissão» de físico, em particular dos nos- peramos que tais êrros se dêem raramente,
sos industriais, pelas vantagens que muitos mas a atitude que nos leva a correr um tal
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risco é a única que nos parece compatível 3.°) Estamos nós seguros de que reunimos
com a eficácia da nossa acção e, por isso, pouco mais do que as condições mínimas para
havemos de a manter com intransigência. um desempenho activo e progressivo da nossa
Oxalá a franqueza desta explicação evite que profissão?
algum dos nossos amigos se sinta melindrado Se as respostas ao que precede forem ne-
no dia em que, por fôrça da doutrina exposta, gativas, podemos admitir que assim seja?
sejamos levados a não publicar um dos seus não será nossa obrigação aprofundar as causas
artigos ou solicitemos a supressão ou a modi- de tais negativas? como conseguir que os
ficação de alguma das suas partes. actuais e futuros alunos de Física possam um
Havemos de dirigir-nos, muitas vezes, a dia responder-lhe diferentemente?
pessoas cujas relações com a Física são des- Crêmos ter estabelecido assim um imenso
conhecidas ou negadas entre nós, mas também programa de luta. Oxalá êle corresponda,
não descuraremos a tarefa fundamental de como esperamos, às aspirações mais elevadas
criar uma consciência colectiva dos nossos do maior número possível dos mais influentes
físicos (ou daqueles que assim deveriam con- dos nossos colegas. Contamos com a colabo-
siderar-se). Para isso é essencial encontrar- ração activa de todos, desejamos conhecer os
mos a coragem de pôr a nú, sem desfalecer, mais variados pontos de vista e aguardamos
as verdades dolorosas que se opõem ao reco- sugestões construtivas dos que sintam, como
nhecimento da importância da nossa profissão. nós, a urgência premente de realizar aquêle
O caminho será longo, e só poderemos atingir programa.
a meta se procedermos constantemente a um Mas terá êle ficado claramente posto? In-
profundo exame de consciência profissional e sistimos:
se fizermos e aceitarmos todas as críticas com 1.°) A Licenciatura em Ciências Físico-
uma objectividade totalmente impessoal -Químicas não é um curso de Física. Quere-
Alguns perguntarão: mas que devemos nós mos uma «Licenciatura em Física», indepen-
fazer? não tirámos nós um curso com uma dente, única capaz de dar aos nossos futuros
colegas um nível profissional elevado, com-
boa classificação? não procuramos desempe-
parável ao dos físicos estrangeiros.
nhar-nos o melhor possível, e com satisfação
2.°) Os princípios gerais que regulam a
dos nossos superiores, da tarefa profissional
transmissão da Ciência e a verificação do
que nos cabe?...
aproveitamento, nas nossas Faculdades, são
Desejamos acentuar, já neste primeiro nú-
falsos, regressivos, ineficientes e improdutivos.
mero, que queremos viver com os olhos pos-
A Licenciatura em Física (como aliás todas
tos no futuro, que as nossas críticas ao pas-
as outras) precisa de ser organizada em bases
sado serão sêcamente realistas (tendo apenas
novas, aumentando o ensino prático, redu-
em vista evitar repetição de êrros e de modo
zindo ao mínimo as aulas magistrais, criando
algum culpar aqueles que os cometeram) e
Seminários e Colóquios, não tirando à Física
que não admitiremos chicanas pessoais nas
que se ensina a Vida que lhe é própria e que
nossas páginas, pois nem as pessoas nem as
mais naturalmente pode despertar o entu-
suas susceptibilidades nos interessam.
siasmo criador dos alunos, mas não descurando
Por isso, em tôrno da pergunta acima for-
tão pouco o papel essencial da Hipótese nem
mulada e das objecções interrogativas que se
o valor estimulante da Teoria.
lhe seguem, sugerimos os seguintes motivos
de meditação: 3.°) Se não tirámos um curso de Física,
1.°) Tirámos nós, de facto, um curso de Física? se a Licenciatura em Físico-Químicas tem
2.°) Existirá, efectivamente, uma relação apenas 4 cadeiras de Física, uma das quais
de causa a efeito entre aquilo que ficámos semestral, se as condições dêsse ensino redu-
sabendo para tôda a vida e as notas que os zido estão longe de lhe dar uma eficácia má-
nossos exames mereceram? xima, se a prática experimental é uma com-
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pleta ficção, como poderemos nós ter uma da importância que nós sabemos que ela tem.
cultura e capacidade profissional do nível da Êste trabalho não deve sofrer interrupções e
dos nossos colegas estrangeiros e, portanto, cada um deverá realizá-lo de acôrdo com as
como poderá ela ser suficiente para o desem- tendências pessoais e as suas possibilidades,
penho activo e progressivo da nossa profissão? mas seria extraordináriamente vantajoso que
Não o é de facto, mas, quanto a nós, pensa- os esforços individuais se apoiassem em tare-
mos que só nos deve honrar reconhecê-lo e fas colectivas, por exemplo, em centros de
proclamá-lo. Mas isto não basta... de estudo ligados de preferência às Faculda-
Uma vez definida a situação de inferioridade des, escrevendo na Gazeta de Física sôbre
em que fomos colocados por virtude de cau- temas de ensino, quer teóricos, quer práticos,
sas estranhas à nossa vontade, é o nosso pri- colaborando em ciclos de conferências, etc.
meiro dever sacudir as algemas da comodidade Ventilámos assim algumas idéias que, pro-
e da suficiência e lançar mãos à obra de com- vàvelmente, constituíam já motivo de preocu-
pletar e elevar a nossa cultura profissional, pação para muitos de nós. Esperamos que
lutando ao mesmo tempo pela criação de con- à «Gazeta de Física» caiba o importante papel
dições favoráveis para as gerações futuras. de ser o agente de ligação, entre cada um de
É êste o nosso primeiro dever, pois só as- nós e todos os outros, na preparação e no es-
sim nos poderemos impor como classe profis- tudo da acção coordenada que devemos desen-
sional e exigir dos outros o reconhecimento volver sem tardar.
ARMANDO GIBERT
ENSINO E INVESTIGAÇÃO
No século que decorre, não passa de uma actividade científica como condição indispen-
banalidade a afirmação de que só devem con- sável para poderem ser incluidos na lista das
siderar-se verdadeiramente civilizadas as na- nações civilizadas e, conseqüentemente pode-
ções que ao desenvolvimento da Ciência dedi- rem, de direito e não parasitàriamente, usu-
cam boa parte de suas energias e de seus ren- fruir todos os benefícios de riqueza, de pode-
dimentos. rio e de elevação da Humanidade, em quinhões
Na verdade, são essas nações que, àlém de tanto mais largos quanto mais valiosas forem
criarem, para a Humanidade, riquezas e pos- as respectivas contribuïções para a construção
sibilidades cada vez maiores, simultâneamente científica, isto é, para o progresso da Civili-
tornam o Homem cada vez mais digno de go- zação.
zar os respectivos benefícios. Em Portugal, como no resto do mundo, de
Os esforços feitos pelos homens de ciência há muito se estabeleceram as idéias que aí
para descobrirem os tesoiros que a Natureza ficam, se reconheceu o sentido em que deve-
contém, procederem ao inventário e avaliação mos marchar, como nação desejosa de digni-
dêsses tesoiros e garantirem o domínio hu- ficar-se, e se apreendeu a responsabilidade
mano dos mesmos, visam a contínua amplia- que colectivamente assumimos, se não nos
ção da Ciência, como sólido alicerce para o aplicarmos esforçadamente a partilhar na ta-
desenvolvimento da Civilização. refa imposta à Humanidade para seu engran-
Estas idéias reconhecidas universalmente decimento próprio pelo engrandecimento da
como assêrtos, a tôdos os povos indicam a Ciência.
