Metodologia e Prática
de Ciências no Ensino
Fundamental
Sumário
CAPÍTULO 1 – Qual a importância de aprender e ensinar ciências?.....................................05
Introdução ....................................................................................................................05
Síntese...........................................................................................................................18
Referências Bibliográficas.................................................................................................19
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Capítulo 1 Qual a importância de aprender
e ensinar ciências?
Introdução
A origem do termo “ciências” vem do latim scientia, cujo significado é sabedoria, conhecimento
(Cotrim, 2006). Se pesquisarmos no dicionário, veremos que ciência é uma área de conhecimen-
to sistematizada como campo de estudo ou de observação e classificação de fatos relacionados
a fenômenos e formulação das leis gerais que os regem (Michaelis, 2009). Já na definição da
Unesco a ciência é um conjunto de conhecimentos que estão organizados com base em fatos
observáveis, obtidos por meio do estudo objetivo dos fenômenos empíricos (Reis, 2004).
Quando conhecemos a história e a filosofia de vida uma pessoa sabemos que fica mais fácil
compreendê-la. E conhecendo a história e a filosofia das ciências, será que podemos compre-
endê-la melhor? É de senso comum que ao aquecermos a água, por exemplo, ela ferve ou
então que uma maçã cortada vai escurecendo com o tempo. Então qual a importância de fazer
a transposição deste conhecimento no caso do ensino de Ciências? E você sabe o que é contex-
tualização e qual a diferença entre ela e a exemplificação no ensino de Ciências? Ao final deste
capítulo conseguiremos responder a estas e a muitas outras perguntas.
É possível conhecer a história por meio de fatos e resultados importantes que levaram às desco-
bertas científicas feitas ao longo do tempo. Mas saiba que esses relatos devem ser analisados
de forma criteriosa, compreendendo-se erros e acertos envolvidos. Uma abordagem histórica
das Ciências Naturais traz ganho ao ensino, pois permite inserir o conhecimento dentro de um
contexto social e histórico. Desta forma é importante conhecer as principais descobertas que
contribuíram para o desenvolvimento das ciências.
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Metodologia e Prática de Ciências no Ensino Fundamental
Já a Filosofia busca entender as tramas conceituais envolvidas que nos permitem reconhecer e
identificar as explicações e ações que levaram aos descobrimentos. O que se quer é compre-
ender a natureza das afirmações e conceitos científicos, quais métodos foram utilizados para
produzi-los, quais ideias, fundamentos e argumentos foram utilizados para encontrar respostas e
quais implicações surgiram no meio onde a ciência está inserida. Ou seja, devemos compreen-
der que História e Filosofia precisam ser pensadas juntas. A seguir vamos identificar aspectos da
história das Ciências Naturais, entender o desenvolvimento e conhecimento produzido.
O ato de pensar sobre a Ciência já vem desde a Grécia Antiga, onde podemos destacar Aristóteles
(384 a.C.- 322 a.C.), que escreveu sobre a possibilidade de existir vida a partir de algo inanimado.
Por exemplo ele acreditava que os vermes que apareciam em material em decomposição surgiam de
forma espontânea. A teoria dele da geração espontânea permaneceu por séculos. A partir de vários
experimentos realizados, provou-se que essa teoria não era válida inclusive em relação ao exemplo
do surgimento dos vermes. Na verdade, isso ocorria em função de moscas atraídas ao material em
decomposição e que nele depositavam ovos. Aristóteles foi também responsável por desenvolver
uma forma de estudar as espécies, sendo pioneiro em dividir o reino animal em categorias.
Na Idade Média era a igreja quem definia o que era ou não verdade e fornecia explicação sobre
os fenômenos. Perceba que a partir do século XVII a ciência começou a se desenvolver, e a cons-
trução do conhecimento científico passou a ser vista como uma consequência das observações
de situações reais. Buscava-se à época levantar hipóteses que pudessem explicá-las. A partir do
século XVIII, para a racionalidade moderna a ciência passou a ser vista como único caminho à
obtenção da verdade e, assim, ocupou lugar da religião.
