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EZ CIRINO DOS S_,,"-"'i:TOS


Professor de Crímínologta e rie Direito Penal na. pcnttric ía "Uni,;'er-s:-
dade Católica do Rio de Janeiro, na Faculdade de Dfre Itc Cândido
Me ndes-Epa nema e da Universidade Estadual de Londrína. !'.Iesf.re
em Ciências Jutid icas pela PUC-RJ.

0785 A CRIMINOLOGIA DA REPRESSÃO


UMA CRÍTICA AO POSITIVISMO EM CRIMINOLOGIA

DEDALUS - Acervo - FD

\l\\\m\~la\W\\,I~~i~\UlM\~~!!\~
20400056938

1, . FORE."lSE

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-i Belo Horizonte 1904 1979 Rio de Janeiro

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1Y ediçaú ~ 1979

© COp!/1'lght
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,-- ~ - "'" Juarez Cirino ào.s Santos


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CIP-BrasiL Catalogação-na-fonte-
Sindicato Naciona.l dos Editores de Livros, RJ.

Ij
i Santos, Juarez Ctrino dos.
S235c A Crtmmotogta da repressão uma critàca ao
I pcsltãvísmo em ct-im inolcgf.a. _ Rio de Janeiro : Eo-
rense, 19"79.
À Ione, Jninha mulher.

Btcãtog rafia

1 Cràm motog ia u"_ Teoria 1. T'it nlo

CDU - 313.9.UO'
"79-0574 .-34.1_5901 . .

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\~ -..::>.~ b ~-<:! rvados os direitos de propriedade desta edição pela
'<".. ~e,' COMP~"1!IA EDITORA FORENSE
rasmo Braga, 299 - 1.-0 e -2.0 andares - 2002.0 - Rio de .J aneíro - RJ

Impresso noBrasU
Prinleâ in Brazü
SUMÁRIO

IX

I L O problema da teoria erímínclógtca .


1
1

I 2.
3.
O propósito do estudo da teoria crimínológíca
As hipóteses de trabalho ..
2

tr 4. A metodologia _.. _" _. _ <5

i 5. O interesse cientifico ~ + __ • 6
!
L o PROCESSO DE CoNBECII\:fENTO CIE.!"TiFICO

1. O objeto real 11

2. Os problemas do método 13
;

~ 3. A teorta científica 2G
,I'
,1:! 11. A TEDRI.!i.... CRIMINOLÓGICA _ .. _ . 29
I. A torrnacâo social capita íísta e as teorias ut.i-
li tárias : ~ crimínologia clássica _. _. . . . . 31
2. O comportamento cr írninoso sob o método po-
sttívo _ _ __ 42
a) .o -determinismo
~ -
do comportamento .....
b) Ã nàItraUdade do cientista . 50
A quantificação do comportamento 51
f-O. --- -__---'----

ViII JUAREZ CIRINO nos SANTOS

L O Positivismo biológico 55

n. o Positivismo sociológicc 71
i
O crime como patologia social 73
I 1.

2. O erime como produto de desorgani-


86 NOTA PRELIMINAR
zação social - .
3. A perspec ti va do compor tarnen to des-
viante _ - . 93 Este trabalho foi apresentado como tese para obtenção
a) A teoria da anomia: Roberto do título de Mestre em Ciências Jurídicas, na Pontifícia
Merton _ , .. !l6 Universidade Católica do Rio de Janeiro, defendido e apro-
b) A teoria da organização e asso- vado <em exame público (junho de 1!178) e recomendado para
ciação díterenctal: Edwin Sut.her- publicação.
I
land .oo+ _ • • • • • oo •• oo __ • .oo 106
Expresso, aqui, m: nha admiração e respeito à banca exa-
UI. CONCLUSÕES __ 113 minadora, composta pelos professores João Mestteri (orienta-
a} Sobre os pressupostos do processo de co- dor), Celso Albuquerque Mel lo e Miri arn Limoeiro Cardoso, e
nhecimento . 113 .11. ~:..J.S agradecimentos à Fundação Universidade Estadual de
l.n Sobre o conteúdo ideológico da teoria pu- r_o,,~et~'j ila E à Coordenação do Aperte-çoaroento de Pessoa; de
sitívista . _.. - ----- . 114 ::-":í'.-e~ Superjor, que, pela porit ica ce fonnação de tECU~-:SOS

REFERÊN eras B !3!.. TO GRÁF I CAS I ~~:::::2 XP.D;'ooS


ruruanos para o ensino super.or, tornaram possível a rea li-
IV.
:c::~:;,,~8.0 deste tracalho.

JUAREZ CIRINC DOS E.~~TC-S


INTRODUÇÃO GERAL

UM PROJETO DE TRABALHO TEÓRICO


1_ O pToblel1VX da teoria criminológica.

