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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais

CURSO DE COMPOSTAGEM DE
RESÍDUOS ORGÂNICOS

Belo Horizonte
Junho /2003

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

“O LIXO NÃO É APENAS UM FENÔMENO ACIDENTAL DE


NOSSA SOCIEDADE; ELE É UMA CONSEQUÊNCIA LÓGICA
DA FORMA QUE NÓS PRODUZIMOS E CONSUMIMOS”.
(SCHENKEL,1994)

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

SUMÁRIO

1. O que é o composto Orgânico? ...................................................................................4


2 – O que é a Compostagem ...........................................................................................4
3 – Histórico da compostagem .........................................................................................4
4 - Vantagens e Limitações do Processo .........................................................................5
5 – Preparo da matéria-prima ..........................................................................................6
7 – Montagem das leiras ..................................................................................................7
8 – Fatores que Afetam o Processo .................................................................................8
8.1 Temperatura ..............................................................................................................8
8.2 Taxa de Oxigenação ou Taxa de Aeração ...............................................................10
8.3 Teor de Umidade ....................................................................................................11
8.4 Concentração de Nutrientes....................................................................................12
8.5 Tamanho da Partícula .............................................................................................13
8.6 pH ...........................................................................................................................13
9 - Unidades de Reciclagem e Compostagem ...............................................................14
10 – Bibliografia .............................................................................................................15

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1. O que é o composto Orgânico?


O composto é resultado da degradação biológica da matéria orgânica em presença de
oxigênio do ar. O composto orgânico constitui um material humidificado, com odor de
terra, facilmente manuseado e estocado, que contribui, significativamente, para a
fertilidade e a estrutura do solo (KIEHL, 1985).

O composto possui diferentes macro e micronutrientes que assimilados pelas plantas


em maior ou menor quantidade melhoram a saúde do solo. O fator mais importante do
fertilizante composto é a matéria orgânica, responsável pela fertilidade dos solos e fonte
de energia para os microorganismos que nele habitam. Contribui para melhorar as
propriedades físicas do solo, como agregação e porosidade, que melhora a aeração do
solo permitindo o maior desenvolvimento de minhocas e de microorganismos
desejáveis; a capacidade de retenção de água (que reduz a erosão) e de retenção de
cátions. Além disso apresenta nutrientes minerais (N, P, K, Ca, Mg, S e
micronutrientes) que podem ser utilizados pelas plantas.

A presença da matéria orgânica possibilita ainda a neutralização de algumas toxinas e


diminui a absorção de metais pesados prejudiciais às plantas, funcionando ainda como
solução tampão, ou seja, impede que o solo sofra mudanças bruscas de acidez ou
alcalinidade, também prejudiciais.

2 – O que é a Compostagem
A compostagem é definida como sendo a decomposição biológica do conteúdo orgânico
dos resíduos, sob condições controladas (CARDENAS & WANG, 1980; OBENG, 1982).

Dentro da concepção moderna, a compostagem vem sendo definida como um processo


aeróbico controlado, desenvolvido por uma colônia mista de microrganismos, efetuada
em duas fases distintas: a primeira, quando ocorrem as reações bioquímicas de
oxidação mais intensas predominantemente termofílicas; a segunda, ou fase de
maturação, quando ocorre o processo de humificação (PEREIRA NETO, 1987).

Na primeira fase, tem-se a estabilização dos compostos orgânicos solúveis e a


eliminação dos patogênicos, segundo o mesmo autor.

Na segunda fase, ocorrem as reações bioquímicas de humificação, não sendo


necessariamente aeróbicas, permitindo liberação temporária de fitotoxinas e conduzindo
à produção de matéria orgânica mineral, biologicamente estabilizada (DE BERTOLDI et.
al., 1984; BIDDLESTONE et al., 1981).

3 – Histórico da compostagem
Há milênios que o homem aprendeu a amontoar restos de animais e vegetais para
fermentar e, depois, empregar como adubo. (Ministério da Agricultura, 1980).

Os chineses têm empregado este sistema natural por milhares de anos, como um
processo intermediário no retorno de resíduos agrícolas e dejetos para o solo. As
técnicas eram artesanais e fundamentavam-se na formação de leiras ou montes de
resíduos que ocasionalmente eram revolvidos. Após cessar o processo de fermentação,

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o composto resultante era incorporado ao solo, o que favorecia o crescimento dos


vegetais (STENTIFORD et al., 1985).

