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RESUMO
Sob a perspectiva da diversidade nas organizações, este artigo buscou analisar as políticas e
práticas para a gestão da diversidade na força de trabalho das instituições de ensino superior
comunitárias (IESC) gaúchas. Visando atender ao objetivo delineado, realizou-se um estudo de
caso múltiplo em onze IESC do Rio Grande do Sul, caracterizando-se como uma pesquisa
qualitativa e de natureza exploratória e descritiva. A abordagem qualitativa orientou o processo
de coleta e análise dos dados obtidos por meio de questionário semiestruturado com questões
abertas e fechadas, direcionado aos representantes das equipes de Gestão de Pessoas (GP)
estudadas. As universidades foram selecionadas por possuírem caráter comunitário. Os
resultados coletados revelaram que não há práticas de GP específicas para inclusão de grupos
minoritários nas equipes de trabalho, exceto para pessoas com deficiência, que é lei. Dessa
forma, os processos de GP ainda têm implicações para a real inclusão das diferenças de
diversidade nas universidades comunitárias gaúchas.
1 INTRODUÇÃO
1
Aluna do curso de MBA em Gestão Estratégica de Pessoas da Universidade de Passo Fundo – UPF. Graduada
em Ciências Contábeis pela UPF.
² Orientadora Mestre em Administração.
2
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Organizações são feitas de pessoas para pessoas, declara França (2014). O alicerce da
gestão de pessoas está na contribuição teórica e prática para uma vida humana saudável e com
resultados de produtividade, qualidade, desenvolvimento e competitividade sustentável. O
modelo de gestão de pessoas nas empresas ascendeu de atividades operacionais e legisladas
para práticas organizacionais estratégicas (FRANÇA, 2014).
Os modelos de gestão de pessoas adotados pelas organizações são sempre únicos,
influenciados por vários acontecimentos históricos e específicos de cada organização. A GP vai
além dos tradicionais subsistemas de recursos humanos (seleção, treinamento, remuneração,
movimentação das pessoas, etc.), pois incorpora os princípios, as políticas, as práticas, os
conceitos e as prioridades em uma organização. E isso é o que fundamenta a escolha e a
aplicação de ferramentas de gestão para orientar o comportamento humano no trabalho e pensar
nas pessoas como potencial de contribuição criativa e fonte de vantagem competitiva
(MASCARENHAS, 2009).
A gestão estratégica de pessoas deve interagir com outras dimensões da organização
para atender aos desafios impostos pelo ambiente e ainda contribuir para o alcance das
estratégias empresarias e seus objetivos de longo prazo (CHANDLER, 1962, apud
MASCARENHAS, 2009). Por isso cada organização busca a adequação de gestão de pessoas,
impulsionando comportamentos coerentes por meio das suas políticas e práticas nessa área,
implantando melhorias, inovações gerenciais e estruturais no ambiente de trabalho, visando ao
bem - estar dos trabalhadores (LIMONGI-FRANÇA, 2003) e de maneira a permitir
desempenhos melhores no cenário competitivo (MASCARENHAS, 2009).
As pesquisas de Rynes, Gerhart e Minette (2004), Cardoso (2006) e de Ribeiro; Roglio;
Pécora-Junior (2013) acentuam que algumas políticas e práticas de GP relacionadas a
treinamentos adequados, sistema de recompensas eficientes, programas de desenvolvimento,
além de sistemas de comunicação ajustados às necessidades do colaborador, podem contribuir
de forma efetiva nos resultados da organização. Com relação às contribuições para as equipes
de trabalho, Robbins et al. (2014) preconizam que os gestores devem ampliar a rede de
4
Aprendizagem, treinamento Preparar as pessoas para produzir melhor e se sentir autoconfiantes. Promover a
e desenvolvimento aquisição de habilidades. Aperfeiçoar capacidades e motivações.
Avaliação de performance e
Julgamento e apreciação a partir dos objetivos da gestão de pessoas.
competências
Comunicação e
Referem-se ao controle, à motivação, à expressão emocional e às informações.
endomarketing
Relações e direito do
Práticas legais na busca do equilíbrio entre empregado e empregador
trabalho
Fonte: França (2014) – organizado pela autora.
