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Clúvio Buenno Soares Terceiro

Andréa Ribeiro Gonçalves Leal

capítulo 1

Fundamentos de
administração
Neste capítulo, serão apresentados os conceitos que formam as bases
fundamentais da administração sob o ponto de vista gerencial, qualificando-a
como campo do conhecimento. Para uma melhor compreensão desses
conceitos, será explorado o contexto histórico em que foram propostos
e como se manifestam na atualidade. Além disso, será apresentada uma
análise crítica desses princípios, das perspectivas futuras e de outras
possibilidades de se compreender a administração como ciência social
aplicada e, portanto, vinculada às sociedades, organizações e pessoas de
maneira ampla.

Objetivos
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de:

Identificar as bases do pensamento administrativo gerencial.

Interpretar as diversas abordagens do pensamento administrativo.

Compreender a evolução dos princípios da administração.

Identificar a presença da burocracia na atualidade.

Reconhecer as diferentes formas de gestão das organizações.

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Para começar...

Organizações e sociedade
en- a obtenção dos produtos finais e sua
Na atualidade, ao contrário de outros mom
da hum anid ade, as orga niza - comercialização. Já a educação é as-
tos da história
mid o a resp onsa bilid ade pela sumida e legitimada pela escola, pra-
ções têm assu
ssárias ticamente desconsiderando outros
execução das principais atividades nece en-
to da soci edad e, orga nizan- espaços de aprendizagem. A comunicação
ao funcionamen um com plex o
e imp ond o uma form a de pro- tre as pessoas passa a envolver
do, regulando isões, inter net,
ercia lizaç ão e de cons umo de sistema de correios, rádios, telev
dução, de com domicí-
e serv iços, em toda s as etap as etc. Outro exemplo é o cotidiano dos
todos os bens de água e luz,
. Os exem plos que expl icita m lios, que exige o fornecimento
e esferas da vida a cole tiva.
são dive rsos : para nasc er, há dentre outros serviços, de form
esse pensamento
um ce-
uma maternidade; para o pós-vida, há Enfim, muitos outros exemplos poderiam
ser
crem atór io; para desl ocar -se, há as orga niza -
mitério ou um
siste- citados para confirmar o quanto
se utiliz ar um com plex o e invo lunt aria-
necessidade de ções estão presentes, voluntária
regr as que privi legia m oas,
ma de transpor te com
ento mente, em tempo integral, na vida das pess
os veículos auto mot ores ; para aten dim no, cons oli-
s hos- em especial no modo de vida urba
médico, privilegiam-se os atendimento dado a partir da transição entre feud alism oe
s por plan os de saúd e. te euro peu.
pitalares custeado capitalismo iniciada no continen
a produ-
Além desses exemplos, é possível citar Essa realidade apresenta alguns que
stiona-
que envo lve uma com plexa a leitura
ção do vestuário, mentos que servem para orientar
desde as maté rias-prim as até
cadeia produtiva, deste capítulo.
Técnico em administração: gestão e negócios

1).
Fonte: ©istockphoto.com/viviyan (201

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Administração sob a
perspectiva gerencial
Uma possibilidade de entendimento do caso inicial vincula-se à aceitação de uma
realidade social e econômica orientada pelo resultado das organizações, portanto,
aliada a uma noção de administração que a define como o processo de organizar
recursos para a obtenção de resultados, que serão, em última instância, econômi-
cos. Mesmo nas organizações sem fins lucrativos, o resultado é entendido a partir
do ponto de vista econômico, já que está vinculado a uma lógica de comparação
entre o recurso despendido e os resultados alcançados.

Para essa perspectiva e para a obtenção da melhor relação entre recursos e resul- DEFINIÇÃO
tados, alguns princípios são fundamentais, tais como eficiência e eficácia, que Eficiência é a correta
são traduzidos para o processo administrativo na forma de ferramentas de ges- utilização dos recursos (meios
tão capazes de apoiar a decisão do administrador (gestor ou gerente). Ao longo de produção) disponíveis,
de todo o século XX, diversas propostas teóricas foram apresentadas com esse preocupando-se com os meios
mesmo intuito, constituindo um conjunto teórico denominado Teoria Geral da e métodos, os quais precisam
Administração (TGA). ser planejados a fim de
assegurar a otimização dos
No Brasil, provavelmente os livros mais conhecidos e citados de TGA e de intro- recursos disponíveis para
dução à TGA sejam os trabalhos de Idalberto Chiavenato (2011). Porém, é preciso a obtenção dos resutados
destacar que outros autores também têm buscado apresentar esse conjunto de previstos.
teorias, tais como:

• Antonio Cesar Amaru Maximiano (2010);

• Geraldo Caravantes (1998);

PARA REFLETIR
O que há em comum nas organizações?

Que princípios e fundamentos de gestão orientam sua forma de produzir?

Que outras perspectivas poderiam ser encontradas para a complexa relação entre indivíduos, sociedade
e organizações?

Haveria outras possibilidades para se pensar a vida em sociedade e a administração?

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• Thomas Bateman (1998);
DEFINIÇÃO
• Eunice Laçava Kwasnicka (1995);
Essas abordagens entendem
que a administração é o • Stephen Robbins (2004).
processo de tomar decisões
sobre objetivos e utilização Em
E geral, esses autores apresentam uma trajetória linear da TGA, iniciando pelos
de recursos, sejam materiais, antecedentes
a históricos da administração, desde a antiguidade, passando pela
humanos, financeiros, Idade
I Média, até os dias atuais, situando a administração como uma ciência mo-
informacionais, entre outros, derna
d e focando no processo administrativo. Em comum, destacam os papéis
para a obtenção dos resultados e as habilidades do administrador e as características básicas das organizações,
previstos, sobretudo, na forma além
a da apresentação dos aspectos centrais das teorias da administração científi-
de lucro. ca,
c da administração clássica e neoclássica, das relações humanas, estruturalistas,
comportamentais,
c de sistemas, sociotécnicas e de contingência.

A seguir, são apresentados os aspectos centrais das principais abordagens do pen-


samento administrativo gerencial consolidado ao longo do século XX.

Antecedentes históricos da administração


A hegemonia das organizações, expressa no caso inicial, constitui um conjunto de
IMPORTANTE
fatos históricos, sociais, políticos e econômicos da atualidade. Isso não significa
Henry Ford foi
que não existiam organizações ou que não havia administração antes do século
o precursor da
XX. Ainda na antiguidade, havia uma preocupação com a administração, o que
produção em massa
pode ser verificado no livro A república, de Platão, na estrutura de comunicação
com a adoção da
entre Moisés e o povo hebreu, nos registros egípcios sobre a burocracia ou no pla-
linha de montagem,
nejamento estratégico grecoromano.
que se tornou um
ícone da administração Deve-se destacar também a influência da Igreja Católica e dos exércitos militares
científica. A ideia central na hierarquia, disciplina, descentralização de atividades e centralização de coman-
do fordismo consistia em do, entre outros antecedentes presentes ainda hoje nessa perspectiva de adminis-
acelerar a produção por tração gerencial.
meio do trabalho ritmado,
coordenado e econômico,
diminuindo o tempo de
duração da produção com a Administração científica
rápida colocação do produto
no mercado. A produtividade O principal autor do movimento da administração científica foi o engenheiro indus-
poderia aumentar, aprimorando- trial americano Frederick Winslow Taylor, comumente chamado de pai da adminis-
se a capacidade de produção tração, devido à sua preocupação em tratar a administração de forma científica e não
do trabalhador por meio da empírica. Seus principais conceitos foram apresentados principalmente nos livros
especialização e da repetição. Shop management (1903) e Princípios de administração científica (1911).