Diversos autores, dentre eles, Howard (1920, 1933, 1935, 1938,1940), Howard e Wad
(1931), Beccari (1922), Shell (1954), Fairfield & Hardy trabalharam no aperfeiçoamento
da técnica de preparar adubos orgânicos, a partir de resíduos diversos, utilizando
técnicas tanto aeróbicas quanto anaeróbicas.

Os processos modernos de compostagem aeróbica foram pesquisados e desenvolvidos,


principalmente na Europa. A partir de 1920, as pesquisas concentraram-se nos
sistemas fechados de compostagem, os quais poderiam promover um controle mais
rigoroso sobre o processo e um menor período de tempo na produção do composto.

Na década de 70, o aumento da preocupação com a proteção ambiental ocasionou o


ressurgimento dos sistemas de compostagem, como um processo de tratamento para o
lodo de esgoto.

Nos últimos anos, os sistemas de compostagem por leiras sofreram um grande avanço,
o mesmo não ocorrendo com os sistemas mecanizados (STENTIFORD, 1986).

Desde 1988, o Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade


Federal de Viçosa vem desenvolvendo pesquisas, objetivando a otimização e o
desenvolvimento de tecnologias de baixo custo para o tratamento e a reciclagem de
resíduos agrícolas e do lixo urbano, tendo desenvolvido alguns processos (PEREIRA
NETO, 1993).

Dentre as tecnologias desenvolvidas e/ou aperfeiçoadas, destaca-se o processo de


Compostagem por Reviramento, que é uma versão do Processo Windrow. Trata-se de
um processo de baixo custo, alta simplicidade operacional e grande eficiência, e que,
por não depender necessariamente de energia, tem seu uso também recomendado
para qualquer comunidade carente dos países em desenvolvimento.

4 - Vantagens e Limitações do Processo


Vários pesquisadores afirmam que a compostagem se constitui em um dos melhores
processos para reciclagem de resíduos orgânicos (SHUVAL & YEKUTIEL, 1986;
STRAUS, 1986; PEREIRA NETO, 1995).

Além dos benefícios sanitários, econômicos e ambientais (GOLUEKE, 1977; SINGLEY,


1982) que os processos de compostagem podem trazer a uma comunidade, o produto
final, o composto orgânico, apresenta várias características que o tornam mais atrativo
(PEREIRA NETO, 1990).

Dentre os principais benefícios associados ao composto orgânico, tem-se:

Constitui uma excelente matéria-prima para o fabrico de adubos organo-minerais;


Pode ser utilizado como corretivo de variados tipos de solos, além de ser fonte de
macro (N, P, K, Ca, Mg) e micronutrientes (Fe, Mn, Cu, Zn, etc.);
Pode contribuir para melhorar as características físicas, químicas e estruturais dos
solos.

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Tem larga e garantida aplicação na recuperação de solos erodidos e na proteção e


recuperação de solos salitrosos.

Segundo IPT (2000), no caso específico do lixo urbano, a compostagem apresenta as


seguintes vantagens:

Redução de cerca de 50% do lixo destinado ao aterro;


Economia de aterro;
Aproveitamento agrícola da matéria orgânica;
Processo ambientalmente seguro;
Eliminação de patogênicos;

Entretanto, de acordo com a FEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente (1995), a


compostagem apresenta algumas limitações. Dentre as mais relevantes citam-se:

O processo requer grandes áreas;


Demanda mão-de-obra mais intensiva do que o requerido em outros processos de
tratamento.

5 – Preparo da matéria-prima
Mais da metade de todo o lixo domiciliar brasileiro é constituído de matéria orgânica,
boa parte proveniente de restos de alimentos ou de sobras de áreas ajardinadas que
podem, através da compostagem, retornar ao solo na forma de fertilizante orgânico.

O que pode ser compostado - Todo material de origem animal ou vegetal pode entrar na
produção do composto. Mas, para se ter um composto realmente de boa qualidade,

precisamos utilizar dois tipos de materiais no seu preparo:

1. Materiais que desmancham devagar - material palhoso (fonte de carbono)

- restos de capina e poda


- serragem
- palha de milho
- casca de arroz

2. Materiais que desmancham rápido (fonte de nitrogênio)

- restos de alimentos
- casca de frutas
- legumes
- hortaliças
- esterco / lodo

A matéria-prima a ser compostada deve estar livre de materiais inertes, ter partículas
com diâmetro médio de 35mm, umidade satisfatória (55%), concentração adequada de
nutrientes e uma relação carbono/ nitrogênio próxima a 35:1.

