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10 FISIOLOGIA ARTICULAR

\ -
1. ME\fBRO SUPERIOR 11

Fig.1-1
12 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOLOGIA DO OMBRO

o ombro, articulação proximal do mem- bro superior, de duas maneiras diferentes:


bro superior (fig. 1-1, pág. 11), é a mais móvel
a rotação voluntária (também deno-
de todas as articulações do corpo humano.
minada "rotação adjunta') que utiliza
Possui três graus de liberdade (fig. 1-2), o o terceiro grau de liberdade e não é
que permite orientar o membro superior em re- possível se,não for em articulações de
lação
.... aos três planos do espaço, graças a três três eixos (as enartroses). Deve-se à
eixos pnnClpals: contração dos.músculos rotadores;
1) Eixo transverso, incluído no plano a rotação automática (também deno-
frontal:
minada "rotação conjunta") que apa-
Permite movimentos de fIexão-exten- rece sem nenhuma ação voluntária nas
são realizados no plano sagital (ver articulações de dois eixos, ou nas arti-
figo 1-3 e plano A da figo 1-9). culações de três eixos quando funcio-
2) Eixo ântero-posterior, incluído no nam como articulações de dois eixos.
plano sagital: Mais adiante trataremos o paradoxo
de CODMAN.
Permite os movimentos de abdução (o
membro superior se afasta do plano de A posição de referência é definida como
simetria do corpo), adução (o membro decrevemos a seguir:
superior se aproxima ao plano de sime-
O membro superior pende ao longo do
tria) realizados no plano frontal (ver
corpo, verticalmente, de maneira que o eixo
figs. 1-4 e 1-5 e plano B da figo 1-9).
longitudinal do úmero (4) coincide com o eixo
3) Eixo vertical, determinado pela inter- vertical (3). Na posição de abdução a 90° o ei-
secção do plano sagital e do plano xo longitudinal (4) coincide com o eixo trans-
frontal: versal (1). Na posição de fIexão de 90°, coinci-
Corresponde à terceira dimensão do es- de como o eixo ântero-posterior (2).
paço; dirige os movimentos de fIexão e Portanto, o ombro é uma articulação com
de extensão realizados no plano hori- três eixos principais e três graus de liberdade;
zontal, o braço em abdução de 90° (ver o eixo longitudinal do úmero pode coincidir
também figo 1-8 e plano C da figo 1-9). com um dos dois eixos ou se situar em qual-
O eixo longitudinal do úmero (4) permite quer posição intermédia para permitir o movi-
a rotação externalinterna do braço e do mem- mento de rotação externa/interna.
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,II2-4.J\,- -.,
i/0
I
,
I
(
(

Fig.1-2
14 FISIOLOGIA ARTICULAR

A FLEXÃO-EXTENSÃO E A ADUÇÃO

Os movimentos de flexão-extensão do "coto" do ombro no plano horizontal (pág.


(fig.1-3) se realizam no plano sagital (plano 18) e por isso é preferível não utilizá-los quan-
A, figo 1-9), ao redor de um eixo transversal do nos referimos aos movimentos do membro
(1, figo 1-2): supenor.
a) extensão: movimento de escassa ampli- A partir da posição anatômica (máxima
tude, 45 a 50°; adução), a adução (fig. 1-4) no plano frontal é
b) flexão: movimento de grande ampli- mecanicamente impossível devido à presença
tude, 180°; observar que a mesma do tronco.
posição de flexão a 180° pode ser A partir da posição anatômica, não é pos-
definida também como uma abdução de sível a adução se não for associada com:
180°, próxima à rotação longitudinal
a) uma extensão: adução muito leve;
(ver mais adiante o paradoxo de
CODMAN). b) uma flexão: a adução alcança de 30 a 45°.
Com freqüência se utilizam, embora de A partir de qualquer posição de abdução, a
modo errôneo, os termos de antepulsão para se adução, neste caso denominada "adução relati-
referir à flexão e retropulsão para a extensão. va", é sempre possível no plano frontal, até a
Isto leva a uma confusão com os movimentos posição anatômica.
L MEMBRO SUPERIOR 15

b
Fig. 1-3

a b
Fig.1-4
16 FISIOLOGIA ARTICULAR

AABDUÇÃO

A abdução (fig. 1-5), movimento que (b) abdução de 0° a 60°, que unicamen-
afasta o membro superior do tronco, se realiza te pode se realizar na articulação es-
no plano frontal (plano B, figo 1-9), ao redor cápulo-umeral;
do eixo ântero-posterior (fig. 1-2, eixo 2). (c) abdução de 60° a 120° que necessita
A amplitude da abdução alcança os 180°: da participação da articulação escá-
o braço está em posição vertical por cima do pulo-torácica;
tronco (d). (d) abdução de 120° a 180° que utiliza,
Duas advertências: além das articulações escápulo-
umeral e escápulo-torácica, a incli-
- a partir dos 90°, a abdução aproxima o nação do lado oposto do tronco.
membro superior ao plano de simetria
Observar que a abdução pura, descrita uni-
do corpo; também é possível chegar à camente no plano frontal, é um movimento pou-
posição final de abdução de 180° me- co comum. Pelo contrário, a abdução associada
diante um movimento de flexão de
com uma fiexão determinada, isto é, a elevação
180°;
do braço no plano da escápula, formando um
- do ponto de vista das ações musculares ângulo de 30° em sentido anterior com relação
e do jogo articular, a abdução, a partir ao plano frontal, é o movimento mais utilizado,
da posição anatômica (a), passa por principalmente para levar a mão até a nuca ou à
três fases: boca.
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.
\

a b

/ \ 1/\

c d
Fig.1-5
18 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ROTAÇÃO DO BRAÇO SOBRE O SEU EIXO LONGITUDINAL

A rotação do braço sobre o seu eixo longi- ao longo do corpo. Pelo contrário, a ro-
tudinal (fig. 1-2, eixo 3) pode ser realizada em tação externa mais utilizada, portanto a
qualquer posição do ombro. Trata-se da rotação mais importante do ponto de vista fun-
voluntária ou adjunta das articulações com três cional, é o setor compreendido entre a
eixos e três graus de liberdade. Em geral, esta posição anatõmica fisiológica (rotação
rotação se mede na posição anatõmica do braço externa -30°) e a posição anatõmica
que pende verticalmente ao longo do corpo (fig. clássica (rotação 0°).
1-6, vista superior). c) Rotação interna: a sua amplitude é de
a) Posição anatômica, denominada rota- 100 a 110°, Para conseguir realizar essa
ção externa/interna 0°: para medir a am- rotação, o antebraço deve passar ne-
plitude destes movimentos de rotação, o cessariamente.por trás do tronco, o que
cotovelo deve estar necessariamente jle- exige um certo grau de extensão do om-
xionado a 90° de maneira que o antebra- bro. A liberdade deste movimento é in-
ço esteja no plano sagital. Se não toma- dispensável para que a mão possa che-
mos esta precaução, à amplitude dos gar até as costas. É a condição para se
movimentos de rotação externa/interna poder realizar a higiene perineal poste-
do braço se somaria à dos movimentos rior. Com relação aos primeiros 90
de pronação-supinação do antebraço. graus de rotação interna, é exigida ne-
Esta posição anatõmica, o antebraço no cessariamente uma flexão do ombro
plano sagital, se utiliza de maneira total- sempre que a mão estiver na frente do
mente arbitrária. Na prática, a posição tronco.
de partida mais utilizada, porque se cor- . Os músculos motores da rotação longitudi-
responde com o equilíbrio dos rotadores, nal serão estudados na página 78. No que se re-
é a de rotação interna de 30° com relação fere à rotação longitudinal de braço nas outras
à posição anatõmica, de maneira que a posições que não seja a anatõmica, não é possí-
mão fica na frente do tronco. Poder-se-ia vel medir de maneira precisa se não for median-
se denominar posição de referência fi- te um sistema de coordenadas polares (ver pág.
siológica. 26). Os músculos rotadores intervêm de manei-
b) Rotação externa: a sua amplitude é de ra diferente em cada posição, uns perdem a sua
80°, jamais alcança os 90°. Esta amplitu- ação rotadora, enquanto outros a adquirem. Isto
de total de 80° normalmente não é utili- é um exemplo da lei da inversão das ações mus-
zada nesta posição, com o braço vertical culares segundo a posição.

MOVIMENTOS DO COTO DO OMBRO NO PLANO HORIZONTAL

Estes movimentos desencadeiam a ação é maior do que a da retroposição.


da articulação escápulo-torácica (fig. 1-7): Ação muscular:
a) posição anatômica; Anteposição: peitoral maior, peitoral me-
b) retroposição do coto do ombro; nor, serrátil anterior.
c) anteposição do coto do ombro. Retroposição: rombóides, trapézio (por-
Observar que a amplitude da anteposição ção média), grande dorsal.
1. MEMBRO SUPERIOR 19

Fig.1-6 c

c
Fig.1-7
20 FISIOLOGIA ARTICULAR

FLEXÃO-EXTENSÃO HORIZONTAL

É o movimento do membro superior no pla- Extensão horizontal, movimento que as-


no horizontal (fig. 1-8 e plano C da figo 1-9) ao socia a extensão e a adução de menor amplitude,
redor do eixo vertical ou, mais exatamente, em 30-40°, ativa os seguintes músculos:
tomo de uma sucessão de eixos verticais, dado
que o movimento se realiza não só na articula- deltóide (fascículos póstero-extemos
ção escápulo-umeral (fig. 1-2, eixo 4), mas tam- IV e V, e póstero-intemos VI e VII em
bém na escápulo-torácica (ver figo 1-37). proporção variável entre eles e com o
fascículo IIl), ,
Posição anatõmica: o membro superior
está em abdução de 90° no plano frontal, o qual supra-espinhal,
provoca a contração da seguinte musculatura: infra-espinhal,
- deltóide (principalmente a sua porção redondos maior e menor,
acromial, figo 1-65, IIl),
rombóides,
- supra-espinhal,
trapézio (fascículo espinhal que se so-
- trapézio: porções superior (acromial e
ma aos outros dois),
clavicular) e inferior (tubercular),
- serrátil anterior. grande dorsal (em antagonismo-siner-
gismo com o deltóide que anula o im-
Flexão horizontal, movimento que associa portante componente de adução do
a flexão e a adução de 140° de amplitude, ativa grande dorsal).
os seguintes músculos:
deltóide (fascículos ântero-intemo I e A amplitude total deste movimento de fle-
ântero-extemo II em proporção variá- xão-extensão horizontal alcança quase os 180°.
vel entre eles e com o fascículo IIl), Da posição extrema anterior à posição extrema
posterior se ativam, sucessivamente, como se
subescapular,
fosse uma escala musical de piano, as diferentes
peitorais maior e menor, porções do deltóide (ver pág. 70), que é o prin-
serrátil anterior. cipal músculo deste movimento.
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c
Fig.1-8
22 FISIOLOGIA ARTICULAR

o MOVIMENTO DE CIRCUNDUÇÃO

A circundução combina os movimentos por trás do setor III e à esquerda do setor V.