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Taylor entendia que havia um grande desperdício de recursos (materiais e tempo)
e que não existia um processo de gestão capaz de obter maior eficiência produti-
va. Assim, focou suas propostas na análise das atividades e tarefas desempenha-
das pelos trabalhadores industriais da virada dos séculos XIX e XX. No seu enten-
der, havia um método correto de trabalho que garantia resultados e também uma
forma errada que leva ao desperdício. Assim, suas principais propostas da organi-
zação racional do trabalho (ORT) foram:

• análise da tarefa;

• a seleção científica do trabalhador;

• o estudo de tempos e movimentos;

• padronização do trabalho e treinamento intensivo.

Os princípios e as técnicas da administração científica procuravam combater o


desperdício e aumentar a eficiência da produção por meio da racionalização do
trabalho. Este deveria ser realizado seguindo os movimentos necessários para a DEFINIÇÃO
execução da tarefa, dentro do tempo padronizado para sua execução, com gran- A ORT é um conjunto de
de centralização do poder, pequena amplitude de controle e impessoalidade nas medidas que envolvem
decisões. a seleção científica do
trabalhador para que
A ORT prevê uma separação entre os gerentes, que definem, planejam e contro-
desempenhe a tarefa mais
lam o trabalho e os operários que o executam. Para isso, é necessário que uma
compatível com suas aptidões.
tarefa seja dividida no maior número possível de subtarefas, tornando-a simples
Assim, é capaz de adquirir
de ser desempenhada, formando, assim, o desenho de cargos e tarefas.
maestria a partir do treino e
A ênfase na tarefa tem como objetivo o aumento da produtividade da empresa da repetição de atividades
por meio do aumento do nível operacional, partindo da ideia de que o homem é padronizadas, tanto o tempo de
um ser eminentemente racional, que pode sempre escolher a melhor alternativa e execução como os movimentos
maximizar os resultados de sua decisão. a serem realizados.

Dentro do conceito de homo economicus, o movimento da administração científi-


ca vê o ser humano como alguém preguiçoso, egoísta, que não gosta de trabalhar.
Entretanto, diante do medo de passar fome e da necessidade de obter dinheiro
para sobreviver, o homem procura o trabalho. Assim, é fundamental para a em-
presa adotar um plano de incentivos financeiros e ter supervisão direta para obter
maior produtividade de seus trabalhadores.

PARA SABER MAIS


Mais informações sobre a linha de montagem de Ford e suas relações com o consumo de carne e da
produção em massa você encontra em Peinado e Graeml (2007).

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Teoria clássica e neoclássica
A teoria clássica está focada em dois alicerces: na definição de uma estrutura
e na definição de papéis que precisam ser executados nessa estrutura, com es-
pecial atenção para os papéis desempenhados pelos administradores. As con-
NO SITE
tribuições da teoria neoclássica foram o foco nos objetivos e nas metas que
Assista ao filme Tempos
deveriam referenciar tanto a estrutura como a atuação dos administradores.
modernos, de Charles Chaplin,
disponível no ambiente virtual A preocupação inicial de Henri Fayol, engenheiro francês que primeiro defen-
de aprendizagem: deu as ideias da teoria clássica, estava vinculada ao crescimento industrial do
www.grupoa.com.br/tekne. início do século XX. Ele entendia que havia funções administrativas a serem de-
sempenhadas em todas as estruturas produtivas, principalmente na área indus-
trial, como governo, militares, entre outras. Fayol partia da análise de que todas
as operações de uma indústria poderiam ser divididas (Quadro 1.1).

Quadro 1.1 Divisão das operações em uma indústria

Técnicas Relacionadas com a transformação e com a produção


de bens.

Comerciais Oriundas das transações de compra e venda.

Financeiras Vinculadas à obtenção de captação.

Contábeis Realizadas de acordo com os registros necessários das


movimentações patrimoniais.

Segurança Voltadas para a preservação e a proteção de seus bens.


Técnico em administração: gestão e negócios

Administrativas Responsáveis por integrar, dirigir e sincronizar as


demais atividades.

Logo, todas as organizações necessitariam da administração e essas divisões


compreenderiam as atividades mais importantes a serem realizadas, de maneira
ordenada, seguindo princípios administrativos.

A teoria neoclássica foi uma resposta às necessidades de redefinição de estru-


turas empresariais, no período pós-guerra. O tema central trata da definição so-

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bre os níveis de responsabilidade, hierarquia e centralização/descentrali-
zação das decisões, provocando reformulações nos desenhos organizacionais/
departamentais, com reflexos no redimensionamento de tarefas e operações
necessárias à obtenção dos resultados empresariais. Ganham destaque tam-
bém os aspectos vinculados à comunicação interna e externa e à formação
de gestores dentro das organizações, alinhados com a cultura hegemônica da
empresa, marcadamente vinculada aos seus proprietários.

Os pressupostos neoclássicos têm sido fundamentais para a perspectiva


gerencial da administração na atualidade, que, devido à crescente compe-
titividade estabelecida pelo mercado, entendem a necessidade de redefinir
estruturas empresariais para a garantia de obtenção dos objetivos e resulta-
dos, buscando mais eficácia e lucros maiores. Exigem que o administrador
conheça os aspectos técnicos e específicos de sua atividade, como a direção
de pessoas, por exemplo. Assim, as principais características das teorias clássi-
ca e neoclássica são:

• divisão de trabalho;

• centralização das decisões;

• poucos subordinados por gerentes (pequena amplitude de controle);

• impessoalidade nas decisões;

• busca de estruturas e sistemas perfeitos.

Processo administrativo
Segundo Fayol (1990), é função do administrador tomar decisões, estabelecer

Fundamentos de administração
metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades aos demais empregados.
Assim, a atividade administrativa seria constituída de cinco funções: prever,
organizar, comandar, coordenar, controlar.

Já os autores neoclássicos entendem que haveria aqui a necessidade de uma


mudança para quatro funções, agrupando o comandar e o coordenar no item
direção. Assim, as funções que compõem o processo administrativo para os au-
tores neoclássicos são planejamento, organização, direção e controle.

A Figura 1.1 apresenta as funções que compõem o processo administrativo se-


gundo os autores neoclássicos.
capítulo 1

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Planejamento Organização
Definir metas/objetivos (estratégicos, Organizar, estruturar e integrar os
táticos e operacionais) e o meio mais recursos e os diversos setores
adequado para alcançá-los, como envolvidos, incluindo objetivos,
planos de ação, procedimentos, estrutura, departamentos, cargos e
orçamentos, programas, normas e tarefas especializadas.
regulamentos.

Controle Direção
Avaliar os resultados obtidos na Dar instruções sobre como devem ser
busca pela máxima aproximação ao executadas as atividades previstas
que foi planejado, exigindo critérios para a obtenção dos objetivos/metas
de avaliação, medidas corretivas, de estabelecidos, considerando a
manutenção, coercitivas ou de estrutura e a hierarquia da
regulação. organização (vertical/horizontal).

Figura 1.1 Funções do processo administrativo.