Na história das Ciências tivemos, especialmente a partir do século XVI, o surgimento de novas teo-
rias e com isso começou a surgir a ciência moderna. Vamos tratar, então, a respeito de alguns dos
principais acontecimentos nesta área. E um dos primeiros passos na construção da ciência moderna
pode ser atribuído ao modelo astronômico desenvolvido por Nicolau Copérnico (1473-1543). Ele
propôs que a localização do Sol seria o centro do universo (Figura 1) e não a Terra (com os demais
planetas girando ao entorno), como havia apontado Ptolomeu no modelo chamado geocêntrico.
No século XVII o cientista Isaac Newton, a partir dos trabalhos de outros pensadores como Galileu
e Kepler, formulou a Mecânica. Esta teoria foi fortemente embasada em um modelo matemático ri-
goroso, que até o final do século passado se manteve hegemônico, ou seja, amplamente aceito. A
partir das leis mecânicas que formulou, Newton conseguiu obter novas conclusões a respeito dos
corpos celestes. Ele os submeteu às mesmas leis que eram aplicadas na Terra. Para que possamos
entender melhor, Newton forneceu explicações acerca da existência da gravidade, que atua entre
os planetas e satélites e é responsável por mantê-los em constante atração entre si. Ou seja, que
os planetas sofrem a ação de forças e se movimentam em diferentes velocidades que dependem
de suas respectivas massas e das distância entre eles.
Já no século XVIII surgiu a Termodinâmica, associada à primeira revolução industrial. Por meio
dela foi possível a sistematização da operação de máquinas térmicas que transformam energia
térmica em energia mecânica, passando a ser utilizadas em larga escala na produção industrial
e meios de transporte (trens a vapor, por exemplo).
Podemos destacar, ainda, a teoria da combustão-reação, que envolve a presença de gás oxigênio
e que foi formulada por Antoine Lavoisier (tido como um dos fundadores da química moderna)
também no século XVIII, sendo considerada um marco na revolução do pensamento químico. Ele
derrubou a teoria que acreditava que os materiais combustíveis tinham um princípio inflamável,
chamado de flogisto, e demonstrou que na verdade as reações de combustão aconteciam em
função da presença do oxigênio.
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Metodologia e Prática de Ciências no Ensino Fundamental
Também os trabalhos do cientista Louis Pasteur, ainda nos século XIX, foram de grande importân-
cia, porque permitiram avanços na reprodução de micro-organismos alcançados por meio do
desenvolvimento de novas técnicas de conservação de bebidas fermentadas.
E o que podemos citar de importante descoberta do século XX? Este foi marcado pela Física
moderna, dos conhecimentos sobre a Relatividade e a Mecânica Quântica, que estão associados
à chamada terceira revolução industrial. Graças a esses conhecimentos a microeletrônica, a
robótica e os computadores começaram a ser desenvolvidos.
VOCÊ SABIA?
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco)
publica já há duas década, em intervalos de cinco anos, o Relatório de Ciências. O
documento tem por objetivo mapear como está o desenvolvimento da ciência, da tec-
nologia e da inovação (CTI) em todo mundo. A última versão foi publicada em 2015 e
há uma em português disponível. Você pode acessá-lo em http://unesdoc.unesco.org/
images/0023/002354/235407por.pdf.
Não podemos deixar de mencionar o físico Albert Einstein, que em 1905 publicou “Annalen der
Physik”, de trabalhos desenvolvidos sobre eletrodinâmica, dimensões moleculares, equivalência
entre massa inerte e energia, fenômeno fotoelétrico e o início da Teoria da Relatividade. Você
saberia citar as contribuições deste importante cientista? Dentre os diversos estudos de Einstein
podemos destacar a teoria da relatividade do tempo, a investigação da relação massa-energia, a
partir da qual propôs a famosa fórmula E=mc², sendo os seus estudos considerados como prin-
cípio da teoria atômica e da energia nuclear. A partir de então se alcançou inúmeros avanços.
O desenvolvimento da Física Quântica permitiu compreender diversas propriedades química,
ópticas, magnéticas e elétricas dos materiais.
Toda essa abordagem das descobertas e dos benefícios à humanidade surgidos graças às ciên-
cias mostra toda sua importância. E as ciências continuam a se desenvolver. Isso demonstra que
é fundamental aprendê-las e ensiná-las. Você perceberá também que importantes estudiosos
dedicaram-se a investigar a ciência. Vamos a eles.