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Assim, há muito tempo que se reconhece e actividades científicas, quer estas visem as apli-
se lamenta o atrazo em que nos deixamos cações proveitosas imediatas, quer tomem o ca-
cair relativamente a outras nações e se repe- rácter de investigação tendente a aumentar o sa-
tem tentativas de projectos para vencer o re- ber, ainda que sem aplicação utilitária imediata.
ferido atrazo; não faltam aos nossos estudio- Pouco tempo depois (1915) até os laborató-
sos, de um modo geral, as qualidades neces- rios liceais adquiriam animado funcionamento
sárias aos trabalhadores científicos que, em com a introdução no ensino secundário dos
ambiente próprio, se revelam em medida tão trabalhos individuais educativos para os alunos
boa, ou até melhor, do que aquela em que os dos cursos complementares.
cientistas de outros países as possuem; mas O ensino científico melhorava, tanto no
o aludido atrazo persiste, principalmente tal- grau secundário como no superior; deixava de
vez, porque neste assunto, como em muitos reduzir-se com demasiada freqüência à
outros, nós portugueses nos mostramos pouco exposição oral ou escrita do professor ou do
dados a persistir na execução de um plano, compêndio, nem sempre fàcilmente apreensí-
destinado a resolver certo problema, sem o veis por falta de referências ou estabelecida
submetermos a freqüentes e amplas modifica- relação com factos conhecidos pelo aluno
ções, quer no critério orientador da execução, como realidades por êle observadas; com
quer até no enunciado do problema, ou seja, efeito, o trabalho laboratorial, consistindo no
na definição do objectivo a atingir; e em tais contacto com realidades — porventura, algu-
condições o rendimento das energias aplicadas mas apenas — dá-nos, contudo, a capacidade
é, em geral, mesquinho e desanimador. de apreender claramente por simples descrição
É sabido que o desenvolvimento da Ciência outros factos reais como se os observássemos.
se alcança pela difusão do Saber e pelo seu Infelizmente os benefícios que a legislação
acrescentamento, isto é, pelo ensino e pela de 1911 e 1915 trouxe ao ensino científico,
investigação. Que se passa em Portugal nes- em grande parte se perderam já, quer por
tes campos de actividade nacional? modificações da referida legislação, quer por
A curto prazo sôbre a proclamação da Re- deficiências de instalação, de pessoal e de equi-
pública, promulgou-se a reforma universitária pamento que não têem aumentado na propor-
de 1911 que trouxe ao ensino superior notá- ção em que tem crescido a população das
vel melhoria, permitindo uma maior eleva- escolas. A necessidade de reforma dos ensinos
ção dos programas, dando ao ensino prático liceal e superior é proclamada por todos que
uma largueza e importância que nunca antes pelo assunto se interessam. Quando e em
tivera tão nìtidamente marcada e impondo que sentido se efectivarão essas reformas?
aos alunos, a par da concessão de grande li- Oxalá que em breve e benèficamente se
berdade na regulação das suas tarefas anuais, reforme, tendo presente que uma fértil acti-
tanto no respeitante à escôlha dos cursos a vidade de investigação científica, actividade
seguir como no referente às provas de exame característica de nação civilizada, exige como
a prestar, o sentimento da própria responsa- base um bom ensino científico.
bilidade na marcha e eficiência dos seus tra- Em 1929, coroando esforços que de mais
balhos escolares e na apreciação dos resulta- longe se vinham efectuando, foi criada a ins-
dos obtidos. tituïçào que hoje se designa «Instituto para a
Os laboratórios dos cursos de ciências expe- Alta Cultura», tendo como um dos seus
rimentais perderam o aspecto de museus ou objectivos o desenvolvimento da investigação
de depósitos de material, que muitos apresen- científica no nosso país. Por esta instituïção têm
tavam na maior parte da sua extensão, e sido concedidas bolsas de estudo no estran-
passaram a ser locais de trabalho dos alunos, geiro e no país e têm sido subsidiados alguns
iniciando-se êstes nas técnicas experimentais laboratórios e outros institutos científicos para
e desenvolvendo-se em muitos o gôsto pelas aquisição de material, publicações, etc.
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RÓMULO DE CARVALHO
honra ferida mas sim dum problema de en- para se poder ingressar numa Faculdade.
sino. Basta o 6.° ano pois a maioria das perguntas
Em qualquer assunto que se discuta todos feitas referem-se a modestíssimos conhecimen-
têm a sua verdade e todos a tomam por se- tos do curso geral. Quanto aos problemas,
gura. O que é, porém, seguro, é o facto. êles são da mesma categoria das perguntas:
E o facto é êste: as Escolas Superiores diri- propositadamente simples. Quem conheça o
gem, aos alunos que nelas desejam ingressar, assunto que os leia e os aprecie desinteres-
perguntas tão irrisórias que nenhum professor sadamente.
do liceu se disporia a pô-las num exame do E depois? Que resulta de tudo isto? Um
7.° ano. Por exemplo estas: Como se de- número de reprovações tão impressionante
monstra o princípio de Arquimedes? Que é que chega, só por si, para justificar a conti-
potência duma lente? Que é um calorímetro? nuação do «contrasenso» dos ditos exames.
Que é liquefacção? Chega-se a pensar que o Não está aqui, patente aos olhos de todos,
7.° ano do liceu é muito pouco necessário um motivo de meditação?
RÓMULO DE CARVALHO
PROF. DO LICEU CAMÕES
LÍDIA SALGUEIRO
Trabalhos Universidades
LÍDIA SALGUEIRO
ASSIST. DE FÍSICA DA F. C. L.
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5. EXAMES UNIVERSITÁRIOS
PONTOS DE EXAMES
dente. b) Dê a expressão relativista da energia ciné- 17—a) Defina ângulo limite para duas substâncias e
tica e da quantidade de movimento de uma partícula. fluxo luminoso de um feixe. b) Dê a equação geral dos
c) Leis da emissão foto-eléctrica e equação fundamen- dióptricos e espelhos nas condições de aproximação
tal da foto-electricidade. de Gauss e estabeleça a partir dela a equação do espelho
plano. c) Um feixe de luz monocromática incide com a
12 — a) Diga quais são e o que são as amplifica-
inclinação de 45º na superfície ar-quartzo normal no
ções de um sistema óptico centrado para um dado
eixo óptico do cristal; construa os respectivos raios
ponto do eixo e dê a relação entre elas. b) Determine
refractos utilizando a construção de Huygens e os
gràficamente o feixe conjugado do feixe que incide
valores dos índices indícados na tabela das constantes.
com a inclinação de 30° num sistema óptico centrado
no ar cujos pontos cardeais se sucedem pela ordem 18—a) Diga o que é a luz de Wood e indique a cons-
HF... Descreva a construção. c) Descreva sumària- tituição do atomo 2713 Al . b) Dê a equação de De Bro-
mente as operações e cálculos a efectuar para medir
uma resistência com a ponte de Wheatstone. Esquema glie e diga como calcula a energia cinética dum
da instalação. electrão no caso mais geral. c) Indique sumàriamente
as operações e cálculos a efectuar para comparar
f. e. m. pelo processo do potenciómetro. Esquema da
F. C. L. — Física Geral— Exame final — 18 de Julho
instalação.
de 1946.
13—Um circuito compreende um gerador de f. e. m. E F. C. L. — Termodinâmica — Exame final — 13 de
de resistência interior nula em série com uma resis- Julho de 1946.
tência R e um galvanómetro de resistência inte-
rior R. Em derivação com o galvanómetro há um 19 — a) Estabeleça a expressão que relaciona os
«shunt» de resistência Rs. Calcular o poder amplifi- títulos inicial e final numa expansão adiabática
cador do «shunt» sabendo que ao retirar êste do circuito reversível de um vapor húmido. b) Dê a
é necessário substituir R por 10 R para que o galva- representação no diagrama de Clapeyron e no
nómetro mantenha o seu desvio. R: Quando se retira diagrama entrópico e indique as diferentes fases do
o «shunt» do circuito tem-se E = (Ra+10 R)I (2.ª lei de ciclo de Rankine com vapor saturado e com vapor
Kirchoff). Para o circuito com «shunt» tem-se anàloga- sôbreaquecido (ciclo de Hirn).
mente E = (R1+R)mI em que 1/R1=1/Ra +1/Rs por-
20 — a) Defina concentração, concentração mole-
tanto R1 = Ra/m visto que Rs − (Ra/m − 1). Logo
cular e título dum soluto num dos seus constituintes
(Ra/m+R) mi = (Ra+10R)I donde m=10.
e estabeleça a relação entre estas grandezas. b) In-
14—Um sistema centrado de duas lentes convergentes dique os mais importantes resultados experimentais
tem a potência de qualquer delas. Determine a posição sôbre calores específicos dos sólidos.
dos seus pontos cardiais em relação às lentes. R:
Pelos dados do problema 1/f = 1/f1=1/f2 portanto de 21—Calcular a quantidade de calor a fornecer a
1/f =1/f1 + 1/f2 − d/(f1f2) e Δ = d − f1 − f2 tem-se que: 10g de vapor de água de título 1/2 para o fazer pas-
1/f1 = 2/f1 − d/f1²; d = f1 = f2 = f e Δ = −f1 = −f2. Substi- sar a título constante, da temperatura de 40° C à
tuindo êstes valores nas relações : H1F=f1 (1 + f1/Δ); temperatura de 80° C. R: O título do vapor húmido é
H2F′ = f2(1 + f2/Δ); H1H = H1F − f e H2 H′ = H2F′ − f′ dado por x=m1/m. Para x =1/2 e m = m1+m2 =10g
vem H1F = 0; H2 F′ = 0; H1H = −f e H2H′ = −f1. de vapor húmido tem-se m1=5g de vapor sêco e
m2=5g de líquido A q. d. c. Q a fornecer à massa
15—De um par de nicois paralelos emerge um feixe m de vapor húmido para o fazer passar a título cons-
de luz ( =6000 A U) com a intensidade I0. Rodando o tante de T 1 a T 2 compõe-se de duas parcelas, uma
analizador de 45º emerge com a intensidade I1. Cal- T2
nas condições do problema é t = 1/30 s. O rendimento tempo dt é dWp = dWe - dWr = aσTe4sdt - aσTr4sdt em
económico é dado ηe=Wu/Qc. Para Qc=320 que dWe é a energia emitida pela esfera, durante o
735 tempo dt e à temperatura Te da esfera e dWr a ener-
cal/ciclo e Wu= cal/ciclo vem ηe=0,18.