Organograma, departamentalização, linha e staff


O organograma está relacionado à especialização do trabalho e sua organiza-
ção em setores administrativos. Propõe o desdobramento horizontal e verti-
DEFINIÇÃO cal da organização, competindo à direção traçar estratégias, planos e objetivos
Organograma é o desenho para a organização e aos gestores/supervisores cabe realizar a organização
de responsabilidades da t
tática. O objetivo é atingir as metas traçadas, incluindo a supervisão sobre os
organização. Tem por objetivo níveis operacionais, para aqueles que realizam o trabalho previsto, garantindo
formalizar e estabelecer as os resultados.
relações de poder e de comando
sobre o trabalho, incluindo os Seguindo os princípios de administração propostos, apresentamos os conceitos
fluxos de comunicação entre os de linha e de staff (assessoria). Assim, a linha apresenta a hierarquia a qual to-
níveis estratégicos, táticos e dos estão submetidos na organização, seguindo os princípios da cadeia escalar,
operacionais. autoridade e unidade de comando, na qual cada indivíduo possui apenas um
chefe. Já o staff são órgãos prestadores de serviços especializados, como asses-
sorias, consultorias (internas ou externas) e conselhos consultivos, em que não
está presente o princípio da cadeia escalar, já que os serviços que prestam são
orientações sobre como a organização deve proceder em casos específicos.

Esse modelo pode ser analisado verticalmente, no qual estão presentes os níveis
de hierarquia e responsabilidade, e horizontalmente, a partir dos diferentes tipos
de atividades desenvolvidas na organização.

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Escola das relações humanas
A teoria das relações humanas teve início a partir dos trabalhos de Mary
Parker Follet, como uma alternativa à tendência de desumanização do traba-
lho, decorrente da aplicação de métodos e técnicas da administração cien-
tífica (GRAHAM, 1997). Mas o fato de origem reconhecido é a experiência de
Hawthorne, coordenada por Elton Mayo, psicólogo industrial australiano e
professor da Universidade de Harvard (MAYO, 1933). Essa experiência, realizada
entre 1927 e 1932, compreendeu quatro fases, com o objetivo inicial de analisar
a influência do ambiente na produtividade, o que não se confirmou ao longo do
experimento, já que as principais conclusões foram, entre outras, as seguintes:

• O nível de produção é resultante da integração social.

• O comportamento social dos empregados, que agem/reagem como mem-


bros de grupos.

• A existência de recompensas e sanções sociais.

• A existência de normas e padrões estabelecidos pelo grupo – condicionado-


res do comportamento dos trabalhadores.

• A existência de uma organização informal e espontânea que emerge das


necessidades de segurança, aprovação social e afeto.

O conceito de homo socialis, em oposição ao conceito de homo economicus,


de acordo com a escola das relações humanas, entende que o ser humano
não pode ter seu comportamento reduzido ao mecanicismo ou às relações
econômicas, já que é condicionado pelo sistema social, devido à existência
de necessidades vinculadas ao contexto social. Assim, há a necessidade de ser
aceito pelo grupo social e de participar das decisões, das definições de objeti-
vos, entre outros.

A escola das relações humanas revelou que, além dos aspectos econômicos
necessários à sobrevivência, os fatores afetivos e sociais são importantes
para o trabalhador, já que são pessoas dotadas de sentimentos, desejos e te-
mores.

PARA SABER MAIS


Mais detalhes sobre a experiência de Hawthorne você encontra no livro Teoria geral da administração, de
Fernando C. Prestes Motta e Isabella F. Gouveia de Vasconcelos (2006).

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Teorias comportamentais e de liderança
Estudos posteriores aos experimentos de Hawthorne identificaram que não havia
uma relação tão direta entre a satisfação das necessidades psicossociais dos em-
pregados e o aumento de produtividade, conforme apontara a escola das relações
humanas. Esses estudos indicaram que a adoção de um modelo de gerência par-
ticipativa e a melhoria do clima como medidas para a busca de maior produtivi-
dade eram limitadas. Logo, não se trata de entender a relação entre fatores sociais
e econômicos nas relações de trabalho assalariado.

Assim, os novos estudos sobre o comportamento humano no trabalho, sobre a moti-


vação e a liderança apontaram a existência de uma complexidade de fatores, como a
busca por autonomia, autodesenvolvimento e o sentido do trabalho. Entre as princi-
pais teorias sobre motivação e liderança, estão: hierarquia das necessidades huma-
nas; teoria X; teoria Y; teoria dos dois fatores.

A hierarquia das necessidades humanas foi desenvolvida por Abraham Mas-


low (2001) e entende que existem cinco grupos de necessidades, que podem
ser representados na forma de uma pirâmide: fisiológicas, de segurança, so-
ciais, de estima e de autorrealização (Quadro 1.2). Assim, o homem, seguindo
prioridades individuais, nesta ordem, busca satisfazer primeiro as necessidades
básicas para depois deslocar energia para a satisfação das necessidades mais
complexas.

Quadro 1.2 Grupos de necessidades

Fisiológicas Relacionadas à manutenção do corpo humano, como a alimentação, o


frio e o calor, além dos equipamentos de trabalho e do salário recebido.

Segurança Envolve tanto a segurança física (contra a violência) como os recursos


financeiros, da família e da saúde, ou ainda vinculados à estabilidade da
relação de trabalho.

Sociais Vinculam-se à atividade social, como amizades, família e outros espaços


de socialização que, no trabalho, são relacionados com a interação com os
colegas e o relacionamento com a chefia.

Estima Vincula-se ao reconhecimento, ao respeito e ao prestígio nos mais diversos


meios sociais.

(continua)

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Quadro 1.2 Grupos de necessidades (continuação)

Autorrealização É instintiva do ser humano e está vinculada ao sentido das atividades


que se realiza, à melhor utilização de suas habilidades, à superação dos
desafios, à resolução de problemas, ao senso de moralidade e até mesmo
ao prazer no trabalho.

A teoria X e a teoria Y, de Douglas McGregor (1970), afirmam que o comporta-


mento humano está vinculado aos diferentes estilos de liderança. Assim, a teoria
gerencial convencional é chamada de teoria X e a gerência participativa é denomi-
nada teoria Y, como contraponto à primeira.

Para o modelo teórico da teoria X, as pessoas são preguiçosas, indolentes e ten-


dem a evitar o trabalho, ou seja, evitam a responsabilidade para se sentir seguras
e são ingênuas e sem iniciativa. Assim, é fundamental uma gestão que assuma o
controle do processo de trabalho, estabelecendo regras claras, punições e recom-
pensas para a consecução dos objetivos gerenciais.

Já, para a teoria Y, as pessoas gostam do trabalho que exercem e são esforçadas e
dedicadas. Assim, a gerência tem o papel de intermediar as relações de trabalho e
proporcionar as melhores condições, pois, se o trabalho é algo natural a ser reali-
zado, o trabalhador poderia assumir responsabilidades e o controle do seu próprio
trabalho, com criatividade e competência.

Herzberg (1959, 1976) entende que o ser humano possui duas atitudes diferen-
tes em relação ao trabalho, buscando não só a satisfação de suas necessidades
elementares (higiênicas), mas também o aperfeiçoamento de suas habilidades,
de seu espírito e o desenvolvimento de seu potencial humano. A esses conceitos,
denominou teoria dos dois fatores (Quadro 1.3).

Quadro 1.3 Aspectos do trabalho relacionados com a teoria dos dois fatores

Higiênicos Motivacionais

• a natureza do cargo; • o conteúdo do cargo;

• o contexto da empresa; • a natureza das atividades/tarefas;

• o ambiente de trabalho; • o controle do indivíduo;

(continua)

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Quadro 1.3 Aspectos do trabalho relacionados com a teoria dos dois
fatores (continuação)

• as exigências de controle mantidas pela • as possibilidades de realização;


empresa;

• o salário; • o reconhecimento e o crescimento profissional;

• o relacionamento com a chefia; • a responsabilidade pelo próprio trabalho.