Você seria capaz de citar algum importante estudioso da ciência? Um deles é Francis Bacon
(1561-1626), filósofo inglês considerado “pai” do empirismo. O trabalho é apontado como a
base da ciência moderna. Vamos explicar: o empirismo parte da ideia de que o conhecimento
se dá pela experiência, e Francis Bacon defendia o método da indução, que consiste em chegar
a conclusões universais partindo de observações de fatos particulares. Embora esse método já
existisse, Bacon o aprimorou o divulgou. Depois dele, o pensar e o escrever sobre ciência se
desenvolveu, porém outras linhas de pensamento surgiram em crítica ao método indutivo. Outro
nome do empirismo é David Hume (1711-1776), que desenvolveu suas ideias influenciado pelo
pensamento de Jonh Locke (1632-1704).
O método da indução também foi criticado pelo filósofo Karl Popper (1902-1994), que propôs o
método dedutivo. Para ele, devemos partir de conclusões universais para se explicar fatos particulares.
Esse pensamento é o oposto do método indutivo, isto é, caracteriza-se pela falseabilidade, ou seja,
para se verificar se as conclusões são verdadeiras é preciso tentar falseá-las por meio de experimentos.
De acordo com o filósofo e poeta francês Gaston Bachelard (1940), o desenvolvimento da ciên-
cia ocorreu graças à interação entre as teorias e os experimentos, por isso não é possível separar
qual o papel de um e qual o de outro. Esta abordagem foi chamada de dialética. Também cabe
lembrar outro acontecimento importante da filosofia da ciência, que foi a publicação de “A estru-
tura das revoluções científicas”, do físico Thomas Kuhn, em 1962. Ele defendia a tese de que o
progresso da ciência ocorre por meio de revoluções alternadas com períodos ditos normais. Para
Kuhn, a ciência não é um acúmulo linear de conhecimento (RUSSEL, 1981; PAGLIARINI, 2007).
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Metodologia e Prática de Ciências no Ensino Fundamental
São informações que aprendemos sem nos darmos conta, que são passadas de geração para
geração, porém sem qualquer comprovação científica. O senso comum se adquire a partir de
experiências de vida ou na forma de crenças. Certamente você poderia indicar vários exemplos.
Alguns são bem simples, como tomar chá de camomila para acalmar ou chá de boldo para o
fígado. Ninguém sabe a razão, mas geralmente há resultado positivo. Quando esses ensinamen-
tos foram repassados eles não vieram com um parecer científico comprovando veracidade. Desta
maneira, podemos dizer que o senso comum é obtido sem estudos feitos metodicamente, nem
investigações. Sendo assim, o senso comum pode ser considerado como um conhecimento obtido
de forma assistemática e acrítica, isto é, sem reflexão.
Por outro lado o conhecimento científico é construído de forma sistemática, investigativa, de forma
a produzir um conjunto organizado de teorias e conhecimentos, articulados de forma coerente.
Para fazer ciência é necessário reflexão, assim, ela é construída de forma crítica. Todas as teorias,
como por exemplo a da relatividade, da evolução, entre outras, seguem todos esses critérios.
Você verá que não é possível definir as etapas de um método científico que seja único e significati-
vo para todas as ciências, uma vez que cada área tem diferentes métodos de investigação. Porém,
algumas práticas são comuns a todas as áreas, como observação, experimentação, quantificação,
hipotetização (elaboração da hipótese), quantificação, comparação e rigor nos resultados.
VOCÊ SABIA?
Que um método científico poder ser definido como um conjunto de regras que são
utilizadas para desenvolver um estudo ou experimento a fim de se produzir um novo co-
nhecimento, corrigir ou adicioná-lo a conhecimentos já pré-existentes? Já um problema
refere-se a uma pergunta que a pesquisa quer responder. E chamamos de hipóteses su-
posições ou respostas ao problema da pesquisa. Elas são temporárias, pois podem ser
aceitas ou descartadas. Um problema pode ter mais de uma hipótese, ou seja, existem
diversas soluções possíveis para resolvê-lo.
Como já sabemos, as teorias precisam ser validadas pela comunidade científica. Isto significa
que em alguns casos elas possam não ser aceitas. Porém, quando aceitas implicam em rupturas
com teorias até então aceitas. A consequência da criação de novas teorias é que os fatos já antes
explicados são descritos em novos termos e com base em novos conceitos. As teorias, como a
De acordo com Bachelard, o conhecimento pode ser considerado uma resposta a uma pergunta.