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O ideal é que a massa de compostagem seja resultante da mistura de vários resíduos


orgânicos, de forma a ser garantido o equilíbrio nutricional e a flora microbiológica
diversificada, o que imprime alta eficiência ao processo. A proporção, prática, em peso,
de mistura desses materiais é de 70% de material palhoso para 30% de esterco ou lixo
orgânico domiciliar (PEREIRA NETO, 1996). A recomendação tem sido juntar duas a
quatro partes de restos vegetais ricos em hidratos de carbono, para cada parte de
materiais fermentecíveis, ricos em nitrogênio (Ministério da Agricultura, 1980).

Fonte: Pereira Neto, 1996

7 – Montagem das leiras


Após a mistura dos resíduos, as leiras devem ser montadas imediatamente para que se
inicie o processo de compostagem. O monte de composto (leira) deve ter uma altura de
1,20 a 1,50 metros e largura de cerca de 2,00 metros. Segundo PEREIRA, 1996, o
comprimento é função da quantidade de material e conformação física do pátio de
compostagem.

Termômetro

1,20 a 1,50 m

2,00 m
» Método construtivo
» Material (folhas, palhas podas, restos de comida.
» Cobertura com material inerte.

Depois de montada, cada leira deve receber uma placa de identificação, nela constando
o número da leira e a data de montagem.

Leira n°: ________

Data da montagem: __/__/_____


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O tempo necessário para a compostagem de resíduos orgânicos está associado aos


vários fatores que influem no processo, ao método empregado e às técnicas
operacionais. A compostagem natural leva de 60 a 90 dias para atingir a
bioestabilização (fase1) e de 90 a 120 dias para atingir a humificação (maturação).

8 – Fatores que Afetam o Processo


A compostagem, como processo biológico, é afetada por qualquer fator que possa
influenciar a sua atividade microbiológica. Dentre este fatores podemos destacar:

temperatura
taxa de oxigenação ou taxa de aeração
teor de umidade
concentração de nutrientes
tamanho da partícula
pH

8.1 TEMPERATURA

De acordo com DE BERTOLDI, 1988; FINSTEIN, 1982; PEREIRA NETO, 1987, a


temperatura constitui o fator mais indicativo do equilíbrio biológico, e, portanto, reflete a
eficiência do processo de compostagem.

Segundo PEREIRA NETO, 1996, na 1ª fase - fase de degradação ativa - , a


manutenção de temperaturas termofílicas (45 a 65º C) controladas é um dos requisitos
básicos, uma vez que somente por meio deste controle é que se pode conseguir o
aumento da eficiência do processo, ou seja, o aumento da velocidade de degradação e
a eliminação dos organismos patogênicos.

A 2ª fase do processo se caracteriza pelo desenvolvimento de temperaturas mesofílicas


(30 a 45º C). Durante o decorrer do processo, a ocorrência de temperaturas inferiores a
45º C indicam o indício da fase de maturação

Dentre os principais fatores que influenciam o bom desenvolvimento da temperatura nas


leiras de compostagem, citam-se:

- as características da matéria-prima;
- o tipo de sistema utilizado;
- o controle operacional (teor de umidade, ciclo de reviramento, temperatura);
- a configuração geométrica das leiras.

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Altas temperaturas, resultado de atividade microbiológica intensa, sob o ponto de vista


sanitário, são vantajosos, pois eliminam microorganismos patogênicos e ervas
daninhas.

Inicialmente, a leira de compostagem é montada, estando os resíduos à temperatura


ambiente. Inicia-se a degradação da matéria orgânica presente e a temperatura eleva-
se passando da fase mesofílica para a termofílica (FINSTEIN, 1982).

Fonte: KIEHL, 1985 in IPT, 2000

Vários autores (PEREIRA NETO, 1987; DE BERTOLDI, 1982; FINSTEIN, 1982;


GOLUEKE, 1977) consideram que a temperatura na faixa de 45º a 55ºC é considerada
ótima para o processo, por possibilitar maior atividade microbiológica, aumento da taxa
de decomposição, eliminação de patógenos, sementes de ervas daninhas, ovos de
parasitas, larvas de insetos e, portanto, maior eficiência do processo.