A questão crucial da crímínologia é que não existe uma


ciência criminológica, mas várias teorias criminológicas dis-
"tintas. Não se pode falar de lL.""11a ciência criminológica. como se
~ala~ p. ex., de UITia ciência bíológica, química, física. etc., isto é,
como um conjunto de conhecímentos sistematizados, mais ou
menos incontroversos, obtidos conforme um método adequado
de um objeto precisamente definido. Existem teorias crimí-
nológicas não só diferentes entre si, mas, às vezes, radical-
1;
: ;
mente contrárias; essa divergência não se limita ao nível
r·: teórico das generalizações, ou seja, à própria. teoria cíentínca,
1
ri: as se enraíza nas q uestões tundamentais da. d.efi'[tição do
objeto da críminclogia, e na decisão relativa ao método de
estudo desse objeto. Assim, em princípio, não se pode falar
em teoria criminológica senão significando essa pluralidade
de teorias crirninológicas diversas, conflitantes nos seus pres-
~. supostos, postulados, metodologias, orientações, propósitos e
con te údo eent.íüco, compreendendo uma controvérsia qUB S~
estende desde Os posí ti visrnos biológicos e sacio lógicos de uma
crímtnología, que se pode definir como convencional ou ccn-
sensualista, até, as concepções radicais do comportamento
desvían te e dQS-"·~1Jrocessos de repressão criminal, fundadas
nas categorias do riJaterialisrno histórico, passando pelas teo-
rias rotuladoras ou mteracíonístas, os enfoques naturaüstas

~-
2 A C8:iMINOLOGI..... ~_'" Rf:P::t~SÃC 3

e Ienomenológicos e as teorias conflituais mais ou tEt'110S ~;. realrzacáo d-esse propósito geral não é possí v el sem
dia.letízadas, que podem ser definidas como críticas. urna prévia seleção e organização da matória (teoria crimi-
O simples enunciado da variedade de perspectivas e mul- nológica) segundo as exigências dos critérios gerais que in-
tiplicidade de explicações da teoria criminológica § suficiente formam as hipóteses deste trabalho. E-ssa seleção e organrza-
para revelar a extensão (a) da controvérsia existente na cão d a matéria podem ser simplificadas se, partindo da idéia
chamada ciência criminológica e (b) da diversidade da pro- geral da posição ou papel da teoria criminológica em lace das
dução teérica que se apresesta sob o selo de criminologia. questões políticas de interesse e de poder institucionalizado,
De um ponto de vista formal, essa situação gera um "dotarmos um esquema que distribua essa teoria segundo ÜS
estado de perplexidade em relação aos pressupostos episte- seguintes critérios: a) teoria criminológica convencional ou
mológicos do conceito, do objeto e do método da ciência cri- consensual, que assume os valores sociais dominantes como
mmológica, Ent.retantD, essa perplexidade não é nada com- premissa do seu trabalho teórico; b) teoria crimínoló gica cri-
parada ao impacto produzido pela introdução de critérios tica' que desenvolve o seu trabalho sobre um questionamento
políticos na ava!iaç ão dessa ciên cia criminológic a, como dê n- dos valores sociais dominantes em relação aos quais o crime
cía social: critérios de conteúdo político ou de significação e defi n ido e re prím ido.
social da teoria crímrnológíca capazes de revc.ar o pape: Esse esquema geral tem a vantagem de estabe!('cer uma
desempenhado por essas várias teorias no contexto geral das congruência de critérios gerais -entre a teoria criminológica
relações de interesse e de poder que definem a estrutura social. e a teoria social, através do conceito comum de ideologias
dominante e dominada, em cujos contextos se colocam, res-
2. O propósito do estudo da teoria crirninouunca pectívarnente, a teoria convencional e a teoria crítica do
desvio: no prirneiro caso, compreende-se a teoria- produzida
G estudo da teoria criminológica é orientado, basica- pe!o positivismo biológico e socíoíógíco; no segundo caso,
mente por esses crit2rios gerais de seu conteudo potí tico ou
I
compreende-se a teoria produzida pelas- perspectivas rotula-
significação social, e, assim, o propósito desse estudo se dIrige dora . t-enomenológica.. confHtual e radical.
:i para a verificação da teorização criminológica segundo algu-
J.-Ias não {:- só. Essa classificação da matéria apresen ta,
mas hipóteses gerais extraídas dessa orientação.
,:, ,linda, a vantagem de permitir desenvolvimentos teóricos rc-
O embaraço criado pela íntrodução dêSS2S c::riL~2'j,~::, iaL:/alnente independentes dessas duas orientações divergen-
exig-e um estudo .sistemático e geral do que se apresenta come í c3 da crirmnologia, cada um deles constituindo Un.1 conj LUÜ-C'
: corta, criminotógíca, Esse estudo sistemático trariscende ("-s j ncegrut na estruturá. de seus pressupostos e conclusões, mas
umítes formais das q uestões de conceito, objeto e método. que somente em conjunto compõem a unidade geral do pro-
para colocar, dialeticamente, a teoria criminológica no COl1- ~eto. Assim, ,enquanto o projeto prevê, como uma unidade,
text-o- maior da- teoria soe.a! e~ em segu.da ~ procurar deter- uma ampla pesquisa teórica da chamada ciência crímino-
minar (aj o conteúdo. ideológico ou significação politica das tóg.ca, o plan6/dê...,e xecução desse projeto pode compreender
várias teo rias. criminológicas- e (b) as- questões de int eress ~ a distribuição da matéria em corpos distintos, segundo os
material e de poder .politíco su-bí aeentes af?SSa teor ízação. c;-itérios já enunciados, sem prejuízo de sua inteireza teórica,
.: ?aTt~_ de~-5e esquema, o trafiatno -;: 2 proposto, pC:L ~
o:::C.:-icc ~. uivergência entre as várias teorias crf.!T~irlcljgi.:2.s
2..