Se a gestão de pessoas visa à cooperação de quem atua nas organizações para o alcance
dos objetivos organizacionais e individuais (GIL, 2014), as organizações devem valorizar
políticas, práticas e processos de gestão de pessoas que buscam atender às necessidades de todos
os indivíduos, incentivar a objetividade e a justiça nos processos de GP, flexibilizar modelos de
trabalho de maneira a reunir interesses de todos e abraçar o desenvolvimento de competências
do coletivo por meio do foco no indivíduo inserido em uma cultura que o encoraje a participar
(PEREIRA; HANASHIRO, 2007). Ademais, nesse contexto de valorização das políticas e
práticas nas organizações, Robbins et al. (2010, p.38) consideram que: “Não somos todos
iguais. Isso é bastante óbvio, mas os gestores às vezes se esquecem de que precisam reconhecer
essas diferenças e tirar proveito delas para conseguir o melhor de seus funcionários”.
Apresentada políticas e práticas de GP, na sequência apresenta-se a diversidade e o
trabalho.
2. 2 Da diversidade ao trabalho
A Constituição Federal de 1988, Art. 5°, assegura que: “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade
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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
sequência foi enviado, por e-mail, o link com o questionário com questões abertas e fechadas,
além das orientações da pesquisa e do instrumento de coleta.
O objeto de estudo são as IES comunitárias gaúchas. No Sul do Brasil, são 15 (quinze)
instituições que estão organizadas no Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas
(COMUNG), oficializado em 1996. Essas instituições são consideradas
comunitária/confessional/filantrópica, constituindo o maior sistema da educação superior do
estado. Das 15 IESC atingidas com a pesquisa, 11 responderam o questionário. Os sujeitos da
pesquisa são profissionais que trabalham com GP, indicados pelas próprias IESC para
participarem da pesquisa, em razão do envolvimento com as atividades relacionadas às políticas
e práticas
O caráter comunitário se expressa fortemente na inserção da universidade na
comunidade local, na relação permanente com a sociedade civil e o poder público regional.
Desse modo, Schmidt (2017) aponta que constituem-se instituições em favor da inclusão social
e do desenvolvimento, na participação efetiva da comunidade nas tomadas decisões da
universidade, bem como na gestão democrática das instituições. Essas instituições, além de
prestar serviços de interesse público e gerar emprego e renda para a comunidade, são
protagonistas na difusão de valores de coesão e inclusão social, os quais orientam o
comportamento humano (SCHMIDT, 2017). Isso significa que sua relevância pública está tanto
nos serviços prestados quanto nos valores que difunde na comunidade.
Para a análise dos dados, utilizou-se o método de análise de conteúdo. As categorias
analíticas foram construídas de acordo com o referencial teórico a priori, sendo elas:
recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, carreira e remuneração, avaliação de
desempenho, qualidade de vida e comunicação e endomarketing. Esse método consiste em um
conjunto de técnicas de análise das comunicações dos sujeitos pesquisados, que visam obter
indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e
recepção dessas mensagens (BARDIN, 2009).
Como se observa nos dados apresentados, a faixa etária dos participantes é entre 31 a
45 anos, do gênero feminino e que trabalham nas IESC de 13 a 20 anos. Quanto à escolaridade,
todos os 11 respondentes possuem ensino superior, sendo na sua maioria pós-graduados.
Outra característica que fica evidente é que todos os respondentes são de cor branca e
não possuem qualquer deficiência. Após expor as instituições e os participantes da pesquisa,
apresentam-se, na sequência, as práticas adotadas pelas áreas de GP nas IESC.
4.3 Políticas e práticas adotadas pelas áreas de Gestão de Pessoas das IESC
nas organizações têm por objetivo ações que reconheçam e promovam a diferença entre os
indivíduos. Trata-se de um valor positivo a ser desenvolvido em benefício da produtividade da
organização e da democratização das oportunidades de acesso e tratamento no mercado de
trabalho. Assim, entre uma combinação de políticas de GP e a diversidade, apresentam-se as
práticas das IESC gaúchas.