4,18 × 30 gia emitida pelo recinto para a esfera, no tempo dt e à
temperatura Tr do recinto que é igual à que seria emi-
23 — Uma esfera de 10 cm² de área cuja absorvi- tida pela esfera se ela se encontrasse à temperatura das
dade é 0,80 para todos os comprimentos de onda está das paredes do recinto. A potência perdida pela esfera
encerrada num recinto evacuado. Calcular a potência no instante considerado no problema é
perdida pela esfera no momento em que a sua tempe- dWp
= Pp = aσs(Te4 − Tr4 ) = 2,5 × 10 7 J/s = 2,5 watts.
ratura é 227° C e a das paredes do recinto é 27° C. dt
R : A variação de energia da esfera no intervalo de (σ = 5,735x10-5 ergs/cm/s/grau
² 4—constante de Stefan)
PROBLEMAS PROPOSTOS
PALAVRAS PRÉVIAS
AMARO MONTEIRO
1 M — Um ascensor parte do repouso 30 m acima 1 S — Uma esfera maciça condutora com a carga
do solo, e executa o seu movimento de descida, pri- eléctrica Q em equilíbrio, de raio r, está mergulhada
meiro com a aceleração constante de 2,0 m/s² e depois no vácuo, sendo apenas actuada pela carga eléctrica
com a aceleração constante de −4,0 m/s² e atinge pontual Q′ à distância d do seu centro; a carga está
o solo com velocidade nula. Calcular o tempo de situada no vácuo também. Calcular a fôrça que actua
descida. (Mecânica por A. Ferreira). esta carga pontual.
AMARO MONTEIRO
8. DIVULGAÇÃO E VULGARIZAÇÃO
COMO SE MEDIU A CARGA DO ELECTRÃO
RÓMULO DE CARVALHO
são devidos a quaisquer fluidos imponderáveis, drogénio era, em número aproximado, 96540
invisíveis e imateriais, mas sim a corpúsculos coulombs, e também se concluiu que essa mesma
que juntos aos corpos ou retirados deles lhes carga eléctrica libertava, no caso de o soluto
concedem as propriedades eléctricas. Esta ser um sal de prata, a massa aproximada de
nova idéia de corpúsculo não explica, na 108 gramas de prata.
verdade, o facto eléctrico mas coloca o pro- O que há nestes números de mais impres-
blema numa posição totalmente diferente da sionante é que êles (1 de hidrogénio e 108 de
anterior. Que corpúsculo é êsse? Que dimen- prata) correspondem às massas atómicas dês-
sões tem? Qual a sua massa? Como aban- ses elementos, o que nos conduz a prever a
dona os corpos? Como se introduz neles? existência de inesperada relação entre as mas-
Um aspecto particularmente interessante sas atómicas dos metais e as cargas eléctricas
desta nova idéia é o seu paralelismo com a necessárias à sua libertação.
idéia velhíssima da constituïção corpuscular O resultado surpreendente a que se chegou
da matéria. Assim como se admite que a ma- foi êste: todos os átomos-gramas de metais
téria é formada por pequeníssimas partículas, da mesma valência exigem a mesma carga
assim se passa a admitir o mesmo para a elec- eléctrica para se libertarem. Se a valência é 1
tricidade. Ao lado do átomo da matéria passa o valor dessa carga é, aproximadamente, a
a existir o átomo de electricidade, como então que apontámos: 96540 coulombs. Se a va-
se disse, dando á palavra átomo o sentido de lência fôr 2 ou 3 a carga necessária será
corpúsculo elementar. também 2 ou 3 vezes 96540 coulombs.
Foi o físico inglês Faraday que, em 1833, Se, por outro lado, soubermos, como está
nos deu a primeira suspeita da existência dum averiguado, que o átomo-grama de qualquer
corpúsculo de electricidade. Faraday, cujo elemento é constituído pelo mesmo número de
nome glorioso é bastante para envaidecer uma átomos, concluiremos que a cada átomo da
Ciência, estudava então o efeito da passagem mesma valência (e agora repare-se bem que
da corrente eléctrica através dos solutos aquo- falamos em átomos e não em átomos-gramas)
sos de substâncias minerais. O fenómeno é está associada a mesma carga eléctrica.
hoje bem conhecido e dêle resulta, em termos
sumários, a libertação de metais no eléctrodo § 3. A TEORIA CORPUSCULAR
vessar um soluto para libertar no eléctrodo dos seus electrões (que são negativos) fica
negativo um átomo de hidrogénio ou um electrizado positivamente e passa a denomi-
átomo de qualquer outro elemento monova- nar-se um ião positivo; se, pelo contrário, um
lente. átomo capta um ou mais electrões fica elec-
Terminou o século XIX convencido da exis- trizado negativamente e deixa de ser um
tência de corpúsculos materiais (moléculas e átomo para ser um ião negativo.
átomos) e de grãos de electricidade (os elec-
trões). Com estes se pretendiam explicar as § 4. O FUNDAMENTO DO PROCESSO
propriedades eléctricas da matéria. DA MEDIDA DIRECTA DA CARGA DO ELECTRÃO
Começa, porém, o século XX e logo, no seu
alvorecer, se alarga de maneira imprevista e Se qualquer porção de matéria é constituída
soberba o conhecimento da estrutura dos cor- por corpúsculos eléctricos será possível isolar
pos. O olhar arguto dos cientistas devassa a um ou mais dêles e medir-lhes a carga?
intimidade insuspeitada do mundo dos corpús- Qual o homem que não estaca de assombro
culos. O átomo deixa de ser a partícula una perante o arrôjo desta pregunta? Pois bem.
e indivisível para ser um pequeno universo A pregunta foi feita e a resposta foi dada. Iso-
de partículas várias que gravitam sem des- lou-se um electrão e mediu-se-lhe a carga eléc-
canso segundo leis novas onde o arrôjo da trica, directamente, apesar de se tratar duma
concepção dos físicos é posto à prova mesmo partícula cujas dimensões vão muito abaixo
sob a pena de destruirem muito saber ante- das dimensões do átomo as quais já por si
riormente acumulado. são tão insignificantes que não podemos conce-
Dentro da nova idéia o grão de electrici- bê-las.
dade passa a considerar-se componente de O gigante da Física que mediu directamente
tudo quanto existe, desde o muitíssimo pe- a carga do electrão foi Robert-Andrews Mil-
queno até o muitíssimo grande. Agora tudo likan no Laboratório Norman Bridge do
são grãos de electricidade. Todos os átomos Instituto da Califórnia em Pasadena. Êste
de todos os elementos são formados por par- trabalho, como todos os trabalhos científicos,
tículas que são grãos de electricidade, umas não surgiu esporàdicamente da mão e do
positivas e outras negativas, em número maior cérebro dum só homem. Outros o antecede-
ou menor, consoante a natureza do átomo. ram e outros o acompanharam. Com Milli-
Tôdas essas cargas, porém, em cada átomo, kan, porém, o problema foi magistralmente
compensam os seus efeitos e o conjunto apre- resolvido, com requintes técnicos admiráveis
senta-se-nos neutro como na velha teoria dos e ao fim de muitos anos de esforços continua-
dois fluidos quando ambos se compensavam. mente aperfeiçoados.
Se, eventualmente, entrar, ou sair dêsse pe- Eis o fundamento do processo da medida
queno universo, um ou mais grãos de electri- directa da carga do electrão.
cidade, eis que o conjunto se desequilibra e Imaginemos uma chuva de gotas muito
aí o temos electrizado positivamente ou nega- miudinhas que caem verticalmente e serena-
tivamente, conforme a mecânica do fenómeno. mente. Suponhamos que é possível separar
Assim se passam a explicar, com maior ou uma só gota de tôdas as outras e que, de
menor cópia de pormenores, as propriedades qualquer modo, a electrizamos. Electrizá-la
eléctricas da matéria. O termo electrão man- significa, dentro da teoria que apresentámos,
tém-se através das novas concepções mas como que obrigamos a gota a libertar um ou mais
agora há corpúsculos eléctricos de duas espé- electrões dos seus átomos ou então que a força-
cies reserva-se o nome para o corpúsculo ne- mos a captar um ou mais electrões existentes no
gativo. A linguagem própria passa então a espaço onde ela cai. No primeiro caso a gota
ser esta: se um átomo dum elemento perde, ficaria electrizada positivamente e no segundo
não importa como nem porquê, um ou mais caso, negativamente.