saríc na sua unidade geral, pode ser executado separadamente. não se Emita às questões acadêmicas ou formais eles seus
conforme os critérios referidos: compreendendo, de um lado, pres-supostos epistemológicos, mas, ao contrário, as vártas teo-
as teorias convencionais- e, de outro, as teorias criticas da rias criminológicas se distinguem pelo conteúdo político ou
chamada ciànc.a criminológica. De a cardo com esse plano, o sign~~ic:a_ção social da. sua teorízação;
tr atalho ora apres entado, a pás uma análise geral dos pres-
supostos epistemológicos do processo de conhecimento cien- 3. a análise da teoria criminológica segundo O seu con-
tífico, constitui a primeira parte do projeto, consistente na teúdo po Ií tíco ou significação social introduz um critério de
descrição e critica da teoria convencional em criminologia; a cl assi ücação que perm i te definir a teoria cominológica como
segunda parte do projeto, orientada pela mesma idéia básica, ciência ideologicamente comprometida;
será desenvolvida posteriormente. Enqua."1to a naturesa da 4. a teoria criminológica faz; parte da teoria social geral,
matéria índíca a conveniência dessa forma de esquematizá-
e, portanto, está relacionada às q uestões de valor e aos con-
cão, a sua extensão e complexidade a tornam necessár!a
fiitos de interesse da sociedade;
1
3. As hipoieses de traoaiho 5~ a ligação da teo~'" criminológica com as questões de
valor e ecníütos de in t-E;~·-->:-~ não pode ser explicada em um
As hipóteses gerais que orientam este trabalho estão liga-
-,,
n ~:,:' defin i ciona1 abstra t/~ mas ao contrário só pode ser
í J f
das a algumas questões formuladas de um modo bem simples:
explicada. ao nível concreto das relações sociais materiais, que,
(a) o que é a- teoria criminológica? (o) qual o objeto dessa
nas sociedad-es divididas, são relações de classes {e t portanto,
teoria? (c) € o método? (d) qual a relação entre ciência cri-
a teoria criminológica está iigada às relações de poder mate-
mino1Ógtc a e poder político? (e) qual a sig nifi caç ão po~ ~ t ~ c ~
r ial ::)niit~co das sociecad cs de classes};
da teoria criminológica, ou a teoria- erirninológ ica tem con-
teúdo idEOlógico? (f) o objeto da crirmnologia pode ser defi- ~~ a teoria criminológica, em urna sociedade de classes,
nido COD10 um problema cien tíríco, ou é, antes. um problema pode realizar um papel (a) repressivo e mistificador ou (b)
poli tico? etc. nbertário e conscientizado r , na medida em que racionaliza,
É claro que, como em todo trabalho teórícc, essas assun- teorrcarnente, os interesses políticos da ideologia dominante ou
(~Ó8S gerais ou hipóteses inttuír am no desenvolvtmrntn desto:- dê. i~eologia Ur-minada;
trabalho, e, para auxiliar na compreensão da sua o rientacâo
não existe uma ciência criminoiógica gerai, mas uma
geral, algumas dessas hipóteses podem ser assim explicitadas :
:' püliUc8.- soc~al geral, que compreende u: .s política crrminat
1. não existe uma ciência. criminológica como conj unto específica, a cujas ortentações, propósitos € apelos está Iígada
sístematízaõo de hipóteses e de teorias sobre um objeto deter- 2- teoria e pesquisa criminológica admitida corno ciência. (e~

minado, estudado conforme um método incontroverso, mas portanto, com(l'.Jl1tr~âmetro legttimador da política social cri-
varias teorias criminológicas distintas com objetos reais diver- minal, expressa -no ilstema punitivo legislado e nos processos
sos e métodos diferentes de estudo desse objeto; de sua aplicação).
J UAR E:Z CIRINO DOS SIL NT'OS
A Cz i :.IlNOLOG!A D.-'.. R E?RESS .~.O

4. A metodotoqia L'::':::!~v_n e da ~ evoí ução dos métodos e processos d~ pensa-


mente estabelecidos, aí se compreendendo, especialmente, a
A metodologia deste estudo é dada pela definição de seus demonstração de que o que se apresenta como ciência segundo
t I propósitos e explicitação das hipóteses de trabalho que o ori- certos critérios não o é segundo certos outros critérios mais

i
I:
t'
entam: consiste no estudo teórico sistemático das várias teo-
rias criminológicas, segundo os propósitos gerais e as hipó-
gerais, e que o que aparece como incontroverso ou sagrado
é, apenas, o dogmatismo de um conhecimento petrificado
! I\ teses especüícadas. na versão unilateral de determinados fenômenos.
:
'A execução do estudo é orientada por critérios de seleti- A mudança no modo de pensar não é o produto necessárlo
vidade fundados na representatividade das produções teóricas de uma posição crítica, mas só pode ocorrer como produto de
individuais em relação-I>Ql;-enfoques, perspectívas OU teorias uma posição crítica. O interesse científico do pro] eto consiste

l
l
j
consideradas, ESS<l- seletividade do estudo teórico é necessária
e~ fâcé cRi' extensão da produção teóríca, em qualq uer das
orientações conSideradas:· .. .
A prod uç âo teó r ica será sistema t.ízada segundo os para-
digmas gerais adotados, e, dentro de cada paradigma, em
nesta tentativa: evidenciar o conteúdo ideológico de um ciên-
cia social apresentada como neutra, sob a convicção de que a
revelação do compromisso ideológico de qualquer ciência SQ-
cial possui uma concreta fecundidade teórica, inexistente nas
posições acritícas que desconhecem esse compromisso.
,
"" perspectivas ou en toq ues maís ou menos especificados.