elementares ao redor de três eixos (fig. 1-9). O setor VII, não visível, se situa por cima).
Quando esta circundução alcança a sua amplitu- A seta, prolongamento da direção do braço,
de máxima, o braço descreve no espaço um co- indica o eixo do cone de circundução e a sua
ne irregular: o cone de circundução. Este cone
orientação no espaço se corresponde levemente
delimita, na esfera cujo centro é o ombro e cujo
com a definida como posição funcional (ver figo
raio é igual à longitude do membro superior, um 1-16), mas neste caso o cotovelo se encontra em
setor esférico de acessibilidade, em cujo interior
extensão. O setor V que inclui o eixo do cone de
a mão pode pegar objetos sem deslocar o tron-
circundução é o ~etor de acessibilidade prefe-
co, para eventualmente levá-Ios à boca.
rencial. A orientação para a frente do eixo do
Neste esquema, a curva representa a base cone de circundução r.esponde à necessidade de
do cone de circundução (trajetória da extremida- proteger as mãos que trabalham sob o controle
de dos dedos), percorrendo os diferentes setores visual. O cruzamento parcial e para frente dos
do espaço determinados pelos planos de referên- dois setores de acessibilidade dos membros su-
cia da articulação: periores obedece à mesma necessidade, permi-
a) plano sagital (ftexão-extensão), tindo que ambas as mãos trabalhem simultanea-
b) plano frontal (adução-abdução), mente sob controle visual, cooperem entre si e,
se for necessário, se substituam uma à outra; de
c) plano horizontal (ftexão horizontal ou modo que o conjunto dos dois setores esféricos
extensão horizontal).
de acessibilidade dos membros superiores é con-
A partir da posição de referência - repre- trolado pelo campo visual dos olhos até seus
sentada por um ponto espesso - a curva passa movimentos extremos, mantendo a cabeça fixa
sucessivamente (para o membro superior direi- no plano sagital. Os campos visuais e os setores
to) pelos setores: de acessibilidade das mãos se superpõem quase
lU - abaixo, na frente e à esquerda; completamente.
II - acima, na frente e à esquerda; É necessário ressaltar que esta disposição
VI - acima, atrás e à direita; só é possível no percurso da filogenia graças ao
deslocamento para baixo do forame occipitaL
V - abaixo, atrás e à direita; permitindo assim que a superfície possa se diri-
VIII - abaixo, atrás e à esquerda, em um gir para a frente e que o olhar adote uma dire-
trajeto muito curto, porque a extensão-adu- ção perpendicular ao eixo longitudinal do cor-
ção tem pouca amplitude (no esquema o se- po, enquanto nos quadrúpedes o olhar está diri-
tor VIII se localiza por baixo do plano C, gido em direção ao eixo do corpo.
1. MEMBRO SUPERIOR 23

I B
11
VI

111
IV

Fig.1-9
24 FISIOLOGIA ARTICULAR

o "PARADOXO" DE CODMAN

Quando, a partir da posição anatômica (fig. de descrever um ciclo ergonômico; tais ciclos se
1-10, a e b), o membro superior vertical ao lon- utilizam com freqüência nos gestos profissionais
go do corpo, a palma da mão girada para den- ou esportivos repetidos, por exemplo na natação.
tro, o polegar apontando para a frente (a), pedi- Esta rotação longitudinal voluntária que Mac Co-
mos a um sujeito que realize, com o seu mem- naill denomina rotação adjunta, só é viável em
bro superior, um movimento de abdução de articulações com três graus de liberdade e é indis-
+180° no plano frontal (c), seguido por um mo- pensável durante o ciclo ergonômi€o. Isto fica de-
vimento de extensão relativa de -180° no plano monstrado na seguinte experiência: a partir da po-
sagital (d), o membro superior se encontra no- sição anatômica, em rotação interna, com a palma
vamente vertical ao longo do corpo mas com a da mão girada pará fora e o polegar para trás, ab-
palma da mão girada para fora e o polegar dução até os 180°, a partir dos 90° de abdução, o
apontando para trás (e). movimento fica bloqueado e é necessário realizar
Também é possível realizar o ciclo inverso: uma rotação externa voluntária para continuar. De
flexão de 180° e, a seguir, uma adução de 180°, fato, causas anatômicas, tensão ligamentar e mus-
mas os sinais estão invertidos e obtemos uma cular, não permitem que a rotação conjunta conti-
rotação externa de 180°. nue no sentido da rotação interna e é necessário
É fácil constatar que a palma da mão modi- recorrer a uma rotação adjunta externa para anular
fica a sua orientação, provocando um movimen- a rotação conjunta interna e finalizar o ciclo ergo-
to de rotação longitudinal de 180°. nômico. Isto explica a necessidade de uma articu-
lação de três eixos na raiz dos membros.
Neste duplo movimento de abdução segui-
do por uma extensão, se produz AUTOMATI- Em resumo, o ombro é capaz de realizar
CAMENTE uma rotação interna de 180°: um dois tipos de rotação longitudinal: a rotação vo-
movimento sucessivo em tomo de dois dos eixos luntária ou adjunta e a rotação automática ou
do ombro dirige mecanicamente e involuntaria- conjunta. Em todo momento estas duas rotações
mente um movimento ao redor do eixo longitu- se somam algebricamente:
dinal do membro superior. É o que Mac Conaill - se a rotação voluntária (adjunta) é nula,
denominou rotação conjunta, que aparece num a rotação automática (conjunta) aparece
movimento diadocal, isto é, realizado sucessiva-
com claridade: é o (pseudo) paradoxo de
mente em tomo dos dois eixos de uma articula-
Codman,
ção com dois graus de liberdade. Neste exem-
plo, a articulação do ombro, que possui três - se a rotação voluntária tem a mesma di-
graus de liberdade, é utilizada como uma articu- reção que a rotação automática, ela se
lação de dois eixos. amplifica,
Se utilizamos o terceiro eixo para realizar, - se a rotação voluntária tem direção con-
voluntária e simultaneamente, uma rotação inver- trária, esta diminui ou até mesmo anula
sa de 180°, desta vez, a mão retoma à posição de a rotação automática: é o ciclo ergonô-
partida, o polegar apontando para a frente, depois mlCO.
1. MEMBRO SUPERIOR 25

+ 1800

c
b
a

e
d Fig.1-10
26 FISIOLOGIA ARTICULAR

AVALIAÇÃO DOS MOVIMENTOS DO OMBRO

A avaliação dos movimentos e das posi- braço pela posição que ocupa o cotovelo P nu-
ções nas articulações com três eixos principais e ma esfera cujo centro é o ombro O e o raio OP
três graus de liberdade, como o ombro, repre- equivale à longitude do úmero. Do mesmo mo-
senta uma dificuldade, porque existem ambigüi- do que no globo terráqueo, a posição do ponto
dades. Por exemplo, se de maneira geral defini- P se define mediante dois ângulos, a longitude
mos a abdução como um movimento de separa- e a latitude. O ponto P se localiza na interse-
ção do membro superior do plano de simetria, cção de um grande círculo cuja lqngitude pas-
esta definição só é válida até os. 90°, já que, a sa pelos dois pólos e de um círculo pequeno de
partir daí, o membro superior se aproxima do latitude cujo plano é paralelo ao do Equador,
plano de simetria por cima e, contudo, continua- representado aqui J?elo grande círculo do plano
mos com a denominação de abdução; para ava- sagital S. A linha dos pólos é a interseção do
liar a rotação longitudinal o problema é ainda plano frontal F e do plano transversal T, o me-
mais árduo. ridiano O é o semicírculo inferior do plano
frontal F. Mede-se aflexão como uma longitu-
Embora seja simples avaliar um movi- de contada para a frente, ou como o ângulo
mento quando o membro se desloca no plano de BÔL (L é a intersecção do meridiano que pas-
referência, frontal ou sagital, sem dúvida sele- sa por P e do Equador), e a abdução como uma
cionado arbitrariamente, a questão é mais com- latitude, isto é, o ângulo AÔK, ou melhor ain-
plicada quando nos referimos aos setores inter- da o seu suplementar BÔK. Além disso é viá-
médios; são necessárias pelo menos duas coor- vel avaliar a rotação longitudinal do úmero co-
denadas angulares que utilizam um sistema de mo um cabo em relação com um meridiano
coordenadas retangulares, ou um sistema de vertic~l BPA que passe por P: este cabo é o ân-
coordenadas polares. gulo C determinado a partir de AP.
No sistema de coordenadas retangula- Portanto, este sistema de avaliação é
res (fig. 1-11), medimos o ponto de projeção do bem mais preciso e completo que o primeiro; in-
eixo longitudinal do braço, pelo menos em dois clusive é o único que permite representar o cone
dos três planos de referência: frontal, F, sagital, de circundução como uma trajetória fechada na
Se trans\erso, T, localizando o "centro" do om- esfera, embora se utilize menos na prática devi-
bro na interseção O dos três planos. A projeção do à sua complexidade.
do ponto P no plano frontal F em M e no plano Apresenta uma diferença importante com o
sagitalAS em Q permite medir o ân~ulo de abdu- sistema de coordenadas retangulares (fig. 1-13):
ção SO?vl e o ângulo de flexão SOQ. Observar se o ângulo de flexão BÔL é o mesmo, o ângu-
que a posição do ponto N, projeção de P no plano lo de abdução BÔK é diferente de BÔM (em
transverso T, pode ser definido sem ambigüidade coordenadas retangulares) e esta diferença é
a partir do momento em que conhecemos M e Q. mais importante quanto mais se aproxime a fle-
Contudo, neste sistema, não existe nenhum modo xão aos 90°. De fato, para uma flexão de 90° o
de avaliar a rotação sobre o eixo longitudinal ponto P se situa no meridiano horizontal que
OP.
passa por E. O ângulo BÔM, então, é sempre
No sistema das coordenadas polares igual a 90°, enquanto o ângulo AÔK pode variar
(fig. 1-12) ou acimutais, se define a direção do de O a 90°.
1. ME\IBRO SUPERIOR 27

Fig.1-11

Fig.1-12

Fig.1-13
28 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOVIMENTOS DE EXPLORAÇÃO GLOBAL DO OMBRO

Primeiro movimento de exploração glo- terna, a mão entra em contato com a re-
bal do ombro (fig. 1-14) gião lombar.
a) pentear-se; Quando está livre e a sua amplitude é nor-
b) levar a mão à nuca. mal, este movimento dirige a mão até a parte in-
ferior da região escapular contralateral.
Quando está livre e a sua amplitude é nor-
lal, este movimento dirige a mão em direção à Posição funcional do ombro (fig. 1-16)
°elhaoposta e da parte superior da região esca- O eixo longitudinal do braço está em flexão
r'ular contralateral. de 45° e abdução de 60°, isto é, se encontra no
Este movimento realizado com o cotovelo plano vertical formando um ângulo diedro de
em flexão explora tanto a abdução (120°) quan- 45° com o plano sagital (ou frontal) e o braço es-
to a rotação externa (90°). tá em rotação interna de 30-40°.
Segundo movimento de exploração glo- Esta posição se corresponde com o estado
bal do ombro (fig. 1-15) de equilíbrio dos músculos periarticulares do
ombro: por isso se utiliza esta posição para a
Vestir um casaco:
imobilização das fraturas da diáfise umeral já
- o braço que se introduz na primeira que, nestas condições, o fragmento inferior, o
manga (braço esquerdo na figura) rea- único sobre o qual podemos atuar, se encontra
liza um movimento de flexão-abdução; no eixo do fragmento superior sobre o qual
- o braço que vai procurar a segunda atuam os músculos periarticulares.
manga (braço direito na figura) realiza Corresponde-se também com o eixo do co-
um movimento de extensão-rotação in- ne de circundução (fig. 1-9).
1. MEMBRO SUPERIOR 29

Fig.1-14

Fig.1-16
Fig.1-15
30 FISIOLOGIA ARTICULAR

o COMPLEXO ARTICULAR DO OMBRO

o ombro não está constituído por uma arti- grupo, contudo não pode atuar sem as
culação, mas por cinco articulações que confor- outras duas, já que está mecanicamen-
mam o COMPLEXO ARTICULAR DO OM- te unida a elas ..
BRO (fig. 1-17), cujos movimentos com relação 4) Articulação acrômio-clavicular
ao membro superior acabamos de explicar. Estas
cinco articulações se classificam em dois grupos: Articulação verdadeira, localizada na
porção externa da clavícula.
Primeiro grupo: duas articulações:
S) Articulação esternocostoclavicular
1) Articulação escápulo-umeral
Articulação verdadeira, localizada na
Articulação verdadeira do ponto de porção interna da clavícula.
vista anatômico (contato de duas su-
perfícies cartilaginosas de desliza- Em geral, o complexo articular do ombro
mento) pode ser esquematizado da seguinte maneira:
Esta articulação é a mais importante Primeiro grupo:
do grupo. uma articulação verdadeira e princi-
2) Articulação subdeltóide ou "segun- pal: a articulação escápulo-umeral;
da articulação do ombro" uma articulação "falsa" e acessória:
Do ponto de vista estritamente anatô- a articulação subdeltóide.
mico não se trata de uma articulação; Segundo grupo:
contudo podemos considerar do pon- uma articulação "falsa" e principal;
to de vista fisiológico, devido ser a articulação escápulo-torácica;
composta por duas superfícies que
deslizam uma sobre a outra. A articu- duas articulações verdadeiras e aces-
sórias: a acrômio-clavicular e a es-
lação subdeltóide está mecanicamente
tem o-costo-cIavicular.
unida à articulação escápulo-umeral:
qualquer movimento na articulação Em cada um dos grupos, as articulações es-
escápulo-umeral provoca um movi- tão unidas mecanicamente, isto é, atuam neces-
mento na subdeltóide. sariamente ao mesmo tempo. Na prática, os dois
Segundo grupo: três articulações. grupos também funcionam simultanearnente, se-
gundo proporções variáveis no percurso dos mo-
3) Articulação escápulo-torácica vimentos. De maneira que podemos afirmar que
Neste caso se trata outra vez de uma as cinco articulações do complexo articular do
articulação fisiológica e não anatômi- ombro funcionam simultaneamente e em pro-
ca. É a articulação mais importante do porções variáveis de um grupo ao outro.
1. MEMBRO SUPERIOR 31
32 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS SUPERFÍCIES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO ESCÂPULO-UMERAL