Sendo assim, sua construção se dá ao responder-se essa pergunta. Para isso, é necessário conhe-
cer o problema que deu origem a ela. Ou seja, também podemos dizer que o conhecimento é
produzido ao se tentar resolver determinado problema. E como isso se dá? Levantamos algumas
hipóteses que podem responder a perguntas ou levar à resolução do problema. A análise crítica
de cada uma das hipóteses permite avaliar se elas são válidas e podem ser aceitas ou se devemos
refutá-las, e nesse processo o conhecimento vai sendo construído (Figura 4).
Para aprofundarmos nosso estudo sobre Ciências precisamos entender como conhecimento cien-
tífico e senso comum se relacionam. Este será o assunto a seguir.
Então se pode pensar que os conhecimentos relacionados ao senso comum, sem o conhecimento
científico, perdem seu valor consciente e prático da realidade. Porém, pode-se pensar também
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Metodologia e Prática de Ciências no Ensino Fundamental
que o saber científico, se transmitido apenas como uma teoria pronta, sem relação com o coti-
diano, também não favorece a formação de conceitos científicos (Sforni e Galuch, 2006; Castro
e Bejarano, 2013). O que isso significa? Que desta forma é preciso haver uma relação entre
ambos, de forma que aquilo que for de senso comum possa ser explicado e reinterpretado com
bases em conhecimentos científicos adquiridos. E, em contrapartida, o senso comum possa ser
utilizado como ponto de partida para criar situações-problemas em que o conhecimento científi-
co possa ser utilizado de forma a solucioná-los.
Por exemplo, é de senso comum que a maçã vai escurecendo depois de cortada. O conheci-
mento científico envolvido é o de que em contato com o ar os compostos químicos (fenólicos)
presentes na fruta sofrem oxidação na presença do gás oxigênio (O2) em uma reação catalisa-
da pela enzima polifenoloxidase, e os produtos formados chamados quinonas têm coloração
escura. Com o conhecimento de que este processo ocorre em função de presença de O2, e é
catalisado por uma enzima, fica fácil entender e tomar uma decisão a respeito. Desta forma, a
melhor opção é guardar a maçã cortada em um saco plástico ou recipiente fechado de modo a
ter contato com a menor quantidade possível de oxigênio, e ainda colocá-la na geladeira, uma
vez que menor temperatura irá diminuir a velocidade de reação.
Todo esse conhecimento científico que foi construído ao longo da história vem sendo transmitido
principalmente pelo ensino de Ciências nas escolas. Neste próximo tópico estudaremos o históri-
co do ensino de Ciências, de forma a conhecer seus objetivos e metodologias de ensino.
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Metodologia e Prática de Ciências no Ensino Fundamental
Bases da Educação Nacional (LDBEN, de 1971). Ela tornou o ensino de Ciências obrigatório no
primeiro grau (o atual ensino fundamental). Já nas décadas de 1970 a 1980 o ensino começou
a ser visto também como uma forma de possibilitar aos alunos condições de discutir as consequ-
ências para a sociedade decorrente do desenvolvimento científico.
Perceba que, além disso, começou a se pensar nos problemas ambientais decorrentes do desen-
volvimento industrial, econômico e social, e na utilização das Ciências na interpretação desses
problemas, bem como na busca de possíveis soluções. Como você pode verificar, houve uma
crescente importância e ampliação do número de objetivos ligados ao ensino de Ciências. Da
mesma forma o como ensinar (metodologias) e o que ensinar em Ciências (conteúdos) passaram
a ser foco de investigação e estudo.
Como você pode imaginar, as teorias científicas, em função de sua complexidade, não são tão
simples de transmitir diretamente aos estudantes do ensino fundamental. Elas estão distantes das
ideias de senso comum. Por isso os conteúdos a ser ensinados precisam ser selecionados com
cuidado, de forma a terem sentido e relevância na vida dos estudantes. Além disso não devem
ser abordados por meio de simples definições e classificações que os estudantes têm de decorar.
Devem ser, isto sim, conhecimentos construídos com o professor. A mobilização de conhecimen-
tos adquiridos por meio de vivências e das culturas dos estudantes e sua relação com os conte-
údos são muito importantes.
Desta forma, devemos buscar métodos que contribuam para tornar as aulas de Ciências atrativas
e facilitar o aprendizado. Entre os métodos e recursos que podemos utilizar no ensino de Ciên-
cias estão práticas de observações, experimentação, jogos, livros, jornais, revistas, entre outros,
para se obter e comparar informações, softwares e, mais recentemente, aplicativos de celular.