:o . O interesse cient i fico

No período tecnológico das sociedades industriais, as ideo-


logias políticas buscam legitimação, entre outras forrna.s, na
incorporação do vc.cabulário e de outros signos da ciência,
através dos quais difundem o seu apelo pelos meios de comu-
nícação de massa, produzindo um consciência social mis t.ifi-
cada e estimulando uma ciência social ideologizada.
Essa tendência coloca a necessidade dp disttnguír o q ue
é científico do que é meramente ideolÓg-~:...'('. no processo de
teorízação do real, e em que medida o prestigio da ciência é
absorvido pela política. Por outro lado, a difusão de uma
certa ideologia científica positivista, sob a forma de crença
no poder da ciência sobre questões políticas, obscurece o fato
de que ciência não é, somente, o conhecimento obtido pelo
método positivo, e que, às vezes, esse tipo de conhecimento
não constitut ciência, ou não pode mais ser tido como ciência.
A história da ciência é, wbretudo,a história. da critica da

<i71 - 2
I

o PROCESSO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO


As produções teóricas mais gerais são erigidas, normal-
mente, sobre definições de conceito, delímí tações de ob j eto
e determinações de método de estudo desse objeto. Na base
desse procedimento situar-se-iam exigências epistemológicas
de status científico do conhecimento, como um conjunto sis-
tematizado de teorias estruturadas sobre um objeto, segundo
determinado método: não seria concebivel uma ciência in-
capaz de detinir as generalizações teóricas que a constituem
(o q Ué é), de delimitar o objeto dessas. generalizações teóricas
(o que estuda), ou de determinar o método de conhecimento
do objeto e de produção de suas generalizações (como estuda
o objeto).
lSSSas questões preliminares} demarcadas torrnalruent e
co ITl. muita ênfase} são aspectos inseparáveis de LLl1I.a unidade
,·ea! produzida por uma complexa relação de determinação e
dependência recíprocas que repelem tais simplíficações Iormais
2 não podem ser assumidas sem serem explicadas. É adrníssívet
C; ue a organização do conhecimento em um sistema coeren te
c integrado pressupõe a sua aquisição segundo U1!1 método
confiável (cuja uniformidade e constância possibilitem a pro-
dução dos mesmos resultados nas mesmas condições) e vál idc
(cuja cperacíonafízação produza ou reprodusa a realidade es-
tudada): a collfiab'wdade do método dependeria de sua exa-
tidão, conslstente na precisa especificação dos procedimentos
empíricos de determinação do conteúdo das hipóteses, e de
n

sua. obj et.ividade, ínterida da não-dependência da habil idac ~ :-",:'iG, ',.:erific3.1,:e11Jür Un1 processo inverso ao de sua aqussíção :
individual ou da interpretação pessoal; a validade do métod« a v::.;.Hdade de uma teoria. depende de sua capacidade de orien-
dependeria da validade dos indicadores da realidade estudaria, tar a intervenção sobre o objeto teorízado, ou, em uma for-
condicionando a valrdade das teorias produzidas pela sua mulação consagrada, a validade de uma teoria só pode ser
aplicação. 1 verificada pelos resultados de sua prática, 2 .
t
Mas a questão o método não se põe de forma abstrata.
nem como decisão arbitrária: possui uma natureza instru- "O problema de se ao pensamento humano cor-
mental, na' medida em que pressupõe um sujeito cognoscentc responde uma verdade objetiva não é um problema
que o aplica, e uma gênese determinada pelo real, ao qual de- de teoria e sim um problema prátwo. É na prática
ve ser apropriado. Assim, a questão do método não pode ser re- que o homem tem que demonstrar a verdade, isto é,
solvida independentemente do objeto que o determina e do su- a realidade, e a força, o caráter terreno de seu pen-
jeito que o aplica, eonformecertos -coneeítos e orientado por samento. O debate sobre a realidade ou irrealidade
certos propósitos, em ama unidade substancial só separável ar- de um pensamento isolado da prática é um problema
t ificia! mente. Nessa relação unitária, o obj eto em te co mo pu ram en te escolástico."
realidade concreta, cuja natureza determina o método ade-
1. O objeto reai
quado ao seu conhecimento; o método, como ínstrumento
dependente construído pelo sujeito cognoscente para a apro-
A realidade do objeto decide questões fundamentais: a
priação científica do objeto; e o conhecimento como a resul-
objetividade do que exist-e afirma a primazia do real, porque
tante teórica da relação entre sujeito do conhecimento e
.'0 pode ser conhecido o que existe e, portanto, a nrímaríe-
objeto real, condensada nas informações sistematizadas da
d8.de do ser sobre o pensamento. 3 -
objeto. Essa relação entre sujeito que conhece e objeto real,
mediante um método apropriado ao domínio desse objeto, De uma forma geral" todos os objetos são naturais e
não é natural nem espontânea, mas obedece a um propósito históricos, porque existem no contexto espacial da natureza
definido: é esse propósito que demarca a diferença entre co- e .se desenvolvem em uma dimensão de tempo nístórco como
nhecimento científico e conhecimento vulgar ou comum, que, realidade objetiva independente do suj eíto cognoscente. Mas,
embora incessantemente acrescido pelo conhecímento cienti- ern um sentido mais restrito, esses objetos podem ser agru-
fico adquirido, não pressupõe o rigor daquela relação. Final- FJ·do3 em duas categorias gerais: os objetos naturais das
mente, a distinção entre validade do conhecimento e con- ciêncías naturais (como a física, a bologia, a química etc.)
Habilidade do método completa-se com a referência deste a (: c: objetos históricos das ciências sociais (corno a Economia,
objetividade do real e à exatidão de seus procedimentos ope- o direito, a política etc.).
racionais, e daquela à adequação da teoria ao objet-o teorí-
~ rd.~.Rx, K.~. -~Teses zobTe Peuerbacti, 11, Textos, 1, Edâçôes se-
c íaís. São paulõ,>191.5.,., p. 118.
1 Ver: :MAYNTZ~ .R., -Ham, K. e HO.E:BNER~ P. - tntroauctson t-o
3 'Ver ALTHU.sS:=::'R~ L. - Resposta a John L~d}~S, Posições _ 1, Edi-
Empiri.cal Sociology, Penguin Rducattcn, Middlesex, England, 19'76,
pp, . 21-2: . , ,;:,ões GIaal, 1978, p. 3L
A CEIMI~OLOGU D..... R::?::>:::ssIo