Superfícies esféricas, características de - tuberosidade menor ou troquino, ante-


uma enartrose e, portanto, articulação de três ei- rior, I

xos e com três graus de liberdade (fig. 1-18). - tuberosidade maior ou troquino, externa.
a) Cabeça umeral b) A cavidad'e glenóide da escápula
Orientada para cima, para dentro e trás, po- Localizada no ângulo superior-externo do
de ser comparada com um terço de esfera de 30 corpo da escápula, se orienta para fora, para a
mm de raio. Na verdade, esta esfera está longe frente e levemente para cima. É côncava em am-
de ser regular devido a seu diâmetro vertical ser bos os sentidos (vertical e transversal), mas a sua
3 a 4 mm maior do que o seu diâmetro ântero- concavidade é irregular e menos acentuada do
posterior. Além disso, num corte vértico- frontal que a convexidade da cabeça. Está rodeada pela
(quadro) podemos comprovar que o seu raio de proeminente margem glenóide, interrompida pela
curva diminui levemente de cima para baixo e incisura glenóide na sua parte ântero-superior. A
que não existe um único centro da curva, mas sua superfície é menor que a da cabeça umeral.
uma série de centros de curva alinhados ao lon-
c) O lábio glenóide
go de uma espiral. Portanto, quando a parte su-
Trata-se de um anel fibrocartilaginoso lo-
perior da cabeça umeralentra em contato com a
calizado na margem glenóide, de maneira que
glenóide, a região de apoio é maior e a articula-
ocupa a incisura glenóide e aumenta ligeiramen-
ção é mais estável, quanto mais tensos estejam
te a superfície da glenóide, embora, principal-
os fascículos médio e inferior do ligamento gle-
mente, acentua a sua concavidade restabelecen-
noumeral. Esta posição de abdução de 90° co-
do a congruência (coincidência) das superfícies
rresponde à posição de bloqueio ou close-pac- articulares.
ked position de Mac Conaill.
Triangular, quando está seccionado, apre-
O seu eixo forma com o eixo diafisário um
senta três superfícies:
ângulo denominado "inclinação" de 135° e, com
o plano frontal, um ângulo denominado "decli- - uma superfície interna que se insere no
nação" de 30°. contorno glenóide;

Está separada do resto da epífise superior - uma superfície periférica onde se inse-
do úmero pelo colo anatômico, cujo plano está rem algumas fibras da cápsula;
inclinado 45° com relação à horizontal (ângulo
- uma superfície central (ou axial) cuja
suplementar do ângulo de inclinação). cartilagem é um prolongamento da gle-
Contém duas proeminências nas quais se nóide óssea e que entra em contato com
inserem os músculos periarticulares: a cabeça umeral.
1. MEMBRO SUPERIOR 33

Fig.1-18
34 FISIOLOGIA ARTICULAR

CENTROS INSTANTÂNEOS DE ROTAÇÃO

o centro da curva de uma superfície articu- po se situa em outro "centro de dispersão" C2,
lar não necessariamente coincide com o centro situado na metade superior da cabeça. Os dois
de rotação porque, além da forma da superfície, círculos estão separados pela descontinuidade.
intervêm também o jogo mecânico da articula-
Com relação ao movimento de abdução,
ção, a tensão dos ligamentos e a contração dos
músculos. podemos comparar a articulação escápulo-ume-
ral (fig. 1-20) com duas articulações:
No que se refere à cabeça umeral, não exis- - no início do movimento até os 500, a ro-
te, como se acreditava durante muito tempo tação da cabeça umeral se realiza ao re-
quando se comparava a sua forma com uma por- dor de um ponto situado em algum lu-
ção de esfera, um centro fixo e imutável durante gar do círculo Ci;
o movimento, mas sim, como demonstraram os
recentes trabalhos de Fischer e cols., uma série - no fim da abdução entre 50 e 900, o cen-
de centros instantâneos de rotação (CIR) que se tro de rotação se localiza no círculo C2;
correspondem com o centro do movimento rea- - ao redor dos 500, a descontinuidade do
lizado entre duas posições muito próximas entre movimento acontece cujo centro se lo-
elas. Estes pontos se determinam mediante a caliza claramente por cima e por dentro
análise informática de uma série de radiografias da cabeça.
suceSSivas.
Durante o movimento de flexão (fig. 1-21,
Assim sendo, durante o.movimento de ab- vista externa) a mesma análise demonstra que
dução considerado plano, isto é, mantendo uni- não existe uma grande descontinuidade na tra-
camente o componente de rotação de úmero no jetória dos CIR, o que corresponde a um único
plano frontal, existem dois grupos de CIR (fig. "círculo de dispersão" centrado na parte infe-
1-19) dentre os quais aparece uma descontinui- rior da cabeça à mesma distância de ambas as
dade (3-4) até hoje sem explicação viável. O pri- margens.
meiro grupo se localiza num "círculo de disper- Por último, durante o movimento de rota-
são" C1, situado perto da parte inferior-interna ção longitudinal (fig. 1-22, vista superior), o cír-
da cabeça umeral, cujo centro é o baricentro dos culo de dispersão se localiza perpendicularmen-
CIR e cujo raio é a média das distâncias desde o te à cortical diafisária interna e à mesma distân-
baricentro até cada um dos CIR. O segundo gru- cia das duas margens da cabeça.
1. MEMBRO SUPERIOR 35

3-4

Fig.1-19 Fig. 1-20 '00

Fig.1-21

Fig.1-22
36 FISIOLOGIA ARTICULAR

A CÁPSULA E OS LIGAMENTOS DO OMBRO

As superfícies articulares e a bainha cap- raco-umeral fecha, na parte de cima,


sular (fig. 1-23, segundo Rouviere). a incisura intertuberositária, por onde
a) A cabeça wneral (vista interna) o tendão da porção longa do bíceps
sai da articulação: este percorre o sul-
Rodeada pela cápsula como se fosse uma co intertuberositário, convertido em
gorjeira (1) na qual se distingue:
canal pelo ligamento umeral trans-
os "frenula capsulae" (2) por baixo verso (8).
do pólo inferior da cabeça; trata-se de
ligamento glenoumeral, com os seus
pregas sinoviais elevadas por fibras
três fascículos, superior supragleno-
recorrentes da cápsula;
supra-umeral (9), médio suprag1eno-
o engrossamento formado pelo fascí- pré-umeral (10) e inferior pré-g1e-
culo superior do ligamento gle- nossubumeral (11).
noumeral (3).
O conjunto forma um Z expandido sobre a su-
Dentro da cápsula podemos ver o tendão sec- perfície anterior da cápsula.
cionado da porção longa do bíceps (4).
Entre os três fascículos existem pontos fracos:
Por fora da cápsula podemos apreciar a sec-
Forame de Weitbrecht (12) e forame de Rou-
ção do músculo subescapular (5), perto de sua in-
viere (13), por onde a sinovial articular pode-se co-
serção na tuberosidade menor. municar com a bolsa serosa subcoracóide.
b) A cavidade glenóide (vista externa)
- a porção longa do tríceps (14).
Com o lábio g1enóide (1) que passa por cima
Vista posterior da articulação escápulo-
da incisura glenóide formando uma ponte (2) e cu-
umeral (fig. 1-24 bis, segundo Rouviere)
jo pólo superior serve de inserção para as fibras da
porção longa do bíceps (intracapsular) (3), neste Na parte posterior da cápsula, abrimos uma
caso seccionado. "janela" e a cabeça umeral foi removida (1). A las-
sidão da cápsula permite separar 3 cm das superfí-
Com a cápsula (4) e os seus reforços ligamen-
tares: cies articulares no cadáver, de maneira que pode-
mos distinguir:
os fascículos médio (2) e inferior (3)
do ligamento glenoumeral (vistos des-
de a sua superfície profunda);
ligamento córaco-umeral (4), ao qual
está unido o ligamento córaco-gle-
nóide (5), que não possui função me-
cânica;
a parte intra-articular da porção longa
do bíceps (6);
a cavidade glenóide (7) e o lábio gle-
nóide (8);
dois ligamentos que não possuem ação
mecânica: o ligamento coracóide (9) e o
ligamento espinho-g1enóide (10);
as inserções dos três músculos pe-
riarticulares: o supra-espinhal (11), o
infra-espinhal (12) e o redondo me-
nor (13).
1. .\1E~'1BRO SUPERIOR 37

5
8

Fig.1-23

14
9 10 5
Fig.1-24
11

12

13

.!

Fig. 1-24bis
38 FISIOLOGIA ARTICULAR

o TENDÃO DA PORÇÃO LONGA DO BÍCEPS INTRA-ARTICULAR

Em corte frontal da articulação escápulo- se afastam da inserção tendinosa. Mas, em todo


umeral (fig. 1-25, segundo Rouviere), podemos caso, o tendão, embora intracapsular, permanece
observar: extra-sinovial.
- as irregularidades da cavidade glenóide ós- N a atualidade sabemos que o tendão da
sea desaparecem na cartilagem glenóide; porção longa do bíceps desempenha um papel im-
- margem cotilóide (2) acentua a profundi- portante na fisiologia e na patologia do ombro.
dade da cavidade glenóide; contudo, o en- Quando o bíceps se contrai 'para levantar
caixe desta articulação não é muito com- um objeto pesado, as suas duas porções desem-
pacto, o qual explica as freqiientes luxa- penham um papel muito importante para manter a
ções. Na sua parte superior (3) a margem coaptação simultânea do ombro: a porção curta
glenóide não está totalmente fixa: a sua e1e\"a o úmero com relação à escápula e se apóia
margem central cortante fica livre dentro sobre o processo coracóide; assim sendo, junto
da cavidade, como se fosse um menisco; com os outros músculos longitudinais (porção
- na posição anatômica, a parte superior da longa do tríceps, coracobraquial, deltóide), impe-
cápsula (4) está tensa, enquanto a inferior de a luxação da cabeça umeral para baixo. Simul-
(5) apresenta pregas: esta "elasticidade" taneamente, a porção longa coapta a cabeça ume-
capsular e o "despregamento" dos frenula ral na glenóide; isto é exatamente assim no caso
capsulae (6) possibilitam a abdução; da abdução do ombro (fig. 1-26), porque a porção
longa do bíceps também forma parte dos abduto-
- tendão da porção longa do bíceps (7) se res: quando sofre mptura a força da abdução dimi-
insere no tubérculo subglenóide e no pólo nui 29%.
superior do lábio glenóide. Para sair da ar-
ticulação pela incisura intertuberositária O grau de tensão inicial da porção longa
(8) se desliza por baixo da cápsula (4). do bíceps depende da longitude do trajeto percorri-
do pela porção horizontal intra-articular (fig. 1-27,
Corte que mostra as conexões do tendão com vista superior). Esta longitude é máxima em posi-
a sinovial (quadro): ção intermédia (A) e em rotação externa (B): nes-
Na cavidade alticular o tendão da porção lon- te caso a eficácia da porção longa é máxima. Pelo
ga do bíceps pode estabelecer ligações com a si- contrário, em rotação interna (C) o trajeto intra-ar-
novial mediante três posições diferentes: ticular é o mais curto e a eficácia da porção longa
é mínima.
1) aderido à superfície profunda da cápsula
(c) pela sinovial (s); Também podemos compreender, conside-
2) a sinovial forma duas pequenas pontas rando a reflexo do tendão da porção longa do bí-
(fundos de saco) entre a cápsula e o ten- ceps na incisura intertuberositária, que neste pon-
dão que, desta maneira, se une à cápsula to ele sofre uma grande fadiga mecânica à qual
mediante um fino septo denominado me- não pode resistir se o seu trofismo não é excelen-
sotendão; te, considerando que isto também se acentua pelo
fato de não contar com um sesamóide neste pon-
3) estando dois "fundos de saco" unidos de to crítico. Se, com a idade, aparece a degeneração
tal maneira que desaparecem, o tendão fi- das fibras colágenas, o tendão termina se rompen-
ca liberado, mas envolvido por uma pe- do pela sua porção intra-articular, na entrada do
quena lâmina sinovial. sulco ou canal bicipital, inclusive com um esforço
Normalmente, estas três disposições po- mínimo, produzindo um quadro clínico caracterís-
dem observar-se de dentro para fora à medida que tico das periartrites escápulo-umerais.
1. MEMBRO SUPERIOR 39