Isso tende a despertar mais a atenção dos estudantes e demonstra que os conteúdos de Ciências
podem ser aprendidos em outras fontes além de livros.
Segundo Galiazzi (1999), as atividades experimentais foram implantadas nas escolas influen-
ciadas principalmente por trabalhos desenvolvidos em universidades. A experimentação tinha
como objetivo melhorar a aprendizagem do conteúdo científico, buscando ensinar os estudantes
a aplicar o que estavam aprendendo. É importante chamar a atenção para o fato de que a ex-
perimentação não deve ser vista como uma mera comprovação de teorias, mas sim como parte
importante do processo de investigação para a construção de conhecimento (Figura 7).
Podemos, então, entender que experimentação tem importância relacionada ao papel investi-
gativo e como função pedagógica auxiliar o aluno na compreensão dos fenômenos (Santos &
Schnetzler, 1996). Independente do nível de escolarização, a experimentação deve ter caráter
motivador, lúdico, vinculado aos sentidos, visando com isso a melhoria do processo de ensino-
-aprendizagem (Giordan, 1999).
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Metodologia e Prática de Ciências no Ensino Fundamental
Entenda que independente das metodologias e ferramentas adotadas é importante que o ensino
não seja fragmentado, e que as disciplinas que compõem as Ciências naturais sejam sempre
estudadas de forma relacionadas, buscando-se a interdisciplinaridade sempre que possível.
Busca-se com a utilização destes temas estabelecer uma relação entre o conhecimento científico
e a realidade do aluno, levando em conta aspectos sociais, econômicos e humanísticos. Embora
ambos sejam ferramentas importantes no ensino de Ciências, não se deve confundir contextuali-
zação com exemplificação. Para que não haja essa confusão é importante entender o conceito de
contextualização, pois com sua aplicação no ensino de Ciências é possível construir o conhecimen-
to necessário para compreendê-lo e solucioná-lo, a partir de situações ou problemas cotidianos.
Para Tiedemann (2006), que traz o termo “ensino no contexto”, esta é uma tentativa de fazer
o estudante aprender conforme adquire conhecimento no dia a dia. Desta forma, parte-se de
situações ou problemas que, para resolvê-los, ele precisa de conhecimentos de científicos. Esse
conhecimento vai sendo inserido na medida em que ajuda na compreensão e na resolução da
questão proposta. A partir de observações chega-se à teoria, começando sempre com uma situa-
ção prática, que será estudada com base em em conhecimento científico. Com isso, os conceitos
não são trabalhos na sequência tradicional.
Para Rodrigues e Amaral (1996), contextualizar o ensino significa levar em conta o cotidiano do
estudante. Essa prática também recebe o nome de problematização. Perceba, assim, que nela
são criadas situações-problema com base em situações vivenciadas pelo estudante, sendo im-
portante considerar o contexto social no qual está inserindo. Freire (1983) já havia destacado a
importância do ensino contextualizado.
Paulo Freire (1921-1997) foi um famoso educador brasileiro, tendo publicado diversas obras,
entre as quais podemos citar “ Educação como prática da liberdade” (1967), “Pedagogia do
oprimido” (1968), “Cartas à Guiné-Bissau (1975), “Pedagogia da esperança” (1992) e “Pedago-
gia da autonomia: saberes necessários à prática educativa”. Graças aos seus inúmeros trabalhos
com educação, Paulo Freire recebeu o prêmio Unesco da Educação para a Paz (1986).
Com isso, pode-se observar que existe certa confusão sobre o ensino contextualizado e uma
abordagem do cotidiano ou exemplificação. Na exemplificação, primeiro apresentam-se os con-
teúdos e depois estes são ilustrados com exemplos do cotidiano. Ou seja, contextualizar não
deve ser confundido com exemplificar. Em outro trabalho, de Santos (2007), autores verificaram
que muitos professores consideram contextualizar como sinônimo de abordar situações do coti-
diano nas quais os conteúdos da disciplina estão presentes sem, no entanto, explorar as dimen-
sões sociais onde os fenômenos estão inseridos.
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Síntese Síntese
• Conhecemos algumas das principais descobertas que levaram ao desenvolvimento da ciência;
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