Os obj et.os »aturcu. são suscetíveis de precisa deterrní- íícadas ou in üuenciadas por ele, o que sigrunca que o hornem
nação, o que significa que podem ser identificados e descritos, é, a um só tempo, sujeito e objeto das relações sociais: ,~
E qUE a questão dependente do método pode ser resolvida: a
observação regular desses objetos possibilita a formulação de "Os homens fazem sua própria hist-ória, mas não
hipóteses gerais explicativas das relações que os constituem, a fazem como querem; não a íazem sob círcunstán-
e a reprodução experimentat dos fenômenos observados, SE- elas de sua escolha e sim sob aquelas com que se
gundo os propósitos e conforme técnicas determinadas do defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo
sujeito experímentador, possíbílita a verificação empírica passado. A tradição de todas as gerações mortas
dessas hipóteses. O método indutivo da generalização de oprime, como um pesadelo, o cérebro dos vívos."
hipóteses, a partir de fenômenos particulares observados em
objetos naturais, é adequado à natureza desses objetos e per- De um modo geral, a origem, desenvolvimento e trans-
mite a acumulação de conhecimentos positivamente adqui- formação das relações sociais em que se desdobra a exístêncía
ridos, cuja organização em um sistema coerente define a humana são o objeto das ciências sociais, um objeto que se
exístêncía de uma ciência natural desses objetos: as varia- contunde com o próprio sujeito que o conhece: não poderia ser
ções das técnicas e procedimentos específicos a cada setor maio r a dif crença entre as ciências da natureza e as ciências
da ciência natural não afetam a unidade do método geral. da sociedade: .-.
Os objetos históricos constituem uma categoria comple-
tamente distinta de fenômenos: primeiro, não possuem a "O que é significativamente diferente nestes dois
corportücação concreta dos objetos naturais, que permite a campos é a situação dos investigadores, e, como parte
sua manipulaçâo conforme hipóteses extraídas de sua obser- dela , suas atitudes com relação aos seus "obj;tos";
vação; segundo, a sua existência não é naturalmente dada, é, para dizer em poucas palavras, a r elaçáo entre
mas socialmente construída, porque existem e se desenvolvem "suje2tos e "objetos"
H
Mas as ciências sociais, de
+ ••

corno prq:tutDs da atividade social do homem. Mas esses uma forma diferente das ciências naturais, estão
objetos sociais não são menos reais: a atividade humana não preocupadas com conjunções de pessoas. Aqui, de
constitui uma categoria abstrata, mas a ação real àe índi- um modo ou de outro, os homens enfrentam-se a si
víduos concretos no curso da história. Essa ação real de mesmos; os "objetos" são também "sujeitos".
Indivíduos concretos não é isolada, mas só existe como relação
social nistór ica entre os indivíduos; a natureza dessas rela- Ess 8:S r ela ções sociais são, prt ma ríamen te, relações de
ções sociais, como forma de existência da atividade do homem. criacâo da.-3 condições materiais necessárias à produção da
está ligada a certos modos históricos de produção social da vida hlli"'11ana, configuradas em modos e formas h.istoríca-
vida humana e, como tais, elas não são recriadas 2.. pa-rt-ir às
"" 1'.IA.?_x, K. r:---I? 18 de Bru-mário- de Luis Bonasiarie, Textos, 3.
cada. indivíduo; mas, ao contrárto, cada indivíduo produz R
Edições socrais, ~São""~aulo~ 1:977~ p. 2-03.
sua existência no contexto dessas relações, que, ao mesmo 5 EL!."..S, NO::::'3E::i:T - ProbZems- o[ tricatnemens cnâ Detach.meJ?.t>
tempo que o rnodiftcam ou influenciam, são, também, medi- ~n Mcder n Soc.iolcgy, Pengu in Educat.ion, 1976, 9. 61.
JiJ,Ei:EZ C!8.tXO DOS S.~:--lTOS 15

men te variáveis, determinadas e determinantes, do processo ... ., C-T:1 que O concreto histórico: COE10 s.ntese «e múltiplas
social de transtormaçâo da natureza para ajustá-la à satis- rlt:?ten::J:Ü"iaçCí'3 e.. portanto, corno unidade na- di\'er-"2li8.0.ê 8 J