Procuramos focar nos requisitos exigidos para desempenho de uma função [...].
Buscamos candidatos com vistas a atender as demandas de uma vaga que possui
atividades bem definidas, sem fazer pré-julgamento de sexo, raça, cor, gênero. [...].
Entende-se que independente de fazer parte de um grupo minoritário ou não, o foco
está na avaliação das competências de cada um. E ainda, competências podem ser
desenvolvidas por qualquer pessoa. Os candidatos precisam ser avaliados pelas suas
aptidões, não por índices demográficos, sua aparência, sexo ou idade.
Nesse sentido, a percepção dos respondentes vai ao encontro do que Pereira, Hanashiro
(2007) apontam no modelo de dissolução das diferenças, no qual não importa quem seja a
pessoa, mas, sim, suas competências, suas contribuições ao grupo. Ou seja, valorizam-se as
necessidades de todos abraçando o desenvolvimento de suas competências com finalidade no
indivíduo inserido em uma cultura que o estimule a participar, ouvir e tomar decisões.
Analisadas as práticas de recrutamento e seleção adotadas pelas IESC, na próxima seção
busca-se compreender como é trabalhada a política de treinamento e desenvolvimento para a
gestão da diversidade.
4.3.2 Treinamento e desenvolvimento
Como segunda prática, os participantes foram questionados sobre as ações que as IESC
adotam na política de treinamento e desenvolvimento, cujos resultados são apresentados na
próxima tabela.
Tabela 2: Presença de práticas de treinamento e desenvolvimento nas IESC
POLÍTICAS DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO IESC (%)
Oferece bolsas de qualificação, formação e aprimoramento aos funcionários. 100%
Capacita gestores(as) e equipes no tema da diversidade e princípios de igualdade de 81,80%
oportunidades e suas implicações no âmbito do trabalho.
Estabelece programas de capacitação profissional que visem melhorar a qualificação dos 36,40%
grupos minoritários para que possam exercer as suas atividades com plenitude.
Incentiva e estimula funcionários pertencentes a grupos minoritários a desfrutarem das 54,50%
ofertas de bolsas oferecidas pela universidade.
A IES possui um serviço de acompanhamento da integração e inclusão dos funcionários 81,80%
que pertencem a grupos minoritários.
Realiza outra ação para a gestão da diversidade na política de treinamento e 0%
desenvolvimento que não foi mencionada nos itens anteriores.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
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Observa-se na Tabela 2 que é unânime (100%) a prática de ofertar bolsas de estudos aos
trabalhadores, promovendo o desenvolvimento na instituição. Isso, talvez, esteja atrelado a um
dos tipos de benefícios oferecidos por organizações que têm como caráter do negócio a
educação. Em contrapartida, apenas 54,50% das IESC incentiva ou estimula funcionários
pertencentes a grupos minoritários a desfrutarem das ofertas de bolsas.
Duas ações obtiveram índice de 81,8% de prática nas IESC: capacitar gestores e equipes
no tema da diversidade e possuir um serviço de acompanhamento da integração e inclusão dos
funcionários que pertencem a grupos minoritários. Bitencourt et al., (2010) preconiza ser
imprescindível incluir na educação gerencial o debate sobre a inclusão de minorias nas equipes
de trabalho e também estimular o desenvolvimento de competências gerenciais para o trabalho
da diversidade nas organizações e para a mitigação das violências nas relações.
Das universidades comunitárias estudadas, 36,40% estabelecem programas de
capacitação profissional que visem melhorar a qualificação dos grupos de minorias para que
possam exercer as suas atividades com plenitude. Com relação aos programas oferecidos, foram
apontados pelas instituições programas que atendem à diversidade geracional: “Aprendiz
Melhor, com duração de 18 meses, envolvendo aulas teóricas, práticas e estágios em diferentes
setores da instituição; cursos de qualificação, que fazem parte do Plano de Desenvolvimento
Continuado (PDC); palestras e workshops” (IESC 2) e novamente projetos direcionados para
pessoas com deficiência: “Realizamos ações para qualificar a integração dos PCD, a
compreensão das suas dificuldades e como os demais colegas podem auxiliá-los na realização
de suas tarefas [...]” (IESC 3), o que, de certa forma, também foi afirmado pelas IESC 5 e 10.