8 7 4 3 1 1

32Z//////~c
~.:.I
2~ S

Fig.1-25

Fig.1-26

B
Fig.1-27
40 FISIOLOGIA ARTICULAR

FUNÇÃO DO LIGAMENTO GLENOUl\:1ERAL

Durante a abdução (fig. 1-28) rior da glenóide e da margem cotilóide. A rota-


ção externa desloca a tuberosidade do úmero
a) posição anatõmica (as franjas tracejadas
para trás no fim da abdução, que se encontra
representam os fascículos médio e infe-
por baixo da abóbada acrõmio-coracóide e a in-
rior do ligamento);
cisura intertuberositária, e distende ligeiramen-
b) durante a abdução podemos comprovar te o fascículo inferior do ligamento glenoume-
como estão tensos os fascículos médio e ral de maneira que consegue retardar o impac-
inferior do ligamento glenoumeral, en- to. Assim sendo, a amplitude da abdução é de
quanto o fascículo superior e o ligamen- 90°.
to córaco-umeral - não representado no
desenho - se distendem. A tensão máxi- Quando a abdução se realiza com uma fle-
xão de 30°, no plano do corpo da escápula, a
ma dos ligamentos, associada à maior
tensão do ligamento glenoumeral é retardada,
superfície de contato possível das carti-
permitindo que a abdução atinja uma amplitu-
lagens articulares (o raio da curva da ca- de de 110° na articulação escápulo-umeral.
beça umeral é ligeiramente maior em ci-
ma que embaixo) fazem da abdução a Durante a rotação (fig. 1-29)
posição de bloqueio do ombro, a close- a) a rotação externa provoca a tensão dos
packed position de Mac Conaill. três fascículos do ligamento g1enoume-
ral,
Outro fator limitante é o impacto da tu-
berosidade maior do úmero contra a parte supe- b) a rotação interna os distende.
1. MEMBRO SUPERIOR 41

a b
Fig.1-28

b
a
Fig.1-29
42 FISIOLOGIA ARTICULAR

o LIGAMENTO CÓRACO-UMERAL NA FLEXÃO-EXTENSÃO

Em vista esquemática extema (fig. 1-30) tuberosidade menor do úmero durante a ex-
podemos observar a tensão relativa dos dois fascí- tensão;
culos do ligamento córaco-umeral: c) tensão predominante sobre o fascículo da
a) posição anatômica mostrando o ligamen- tuberosidade maior do úmero durante a
to córaco-umeral com os seus dois fascí- fiexão.
culos (tuberosidade maior do úmero por A rotação intema do úmero que aparece no
trás e tuberosidade menor do úmero pela fim da flexão distende os ligamentos córa-
frente); co-umeral e glenoumeral, possibilitando
b) tensão predominante sobre o fascículo da uma maior amplitude de movimento.
1. MEMBRO SUPERIOR 43

c
b

Fig.1-30
44 FISIOLOGIA ARTICULAR

A COAPTAÇÃO MUSCULAR DO OMBRO

Os músculos periarticulares transversais ombro se paralisam. Contudo, recentes trabalhos


(fig. 1-31), verdadeiros ligamentos ativos da ar- eletromiográficos demonstram que só intervêm
ticulação, proporcionam a coaptação das super- ativamente quando o membro superior suporta
fícies articulares: encaixam a cabeça umeml na grandes cargas, desempenhando o papel de su-
cavidade glenóide: porte em situação normal e não, como se acre-
a) vista posterior, ditava até então, ô ligamento córaco-umeral,
clássica faixa de fixação de Farabeuf, mas a
b) vista anterior,
porção inferior da cáp·sula, como se demonstra
c) vista superior. nos trabalhos de Fischer e cols.
Nestes esquemas podemos observar os se- Contudo, a presença da abóbada acrômio-
guintes músculos: coracóide acolchoada pela porção final do su-
1) supra-espinhal, pra-espinhal impede e limita a luxação da cabe-
ça para cima, sob influência de uma potente
2) subescapular, contração destes músculos longitudinais.
3) infra-espinhal, Quando é destruída esta abóbada acolchoada
4) redondo menor, pela terminação do supra-espinhal, a cabeça
umeral realiza um impacto direto contra a su-
5) tendão da porção longa do bíceps. Quan-
do este músculo se contrai, o tendão, su- perfície inferior do acrômio e do ligamento
acrômio-coracóide, e isto é a causa das dores da
jeito ao tubérculo supraglenóide, desloca
periartrite escápulo-umeral ou, mais concreta-
a cabeça para dentro.
mente, da síndrome da ruptura da bainha rota-
Alguns autores mencionam um papel tória.
coaptador da pressão atmosférica, que não atua
a) vista posterior,
na glenóide, mas por baixo da camada dos mÚs-
culos periarticulares (ver também figs. 1-33 e 1- b) vista anterior.
34). Nos desenhos podemos observar:
Os mÚsculos longitudinais do braço e da (5') a porção curta do bíceps,
cintura escapular (fig. 1-32) impedem, median-
(6) o córaco-braquial,
te a sua contração tônica, que a cabeça umeral
se luxe por baixo da glenóide sob tração de uma (7) a porção longa do tríceps,
carga mantida na mão ou o próprio peso do (8 e 8') fascículos do deltóide,
membro superior. Esta luxação inferior se ob-
serva na síndrome do "ombro caído" quando, (9) o fascículo clavicular do peitoral maior.
por qualquer motivo, os mÚsculos do braço e do (A seta preta indica a tração para baixo.)
1. MEMBRO SUPERIOR 45

c Fig.1-31

Fig. 1-32
46 FISIOLOGIA ARTICULAR

A "ARTICULAÇÃO" SUBDELTÓIDE

Articulação subdeltóide aberta (fig. 1-33, Em corte vertical-frontal do coto do om-


segundo Rouviere) bro (fig. 1-34) ,
O deltóide está seccionado horizontalmen- a) com o braço vertical ao longo do corpo
te e deslocado para um lado (1), permitindo,~ podemos distinguir: o supra-espinhal
desta maneira, a vista da "superfície" profunda (1), que se desliza para baixo da articula-
do plano de deslizamento anatômico subdeltói- ção acrômio-clavicular (2) para se inserir
de, constituído por: na tuberosidade maior do úmero, e o del-
- extremidade superior do úmero (2); tóide (4) acima do qual se situa a bolsa
serosa suldeltóide (5).
- bainha dos músculos periarticulares: su-
pra-espinhal (3), infra-espinhal (4), re- b) durante a abdução: o infra-espinhal (1)
dondo menor (5). O subescapular não desloca a tuberosidade maior do úmero
está representado no desenho, contudo, (3) para cima e para dentro, de maneira
podemos claramente distinguir o tendão que:
da porção longa do bíceps (6) ao sair do - o fundo superior da bolsa se desloca
canal bicipital. e se situa debaixo da articulação
Entre a superfície descrita e a abóbada acrômio-clavicular (2),
acrômio-coracóide formada pela superfície infe-
- a lâmina profunda da bolsa se des-
rior do acrômio e do ligamento acrômio-cora-
loca para dentro com relação à lâ-
cóide que se prolonga pela frente ao tendão do
mina superficial (6), que se enruga.
córaco-bíceps, o plano de deslizamento anatô-
Desta forma, a cabeça umeral pode-
mico celular adiposo contém uma bolsa se rosa
se deslizar por baixo da abóbada
subdeltóide (7), aberta no desenho.
acrômio-deltóide.
Outros músculos visíveis no desenho são: o
Por outro lado, o fundo da bolsa inferior da
redondo maior (8), a porção longa do tríceps (9),
articulação escápulo-umeral (7) se desdobra e
a porção lateral do tríceps (10), o córaco-bra-
está tenso.
quial (11), a porção curta do bíceps (12), o pei-
toral menor (13) e o peitoral maior (14). Porção longa do tríceps (8).
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10

Fig.1-33

5 4 3

Fig.1-34 b
48 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA

É fácil entender a articulação escápulo-to- ra fora e de trás para adiante, formando


rácica num corte horizontal do tórax (fig. 1-35). com o plano frontal um ângulo diedro
Na metade esquerda do corte (posição ana- de 30°, aberto para fora e para a frente;
tômica), podemos observar as duas zonas de - a direção geral da clavícula é oblíqua
deslizamento desta falsa articulação: para fora e atrás e forma com o plano da
1) Zona escápulo-serrática, compreendi- escápula um ângulo de 60° aberto para
da entre: dentro. I

- por trás e por fora: a escápula reco- Em vista posterior do tórax (fig. 1-36) é
berta pelo músculo subescapular; possível localizar a éscápula.

- pela frente e por dentro: a camada A escápula, em posição normal, se estende


muscular do serrátil anterior, que se da 2a à 7a costela. Com relação à linha dos pro-
estende da margem interna da escápu- cessos espinhosos (linha média):
Ia até a parede ântero-Iateral do tórax. - seu ângulo superior-interno se corres-
2) Zona tóraco-serrática ou parieto-ser- ponde com o 1.° processo espinhoso to-
rática, compreendida entre: rácico;
- por dentro e pela frente: a parede to- - seu ângulo inferior ao 7.° ou 8.° proces-
rácica (costelas e músculos intercos- so espinhoso torácico;
tais);
- a porção interna da espinha da escápula
- por trás e por fora: o serrátil anterior. (ângulo constituído pelos dois segmen-
N a metade direita do corte (estrutura fun- tos da margem interna) ao 3.° processo
cional da cintura escapular), podemos compro- espinhoso torácico.
var que: A margem interna ou espinhal da escápula
- a escápula não se localiza no plano fron- se situa a 5 ou 6 cm da linha dos processos es-
tal, mas no plano oblíquo de dentro pa- pinhosos.
Fig. 1-35

Fig.1-36
50 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOVIMENTOS DA CINTURA ESCAPULAR

Moyimentos de deslocamento lateral 2) Lado esquerdo: translação externa.


da escápula (fig. 1-37, corte esquemático hori- 3) A amplitude total entre estas duas posi-
zontal)
ções extremas é de 15 cm.
I
1) Lado direito do corte: quando a escápula
Moyimentos de translação yertical da es-
se desloca para dentro:
cápula (fig. 1-39)
- tende a orientar-se no plano frontal;
1) Lado direito: descenso.
- a cavidade glenóide está dirigida mais
diretamente para fora; 2) Lado esquerd0: ascenso.

