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Índice

Introdução ......................................................................................................................... 2

1.Vida e obra de Michael Foucault ................................................................................... 3

1.1.Principais obras .......................................................................................................... 3

2. Sistema prisional na perspectiva de Michael Foucault ............................................. 4

3. Contribuição de Foucault para a sociologia .............................................................. 5

4. Críticas ...................................................................................................................... 6

5. Conclusão .................................................................................................................. 7

6. Referências bibliográficas ......................................................................................... 8


Introdução

Desde a antiguidade, o fenómeno criminal vem se diversificando e ganhando contornos


cada vez mais alarmantes, dai que nota-se a preocupação de diferentes pensadores como
Aristóteles, Platão, São Tomas de Aquino, Lombroso, Thomas More e outros, em trazer
explicações para as causas do mesmo. O crime não é um conceito unívoco, é uma
palavra que possui significados diferentes, ou seja, a prática criminal varia de contexto
para contexto. Mas de um modo geral, podemos definir o crime como sendo todo o
comportamento que transgride as normas jurídicas, assim como as normas socialmente
construídas. Nesse contexto, importa referir que antigamente as punições eram severas
independentemente do tipo de crime cometido, facto este que gerou a preocupação não
só da sociedade em geral mas também de alguns pensadores como Montesquieu que por
sua vez, defendia que as penas moderadas e certas são as mais eficazes que castigos
terríveis, o que contribuiu de forma significativa para a implementação de novas formas
como é o caso da privação da liberdade do criminoso como forma de puni-lo (Machado,
2008).

É nesse âmbito que Michael Foucault se destacou como um crítico do sistema prisional
vigente na sociedade.

A utilização da forma-prisão preexiste a sua utilização pela lei, ela surge fora do
aparelho judiciário para tornar os indivíduos dóceis e úteis através de um trabalho
preciso sobre seu corpo, criou a instituição prisão, antes que a lei definisse como pena
por excelência. Agora uma nova legislação define o poder de punir como uma função
geral da sociedade que é aplicada igualmente sobre todos os seus membros. Uma justiça
que se diz “igual” um aparelho judiciário que pretende ser autónomo, mas contém
desigualdades das sujeições disciplinares assim é a conjuntura do nascimento da prisão,
“pena” das sociedades civilizadas. (Santos 2016).

No âmbito do estudo sobre o crime e as suas devidas sanções, o presente trabalho


aborda questões inerentes ao sistema prisional na perspetiva de Michel Foucault, que
faz uma análise do sistema penal e a forma como o poder punitivo é exercido.
1.Vida e obra de Michael Foucault

Michael Foucault (1926-1984) nasceu em Poitiers, uma pequena cidade francesa. Foi
um filósofo francês, que exerceu grande influência sobre os intelectuais
contemporâneos e ficou conhecido por suas posições contrárias ao sistema prisional
tradicional. Foi ativi sta, político, teórico, social, crítico, cultural e historiador,
desafiando as verdades dadas e a obrigatoriedade de nossas práticas e instituições, ele
mudou a maneira como a sociedade encarava questões polémicas como poder,
sexualidade, loucura e criminalidade. Faleceu em Junho de 1984, quando estava em
plena condição intelectual. Sua obra tem uma relação recíproca com aspectos de sua
vida pessoal, ele foi um homossexual que morreu de Aids (Sida), experimentou drogas e
passou um período numa instituição psiquiátrica na juventude. (Frazão, 2015).

1.1. Principais obras segundo Frazão (2015)


 História da loucura (1961);
 Doença mental e psicologia (1962);
 O nascimento da clínica (1963);
 As palavras e as coisas (1966);
 A arqueologia do saber (1969);
 Isto não é um cachimbo (1973);
 Vigiar e punir (1975).

A obra de Foucault é dividida em três fases distintas. A primeira, em que ele chama de
estudos históricos em Arqueológica, a segunda é a fase de Genealógica, que abrange
seus estudos sobre o poder e a terceira que corresponde os seus estudos sobre arte.

A sua obra vigiar e punir (1975) está situada na fase genealógica e é uma obra que
aborda as relações de poder existentes na contemporaneidade, dentro das cadeias,
hospitais, escolas e fábricas, sendo que o seu foco principal era fazer uma abordagem
crítica do sistema penal vigente na sociedade. (Incott, 2016).