Para Robbins et al. (2010), uma vez que a maior diversidade da força de trabalho traz
consequências para as práticas de gestão, a oferta de treinamentos distintos deve atender às
diferentes necessidades da equipe. Ou seja, é preciso que as organizações não tratem todos
como sendo iguais, mas que reconheçam as diferenças existentes no ambiente, incluindo
práticas que assegurem aos indivíduos uma maior produtividade e retenção de trabalhadores.
Nenhuma das IESC apontou promover outra ação na política de treinamento e
desenvolvimento que vise à gestão da diversidade. Os respondentes afirmam que os programas
de capacitação são abertos a todos os públicos, uma vez que todos os trabalhadores têm as
mesmas condições e oportunidades dentro da organização. É nesse sentido o relato da IESC 4:
“Não especificamente para grupos minoritários, uma vez que os programas de capacitação são
promovidos a todos, sem distinção, de acordo com os cargos e atividades exercidos”. Em outras
palavras, essa informação também está presente na realidade das instituições 6, 7 e 8.
Contrariando-se fragmentos da opinião dos respondentes de que “não se faz distinção”
e de que “todos são tratados da mesma forma”, Pereira e Hanashiro (2007) também apontam o
modelo de valorização das diferenças. Os autores constatam que seria necessário criar políticas
de inclusão de minorias com base em critérios ao recrutamento e à seleção. Da mesma forma,
ter a prática de treinamentos diferenciados, uma vez que os grupos de minorias não teriam as
mesmas chances de desenvolvimento, ascensão e participação que os grupos historicamente
privilegiados dentro das organizações.
Percebidas as práticas de treinamento e desenvolvimento, a seguir busca-se
compreender as práticas desenvolvidas na política de carreira e remuneração.
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Na sequência, o questionamento aos participantes foi sobre as ações que as IESC adotam
na política de carreira e remuneração. A Tabela 3 apresenta o resultado a partir das respostas
dos participantes.
Como quarta prática, foi questionado aos participantes sobre as ações que as IESC
adotam na política de avaliação de desempenho, cujos resultados são apresentados na próxima
tabela.
acompanhamento social do funcionário, mas, por outro lado, realizam eventos para reforçar
conceitos como integração, inclusão, solidariedade.
Nenhuma das IESC sinaliza na avaliação de desempenho estabelecer ferramentas e
procedimentos para desenvolvimento na carreira de pessoas pertencentes aos grupos
minoritários. Sinalizam que: “As condições são as mesmas, durante o processo de avaliação de
desempenho anual [...], os trabalhadores são chamados individualmente para feedback,
oportunizando que comentem e complementem suas colocações” (IESC 2). Ou seja, também
nesta política de avaliação de desempenho, algumas instituições apontam que não há distinção
de práticas para os grupos de minorias e mantém-se a postura de que “todos são iguais” e “têm
as mesmos condições”.
Sobre a possibilidade de existir outra ação promovida pela GP da instituição para a
gestão da diversidade na avaliação de desempenho, não houve relatos dos respondentes.
Avaliadas as práticas de avaliação de desempenho, na sequência apresenta-se a
percepção sobre a política de qualidade de vida e saúde da GP das universidades comunitárias.
A quinta prática questionada é sobre as ações que as IESC adotam no quesito qualidade
de vida e saúde. A Tabela 5, na sequência, demonstra os resultados a partir das respostas dos
participantes.
Tabela 5: Presença de práticas de qualidade de vida e saúde nas IESC
POLÍTICA DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE IESC (%)
Estabelece missão, código de conduta, compromissos e valores da organização que incorporem o 70%
tema da diversidade e os princípios de igualdade de oportunidades.