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Imaginemos agora que esta gota electrizada câmara C o qual se espalhava em gotas finís-
é obrigada a prosseguir a sua queda no inter- simas cujos raios eram da ordem de um
valo entre dois pratos metálicos colocados milésimo de milímetro. Tóda a câmara C
horizontalmente e a pequena distância um do estava contida noutro recipiente (que a figura
outro. Se, durante essa queda, ligarmos os não representa) e completamente envolvido
pratos a um circuito eléctrico, o movimento por 40 litros de um óleo cujo fim era o de
da queda livre da gota será imediatamente manter constante a temperatura da câmara,
perturbado. Se a gota estiver electrizada condição essencial para o bom êxito da expe-
positivamente será atraída para o prato nega- riência.
tivo e se o estiver negativamente será atraída 2.°. Isolamento duma gota—No meio do
para o positivo. Esta atracção, dirigida no prato circular p1 fizera-se um orifício tão fino
mesmo sentido ou no sentido oposto da queda como se fôsse aberto por uma agulha fina que
da gota, modificará a velocidade do movi- o atravessasse. Das várias gotas que caíam
mento e será então possível conhecer o valor lentamente na câmara C, havia uma, de
da carga eléctrica a partir do conhecimento quando em quando, que caía na direcção do
da mudança que a velocidade sofreu. orifício e ficava na situação desejada entre os
Foi esta extraordinária concepção que pratos p 1 e p 2 . Mas... como ver esta gota?
Millikan realizou com surprendente êxito. Da seguinte maneira. Os dois pratos p1 e
Vejamos como. p2, que eram discos de latão com 22 cm de
diâmetro, estavam situados a 16 mm um do
§ 5. A TÉCNICA DO PROCESSO outro e rodeados por um anel (a, α) de ebo-
Em 1916, depois de alguns anos de expe- nite que fechava completamente o intervalo
riências cada vez mais cuidadosas e minu- entre os pratos. Nêsse anel abriam-se três
ciosas, Millikan terminou o seu trabalho. pequenas janelas em posições convenientes.
A figura que se segue mostra, muito sumà (A figura só representa duas: a, a). Por
RÓMULO DE CARVALHO
PROF. DO LICEU CAMÕES
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9. HISTÓRIA E ANTOLOGIA
ENGENHARIA ATÓMICA?
Pela terceira vez na nossa vida (o «nossa» maravilhosa técnica hoje vulgarmente desi-
referindo-se aos veteranos da engenharia) os gnada por arte do radar. Os factos físicos
físicos abriram-nos novos caminhos de activi- eram conhecidos muito antes do começo desta
dade extremamente importantes, e o enge- guerra. No entanto, foi durante ela que os
nheiro não se encontrou apto a enfrentar tal físicos, com o seu conhecimento profundo da
tarefa. electrónica, isto é, da mecânica das partículas
Em 1887, o físico Heinrich Hertz descobriu eléctricas, conseguiram resolver o duplo pro-
a «telegrafia sem fios». Na verdade êle con- blema de engenharia de produzir e orientar
firmou experimentalmente a existência de on- as micro-ondas.
das electromagnéticas que qualquer podia E agora, parece estarmos no patamar da
reconhecer nas equações de Maxwell do nova era atómica. Não sei se isto é ou não
campo electromagnético, isto é, qualquer que verdade, mas certamente teremos «engenharia
fôsse capaz de ler uma equação. atómica» nos domínios da energia e dos trans-
Levou ainda algumas décadas até que a portes. Estaremos nós preparados para os
rádio se tornasse um ramo de engenharia e problemas que isto envolve?
que se tomassem medidas adequadas para Eu pergunto: dão-se hoje ao futuro enge-
incorporar os fundamentos da teoria do campo nheiro conhecimentos fundamentais suficientes
no curriculum do engenheiro. nas questões básicas da estrutura da matéria,
À descoberta das ondas electromagnéticas da natureza da energia e da relação entre
de grande comprimento de onda seguiu-se, matéria e energia de modo a que êle fique
pouco depois, a descoberta dos raios X, isto apto a pensar inteligentemente neste novo
é, de ondas electromagnéticas de muito pe- campo, a fazer o bom juízo sabre as suas pos-
queno comprimento de onda e de freqüência sibilidades e métodos? Haverá alguma falha
muito além das correspondentes ao espectro na formação do nosso engenheiro? Infeliz-
da luz visível. Deve dizer-se, em abono da mente há.
engenharia, que esta se aproveitou da técnica Em primeiro lugar eu creio que temos certa
dos raios X em vários ramos da indústria, e tendência a restringir o nosso ensino aos
que o estudo e construção de montagens de conhecimentos científicos de aplicação ime-
raios X foram reconhecidos como uma das diata. Esquecemo-nos muitas vezes que quási
suas secções importantes. tôdas as descobertas da física e da química
Do mesmo modo, a técnica do infra-verme- podem ter aplicação na engenharia. Na ver-
lho, isto é, a técnica de radiações com um dade, esta representa a conquista da natureza,
comprimento de onda superior ao da luz visí- isto é, da matéria e energia, de modo a levar
vel, mas muito inferior ao das ondas da rádio, confôrto à humanidade, e, portanto, um en-
foi com justiça considerada como um problema genheiro nunca pode saber de mais sôbre a
de engenharia. constituïção interna dessa matéria cujos esta-
Contudo, no intervalo que medeia entre as dos caprichosos êle combate e sôbre as leis
duas guerras mundiais, os físicos fizeram gran- dessa energia que êle quere desvendar e do-
des esforços para diminuir a lacuna entre on- minar.
das hertzianas e infra-vermelhas. Conseguiram Em segundo lugar, nós subestimamos o
produzir micro-ondas que tornaram possível a interêsse dos nossos estudantes pela «filoso-
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Vol. I, Fasc. 1 GAZETA DE FÍSICA Outubro, 1946
G ABRIEL LIPPMANN
Fêz no dia 31 de Julho, vinte e cinco anos fôr revelada pelos modos usuais e depois ilu-
que morreu Lippmann. minada normalmente com luz branca, notar-
Nascido em 1845 no Luxemburgo, foi um se-à a chapa corada ùnicamente pela radiação
dos físicos mais brilhantes do seu tempo. de c. d. o. λ′, isto é, pela radiação que deu
Foi professor de Física Experimental e de origem aos seus planos nodais e ventrais, o
Física Matemática na Faculdade de Ciências que se explica pelo facto desta radiação ser
de Paris e desempenhou até à morte o cargo reforçada nos estratos equidistantes de λ′/2,
de Director do Laboratório de Investigação ao passo que, as outras radiações de c. d. o.
na Sorbonne. diferentes de λ′, são enfraquecidas.
Dedicou-se a vários estudos sôbre Astro- Generalizando, se a chapa fôr impressio-
nomia, mas a sua maior contribuição foi para o nada por um feixe de luz heterocromática,
estudo da Física, deixando o seu nome ligado cada ponto, ao ser iluminado normalmente
para sempre ao método da fotografia a côres. com luz branca, reflete as radiações corres-
Êste método baseia-se no facto de, na re- pondentes às que a impressionaram.
flexão da luz por um espelho, os raios inci- Em 1893, Lippmann apresentava pela pri-
dente e reflectido formarem um sistema de meira vez à Academia das Sciencias de Paris
ondas estacionárias. Se o espelho estiver fotografias nas quais as côres eram reprodu-
coberto por uma camada espêssa, contínua e zidas com perfeito ortocromatismo.
sem grãos de cloreto de prata, e o iluminarmos Ä
com um feixe de luz monocromática, formam- Foi eleito membro da «Royal Society» em
-se na camada sensível, estratos equidistantes 1908 e no mesmo ano recebia o prémio Nobel.
de prata, correspondentes aos planos ventrais. Morreu com 76 anos, na viagem de regresso
A distância entre êsses estratos é de λ′/2, do Canadá e dos E. U. da América, onde
sendo λ′ o c. d. o. da radiação no meio cons- tinha ido como membro duma missão fran-
tituído pela camada sensível; se esta chapa cesa.
M. H. BLANC DE SOUSA
10. QUÍMICA
ORIGEM E OBJECTIVO DESTA SECÇÃO
MARIETA DA SILVEIRA
Desde há muito que, no nosso País, se faz última, criando na Gazeta de Física uma
sentir a falta de uma revista em que fôsse secção de Química. Esta secção terá pois,
possível tratar vários problemas, respeitantes como objectivo, preencher, embora duma ma-
tanto ao ensino secundário como ao ensino neira muito incompleta, aquela lacuna, até
superior da Química, e em que, além disso, que seja possível a criação duma revista de-
se pudesse procurar levar ao conhecimento dicada exclusivamente aos problemas da Quí-
dos estudiosos portugueses os progressos mica. Assim, numa única secção, procurare-
mais importantes realizados no campo da mos, tanto quanto possível, abordar todos os
Química Moderna. problemas, tanto os pedagógicos, como os
Na impossibilidade de criar simultânea- científicos e industriais, que, de qualquer modo,
mente uma Gazeta de Física e uma Gazeta de possam interessar àquêles que, em Portugal,
Química, procurou remediar-se a falta desta se dedicam ao ensino ou ao estudo da Química.