fação de necessidades e interesses humanos. Os molas ccn- reduzido ao seu aspecto de diversidade formalizada naquelas
eretos de estruturação.dessas relações (entre os homens e cem disciplinas. Descartando, por enquanto, a adequação desse
a natureza) dependem do poder de interv-enção e transfor- método, nota-se que uma particularidade desse objeto social
mação da natureza, definido pelo nível de desenvolvimento in tsgrado por sujeitos é que as relações que o constituem têm
das forças produtivas. A atividade humana, no conjunto uma existência e significação objetiva independentes da von-
dessas relações, não produz somente as condições materiais tade individual: enquanto a atividade humana exisce e é ex-
da existência, mas também as idéias que desenvolvem, aper- pi ícada como realísaçào do propósito do sujeito, determinado
feiçoam ou transformam o modo de produção social: a natu- por suas representações e-limitado .por sua subjetividade, as
reza e conteúdo dessas idéias aparecem nas formas jurídicas r elaç ões sociais têm uma exístêncía histérica anterior e inde-
e politicas constitutivas do -Estado (e outras formas ideoió- pendente dos propósitos individuais, condicionando sua orí-
gicas) e corresporidem à dialética concreta da unidade de gern, desenvolvimento e possibilidades de realização, e, portan-
relações de produção e forças produtivas: c to, devem ser explicadas pelo que significam para os individues
reaís, isto pelas suas conseqüências históricas concretas.
é,

"Na produção social da sua existência os homens


Assim, um estudo cíentíüco do comportamento social do
estabelecem relações de terminadas, necessárias e in-
homem não pode começar, pela multiforme subjetividade dos
dependentes da sua vontade, relações de produção que
propósito individuais, mas, ao contrário, deve partir da de-
correspondem a um determinado grau de desenvol-
terrnmação do significado concreto das relações sociais htstó-
vimento das forças produtívas, O conjunto dessas
rlcas para a conduta do indivíduo particular. Esse estudo.
relações de prod ução constitui a estrutura econômica
'pe só pode ser estudo do real concreto, principia pelo exa me
da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva
do conjunto das idéias que. disciplinam a organizaçâo social
uma superestrutura jurídica e política, e à qual cor-
li<"~Ela~"la, cuja explicação objetiva está radicada no modo de
respondem determinadas formas de consciência so-
'--i'Ddução, e que aparecem, fundamentalmente, na forma de
cial. O modo de produção da vida material condi-
valores gerais, que atuam como parâmetro da conduta indí-
dona o desenvolvimento da vida social, pol ittca c
vid ual : o conjunto das idéias compreendidas nas formas rior-
intelectual, em geral. Não é a consciência dos ho-
l"L:'J..t:', 8.3. ÜU] em sentido amplo nas formas ideológicas da
mens que determi na o seu s er; é o se li ser 50 ei a!
.>':-!"!i.1ação social, em que se manifesta o significado objetivo
que, inversamente, determina a sua consciência."
. -~~.-~ rcl~,<çc·es sociais históricas, constitutivas da ordem soe ia t.
A unidade dialética desse objeto geral aparece fragmen- e o objeto das ciências sociais. •
tada em categorias isoladas, delimitadas por disciplinas mais
ou menos distintas, como a economia, o direito, a política 2_ Os vToblernas do método
~ -~\.

i ExaD1lnadà a natureza básica do objeto social (seu


t -G1-!A.Rx, K" - Prefácio à Con tri oui-ção para a Critfc a à:2 E co-
1wmia Politica~ Editorial Estampa. Lisboa, 1973, p, 28. morto de existência como objeto histórico), a questão a ser

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<.' v ... eez Crzrxo DOS SANTOS A REP::tESSAo

'::'::'2.::<:::'ida. é- 2. d.o rnérodo apropriado para o ::-::nhecimen t-a -dessF.;' E&S2. "':-:s...Y'~Spo::Hçao se dilui em frustração: a compar:::.-;?":;
ccjeto. Uma solução cômoda foi a transposição do método se capes. E, aparência dos ienômenos sociais, possíoüuar.co ,
das ciências naturais para o estudo de objetos sociais, sob o eventuaímente, categorias de classificação; é incapaz de prc-
argumento da comprovada eficácia do método positivo na duzir um conhecimento das leis gerais íntrínsecas que deter-
estruturação das ciências naturais, com a implicação de que minam a existência e o desenvolvimento dos fenômenos his-
a aquisição do status de ciência exigiria o estudo de objetos tóricos. Por outro Jado, a questão da historíeídade única desses
histórícos como objetos naturais. fenômenos só pode ser admitida como sua especificidade se
Essa tentati va de física social, ou ciência so cial na turat ~ considerados como objetos naturais isolados, uma deforma-
encontra urn obstáculo írnedíato: os fenômenos sociais, obser- ção pressuposta no mêtodo. Mas a rustorícídade dos objetos
váveis de forma assemelhada aos objetos naturais, não se sociais só existe como processo hís tórtco em que a especifi-
submetem à manipulação experimental; possuem nístoríct- cidade do fato isolado é superada pela sua reprodução ou
dade única, que exclui a reprodução experimental, essencial reíterabílídade independente da vontade individual, índícado-
ao método positivo. Essa propriedade promove urna alteração ra da existência de leis internas que determinam, precisamen-
no método, para ajustá-lo ao que se supõe constituir a espe- te, a sua repetição; e, diferindo dos objetos naturais, regidos
cificidade dos objetos históricos: a sua observação possibi- por leis imutáveis, a eficácia das leis internas que determinam
litaria a. sua comparação analítica. A questão do método os processos sociais li.m.itada aos períodos históricos de certos
é