Se as condições ambientais (umidade, oxigenação, disponibilidade de nutrientes,


dimensões das partículas, configuração das leiras) forem propícias, a temperatura da
leira atingirá valores de 40 a 60ºC, entre o segundo e o quarto dia, passando para a
fase termofílica.

No Processo Windrow, o controle da temperatura pode ser realizado através da


configuração geométrica da leira, aumentando ou diminuindo a área superficial, e
através de reviramentos periódicos. Nesse processo, a aeração da massa de
compostagem passa a ser o mecanismo de controle da temperatura na faixa ótima
(PEREIRA NETO, 1989).

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Fonte: Pereira Neto, 1996

A medida da temperatura deve ser feita com termômetro de haste longa, que permita a
leitura no mínimo a cerca de 40 cm da superfície da leira.

O acompanhamento da temperatura é mais importante na 1ª fase, quando deve ser


realizado diariamente. Já na 2ª fase, sugere-se, pelo menos 2 medidas de temperatura
por semana, em cada leira. Ainda, as medidas de temperatura deverão ser feitas em
vários pontos de uma mesma leira, para se obter uma média representativa.

8.2 TAXA DE OXIGENAÇÃO OU TAXA DE AERAÇÃO

O processo de compostagem é aeróbio, devendo haver sempre oxigênio do ar presente


nos vazios do resíduo (IPT, 2000).

A aeração é o principal mecanismo capaz de evitar os altos valores de temperatura


durante o processo de compostagem, o aumento da velocidade de oxidação do material
orgânico e a diminuição da emanação de odores (FINSTEIN, 1980). Por ser um
processo aeróbico de oxidação, a disponibilidade de oxigênio é um fator importante,

no metabolismo aeróbico de respiração de microrganismos, e na oxidação de várias


substâncias orgânicas presentes na massa de compostagem (FINSTEIN & MORRIS,
1975 ).

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O fornecimento de oxigênio à massa de compostagem, contribui para a remoção do


excesso de calor, de gases produzidos e do vapor de água, além de ser essencial para
a atividade microbiológica (BIDDLESTONE & GRAY, 1981; KLESS, 1981; PEREIRA
NETO, 1987).

O entendimento das necessidades de aeração da massa de compostagem é fator


imprescindível para definir, criteriosamente, o ciclo de aeração a ser fornecido durante o
processo de compostagem.

Formas de reviramento
(Aeração) da massa de compostagem
A aeração é feita através do
reviramento das leiras, podendo
ser manual ou mecânica.

Para o Processo Windrow,


PEREIRA NETO et. al. (1989)
sugerem reviramentos
periódicos, a cada três dias,
durante os 30 primeiros dias do
processo e a cada seis dias, até
que sejam registradas
temperaturas máximas inferiores
a 40ºC (fim da primeira fase do
processo).

8.3 TEOR DE UMIDADE

O controle de excesso de umidade, muitas vezes negligenciado na maioria dos sistemas


em operação no País, é um fator necessário e importantíssimo ao processo, por evitar a
anaerobiose, a qual ocorre quando o excesso de água ocupa os espaços vazios
(porosidade) do material (PEREIRA NETO, 1996).

A decomposição da matéria
orgânica depende, sobretudo, da
umidade, para garantir a atividade
microbiológica. Baixos teores de
umidade, menores que 40%
restringem esta atividade.

Teores de umidade acima de 60%


fazem com que a água ocupe os
espaços vazios da massa,
impedindo a livre passagem do
oxigênio, o que poderá causar
anaerobiose no meio, por baixar o
potencial de oxiredução, reduzindo
Fonte: Pereira Neto, 1996
a eficiência do processo

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Conseqüentemente, tem-se uma incompleta decomposição, baixas de temperatura e


produtos finais com odor desagradável (PEREIRA NETO, 1990; DE BERTOLDI et al.,
1983).
Trabalhos de pesquisa sobre a compostagem de diferentes materiais, em diferentes
processos, concluem que o teor de umidade deve situar-se em torno de 55%,
(PEREIRA NETO, 1987; FINSTEIN et al., 1984; GOLUEKE, 1977; SINGLEY, 1982).