• os benefícios e serviços sociais.

Assim, os fatores higiênicos estão relacionados às condições sob as quais o tra-


balho é realizado, portanto, são extrínsecos e ambientais. Logo, previnem insatis-
fação, mas são incapazes de produzir algum tipo de motivação e nunca são com-
pletamente satisfeitos. Porém, à medida que aumenta o grau de insatisfação das
necessidades higiênicas, aumenta a insatisfação com o trabalho.

Os fatores motivacionais estão relacionados ao aprendizado e à realização do


potencial humano no trabalho, por isso, são intrínsecos. Estão associados à satisfa-
ção no trabalho e incitam os indivíduos a um desempenho superior. Porém, a não
satisfação desses fatores não gera desmotivação.

Outras teorias sobre a motivação humana no trabalho


David McClelland propôs uma teoria contingencial para a motivação (Quadro
1.4), entendendo que o comportamento humano é resultado da combinação de
três fatores/desejos inconscientes (MCCLELLAND; STELLE, 1973).
Técnico em administração: gestão e negócios

Quadro 1.4 Fatores da teoria contingencial para a motivação

Realização Vinculada ao reconhecimento dos pares sobre sua excelência


técnica ou profissional.

Afiliação Relacionada à aceitação pelo grupo e à qualidade das


relações interpessoais.

Poder Sentimento de ter de tomar decisões sobre indivíduos,


recursos ou organização.

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Assim, ainda que esses três fatores sejam analisados em conjunto, a motivação
baseia-se no potencial que um indivíduo tem para alcançar o objetivo/desejo, o
que serve de estímulo para que direcione suas energias e seu comportamento para
obter esse êxito desejado. Portanto, a motivação está vinculada à projeção que o
indivíduo faz de si mesmo em relação ao futuro que deseja alcançar.

Burrhus Frederic Skinner (1995, 2003) procurou estabelecer a relação entre o


comportamento humano e a aprendizagem por meio de uma teoria baseada no
controle e na previsibilidade dos indivíduos, o que poderia ser alcançado pela
utilização de reforços positivos e negativos e da punição. Assim, entende que o
comportamento é aprendido por meio de experiências e de sua manipulação, de
acordo com o resultado pretendido.

O conjunto das teorias sobre o comportamento humano contribuiu para a con-


solidação do conceito de homo complexus, que é uma ampliação do conceito de
homo socialis, que considera o trabalho como o principal meio de inserção social
humana. É um reconhecimento das necessidades múltiplas humanas vinculadas
ao trabalho, tais como:

• o desenvolvimento pessoal;
NO SITE
• a aprendizagem; Mais detalhes sobre Fordismo,
Toyotismo e Volvismo você
• a autorrealização. encontra no ambiente virtual de
aprendizagem.
Vinculados a esse conceito, surgem vários estudos e teorias sobre motivação e
liderança, que evidenciam o desejo de autodesenvolvimento e de realização, ad-
mitindo que o trabalho fornece sentido à existência humana, traz autonomia de
pensamento e estabelece diferenças individuais quanto a objetivos e interesses.
Além disso, essas teorias foram fundamentais para o desenvolvimento da admi-
nistração de recursos humanos (ARH), propondo mudanças estruturais nas or-
ganizações e privilegiando um estilo de liderança mais democrático.
Fundamentos de administração
Na atualidade, a ARH é denominada gestão de pessoas e tem sido tratada como
área estratégica pelas organizações na busca por desempenhos melhores dos tra-
balhadores, segundo Motta e Vasconcelos (2006). Dois modelos diferentes têm
sido apresentados: o instrumental, focado na maximização do resultado eco-
nômico, e o político, baseado na eficiência como resultado de um processo de
negociação entre as partes.

É importante destacar também outros dois movimentos vinculados às ques-


tões comportamentais: a gestão participativa, vinculada ao modelo japonês
(toyotismo – JIT – produção enxuta) e a democracia industrial, desenvolvida
pela Volvo.
capítulo 1

25

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Organizações vistas como sistemas
abertos e teoria da contingência
O cientista Von Bertalanffy (1950), com sua publicação The theory of open systems
in physics and biology, influenciou diversos ramos do conhecimento divulgando o
conceito de sistemas abertos, que entendeu como um complexo de elementos
em interação e em intercâmbio contínuo com o ambiente. Os pressupostos bási-
cos da teoria geral dos sistemas afirmam que:

• Há uma tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais.

• Tal integração parece orientar-se para uma teoria dos sistemas.

• Essa teoria pode ser um meio importante de objetivar os campos não do conhe-
cimento científico, especialmente nas ciências sociais.

• Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam verticalmente os uni-


versos particulares das diversas ciências, essa teoria aproxima-nos do objetivo da
unidade da ciência.

• Isso pode levar a uma integração muito necessária na educação científica.

Cabe abordar alguns conceitos importantes sobre a teoria geral dos sistemas,
C
DEFINIÇÃO
ccomo o conceito de sistema (ao lado), sinergia e entropia.
Sistema é um conjunto de
elementos dinamicamente SSinergia é quando duas ou mais partes do sistema produzem, atuando em con-
relacionados, formando uma jjunto, um efeito maior do que a soma dos efeitos que produziriam atuando indi-
atividade para atingir um vvidualmente.
objetivo, que opera sobre
dados/energia/matéria para EEntropia ocorre quando partes do sistema perdem sua integração e comunicação
fornecer informação/energia/ eentre si, fazendo com que o sistema se decomponha, perca energia e informação,
matéria. degenerando-se.
d

A teoria geral dos sistemas passou a influenciar outras ciências, tornando-se uma
fforma explicativa e uma referência para diferentes ciências, entre elas, a adminis-
tração, para a qual possibilitou uma ampliação na visão dos problemas organiza-
cionais, até então percebidos como fechados.

A concepção de homem funcional, com o desempenho de vários papéis e seus


conflitos somados aos da organização (mistos), compõe o quadro organizacional
dessa abordagem, que necessita de melhor sistematização e possui pouca aplica-
ção prática. Existe uma relação entre todos os elementos constituintes da socieda-
de. Os fatores essenciais dos problemas públicos, das questões e dos programas a
serem adotados devem sempre ser considerados e avaliados como componentes
interdependentes (Figura 1.2).

26

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Ambiente
Recursos a
serem
transformados

Processo de Bens e
Entradas Saídas
transformação Serviços

Recursos de
transformação

Figura 1.2 A empresa em uma perspectiva sistêmica.

A teoria geral dos sistemas considera que as organizações são sistemas que transfor-
mam insumos (recursos) em produtos e/ou serviços e que as partes do sistema ou
departamentos se inter-relacionam, sofrendo intervenções e intervindo no ambien-
te externo da organização.

Talcott Parsons (1964, 1969, 1971) entende que as organizações são a consequên-
cia da divisão do trabalho na sociedade, com atributos da burocracia weberiana,
como uma descrição de funções e papéis, já que “a sociedade está constituída por
subsistemas (estruturas) que operam (funcionam) de modo interdependente,
cada parte do sistema desempenha um papel que busca o equilíbrio e a ordem
social”. Seu modelo explicativo contempla quatro funções de um sistema social
(Quadro 1.5).

Quadro 1.5 Funções de um sistema social segundo Parsons

Latência A forma como o sistema se sustenta e se reproduz


continuamente e como transmite os valores e padrões Fundamentos de administração
culturais que o embasam.