- a porção externa da clavícula se dirige 3) Amplitude total: 10 a 12 cm.


para dentro e atrás; Estes movimentos verticais vão acompanha-
- ângulo entre a clavícula e a escápula dos, necessariamente, de uma certa basculação.
mostra tendência a abrir-se. Moyimentos denominados "sino" ou
2) Lado esquerdo do corte: quando a escápu- basculação da escápula (fig. 1-40)
Ia se desloca para fora: Rotação da escápula ao redor de um eixo
- tende a se orientar no plano sagital; perpendicular ao plano da escápula localizado
ligeiramente por baixo da espinha; não muito
- a porção externa da clavícula está diri-
longe do ângulo superior-externo.
gida para fora e para frente e o seu ei-
xo longitudinal tem a tendência de es- 1) Lado direito: rotação "para baixo" (no
tar no plano frontal; assim sendo, o caso da escápula direita, no sentido dos pontei-
diâmetro transversal dos ombros chega ros do relógio): o ângulo inferior se desloca pa-
até a sua máxima amplitude; ra dentro, o ângulo superior e externo para bai-
- o ângulo entre a clavícula e a escápula xo e a glenóide tem a tendência a se dirigir para
tende afechar-se. baixo.
Entre estas duas posições extremas, o plano 2) Lado esquerdo: rotação "para cima":
da escápula forma um ângulo diedro de 40 a 45°, movimento inverso, a glenóide é orientada mais
que corresponde à amplitude global da mudança diretamente para cima e o ângulo externo se
de orientação da glenóide no plano horizontal, eleva.
isto é, em tomo de um eixo vertical fictício.
Moyimentos de translação lateral da es- 3) Amplitude total: 60°.
cápula (fig. 1-38; vista superior) 4) Deslocamento do ângulo inferior: 10 a
1) Lado direito: translação interna (obser- 12 cm; do ângulo superior-externo: de 5 a
var uma ligeira basculação). 6 cm.
1. MEMBRO SUPERIOR 51

Fig.1-37

Fig.1-38

Fig.1-39

Fig.1-40
52 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOVIMENTOS REAIS DA ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA

Antes existia uma descrição dos movi- cando a ponta da escápula para a frente
mentos elementares da articulação escápulo-to- e para cima, enquanto a porção superior
rácica, mas, na atualidade, sabemos que durante do osso se desloca para trás e para bai-
os movimentos de abdução ou de fiexão do xo, movimento que imita o de um ho-
membro superior estes movimentos diferentes mem inclinado para trás para olhar o to-
elementares se combinam em um grau variável. po de um arranha-céus. A sua amplitude
Graças a uma série de radiografias (fig. 1-41) é de 23° durante a abdução de O a 45°.
realizadas no percurso do movimento de abdu-
- um movimento de "pÍvô" ao redor de
ção, J. '{ de Ia Caffiniere pôde, comparando-as
um eixo vertical cuja característica é a
com fotografias da escápula "seca" em diferen- de ser difásico:
tes atitudes, estudar os componentes do seu mo-
vimento real; as vistas em perspectiva do acrô- • no primeiro momento, durante a abdu-
mio (fig. 1-42), da coracóide e da glenóide (fig. ção de O a 90°, a glenóide tende parado-
1-43) permitem estabelecer que, durante a abdu- xalmente a orientar-se para trás seguin-
ção ativa, a escápula realiza quatro movimentos: do um ângulo de 10°,
- um ascenso de 8 a 10 cm aproximada- • a seguir, a partir dos 90° de abdução, a
mente sem ter associado, como classica- glenóide tende a recuperar a orientação
mente é afirmado, um deslocamento pa- para cima seguindo um ângulo de 6°;
ra frente. em realidade, não recupera a sua orien-
- um movimento de sino de progressão tação inicial no plano ântero-posterior.
praticamente linear, de 38° quando a ab- No percurso da abdução, a glenóide so-
dução do membro superior passa de O a fre um deslocamento complexo, ascendendo e
145°. A partir de 120° de abdução, a ro- aproximando-se da linha média, ao mesmo
tação angular é igual na articulação es- tempo que realiza uma mudança de orientação
cápulo-umeral e na escápulo-torácica. de tal maneira que a tuberosidade maior do
- um movimento de basculaçc70 ao redor úmero "escapa" pela frente do acrômio para se
de um eixo transversal, oblíquo de den- deslizar para baixo do ligamento acrômio-co-
tro para fora e de trás para diante, deslo- racóide.
1. MEMBRO SUPERIOR 53

145

Fig.1-43
I
I
I
I
I

Fig.1-42

Fig.1-41
54 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ESTERNOCOSTOCLAVICULAR
(As superfícies articulares)

Estas duas superfícies articulares (fig. 1- - eixo 1 se corresponde com a concavi-


44), representadas aqui em separado, têm afor- dade da superfície c1avicular e permite
ma de uma sela usada para cavalgar (superfície os moviméntos c1a\'iculares no plano
"toróide negativa", ver mais adiante quando horizontal;
mencionarmos a articulação trapézio-metacar- - eixo 2 se corresponde com a concavi-
peana), com uma curva dupla, mas no sentido dade da superfície esternocostal e per-
inverso; são convexas num sentido e côncavas mite os movimentos c1aviculares no
no outro. Da curva côncava um eixo perpendi- plano vertical.
cular no espaço corresponde ao eixo da curva
convexa; estes dois eixos se localizam em um e Portanto, esta articulação possui dois
noutro lado da superfície com forma de sela. A eixos e dois graus de liberdade. O seu mode-
de menor superfície (1) é c1avicular, a de maior lo mecânico é o "CARDÃO", Contudo, existe
superfície (2) é esternocostal. Na verdade, a su- um movimento de rotação longitudinal (ver
perfície c1avicular (1), mais estendida horizon- pág. 56).
talmente que verticalmente, ultrapassa pela fren- A articulação esternocostoc1avicular direi-
te e, principalmente, para trás, os limites da su- ta está representada aberta na sua superfície an-
perfície esternocostal (2). terior (fig. 1-46).
A superfície c1avicular encaixa com facili- A porção interna da c1a\'ícula (1), cuja su-
dade (fig. 1-45) na superfície esternocostal, da perfície articular podemos observar (2), foi re-
mesma maneira que o cavaleiro se adapta à sela movida depois da secção do ligamento superior
e esta, por sua vez, ao cavalo. A curva côncava (3), do ligamento anterior (-1.) e do ligamento
da primeira e a curva convexa da segunda encai- costoc1avicular (5), o mais poderoso. Só se
xam-se perfeitamente. Os dois eixos de cada conserva o ligamento posterior (6). A superfí-
uma das superfícies coincidem de dois em dois, cie esternocostal (7) se vê nitidamente junto
de maneira que o sistema só possui dois eixos com as suas duas curvas: concavidade no sen-
perpendiculares no espaço, representados no de- tido vertical e convexidade no sentido ântero-
senho em perspectiva: posterior.
1. MEMBRO SUPERIOR 55

Fig.1-44

Fig.1-45

423

Fig.1-46
56 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ESTERNOCOSTOCLAVICULAR
(Os movimentos)

Vista composta da articulação esternocosto- 30° de amplitude. Até agora acreditava-


clavicular (fig. 1-47, segundo Rouviere). se que isso era possível graças ao jogo
- Metade direita: corte vértico-frontal no mecânico da articulação, devido à lassi-
qual podemos observar: dão ligamentar. Porem, é mais que pro-
-ligamento costoclavicular (1) que, a par- vável que, como todas as articulações de
tir de sua inserção na superfície superior dois graus de liberdade, a esternocos-
da primeira costela se dirige para cima e toclavicular realize uma rotação con-
para fora, em direção à superfície infe- junta durante a rotação ao redor de dois
rior da clavícula; eixos. Isto se confirma pelo fato de que,
- com freqüência, as duas superfícies arti- na prática, á rotação longitudinal da cla-
culares não têm os mesmos raios de cur- vículajamais aparece isolada fora de um
va; um menisco (3) reestabelece a con- movimento de élevação-retroposição ou
cordância, como a sela entre o cavaleiro descenso-anteposição.
e o cavalo. Este menisco subdivide a ar- Movimentos da clavícula no plano hori-
ticulação em duas cavidades secundá- zontal (fig. 1-48, vista superior)
rias, que podem ou não se comunicar - posição média da clavícula (traço escuro);
entre elas, dependendo se o menisco es- - o ponto Y' se corresponde com o eixo
tá ou não perfurado na sua parte central; mecânico do movimento;
-ligamento estemoc1avicular (4), ligamento - as duas cruzes representam as posições
superior da articulação, está recoberto por extremas da inserção clavicular do liga-
cima pelo ligamento interclavicular (5). mento costoclavicular.
- Metade esquerda: "istaanterior que mostra: No quadro: corte no nível do ligamento
-ligamento costoc1avicular (1) e o múscu- costoclavicular mostrando sua tensão nas posi-
lo subclávio (2); ções extremas.
- eixo X, horizontal e levemente oblíquo - a anteposição está limitada pela tensão do
para a frente e para fora, se corresponde ligamento costoclavicular e do ligamento
com os movimentos da clavícula no pla- anterior (1);
no vertical. Amplitude: elevação 10 cm; - a retroposição está limitada pela tensão do
descenso 3 cm; ligamento costoclavicular e do ligamento
- o eixo Y, localizado no plano vertical, posterior (2).
oblíquo para baixo e levemente para fo- Movimentos da clavícula no plano frontal
ra, passando pela parte média do liga- (fig. 1-49, vista anterior)
mento costoclavicular, se corresponde - a cruz se corresponde com o eixo X;
com os movimentos da clavícula no pla- - quando a porção externa da clavícula se
no horizontal. Amplitude: eleva (traço escuro), sua porção interna se
• anteposição da porção externa da cla- desliza para baixo e para fora (seta bran-
vícula: 10 cm; ca). O movimento está limitado pela ten-
• retroposição da porção interna da cla- são do ligamento costoclavicular (faixa
vícula: 3 cm. tracejada) e pelo tônus do músculo sub-
Do ponto de vista estritamente mecânico, o clávio (seta grande estriada);
verdadeiro eixo (Y') deste movimento é paralelo - quando a clavícula descende, a sua porção
ao eixo Y; mas está situado por dentro da articula- interna se eleva. O movimento está limi-
ção (ver eixo 1, figo 1-45). tado pela tensão do ligamento superior e
- também existe um terceiro movimento, pelo contato da clavícula com a superfí-
a rotação longitudinal da clavícula de cie superior da primeira costela.
1. MEMBRO SUPERIOR 57

Fig.1-47

Fig.1-48
y'

Fig.1-49
58 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLA VICULAR

Em vista póstero-externa da articulação - a existência de uma cápsula reforçada


acrômio-clavicular (fig. l-50) estão separados por cima por um potente ligamento
artificialmente a escápula e a clavícula, uma da acrômio-clavicular (15); ,
outra. De tal modo que podemos observar: - a presença - num terço dos casos - de
- a espinha da escápula (1) prolongada uma fibrocártilagem interarticular (11)
para fora pelo acrômio (2) que possui que restabelece a congruência das su-
uma superfície articular plana e ligeira- perfícies articulares. É excepcional que
mente convexa na sua margem ântero- esta fibrocartilagem chegue a constituir
interna - esta articulação é uma artró- um me'nisco completo;
dia ~ orientada para a frente, para den- - a obliqÜidade do plano articular: a claví-
tro e para cima; cula está como "pousada" sobre o acrô-
- a clavícula (3), cuja porção extema está nuo.
seccionada à custa de sua superfície in- A vista anterior do processo coracóide direi-
ferior por uma superfície articular (5) to (fig. l-51) permite observar ligamentos córaco-
plana ou ligeiramente convexa "orienta- c1aviculares.
da" para baixo, para trás e para fora;
- o ligamento conóide (C), que se insere
- da base do processo coracóide (6) par- no vértice da dobra do processo coracói-
tem dois potentes ligamentos: de, com forma de leque de vértice infe-
• o ligamento conóide (7) que se insere rior, situado no plano frontal;
na superfície inferior da clavícula no - o ligamento trapezóide (T), que se insere
tubérculo conóide, próximo a sua mar- na margem intema do segmento horizon-
gem posterior; tal do processo, dirigindo-se para cima e
• o ligamento trapezóide (8) que se diri- para fora, lâmina fibrosa com forma de
ge obliquamente para cima e para fora, quadrilátero, orientada obliquamente de
em direção à tuberosidade coracóide, tal maneira que a sua superfície ântero-in-
zona mgosa e triangular que prolonga o tema esteja dirigida para dentro, para a
tubérculo conóide para a frente e para frente e para cima e a sua superfície póste-
fora, na superfície inferior da clavícula; ro-externa para trás, para fora e para baixo.
- fossa supra-espinhal (9) e cavidade gle- A margem posterior do ligamento trapezóide
nóide (10). faz contato com o ligamento conóide e, em geral,
O plano vertical P secciona a articulação no nível de sua margem externa.
acrômio-clavicular pela sua parte média. Este Estes ligamentos estão dispostos em dois
corte representado no quadro permite localizar planos mais ou menos perpendiculares e formam
os diferentes elementos já descritos e, além dis- um ângulo diedro aberto para a frente e para
so, observar: dentro.
58 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLA VICULAR