Em Vigiar e Punir, Foucault analisa o nascimento da prisão como parte de uma


transformação mais ampla das relações de poder na sociedade a partir do final do século
XVIII, estendendo-se até o século XIX. Para Foucault não se trata de estudar a origem
da prisão enquanto realidade em sim, mas compreender como a emergência da prisão
está relacionada com outras emergências que compõem uma nova anomia política
baseada em disciplina que, em conjunto, formam uma maquinaria de poder que age
sobre os corpos de diferentes instituições (escolas, hospitais, exército, fábricas, prisão,
etc…). (Foucault, 1984 apud Oliveira, 2010).

2. Sistema prisional na perspectiva de Michael Foucault

Ao estudar o nascimento da prisão, o objetivo de Foucault é traçar um perfil histórico


do desenvolvimento das formas de punição associadas à gênese do sistema prisional
quando houve a queda da soberania. A lei e o poder adquiriram uma nova forma regular
e passaram a fazer parte da justiça estatal, observando que a prisão passou por três fases
diferentes:

 A primeira fase foi no século XVII, nas sociedades soberanas, onde ela existiu
paralelamente com outras instituições de punição como manicômio e o Asilo;
 A segunda fase foi no final do século XVIII e o início do século XIX, onde
ocorreu a consolidação da prisão como forma de sansão normalizadora, houve
uma reforma e reorganização do sistema jurídico e penal. Esse período Foucault
denominou de sociedade de vigilância e disciplinares, com características
essenciais de distribuição espacial dos indivíduos;
 A terceira fase é a da reforma penitenciaria, nessa fase as técnicas disciplinares
foram substituídas pelo modelo técnico de cura e normalização, ela funciona
como uma medida terapêutica de reeducação do individuo e modificadora de
comportamento através de uma observação individual e invisível.(Oliveira,
2010).

O pressuposto inicial definido por Foucault para se criar recursos para o bom
adestramento é a vigilância hierárquica, que é a arte de punir do poder disciplinar; a
disciplina é uma técnica que molda os indivíduos como meros objetos e instrumentos do
seu exercício que emerge das instituições em geral (escolas, fabricas, hospitais)
estabelecendo normas para as relações sociais.
A vigilância hierárquica juntamente com a sanção normalizadora são poderes que se
correlacionam, pois, a vigilância hierárquica através do seu poder disciplinar é o que
compara, diferencia, hierarquiza, homogeniza e exclui, e a sanção é o poder que
normaliza, que adestra e vigia os corpos nos espaços.

Os estudos clássicos da prisão levados a cabo por autores como, Clemmer (1940),
Foucault (1999) e Goffman (1999) apud Oliveira (2010) projectam o meio prisional
como um mundo a parte, como se as relações sociais prisionais fossem apenas
produzidas localmente. Neste sentido, estes autores focalizam essencialmente as
relações prisionais e os processos identitários e práticas criadas no contexto da prisão,
vista como um hiato social e temporal.

Por sua vez, Foucault (1999) apud Baratta (2014), encarra a prisão como um dos
vectores da tecnologia política do corpo, por processos de vigilância e de delimitação
rigorosa dos corpos no espaço e no tempo, considerando que a prisão é uma escola do
crime, sugerindo, assim, um verdadeiro dilema: a prisão serve para punir o preso e
preparar a sua reintegração social e, ao mesmo tempo, fomenta ainda mais o crime e o
criminoso. Deste modo Foucault considera que ao invés de ser ressocializado para a
vida em liberdade, o individuo é socializado para viver na prisão.

3. Contribuição de Foucault para a sociologia do crime

Ao falar do sistema prisional, Foucault ressalta a necessidade da existência de algo além


da simples melhoria do sistema penal, na sua obra Vigiar e Punir ele propõe a criação de
um novo sistema que permita que a lei seja imparcial e permita a ressocialização do
indivíduo.

Foucault diz ainda que o poder punitivo clássico possui uma ideologia punitiva-
correctiva, porém os objectivos reais que são alcançados são uma repressão selectiva e a
criminalização do oprimido, ou seja, para Foucault o sistema penal deve ser
reformulado até ao ponto que possa abranger diferentes classes sociais sem
diferenciação uma vez que o sistema actual privilegia as classes superiores e torna-se
instrumento de controlo e de repressão das massas.(Foucault, 2005).