Integração A função que assegura coerência e coordenação entre


indivíduos e grupos que compõem o sistema e entre suas
partes diferenciadas.

Gerar e A função que garante o estabelecimento de metas e


atingir objetivos e a implementação de meios visando atingi-los.
objetivos

Adaptação Quando a organização ou o sistema social buscam


capítulo 1

recursos para a sua sobrevivência.

27

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TTeoria sociotécnica
Motta e Vasconcelos (2006) afirmam que, quando a tecnologia interage com
NO SITE
indivíduos, não é possível maximizar a eficiência nem da tecnologia nem do
Mais detalhes sobre a organização
sistema social. A teoria sociotécnica foca a integração de pessoas e tecnolo-
do trabalho você encontra no
gias e mostra que é o ser humano que atribui sentido à ferramenta, de acordo
ambiente virtual de aprendizagem.
com os seus padrões cognitivos, seus objetivos pessoais e seus elementos de
identidade social. Os principais teóricos dessa teoria são os psicólogos Eric Trist
e Fred Emery.

Segundo essa abordagem sociotécnica, a organização divide-se em dois subsis-


temas: o técnico e o social. O técnico corresponde às demandas da tarefa, à im-
plantação física e ao equipamento existente, sendo responsável pela eficiência
potencial da organização. O social refere-se às relações sociais daqueles encar-
regados pela execução da tarefa e que transformam a eficiência potencial em
eficiência real.

Conheça os fundamentos da escola sociotécnica, a seguir:

• A organização é um sistema aberto. Ela interage com o ambiente, é capaz de au-


torregulação e pode alcançar um mesmo objetivo a partir de diferentes caminhos
e usando diferentes recursos.

• A organização é formada por dois subsistemas: o técnico e o social.

• A escola sociotécnica considera que o comportamento das pessoas, face ao tra-


balho, depende da forma de organização desse trabalho e do conteúdo das tarefas
a serem executadas.

• Os subsistemas social e técnico devem ser considerados, particularmente, e oti-


mizados de forma conjunta para que os objetivos organizacionais sejam atingidos,
ao mesmo tempo em que alcançamos o desenvolvimento e a integração dos in-
divíduos.
Técnico em administração: gestão e negócios

Teoria da contingência
Chiavenato (2011) afirma que não existe uma única maneira melhor de organizar
uma empresa, assim, as organizações precisam ser sistematicamente ajustadas às
condições ambientais. A teoria da contingência considera que, para cada situa-
ção, existe uma teoria ou combinação de teorias administrativas. Não existe um
modelo administrativo ideal ou único que sirva para todas as organizações, in-
dependentemente de sua natureza. Mas, dependendo do objetivo ou problema,
deve-se estudar qual o melhor modelo para gerir a organização. Essa teoria mostra
que não há one best way, mas um leque de opções.

Segundo Motta e Vasconcelos (2006), a teoria demonstra o princípio da equifi-


nalidade dos sistemas: existe mais de uma maneira de atingir os objetivos pro-

28

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postos. Para Chiavenato (2011), a teoria da contingência apresenta os seguintes
aspectos básicos:

• a organização é um sistema aberto;

• as características organizacionais apresentam uma interação entre si e com o


ambiente;

• as características ambientais funcionam como variáveis independentes, en-


quanto as características organizacionais são variáveis dependentes.

Assim, os autores da escola contingencial apresentam duas variáveis principais


que determinam toda a organização da empresa e os relacionamentos entre suas
partes: o ambiente e a tecnologia. Ambiente é o que envolve externamente uma
organização (ou um sistema). É o contexto dentro do qual uma organização está
inserida e, como a organização é um sistema aberto, ela mantém transações e in-
tercâmbio com seu ambiente. Isso faz com que tudo o que ocorre externamente
no ambiente passe a influenciar o que ocorre internamente na organização.

Como o ambiente é vasto e complexo, envolvendo tudo ao redor da organização,


ele pode ser analisado em dois extratos: ambiente geral e ambiente de tarefa.
O ambiente geral é o macroambiente, comum a todas as organizações. É cons-
tituído de um conjunto de condições que podem ser semelhantes para todas as
organizações:

• tecnológicas;

• econômicas;

• políticas;

• legais;

• demográficas; Fundamentos de administração


• ecológicas;

• culturais.

Já o ambiente de tarefa é o ambiente mais próximo e imediato de cada organiza-


ção. Consiste em um segmento do ambiente geral, do qual a organização extrai as
suas entradas e deposita suas saídas. É formado por:

• fornecedores de entradas;

• clientes ou usuários;
capítulo 1

• concorrentes;

• entidades reguladoras.

29

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É importante destacar que as teorias aqui apresentadas analisaram as organiza-
ções sob pontos de vista diferentes, assim, formam conceitos que se sobrepõem.
Não necessariamente negam umas às outras, mas utilizam-se de lentes diferentes
para analisar aspectos diferentes das organizações.

Todavia, elas têm em comum alguns pressupostos vinculados com a atualidade des-
sas organizações e que marcam o momento histórico cultural, como, por exemplo,
a orientação para o resultado e as relações de poder hierarquizadas entre quem de-
tém os meios de produção, ou são seus representantes, e quem detém a força de
trabalho.

Essas abordagens pouco questionam como a sociedade evoluiu até o estágio atual,
partindo do princípio de que o mundo está posto e que as organizações são a forma
hegemônica de produção hoje.

Retomando o caso inicial


em uma perspectiva
crítica
A seguir, serão abordados aspectos centrais presentes nessas teorias, para os quais
deve-se atentar, em especial, aqueles expostos anteriormente, buscando uma re-
Técnico em administração: gestão e negócios

flexão crítica sobre os fundamentos da administração.

O pensamento administrativo atual é fruto de uma conjunção de fatores sociais,


econômicos, políticos, produtivos, científicos e tecnológicos. É, portanto, dotado de
um conjunto ideológico, de uma visão do homem, do estado e do mundo, orienta-
do por interesses pessoais, sociais e coorporativos, por meio de uma perspectiva de
compreensão das organizações e da própria administração.

Assim, concordamos com Tragtenberg (1992) quando afirma que as bases do


pensamento administrativo surgiram a partir da burocracia e das mudanças
sociais por ela proporcionadas. Logo, estão imbricadas com a racionalidade
instrumental legal, já que representam o modo de pensar escolhido pelos
capitalistas. Assim, os fundamentos de administração e a Teoria Geral da Ad-

30

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ministração são ideológicos, visto que seu aparato técnico-científico autoriza
certos tipos de relações de poder e de dominação, que atribuem força a um
grupo específico.

Para tanto, a administração será situada a partir das proposições de Motta e Vascon-
celos (2006), o que, por consequência, resgata as pesquisas e os conceitos de Max
Weber (2004), apresentados no livro Economia e sociedade, sobre o processo de mo-
dernização da sociedade e sua relação com a emergência do pensamento administra-
tivo e da administração como campo de conhecimento. Além disso, será abordada a
forma como esse pensamento está vinculado com a sociedade capitalista, logo, com
a subordinação do trabalho ao capital e com as formas de reprodução do capital pelo
trabalho.

Segundo Motta e Vasconcelos (2006), ao contrário do que é afirmado por outros


autores, a preocupação de Weber não era propor a burocracia como teoria admi-
nistrativa. Pelo contrário, buscava, a partir de uma perspectiva fenomenológica,
compreender a emergência da burocracia em um processo amplo de evolução da
sociedade, na transição entre o feudalismo e o capitalismo.