Identifica e divulga boas práticas internas de gestão e relacionamento que promovam direitos 90%
humanos e respeitem grupos minoritários.
Dissemina o tema da diversidade visando à inclusão e ao respeito. 100%
Realiza outra ação para a gestão da diversidade na política de qualidade de vida e saúde que não foi 0%
mencionada nos itens anteriores.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Observa-se com destaque a elevada proporção em cada uma das ações da política de
qualidade de vida e saúde mencionadas na Tabela 5. O que indica certa atenção das instituições
em suas ações no sentido de implantar melhorias e inovações gerenciais e estruturais no
ambiente de trabalho visando ao bem - estar dos trabalhadores, conforme Limongi França
(2003) preconiza.
Todas as IESC afirmam disseminar o tema da diversidade para garantir a inclusão e o
respeito. Ao encontro dessa ação, 90% sinalizam identificar e divulgar boas práticas internas
de gestão e relacionamento que promovam direitos humanos e respeitem grupos minoritários.
Somando-se a elas, 70% das GP estabelecem missão, código de conduta, compromissos e
valores da organização que incorporem o tema da diversidade e os princípios de igualdade de
oportunidades.
Embora não sinalizado no questionário pelos respondentes, apontam-se outras ações
específicas de cada instituição que marcam a presença da diversidade na política de qualidade
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de vida e saúde no trabalho. Entre elas está a “política de inclusão para pessoas com deficiência
e resolução da reitoria sobre acessibilidade (IESC 3)”. Outras ações também foram
mencionadas:
Nesse sentido, infere-se que qualidade de vida no trabalho está ligada a um plano
organizacional estratégico e deve ter como meta uma organização mais humanizada. Nela o
trabalho deve articular-se com autonomia e responsabilidade demandadas pelo recebimento de
feedback, pelos cargos, pela variedade, pelo enriquecimento do trabalho e pela devida
importância no desenvolvimento pessoal dos empregados (BITENCOURT et al., 2010).
Após as práticas de qualidade de vida e saúde no trabalho, segue-se para a compreensão
da política de comunicação e endomarketing.
Por fim, os participantes foram questionados sobre as ações que as IESC adotam na
política de comunicação e endomarketing, cujos resultados se apresentam na Tabela 6.
Divulga seus compromissos com a diversidade e os princípios de igualdade de oportunidades nos 72,70%
canais de comunicação internos.
Zela para que a comunicação e o marketing da IESC não produzam nem utilizem campanhas com 90,90%
conteúdo discriminatório a grupos minoritários.
A instituição investe nas questões da diversidade, sem visar unicamente publicidade ou marketing 54,50%
social.
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Observa-se que 100% das IESC possuem canais de reclamação para receber e solucionar
queixas em relação a problemas como assédio moral e casos de preconceito por conta de raça,
gênero, deficiência, idade e orientação sexual. A ação que inclui zelar para que a comunicação
e o marketing da IESC não produzam nem utilizem campanhas com conteúdo discriminatório
a grupos minoritários foi sinalizada por 90,90% das instituições participantes.
Questionadas sobre como são divulgados os seus compromissos com a diversidade e os
princípios de igualdade nos canais de comunicação interno, 72,70% apontam que o fazem e
como fazem: “Através de mensagens, campanhas, grupos de trabalho, palestras de
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esclarecimento, rádio, tv, redes sociais, jornais, newsletter, e-mails e sensibilização” (IESC 2,
7, 8 e 10). E ainda “nas campanhas instituições pessoas ligadas aos grupos são convidadas a
participar, reforçando a ideia de que a universidade é composta pelos diferentes grupos” (IESC
5).
Abrir canais de comunicação e de diálogo entre os diferentes no ambiente de trabalho
das organizações estimula o processo de inclusão e diminui preconceitos. Para tanto, processos
participativos de comunicação e alinhamento das atividades laborais e uma gestão atenta às
necessidades dos trabalhadores são condições importantes para que sejam traçadas políticas
adequadas no ambiente de trabalho (PEREIRA 2013).