Na prática, o teor de umidade é controlado com base na capacidade de aeração da


massa de compostagem (manual ou mecânica), nas características físicas do material
(estrutura, porosidade, etc.) e na necessidade de satisfazer à demanda microbiológica
(PEREIRA NETO, 1990; KIEHL, 1985).

Teste : para saber se o composto está bem molhado é só apertar um


punhado de composto com a mão:

• Se pingar água entre os dedos, tem


água demais;
• Se entre os dedos ficar molhado,
mas não pingar, está bom;
• Se não aparecer água entre os
dedos, devemos molhar o composto,
pois está faltando água.

Testa de Umidade – Fonte: Centro de Tecnologias Alternativas, 1991

Vários tipos de resíduos podem ser utilizados na compostagem visando à correção da


umidade. Serragem seca e solo são satisfatórios, embora a palha e os materiais
fibrosos, quando disponíveis, sejam mais eficazes como aditivos para absorver a
umidade. Porém, o revolvimento e a aeração, mais freqüentes, são os métodos mais
eficientes para a perda da umidade. Para correção de baixos valores de umidade,
PEREIRA NETO (1996) recomenda a adição de água no material durante os
reviramentos.

8.4 CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES

A compostagem tem sua eficiência estreitamente dependente da atividade dos


microrganismos que colonizam a massa de compostagem. Por sua vez, o crescimento e
a diversificação desses microrganismos relacionam-se diretamente com a concentração
de nutrientes, os quais fornecem material para síntese protoplasmática e suprem a
energia necessária para o crescimento celular, além de outras funções (PEREIRA
NETO, 1987). Quanto mais diversificado for o material a ser compostado, tanto mais
diversificados serão os nutrientes disponíveis para a população microbiológica e, em
conseqüência, mais eficiente será o processo de oxidação da matéria orgânica.

Quanto à concentração de nutrientes, a taxa carbono/nitrogênio ou relação C/N é


importante parâmetro na compostagem, por fornecer uma indicação útil da provável
taxa de decomposição da matéria orgânica (OBENG & WRIGHT, 1987).

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O equilíbrio da relação C/N é um fator de fundamental importância na compostagem,


cujo principal objetivo é criar condições para fixar os nutrientes, de forma que possam
ser posteriormente liberados por meio do composto. Há um consenso entre vários
pesquisadores que a taxa ótima para a relação C/N é de 30 a 40:1, o que influenciará a
boa atividade biológica, diminuindo o período de compostagem (SCHULZE, 1981;
GOLUEKE, 1977; CARDENAS, 1980; PEREIRA NETO, 1987).

PEREIRA NETO (1987) diz que a fração orgânica do lixo é fonte satisfatória de
aminoácidos, vitaminas, proteínas, sais minerais e macro e micro nutrientes, essenciais
à boa atividade de oxidação biológica, nos processos de compostagem.

8.5 TAMANHO DA PARTÍCULA

O tamanho da partícula do material a ser compostado é também importante, visto que,


quanto mais fragmentado ele for, maior será a área superficial sujeita ao ataque
microbiológico, diminuindo o período de compostagem (PEREIRA NETO, 1987).

Teoricamente, quanto menor o tamanho da partícula, melhor é a degradação biológica.


Na prática, fatores de ordem técnico-operacional limitam a redução de tamanho em
função da resistência estrutural do material (GOTAAS, 1956). A redução deve ser
efetuada através de trituração ou do corte, tornando o material orgânico mais
homogêneo na sua composição.

Dentre os fatores técnicos, tem-se necessidade de aumentar a porosidade do material a


fim de facilitar a sua aeração, mantendo, porém, as características estruturais para a
formação da pilha de compostagem. A altura da pilha é definida com base neste
parâmetro, tentando evitar a compactação excessiva que levam a condições anaeróbias
durante a compostagem (PEREIRA NETO, 1987).

Dentre os fatores operacionais, tem-se o aspecto econômico como principal, haja vista o
alto custo dos equipamentos de trituração (PEREIRA NETO, 1990).

Em se tratando de compostagem do lixo urbano, as experiências demonstram que as


dimensões ideais das partículas devem situar-se na faixa de 20 a 50 milímetros
(PEREIRA NETO, 1989; FINSTEIN, 1980).

