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capítulo 1
Fundamentos de
administração
Neste capítulo, serão apresentados os conceitos que formam as bases
fundamentais da administração sob o ponto de vista gerencial, qualificando-a
como campo do conhecimento. Para uma melhor compreensão desses
conceitos, será explorado o contexto histórico em que foram propostos
e como se manifestam na atualidade. Além disso, será apresentada uma
análise crítica desses princípios, das perspectivas futuras e de outras
possibilidades de se compreender a administração como ciência social
aplicada e, portanto, vinculada às sociedades, organizações e pessoas de
maneira ampla.
Objetivos
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de:
Organizações e sociedade
en- a obtenção dos produtos finais e sua
Na atualidade, ao contrário de outros mom
da hum anid ade, as orga niza - comercialização. Já a educação é as-
tos da história
mid o a resp onsa bilid ade pela sumida e legitimada pela escola, pra-
ções têm assu
ssárias ticamente desconsiderando outros
execução das principais atividades nece en-
to da soci edad e, orga nizan- espaços de aprendizagem. A comunicação
ao funcionamen um com plex o
e imp ond o uma form a de pro- tre as pessoas passa a envolver
do, regulando isões, inter net,
ercia lizaç ão e de cons umo de sistema de correios, rádios, telev
dução, de com domicí-
e serv iços, em toda s as etap as etc. Outro exemplo é o cotidiano dos
todos os bens de água e luz,
. Os exem plos que expl icita m lios, que exige o fornecimento
e esferas da vida a cole tiva.
são dive rsos : para nasc er, há dentre outros serviços, de form
esse pensamento
um ce-
uma maternidade; para o pós-vida, há Enfim, muitos outros exemplos poderiam
ser
crem atór io; para desl ocar -se, há as orga niza -
mitério ou um
siste- citados para confirmar o quanto
se utiliz ar um com plex o e invo lunt aria-
necessidade de ções estão presentes, voluntária
regr as que privi legia m oas,
ma de transpor te com
ento mente, em tempo integral, na vida das pess
os veículos auto mot ores ; para aten dim no, cons oli-
s hos- em especial no modo de vida urba
médico, privilegiam-se os atendimento dado a partir da transição entre feud alism oe
s por plan os de saúd e. te euro peu.
pitalares custeado capitalismo iniciada no continen
a produ-
Além desses exemplos, é possível citar Essa realidade apresenta alguns que
stiona-
que envo lve uma com plexa a leitura
ção do vestuário, mentos que servem para orientar
desde as maté rias-prim as até
cadeia produtiva, deste capítulo.
Técnico em administração: gestão e negócios
1).
Fonte: ©istockphoto.com/viviyan (201
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Para essa perspectiva e para a obtenção da melhor relação entre recursos e resul- DEFINIÇÃO
tados, alguns princípios são fundamentais, tais como eficiência e eficácia, que Eficiência é a correta
são traduzidos para o processo administrativo na forma de ferramentas de ges- utilização dos recursos (meios
tão capazes de apoiar a decisão do administrador (gestor ou gerente). Ao longo de produção) disponíveis,
de todo o século XX, diversas propostas teóricas foram apresentadas com esse preocupando-se com os meios
mesmo intuito, constituindo um conjunto teórico denominado Teoria Geral da e métodos, os quais precisam
Administração (TGA). ser planejados a fim de
assegurar a otimização dos
No Brasil, provavelmente os livros mais conhecidos e citados de TGA e de intro- recursos disponíveis para
dução à TGA sejam os trabalhos de Idalberto Chiavenato (2011). Porém, é preciso a obtenção dos resutados
destacar que outros autores também têm buscado apresentar esse conjunto de previstos.
teorias, tais como:
PARA REFLETIR
O que há em comum nas organizações?
Que outras perspectivas poderiam ser encontradas para a complexa relação entre indivíduos, sociedade
e organizações?