Investir nas questões da diversidade sem visar unicamente publicidade ou marketing
social é a ação em que se identificam 54,5% das IESC. Interrogadas sobre como isso ocorre,
não houve relatos que pudessem exemplificar a ação. Nas organizações, muitas vezes a
diversidade tem sido vista como aspecto de responsabilidade social, como uma prática que
apoia e oportuniza a inserção profissional das pessoas pertencentes aos grupos de minorias.
(BITENCOURT et al., 2010).
Por outro lado, Alves e Galeão Silva (2004), numa abordagem sobre as dificuldades que
as organizações têm em manter postura coerente em relação à diversidade, atentam para o uso
da diversidade como mais um recurso organizacional em busca de melhores resultados, pois
mascara as diferenças e a utiliza como meio de sensibilização de novos mercados, da retenção
de talentos, do fomento de criatividade e da sensibilidade.
Identificadas as práticas de GP nas universidades comunitárias, a seguir investiga-se a
percepção que se tem sobre a participação dos grupos de minorias nas IESC.
4.4 Percepção da área de GP sobre a participação dos grupos de minorias nas IESC
Com este estudo, também se buscou investigar o que as GP pensam sobre a participação
dos grupos de minorias em suas equipes. De acordo com os dados da pesquisa, a maioria das
IESC acredita realmente ser importante existir políticas e práticas de diversidade atuantes na
inclusão das diferenças na força de trabalho. De fato, não importa a que grupo se pertence, as
pessoas em geral apoiam programas de incentivo à diversidade e acreditam que essas políticas
promovem uma oportunidade justa de demonstrar talentos e habilidades (ROBBINS et al.,
2010).
Justificam essa importância em vários relatos, como o da IESC 9, para a qual manter
essa posição relaciona-se com “cumprir o seu papel social”, ou seja, o de ser uma instituição
comunitária. Isso nos leva a considerar a ideia de Schmidt (2017), o qual menciona que as
instituições comunitárias são protagonistas em difundir valores de coesão e inclusão social que
orientam o comportamento humano, além de prestar serviços de interesse público e gerar
emprego para a comunidade.
De acordo com a percepção da IESC 1: “[...] Todos somos diferentes e é com essas
diferenças que se constroem melhorias, contribuindo com a busca da mudança cultural,
aceitação das diferenças [...], promovendo a inclusão, igualdade de acesso, de desenvolvimento
e de oportunidades [...]”. No mesmo sentido, tem-se a percepção da IESC 5: “A sociedade tem
nas diferenças a sua essência, o problema é que determinados grupos passam a ser hegemônicos
e isto gera a discriminação, o desafio é compreender as diferenças e criar uma cultura do
respeito à diversidade [...]”. Nessa linha, faz-se referência à ideia de Bitencourt et al. (2010),
sobre ser determinante para uma real inclusão das minorias que as políticas de diversidade
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sejam adotadas e que sejam apresentadas e discutidas de modo transparente para que as pessoas
se conscientizem a respeito de sua importância.
Por outro lado, embora a IESC 6 reconheça a importância da diversidade, afirma: “Cada
um tem seu colorido, mas na essência todos são iguais. Tentamos tratar todos de forma
igualitária. É necessário um cuidado para que na ânsia de se fazer tantos projetos referente às
diferenças não se acabe excluindo esse público e não incluindo”. Isso faz levar em consideração
apontamentos de Pereira, Hanashiro (2007), os quais sugerem que ao desenvolver modelos de
gestão da diversidade não se deve negar e tampouco aclamar a identidade social dos grupos, e
sim fazer as equipes de trabalho perceber que há mais semelhanças do que diferenças entre as
pessoas.
Por fim, associado a esta percepção que se tem dos grupos de minorias, os respondentes
apontaram algumas dificuldades em trabalhar esse tema nas instituições. Justificam que ainda
encontram barreiras como “forma de pensar tradicional” e resistente por parte de alguns
gestores, mudança de cultura na organização e a própria autoexclusão dos pertencentes aos
grupos de minorias. E reafirmam que o tema deve ser sempre relembrado entre as equipes, pois
acreditam que é da “natureza” da universidade abordar essa questão nas políticas de GP.