8 .6 PH

A literatura especializada cita que a concentração de íons afeta os processos biológicos.


Entretanto, em experimentos de compostagem com lixo urbano e lodo de esgotos
realizados, verificou-se a existência de um fenômeno de "auto-regulação" do pH,
efetuado pelos microrganismos no decorrer do processo. Concluiu-se, assim, que o pH
da massa de compostagem não é, usualmente, um fator crítico nos processos de
compostagem (PEREIRA NETO, 1984, 1987), uma vez que os microrganismos podem
existir em uma ampla faixa de pH (KLESS, 1986).

Para a maioria das bactérias, a faixa ótima de pH fica entre 6 e 7,5 (PEREIRA NETO,
1986). Já para os fungos, situa-se na faixa de 5,5 a 8,0 (ALEXANDER, 1977).

De modo geral, no fim da compostagem, o pH tende a ficar na faixa alcalina, variando


de 7,5 a 9,0 (PEREIRA NETO, 1990).

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

9 - Unidades de Reciclagem e Compostagem


As Usinas Simplificadas de Reciclagem e Compostagem, existentes no Brasil, são
instalações dotadas de equipamentos eletromecânicos, destinados a separar da massa
de lixo os materiais inertes (plásticos, metais, vidros, papel, papelão, etc.), a matéria
orgânica e os rejeitos (FEAM, 1995).

De acordo com essa fundação, essas usinas, que podem ser mecanizadas ou
simplificadas, apresentam basicamente os seguintes módulos: balança, fosso de
recepção, esteiras de catação, trituração, peneiramento e pátio de compostagem.

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

10 – Referências Bibliográficas

D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero; VILHENA, André. Lixo municipal: manual de


gerenciamento integrado. 2 ed. São Paulo: IPT; CEMPRE, 2000. (Publicação ipt 2622)

KIEHL , Edmar José. Preparo do composto na fazenda . Brasília : EMBRATER ; SNAP ,


1980 . 13p.

PEREIRA NETO, João Tinoco. Manual de Compostasgem: processo de baixo custo.


Belo Horizonte: UNICEF, 1996. 56 P.

REDE DE INTERCMBIO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVA ; CENTRO DE


TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS DA ZONA DA MATA . Composto orgânico . [Belo
Horizonte] caritas brasileira ; EZE , CSN/AVEBEC , 1991 . 18p.

USP/CECAE . Faça uma composteira onde todo material orgânico se transformará


naturalmente em adubo . São Paulo , s.d. 2p. (SP Recicla)

RIBEIRO, Cláudia Júlio , TESE DE MESTRADO : compostagem de resíduos sólidos ,


DESA UFMG, 2000.

WELLSSL , Christopher ; JAHNEL, Marcelo Cabral . Compostagem : a outra metade da


reciclagem . São Paulo : CEMPRE , 1997 . 31 p. (Caderno de Reciclagem, 6)

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

ANEXO 1 - Controle Operacional

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

I - DURANTE A FASE DE DEGRADAÇÃO ATIVA


PROBLEMA POSSÍVEL CAUSA MEDIDA A SER TOMADA
1 - Pilha demora mais que 5 dias para Material muito seco Adicionar água à massa de
esquentar ( temperatura 50 - 65 ºC) compostagem e manter a
umidade a 55%

Adicionar à massa de
Material com excesso compostagem composto
de umidade maturado seco, terra vegetal
seca ou material palhoso
seco

Adicionar material
Material rico em nitrogenado: grama, lodo de
carbono esgoto, esterco de animal,
frações orgânicas do lixo
urbano, etc.

Adicionar material
Material rico em carbonáceo: folhas secas,
nitrogênio capim seco, etc. (OBS.:
nunca adicionar serragem)

Adicionar material que


Material muito promova porosidade da
compactado massa de compostagem:
cavaco de madeira, palha de
vegetais, etc.

Adicionar à massa de
Baixa atividade compostagem uma certa
microbiológica quantidade de matéria
orgânica de lixo ou de
esterco e promover uma
mistura criteriosa desses
materiais.