MARIETA DA SILVEIRA
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NOMENCLATURA QUÍMICA
ALICE MAIA MAGALHÃES
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0,005 g dum ácido. Qual é a sua acidês, por cento e 5 — Justifique a lei de Dalton com o sesquióxido
por litro? R: 0,56 %; 5 g/l. de ferro e o óxido salino. R: A razão das massas de
4 — Calcule a densidade e o pêso de 1 litro de ozono. ferro combinadas com a massa constante 16 g de oxi-
Justifique o cálculo. R: dar =1,67; p=2,143 g. génio é m/n = 8/9.
3 — Esquema da síntese dum propanoloico a partir F. C. L. — Análise Química, 1. a parte — Julho de 1946
O2 CNH
do etanol. R : CH3CH2OH ⎯⎯→ CH3CHO ⎯⎯⎯→ 9 — 50 cm3 duma solução de carbonato e de bicar-
OH2 + ClH bonato de sódio foram tratados por ClH, N/40, em
⎯→ CH3CHOHCN 2 ⎯⎯⎯⎯⎯→ CH3CHOHCOOH. presença de fenolftaleína. Gastaram-se 37,8 cm3 do
soluto ácido, até viragem do indicador. Adicionaram-se
4 — Esquematize a síntese da glicilglicina, a par- 2 gotas de heliantina e, para obter de novo a viragem,
Cl2 OHK alc. gastaram-se 27,9 cm3 de ClH, N/20. Indicar a com-
tir do etano. R: CH3CH3 ⎯→ CH3CH2Cl ⎯⎯⎯⎯→ posição da mistura. R: O 1.° ensaio corresponde à
SO4H2 Cl2 transformação: CO3Na2 + ClH → CO3HNa + ClNa,
→ CH3CH2OH ⎯⎯→ CH2=CH2 ⎯→ CH2ClCH2Cl →
donde se conclui que a quantidade de CO3Na2 em 50 cm3
OHK alc. O2 NH3
⎯⎯⎯→ CH2OHCH 2 ⎯⎯→ CH2OHCOOH ⎯⎯→ de solução é x=0,100 g.
⎯⎯→ CH2NH2COOH. O 2.° ensaio corresponde a
5 — Determinar os valores de PH e Ka dum mono- O bicarbonato que intervém nesta reacção, é o que já
ácido fraco, cujo soluto aquoso 0,1 N congela a existia na solução, mais o que proveio da transforma-
−0,279° C. (constante crioscópica da água: 1850). ção anterior. Considerando ClH, N/40, a quantidade
R: Atendendo à lei de Raoult, ∆t=K n [1 + α(n1−1)]/P de CO3HNa, existente em 50 cm3 da solução, corres-
tem-se: α=(∆t.P−Kn):[Kn (n 1 −1)]=0,51 logo, P H = ponde ao volume v=2×27,9−37,8 =18 cm3 do soluto
=−log [H+] = −log nα =1,3 e Ka=nα2/(1−α) =0,053. ácido, e é portanto y=0,038 g.
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Vol. I, Fasc. 1 GAZETA DE FÍSICA Outubro, 1946
10 — 75 cm3 duma solução de permanganato de toras. A partir de 100 cm3 do soluto, correspondendo
potássio são empregados na oxidação de 3,15 g de a 10 g de matéria orgânica, obtiveram-se, em pre-
sulfato ferroso amoniacal cristalizado. sença dum excesso de hidroxilamina, 5 g dum deri-
Pede-se: a) quantos cm3 de soluto de Mn 04 K são vado cristalizado do metanal, continuando o resíduo
necessários para libertar todo o iodo de 1,95 g de aquoso a ser ácido e redutor. Pela fervura de outros
iodeto de potássio em solução ácida; b) que volume 100 cm3 do soluto original, destilou a 98,5° C um
de hipossulfito N/10 reduzirá êste iodo. R: a) Estabe- composto ácido e redutor, mostrando coloração ver-
lecidas as equivalências : melha com C13Fe, não precipitando com C12Ca e
MnO4K/5 <> (SO4)2Fe(NH4)2,6 OH2 <> IK deter- que foi neutralizado com 25 cm3 de OHNa, 0,55 N.
mina-se: v=109,6 cm3 do soluto de Mn O4K. b) A par- O resíduo da destilação, òpticamente inactivo, era
tir das equivalências: S 2 O 3 Na 2 <> I <> IK tem-se: azotado e foi titulado, após aplicação da técnica de
v′=117 cm3 de soluto de S 2 O 3 Na 2 , N/10. Sörensen, com 75 cm3 da mesma base. Qual a cons-
11— Adiciona-se ácido cloroplatínico em excesso a tituïção da mistura? R: Em 10 g da mistura, existem
uma solução de cloreto de amónio, calcinando-se for- 3,3 g de metanal, 0,63 g de metanoico e 3,1 g de
temente o precipitado obtido. Sendo 0,272 g o pêso glicocola.
do resíduo depois de aquecido, determine quanto
cloreto de amónio tinha a solução. Traduza por es- 14 — O extrato etéreo de 10 g dum produto vege-
quemas as reacções que se passam. tal, com 1,6 % de azoto, pesou 0,5 g. A extracção
R: p=0,148 g de Cl NH4. primeiro só com água e depois a quente com ácido e
alcali diluídos, deixou 1,0 g de resíduo sêco cuja
F.C.L.—Análise Química, 2.a parte—Julho de 1946 combustão deixou por sua vez 0,1 g de resíduo.
A extracção com água deu 50 cm3 de soluto aquoso
12 — 0,1 g dum diósido impuro, que é hidrolizável (extrato A); e a extracção com ácido e alcali diluí-
por um extrato de levedura e que reduz o licor de dos deu outros 50 cm3 de soluto (extrato B). A dé-
Fehling, é tratado com excesso de dinitrofenilhidra- cima parte de cada um dêstes solutos correspondeu a
zina, obtendo-se um precipitado de 0,132 g. a) Que 70 cm3 de licor de Fehling. No entanto, depois de
quantidade de hidrazina deve empregar; b) a que tratados com ClH diluído, 5 cm3 do extrato A cor-
conclusões qualitativas e quantitativas chega? (Esque- responderam a 80 cm3 de licor de Fehling, Que con-
mas da reacção). R a) 0,037 g de nitrofenilhidrazina. clusões tira sôbre a composição do produto? R: O
b) Trata-se de maltose com 35,5 % de impurezas. produto contém: 0,5 g de lipidos; 1,0 g de proteínas;
0,9 g de celulose; 3,5 g de glucose e ósidos-oses (expres-
13 — Um soluto aquoso, de procedência bioquímica, sos em gramas de glucose); 3,15 g de amido; 0,475 g
mostrou reacção ácida, produziu azoto em presença de sacarose ou ósidos-ósidos; 0,1 g de cinzas; e 0,375 g
de ácido azotos e revelou possuir propriedades redu- de outras substâncias, possivelmente água.
MANUEL ROCHA
Foi o desenvolvimento da Física nos sécu- ramos, como, a Engenharia Civil, derivados
los XVII, XVIII e XIX que creou condições daquelas técnicas.
para o aparecimento, nêste último século, da Nota-se todavia um constante regresso no
Engenharia cuja característica essencial, em recurso à intuïção e ao empirismo à medida
face das antigas técnicas, é o uso que ela faz que vai progredindo o conhecimento das leis
de leis naturais quantitativas. naturais. Há já hoje muitos problemas de
As antigas técnicas baseavam-se na intuïção Engenharia relativamente aos quais o deter
e no empirismo, sendo contudo ainda hoje minismo das leis naturais à disposição do
fundamental o papel que êstes elementos engenheiro é, felizmente, tão apertado que
desempenham na Engenharia, sobretudo nos nenhuma margem lhe deixa para a iniciativa
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Vol. I, Fasc. 1 GAZETA DE FÍSICA Outubro, 1946
pessoal. E digo felizmente porque, além de País onde se nota uma confiança desmedida
não ser de temer o marasmo que resultaria do no raciocínio: experimenta-se pouco e dis-
esgotamento dos problemas a resolver, o facto corre-se demais, o que tem conduzido a um
da solução ser imposta por leis tem a grande estreito cientismo livresco.