Analisadas a percepção das GP sobre o tema, na sequência sugere-se alternativas de
práticas de gestão da diversidade.
Já dizia Santos (2003): “[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos
inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí
a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não
produza as desigualdades”. Dessa forma, reconhece-se que não basta rejeitar a discriminação;
é necessário promover práticas de inclusão. Sendo assim questiona-se: Que políticas e práticas
podem ser sugeridas para o setor de GP das universidades comunitárias deste estudo?
Essa questão é complexa e não possui resposta traçada. Porém, é preciso repensar o que
mais pode ser feito quando a intenção é incluir os grupos de minorias na força de trabalho. Em
resumo, a pesquisa aponta que as práticas mais intensas nas IESC são as que estão direcionadas
para inclusão dos PCD, sem lograr muito êxito, uma vez que a maioria das organizações
enfrenta dificuldades para cumprir as exigências estabelecidas na lei. Também se citam práticas
para inclusão da diversidade geracional. Porém, práticas para a inclusão de negros, mulheres,
público LGBT e diversidade cultural passam despercebidas nas iniciativas das GP.
Para exemplos de boas práticas que possam estimular o respeito e o comprometimento
com a causa, sugerem-se capacitações e sensibilizações sobre diversidade e inclusão para toda
a gestão e a equipe de trabalhadores. Destacam-se essas boas práticas na multinacional Sodexo,
na qual a oferta de bônus à gerência está associada a metas ligadas à diversidade. Segundo a
revista Meio & Mensagem (2018) para inclusão de LGBT, é oferecida pela mesma empresa
ambiente apropriado para a discussão, com 115 participantes no Brasil. A Sodexo criou um
grupo composto por LGBT e não LGBT para debater o universo de lésbica, gays, bissexuais,
travestis, transexuais e transgêneros.
Uma forma de estimular a diversidade nas equipes é fazer um esforço de recrutamento
e seleção entre grupos de minorias, o que poderia ser intensificado ao estabelecer parcerias com
associações representativas dos grupos. Como exemplo disso destaca-se o programa “Enegrecer
recrutamento expresso” da empresa Thoughtworks (TW). O projeto é uma iniciativa com foco
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abraçar profissionais que fogem ao padrão construído pela sociedade e assim poder
trabalhar com times mais diversos, com pessoas de diferentes nacionalidades, com vivências
distintas, idade, cor, formação e gênero faz com que as organizações revejam e adaptem suas
práticas de gestão de pessoas.
A área de GP das universidades comunitárias gaúchas apresenta pequenas ações
voltadas para a inclusão da diversidade na força de trabalho. Um olhar sobre outras minorias
ainda não é um pilar da GP para determinar ações de inclusão nas suas equipes. Na política de
recrutamento e seleção não há práticas exclusivas para atingir novos trabalhadores com perfis
diversos, fazendo com que todos tenham oportunidades iguais. Excetua-se, por ser lei, o
tratamento de vagas destinadas aos portadores de necessidades especiais.
Muito além do recrutar, deve estar o cuidado de receber e acompanhar esses grupos nos
processos de desenvolvimento e de crescimento na carreira. Nesse sentido, as IESC encontram
dificuldades para apresentar programas específicos para tais grupos ou até mesmo
acompanhamento personalizado dos profissionais. Quanto à carreira, é explícita uma política
de valorização das competências, criando oportunidades de desenvolvimento, reconhecendo as
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qualidades das pessoas, independentemente de cor, raça, vivência, gênero ou qualquer outra
característica. Os programas são destinados a todos os trabalhadores tendo a percepção de que
“todos são iguais” e “têm as mesmas condições” de alavancar-se profissionalmente. Poucas são
as IESC que estão realmente inclinadas a sistematizar processos mais inclusivos e a
compreender as diferentes variáveis envolvendo o perfil dos grupos de minorias.