Foucault contribuiu também para a humanização das penas e o desenvolvimento das


condições da aplicação das penas preventivas de liberdade.
4. Críticas

O pensamento de Foucault assim como a sua vida, desafia a categorização sobre um


único tema, sobretudo porque ele se ocupou de questões que não tem respostas
definidas e definitivas (Paiva, 2012, p.10).

Um exemplo claro dessa forma de pensar, é o facto de Foucault se preocupar apenas


com as falhas do Sistema Prisional, e apontando mais para as injustiças que acontecem
no momento da entrada na prisão, ou no momento da saída, pois, segundo ele, havia
uma aplicação de penas severas para pequenos delitos e no momento da aplicação
dessas penas não se aplicava a igualdade de classe.

A maior preocupação de Foucault era denunciar o sistema penal actual que priva os
detentos de liberdade ao mantê-los em uma prisão que ajuda a criar sujeitos que entram
no sistema carcerário por pequenos delitos e acabam se tornando presos de natureza
perigosa. (Paiva, 2012,P.11).

Com o trecho acima, é possível verificar que Foucault apesar de em alguns momentos
propor possíveis formas de resolução dessa problemática, como por exemplo a ideia da
reformulação do sistema, ele não deixa claro o que na sua opinião deviam ser as “selas
ideais”, o que devia ser mudado concretamente dentro das prisões, ele somente toca
naquilo que devia ser respeitado na entrada do individuo na prisão e na saída, sem tocar
na sua permanência nas mesmas.

Um outro ponto crítico em relação a perspectiva de Foucault sobre o sistema prisional,


refere-se ao facto de falar da prisão como uma forma que as sociedades consideram
viável para a punição dos criminosos, mas não analisa a natureza do crime em si, o que
põe em causa o seu posicionamento pois, é difícil perceber o criminoso e as melhores
formas de punição do mesmo sem levar em conta a essência do crime, ou seja, o que
viria a ser crime, assim como o que influencia o seu cometimento e até que ponto a
existência de diferentes classes sociais influencia para a existência de criminosos, uma
vez que ele defende a igualdade do tratamento para pessoas de diferentes classes sociais
que tenham cometido crime.
5. Conclusão

Foucault faz uma análise histórico-filosófica profunda sobre a estruturação organizativa


da pena, tomando como foco o sistema punitivo-legal ao longo do século. O autor
procura mostrar uma visão de poder disciplinador como uma maneira avançada do
poder contemporâneo da sociedade, no qual seria o poder das leis e que contesta com as
formas de punição praticadas no século XVIII.

Olhando para a análise de Foucault pode-se observar que ele problematiza a questão da
criminalização do criminoso, e muitas vezes esse criminoso é de classe social baixa, e
independentemente do delito que esse criminoso tenha cometido ele é conotado como
criminoso ainda no processo de julgamento, e é por essa razão que quando o criminoso
entra na prisão não tem o devido acompanhamento com vista a mudar o seu
comportamento, visto que o próprio sistema já o conota como tal, independentemente
do deleito que o individuo tenha cometido.

Contudo, pode-se concluir que embora as formas de punição tenham ganhado novas
formas nas sociedades, o sistema moderno de punição (privação da liberdade) apresenta
défices, visto que não se tem alcançado definitivamente o objectivo da sua criação que é
a regeneração do indivíduo criminoso para posterior reintegração social. Isto é, a
privação a liberdade nem sempre tem sido a melhor forma para disciplinar o criminoso
devido a ineficiência e eficácia dos métodos aplicados para a reeducação do criminoso
no decurso do cumprimento da sua pena.
6. Referências bibliográficas

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: Introdução a


sociologia do direito penal: Revan. Rio de Janeiro, 2014.

FOUCAULT, Michel. Vigar e punir: nascimento das prisões. 27ed. Editora vozes.
Petrópolis. 1999.

FRAZÃO, Dilva. Resumo de biografias. 2015. Disponível em www.ebiografia.com.

INCOTT, Paulo Roberto. Introdução a sociologia do direito penal: nascimento da


prisão. Petrópolis: Vozes. Rio de Janeiro, 2011.

MACHADO, Helena. Manual de sociologia do crime. Porto: Afrontamento, 2008.

PAIVA, Francileide. Vigiar e punir: o sistema prisional na visão de Foucault. 2012.

SANTOS, Luciene Pereira. Análise de vigiar e punir. Marco, 2016. Disponível em


ps://googleweblight.com. Acesso aos 10.03.2018.

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