2 - Queda de temperatura da pilha Pilha operada sob Revirar a massa de


após curto período de aquecimento temperatura compostagem, corrigir a
excessivamente alta > umidade e modificar a
78 ºC configuração geométrica da
leira. Seguir o ciclo correto
Material muito molhado de reviramento.
ou muito compactado (
sem porosidade) Seguir os procedimentos
anteriores
Ciclo de reviramento
muito longo, baixo teor
de oxigênio na massa Seguir o ciclo correto de
de compostagem reviramento

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

3 - Registro de temperatura Material bem-balanceado, Modificar a configuração


excessiva da massa de rico em carbono e geométrica da leira de
compostagem facilmente degradável compostagem: aumentar a
área superficial da leira
4 - Queda gradual de temperatura Exaustão do carbono Verificar se a umidade, a
na fase ativa após 30 - 60 dias disponível, fim do substrato. oxigenação, a porosidade e
a configuração geométrica
são satisfatórias. Em caso
afirmativo, levar a leira para
o pátio de maturação.
5 - Emissão de maus odores da Tamanho da partícula muito Promover a quebra do
pilha de compostagem grande material durante o
reviramento como o auxílio
de enxadão amolado. Cobrir
a leira com uma camada de
15 cm de composto
maturado (50% de
umidade). Caso não seja
Volatização da amônia (NH3 possível, efetuar a prévia
) devido à alta temperatura ( trituração do material.
> 65 ºC) e ao pH alcalino (>
7,5) Revirar a massa de
compostagem e modificar a
configuração geométrica
para obter menores
temperaturas.
Anaerobiose devido ao
excesso de umidade Adicionar composto
maturado seco à massa de
compostagem e cobrir a
leira com uma camada de
Anaerobiose devido ao 15 cm de composto
longo ciclo de reviramento maturado.

Seguir o ciclo correto de


reviramento.
6 - Produção e liberação de Excesso de umidade da Seguir o processo anterior e
chorume da pilha de massa de compostagem lavar a área afetada do
compostagem pátio.
7 - Aumento de umidade das Anaerobiose devido ao Manter as leiras operando
pilhas no período chuvoso excesso de umidade e com umidade mínima ( 45%)
produção de chorume e cobri-las com composto
maturado seco.
8 - Atração de moscas e Material fresco em Cobrir a leira com camada
mosquitos nas pilhas de putrefação ( leira molhada) de 15 cm de composto
compostagem maturado durante os
primeiros 10 dias ( três
Anaerobiose da massa de primeiros reviramentos)
compostagem por excesso
de umidade ou falta de Seguir as medidas citadas
oxigenação anteriormente.

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COMPOSTAGEM – CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA OPERAÇÃO DO PROCESSO

II - DURANTE A FASE DE MATURAÇÃO


PROBLEMA POSSÍVEL CAUSA MEDIDA A SER TOMADA
1 - Pilha registra alta temperatura ( 50 - Presença de pouca Deixar a pilha em repouso
60 ºC) no pátio de maturação quantidade de material para que a maturação se
ativo: a pilha processe normalmente e a
permanece quente por temperatura caia para a
apenas 5 a 8 dias. faixa mesofílica ( < 45 ºC)

Continuar o processo de
Presença de grande compostagem (fase ativa)
quantidade de material até que a temperatura
ativo: o material não permaneça na faixa
está completamente mesofílica
degradado como
deveria.
2 - Emissão de odor, atração de vetores 1º fase de Compostar o material com
( fatos que jamais deverão ocorrer na compostagem mal as recomendações
fase de maturação) feita, processo mal sugeridas
operado.
3 - Material continua com alta contagem Controle precário na Continuar o processo de
de patógenos ( > 102 col/g), ou alta primeira fase do degradação caso sejam
relação C/N ( > 18:1) processo registrados picos de
temperaturas termofílicas.

Prolongar o período de
maturação caso a
temperatura esteja na fase
mesofílica ( < 45 ºC) até que
os parâmetros se
normalizem: C/N < 15 e
patógenos < 102 col/g.
4 - Geração espontânea de vegetação Colonização de Retirar toda e qualquer
nas pilhas em maturação sementes por vegetação das pilhas.
pássaros, vento, etc.
Não utilizar o material em
Colonização atividades agrícolas nobres (
emergente do próprio hortas, jardins, etc.) e
material ( controle retorná-lo parcialmente para
precário na Segunda as leiras novas.
fase do processo) Ex.:
ervas daninhas

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