Weber (2004) classificou a burocracia como o corpo administrativo das organiza-


ções racionais legais na busca pela colaboração entre um grande número de indi-
víduos com funções especializadas de maneira estável e duradoura. Portanto, não
restrito ao sistema econômico, mas um modelo de sociedade: a sociedade moder-
na, baseada na razão instrumental, ou, como Weber preferiu chamar, dominação
racional instrumental legal.

Modernidade e dominação racional legal


A modernidade é caracterizada pelo predomínio da racionalidade instrumental
e pela dominação racional legal, que contribuíram para o desenvolvimento do Fundamentos de administração
capitalismo. As organizações dominantes na sociedade moderna – empresas, apa-
ratos estatais e organizações formais da sociedade (sindicatos, associações, etc.)
– são predominantemente racionais legais e reproduzem aparatos administrativos
burocráticos.

À luz da teorização weberiana, a administração, como campo do conhecimento,


encontra-se sob o paradigma da racionalidade da sociedade moderna. Essa
afirmação pode ser vista a partir do processo histórico de modernização da socie-
dade, desde o final da Idade Média até hoje, período em que foram sendo cons-
truídos os principais paradigmas atuais em todos os campos do conhecimento.
Inclusive a administração, que, desde seus primeiros teóricos, também encontra-
capítulo 1

-se inserida nesse contexto.

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A transição entre a Idade Média e os dias atuais alterou, de forma drástica, todos
os setores da sociedade, envolvendo a forma de governo, a religião, a economia
e as formas de produção e de consumo. Vivia-se em um Estado fragmentado, em
feudos, no qual o poder encontrava-se depositado no senhor feudal, que, como
representante divino na Terra e descendente de linhagem nobre, definia a ordem
de tudo o que se encontrava dentro de seus domínios.

O senhor feudal administrava de forma arbitrária, segundo seus interesses e os


da classe social que representava, legitimado pela nobreza e pela ação do cle-
ro. Estabeleceram-se as monarquias absolutistas, com a concentração de poder
nas mãos dos reis, logo, sem alteração em relação ao sistema anterior. Posterior-
mente, as repúblicas e as monarquias modernas foram sucedidas pelos Estados
nacionais modernos.

Isso representa uma mudança radical na estrutura da sociedade, alterando não


apenas o nome ou o título do senhor, mas tudo o que legitima o poder e as formas
de dominação, portanto, de administração.

Weber (2004), no livro Economia e sociedade, preocupava-se em compreender o


que legitima o poder e as formas de dominação. Logo, ao tratar de poder le-
gitimado, excluiu toda forma de opressão física ou por meio da força, já que as
considera ilegítimas. Assim, sua construção metodológica questionava por que os
indivíduos obedecem, mesmo contra a sua própria vontade.

Weber (2004) preocupava-se, então, com a dominação humana, a autoridade, o


poder e suas vinculações na estrutura da sociedade. Seu entendimento é de que
a dominação decorre da crença de quem é dominado na autoridade e de quem
emite a ordem. Para compreender como isso ocorria na sociedade moderna, We-
ber propôs um modelo teórico a partir dos tipos ideais (puros) de dominação
(Quadro 1.6).

Quadro 1.6 Tipos ideais de dominação segundo Weber (2004)


Técnico em administração: gestão e negócios

Carismática Embasa-se na crença dos dons naturais (natos).

Tradicional Baseia-se na tradição e na manutenção do status.

Legal Baseada no uso da razão de quem detém o poder (por isso,


racional).

A Figura 1.3 apresenta um esquema com as formas de dominação e autoridade,


segundo Max Weber.

32

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TRADICIONAL
• Mitos
• Costumes
• Tradições

PROCESSO
DE
CARISMÁTICA RACIONAL-
MODERNIZAÇÃO
• Processos -LEGAL
identificatórios • Regras
grupais • Normas
• Líder • Direitos e
deveres
• Qualidades
pessoais

Figura 1.3 Formas de dominação e autoridade, segundo Max Weber.


Fonte: Adaptada de Motta e Vasconcelos (2006).

Comparando o estudo weberiano com a modernização da sociedade, percebe-se


a vigência da burocracia. Em outras palavras, as organizações sociais modernas
encontram-se sob o paradigma da dominação racional legal, pois, à medida IMPORTANTE
que se analisa esse processo de modernização na história, torna-se evidente que É importante lembrar o
a crença na legitimidade da dominação é decorrente, cada vez mais, da razão, contexto em que Weber
baseada mais nas leis do que nos dons (carisma) ou na tradição. vivia quando propôs essa
forma de compreensão do
A dominação racional legal corresponde às necessidades da sociedade moderna,
processo de modernização
principalmente por sua característica impessoal, em que o senhor não ordena nem
da sociedade, decorrente
a si próprio, pois ele também está subordinado à regra. Segundo Weber (2004), as
das transformações pelas
categorias fundamentais da dominação racional são:
quais passava a Alemanha,
• um exercício contínuo de funções oficiais; de unificação rápida e
tardia, liderada pelo príncipe
• competência limitada com atribuição de poderes; Bismarck.

• hierarquia oficial com instâncias de controle;

• existência de regras (regras técnicas e normas);

• separação entre quadro administrativo e os meios de administração e produção;

• inexistência de apropriação do cargo pelo detentor;

• princípio da documentação (registro);

• existência de quadro administrativo de caráter funcional.

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A administração como campo do conhecimento está situada sob a perspectiva da
manutenção da ordem e da razão, não apenas contribuindo, mas ratificando a teoria
weberiana. Assim, a chamada Teoria Geral da Administração e as teorias organizacio-
nais, desde Taylor e Fayol até os autores contemporâneos, têm proposto um conjunto
de ideias para as organizações. São exemplos os estudos sobre produtividade, efi-
ciência, eficácia e liderança, orientados pela crença no que é racional e, como tanto,
legítimo. Enfim, generalizando, a sociedade moderna e a administração encontram-
-se sob o paradigma da racionalidade instrumental legal, teorizado por Max Weber.

O que é burocracia
Conforme Motta e Vasconcelos (2006), na organização burocrática, as interações
entre os indivíduos devem seguir padrões de impessoalidade, que reprimam a
espontaneidade e a possibilidade de conflitos de interesse. Assim, a burocracia
passa a ser uma solução organizacional com o objetivo de evitar a arbitrariedade,
o confronto entre indivíduos e grupos e os abusos de poder. Seu objetivo é organi-
zar a atividade humana de modo estável para a realização de fins organizacionais
explícitos (MOTTA; VASCONCELOS, 2006).

Para o sucesso da burocracia, é necessária a adoção (imposição) de regras claras


que orientem (determinem) como o trabalho humano deve ser realizado, seguin-
do rotinas e procedimentos que garantam estabilidade ao processo, que redu-
zam suas incertezas e ofereçam os resultados previamente planejados por quem
comanda a organização burocrática (Figura 1.4). Percebe-se que a burocracia está
relacionada com a adoção de uma estrutura organizacional que possibilite maior
competitividade, alinhada à lógica de mercado da modernidade.

DIRETORIA
Planejamento
Técnico em administração: gestão e negócios

estratégico

GERÊNCIA MÉDIA
Implementação
das decisões

NÍVEL OPERACIONAL
Rotinização
das funções

Figura 1.4 A estrutura burocrática, segundo Max Weber.


Fonte: Adaptada de Motta e Vasconcelos (2006).