Em vista póstero-externa da articulação - a existência de uma cápsula reforçada


acrômio-cIavicular (fig. l-50) estão separados por cima por um potente ligamento
artificialmente a escápula e a clavícula, uma da acrômio-cIavicular (15); ,
outra. De tal modo que podemos observar: - a presença - num terço dos casos - de
- a espinha da escápula (I) prolongada uma fibrocdrtilagem interarticular (11)
para fora pelo acrômio (2) que possui que restabelece a congruência das su-
uma superfície articular plana e ligeira- perfícies articulares. É excepcional que
mente convexa na sua margem ântero- esta fibrocartilagem chegue a constituir
interna - esta articulação é uma artró- um me·nisco completo;
dia - orientada para a frente, para den- - a obliqÜidade do plano articular: a claví-
tro e para cima; cula está como "pousada" sobre o acrô-
- a clavícula (3), cuja porção externa está mIO.
seccionada à custa de sua superfície in- A vista anterior do processo coracóide direi-
ferior por uma superfície articular (5) to (fig. l-51) permite observar ligamentos córaco-
plana ou ligeiramente convexa "orienta- claviculares.
da" para baixo, para trás e para fora;
- o ligamento conóide (C), que se insere
- da base do processo coracóide (6) par- no vértice da dobra do processo coracói-
tem dois potentes ligamentos: de, com forma de leque de vértice infe-
• o ligamento conóide (7) que se insere rior, situado no plano frontal;
na superfície inferior da clavícula no - o ligamento trapezóide (T), que se insere
tubérculo conóide, próximo a sua mar- na margem interna do segmento horizon-
gem posterior; tal do processo, dirigindo-se para cima e
• o ligamento trapezóide (8) que se diri- para fora, lâmina fibrosa com forma de
ge obliquamente para cima e para fora, quadrilátero, orientada obliquamente de
em direção à tuberosidade coracóide, tal maneira que a sua superfície ântero-in-
zona rugosa e triangular que prolonga o tema esteja dirigida para dentro, para a
tubérculo conóide para a frente e para frente e para cima e a sua superfície póste-
fora, na superfície inferior da clavícula; ro-externa para trás, para fora e para baixo.
- fossa supra-espinhal (9) e cavidade gle- A margem posterior do ligamento trapezóide
nóide (10). faz contato com o ligamento conóide e, em geral,
O plano vertical P secciona a articulação no nível de sua margem externa.
acrômio-clavicular pela sua parte média. Este Estes ligamentos estão dispostos em dois
corte representado no quadro permite localizar planos mais ou menos perpendiculares e formam
os diferentes elementos já descritos e, além dis- um ângulo diedro aberto para a frente e para
so, observar: dentro.
1. MEMBRO SUPERIOR 59

Fig. 1-50

c
T

Fig.1-51
60 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLAVICULAR
(continuação)

Em vista póstero-externa da articulação - superficialmente se localiza a camada


acrômio-clavicular direita (fig. 1-52, segundo aponeurótica do deltóide e do trapézio,
Rouviere) não representada no desenho, constituí-
- o plano superficial do ligamento acrô- da por fibras aponeuróticas que unem as
fibras musculares do deltóide e do trapé-
mio-clavicular (11) está seccionado
zio. Esta formação recentemente descri-
para mostrar o seu plano profundo que
ta desempenha um papel importante na
reforça a cápsula;
coaptação da articulação, e é o único fa-
- além dos ligamentos conóide (7) e tra- tor limitante da amplitude da luxação
pezóide (8), podemos observar o liga- acrômio-clavicular.
mento córaco-clavicular interno (12),
A clavícula aparece "em laço" na sua por-
também denominado ligamento bicor-
ção interna (fig. l-53, vista inferior-externa, se-
ne de CALDANI;
gundo Rouviere). Podemos observar novamen-
- o ligamento acrômio-coracóide (13), te os elementos antes descritos e o ligamento
que não tem ação mecânica, contribui- coracóide (14) que se estende de uma margem
para formar o canal do supra-espinhal a outra da incisura coracóide, carente de ação
(ver fig. 1-49); mecânica.
1. MEMBRO SUPERIOR 61

Fig.1-52

Fig.1-53
62 FISIOLOGIA ARTICULAR

FUNÇÃO DOS LIGAiVIENTOS CÓRACO-CLAVICULARES

Vista superior esquemática da articulação caso de urna pá de debulhadeira no ex-


acrômio-clavicular (fig. 1-54) que mostra a fun- tremo do cabo.
ção do ligamento conóide: Podemos có'mprovar a tensão dos liga-
- em pontilhado, a escápula vista desde mentos conóide (faixa tracejada) e trapezóide
Cima; (pontilhado). A amp1itude desta rotação (30°)
se sorna à rotação de 30° da articulação ester-
- em traços descontínuos, a silhueta da cla-
nocostoclavicular para possibilitar os 60° de
vícula em posição de partida;
amplitude dos movimentos de "sino" da escá-
- em traços contínuos, posição extrema da pula.
clavlcula.
Um estudo recente realizado por Fischer e
Este desenho mostra como quando o ângulo co1s. demonstra, graças a uma série de fotogra-
formado pela clavícula e a escápula se abre, o li- fias, a complexidade dos movimentos da arti-
gamento conóide (as duas faixas tracejadas repre- culação acrômio-clavicular, artródia debilmen-
sentam a suas duas posições sucessivas) está ten- te encaixada.
so e limita o movimento.
Durante a abdução, tornando como ponto
Uma vista semelhante (fig. l-55) mostra a de referência fixo a escápula, podemos com-
função do ligamento trapezóide. provar:
Quando o ângulo formado pela clavícula e a - urna elevação de 10° da porção interna
escápula sefecha, o ligamento trapezóide está ten- da clavícula;
so e limita o movimento. - urna abertura até 70° do ângulo escápu-
O movimento de rotação axial na articu- lo-clavicular;
lação acrômio-clavicular (fig. 1-56) se vê com - e urna rotação longitudinal de 45° da
clareza nesta vista ântero-intema: clavícula para trás.
- a cruz representa o centro de rotação da Durante a flexão os movimentos elemen-
articulação; tares são semelhantes, embora um pouco me-
- os traços contínuos, a posição inicial da nos acentuados no que diz respeito à abertura
escápula (cuja metade inferior foi remo- do ângulo escápulo-clavicular.
vida); Durante a extensão, o ângulo escápulo-
clavicular se fecha 10°.
- a superfície tracejada representa a posi-
ção final da escápu1a após ter osciJado Durante a rotação interna, o ângulo escá-
na extremidade da clavícula, como no pulo-clavicular só se abre 13°.
I. MEMBRO SUPERlOR 63

Fig.1-54

Fig.1-56
64 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR

Neste esquema do tórax (fig. l-57) a meta- • gira a escápula para baixo: a glenóide
de direita representa uma vista posterior: fica orientada para baixo;
1) Trapézio: dividido em três porções cu- • fixa o ângulo inferior da escápula con-
jas ações são diferentes: tra as costelas; a sua paralisia provoca
um "descolamento" das escápulas.
Porção superior (1); acrômio-clavicular.
Ação: 3) Angular: direção oblíqua para cima e
- eleva o coto do ombro, evita a sua para dentro. Ação (parecida 'com a dos
rombóides):
queda sob o peso de uma carga;
- desloca o ângulo superior interno pa-
- hiperlordose cervical + rotação da ca-
ra cima (2 a 3 cm) e para dentro (ação
beça para o lado contrário, quando de levantar os ombros). Contrai-se
este fascículo toma o ombro como
quando seguramos algo pesado. A
ponto fixo. paralisia deste músculo provoca a
Porção média (1'); espinhal. Direção queda do coto do ombro;
transversal. Ação: - leve rotação da glenóide para baixo.
- aproxima de 2 a 3 cm a margem inter- 4) Serrátil anterior: (Yer figo l-58).
na da escápula à linha dos processos es-
pinhosos, encaixa a escápula no tórax; A metade esquerda (fig. l-57) representa
uma vista anterior.
- desloca o coto do ombro para trás.
5) Peitoral menor: direção oblíqua para
Porçcio inferior (1 "). Direção oblíqua baixo, para frente e para dentro. Ação:
para baixo e para dentro. Ação:
- descende o coto do ombro, deslocan-
- desloca a escápula para baixo e para do a glenóide para baixo. Esta ação é
dentro. exercida, por exemplo, nos movi-
Contração simultânea das três porções: mentos que realizamos nas barras
paralelas;
- desloca a escápula para dentro e para trás;
- desliza a escápula para fora e para a
- gira a escápula para cima (20°): desem-
frente, descolando a sua margem pos-
penha um modesto papel na abdução, terior.
embora importante na hora de levar car-
gas pesadas; 6) Subclávio: direção oblíqua para baixo e
para dentro, quase paralela à clavícula.
- impede a queda do braço e o descola-
Ação:
mento da escápula.
- descende a clavícula e, portanto, o
2) Rombóide: direção oblíqua para cima e coto do ombro;
para dentro. Ação:
- encaixa a porção interna da clavícula
- desloca o ângulo inferior para cima e contra o manúbrio esternal de manei-
para dentro, de maneira que: ra que coapta a articulação ester-
• eleva a escápula; nocostoclavicular.
1. l\IEMBRO SUPERIOR 65

Fig. 1-57
66 FISIOLOGIA ARTICuLAR

MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR


(continuação)

No esquema do tórax visto de perfil (fig. te de cargas pesadas, mas só quando a


l-58), podemos observar com nitidez o mús- abdução do braço ultrapassa os 30° (é o
culo serrátil anterior com as suas duas por- caso de transporte de um balde cheio de
ções: água).
- porção superior: direção geral horizon- Neste corte horizontal do tórax (fig. l-59),
tal para frente. Ação: podemos observar:
o dirige a escápula de 12 a 15 cm para a - do lado esquerdo: ação dos músculos
frente e para fora, ao mesmo tempo que trapézio (porção média), angular, rom-
a impede de retroceder quando empurra- bóides, todos eles adutores da escápula:
mos um objeto pesado para a frente a aproximam da linha média. Também
são, em conjunto (com exceção da por-
(prova de paralisia: ao realizar esta ação
ção inferior do trapézio), elevadores da
a margem interna se "descola");
escápula;
- porção inferior: direção geral oblíqua
- do lado direito: ação dos músculos ser-
para a frente e para baixo. Ação:
rátil anterior e peitoral menor como ab-
• realiza a basculação da escápula para ci- dutores da escápula: a afastam da linha
ma: a glenóide tem a tendência a se média. Por outro lado, o peitoral menor
orientar para a frente. Esta ação inter- e o subc1ávio descendem pela cintura es-
vém na flexão, na abdução, no transpor- capular.
I. MEMBRO SUPERIOR 67