parecia resolvida: sua natureza positiva subsistiria na. obser- modos ou formas de produção da formação social, Além disso,
vação e na comparação dos fenômenos sociaís, preservando-se a comparação é o método primitivo das ciências naturais,
a natureza indutiva das generalizações científicas produzidas empregado para a classificação de objetos naturais até que
a partir de fatos particuiares (exatamente como nas ciências a acumulação de informações sobre esses objetos perrnit.sse
naturais): ;- a reprodução experimental e a verüicação empírica das indu-
zidas relações causais que os produziam. O que se apresenta
"A assunção é de que, nesta forma gerserahzada , como conquista é~ de fato, ínvolução metodológica, que, sob
··0 método científico" pode ser transferido do corpo (J pretexto da imaturidade das ciências sociais, apreende os

das ciências físicas, onde ele se originou, para todos objetos históricos como objetos naturais.
Os outros corpos, para a bíología, assim como para A necessidade de contornar as iimitações de método, em
as ciências sociais, independente da diferente natu- objetas iususcetiveis de reprodução experimentai, dirigiu a
reza ele seus problemas; e que, onde quer que seja pesqusa rnetodológtca para a construção de instrume n t-03
aplicado, operará sua mágíca, Entre cientistas so- l c";g Icos capazes de a uxiliar na. d eterrn inação das re ta çc· e::;
ciais, €U1 particular, não é incomum atribuir 23 díf í- ca usaís de obj etos históricos.
culdades e inadequações de seu trabalho ao fato de Esse ínstrumentaí lógico, como construído em ciências
que eles não vão suficientemente longe na cópia das sociais. é constituído por conceitos (reconhecidos incompletos
ciências físicas." e seletivos) que. 'pré-estruturam a relação entre sujeitos do
conhecimento é obJetos sociais, com (a) referência a algo
EL!.~.s, Kmm:~i:'r, ob, eít., p. 63. experimentat ou observável, (b) precisa determinação da área
JTJ..=..?E:Z CmINO DOS S.".:.N'!OS A C:tI:;"! INOL()G IA D ..... R'E P8:ESSÁO 19

do seu ~!.gn~ii(adi), e (C) definições em palavras de ser::.tÚ~kj .:.u~nid0 .::JC01Ter. A interferência de fatores não cons~derados
íncontroverso, esses conceitos exerceriam funções cogniti\~-:. na ruoótese (variáveis intermediárias ou causahnerite cor-
(reIativa.à organização da observação), avaliativa (reteren te relaci;nadaS) afetando a determinação da relação suposta, ou
à avaliação da percepção), pragmática (ligada à orientação or.gi nando relações causais espúrias, seria evitável pelo con-
da conduta) e comunicativa (capacidade de serem comuni- trole do maior número possível de variáveis conhecidas rela-
cadas) , Seriam suscetíveís de definições real (descrição da cionadas ao fenômeno, e distribuição casual das informações
natureza real-ou-de caracteres -importantes do fenômeno em- resta n t es para eliminar ou reduzir os efeitos de variáveis não
pírico a que se referem) e nominal (fixação formal da signi- controladas. á teorização do método de pesquisa compreende
ficação precisa fundada na definição real do fenômeno em- desde recomendações sobre a ação do pesquisador na mani-
pírícoj , e, finalmente, de operackmalízação (reprodução em- pulação experimental das hipóteses, escalas de mensuração
pírica darealídade correspondente ao seu conteúdo, mediante utilizáveis, tipos de estudos exploratórios etc., até sofisticadas
hipóteses precisamente defínídae-etestáveís) . ' técnicas de organização e análise dos dados pesquísados, 10
Uma hipótese urna explícaçãogeral induzida da ligação
é Ciéncia social se reduza pesquisa social, fundindo pes-
entre fenômenos distintos, definidos como variáveis, e, assim, nuisador e cientista, e o método positivo das ciências natu-
toda hipó tese é Uma relação entre variáveis, As hipótese s rais se transforma no positivismo lógico das ciências sociais:
supõem relaçóes causais de (a) determinação ou de (o) pro- a verificação empírica das hipóteses induzidas pelos cànones
babilidade, Em que a varrável causalmente antecedente é de- metodológícos fundamentaria o desenvolvimento de teorias
finida como independente, e a causalmente conseqüente é Que (a l classificam e organizam OS fenômenos, (b) explicam
defin 'da como dependente: o a variável dependente refere-se as eausas de sua produção e possibilitam a previsão de sua
ao problema socíat concreto que a hipótese pretende explicar (>'éorrência futura, oferecendo (c) uma compreensão de como
pela variável independente, cuja existência pode ser vertücada e por que tais fenômenos ocorrem, e cuja sistematização pro-
diretamente (se o fenômeno pode ser observado diretamente. duz o conhecimento definido como ciência. A posse desse
como pessoa, famílias, acidentes etc.) ou indiretamente .>:' instrumental lógico asseguraria a validade do conhe4imento
o fenômeno não pode ser observado 'diretamente, como c1?_"SêS cientifico adquirido, desde que a operacionalização dos con-
SOc:EaJs, interesses, valores, normas, ideologia etc.) , exigindo, ceitos produza ou reproduza empiricamente o SBU signifi-
neste caso, a selecâo de indicadores, isto é, de fenômenos cado, e 05 j nd ícadores utilizados indiquem, realmente, os fatos
observáveis que indiquem a existência e a natureza dos :fl:~'_::-­ ;:esq uisarios : a confiabilidade do ínstrumen to garantiria a
-observáveis. Esses indicadores (ou o dado da pesquisa) si~~ objetividade do "'conhec1mento.
rrB~i 'aments definidos e cuidadosamente pesquísados em. Dessa forma, o problema da produção ctentíríca seria
amostras ou modelos) em que o problema social pesquisado uma questão de domínio do método de produzir ciência, O
tP (ou variável dependente) comprovadamente ocorre, ou é P""'- pesquisador pede permanecer cego diante do seu objeto in-
iii
I" li
~ . :~\