A política de avaliação de desempenho, ferramenta que poderia ser utilizada para
identificar ações específicas para grupos minoritários, não inclui quesitos de diversidade e
princípios de igualdade de oportunidades. Por outro lado, as IESC utilizam esse programa como
oportunidade de escuta para correção e feedback sobre situações de discriminação que venham
a ocorrer nas equipes de trabalho, imaginando que isso possibilite às pessoas sentirem-se
confortáveis para conversar e compartilhar qualquer situação que aconteça.
Buscar a diversidade, a inclusão e o respeito utilizando as políticas de saúde, qualidade
de vida, comunicação e endomarkenting é prática apontada pelas GP. Algumas sinalizam que
estabelecem compromissos e valores da organização que reúnem o tema da diversidade e
princípios de igualdade de oportunidades. Porém, é inerente a essa prática que houvesse a
preocupação em criar ambientes nos quais os trabalhadores sejam valorizados como são e que
se sintam encorajados a expressar-se para atingir todo o seu potencial. Só assim esses valores
de inclusão e respeito estariam sendo estabelecidos pelas organizações.
As IESC pesquisadas afirmam a importância de ter a diversidade nos seus times de
trabalho. Porém, relatam que o tratamento é igual para todos e quando questionadas sobre suas
percepções em relação a ter os grupos de minorias em suas equipes, afirmam ser importante
para que tenham igualdade de acesso, desenvolvimento e oportunidades. Isso significa que a
diversidade insere-se numa perspectiva de que é motivada pela realidade e precisa ser apoiada
pelas organizações, mas ainda a real inclusão tem implicações nas políticas e práticas de GP
que ainda não estão preparadas para a causa.
Baseadas em práticas que organizações utilizam em prol da diversidade sugerem-se
ações que possam atender outros indivíduos pertencentes aos grupos de minorias: no processo
de recrutamento e seleção priorizar vagas efetivas para negros e LGBT; nas políticas de
remuneração ampliar benefícios para casais do mesmo gênero; na política de desenvolvimento,
promover capacitações e sensibilizações para construir um clima no qual as pessoas se sintam
confortáveis e acolhidas pela organização.
A partir do exposto, entende-se que a questão norteadora deste artigo foi respondida,
trazendo importante contribuição teórica, prática e social para as GP. Em face de seu caráter
exploratório, os resultados alcançados com a pesquisa não permitem generalização. Fornecem,
contudo, uma valiosa compreensão sobre como as IESC gaúchas atribuem a diversidade nas
suas políticas e práticas de GP. Não há estudos direcionados paras as políticas e práticas nessas
organizações comunitárias, mas há uma crescente busca pela conscientização do tema. Espera-
se que este estudo possa contribuir para que cada universidade comunitária reflita o propósito
das práticas que podem adotar para valorizar a diversidade e promover a igualdade entre suas
equipes. Acredita-se também poder cooperar para a construção de um ambiente de justiça social
em que todos tenham suas necessidades e identidades. E que os resultados deste estudo possam,
ainda, inspirar pesquisas que se orientem para os desafios de gerir a diversidade, específicos
dessas organizações.
Entendem-se como limitação desta pesquisa alguns aspectos relacionados à forma como
os dados foram coletados. Tendo em vista a quantidade de IESC existentes no RS e a intenção
do alcance da pesquisa, não se pode utilizar o método de entrevista e sim o questionário on line.
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Isso não possibilitou um olhar atento para os respondentes a fim de perceber as suas reações
por meio da observação não participante quando questionados sobre o tema.
Como possibilidade de estudos futuros, sugere-se fazer esta pesquisa tendo como
participantes os trabalhadores pertencentes aos grupos de minorias dessas universidades
comunitárias. Ou seja, investigar qual a percepção sobre as políticas e práticas de GP adotadas
e como se sentem em relação às ações que são direcionadas a eles ou ao coletivo, se acreditam
que deveria ser diferente. Sugere-se também ampliar este estudo para as IESC do Brasil para
avaliar se há diferenças no tratamento do tema da diversidade, dependendo da região em que as
instituições estão inseridas.
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REFERÊNCIAS
FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Joice Elias Costa. 3. ed. São
Paulo: Artmed, 2009.
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