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Assim, o pensamento administrativo surge como consequência do processo de
modernização da sociedade, é a expressão da lógica burocrática, baseada no con-
trole da atividade humana por meio da regra, com o objetivo de aumentar a pro-
dutividade e a geração de lucro na sociedade industrial (MOTTA; VASCONCELOS,
2006).

PARA SABER MAIS


Pesquise na internet sobre o conceito de racionalização do direito.

Evolução das relações econômicas e


produtivas
A economia também passou por uma transformação radical. A circulação de
moeda resultou no enriquecimento de uma classe (burguesia), que, por meio do
comércio e do desenvolvimento industrial, impôs um modelo de produção e consu-
mo de bens e serviços em massa, portanto, padronizados, alcançando ganhos até
então não imaginados. Percebe-se, dessa forma, uma transformação nas formas de
planejamento e controle sobre a produção, o que resultou em mudanças no traba-
lho, passando de um modelo artesanal para o sistema industrial e no consumo de
bens e serviços.

No modelo artesanal, o trabalhador possuía o conhecimento necessário à pro-


dução, era responsável pela provisão de materiais e pela construção dos próprios
Fundamentos de administração
instrumentos e ferramentas, detendo o controle de todo o processo produtivo.
Havia autonomia para determinar a produção, tanto em termos de qualidade
como em quantidade, ainda que os tempos de produção estivessem totalmente
subordinados aos tempos da natureza.

Logo, é preciso compreender que o trabalho artesanal não é apenas sinônimo de


trabalho manual, mas sim de um modo de produção centrado no trabalhador.
Nele, os bens estão personalizados na figura de quem o produz e não nas neces-
sidades de quem o consume. Do ponto de vista da economia de mercado, havia
uma demanda reprimida, que se tornou oportunidade para o aumento da pro-
dução por meio de: aceleração industrial; divisão social do trabalho; especializa-
ção do trabalhador; substituição das ferramentas por máquinas; e substituição da
capítulo 1

força humana pela força motriz.

35

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O modelo de produção industrial abrange o controle sobre toda a produção,
incluindo
i a escolha e a definição dos instrumentos, dos materiais e dos processos
DEFINIÇÃO p
padronizados e racionalmente organizados de trabalho e de produção, incluindo
O trabalho assalariado é a a seleção de trabalhadores. Logo, o conhecimento sobre as técnicas de produção
forma de trabalho na qual e o ato de trabalhar estão separados em pensar e fazer. Nesse processo, o traba-
trabalhadores precisam l
lhador não possui autonomia, uma vez que está delegada a um pequeno grupo
vender sua força de trabalho d
de pessoas, detentoras do capital ou determinadas por este.
para receber salário em EEsse pequeno grupo de pessoas, detentoras do capital ou determinadas por quem
troca, como forma de ppossui, é que pensa e determina os processos, custos, preços, quantidades, quali-
sobrevivência, pois não ddade e até mesmo a quantidade de trabalhadores necessários para o atingimento
possuem acesso aos meios ddas metas de produção. Ou seja, esse grupo de trabalhadores necessários para o
de subsistência. aatingimento das metas de produção, embora maior, apenas executará o trabalho
ccomo parte (recurso) desse processo.

SSegundo o Brigthon Labour Process Group (1991), as mudanças na economia (de


subsistência para a de mercado) e no modelo de produção (de artesanal para in-
dustrial) são analisadas por Karl Marx em sua crítica à economia política, principal-
mente no livro O capital, em que evidencia a subordinação do trabalho ao capital e
os fatores que compõem o processo de acumulação, quais sejam:

• Apropriação privada dos meios de produção.

• Cercamento e garantia de propriedade sobre a terra.


DEFINIÇÃO
De maneira sintética, o • Concentração de trabalhadores (operários da indústria) nas cidades, subordina-
conceito de mais-valia, dos a uma relação de trabalho assalariado.
d
apresentado por Karl Marx
(2010) em O capital, é • Controle da ciência e da tecnologia.
decorrente da exploração
• Divisão técnica e social do trabalho.
do trabalhador pela
relação entre o tempo • Subordinação do trabalho humano às indústrias, por meio do controle das má-
de trabalho excedente quinas, das regras, da velocidade e da capacidade produtiva.
q
(em que o trabalhador
produz) e o tempo de • Substituição dos tempos da natureza pelos tempos das máquinas.
trabalho necessário (em
• Surgimento da produção e do consumo em massa.
que o operário reproduz
o valor de sua força de E conjunto de fatores analisados por Marx permitiu subordinar o trabalho hu-
Esse
trabalho, equivalente ao m
mano à reprodução de capital pela empresa, pela extração de mais-valia, estando
seu salário). ccentrado no trabalho assalariado e na transformação dos meios de produção, de
ssubsistência e dos produtos na forma de mercadorias.

N transformação dos meios de produção, de subsistência e dos produtos na


Na
forma de mercadorias, cada mercadoria é composta pela transformação de ma-
teriais e informações que, pela ação humana, incorporam o valor fixo do investi-

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mento capitalista e o lucro que o proprietário dos meios de produção deseja obter,
logo, incorporando, pela ação do trabalhador, mais-valia retida na forma de lucro.

Assim, há a mais-valia absoluta, que consiste em estender a duração da jornada


de trabalho, mantendo o salário constante, e a mais-valia relativa, que é obtida
pela ampliação da produtividade do trabalho, por meio da inserção de maquiná-
rio/tecnologia.

Marini (1979) apresenta o conceito de mais-valia extraordinária, que está rela-


cionado à redução do valor individual das mercadorias, mantendo seu valor social
a partir da combinação entre a utilização de tecnologia avançada e trabalhadores
de baixo custo.

Diante disso, evidenciam-se três princípios do processo de produção capitalista:


a divisão do trabalho intelectual e manual, o controle hierárquico e a fragmenta-
ção e desqualificação do trabalhador (Quadro 1.7).

Quadro 1.7 Princípios do processo de produção capitalista

Divisão do • Por mais repetitivo ou rotinizado que a execução do trabalho possa parecer,
trabalho qualquer ação humana exige atividade intelectual, seja reflexiva, de controle
intelectual e ou conceitual.
manual • Da mesma forma, todo trabalho intelectual prescinde do corpo humano, seja
de braços, pernas, olhos ou outra parte qualquer. Assim, a separação entre
trabalho manual e intelectual não está relacionada à divisão existente entre as
funções físicas do corpo humano, embora as utilize como metáfora para expor a
separação entre quem pensa e quem executa.
• A separação está no fato de que o capitalista ou seu representante tem o poder
de pensar (planejar, coordenar, dirigir e controlar) o trabalho que deve ser feito,

Fundamentos de administração
bem como os resultados. Logo, possui o monopólio sobre o conhecimento e os
sistemas de produção, restando ao trabalhador executar o trabalho de acordo
com a prescrição necessária para a realização da produção.

Controle • Está vinculado à pronta aceitação de ordens. Muito mais do que buscar a
hierárquico superação da resistência em cumprir ordens, a hierarquia deseja informações
sobre qualidade e quantidade da produção individual e coletiva.
• Tem por objetivo manter estável a organização do trabalho previamente
definida, delimitando todas as ações do trabalhador e retirando-lhe qualquer
margem de manobra que o permita assumir o controle da produção.
• Assim, o controle é posto sobre o maquinário e a tecnologia, de maneira que
controlem os tempos e as quantidades a serem produzidas, bem como todo o
capítulo 1

trabalho humano.