Fig.1-58

Fig.1-59
68 FISIOLOGIA ARTICULAR

o SUPRA-ESPINHAL E A ABDUÇÃO

o canal do supra-espinhal (representado que se estende da fossa supra-espinhal até a tu-


por uma estrela) comunica a fossa supra-es- berosidade maior do úmero, se desliza por baixo
pinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vista do ligamento acrômio-coracóide.
externa da escápula) e está limitada:
Os quatro músculos responsáveis da ab-
- por trás, pela espinha da escápula e do dução, esquematizados (fig. 1-61) numa vista
acrômio; posterior da escápula e do úmero, são os
- pela frente, pelo processo coracóide; seguintes:
- por cima, pelo ligamento acrômio-cora- • o deltóide;
cóide. Acrômio, ligamento e coracóide
constituem uma abóbada ósteo-liga- • o supra-espinhal; estes dois músculos for-
mentar: a abóbada acrômio-coracóide. mam um par funcional, motor da abdu-
ção da articulação escápulo-umeral;
Este canal do supra-espinhal forma um anel
rígido e sem possibilidade de estender; se o ten- • o serrátil anterior;
dão do músculo aumenta em volume, devido a
• o trapézio; estes dois músculos formam
uma cicatriz ou um processo inflamatório, já não
um par funcional, motor da abdução da
pode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se o
articulação escápulo-torácica.
nódulo consegue vencer a dificuldade, o movi-
mento de abdução pode continuar com um res- Sem representar no esquema, mas não por
salto: é o fenômeno, não muito freqüente, do isso menos úteis para a abdução segundo con-
ombro em ressalto. ceitos recentes, participam também os músculos
Nas perfurações da bainha rotatória, o ten- subescapular, infra-espinhal e redondo menor.
dão do supra-espinhal degenerado e roto já não Deslocam a cabeça umeral para baixo e· para
se interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. O dentro, formando junto com o deltóide um se-
contato direto da cabeça umeral e da abóbada gundo par funcional responsável pela abdução
acrômio-coracóide durante a abdução é, para da articulação escápulo-umeral.
muitos autores contemporâneos, a causa das do- Por último, o tendão da porção longa do bí-
res da "síndrome de ruptura da bainha". ceps é também motor da abdução, já que a sua
Em vista ântero-superior da escápula (fig. ruptura produz uma perda de 20% da força da
1-62), podemos observar como o supra-espinhal, abdução.
1. MEMBRO SUPERIOR 67

Fig.1-58

I
I
I
I
I
I
I
I
I
1~
I
Fig.1-59
68 FISIOLOGIA ARTICULAR

o SUPRA-ESPINHAL E A ABDUÇÃO

o canal do supra-espinhal (representado que se estende da fossa supra-espinhal até a tu-


por uma estrela) comunica a fossa supra-es- berosidade maior do úmero, se desliza por baixo
pinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vista do ligamento acrômio-coracóide.
externa da escápula) e está limitada:
Os quatro músculos responsáveis da ab-
- por trás, pela espinha da escápula e do dução, esquematizados (fig. 1-61) numa vista
acrômio; posterior da escápula e do úmero, são os
- pela frente, pelo processo coracóide; seguintes:
- por cima, pelo ligamento acrômio-cora- • o deltóide;
cóide. Acrômio, ligamento e coracóide
constituem uma abóbada ósteo-liga- • o supra-espinhal; estes dois músculos for-
mentar: a abóbada acrômio-coracóide. mam um par funcional, motor da abdu-
ção da articulação escápulo-umeral;
Este canal do supra-espinhal forma um anel
rígido e sem possibilidade de estender; se o ten- • o serrátil anterior;
dão do músculo aumenta em volume, devido a
• o trapézio; estes dois músculos formam
uma cicatriz ou um processo inflamatório, já não
um par funcional, motor da abdução da
pode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se o
articulação escápulo-torácica.
nódulo consegue vencer a dificuldade, o movi-
mento de abdução pode continuar com um res- Sem representar no esquema, mas não por
salto: é o fenômeno, não muito freqÜente, do isso menos úteis para a abdução segundo con-
ombro em ressalto. ceitos recentes, participam também os músculos
Nas perfurações da bainha rotatória, o ten- subescapular, infra-espinhal e redondo menor.
dão do supra-espinhal degenerado e roto já não Deslocam a cabeça umeral para baixo e· para
se interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. O dentro, formando junto com o deltóide um se-
contato direto da cabeça umeral e da abóbada gundo par funcional responsável pela abdução
acrômio-coracóide durante a abdução é, para da articulação escápulo-umeral.
muitos autores contemporâneos, a causa das do- Por último, o tendão da porção longa do bí-
res da "síndrome de ruptura da bainha". ceps é também motor da abdução, já que a sua
Em vista ântero-superior da escápula (fig. ruptura produz uma perda de 20% da força da
1-62), podemos observar como o supra-espinhal, abdução.
1. MEMBRO SUPERIOR 69

Fig.1-60 Fig.1-61

Fig.1-62

----------~----
70 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO

À primeira vista, a fisiologia da abdução pula, isto é, com uma flexão de 30° ao redor de
parece simples: é o resultado da ação de dois um eixo BB' (fig. 1-65) perpendicular ao plano
músculos, o deltóide e o supra-espinhal. Contu- da escápula, quase todo o fascículo clavicular é,
do, não existe uma opinião unânime sobre o pa- de aferência, abdutora.
pel que desempenha cada um deles, nem sobre Os estudos eletromiográficos demons-
as suas ações recíprocas. Recentes estudos ele- tram que as diferentes porções atuam sucessiva-
tromiográficos realizados por J.J. Comtet e Y. mente à medida que a abdução progride, com
Auffray (1970) aportam uma nova visão a res- um intervalo de tempo maior quanto mais adu-
peito. toras sejam no início do movimento, como se
Papel do deltóide fossem dirigidas pôr um quadro de comandos.
Para Fick (1911) podemos distinguir sete Por isso, as porçõe.s abdutoras não estão
porções funcionais no deltóide (fig. 1-65, corte restringidas pelas antagonistas. Neste caso se
trata de um exemplo do fenômeno de inervação
esquemático horizontal, parte inferior):
recíproca de Sherrington.
- fascículo anterior, clavicular, inclui
dois: I e lI; Durante a abdução pura, a ordem de en-
trada em ação é a seguinte:
- fascículo médio, acromial, só um: III;
- fascículo acromial III;
- fascículo posterior, espinhal, quatro: IV,
V, VI e VII. - porções IV e V quase imediatamente de-
pOIS;
Considerando estas porções com relação à
- por último, a porção II a partir dos 20-30°.
sua localização em função do eixo de abdução
puro AA' (fig. 1-63, vista anterior e figo 1-64, Durante a abdução associada a uma fle-
vista posterior), podemos comprovar que algu- xão de 30°:
mas delas são em princípio abdutoras, como é o - as porções III e II atuam imediatamente;
caso de todo o fascículo acromial (III), a parte
- as porções IV e V cada vez mais tarde.
mais externa da porção II do fascículo clavicular
como a porção L
e a porção IV do fascículo espinhal, porque es-
tão situadas por fora do eixo (fig. 1-65). Pelo Quando a rotação externa do úmero se
contrário, as outras restantes (I, V, VI e VII) são associa com a abdução:
adutoras quando o membro superior pende ao - a porção II se contrai desde o primeiro
longo do corpo. Por isso, estas porções do del- momento;
tóide são antagonistas das primeiras. Elas vão,
- as porções IV e V nem sequer intervêm
se convertindo em abdutoras à medida que o no fim da abdução.
movimento de abdução as desloca para fora do
eixo sagital. De maneira que, no que se refere a Quando a rotação interna do úmero se
estas porções, podemos ver uma inversão de sua associa com a abdução:
ação dependendo da posição de início do movi- - se observa o mecanismo inverso.
mento. De todas as maneiras, algumas permane- Em resumo, o deltóide, ativo desde o iní-
cem como adutoras (VI e VII) seja qual for o cio da abdução, pode realizar a abdução sozinho
grau de abdução. até a sua máxima amplitude. A sua atividade
Em linhas gerais, Strasser (1917) está de máxima se estabelece ao redor dos 90° de abdu-
acordo com este conceito, embora ressalte que, ção. Para Inman, sua força seria equivalente a
no caso da abdução realizada no plano da escá- 8,2 vezes o peso do membro superior.
1. MEMBRO SUPERIOR 71

Fig.1-63
Fig.1-64

Fig.1-65
72 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO
(continuação)

Papel dos músculos rotadores realizar a abdução, nem sequer para iniciá-la
Depois de fazer com que a sinergia deltói- isoladamente abdução; o deltóide não é sufi-
de supra-espinhal desempenhe um papel impor- ciente para obter uma abdução completa.
tante, inclusive fundamental, parece agora que Contudo, e ao contrário, o supra-espinhal é
os outros músculos da bainha são indispensáveis capaz de realizar uma abdução da mesma am-
para a eficácia do deltóide (Inman). plitude que a do deltóide (experiência de excita-
De fato, durante a abdução (fig. 1-66), a de- ção elétrica de Duchenne de Boulogne e obser-
composição da força do deltóide D provoca a vações clínicas da :earalisia isolada do deltóide).
aparição de um componente longitudinal Dr, A eletromiografia demonstra que ele se con-
que, diminuído do componente longitudinal Pr trai ao longo de toda a abdução e que a sua ativi-
do peso P do membro superior (atuando sobre o dade máxima aparece aos 90° de abdução, como
centro de gravidade), se aplica como força R ao no caso do deltóide.
centro da cabeça umeral. Contudo, esta força R No início da abdução (fig. 1-67) o seu com-
pode, por sua vez, se decomponer em uma força ponente tangencial Et é proporcionalmente mais
Rc que encaixa a cabeça na glenóide, e em oura forte que o do deltóide Dt, embora o seu braço de
força Ri, mais potente, que tem a tendência de alavanca seja mais curto. O seu componente ra-
provocar uma luxação para cima e para fora. Se dial Er encaixa com força a cabeça umeral sobre
os músculos rotadores (infra-espinhal, subesca- a g1enóide e contribui vigorosamente para evitar a
pular, redondo menor) se contraem neste preci- sua luxação para cima e sob ação do componente
so momento, a sua força global Rm se opõe di- radial Dr do deltóide. Assim sendo, desempenha
retamente ao componente de luxação Ri e a ca- um papel coaptador idêntico ao dos músculos ro-
beça não pode luxar-se para cima e para fora tadores. De igual maneira, provoca a tensão da
(quadro em destaque). Desta maneira, a força parte superior da cápsula e se opõe à subluxação
descendente Rm dos músculos rotadores cria, inferior da cabeça umeral (Dautry e Gosset).
com a força de elevação Dt do deltóide, um par
de rotação que dá origem à abdução. A força dos Desse modo, o supra-espinhal é sinérgico
músculos rotadores é máxima aos 60° de abdu- dos outros musculos da bainha, os músculos ro-
ção. A eletromiografia (Inman) confirma dita ati- tadores. Ajuda com força e eficácia ao deltóide
vidade máxima no caso do infra-espinhal. que, quando atua isoladamente, se fatiga com ra-
pidez.
Papel do supra-espinhal Em resumo, a sua ação é ao mesmo tempo
Até então, o músculo supra-espinhal era qualitativa sobre a copatação articular, e quanti-
considerado como o iniciador da abdução (o tativa sobre a resistência e potência da abdução.
"abductor starter" dos autores anglo-saxões). A A sua fisiologia, bastante simples, se opõe à do
"deixada de escanteio" do supra-espinhal me- deltóide, já complexa por si mesma. Sem dar o
diante bloqueio anestésico do nervo supra-esca- título de abductor-starter que teve até hoje, po-
pular (B. Van Linge e l.D. Mulder) possibilita demos afirmar que é útil e eficiente principal-
demonstrar que ele não é indispensável para mente no início da abdução.