vantagem de simplificar a actuação do enge- Note-se que o contacto permanente do
nheiro e, o que é ainda mais importante, simul- Engenheiro com problemas humanos exige que
tâneamente permitir a máxima economia êle possua além da formação científica, para
dentro da segurança desejada. a qual a Física lhe dá a contribuição mais
A Engenharia Civil só se constituiu quando a importante, uma sólida formação humanístico-
Física lhe forneceu a Mecânica dos Meios -social. A importância da formação científica
Contínuos. e humanístico-social no ensino superior da
Deve frizar-se, contudo, que o engenheiro engenharia está bem patente nas sugestões
não recebe do físico, por via de regra, as leis que recentemente o «Committee on Engenee-
elaboradas de modo a poder aplicá-las direc- ring Education» da «American Society of Civil
tamente à resolução dos seus problemas. Engeneers» fez a 114 escolas americanas de
É necessária uma série de desenvolvimentos Engenharia Civil. Aconselha êsse «Commitee»
exigidos pela necessidade da sua extensão, que sejam dedicados ao ensino das ciências
mais ou menos legítima, a casos particulares (puras e aplicadas) e às disciplinas de huma-
que, não interessando ao físico, sejam impor- nidades e assuntos sociais, respectivamente
tantes nas aplicações. O engenheiro tem, 35% e 20% da duração total do curso; sobeja
digamos, que vencer bolsas de resistência portanto para o ensino das disciplinas da
deixadas pela frente de avanço do conheci- especialidade sòmente 45% daquela dura-
mento das leis naturais. Assim se consti- ção.
tuem as ciências técnicas ou aplicadas que, A actividade do engenheiro civil consiste
como a Resistência dos Materiais, a Hi- em dar aos materiais de construção à sua
dráulica, a Aerodinâmica Aplicada, a Ter- disposição, formas e dimensões tais que lhe
modinâmica Aplicada e a Electricidade Apli- permitam alcançar com segurança, economia
cada, são a pormenorização de ramos da e beleza o fim em vista: transpor um vale
Física que interessam especialmente à En- (ponte), reter as águas dum rio (barra-
genharia. gem), etc.
A importância da Física para o engenheiro Na escolha das formas a adoptar o enge-
não reside só no facto dela lhe fornecer meios, nheiro civil baseia-se essencialmente em cons-
as leis, para o conhecimento dos fenómenos, truções análogas já existentes e, além disso,
mas também na formação intelectual que o seu na sua intuïção ou sentido mecânico. É nesta
estudo confere. Efectivamente a Fisica aponta escolha que o engenheiro introduz na obra
ao engenheiro a atitude mental a tomar perante o seu poder creador.
um novo problema, o que é extremamente Escolhida a forma, entre as muitas que em
importante pois os problemas técnicos têm geral são possíveis, levanta-se o problema de
sempre facetas novas. prever se a construção se encontrará em boas
Para o ensino da Física poder atingir condições de segurança, isto é, se não se dará
estafinalidade êle deverá ser conduzido por a rotura quando a construção fôr submetida
via experimental, indutivo, e não por via às fôrças que sôbre ela actuarão, como o
axiomática. Esta via dá mesmo uma for- pêso próprio, as devidas à acção do ven-
mação contrária à que deve possuir o enge- to e de tremores de terra, as sobrecar-
nheiro pois êste deve estar sempre atento aos gas, etc.
resultados das experiências e à sua interpre- Aqui o engenheiro tem de recorrer à Física:
tação, O ensino experimental da Física, como à Mecânica dos Sólidos Deformáveis.
em geral o das ciências, é indispensável no nosso Desta constituiu a Física, em primeiro lugar,
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Vol I, Fasc. 1 GAZETA DE FÍSICA Outubro, 1946
a Teoria da Elasticidade, depois dum labor Aquela noção de tensão é fundamental para
de dois séculos iniciado por Galileu em 1638 o engenheiro civil. Do facto, para averiguar
se uma construção se encontra em boas con-
dições de segurança êle precisa de conhecer,
em todos os pontos da construção, o estado
de tensão do qual se pode avaliar, pelo menos
numa primeira aproximação, o perigo de
rotura.
A Teoria da Elasticidade mostra que o
estado de tensão num ponto é definido por um
tensor simétrico de segunda ordem, e fornece
para a sua determinação um sistema de nove
equações às derivadas parciais de segunda
ordem. É na integração dêste sistema que se
encontra uma dificuldade, podemos dizer,
intransponível. De facto, são raros os casos
em que o sistema se pode integrar e, mesmo
assim, por vezes, com desenvolvimentos analí-
ticos muitíssimo longos o que desvaloriza a
solução pois, na Engenharia, só podem inte-
Gravura, representando uma viga encastrada num extremo e
ressar métodos de cálculo que exijam um
submetida no outro a uma carga (pêso), extraída da obra de Galileu trabalho cujo valor não exceda unia reduzida
Discorsi e Dimostrazioni Matematiche (Leiden, 1638), onde foram
apresentados os primeiros resultados com interesse para a estrutu-
fracção do custo da construção.
ração da Mecânica dos Sólidos Deformáveis. Em virtude daquela dificuldade houve neces-
sidade de criar um novo ramo de Mecânica
e rematado, pode bem afirmar-se, pelo estabe- dos Sólidos Deformáveis, a Resistência dos
lecimento das equações gerais, em 1821, por Materiais que melhor seria designar-se Resis-
Navier. tência das Construções. E à Física que se
A Teoria da Elasticidade baseia-se na deve o estabelecimento das suas leis funda-
noção de tensão e na lei de Hooke(1) que melhor mentais cujas conseqüências têm sido larga-
seria designar por hipótese pois, para a maior mente exploradas, desde há um século, pelos
parte das substâncias, as deformações não são engenheiros.
proporcionais às tensões. Essas leis são: a lei de Hooke, a lei de
Navier-Bernoulli que afirma manterem-se pla-
nas as secções transversais duma peça prismá-
(1) Hooke estabeleceu a sua famosa lei em 1660 e
tica quando submetida à flexão, e a lei da
p u b l i c o u - a e m 1 6 7 6 s o b a fo rm a d u m a n a g ra m a ,
distribuição linear das tensões tangenciais
«ceiiinosssttuu», do qual só em 1678 deu a solução:
« u t te n sio sie v is » . Pa ra f aze r uma idé ia do pa sso desenvolvidas na secção transversal dum cilin-
extraordinário dado por Hooke, bastará reparar numa dro submetido a uma torção. Para o enge-
comunicação, citada na página 4 da «History of the nheiro civil as mais importantes são as duas
Theory of Elasticity» de Todhunter e Pearson, apre-
primeiras, tendo sido o estabelecimento da
s e n ta d a e m 1 67 4 à Ro y a l S o c i e ty p o r S i r W i l l i a m
Petty. Nesta comunicação, que mostra a orientação
segunda que escorvou o enorme desenvolvi-
de alguns físicos (?) da época, o autor explica a elas- mento tomado pela Resistência dos Materiais.
ticidade dos sólidos por intermédio dum sistema com- A Física presta ainda um auxílio precioso
plicado de átomos aos quais atribui «propriedades para vencer a dificuldade, que apontámos, de
sexuais» baseando-se para isso numa passagem da
b íbl ia que d i z « ma cho e fê mea os c re ou» , a qu al o
integração de certas equações diferenciais da
autor afirma que deve aplicar-se às «partes últimas» Teoria da Elasticidade. De facto, recorrendo
da natureza e «portanto» aos homens e aos átomos. a outros fenómenos físicos que são regidos
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Vol. I Fasc. 1 GAZETA DE FÍSICA Outubro, 1946
pelas mesmas equações diferenciais consegue- com freqüência sistemas com tão grande
se a integração experimental por analogia. número de equações que são inabordáveis
Assim, a integração experimental da equação pelos métodos analíticos conhecidos.
de Laplace, que interessa não só à Teoria da Os problemas de Resistência dos Materiais
que aparecem na Engenharia Civil são geral-
mente estáticos. Contudo também surgem
problemas dinâmicos, sobretudo relativos à
vibração de meios contínuos. Assim, há
necessidade de conhecer as tensões desenvol-
vidas numa ponte que vibra ao ser transposta
por um comboio, as desenvolvidas num edifí-
cio submetido à acção dum sismo, etc. Os
problemas dinâmicos só podem ainda, por via
de regra, ser tratados com métodos pouco
aproximados apesar do grande desenvolvi-
mento que a teoria das vibrações tem tido nos
últimos anos em virtude das necessidades da
construção de máquinas.
A Resistência dos Materiais por ser consti-
Montagem para a integração experimental da equação de Laplace tuída por um conjunto de teorias particulares,
a duas variáveis pois só são aplicáveis a sólidos com determi-
Na tina coloca-se uma placa, por exemplo de ebonite, na qual
,e fez uma abertura reproduzindo o domínio de integração, e nadas formas, não fornece muitas vezes os
enche-se a abertura com um líquido condutor. No contôrno desta valores das tensões e deslocamentos com a
abertura estabelecem-se potenciais proporcionais aos valores que
toma a função a integrar na fronteira do domínio de integração. aproximação necessária.