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• análise da tarefa;
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• divisão de trabalho;
Processo administrativo
Segundo Fayol (1990), é função do administrador tomar decisões, estabelecer
Fundamentos de administração
metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades aos demais empregados.
Assim, a atividade administrativa seria constituída de cinco funções: prever,
organizar, comandar, coordenar, controlar.
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Controle Direção
Avaliar os resultados obtidos na Dar instruções sobre como devem ser
busca pela máxima aproximação ao executadas as atividades previstas
que foi planejado, exigindo critérios para a obtenção dos objetivos/metas
de avaliação, medidas corretivas, de estabelecidos, considerando a
manutenção, coercitivas ou de estrutura e a hierarquia da
regulação. organização (vertical/horizontal).
Esse modelo pode ser analisado verticalmente, no qual estão presentes os níveis
de hierarquia e responsabilidade, e horizontalmente, a partir dos diferentes tipos
de atividades desenvolvidas na organização.
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A escola das relações humanas revelou que, além dos aspectos econômicos
necessários à sobrevivência, os fatores afetivos e sociais são importantes
para o trabalhador, já que são pessoas dotadas de sentimentos, desejos e te-
mores.
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(continua)
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Já, para a teoria Y, as pessoas gostam do trabalho que exercem e são esforçadas e
dedicadas. Assim, a gerência tem o papel de intermediar as relações de trabalho e
proporcionar as melhores condições, pois, se o trabalho é algo natural a ser reali-
zado, o trabalhador poderia assumir responsabilidades e o controle do seu próprio
trabalho, com criatividade e competência.
Herzberg (1959, 1976) entende que o ser humano possui duas atitudes diferen-
tes em relação ao trabalho, buscando não só a satisfação de suas necessidades
elementares (higiênicas), mas também o aperfeiçoamento de suas habilidades,
de seu espírito e o desenvolvimento de seu potencial humano. A esses conceitos,
denominou teoria dos dois fatores (Quadro 1.3).
Quadro 1.3 Aspectos do trabalho relacionados com a teoria dos dois fatores
Higiênicos Motivacionais
(continua)
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• o desenvolvimento pessoal;
NO SITE
• a aprendizagem; Mais detalhes sobre Fordismo,
Toyotismo e Volvismo você
• a autorrealização. encontra no ambiente virtual de
aprendizagem.
Vinculados a esse conceito, surgem vários estudos e teorias sobre motivação e
liderança, que evidenciam o desejo de autodesenvolvimento e de realização, ad-
mitindo que o trabalho fornece sentido à existência humana, traz autonomia de
pensamento e estabelece diferenças individuais quanto a objetivos e interesses.
Além disso, essas teorias foram fundamentais para o desenvolvimento da admi-
nistração de recursos humanos (ARH), propondo mudanças estruturais nas or-
ganizações e privilegiando um estilo de liderança mais democrático.
Fundamentos de administração
Na atualidade, a ARH é denominada gestão de pessoas e tem sido tratada como
área estratégica pelas organizações na busca por desempenhos melhores dos tra-
balhadores, segundo Motta e Vasconcelos (2006). Dois modelos diferentes têm
sido apresentados: o instrumental, focado na maximização do resultado eco-
nômico, e o político, baseado na eficiência como resultado de um processo de
negociação entre as partes.
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• Essa teoria pode ser um meio importante de objetivar os campos não do conhe-
cimento científico, especialmente nas ciências sociais.
Cabe abordar alguns conceitos importantes sobre a teoria geral dos sistemas,
C
DEFINIÇÃO
ccomo o conceito de sistema (ao lado), sinergia e entropia.