I
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 71

13

10

11

12

2
4

5
Fig.2-27
72 FISIOLOGIA ARTICULAR

INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO SOBRE AS ARTICULAÇÕES DA CINTURA PÉLVICA

Em posição ortostática simétrica, as arti- aparece um desnível (d) na margem superior de


. culações da cintura pélvica são solicitadas pelo cada um dos púbis durante a marcha. Do mesmo
peso do corpo. O mecanismo destas pressões se modo, se pode entender que as articulações sacro-
pode analisar em uma vista lateral (fig. 2-29), na ilíacas se solicitem de forma oposta em cada pas-
qual o osso ilíaco, supostamente transparente, so. A sua resistência aos movimentos se deve à
permite ver o fêmur. O conjunto formado pela co- força dos seus ligamentos, mas quando uma das
luna vertebral, sacro, osso ilíaco e membros infe- sacroilíacas está lesada por um deslocamento
riores constitui um sistema articulado: por um la- traumático, aparecem movimentos que provocam
do, na articulação coxofemoral e, por outro, na ar- dor em cada passo. A solidez mecânica do anel
ticUlação sacroilíaca. O peso do tronco (seta P), pélvico condiciona assim tanto a posição ortostá-
ao recair sobre a face superior da primeira vérte- tica quanto a marcha.
bra sacral, tem a tendência de deslocar o promon- Em decúbito, as articulações sacroilíacas se
tório para baixo. Portanto, o sacro é solicitado no solicitam de diferente maneira (fig. 2-33) depen-
sentido da nutação (NJ Este movimento é rapi- dendo se os quadris estão em flexão (A) ou em
damente limitado pelos ligamentos sacroilíacos extensão (B).
anteriores, o freio de nutação, e principalmente,
pelos dois ligamentos sacrociáticos que impedem Quando os quadris estão estendidos (fig.
a separação do vértice do sacro com relação à tu- 2-32), a tração sobre os músculos flexores (seta
berosidade isquiática. branca) bascula a pelve em anteversão, ao mes-
mo tempo em que o vértice do sacro está impul-
Simultaneamente, a reação do chão (seta R),
sado para a frente. Produz-se uma diminução da
transmitida pelos fêmures e exercida no nível das distância entre o vértice do sacro e a tuberosida-
articulações coxofemorais, forma, com o peso do
corpo sobre o sacro, um par de rotação, que tem de isquiática e, simultaneamente, uma rotação na
a tendência de bascular o osso ilíaco para trás (se- sacroilíaca no sentido da contranutação (a seta 2
indica o movimento do osso ilíaco ao redor do ei-
ta NJ Esta retroversão da pelve acentua mais a
nutação nas articulações sacroilíacas. xo de nutação). Esta posição corresponde ao iní-
cio do parto e a contranutação, que alarga a aber-
Embora esta análise trate dos movimentos,
tura superior da pelve, favorece a descida da ca-
na verdade, deveria referir-se às forças que os beça letal em direção à escavação pélvica.
provocam, visto que os movimentos são quase
nulos; se trata mais de tendência de movimentos, Quando os quadris estão flexionados (fig.
do que movimentos propriamente ditos, porque 2-31), a tração dos músculos ísquio-tibiais (seta I)
os sistemas ligamentares são extremamente po- tem a tendência de bascular a pelve em retrover-
tentes e impedem imediatamente qualquer deslo- são com relação ao sacro. Isto constitui, então, um
camento. movimento de nutação (a seta 1 indica o movi-
mento do osso ilíaco com relação ao sacro); este
Em apoio monopodal (fig. 2-30), e em cada
movimento diminui o diâmetro ântero-posterior
passo durante a marcha, a reação do chão (seta
R), transmitida pelo membro que suporta o peso, da abertura superior da pelve e aumenta os dois
diâmetros da abertura inferior da pelve. Esta posi-
levanta a articulação coxofemoral corresponden-
te, enquanto do outro lado, o peso do membro em ção adotada durante o momento expulsivo do par-
to favorece, assim, a saída da cabeça letal duran-
suspensão tem a tendência de fazer descer a coxo-
femoral oposta. Isto provoca uma compressão em te a sua passagem pela abertura inferior da pelve.
cisalhamento da sínfise púbica que apresenta a Durante a mudança de posição entre a exten-
tendência de levantar o púbis do lado que suporta são e a flexão das coxas, a amplitude média do
, o peso (A) e a descer o púbis do lado em suspen- deslocamento do promontório é de 5,6 mm. As
são (B). Normalmente, a solidez da sínfise púbica mudanças de posição das coxas modificam, nota-
impede qualquer deslocamento nesta articulação, velmente, as dimensões da escavação pélvica pa-
porém quando está deslocada, se pode ver como ra facilitar a passagem do feto durante o parto.
1. MEMBRO SUPERIOR 73

Pr

Fig.1-67

1-
74 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS TRÊS FASES DAABDUÇÃü

Primeira fase da abdução (fig. 1-68): de O - os músculos motores desta segunda fase
a 90° são:
Os músculos motores desta primeira fase • o trapézio (3 e 4);
são principalmente:
• o serrátil anterior (5).
- deltóide (1);
Constituem o par ~bdutor da articulação es-
- supra-espinhal (2). cápulo-torácica.
Estes dois músculos formam o par da abdu- O movimento está limitado perto dos 150°
ção da articulação escápulo-umeral. De fato, nes- (90° + 60° de amplitude do mo\"imento pendular
ta articulação é onde se inicia o movimento de da escápula) pela resistência dos músculos adu-
abdução. Esta primeira fase finaliza perto dos tores: grande dorsal e peitoral maior.
90°, quando a articulação escápulo-umeral se
bloqueia devido ao impacto da tuberosidade Terceira fase da abdução (fig. 1-70): de
maior do úmero contra a margem superior da 150° a 180°
glenóide. A rotação externa, e também uma ligei- É necessário que a coluna vertebral parti-
ra ftexão, desloca a tuberosidade maior do úme- cipe deste movimento para chegar à vertical.
ro para trás e atrasa dito bloqueio. Com Steind-
ler, podemos considerar que a abdução associada Se só um braço realiza a abdução, basta
com uma ftexão de 30° no plano do corpo da es- uma inclinação lateral sob ação dos músculos
cápula é a verdadeira abdução fisiológica. espinhais do lado contrário (6).
Segunda fase da abdução (fig. 1-69): de Se os dois braços realizam a abdução, não
90 a 150° podem estar paralelos se não estiverem emfte-
xão máxima. Para chegar à vertical é necessária
Com a articulação escápulo-umeral blo-
uma hiperlordose lombar, também sob depen-
queada, a abdução só pode continuar graças à
dência dos músculos espinhais.
participação da cintura escapular:
Esta descrição da abdução em três fases é,
- movimento pendular da escápula, rota-
ção no sentido inverso aos ponteiros do naturalmente, esquemática: em realidade, as
relógio (no caso da escápula direita) que participações musculares estão inter-relaciona-
dirige a glenóide mais diretamente para das e "encadeadas intimamente"; é fácil com-
cima; sabemos que a amplitude deste provar que a escápula começa um "giro" antes
movimento é de 60°; que o membro superior chegue a uma abdução
de 90°. Igualmente, a coluna vertebral começa a
- movimento de rotação longitudinal, do
se inclinar antes de chegar a uma abdução de
ponto de vista mecânico, das articula- 150°.
ções esternocostoclavicular e acrômio-
clavicular, cuja amplitude de movimen- No fim da abdução, todos os músculos mo-
to é de 30° cada uma; tores da abdução estão contraídos.
1. MEMBRO SUPERIOR 75

J I)

Fig.1-69
Fig.1-68

Fig.1-70
(
76 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS TRÊS FASES DAFLEXÃO

Primeira fase da flexão (fig. 1-71): de 0° a cular e acrômio-clavicular, cuja ampli-


50-60° tude é de 30° cada uma.
Os músculos motores desta primeira fase são: Os músculos motores são os mesmos que
- fascículo anterior, c1avicular, do del- participam da abdução:
tóide (1); - trapézio (4 e 5);
- córaco-braquial (2); - serrátil anterior.
- fascículo superior, clavicular, do peito- Esta flexão escápulo-umeral está limitada
ral maior (3). pela resistência do músculo grande dorsal e da
Estafiexão está limitada na articulação es- porção inferior do peitoral maior.
cápulo-umeral por dois fatores: Terceira fase da flexão (fig. 1-73): de
120° a 180°
- a tensão do ligamento córaco-umeral
(ver figo 1-30, c); O movimento de flexão está bloqueado pe-
- a resistência dos músculos redondo me- la articulação escápulo-umeral e a intervenção
nor, redondo maior e infra-espinhal. da coluna vertebral na escápulo-torácica é ne-
cessária.
Segunda fase da flexão (fig. 1-72): de
60° a 120° Se a flexão é unilateral, é possível finalizar
o movimento realizando uma abdução máxima
Função da cintura escapular: do braço e, a seguir, uma inclinação lateral da
- rotação da escápula 60° mediante um coluna.
movimento pendular que orienta a gle- Se a flexão é bilateral, o fim do movimen-
nóide para cima e para a frente; to é idêntico ao da abdução associada a uma
- rotação axial, do ponto de vista mecâni- hiperlordose por ação dos músculos lombares
co, das articulações esternocostoc1avi- (7).
1. J\'lEMBRO SUPERIOR 77

Fig.1-71 Fig.1-72 Fig.1-73

I
78 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS ROTADORES

a) Vista superior esquemática (Fig. 1-74) Observe-se que, embora estes dois músculos
da articulação escápulo-umeral, que mostra os possuam um nervo diferente (nervo supra-escapu-
músculos rotadores; lar no caso do infra-espinhal e nervo circunflexo
b) Rotadores internos (desenho): no caso do redondo menor), ambos os nervos têm
origem na mesma raiz (Cs) do plexo braquial, de
1) grande dorsal;
maneira que podem paralisar-se simultaneamente
2) redondo maior; nos alongamentos do plexo braquial nas quedas
3) subescapular; sobre o coto do ombro (acidente de motocicleta).
4) peitoral maior. Mas a rotação da articulação escápulo-
umeral não é suficiente para completar a máxi-
c) Rotadores externos (desenho):
ma rotação do membro superior: é necessário
5) infra-espinhal; acrescentar modificações na orientação da escá-
6) redondo menor. pula (e da glenóide) durante os movimentos de
translação lateral da articulação (ver figo 1-37);
Diante da quantidade e da potência dos rota-
esta mudança de orientação de 40° a 45° aumen-
dores internos, os rotadores externos são fracos;
ta. na mesma medida, a amplitude da rotação.
contudo, são indispensáveis para a correta utiliza- Os músculos motores são:
ção do membro superior, porque só eles podem
afastar a mão da superfície anterior do tronco, - no caso da rotação externa (adução da
deslocando-a para a frente e para fora; este movi- escápula): rombóide e trapézio;
mento da mão direita de dentro para fora é im- - no caso da rotação interna (abdução da es-
prescindível para a escritura. cápula): serráti1anterior e peitoral menor.
1. MEMBRO SUPERIOR 79

5
6
2

,
b c

Fig.1-74

I
80 FISIOLOGIA ARTICULAR

AADUÇÃO E A EXTENSÃO

Os músculos adutores são representados A contraç~o do grande dorsal, músculo


em vista anterior (fig. 1-75) e em vista póstero- adutor muito potente, tende a luxar a ca-
externa (fig. 1-76). beça umeral para baixo (seta preta);
Números comuns para ambas as figuras: A porção longa do tríceps, que é ligeira-
(1) redondo maior; mente adutora, quando se contrai simul-
taneamente, se opõe a esta luxação e ele-
(2) grande dorsal;
va a cabeça umeral (seta branca).
(3) peitoral maior;
Os músculos extensores estão representa-
(4) rombóide.
dos em vista póstero-extema (fig. 1-77).
No quadro: esquemas que explicam o fun- Extensão da articulação escápulo-wne-
cionamento dos dois pares musculares da adução: ral:
a) par rombóide (1) redondo maior (2) - redondo maior (1);
A ação sinérgica destes dois músculos é
- redondo menor (5);
indispensável para a adução. De fato, se
o redondo maior se contrai sozinho, o - porção posterior, espinhal, do deltóide (6);
membro superior resiste à adução e a es- - grande dorsal (2).
cápula gira para cima sobre o seu eixo
Extensão da articulação escápulo-toráci-
(representado por uma cruz).
ca, por adução da escápula:
A contração do rombóide evita esta rota-
- rombóide (4);
ção e possibilita a ação adutora do re-
dondo maior. - porção média, transversal, do trapézio
(7);
b) par porção longa do tríceps (4) grande
dorsal (3) - grande dorsal (2).
Fig.1-76
Fig.1-75

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