l' li" S ]J,,'b~'IZ, cít.. pp. 8-21-


R., et rü., oh. 10 Ver lr,.lAyr..TI R."\:t ut., oh. uit., p. 7-31; também, B:ç..aLpWCJ JR.,
J

-::; Ver TURN:E:R~ J. H. - The Structure 01 Sodologfcal Theori!. Tr-,2 H. !v:L _ introdução a pesquisa Social, Zahar Editores, Rio de Janeiro,
Dorsey Press, Illínoís, 1976, p, 6. 1973, p. 21 e segs.
20

.s u..scet·.lvel de experimeritaçâo direta.. pois, desde que domine pu::: mais neu tros q Ué sejam os Instr umenros, ou por ::-:(::.5.2S
(} instrumental lógico de experimentação indireta desse obieto. cbjetívos que sejam os dados, essas propriedades não se trans-
pode construir uma ciência social tão válida, exata e obj eti va, lerem, mecanicamente, ao conhecimento adquirido. Essa irn-
quanto a ciência natura! adquirida pelo método da experi- possibilidade resulta de que a decisão sobre a hipót-ese U" P":-
mentação direta de objetos naturais. A ênfase na sua objetí- tanto, a definição do seu conteúdo) é uma decisão subjetívs.:
vidade explica a definição do método positivista lógico como J é o sujeito do conhecimento que formula a hipótese sobre o
o método científico das cíêncías SOCiais, e aconseqüerrte super- objeto investigado. Assim, a objetividade do 'conhecimento
valorização do método na produção desse tipo de conheci- cíentífieo dependeria, precedentemente, da imparcialidade do
mento, I I -
sujeito cognoscente: 12
A defesa da cientificidade do método se apóia em dois
argumentos principais: a) a objetividade do connecímento "A experiência se formula como hipótese através
adquirido pela sua aplicação; b) a adequação da lógica posi- do ccnhecímento já constítuído sobre a realidade. Só
tiYjsta à natureza real de seu objeto. Conseqüentemente, em seguida é que inclui a observação, sob múltiplas
uma decisão sobre o método pressupõe um exame' desses argu- formas. Não caminha, pois, para uma objetividade
mentos, sob o ponto de vista dos elementos que implicam: dada, mas a formula num método de obj etív ação. n
a neutralidade do conhecimento cientifico em face do sujeito
que o produz, e a correspondência da lógica positivista às A questão, agora, é esta: como é possível a imparciali-
relaçôes reais que caracterizam os objetos ntstoríeos. dade do sujeito, se este, como sujeito, é, também, parte do
A objetividade do conhecimento é extraída da natureza objeto investigado? A relevância da questão está em que o
técnica do ínstrumenat lógico que o produz: esse instrumento conhecimento cientifico não é produzido pelo método índe-
té-crÜco operacíonaliza conceitos através da sistemática col-et-a penderitemente do sujeito, mas, precisamente, pelo sujeito
{;: análise de dados que informam as variáveis das htnóteses. que decide sobre o conteúdo das hipóteses e aplica a técnica
e a obj etivídads dos dados determinaria a objetivid;de das do método para operacionalizar a substância do conceito re-
teorias construídas sobre eles, confirmando ou excluindo as lativo ao objeto. A neutralidade do método ou a objetividade
hipóteses pesquísadas, Mas existe, aqui, um equívoco: pro- do dado não se transmitem, diretamente, ao conhecimento,
dução científica não é o mesmo que quantíücaçãn de dados. sem passar, previamente, pelo sujeito desse conhecimento,
~, assim, a. ob] etívidade destes não se tra.nsmíte, direta- que. assim, se coloca no princípio e no desfecho do processo:
mente, àquela. O conteúdo do conhecímento adquirido depen- decide sobre o conteúdo das hipóteses e interpreta os resul-
de da teoria posta em hipóteses, e se identificaria. corn o con- L2~do5 da sua operacíonaüzação, A questão da neut.ral idade do
teúdo destas, mas o conteúdo das hipóteses (e, por inclusão, conhecímento científico (produto de um instrumental técnico
na teoria) não é determinável pela natureza dos procedimen- neutro) ou da 'sua objetividade {relativa a dados objetiva-
tos técnicos que o verificam, ou dos dados que o informam: mente verificad~)'R-epende, portanto, da imparcialidade de
um sujeito que éXiste.:como parte de seu próprio objeto.
" Ver G.l...ROO-SO, MIRL~:M, L. - O Miio do J..fétodo, Cadernos da
PUC, Rio de .Ianeiro, 19'71, pp, 18, 23 e 33. 1-:.:: C.';...~DOSO, MIRIAM, L., ob. ctt., p. 31.

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