Sistema é um conjunto de
elementos dinamicamente SSinergia é quando duas ou mais partes do sistema produzem, atuando em con-
relacionados, formando uma jjunto, um efeito maior do que a soma dos efeitos que produziriam atuando indi-
atividade para atingir um vvidualmente.
objetivo, que opera sobre
dados/energia/matéria para EEntropia ocorre quando partes do sistema perdem sua integração e comunicação
fornecer informação/energia/ eentre si, fazendo com que o sistema se decomponha, perca energia e informação,
matéria. degenerando-se.
d
A teoria geral dos sistemas passou a influenciar outras ciências, tornando-se uma
fforma explicativa e uma referência para diferentes ciências, entre elas, a adminis-
tração, para a qual possibilitou uma ampliação na visão dos problemas organiza-
cionais, até então percebidos como fechados.
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Processo de Bens e
Entradas Saídas
transformação Serviços
Recursos de
transformação
A teoria geral dos sistemas considera que as organizações são sistemas que transfor-
mam insumos (recursos) em produtos e/ou serviços e que as partes do sistema ou
departamentos se inter-relacionam, sofrendo intervenções e intervindo no ambien-
te externo da organização.
Talcott Parsons (1964, 1969, 1971) entende que as organizações são a consequên-
cia da divisão do trabalho na sociedade, com atributos da burocracia weberiana,
como uma descrição de funções e papéis, já que “a sociedade está constituída por
subsistemas (estruturas) que operam (funcionam) de modo interdependente,
cada parte do sistema desempenha um papel que busca o equilíbrio e a ordem
social”. Seu modelo explicativo contempla quatro funções de um sistema social
(Quadro 1.5).
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Teoria da contingência
Chiavenato (2011) afirma que não existe uma única maneira melhor de organizar
uma empresa, assim, as organizações precisam ser sistematicamente ajustadas às
condições ambientais. A teoria da contingência considera que, para cada situa-
ção, existe uma teoria ou combinação de teorias administrativas. Não existe um
modelo administrativo ideal ou único que sirva para todas as organizações, in-
dependentemente de sua natureza. Mas, dependendo do objetivo ou problema,
deve-se estudar qual o melhor modelo para gerir a organização. Essa teoria mostra
que não há one best way, mas um leque de opções.
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• tecnológicas;
• econômicas;
• políticas;
• legais;
• culturais.
• fornecedores de entradas;
• clientes ou usuários;
capítulo 1
• concorrentes;
• entidades reguladoras.
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Todavia, elas têm em comum alguns pressupostos vinculados com a atualidade des-
sas organizações e que marcam o momento histórico cultural, como, por exemplo,
a orientação para o resultado e as relações de poder hierarquizadas entre quem de-
tém os meios de produção, ou são seus representantes, e quem detém a força de
trabalho.
Essas abordagens pouco questionam como a sociedade evoluiu até o estágio atual,
partindo do princípio de que o mundo está posto e que as organizações são a forma
hegemônica de produção hoje.
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Para tanto, a administração será situada a partir das proposições de Motta e Vascon-
celos (2006), o que, por consequência, resgata as pesquisas e os conceitos de Max
Weber (2004), apresentados no livro Economia e sociedade, sobre o processo de mo-
dernização da sociedade e sua relação com a emergência do pensamento administra-
tivo e da administração como campo de conhecimento. Além disso, será abordada a
forma como esse pensamento está vinculado com a sociedade capitalista, logo, com
a subordinação do trabalho ao capital e com as formas de reprodução do capital pelo
trabalho.
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PROCESSO
DE
CARISMÁTICA RACIONAL-
MODERNIZAÇÃO
• Processos -LEGAL
identificatórios • Regras
grupais • Normas
• Líder • Direitos e
deveres
• Qualidades
pessoais
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O que é burocracia
Conforme Motta e Vasconcelos (2006), na organização burocrática, as interações
entre os indivíduos devem seguir padrões de impessoalidade, que reprimam a
espontaneidade e a possibilidade de conflitos de interesse. Assim, a burocracia
passa a ser uma solução organizacional com o objetivo de evitar a arbitrariedade,
o confronto entre indivíduos e grupos e os abusos de poder. Seu objetivo é organi-
zar a atividade humana de modo estável para a realização de fins organizacionais
explícitos (MOTTA; VASCONCELOS, 2006).