Os potenciais do líquido no interior da abertura são proporcio- Esta deficiência, apesar dos progressos da
nais aos valores da função.
Resistência dos Materiais, tem-se vindo acen-
Elasticidade mas também a outros domínios, tuando com o progresso da técnica e a
é sempre possível por intermédio da determi- conseqüente crescente preocupação de eco-
nação dos potenciais dum campo eléctrico nomia de materiais, que acerreta a necessidade
criado por condutores com formas e potenciais de conhecer as tensões desenvolvidas nas
escolhidos de harmonia com as condições aos construções com aproximação cada vez maior.
limites da equação de Laplace a integrar. Esta situação está obrigando, com crescente
Também é possível determinar as tensões freqüência, ao recurso a métodos experimen-
desenvolvidas numa estrutura constituída por tais para a determinação de tensões, quer
elementos rectilíneos, como a estrutura dum sôbre modelos das construções quer sôbre as
edifício, a partir da medição de certas gran- próprias construções.
dezas dum circuito eléctrico convenientemente É ainda à Física que o engenheiro recorre
escolhido, o que é conseqüência dos compor- — à semelhança mecânica — para a fixação
tamentos da estrutura e do circuito serem das dimensões a dar aos modelos, que por
regidos por certas condições de mínimo vezes não são geomètricamente semelhantes
formalmente idênticas. Dum modo geral é às construções reais, para a escolha dos mate-
possível resolver qualquer sistema de equa- riais dêsses modelos, que devem possuir
ções lineares a partir dum circuito eléctrico. propriedades relacionadas com as das constru-
Esta possibilidade foi recentemente aprovei- ções, e para o transporte para as construções
tada para a construção de máquinas eléctricas das tensões e deslocamentos observados sô-
destinadas à resolução de sistemas de equações bre os modelos quando lhe aplicamos fôrças
lineares, máquinas que terão certamente larga satisfazendo a condições fornecidas ainda pela
aplicação na Engenharia Civil onde aparecem semelhança mecânica.
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Vol. I, Fasc. 1 G A Z E T A D E FÍ S IC A Outubro, 1946
A determinação experimental das tensões, o que tem interêsse nos casos de grandes
por meio de aparelhos designados extensó- espessuras, como sucede nas barragens que
metros, faz-se a partir da medição da defor- chegam a ter 200 m.
mação, isto é da variação da distância entre Nos modelos e, sobretudo nas construções,
dois pontos vizinhos, provocada pela aplicação interessa muitas vezes conhecer as tensões
das fôrças. provocadas pelas variações de temperatura.
Como as deformações a medir são muito Estas tensões sobrepõem-se às devidas às
pequenas, freqüentemente da ordem de gran- fôrças aplicadas e freqüentemente exce-
dem-nas. Para separar a contribuïção das
fôrças e das variações de temperatura para
as tensões observadas, torna-se indispensável,
posto que muitas vezes não seja suficiente,
conhecer a distribuïção de temperaturas. Para
isso, a Física põe à disposição do engenheiro
civil os termómetros de resistência eléctrica e
os pares termo-eléctricos que se aplicam na
superfície ou no interior das construções e
modelos.
Entre os métodos experimentais usados para
a determinação de tensões sôbre modelos tem
Modêlo da barragem de St. Luzia. Construído no Centro de
Estudos de Engenharia Civil (I. A. C.), para a determinação de
importância especial o baseado na Fotoelas-
tensões e deslocamentos provocados pela pressão hidrostática ticidade, capítulo da Física que nasceu com a
e por variações de temperatura.
A-modêlo do terreno descoberta de Brewster, em 1816, da birefrin-
B-modêlo da barragem
C-deflectómetros para medição dos deslocamentos
gência acidental de corpos transparentes
D-estrutura de suporte dos deflectómetros quando deformados.
E-cordas vibrantes
F-extensómetros mecânicos Neste método observam-se em luz polarizada,
O-pares termo-eléctricos
H-parte superior do espaço, a montante do modêlo, onde
sobe o mercúrio que exerce a pressão hidrostática.
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modelo aparecem franjas de interferência, mais fundo, para estabelecer as leis gerais do
coloridas quando se trabalha em luz não fenómeno, as relações dêste com a estrutura
monocromática, das quais se pode deduzir da matéria.
completamente o estado de tensão no modelo, Com o estudo da plasticidade está ìntima-
no caso de se tratar dum equilíbrio a duas mente relacionado outro fenómeno, o da rotura
dimensões. Nos últimos 10 anos físicos e dos sólidos, cujo conhecimento é essencial
engenheiros têm-se esforçado, ainda sem para o engenheiro pois êle pretende sempre
completo sucesso, em generalizar o método evitar a rotura das construções.
da Fotoelasticidade para a determinação A Física do Estado Sólido tem-se ocupado
de tensões nos equilíbrios a três dimen- sobretudo do estudo da plasticidade e da
sões(1). O método da Fotoelasticidade tem rotura nos metais, sendo de grande interêsse
grande valor pedagógico em virtude de per- para o engenheiro os resultados obtidos nos
mitir um ensino visual da Mecânica dos Sólidos últimos vinte anos, pois êles vieram esclarecer
Deformáveis. muitos fenómenos que, apesar de conhecidos,
A Teoria da Elasticidade e a Resistência não podiam ser interpretados.
dos Materiais baseiam-se na hipótese de as A Física consegue calcular a tensão de
deformações serem perfeitamente elásticas, rotura e as constantes elásticas duma substân-
isto é reversíveis, e proporcionais às tensões cia desde que sejam conhecidas as fôrças
(lei de Hooke). Mas, por via de regra, mesmo actuantes entre os seus átomos ou iões. Mas
para as tensões relativamente baixas a que os constata-se que, enquanto é boa a concordân-
materiais estão correntemente submetidos nas cia entre as deformações calculadas e medidas,
construções, as deformações não são perfeita- os valores da tensão de rotura medidos são
mente elásticas, isto é, são em parte irrever- 1 1
sòmente cêrca de a dos valores
síveis, e não são proporcionais às tensões. 500 1000
Estas deformações, chamadas plásticas, são calculados(1). Se os valores das tensões de
por isso duma grande importância para a rotura dos sólidos fossem os dados pelo cál-
Engenharia Civil. culo, bastariam algumas cordas de piano para
Não se conhecem, contudo, as leis gerais suportar uma ponte suspensa e uma barragem
da deformação plástica apesar de, depois com uma centena de metros de altura bastaria
de Tresca em 1864 ter apresentado os pri- que tivesse alguns centímetros de espessura.
meiros resultados experimentais, muitos físicos Por aqui se poderá avaliar a extraordinária
que estudam o estado sólido se terem interes- repercussão que teria a produção industrial
sado por as estabelecer. de sólidos com tensões de rotura vizinhas das
Dado o grande interêsse que tem o assunto, previstas pela Física. E a esperança não é vã.
também numerosos engenheiros se têm dedi- De facto Joffé conseguiu obter com o sal
cado à investigação no campo da plasticidade. gema, ensaiado em certas condições, tensões
Porém, a orientação da investigação dos físi- de rotura de 160 Kg/mm2, muito superiores às
cos e engenheiros tem sido muito diferente, correntemente observadas e muito vizinhas da
como sucede sempre que atacam o mesmo teórica, que é de 200 Kg/mm2.
problema. De facto, o engenheiro o que deseja Ainda mais: com fios finos de vidro, obtidos
é estabelecer as relações de interêsse imediato, por estiragem conduzida sem quaiquer cuida-
em virtude das necessidades prementes das dos especiais, obtêm-se tensões de rotura mais
aplicações pois êle tem de construir quer elevadas do que com o melhor aço, com a
conheça ou não as leis. O físico pretende ir enorme vantagem para o construtor do peso
brios elásticos de revolução, Técnica, n.° 115 Dezem- Houwink, Elasticity Plasticity and Structure of
(1)
específico do vidro ser cerca de três vezes de pequenas fissuras em metais ferromagné-
menor do que o do aço. tico com auxílio dum campo magnético, e a
Dos trabalhos dos físicos sôbre o estado determinação das constantes elásticas com
sólido conclui-se que a causa do baixo valor auxílio de ultra-sons que, recentemente(1),
das tensões de rotura observadas reside em foram também utilizados para a determinação
defeitos da estrutura, designados por Smekal da posição das armaduras numa peça de betão
armado, determinacão que permite controlar
a perfeição com que a peça foi executada.
Não só a Mecânica dos Sólidos, à qual nos
temos vindo a referir, presta serviços na
resolução dos problemas de Engengaria Civil.
Também com freqüência há necessidade de
recorrer à Mecânica dos Líquidos, quer para
a determinação das acções dos líquidos sôbre
as construções, como, por exemplo, pressão
da água sôbre uma barragem, pressão das
ondas sôbre o molhe, quer para a determina-
ção das suas condições de escoamento em
cursos de água, canais, canalizações, ou ainda
para o estudo do transporte de materiais
sólidos em suspensão ou por arrastamento.
