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Introdução ......................................................................................................................... 2
4. Críticas ...................................................................................................................... 6
5. Conclusão .................................................................................................................. 7
É nesse âmbito que Michael Foucault se destacou como um crítico do sistema prisional
vigente na sociedade.
A utilização da forma-prisão preexiste a sua utilização pela lei, ela surge fora do
aparelho judiciário para tornar os indivíduos dóceis e úteis através de um trabalho
preciso sobre seu corpo, criou a instituição prisão, antes que a lei definisse como pena
por excelência. Agora uma nova legislação define o poder de punir como uma função
geral da sociedade que é aplicada igualmente sobre todos os seus membros. Uma justiça
que se diz “igual” um aparelho judiciário que pretende ser autónomo, mas contém
desigualdades das sujeições disciplinares assim é a conjuntura do nascimento da prisão,
“pena” das sociedades civilizadas. (Santos 2016).
Michael Foucault (1926-1984) nasceu em Poitiers, uma pequena cidade francesa. Foi
um filósofo francês, que exerceu grande influência sobre os intelectuais
contemporâneos e ficou conhecido por suas posições contrárias ao sistema prisional
tradicional. Foi ativi sta, político, teórico, social, crítico, cultural e historiador,
desafiando as verdades dadas e a obrigatoriedade de nossas práticas e instituições, ele
mudou a maneira como a sociedade encarava questões polémicas como poder,
sexualidade, loucura e criminalidade. Faleceu em Junho de 1984, quando estava em
plena condição intelectual. Sua obra tem uma relação recíproca com aspectos de sua
vida pessoal, ele foi um homossexual que morreu de Aids (Sida), experimentou drogas e
passou um período numa instituição psiquiátrica na juventude. (Frazão, 2015).
A obra de Foucault é dividida em três fases distintas. A primeira, em que ele chama de
estudos históricos em Arqueológica, a segunda é a fase de Genealógica, que abrange
seus estudos sobre o poder e a terceira que corresponde os seus estudos sobre arte.
A sua obra vigiar e punir (1975) está situada na fase genealógica e é uma obra que
aborda as relações de poder existentes na contemporaneidade, dentro das cadeias,
hospitais, escolas e fábricas, sendo que o seu foco principal era fazer uma abordagem
crítica do sistema penal vigente na sociedade. (Incott, 2016).
A primeira fase foi no século XVII, nas sociedades soberanas, onde ela existiu
paralelamente com outras instituições de punição como manicômio e o Asilo;
A segunda fase foi no final do século XVIII e o início do século XIX, onde
ocorreu a consolidação da prisão como forma de sansão normalizadora, houve
uma reforma e reorganização do sistema jurídico e penal. Esse período Foucault
denominou de sociedade de vigilância e disciplinares, com características
essenciais de distribuição espacial dos indivíduos;
A terceira fase é a da reforma penitenciaria, nessa fase as técnicas disciplinares
foram substituídas pelo modelo técnico de cura e normalização, ela funciona
como uma medida terapêutica de reeducação do individuo e modificadora de
comportamento através de uma observação individual e invisível.(Oliveira,
2010).
O pressuposto inicial definido por Foucault para se criar recursos para o bom
adestramento é a vigilância hierárquica, que é a arte de punir do poder disciplinar; a
disciplina é uma técnica que molda os indivíduos como meros objetos e instrumentos do
seu exercício que emerge das instituições em geral (escolas, fabricas, hospitais)
estabelecendo normas para as relações sociais.
A vigilância hierárquica juntamente com a sanção normalizadora são poderes que se
correlacionam, pois, a vigilância hierárquica através do seu poder disciplinar é o que
compara, diferencia, hierarquiza, homogeniza e exclui, e a sanção é o poder que
normaliza, que adestra e vigia os corpos nos espaços.
Os estudos clássicos da prisão levados a cabo por autores como, Clemmer (1940),
Foucault (1999) e Goffman (1999) apud Oliveira (2010) projectam o meio prisional
como um mundo a parte, como se as relações sociais prisionais fossem apenas
produzidas localmente. Neste sentido, estes autores focalizam essencialmente as
relações prisionais e os processos identitários e práticas criadas no contexto da prisão,
vista como um hiato social e temporal.
Por sua vez, Foucault (1999) apud Baratta (2014), encarra a prisão como um dos
vectores da tecnologia política do corpo, por processos de vigilância e de delimitação
rigorosa dos corpos no espaço e no tempo, considerando que a prisão é uma escola do
crime, sugerindo, assim, um verdadeiro dilema: a prisão serve para punir o preso e
preparar a sua reintegração social e, ao mesmo tempo, fomenta ainda mais o crime e o
criminoso. Deste modo Foucault considera que ao invés de ser ressocializado para a
vida em liberdade, o individuo é socializado para viver na prisão.
Foucault diz ainda que o poder punitivo clássico possui uma ideologia punitiva-
correctiva, porém os objectivos reais que são alcançados são uma repressão selectiva e a
criminalização do oprimido, ou seja, para Foucault o sistema penal deve ser
reformulado até ao ponto que possa abranger diferentes classes sociais sem
diferenciação uma vez que o sistema actual privilegia as classes superiores e torna-se
instrumento de controlo e de repressão das massas.(Foucault, 2005).
A maior preocupação de Foucault era denunciar o sistema penal actual que priva os
detentos de liberdade ao mantê-los em uma prisão que ajuda a criar sujeitos que entram
no sistema carcerário por pequenos delitos e acabam se tornando presos de natureza
perigosa. (Paiva, 2012,P.11).
Com o trecho acima, é possível verificar que Foucault apesar de em alguns momentos
propor possíveis formas de resolução dessa problemática, como por exemplo a ideia da
reformulação do sistema, ele não deixa claro o que na sua opinião deviam ser as “selas
ideais”, o que devia ser mudado concretamente dentro das prisões, ele somente toca
naquilo que devia ser respeitado na entrada do individuo na prisão e na saída, sem tocar
na sua permanência nas mesmas.
Olhando para a análise de Foucault pode-se observar que ele problematiza a questão da
criminalização do criminoso, e muitas vezes esse criminoso é de classe social baixa, e
independentemente do delito que esse criminoso tenha cometido ele é conotado como
criminoso ainda no processo de julgamento, e é por essa razão que quando o criminoso
entra na prisão não tem o devido acompanhamento com vista a mudar o seu
comportamento, visto que o próprio sistema já o conota como tal, independentemente
do deleito que o individuo tenha cometido.
Contudo, pode-se concluir que embora as formas de punição tenham ganhado novas
formas nas sociedades, o sistema moderno de punição (privação da liberdade) apresenta
défices, visto que não se tem alcançado definitivamente o objectivo da sua criação que é
a regeneração do indivíduo criminoso para posterior reintegração social. Isto é, a
privação a liberdade nem sempre tem sido a melhor forma para disciplinar o criminoso
devido a ineficiência e eficácia dos métodos aplicados para a reeducação do criminoso
no decurso do cumprimento da sua pena.
6. Referências bibliográficas
FOUCAULT, Michel. Vigar e punir: nascimento das prisões. 27ed. Editora vozes.
Petrópolis. 1999.