DIRETORIA
Planejamento
Técnico em administração: gestão e negócios
estratégico
GERÊNCIA MÉDIA
Implementação
das decisões
NÍVEL OPERACIONAL
Rotinização
das funções
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Divisão do • Por mais repetitivo ou rotinizado que a execução do trabalho possa parecer,
trabalho qualquer ação humana exige atividade intelectual, seja reflexiva, de controle
intelectual e ou conceitual.
manual • Da mesma forma, todo trabalho intelectual prescinde do corpo humano, seja
de braços, pernas, olhos ou outra parte qualquer. Assim, a separação entre
trabalho manual e intelectual não está relacionada à divisão existente entre as
funções físicas do corpo humano, embora as utilize como metáfora para expor a
separação entre quem pensa e quem executa.
• A separação está no fato de que o capitalista ou seu representante tem o poder
de pensar (planejar, coordenar, dirigir e controlar) o trabalho que deve ser feito,
Fundamentos de administração
bem como os resultados. Logo, possui o monopólio sobre o conhecimento e os
sistemas de produção, restando ao trabalhador executar o trabalho de acordo
com a prescrição necessária para a realização da produção.
Controle • Está vinculado à pronta aceitação de ordens. Muito mais do que buscar a
hierárquico superação da resistência em cumprir ordens, a hierarquia deseja informações
sobre qualidade e quantidade da produção individual e coletiva.
• Tem por objetivo manter estável a organização do trabalho previamente
definida, delimitando todas as ações do trabalhador e retirando-lhe qualquer
margem de manobra que o permita assumir o controle da produção.
• Assim, o controle é posto sobre o maquinário e a tecnologia, de maneira que
controlem os tempos e as quantidades a serem produzidas, bem como todo o
capítulo 1
trabalho humano.
(continua)
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PARA REFLETIR
Tente descrever como você percebe que esses conceitos estão presentes na sociedade atual. Como você
se posicionaria levando em conta sua atuação nesta sociedade?
Repensando os princípios da
administração científica
A escola clássica propunha que a administração deveria ser encarada como ciência
e, para tanto, precisava de um método científico. Taylor e Fayol (ambos engenhei-
ros), seus principais representantes, o fizeram sob diferentes perspectivas, mas am-
bos mantiveram o olhar sob a organização formal.
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Essas escolas são vistas, normalmente, a partir de suas diferenças, tanto em rela-
ção ao trabalho humano como em relação à gestão da empresa (Quadro 1.8).
Por fim, essa teoria propunha maior satisfação ao trabalhador como forma de
equalizar o descontentamento e melhorar os rendimentos da empresa, ou seja,
sob a visão do gerente. Assim, é bastante ingênuo imaginar que a teoria das rela-
ções humanas contrapõe-se às ideias da teoria clássica, pois os objetivos de ambas
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PARA REFLETIR
Você concorda com a opinião de alguns autores sobre a necessidade de se pensar a adminstração no
contexto brasileiro? Por quê?
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4) Como as teorias administrativas gerenciais podem contribuir para a gestão das organizações?
8) Qual é a relação entre a burocracia, a evolução das relações econômicas e produtivas e a industrializa-
ção?
FAYOL, H. Administração industrial e geral. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1990.
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HERZBERG, F. The motivation to work. 2nd ed. New York: John Wiley, 1959.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. 27. ed. São Paulo: Civilização Brasileira,
2010.
MAYO, E. The human problems of an industrial civilization. New York: Macmillan, 1933.
PARSONS, T. The social system. New York: The Free Press, 1964.
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
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TAYLOR, F. W. The principles of scientific management. New York: Harper & Brothers,
1911.
VON BERTALANFFY, L. The theory of open systems in physics and biology. Science, v.
111, n. 2872, p. 23-29, 1950.
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