Na Mecânica dos Líquidos a Hidráulica está,
em relação à Hidrodinâmica, numa posição
análoga à da Resistência dos Materiais em
Fissuras superficiais reveladas por meio de vapor de sódio relação à Teoria da Elasticidade. Contudo,
no vidro Pirex, Resultado obtido em 1937 pelo físico inglês
Costa Andrade que assim confirmou experimentalmente a hipó-
tese, emitida muito antes, da existência de defeitos de estrutura.
(1) Hahnshaw, The technique of gamma radiography, (1) Trabalho em curso no Eidgenössische Material-
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ções satisfatórias, sendo por isso muito fre- fornecidos pela Física acerca dos fenómenos
qüente a necessidade de recorrer na Hidráulica de superfície nos líquidos e sólidos, particular-
a resultados empíricos. mente dos fenómenos capilares.
Há um outro capítulo de Mecânica, de cons- Vem a propósito referir que as tensões
tituição muito recente, com grande interêsse provenientes dos fenómenos capilares que se
para a Engenharia Civil. É a chamada Meca- produzem nas construções de betão e nas de
nica dos Solos que estuda os sistemas de madeira, materiais que são atravessados por
pequenas partículas, como argilas e areias. uma rede de canais capilares, são muitas vezes
O seu interêsse resulta do facto das funda- responsáveis pelas fracturas (fendas) que fre-
ções das construções serem com freqüência qüentemente se observam, pois essas tensões
feitas sôbre terrenos com tal contituïção e, podem ser muito mais elevadas do que as
além disso, de êles servirem como material devidas às fôrças aplicadas.
para a construção de certas obras como as Antes de acabar esta breve exposição acerca
chamadas barragens de terra. das relações entre a Física e a Engenheria
Coulomb, Navier e Rankine estabeleceram Civil, não posso deixar de citar o concurso
os primeiros resultados da Mecânica dos Solos, daquela ciência para a melhoria das condições
tratando-os à luz dos resultados clássicos da de habitabilidade dos edifícios, sem o qual não
Mecânica dos Sólidos Deformáveis. Foi só teria sido possível o condicionamento automá-
nas duas últimas décadas, depois de um tico do ar ambiente quanto a temperatura e
engenheiro, Terzaghi, ter feito voltar as aten- humidade, a boa iluminação e as boas condi-
ções para o papel importante que desempe- ções acústicas. Para fugir às irregularidades
nham os filmes líquidos que separam as das condições atmosféricas, nota-se mesmo
partículas dos solos, que a Mecânica dos hoje a tendência para o edifício sem janelas
Solos entrou em franco desenvolvimento, só no interior do qual as condições podem ser
possível, aliás, graças aos conhecimentos reguladas à vontade.
MANUEL ROCHA
ENGENHEIRO CIVIL
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sitária. É mesmo corrente que dêste intercâmbio experimental dêsse trabalho realizou-a o autor, como
resulte a passagem para o corpo docente universitário bolseiro do Instituto para a Alta Cultura, no Centro
de alguns professores do ensino secundário cujas de Estudos de Física que funciona no Laboratório
aptidões melhor poderão ser aproveitadas no grau de de Física da Faculdade de Ciências de Lisboa.
ensino superior. Também recentemente se doutorou em Zürich o assis-
Ora acontece que entre nós tem havido uma disso- tente da Faculdade de Ciências de Lisboa, Armando
ciação pode dizer-se completa entre os professores Carlos Gibert. O Dr. Armando Gibert apresentou
dos dois graus de ensino; e essa separação constitui, sem como tese de doutoramento um trabalho intitulado
dúvida, um grave prejuizo para a Nação. Com o fim «Effet de la température sur la diffusion neutron-
de, embora com um carácter restrito, contribuir para proton» que realizou no Instituto de Física, da direc-
realizar uma aproximação que tão útil seria, o Labo- ção do Professor P. Scherrer, da Escola Politécnica
ratório de Física da Faculdade de Ciências de Lisboa de Zürich, onde permaneceu durante quatro anos como
organiza, no corrente ano lectivo, um curso prático bolseiro do Instituto para a Alta Cultura. M. V.
em que os professores do ensino secundário terão
ocasião de executar alguns trabalhos de física que «Portugaliae Physica»
muitos deles não realizaram quando freqüentaram as
Faculdades. Será posto à venda, antes do fim do ano, o 2.° fas-
A Gazeta de Física terá ocasião, no seu próximo cículo do 2.° volume da revista Portugaliae Physica;
número, de se referir pormenorizadamente a esta êste fascículo insere colaboração nacional e estrangeira.
iniciativa. M. V. Chamamos a atenção dos nossos leitores para o
facto da comissão de redacção da referida revista ter
Curso de Ciências Geofísicas resolvido baixar o preço de assinatura, que foi de
O decreto-lei n.° 35850, publicado no «Diário do Esc. 150$00 para o 1.° volume, para Esc. 80$00.
Govêrno», 1.ª Série, de 6 de Setembro p. p. modifica Como o 2.° volume deverá ser publicado no biénio
o quadro das disciplinas das Faculdades de Ciências 1946-47 um encargo anual de quarenta escudos per-
e, em particular: mitirá a todos os estudiosos portugueses contribuirem
1.°) Introduz as seguintes modificações na actual para a manutenção de uma revista que publica o seu
licenciatura em Ciências Físico-Químicas: segundo volume sem qualquer auxílio financeiro do
a) As cadeiras de Física dos Sólidos e Fluídos Estado.
(anual) e de Acústica, Óptica e Calor (anual) são Dados os serviços que esta revista presta à cultura
extintas e criam-se as cadeiras de Mecânica Física nacional — em especial ao movimento incipiente de
(semestral) e de Óptica (anual). investigação científica no domínio da física — e
b) O Curso Geral de Física (anual) passa a ser ainda à projecção dessa mesma cultura no estrangeiro,
precedência obrigatória das cadeiras de Mecânica seria de lamentar que dificuldades de ordem financeira
Física, Termodinâmica, Electricidade e Óptica. obrigassem à suspensão da sua publicação. M. V.
c) Extingue-se a cadeira Geografia Física e
Física do Globo (anual) que será substituiria pelo Novas unidades
curso de Geomorfologia (semestral). Os físicos E. U. Condon e L. F. Curtiss acabam de
2.°) Institui o «curso de Ciências Geofísicas» com propor as seguintes novas unidades:
8 semestres constituido pelas seguintes disciplinas: 1.° O «rutherford», abreviação «rd», que é a inten-
1:º ano : Matemáticas Gerais (ou Algebra Superior) sidade duma fonte radioactiva na qual se dão 106
C. G. de Física, C. G. de Mineralogia e Geologia, desintegrações por segundo.
Desenho de Máquinas. O micro-rutherford é pois uma desintegração por
2.° ano: Cálculo infinitesimal, Mecânica Física, segundo. É uma unidade distinta, por natureza, do
Termodinâmica, C. G. de Química, Desenho Topo- curie.
gráfico. 2.º) O «roentgen por hora a 1 metro», abreviação
3.° ano : Análise Superior, Cálculo das Probabili- «r. h. m.», pronúncia «rum». É uma unidade apro-
dades, Mecânica Racional, Electricidade. priada à medição de intensidades de radiação gama.
4.° ano : Física Matemática, Óptica, Metereologia O «National Bureau of Standards» dos Estados
e Geofísica. A. G. Unidos da América do Norte recomenda a adopção
destas unidades. A. G.
Doutoramentos
Agradecimento
Doutorou-se, no mês de Junho, em ciências físico-
-químicas na Faculdade de Ciências do Pôrto o assis- Ao terminar a composição do 1.° número da Gazeta
tente de física desta Faculdade, José Sarmento de de Física, em 22 de Outubro de 1946, a Direcção
Vasconcelos e Castro. O Dr. José Sarmento apresen- agradece a todos aquêles que confiaram no êxito da
tou como tese de doutoramento um trabalho intitulado sua realização, como se prova pela inscrição de quási
«Estudo das riscas satélites de Lα do ouro»; a parte duzentos assinantes até esta data. X. B.
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PORTUGALIAE PORTUGALIAE
MATHEMATICA
ACTA BIOLÓGICA
REVISTA DE
COLABORAÇÃO INTERNACIONAL
{
Preço dos volumes já publicados
Volume 1 — 200$00 {
cada um dos volumes seguintes: 150$00
PORTUGALIAE PHYSICA
Revista de colaboração internacional
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Laboratorio de Física da Faculdade de Ciências de Lisboa
MICROSCÓPIOS EQUIPAMENTOS
E ACESSÓRIOS DE PROJECÇÃO
Hemacitómetros -Micrótomos Projectores de, contorno
Máquinas para microfo- Microprojectores—Aparelhos
tografia e acessórios de projecção (Epidiascópios)