(continua)

37

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Quadro 1.7 Princípios do processo de produção capitalista (continuação)

Fragmentação e • Estando o trabalho subordinado ao maquinário e à tecnologia, há um


desqualificação movimento constante de desqualificação-qualificação do trabalhador,
do trabalhador em função do processo de inovação que permeia os bens, os serviços, a
maquinaria e a tecnologia.
• Logo, quanto menor o tempo de vida útil de um determinado processo de
trabalho e/ou tecnologia, com maior velocidade e mais acentuadamente ocorrerá
o processo de desqualificação-qualificação.

Hoje em dia, devido ao acirramento da concorrência, tem se tornado comum a


concessão de maior nível de autonomia ao trabalhador. Mas, mesmo nos pro-
cessos de trabalho denominados participativos, essa participação é decorrente do
duo benevolência-legitimação. Benevolência porque a participação é permitida
dentro de níveis controlados de autonomia, como um presente, uma concessão.
E legitimação porque necessariamente passa por um processo de aprovação que
comprove atender aos interesses do capital. Logo, a autonomia é parcial e permi-
tida enquanto forma de aumento da base material capitalista.

PARA REFLETIR
Tente descrever como você percebe que esses conceitos estão presentes na sociedade atual. Como você
se posicionaria levando em conta sua atuação nesta sociedade?

Repensando os princípios da
administração científica
A escola clássica propunha que a administração deveria ser encarada como ciência
e, para tanto, precisava de um método científico. Taylor e Fayol (ambos engenhei-
ros), seus principais representantes, o fizeram sob diferentes perspectivas, mas am-
bos mantiveram o olhar sob a organização formal.

O primeiro, por meio do estudo das tarefas, debruçou-se no quanto as empresas


poderiam obter ganhos de produtividade e assim maiores lucros. Disso, surgiram
importantes estudos, como, por exemplo, a organização racional do trabalho, dos

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tempos e movimentos, da fadiga humana e o conceito de homo economicus. Já o
segundo esteve focado na estrutura e nas funções do administrador, a quem
atribuía a possibilidade de sucesso das empresas.

O início da escola das relações humanas ocorre a partir da experiência de Ha-


wthorne, que percebe aspectos até então não evidentes para as empresas, como,
por exemplo, a existência das relações informais, da dinâmica do grupo e das ne-
cessidades de atenção e status que o trabalhador possui, propondo o conceito de
homo socialis. Entre as decorrências dessa escola, podem ser citados os estudos
sobre motivação e liderança, por exemplo.

Essas escolas são vistas, normalmente, a partir de suas diferenças, tanto em rela-
ção ao trabalho humano como em relação à gestão da empresa (Quadro 1.8).

Quadro 1.8 Diferenças entre as escolas clásssica e das


relações humanas

Escola clássica Escola das relações humanas

• Foco na formalidade. • Foco na informalidade.


• O trabalhador era visto como • O trabalhador era visto como
preguiçoso. alguém que tem necessidades e
• O trabalho deve ser definido pela motivações.
empresa e pelo supervisor dentro • O ritmo do trabalho é definido
do conceito de the best way e first pelos operários e que, se preciso for,
class man. defenderão os mais lentos.

Contudo, há diversos aspectos de complementaridade entre a escola clássica e


a escola das relações humanas. Um exemplo é a experiência de Hawthorne, cuja Fundamentos de administração
ideia inicial era verificar como variava a produtividade a partir das alterações am-
bientais, no caso, a iluminação. Uma das expoentes dessa teoria, Follet não desfa-
zia dos ganhos de produtividade, aliás, como integrante do instituto fundado por
Taylor, entendia e concordava que era preciso aumentar a eficiência das empresas
e diminuir o desperdício, contudo, defendia que isso não deveria ser obtido sobre-
pondo-se aos interesses das pessoas.

Por fim, essa teoria propunha maior satisfação ao trabalhador como forma de
equalizar o descontentamento e melhorar os rendimentos da empresa, ou seja,
sob a visão do gerente. Assim, é bastante ingênuo imaginar que a teoria das rela-
ções humanas contrapõe-se às ideias da teoria clássica, pois os objetivos de ambas
capítulo 1

são muito semelhantes –, embora a primeira tenha se afastado da segunda quan-


to à forma de obtê-los, o foco de ambas é a garantia da produtividade e do lucro.

39

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Outras perspectivas de gestão
O
NO SITE
D mesma forma que o Fórum Social Mundial afirma que uma outra sociedade é
Da
Leia o artigo
p
possível, pode-se afirmar que uma outra administração é possível. Não se pode
Experimentando pensar:
aafirmar se é uma mudança na administração que resultará em uma transformação
da fábula de Bernard
n
na sociedade ou se a mudança na sociedade é que levará a uma nova forma de
à aventura de outras
aadministrar. De fato, uma vez que a administração é fruto do processo de moder-
possibilidades de
n
nização da sociedade, esse processo emerge a partir de alterações nas relações
organizar, de Maria Ceci de
d
de produção da existência humana e de poder, portanto, da administração. Logo,
Araujo Misoczky e Rafael
u
uma administração que supere o modelo burocrático e a exploração do trabalho
Augusto Vecchio, disponível
p
pelo capital está vinculada a uma sociedade que legitime o trabalho assalariado e
no ambiente virtual de
aas atuais formas de produzir e consumir bens e serviços.
aprendizagem.
U
Uma perspectiva que tem sido apontada em oposição ao sistema de produção
ccapitalista é o trabalho associado, que, pautado nas relações não hierarquiza-
d
das de trabalho, pode proporcionar autonomia ao trabalhador e possibilidade de
superação da divisão entre quem pensa e quem executa o trabalho. Essa perspec-
tiva de autogestão busca a eliminação da subordinação e relações mais justas
de trabalho. Os princípios do trabalho associado são: a propriedade dos meios de
produção compartilhada pelos trabalhadores e as decisões colegiadas.

Essas possibilidades, vinculadas a mudanças também no modo de produção e


no consumo sustentável, precisam ser repensadas na academia e na sociedade.
Alguns autores brasileiros entendem ainda que há necessidade de se pensar a
administração no contexto brasileiro, de um capitalismo periférico e em desen-
volvimento, contrariando a tese de importar referenciais da Europa e dos Estados
Unidos.

PARA REFLETIR
Você concorda com a opinião de alguns autores sobre a necessidade de se pensar a adminstração no
contexto brasileiro? Por quê?

40

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Atividades
1) Quais são os fundamentos da administração apresentados neste capítulo?

2) Descreva os aspectos complementares e diferentes do movimento da administração científica e da


escola das relações humanas.

3) Como as teorias de motivação e liderança podem contribuir para a gestão de pessoas?

4) Como as teorias administrativas gerenciais podem contribuir para a gestão das organizações?

5) Como as teorias sobre motivação e liderança estão presentes nas organizações?

6) O que é burocracia, qual a sua finalidade e principais características?

7) Quais são as três formas de autoridade, segundo Max Weber?

8) Qual é a relação entre a burocracia, a evolução das relações econômicas e produtivas e a industrializa-
ção?

9) Qual é a relação entre as teorias administrativas e a extração de mais-valia?

REFERÊNCIAS Fundamentos de administração

BATEMAN, T. S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas,


1998.

BRIGTHON LABOUR PROCESS GROUP. O processo de trabalho capitalista. In: SILVA, T. T.


(Org.). Trabalho, educação e prática social. Porto Alegre: Artmed, 1991.

CARAVANTES, G. R. Teoria geral da administração: pensando & fazendo. 2. ed. Porto


Alegre: Age, 1998.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. Rio de Janeiro: Else-


vier, 2011.
capítulo 1

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